Sie sind auf Seite 1von 93

MAIO 2017 | hbrbr.com.

br EMPREENDEDORISMO 12 GESTÃO ORGANIZACIONAL 66

Como capitalistas O paradoxo das


de risco avaliam stretch goals
propostas Sim B. Sitkin, C. Chet Miller
e Kelly E. See
OPERAÇÕES 56

Raciocínio linear DEFENDA SEU ESTUDO 18

num mundo Às vezes, quanto


não linear menos inovação,
rt de Langhe, Stefano Puntoni melhor Editores

Richard Larrick Paolo Aversa

O QUE OS
MELHORES
CEOs FAZEM
DIFERENTE
AS ATITUDES QUE
DIFERENCIAM OS
MELHORES
PÁG. 48
LÍDERES
MAIO 2017

FOCO 24 GOVERNANÇA
O PRINCIPAL ERRO DA
39  GOVERNANÇA
A VISÃO DO CONSELHO: OS
GESTÃO DE

23
LIDERANÇA CORPORATIVA CONSELHEIROS PRECISAM
EQUILIBRAR TODOS OS INTERESSES
LONGO PRAZO
A maioria dos CEOs e dos conselhos
acredita que tem obrigação de maximizar Uma conversa com Barbara Hackman
valor para o acionista. Não tem. Franklin, especialista em governança
Joseph L. Bower e Lynn s. Paine corporativa. Sarah Cliffe
36 LIDERANÇA 42 PESQUISA
A VISÃO DO CEO: DEFENDER BOAS OS DADOS: QUANDO O
EMPRESAS DE MAUS INVESTIDORES “LONGO PRAZISMO” COMPENSA
Uma conversa com David Pyott, ex-CEO Pesquisa mostra correlação com
da Allergan. Sarah Cliffe melhor desempenho financeiro.
Dominic Barton, James Manyika e
Sarah Keohane Williamson CAPA: KIDSADA MANCHINDA/GETTY IMAGES

FIQUE CONECTADO CONOSCO


HBR BRASIL www.hbrbr.com.br
EMAIL: contato@rfmeditores.com.br
TWITTER: @hbrbrasil
FACEBOOK: Harvard Business Review Brasil
LINKEDIN: Harvard Business Review Brasil

4 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


ARTIGOS
LIDERANÇA
O que diferencia os
CEOs bem-sucedidos
Quatro atitudes
47
OPERAÇÕES
Raciocínio linear num
mundo não linear
A escolha mais óbvia é
PLANEJAMENTO
ESTRATÉGICO
O paradoxo das
stretch goals
que os executivos geralmente a errada. Metas audaciosas são
precisam desenvolver Bart de Langhe, incompreendidas — e
nos cargos de alto Stefano Puntoni e muito mal utilizadas.
escalão. Richard Larrick Sim B. Sitkin, C. Chet
Miller e Kelly E. See

56
Elena Lytkina Botelho,

66
Kim Rosenkoetter
Powell, Stephen
Kincaid e Dina Wang

48
RADAR 12 EMPREENDEDORISMO
Como investidores de
risco avaliam propostas
18 DEFENDA SEU ESTUDO
Às vezes, quanto menos
inovação, melhor
Novas ideias e Comportamentos Se sua empresa está um caos,
pesquisas em andamento surpreendentes que fazem a não se afobe atrás da próxima
diferença inovação
14 RESUMO GERAL DAS ÚLTIMAS
PESQUISAS E IDEIAS SOBRE GESTÃO

EXPERIÊNCIA
90
75 GESTÃO PESSOAL
Resgate seu trajeto diário DE CORPO E ALMA
Administre seu
Ir e voltar do trabalho não
precisa ser uma tortura. ALICE WATERS
crescimento profissional Francesca Gino, Bradley Staats,
Jon Jachimowicz, Julia Lee e
Jochen Menges
82 ESTUDO DE CASO
Competir contra a ostentação
Como uma marca de relógio
discreta pode se destacar
na China?
Stephen Nason, Joseph Salvacruz
e J. P. Stevenson
DAN SAELINGER; MATHEW SCOTT

SEÇÕES
8 Carta ao leitor
88 Resumo da edição

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 5 


Tirar o certificado de mergulho.
Aos 50 anos.
E ter fôlego para ver
um naufrágio que só viu pela TV.

Tem uma conquista que leva a todas as outras.


One Health. Seu plano de saúde premium.
• Atendimento personalizado • Coberturas ampliadas • Reembolso ágil em até 24h • Coleta domiciliar de exames
• Cobertura de vacinas • Resgate Saúde • Assistência viagem internacional • Programa de coaching One Care.

0800 208 1019 | onehealth.com.br


artplan

A conquista da sua vida.


CARTA AO LEITOR
ESTAMOS
É voz corrente no capitalismo moderno que a maior prioridade
dos gestores é maximizar valor para os acionistas. Por isso,
quando publicamos artigos sobre como criar um negócio

ATRIBUINDO
sustentável de longo prazo, às vezes, somos repudiados por
executivos de empresas de capital aberto. Eles dizem que a meta
é admirável, mas as pressões do mundo moderno exigem que

PODER
eles priorizem os retornos para os acionistas.
Mas e se a premissa que sustenta esta ideia estiver errada?
E se ela se basear numa interpretação questionável, talvez até

EXAGERADO
equivocada da lei? Estas são algumas das questões provocativas
apresentadas no artigo de fundo do Foco deste mês, por Joseph
Bower e Lynn Paine, da Harvard Business School: “O principal
erro da liderança corporativa” (pág. 24).

AOS
A ideia de primazia do acionista é relativamente recente
e está sedimentada na teoria da representação exposta por
economistas acadêmicos na década de 1970 em artigos da

ACIONISTAS?
HBR e outros lugares. De forma simplificada, a noção é que os
acionistas são donos das corporações e, por este motivo, têm a
palavra final sobre seus negócios. Bower e Paine demonstram
falhas na teoria, principalmente sua incapacidade de tratar o
“vácuo da responsabilidade” que surge pelo fato de os acionistas
— muitos deles investidores apenas de curto prazo — não terem
responsabilidade real sobre as empresas de cujas ações são
detentores.
Os autores argumentam que a atual ortodoxia, “versão
extrema da centralização no acionista”, é “confusa”, em termos
legais, e prejudica a sociedade. E ainda força os executivos a
focarem exageradamente no curto prazo, enfraquecendo as
perspectivas de longo prazo das empresas e prejudicando a
corporação como um todo.
Uma abordagem mais apropriada, segundo eles, deveria se
preocupar intrinsecamente com a saúde da empresa, e não com
os ganhos de curto prazo dos acionistas. As corporações são
entidades independentes autorizadas por lei, com potencial para
continuar indefinidamente. Com uma boa liderança, elas podem
ser úteis aos mercados e à sociedade por longos períodos.
Há mais de 40 anos, as obras acadêmicas mudaram a forma
como as corporações modernas são geridas. Talvez o artigo de
Bower e Paine possa nos conduzir por um novo caminho.
CHRISTOPHER CHURCHILL

ADI IGNATIUS, EDITOR-CHEFE

8 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


EDITOR-CHEFE CONSELHO EDITORIAL
Adi Ignatius Elaine Saad
EDITORA José Guimarães Monforte
Amy Bernstein José Luiz Bichuetti
PUBLISHER Murilo Portugal
Joshua Macht Pedro Parente
DIRETOR-GERAL
Edward Crowley PUBLISHER
EDITORA EXECUTIVA Roberto Müller Filho
Sarah Cliffe rmuller@rfmeditores.com.br
DIRETORA DE ARTE EDITORA-CHEFE
Karen Player Ana de Magalhães
EDITORA ESPECIAL ana@rfmeditores.com.br
Julia Kirby EDITORA DE ARTE
EDITORES SENIORES Débora de Bem
Alison Beard, Ania Wieckowski, Daniel debora@rfmeditores.com.br
McGinn, David Champion, Gardiner Morse, MÍDIAS SOCIAIS
Jeff Kehoe, Lisa Burrell, Maureen Hoch, Victor Matioli
Melinda Merino, Scott Berinato, victor@rfmeditores.com.br
Steven Prokesch GERENTE DE PUBLICIDADE
EDITORES ASSOCIADOS SENIORES Marcelo Levenstein
Andrew O Connell, Kate Adams, marcelo@rfmeditores.com.br
Sarah Green Carmichael, Walter Frish EXECUTIVAS DE NEGÓCIOS
Heloisa Ortiz
EDITORES ASSOCIADOS heloisa@rfmeditores.com.br
Courtney Cashman, Gretchen Gavett,
Susan Francis Karin Hetschko
karin@rfmeditores.com.br
EDITORAS DE ARTIGOS
Amy Meeker, Christina Bortz, DIRETORA DE MARKETING/EVENTOS
Martha Lee Spaulding, Susan Donovan Carolina Martinez
EDITORES CONTRIBUINTES carolina@rfmeditores.com.br
Amy Gallo, Anand P. Raman, GERENTE DE ASSINATURAS E CIRCULAÇÃO
Bronwyn Fryer, Karen Dillon, Mariana Monné
Jane Heifetz, John Landry, mariana.monne@rfmeditores.com.br
Lew McCreary, Richard Hornik ANALISTA FINANCEIRA
DIRETORA DE PRODUÇÃO EDITORIAL Geni Pinheiro de Brito
Dana Lissy geni@rfmeditores.com.br

DIRETORA DO HBR BRASIL CHANNEL


Christine Salomão
christine@hbrbr.com.br

NOTA AOS LEITORES Rua Cunha Gago, 412, 1 andar, cj. 13


Pinheiros, São Paulo, SP, CEP 05421-001
As opiniões expressas nos artigos são as
de seus autores e não necessariamente as (11) 3094-8404
da Harvard Business Review, da Harvard www.hbrbr.com.br
Business Review Brasil, da Harvard
Business School ou da Harvard University. Harvard Business Review Brasil
Certos autores podem prestar consultoria é uma publicação da RFM Editores Ltda.
a empresas a que aludem ou com elas
possuir vínculos profissionais. Distribuição Nacional pela Dinap S.A.
REPRODUÇÃO
Copyright © 2017 Harvard Business
School Publishing Corporation. Todos
os direitos reservados. É proibida a
reprodução ou transmissão de qualquer EDITADA POR
parte desta publicação em qualquer
formato ou através de qualquer meio,
seja ele eletrônico ou mecânico, incluindo
fotocópia, gravação ou qualquer sistema Editores
de armazenamento e recuperação de
dados, sem autorização escrita.
JORNALISTA RESPONSÁVEL
Volume 95, Número 05, Maio 2017 Roberto Müller Filho
viNsão
(substantivo feminino)

1 Do latim visio, onis. Ato ou efeito de ver.


Percepção de formas, cores e relações espaciais
de um sistema de captação e elaboração
de imagens, formado pelos olhos e cérebro.
“INVESTIDORES DE RISCO NÃO QUEREM
VER DETERMINADOS COMPORTAMENTOS;
ENTÃO SE VOCÊ É EXCESSIVAMENTE
EMOTIVO OU SENSÍVEL, PROCURE
NÃO DEMONSTRAR”
Em: “Como os investidores de risco avaliam propostas”, página 12.

ILUSTRAÇÃO DE JUSTYNA STASIK


MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 11 
RADAR

OS SURPREENDENTES COMPORTAMENTOS para que se avaliasse em que medida os fundadores se

QUE PODEM FAZER A DIFERENÇA mostravam dinâmicos, confiantes ou inseguros (os pro-
gramadores levaram em conta o gênero e o carisma dos
apresentadores, além do tamanho do mercado abrangi-

COMO INVESTIDORES
do pelas start-ups). Entre investidores e empreendedo-
res, a ideia geral é que “paixão” é um atributo positivo,
que indica disposição, persistência e comprometimen-

DE RISCO AVALIAM
to. “Existe esse mito de que eles querem ver o seu empe-
nho máximo para fazer negócios e trabalhar duro”, diz
Balachandra. Porém, quando os programadores checa-

PROPOSTAS
ram as avaliações com base nas start-ups escolhidas co-
mo finalistas da competição, descobriram exatamente o
oposto: os juízes preferiam a serenidade. Estudos subse-
quentes mostraram que as pessoas equiparam tranquili-
dade com poder de liderança. Por isso, modere seu entu-
siasmo e transmita confiança.
s de entrar para o mundo acadêmico, Confiança supera a competência. Em um segun-
shmi Balachandra passou alguns anos do estudo, Balachandra trabalhou com uma rede de
balhando para duas empresas de capital investidores-anjo, sediada na Califórnia, que se reúne
risco, onde ela corriqueiramente tes- mensalmente para ouvir apresentações de 20 minutos
munhou um fenômeno que a deixava de fundadores de start-ups. Imediatamente após cada
erplexa. Os investidores recebiam um apresentação, os investidores preencheram questio-
rojeto de um empreendedor, liam e fi- nários detalhados sobre suas reações e indicaram se
cavam empolgados. Eles pesquisavam a desejavam que as empresas continuassem até a due
indústria e o entusiasmo aumentava ain- diligence (o passo seguinte antes do investimento). Os
da mais. Então convidavam o fundador resultados mostraram que o interesse em uma start-up
da empresa para uma apresentação for- era impulsionado menos pelo julgamento da compe-
mal — e no fim já não tinham nenhum tência dos donos do que pela percepção sobre seu ca-
nvestir naquilo. Por que uma proposta ráter e confiabilidade. Para Balachandra, isso faz sen-
que no papel parece tão promissora se torna descartá- tido: o CEO que não tem as competências básicas, co-
vel quando a pessoa responsável pelo projeto de fato o mo conhecimento prévio financeiro ou técnico, pode
apresenta? “Foi isso o que me motivou a ir atrás de um superar isso por meio de treinamento ou contratação
doutorado”, diz Balachandra, atualmente professora de pessoas competentes para auxiliá-lo, mas caráter é
da Babson College. “Queria esmiuçar e estudar a inte- algo menos maleável. E como investidores-anjo nor-
ração entre o investidor e o empreendedor”. malmente trabalham diretamente com empreende-
Balachandra, ainda antes do início de sua pesqui- dores em investimentos de alto risco por vários anos,
sa, tinha alguns palpites. A maior parte dos empreen- procuram evidências de que seus novos parceiros se
dedores acredita que a decisão sobre o investimento comportarão de forma honesta e direta, sem aumentar
irá depender primeiramente do produto da apresen- os riscos. Na verdade, a pesquisa mostrou que empre-
tação — a informação e a lógica, normalmente expos- endedores que projetaram confiabilidade ampliaram
tas em tela de PowerPoint. Mas, na verdade, muitos em 10% suas chances de ser financiados.
investidores avaliam as apresentações previamen- A capacidade de oferecer coaching é importan-
te; o encontro pessoal é mais para tirar dúvidas, ter te. Especialmente entre investidores-anjo, que se en-
maior clareza e julgar a personalidade de quem apre- volvem mais cedo do que investidores tradicionais, as
senta. Para entender melhor essas dinâmicas, Bala- decisões não são impulsionadas apenas pelo potencial
chandra passou quase dez anos anotando o que se de retorno — mas também pelo ego. Os investidores-an-
passava em reuniões de apresentação e quantifican- jo são em sua maioria empreendedores experientes que
do os resultados. Alguns padrões eram claros desde o querem ser mentores ativos, por isso preferem investi-
começo. Por exemplo, empreendedores que dão risa- mentos que lhes permitam agregar valor. Para que isso
da durante suas apresentações são mais bem-sucedi- aconteça, o fundador precisa estar aberto para receber
dos, assim como as que conferem os amigos que pos- feedback e ter potencial para ser um bom protégé.
suem em comum com seus investidores. Depois de se Balachandra chegou a essa conclusão por meio de
aprofundar, ela chegou a quatro conclusões gerais: pesquisas e avaliações de vídeos com a mesma rede de
A paixão é superestimada. Trabalhando com gra- investidores da Califórnia. Programadores examina-
vações em vídeo de mais de 185 apresentações de um ram os vídeos atentando para gestos como acenar com
minuto realizadas durante uma competição de empre- a cabeça e sorrir ao responder às perguntas, o que indi-
endedorismo no MIT (com investidores reais atuando ca que os fundadores estavam abertos a ideias. Quan-
como juízes), Balachandra pediu aos programadores do os resultados das análises e das pesquisas demons-
que desligassem o som e deixassem somente as imagens traram que eles estavam, e quando o investidor

12 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


BONG KOH
“PREFIRO INVESTIR EM MISSIONÁRIOS”
Bong Koh trabalhou para uma tradicional empresa de capital de
risco localizada na região da Bay Area e foi cofundador de três
start-ups antes de abrir a KohFounders, um fundo de investimentos
baseado em Chicago e Los Angeles. Ele conversou com a HBR sobre
como avalia os fundadores. Veja trechos da entrevista seguir.

Pelo modo como fazem suas realmente acreditam nas soluções que
apresentações, você diria estão oferecendo para o mercado.
que os empreendedores
superestimam a importância A vontade do empreendedor de
da ideia do negócio que estão se tornar um mentor é muito
propondo? Eu acredito piamente importante? Não sou capaz de
que sim. Embora a ideia do negócio fazer uma empresa ter sucesso.
seja, claro, muito importante, minha Qualquer investidor que afirme o
tendência é filtrar ideias e mercados contrário é arrogante. Dito isso,
que não me interessam antes mesmo eu realmente procuro aqueles que
de decidir realizar uma reunião serão bons parceiros, que estão
de apresentação. Nos estágios abertos a feedback. Se as pessoas
iniciais, quando você ainda é um se mostram muito defensivas ao
investidor-anjo ou pre-seed, não se receber um feedback, trabalhar
tem ainda muita informação sobre com elas pode ser complicado.
se o negócio vai ter boa aceitação.
Sua opinião tem de ser abalizada É muito difícil avaliar essas
para saber se há mercado, e você características em uma única
precisa avaliar os outros aspectos da apresentação? Procuro não
apresentação. Muito disso se resume me concentrar muito em como o
a: “você acredita nesta equipe?”. empreendedor faz a apresentação.
Para mim, esta é a primeira coisa — Assim como existem pessoas que
uma vez que eu tenha decido que sobressaem em entrevistas de
aquela é uma oportunidade que emprego, mas se tornam péssimos
desejo explorar. Quero saber se os funcionários, há aquelas que
empreendedores estão dispostos a são excelentes na apresentação,
desenvolver aquilo. mas não são necessariamente
empreendedores competentes.
Essa pesquisa sugere que o Tento passar bastante tempo com
comportamento sereno é mais empreendedores fora do ambiente
atraente para investidores da apresentação antes de fazer o
do que paixão e energia. Você investimento. Essa é uma das razões
concorda? Na verdade, prefiro pela qual não invisto muito na região
empreendedores mais apaixonados da Bay Area — contratos ali podem
e enérgicos. Pessoas que começam progredir muito rápido, então é
um negócio são mercenários ou complicado passar muito tempo
missionários, e eu prefiro investir com uma start-up antes de tomar
em missionários — pessoas que uma decisão.

FOTOGRAFIA DE MEIKO TAKECHI ARQUILLOS


MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 13 
RADAR

LEALDADE
CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 26

tinha experiência em sua respectiva indústria —


dando-lhes conhecimento que poderia agregar va-
QUANDO OS CLIENTES ESTÃO MAIS PROPENSOS A PARTIR
lor —, a empresa estava mais disposta a prosseguir
até a due diligence.
Estereótipos de gêneros têm uma função. Em
A ROTATIVIDADE DE EMPREGADOS CRIA dores de cabeça específicas
seu primeiro emprego em investimentos de risco, para empresas de serviços profissionais, pois os clientes
Balachandra poucas vezes encontrou outra mulher,
seja entre investidores, seja entre empreendedo-
geralmente seguem funcionários que estão saindo da empresa.
res. Segundo ela, 94% dos investidores de risco são Em um recente estudo, foram usados registros públicos para
homens (ela depois trabalhou em uma empresa só
de mulheres cujo objetivo era financiar start-
determinar quando os clientes acompanharam os lobistas que

3ANOS
,5
-ups lideradas por mulheres). Durante a mudaram de empresa e quando permaneceram.
pesquisa, Balachandra e seus colegas
usaram vídeos da competição do
Um fator importante é a duração do relacionamento
MIT para testar a percepção de que tanto com o lobista quanto com a empresa. A
investidores de risco são tenden-
ciosos em relação a mulheres em-
possibilidade de um cliente seguir um funcionário que
preendedoras. Programadores ob- está de saída aumenta em quase 2%, para cada seis
servaram se o apresentador era ho-
mem ou mulher e então avaliaram se
meses que os dois trabalharam juntos. Esse efeito é, de
Depois de trabalhar
exibiam sinais de comportamento es- com determinado certa forma, contrabalançado pelo tempo que o cliente
tereotipado — masculino (como vigor, funcionário por
controle, agressividade e assertividade)
esse período, tem negócios com a empresa, com o risco de ele seguir o
a chance de
ou feminino (simpatia, sensibilidade, elo- o cliente funcionário que a está deixando ser aproximadamente 1%
quência e emotividade). A análise mostrou segui-lo
que embora o gênero por si só não influen- quando ele
menor para cada seis meses em que foi cliente. A importância
cie o sucesso, pessoas com maiores níveis de partir para aparente desses dois efeitos é considerável: a chance de
uma nova
comportamento estereotipado feminino ti-
nham menos possibilidade de ser bem-sucedi-
empresa um cliente abandonar o barco com um funcionário dobra
dobra.
das nas apresentações. “O estudo mostra que in- depois de três anos e meio. A estrutura do relacionamento
vestidores de risco são tendenciosos em relação
a características femininas”, afirma Balachandra.
também importa. Clientes atendidos por equipes são
“Eles não querem ver determinados comportamen- menos propensos a acompanhar qualquer funcionário,
tos, então se você é excessivamente emotivo ou sen-
sível, procure não demonstrar”.
principalmente quando a equipe é composta de especialistas
O ponto mais importante para os empreende- — é muito difícil para um lobista especializado em um
dores é o seguinte: você deve pensar no processo
de apresentação menos como uma apresentação
tema reproduzir os serviços de toda uma equipe.
formal e mais como uma conversa improvisada Embora o estudo tenha como objetivo lobistas, os
onde a atitude é mais importante do que os fun- resultados são relevantes para empresas de serviços
damentos do negócio. Preste bastante atenção às profissionais em geral. ■
perguntas que lhe são feitas, e pense bem nas res-
postas. Se você não sabe uma coisa, diga que irá SOBRE A PESQUISA “Employee mobility and interfirm relationship transfer: evidence
descobrir — ou pergunte ao investidor o que ele from the mobility and client attachments of United States Federal Lobbyists, 1998—
acha. Não reaja defensivamente a perguntas-cha- 2014”, por Joseph Raffiee (Strategic Management Journal, a ser publicado em breve.)
ve. E em vez de ficar obcecado com os detalhes
técnicos de sua apresentação, Balachandra suge-
re “se concentrar para ficar calmo, sereno e aber-
to a feedbacks”. HBR Reprint F1705A–P

SOBRE O ESTUDO “Calm, cool and competent: the


impact of an entrepreneur’s displayed emotions on Quando a disposição dos produtos é feita na horizontal em vez de
investor decisions”, por L. Balachandra e A. Corbett (versão na vertical — por exemplo, nas prateleiras das lojas —, os
preliminar); “Pitching trust: investors value character over
competency”, por L. Balachandra (versão preliminar); consumidores veem mais itens e notam e compram maior
“Investor mentor: evaluating the entrepreneur as protégé”, variedade. A visão binocular facilita os movimentos horizontais dos
por L. Balachandra, H. Sapienza e D. Kim (versão preliminar);
“Don’t pitch like a girl! how gender stereotypes influence olhos, por isso essas disposições são mais fáceis de ser processadas.
investor decisions”, por L. Balachandra et al. (Entrepreneur- “A ‘WIDE’ VARIETY: EFFECTS OF HORIZONTAL VERSUS VERTICAL DISPLAY ON ASSORTMENT PROCESSING, PERCEIVED
ship theory and practice, a ser publicado em breve.) VARIETY, AND CHOICE”, POR XIAOYAN DENG ET AL.

14 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


DO ARQUIVO: HBR JULHO-AGOSTO 1987
“Estaria um gestor propenso a colocar o
futuro da empresa nas mãos de um sistema LUXO
inteligente de computador que ‘faz suposições’?
Não. Se um dia o sistema for instalado, será CONSUMIDORES
por cima do cadáver do gestor.”
QUEREMUMABOA
DESCULPAPARA
“THINKING ABOUT ARTIFICIAL INTELLIGENCE”, POR BEAU SHEIL

MARKETING
NÃO LANCE SEU PRODUTO EM 2020
GASTARMAIS
Novos dados da pesquisa anual Most memorable new product launch mostram ESTUDOS MOSTRAM QUE consumidores
um padrão interessante: a lembrança dos consumidores no EUA de produtos muitas vezes se sentem culpados
novos foi ao menos 10 pontos menor, em média, para itens lançados em 2008, por comprar produtos de luxo
2012 e 2016 do que para os lançados em outros anos recentes. O motivo? As
eleições presidenciais consomem a atenção da mídia e dos consumidores.
porque o custo excessivo parece
Segundo os pesquisadores, “legislações e medidas políticas podem mudar desperdício ou frivolidade. Para
o modo como as pessoas vivem de uma maneira que poucos produtos são superar esse sentimento, profissionais
capazes”. A cobertura e a propaganda política são emocionantes e bastante de marketing podem enfatizar o que
tensas, por isso “novos produtos têm mais dificuldade para perfurar a
consciência coletiva dos consumidores”. Entre os produtos que conseguiram
os pesquisadores chamam de álibi
romper essa confusão em 2016 e atingir bons níveis estão o Iphone 7 da Apple, funcional — uma característica prática
o Tesla modelo X, a Echo Dot da Amazon e vários itens de fast-food e petiscos. ■ que ajuda as pessoas a justificar seus
PROPORÇÃO DE CONSUMIDORES QUE SE LEMBRAVAM DE UM NOVO PRODUTO gastos (exemplos incluem a capacidade
65 % off-road de SUVs de luxo e os bolsos
para proteção de celular em bolsas
59% 57 %
da Louis Vuitton). Pesquisadores

55 % analisaram resenhas virtuais para


entender a importância de atributos
49% 50%
práticos à medida que os preços

45% 45% aumentam e conferiram anúncios


para ver quanto a mais o consumidor
pagaria quando uma característica
prática era ressaltada (grávidas, por

33 %
34% exemplo, disseram que pagariam 50% a
31% mais por uma bolsa de bebês da Coach
depois de terem visto um anúncio
explicando seu compartimento térmico
para mamadeiras). Elas escreveram:
“Os profissionais de marketing
criativos podem usar essa estratégia
para elaborar produtos, promoções e
anúncios que sejam atraentes para o
desejo dos consumidores por luxo e
justificativas”.” ■
2008
2006

2009
2007

2010

2014

2016
2012

2013

2015
2011

SOBRE A PESQUISA “The functional alibi”, por Anat


FONTE “MOST MEMORABLE NEW PRODUCT LAUNCH SURVEY: 2016”, POR SCHNEIDER ASSOCIATES AND SENTIENT
Keinan, Ran Kivetz e Oded Netzer (Journal of the
DECISION SCIENCE Association for Consumer Research, 2016.)

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 15 


O desafio do século 21:
proteger os ativos
de informação
No século passado, o grande ativo das
empresas eram suas máquinas, a base
de clientes ou seus talentos. No século
21, a essa lista devemos acrescentar
a informação. As companhias hoje
guardam uma quantidade incalculável
de dados – de consumidores,
fornecedores, funcionários e delas
próprias. Protegê-los é tão importante
quanto saber utilizá-los para o
crescimento do negócio. Hoje, uma
coisa está ligada à outra.
As empresas captam milhões de dados.
Eles são usados para uma comunicação
mais efetiva, para estreitar relações e
oferecer melhores serviços. À medida
que a Internet da Coisas avança e os
wearables se popularizam, a coleta de
informações vai aumentar. Mas o que
acontece quando as empresas invadem
a privacidade dos clientes ou não são
capazes de proteger as informações?
A 20th Annual Global CEO Survey, a
pesquisa da PwC com cerca de 1.400
líderes empresariais, mostrou que 79%
dos CEOs brasileiros e 64% dos CEOs
globais acreditam que o gerenciamento
de dados é um fator de diferenciação
em relação à concorrência. Por que
isso ocorre? Porque, hoje, o bom
tratamento aos dados é visto como um
fator fundamental para a conquista
e manutenção da confiança dos
stakeholders. Outra pesquisa da PwC,

O mundo pede novas leituras.


www.pwc.com.br/imperativos-negocios
Cinco questões
relevantes:
O que você está fazendo para
1 proteger os dados de clientes
que ouviu 5.300 pessoas de 22 países, Trata se de um problema crescente. e funcionários contra roubo,
mostrou que 84% delas perdem a Empresas de todos os setores são alvos perda ou uso indevido – e qual
confiança em empresas por violações em potencial. E também governos. o grau de solidez das estratégias
na privacidade de dados. Imagine o efeito de um atentado adotadas?
terrorista que, em vez de bombas,
Confiança é um ativo fundamental para
ataque uma cidade provocando O seu CIO sabe até que ponto
o sucesso de qualquer empresa. Nove
pane no metrô ou interrompendo a 2 a tecnologia na qual investe
em cada dez CEOs dizem que violações
transmissão de energia. afetará a confiança dos
de dados terão impacto significativo
na confiança dos stakeholders nos Para abordar essas questões de forma stakeholders na sua empresa?
próximos anos. eficaz, as empresas precisam fortalecer Como construir a infraestrutura
a estratégia, os fundamentos e a 3 certa para coletar, gerenciar,
As violações não se restringem aos
inteligência analítica em segurança controlar e proteger dados?
dados de clientes. Fórmulas de
cibernética, indo muito além da
produtos, estratégias de vendas, Diante do aumento dos riscos
tradicional segurança em TI. Proteger 4
estratégias de relacionamento, de segurança cibernética, você
ativos de informação é essencial para
inovações e protótipos são alvos cada tem protocolos claros para lidar
as empresas. Conquistar a confiança na
vez mais visados por cyber criminosos. com interrupções de sistemas
era digital se tornou mais difícil.
Mas é um desafio que as empresas que perturbam seus clientes?
devem enfrentar.
O que você pode fazer para
5 medir e alavancar a confiança
Os CEOs estão preocupados com vários riscos em sua marca e, desse modo,
torná-la uma vantagem
digitais e com seu impacto na confiança comparativa?

P: Até que ponto você acredita que as seguintes áreas afetarão P: Até que ponto a sua organização está lidando com as
negativamente os níveis de confiança dos stakeholders na sua seguintes áreas atualmente?*
indústria nos próximos 5 anos?
21% 69% 38% 52%
Violações de privacidade 30% 62%
de dados e ética
38% 53% 40% 45%

31% 55% 36% 53%


Interrupções de TI 22% 69%
35% 55% 41% 44%

Violações de segurança cibernética 29% 55% 37% 55%


que afetam informações de 30% 64%
negócios ou sistemas essenciais 43% 47% 36% 48%

Inteligência artificial e automação


48% 29% 45% 13%

(inclusive blockchain) 56% 10%


47% 20% 38% 9%

Todos os CEOs
Brasil Pouco Muito CEOs de empresas com receitas > US$ 10 bilhões
Global Pouco Muito CEOs de empresas com receitas < US$ 100 milhões
*Resultados globais

Baixe gratuitamente PwC Brasil @PwCBrasil @PwCBrasil


o aplicativo PwC BR
na Apple Store. PwC Brasil PwC Brasil PwC Brasil

© 2017 PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda. Todos os direitos reservados. Neste documento, “PwC” refere-se à PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda., firma membro do network da
PricewaterhouseCoopers, ou conforme o contexto sugerir, ao próprio network. Cada firma membro da rede PwC constitui uma pessoa jurídica separada e independente. Para mais detalhes
acerca do network PwC, acesse: www.pwc.com/structure
RADAR

DEFENDA SEU ESTUDO


desempenho? Acreditamos que isso está
relacionado ao ambiente que circunda
a inovação. Se você tem um produto
complexo, como um carro de F1, e está
em um mercado turbulento, seu instinto
pode ser inovar — investir para ficar
Paolo Aversa, professor da City University of London, à frente das mudanças. Porém, suas
e seus colegas documentaram todas as inovações em chances de fracassar ao inovar em um
ambiente dinâmico e incerto são muito
mais de 300 carros de Fórmula 1 ao longo de 30 anos altas. Aparentemente, na maior parte das
e cruzaram os dados com os resultados das corridas. vezes, é melhor esperar até que as coisas
fiquem mais estáveis, deixando que
Descobriram que, em certas ocasiões, inovar muito pode outros mais envolvidos com as inovações
piorar o desempenho. A conclusão dos pesquisadores: durante momentos de turbulência
fracassem.

É isso que acontece na F1? É. Veja um

ÀS VEZES, QUANTO MENOS


exemplo. Em 2009, a F1 anunciou que
as equipes poderiam competir usando
tecnologia híbrida. Isso era empolgante,
mas gerou muita incerteza. Até então

INOVAÇÃO, MELHOR
ninguém havia usado carro híbrido em
corridas do nível da F1. Mas a maioria
das equipes mergulhou de cabeça na
reestruturação de seus carros para
tirar proveito da tecnologia híbrida.

PROFESSOR AVERSA,
Investiu-se pesado em inovação.
Uma equipe não inovou — a que
pertencia a Ross Brawn, uma lenda
no meio. Com sérias dificuldades

DEFENDA SEU ESTUDO


financeiras, optou por desenvolver
apenas um carro de corrida básico
e sólido em vez de investir na nova
tecnologia. Graças ao piloto Jenson
Button, que na temporada anterior ficara
em 18a posição, essa equipe surpreendeu
todos que pilotavam os carros híbridos
altamente inovadores e venceu o
campeonato.

