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Édio Raniere

Édio Raniere

NuTE
Cartografia de um Teatro

1ª Edição

Blumenau
Liquidificador Produtos Culturais
2011
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creati-
ve Commons - Atribuição - Uso Não Comercial -
Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
Em caso de reprodução ou citação, devem ser citados o autor e a
fonte.

Revisão: Tamara Beins


Projeto Gráfico e Editoração: Liquidificador Comunicação e Arte

Editado por:
Liquidificador Produtos Culturais

Conselho editorial:
Aline Assumpção
Charles Steuck
Daiana Schvartz
Gregory Haertel
Jamil Antônio Dias
Ricardo Machado

R197n Raniere, Édio.


NuTE : cartografia de um teatro / Édio
Raniere. – 1. ed. – Blumenau : Liquidificador
Produtos Culturais, 2011.
378 p. : il. color.

ISBN 978-85-63401-04-5
1. Teatro experimental. I. Núcleo de Teatro
Experimental – Blumenau. II. Título.

CDD 20 – 792.022 Para Lilian,


que já escreve um tanto de mim.
Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Sandra Cristina da Silva, Msc.
– CRB 14/945

Liquidificador Produtos Culturais


www.liquidificador.art.br
2011
Quem lá entrou (no NuTE) e algo produziu, por
mais ou menos tempo – com maiores ou menores
contribuições, com maior ou menor talento para o
que se propunha -, simplesmente o fez por paixão.
Paixão pelo teatro (a grande maioria), pela música
(alguns), pelas artes plásticas (outros), pela dança
(uns poucos) e por tudo isso junto (uns raros
multiqualificados ou multimetidos), já que dinheiro
não se ganhava, ao contrário, só se botava. Eram
paixões: arrebatadoras, algumas comedidas, outras
tímidas até, mais ou menos duradouras. Contudo,
nada que estivesse sob controle (racional) de alguém.
NuTE: um grande/coletivo fruto-paixão!!! É (...) acho
que foi simples assim...

Wilfried Krambeck
Não há “espírito”, nem razão, nem pensar, nem
consciência, nem alma, nem vontade, nem verdade:
tudo isso é ficção inútil. (...) Nenhuma “substância”,
antes algo que anseia em si por fortificação; e que
apenas indiretamente quer-se “manter” (ele quer
ultrapassar-se).

Friedrich Nietzsche
Índice

Epígrafe ‘Vontade de....’ ......................................... 07


Epígrafe ‘...Poder’ ................................................... 09

Prefácio a uma Psicologia .......................................13


Prefácio a uma Filosofia ......................................... 19
Prefácio a um Teatro ............................................... 25

Prólogo .................................................................... 33

PRIMEIRO ENSAIO – 01 DE ABRIL DE 2015 ........... 39


Um pouco de menos, senão não vai mais .....................41
Memória ................................................................... 43
Organização, Delírio e Tempo ............................... 45
Em busca de uma relação viva com o leitor ................ 51
Um lugar onde se respira o antes do Prólogo ........ 54
Adaptação de Trabalho Sujo ................................. 64
Trabalho Sujo e Virtual ........................................... 64
Retorno ao Primeiro Ensaio .................................... 70

Segundo Ensaio – 18 de abril de 2015 ..............77


Composição de Mundos ............................................ 83
Prefácio a uma Psicologia
Terceiro Ensaio – 26 de abril de 2015 .......113
Exuberante Cronologia Espetacular do Teatro
Experimental e do Teatro Escola Nuteanescos..........117 Cleci Maraschin*

13
Entro em uma sala escura. Aos poucos, vou
Quarto Ensaio – 04 de Maio de 2015 ........... 203 distinguindo cadeiras e outros objetos, o que me
Composição de Mundos .......................................... 209 permite ziguezaguear entre eles sem maiores
problemas. Em um canto mal iluminado,
encontro alguém segurando um punhado de
Quinto Ensaio – 08 de maio de 2015 ............. 259 páginas impressas. Eu me aproximo.

Aperitivo Cênico .................................................... 277 – Olá, estou procurando Alexandre Venera


