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O PROBLEMA DO MAL
WILLIAM LANE CRAIG
Mas isso é um passo bem grande para dar. Como podemos ter tanta certeza de que
Deus não existe? Talvez haja uma razão por que Deus permite todo o mal no mundo.
Talvez, de alguma forma isso se encaixe no grande esquema das coisas, que só podemos
discernir vagamente, se é que podemos. Como sabemos?
Como um teísta cristão, estou convencido de que o problema do mal, terrível como é,
no final não constitui uma refutação da existência de Deus. Pelo contrário, na verdade, eu
penso que o teísmo cristão é a última esperança do homem de resolver o problema do mal.
A fim de explicar por que penso desta forma, será útil fazer algumas distinções para
manter a nossa lucidez. Em primeiro lugar, é preciso distinguir entre o problema
intelectual do mal e o problema emocional do mal. O problema intelectual do mal diz
respeito a dar uma explicação racional de como Deus e o mal podem coexistir. O problema
emocional do mal diz respeito a dissolver a antipatia emocional das pessoas com um Deus
que permitiria sofrimento.
Agora vamos olhar primeiro para o problema intelectual do mal. Existem duas
versões deste problema: primeiro, o problema lógico do mal e, segundo, o problema
probabilístico do mal.
De acordo com o problema lógico do mal, é logicamente impossível que Deus e o mal
coexistam. Se Deus existe, então o mal não pode existir. Se o mal existe, então Deus não
pode existir. Uma vez que o mal existe, segue-se que Deus não existe.
Mas o problema com este argumento é que não há nenhuma razão para pensar que
Deus e o mal são logicamente incompatíveis. Não há qualquer contradição explícita entre
eles. Mas, se o ateu quer dizer que há alguma contradição implícita entre Deus e o mal,
então ele deve estar assumindo algumas premissas ocultas que revelariam esta
contradição implícita. Mas o problema é que nenhum filósofo jamais foi capaz de
identificar tais premissas. Portanto, o problema lógico do mal não consegue demonstrar
qualquer incompatibilidade entre Deus e o mal.
Mas, mais do que isso: podemos realmente provar que Deus e o mal são logicamente
consistentes. Você vê, o ateu pressupõe que Deus não pode ter razões moralmente
suficientes para permitir o mal no mundo. Mas esta suposição não é necessariamente
verdade. Na medida em que for ao menos possível que Deus tenha razões moralmente
suficientes para permitir o mal, segue-se que Deus e o mal são logicamente consistentes. E,
certamente, isso parece pelo menos logicamente possível. Portanto, estou muito satisfeito
por poder relatar que é amplamente aceito entre os filósofos contemporâneos que o
problema lógico do mal foi dissolvido. A coexistência de Deus e o mal é logicamente
possível.
Mas, ainda não saímos do problema. Por que, agora, encaramos o problema
probabilístico do mal. De acordo com esta versão do problema, a coexistência de Deus e o
mal é logicamente possível, mas, no entanto, é altamente improvável. A extensão e
profundidade do mal no mundo são tão grandes que é improvável que Deus tenha razões
moralmente suficientes para permiti-lo. Portanto, dado o mal no mundo, é improvável que
Deus exista.
1. Nós não estamos em uma boa posição para avaliar a probabilidade de Deus ter razões
moralmente suficientes para os males que acontecem. Como pessoas finitas, estamos limitados
no tempo, espaço, inteligência e perspicácia. Mas o transcendente e soberano Deus vê do
início ao fim e providencialmente ordena a história de modo que seus propósitos são
finalmente alcançados através de decisões humanas livres. Para atingir Seus fins, Deus
pode ter que suportar certos males ao longo do caminho. Males que parecem sem sentido
para nós dentro da nossa visão limitada podem ser vistos como justamente permitidos
dentro da visão mais ampla de Deus. Vou emprestar uma ilustração de um campo de
desenvolvimento da ciência, a Teoria do Caos, os cientistas descobriram que certos
sistemas macroscópicos, por exemplo, sistemas de clima ou de populações de insetos, são
extremamente sensíveis às menores perturbações. Uma borboleta flutuando sobre um
galho na África Ocidental, pode colocar em movimento forças que eventualmente
causariam um furacão sobre o Oceano Atlântico. No entanto, é impossível, em princípio,
para qualquer um observando essa borboleta palpitando em um ramo prever tal
resultado. O assassinato brutal de um homem inocente ou uma criança morrendo de
leucemia poderia produzir uma espécie de efeito cascata ao longo da história de forma que
a razão moralmente suficiente para que Deus o permitisse pode não surgir até séculos
mais tarde e talvez em outra terra. Quando você pensa na providência de Deus em toda a
história, acho que você pode ver como é desesperador para os observadores limitados
especular sobre a probabilidade de que Deus tivesse uma razão moralmente suficiente
para permitir um certo mal. Nós simplesmente não estamos em uma boa posição para
avaliar tais probabilidades.