Talvez tenha sido sorte ou o piloto


estava em um ano favorável? Os
números que avaliamos depois sugerem
que não foi nem uma coisa nem outra.
AVERSA: Tudo começou com a observação entre os dois, obtivemos um U invertido, Assim, que a tecnologia híbrida passou
de que, em algumas corridas, carros sem que demonstrava que o aumento de a ficar mais estável — quando já não era
excessos, isto é, aqueles que não haviam inovações ajudava no desempenho tão incerta —, Brawn investiu nela. E
feito inovações além das mínimas inicialmente; mas, depois de adivinhe? Sua equipe, rebatizada
exigidas pela F1, estavam conseguindo determinado ponto, começava a de Mercedes, venceu novamente.
EM MERCADO
bons resultados. Meus colegas de prejudicar. Porém a verdadeira ESTÁVEL, VÁ ATÉ OS Ele esperou até que a
pesquisa — Alessandro Marino, LUISS descoberta foi que, em LIMITES DA INOVAÇÃO; tecnologia passasse a ser
University, Luiz Mesquita, Arizona determinadas circunstâncias, MAS SE O MERCADO mais bem entendida.
State University e Jaideep Anand, Ohio carros com menos inovações É INCERTO,
State — e eu então deixamos a coisa tinham melhor desempenho. CONCENTRE-SE Mas como você sabe que
NA EFICIÊNCIA.
mais complexa e aplicamos um modelo E pilotos medianos estavam está em um ambiente
estatístico em mais de 30 anos de vencendo com carros medianos. turbulento? Um momento de
corridas. E ficou claro que nem sempre turbulência é basicamente definido
as inovações levavam a melhores HBR: Por que carros com menos por três fatores. Primeiro: a magnitude
resultados. Ao mapearmos a relação inovações teriam melhor da mudança. Quanto a indústria

18 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


está mudando hoje em comparação e a frequência é alta ou a magnitude é de inovar”. Diria que talvez devessem
com outros tempos? Segundo: a ampla, você deve reduzir a inovação ir até o limite da inovação em mercados
frequência da mudança. Com que até que as coisas fiquem mais estáveis, mas reduzir e se concentrar
frequência as mudanças estão A EQUIPE QUE estáveis. Se os três fatores não na eficiência em mercados incertos.
chegando até você? E por fim: NÃO INVESTIU lhe são favoráveis, você com
previsibilidade. Você consegue EM TECNOLOGIAS certeza deve inovar menos. Por que você estudou a F1? Sou filho
antever as mudanças? A RADICALMENTE de engenheiro e sempre amei a Fórmula
NOVAS VENCEU O
mais importante das três é A F1 parece tão específica. 1. Já pilotei carros de corrida e ajudei a
CAMPEONATO.
a previsibilidade. Você pode Isso realmente se aplica a projetar um carro e a formar uma equipe.
absorver praticamente qualquer outros negócios? Nós já usamos Desde criança acompanho corridas de
mudança que venha em sua direção. essa estrutura em outras áreas. Pense F1 com meu pai. É este esporte
Porém, se a previsibilidade é baixa, em qualquer produto complexo — um maravilhoso em que sempre parecia que
telefone celular, um medicamento. os carros que tivessem mais tecnologia
Vimos que sempre que esses mercados de ponta venceriam. Mas notei que
são atingidos por forças exógenas ou algumas vezes carros sem brilho, com
abalos — por exemplo, uma nova lista pilotos medíocres e pouco dinheiro,
EM QUE MEDIDA SEU AMBIENTE de regulamentações ou uma
importante mudança política —,
ganhavam. E discutia com meu pai
para entender as razões disso.
É TURBULENTO? a tendência é que os inovadores VOCÊ PODE
INFLUENCIAR
Meu pai achava que era sorte,
Inovar em indústria em turbulência pode ser saiam prejudicados. mas eu pensava se não havia
A NATUREZA
arriscado. Para avaliar o nível de incerteza na Mudanças repentinas causam E O MOMENTO alguma outra coisa. Eu disse
sua indústria, faça as seguintes perguntas: instabilidades que parecem DOS FUTUROS a ele: “Um dia vou provar que
implorar por inovações, mas, EVENTOS DA você está errado”.
MAGNITUDE DA MUDANÇA provavelmente, é melhor INDÚSTRIA?
□ Alguma das forças que determinam a esperar e se concentrar na Então basicamente você está
competição está passando por alguma execução e na eficiência. resolvendo uma aposta feita com
mudança radical?
Podemos aplicar aqueles três fatores seu pai? Não foi fácil. Tivemos de juntar
□ A indústria está passando por mudanças a muitas indústrias. Na moda, projetos para documentar dados em
significativas em sua estrutura, a magnitude é normalmente moderada seis elementos dos carros submetidos
nos padrões tecnológicos ou nos — estilos, material e tendências cíclicas. à inovação, como chassis, pneus e
competidores?
A frequência é constante, sazonal. Porém, aerodinâmica. Precisamos também
□ As regulamentações estão estáveis? a previsibilidade — saber qual será o descobrir se os carros eram atualizados a
próximo grande acontecimento — é cada nova temporada. Depois avaliamos
□ Existem grandes flutuações na demanda
ou nos preços? extremamente baixa. Pense nos formatos cada elemento de inovação em uma
de música. A frequência das mudanças escala de zero a três, em que três
está aumentando, mas ainda não é tão representava uma inovação radical,
FREQUÊNCIA DA MUDANÇA corriqueira; o vinil ficou aí por décadas, e zero uma pequena ou inexistente.
□ A indústria sofre mudança antes que você
possa implementar completamente a os CDs por anos. Mas quando Analisamos isso minuciosamente com
inovação? as mudanças levam você de algo como engenheiros.
um CD para o serviço de streaming
□ Quantas mudanças sua indústria
de música, a magnitude é Você realmente queria provar
enfrentou nos últimos tempos?
gigantesca. E atualmente a ALGUMA DAS que seu pai estava errado?
□ Os concorrentes estão continuamente previsibilidade é bem baixa. FORÇAS QUE Mostrei-lhe a documentação, e
lançando inovações? Nós aplicamos esses princípios DETERMINAM A ele gostou e me deu crédito por
a qualquer coisa, desde cerveja COMPETIÇÃO ESTÁ ter vencido a discussão. Levei
□ Eles estão lançando inovações muito mais PASSANDO POR
rápido do que você? até gestão financeira e, claro, ALGUMA MUDANÇA só 20 anos.
corridas de F1. RADICAL?
PREVISIBILIDADE DA MUDANÇA Para onde mais você gostaria
□ Você consegue antever como as forças da Os executivos ficam surpresos de levar essa pesquisa? Estamos
indústria vão mudar? quando você diz que talvez seja avaliando outros efeitos da turbulência.
□ Você consegue prever as próximas
melhor não inovar tanto?” Nós não Queremos, especificamente, entender
mudanças? diríamos isso. Equipes de F1 têm como ela afeta a probabilidade de
somente um único produto, o carro de gestores criarem parcerias e alianças. Há
□ Existe um padrão nas ações recentes dos corrida, mas a maior parte das empresas inúmeras maneiras de interpretar o que
concorrentes?
tem um portfólio de produtos. Nós acontece em momentos de instabilidade.
□ Você pode influenciar a natureza e olhamos para os diferentes mercados A caçada continua.
o momento dos futuros eventos da e analisamos onde eles devem diminuir
indústria? a inovação em virtude da incerteza. Entrevista de Scott Berinato
Eu jamais diria “parem completamente HBR Reprint F1705B–P

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 19 


Apresenta

Um novo mantra para a rentabilidade:


3UHFL¿FDomR'LQkPLFD
No contexto atual do Brasil, criação de valor passou a necessitar de valor, alavancando big data e automatização de análises
de novas alavancas. Depois dos agressivos cortes de custos, e alertas para servir o negócio em tempo real. A integração
executivos de vários setores perceberam a necessidade de plena com áreas como comercial, trade marketing, logística ou
trabalhar “a forma de fazer preço” para conseguir gerar valor. ÕfYf[]ajY$†^mf\Ye]flYdhYjYgkm[]kkg\]kkY[geh]lˆf[aY&
O desenvolvimento da disciplina de Revenue Management,
[ge]kh][aYd\]klYim]]eHj][aÕ[Y…ƒg$l]eka\gghgflg[]fljYd Estratégia para preço
dos executivos para trabalhar a maximização de margens. 9]kljYl†_aY\]hj][aÕ[Y…ƒg\]n]j\ak[mlajgh]kg\Yd_a[Y
Outside In e Inside Out em cada categoria de produtos/serviços.
A EY tem liderado esta discussão no Brasil e no mundo. O preço deve ser comandado por uma visão interna Cost Plus
Um recente estudo da EY com varejistas norte-americanos (custo com mark-up), uma visão externa Competition Based
demonstrou que mais de 80% das categorias de produtos (gap de posicionamento) ou uma visão externa Value Based
analisadas poderiam aumentar volume, receita ou lucratividade (preço equivalente ao valor percepcionado pelo cliente)? Essa
YhYjlaj\]nYjaY…“]k\ajaYk\ghj]…g&MeÖmpg\]\Y\gk decisão conduzirá a engenharia de dados e trará clareza sobre
consistente e em tempo real, para uma medição diária da Yaehgjlf[aY\]gmljYk^]jjYe]flYkim]YhgaYegRevenue
elasticidade de preço, é hoje o requisito chave para transformar Management ]YHj][aÕ[Y…ƒg&
esse tipo de input em valor capturado. Estes são apenas alguns
\Y\gkim]admkljYeY]e]j_ˆf[aY\YHj][aÕ[Y…ƒg<afea[Y& Arquitetura de Preço
Um dos elementos obrigatórios para consolidar uma
Gkfgngkeg\]dgk\]Hj][aÕ[Y…ƒg<afea[YnƒgemalgYd†e ;geh]lˆf[aY\]Hj][aÕ[Y…ƒg†YÉ[Yk[YlY\]hj]…gÊ%]fl]f\]j
de dados bem organizados. Esses modelos exigem um trabalho todos os elementos que compõem o preço, desde a margem
de integração entre quatro grandes áreas temáticas: 1) líquida conseguida até o preço de lista de cada transação.
Estratégia, 2) Analytics, 3) Processos e 4) Gestão da mudança. G[mklgÕpg$g[mklgnYjan]d\Yhjg\m…ƒg$gkaehgklgk$g[mklg
Esta integração possibilita a construção de uma Competência de servir, o custo de “promover” e os descontos, passam a
\]Hj][aÕ[Y…ƒgfYgj_YfarY…ƒg]fƒgYh]fYkmeYj][ge]f\Y…ƒg ser elementos transparentes e monitoráveis em cada decisão
ou análise spot que só serviria um determinado momento do de preço. A cascata garante granularidade na análise e permite
f]_[ag&9j]Y\]Hj][aÕ[Y…ƒggm\]Revenue Management gerenciar, em cada transação, um conjunto de variáveis (não
tende a ser cada vez mais uma “torre de controle” da gestão ]pYmklang!2[da]fl]$hjg\mlg$[YfYd$\]k[gflg$k]jna…g]_]g_jYÕY&
Elasticidade diária de preços
Modelo de Pricing Dinâmico e Integrado
Diminuir EDP** Manter EPD Aumentar EDP
(32% - preço elástico) (17%) (51% - preço Inelástico)

32%

Porcentagem de PPGs*/varejistas
Estratégia de Preço

Pricing Analytics
19%
17%
16% 16%

Arquitetura Estrutura e
Processos
de preço Organização

-2.5 -2 -1.5 -1 -0.5

Tecnologia e Suporte ao Pricing Aumento de Aumento


receita/volume de lucro

Processos, Estrutura e Organização Mais de 80% de PPGs* varejistas


HYjY[gdg[Yj]ehjla[YmeY;geh]lˆf[aY\]Hj][aÕ[Y…ƒg† e avaliados poderiam melhorar
f][]kkjag\]ÕfajÉim]e^YrgimˆÊfgeZalg\Yhj][aÕ[Y…ƒg&
Im]e\]Õf]hj]…g$im]e]p][mlYghj]…g$im]eYfYdakYY
qualidade dos dados, são apenas alguns exemplos de perguntas
80% o volume, a receita ou a
lucratividade com variações
diárias de preços.
im]admkljYeYj]d]nf[aY\]hjg[]kkgk]]kljmlmjYk&9j]Y\]
Hj][aÕ[Y…ƒggm\]Revenue Management, assim como as áreas
Y\bY[]fl]kYgl]eY\]hj][aÕ[Y…ƒg$f][]kkalYe\]hYh†ak]
responsabilidades claras, bem como processos que garantam
disciplina de execução e monitoramento.
Cerca de 50% poderiam
Analytics e Tecnologia melhorar a lucratividade
Modelos de análise preditivos, novos dashboards para suporte
€hj][aÕ[Y…ƒg$fgngkYd]jlYkYmlgeYlarY\gkkgZj]hj]…g'eYj_]e
50% aumentando seus preços,
mas com um impacto mínimo
sobre volume ou receita.
em microrregiões, canais, segmentos de clientes e categorias
de produtos/serviços, são algumas das funcionalidades
possibilitadas por uma nova engenharia de dados que suporta
Y;geh]lˆf[aY\]Hj][aÕ[Y…ƒg&9dYnYf[Yf\gg_jYf\]ngdme] Fonte: Estudo “Can smarter pricing and promotion
de dados que pode impactar preços/margens em qualquer reduce the emphasis on discounting?”
cenário de negócio, a disciplina de Analytics traz atualmente um
fgnghYlYeYj\]kgÕkla[Y…ƒg]_YjYfl]Y\afea[Yf][]kkjaY *Promoted Product Groups (Grupos de Produtos Promovidos)
fmeeg\]dg\afea[g\]j]khgklYYmlgela[YYgke]j[Y\gk& **Everyday Price (Preços Diários)

A robotização de processos - RPA - é outro componente


tecnológico que tem ganho especial destaque nos projetos
\]hj][aÕ[Y…ƒg&9afklYdY…ƒg\]softwares Robots que apoiam
taticamente o acompanhamento dos preços no mercado,
a comparação de preços em real time, a emissão de alertas Acesse ey.com.br/inovacao
sobre posicionamento e competitividade é fundamental para
uma área de pricingeYak]Õ[a]fl]&
‰Á†N¼NX´NONœ†NŒ8±
(adjetivo de dois gêneros)

1 Formada por MULT(I), do latim MULTUS,


“em grande quantidade, abundante”, +
DISCIPLINA, do latim DISCIPLINA, “educação,
ensino”. Referente a, ou que abrange inúmeras
disciplinas ao mesmo tempo.
A PRIMEIRA PREOCUPAÇÃO
DA GESTÃO DEVE SER A
SAÚDE DA EMPRESA,
NÃO DOS ACIONISTAS.
De “O principal erro da liderança corporativa”, pág. 24

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 23 


da liderança
A MAIORIA DOS CEOs E CONSELHOS ACREDITA QUE
ACIONISTA. NÃO TEM.
No segundo semestre de 2014, Bill Ack- ele os responsabilizou pelo fracasso de (em com a Valeant Pharmaceuticals sua
man, ativista de fundos hedge e acionista suas próprias palavras) “fazer em nome proposta de aquisição da Allergan — uma
da Allergan, estava se sentido cada vez dos donos da empresa o trabalho pelo qual oferta que o próprio Ackman tinha ajudado
mais frustrado com o o conselho da empre- recebem US$ 400 mil por ano”. A alegada a arquitetar numa nova aliança entre um
sa. Em uma carta dirigida aos conselheiros, falha do conselho: recusar-se a negociar fundo hedge e um suposto comprador. Nas

24 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


corporativa
TEM OBRIGAÇÃO DE MAXIMIZAR VALOR PARA O
JOSEPH L. BOWER E LYNN S. PAINE
apresentações para promover o negócio, arriscadas em estágios iniciais. Usar a mes- para pesquisa da Allergan em 90% como
Ackman elogiou a Valeant por sua alocação ma abordagem na Allergan, disse eles aos “realmente uma oportunidade”. Mike
de capital favorável aos acionistas, sua analistas, poderia criar um valor significa- Pearson, CEO da Valeant, garantiu aos
remuneração de executivos alinhada com tivo para seus acionistas. Ele mencionou analistas: “Tudo que importa para nós é o
os acionistas e sua restrição a pesquisas o plano da Valeant de cortar o orçamento valor para o acionista”.

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 25 


FOCO O PRINCIPAL ERRO DA LIDERANÇA CORPORATIVA

Esses fatos ilustram uma forma de EM RESUMO dos acionistas que exercem esse poder.
pensar a governança e a gestão de empre- Como resultado, os gestores sofrem pres-
sas que atualmente está se difundindo na O PROBLEMA são crescente para gerar retornos cada vez
Segundo uma crença muito
comunidade financeira e em boa parte do mais rápidos e mais previsíveis e reduzir
difundida, “maximizar
mundo dos negócios. Ela está centrada valor para o acionista” é a investimentos arriscados com o objetivo de
na ideia de que o objetivo da gestão é, principal responsabilidade atender necessidades futuras e encontrar
ou deveria ser, maximizar o valor para dos conselhos e gestores. Mas soluções criativas para os problemas que as
os acionistas, mas ela abrange uma faixa isso é confuso como legislação pessoas enfrentam no mundo todo.
corporativa e insatisfatório
muito ampla de tópicos — desde medidas Não entenda mal: somos capitalistas até
como guia de comportamento
de desempenho e remuneração de execu- gerencial — e encerra em seu a medula. Acreditamos que uma ampla par-
tivos até direitos de acionistas, papel dos bojo um grande problema de ticipação na economia por meio da posse
conselheiros e responsabilidade corpora- responsabilidade. de ações de empresas de capital aberto é
tiva. Esse sistema difícil tem sido adotado importante para o tecido social, e que são
não só por ativistas de fundos hedge como A SOLUÇÃO essenciais fortes medidas de proteção para
Ackman, mas também por investidores A saúde de uma empresa
os acionistas. Mas a saúde do sistema eco-
— não a saúde de seus
institucionais em geral, juntamente com acionistas — deve ser a nômico depende do desempenho correto
muitos conselhos, gestores, advogados, principal preocupação do papel dos acionistas. A versão exagera-
acadêmicos e até alguns agentes regulado- dos gestores corporativos. damente centrada no acionista do modelo
res e legisladores. Na verdade, seus precei- Isso pode parecer uma da representação é falha em seus conceitos,
tos são largamente considerados como um mudança pequena, mas
confusa sob o aspecto jurídico e prejudicial
poderia tornar as empresas
modelo de “boa governança” para o tipo de menos vulneráveis a formas na prática. Um modelo mais apropriado
ativismo do investidor ilustrado na história prejudiciais de investimentos deveria reconhecer o papel crítico dos acio-
da Allergan. ativistas — e facilitar a tarefa nistas, mas também considerar seriamente
A ideia de que gestores corporativos dos gestores de focar no longo a ideia de que as corporações são entidades
devem ter como objetivo maximizar o prazo.
independentes com múltiplas finalidades
valor para os acionistas — e que os conse- e amparadas pela lei, com uma potencial
lhos devem garantir que eles o façam — é existência duradoura. E deveria reconhecer
relativamente recente. Ela se baseia no os princípios jurídicos aceitos que assegu-
que é conhecido como teoria da represen- considerados responsáveis pelos efeitos ram que tanto os conselheiros e gestores
tação, que foi postulada por economistas das ações que aprovam na corporação, a como os acionistas têm deveres para com a
acadêmicos na década de 1970. A teoria se terceiros ou à sociedade em geral. A teoria corporação. Em outras palavras, um mode-
baseia na afirmação de que os acionistas da representação ainda precisa resolver o lo mais bem elaborado seria mais centrado
possuem a corporação e, em virtude de problema da falta de responsabilidade que na empresa.
seu status de donos, eles têm a última pa- resulta da aceitação de sua premissa central Antes de pensar num modelo alterna-
lavra sobre os negócios e podem legitima- — de nosso ponto de vista, falha — de que tivo, vamos entender melhor o modelo da
mente exigir que as atividades da empresa os acionistas são donos da corporação. representação.
sejam conduzidas de acordo com seus Os efeitos dessa omissão são perturba-
interesses. dores. Preocupamo-nos com o fato de que
Transferir a posse da corporação para os a forma como o modelo de governança e FUNDAMENTOS DO MODELO
acionistas pode parecer bastante natural, gestão baseado no modelo da represen- As ideias básicas do modelo da represen-
mas um olhar mais atento revela que é tação está sendo praticado prejudica as tação, ou da agência, como também é co-
legalmente confuso e, talvez mais impor- empresas e — se for aplicado ainda mais nhecido, estão no famoso artigo de Milton
tante, impõe o desafio da responsabilidade. genericamente, como preveem os es- Friedman publicado em 1970 pela New
Vale lembrar que os acionistas não têm pecialistas — pode ser desastroso para a York Times Magazine, no qual ele critica
obrigação legal de proteger ou servir as em- economia como um todo. Em particular, veementemente a noção de “responsabi-
presas cujas ações possuem e, pela doutri- há uma grande preocupação com os efeitos lidade social” corporativa chamando-a de
na da confiabilidade limitada, estão isentos sobre a estratégia corporativa e a alocação doutrina socialista. Friedman considera a
de responsabilidade legal pelos débitos e de recursos. Nas últimas décadas o modelo propriedade da corporação pelos acionistas
delitos dessas empresas. Além disso, de da representação forneceu as bases para como uma dádiva. Ele afirma que “o gestor
modo geral eles podem comprar e vender uma série de mudanças nas práticas da é o agente dos indivíduos que possuem a
ações irrestritamente e só precisam revelar governança e gestão, que, se consideradas corporação” e vai além: “A responsabilida-
sua identidade em determinadas circuns- juntas, aumentaram o poder e a influência de mais importante do gestor é conduzir o
tâncias. Sem contar a tendência de estarem de certos tipos de acionista sobre outros, e negócio de acordo com a vontade dos do-
física e psicologicamente distantes das aumentaram ainda mais as preocupações nos”. Ele caracteriza o executivo como “um
atividades das empresas nas quais inves- de acionistas sobre as pretensões de outros agente a serviço dos interesses daquele que
tem. Isso equivale a dizer que os acionistas grupos importantes de interessados — sem aqui chamaremos de principal”.
de empresas de capital aberto são pouco es- estabelecer nenhuma reciprocidade de res- Essas ideias foram posteriormente mais
timulados a avaliar e normalmente não são ponsabilidade ou de explicações da parte desenvolvidas no artigo de Michael Jensen

26 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


e William Meckling publicado em 1976 de toda a empresa delegando adequada- ao uso dos ativos da corporação. O que
no Journal of Financial Economics, “The mente “direitos de decisão” e criando os os acionistas efetivamente possuem são
theory of the firm”, que estabeleceu as incentivos apropriados. Essas ideias per- as ações. Isso lhes confere vários direitos
premissas básicas da teoria: mitiram que surgisse a visão de “conselho e privilégios, como vendê-las e votar em
de conselheiros” como um mecanismo determinadas circunstâncias, como eleição
o Os acionistas são donos da corporação
organizacional para controlar o que é de conselheiros, emendas do regulamento
com autoridade para administrar os
conhecido como “custos da representação” corporativo e venda de praticamente todos
negócios e questões corporativas.
— os custos dos acionistas decorrentes de os ativos da corporação.
o Os gestores são autoridades na tomada delegarem autoridade aos gestores. Daí a Além disso, de acordo com a lei do esta-
de decisão delegada pelos acionistas da noção de que o principal papel do conselho do de Delaware — sob cujas leis se encontra
corporação e, portanto, são “agentes” é (ou deveria ser) monitorar a gestão, além mais de metade das empresas citadas na
dos acionistas. de criar uma remuneração de executivos Fortune 500 que são referências para a
alinhada aos interesses da administração e legislação corporativa —, o direito de admi-
o Como agentes dos acionistas, os gestores
dos acionistas. nistrar o negócio e as questões corporativas
são obrigados a conduzir os negócios da
é atribuído ao conselho de conselheiros
corporação de acordo com a vontade dos
eleito pelos acionistas. O conselho delega
acionistas.
AS FALHAS DO MODELO essa autoridade aos gestores corporativos.
o Os acionistas querem que os negócios Vamos analisar onde o modelo não No âmbito jurídico, gestores e conse-
sejam conduzidos de forma a maximizar funciona. lheiros são fiduciários, e não agentes — e
seus próprios retornos financeiros. (A 1 A teoria da representação está na não apenas dos acionistas, mas também da
ideia de que os acionistas são unânimes contramão da lei corporativa: legal- corporação. Essa diferença é importante.
em seus objetivos está implícita em todo mente, os acionistas não têm os direitos Os agentes são obrigados a realizar a vonta-
o artigo.) de “donos” da corporação, e os gesto- de do principal, e a obrigação do fiduciário
res não são “agentes” dos acionistas. é exercer julgamento independente em
Jensen e Meckling não discutem a von-
Como observaram outros especialistas e nome de um beneficiário. Explicando me-
tade dos acionistas em relação aos padrões
comentaristas, a ideia de que os acionistas lhor, o agente anota pedidos e o fiduciário
éticos que os gestores deveriam observar
são donos da corporação é, na melhor das toma decisões discricionárias. Legalmente,
ao conduzir o negócio, mas Friedman
hipóteses, confusa e, na pior, incorreta. os conselheiros têm a obrigação fiduciária
propõe duas visões em seu artigo. Pri-
Do ponto de vista legal, os acionistas são de agir sempre de acordo com os melhores
meiramente, ele afirma que os acionistas
beneficiários das atividades da corporação, interesses da empresa, o que é bem dife-
normalmente querem que os gestores “ge-
mas eles não têm o “domínio” de nenhuma rente de simplesmente cumprir ordens dos
rem a maior quantidade possível de caixa
parte da propriedade. Tampouco dispõem acionistas.
e ao mesmo tempo ajam de acordo com
de acesso às instalações corporativas ou
as regras básicas da sociedade, tanto as
2 A teoria está em desacordo com uso
incorporadas pela lei como as incorporadas
comum: os acionistas não são donos
pelos costumes éticos”. Mais adiante suge-
da corporação em nenhuma acepção
re que os acionistas querem simplesmen-
tradicional do termo, nem têm os in-
te que os gestores utilizem recursos
centivos dos donos tradicionais de agir
e persigam os lucros engajando-se
com prudência ao administrá-la. Essa
“numa concorrência aberta e
livre sem falsidade ou fraude”.
Jensen e Meckling concordam
A saúde do observação é ainda mais verdadeira
hoje do que quando foi magistral-
com Friedman que as empre-
sas não devem se envolver
sistema econômico mente apresentada por Adolf Berle
e Gardiner Means em seu estudo
icônico de 1931 The modern corpo-
em atos de “responsabilida-
de social”.
depende de atribuir ration and private property. Cerca
de 70% das ações nas empresas
Boa parte do trabalho
acadêmico sobre a teoria
aos acionistas americanas atualmente estão nas
mãos de fundos mútuos, fundos
da representação desde as
primeiras décadas teve como o papel certo. de pensão, companhias de seguros,
fundos soberanos e outros investidores
foco garantir que os gestores
institucionais que os administram em
procurassem maximizar os lucros
nome de beneficiários como donas de casa,
dos acionistas — basicamente alinhan-
aposentados, segurados e governos. Em
do seus interesses com os dos acionistas.
vários casos os beneficiários são anônimos
Essas ideias foram posteriormente mais
para a empresa cujas ações as instituições
desenvolvidas na teoria da organização
detêm a posse. Os profissionais que admi-
na qual os gestores podem (e devem) se
nistram esses investimentos são normal-
preocupar com os interesses dos acionistas
mente avaliados e recompensados a cada

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 27 


FOCO O PRINCIPAL ERRO DA LIDERANÇA CORPORATIVA

trimestre de acordo com os retornos da ces-


ta total de investimentos que administram.
Uma consequência é a alta rotatividade das
ações resultante da alta comercialização
PERÍODO MÉDIO DE RETENÇÃO DE AÇÕES POR EMPRESAS DE
por especuladores (ver quadro “Período CAPITAL ABERTO
médio de retenção de ações por empresas de
capital aberto”).
As decisões de gestores de ativos e 1976
especuladores surgem das expectativas EUA 5,1 ANOS EUA
em relação ao preço das ações sobre um MUNDO 3,9 ANOS MUNDO
período relativamente curto. À medida que 6
a economia passa por ciclos, as ações das
empresas de todos os setores da indústria
sobem e descem. Embora os acionistas ofi-
cialmente registrados possam votar a qual- 5
quer momento sobre uma questão anterior
à aquisição das ações, eles não precisam se
preocupar com a empresa cujas ações pos- 4
suem — a rigor nem precisam saber de que
empresa se trata. Além disso, o fato de po-
derem controlar ou vender imediatamente
ações e evitar expor-se aos efeitos de longo 3
ANOS

prazo de seu voto impede que sejam vistos


como proprietários da empresa no sentido
convencional.
2
O anonimato concedido aos donos 2015
beneficiários das ações atenua ainda mais EUA 7,3 MESES
sua relação com as empresas das quais MUNDO 7,4 MESES
possuem ações. Aproximadamente, 85% 1
das ações publicamente negociadas nos
Estados Unidos estão em nome de uma
instituição que atua como intermediária 0
em seu próprio nome ou de seus clien- 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003 2006 2009 2012 2015
tes. E 75% dos proprietários finais dessas
ações instruíram seus intermediários a não FONTES BANCO MUNDIAL, BANCO DE DADOS DA FEDERAÇÃO MUNDIAL DE BOLSAS DE VALORES
divulgar sua identidade para a empresa
emitente.

3 A teoria está crivada de danos morais: Com algumas exceções, os acionis- costumam atuar em negócios nos quais têm
os acionistas não são responsáveis co- tas têm o direito de agir completamente grandes interesses dos dois lados.
mo donos pelas atividades da empresa, de acordo com seus próprios interesses Numa economia bem organizada, direi-
nem têm a responsabilidade que exe- dentro dos limites da legislação dos valores tos e responsabilidades caminham lado a
cutivos e conselheiros têm de proteger mobiliários. Ao contrário dos conselheiros, lado. Atribuir direitos de posse aos acionistas
os interesses da empresa. O problema dos quais se espera que se abstenham de e ao mesmo tempo isentá-los de suas res-
de tratar os acionistas como proprietários negociar em benefício próprio, eles têm ponsabilidades abre portas para oportunis-
é exacerbado pela falta de outro aspecto liberdade de agir dos dois lados de uma mo, fraude e mau uso dos ativos corporati-
tradicional de ser dono: a responsabilidade transação de seu interesse. Veja a disputa vos. O risco é menos preocupante quando os
pela propriedade possuída e a prestação de entre a Allergan e a Valeant. Era de esperar acionistas não tentam influenciar as grandes
contas — e até responsabilidade jurídica, que um membro do conselho da Allergan, decisões corporativas, mas é muito sério
em alguns casos — por danos a terceiros dono de ações da Valeant, se abstivesse de quando influenciam. O problema é mais
decorrentes da forma como a propriedade votar ou de promover a oferta da Valeant. claro quando os detentores temporários de
é usada. Os acionistas não assumem essa Mas os acionistas da Allergan com partici- ações intervêm para reconstituir o conselho
responsabilidade. Sob a égide da responsa- pação nas duas empresas tinham liberdade de uma empresa, mudar sua administração,
bilidade limitada, eles não podem ser con- de comprar, vender e votar conforme sua ou reestruturar suas finanças na tentativa
siderados pessoalmente responsáveis pelas conveniência, sem a obrigação de defen- de valorizar as ações, para depois liquidá-las
dívidas da corporação ou por omissões e der os interesses de qualquer uma das e mudar para outro alvo sem nunca ter de
atos corporativos que resultem em danos a empresas. Investidores institucionais que responder pelo impacto de sua intervenção
terceiros. possuem ações de milhares de empresas na empresa ou em negócios de terceiros.