dos Santos.
Composição de Mundos | 14º Jote-Titac ................ 283
– Sou eu, mas quem é você?
Apresentação dos Espetáculos | 14º Jote-Titac ......... 336
– Sou a Cleci, professora do Édio. Ele me
enviou um e-mail...
Sexto Ensaio - 08 de julho de 2015 .............. 347 – Não estou entendendo...
– Ele está finalizando um livro sobre o
Núcleo de Teatro Experimental...
– E?
Posfácios de um Teatro ........................................... 381 – Ele me convida para apresentar o livro...
– E?
– Preciso conversar com o diretor...
– Mas, se leste o livro, sabes que não sou
mais o diretor.
(faço de conta que não ouço e continuo)
– Quando aceitei o convite, pensei que
poderia fazer comentários sobre um texto. Algo
que estou um tanto habituada no trabalho
acadêmico. Talvez pudesse falar de sua
aposta conceitual, da pesquisa documental
realizada, das várias entrevistas, da utilização
de diferentes tecnologias usadas tanto para O modo-escrita que retoma o modo-
organizar e tornar acessível o material como teatro; a reedição dos Jogos de Teatro, Texto,
também para interagir com participantes e Interpretação e Técnica nas Artes Cênicas:
futuros leitores/internautas... Mas quando JOTE-Titac; a interação no blog...
navegava pelo texto, pelas imagens, pelo blog, – A questão é a ação.
14 pelos vídeos, pelo acervo, fui sendo tomada pelo – Esse chileno, Francisco Varela, diz que
15
modo-teatro, pela experiência-NuTE. nossa educação está mais ligada ao know-
– É, o teatro costuma fazer dessas coisas... what, ou seja, o saber o quê. Um saber falar,
– Algo difícil para quem escreve é manter o saber mais declarativo, focando os conteúdos
processo no produto. Geralmente os produtos, mais do que os processos. Em contraponto,
os textos, costumam perder a vitalidade da coloca o know-how, o saber-fazer, saber operar,
experiência. Costumam se constituir em o enaltar.
calhamaços teóricos repetitivos, seguidos ou – Mas os acadêmicos gostam de saber-
não por descrições que tentam representar falar...
uma realidade já dada. Tudo se passa como se – Concordo. Sabes o que mais admirei no
o pesquisador-escritor pudesse produzir um modo como diriges, tal como o Édio nos conta?
relato – o mais neutro e o mais próximo possível É que não te deixas capturar e sabes como
de uma realidade que já aconteceu. Mas o Édio fazer-produzir, como “fazer-saber” como diz
entrou em ressonância com o modo NuTE de um colega carioca, o Eduardo Passos. O que
produção. Como diz o biólogo Francisco Varela, não é nada fácil, manter a paixão sem boicotar
um modo de conhecer enaltado, encarnado... os processos, sem boicotar a criação, a vida.
– Lá vem você com filosofia também... Esse é um desafio crucial a quem se coloca na
– Cognição. O legal que esse biólogo função de ensinante. Propiciar ferramentas
cognitivista chileno e seu professor, Humberto para a produção e não para a repetição. Poder
Maturana, falam que nossa fonte para acompanhar processos que escapam das mãos
qualquer explicação é a experiência. Aquilo que de quem ensina, pois são sempre autoprodução
chamamos de explicação é uma retomada da e produção de mundos... Então aprendemos
experiência, passível de ser compartilhada. com nossos alunos, um ensinante é também um
Uma experiência que se dobra sobre si aprendente. Talvez seja essa uma das paixões
mesma e que é capaz de continuar produzindo dos ensinantes, continuar sempre aprendendo.
efeitos de si e de mundo. Existem várias dobras – E desaprendendo...
nessa produção do trabalho do Édio com o – Isso. Como é paradoxal a capacidade de
NuTE. aprender, não? Somente estamos abertos à
aprendizagem à medida que desaprendemos manter em tempos onde tudo é transformado
modos anteriores de viver, de pensar... O em mercadoria para consumo, onde se valoriza
mesmo acontece em relação à memória, como o substantivo e não tanto o verbo. Mas estamos
nos diz Édio: “é preciso esquecer para tentando aprender a produzir sem sucumbir
conseguir tomar fôlego e continuar vivendo” aos ditames do produtivismo. Como vocês,
16 (atual p. 22). Talvez esse seja um efeito sutil de como o Édio, fazendo verbos dos substantivos. 17
combate contra o ressentimento que pode advir – Cleci, você está falando que adorou isso,
das pequenas tragédias pessoais que vivemos aquilo… Tem alguma crítica?
cotidianamente. Esquecer, desaprender para – Talvez, em alguns momentos, a vontade
seguir aprendendo, seguir produzindo e de falar ainda prevaleça sobre a experiência.
autoproduzindo-se. Mas, como você mesmo diz, esse é um mal dos
– Tal como os ensaios em 2015? acadêmicos. Eu também já falei muito... Por
– Outra aprendizagem do modo- isso, pensei em conversar contigo para saber
teatro? Continuar a tragédia sem drama como tomo parte nesta experiência.
ou ressentimento. No combate. Adorei essa – Acho que você já está nela...
brincadeira com o tempo. Um modo de contar a
(nesse momento recebo uma chamada no
história sem saudosismo. “Naquele tempo isso,
celular)
naquele tempo aquilo...” Atualizar a história,
fazendo-a e ainda por fazer. Esse jogo faz com – Oi Cleci.
que aqueles, como eu, que “pegam o bonde – Oi Édio.
andando”, não se sintam um “peixe fora d’água” – Tudo bem?
(isso é uma homenagem à Tainha). Estamos – Tudo. Estou conversando com o Alexandre,
sempre pegando o bonde andando pois, como para compor a apresentação...
vocês nos contam, estamos sempre no meio.
– Joia! Ele te falou do coletivo OpiopticA:
Não somos o começo, o princípio de nada. Tudo
www.opioptica.blogspot.com e de projetos como
o que estão inventando nos convoca: “Vamos
o EletriXidade?
lá, leitores/internautas, ainda é tempo NuTE,
de outro modo, do modo como possamos fazer”! (talvez o Édio tenha feito essa referência
porque conhece meu trabalho sobre tecnologias
– Essa é a ideia do work in progress...
e cognição)
– Eu tenho usado verbos no gerúndio
– Acho que não dei muita chance a ele...
para nomear meus trabalhos de pesquisa.
Justamente para dar essa ideia de “se – Alexandre, o Édio está me falando do
produzindo”, tal como o work in progress. EletriXcidade...
Embora essa aposta seja uma posição difícil de – Era justamente nisso que eu estava
trabalhando no momento que chegastes... Prefácio a uma filosofia
– Podes me contar um pouco mais? Eu me
interesso por esses causos.
– Vamos tomar um café? Celso Kraemer*

