Permitam-me começar dizendo-lhes todo o prazer que experimento ao me
encontrar entre vocês; todo o prazer, e também toda emoção, pois como um francês da França não ficaria emocionado em tomar a palavra no Canadá, numa Universidade de Canadenses-franceses? As poucas semanas que acabo de passar em seu país remexeram em mim tantos sentimentos, tantas lembranças, e fui tão profundamente tocado pela acolhida que recebi, que é muito natural que eu esteja emocionado! Por outro lado, é também para mim uma grande alegria ter a oportunidade de difundir entre vocês, fora de Paris e da França, idéias que me são queridas, pois nos apoiamos as nossas idéias à medida que nos persuadimos de sua verdade; e as amamos, como diz Bossuet, tanto quanto nossos filhos, felizes ao podermos abrir-lhes um caminho pelo vasto mundo, e nossa Universidade é um dos caminhos. Essas idéias quais são? São antes de tudo alguns princípios simples, levando ao método da história da Filosofia; em seguida para fundamentá-los, uma concepção da natureza ou da essência da Filosofia, não edificada a prior ou deduzida como uma conseqüência de uma doutrina pré-estabelecida, mas nascida de uma reflexão espontânea sobre objetos oferecidos naturalmente aqui ao historiador, no caso as filosofias, nos momentos eternos do pensamento humano, fonte viva, geradora sem cessar de meditações e de luz. E essas idéias são, enfim, a aplicação desse método a casos concretos. Essa aplicação é o que na verdade, é o mais importante, pois um método é apenas um instrumento e é seu uso que decide finamente seu valor. Discutir méritos de um método, não tem nenhum sentido. O que conta é antes de tudo, como dizia Kant, a resposta à questão quid facti: qual é de fato o seu rendimento. Em história da filosofia, se aplica o mesmo, já que um método é mais bem sucedido que outro ao desenvolver os textos difíceis, ao tirar das sombras teorias fundamentais apenas suspeitadas que iluminam todo o resto, e portanto ao fornecer as chaves de uma inteligibilidade perfeita, ele terá feitos suas provas e estabelecido de fato que esse método é legítimos e recomendável. Procura em seguida seu fundamento na natureza de toda filosofia, não quando nada além de uma empresa especulativa, da qual o resultado não saberia nem acrescentar ou retirar dela nada além do que teriam podido previamente inspirar seus resultados concretos. A aplicação desse método a Fichte, Descartes, Malebranche, Berkeley, me pareceu dar resultados suficientemente interessantes para incitar-me à colocá-lo em prática recentemente nos estudos de Spinoza. Este diz que é urgente caracterizar mais precisamente um método com relação ao qual, me parece que com uma certa presunção, eu insinuei que tal método tinha seu preço, antes de dizer finalmente no que ele consistia. O historiador da filosofia tem a escolha entre dois pontos de vista. Ele pode considerar a sucessão de doutrinas, o movimento das idéias através dos tempos, a passagem de uma a outra, a transformação dos temas e dos problemas. Nesse caso ele se interessa mais pelas ligações e pelas transições do que pela economia interna das doutrinas e das obras. Ele se situa em um ponto de vista dinâmico, no futuro, deixando-se de alguma forma chegar ao fio da corrente que carrega o fluxo do pensamento humano. Este ponto de vista, que é o mais propriamente histórico, é dos mais legítimos. Ele permite abrir perspectivas, entender o conjunto de fazer observar com a mesma visão os eventos políticos, econômicos, religiosos e ideológicos de acordo com o sincronismo de suas evoluções e revoluções. A esta escola eu daria o nome de história horizontal da filosofia. É ela que está ilustrada por suas convenções, que começaram em Thales para terminar em Heidegger, e num estilo totalmente diferente, pelas obras daqueles que chamamos de historiadores de idéias, ou ainda, pelos historiadores da cultura. A vantagem dessa história é fato dela ser eminentemente histórica. Seu inconveniente é o que ela da ganhos no lado da história, ela gera perdas no lado da filosofia. Pois finalmente, ela cessa desse fixar em objetos próprios: as doutrinas. Estas são apenas esboçadas a grandes traços, resumidas em seus princípios gerais desprendidos suas afirmações, seus resultados desligados de suas