28 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


4 A doutrina do alinhamento da teo- investidores costumam aceitar riscos que e Câmbio dos Estados Unidos (SEC, na sigla
ria provoca danos morais em toda a os mais velhos não tolerariam. Registros em inglês), em 2015, que exigem que as em-
empresa e estreita o campo de visão de votação por procuração indicam que presas divulguem a remuneração de exe-
da administração. Exatamente como a os acionistas estão divididos em relação a cutivos e os lucros dos acionistas conforme
isenção da responsabilidade tende a tornar várias resoluções a eles apresentadas. Eles constam nos registros dos demonstrativos
os acionistas indiferentes às delibera- também visualizam oportunidades estra- anuais. As regras propostas exigem que as
ções mais abrangentes e de longo prazo, tégicas de formas diferentes. Alguns meses empresas divulguem o lucro anual total
o alinhamento recomendado pela teoria depois de a Valeant anunciar sua oferta, os dos acionistas (TSR, na sigla em inglês) ao
da representação entre os interesses dos conselheiros da Allergan se encontraram longo do tempo, juntamente com os núme-
gestores e dos acionistas pode distorcer a com diversos investidores institucionais. ros anuais do TSR de empresas similares,
perspectiva de toda a organização. Quando De acordo com o conselheiro de lideran- e descrevam a relação entre seu TSR e a
os interesses de camadas sucessivas da ad- ça independente Michael Gallagher, “a remuneração de seus executivos, e entre
ministração estão “alinhados” dessa forma, diversidade de opiniões era extremamente seu TSR e o TSR de empresas similares.
a corporação pode se tornar tão enviesada abrangente” — desde os que se opunham Direitos dos acionistas. A ideia de que
na direção de interesses escusos de seus ao negócio e certamente não queriam as os acionistas são donos tem sido essen-
atuais acionistas que ela se vê impossibili- ações da Valeant (a oferta incluía tanto cial para dar-lhes mais voz na indicação e
tada de atender às exigências de seus clien- ações como dinheiro vivo) até aqueles que eleição de conselheiros, poderem convo-
tes ou de outros stakeholders. Em casos viam a transação como uma oportunidade car reuniões extraordinárias e agirem por
extremos o viés pode ser tão forte que ela única na vida e não conseguiam entender consentimento expresso, ou para excluir
não consegue mais operar eficientemente. por que a Allergan não negociou imediata- um conselheiro. Dados da FactSet e outras
A história do colapso da Enron revela como mente com a Valeant. fontes indicam que a proporção de empre-
toda a corporação pode ser completamente sas do S&P 500 que têm direito a voto em
contaminada. eleição de conselheiros aumentou de 16%
A noção de que administrar para o bem O MODELO DA REPRESENTAÇÃO NA PRÁTICA em 2006 para 88% em 2015. A proporção
da empresa é o mesmo que administrar Apesar desses problemas, a teoria atraiu que convoca reuniões extraordinárias au-
para o bem das ações é mais bem entendida muitos seguidores. Seus princípios for- mentou de 41% em 2002 para 61% em 2015.
como um conceito teórico necessário para neceram a base racional para uma grande E a proporção que dá direitos de acesso
os modelos matemáticos adotados por variedade de mudanças na prática que, no a procuradores de acionistas aumentou
vários economistas. Na prática há (ou pode conjunto, aumentou o poder dos acionistas de menos de 0,5% em 2013 para 39% em
haver) uma diferença gritante. Quando o e deu origem a um modelo de governança meados de 2016.
foco da administração da Allergan mu- e gestão inexoravelmente centrado nos O poder dos conselhos. As ideias da
dou de crescimento sustentável de longo acionistas. Apresentamos a seguir alguns teoria da representação também impulsio-
prazo para aumentar o preço das ações cenários que mostram o efeito da teoria. naram esforços para eliminar conselhos
da empresa até que chegasse a US$ 180 Remuneração de executivos. As ideias vacilantes em prol de uma eleição anual
por ação — a meta na qual os investidores da teoria ajudaram muito na mudança de para todos os conselheiros e para eliminar
institucionais estavam querendo manter um sistema completamente baseado em a “poison pill”, isto é, uma cláusula que im-
suas ações —, suas prioridades mudaram caixa para um sistema baseado predomi- pede ou desestimula o voto dos “donos” em
correspondentemente. A pesquisa foi cor- nantemente em participação na empresa. ofertas muito vantajosas para a empresa. De
tada, os investimentos foram cancelados e Os proponentes da mudança argumentam 2002 a 2015, a proporção de empresas da S&P
os funcionários, demitidos. que o pagamento baseado em participação 500 com conselhos vacilantes diminuiu de
na empresa alinharia melhor os interesses de 61% para 10%, e a proporção com poison pill
5 A uniformidade dos acionistas pres- executivos aos dos acionistas. O mesmo ar- permanente caiu de 60% para 4%. (Empre-
suposta pela teoria contraria os fatos: gumento foi usado para granjear apoio para sas sem poison pill permanente podem usar
nem todos os acionistas têm os mesmos associar mais fortemente a remuneração ao esse recurso em resposta a uma oferta hostil
objetivos e, portanto, não podem ser tra- desempenho das ações, e incentivos fiscais — como fez o conselho da Allergan para
tados como um único “dono”. A teoria da para encorajar acordos de “remuneração por responder à proposta da Valeant.)
representação pressupõe que todos os acio- desempenho”. Seguindo esse raciocínio, o Atitudes da gestão. A noção de res-
nistas querem que a empresa seja gerida de Congresso aprovou em 1992 uma lei que tor- ponsabilidade de gestão da teoria da repre-
forma a maximizar seus próprios retornos nava dedutível a remuneração de executivos sentação tem sido largamente adotada. Em
econômicos. Essa hipótese simplificada é acima de US$ 1 milhão somente se ela fosse 1997, a Business Roundtable — associação
útil para certos propósitos, mas mascara “baseada em desempenho”. Atualmente, de CEOs de empresas líderes americanas
diferenças importantes. Os acionistas 62% da remuneração de executivos é na — declarou que “o principal compromisso
têm diferentes objetivos de investimento, forma de ações — em 1980 era 19%. da gestão e dos conselhos de conselheiros
atitudes diante do risco e horizontes de Divulgação pública da remuneração é para com os acionistas da corporação” e
tempo. Os fundos de pensão procuram um de executivos. A definição de desem- que “o principal objetivo de todo empre-
portfólio variado de receita e preservação penho da teoria da representação e sua endimento é gerar retornos financeiros a
do capital. As dotações podem procu- doutrina de alinhamento reforçam as seus donos”. Publicada como resposta à
rar crescimento de longo prazo. Jovens regras propostas pela Comissão de Títulos pressão de investidores institucionais, a

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 29 


FOCO O PRINCIPAL ERRO DA LIDERANÇA CORPORATIVA

declaração, na verdade, revia a posição empresa como um portfólio de negócios


anterior da Business Roundtable de que “o com diferentes características. Um grupo
acionista precisa receber um bom retorno,
mas as preocupações legítimas de outros
de negócios precisa estar maduro e exigir
investimentos somente para uma expansão MATRIZ DE CRESCIMENTO E
grupos interessados merecem atenção”.
Vários estudos indicam que os gestores se
modesta e melhorias gradativas. Admitin-
do que esse grupo tenha forte participação
PARTICIPAÇÃO DE MERCADO
tornaram mais receptivos aos acionistas: no mercado em relação aos concorrentes A matriz de crescimento e participação de
por exemplo, as empresas cuja maioria (e mais próximos, existe uma grande probabi- mercado do BCG permite que as empresas
não a pluralidade) vota para conselheiros lidade de que esses negócios sejam lucrati- administrem um portfólio de negócios:
estão mais aptas a aceitar propostas dos vos e gerem caixa. Outro grupo pode estar “vacas leiteiras”, negócios maduros que
acionistas que granjeiam o apoio da maio- em posição de liderança, mas em mercados esbanjam caixa. “Estrelas” de crescimento
ria, e muitos CFOs estão dispostos a desistir de crescimento rápido. Eles também são rápido. Negócios com fraca posição e poucas
de investimentos em projetos que prova- lucrativos, mas requerem investimentos perspectivas de crescimento (“cães”).
velmente seriam lucrativos a longo prazo pesados para manter ou melhorar sua parti- E negócios arriscados, mas lucrativos,
para cumprir as estimativas dos analistas cipação no mercado. Os negócios de um
em mercados de crescimento rápido
(“perspectivas brilhantes”).
de ganhos trimestrais. De acordo com as terceiro grupo, em fraca posição compe-
pesquisas do Instituto Aspen, para muitos titiva em mercados maduros, precisam
PARTICIPAÇÃO DE MERCADO
graduados em faculdades de administração de caixa para sobreviver, mas não têm ALTO BAIXO
sua principal responsabilidade é maximizar perspectivas de crescimento ou aumento
o valor do acionista. de lucros. Um último grupo pode estar em
Comportamento do investidor. As mercado de crescimento rápido no qual
PERSPECTIVAS

ALTO
ideias da teoria da representação propicia- várias empresas são competitivas e as pers-
ESTRELAS

CRESCIMENTO DO MERCADO
ram um aumento no ativismo do investidor
e legitimaram o manual de fundos hedge
pectivas são brilhantes, mas arriscadas.
Os desenvolvedores da matriz batiza-
BRILHANTES
que mobilizam capital com a finalidade ram esses quatro grupos de, respectiva-
expressa de comprar ações de empresas e mente, vacas leiteiras, estrelas, cães (ou
usar sua posição de “donos” para efetuar vira-latas) e perspectivas brilhantes. A ideia
mudanças com o objetivo de criar valor da segmentação era garantir que as vacas
para o acionista (o quadro “Manual do leiteiras fossem mantidas, as estrelas com- VACAS
ativista” ilustra como as ideias da teoria da pletamente financiadas, os cães tosados, BAIXO
LEITEIRAS CÃES
representação foram postas em prática). Es- e um número selecionado de perspectivas
ses investidores estão intervindo com mais brilhantes segundo potencial de se tornar
frequência e remodelando a forma como estrelas no longo prazo (ver quadro “Matriz
as empresas alocam recursos. No processo de crescimento e participação de mercado”).
FONTE BOSTON CONSULTING GROUP
eles estão reformulando o contexto estra- Quando as empresas não administram um
tégico no qual todas as empresas e seus portfólio variado como esse, os fundos
conselhos tomam decisões. tendem a se espalhar uniformemente pelos
Considerada isoladamente, a mudança negócios na forma de retornos previstos empresa no curto prazo. Imagine uma
para um sistema em que a maioria vota em projetos individuais. corporação que tivesse de vender os cães,
nos conselheiros pode ter mérito. Como A matriz BCG é uma ferramenta sim- parar de financiar as perspectivas brilhantes
grupo, no entanto, essas mudanças podem ples — mas usá-la bem não é nada fácil. e cortar despesas como marketing e P&D
criar um ambiente no qual os gestores são Administrar uma vaca leiteira para que ela das estrelas. Essa é uma receita para um
cada vez mais pressionados a apresentar se mantenha saudável, alimentar estre- aumento extraordinário de lucros, o que
resultados financeiros de curto prazo, e las diante da concorrência emergente, por sua vez faz o preço das ações subir. Mas
os conselhos estão sendo pressionados a consertar ou desmontar negócios pouco a empresa talvez perdesse as perspectivas
“pensar como ativistas”. promissores e selecionar uma ou duas pers- brilhantes que poderiam se desenvolver e
pectivas brilhantes para se desenvolverem se tornar estrelas e vacas leiteiras do futuro.
exige executivos de talento que trabalhem A proposta do investidor ativista Nelson
IMPLICAÇÕES PARA AS EMPRESAS eficientemente como equipe. Empresas Peltz para a DuPont, em 2014, é um exem-
Para avaliar as implicações estratégicas de bem-sucedidas em administrar esse desafio plo dessa ideia. No bojo de seu plano de
um programa típico de ativismo, é interes- contínuo de alocação de recursos podem três anos para aumentar os lucros dos acio-
sante usar uma ferramenta desenvolvida crescer e se reinventar continuamente ao nistas constava dividir a empresa em três
na década de 1960 pelo Boston Consulting longo dos anos. negócios autônomos e eliminar sua uni-
Group (BCG) para orientar o processo de Essa ferramenta ilumina as escolhas dade central de pesquisa. Uma das novas
alocação de recursos. Chamada “matriz estratégicas que os gestores enfrentam à empresas, a GrowthCo, seria formada pelos
de crescimento e participação de merca- medida que procuram criar valor indefini- negócios de agricultura, nutrição e saúde e
do”, ou simplesmente “matriz BCG”, a damente no futuro. Ela é útil para mostrar biociência industrial da DuPont. A segun-
ferramenta ajudou os gestores a ver sua como aumentar o preço das ações de uma da, a CyclicalCo/CashCo, deveria incluir os

30 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


negócios de baixo crescimento, mas com
caixa extremamente positivo na área de
desenvolvimento de materiais, segurança e
produtos eletrônicos. A terceira, a Che- MANUAL DO ATIVISTA
mours, seria uma unidade de desenvolvi-
Para entender na prática o modelo baseado especiais, criação de novos negócios
mento de produtos químicos que a DuPont na representação, não existe circunstância derivados, reconstituição do conselho,
já tinha decidido tornar autônoma. No melhor que uma campanha ativista. Como substituição do CEO, mudança de estratégia,
que diz respeito à matriz BCG, o plano de primeiro passo, o ativista adquire ações de e venda da empresa ou de seus principais
Peltz era, essencialmente, dividir a DuPont determinada empresa — geralmente algo ativos. A redução de impostos é outro
numa vaca leiteira, uma estrela e um cão — entre 5% e 10%, mas às vezes menos de 1%. elemento presente em muitos programas
e eliminar algumas perspectivas brilhantes Com as ações em mãos, ele então reivindica ativistas.
que poderiam ser desenvolvidas com as o direito de propor diretrizes. (Para alavancar Um ativista cujas demandas são ignoradas
inovações produzidas por uma pesquisa esse poder, muitas vezes ele alerta outros pode iniciar uma guerra de procuradores
fundos hedge de suas decisões.) A linguagem na tentativa de substituir os membros do
centralizada. Peltz propôs também cortar
da propriedade geralmente desempenha conselho em exercício por conselheiros mais
outros custos “excessivos”, evitar o au- papel importante. Em 2014, por exemplo, dispostos a acatar a proposta do ativista. Em
mento de dívidas, adotar uma política mais para antecipar uma compra da Allergan alguns casos, os ativistas até oferecem bônus
amigável ao acionista para a distribuição de pela Valeant Pharmaceutical, Bill Ackman, especiais aos nomeados selecionados para
caixa da CyclicalCo/CashCo, priorizar altos da Pershing Square Capital Management, se candidatarem às eleições ou oferecem
retornos sobre o capital investido para as acusou o conselho da Allergan de não ter incentivos adicionais para, na função de
iniciativas na GrowthCo e introduzir uma sido capaz de fazer o que os conselheiros conselheiro, aumentarem o valor para os
governança mais amigável para o acionista, eram pagos para fazer “em nome dos donos acionistas.
incluindo alinhamentos mais próximos da empresa”. O ativista pode questionar Na maioria das indicações, os ativistas de
entre remuneração de executivos e retorno o profissionalismo do conselho apelando fundos hedge foram muito bem-sucedidos
para as normas diretivas da teoria da em efetuar as mudanças que procuravam.
para os acionistas. Na verdade, a ideia do
representação. Em carta enviada ao conselho Conforme relata o setor, mais empresas
plano de Peltz era desmontar a DuPont e da Allergan, Ackman declarou: “Suas decisões estão na mira — 473 do mundo no primeiro
capitalizar seu futuro retorno com a previ- desperdiçaram recursos corporativos, semestre de 2016 (incluindo 306 nos Estados
são de dobrar o valor das ações. atrasaram um enorme potencial de criação de Unidos), de 136 no mundo em todo o ano
valor para os acionistas, e foram profissional e de 2010 —, e as exigências dos ativistas
pessoalmente embaraçosas para vocês”. quase sempre são satisfeitas. Em 2015, 69%
CRIAÇÃO DE VALOR OU Embora os detalhes das campanhas das exigências nos Estados Unidos foram,
TRANSFERÊNCIA DE VALOR? sejam diferentes, o manual do ativista para pelo menos parcialmente, satisfeitas — o
A questão de se os benefícios para os aumentar valor para os acionistas não foge porcentual mais alto desde 2010. Os ativistas
acionistas desse ativismo continuarão
do padrão. Como nossos colegas Ian Gow e também estão ganhando espaço nas salas do
Suraj Srinivasan (e outros) documentaram conselho, onde conquistaram 397 assentos
após o impacto inicial no preço das ações em seu estudo com quase 800 campanhas em empresas americanas, em 2014 e 2015.
provavelmente permanecerá sem resposta, em empresas dos Estados Unidos de 2004 a Embora os ativistas de fundos hedge tenham
dados os problemas metodológicos que 2012, os ativistas tendem a focar na estrutura visto fluxos de US$ 7,4 bilhões nos três
contaminam os estudos sobre o tema. Não do capital, estratégia e governança. Eles primeiros trimestres de 2016, os ativos geridos
há dúvida de que em alguns casos os ati- normalmente sugerem alguma combinação foram estimados em mais de US$ 116 bilhões
vistas desempenharam um papel benéfico entre corte de custos, aumento de dívidas, no fim de 2016 — vale lembrar que em 2000
ao despertar um conselho adormecido recompra de ações, liberação de dividendos somavam US$ 2,7 bilhões.
ou promover uma mudança de estratégia
ou de gestão há muito tempo necessária.
No entanto, é importante observar que
boa parte do que os ativistas chamam de a companhia e para os futuros acionistas, fracos em avaliar a inovação. Depois que a
criação de valor é mais precisamente des- sem esquecer que isso pode facilmente Allergan entrou no jogo pela oferta da Vale-
crito como transferência de valor. Quando passar despercebido para a sociedade ant e da empresa de gestão de fundos de in-
os dividendos são pagos aos acionistas, em geral. vestimentos de Ackman, a Pershing Square
em vez de serem aplicados para financiar Considerando o longo período de espe- Capital, o preço das ações da companhia
pesquisa, lançar novos negócios de risco ra até que se colham os frutos de qualquer aumentou cerca de 30%, enquanto outros
ou ampliar os já existentes, o valor não é esforço significativo de pesquisa (o último fundos de investimentos compravam as
criado. Ao contrário, o dinheiro que deveria chip do iPhone da Apple levou oito anos pa- ações. Algumas instituições venderam para
ser investido para gerar ganhos futuros é ra ser produzido), é evidente o risco que a obter lucros imediatos, e a administração
simplesmente entregue aos atuais acionis- pesquisa e a inovação correm diante de ati- da Allergan logo enfrentou a pressão de
tas. O atraso entre o momento em que essas vistas que fazem cortes profundos para au- outras instituições para acelerar o fluxo de
decisões são tomadas e seus efeitos consta- mentar o preço das ações e depois as ven- caixa e “impulsionar novos ganhos”. Numa
tados obviamente ultrapassa os intervalos dem antes que a fonte seque. E a situação é tentativa de manter esses acionistas, a em-
de tempo dos modelos financeiros padrão, ainda pior quando os modelos financeiros presa realizou cortes mais profundos que
o que resulta em potencial prejuízo para e mercados de capital são particularmente o planejado na força de trabalho e reduziu

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 31 


FOCO O PRINCIPAL ERRO DA LIDERANÇA CORPORATIVA

programas de pesquisa em fase inicial. da teoria da representação, o problema liderança certa, elas podem ser administra-
Estudos acadêmicos mostram que uma de danos morais é real — e as consequên- das para servir ao mercado e à sociedade
proporção significativa de intervenções em cias são graves. No entanto, seus adeptos por longos períodos. A teoria da repre-
fundos de investimento envolve grandes continuam a abraçar as doutrinas da teoria. sentação ignora completamente esses
aumentos na alavancagem e grandes redu- As representaçãos reguladoras continuam aspectos distintos e socialmente valiosos
ções no investimento, principalmente em a incorporá-las nas políticas. Os conselhos da corporação e os desafios associados
pesquisa e desenvolvimento. e gestores sofrem pressão crescente para da administração de longo prazo sob a
A reivindicação dos ativistas para a gerar retornos de curto prazo. E os juristas alegação de que as corporações são uma
criação de valor se torna ainda mais nebu- preveem que a tendência para um maior “ficção jurídica”. Em seu artigo pioneiro
losa pelos indícios de que parte do valor empoderamento dos acionistas persistirá. de 1976, Jensen e Meckling advertem sobre
supostamente criado para os acionistas é, Para nós, a perspectiva de que as empresas “cair na armadilha” de perguntar qual
na verdade, valor transferido de terceiros de capital aberto funcionarão de forma ain- deve ser o objetivo de uma empresa, ou
ou da sociedade em geral. São poucas as da mais restritiva, de acordo com o modelo se a empresa tem responsabilidade social.
pesquisas com grande amostragem sobre o baseado na representação, é alarmante. Se Essas questões, segundo eles, pressupõem
assunto, mas um estudo sugere que retor- as empresas aderirem unânime e forte- equivocadamente que a corporação é um
nos positivos anormais associados ao anún- mente em toda a economia, isso poderá “indivíduo”, em vez de simplesmente um
cio de intervenção de um fundo hedge é, facilmente resultar em ainda mais pressão constructo jurídico adequado. Na mesma
em parte, uma transferência de riqueza dos para ganhos correntes, menos investimen- linha, Friedman afirma que a empresa não
trabalhadores para os acionistas. O estudo pode ter responsabilidade porque ela é
revelou que o número de horas trabalhadas uma “pessoa artificial”.
dos funcionários diminuiu e o salário deles Na verdade, está correto afirmar que as
estagnou nos três anos subsequentes à corporações são constructos jurídicos,
intervenção. Outros estudos mostraram mas isso de forma alguma as torna
que alguns ganhos dos acionistas são Um modelo de artificiais. Elas são organismos
obtidos à custa de portadores de títulos econômicos e sociais criados
públicos. Outro trabalho acadêmico governança centrado com autorização dos governos
associa os acordos agressivos de para cumprir objetivos que não
pagamento por desempenho de
ações a vários delitos envolven-
na empresa não alivia a podem ser atingidos por formas
organizacionais mais limitadas
do prejuízo aos consumidores,
danos ambientais e irregula-
necessidade das corporações de como as sociedades e empresas in-
dividuais. Sua história de desenvol-
ridade na contabilidade e nos vimento de quase 400 anos atesta
relatórios financeiros.
fornecer um retorno futuro que o papel importante que desempe-
Não temos conhecimento nham na sociedade. Originalmente
de nenhum estudo que exami- reflita o custo do capital. os objetivos das corporações eram
ne o impacto total da intervenção definidos no estatuto — criar e gerir
de fundos hedge sobre todos os um canal de distribuição, por exemplo —,
acionistas ou sobre a sociedade em mas finalmente a forma tornou-se genérica
geral. No entanto, parece óbvio que para que as corporações pudessem ser
os ganhos dos acionistas são, às usadas para executar uma grande varieda-
vezes, simplesmente transferência de de objetivos escolhidos por seus órgãos
dos cofres públicos, como quando a to em P&D e em pessoal, menos estratégias de gestão e governança. À medida que a
administração implementa os ganhos mu- para transformação e modelos de negócios escala e o escopo aumentaram, aumentou
dando o domicílio fiscal da empresa para inovadores, e ainda mais riqueza passando também o poder. As escolhas feitas por
um município com impostos mais baixos — para as mãos de investidores sofisticados tomadores de decisão corporativos hoje
mudança está geralmente aprovada pelos à custa de investidores comuns e de quais- podem transformar a sociedade e afetar
ativistas, e uma das propostas da Valeant quer outros. a vida de milhões, se não de bilhões, de
para a Allergan. Da mesma forma, cortes pessoas em todo o mundo.
orçamentários que eliminam a pesquisa O modelo que propomos reconheceria
exploratória e visam resolver alguns dos RUMO A UM MODELO CENTRADO a realidade de administrar essas organi-
mais inquietantes problemas da sociedade NA EMPRESA zações ao longo dos anos e atenderia às
podem aumentar os ganhos atuais, mas O modelo mais adequado que submetemos necessidades de todos os acionistas — não
com um ônus para a sociedade e para os teria em seu bojo a saúde do empreendi- apenas daqueles que falam grosso em
futuros planos da empresa. mento em vez de retonos imediatos para dado momento. Apresentamos a seguir
O ativismo dos fundos hedge expõe al- os acionistas. Esse modelo começaria oito proposições que, juntas, fornecem
guns riscos inerentes ao fato de atribuir po- reconhecendo que as corporações são fundamentação radicalmente diferente, e
der excessivo aos “donos” irresponsáveis. entidades independentes, garantidas por mais realista, da governança corporativa e
Como sugere nossa análise de premissas lei, com potencial de longa duração. Com a do envolvimento dos acionistas.

32 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


1 As corporações são organizações para as comunidades nas quais operam. acionistas — simplifica demais esse desfio e
complexas cujo funcionamento efi- Destacar qualquer uma delas como “a leva finalmente a um subinvestimento sis-
ciente depende de líderes e gestores finalidade da corporação” pode dizer mais temático em outras relações importantes.
de talento. O sucesso do líder está mais sobre o comentarista do que sobre a cor-
relacionado com motivação, habilidade, poração. Os economistas têm como meta 6 As corporações precisam ter padrões
competências e caráter intrínsecos que prioritária maximizar valor para o acionis- éticos para guiar as interações com
com o fato de sua remuneração estar ta. Os profissionais de marketing tendem todos os stakeholders, incluindo os
vinculada aos lucros dos acionistas. Se os a priorizar o atendimento ao cliente. Os acionistas e a sociedade em geral. O
líderes não estiverem bem preparados para engenheiros se preocupam com a inovação comprometimento com esses padrões,
o trabalho, permitir que líderes do alto e a excelência do desempenho do produto. que vai além da tolerância à fraude e ao
escalão comprem ações da empresa com Do ponto de vista da sociedade, o aspecto conluio, é crucial para conquistar a con-
recursos próprios não melhorará a situação mais importante da corporação é que ela fiança que as empresas precisam ter para
e poderá até piorá-la. (Parte do problema desempenha todas essas funções simulta- operar eficientemente ao longo dos anos.
com a remuneração baseada em mere- neamente ao longo de sua existência. Do A ambivalência da teoria da representação
cimento é que ela cria um conflito entre ponto de vista histórico, o objetivo original em relação à ética corporativa pode induzir
habilidades e sorte dos executivos.) Os da corporação — que se reflete em debates as empresas a comportamento destrutivo
desafios da liderança corporativa — elabo- sobre a limitação da responsabilidade e e até criminoso — o que gera a necessidade
rar a estratégia, construir uma organização estatutos de incorporação geral — é facilitar urgente de regulações onerosas que os
forte, desenvolver e motivar executivos de o crescimento econômico, favorecendo proponentes da teoria da representação são
talento e alocar recursos entre os vários ne- projetos que exigem investimentos de os primeiros a criticar.
gócios da corporação para garantir ganhos longo prazo e larga escala.
atuais e no futuro — são significativos. Ao 7 As corporações estão mergulhadas
tratar os incentivos como a base da lideran- 4 As corporações têm objetivos dife- num sistema político e socioeconômico
ça eficiente, a teoria da representação re- rentes e utilizam estratégias diferentes cuja saúde é vital para que permane-
duz esses desafios e enfraquece ou elimina para atingi-los. O objetivo da corporação çam sustentáveis. Já escrevemos sobre
o foco no desenvolvimento de talentos que (genérica), do ponto de vista da socieda- as consequências danosas e frequente-
possam enfrentá-los. de, não é o mesmo de uma corporação mente autodestrutivas da indiferença das
2 As corporações só prosperam no lon- (específica) de acordo com a visão de empresas aos efeitos externos negativos
go prazo se forem capazes de aprender, seus fundadores, gestores ou autoridades produzidos por suas atividades. Descobri-
adaptar-se e se transformar regular- governamentais. Assim como os objeti- mos que problemas sociais e sistêmicos
mente. Atualmente em alguns setores, as vos e estratégias de cada empresa variam podem ser fontes tanto de risco como de
empresas podem ter de se reinventar a cada enormemente, também precisam variar oportunidade para as empresas. Veja o
cinco anos para manter-se atualizadas com suas medidas de desempenho. Além disso, caso da Ecomagination, a empresa criada
as mudanças dos mercados, concorrência, as estratégias das empresas estão quase pela GE baseada em desafios ambientais,
ou tecnologia. Mudanças desse tipo, já sempre em transição devido às mudanças ou as estratégias de comunicação rural da
difíceis em si, tornam-se ainda mais difíceis dos mercados. Ênfase excessiva no TSR China Mobile, que ajudou a eliminar a cisão
se a ideia predominante for de que gestão para avaliar e comparar o desempenho digital que havia entre as populações rurais
significa atribuir às pessoas direitos prede- corporativo pode distorcer a alocação de e urbanas da China e sustentou o cresci-
finidos de decisão, apresentar metas claras, recursos e corroer a capacidade da empresa mento da empresa por quase meia década.
oferecer incentivos para atingir essas metas de produzir resultados alinhados com a A insistência da teoria da representação
e remunerar (ou não) se as metas forem estratégia escolhida. de que as corporações (por serem ficções
atingidas (ou não). Essa abordagem pres- jurídicas) não podem ter responsabilidades
supõe certo grau, raro nas organizações 5 As empresas precisam criar valor sociais e de que os problemas sociais estão
atuais, de previsibilidade, hierarquia para vários grupos de stakeholders. além da competência dos negócios (e de-
e independência de atividades. A maioria No sistema de livre mercado, as empresas vem ser deixados para os governos) resulta
das atividades envolve cooperação em são bem-sucedidas somente se os clientes num estreitamento de visão dos líderes
todas as linhas da organização, o que difi- querem seus produtos, se os funcionários corporativos que os impede de reconhecer
culta estabelecer relações claras entre querem trabalhar para elas, se os forne- — muito menos de intervir — muitos riscos
contribuições individuais e resultados cedores querem ser seus parceiros, se os e oportunidades.
específicos. acionistas querem comprar suas ações e se
as comunidades querem sua presença. Des- 8 Os interesses da corporação são dife-
3 As corporações desempenham várias cobrir como manter essas relações e decidir rentes dos interesses de qualquer acio-
funções na sociedade. Uma delas é quando são necessárias as compensações nista, individual ou stakeholders. Nos
oferecer oportunidades de investimento e entre os interesses desses vários grupos idos de 1610, os conselheiros da Companhia
gerar riqueza, mas as corporações também constitui um desafio e tanto da liderança Holandesa das Índias Orientais reconhe-
produzem produtos e serviços, criam em- corporativa. A regra de decisão implícita da ceram que os acionistas com horizonte de
pregos, desenvolvem tecnologias, pagam teoria da representação — de que os gesto- tempo de dez anos não pareciam entusias-
impostos e contribuem de outras formas res devem sempre maximizar valor para os mados com os investimentos da companhia

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 33 


FOCO O PRINCIPAL ERRO DA LIDERANÇA CORPORATIVA

em projetos de prazo maior, que provavel-


mente só valeriam a pena bem depois desse
período de dez anos. A solução, sugerida
por um funcionário graduado, foi focar não ABORDAGENS CONTRASTANTES DA GOVERNANÇA CORPORATIVA
nos investidores dos dez anos iniciais, mas
nas metas estratégicas da empresa, que CENTRADA NO ACIONISTA CENTRADA NA COMPANHIA
neste caso significava investir nos projetos
TEORIA TEORIA DA REPRESENTAÇÃO TEORIA DA ENTIDADE
de prazo mais longo para manter a posição
da companhia na Ásia. A noção é que todos CONCEPÇÃO Ficção jurídica, nexos de Entidade legal, organismo social e
os acionistas têm os mesmos interesses e DA CORPORAÇÃO contratos, pool de capitais econômico, organização resoluta
que esses interesses não mudam mesmo ORIGENS DA CORPORAÇÃO Acordo privado entre donos Criada por legisladores para
que a corporação mascare essas diferenças de propriedades para captar encorajar investimentos em projetos
fundamentais. Essa ideia fornece cobertura e aumentar capital de longo prazo, grande escala
intelectual para os acionistas poderosos necessários para a sociedade
que procuram desviar a corporação para
FUNÇÕES DA CORPORAÇÃO Maximizar riqueza para Fornecer produtos e serviços,
seus próprios interesses e ao mesmo tempo os acionistas gerar empregos, criar
proclamam que estão agindo em nome de oportunidades de investimento,
todos os acionistas. produzir inovação
Essas proposições realçam a necessi-
OBJETIVOS DE CORPORAÇÕES Maximizar valor para os Objetivos do negócio são
dade de uma abordagem de governança ESPECÍFICAS acionistas estabelecidos pelo conselho de
que trate a corporação seriamente como uma empresa específica
uma instituição na sociedade e que foque
RESPONSABILIDADES SOCIAIS Nenhuma (entidade fictícia não Preencher os objetivos do negócio
no desempenho sustentável da empresa.
pode ter responsabilidades) e agir como um bom cidadão
Elas indicam a necessidade de um papel corporativo
mais forte dos conselhos e de um sistema
de responsabilização para conselhos e PADRÕES ÉTICOS Pouco claro: o que quer que o Obedecer à lei e seguir padrões
executivos que inclua a responsabilidade acionista queira, ou obedece à éticos genericamente aceitos
lei ou evita fraude ou conluio.
dos acionistas, mas que seja mais amplo.
No modelo que inclui essas proposições, os PAPEL DOS ACIONISTAS Principais/donos da corporação Donos das ações, fornecedores
conselhos e líderes deveriam adotar uma com autoridade sobre os de capital com direitos e
abordagem essencialmente diferente para negócios responsabilidades definidas
as atividades básicas como desenvolvi- NATUREZA DOS ACIONISTAS Indiferenciada, maximizadores Diversas, com diferentes
mento da estratégia, aplicação de recursos, de riqueza que defendem seus objetivos, incentivos, horizontes
avaliação de desempenho e envolvimento próprios interesses de tempo e preferências
dos acionistas. Espera-se que os gestores PAPEL DOS CONSELHEIROS Agentes, delegados ou Fiduciários para a corporação e
adotem, por exemplo, uma visão de mais procuradores dos acionistas seus acionistas
longo prazo na formulação de estratégias e
PAPEL DA GESTÃO Agentes dos acionistas Líderes da organização, fiduciários
na alocação de recursos. da corporação e seus acionistas
O novo modelo ainda precisa ser com-
pletamente desenvolvido, mas suas bases OBJETIVOS DA GESTÃO Maximizar o lucro dos acionistas Manter o desempenho do
empreendimento
conceituais podem ser destacadas. Como
mostra o quadro “Abordagens contrastan- PRAZOS DA GESTÃO Atualidade/curto prazo (a teoria Estabelecido pelo conselho,
tes da governança corporativa”, o modelo assume o preço atual das ações, potencialmente indefinido, exige
centrado na empresa que imaginamos captura todo o conhecimento atenção para o curto, médio e
disponível sobre o futuro da longo prazos
segue a legislação corporativa básica,
empresa)
garantindo que a corporação seja uma
entidade independente, que a autoridade MÉTRICAS DE DESEMPENHO Única: lucros para os acionistas Múltipla: lucros para os acionistas,
da administração emane do corpo governa- DA GESTÃO valor para a empresa, atingimento
tivo da corporação e, em última instância, de metas estratégicas, qualidade
de produtos e serviços, bem-estar
da lei, e que os gestores sejam fiduciários
dos funcionários
(e não agentes) e por isso sejam obrigados
a agir de acordo com os melhores interes- PONTOS FORTES Estrutura simples permite claro Consistente com a lei, história
ses da corporação e de seus acionistas (o argumento econômico e realidades enfrentadas pelos
gestores
que não é o mesmo que realizar o desejo
expresso dos acionistas, mesmo sendo PONTOS FRACOS Princípios em desacordo com Princípios descrevem relações e
maioria). Esse modelo reconhece a diver- a lei ou com a boa gestão. responsabilidades complexas; é
sidade de metas dos acionistas e os vários Os acionistas têm poder sem difícil avaliar sucesso.
papéis desempenhados pelas corporações
responsabilidade

34 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


na sociedade. Acreditamos que ele se — mas pode-se evitar que eles alterem responsabilidade dos acionistas. Os
alinhe melhor que o modelo da represen- toda a governança corporativa. Ocorre acionistas ativistas, por exemplo, que
tação com as realidades de uma gestão que a teoria da representação, combina- procuram exercer influência ou controle
corporativa bem-sucedida ao longo dos da com outras doutrinas da economia significativo, devem ser tratados como
anos; e, portanto, ele é mais consistente moderna, apagou as diferenças entre fiduciários pela corporação ou ter poderes
com os objetivos originais e com o poten- investidores e transformou todos nós em limitados para vender ou controlar o valor
cial único das corporações como veículos especuladores. de suas ações. Os reguladores devem estar
para projetos envolvendo investimentos de Se nosso modelo fosse aceito, os espe- dispostos a cobrar mais transparência em
larga escala e longo prazo. culadores teriam menos oportunidade relação à propriedade beneficiária das
As implicações práticas da governança de lucrar ao transformar os atores de longo ações. Em particular, os fundos ativistas
centrada na empresa são bastante abran- prazo em fontes de ganhos e preço mais podem ser solicitados a revelar a identida-
gentes. Nos conselhos que adotarem essa altos de ações no curto prazo. O argu- de de seus investidores e a fornecer infor-
abordagem, esperamos ver alguns ou todos mento que legitima os ataques por partes mação adicional sobre a natureza de sua
esses aspectos: irresponsáveis, com investimentos opacos, própria governança. Os reguladores devem
perderia força. Podemos até imaginar acabar com a janela de dez dias atualmente
o maior probabilidade de um conselho va-
uma nova classe de investidores e gestores permitida entre o momento em que um
cilante facilitar a continuidade e a trans-
de ativos focando explicitamente em in- fundo hedge adquire ações que podem
ferência de conhecimento institucional;
vestimento de longo prazo. Eles podem ser tornadas públicas e o momento em
o mais atenção do conselho para o plane- desenvolver novos modelos de avaliação que o controle precisa realmente ser re-
jamento de sucessão e desenvolvimento que adotem uma nova visão das perspec- velado. Até agora, os esforços para fe-
de liderança; tivas das empresas ou criar uma funciona- char essa janela encontraram resistência
lidade para avaliar as inovações e intangí- dos proponentes da teoria da representa-
o mais tempo do conselho dedicado a
veis difíceis de atribuir valor — e também ção que defendem que é preciso dar
estratégias para o crescimento contínuo
fatores externos de alto custo — que aos fundos hedge incentivos suficientes
e renovação da empresa;
muitas vezes são ignorados pelos modelos para se engajarem nos esforços onerosos
o laços mais estreitos entre a remuneração atuais. Eles podem querer reter as ações para derrubar gestores com desempenho
de executivos e o atingimento das metas em empresas que prometem um retorno insatisfatório.
estratégicas da companhia; sólido e contínuo e que se comportam
como decentes cidadãos corporativos. É CHEGOU A HORA de desafiar o modelo da
o mais atenção à análise de risco e incerte-
possível que surjam consultores procura- representação da governança corporati-
zas políticas e ambientais;
dores para atender esses investidores. va. Seu mantra de maximizar valor para o
o abordagem estratégica (em vez de estri- Esperamos encontrar mais apoio acionista está desviando a atenção de em-
tamente financeira) para a alocação de para medidas que aumentem a presas e líderes de aspectos como inova-
recursos; ção, renovação estratégica e investimentos
no futuro. A história tem mostrado que,
o maior foco em investimentos, novas
com uma gestão esclarecida e uma regu-
capacidades e inovação;
lamentação sensata, as empresas podem
o utilização mais conservadora da desempenhar papel relevante para ajudar a
alavancagem como um amorte- sociedade a se adaptar às constantes mu-
cedor contra a volatilidade do danças. Mas isso só pode ocorrer se os
mercado; Chegou a hora de conselheiros e gestores tiverem liber-
dade suficiente para adotar uma vi-
o preocupação com a
cidadania corporativa e
com questões éticas que
desafiar o modelo são mais profunda e mais ampla da
empresa e seus negócios. Mesmo
vão além da compliance
jurídica.
da representação enfrentando a perspectiva de um
ataque surpresa de “donos” irres-
ponsáveis, os líderes atuais de em-
Um modelo de governança da governança presas têm poucas escolhas, a não
centrado na empresa não alivia ser focar no aqui e agora.
a necessidade das corporações
de fornecer um retorno futuro
corporativa. HBR Reprint R1705A–P
Para pedidos, página 9
que reflita o custo do capital. Mas as
empresas devem estar abertas a uma
faixa mais ampla de posições estratégicas JOSEPH L. BOWER é professor emérito da Harvard
Business School. LYNN S. PAINE é professora da
e de horizontes de tempo e ter facilidade
faculdade de administração e negócios da HBS.
de atrair investidores que partilhem suas São coatores (com Herman B. Leonard) de
metas. Os especuladores sempre tentarão Capitalism at risk: rethinking the role of business
explorar as variações de preço das ações (Harvard Business Review Press, 2011).