18 – Pode ser em 2012, Alexandre? 19


Saímos para um café. Escrever á uma arte. A arte não pertence à
escrita. É a escrita que pertence à arte. O termo
maior, que abriga inúmeras outras formas de
desvelamento, é a arte. Esta deve ser tomada em
sua noção mais ampla. Por isso, talvez, menos
nítida. Menos evidente. Mas é por intermédio
dela, a arte, que algo advém ao ser. Vir ao ser.
Tornar-se algo aí. Poder ser percebido como real
por aqueles que já estão aí. Que já são entes
reais. Se nada mais viesse ao ser, do irreal para
o real, nosso mundo restaria na mais pura
repetição mecânica do mesmo, o eternamente
nada mais além do já determinado, do já aí,
ruína do encanto, perdição no nada mais ser.
Fazer algo vir ao ser é algo ambíguo. Muito
ambíguo. Mais ambíguo do que nós gostamos
de pensar. Por um lado, fazer algo vir ao ser é o
labor do homem, pelo pensamento e pelas mãos.
É o homem, nesse sentido, que é a condição
possibilitadora para que algo (novo) venha ao
ser. Há certa tranquilidade para aceitarmos
que é a criatividade humana que faz algo vir
ao ser. Criamos coisas. Criar coisas não é o
* Cleci Maraschin é professora do Instituto de Psicologia da
mesmo que fazer algo vir ao ser?
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trabalha como Se fazer algo vir ao ser se explicasse pela
docente e orientadora em dois programas de Pós-Graduação
da mesma universidade: Programa de Pós-Graduação em Psi- simples criação do homem, então não seria um
cologia Social e Institucional e Pós-Graduação em Informática
da Educação. Pesquisadora CNPq. Temas de pesquisa: Tecno-
vir ao ser. Seria um puro criar. Um estranho
logias e Cognição. acontecimento em que, do nada, viria algo. Do
vazio do homem, que não explicita de onde a obra e o artista que, conjuntamente, nos
ele mesmo proveio, viria algo. Impossibilidade advém. Creio que nada nos impede de pensar
teórica para qualquer forma de raciocínio. Do esse verdadeiramente originário, donde provém
nada, nada se cria. simultaneamente artista e obra, da mesma
Então, o criar não é um simples criar. Criar é forma que pensamos a relação originária da
20 fazer vir ao ser. E nisto se mostra a ambiguidade obra que advém do artista e do artista que advém 21
do acontecimento artístico. A criação, pela arte, da obra: a arte, ao advir, traz ao ser a obra e
é um provir de. Esse de é mais do que o nada. o artista. Quer dizer, então, que obra e artista
Temos então a duplamente, ou triplamente, advém de algo mais originário que ambos. Mas
enigmática questão: donde provém isso que devemos considerar, mais profundamente: o
nos advém por intermédio da arte? Por outro isso que advém, ao advir, modifica a si mesmo,
lado, isto que advém modifica-se, em seu ser, tornando-se algo inédito, mas modifica também
no momento que nos advém, ou permanece aquilo de onde, o originário do qual advém.
semelhante ao que já era antes de advir? Além Nessa dinâmica criadora, o todo se renova,
disso, o Originário donde advém o algo através torna-se continuadamente outro em relação a
da arte, modifica-se, em seu ser, no momento si mesmo. Portando, no todo não há novo nem
em que algo sai dele para advir? velho. Tudo está sujeito, indefinidamente, ao
Pensemos o artista, não como O Sujeito vir-a-ser, um devir criativo, ao modo criador da
Supremo de onde a arte provém. Pensêmo-lo, arte.
antes, como parte do processo originário de Creio que agora desvelou-se, não a arte
onde a arte provém. Como bem disse Martin como tal, mas uma de suas características
Heidegger, pensando acerca da Origem da fundamentais. A arte é uma dinâmica criadora
Obra de Arte, o que faz o artista é a obra. Não do próprio ser.
há artista se não houver obra. O Artista advém Dito de modo ainda mais preciso, o ser é
artista conjuntamente com a obra. A Obra, dinâmico em sua natureza artística. Este não
portanto, não é simplesmente uma criação do é um raciocínio belo, com objetivo de apenas
artista; nem é, a obra, produtora de si mesma. embelezar o modo de pensar. Ao contrário,
Muito antes, a obra é produtora do artista. esse movimento feito no interior do próprio
É a obra que faz o artista. Igualmente, não há pensamento é um mergulho na natureza
obra sem artista. Assim, é o próprio artista que própria do raciocinar.
se faz obra e a obra que se faz artista. O raciocínio, visto dessa forma, não é um
Isso não resolve a triplamente enigmática exercício formal, amparado unicamente na
questão. Ao contrário, apenas nos expõe a algo lógica. No raciocinar nãose formaliza uma
que seria o verdadeiro originário, donde provém verdade já pronta e ainda não visível à mente.
Mais profundamente, o raciocínio é uma forma, nunca é A Verdade, por isso, jamais o teatro é
também, de arte. Pelo raciocínio, algo mais falso, pois ele não pretende desmentir outras
originário que o próprio raciocínio advém ao representações. Cada peça, cada cena, cada
ser. O pensamento não é o criador absoluto, a grupo ou companhia de teatro pretende-se
partir do nada. Ele é aquilo através do qual algo ser mais um em meio à multiplicidades de
22 mais originário advém ao mundo, tornando-se apresentações possíveis. Em si mesma, cada 23
ser. uma delas é criadora no ainda não aí. Cada
Podemos, agora, conceber o que significa uma delas deixando algo vir ao ser. O teatro
dizer que a escrita é uma forma de arte. No não é mentira por não pretender a verdade,
gesto, no movimento, no exercício de escrever, mas satisfazer-se em deixar o ser vir ao real por
semelhante ao exercício de pintar, de raciocinar, intermédio do labor da alma humana.
de cantar, de construir, de encenar, produzir Assim, o modo de o Édio manejar a escrita
teatro, algo advém ao ser. A escrita, semelhante aproxima-se delicadamente do trabalho do
ao raciocínio, não mostra algo já constituído, próprio real que ele se encarrega de recolher e
uma verdade já acabada. A verdadeira escrita, apresentar. Mas o Édio sabe, desde o princípio,
aquela que não se resume à transcrição de que a história do teatro, enquanto efetividade
textos já prontos, é criadora. O que ela cria? O do acontecimento, já veio ao ser. Já está
Ser. Também na escrita algo de originário vem inscrito no real. Sabe também que a História
ao ser, se faz aí com o homem-mundo. que ele agora escreve, não se resume a contar o
Podemos visualizar, por essa pequena que aconteceu. A Historiografia, enquanto um
fresta que as linhas acima abriram ao nosso gesto de escrita, é, semelhante ao teatro, um
entendimento, a íntima relação que o trabalho gesto criador. Criar e Doar. Através da escrita,
do Édio tem com a Filosofia e com o Teatro de continuadamente, algo vem ao ser.
que ele quer tratar com seu livro. O livro que se segue é uma obra de arte que
O teatro, uma forma de arte, produz ser. O reúne uma história, mas não passivamente.
ser do teatro não se esgota na representação. O livro, enquanto criação, deixa ver algo da
Mais fundamentalmente que isso, o teatro intimidade da alma do homem. Nas linhas
desvela a verdade do homem: um ente por pelas quais o texto se mostra, algo muito mais
intermédio do qual o ser advém ao mundo. O íntimo e profundo do que o próprio texto se
teatro é, nesse sentido, uma das formas mais mostra ao leitor: a verdade criadora da arte,