provas e de sua arquitetônica, e tudo isso em detrimento de sua análise aprofundada, da evidenciação de sua estrutura interna. Ela (a escola) passa diante de nós uma espécie de fita cinematográfica, fazendo desfilar silhuetas que, assim que aparecem, se congelam e desaparecem. Ela nos faz circular como num cemitério onde ou quando muito, ela nos conduz através dessa “Galerie der Narrheiten” da qual zomba Hegel, após Diderot. Ela evoca essa “Tentação de Santo Antonio” na qual Flaubert faz desfilar diante do santo deuses de diversas religiões, que logo que passam, desmancham-se em pó. Também é ela geradora de ceticismo e de desencorajamento. A troco de que retornar a si mesmo essa rocha de sísife? Quanta vaidade acomete os homens que pensam filosoficamente! Entretanto aquele que se apega expressamente aos objetos pertencentes a essa história, ou seja das grandes filosofias, permanece estranho a esse sentimento. Ele as experimenta como se fossem eternas. Ele constata que elas estão constantemente de pé, seguras e fixas há milênios, como objetos de reflexão inesgotável e indefinida. Ele não poderia duvidar que elas permanecerão para sempre, e não cessarão de brilhar no firmamento do pensamento humano: “Fulgebunt sicut stellae”. Diria Reman, citando um texto conhecido. Mas se ele experimenta tal sentimento é porque se detém a elas para ali penetrar et river em sua meditação assídua. Aqui, revela-se ao historiador da filosofia um novo ponto de vista. As doutrinas projetadas em si mesmas e por si mesmas. Todos os esforços são entendidos em direção à fixação e ao aprofundamento de seus sentidos nos da meditação filosófica. O historiador se fecha nas monografias. É o lugar daquilo que eu chamaria de história vertical da filosofia, história não tão propriamente história quanto a outra, menos preocupada com o movimento coletivos das idéias, mas filosófica no sentido de que ela persegue a significação filosófica profunda estas ou aquelas obras tomadas uma a uma. Mas lá, ainda várias escolas se chocam. Nós preservaremos as duas mais importantes. Para a primeira, chegamos pr um desvio à história propriamente dita, através da prática do método das fontes e da biografia, método que é aparentado ao de uma certa história literária. Atento às circunstâncias de vida, à época, à educação, às análises do autor, ele explica sua obra, em parte pela dos outros, em parte também pelas preocupações com a cultura, e dos hábitos intelectuais do público ao qual se dirige. Em resumo, cada filosofia é tratada como um evento que chegou num determinado momento. Evidentemente, esse método é indispensável. O meio onde nasceu ou se desenvolveu uma doutrina, as filosofias que ela sucedeu, as quais ela teve que se opor ou referir-se, a significação da linguagem do tempo, os problemas que lhe são próprios; nada disso poderia ser negligenciado sem que fosse interditada para sempre a inteligência da obra. O principal é saber se esse método é suficiente. Constataremos primeiramente que ele arrisca ignorar a originalidade da doutrina ao trazê-la de volta ao “já dito”; ou que a originalidade que o método lhe concede reside apenas na experiência íntima do autor, toda subjetiva; e por aí mesmo ele tende a despi-la da inclinação universal que é pretendida por toda filosofia. Ele conduz a um interesse maior pelo homem do que por sua obra, aos “passos vitais” que o conduziram. Nessa perspectiva, o significado deve ser procurado mais na intenção original da doutrina do que em sua realização. Também a forma da obra é tida como subsidiária e concebida como ditada pelas necessidades extrínsecas de sua difusão conhecida no exterior. O essencial está em uma certa Weltanschauung original na qual tudo é simultâneo dado como que por uma graça de estado, o contexto da obra, a ordem de suas razões sendo apenas uma ordem de exposição de que ela mesma não cria nada, mas se contenta em traduzir uma intenção toda fabricada. Encontramos aqui um fundo de psicologismo bergsoniano, a afirmação que uma filosofia existe antes mesmo de ser feita, ou seja, antes de ser realizada numa obra da qual as estruturas e as palavras apenas serviriam para degradá-la ao banalizá-la. Pode-se perguntar, no entanto, a que se reduziria essa intenção no sentido de que se assim fosse, nenhuma