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 35 


FOCO A VISÃO DO CEO: DEFENDER BOAS EMPRESAS DE MAUS INVESTIDORES

FOTOGRAFIA DE CLAUDIA LUCIA


36 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017
Defender boas empresas de
maus investidores
CONVERSA COM DAVID PYOTT, EX-CEO DA ALLERGAN
SARAH CLIFFE

David Pyott foi CEO da Aller- HBR: Como você descreve a trajetória da
Allergan nos anos que levaram à oferta
gan durante 17 anos, quan- de compra?
do, em abril de 2014, a Valeant PYOTT: Nós apresentávamos um enorme
crescimento desde 1998, quando ingres-
Pharmaceuticals e a Pershing sei na empresa exatamente como ter-
Square Capital Management ceiro CEO da Allergan e o primeiro
iniciaram uma agressi- elemento externo nessa função.
Houve uma reestruturação
va proposta de aquisição
descrita no artigo inti-
Feliz ou quando entrei, e dez anos de-
pois fizemos mais uma duran-

tulado “O principal erro


na liderança corporati-
infelizmente, te a recessão. Esses cortes
nos deram poder de fogo
para investir retroativamen-
va”, nesta edição. Ele
foi o único representan-
eu sou muito te na recuperação da eco-
nomia. Depois da recessão
anunciamos ao mercado que
te da organização du-
rante as negociações de
obstinado. esperasse crescimento de dois
dígitos na receita de vendas e 14
a 15 anos para os lucros das ações.
compra. Quando ficou cla-
As relações dos seus investidores
ro que a proposta não pode- devem ter sido excelentes.
ria ser discutida indefinida- Foram. Tenho muito orgulho de dizer que,
literalmente, nunca perdemos de vista nos-
mente, Pyott, com a apro- sos números, nem uma vez em 17 anos. Fo-
vação do conselho da Aller- mos premiados por vários revistas sobre as
gan, negociou um acordo pelo relações com o investidor. Não é isso que
faz você gerir um negócio, mas é bom ter
qual a empresa seria adquiri- seu trabalho reconhecido.
da pela Actavis (empresa cujo
No artigo, Joseph Bower e Lynn Paine
modelo de negócios, como a descrevem a dificuldade que qualquer
Allergan, era voltado para o empresa sente ao administrar a pressão
dos investidores que querem mais lucros no
crescimento). curto prazo. Você parece ter administrado
bem isso — até a Valeant surgir. Como foi?

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 37 


FOCO A VISÃO DO CEO: DEFENDER BOAS EMPRESAS DE MAUS INVESTIDORES

Os investidores, tanto do lado do comprador com que as pessoas que nos apoiavam — Com certeza. Naquele ano, eu deixei as ope-
como do lado do vendedor, são como qual- que entendiam por que não aceitávamos a rações do dia a dia a cargo de nosso presi-
quer outro grupo de clientes. Você precisa oferta, que desvalorizava totalmente a em- dente, Doug Ingram. E aumentamos a recei-
ouvir o que eles dizem e responder quando presa — conversassem com a imprensa. Vá- ta bruta da empresa em 17% — mais de US$
pode. Mas lembre-se: perguntar não cus- rias pessoas disseram que nos apoiariam, 1 bilhão — foi o melhor ano de operações
ta nada. Se eles dizem “queremos mais”, mas depois alguns executivos do topo de em nossos 62 anos de história. Eu me lem-
você precisa estar disposto a responder “é suas empresas disseram não. E os repórte- bro de um líder de P&D que se aproximou
com isso que podemos nos comprometer. res que cobriram a fusão e aquisição não de mim no estacionamento e perguntou:
Se houver lugares melhores para investir conheciam bem as empresas. Os repórte- “Você está bem? Há alguma coisa que eu
seus fundos, então façam o que tiverem de res que cobrem a indústria farmacêutica possa fazer?”. Respondi: “Simplesmente fa-
fazer”. Feliz ou infelizmente, eu sou muito são extremamente bem informados — mas ça seu trabalho melhor que nunca, e não se
obstinado. quando uma empresa está em jogo, esse deixe influenciar pelas bobagens que você
pessoal não está a par do cotidiano. Por is- ouve na mídia”.
Permita-me fazer uma pergunta so a cobertura foi mais tendenciosa do que
ingênua: se a Allergan estava indo bem, esperávamos. Que mudanças nas regras do governo e
por que era interessante para a Valeant/ nas regulamentações melhorariam os
Pershing Square assumir o controle e A tendência para favorecer investidores resultados para todos os acionistas?
afastar vocês? Eu sei que eles ganharam ativistas é uma opção que o mercado Minha solução favorita é mudar as taxas de
muito dinheiro, mas sustentar um acabará adotando? impostos. Trinta e cinco por cento é extre-
crescimento contínuo não traria mais Ativistas e campanhas agressivas têm sido mamente alto em relação ao resto do mun-
resultados no longo prazo? impulsionadas por taxas de juros extrema- do. Se chegássemos a 20%, nos surpreende-
Modelos de negócio diferentes. A Valeant mente baixas e pela disposição dos bancos de ríamos com a quantidade de investimentos
era uma empresa consolidada. Ela não es- aceitar razões de alavancagem muito altas. e criação de emprego que o país teria. Altos
tava interessada em crescimento orgânico. Ultimamente, o foco dos investidores voltou impostos significa que somos vulneráveis
Michael Pearson (CEO da Valeant) queria para a boa e antiquada execução operacional a aquisições cuja motivação é investir em
nossos ativos — e ele precisava continuar da gestão. Mas eu acredito que os estilos de países mais favoráveis para pagar menos
alimentando a fera. Se ele não continuasse investimentos entram e saem de moda. impostos. Pagamos 26%, e a Valeant (com
comprando o próximo alvo, então o fato de sede no Canadá) pagou 3%. Acredito que os
que ele estava “limpando” todos os ativos Você concorda com Bower e Paine que impostos sobre os ganhos de capital deve-
das empresas que já tinha adquirido teria si- os conselhos e os CEOs precisam focar riam mudar — de modo a não afetar a recei-
do mais que óbvio. menos nos ganhos dos acionistas e mais ta — para incentivar a retenção das ações
Ele não podia fazer isso sozinho por cau- no bem-estar da empresa? por mais tempo.
sa de seu precário balanço patrimonial, en- Analise do ponto de vista da sociedade: boa
tão ele convidou Ackman — e a Pershing parte da inquietação que observamos no Insistindo nas mudanças mais uma vez:
Square comprou 9,7% de nossas ações sem ano passado se deve à ideia de que pesso- se uma empresa quiser se reorientar
nosso conhecimento. Isso funcionou como as ricas e poderosas estão sendo beneficia- para o crescimento de longo prazo o que
um catalisador para criar uma “alcateia”. das desproporcionalmente pelas mudanças deve fazer?
Quando os fundos hedge e os acionistas ins- que estão ocorrendo na sociedade. Várias Acho difícil o CEO mudar seu ponto de vis-
titucionais chegam a uma posição muito al- empresas acreditam que precisam parecer ta. Alguns conseguem, outros não. Por isso,
ta, você perde o controle de sua empresa. mais amigáveis, não só para os acionistas, na maioria dos casos você precisa de novos
Eu ainda acredito que tínhamos uma boa mas também para os funcionários e para a líderes. E o conselho precisa comprar real-
história para contar — e eu esperava poder sociedade. E quando você faz isso cria uma mente essa ideia, porque você não mudará
conseguir acionistas focados no longo prazo forte cultura corporativa com um propósi- só a estratégia, você mudará os números.
para comprar novas ações e atenuar a par- to mais abrangente — algo mais do que sim- Você precisa ter uma história para contar,
ticipação dos fundos hedge. Mas quase nin- plesmente gerar capital. por exemplo: “Nos próximos três anos ha-
guém estava disposto a melhorar sua po- Eu não acredito que forte desempenho verá crescimento de 10% no lucro por ação.
sição. Todos eles tinham diferentes razões e objetivos estejam em conflito. Minha ex- Será de 5% enquanto estivermos investin-
— algumas perfeitamente válidas. Foi uma periência mostra que para uma empresa ser do no futuro. Os resultados só começarão
boa lição para mim. realmente de alto desempenho ela precisa a aparecer depois de três anos, por isso vo-
ter uma meta. O dinheiro é importante pa- cês terão de ser pacientes”. Você precisa ser
Isso deve ter sido frustrante. ra os funcionários até certo ponto, mas eles muito, muito claro nesse ponto.
Sim. É doloroso — algumas dessas pesso- querem acreditar que estão trabalhando em E então todos — o conselho, os investi-
as me dizem agora “perdemos a velha Al- alguma coisa que serve para melhorar a vi- dores, os técnicos do laboratório, o pessoal
lergan, estamos procurando ações de alto da das pessoas. de vendas — o observarão para ver se você é
crescimento, alta inovação, e não estamos sério. É preciso muita firmeza e determina-
encontrando”. A percepção desse propósito compensa ção. Não é impossível, mas é extremamente
Outra coisa que me surpreendeu e me quando você passa por um processo de difícil.
desapontou foi que eu não consegui fazer aquisição? HBR Reprint R1705A–P Para pedidos, página 9

38 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


Os conselheiros precisam
equilibrar todos os interesses
CONVERSA COM BARBARA HACKMAN FRANKLIN, ESPECIALISTA
EM GOVERNANÇA CORPORATIVA. SARAH CLIFFE
Vigésima nona secretária de HBR: Você concorda que o foco
exagerado nos acionistas se tornou um
comércio dos Estados Unidos problema?
e presidente emérita da Asso- FRANKLIN: A resposta mais curta é sim. Mas
permita que primeiro eu lhe diga o que eu
ciação Nacional de Conselhei- penso sobre governança corporativa.
ros Corporativos, Barbara Ha- Sempre a entendi como um sistema
ckman Franklin participou
do conselho de 14 empre-
Ativistas de tripartite de freios e contrapesos.
Os acionistas possuem ações e
elegem o conselho. O conselho
sas de capital aberto e de fundos hedge estabelece as políticas e contrata
e demite o CEO. O CEO e os ges-
quatro empresas priva- tores gerenciam a empresa. Com
das. Ela foi citada pe- mudaram o o tempo, o equilíbrio de poder en-
tre essas três partes passa por al-
la Associação Ame-
ricana de Adminis- comportamento de tos e baixos, mas sempre há certo
equilíbrio. Quando comecei a parti-
tração como um dos cipar de conselhos de empresas de

50 conselheiros cor- outros investidores. capital aberto, há três décadas, os


CEOs dominavam. Depois os conse-
porativos mais influen- lhos começaram a se firmar. E o poder
pendeu mais para o lado deles, principal-
tes dos Estados Unidos. mente depois da aprovação da Lei Sarbanes-
Ela é presidente e CEO da -Oxley, em 2002. Nos últimos cinco ou seis
anos, o poder voltou a pender para o lado
Franklin Enterprises, em- dos acionistas.
presa de consultoria que Mas existe outro complicador, que são
orienta empresas americanas os acionistas ativistas, e sua presença cres-
cente me parece diferente dos altos e bai-
que negociam em mercados xos normais entre as três partes. Diferente e
internacionais. mais preocupante. E esse tem sido um fato
novo nos últimos anos. Por isso eu concor-
do que, agora, o poder deveria sair dos acio-
nistas e voltar para conselhos e gestão.

Que impacto você vê?


Os ativistas de fundos hedge mudaram o
comportamento de outros investidores. Eu

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 39 


FOCOA VISÃO DO CONSELHO: OS CONSELHEIROS PRECISAM EQUILIBRAR TODOS OS INTERESSES

FOTOGRAFIA DE NOAH WILLMAN


40 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017
vejo um aumento na pressão da comuni- líder, poderá procurar o candidato que com- Conselhos e os executivos em
dade de investimentos, geralmente por ga- bine com a direção estratégica. anotadores de pedidos e não em
nhos trimestrais, para forçar o aumento no Outra questão desprezada — mas extre- fiduciários, e que os conselhos e os
preço das ações. Talvez haja certo impac- mamente importante nessa discussão — é a CEOs precisam promover a saúde da
to no desenvolvimento da estratégia e em boa comunicação. O conselho e a empre- organização mais que qualquer coisa —
como os recursos estão sendo alocados. A sa precisam fornecer aos acionistas e ou- em vez de maximizar a riqueza.
ideia que deveríamos “pensar como ativis- tros stakeholders informação precisa e no Sim, concordo plenamente. Eu sempre
tas” é ventilada de vez em quando nas con- momento certo. Alguns acionistas ficam acreditei que minha responsabilidade
versas na sala dos conselhos. nervosos quando não sabem exatamente o fiduciária era para com a corporação. E isso
que está acontecendo ou como foi difícil o inclui os acionistas. Você precisa incluir
Quando Joseph Bower e Lynn Paine processo que levou a uma decisão coletiva. os stakeholders e os acionistas.
submeteram seu artigo e receberam os Muitas vezes as coisas fracassam por falta Existem variações interessantes nos esta-
comentários, uma pessoa observou que de comunicação adequada. tutos de acordo com os estados. Em primeiro
a centralidade corporativa não seria lugar, os estatutos da maioria das corpora-
possível, a menos que os conselhos A remuneração é outra grande parte do ções estatais não exigem que os conselheiros
mudassem significativamente a forma trabalho do conselho. Como mudar esse coloquem os acionistas em primeiro lugar.
como executam seu trabalho. Isso pensamento, se é que isso é possível? Foi a grande quantidade de processos judi-
parece correto para você? No caso Fala-se muito de “remuneração por desempe- ciais acumulados ao longo de várias décadas
afirmativo, o que muda? nho”. Mas o que isso significa? Acredito que que desviou o foco para a maximização de
Há uma coisa que me agrada nesse artigo: os conselhos precisam desenvolver um indi- valor para o acionista. E vale a pena observar
ele define algumas coisas que os conselhos cador balanceado para avaliar o desempenho, que existem agora 28 estados cujos estatutos
deveriam fazer o tempo todo. E alguns con- o que ajudará então a determinar a remunera- permitem que os conselheiros considerem
selhos fazem, mas não o suficiente. (É difícil ção. Se você tem um indicador balanceado de os interesses de “outros grupos de interessa-
fazer se você é continuamente pressionado desempenho que abrange uma série de ques- dos”. Para mim, isso é bom.
para mostrar desempenho de curto prazo.) tões, tanto no longo como no curto prazo, ele é
Os conselhos precisam manter, por exem- outro limitador do “curto prazismo”. O que você ouve os CEOs dizerem sobre
plo, discussões estratégicas com a admi- Independentemente de haver uma mu- como estão equilibrando as pressões
nistração e o CEO durante o ano todo. Não dança que afaste da centralização no acio- dos vários acionistas institucionais?
pode ser “uma vez e acabou” — a estratégia nista, eu acredito que os conselhos terão de Acredito que existe a preocupação de equili-
precisa ser discutida em detalhes em todas se apressar por causa das mudanças atuais brar prazos longos e curtos. Alguns se com-
as reuniões. no ambiente de negócios, que são comuns prometeram com esses pronunciamentos
Se a estratégia estiver sempre na agen- quando temos uma nova administração e alegando que há muita ênfase no “curto
da, todos os aspectos poderão ser discutidos um novo congresso. prazismo”, quer o foco esteja no preço das
— decisões de curto prazo versus decisões ações, quer esteja no TSR. Um foco exagera-
de longo prazo, e naturalmente se alguma Bower e Paine acreditam que a do em qualquer medida isolada é realmen-
decisão precisa ser revisada. A alocação de centralidade exagerada nos acionistas te prejudicial para as metas de longo prazo
recursos faz parte disso. A administração de transforma os da empresa. Determinar o equilíbrio certo é
risco faz parte disso. E é assim que funcio- uma preocupação de todos nós — CEOs e
na a cultura na sala dos conselhos: reforçar membros de conselho. Mas é o ambien-
a capacidade de atacar essas questões. To- te global de negócios que está nos ti-
das as vozes são respeitadas? O CEO es- rando o sono.
tá disposto a ouvir, interagir e respon-
der? Existe uma agenda única: o Você passou muito tempo em
futuro bem-estar da corporação e Foco exagerado em salas de conselhos — existe
seus acionistas, sempre de olho alguma coisa importante que
em como isso poderá criar valor uma única medida você gostaria que Bower e
para os acionistas? Paine tivessem abordado?
O foco no curto prazo levou é prejudicial para as Para mim, o que está faltando
alguns conselhos a desprezar res- é uma discussão sobre o equilí-
ponsabilidades centrais, como o metas de longo prazo brio de poder adequado entre a
planejamento da sucessão. Isso, administração e o conselho. Isso é
também, precisa ser discutido con- da empresa. fácil de definir no papel, mas mui-
tinuamente. Os membros do conse- to difícil de praticar. Mas esse é um
lho precisam ter certeza de que há um tópico para outro dia. Quem sabe, uma
banco viável de candidatos a CEO, e isso vez resolvido o problema dos investido-
significa conhecê-los realmente muito res ativistas, os autores possam abordar essa
bem. Dessa forma, quando você preci- questão.
sar tomar uma decisão sobre o próximo HBR Reprint R1705A–P Para pedidos, página 9

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 41 


FOCO OS DADOS: QUANDO O “LONGO PRAZISMO” COMPENSA

Quando o “longo
prazismo” compensa
DOMINIC BARTON, RECEITA MÉDIA DA EMPRESA GANHOS MÉDIOS DA EMPRESA
CRISE FINANCEIRA
JAMES MANYIKA, US$ 10,0
47%
US$ 20

E SARAH KEOHANE 7,5


15 58%

WILLIAMSON 10
5,0
O “curto prazismo” destrói 5

valor? A questão é cada vez 2,5


0
mais debatida por líderes 0 —5
em negócios, governos e 2001 2008 2014 2001 2008 2014

universidades. Mas poucas


CAPITALIZAÇÃO MÉDIA DO MERCADO LUCRO ECONÔMICO MÉDIO DA EMPRESA
evidências convincentes
US$ 2,0 US$ 1,00
foram apresentadas de cada
lado da questão, em parte 1,5 36% 0,75
porque o fenômeno envolve 81%
1,0 0,50
muitos fatores complexos e
é difícil de medir. 0,5 0,25
Na tentativa de quantificar os efeitos do
“curtoprazismo”nasempresaseavaliarseuim- 0 0
pacto acumulativo na economia do país, acom- 2001 2008 2014 2001 2008 2014
panhamos dados de 615 empresas não finan-
ceiras dos Estados Unidos de 2001 a 2014 (o que LONGO PRAZO
representa 60% a 65% do total do mercado de TODOS OS OUTROS NÚMERO MÉDIO DE EMPREGOS CRIADOS
OBS: TODOS OS VALORES ESTÃO EM BILHÕES DE DÓLARES
capitalização dos Estados Unidos). Utilizamos INDEXADOS A 2011 20K
várias métricas padrão como aproximações pa-
ra o comportamento de longo prazo, incluindo mais eficientes na criação de empregos. Elas
15
a razão entre despesas de capital e depreciação também ofereceram lucros acima da média
(uma medida do investimento), benefícios co- para os acionistas e mostraram probabilidade 132%
mo parte da receita (um indicador da qualida- 50% maior de se encontrar no quartil ou decil 10
de da remuneração) e margem de crescimento. mais alto no final do período medido. (Uma
Paragarantiravalidadedoresultadoeevitarum ressalva: descobrimos uma correlação entre 5
viés em nossa amostra, comparamos as empre- gestão de longo prazo e melhor desempenho
sas somente com concorrentes do mesmo setor financeiro. Não mostramos que essa gestão 0
e com um conjunto de oportunidades e condi- causou o melhor desempenho.) 2001 2008 2014
ções de mercado similares. Identificamos 167 E se todas as empresas dos Estados Uni-
empresas(aproximadamente27%dototal)com dos adotassem abordagem de longo prazo si- nos Estados Unidos — disponibilizando mais
uma política de longo prazo. milar? Extrapolando com base nas diferenças US$ 1 trilhão de PIB.
Depois examinamos o desempenho das 615 acima, estimamos que os mercados de em- HBR Reprint R1705A–P Para pedidos, página 9
empresas. Os resultados foram claros: como presas de capital aberto poderiam ter injeta-
DOMINIC BARTON é sócio-gerente global da
mostram os gráficos, as empresas focadas no do mais de US$ 1 trilhão em valor de ativos,
McKinsey & Company e depositário da
longo prazo superaram suas concorrentes com aumentando o mercado de capitalização dos Brookings Institution. JAMES MANYIKA é conselheiro do
foco no curto prazo em várias métricas finan- Estados Unidos em 4%. E as empresas pode- McKinsey Global Institute. SARAH KEOHANE WILLIAMSON é
ceiras importantes e foram significativamente riam ter criado mais 5 milhões de empregos CEO da FCLT Global.

42 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


UM

2478
JEITO
DE GARANTIR
AUTOMATIZAÇÃO.

ALTO DESEMPENHO DO RH
FAZ TODA A DIFERENÇA.

ção de Pessoal Ponto


tra e Ac
minis ess
Ad Orçamento o
de Pessoal
Benefícios Controle de
Frequência
Folha de A

Núcleo Global
Ges
ça

Gestão cessos
uran

Ambien diciais
tão C
Medicina e Seg

omplementar

Segurança Tecnologia completa para gestão


do Trabalho Pesquisas
do capital humano, consultorias
estratégicas para RH e serviços
Po rt al

Flo w

Medicina Gestão de
Ocupacional de terceirização inteligentes
cess

Contratos
gestão de pessoas
ApD

Pro

com foco em pessoas e precisão


esi

gn
w

Carreir er lo dro de nos resultados.


A pIn rkf
Sucess t e g r a t i o n L P C Wo ssoal

j
Gestão por T&D Recrutamento
Competências Treinamento eSeleção
Ser
gic a
e
viç o
s de Desenvolvimento
ra t é
O u ts o u
rc in g e C o n s u ltor ia Est
Recursos H u m an os www.apdata.com
São Paulo Ţ Campinas Ţ Rio de Janeiro Ţ Orlando
+55 (11) 2652-2500
apresenta

Business Intelligence?
Virando o jogo com
business analytics

No mundo da complexidade, a análise de dados e a


tomada de decisões a partir dessas informações é
algo fundamental para o sucesso das organizações

A vitória da Seleção DE FUTEBOL alemã na Copa de 2014 guarda um segredo


por trás dos gramados. À época, a Federação Alemã de Futebol desenvolveu
uma solução de análise de dados de performance geradas durante as partidas.
Essas informações foram então utilizadas para preparar as estratégias e ajudar
os jogadores a compreender os comportamentos dos seus adversários. Foi a
combinação perfeita do uso da técnica e da inteligência.

A tomada de decisão a partir da análise de padrões, tendências e


comportamentos parece ser algo retórico quando falamos do mundo corporativo.
Contudo, não é bem esse o cenário descrito na pesquisa Operacionalizando
e Embarcando Analytics para Resultados produzida pela TDWI. O estudo que
entrevistou 276 executivos de distintos segmentos destacou que o potencial da
análise de inteligência de dados ainda não está sendo completamente utilizado
nas organizações. A boa notícia é que com simples ações as empresas podem
otimizar a produção e o lucro com esse tipo de informação.

Por negócios mais inteligentes


Com a evolução da complexidade no mundo, adiantar-se ao que está por vir
é fundamental para a sobrevivência das empresas. Nesse contexto, há inúmeras
aplicações que elencam os benefícios do uso efetivo de business analytics. A
WRPDGDGHDץHVDSDUWLUGHVVDDQÈOLVHSRGHPHOKRUDUDHıFLÝQFLDGRVSURFHVVRV
Acesse o report pelo link: sas.com/br/TDWIReport

aumentar as vendas, facilitar a comunicação entre clientes e empresa ou ainda detectar


problemas antes que eles ocorram.

ŗ(XGHıQRRFRQFHLWRde operacionalizar e embarcar analytics como uma forma de obter


LQIRUPD×ÊR HP WHPSR UHDO GH FRPR XPD HPSUHVD LQWHUDJH FRP VHXV FOLHQWHVŘ DıUPRX
um entrevistado de uma empresa de seguros nos EUA. Por sua vez, um diretor de uma
indústria farmacêutica destacou que o uso da análise inteligente de dados é essencial na
tomada de decisão de negócios. “Se as decisões foram tomadas a partir de análises,
RVLQYHVWLGRUHVWÝPPDLVFRQıDQ×DQDVRUJDQL]DץHVŘFRPSOHWRXXPDVVRFLDGRGHXPD
auditoria na Índia, que também participou do estudo.

Para muitas áreas a análise de dados soa como música para os ouvidos; para outras a
aplicação do uso dessas ferramentas ainda é algo distante da realidade. De acordo com
a pesquisa, Vendas (47%), Operações (46%), Finanças (46%) e Marketing (44%) são os
setores que mais usam a análise inteligente de dados em benefício de suas áreas. Na
VHTXÝQFLDYHP7,  $WHQGLPHQWRDR&OLHQWH  H/RJìVWLFD  3RUıPÈUHDV
que ainda não estão acostumadas a trabalhar com essa ferramenta são: RH (21%), Jurídico
(17%) e Pesquisa e Desenvolvimento (16%).

'HVDðRVHFRPRVXSHUÀORV
Apesar dos benefícios aqui GHVFULWRV SHOD IHUUDPHQWD DLQGD KÈ PXLWRV GHVDıRV SDUD
D LPSODQWD×ÊR H R XVR HıFLHQWH GHVVD WHFQRORJLD $ SHVTXLVD GHVWDFRX FRPR SULQFLSDLV
entraves ações relacionadas às pessoas e à cultura da empresa. Entre os destaques: a falta
GHVHJXUDQ×DFRQıDQ×DQRVGDGRVSURFHVVDGRV  IDOWDGHSHVVRDVTXDOLıFDGDVSDUD
fazer a leitura dos dados (38%), budget escasso (28%) e falta de suporte de executivos (26%).

Para os entrevistados há três principais caminhos a serem seguidos para vencer essas
barreiras: 1. Começar com pequenas histórias de sucesso, não adianta querer implantar
a ferramenta em grandes projetos, o ideal é que o uso de análise de dados ganhe força
com pequenos exemplos que deram certo; 2. Investir em treinamento de equipe. A
IDOWDGHTXDOLıFD×ÊRSDUDHVVHWLSRGHDQÈOLVHHVWÈHQWUHRVSULQFLSDLVJDSVSDUDRDYDQ×R
do business intelligence; 3. Traçar uma boa estratégia de comunicação interna sobre
os benefícios do uso da análise de inteligência de dados. A partir daí, as organizações
poderão desfrutar do real poder desse tipo de tecnologia.

Aplicações práticas do uso do Analytics


Aumentar a eficiência de processos
Facilitar a comunicação entre cliente e empresa
Detectar falhas antes que elas ocorram
Aumentar as vendas
comNpleNxiNdaNde
(substantivo feminino)

1 Do latim COMPLEXUS. Que é composto


por diversos elementos ou partes,
indo muito além de um simples projeto e que pode
ser observado, analisado e compreendido
sob diferentes pontos de vista.
De “O que diferencia os CEOs
bem-sucedidos”, pág. 48

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 47 


O QUE
DIFERENCIA CEOs
BEM-SUCEDIDOS
AS QUATRO ATITUDES ESSENCIAIS QUE OS AJUDAM A
CONSEGUIR O CARGO E DEPOIS PROSPERAR
ELENA LYTKINA BOTELHO,
KIM ROSENKOETTER POWELL, STEPHEN KINCAID
E DINA WANG
O cargo de CEO é difícil. De 2000
a 2013, cerca de um quarto das
saídas de CEOs de empresas da
Fortune 500 foram demissões, de
acordo com a Conference Board.
As consequências dessas dispensas
podem ser devastadoras: uma
mudança forçada de pessoal nas
áreas mais altas da empresa custa
aos acionistas aproximadamente
US$ 112 bilhões anuais em perda
de valor de mercado, como
mostrou um estudo de 2014
da PwC com as 2.500 maiores
empresas do mundo. Esses
números são desencorajadores
para conselheiros que têm a
difícil missão de ungir CEOs —
e intimidantes para qualquer
executivo que almeja um cargo
NUTTAPOL NOPRUJIKUL/DREAMSTIME

C-level. Obviamente, muitos


líderes e membros do conselho,
outrora capazes, estão fazendo
alguma coisa errada.
A pergunta é: o quê?

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 49 


O QUE DIFERENCIA CEOs BEM-SUCEDIDOS

Nas mais de duas décadas que passamos assessoran- desempenho, a parte comum foi incrivelmente pequena.
do conselhos, investidores e os próprios CEOs em tran- Muita confiança, por exemplo, mais do que dobra a chan-
sição para a chegada de um novo líder, vimos uma dis- ce de um candidato ser escolhido como CEO, mas não ofe-
crepância fundamental entre o que os membros do con- rece nenhuma vantagem no desempenho dele durante o
selho acreditam ser necessário para ter um CEO ideal e o trabalho. Em outras palavras, o que faz um candidato ser
que realmente leva a um desempenho de alto nível. Essa bem-visto pelo conselho não tem quase nenhuma relação
discrepância começa com um estereótipo irreal, porém com os atributos necessários para ter sucesso no cargo.
predominante, criado, em grande parte, pelas biogra- Contudo, nossa principal descoberta foi notar que
fias oficiais exibidas na Fortune 500 — elas sugerem que CEOs bem-sucedidos adotam quatro condutas funda-
o CEO bem-sucedido é branco, carismático, 1,85 metro mentais para o seu bom desempenho. Descobrimos
de altura, formado por uma prestigiosa universidade, vi- também que quando o conselho se preocupa com tais
sionário no campo da estratégia, dono de uma trajetória condutas durante o processo de seleção e desenvol-
que aparentemente o conduziu direto para o topo da car- vimento, a chance de contratar o CEO certo aumenta
reira e capaz de tomar decisões primorosas sob pressão. significativamente. E nossa pesquisa e experiência su-
Contudo, ficamos chocados com o pequeno núme- gerem que quando líderes buscam o cargo de CEO —
ro de líderes de sucesso que encontramos capazes de se 87% dos executivos, segundo uma pesquisa da Korn
enquadrar nesse perfil. Essa descoberta nos fez embar- Ferry —, eles passam a desenvolver, deliberadamen-
car em um estudo de dez anos, o Projeto Genoma CEO. te, essas atitudes, o que aumenta exponencialmente
O objetivo do projeto é identificar os atributos específi- suas chances de se tornar CEOs de alto desempenho.
cos que caracterizam CEOs de alto desempenho (que nós
definimos como os executivos que atingem ou superam
as expectativas dos cargos, tomando como base entre- AS QUATRO ATITUDES
vistas com membros do conselho e com a maioria dos Não é comum líderes de sucesso nas quatro atitudes. No
investidores altamente familiarizados com o desempe- entanto, ao analisarmos os dados em detalhes, particu-
nho dos CEOs). Em parceria com economistas da Univer- larmente as notas atribuídas por nossos consultores aos
sity of Chicago e da Copenhagen Business School e com candidatos quando da avaliação de se eles se adequa-
analistas da SAS Inc., investigamos um banco de dados vam ao cargo de CEO e em relação ao desempenho deles
criado pela nossa empresa de consultoria em liderança em 30 competências administrativas (como responsabi-
ghSmartcontendo mais de 17 mil avaliações de executivos lizar os funcionários ou manter a equipe motivada), des-
C-level,dosquaisdois mil CEOs. O banco de dados armaze- cobrimos uma relação interessante. Aproximadamente
na informações detalhadas sobre a carreira de cada líder, metade dos candidatos mais fortes (que tiraram A no ge-
EM RESUMO resultados de negócios e padrões de comportamen- ral, em uma escalda de A, B ou C) se destacou em mais de
to. Esquadrinhamos essas informações procurando o uma das quatro atitudes essenciais, ante apenas 5% dos
O PROBLEMA que distinguia candidatos que foram contratados como candidatos fracos (que tiveram B ou C).
Muitos CEOs fracassam CEOs dos que foram preteridos, além do que diferencia- As atitudes que vamos descrever parecem engano-
no trabalho. De 2000 a va os que sobressaíram no cargo daqueles cujo desempe- samente simples. Mas o importante é praticá-las com
2013, 25% dos CEOs da nho foi insuficiente (ver quadro “Sobre o Estudo”). persistência insana, o que, segundo nossa pesquisa, é
Fortune 500 que deixaram a
empresa foram demitidos. Nossas descobertas desmentiram muitas das hipóte- o grande desafio de muitos líderes.
ses dadas como verdadeiras. Por exemplo, notamos que,
A CAUSA embora os conselhos tenham maior inclinação a favor
Uma das principais razões de pessoas extrovertidas e carismáticas, os introvertidos ECIDIR COM RAPIDEZ E CONVICÇÃO. Lendas
é que há uma discrepância são ligeiramente mais propensos a superar as expecta- obre CEOs que sabem exatamente como
fundamental entre o que tivas dos membros do conselho e dos investidores. Fi- onduzir sua empresa rumo ao sucesso pa-
o conselho acredita seja
camos surpresos também ao observar que praticamente ecem ser abundantes no meio. Porém, ain-
necessário para ter um
CEO ideal e o que realmente todos os candidatos a CEO cometeram, em algum mo- a de acordo com nosso estudo, CEOs de alto
leva ao desempenho de mento, erros graves e que 45% deles tiveram ao menos esempenho não se destacam, necessaria-
alto nível. uma grande confusão ao longo da carreira que causou a ente, pela capacidade de tomar ótimas de-
perda de um emprego ou foi muito dispendiosa para os isões a todo instante, mas por ser mais re-
AS EVIDÊNCIAS negócios. Ainda assim, mais de 78% desse subgrupo de olutos. Eles decidem com antecedência, de
Resultados obtidos em
candidatos acabou, por fim, conseguindo o cargo mais odo mais rápido e com grande convicção,
um banco de dados com
avaliações de 17 mil alto. Ademais, vimos que pedigree educacional (ou falta fazem isso de modo consistente — mes-
C-level apontam quatro dele) não tem nenhuma correspondência com desempe- o em meio a ambiguidades, informações
condutas específicas que se nho: somente 7% dos CEOs de alto desempenho avalia- completas e terrenos desconhecidos. Em
mostram essenciais para o dos tinham se formado em universidade de maior prestí- ossos dados, pessoas descritas como “reso-
desempenho dos CEOs: ser
gio, e 8% deles nem concluíram o curso superior. tas” eram 12 vezes mais propensas a se tor-
resoluto, conquistar para
causar impacto, adaptar-se E quando comparamos os predicados aprecia- ar CEOs de alto desempenho.
de maneira proativa e dos por conselhos durante entrevistas com candidatos Curiosamente, dentre os executivos com maior
transmitir confiança. com as qualidades que auxiliam os líderes a ter melhor QI a quem oferecemos coaching, os que prezam a

50 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


CEOs de alto desempenho Bowe se motiva a tomar decisões agindo da seguin-
te forma: “Eu faço duas perguntas a mim mesmo: pri-
meiro, se eu errar, qual será o impacto? Segundo, se eu
não fizer nada, em que medida isso vai provocar atra-

entendem que tomar sos?”. Segundo ele, essa atitude inspira seus colegas a
confiar em seus próprios julgamentos ao tomar deci-
sões operacionais — o que é essencial para que o CEO
possa ficar livre para tomar menos decisões, porém

uma decisão errada é mais importantes.


