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desembucha:
— Sabe Preto Véio… Aqui nesta casa que também é sua, estamos aporrinhados
com uma coisa… Nandinha… pegou barriga e não diz, ou não sabe quem é o pai.
— Rum, rum… Xíiiii… — E pita seu cachimbo.
— Preto Véio… Precisamos descobrir quem é que vai arcar com a criança.
— Rum, rum… Preto Véio sabe das coisas, mas nem de tudo… Rum, rum… Então
a danadinha subiu no cipó? Rum, rum… — E pita.
— No cipó de um matagal todo — disse indignada.
— Nesse caso, é fazer de conta que um bom moço é que é o pai, sabe? Faça boa
escolha. Entende? Rum, rum… Isso sim… Até a criança nascer, depois pela cara da
criança descobre o pai.
— Está querendo dizer para… Mas e se… Cê sabe bem o que diz?
Niroca sempre segue as recomendações dos orixás.
— Eugênio? Onde está você homem de Deus? Ontem falei com Preto véio a
respeito da menina. Ele me disse para escolher o pai do meu modo de pensar e ver.
— E você acha que a menina vai aceitar? Ela já disse que não casa nem morta.
— Não precisa casar ué! Só precisa de alguém para assumir.
— Só sei de dois maduros, mas são todos uns pé-rapados.
— Alguém tem que custear a brincadeira…
Dito e feito.
— Escuta aqui Zé Papelão! Mais tarde você dê um pulinho lá em minha casa,
precisamos ter uma prosa — disse Niroca em seu tom invocado.
— Pedro Pina? Já voltou do hospital? Mais tarde quero você lá em casa para uma
prosa — escalou o segundo panaca.
Zé Papelão chega assustado, senta, olha, tira o chapéu, meche nos cabelos, enxuga
a testa com um lenço de pano. Pedro Pina pede um copo, mata, homem bom olha
com medo para megera, e senta.
— Vocês dois vão ser pai!
— Como assim nós dois? — Se assustam.
— Enquanto não sabemos quem é, será os dois — Retorce os beiços. — E quando a
criança nascer é só olhar na cara. Se nascer com cara de asno esmigalhado é de Zé
Papelão.
— Diacho.
— Cala-te imbecil! E se for borocoxô, feito meio-homem, é de Pina.
— Poxa… Só ando entristecido, só isso.
Nasce a criança, um menino, olho preto esbugalhado, cabelo de rato, cara de
joelho, chora, grita, mama, dorme, acorda, azul de tão preto, chora de novo, mama…
Veste a roupa que ganhou do pai Papelão, brinca com o chocalho que ganhou do pai
Pina.
A vila encarniçada - 01/03/2018 09:51 / 4