obra teria sido concebida. Pode-se questionar também o fato de que antes de ser a última etapa de uma degradação, a obra pode ser o topo de uma ascensão; e se nessa realização o espírito, longe de estender-se não é apenas um excesso dele mesmo. É a grandeza do monumento que atesta a grandeza do criador e que, como Michelangelo, maravilha-o e o esmaga, fazendo-o sentir quão pequeno é o homem quando está reduzido a ele mesmo, fora de sua criação. Além do mais, quando foi dito que uma filosofia é Weltanchauung foi dito algo infinitamente vago pois muitas das Weltanschauungen estão longe de ser filosofias. Seria necessário então, ao menos especificar o que é uma Weltanschauung e de que modo específico a filosofia mereceria esse nome. Enfim, não há filosofia sem resolução de problemas, e é evidente que suas soluções não lhes são dadas..... (?). Antes da concepção clara de seus termos e um esforço intelectual de resolução levando ao mais alto grau de tenção espiritual. Assim, esse método, ao ser proclamado único e suficiente para tudo desconhece a essência da filosofia, sacrifica-a à biografia, a história propriamente dita, a psicologia das individualidades. Ele abandona o interior da obra para o aproveitamento do interior do homem. Ele tende a restabelecer as estruturas constitutivas internas aos artifícios literários de exposição. Mas, repetindo, ele só é condenável quando exagera em se pretender exclusivamente suficientemente a tudo. Se ao contrário, ele é tido como um instrumento de procura preliminar, ele não é somente legítimo, mas indispensável, pois quem discutiria uma obra sem considerar seu tempo, seu meio, suas fontes, as influências que o marcaram, se dedicaria ao contra-senso. Ao limite, na condição e preparação e não do principal, esse método é válido. Ele deve sobreviver concorrendo com o outro, que está em contraste com este, sabendo das estruturas ou das razões, método do qual eu vou vos falar agora. Aqui nós descobrimos uma segunda escola. O método das estruturas consiste em explorar menos a suposta interioridade do autor e mais a interioridade da obra. Pois se o autor não está mais lá a obra continua aqui diante de nós em livros, como um monumento um objeto, no sentido que só é perceptível se pusermos em evidência as composturas conceptuais que o faz possível. Este método é sobre tudo um método de análise. Mas não é uma analise simples. A análise decompõe os elementos de um sistema e pode mostrar como de fato eles acabam se unindo; mas ele se fixa nisto e não se preocupa em nos assustar porque esta união se faz assim, e não de outra maneira. Ao contrário, o método das estruturas se esforça para descobrir este porque. Ele não põe simplesmente em evidência as estruturas, mas também indica, de certa forma, as razões. Mesmo porque as estruturas de uma filosofia não consistem numa ordem de razões: sempre há uma razão que reside a colocação de um ou de outro elemento. Também dentro de um certo contexto filosófico, parece que certas conclusões podem ser obtidas aparentemente e; mesmo mais facilmente por combinações, caminhos ou demonstrações, legítimas dentro do quadro do sistema visado, que portanto não são estas que o autor escolheu, há então, de se procurar saber o porque foram preferidas estas ou aquelas. A resposta a este porque permite-nos progredir um passo a mais na inteligência da obra. Por exemplo, sobre Spinoza, é uma outra forma de analisar suas demonstrações ele mostra o porque entre várias demonstrações possíveis ele escolheu e teve que escolher uma à outra, ou ainda, explicar porque suas demonstrações que são de sua aprovação, “mais claras e mais simples”, não aparecem que é a margem de dedução principal e são afastados de simples escólios. A dedução cartesiana segundo a ordem de razões, a combinação tão complexa como a própria à Malebranche, com seus deslocamentos de equilíbrio e suas falhas de idéias, etc; que requerem a solução de problemas semelhantes. Logo que nós descobrimos a razão da ordem, dos caminhos, ou das combinações adotadas, nos rodeamos no monumento filosófico com a mesma facilidade que um arquiteto na construção, já que este aprendeu os segredos, isso quer dizer os fatores de seu equilíbrio, os cálculos foram presididos à sua edificação em função das