Assim, CEOs de sucesso sabem também quando
não decidir. Stephen Kaufman, ex-CEO da Arrow Ele-

melhor do que não


tronics, comenta que é muito fácil se ver preso a uma
enormidade de decisões que precisam ser tomadas.
Ele aconselha uma breve pausa para ponderar se uma
decisão não deve ser tomada pelos departamentos da

tomar decisão nenhuma. empresa, e se adiar essa decisão por uma semana ou
um mês, não possibilitaria o surgimento de informa-
ções importantes sem causar danos irreparáveis.
No entanto, uma vez escolhido um caminho,
CEOs de alto desempenho vão em frente sem hesitar.
Art Colling, antigo diretor e CEO da Medtronic, nos
contou que “empregados e pessoas-chave vão logo
perder a confiança em líderes que se mostram insegu-
ros ou que voltam atrás depois de uma decisão”. Mas
complexidade intelectual não raro são os que mais so- e se as decisões não derem certo? Nossa análise apon-
frem para tomar uma decisão. Embora a qualidade de ta que, embora grande parte dos CEOs cometa erros,
suas decisões seja boa em geral, uma vez que vão em a maioria deles não é letal. Entre os CEOs que foram
busca da resposta perfeita, eles podem demorar mui- demitidos por motivos relacionados a decisões, des-
to para escolher ou definir prioridades — e suas equi- cobrimos que apenas um terço perdeu o emprego por-
pes pagam um alto preço por isso. Astutos, mas lentos, que fez escolhas ruins; os demais foram dispensados
os decisores dão origem a gargalos que frustram seus porque eram indecisos.
funcionários (o que pode levar ao desgaste de talen-
tos valiosos), ou se tornam extremamente cautelosos,
retardando toda a empresa. Por isso, ao avaliar mais CONQUISTAR PARA CAUSAR IMPAC-
atentamente os executivos que foram classificados TO. Assim que os CEOs definem cla-
como fracos em tomadas de decisão, não foi surpresa ramente o curso dos negócios, eles
constatar que apenas 6% receberam notas baixas por- devem conseguir apoio entre seus
que decidiam rápido demais. A grande maioria — 94% funcionários e acionistas. Nota-
— foi mal avaliada porque as decisões eram tomadas mos que aqueles que conseguem
tardiamente. uma grande performance são os que
CEOs de alto desempenho entendem que tomar equilibram insights perspicazes jun-
uma decisão errada costuma ser melhor do que não to- to às prioridades de seus acionistas
mar decisão nenhuma. Como nos disse o antigo CEO com um foco inexorável na obten-
da operadora de ônibus Greyhound Stephen Gorman, ção de resultados. Eles começam
responsável pela recuperação financeira da empresa, desenvolvendo aguda compreensão
“uma decisão ruim é melhor do que a ausência de dire- das necessidades e motivações dos
ção. Grande parte das decisões pode ser revogada, mas acionistas e então obtêm apoio, o
é preciso aprender a progredir na velocidade certa”. que, por sua vez, faz com que as pes-
CEOs resolutos sabem que não podem esperar pe- soas deem o melhor de si e se com-
la informação perfeita. “A partir do momento que te- prometam com as metas de criação de valores. Segun-
nho 65% de certeza sobre a resposta, devo tomar uma do nossos dados, CEOs que habilmente conquistaram
decisão”, afirma Jerry Bowe, CEO da Vi-Jon, fabrican- acionistas com essa orientação de resultados conse-
te de private-label. Mas eles trabalham ativamente na guiram 75% mais sucesso no cargo.
busca de variados pontos de vista e com frequência CEOs que se destacam por conseguir o apoio dos
pedem a opinião de um pequeno, porém cuidadosa- demais planejam e executam disciplinadamente es-
mente cultivado, grupo de conselheiros de confiança tratégias de comunicação e persuasão. “Em todas as
a quem podem recorrer quando precisam de discerni- grandes decisões, eu elaboro um mapa de acionista
mento e opiniões honestas. com as pessoas que, impreterivelmente, preciso que

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 51 


O QUE DIFERENCIA CEOs BEM-SUCEDIDOS

me apoiem”, explica Madeline Bell, CEO do Children’s Quando interagem com os acionistas, CEOs co-
Hospital da Filadélfia. “Identifico os detratores e suas mo Bell preocupam-se em saber quanto seu humor
apreensões e, em seguida imagino como transformar e sua linguagem corporal podem afetar o impacto
sua energia negativa canalizando-a para algo positi- das informações. Ainda que muito tenha sido escri-
vo. Deixo claro para as pessoas que elas são importan- to sobre o “contágio emocional”, novos CEOs são co-
tes para o processo e que dividirão os louros da con- mumente surpreendidos pelos possíveis estragos de
quista. Mas, no fim das contas, é preciso mostrar que uma palavra equivocada ou um gesto infeliz. “Qual-
você está tomando uma decisão e espera o apoio de quer comentário ou expressão facial que você fizer
todos eles.” será visto e ampliado dez vezes em toda a empre-
sa”, afirma Kaufman. “Se você fizer careta durante
a apresentação de alguém porque suas costas estão
doendo, o apresentador vai pensar que será demi-
tido.” Compostura é um pré-requisito para o cargo,
SOBRE O ESTUDO e mais de três quartos dos melhores candidatos a
CEO da nossa amostragem demonstraram tranquili-
Este artigo é baseado na pesquisa conduzida por dez anos pela dade sob pressão.
ghSmart como parte do Projeto Genoma CEO. A ghSmart reuniu CEOs que conquistam acionistas não gastam sua
uma base de dados de 17 mil avaliações de executivos C-level energia na tentativa de fazer com que as pessoas gos-
— incluindo dois mil CEOs — que abrangem todas as principais tem deles ou protegendo sua equipe de decisões difí-
indústrias e uma enorme variedade de empresas de diversos ceis. Na verdade, essas duas atitudes são comuns em
tamanhos. Cada avaliação dos executivos inclui detalhes CEOs pouco produtivos. Já os CEOs competentes con-
sobre o histórico educacional e profissional, avaliações de seguem o apoio de seus colegas injetando a confian-
desempenho, e informações sobre padrões de comportamento, ça de que vão liderar suas equipes até o sucesso, ain-
decisões e resultados de negócios. Esses dados foram obtidos da que isso signifique tomar decisões desagradáveis
por meio de entrevistas estruturadas com cada executivo e, em e impopulares. Esses CEOs não se furtam ao confli-
alguns casos, foram complementados por conversas com os to na busca dos objetivos; em nossa análise dois ter-
sócios desses executivos. ços dos CEOs que excederam na capacidade de con-
Para identificar as qualidades necessárias para se tornar um seguir comprometimento foram avaliados como há-
CEO e comparar as características dos CEOs com as de outros beis na administração de conflitos. A aptidão de lidar
executivos C-Suite, examinamos atentamente uma amostragem com opiniões conflitantes ajuda muitos candidatos a
de 930 candidatos a CEO que representavam empresas de chegar à posição de CEO. Quando estudamos líderes
todos os tamanhos e 19 dos 20 setores de indústrias do Naics que haviam conseguido atingir esse patamar profis-
(North American Industry Classification System). sional de maneira significativamente mais rápida que
Empresas americanas representaram 86% das analisadas. a maioria, uma das qualidades que se fizeram notar
Também recolhemos informações de desempenho de 212 foi a disposição para solucionar conflitos.
executivos tomando como base os resultados financeiros Em situações controversas, líderes hábeis no que-
das empresas e as opiniões de membros da diretoria e de sito comprometimento oferecem a todos a chance de
investidores. se pronunciar, mas não de votar. Eles ouvem e pedem
Nossa equipe de 14 pesquisadores — formada por opiniões, mas não fazem da decisão por consenso
psicólogos; economistas liderados pelo professor Steven N. uma regra. “Consenso é bom, mas é muito demora-
Kaplan, da University of Chicago e pelo professor Morten do e algumas vezes você acaba com o menor deno-
Sørensen, da Conpenhagen Businesses School; estatísticos; minador comum”, afirma Christophe Weber, CEO da
especialistas em mercado financeiro; e analistas de dados da Takeda Pharmaceutical. Weber tem o hábito de con-
SAS e da NYU — avaliou transcrições de entrevistas focadas vocar e presidir reuniões não estruturadas com 20 ou
em fatores como educação, tempo no cargo e experiência na 30 dos funcionários de maior potencial dentro da em-
indústria. Essas informações foram usadas para diferenciar presa antes de tomar decisões-chave. O objetivo des-
(a) candidatos que foram admitidos para o posto de CEO sas reuniões é desafiá-lo e fazer como que ele encare
daqueles que não foram, (b) CEOs que atingiram ou superaram novas perspectivas, mas Weber é cuidadoso para não
as expectativas daqueles que tiveram um desempenho abaixo criar a ilusão de democracia.
do esperado (também exploramos a trajetória profissional que Nada disso significa que os CEOs devem agir como
KIDSADA MANCHINDA/GETTY IMAGES

conduziu até o cargo de CEO, padrões usados nas contratações autocratas ou lobos solitários. Nós observamos que,
e demissões, erros cometidos e outras questões). como regra, CEOs impiedosos duram somente en-
Em paralelo, conduzimos mais de 70 entrevistas adicionais quanto a empresa não tem outra saída que não o tra-
com CEOs e membros das diretorias para testar nossas tamento de choque. Esses CEOs são dispensados, na
hipóteses e entender melhor o que é necessário para se maior parte das vezes, assim que os negócios saem da
tornar um CEO de sucesso e como as diretorias realmente crise — eles perdem o apoio de suas equipes ou dos
escolhem CEOs. membros do conselho que se cansaram dos efeitos co-
laterais. Não é coincidência que a carreira de CEOs de

52 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


4
momentos de crise é frequentemente uma série de lu- TRANSMITIR CONFIANÇA. Por
crativos intervalos de dois ou três anos. Eles apagam o mais mundano que possa pare-
incêndio e partem para nova empreitada. cer, a capacidade de produzir re-
sultados de maneira confiável foi
possivelmente a mais poderosa
ADAPTAR-SE PROATIVAMENTE. Pa- das quatro condutas essenciais
ra comprovar em que medida é im- do CEO. Em nossa amostragem,
portante para os negócios e para os os candidatos a CEO que atingi-
líderes ajustar-se rapidamente a um ram as maiores pontuações em
ambiente em mudança, não preci- confiabilidade tinham duas vezes
samos olhar além das consequên- mais chances de ser escolhidos
cias do Brexit e da recente eleição para o cargo e 15 vezes mais de de-
presidencial nos Estados Unidos. sempenhá-lo com sucesso. Tanto
Nossa avaliação mostra que CEOs o conselho como os investidores
que se destacam na adaptação são adoram mão firme, e empregados
6,7 vezes mais propensos a triun- confiam em líderes previsíveis.
far. Os próprios CEOs mencionaram Os líderes que ignoram a im-
inúmeras vezes que essa habilidade portância da confiabilidade o fa-
é essencial. Quando lhe pergunta- zem por sua conta e risco. Simon — executivo de
ram o que diferencia CEOs efetivos, grande potencial a quem nos foi pedido que oferecês-
Dominic Barton, sócio-administra- semos coaching — era conhecido como funcionário
dor mundial da McKinsey & Com- que fazia milagres em sua empresa. Em uma cultura
pany, respondeu prontamente: “Li- na qual exceder uma meta em 2% era visto como vi-
dar com situações que não estão no tória, ele atingiu 150% de sua meta de lucro. Embo-
manual, pois como CEO você as enfrenta constante-
mente. Você precisa estar preparado para se adaptar”.
A maior parte dos CEOs sabe que precisa dividir
sua atenção em perspectivas de curto, médio e lon-
go prazos, mas o CEO que sabe se adaptar passa sig-
nificativamente mais tempo — cerca de 50% — refle-
tindo sobre as de longo prazo. Outros executivos, por
“Consenso é bom, mas
sua vez, dedicam uma média de 30% de seu tempo às
perspectivas de longo prazo. Acreditamos que pensar
no longo prazo é útil porque aumenta a chance de os
CEOs perceberem numerosos dados ainda no come-
é muito demorado
ço. CEOs altamente adaptáveis se conectam a uma re-
de mais ampla de informações: eles passam os olhos
em diversas redes e fontes de dados, encontrando re-
levância em informações que a princípio não parecem
e algumas vezes você
relacionadas aos seus negócios. Como resultado, no-
tam mais cedo eventuais variações e fazem mudanças
estratégicas para tirar proveito disso. acaba com o menor
denominador comum”.
CEOs mais capazes de se adaptar reconhecem que
os reveses são parte integrante da mudança de rumo
e tratam seus erros como oportunidades para apren-
der e crescer. Em nossa amostragem, CEOs que en-
cararam reveses como fracassos passaram a ter 50%
menos chance de prosperar. Os CEOs bem-sucedidos,
por sua vez, ofereceram, impassivelmente, razões
práticas de como e onde fracassaram e deram exem-
plos específicos de como adaptaram suas abordagens ra tenha enfrentado alguns fracassos anteriormente,
para melhorar na oportunidade seguinte. Do mesmo ele estava agora administrando com sucesso a maior
modo, aqueles que queriam se tornar CEOs e tiveram unidade de negócios, a menina dos olhos da empre-
atitude similar (o que Carol Dweck, de Stanford, cha- sa. Quando Simon anunciou que estava no encalço da
ma de “mentalidade de crescimento”) tinham mais promoção que faria dele CEO, os conselheiros ficaram
chances de chegar até o topo da pirâmide: quase 90% impressionados com seu a excelência de seu desem-
dos melhores candidatos a CEO que avaliamos obtive- penho recente, mas não entenderam exatamente co-
ram notas altas no quesito lidar com reveses. mo ele o havia atingido, por isso suspeitaram que não
seria possível repeti-lo. Assim, o conselho optou por atingindo expectativas maiores do que as imaginadas
um candidato mais “seguro”, conhecido por apresen- — para o deleite do conselho e dos investidores.
tar resultados constantes e previsíveis ano após ano. CEOs que conseguiram níveis mais altos em con-
Nossos dados confirmam a importância soberana fiabilidade empregaram, também, outras táticas. Três
da confiabilidade. Uma impressionante marca de 94% quartos deles foram avaliados como fortes nos quesitos
dos melhores candidatos a CEO que analisamos con- organização e planejamento. Eles estabeleceram siste-
seguiram notas altas em relação à capacidade de con- mas de administração de negócios que incluíam reuni-
cluir, consistentemente, seus projetos. ões regulares, um quadro de medidas, designação cla-
Uma prática importante aqui é estabelecer expec- ra de responsabilidades e múltiplos canais de monito-
tativas realistas desde o início. Nas primeiras semanas ramento de desempenho e correções rápidas de rumo.
no cargo, CEOs confiáveis resistem à tentação de ir di- Mais importante, eles se cercaram de equipes fortes.
reto para o modo de execução. Eles avaliam os orça- Infelizmente, esta última não era uma regra para
mentos e planejamentos com cuidado e se relacionam todos os CEOs: o erro mais comum dos CEOs de pri-
meira viagem — cometidos por surpreendentes 60%
deles — era não selecionar as equipes certas com ra-
pidez. Para CEOs que escolhem pessoas talentosas, os

CEOs mais capazes de


riscos são altos e as perdas são claras. Os que conse-
guem prosperar agem decisivamente para conseguir
elevar a quantidade de pessoas talentosas. Eles ele-
vam o nível de expectativa e se concentram em de-

se adaptar reconhecem sempenhos relevantes para os respectivos cargos em


vez de optar por conforto pessoal ou lealdade — dois
critérios que comumente levam a decisões ruins.

que reveses são parte PARA DEIXAR CLARO, não existe uma mistura perfei-
ta das quatro atitudes que funciona para todo cargo
de CEO. A indústria e o contexto da empresa determi-
nam quais condutas e capacidades são mais impor-

da mudança de rumo e tantes em situações específicas. Um CEO em uma in-


dústria em acelerado desenvolvimento — tecnologia,
por exemplo — com certeza precisará se distinguir

tratam seus erros como


em adaptação proativa, mas tal atitude pode impor-
tar menos em setores mais estáveis.
Você pode ponderar: e a integridade e outras qua-
lidades básicas? Elas são primordiais na triagem para

oportunidades.
descartar candidatos que claramente não estão aptos,
mas elas não vão ajudá-lo a separar os melhores dos
demais. Leve em conta que 100% dos CEOs de baixo
desempenho em nossa amostragem conseguiram no-
tas altas em integridade e 97% em ética do trabalho.
No fim, nossa pesquisa mostra que a liderança de
sucesso não é um posto de características inalteráveis
ou de pedigree inatingível. E não há nada de exótico
nos ingredientes mais importantes: capacidade de de-
com membros do conselho, empregados e clientes pa- cisão, habilidade de conquistar acionistas, adaptabili-
ra entender quais são as expectativas. Ao mesmo tem- dade e confiabilidade. Embora não exista uma atitude
po, avaliam rapidamente os negócios para desenvol- que resolva todos os problemas, concentrar-se nessas
ver suas próprias ideias em relação ao que é plausível qualidades essenciais aumentará a probabilidade de
e trabalham para alinhar as expectativas. os membros da diretoria escolherem o candidato certo
Em 2012, quando Scott Clawson passou a controlar para CEO — e a chance de ele ter sucesso no cargo.
KIDSADA MANCHINDA/GETTY IMAGES

a Culligan, empresa de tratamento de água, ele herdou HBR Reprint R1705B–P Para pedidos, página 9
uma empresa em dificuldades que todos acreditavam
ter um Ebitda de US$ 60 milhões. Depois de terminar LENA LYTKINA BOTELHO é sócia da ghSmart, empresa de
consultoria em liderança. Ela é a fundadora do Projeto
sua própria diligência, ele teve de contar aos investido-
Genoma CEO. KIM ROSENKOETTER POWELL é diretora da ghSmart e
res que o verdadeiro número era próximo de US$ 45 mi- colíder do Projeto Genoma CEO. STEPHEN KINCAID é diretor e
lhões. Embora tenha sido forçado a recuar em relação ex-presidente da Society of Consulting Psychology. DINA WANG é
ao seu objetivo em um primeiro momento, conseguiu diretora da ghSmart e ex-membro do Forum for Growth &
renovar o sistema de negócios e de talentos da empresa, Innovation da Harvard Business School.

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 55 


BART DE LANGHE, STEFANO PUNTONI E RICHARD LARRICK

56 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


FAÇA UM TESTE. Imagine que você é responsável pela frota de carros de su empresa.
Existem dois modelos, um SUV que faz 10 milhas por galão (MPG) de combustível e
um sedã que faz 20 MPG. O número de veículos de cada tipo é igual e todos os carros
percorrem 10 mil milhas por ano. Você tem capital suficiente para substituir um dos
modelos por veículos mais econômicos e assim reduzir o custo operac e ajudar
a atingir as metas de sustentabilidade.

Qual operação é recomendada?


A. Substituir os veículos que percorrem 10 MPG por veículos que percorrem 20 MP
B. Substituir os veículos que percorrem 20 MPG por veículos que percorrem 50 MPG.
Intuitivamente, a opção B parece mais atraente — um aumento de 30 MPG é bem
maior que um aumento de 10 MPG. E o aumento na porcentagem é também mai
Mas B não é a melhor opção. Na verdade, nem chega perto. Vamos mparar.

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 57 


RACIOCÍNIO LINEAR NUM MUNDO NÃO LINEAR

GALÕES CONSUMIDOS POR 10 MIL MILHAS 1000


ATUAL DEPOIS DA RENOVAÇÃO ECONOMIA
A. 1.000 (A 10 MPG) 500 (A 20 MPG) 500
B. 500 (A 20 MPG) 200 (A 50 MPG) 300
MIA
ECONO00
Surpreendente, não? Para muitos, sim, porque em ÕES DE 5 S
nossa mente a relação entre MPG e o consumo de com- GAL OS GALÕE
D
bustível é mais simples do que realmente é. Tendemos USA
a pensar que é linear, da seguinte forma:
500
S
MAI ECONOMIA
DE 300
GALÕES
200

ÕES
GAL DOS 10 20 50
USA
MPG
O mais surpreendente é que, mesmo se melhorás-
semos a eficiência de combustível de 20 MPG para 100
MPG, a economia de combustível ainda não seria tanta
como no caso de passar de 10 MPG para 20 MPG.

OS 1000
MEN
MAIS BAIXO MPG MAIS ALTO ECONO0
MIA
ÕES DE 50
Mas este gráfico está errado. O consumo de com- GAL OS GALÕE
S
D
bustível não é uma função linear das milhas percorri- USA
das por galão. Quando você calcula, a relação, na ver-
dade, é assim:

500
1000
OMIA
ECON400
MO DE ALÕES
800 CONSU BUSTÍVEL
O M
G
DE C
ÕES 0 MIL
POR 1 S
GAL OS MILH A
D
USA 600 100
0 10 20 50 100
400
MPG
Mas optar pela substituição de veículos que percor-
200 rem menos milhas por galão continua contraintuitivo,
mesmo diante das evidências visuais. Ela simples-
mente não parece correta.
Se ainda está difícil de entender, não é culpa sua. Dé-
0 10 20 30 40 50 cadas de pesquisas em psicologia cognitiva mostram que
a mente humana tem dificuldade de entender relações
MPG não lineares. Nosso cérebro procura traçar linhas retas
E quando você disseca a curva para mostrar cada simples. Em muitas situações esse tipo de raciocínio é sa-
cenário da renovação da frota, fica mais clara a neces- tisfatório: se você coloca 50 livros numa estante, pode-
sidade de substituir os carros que percorrem 10 MPG. rá colocar 100 livros se acrescentar outra estante igual, e

58 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


150 livros se arranjar mais uma. Analogamente, se o pre- NORMAL PROMOÇÃO A: PROMOÇÃO B:
ço de um café é US$ 2, você toma cinco cafés com US$ 10, DESCONTO 20% DESCONTO 40%
dez cafés com US$ 20 e 15 cafés com US$ 30. PREÇO/ROLO US$ 0,50 US$ 0,40 US$ 0,30
Mas nos negócios existem muitas relações forte- VENDAS 1.000 1.200 (+20%) 1.800 (+80%)
mente não lineares, e precisamos identificá-las. Isso LUCRO/ROLO US$ 0,35 US$ 0,25 US$ 0,15
vale tanto para generalistas como para especialistas, LUCRO US$ 350 US$ 300 US$ 270
porque mesmo os experts que sabem da existência
Embora a promoção B tenha praticamente dobrado
da não linearidade em suas áreas não conseguem
as vendas, os lucros caíram quase 25%. Para manter os
levá-la em consideração e a omitem em vez de confiar
US$ 350 de lucros habituais durante a promoção que
em seus instintos. Mas, quando isso acontece, as pes-
oferece 40% de desconto, você teria de vender mais de
soas geralmente acabam tomando decisões erradas.
2.300 unidades — um aumento de 133%.

O VIÉS LINEAAR NA PRÁTTICCA


Na vida real clientes e empresas são vítimas frequen-
tes do viés linear em inúmeros cenários. Um exemplo
7000 AS
VEND ÁRIAS
E SS
comum é um importante objetivo empresarial: lucros. NEC A OBTER
PAR RO DE
Três fatores principais afetam os lucros: custo, vo- LUC 50 AO
lume e preço. Uma variação num desses parâmetros US$ 3 TO DE DE
DAD
ES CUS UNIDA
normalmente requer um ajuste nos demais para man- UNI À ,15/
ter os lucros. Custos crescentes, por exemplo, preci- DA
US 0
$
sam ser compensados pelo aumento no preço ou no VEN
volume. E se você cortar preços, é preciso baixar os
custos ou aumentar o volume para manter seus lucros.
Infelizmente a intuição dos gestores sobre as rela-
ções entre esses niveladores de lucros nem sempre é 2333
boa. Há anos os especialistas alertam as empresas de
que variações de preço afetam mais os lucros que as 1400
variações de volume ou custos. Apesar disso, muitos 1000
executivos focam demais no volume e nos custos, e 777
não no preço.
Por quê? Porque os grandes aumentos de volume 10 20 30 40 50 60
de vendas que eles constatam depois de reduzir os 0 (EM
preços são muito empolgantes. O que as pessoas sim- PREÇO/UNIDADE R)
CENTAVOS DE DÓLA
plesmente não percebem é de quanto devem ser es-
ses aumentos para manter os lucros, principalmente
O fenômeno não linear ocorre também com fatores
quando as margens são baixas.
intangíveis, como o comportamento do consumidor.
Suponha que você produz certa marca de toalhas
Pense em consumidores e sustentabilidade. Frequen-
de papel. Elas são vendidas a US$ 0,50 o rolo, e o custo
temente os executivos reclamam que, embora exista
marginal de produção de um rolo é de US$ 0,15. Recen-
preocupação com o ambiente, ninguém está dispos-
temente, você apresentou duas promoções de preço.
to a pagar mais por produtos amigavelmente ecológi-
Veja agora como elas se comparam:
cos. Análises quantitativas mostram isso. Uma pesqui-
sa realizada pela National Geographic Society e pela
NORMAL PROMOÇÃO A: PROMOÇÃO B:
GlobeScan revelou que, em 18 países, as preocupações
DESCONTO 20% DESCONTO 40%
com os problemas ambientais aumentaram conside-
PREÇO/ROLO US$ 0,50 US$ 0,40 US$ 0,30
ravelmente com o passar do tempo, mas o comporta-
VENDAS 1.000 1.200 (+20%) 1.800 (+80%) mento do consumidor mudou muito mais devagar.
Enquanto praticamente todos os consumidores pes-
Intuitivamente, B parece mais vantajosa — 80% quisados concordam que a produção e o consumo de
de aumento no volume para uma redução de 40% no alimentos poderiam ser mais sustentáveis, poucos
preço parece muito mais lucrativo que um aumento mudaram seus hábitos para atingir essa meta.
de 20% no volume para um desconto de 20% no preço. O que está acontecendo? A relação entre o que, no di-
Mas agora você já deve estar percebendo que B não é a zer deles, preocupa os consumidores e suas ações costu-
estratégia mais lucrativa. ma ser extremamente não linear. Mas os gestores acre-
Na verdade, as duas promoções levam à redução ditam que as ferramentas quantitativas clássicas, como
de lucros, mas o impacto negativo de B é muito maior pesquisas usando escalas de importância 1 a 5, poderão
que de A. Vamos comparar os lucros de cada cenário: prever um comportamento não linear. Na verdade, a

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 59 


RACIOCÍNIO LINEAR NUM MUNDO NÃO LINEAR

aceitem se inscrever em vários programas de fidelidade


que exigem a divulgação de dados pessoais? Novamen-
te, porque somente as pessoas que dizem estar extrema-
mente preocupadas com a privacidade tomam as me-
didas necessárias para protegê-la, enquanto a maioria,
independentemente de seus níveis de preocupação, não
procura mudar seu comportamento.
S
ADA É importante saber da existência de relações não li-
M PRAS IS ESPER
neares quando se escolhem métricas de desempenho.
CO BIENTA Por exemplo, para avaliar a efetividade da gestão de
AM seu estoque, algumas empresas controlam os dias de
IS
REA suprimento, ou o número de dias em que os produtos
são mantidos no estoque, e outras empresas contro-
lam o número de vezes que seu estoque é reposto anu-
almente. Os próprios gestores não sabem exatamente
por que suas empresas usam uma métrica, e não a
outra. Mas a escolha pode ter consequências impre-
visíveis — sobre a motivação dos funcionários, por
exemplo. Suponha que uma empresa conseguiu re-
1 2 3 4 5 duzir o número de dias que os produtos permanecem
EM RESUMO CLASSIFI CAÇÃO em estoque de 12 para seis e que, com mais pesquisas,
O PROBLEMA DE PREOCUPAÇÃO ela possa reduzir esse período para quatro dias. Isso
As pessoas esperam AMBIENTAL significa que a taxa de rotatividade do estoque pode-
que as relações entre ria aumentar de 30 vezes por ano para 60 vezes por
variáveis e resultados pesquisa mostra pouca ou nenhuma diferença compor- ano, e até para 90 vezes por ano. Mas a pesquisa de To-
sejam lineares. Geralmente tamental entre consumidores que, numa escala de cin- bias Stangl e Ulrich Thonemann, da Universidade de
são: a quantidade de co pontos, atribuem à sua preocupação ambiental uma Colônia, mostra que os funcionários ficarão muito
dados que um iPad
pode guardar aumenta classificação mais baixa, 1, e os consumidores que a clas- mais motivados a introduzir melhorias se a empresa
proporcionalmente sificam em 4. Mas a diferença entre as classificações 4 controlar a rotatividade do estoque em vez de contro-
a sua capacidade de e 5 é enorme. O gráfico do comportamento segundo a lar os dias em que os produtos permanecem estoca-
armazenamento. Mas atitude é dado por uma curva, não por uma linha reta dos. Isso porque, aparentemente, os retornos obtidos
muitas vezes não são: a (ver gráfico na parte superior da próxima página). são menores quando eles melhoram a métrica de dias
economia de tempo ao
fazer um upgrade de uma As empresas em geral não percebem esse padrão de estoque — mas os retornos permanecem constan-
conexão de banda larga — em parte porque elas focam em médias. As mé- tes quando eles melhoram a métrica de rotatividade.
da internet torna-se cada dias mascaram a não linearidade e levam a erros de Outras áreas em que as empresas podem escolher
vez menor à medida que previsão. Suponha, por exemplo, que uma empresa diferentes métricas incluem depósitos de distribuição
aumenta a velocidade de realizou uma pesquisa sobre sustentabilidade entre de produtos (tempo de separação versus taxa de sepa-
donwload.
dois de seus segmentos alvo. Todos os consumidores ração), produção (tempo de produção versus taxa de
O DESAFIO de um segmento classificam sua preocupação com o produção) e controle de qualidade (tempo entre defei-
Como combater a ambiente em 4, enquanto 50% dos consumidores do tos versus taxa de defeitos).
tendência de raciocinar outro segmento classificam em 3, e 50% classificam A não linearidade está por todo lado. Vamos explo-
linearmente para não em 5. O nível médio de preocupação é igual para os rar agora que formas ela pode assumir.
tomar decisões erradas dois segmentos, mas as pessoas do segundo segmen-
nos negócios quando
to estão, em geral, muito mais propensas a adquirir
fenômenos em jogo são
não lineares? produtos verdes. Isso porque um consumidor que se OS QUUATRO TIPOOS DE RELLAÇÇÃOO NÃO LINNEARR
classifica em 5 está muito mais disposto a fazer esco- A melhor forma de entender padrões não lineares é
A SOLUÇÃO lhas ambientais que um cliente que se atribuiu um 4, observando-os. Existem quatro tipos.
Em primeiro lugar, você enquanto o consumidor que se classifica em 4 não está
precisa entender os quatro mais disposto que um que se atribuiu um 3. Aumento gradual, e depois um aumento mais acentua-
tipos de relação não linear
e como o raciocínio linear
A relação não linear entre atitudes e comportamento do. Digamos que uma em-
induz a erros de julgamento aparece recorrentemente em áreas importantes, incluin- presa tem dois segmentos de
nessas situações. Depois do preocupações com a privacidade dos consumidores. cliente, e ambos respondem
visualize os dados e Por exemplo, uma pesquisa abrangente realizada na Ho- por margens anuais de US$
verifique se, e como, as landa mostrou poucas diferenças no número de cartões 100. O segmento A tem taxa
relações em seu ambiente
de programas de fidelidade de consumidores que afir- de retenção de 20%, e a taxa
são não lineares. Isso o
ajudará a fazer escolhas mam estar muito preocupados versus apenas fracamen- de retenção de B é de 60%.
que maximizem o te preocupados com a privacidade. Como é possível que Para muitos gestores não faz
resultado desejado. pessoas que se dizem preocupadas com sua privacidade tanta diferença no resultado

60 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


300 170 K
1-5
US$ 267 150 K
O
ENT 6 - 10
AUM S$ 147
DE U ÇÃO
RTIZA
AMO POTECA 11 - 15
I
200 DE H
PARTE IZADA
100 K 16 - 20 AMOR
T