c. O conhecimento de Deus transborda para a vida eterna. Na visão cristã, esta vida não é
tudo que existe. Jesus prometeu a vida eterna a todos aqueles que depositam sua confiança
nele como seu Salvador e Senhor. Na vida após a morte, Deus recompensará aqueles que
têm suportado o sofrimento com coragem e confiança com uma vida eterna de alegria
indizível. O apóstolo Paulo, que escreveu a maior parte do Novo Testamento, viveu uma
vida de sofrimento incrível. No entanto, ele escreveu, "nós não desanimamos. Pois esta
leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória acima de toda
comparação, porque não olhamos para as coisas que são vistas, mas para as coisas que são
invisíveis, pois as coisas que se vêem são temporais, mas as coisas que se não vêem são
eternas." (II Coríntios. 4:16-18). Paulo imagina uma balança, por assim dizer, em que todos
os sofrimentos da presente vida são colocados em um lado, enquanto no outro lado é
colocada a glória que Deus concede a seus filhos no céu. O peso de glória é tão grande que
é, literalmente, além da comparação com o sofrimento. Além disso, quanto mais tempo
passamos na eternidade, mais os sofrimentos desta vida encolhem para um momento
infinitesimal. É por isso que Paulo podia chamá-los de "uma leve e momentânea
tribulação"—eles eram simplesmente esmagados pelo oceano da eternidade e alegria
divina que Deus derrama sobre aqueles que confiam nele.
d. O conhecimento de Deus é um bem incomensurável. Conhecer a Deus, a fonte de
infinita bondade e amor, é um bem incomparável, a realização da existência humana. Os
sofrimentos desta vida não podem sequer ser comparados a isso. Assim, a pessoa que
conhece a Deus, não importa o que ela sofra, não importa o quão terrível é sua dor, ainda
pode dizer, "Deus é bom para mim", simplesmente em virtude do fato de que ela conhece
a Deus, um bem incomparável.
a. Deus oferece a melhor explicação de porque o universo existe em vez de nada. Alguma
vez você já se perguntou por que as coisas existem? De onde veio tudo isso? Tipicamente,
os ateus têm dito que o universo é eterno e sem causa. Mas, descobertas na astronomia e
na astrofísica durante os últimos 80 anos tornaram isso improvável. De acordo com o
modelo do Big Bang do universo, toda matéria e energia, de fato, os próprios espaço e
tempo físicos, vieram à existência em um ponto há cerca de 13,5 bilhões de anos atrás.
Antes desse ponto, o universo simplesmente não existia. Portanto, o modelo do Big Bang
exige a criação do universo a partir do nada.
Agora, este tende a ser muito embaraçoso para o ateu. Quentin Smith, um filósofo
ateu, escreve:
A resposta dos ateus e agnósticos para este desenvolvimento tem sido
comparativamente fraca, na verdade quase invisível. Um silêncio incômodo
parece ser a regra quando o assunto surge entre os não crentes... A razão para o
embaraço de não-teístas, não é difícil de encontrar. Anthony Kenny sugere isso
nesta declaração: "Um proponente da teoria [do Big Bang], pelo menos se ele é
ateu, deve acreditar que a matéria do universo veio do nada e por nada."
Essa dificuldade não confronta o teísta cristão, uma vez que a teoria do Big Bang só
confirma o que ele sempre acreditou: que, no princípio, Deus criou o universo. Agora eu
coloco para você: o que é mais plausível: que o teísta cristão está certo ou que o universo
surgiu sem uma causa a partir do nada?
A resposta é que as chances de que o universo tenha vida são tão infinitesimais a
ponto de serem incompreensíveis e incalculáveis. Por exemplo, uma mudança na força da
gravidade ou da força atômica fraca em apenas uma parte em 10100 teria impedido um
universo com vida. A chamada constante cosmológica “lambda” que impulsiona a
expansão inflacionária do Universo e é responsável pela emente descoberta aceleração da
expansão do Universo é finamente sintonizada em cerca de uma parte em 10120. Roger
Penrose, físico de Oxford, calcula que a probabilidade de a condição especial de baixa
entropia do nosso Universo, da qual nossas vidas dependem, ter surgido por mero acaso é
pelo menos tão pequena quanto uma parte em 1010(123). Penrose comenta, "Eu não posso
nem lembrar de ter visto outra coisa na física, cuja precisão chegue remotamente perto de
um número como uma parte em 1010(123).” Há múltiplas quantidades e constantes que
devem ser finamente sintonizadas desta forma para que o Universo permita vida. E não é
apenas cada quantidade que deve ser absurdamente finamente sintonizada; as suas
relações umas com as outros também deve ser finamente sintonizada. Então,
improbabilidade é multiplicada por improbabilidade e por improbabilidade até que as
nossas mentes estão cambaleando em números incompreensíveis.
