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25/07/13 CURTA-METRAGEM: BISTURI

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S EG UNDA - FEI R A , 10 DE O UT UB R O DE 2011 P A R C ER I A C ULT UR A L

BISTURI
"O Grande Chefe" de Lars Von Trier.

"Não existe personagem e agora vamos jogar": a preocupação do


mestre russo Constantin Stanislavski era formalizar um procedimento
para que os atores pudessem articular o seu contexto com o contexto S EG UI DO R ES

ficcional. Ou seja, lançando mão de verbos-de-ação, subtextos,


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monólogo interior, objetivos, ações paralelas, esquemas de ações-
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físicas, memória emotiva (com o seu próprio material) o ator pode dar
Membros (133) Mais »
vida à personagem.

Eugênio Kusnet, diretor e ator do Teatro Brasileiro de Comédia nos


anos cinqüenta e sessenta, também evidenciou o jogo quando disse
que o ator "evoca a segunda instação (ficção) através da primeira (seu
próprio contexto)". Ou seja, o ator ficcionaliza as ações que, de fato,
são suas.

No entanto, quem formalizou os operadores deste jogo foi Viola Spolin: Já é um membro? Fazer login
divisão-de-foco e instrução. Se, em cena, há "problemas a resolver",
"duplos-problemas técnicos" - diz Spolin - tanto melhor. Isto divide o
foco. É com a divisão-de-foco que "o espontâneo acontece". De
A R Q UI V O DO B LO G
maneira que as instruções tornam-se elementos intrusos bem vindos.
► 201 3 (1 07 )

Abre-se a porta, então, para a formulação de modalidades específicas ► 201 2 (249)


de jogo. A operação de apropriação do contexto próprio que implica, ▼ 201 1 (1 49)
como isntrução, a presença de um caráter fictício, parece estar
► Dezembro (6)
presente em O Grande Chefe, do diretor dinamarquês Lars Von Trier.
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► Nov embro (1 7 )
O filme começa com o ator Kristoffer (Jens Albinus) contratado para ▼ Outubro (1 9)
representar o chefe Svend, inventado por Ravn, verdadeiro dono de
Pra pensar...
uma firma de informática (Peter Gantzler). Ravn manteve Svend virtual
A Estrela inv ertida -
durante dez anos e responsabilizou-o por todas as escolhas
Baphomet - Aquele que se
desagradáveis, enquanto preservava a sua imagem de bonzinho. Só
sup...
que agora ele decidiu vender a firma e o comprador exige a presença
do "grande chefe". Ravn, então, contrata Kristoffer para representá-lo Esmir Filho
na reunião de venda. Só que as coisas tomam um rumo inesperado. EU CURTO
Antonio Grassi
Na primeira reunião com os funcionários da "sua" firma, Kristoffer
Div ulgação
precisa revelar o nome do "grande chefe". No entanto, não o sabe.
"Vocês podem me chamar de Kristoffer" - diz. "E por que nós lhe CURTA PASSIONAL
chamaríamos de Kristoffer?" - diz um dos funcionários. "O seu nome é Matheus Trunk
Svend E." - diz um outro que recebeu emails do grande chefe. "Isso
Div ulgação
mesmo, meu nome é Svend". "E o que significa o E" - perguntam.
André Klotzel
No passo a passo das sílabas, ele inventa, então, o seu sobrenome. O Div ulgação
processo de construção é assumido: "Posso dizer um nome por qual ESCURIDÃO
tenho predileção". Esta "borda" entre personagem e ator, entre
Leonardo Medeiros
primeira e segunda instalação, ganha contorno no filme de Lars -
justamente por explicitar algo que é geralmente velado. Além disso, BISTURI
escolhas instantâneas, estas que parecem emprestar à performance Div ulgação
do ator o espírito do "não-cálculo", da apropriação no aqui e agora,
Rev ista Cinema Caipira de
parecem estar presentes no percurso de Kristoffer. Outubro

Carlos Ebert
Se os atores têm informações diferentes para jogar, se há coisas que
um ator sabe e o outro não, em cena, quando a informação irrompe, a Same old shit is dead
reação é no próprio contexto. Flagrada, esta evoca a ação do Div ulgação
personagem. E já que este "real" (relações sociais onde de fato está
inserido aquele sujeito) surge, a atuação torna-se "natural" (tomando o ► Setembro (1 6)
termo como problemático, já que se trata da construção de um jogo). ► Agosto (1 8)