CLV
21 - 25
100 O
ENT 5
US$ 120
AUM E US$ 3 50 K
D
US$ 57 26 - 30

US$ 22
20% 40% 60% 80% 5 10 15 20 25 30
TAXA DE ANOS
RETENÇÃO
final do balanço financeiro qual o segmento do qual de- maiores no fim do finan-
vem aumentar a taxa de retenção. Quando muito, a maio- ciamento. O principal não
ria acredita que é mais vantajoso dobrar a taxa de reten- diminui linearmente. Num
ção menor que aumentar a maior, digamos em um terço. financiamento de US$ 165
Mas o valor do tempo de permanência do cliente mil em 30 anos a uma taxa
(CLV, na sigla em inglês) é uma função não linear da taxa de juros de 4,5%, a amorti-
de retenção, como se observa ao aplicar a fórmula para zação diminui em somente
calcular o CLV: cerca de US$ 15 mil nos pri-
meiros cinco anos. Por vol-
ta dos 25 anos, a amortização estará abaixo de US$ 45
MARG GEM * TA
AXA DE RETEN
NÇÃO mil. Dessa forma, o proprietário paga menos de 10% do
1 + TAXA DE DESSCON
NTOO — TAXA DE REETEN
NÇÃ
ÃO principal nos primeiros 16% do prazo do empréstimo,
mas mais de 25% nos últimos 16% do prazo.
Quando a taxa de retenção aumenta de 20% para Nesse caso, como os mutuários de hipotecas são
40%, o CLV aumenta em cerca de US$ 35 (assumindo traídos pelo raciocínio linear, muitas vezes eles se sur-
um desconto de 10% para ajustar lucros futuros ao valor preendem quando, ao vender um imóvel depois de
atual), mas quando as taxas de retenção aumentam de alguns anos (e pagar os custos de corretagem), conse-
60% para 80%, o CLV sobe para US$ 147. À medida que guem ter apenas um pequeno lucro líquido.
a taxa de retenção aumenta, o CLV aumenta gradativa-
mente no início e, de repente, dispara. Subida rápida, e depois certa estabilidade. O alto
Muitas empresas procuram identificar os clientes volume de vendas de um produto permite que as em-
com maior probabilidade de desertar e depois os bom- presas atinjam economias
bardeiam com programas de marketing. No entanto, de escala e impulsionem
normalmente é mais lucrativo focar em clientes com os lucros por unidade ven-
maior probabilidade de permanecer fidelizados. O ra- dida, uma métrica geral-
ciocínio linear leva os gestores a subestimar as vanta- mente usada para avaliar
gens de pequenos aumentos em altas taxas de retenção. a eficiência da empresa.
Os executivos utilizam a
Diminuição gradual, e depois diminuição mais acen- seguinte fórmula para cal-
tuada. Um exemplo clássico são as hipotecas. Os donos cular o lucro unitário:
de imóveis geralmente se surpreendem com a amorti-
zação lenta de seus empréstimos nos primeiros anos
do financiamento. Mas numa hipoteca com juros fixos (VOLUM
ME * PREÇO UNITÁRIOO) — CUSTO
OS FIXO
OS — (V
(VO
OLU
UME *CCUSTTO UNITÁRRIO VARRIÁÁVELL)
e prazo fixo, as parcelas que servem para amortizar o VOLLUMME
principal em cada prestação são menores no início e

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 61 


RACIOCÍNIO LINEAR NUM MUNDO NÃO LINEAR

TESTE SUA APTIDÃO NÃO LINEAR


Faça esse teste para saber se você consegue tomar as
melhores decisões. (Respostas na página 65.) widgets vendidos dobrar, produzindo 200 mil, o lucro

1 Em que situação você consome mais 4 Você está tentando medir se homens
por unidade será de US$ 1,25 (assumindo que o custo
variável unitário permaneça o mesmo). Esse aumento
pizza? e mulheres estão dispostos a pagar atraente pode tentá-lo a pensar que o lucro unitário
A. Quando come uma pizza de 36 cm. por um novo produto. Até agora, você
disparará se você aumentar as vendas de 100 mil para
B. Quando come duas pizzas de 24 cm. pesquisou 20 homens e 50 mulheres.
800 mil unidades. Não é bem assim.
Que opção aumentaria mais a precisão
2 As empresas geralmente são de suas estimativas? Se a empresa dobrar as vendas do produto de 400
mil para 800 mil (o que é muito mais difícil que dobrar
aconselhadas a focar nos clientes com A. Pesquisar mais cinco mulheres e
30 homens. de 100 mil para 200 mil), o lucro unitário aumentará so-
maior valor em termos de tempo de
retenção. Imagine que seus analistas B. Pesquisar mais 100 mulheres e mente em cerca de US$ 0,06 (ver gráfico na pág. seguinte).
segmentaram sua base de clientes em mais cinco homens. Os gestores apostam muito mais nos benefícios de
economias de escala e no crescimento. No entanto, o
5
decis para o valor do tempo de retenção
(onde no decil 1 está o valor mais alto). Qual desses dois passageiros que raciocínio linear pode levá-los a superestimar o volu-
Quais os dois valores de segmentos que viajam a negócios aumentam mais a me como um fator gerador de lucros e assim subesti-
têm maior probabilidade de estarem milhagem? mar outros fatores impactantes, como preço.
mais próximos? A. O primeiro que aumenta as milhas Caindo acentuadamente, depois gradualmente.
A. decis 1 e 2. voadas de 20 mil para 40 mil por ano. Muitas empresas baseiam
B. decis 3 e 8. B. O segundo que aumenta as milhas suas avaliações de investi-
voadas de 50 mil para 60 mil por ano. mentos no período de pay-
3 back — o tempo necessário
6
Sua empresa fabrica produtos em
duas fábricas. Supondo que as fábricas Suponha que sua meta básica seja para recuperar os custos.
operam no regime 24/7, o que lhe aumentar o tráfego para o website de Obviamente, paybacks mais
proporcionaria aumento na quantidade sua empresa. O que você deve fazer? curtos são mais convenien-
de produtos produzidos por ano? A. Subir seu ranking na pesquisa orgânica tes. Suponhamos que você
A. Aumentar a produtividade da primeira por palavra-chave da 10a para a tem dois projetos previs-
fábrica de 100 para 120 unidades por hora. 4a posição. tos para financiamento. O
B. Aumentar a produtividade da segunda B. Subir seu ranking na pesquisa orgânica por
projeto A tem um período de payback de dois anos, e o
fábrica de 130 para 140 unidades por hora. uma palavra-chave de 4a para 2a posição.
projeto B de quatro anos. As duas equipes acreditam que
conseguem reduzir pela metade seu período de payback.
Muitos gestores talvez considerassem B mais atraente,
Imagine uma empresa que vende 100 mil widgets porque eles economizariam dois anos, o dobro do tempo
por ano a US$ 2 cada um com custo de produção de que economizariam com A.
US$ 100 mil — US$ 50 mil de custos fixos e US$ 0,50 A liderança da empresa, no entanto, pode estar
em custos variáveis por unidade. O lucro unitário é de mais preocupada com o retorno sobre o investimen-
US$ 1. A empresa pode aumentar o lucro unitário pro- to que com o tempo para atingir o limiar. Paybacks de
duzindo e vendendo mais widgets, porque ela distribui um ano têm taxa anual de retorno (ARR, na sigla em
os custos fixos entre suas unidades. Se o número de inglês) de 100%. Paybacks de dois anos têm ARR de
50% — uma diferença de 50 pontos percentuais. Pay-
50
US$ 1. backs de quatro têm ARR de 25% — uma diferença de
25 pontos percentuais. Portanto, à medida que o pay-
back aumenta, a ARR cai acentuadamente no início e
O
ENT 6 depois mais lentamente. Se sua meta for atingir uma
R AUM US$ 0,0

CRO PO DE ARR mais alta, a melhor opção é dividir pela metade o


LU IDADE período de payback do projeto A.
UN Os gestores que comparam portfólios de projetos
com dimensões similares podem se surpreender ao des-
cobrir que o retorno sobre o investimento é mais alto
1.25 num portfólio contendo um projeto com um payback de
um ano e outro com um payback de quatro anos do que
num portfólio contendo dois projetos cujos retornos são
esperados em dois anos. Eles precisam ter cuidado para
O
ENT não subestimar o efeito que as reduções em períodos de
AUM S$ 0,25
DE U payback relativamente curtos têm sobre a ARR.

1.00 COMOO EVITAAR ASS ARRMAADIILHHASS DO VIÉÉS LINNEAR


Em qualquer atividade de gestão, os vieses entranha-
100 K 200 K 400 K DADES 800 K 1 MM dos no cérebro dos gestores afetarão a qualidade das
UNI

62 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


decisões de negócios. No entanto, é possível minimi- aqui é inversa: à medida que a ARR sobe, o tempo para
zar as armadilhas do raciocínio linear. atingir uma meta cai drasticamente no início e depois
Passo 1. Aumente a conscientização do viés li- diminui gradualmente.
near. Os cursos de MBA deveriam ser os primeiros a Como a ARR se relaciona com vários resultados de
alertar explicitamente os futuros gestores sobre esse diferentes formas não lineares, não raro as pessoas sub
fenômeno e ensinar-lhes formas de lidar com ele. E as ou superestimam seu efeito. O gestor que deseja ma-
empresas poderiam adotar iniciativas para ensinar o ximizar retornos gerais pode estar muito preocupado
mesmo aos funcionários, por exemplo, propondo-lhes com uma mudança na taxa de 0,30% para 0,70%, mas
a solução de quebra-cabeças envolvendo relações não ser insensível a uma mudança de 6,4% para 6,6%. Na
lineares (ver quadro “Teste sua aptidão não linear”). verdade, aumentar uma taxa baixa de retorno produz
Nossa experiência mostra que as pessoas acham esses um efeito muito menor no retorno futuro acumulado
exercícios envolventes e irresistíveis. do que aumentar uma taxa alta. Já o gestor preocupado
Esforços educacionais mais amplos já estão em em minimizar o tempo para atingir a meta de um inves-
curso em vários campos. Um deles é o Ocean Tipping timento pode decidir assumir um risco extra para au-
Points (pontos críticos do oceano), iniciativa que visa mentar o retorno de 6,5% para 6,7%, mas ser insensível
sensibilizar as pessoas sobre as relações não lineares a uma mudança de 0,40% para 0,60%. Nesse caso, o
de ecossistemas marinhos. Os cientistas e gestores, efeito de aumentar uma alta taxa de juros a tempo de
muitas vezes, assumem que a relação entre um estres- cumprir uma meta de economia é muito menor que o
sor (como a pesca) e uma resposta ecológica (redução efeito de aumentar uma baixa taxa de juros.
na população de peixes) é linear. No entanto, uma pe- Passo 3. Descubra o tipo de não linearidade
quena mudança num estressor provoca às vezes danos de seu problema. Como apontaram Thomas Jones e
desproporcionalmente grandes. Toda uma população W. Earl Sesser, Jr. num artigo da HBR em 1995, a relação
de peixes pode colapsar como consequência de um pe- entre o índice de satisfação do cliente e a retenção do
queno aumento na pesca. O objetivo do projeto é iden- cliente geralmente é não linear — mas pode variar, de-
tificar pontos críticos relevantes da ecologia oceânica pendendo do setor. Em indústrias altamente competiti-
para ajudar a melhorar o manejo de recursos naturais. vas, como a automobilística, a retenção aumenta gradu-
Passo 2. Foque em resultados, não em indica- almente e depois rapidamente à medida que aumentam
dores. Uma das tarefas mais importantes de ges- os índices de satisfação do cliente. Para setores não com-
tão sênior é estabelecer os rumos e os incentivos da petitivos a retenção dispara no início e depois estabiliza.
organização. Mas, frequentemente, os resultados
desejados estão distantes das decisões empresariais
cotidianas, por isso as empresas identificam métri- ALTA SEM COMPETIÇÃO – MONOPÓLIO
cas intermediárias relevantes e criam incentivos para
maximizá-las. Para melhorar as vendas, por exemplo,
muitas empresas tentam melhorar o ranking de seus
websites nos resultados de pesquisas orgânicas. COMPETIÇÃO
O problema é que essas métricas intermediárias FRACA
DE
podem se tornar um fim, e não um meio, fenômeno
IDELIDA
acadêmico conhecido como “maximização do meio”. F
Esse é um bom indicador de se a relação entre uma mé-
trica e o resultado for uma função não linear — como
é o caso da posição na pesquisa orgânica e de vendas.
Quando o ranking na pesquisa cai, as vendas diminuem COMPETIÇÃO
rapidamente no início e depois mais lentamente: o im- FORTE
pacto nas vendas é muito maior quando um site desce
SUPERCOMPETITIVO
da primeira para a segunda posição nos resultados de
pesquisa do que quando desce da 20a para a 25a posição.
Outras vezes, um único indicador pode ser usado A
para prever vários resultados, e isso pode confundir BAIX AMENTE
AMENTE SATISFAÇÃ
O COMPLET O
e desorientar. Pense nas taxas anuais de retorno que COMPLET ITO
um gestor que deseja maximizar o valor futuro de INSATISFE SATISFEIT
um investimento deve considerar. Se você analisar
a relação entre a AAR do investimento no produto e Nas duas situações o raciocínio linear induz a er-
o retorno total acumulado, verá que, à medida que a ros. Se a indústria é competitiva, os gestores superes-
ARR aumenta, o retorno total aumenta gradualmente timam a vantagem de aumentar a satisfação de clien-
e depois dispara rapidamente. tes completamente insatisfeitos. Se a indústria não é
Outro gestor pode querer minimizar o tempo para competitiva, os gestores superestimam a vantagem de
atingir determinada meta de investimento. A relação melhorar a satisfação de clientes já satisfeitos.

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 63 


RACIOCÍNIO LINEAR NUM MUNDO NÃO LINEAR

SALVE OS CLIENTES DO VIÉS LINEAR


As discussões sobre práticas desonestas nos negócios e bem-estar
dos clientes normalmente focam em segmentos mais vulneráveis, CONDIÇÃO
como crianças ou pessoas idosas. Mas com o viés linear todos nós 4X
somos vulneráveis. Em seu livro de Nudge: improving decisions CONDIÇÃO
about health, wealth and happiness, de 2008, Richard Thaler e Cass
Sunstein argumentam que gestores e legisladores são os arquitetos
dos ambientes nos quais os clientes tomam decisões. Quando esses DAS
ambientes são bem projetados, os clientes podem tomar decisões mais VEN
acertadas para si e para a sociedade.
Governos e grupos de defesa do consumidor começaram a obrigar
a adoção de métricas padrão de desempenho que permitam que 2X
os consumidores comparem “maçãs com maçãs” entre os produtos
oferecidos. Infelizmente, não raro as métricas são importadas
diretamente da engenharia sem explicação de como podem se traduzir
em vantagens do produto. Por exemplo, todos os fabricantes de X CONDIÇÃO
impressoras incluem nas informações do produto o número de páginas
impressas por minuto (PPM) — o padrão ISO para a velocidade de
impressoras. Mas a economia de tempo não aumenta de forma linear
com o PPM. Ela diminui na extremidade mais alta do espectro PPM.
Métricas padronizadas são extremamente úteis: facilitam a X 2X PREÇO 4X
comparação de produtos, o que acaba beneficiando os consumidores.
Mas quando os clientes fazem hipóteses lineares sobre essas métricas,
A visualização é uma boa ferramenta para as em-
seus gastos podem estar subotimizados.
presas interessadas em ajudar os clientes a tomar
Os clientes não estão preocupados com as métricas. Eles estão
decisões corretas. Para que os motoristas se cons-
preocupados com o tempo ou o dinheiro que estão economizando. Podemos
cientizem de como é irrisório o tempo que economi-
fornecer-lhes esses dados e ajudá-los a tomar decisões mais conscientes.
zam acelerando quando já estão em alta velocidade,
pode-se adicionar um recurso visual nos painéis dos
A questão é que os gestores devem evitar generalizar carros que comprove essa economia de tempo. Esse
relações não lineares em contextos e atividades até en- dispositivo, chamado de “paceometer” por Eyal Pe’er e
tender a causa e o efeito em suas situações específicas. Eyal Gamliel, mostra dez milhas. Muitos motoristas se
Os experimentos de campo são uma forma cada vez surpreenderão em perceber que para aumentar a velo-
mais popular de verificar isso. Ao projetar o experimento, cidade de 40 milhas por hora para 65 milhas por hora,
os gestores precisam estar seguros de que estão levando você economiza cerca de seis minutos a cada dez mi-
em conta a não linearidade. Alguns executivos procuram lhas percorridas, mas, ao passar de 65 milhas por hora
medir o impacto do preço nas vendas oferecendo um pro- para 90 milhas por hora, você economiza somente
duto a preço mais baixo (condição A no gráfico da pág. se- dois minutos e meio a cada dez milhas percorridas —
guinte) e a preço mais alto (condição B) e depois medem as mesmo que nos dois casos você tenha aumentado sua
diferenças nas vendas. Mas testar dois preços não revela velocidade em 25 milhas por hora.
relações não lineares. São necessários pelo menos três ní-
veis de preço — baixo, médio (condição C) e alto — para ter AS IMPPLICAÇÕÕES PARRA OSS PRROFFISSSIOONAIIS DEE MARKETING
uma ideia do comportamento das vendas. Uma premissa básica do marketing moderno é a ideia
Passo 4. Analise a não linearidade sempre que que focar mais nas vantagens para o cliente que nos
possível. Além de fornecer o treinamento adequado, as atributos do produto pode aumentar as vendas. A
empresas podem criar sistemas de apoio que alertam os Apple percebeu que para as pessoas seria mais atraen-
gestores quando estiverem tomando decisões erradas te um MP3 player capaz de colocar “mil músicas em
por causa de sua tendência de raciocinar linearmente. seu bolso” que um dispositivo com “capacidade de
Em princípio, algoritmos e inteligência artificial armazenamento interno de 5 GB”.
poderiam identificar situações em que é provável que No entanto, nosso ambiente de negócios destaca o
esse viés ocorra, e depois oferecer informação para fato de que em muitas situações as empresas, na ver-
contra-atacá-lo. Obviamente, embora os avanços na dade, lucram ao promover atributos em vez de vanta-
IA permitam essa probabilidade em situações for- gens. Elas se aproveitam da tendência dos clientes de
mais, eles não podem interferir em nenhuma decisão assumir que a relação entre atributos e vantagens é li-
tomada off-line e em conversas. E criar um sistema near. Isso nem sempre é verdade.
desses consumiria tempo e dinheiro. Numerosos exemplos comprovam que mostrar
Uma técnica não muito sofisticada, mas extrema- ao cliente as vantagens reais revelaria onde eles es-
mente eficiente para combater o viés linear é a visuali- tariam gastando demais e provavelmente mudariam
zação de dados. Como mostramos neste artigo, sempre seu comportamento de compra: quantidade de pági-
que queremos que você entenda algum viés linear, ilus- nas impressas por segundo, pontos em programas de
tramos com relações não lineares. fidelidade, fator de proteção solar, para citar apenas

64 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


tos-vantagens é uma estratégia de marketing questio-
nável. Para as empresas é extremamente aético tirar
proveito da ignorância dos clientes (ver quadro “Salve
AS
MILHOR os clientes do viés linear”).
P A
HOR NOS ÚLTIMOS ANOS ecólogos, psicólogos e médicos co-
meçaram a incluir as relações não lineares rotineira-
mente em suas tomadas de decisão. Mas a não linea-
S
UTO ridade é tão prevalente no mundo dos negócios como
MIN OR S em qualquer outra área. Está na hora de também os
P ILHA
M profissionais da administração e de outras áreas tomar
DEZ
ciência das armadilhas do raciocínio linear num mun-
do não linear. Isso aumentará sua capacidade de fazer
escolhas sensatas — e ajudará as pessoas à sua volta a
tomar decisões corretas.
alguns. Os upgrades de largura de banda são outro
HBR Reprint R1705C–P Para pedidos, página 9
bom exemplo. Nossa pesquisa mostra que as conexões
da internet são tarifadas linearmente: os clientes pa- BART DE LANGHE é professor associado de marketing da
gam o mesmo para aumentos de velocidade num sis- Esade Business School, da Ramon Llull University, e
tema de baixa e de alta taxa de transferência. Mas a re- professor assistente de marketing da Leeds School of
lação entre velocidade de download e tempo de down- Business, da University of Colorado. STEFANO PUNTONI é professor
load não é linear. À medida que a velocidade de down- de marketing da Rotterdam School of Management, da
Erasmus University, Holanda. RICHARD LARRICK é professor da
load aumenta, o tempo diminui rapidamente no iní- Hanes Corporation Foundation, na The Fuqua School of
cio, e depois mais lentamente. Um aumento de cinco Business, da Duke University.

30
S RESPOSTAS DAS PERGUNTAS DA PÁG. 62
UTO
MIN A 1 A. A fórmula para calcular a área de um círculo é
PAR LOAD πr2. No cenário A você consumiria 1.017 centímetros
N
DOW GB quadrados de pizza. No cenário B, aproximadamente
DE 1 20 452 centímetros quadrados de pizza.

2 B. Muitas empresas se beneficiariam se usassem


uma estratégia de segmentação mais estreita para
seus clientes mais lucrativos do que para os menos
lucrativos. Por exemplo, agrupando os decis de 4 a 10
num único segmento, mas dividindo o primeiro decil
10 em dois segmentos.

3 A. A relação entre o número de produtos fabricados


por hora e a produção anual é linear, por isso passar de
100 para 120 produtos por hora aumenta a produção
anual duas vezes mais do que passar de 130 para 140.

0 25 50 75 100 4 A. A precisão estatística de uma estimativa


VELOCIDADE DE pS) aumenta rapidamente e depois diminui lentamente
DOWNLOAD (Mb com o tamanho da amostra. A vantagem de aumentar
amostras grandes geralmente é muito menor que a
vantagem de aumentar amostras pequenas.
megabits por segundo (Mbps) para 25 Mbps represen-
ta economia de tempo de 21 minutos por gigabyte, ao 5 A. O tempo é uma função linear do percurso da viagem,
passo que o aumento de 25 Mbps para 100 Mbps repre- por isso voar 20 mil milhas a mais significa passar mais
senta economia de somente quatro minutos. Quando tempo no ar do que voar 10 mil milhas a mais.
os clientes percebem as vantagens reais de aumentar
a velocidade para 100 Mbps, acabam preferindo uma 6 B. A relação entre o ranking na pesquisa orgânica e
conexão mais lenta e mais barata. a taxa de cliques não é linear. A diferença no tráfego do
É claro que explorar intencionalmente as percep- site é muito maior entre as primeiras posições, mas muito
ções equivocadas dos clientes nas relações atribu- menor mais adiante nos resultados pesquisa.

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 65 


66 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017
METAS AUDACIOSAS SÃO INCOMPREENDIDAS
— E MUITO MAL UTILIZADAS

O paradoxo
das stretch
goals

SIM B. SITKIN,
C. CHET MILLER
E KELLY E. SEE
FOTOGRAFIA DE DAN SAELINGER
MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 67 
O PARADOXO DAS STRETCH GOALS

QUANDO MARISSA MAYER FOI NOMEADA CEO DA YAHOO, EM JULHO DE 2012, A


MÍDIA NÃO SE CANSAVA DE FALAR SOBRE AS FRANCAS AVALIAÇÕES DOS PONTOS
FORTES E FRACOS DA EMPRESA EM DIFICULDADE — E OS AMBICIOSOS OBJETIVOS
PARA TENTAR COLOCAR O GIGANTE DA INTERNET DE VOLTA AOS TRILHOS.
Será que Marissa Mayer poderia salvar a Yahoo? Esta era a pergunta da New Yorker, do
Guardian e da Fortune. As receitas anuais da Yahoo haviam caído de US$ 7,2 bilhões
para US$ 4,9 bilhões nos quatro anos anteriores. Os funcionários se sentiam abatidos e
o clima era de desânimo. Basicamente, a Yahoo havia enfrentado diversas derrotas. A
resposta de Mayer à instabilidade foi proclamar com otimismo que sua meta era restituir
à Yahoo o seu lugar entre as quatro maiores — “trazer uma companhia icônica de volta
à grandeza”. Ela formulou o objetivo excepcionalmente difícil de atingir o crescimento
anual de dois dígitos em cinco anos, além de oito desafiadoras metas adicionais.

68 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


No segundo semestre de 2016, Mayer estava bem EM RESUMO Em outras palavras, não basta trabalhar mais, mas sim
distante de seis dos oito alvos — e dos dois dígitos de de forma diferente. Para chegar a rotações de portão de
crescimento. As receitas permaneciam no mesmo lu- até dez minutos, a Southwest precisou rever completa-
gar, US$ 4,9 bilhões, e a perda em 2015 fora de US$ 4,4 Apenas uma pequena mente as práticas de trabalho da equipe e reinterpretar
porcentagem de empresas
bilhões. Em julho, a Verizon concordou em assumir a que adotam ambiciosas o comportamento dos clientes. A companhia aérea, en-
empresa em dificuldade (embora o negócio não esti- stretch goals consegue tretanto, descobriu como alcançar o objetivo.
vesse concretizado até o fechamento desta edição). Is- alcançá-las. Nossa pesquisa sugere que, embora o uso das
so trouxe um brusco fim aos ousados planos de Mayer. stretch goals seja bem comum, o êxito com elas, não.
Que executivo não sonhou transformar uma orga- A QUESTÃO COMPLICADA Muitos executivos as usam em demasia. Nos últimos
nização e alcançar objetivos aparentemente impossí- As empresas que tentam e cinco anos, por exemplo, a Tesla não conseguiu cum-
falham geralmente já estão
veis somente pela força de vontade? Não falamos ape- em apuros. Por outro lado, prir mais de 20 das ambiciosas projeções do fundador
nas de metas desafiadoras. Mas de alvos de gestão im- aquelas com recursos de Elon Musk e falhou em metade delas por quase um
possíveis — metas que parecem inatingíveis, conside- sobra e registro recente de ano, de acordo com o Wall Street Journal. Portanto,
rando práticas, habilidades e conhecimentos atuais. alto desempenho que lhes talvez não seja uma surpresa que o mercado tenha re-
Na linguagem do mundo dos negócios, essas metas permitiriam se beneficiar agido com ceticismo quando Musk declarou, no início
desse esforço evitam as
são conhecidas como stretch goals, exatamente o que stretch goals porque o de 2016, que a Tesla produziria meio milhão de carros
Mayer planejava quando chegou à Yahoo. sucesso faz com que se em 2018 — dois anos antes do cronograma anunciado
Mayer não está sozinha. As stretch goals costumam esquivem dos riscos. — e que dobraria esse volume até 2020.
ser vistas como fontes verdadeiramente importantes Muitas organizações passaram por fracassos dig-
de motivação e realização individual e organizacional. nos de nota com stretch goals. Exemplos: o objetivo
A Google talvez tenha se tornado o rosto moderno das de 2005 da Walmart de obter 100% de sua energia de
stretch goals com sua unidade X e sua clara filosofia: “As fontes renováveis; o plano de 1991 da Blue Whale Mo-
strech goals podem atrair os melhores profissionais e ving Company de se expandir de uma cidade para cem
criar ambientes de trabalho mais estimulantes. Elas são em nove anos; a meta de 1993 da Ontario Hydro de au-
os fundamentos de notáveis realizações de longo pra- mentar a receita derivada de tecnologia desenvolvida
zo”. Muitas organizações — como 3M, Apple, Boeing, internamente de US$ 22 mil para US$ 22 milhões em
CSX, Fujifilm, Mead e Oticon — relatam com entusias- cinco anos; a divisão Opel da General Motors, com su-
mo resultados bem-sucedidos de metas ambiciosas. O as iniciativas ousadas. As consequências de estabele-
best-seller Feitas para Durar, de Jim Collins e Jerry Por- cer e não cumprir as stretch goals podem ser desastro-
ras, de 1990, inteiramente favorável às “metas grandes, sas. Os fracassos podem fomentar a sensação de medo
arriscadas e audaciosas”, está repleto de histórias desse e fragilidade dos funcionários, reduzir a motivação e,
tipo. Não admira que muitos executivos concluam que em última análise, prejudicar o desempenho.
as stretch goals sejam uma excelente maneira de ressus- Então, antes de lançar stretch goals de vendas, pro-
citar ou transformar uma estratégia de inovação. dução, qualidade ou qualquer outra área, reflita se
Mas não é o caso. Nossa pesquisa, que esboçamos suas grandes aspirações vão desencadear atitudes e
pela primeira vez em um artigo de 2011 de Michael ações positivas e não negativas. Ao enfrentar oportu-
Lawless e Andrew Carton, publicado na Academy of nidades ou ameaças radicalmente fora da caixa, não
Management Review, mostra que as stretch goals não são dá para simplesmente confiar na intuição. Você preci-
apenas mal compreendidas, mas também mal utilizada. sa de diretrizes claras para avaliar e lidar com os riscos.
As organizações que mais se beneficiam delas raramente Tem de saber quando as stretch goals fazem sentido ou
as empregam. E muitas empresas para as quais as stretch não e em que momento empregá-las em vez de definir
goals provavelmente não são uma boa estratégia as adotam objetivos mais viáveis.
na tentativa desesperada de ter avanços. Nenhuma das
duas abordagens tem muitas chances de êxito. Isso é o PREVENDO O RESULTADO DAS STRETCH GOALS
que chamamos de “paradoxo das stretch goals”. Dois fatores essenciais parecem determinar de forma
consistente o sucesso das stretch goals. Embora elas
O QUE SÃO STRETCH GOALS, AFINAL? pareçam simples, muitas vezes os gestores ignoram
As verdadeiras stretch goals diferem das desafiadoras ou não sabem como elas podem afetar a capacidade
metas comuns em dois aspectos importantes: da empresa.
Extrema dificuldade. Stretch goals envolvem ex- Desempenho recente. Sua organização está come-
pectativas radicais que vão além das atuais capacida- morando vitória ou se recuperando de uma perda? Se
des e desempenho. Considere o objetivo da Southwest a empresa acaba de ultrapassar um ponto de referência
Airlines de chegar à rotação de dez minutos nos por- importante do setor ou sua própria história recente, es-
tões dos aeroportos. Esse alvo era um drástico afasta- tá bem posicionada para enfrentar uma stretch goal. Por
mento do padrão de tempo do setor naquela época, quê? Ganhar afeta positivamente atitudes e comporta-
que era próximo a uma hora. mentos. Ao enfrentar uma tarefa extremamente desa-
Extrema novidade. É preciso encontrar novos ca- fiadora, os funcionários que tiveram sucesso são mais
minhos e abordagens para alcançar uma stretch goal. propensos a ver oportunidades, procurar e processar

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 69 


O PARADOXO DAS STRETCH GOALS

informações de forma sistemática, mostrar otimismo e possibilitaram à equipe de desenvolvimento do Prius


demonstrar flexibilidade estratégica. Organizações com realizar rapidamente dezenas de experimentos depois
resultados fracos, no entanto, não estão bem posiciona- que os executivos da empresa elevaram a meta do gru-
das. Os empregados são mais propensos a ver uma stre- po: aumentar a eficiência de combustível de 50% para
tch goal como ameaça, procurar soluções externas, de- 100%, com prazo de apenas um ano para desenvolver
monstrar medo ou ficar na defensiva e lançar iniciativas um conceito de automóvel. A equipe testou 80 tecno-
de forma caótica e, finalmente, autoderrotistas. logias híbridas antes de estreitar a lista para quatro e,
É possível ver com frequência os efeitos do desem- em seguida, fazer a escolha final.
penho recente nos esportes, em que torneios excepcio- Examinando o desempenho e os recursos atuais, os
nalmente difíceis são vistos sob uma luz completamen- executivos podem avaliar a viabilidade das stretch goals
te diferente quando atletas e equipes vão bem. No bei- para a organização. Desenvolvemos um modelo analí-
sebol, por exemplo, os jogadores que estão com o bas- tico para facilitar a tarefa. Ele divide qualquer empre-
tão têm mais probabilidade de enxergar oportunidades sa em quatro categorias distintas, com base na posição
se as últimas voltas levaram a batidas e não a strikeouts. em que se encontra em dois fatores (ver quadro “Stretch
O mesmo acontece no mundo corporativo. Por goals são a melhor opção para você?”.) Saber em qual
exemplo, quando a Nypro, empresa de moldagem por categoria a empresa se encaixa permite que os gestores
injeção plástica de classe mundial, desenvolvia moldes avaliem melhor o tamanho do passo que podem dar.
para fabricar as primeiras lentes de contato descartá-
veis do mundo em 1985, tinha uma perspectiva otimis-
ta. Embora seu cliente exigisse custos e níveis de pre- QUANDO AS STRETCH GOALS DEVEM SER EVITADAS:
cisão inéditos, a Nypro tinha acabado de lançar alguns QUANDO A ORGANIZAÇÃO ESTÁ ENFRAQUECIDA,
projetos desafiadores, como o desenvolvimento de um
processo revolucionário para a criação do Swiftach, um
MAS SEDENTA.
Infelizmente, as organizações em pior posição para ter
sistema de fixação de preço usado por quase todos os
sucesso com stretch goals (aquelas sem sucesso recen-
grandes varejistas. Assim, os funcionários tinham deter-
te nem amplos recursos) são, paradoxalmente, as mais
minação e a sensação de oportunidade, em vez da pre-
propensas a tentar a estratégia.
ocupação com um possível fracasso. Eles abordavam os
Como demonstram as pesquisas de Daniel
experimentos necessários e o processo de descoberta
Kahneman, Nobel de Ciências Econômicas em 2002, e
com intensidade sem precedentes, interagindo com o
de Amos Tversky, o fracasso coloca quem toma as de-
cliente em um nível notável para a década de 1980, con-
cisões em um estado emocional de risco. Ao escolher
seguindo atender às suas necessidades inéditas.
entre uma ação ousada e uma ação segura, as empre-
Muitas outras evidências dos esportes, dos negó-
sas com dificuldades, em geral, preferem o caminho
cios e do governo, bem como indícios sistemáticos na
agressivo, como mostram vários estudos sobre ferro-
psicologia e na ciência organizacional, sugerem que
vias, emissoras de rádio e tantos outros setores. Cha-
as empresas devem adotar ações ousadas e arriscadas
mamos essas organizações de “enfraquecidas, mas
quando estão fortes, não quando estão fracas. Isso po-
sedentas”. Com históricos desanimadores e restrições
de soar intuitivo, mas nossa pesquisa indica que não é
de recursos, elas não demonstram capacidade, resili-
óbvio para a maioria das organizações.
ência e impulso para tentar alcançar as stretch goals.
Amplos recursos. O segundo fator e ainda mais
A montadora europeia Opel é um claro exemplo.
importante é a disponibilidade de recursos da organi-
Seu fraco desempenho financeiro desde a virada do
zação. Se a oferta de dinheiro, experiência e conheci-
milênio levou um analista a dizer: “A nuvem mais es-
mento, pessoal, equipamentos e assim por diante ul-
cura no horizonte da GM é a Opel, a que mais contri-
trapassa as necessidades da empresa, o excedente po-
buiu para os US$ 14,7 bilhões de prejuízos operacio-
de ser usado de forma opcional. Isso pode ajudá-la a
nais europeus desde 1999 da GM”. Só em 2001, a Opel
buscar ideias, testá-las e permanecer comprometida
perdeu mais de US$ 500 milhões. A empresa enfrenta-
em face dos contratempos. Empresas com recursos
va a falta de inspiração para o design de carros e pro-
estão mais bem posicionadas para absorver fracassos
blemas de confiabilidade do produto, além do merca-
envolvidos no processo de testar diversas ideias — não
do altamente competitivo. Enquanto isso, as perdas da
apenas porque têm fundos para avançar, mas também
Opel se amontoavam, semeando dúvida e hesitação
porque têm reservas emocionais que aumentam a re-
entre os funcionários, sem contar a pouca margem de
siliência. Por outro lado, em organizações com pouco
erro ditada pelos limitados recursos. Mesmo assim,
dinheiro, os gestores têm maior dificuldade para con-
naquele ano a empresa decidiu, de forma previsível,
duzir e sustentar experimentos e, assim, podem saltar
adotar uma stretch goal — um retorno ao equilíbrio fi-
para abordagens precipitadas, que raramente levam
nanceiro em apenas dois anos. Apesar de alguns avan-
ao sucesso ou colaboram com o aprendizado.
ços, a Opel nem sequer chegou perto de atingir o ob-
Recursos extras permitem que as organizações ten-
jetivo, e o fracasso apenas serviu para afundar o âni-
tem várias abordagens, como iniciativas paralelas em
mo. Para aqueles com arraigado orgulho da tradição
diferentes grupos e unidades. Na Toyota, os recursos

70 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


STRETCH GOALS SÃO A MELHOR OPÇÃO PARA VOCÊ?
Como você descreveria o desempenho recente de sua organização?
DIAGNÓSTICO: Próspera, mas complacente.
SIM ESTRATÉGIA: Você é o candidato perfeito para stretch goals.
Você tem
PRÓSPERO recursos não
comprometidos
DIAGNÓSTICO: Confiante, mas limitada.
ESTRATÉGIA: Devido aos seus recursos limitados, é
disponíveis?
NÃO improvável que as stretch goals funcionem para você.
Busque uma estratégia de sucesso progressiva ou tente
alcançar “pequenas vitórias”.