intenções do construtor. Ora a intenção desta arquitetônica de conceitos rege finalmente as intenções dos próprios conceitos segundo as intenções mais profundas das doutrinas. Vejamos agora como, se situam no interior da obra para determinar as estruturas constitutivas, este método funda-se sobre a natureza da obra filosófica de uma parte tanto como obra, de outra parte tanto como filosofia. Como toda obra humana, a realização de uma filosofia é condicionada pelo emprego de uma técnica. A natureza da obra é o fim ao que ele responde determinando a escolha e a obra acaba portando esta marca. Pois há uma técnica para obra de arte, e uma para obra científica, e deve haver uma para a obra filosófica, técnica que deve diferenciar-se das outras na medida onde a filosofia se difere da arte e da ciência. O obstáculo começa logo que devemos definir esta diferença, pois há tanto de definições da natureza e de fins da filosofia que há de doutrinas. Devemos então, para responder à essa questão partir, não destas definições, mas sim de fatos reunidos nas experiências e na história. Se nós considerarmos de que foi feita a filosofia desde suas origens, nos constataríamos que ela sempre esteve mais ou menos ligada como o seu nome indica, à uma sabedoria, quer dizer, à uma procura de um jeito de ser e de viver, iluminado pela razão e devendo proporcionar ao homem o máximo de felicidade, feita de plenitude e contentamento. Se propondo a dar uma receita do “bem-viver” que cobre todas as circunstâncias, possíveis da existência, ela é inevitavelmente levada a situar o homem no conjunto de coisas, à nos unir em um só, no enigma da vida e no do universo, achar suas soluções comuns numa única teoria, que é como o conhecimento da verdade. Disso resulta uma intuição do conjunto, que, animado por uma aspiração fundamental, apresenta-se como visão do mundo (Weltanschauung). A filosofia é por isso aproximada da arte e da religião, que são únicas com ela à constituir cada uma a visão do mundo. Nós poderemos, à parir disto, como Dilthey o fez precisar o que é uma W. O que distingue o Weltanschuung dos outros sistemas culturais (direito, ciência, etc), é segundo Dilthey, que nelas a vontade humana não tende à objetivos determinados, a um fim desinteressado: que responde ao enigma do universo e da vida. Breve, toda Weltanshuung aparece como um “complexo espiritual comportando um conhecimento do mundo, um ideal, um sistema de regras uma finalidade suprema excluindo, todas intenções de concluir as ações precisas, toda atribuição prática determinada”. O que diferencia a Weltanschauung filosófica das duas outras, é segundo o mesmo autor, que ela combina três elementos que constituem o conjunto estrutural psicológico, para saber o conhecimento, a vontade e a afetividade, pegado o conhecimento como princípio organizador, logo que a religião pega esse princípio na vontade e na poesia na afetividade. É porque toda filosofia procede do pensamento lógico, os diferentes tipos de filosofia: naturalismo, idealismo da liberdade, idealismo objetivo, nascido do que é ora o conhecimento, ora a vontade, ora a afetividade que o pensamento lógico escolhe um eixo da sua sistematização. Conforme esta concepção, o elemento lógico parece ser fundamental para a filosofia, pois ela constitui a diferença científica, isto é o primeiro ponto sobre o qual nós poderemos nos conciliar,entretanto é o nosso sentimento, a fraqueza desta concepção, que é aquela que Dilthey, o elemento lógico não está ainda aqui como um fator tão fundamental, pois a essência para Dilthey, é o substratum psicológico, fazem de toda Weltanschauung, substratum que a organização extrínseca. Bem melhor, esta constituição de proposições universais, que a distingue dos Weltanschauung (poético e religioso), e considerado como uma fonte de ilusões enganosas as quais estes escapam. Toda filosofia parece, então, ser levada para lá com um tipo de poema de gênero inferior. Ela não tem outro interesse subjetivo, ela não é um reflexo de uma paisagem mental. Quando os monumentos constituídos pela arquitetura de conceitos e seus encadeamentos lógicos, não são os mesmos que “tecidos empoeirados” de entidades abstratas. Por caminhos diferentes, Bergson, na sua conferência de Bologne, encontrará de novo