► Julho (24)
Na primeira cena com o possível comprador da firma, o brilho se deve
► Junho (23)
(em grande parte) ao mau humor de Kristoffer - instalado a partir da
surpresa diante do outro que acaba de dizer a sua frase decorada: "Eu ► Maio (7 )
sou o presidente da empresa". O desacerto cede lugar à contrariedade ► Abril (4)
(rubaram a minha fala). Se a surpresa foi induzida a partir do
► Março (5)
desconhecimento do ator Jens Albinus ou se este joga, por exemplo,
► Fev ereiro (4)
com "roubaram a minha fala" (elemento que produz sensação), isto
implica duas possíveis modalidades de jogo. De qualquer maneira, se ► Janeiro (6)
ele se surpreende, para o comprador da firma (que nada sabe da farsa)
► 201 0 (54)
aquela é a reação de Svend (o grande chefe, personagem inventado).
► 2009 (49)
Lars Von Trier parece potencializar "o não saber". Na reunião técnica ► 2008 (53)
com a equipe, é preciso falar de informática, assunto do qual Kristoffer
nada sabe. Ele está sentado. Um corte e aparece de pé; outro e está
novamente sentado; outro corte e o plano está aberto. Na mesma Q UEM S O U EU
posição ele observa a reação dos funcionários; balança a cabeça, RA F A E L SP A CA

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respira, pára, pensa, espera; espera. Vemos uma semântica do tempo Radialista e
entre as falas. Um tempo com ações que significam a partir da Produtor Cultural.
situação-dada (elemento em jogo). Os arroubos de pseudo-irritação da Sou autor do blog
performance de Kristoffer se apresentam como uma estratégia para Os Curtos Filmes, no
disfarçar o "não-saber". Alcançam a dimensão do cômico com "ar" desde agosto de 2008.
adjetivos como: "Estão horríveis, estão um xixi, estão uma lavagem de Colaboração em tex tos e artigos
porco" - ele desfia a série falando dos números da empresa. para ‘Bigorna.net’; ‘Rev ista de
Cinema Caipira’; ‘Jornal do Cinema
Mais uma reunição e é como se estivessem cansados. Há a preguiça – Cineclube Cauim’ e; ‘Punctum’.
(bem vinda) de atuar, propícia ao cinema. Da boca de um dos V I S UA LI Z A R M EU P ER FI L C O M P LET O
funcionários, aparece uma frase musicada. Um outro continua a
canção, até que todos cantam. Sem ênfase, no entanto, sem
sublinhar o sentido daquilo (apesar deste estar presente). É esta
espécie de defasagem entre sentido e falta de ênfase que parece dar
poesia à ação; a ausência de ênfase em algo que está evidente.

Quando Kristoffer tenta explicar o porquê não apareceu durante dez


anos, é possível que aquilo seja uma fala improvisada em torno do "o
quê" em jogo: explicar porque não apareceu durante dez anos. Esta
seria uma modalidade específica. Outra modalidade seria o jogo com a
fala pronta que, no entanto, é "jogada fora". "Jogar a fala fora" é um
jargão dos atores, que acaba por se configurar instrução. Não
sublinhar o dito faz aparecer uma cadeia de ações articuladas ao
pensamento interno - graças ao corpo presente que preenche, toma
tempo e espaço. Este corpo, com olhos, fala coisas que não estão no
texto verbalizado. Se podemos lê-lo é porque somos inscritos na
linguagem. Se podemos, além desta leitura, seguir caminhos
subjetivos diversos, é porque temos singularidade.

Depois que Kristoffer recebe uma surra de um dos funcionários, temos


um longo tempo de vazio. Há um pêndulo entre ações e falas
esvaziadas de emoção - a partir das quais podemos ler o não dito - e
pequenas explosões emocionais. Quando Ravn diz a Kristoffer
"Subjulgue-os, ok?", a fala está encharcada de voracidade e energia.
Aparece uma semântica da atuação - já que, tanto os tempos de
distanciamento, relaxamento, distensão, distração (digamos assim),
quanto os tempos de "tomação", significam - se dão a ler.