DIAGNÓSTICO: Desanimada, mas capaz.


ESTRATÉGIA: Deixe as stretch goals de lado e aprenda com
SIM as “pequenas perdas”: execute experimentos modestos,
pouco arriscados. Embora a maioria possa falhar, você vai
Você tem aprender com eles. E os poucos bem-sucedidos vão ajudar
INSATISFATÓRIO recursos não
comprometidos
a estabelecer as bases para o sucesso futuro.
disponíveis?
NÃO DIAGNÓSTICO: Enfraquecida, mas sedenta.
ESTRATÉGIA: Resista ao desejo de decretar falência.
Tente alcançar “pequenas vitórias” até que se recupere.

da Opel, que remonta aos anos 1800, foi um período de futebol universitário de todos os tempos: “É condi-
muito difícil. O desempenho da empresa continuou a ção humana ficar satisfeito com o sucesso. Há diversos
hesitar por tanto tempo que a GM chegou a conside- livros sobre como ser bem-sucedido. Mas não há mui-
rar a venda da divisão, que não deu lucro por 14 anos. tos sobre como manter o sucesso”.
Quando tentam stretch goals como uma maneira de A complacência tem levado muitas empresas a tro-
superar o fracasso recente (a falência), ignorando suas peçar e até mesmo a falir, principalmente em face de tec-
restrições de recursos, as organizações estão pedindo nologias e modelos de negócio disruptivos. Blockbus-
problemas. Elas devem resistir à tentação de “ir longe ter, Digital Equipment, Kodak, Smith Corona, Wang e
demais”, porque seus esforços remendados provavel- Woolworth estão entre muitas anteriormente bem po-
mente estão condenados. sicionadas para dar saltos que descansaram nos louros,
mesmo diante de grandes desafios dos novos concorrentes.
Em raras ocasiões, no entanto, organizações bem-su-
EM QUE MOMENTO TENTAR AS STRETCH GOALS: cedidas e com recursos reconhecem a necessidade de
QUANDO A ORGANIZAÇÃO É PRÓSPERA, explorar grandes mudanças estabelecendo stretch goals.
A DaVita, provedora mundial de tratamento renal, é um
MAS COMPLACENTE bom exemplo. Em 2011, estava em boa posição, com ca-
Nosso modelo sugere claramente que empresas com
pital de giro e crescentes receitas e lucros. Foi conside-
forte desempenho recente e amplos recursos estão na
rada uma das empresas mais admiradas do mundo pe-
melhor posição para se beneficiar de stretch goals. No
la Fortune durante vários anos consecutivos. Mas 90%
entanto, cabe a pergunta: se as coisas estão indo mui-
de seus pacientes estavam em programas do governo
to bem, por que empreender ações ou mudanças ou-
que não cobriam inteiramente o custo dos cuidados,
sadas? Por que não ficar com o que está dando certo?
por isso a DaVita decidiu melhorar radicalmente a efi-
Por outro lado, muitas empresas com amplos recursos
ciência dos processos. A empresa criou uma nova uni-
tendem a se tornar conservadoras porque querem pre-
dade, a Pioneer Team, e cobrou por isso, gerando inima-
servar os ganhos. Ao favorecer a inércia e o contenta-
gináveis US$ 60 milhões a US$ 80 milhões em poupança
mento, o excesso de tempo e dinheiro pode minar a
em quatro anos, o que trouxe simultaneamente conse-
capacidade da organização de reagir a oportunidades
quências positivas para os pacientes e satisfação para os
arriscadas, mas de alto potencial. Como aponta em
funcionários. De acordo com a líder da equipe, Rebecca
entrevista à Associated Press o treinador do Alabama
Griggs, “não tínhamos ideia de como conseguir tanto
Nick Saban, um dos mais bem-sucedidos treinadores
em tão pouco tempo. Não sabíamos se seria possível”.

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 71 


O PARADOXO DAS STRETCH GOALS

Mas já em 2015 a poupança da equipe havia atingido US$ Busque pequenas vitórias. Quando Charlotte Beers
60 milhões e pretendia chegar a US$ 75 milhões no ano assumiu o cargo de CEO da Ogilvy & Mather, em 1992, a
seguinte. Mais importante ainda, as taxas de hospitaliza- lendária empresa havia caído de sua posição de lideran-
ção melhoraram significativamente. ça no mundo da publicidade. Com a confiança dentro da
Vários fatores explicam os excelentes resultados da empresa abalada e discordâncias sobre como proceder,
DaVita: com um histórico de sucesso recente, dinheiro ela decidiu se concentrar inicialmente em objetivos sim-
suficiente e força de trabalho confiante e orgulhosa, a or- ples nas áreas de segurança do cliente, melhores práti-
ganização tinha recursos culturais e financeiros para li- cas de trabalho diário e disciplina financeira. “Devemos
dar com eventuais contratempos. A equipe da Pioneer focar nos ativos que já temos”, declarou Beers, concen-
poderia ter acesso irrestrito a diversas unidades opera- trando-se em inúmeras melhorias. Ela então aprovei-
cionais (como clínicas) para testar novas ideias porque tou o sucesso com esses objetivos modestos para trazer
esses lugares tinham capacidade para absorver falhas a empresa à sua antiga glória. Em seus cinco anos como
dos experimentos. Consequentemente, a equipe pode- executiva principal, ela ajudou a Ogilvy a recuperar as
ria colocar os funcionários da linha de frente lado a lado contas e aumentar o faturamento em US$ 2 bilhões.
com engenheiros, especialistas do Seis Sigma e gestores

ORGANIZAÇÕES COM A SORTE


de projeto e, assim, desenhar cada solução de forma co-
letiva. Os riscos envolvidos com as stretch goals eram ate-
nuados pelas habilidades e pelo dinamismo da DaVita.
Tentar alcançar ao máximo os resultados das stretch
goals pode realmente ser a melhor maneira de ficar no DE ESTAR NA ONDA DO SUCESSO
E COM MUITO DINHEIRO DEVEM
topo — mas apenas se o comodismo do sucesso for
superado. Uma boa tática é enquadrar a situação em
termos de perdas potenciais, enfatizando o que pode
acontecer se a organização parar enquanto outras em-
presas estão em movimento. Isso funciona porque as TENTAR ALVOS ARRISCADOS,
perdas costumam ser muito mais intensamente senti-
das que os ganhos. Falar sobre impactos potenciais na MAS A GRANDE MAIORIA
DAS EMPRESAS NÃO DEVE
quota de mercado, no número de vagas de emprego
e nos bônus tende a provocar mais impacto que en-
fatizar possíveis avanços na qualidade do produto,
nas vendas e na vantagem competitiva, como sugere a
pesquisa de Kahneman e Tversky.
Kenneth Frazier, CEO da Merck, demonstrou com-
SE AVENTURAR TANTO.
preender isso quando passou a estimular seus executi-
vos a trazer inovações radicais contra os concorrentes. Tenha em mente que, embora sejam muito úteis,
Ele pediu que imaginassem que eram rivais da Merck as pequenas vitórias não são um caminho automático
e fizessem um brainstorm sobre o que fariam para su- para uma stretch goal predeterminada. Pela sua pró-
perá-la. O exercício os ajudou a focar no que tinham a pria natureza, uma stretch goal requer novas aborda-
perder. Então Frazier pediu que voltassem a vestir a gens. O caminho é incerto, por isso as organizações
camisa da empresa e abordassem os desafios. Funcio- não conseguem mapear uma série de marcos simples
nou: o comodismo se dissipou e os gestores abraçaram e intermediários. Segundo Karl Weick, psicólogo fa-
ansiosamente as novas metas. moso por suas ideias sobre comportamento organiza-
cional, “pequenas vitórias não se acumulam de forma
ALTERNATIVAS ÀS STRETCH GOALS direta, linear e em série, em que cada passo é uma de-
E se a organização não for nivelada e bem-sucedida monstração de que o objetivo predeterminado está ca-
nem hesitante e sem dinheiro? Isso significa que ela se da vez mais próximo”. Regra básica: não superestime
enquadra em uma das duas outras categorias de nos- sua capacidade de planejamento nem espere uma es-
so modelo: confiante, mas limitada (com sucesso re- tratégia de sucesso que cause impacto imediato. Pe-
cente, mas com poucos recursos) ou desanimada, mas quenas vitórias estão relacionadas com investimen-
capaz (recentemente malsucedida, mas com dinhei- to na dinâmica, habilidades, recursos e promoção do
ro). As stretch goals estão completamente fora de cogi- aprendizado que permita à empresa assumir metas
tação para essas organizações? Não necessariamente. maiores e mais ambiciosas posteriormente.
Nossa orientação (bem como para as organizações Crie mais recursos de forma consciente. As es-
na categoria enfraquecida, mas sedenta) é dar peque- tratégias incluem transformar unidades ineficientes
nos passos em vez de grandes e audaciosos saltos. que consomem muitos recursos e buscar uma possí-
Nossa pesquisa sugere três abordagens que podem vel fusão ou aliança com um parceiro mais abastado.
ajudar as empresas a estabelecer as bases para o uso Capital ou dívida flutuante pode sair caro, mas a viabi-
eficaz das stretch goals a longo prazo. lidade deve ser examinada.

72 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


Também é importante se concentrar na aprendi- COMO SUGERIMOS NESTE ARTIGO, nenhuma solução é
zagem que promova o aumento dos recursos. Os ob- ideal para todas as organizações. Para identificar a
jetivos da aprendizagem visam à geração de conheci- melhor estratégia para a sua, identificar a ocasião em
mentos e habilidades, e não atualizações de desempe- que as stretch goals são viáveis. Eles são eficazes ape-
nho de curto prazo, por isso são sentidos como menos nas em certas circunstâncias. Empresas com a sorte de
ameaçadores. Essas metas, no entanto, podem ajudar estar na onda do sucesso e com muito dinheiro devem
a aproveitar habilidades e conhecimentos inexplora- ter coragem para tentar atingir metas arriscadas e am-
dos que, por sua vez, levam ao melhor desempenho. biciosas que beneficiem seus negócios e o mundo, em
A Coca-Cola oferece um bom exemplo de como pe- vez de recomprar ações ou oferecer generosos bônus
quenas etapas ajudam a tirar o melhor proveito possí- para executivos. A grande maioria das empresas, no
vel das stretch goals. Dan Vermeer, ex-diretor da Glo- entanto, não deve se arriscar tanto.
bal Water Initiative, da Coca-Cola, aponta o objetivo Então, por que tantas ainda tentam manobras de
de 2007 de compensar 100% do uso de água através do alto risco? É possível que os relatos de sucesso comer-
tratamento de águas residuais e parcerias comunitárias cial amplamente difundidos tenham negligenciado de-
dentro de 13 anos. “Isso nunca havia sido feito antes na talhes importantes sobre as organizações envolvidas.
empresa, e não tínhamos ideia se seria possível”, recor- A IBM na década de 1960, a GE na década de 1980, a
da Vermeer. Assim, foi uma agradável surpresa quando Toyota na década de 1990 e a Apple na década de 2000
a Coca-Cola atingiu 115% da meta em 2015, cinco anos tinham as qualidades necessárias para tentar alcançar
antes. Como a empresa atingiu — e superou — sua me- stretch goals de forma eficaz: muitos recursos e forte
ta tão rápido? Inicialmente, o esforço foi impulsiona- desempenho. Suas estratégias não podem necessaria-
do por uma crise relacionada com a água na região de mente ser aplicadas a empresas em posição vulnerável.
Kerala, na Índia, onde a fábrica de engarrafamento da Mesmo nos melhores cenários, você precisa ter
empresa estava sob ataque. Porém, em vez de anun- em vista o verdadeiro nível de dificuldade para al-
ciar imediatamente uma estratégia de relações públi- cançar as stretch goals. Considere a companhia britâ-
cas para tentar superar o tropeço, a Coca-Cola passou nica de bebidas alcoólicas Diageo, que em 2008
três anos investindo em recursos e infraestrutura, além formulou ambiciosas metas ambientais, como a redu-
de tomar algumas medidas por tentativa e erro. Somen- ção de 50% do carbono global até 2015, porque seus
te quando teve uma sequência de êxitos, a empresa lan- executivos “queriam fazer algo grande”. Eles foram
çou suas stretch goals, e foi mais que recompensada. criticados quando ficaram aquém em sete de oito
Admita pequenas perdas. Se a empresa tiver re- objetivos principais. No entanto, a redução de 33%
cursos amplos, mas não tiver sido bem-sucedida em das emissões de carbono e de 45% nas águas resi-
tempos recentes — e cair na categoria “desanimada, duais foram marcos significativos a celebrar. Segun-
mas capaz” —, é possível recuar, acumular dinheiro e do o diretor de sustentabilidade global David Croft, is-
esperar que os maus momentos passem ou então as- so teria sido improvável se a empresa tivesse “esta-
sumir riscos indevidos para provar algo para si mes- belecido metas facilmente alcançáveis”. É comum
ma. Nenhuma das alternativas é o caminho certo. esquecer que as stretch goals são, por definição, extre-
Em vez disso, use seus recursos para experimen- mamente difíceis.
tar novas maneiras de operar que transformem essas Vamos ser claros. Apoiamos a busca de stretch
perdas recentes em avanços. Esta abordagem tem si- goals, mas somente quando são apropriadas. Não es-
do nomeada (em trabalhos anteriores do coautor Sim tamos defendendo estagnação ou aversão ao risco;
Sitkin) como a “estratégia de pequenas perdas”. Ela pelo contrário, entendemos que o próximo Canal do
implica executar experimentos rápidos, modestos, li- Panamá, pouso na Lua e iPhone não serão possíveis
geiramente arriscados, mas educativos, prevendo que sem ambições ousadas. Mas tentar chegar a esses re-
muitos serão malsucedidos. Mas a ideia é que um ou sultados não deve ser uma aposta imprudente de lote-
dois que deem certo semearão ganhos de longo prazo. ria. Escolhas estratégicas e esclarecidas são, de longe,
A estratégia de pequenas perdas não é meramente o melhor a fazer.
uma cultura de experimentação. Trata-se de executar Mire na grandeza. Mas a grandeza nem sempre
projetos arriscados para os quais existe uma forte pos- vem de grandes saltos. Às vezes, vem de pequenos e
sibilidade de fracasso. O valor desta abordagem é du- persistentes passos.
plo: primeiro, o que está sendo testado será diferente HBR Reprint R1705D–P Para pedidos, página 9
do que já é bem conhecido, mas suficientemente pró-
ximo para que você possa facilmente aprender com o SIM B. SITKIN é professor da cátedra Michael W. Krzyzewski
que não deu certo, corrigir e tentar novamente. Segun- e diretor do corpo docente do Center on Leadership
do, promove a resiliência e a confiança; as organiza- and Ethics da Fuqua School of Business, da Duke University,
e editor da revista Behavioral Science & Policy. C. CHET MILLER é
ções podem ver que são capazes de sobreviver a pe- professor da cátedra C. T. Bauer de estudos organizacionais
quenas falhas e sair-se vencedoras, mesmo depois de do Bauer College of Business, da University of Houston. KELLY E.
alguns tropeços. Permitir-se perdas também diminui SEE é professora assistente de administração da University of
naturalmente o ímpeto de arriscar-se demais. Colorado Denver Business School.

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 73 


diNnâNmiNca
(substantivo feminino)

1 Do grego DYNAMIKÓS. Movimento


que reúne todas as forças ou potencial interno,
causadoras do incentivo, estímulo,
ou evolução de alguma coisa, pessoa,
empresa ou sociedade.
RECUPERE
O TEMPO
GASTO NO
TRAJETO
PARA O
TRABALHO
IR E VOLTAR NÃO
PRECISA SER
UM MARTÍRIO.
FRANCESCA GINO,
BRADLEY STAATS, JON
JACHIMOWICZ, JULIA LEE
E JOCHEN MENGES

ILUSTRAÇÃO DE GABRIEL SILVEIRA

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 75 


GESTÃO PESSOAL

diárias eram relevantes. Outros estudos


mostraram que pessoas que demoram mui-
to para chegar até o local de trabalho ficam
mais exaustas e menos produtivas, sem
contar sua menor satisfação profissional. E
uma pesquisa realizada na Suécia em 2011
demonstrou que os casais têm 40% mais
probabilidade de se divorciar se um dos
cônjuges passa pelo menos 45 minutos a ca-
minho do trabalho diariamente.
Contudo, não é preciso ser assim. Algumas
pesquisas, incluindo a nossa, indicam que
pequenos ajustes podem melhorar a experi-
ência no trajeto para o trabalho, deixando a
pessoa mais feliz e produtiva. A seguir, cinco
estratégias que você pode experimentar.

Todos os dias, milhões de pessoas em todo o USE ESTE TEMPO PARA


mundo enfrentam longos trajetos para ir tra- MUDAR SUA MENTALIDADE
balhar. Somente nos Estados Unidos, apro- O tempo gasto até o trabalho é uma oportu-
ximadamente 25 milhões de pessoas gastam nidade para sair do âmbito pessoal e entrar
mais de 90 minutos por dia para ir e voltar, e no profissional. Em casa, de manhã, você
cerca de 600 mil pessoas gastam esse mes- pode estar no papel do pai ou da mãe, do
mo tempo num só percurso, ida ou volta, de parceiro ou cuidador. Ao chegar ao escritó-
acordo com a agência de estatística america- rio, você assume seu lado profissional. De
na, o U. S. Census Bureau. No Reino Unido, noite, pode voltar para o pessoal, mesmo
o tempo médio gasto é de 54 minutos (em que ainda precise mudar uma vez mais para
relação aos 45 minutos registrados em 2003), o profissional para concluir algum trabalho
e nas principais metrópoles do mundo, de antes de ir para a cama. Cada uma dessas al-
Milão a Manila, é superior a uma hora. terações requer mudança de mentalidade.
No entanto, poucas pessoas aproveitam Se não pararmos para fazer isso, os pensa-
esse tempo. Quando a Ford conduziu uma mentos e as preocupações que se originam
pesquisa com 5.500 pessoas em seis cidades desses papéis podem se transferir para o
europeias, muitas colocaram o trajeto para próximo e nos deprimir.
o emprego como mais estressante do que Uma maneira de suavizar essa mudan-
o próprio trabalho, ou mudança de casa, ça de mentalidade é ter alguns rituais. Em
ou ida ao dentista. Em uma pesquisa de um estudo ainda não publicado sobre pes-
2006 conduzida por Daniel Kahneman, soas que regularmente percorrem traje-
Nobel de Economia, e seus colegas com tos longos para trabalhar, um membro de
909 mulheres que trabalhavam no Texas, nossa equipe (Francesca) e Hal Hershfield,
elas afirmaram que a jornada matinal entre da UCLA, constataram que as pessoas que
casa e trabalho era, em média, a atividade mantinham pequenas rotinas durante o ca-
menos prazerosa do dia; a volta para casa minho para o trabalho — checar as notícias
era a terceira (o próprio trabalho ficou em no trem ou conferir os compromissos —
segundo lugar). sentiam-se mais estimuladas para enfrentar
A aversão ao trajeto para o trabalho im- o dia, mais satisfeitas com seu emprego e
põe sérias dificuldades para o bem-estar. menos estressadas do que aquelas que não
Um estudo realizado pelo governo britâni- estabeleciam nenhuma rotina. Isso não é
co em 2014 descobriu que os empregados surpresa, uma vez que já se sabe que rituais
que percorriam trajetória mais longa para produzem benefícios de todos os tipos —
ir trabalhar sentiam-se mais ansiosos e me- até mesmo para pessoas que não acreditam
nos satisfeitos com a vida do que os que em seus valores ou efeitos. Eles reduzem
gastavam menos tempo. Eles estavam me- nossa ansiedade antes de nos empenhar-
nos propensos a achar que suas atividades mos em atividades importantes, aumentam

76 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


nosso prazer no que estamos fazendo e até
nos auxiliam a nos recuperar mais rápido
QUEM PLANEJA MAIS na capacidade de autocontrole tendiam a
usar seu tempo com um planejamento pro-
quando enfrentamos fracassos ou perdas. LIDA MELHOR COM AS dutivo — o que chamamos de prospecção

VIAGENS LONGAS PARA


Por isso, cogite a possibilidade de estabele- ligada ao trabalho. “Penso no que vou fazer
cer suas próprias rotinas no caminho para o ao chegar ao escritório”, disse um partici-
trabalho. A caminho do trabalho, tome ca-
fé na mesma lanchonete todos os dias, por O TRABALHO. pante. “Procuro planejar o que farei durante
o dia.”
exemplo. Para conseguir um resultado ain- A última etapa era investigar se todos —
da mais expressivo, tente transformar em não apenas os mais disciplinados — pode-
ritual uma ou mais das seguintes técnicas percurso para o trabalho diariamente, me- riam se beneficiar desse mesmo exercício.
de aprimoramento do seu tempo no percur- nos satisfeitas e mais propensas a pedir de- Recrutamos 443 trabalhadores em tempo
so de ida recomendadas a seguir. missão ficavam. Porém havia algumas exce- integral dos Estados Unidos que gastavam
ções, o que nos fez pensar se esses indiví- ao menos 15 minutos a caminho do traba-
duos não tinham determinadas característi- lho para participar de um estudo de quatro
PREPARE-SE PARA SER PRODUTIVO cas psicológicas que os ajudavam a evitar os semanas. Nas duas semanas iniciais, eles
Quando você usa ao menos parte do tempo resultados negativos sentidos pelos colegas. receberam instruções diárias que nos per-
da viagem planejando o seu dia ou semana, Encontramos uma: autocontrole, ou a ca- mitiam medir quanta prospecção ligada ao
você chega ao trabalho mais bem prepara- pacidade de resistir a tentações que podem trabalho eles fizeram durante suas viagens
do e, consequentemente, mais feliz, mais minar os esforços na busca por objetivos de matutinas. Como anteriormente, vimos que
animado e mais produtivo. Isso é o que pu- longo prazo (como checar o Facebook em aqueles que planejavam melhor estavam
demos concluir de uma série de pesquisas vez de trabalhar ou comer a maçã e não o mais aptos a suportar jornadas mais longas.
com trabalhadores nos EUA e Inglaterra. bolo trazido pelo colega). Nas duas semanas seguintes, conferimos
A primeira foi um estudo de campo com Para explorar essa conexão, analisamos aleatoriamente uma das quatro atribuições
225 empregados dos escritórios da Digitas- 229 empregados de várias organizações pa- aos mesmos participantes. Em uma mensa-
LBI, agência de tecnologia e marketing glo- ra saber o que eles normalmente faziam du- gem diária enviada 15 minutos antes de saí-
bal do Reino Unido. Como esperávamos, rante o trajeto para o trabalho. Descobrimos rem para o trabalho, pedimos a alguns deles
quanto mais tempo as pessoas gastavam no que os que atingiram pontuação mais alta que se envolvessem em prospecções ligadas

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 77 


GESTÃO PESSOAL RECUPERE O TEMPO GASTO NO TRAJETO PARA O TRABALHO

ao trabalho enquanto se dirigiam ao local


de trabalho; a outros que se dedicassem a
pensamentos e atividades relaxantes; a ou-
tro grupo, que fizesse as duas coisas; um
quarto dos participantes recebeu uma men-
sagem sem nenhuma instrução específica.
Descobrimos que somente os trabalhado-
res do primeiro grupo — os que receberam
instruções para se envolver somente em
um planejamento produtivo — relataram
sentir-se mais satisfeitos com seu traba-
lho agora do que antes da intervenção.
Essa constatação ocorreu independente-
mente da propensão natural dos participan-
tes ao autocontrole, como medimos no iní-
cio do estudo.
Portanto, essa é uma estratégia simples e
direta disponível a qualquer um. Apenas se
pergunte: quais passos posso seguir hoje e
durante esta semana para atingir meus ob-
jetivos profissionais? Como posso ser mais
produtivo?

ENCONTRE SUA “ZONA DE LIBERDADE”


Parado no tráfego, esperando um ônibus
atrasado ou em pé em um vagão de metrô
lotado, você pode achar que tem pouco con-
trole sobre o tempo gasto para ir ou voltar
do trabalho. Porém você pode diminuir esta
frustração se concentrando naquilo que é
possível controlar — o modo como você usa
o tempo durante a jornada. Já falamos sobre
rituais e planejamentos, mas pense também
em atividades que você aprecia, como ouvir
música, ouvir seus podcasts ou ler. Tomamos
emprestado o termo “zona de liberdade”
de Adela, a tia-avó de um membro da nossa
equipe (Jon) que passou os primeiros anos
de vida adulta em vários guetos poloneses
durante a ocupação nazista. Todas as noites,
independentemente de estar faminta, cansa- Esse conselho é amparado por uma pes- diária e concentre-se na oportunidade de se
da ou aterrorizada, ela dedicava uma hora de quisa que aponta a correlação entre altos expressar e recarregar as baterias.
atividade com sua sobrinha — uma prática níveis de autonomia, grande bem-estar,
que, como ela pôde notar posteriormente, a satisfação e produtividade e graus mais
ajudou a perseverar. Embora o que esteja em baixos de estresse. John Trougakos, da COMPARTILHE ESTE ESPÍRITO
jogo em uma viagem ao trabalho seja mui- Rotman School of Management, e seus Até o momento, exploramos como você
to mais insignificante, é possível transfor- colegas observaram, por exemplo, que pode aproveitar melhor o tempo gasto na
mar esse momento em algo mais suportável empregados que podiam decidir on- ida para o trabalho ou na volta dedican-
ao pensar nele como uma oportunidade de de, quando e como passariam sua hora do-se a atividades individuais. No entanto,
ir atrás dos próprios sonhos. Além da leitu- de almoço se sentiam mais revigorados umas das desvantagens de uma longa via-
ra passiva de notícias, use esse tempo para do que aqueles que não tinham a mesma gem como essa é que ela pode ser solitária.
aprender uma nova língua ouvindo grava- oportunidade. Na verdade, quando o cientista político de
ções ou, se suas mãos estiverem livres, prati- Desse modo, tente parar de prestar aten- Harvard Robert Putnam estudou o assun-
car um hobby, como desenho ou tricô. ção aos pontos negativos dessa jornada to, constatou que para cada dez minutos a

78 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


mais que uma pessoa passa fazendo essa
trajetória, ela tem 10% menos interações so-
AS PESSOAS QUE CONVERSARAM TIVERAM
ciais, o que leva ao isolamento e à infelici- TIVERAM EXPERIÊNCIA MAIS POSITIVA E
NÃO SE SENTIRAM MENOS PRODUTIVAS
dade. Recomendamos usar a ida ou a volta
para interagir com os outros.
A maior parte dos estudos acerca dos be-
nefícios das relações sociais concentra-se nos
relacionamentos com amigos íntimos ou fa- continua estressado, infeliz e pouco produ- mais comum. Em 2015, 24% dos trabalha-
miliares. Porém, de acordo com o cientista tivo, você tem outra opção: diminuí-lo. dores dos EUA realizaram parte (ou todo)
comportamental Nicholas Epley, da Universi- O primeiro passo prático é a escolha de de seu trabalho de casa, de acordo com a
ty of Chicago, e Juliana Schroeder, da Univer- onde você mora e trabalha. A maior par- agência de estatísticas americana US Cen-
sity of California em Berkeley, conversar com te das pessoas supervaloriza as vantagens sus; e uma pesquisa da Global Workplace
desconhecidos pode melhorar o bem-es- de percorrer distâncias maiores — um em- Analytics sugere que teletrabalhos regula-
tar daqueles que se deslocam diariamen- prego com um salário melhor, por exem- res mais do que dobraram na última déca-
te para trabalhar. Epley e Schroeder foram a plo, ou uma casa maior em um bairro mais da. Pesquisas comprovam ainda que quem
uma estação de trem, reuniram mais de 200 agradável — e desvaloriza as desvantagens. pode escolher trabalhar de casa alguns dias
pessoas e aleatoriamente as dividiram em Chamamos tal atitude de “tendência do via- da semana são pessoas mais produtivas e
três grupos. Algumas foram instruídas a se jante”. Para testá-la, conduzimos um estu- felizes do que aquelas sem essa chance. Em
relacionar com outro passageiro; outras a se do, ainda não publicado, no qual pedimos um estudo de campo realizado na agência
manter caladas; e as demais a se comportar a mais de 500 trabalhadores em tempo in- de viagens chinesa Ctrip, Nick Bloom, eco-
como de costume. Embora os participantes tegral dos Estados Unidos, de uma grande nomista de Stanford, e seus colegas desco-
tivessem previsto que a viagem seria mais variedade de indústrias, que escolhessem briram que empregados aleatoriamente ins-
prazerosa se eles se sentassem sozinhos, a um dos seguintes cenários: emprego 1: salá- truídos a trabalhar de casa tiveram produti-
pesquisa mostrou que o contrário era ver- rio de US$ 67 mil por ano e deslocamento de vidade 13% maior que a de seus colegas no
dadeiro: a experiência dos que mantiveram 50 minutos até o local de trabalho; emprego escritório, e comentaram estar mais satisfei-
uma conversa foi mais positiva, e eles não 2: salário de US$ 64 mil e deslocamento de tos com o trabalho: 50% deles declararam
se sentiram menos produtivos. 20 minutos. Todo o resto seria idêntico: o estar menos inclinados a deixar a empresa.
Uma pesquisa feita pela New Cities bairro onde morariam, as oportunidades de Por isso, se seu empregador permite jorna-
Foundation demonstrou que mesmo apli- progresso na carreira e o grau de apreciação das flexíveis e você acredita que seu chefe e
cativos comunitários, como o Waze, podem do cargo. Um total de 84% dos participantes colegas estariam abertos à possiblidade do
provocar esse efeito e reduzir o estresse dos escolheu o emprego 1, demonstrando assim teletrabalho, experimente uma vez por se-
motoristas em relação ao transporte. a predisposição de se privar de uma hora di- mana ou alguns dias por mês.
Assim, pense sobre como você pode ser ária, de segunda a sexta-feira, para ir traba-
mais sociável durante sua trajetória. Se você lhar — 250 horas por ano — em troca de ape- EM GERAL AS PESSOAS que fazem longos
usa transporte público, esqueça os fones de nas US$ 3 mil a mais. Isso representa US$ 12 deslocamentos sentem-se vítimas indefesas
ouvido e desconsidere a velada regra contra por cada hora gasta com o trajeto, menos que resistem a um mal necessário. E como
o bate-papo. Se dirige, coloque o telefone da metade de seus vencimentos por hora resultado, chegam e voltam do trabalho
no viva-voz e ligue para um amigo, ofere- trabalhada! Verificamos se os participantes exauridas, o que acarreta queda de desem-
ça carona a um vizinho que trabalha perto haviam notado isso, e eles tinham. Suas res- penho e bem-estar. Mas é possível melhorar
de você, ou use um desses aplicativos que postas refletem tão somente a incapacidade o tempo gasto na ida para o trabalho e na
ajudam a conseguir uma carona eventual. de avaliar os danos psicológicos, emocio- volta transformando o trajeto em uma ex-
Se você mora em uma cidade que tem Uber, nais e físicos de longos deslocamentos. periência mais positiva e, quando possível,
escolha o UberPool (que o conectará com Se você está pensando em mudar de em- mais curta.
pessoas desconhecidas) em vez do UberX prego ou de moradia, nós o encorajamos a HBR Reprint R1705E–P Para pedidos, página 9
(que o levará sozinho). E se você usa um lutar contra essa tendência. Avalie com cui-
transporte oferecido pela empresa, como é dado as desvantagens de percorrer longos FRANCESCA GINO é professora da Harvard Busi-
ness School e autora de À risca! Por que suas
o caso dos que trabalham em empresas de trajetos antes de se comprometer com essa
decisões saem da rota e como seguir seus planos
tecnologia no Vale do Silício, converse com rotina. (Da Boa Prosa: 2014) e de How we can stick to the
a pessoa sentada ao seu lado. Uma maneira de diminuir o tempo gas- plan (Harvard Business Review Press, 2013). BRADLEY
to com deslocamentos sem precisar trocar STAATS é professor da Kenan-Flagler Business Scho-
de emprego ou se mudar é trabalhar, oca- ol, da University of North Carolina. JON JACHIMOWICZ
DIMINUA O TEMPO GASTO sionalmente, de casa ou de local próximo
é doutorando da Columbia Business School. JULIA
LEE é aluna de pós-doutorado da The Ross School
PARA IR E VIR DO TRABALHO de casa, como escritórios compartilhados of Business, da University of Michigan. JOCHEN MENGES
Se você já fez tudo o que podia para apro- oferecidos por empresas como a WeWork. é professor de liderança da WHU–Otto Beisheim
veitar ao máximo o trajeto atual, mas Trabalhar de casa está se tornando cada vez School of Management.

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 79 


HBR MCKINSEY AWARDS 2016
O HBR McKinsey Awards, elaborado por uma comissão independente de líderes acadêmicos e de
negócios, coroa proeminentes artigos publicados anualmente pela Harvard Business Review. O prêmio
foi estabelecido em 1959 como reconhecimento do estudo sobre gestões práticas e inovadoras.
PRIMEIRO LUGAR
Por que fracassam os
programas em prol da
diversidade
JULHO DE 2016
Muitas empresas tentam reprimir a discriminação
controlando o comportamento de seus gestores
– uma abordagem que tende a desencadear
o preconceito. Os programas mais eficazes,
segundo Frank Dobbin, da Harvard University, e
Alexandra Kalev, da Tel Aviv University, fazem
com que as pessoas trabalhem pela diversidade —
aumentando seu contato com mulheres e minorias
e explorando a vontade de serem imparciais.

OS FINALISTAS

Branding na Era da Mídia Social Como Construir uma Cultura da Originalidade


MARÇO DE 2016 AGOSTO DE 2016
As redes sociais reescreveram as regras para os profissionais de Ideias inovadoras não são exclusividade de apenas alguns
marketing: o fenômeno chamado de crowdculture produz seu próprio “visionários”, assegura Adam Grant, da Wharton School. Os líderes
conteúdo tão efetivamente que as empresas são incapazes de podem promover essa capacidade na empresa oferecendo aos
competir. As marcas podem vencer a batalha da relevância cultural, funcionários possibilidades e incentivos para criarem novas ideias,
afirma Douglas Holt, do Cultural Strategy Group, colaborando com além das pessoas certas para examiná-las, e atingir o devido
as crowdcultures e promovendo suas ideologias no mercado. equilíbrio entre concordância e discordância.