umas conclusões semelhantes as estruturas conceptuais não estando na tradução como uma linguagem acessível ao comum dos homens, de uma intuição inefável que se encontra por ali degradada e banalizada. Todavia, se nós considerarmos com mais atenção as filosofias, nós veremos que o elemento lógico e arquitetônico está longe de ser secundário e fundamental. Antes de tudo são as doutrinas (doutrina-docere-Lebere), de outra maneira ditas ensinamentos. Sem dúvida este ensinamento. Sem dúvida esse ensinamento é ele a certeza de tratados da comunicação de uma mensagem salvadora, é o que a prédica religiosa, mas ele se afasta no que pretende impor como uma verdade à universalidade dos seres razoáveis, não tendo, recursos resultam diretamente na razão ou que a razão assume indiretamente, logo que ela habilita como elemento de prova ou como caminho de acesso de fatores irracionais. Em segundo lugar, os conceitos e os atos de raciocinar são para os filósofos o meio, não simplesmente para comunicar sua doutrina aos outros, mas de a constituir “para si mesma” e a fazer “válida a seus olhos” Por seu meio, ele não traduz uma intuição original caída do céu, mas ele promove uma intuição e uma fórmula de inteligência à qual ele se sente necessariamente constrangido de concordar como uma verdade. Esta intuição inteligente não é o ponto de partida, mas o ponto de chegada de todo o processo. Construção racional imponente invencivelmente à inteligência uma verdade num saber certo em virtude de seu rigor demonstrativo, a filosofia parece então muito mais próxima da ciência que da poesia e da religião. Esta estreita afinidade entre a filosofia e a ciência parece confirmada pela história que nos mostra a evolução de intimamente aglomerado à esta da outra; a maior parte das ciências fundamentais tiveram os filósofos como inventores; a maior parte das grandes revoluções científicas formaram sistemas filosóficos (Descartes, Kant, etc). Ora se a filosofia está em afinidade com a ciência, é natural que os elementos lógicos sejam o fator primordial. Sendo como a ciência um esforço para conhecer e compreender o real, ela estabelece, com ela, uma problemática. Todas as grades doutrinas podem se caracterizar por problemas: que seja problema de um e do seu múltiplo para os pré-socratianos:esta possibilidade da ciência da prédica para Platão; este das cousas primárias e do método geral das ciências para Aristóteles; este do valor objetivo das matemáticas, das idéias claras e distintas, da possibilidade de uma física matemática para Descartes; este dos julgamentos sintéticos “a priori” para Kant, etc. Estabelecido os problemas a filosofia deve como a ciência respondê-los por teorias. Ora, toda teoria só é válida se demonstrada. A demonstração não é simplesmente para fins de a impor aos outros, mas de “provir em toda inteligência”, a intelecção do problema de sua solução. É porque o elemento lógico deve assumir em toda filosofia, não como uma função de tradução (de uma paisagem mental ou de uma intuição), mas uma função de validação e mesmo de constituição. De onde a importância da sistematização, que não aparece somente como formação extrínseca de um conteúdo anteriormente dado, como se esse conteúdo gera-se por si próprio, ao menos em parte em todo caso como filosofia. A sistematização aparece por “todos os lados” onde se instituam as teorias são sistemas de explicação, por exemplo as teorias das equações. Das secções cônicas, dos conjuntos, da gravitação universal, do metabolismo, etc. Sem dúvida a sistematização científica não é igualmente ao sistema filosófico. A primeira é aberta e a segunda fechada. Mas esta diferença tem na natureza do problema é resolver. O problema do mundo e do homem no mundo é um problema universal que envolveu uma resposta universal e absoluta. Portanto sobre a totalidade do assunto, cada filósofo é envolvente sem estar envolvido. Ele tem como conseqüência, seja qual for seu tipo, idealista ou realista; naturalista ou espiritualista, organizar o conjunto sobre um princípio da totalidade que, não podendo ser contido em nenhum dado, é necessariamente, “a priori”. A técnica de toda filosofia é então sempre um método da essência lógica e construtiva, visando à cada vez a inteligência e a descoberta, pretendente