belas da arte. Talvez nele a arte se manifeste seja da representação, seja da escrita, seja do
em sua forma mais íntima: ele cria o ainda não cultivo da amizade, seja de uma roda de amigos
aí. A apresentação teatral é um faz de conta com uma cerveja, um vinho. O livro, ainda,
verdadeiro, em que a verdadeira representação nietzscheana ou deleuzeanamente, mostra
o devir criativo que nos faz ser, sem nunca Prefácio a um Teatro
mostrar-se totalmente, sem nunca ocultar-se
totalmente, mas num jogo de criar a si mesmo
na beleza criadora do homem. Neste livro, o
*José Faleiro
teatro se faz história e a história se faz teatro,
24 num gesto recíproco de criar e doar. 25
Quando, em outubro de 1986, cheguei a
Blumenau, quis inteirar-me da atividade teatral
existente na cidade. Vi, então, espetáculos
de Alexandre Venera dos Santos e de Wilfried
Krambeck. Fui logo atraído pelo trabalho
consciencioso, responsável, cuidadoso e
íntegro que apresentavam. A anomia serena,
nada panfletária, nada verbosa, nada militante
de Alexandre; mas radical, vivida, logo
provocou simpatia em mim. Com seu espírito
metódico, Wilfried organizava uma estrutura
que “dialogava” — como se diz hoje — com a
prática artística do primeiro, para a qual este
contava com as dependências suntuosas do
Teatro Carlos Gomes (TCG), “grande castelo
isolado bem no centro daquela cidade”, dotado
de um palco giratório (“uma grande roda
horizontal”), e de “uma forte luz proveniente de
todos os lados” . Isso também era fascinante:
em contraposição às instalações que, na época,
a FURB possuía para o seu curso de teatro, a
amplitude do TCG permitia respirar e sonhar
com altos voos. Todas as dependências do
“palácio” pareciam estar à disposição daquele
pequeno grupo de jovens interessados em
explorar cada recanto (corredores, camarins,
* Celso Kraemer é professor de filosofia junto ao Departamen-
to de Ciências Sociais e Filosofia, do Centro de Ciências Hu- salas, biblioteca, bar, palco...) do prédio, e em
manas e da Comunicação e no Programa de Pós-Graduação,
Mestrado em Educação da Fundação Universidade Regional de
captar cada significado daquela atividade que
Blumenau (FURB). se propunham a experimentar, a exercer.
Por esses encontros e pelos que tivemos falta de informação. Por absoluta necessidade.
na Comissão Organizadora do 1º Festival O NuTe era tonificante, tonificado por seu
Universitário de Teatro de Blumenau (que regente. O que levava os atores a produzirem
coordenei com a colaboração valiosa e este ou aquele gesto, ter esta ou aquela atitude
imprescindível de tantos amadores da arte em cena? Quais eram as fronteiras entre fazer
26 dramática), do final de 1986 a julho de 1987, qualquer coisa ou fazer algo “elaborado”, “bem 27
Alexandre e eu tivemos a oportunidade de pensado”, “consciente”? Sacudido, o espectador
conversar muito sobre teatro e sobre a sua poderia perguntar, a outros e a si mesmo:
relação teórica e prática com o tema. Havia nele “Isso é válido?”, “Não é válido?”, “É teatro?”,
abertura para uma reflexão que levava à ação, “Não é teatro?”, “Qual a diferença entre isso e
que não conhecia hiato entre conceber e realizar. qualquer coisa?”... “Na ânsia de experimentar,
Seu métier, seu ofício, fluía. Suas inquietações tudo é possível?”... Às vezes me restava a
não se prendiam a um modismo. Nunca tive perplexidade. Mas sempre apoiei aquele grupo
a impressão de que sua forma de fazer teatro de pessoas que se entregavam a um ofício com
quisesse romper com o que fora feito antes ou tanta coragem, prontidão, vontade, alegria,
com uma forma obsoleta de fazer teatro que seriamente, com prazer, porque amavam o
devesse ser combatida. Ele estava atento ao teatro com entusiasmo, porque queriam fazê-
novo, sem dúvida. Mas a generosidade criativa lo e o faziam sem o excesso de consideração
que o animava e o seu universo artístico e vital e de deferência que tolhe, que paralisa, que
eram tão grandes, o fluir de sua arte era tal entorpece a ação. Às vezes, retraído, Alexandre
que ele se expressava por uma necessidade: gostava, porém, de mostrar seus trabalhos,
fazer teatro era para ele uma ανανκη [ananke], queria que fossem vistos e discutidos. No 2º
uma necessidade, algo que não podia não ser. Festival Universitário de Teatro de Blumenau
Se ele desestruturava a narrativa; se se voltava (FUTB) conseguiu apresentar um espetáculo
para o fragmento, para as formas breves, para seu, o que esperava ser feito desde o 1º Festival.
a (aparente?) falta de unidade; se aumentava Os participantes do NuTE tinham vontade de
o tamanho de objetos em cena ou os tornava respirar arte, dela se nutrir e se embriagar,
insólitos em seu uso; se incluía composições viver imersos nela, conversar sobre ela (apesar
musicais supostamente em descompasso com de haver muitas interrogações, na época de sua
a situação; se levava os atores a agir em cena fundação, sobre o benefício que o FUTB traria
de modo não figurativo, não mimético; se tinha para os grupos locais, creio que o número
um domínio inabitual da iluminação; parece- de espetáculos vistos, palestras e debates
me que assim fazia porque assim lhe vinha o assistidos, conversas de bares e corredores
teatro, assim lhe vinha o modo de viver, e de ocorridas permitem responder que o Festival
viver teatro. Não por incultura, ingenuidade, foi benéfico para os grupos blumenauenses).
Se, por vezes, iconoclasmo havia, não era por Wilfried, se não me falha a memória; com meu
cálculo. Era por querer experimentar, por ter acordo) do curso que ministrei, sorri diante
desejo veemente de encontrar suas respostas de certo caráter enciclopédico. De fato, ele
às suas perguntas. Essas respostas não se tinha um aspecto teórico (nos sentávamos em
apresentavam de forma unívoca: abriam-se torno de uma grande mesa, confortável), mas
28 para uma polissemia que era cultivada por também prático, com o corpo e a voz-do-corpo 29
todo o grupo e por seu condutor. O sentido se circulando pelo espaço. Além disso, fazíamos
construía na ação, para a equipe do NuTE, e na experimentações de cenas, no palco do grande
contemplação ativa, para o espectador. auditório — um Auto da Barca, de Gil Vicente,
Será que a memória me faz idealizar? por exemplo, com a utilização de cordas
Penso que não. Seja como for, quando revejo quilométricas, intermináveis, que figuravam o
internamente o trabalho teatral do NuTE, cais do porto... Havia ainda leituras de textos
sobretudo o que antecede a apresentação para que eu traduzia. Lembro de ter traduzido Los
o público ou o realizado no intervalo entre um Olivos, de Lope de Rueda, de ter gostado da
espetáculo e outro, o que me vem à mente, tradução e de não ter ficado com nenhuma
cópia dela (ainda não tínhamos computador).
prazerosamente, são corredores encerados,
ocupação dos mais diversos locais, caminhadas O NuTE representou para mim um momento
por noites frias para chegar, pela ponte pênsil, de intensa e rica convivência humana e
à rua Amazonas ou, mais tarde, à rua São José, artística. Momento de ensinar e de aprender;
de compartilhar e de receber. Um mo(vi)
satisfeito após horas de fecundas atividades.
mento tão forte assim não morre, não acaba:
Lembranças de um questionamento constante