COMISSÃO JULGADORA
JONATHAN BUSH PETER CAPPELLI VIJAY GOVINDARAJAN RANJAY GULATI ERIN MEYER ROBERT E. MORITZ ROBERT J. THOMAS
CEO da Professor da Professor da Professor da Professor Presidente Diretor-geral da
Athenahealth Wharton School Tuck School of Business Harvard Business School do global da Accenture Institute
Insead PwC for High Performance

80 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


ESTUDO DE CASO
COMPETIR CONTRA A OSTENTAÇÃO
COMO UMA DISCRETA MARCA DE RELÓGIOS
PODE SE DESTACAR NA CHINA?
STEPHEN NASON, JOSEPH SALVACRUZ
E J.P. STEVENSON

Wei Song viu, antes


de tudo, modelos que
se exibiam em trajes
de chiffon e renda.
Elas estavam ao lado da entrada da flagship store da Shanguang Jewelers,
na rua Nanjing. Um antigo carro conversível Eagle estava estacionado STEPHEN NASON e
nas proximidades; uma dúzia de homens e mulheres abastados aglome- JOSEPH SALVACRUZ são
rava-se em frente à loja. Song viu muita gente bebericando champanhe professores de prática
de negócios da HKUST
dentro da loja. Muitos experimentavam relógios. Business School. J. P.
“É um acontecimento”, disse Song à sua colega Pearl Zhang, que esta- STEVENSON é gestor de
va em pé ao lado dele, do outro lado da rua. inteligência competitiva do
“Verdade”, ela respondeu. “Se pelo menos fosse nosso.” Fung Group. Este estudo de
Song era diretor da Rochat & Schmid, uma centenária fábrica suíça caso ficcional é baseado no
“Battling giants for China’s
de relógios de luxo, e supervisionava a Grande China desde sua base luxury consumer”, do
em Xangai. Pearl, sua vice-presidente de marketing, ficara sabendo que
ESTUDO DE CASO a rival Berlinger estava lançando uma linha de relógios cravejados de
HKUST Thompson Center
for Business Case Studies.
NOTAS DE AULA pedras preciosas que seria vendida na Shanguang, o maior varejista de
Nason e Salvacruz
lecionam o caso original joias da China. Ela o havia convencido a irem juntos coletar informaçõe
em cursos de liderança, “Eu disse que eles iriam causar alvoroço”, comentou Pearl. “Alta co
negociação e marketing tura, carros de luxo e relógios cravejados de diamantes, esmeraldas ou
para enfatizar as rubis à sua escolha. Olhe os consumidores, eles estão adorando. Você
diferenças culturais entre perguntou o que poderíamos fazer para aumentar as vendas? ”
a Europa e a China e a
ferocidade com que as “Bem, diferentemente da Berlinger, não pertencemos a um
marcas de luxo competem conglomerado que é dono de marca de roupa, vinícola e fábrica de
por consumidores chineses automóvel”, respondeu Song. “Além do mais, não produzimos nada Grupos como LVMH,
Kering e Richemont —
— eles respondem cravejado de diamantes. A Berlinger é uma marca chamativa, então eles
por cerca de 30% das com portfólios de 30 a
fazem eventos chamativos. A R&S representa a elegância discreta.” 50 marcas nas mais
despesas dessa categoria,
conforme estudo da Bain “Então estamos presos a um marketing discreto? Nesta cidade? Neste variadas categorias —
em 2016. país? ” Pearl gesticulava e apontava para a rua iluminada com neon e passaram a dominar a
para um outdoor com a imagem de uma atriz de Hollywood. “Acho que indústria do luxo.
temos liberdade para nos adaptar ao gosto local. Genebra precisa en-
tender isso, principalmente se considerarmos quanto dependem de nós

82 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


para atingir seus números anuais.” apesar da queda em despesas com arti-
“Você sabe que eu passei adiante gos de luxo. Não sei se você está man- Na China, relógios
Alguns fabricantes de suas ideias de criar novas linhas e de dando pessoas suficientes para nossos estrangeiros
relógio de alta qualidade, repensar o modo como vendemos aqui. produtos. Será que você não nos ofere- são distribuídos
como a Titoni, criaram Sempre que preciso explicar a queda ceria mais espaço no seu balcão, mos- principalmente em
lojas especializadas
designs exclusivos para nas vendas same-store, eu as mencio- trando uma maior variedade dos nossos
o mercado chinês. Essa e em parcerias com
no. Mas você também sabe o que o Si- relógios, principalmente nas cidades empresas locais que
personalização é sensata?
mon pensa sobre ostentação.” em acelerado crescimento?” vendem produtos em
Ele se referia a Simon Carbonnier, Gui Ying sentou-se impassível por lojas de departamentos e
o resoluto chief creative officer da R&S. um momento. Song, educadamente, shoppings de luxo. Embora
Graças em parte a uma um fabricante de relógios
campanha anticorrupção “Estou pronta para mostrar minhas aguardou.
possa ser representado
que está inibindo a oferta ideias a você e ao Simon amanhã”, “Acho que, no momento, temos o por diversos varejistas em
de relógios a funcionários disse Pearl. Eles apresentariam ao CCO, número exato de Rochat & Schmid”, uma região, os varejistas
públicos a título de
no dia seguinte, via teleconferência, afirmou. As pessoas estão procurando podem comercializar
“presente”, a venda de produtos de mais de 50
relógios de luxo na China mockups para a campanha do ano-novo ser menos óbvias com seu dinheiro, en-
fabricantes. De que modo
cresceu apenas 3% de 2012 chinês. E acrescentou, olhando para tão eu vejo seus relógios atraindo muito
isso deve influenciar a
a 2015, conforme relatório as modelos, para o carro e para a loja mais clientes em breve, talvez em um forma como Song negocia
da Bain. abarrotada: “Mesmo assim, não sei se ou dois anos. Claro que se você quiser com Gui Ying?
posso competir com aquilo”. me oferecer algo novo com o qual eu
possa trabalhar, um novo slogan, novas
Dados da UnionPay
demonstram que na UM BOM NICHO? linhas, até o endosso de uma celebrid
China ou no exterior, Na tarde seguinte, Song voltou para de, estarei à sua disposição.”
consumidores chineses Shanguang e conversou com Li Gui
gastaram US$ 67 bilhões
durante a comemoração do
Ying, CEO da loja. O FLASH DE UMA CELEBRIDADE
“Passei por aqui ontem à noite, du- Song precisou se apressar para voltar
ano-novo chinês em 2017.
rante o evento, que aparentemente foi sede da R&S na China a tempo da apre
um grande sucesso”, comentou Song. sentação da Pearl, às 4 da tarde. Quan
“Você deveria ter entrado”, observou ele entrou na sala de teleconferência,
Gui Ying. “Foi o primeiro, mas vamos mon já estava aparecendo na tela.
fazer outros em todo o país — em “Song, meu amigo, que bom ver voc
Hong Kong e Beijing, claro, mas depois “Igualmente, Simon, como vai?”
em Shenzhen, Guangzhou, Tianjin, “Muito bem, obrigado. Infelizmen
Hangzhou e Chengdu. Por causa das meu tempo hoje está curto. A equipe
novas iniciativas do governo, não de designs tem um workshop que
A venda de artigos de luxo podemos mais confiar na política começa às 10, horário daqui. E depois
em cidades de segundo, dos ‘presentes’. A única maneira de vou me encontrar com o Rolf.”
terceiro e quarto porte na impulsionar as vendas é convencer os Song e Pearl trocaram olhares. Eles
China está aumentando,
e em determinadas clientes, principalmente a classe média, costumavam apostar quanto tempo
categorias e regiões tem de que eles merecem ostentar, mesmo Simon demoraria para mencionar Como a localização
até supe d d a economia estiver em queda.” sua reunião com Rolf Odermatt, geográfica de Song —
cidades “Você espera que nós façamos even- CEO da Rochat & Schmid. tão longe da matriz —
s também?” “Obrigada, Simon. Trabalhei com nos- afeta sua habilidade de
influenciar executivos
“Nossas vendas ontem à noite fo- sa equipe e nossa agência de publicidade
C-level da Rochat &
m impressionantes, e a publicidade em duas direções distintas.” Schmid?
rada foi sensacional. Mas eventos da “A primeira parecerá bastante fami-
chat & Schmid? Não, nada parecido liar”, afirmou Pearl, apresentando uma
m o que fizemos com a Berlinger. Vo- série de anúncios. “Continuamos com
cês estão em um bom nicho. Quando as nosso slogan tradicional ‘celebre cada mo-
pessoas aparecem procurando por algo mento’, mas demos a ele um toque femi-
menos cintilante, encaminhamos dire- nino para ressaltar nossa nova coleção de
tamente para vocês.” relógios de senhoras. Em vez de o pai dar
“Mas nossas vendas com a Shan- ao filho um relógio como presente de for-
guang estão baixas — mesmo com os matura, agora é a mãe que oferece o mes-
novos endereços —, e nossos números mo presente à filha. Em vez de a mulher
de same-store nas grandes cidades estão presentear o marido com um relógio no
todos ligeiramente em queda”, afirmou aniversário, vemos irmãs surpreendendo-
Song. “Olhando seu recente relatório de -se mutuamente com relógios idênticos.
lucros, notei que a maior parte dos seus A foto ficou um pouco mais moderna,
pontos de venda parece estar indo bem, mas continua sendo em preto e branco.”

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 83 


ESTUDO DE CASO COMPETIR CONTRA A OSTENTAÇÃO

“A segunda seria um desvio calculado “Sou contra”, retrucou Simon. “Não


e planejado para atrair as mulheres. Song, vamos perder de vista o valor que a
sei que você conhece a Changchang Gao. Rochat & Schmid oferece ao mercado.”
Simon, ela é uma cantora e atriz chinesa Pearl entrou na conversa. “Simon, en- A “proposta de valor” é
que recentemente deixou a TV e foi para o tendo a importância de honrar nossa tra- um conceito-chave do
cinema. Ela tem 30 milhões de seguidores dição e manter uma imagem consistente marketing estratégico. As
propostas apresentadas
no Weibo, e muitos deles fazem parte em todo o mundo, mas, como você mes-
por Song transmitem
Em 2014, segundo a Bain, da geração Y. Quando ela lança uma mo já disse, a China é um mercado único. adequadamente os
mais da metade dos música, eles fazem o download. Quando Nossas atuais campanhas são belíssimas benefícios exclusivos dos
gastos com artigos de ela usa um vestido, eles compram. Eu e on brand, mas, em um mercado com- relógios R&S?
luxo na China foi feita por conheço o agente dela, sei que ela tem petitivo e estagnado, elas não estão fun-
mulheres — ante 10% em disponibilidade para um ou dois contratos cionando tão bem como gostaríamos.”
1995. Contudo, na China,
os homens ainda dominam de endosso. Acho que dá para contratá-la “E como você sabe que este endosso
Entre os executivos
o mercado de relógios de por um preço razoável se lhe oferecermos vai funcionar?”, perguntou Simon. chineses, o silêncio
luxo em uma relação de um contrato de três anos. Gostaria de Como Pearl não respondeu, Song normalmente é um sinal
três para um, afirma a transformá-la na cara do nosso novo se manifestou mais uma vez: “Simon, de discordância; porém,
HKTDC Research. slogan: ‘Você merece’.” Pearl apertou um talvez eu e você possamos passar um um executivo suíço
botão e uma imagem de Changchang tempo revisando as apresentações”. estará mais inclinado
a entendê-lo como
apareceu na tela. Ela caminhava por uma “Não acho que preciso olhar ambas, aceitação.
Quando a Deloitte fez uma
rua movimentada trajando um vestido mas mandarei meus comentários sobre
pesquisa com pessoas de
19 a 29 anos para saber vermelho curto, exibindo um sorriso a primeira em alguns dias”, respondeu
qual canal de marketing irreverente e usando três relógios R&S no Simon.
mais influenciava a decisão braço direito. Todas as demais pessoas na
de comprar relógio, a
resposta mais comum
imagem olhavam para ela. DISPOSTO A UMA BRIGA?
Song sorriu. Ele gostou daquilo. Mas No dia seguinte, Song teve sua conver-
entre os consumidores
chineses foi o embaixador era evidente que Simon não gostou. sa semanal com Rolf. Eles trocaram as
da marca. Muitas Houve uma longa pausa. “Admiro sua gentilezas habituais, e então discuti-
empresas de produtos de criatividade, mas contratos de endosso ram os números de vendas regionais.
luxo pagam a celebridades sempre me pareceram um pouco pregui- “Que história é essa de você e a
para que divulguem Pearl darem uma chacoalhada no
çosos. E mesmo se trabalhássemos com
a marca, usem seus
produtos e apareçam em celebridades, algo que não fazemos, ela marketing?”, perguntou Rolf.
anúncios. Quais os custos não parece a pessoa certa; é muito jovem, Song surpreendeu-se; ele não ima-
e os benefícios dessa muito chamativa”, acrescentou Simon. ginava que Simon já havia comentado
estratégia? “Mas, Simon, os consumidores chi- com Rolf. “Sim, estamos pensando em
neses são jovens e gostam de coisas seguir um rumo diferente.”
chamativas”, respondeu Pearl. “Seria “Simon acha que é off-brand e que
ótimo oferecer produtos que capturem poderia macular nossa imagem. Mas
isso, mas sem novos relógios, tudo o não é ele que dirige a empresa, sou eu”,
que temos é o marketing.” afirmou Rolf.
“Com consumidores de produtos de “Você deu uma olhada nos mock-ups
luxo, a elegância sempre supera o exces- da Pearl? Eles representam um desvio,
so. Já falamos sobre isso. Atualmente a sim, mas não são muito chamativos.”
tendência é o consumo discreto. Essa ten- “Simon me mostrou. Para ser sincero,
dência está surgindo na China, e é por isso a garota bonita, o vestido vermelho, os
que não estamos mudando o design dos três relógios... parece mesmo chamativo.
nossos produtos agora. Tampouco deve- Mas você conhece a China melhor que
mos mudar nosso marketing.” eu. Você tem orçamento para fazer isso?”
Song decidiu insistir. “Entendo o que “Não pediríamos mais do que já re-
você está dizendo, Simon. Claro que os cebemos. Pearl afirma que conseguiría-
movimentos anticorrupção estão preju- mos um acordo melhor se firmássemos
dicando as marcas mais chamativas. E um contrato mais longo.”
talvez as preferências estéticas mudem a “A menos que não dê certo. Aí não
nosso favor. Mas vão mudar a tempo de teria acordo”, respondeu Rolf.
aumentar o lucro dos nossos acionistas “É verdade”, admitiu Song.
ainda este ano? Como você sabe, se per- “Então você quer brigar com o Si-
dermos terreno na China, isso afetará to- mon por isso?”
da a empresa. Então talvez devamos cha- Song vinha fazendo a si mesmo a
coalhar um pouco as coisas.” mesma pergunta desde o dia anterior. COMENTÁRIO NA
PÁGINA SEGUINTE

84 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


SONG DEVE SONG E PEARL conhecem o consumidor
chinês melhor do que Simon. Eles devem
relógios da moda – que custam até US$
1.500 – decolar nos últimos anos graças

LUTAR PELA NOVA confiar em seus instintos e contratar


Changchang Gao como divulgadora da
ao uso inteligente de novas plataformas
digitais. E mesmo os extremamente

CAMPANHA? marca e dar sequência à nova estratégia


de marketing.
luxuosos, que chegam a custar US$ 100
mil, estão agora adotando marketing

OS EXPERTS Sugiro essa linha de ação pelas seguintes


razões. Primeiro, porque, apesar da
TODA NOVA CAMPANHA DEVE
RESPONDEM atual redução nas vendas de relógios de
luxo na China, ainda estamos falando
do mercado de luxo mais importante do
SE ENQUADRAR NO DNA DA
MARCA, MAS A SUGERIDA
mundo, com potencial para crescer ainda POR PEARL PARECE SEGUIR
mais no futuro. Se as empresas querem
continuar a prosperar, devem continuar
BEM ESSA PREMISSA.
a investir no desenvolvimento da marca
aqui. Em segundo lugar, já vimos inúmeras virtual e usando as redes sociais. Claro que
marcas, como Longines, Omega e Baume toda nova campanha deve se enquadrar
et Mercier, obterem bons resultados com no DNA da marca, mas a sugerida por Pearl
campanhas de publicidade estreladas por parece seguir bem essa premissa.
celebridades chinesas. Objetivamente Simon menciona a crescente
falando, Changchang parece ser não só preferência pelo consumo discreto na
cantora e atriz famosa, mas alguém com China. Eu caracterizaria a mudança no
um número significativo de seguidores nas gosto do consumidor chinês de maneira
redes sociais, onde pode promover a Rochat diferente. Do meu ponto de vista,
& Schmid. compradores de artigos de luxo estão
Sua influência virtual será um grande atualmente gravitando em direção a itens
trunfo para atrair novos compradores – que refletem o pensamento independente
jovens e adultos – dos relógios da marca, em vez de seguir a maioria. Acredito que
pois cada vez mais as pessoas pesquisam fabricantes e varejistas devem responder a
produtos e fazem compras pelo celular. isso, como sugere Pearl, oferecendo maior
Mas isso ajudará particularmente a R&S variedade de design e a possibilidade de
a seduzir a geração Y, um importante personalização dos itens.
mercado em expansão (na China, a média A tecnologia nos permite adaptar
de idade dos que compram produtos de produtos e compras de acordo com as
luxo é 40 anos, e em outros países 50 ou preferências dos clientes. Em 2016, nosso
b l d o tinha mais de 2.300 pontos de
da Chow Tai Fook e da Hearts on
m mais de 500 cidades na Grande
, em Cingapura, na Malásia, na
a e nos Estados Unidos; contudo,
ém vendemos perto de um milhão
igos pelo nosso próprio e-shop e
s contas e-tails em importantes
formas de compras online, como
ll. Atualmente estamos testando
binação das duas experiências:
r pedidos online, quase sempre por
ativos para celular, o que permite a
nalização dos produtos, e entregá-
ff-line. Os clientes podem ir até a loja
próxima para retirar suas compras
cebê-las em casa por meio de um de
KENT WONG É s parceiros.
DIRETOR DE GESTÃO eja no desenvolvimento de
rodutos, nas vendas, ou no
DA CHOW TAI FOOK marketing, a R&S precisa estar
JEWELLERY GROUP. bem mais aberta à sua base de
consumidores chineses.

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 85 


ESTUDO DE CASO COMPETIR CONTRA A OSTE Ã

MARTIN GANZ É O
VICE-PRESIDENTE, EM
HONG KONG E MACAU, DA
BREGUET, UMA DIVISÃO
DO GRUPO SWATCH.
MUITAS MARCAS RECRUTAM celebridades para
serem divulgadoras ou embaixadoras, mas
na Breguet não fazemos isso. Preferimos
nos concentrar em nossa herança e na
qualidade dos nossos produtos. Desde a
fundação, em 1775, a clientela da empresa
inclui membros da realeza e chefes de
Estado, então gostamos de dizer que as
“ COMENTÁRIOS DA
COMUNIDADE HBR.ORG
Lute por suas ideias
Sim, lute pela nova
campanha. Até as
marcas de luxo precisam
se adaptar às atuais
pessoas que usam nossos relógios são tendências do mercado em
nossos embaixadores. que estão inseridas.
Embora eu entenda que Song sinta a ENDOSSOS DE CELEBRIDADES SÃO Jan Nissen, gerente
necessidade de fazer alguma coisa para ARRISCADOS. EM ALGUNS ANOS de negócios de varejo,
alavancar as vendas da Rochat & Schmid
na China, não tenho convicção de que uma
O EMBAIXADOR DA MARCA PODE Richemont International

campanha encabeçada por uma celebridade SE TORNAR MENOS POPULAR OU


vá resolver todos os problemas dele. PASSAR A SE COMPORTAR DE Busque novos tipos de
Antes de dar continuidade a esta
mudança na estratégia de marketing, ele
MANEIRA PREJUDICIAL À MARCA. cliente
Se você quer manter a
tradição e ser conservador,
precisa ponderar se uma cantora que se
procure um novo nicho no
tornou atriz se enquadra na missão e nas da Breguet na China continental, posso
mundo dos presentes: o
prioridades da marca. Basta dar uma olhada afirmar que marcas de luxo na Ásia se
mercado dos casamentos.
nos muitos exemplos de divulgadores beneficiam quando oferecem a seus clientes
Anuncie relógios como um
usados por fabricantes de relógios: estrelas experiências especiais, particularmente
presente duradouro dos
do esporte, cientistas, maestros, artistas. quando têm a chance de se associar aos
pais para a noiva ou para
Mesmo que consiga encontrar o varejistas mais importantes. Em Taiwan
o noivo.
embaixador ideal, Song precisa considerar e nas Filipinas, por exemplo, a Breguet
Lucas Litwiniuk, gerente
outros riscos: todos os atuais e futuros obteve sucesso com eventos encabeçados
sênior, Royal Bank of Canada
clientes conhecem e gostam desta pessoa? por proeminentes âncoras de televisão.
Daqui a alguns anos, é possível que ela Se a resposta a esse experimento inicial
passe a ser menos popular ou menos bem- da R&S chinesa com a Changchang for Faça um teste
sucedida? Ou comece a se comportar de positiva e – principalmente – se impulsionar Meu conselho é fazer mais
maneira prejudicial à marca? as vendas, Song e Pearl poderão defender pesquisas de marketing
Endossos formais são muito caros melhor a proposta de investir numa tanto com clientes já
e envolvem contratos longos. Talvez parceria que a tornasse a nova cara da R&S existentes como com
Song deva considerar uma experiência na China (embora eu ainda recomende um os potenciais e com os
mais curta e mais barata. Por exemplo, contrato de no máximo um ano ou 18 meses concorrentes; em seguida,
se ele acredita que uma parceria com com opção de renovação). elaborar um programa
Changchang Gao vai ajudar a atrair clientes Para deixar claro, não estou dizendo que piloto para testar uma nova
mais jovens ou aqueles que preferem uma Song deve concordar com o Simon. A sede da estratégia de marketing
coisa um pouco mais chamativa, a R&S marca deve ser a força motriz das empresas, com a ajuda do CEO do
poderia simplesmente patrocinar uma e suas estratégias para a marca devem ser varejista.
festa, um jantar ou um concerto. implementadas sempre que possível; mas Maria Pantsidou, gerente
Esses eventos não precisam ser tão é fundamental levar em consideração o de projeto, GVB
extravagantes como o da Berlinger conhecimento dos que estão no local. O lema
descrito no início. Em vez de modelos e deve ser: pense globalmente, aja localmente.
carros, a R&S pode trazer artesãos para Claramente o status quo não está dando
explicar como os relógios são feitos. certo e Song tem motivos para pensar em
Como alguém que trabalhou em Hong mudança. Porém endossos de celebridades
Kong por mais de 30 anos e passou os são arriscados, e eu o aconselho a proceder
últimos seis desenvolvendo os negócios com cuidado. HBR Reprint R1705F–P

86 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


RESUMO DA EDIÇÃO MAIO 2017

FOCO
GESTÃO DE
LONGO PRAZO
Nesta edição examinamos
como o foco na
maximização de valor
para o acionista — o que
leva ao “curto prazismo”
para a gestão e para o
conselho — pode ameaçar
a saúde e o desempenho
financeiro das empresas.
pág. 23 Um novo modelo de governança
A teoria da representação ou da
A visão do CEO
David Pyott saiu da Allergan durante
agência, como também é conhecida, uma tentativa de aquisição hostil pela
elaborada por economistas acadêmicos pela Valeant Pharmaceuticals e pela
na década de 1970, sustenta a ideia Pershing Square Capital Management,
de que gestores corporativos devem em 2014. Ele descreve como resistiu
considerar o valor para o acionista uma à proposta de compra e o que
prioridade, e os conselhos garantir as empresas precisam fazer para
que assim seja. A teoria considera os reposicionar-se para o crescimento
acionistas donos da corporação — mas de longo prazo.
isso suscita uma séria questão sobre
responsabilidade: juridicamente, A visão do Conselho
os acionistas não têm obrigação de Barbara Hackman Franklin, especialista
proteger ou servir as empresas cujas em governança corporativa, vê sua área
ações possuem. Eles são protegidos como um sistema tripartite de freios
pelos preceitos da responsabilidade e contrapesos. Para ela, os acionistas
legal e limitada pelos débitos e delitos ativistas são uma complicação nova
das empresas. Eles podem comprar e preocupante. No artigo ela propõe
e vender ações sem restrição e só algumas mudanças importantes que
precisam revelar sua identidade em os conselhos precisam promover.
determinadas circunstâncias. E devem
estar física e psicologicamente distantes Os dados
das atividades das empresas. Cinco gráficos mostram que empresas
Joseph Bower e Lynn Paine que focam no longo prazo superam
examinam os fundamentos e falhas suas concorrentes focadas no
do modelo e suas implicações para curto prazos em várias medidas
as empresas, antes de propor um financeiras importantes, e criam
modelo alternativo, que teria em seu consideravelmente mais empregos.
bojo a saúde do empreendimento em
vez de retornos de curto prazo para os HBR Reprint R1705A–P
acionistas. O modelo proposto por eles
recoloca o foco na atenção à inovação,
renovação estratégica e investimentos
futuros das empresas.

88 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017


ARTIGOS GESTÃO PESSOAL
LIDERANÇA OPERAÇÕES PLANEJAMENTO
O QUE DIFERENCIA RACIOCÍNIO LINEAR ESTRATÉGICO

OS CEOS NUM MUNDO NÃO O PARADOXO DAS APROVEITE SEU


BEM-SUCEDIDOS LINEAR STRETCH GOALS TRAJETO DIÁRIO
Sim B. Sitkin, C. Chet Miller Francesca Gino, Bradley Staats,
Elena Lytkina Botelho, Bart de Langhe, Stefano e Kelly E. See | pág. 66 Jon Jachimowicz, Julia Lee e
Kim Rosenkoetter Powell, Puntoni e Richard Larrick Jochen Menges | pág. 75
Stephen Kincaid e Dina pág. 56
Wang | pág. 48

No topo da escala O cérebro humano gosta Quando Marissa Mayer Diariamente, milhões de pessoas enfrentam longos trajetos
hierárquica, as apostas de linhas retas simples. foi nomeada CEO da de casa para o trabalho e vice-versa. Só nos Estados Unidos,
são altas e as demandas Como resultado, as Yahoo, em julho de 2012, aproximadamente 25 milhões de trabalhadores gastam mais
intensas. Muitos CEOs pessoas tendem a esperar a mídia não se cansava de 90 minutos todos os dias indo para o trabalho e voltando.
vacilam no posto. Cerca de que as relações entre as de falar sobre as francas E quase ninguém gosta disso.
um quarto dos listados na variáveis e os resultados avaliações dos pontos O descontentamento com esses deslocamentos diários tem
Fortune 500 que deixam a sejam lineares. É o que fortes e fracos da empresa sérias implicações para o bem-estar. Estudos demonstram
empresa todos os anos são acontece com frequência: em dificuldade — e os que os trabalhadores que realizam viagens mais longas
forçados a sair. Obviamente a quantidade de dados ambiciosos objetivos para sentem-se mais ansiosos e menos felizes e satisfeitos com a
os conselhos nem sempre que um iPad pode guardar tentar colocar o gigante vida que aqueles que percorrem trajeto menor — estes, por
contratam as pessoas aumenta linearmente da internet de volta aos sua vez são menos propensos a se divorciar. A probabilidade
certas. com sua capacidade de trilhos. de considerarem compensadoras as atividades diárias que
Ao realizar uma análise armazenamento. Mas nem Será que Marissa Mayer desempenham é significativamente menor; eles se sentem
de avaliações detalhadas sempre as relações são poderia salvar a Yahoo? mais cansados e menos produtivos e satisfeitos no emprego.
de 17 mil executivos, os lineares: a economia de Esta era a pergunta da New Mas não é preciso ser assim. A pesquisa (incluindo estudos
autores descobriram uma tempo ao fazer um upgrade Yorker, do Guardian e da realizados pelos autores) sugere que pequenos ajustes na
grande desconexão entre o de conexão de banda larga Fortune. As receitas anuais forma como são feitos os deslocamentos diários podem
que os conselheiros pensam da internet é cada vez menor da Yahoo haviam caído de melhorar a experiência, tornando a pessoa mais feliz e mais
que seja o CEO ideal e o à medida que a velocidade US$ 7,2 bilhões para US$ produtiva. Os autores apresentam cinco estratégias que
que realmente leva ao alto de download aumenta. 4,9 bilhões nos quatro anos podem ser praticadas por quem se desloca diariamente
desempenho. Os resultados Você se surpreenderia anteriores. Os funcionários da casa para o trabalho e vice-versa: usar o tempo para
desse projeto de pesquisa ao saber que substituir um se sentiam abatidos e o preparar-se para ser produtivo, encontrar o próprio “sonho de
de dez anos demonstram veículo que faz 10 milhas por clima era de desânimo. liberdade”, e reduzir o trajeto.
quatro condutas específicas: galão (MPG) por outro que Basicamente, a Yahoo HBR Reprint R1705E–P
(1) São decisivos, percebem faz 20 MPG economiza mais havia enfrentado diversas
que não podem esperar pela combustível que substituir derrotas. A resposta de
informação ideal e que uma um veículo de 20 MPG Mayer à instabilidade foi
decisão errada é, muitas por um de 50 MPG? Mas é proclamar com otimismo
vezes, melhor que decisão verdade. À medida que a que sua meta era restituir à
nenhuma. eficiência em combustível Yahoo o seu lugar entre as
(2) Se envolvem para o aumenta, o consumo diminui quatro maiores — “trazer
impacto, trabalham para acentuadamente no início, uma companhia icônica
entender as prioridades dos e depois mais lentamente. de volta à grandeza”.
stakeholders e depois as Esse é apenas um dos quatro Ela formulou o objetivo
alinham em torno de uma padrões lineares que os excepcionalmente difícil
meta de criação de valor. autores apontam no artigo. de atingir o crescimento
(3) Se adaptam Fenômenos não lineares anual de dois dígitos
proativamente, de olho no estão por todo lado nos em cinco anos, além de
longo prazo e tratando os negócios: nas relações entre oito desafiadoras metas
erros como oportunidades preço, volume e lucros, adicionais.
de aprendizagem. entre taxa de retenção e HBR Reprint R1705D–P
(4) Entregam valor do tempo de vida do
resultados de forma cliente, entre rankings de
confiável, cumprindo pesquisa e vendas. Se você
consistentemente os não identificar a linearidade
compromissos até o fim. quando ocorre, suas decisões
HBR Reprint R1705B–P provavelmente serão desas-
trosas.
HBR Reprint R1705C–P

MAIO 2017 HARVARD BUSINESS REVIEW 89 


CORPO E ALMA
ALICE WATERS
CHEF influencia o modo como
administra o restaurante?
O Montessori enfatiza o aprendizado
pela ação, usando todos os sentidos.
Você toca, sente o gosto, cheira, olha
e escuta. Queria que a experiência no
restaurante fosse igual. Então eu fazia
o cheiro do alecrim circular desde o
forno do lado de fora; colocava flores
lindas nas mesas e comida nos bal-
cões. As pessoas podiam tocar e sen-
tir o gosto do que estavam pedindo,
vir até a cozinha e ver a preparação.

Que qualidade você procura em


seus funcionários?
Eu contrato pessoas dotadas de di-
versos talentos e que cultivam espíri-
to colaborativo. Quando alguém está
muito envolvido em seu próprio traba-
lho, é difícil usá-lo na cozinha. Pergun-
“SE APRENDERMOS O BÁSICO DA CULINÁRIA, CONSEGUIREMOS to o que eles gostam de cozinhar para

PREPARAR PRATOS EXTREMAMENTE ACESSÍVEIS” si mesmos, onde fazem compras, que


livros leem. Quero saber se eles algu-
ma vez já trabalharam em uma fazen-
Quando Waters abriu o Chez Percebi que as pessoas que se pre- da e se jantavam com a família quan-
Panisse, em Berkeley, Califórnia, ocupam com a terra são preciosas e do eram crianças. Procuro homens e
em 1971, ela não esperava desper- devem receber pelo seu trabalho du- mulheres, jovens e adultos, e valori-
tar um movimento nacional por ali- ro. Não achava que isso era radical. zo pessoas de outros países. Nosso
mentos locais, orgânicos e susten- Sabia que evitar comida industrial programa de estágio traz estudantes
táveis ou inspirar uma geração de e comprar nos mercados locais era universitários, e acho que a mudança
chefs a seguir seus passos. Mas foi parte da contracultura. Mas, para constante nos mantém vivos.
o que ela fez. Ativista engajada, ela mim, parecia natural: cuidamos da
é a fundadora do Edible Schoolyard terra, celebramos a colheita, usa- Como você promove o trabalho de
Project, que gerou programas de mos ingredientes sazonais para cozi- equipe?
educação alimentar em mais de nhar e sentamos à mesa para comer. Todos na cozinha podem dar palpite
5 mil escolas. Ela continua a super- sobre o que está sendo preparado. Não
visionar seu único restaurante. Além de se destacar pela é uma pirâmide em que o responsável
Entrevistada por Alison Beard. proveniência dos alimentos, o que por picar os vegetais faz o trabalho pre-
mais torna o Chez Panisse especial? paratório e os chefs cozinham. Os chefs
HBR: Como você passou de Sempre me preocupei com cada de- também lavam e secam a salada, e to-
restaurateur a ativista? talhe, por menor que fosse. As pes- dos provamos os pratos. Você apren-
WATERS: Eu queria fazer algo pelo soas achavam que eu era obcecada de alguma coisa quando trabalha com
qual fosse apaixonada. Decidi abrir com iluminação, tamanho da porção alimentos do início ao fim, e se escuta
um pequeno restaurante e alimen- e tudo mais, mas eu estava disposta a opinião das pessoas, elas se sentem
tar meus amigos com comida cujo a ouvir todos que tivessem alguma parte de algo maior. Nossa missão ca-
gosto fosse aquele mesmo pelo qual ideia melhor. Queria que as pesso- pacita todo mundo, do lavador de pra-
eu havia me apaixonado em Paris. as amassem o que estávamos cozi- tos à equipe de faxina do turno da noi-
Na tentativa de encontrar aquele sa- nhando. Isso era o mais importante. te. Eles sabem que temos um papel a
bor, acabei na porta dos produtores desempenhar para mudar o sistema de
orgânicos locais. Eu dependia de- Você foi educada pelo método alimentação dos Estados Unidos.
les, fiquei amiga deles e os exaltava. montessoriano. Como isso HBR Reprint R1705G–P

FOTOGRAFIA DE MATHEW SCOTT


90 HARVARD BUSINESS REVIEW MAIO 2017

Das könnte Ihnen auch gefallen