Não há nenhuma razão física porque essas constantes e as quantidades deveriam ter os
valores que elas têm. O físico outrora agnóstico Paul Davies comenta, "Pelo meu trabalho
científico, eu vim a crer mais e mais fortemente que o universo físico é formado com uma
engenhosidade tão espantosa que eu não posso aceitar isso meramente como um fato
bruto." Da mesma forma, Fred Hoyle comenta, "Uma interpretação de senso comum dos
fatos sugere que um intelecto sobrenatural andou brincando com a física." Robert Jastrow,
o ex-chefe do Instituto Goddard da NASA para Estudos Espaciais chamou isso de a mais
poderosa evidência para a existência de Deus que já veio da ciência."
3. Valores morais objetivos no mundo. Se Deus não existe, então valores morais objetivos
não existem. Muitos teístas e ateus concordam neste ponto. Por exemplo, o filósofo da
ciência explica Michael Ruse explica,
A moralidade é uma adaptação biológica não menos que nossas mãos, pés e
dentes. Considerada como um racionalmente justificável conjunto de afirmações
sobre algo, a ética é ilusória. Aprecio que, quando alguém diz 'ame o próximo
como a ti mesmo', ele pense estar referindo-se a algo acima e além de si mesmo.
Todavia, essa referência é na verdade sem fundamento. A moralidade é apenas
uma ferramenta de sobrevivência e reprodução... e qualquer sentido mais
profundo é ilusório."
Mas devemos ter muito cuidado aqui. A questão aqui não é: "Precisamos acreditar em
Deus para viver vidas morais?" Eu não estou dizendo que devemos. Nem a pergunta é:
"Podemos reconhecer valores morais objetivos sem acreditar em Deus?" Eu acredito que
podemos.
Em vez disso, a questão é: "Se Deus não existe, existem valores morais objetivos?"
Como Ruse, não vejo qualquer razão para pensar que, na ausência de Deus, a
moralidade grupal evoluída pelo Homo sapiens seja objetiva. Afinal, se Deus não existe,
então o que há de tão especial sobre os seres humanos? Eles são apenas subprodutos
acidentais da natureza, que evoluíram recentemente em uma partícula de poeira
infinitesimal perdida em algum lugar em um universo hostil e sem sentido e que estão
condenados a perecer individualmente e coletivamente em um tempo relativamente curto.
Na visão ateísta, alguma ação, digamos, de estupro, pode não ser socialmente vantajosa e
assim no decorrer do desenvolvimento humano se tornou um tabu; mas isso não faz
absolutamente nada para provar que o estupro é realmente errado. Na visão ateísta, não
há nada de errado em você estuprar alguém. Assim, sem Deus, não existe certo e errado
absolutos que se impõem na nossa consciência.
Mas o problema é que existem valores objetivos, e no fundo, todos nós sabemos disso.
Não há mais razão para negar a realidade objetiva dos valores morais do que a realidade
objetiva do mundo físico. Ações como estupro, crueldade e abuso infantil não são apenas
comportamentos socialmente inaceitáveis—elas são abominações morais. Algumas coisas
são realmente erradas.
Essas são apenas parte das evidências de que Deus existe. O proeminente filósofo
Alvin Plantinga expôs duas dúzias ou mais de argumentos para a existência de Deus. A
força cumulativa destes argumentos faz com que seja provável que Deus exista.
Em resumo, se minhas três teses estiverem corretas, então o mal não torna
improvável a existência do Deus cristão; pelo contrário, considerando o escopo completo
das provas, a existência de Deus é provável. Assim, o problema intelectual do mal não
derruba a existência de Deus.
Mas isso nos leva ao problema emocional do mal. Eu acho que a maioria das pessoas
que rejeitam a Deus por causa do mal no mundo não o fazem realmente por causa de
dificuldades intelectuais; em vez disso, é um problema emocional. Elas simplesmente não
gostam de um Deus que permitiria que elas ou outras pessoas sofressem e, portanto, não
querem nada com Ele. O ateísmo deles é simplesmente um ateísmo de rejeição. Será que a
fé cristã tem algo a dizer a essas pessoas?
Certamente que sim! Pois ela nos diz que Deus não é um Criador distante ou um tipo
impessoal de ser, mas um Pai amoroso que partilha os nossos sofrimentos e mágoas. O
Prof. Plantinga escreveu,
Você vê, Jesus suportou um sofrimento além de toda compreensão: Ele levou a
punição pelos pecados de todo o mundo. Nenhum de nós pode compreender esse
sofrimento. Embora ele fosse inocente, Ele voluntariamente tomou sobre si o castigo que
nós merecíamos. E por quê? Porque Ele nos ama. Como podemos rejeitar Aquele que deu
tudo por nós?
Quando compreendemos o Seu sacrifício e Seu amor por nós, isso coloca o problema
do mal em uma perspectiva totalmente diferente. Porque agora vemos claramente que o
verdadeiro problema do mal é o problema do nosso mal. Cheios de pecado e moralmente
culpados diante de Deus, a questão que enfrentamos não é como Deus pode justificar-se a
nós, mas como nós podemos ser justificados diante dEle.