pulsa latente, fica vivo de outro modo. E pode
sobre teatro, recordações de uma vontade de
ressurgir, como agora, com a cartografia que
ler, de devorar informações e de assimilá-las
Édio Raniere desenha neste livro-espetáculo
na ação, por parte dos integrantes do grupo.
ou espetáculo-livro sobre o NuTE. Ele me
Lembranças de uma convivência deles entre desnorteia, estarrece, perturba, como acontecia
si e com a sua arte. Teatro como “Versuch”, com os espetáculos do grupo. Édio encontra o
como tentativa, ensaio. “Um ensaio de esforços tom (ou um dos modos possíveis, já que não
fragmentários”, como diria Kierkegaard na há uma verdade única) para falar do NuTE.
epígrafe escolhida por Gerd Bornheim para Fala “nuteanamente” do NuTE. À la maneira de
um escrito deste último. Minhas lembranças Júlio Cortázar, de O Jogo da Amarelinha, de 62
são fragmentárias, mas alguns momentos de – Modelo para armar, ou de O Livro de Manuel,
espetáculos permanecem muito vivos dentro de Raniere convida o leitor a ter a liberdade de
mim. Ao ler a lista de conteúdos (redigidas por andar pelos corredores, pelas bordas do texto,
pelos seus meandros, a sair e a voltar sem medo de que a obra do Núcleo Experimental de Teatro
de experimentar. de Blumenau, que teve mais de dezoito anos
Tanto o NuTE quanto Édio querem “criar e de atuação profícua, continue a insuflar vida
compartilhar”. Aqui o sentido pode ser produzido em todos aqueles que amam o teatro e querem
também pelo leitor. Na forma dialógica ou partilhá-lo com seriedade e prazer.
30 assumindo a primeira pessoa, remetendo 31
à internet ou trazendo o seu conhecimento
aprofundado de vários pensadores, citados
com pertinência e sem alarde, pesquisador
corajoso e consistente, Édio Raniere escolheu
um tema com muitas ramificações e soube
tratá-las com pertinência, num exercício de
estilo de valor literário e científico. Ele cria uma
obra dinâmica, séria e divertida, documentada.
Jogando com a ficção e a realidade, ele des-pista
uma história linear e alia o texto a imagens e
a sons, questionando constantemente a sua
própria produção, na qual o olhar do autor
sobre os fatos promove uma construção do
sentido que não é totalizante, que não quer ser
a única possível, e que, como as gotas de uma
cachoeira, tecem uma unidade consistente,
ainda que sempre em movimento. O texto
impresso, ao se espalhar pelos labirintos
do “www”, põe em contato com documentos
valiosos que, assim, estão salvos da perda e do
esquecimento, e permitirão estudo e fruição do
tema por outras pessoas.
Nos hospitais, a linha reta dos aparelhos que
medem a atividade cardíaca indica a cessação da
vida; a sua oscilação, ao contrário, é esperança
de vida. Pujante, lúdica, com a oscilação José Ronaldo Faleiro é professor do Programa de Pós-Gradu-
característica da vitalidade, NuTE: Cartografia ação em Teatro (Mestrado e Doutorado) — UDESC. Doutor em
Artes do Espetáculo pela Universidade de Paris VIII/Nanterre.
de um teatro, de Édio Raniere, dá esperanças Professor-pesquisador no DAC/PPGT/UDESC.
Prólogo
Ao iniciar esta cartografia sobre meu herói,
acho-me tomado de certa perplexidade. Ei-la:
33
embora chame NuTE de meu herói, eu mesmo,
porém, sei, todavia, que ele nada tem de grande
e, por isso, prevejo perguntas inevitáveis como
essas: em que seu NuTE é digno de nota, por
que o escolheu como seu herói? O que lhe deu
esse destaque? A quem chega sua fama e por
quê? Por que eu, leitor, devo perder tempo
estudando episódios de sua vida?
A última pergunta é a mais fatídica, pois só
posso responder: "Talvez o senhor mesmo note
isso a partir da leitura". Mas e se lerem e não
notarem, não concordarem com a notoriedade
de meu NuTE? Digo isso porque o prevejo com
pesar. Para mim, ele é digno de nota, mas duvido
terminantemente que consiga demonstrá-lo ao
leitor. O caso é que, talvez, até se trate de um
revolucionário, mas um revolucionário indeciso,
indefinido. Pensando bem, seria estranho exigir
clareza das pessoas numa época como a nossa!
Uma coisa, é de crer, fica bastante evidente:
trata-se de um estranho, de um excêntrico até.
No entanto, a estranheza e a excentricidade
mais prejudicam que permitem chamar a
atenção, sobretudo quando todo mundo
procura unir particularidades e encontrar ao
menos algum sentido comum na balbúrdia
geral. Quanto ao excêntrico, o mais das vezes é
uma particularidade, um caso isolado. Não é?
Mas, se os senhores não concordarem las sem qualquer solução. É claro que o leitor
com essa última tese e responderem: “não é perspicaz já percebeu, há muito tempo, que
assim” ou “não é sempre assim”, é possível que desde o início eu vinha dando esse rumo à
eu até crie ânimo em relação à importância de coisa, e apenas se afligia comigo, perguntando-
meu herói NuTE. Porque não só o excêntrico se por que eu gastava à toa palavras estéreis
34 “nem sempre” é uma particularidade e um e o precioso tempo. Já tenho uma resposta 35
caso isolado, como, ao contrário, vez por outra pontual: gastava palavras estéreis e precioso
acontece de ser justo ele, talvez, que traz em si tempo, em primeiro lugar, por admiração à
a medula do todo, enquanto os demais viventes D. e, em segundo, por astúcia. Vamos, seja
de sua época – todos, movidos por algum como for, eu preveni de antemão. Alias, até me
vento estranho – dele estão temporariamente agrada que minha cartografia tenha se dividido
afastados sabe-se lá por qual razão. em duas narrativas, fragmentando a “unidade
De resto, eu não me meteria nessas essencial do todo”. Ao tomar conhecimento
explicações confusas e desinteressantes, e de uma delas, o leitor-internauta se decidirá:
começaria pura e simplesmente sem mais valerá a pena passar à outra? É claro que
preâmbulos. Se gostarem, acabarão mesmo ninguém está tolhido por nada; pode largar o
lendo; o mal, porém, é que cartografia eu tenho livro na segunda página, pode sair do blog sem
uma, mas narrativas, duas. Ambas se cruzam nada – fotos, vídeos, entrevistas – experimentar.
e se complementam. Arriscaria até que uma Acontece, porém, que há leitores delicados,
não acontece sem a outra. A primeira narrativa que forçosamente desejarão ir até o fim para
acontecerá em 2015; ano em que meu herói não se enganar em sua apreciação imparcial;
retornará ao teatro. A outra vem acontecendo assim são alguns leitores que conheço. Pois
in progress desde 2009, pela web. Prescindir de é. Perante esses que fico com o coração mais
uma das narrativas é impossível, porque muita leve, apesar de tudo; a despeito de todo seu
coisa sobre meu herói ficaria incompreensível. esmero e sua honestidade, dou-lhes, todavia, o
Mas, dessa maneira, minha dificuldade inicial mais legítimo pretexto para largar o relato já no
se agrava ainda mais. Se eu mesmo, isto é, o primeiro episódio que encontrarem, virtual ou
próprio cartógrafo, acho que uma só narrativa impresso.
já é, talvez, um excesso para um herói tão
Bem, eis todo o prólogo. Concordo
modesto e indefinido, então como é que vou
plenamente que isso é excessivo; mas, como já
aparecer com duas, e como explicar tamanha
encontrei escrito, que fique.
presunção de minha parte?
E agora, mãos à obra.
Atrapalhado com a solução de
semelhantes questões, decido-me por deixá-
Foto: Acervo NuTE
37