a solução de um problema a instauração de uma verdade considerada como demonstrável diretamente e indiretamente. É então dizer, que toda filosofia se estabelece por razões que são para os filósofos as verdadeiras causas de seu monumento, pois que é por eles que ele vê o rendimento. Sem dúvida ele é orientado na sua relação por causas determinadas, sem semelhança com razões constitutivas, aspirações exprimindo seu temperamento, seu caráter, sugestões vindas do meio social, das influências adotadas e aceitas do estado dos problemas científicos, dos movimentos da consciência religiosa, etc. Mas cada filósofo é convencido que sua filosofia surgiu independentemente pela força de suas razões constituintes, que ela escapa da trama das coisas cegas, exteriores à implicação interna dos conceitos; que ela não é um resultado morto, imposto do exterior por forças obscuras à sua inteligência passiva, preocupada somente para estruturar o que ela mesmo não saberia produzir. Ele é um movimento nascido da união das razões e o jogo é a implicação dos conceitos que à ele é feito, abrem só diante a inteligência das perspectivas filosóficas transcendentes, as elementares aspirações de necessidades que puderem inicialmente comandar a orientação do gênio criador. Também, não é a alma do individuo Kant, nem as forças psíquicas a sua produção literária, nem as tendências originais, levando contra Hume fundar a ciência, e contra o dogmatismo de Spinoza e de Leibniz, a realidade da liberdade que tem o filósofo, são as combinações conceituais que desdobram as três críticas e que impõe invencivelmente a nossa vista, como um objeto resistente a um mundo que nos parece dever ficar cativos tão cedo e nos consentimos a entrar. É porque, como eu já disse e escrevi, cada filósofo deve ser definido menos como uma visão do mundo (Weltanschuung) que como o mundo de conceitos (Gedankenwelt). A sistemática do racional não é somente do que um filósofo se constitui, mas ainda pelo que constitui um objeto e está numa realidade. Se esta sistemática finaliza a demonstração assegurando a coerência dos diferentes temas, introduzindo assim uma série de cortes que farão definitivamente as conclusões, isto serve para dar um valor incontestável do objeto à representação construída. Resolução de problemas, construções demonstrativa necessária se constituída por razões visando à uma universalidade da ordem racional, implicando as operações lógicas graça aos quais ela possa se apresentar ao entendimento como uma verdade; a filosofia parece inclinada à ciência. Mas por outro lado, valendo em si por si, independentemente de toda verdade de entendimento, pois ela gera uma realidade, implicando uma referência a um valor, que a afirmação privilegiada responde a um questionamento e pede um estilo de acompanhamento; ela parece inclinar á poesia e à religião. E entretanto, ela não é nem ciência, nem religião, nem poesia, pois nem a religião nem a poesia não são constituídas de razões que constituem a ciência não produzem nenhuma realidade válida à si mesma. Enfim as ciências são únicas e anônimas, enquanto que cada filosofia é a si mesma toda a ciência; sistema irredutível aos outros; ela acompanha sempre o nome de seu autor. Nós constatamos por isso ou menos como podemos nos fundar sobre a natureza da obra filosófica como “obra” e como “filosofia” a legitimidade do método das estruturas, como estas estruturas constituídas de cada filosofia, embora que racionais, não são universais, mas diferentes de cada uma como as monografias são indispensáveis ao seus estudos e devem se dar para de restituir de algum jeito o mundo lógico que é o seu. Todavia, como eu já havia dito, o valor de um método de interpretação não pode, em definitivo se fundar em seus frutos. Se é o termo de um estudo, o método recomendado permite explicar os textos mais difíceis, de dissipar as obscuridades e de responder as questões até agora deixadas sem resposta pela crítica, aí então ele será válido. Se não, não. Assim então, o uso permite decidir, e o julgamento deve residir suspenso tanto que nós não estamos plenamente satisfeitos a esta prova decisiva.
Colégio da França o Texto extraído de : Philosohiques, vol 01, n 01. Avril, 1974, p 7-19. Tradução: Silvia Maria Fernandes Rodrigues.