Com freqüência, há o desdobrar do tempo a cada frase enunciada.


Admitimos a hipótese de que o silêncio é estendido a partir da regra
("estender o silêncio"); admitimos que há ações resultantes e que a
instrução se torna "orgânica", deixa de roubar todo o foco-de-atenção,
produzindo uma marca corporal que implica o estilo de cada um, ou
seja, como cada ator ocupa este tempo de escansão. Admitimos que
esta marca torna-se "segunda pele" (termo stanislavskiano); a
escansão do tempo como um hábito cênico; um repertório que pode
dividir o foco com o que surge (no corpo) impregnado das relações
pessoais com as imagens secretas (internas) produzidas na análise
da personagem (seu caráter) ou o que irrompe surpreendentemente do

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outro e do instante. A regra em jogo racha o foco com o que o ator


"segreda" de identificação, situação paralela. Percebe-se, assim,
atravessado pelo registro corporal que, na medida em que causa
sensação (prazer), pode ser repetido e manipulado.

Na última cena, a escansão do tempo ganha o estatuto de paródia


quando Kristoffer brinca de adiar a assinatura da venda da firma. Ele
chega a fazer aviãzinho com a caneta, que demora a encontrar o
papel. "Ele está fazendo o seu show, quer que todos o admirem" diz a
sua ex-mulher, que é a advogada do comprador. De fato, ele sacode a
bochecha, como os atores costumam fazer antes de entrar em cena.
"Não ouço direito o personagem" - e pede silencio ao recinto. "Quais
são seus valores morais? Assinaria ou não a venda? Eu não tenho a
menor pista. Há simpatias e antipatias guerreando". Aponta o dedo
para o ar. Mais um tempo. "Consegui". Em seguida, nova espera.

Há também os momentos de emoção genuína e, neste caso, a


escansão implica o tempo de um transbordamento. Dizemos que "o
interno está preenchido", mas é algo que toma o corpo todo.

Diferente de outros filmes de Lars Voon Trier, onde a câmera persegue


o ator, O Grande Chefe traz o revezamento de planos com a câmera
fixa. Reações e falas são freqüentemente enquadradas sozinhas. Por
exemplo: "(Ravn) Não me irrite / Corte / (Ele limpa a testa) / Corte /
(Ravn) Isso não faz diferença / Corte / Corte / Corte / (Ravn) Você tem
que dizer o que está no roteiro / Corte / Corte / Corte". Assim, é
possível, graças à fragmentação do suporte material que capta a
imagem, provocar reações nos atores a partir de qualquer outro
contexto que não o ficcional e, depois, montá-las. É na montagem que
as reações podem ser encadeadas de maneira a seguir a lógica da
ficção e a linearidade do percurso da personagem. Esta operação é
possível não apenas graças à linguagem do cinema, mas também
graças à clivagem do trabalho atoral: tanto há dois contextos
diferentes (ficcional e próprio) em jogo, quanto a dvisão externo-
interno. Elementos externos, visíveis, puxam o foco, que permanece
dividido com aqueles subjetivados, escondidos (que também o
situam). Em se tratando de ator, podemos apontar que um dos
operadores da sua arte é a divisão, que, por sua vez, implica o seu
jogo.

Rejane Kasting Arruda, é atriz e pesquisadora. Atua em cinema e


teatro. Faz pesquisa na Universidade de São Paulo junto ao Centro de
Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator. Ministra aulas de
atuação para cinema. Participou dos filmes Corpo, O Veneno da
Madrugada, Tanta, Iminente, Edifício do Tesouro e Medo de Sangue,
entre outros. É também colunista do blog Os Curtos Filmes, onde
assina uma coluna mensal.

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rejane.arruda@usp.br

Nota do blog: Segue link do trailer ‘Medo de Sangue’, filme no qual


Rejane participa.

http://www.youtube.com/user/rejanearrudaatriz?
feature=grec#p/u/15/4lbDzBav_jU

P O S T A DO P O R R A FA EL S P A C A À S 18: 09

NE NH U M C O M E NT Á RI O :

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