cena do espetáculo ’águas de cima para baixo’.


da esquerda para direita:
pedro dias, carlos crescêncio.
PRIMEIRO ENSAIO – 01 DE ABRIL DE 2015 PRIMEIRO
ENSAIO

Quarta-feira Intempestiva
(...) aproximadamente 15h30min 39
Imagem Insistente: Replay
1 O teatro pós-dramá-
tico.

2 Conforme Suely Rol-


nik in Cartografia Sen-
timental, “Para os ge-
-Absurdo! Isso aqui é absolutamente... ógrafos, a cartografia
(...) é um desenho que
– fumando, Alexandre Venera balançava a acompanha e se faz ao
mesmo tempo que os
cabeça em tom negativo. O texto, em sua mão movimentos de trans-
esquerda, sofria o dorso da outra, indo e vindo formação da paisagem.
Paisagens psicossociais
aos petelecos; o restante do grupo assistia também são cartografá-
um tanto impressionado, um tanto entediado, veis. A cartografia, nes-
se caso acompanha e
ao desenvolvimento do conflito dramático, se faz ao mesmo tempo
que o desmanchamen-
já que, segundo Lehmann, esse recurso vem to de certos mundos
sendo, progressivamente, elidido do teatro - sua perda de sentido
- e a formação de ou-
contemporâneo1. tros: mundos que se
criam para expressar
– Você não gostou? afetos contemporâneos,
em relação aos quais
– Cara, você é muito teimoso; quantas vezes os universos vigentes
tornaram-se obsoletos.
já te falei que não existe esse troço de Seu Sendo tarefa do cartó-
NuTE? grafo dar língua para os
afetos que pedem pas-
– É só um recurso dramático, Venera... Que sagem, dele se espera
basicamente que esteja
me ajudou a cartografar a história2. Dá mais mergulhado nas inten-
sidades de seu tempo
vida, brinca com o problema da identidade; é e que, atento às lin-
um conceito que venho trabalhando desde O guagens que encontra,
devore as que lhe pa-
Jardim das Ilusões. recem elementos possí-
veis para a composição
– Tá, mas você escreve sobre um herói. das cartografias que se
fazem necessárias. O
Como se resolve isso cenicamente? cartógrafo é antes de
tudo um antropófago.”
– Não sei, talvez possamos contar um pouco
da tua história pessoal, da mesma forma como – Mas você está me ofendendo, é óbvio que PRIMEIRO
eu fiz no... eu indico o nome do autor. ENSAIO
– Pois esse é que é o problema. – cortando. – Onde? Onde está escrito que esse trecho
– É um herói modesto, nada de mais. – risos que acabamos de ler é a abertura de Os Irmãos
contidos e nervosos. Karamázov, onde está escrito que o verdadeiro
40 autor é Dostoiévski e que a tradução que você 41
– Nem modesto, nem meio modesto. Não,
não dá! Eu não dirijo porra de espetáculo utilizou é de Paulo Bezerra? Agora, se for uma
nenhum sobre historinha familiar, seja a colagem, onde estão os outros textos? Você
minha, a da tua tia ou da mãe do prefeito. utilizou apenas um texto original modificando
Além do que, o NuTE é um coletivo, isso aqui pequenos fragmentos.
não tem cabimento, eu não vou montar essa – Bom, talvez se trate, então, de uma
merda. – jogando o roteiro no chão e fazendo acoplagem, ou de uma acoplagem de fragmentos,
menção de abandonar o ensaio. não sei bem ainda...
– Tudo bem! Calma. Deixa eu explicar um – Olha, Édio – Venera retoma – semana
pouco melhor. – Venera acende outro cigarro, passada, quando você esteve lá em casa, eu
olha para o lado. Wilfried Krambeck toma a comentei contigo que fiquei muito contente, e
palavra: honrado até, com teu esforço para escrever a
– Eu concordo com Alexandre, acho que história do NuTE; mas eu nunca imaginaria
não podemos montar um espetáculo que inicia que você iria forçar a coisa desse jeito. Você
sobre um plágio, vamos acabar respondendo sabe que estou distante do teatro há um bom
por isso... tempo, que depois de tudo o que aconteceu eu
– Plágio? não podia mais voltar; na verdade, nunca tive
– Não é plágio, chama-se colagem. Heiner a menor vontade de voltar. Eu estou aqui hoje
Müller utilizava, o próprio NuTE fez alguns com o grupo porque vocês me pressionaram
experimentos, trata-se de uma colagem. É o muito. Por vontade própria não viria. Vou te
método da colagem.
falar uma coisa: só tem um jeito de a gente
– Colagem? Mas que colagem, você utilizou continuar com isso...
apenas um texto...
– Sim! É quase uma citação, mas funciona
com variações extremamente sutis, apenas o Um pouco de menos, senão não vai mais...
leitor mais atento percebe.
– Citação que não indica o nome do autor? Caro leitor, vamos diminuir um pouco a
Colagem que utiliza apenas um texto? Desculpe, velocidade. Como alguém que sobe galopando
eu não conhecia esse estilo. uma montanha e, agora, contemplando os
quilômetros percorridos, se esforça para licença para utilizar um formato gramatical PRIMEIRO
encontrar, entre as pedras, lá embaixo, uma não condizente com o período em questão; o ENSAIO
trilha; como alguém que dança freneticamente passado, aqui, servirá como mero ponto de
madrugada adentro e num rodopio se dá apoio, nada mais. O passado como um lugar
conta de que dentro de algumas horas estará seguro de onde se pode partir e, ao mesmo
42 dormindo, iniciando sutilmente a preparação; tempo, um porto aberto sempre à espera. 43
como um solo de guitarra que atinge a nota mais Ah! Como são leves as conjunções do
aguda e procura por uma escala menor. Descer, pretérito imperfeito. Talvez justamente por ser
diminuir, respirar. Como um gato que no susto imperfeito. Cada vez mais me convenço de que
trepa o galho mais alto da árvore e agora quer a imperfeição é sempre mais bonita. Ao mesmo
voltar ao chão, mas não sabe exatamente onde tempo, sei que alguns leitores podem questionar
pisar; como alguém que trabalha de segunda tais utilizações dizendo que me bastaria
a sábado, obrigado a levantar bem cedo, e lá conjugar esta escrita no futuro do presente:
pelas tantas acorda num domingo. “fumando, Alexandre Venera balançaria a caro leitor,
São tantas coisas que preciso lhes contar, cabeça em tom negativo”. Formato que, além a maioria dos
tantas... Contar, por exemplo, dos espetáculos de confuso, não faz nenhum acoplamento com arquivos e
produzidos pelo NuTE, da escola de teatro, memória. E como se trata de... Puxa! É verdade, informações
do JOTE-Titac, de como foi que chegamos – eu já ia me esquecendo da memória... disponíveis em
ou melhor, que chegaremos a este primeiro links da internet,
ensaio em 2015. Acho que este ponto merece estão também
Memória diponíveis no
uma pequena explicação; eu prefiro utilizar,
musicalmente falando, as ressonâncias dvd multimidia
Em O Jardim das Ilusões3 me apoiei em ‘experimentando
gramaticais do passado, por hábito, por alguns conceitos-memória de Bergson, boa parte nute’, anexo a este
ironia ou para lhes proteger de frequentes desse livro funciona tendo Matéria e Memória livro. fique atento
estranhamentos. Por isso, na primeira frase da como engrenagem. Conservo a sensação de que ao ícone abaixo:
cena em questão, aparece “fumando, Alexandre aquele momento, na página 7, onde Bergson
Venera balançava a cabeça em tom negativo”, diz que o cérebro não armazena imagens
enquanto o correto seria dizer que “fumando, nem lembranças, continua produzindo bons
Alexandre Venera balançará a cabeça em tom agenciamentos, e por isso útil também aqui.
negativo”. Visto que hoje é 21 de abril de 2010 Não pretendo repetir toda discussão já realizada
e que estes ensaios acontecerão apenas daqui a em O Jardim das Ilusões; minha intenção em 3. ver o livro
cinco anos. Trata-se, portanto, de uma biografia avançar sobre esse ponto, em específico, é a disponível em
do devir. De um futuro próximo, é verdade, mas de permitir que você, caro leitor, compreenda, www.nute.com.br/
de um futuro. Dessa forma, quero lhes pedir jardim.pdf
de forma rápida e acessível, a concepção de
memória com a qual venho trabalhando e que linguagens múltiplas e múltiplas são suas faces. PRIMEIRO
estará nos atravessando durante estas leituras- Sem isso, sem esse mínimo, em uma pesquisa ENSAIO
escrituras-NuTE. como essa nada se coloca em movimento.
Quem vai nos ajudar dessa vez são dois Parece bastante óbvio que nosso cérebro
biólogos chilenos: Francisco Valera e Humberto não armazene palavras; mesmo assim, fomos
44 Maturana. Apesar de não citarem Bergson, 45
acostumados a imaginar uma gaveta de massa
chegam a conclusões bastante próximas desta cinzenta ôrganica, em meio a neurônios e
enunciada em Matéria e Memória. Tanto é que dendritos, acomodando expressões, frases
no segundo livro que escreveram juntos – A inteiras até. Dessa imagem cerebral, o que nos
Árvore do Conhecimento: as bases biológicas da resta é a atuação em rede da memória. Mas,
compreensão humana – a impressão que passa se as palavras não estão guardadas em um
é a de haver um aprofundamento da questão, depósito cerebral, como é possível a um ator
já que para Maturana e Varela não apenas as utilizar palavras para descrever sua experiência
imagens e as lembranças estariam fora, mas a nuteana? Ou, dizendo de outra forma, quando
própria mente. “(...) não é algo que está dentro um ator utiliza palavras, que não são dele,
de meu crânio. Não é um fluido do meu cérebro: para descrever seu passado nuteano, o que ele
a consciência e o mental pertencem ao domínio descreve? Quando esse ator nos conta o que lhe
de acoplamento social, e é nele que ocorre a parece ter sido o núcleo de teatro experimental,
sua dinâmica.”4. afinal, como ele faz isso? Como é possível
Pois que seja, mas e daí? – diria o leitor que essas mesmas palavras, que não estão
mais ansioso – Daí que no caso de uma depositadas dentro do cérebro do ator, sejam a
memória-NuTE, a memória possível de acessar, base de toda invenção de seu relato-memória?
a memória que, por mais esforço que vocês e
eu façamos, aparecerá nestas páginas, estará
mergulhada em palavras, imagens, sons, Organização, Delírio e Tempo
cheiros, cores, experimentações NuTE. Não
se trata de explorar o problema de uma forma O que atravessa nosso corpo, não apenas o
poética, como disseram alguns críticos sobre cérebro, mas o sangue, as artérias, as vísceras,
meu primeiro livro, mas de perceber que essa a pele, todo o corpo, é sempre uma atualização
memória que nos acostumamos a reverenciar do virtual. O transbordamento caótico dessa
como propriedade de um dentro, objetiva, linear passagem temporal exige uma organização. Para
e pronta para ser recuperada, não pertence lidar com esse constante desassossego somos
a um sujeito, ou ao dentro da consciência de forçados, não há como escapar sem enlouquecer,
4. página 256 alguns sujeitos. Que ela só funciona acoplada a a inventar sentidos. Contudo, mesmo o limite
da desrazão é meramente didático, já que organização desses abismos em nós através de PRIMEIRO
muitas vezes é justamente através da loucura dois grandes blocos de elaboração: ENSAIO
que o sujeito estabelece algum sentido. Para
Bergson5, esse tempo em nós é um movente e
Modo Forma Modo Força
único bloco. Não se pode dividi-lo, não se pode
46 recortá-lo em fases, períodos, identidades. O Aliviar Tonificar 47
tempo em nós é indivisível. A lembrança em Iludir Encarar
nós é permanente. Somos tudo a todo tempo, Distrair, Entreter Provocar, Fazer Experimentar
tudo o que experimentamos está, agora nesse Lucro Poder-Potência
instante, fazendo barulho: urros intermináveis
Fugir da Realidade Aceitar o Trágico da Vida
de incontáveis lampejos sutis. Cada pequena
Representar Enunciar, Apresentar, Inventar
memória está duelando com todas as demais
e essa guerra desenfreada e incessante, que
acontece mesmo enquanto você realiza essa Tais blocos permitem uma produção de
leitura, está a nos arrastar, cada um de nós, ao sentido à vida. Ajudam a passar o que pede
seu tempo, pela vida. passagem. Permitem ao corpo não desmontar,
Para lidar com esse excesso de memória auxiliam em sua organização, em sua invenção,
que somos, a natureza, em seu requinte de em sua produção de sentido em meio à
fazer a existência suportável, desenvolveu um caoticidade já inerente à vida e potencializada
mecanismo-verbo: esquecer. Se lembrássemos pelas atualizações do virtual.
de tudo a todo tempo a vida seria impossível. Dizendo de uma NuTE-forma, a história,
Ou seja, a função do cérebro, se é que ela o roteiro, a cronologia não passam de um
está realmente no cérebro, não é lembrar, delírio racional, uma organização imposta que
mas esquecer. Esquecer para poder existir. a consciência fabrica para criar sentido e não
Esquecer para poder experimentar a perpétua sucumbir, não desterritorializar em meio às
presentificação do passado. Esquecer um pouco, sensações que transbordam no corpo-escritura,
ao menos um pouco, pois a indivisibilidade no corpo-entrevista, no corpo-foto. O estatuto
do tempo que nos carrega não vai parar. É de verdade que muitos perseguem, seja na
preciso esquecer para conseguir tomar fôlego descrição histórica ou mesmo numa disciplina
e continuar vivendo, ou melhor, continuar científica como a medicina, só se atinge quando
esquecendo. uma determinada organização-delírio torna-se
Se fosse preciso falar de forma geral, a organização-delírio de muitos. Foi isso que
5. O Pensamento e
o Movente: ensaios e simplificando as coisas; assim numa estrutura “(...) Robison Crusoé entendeu muito bem ao
conferências.
bastante provisória, poderíamos dividir a manter um calendário e ler a Bíblia todas as
tardes, isso só é possível se nos comportarmos Primeiro: que o passado, o virtual, a memória PRIMEIRO
como se existissem outros, já que é a rede de que estou procurando, é real. ENSAIO
interações lingüísticas que faz de nós o que Segundo: que em sua forma pura, em seu
somos. Nós, que como cientistas dizemos todas em si, o passado permanece virtual.
essas coisas, não somos diferentes”6.
Terceiro: que meu corpo, ainda que
48 Ou seja, se a memória não habita um sutilmente, pode servir de ponte entre o virtual
49
espaço objetivo dentro do cérebro, de onde seria e o atual.
6. A Árvore do Conhe-
possível extraí-la com precisão, se a memória
cimento, p. 256-257 Quarto: que posso utilizar a escritura como
se espalha em complexos sistemas interativos
meio de conduzir atualizações desse virtual.
7.Em De Máquinas e sociais, ligados em rede, se a memória
Uma escritura que acaba sendo levada
Seres Vivos: Autopoie- depende sempre da memória dos outros para
se – A Organização do a se preocupar não apenas com aquilo que
Vivo, Maturana e Va- ter legitimidade, então tentar recuperar uma
rela explicam que “As aconteceu, mas com aquilo que o acontecimento
noções de aquisição de verdadeira memória, ainda mais quando de
fez/faz movimentar nos corpos das pessoas que
representações do am- um grupo, é no mínimo um trabalho fadado ao
biente ou de aquisição experimentaram o acontecimento.9
de informação sobre o fracasso.7
ambiente, em relação Assim, as observações-atualizações aqui
com a aprendizagem, Ou seja, um observador, por mais que se
não representam qual- esforce para descrever uma memória, tem sua expostas pretendem uma espécie de mapa-
quer aspecto do operar NuTE. Mapa de um passado-virtual que se
do sistema nervoso. O descrição regulada pelo domínio da observação,
mesmo vale para no-
e jamais atinge, portanto, o domínio das atualiza através das organizações-delírios de
ções tais como memó-
ria e lembrança, que operações, nunca conseguirá atingir os fatos um observador. Com razão, alguns leitores
são descrições feitas devem estar ridicularizando este processo de
por um observador de tais como acontecem e/ou aconteceram. Para
fenômenos que têm lu-
Deleuze, o virtual seria este inacessível onde, pesquisa. Ao mesmo tempo, acredito que os
gar em seu domínio de
observação, e não no entre outras coisas, ocorre o domínio das mais rigorosos podem aceitar alguns dos limites
domínio de operação que menciono, e entre estes os mais generosos
do sistema nervoso, e operações do ontem. Sendo o virtual aquilo
que, portanto, têm va-
que não nos é dado e o atual, em contraponto, provavelmente se perguntam: haveria alguma
lidade somente no do-
mínio das descrições, aquilo que nos é dado, podemos avançar sobre forma de melhorar isso? Como não depender
onde ficam definidas
nosso caso.8 apenas das organizações-delírios de um único
como componentes
causais na descrição observador para descrever essa história-
da história condutu- A história do NuTE que se tenta narrar
al.”, p.132. NuTE? A resposta parece ser bastante óbvia:
aqui está limitada ao nível de uma observação-
convidando outros observadores à escrita. Mas
atualização possível, visto que os domínios de
8. Esta definição de que escrita suportaria tamanha condensação?
suas operações, tais como aconteceram, não
Virtual e Atual se en-
contra mais detalhada estão acessíveis – passado inalcançável: NuTE- Eugenio Barba, em artigo intitulado Fazer
em O Vocabulário de
virtual. Dessa forma, quatro constatações Teatro é Pensar de Modo Paradoxal, diz que “(...) Raniere em O Jardim
Deleuze, de Zourabi- das Ilusões, 2007.
chvilli. importantes: o importante não era o sentido das palavras,
não era tornar o texto inteligível, mas torná-lo “(...) trata-se de criar um teatro em que a PRIMEIRO
interpretação do texto é atingida por uma
vivo.”10. Quem sabe, então, se essa escritura- ENSAIO
condensação extraordinária, incorporada pelo
NuTE fosse arrastada não a uma filiação, mas a ator, cujas reações fazem com que os espectadores
uma aliança com Eugenio Barba em seu modo descubram uma realidade totalmente diferente
da realidade que as palavras já continham
de trabalhar textos, roteiros, peças. Quem
50 sabe, com autorização dos pesquisadores mais
quando estavam no papel. É por isso que para
mim as palavras são essenciais. É a poesia do 51
clássicos, claro, pudéssemos tomar os fatos texto que devemos procurar. Mas poesia significa
condensação. É preciso encarnar esse texto
10. P. 14. históricos sobre o NuTE da mesma forma que
condensadamente (...) a finalidade última de todo
Eugenio Barba toma um texto-roteiro-peça. esse trabalho de técnica, de visão, é construir uma
Dando mais importância à intensidade do que relação viva com o espectador.”12
11. caro leitor, à inteligibilidade. Obviamente, os fatos são
você irá encontrar essenciais, mas seria preciso encarnar esses
a abreviação fatos condensadamente, diferente da sua Em busca de uma relação viva com o leitor
NuTE realidade. Confuso? Tentemos um exemplo: a
experiência do NUTe com sua Escola de Teatro11. Um livro não começa com uma página em
sempre que o texto Temos alguns fatos apontados por recortes de branco, mas sim com seus devires. Seres larvares
fizer referência ao jornais, fotos, eventos, programas, método de pululam. Frases larvares, parágrafos inteiros,
ensino, entrevistas e suas transcrições etc. cores-sons-cheiros, conceitos e desejos. Essas
Núcleo Contudo, como tornar viva essa experiência? larvas do vir a ser, esse download do ontem
de Teatro
Experimental, Como proporcionar a você, caro leitor, uma – já que nessa pesquisa há uma intenção de
escrita que esteja além da inteligibilidade e do descrever aquilo que aparentemente mora
bem como sentido das palavras? no passado – essa atualização de um virtual
Alguns deslocamentos são necessários. me parecem tão importantes quanto o livro-
NUTe
Se vamos trabalhar condensando várias resultado-final. Muito mais difíceis, contudo,
para escritas, este autor deixa de ter autoria sobre de frear, de conter neste papel-tela. De
a escrituração-NuTE. Visto que o que ele faz registrar, de possibilitar que você, caro leitor-
Núcleo de acaba se aproximando mais de uma direção, tal ator, experimente.
Teatro Escola. qual um diretor de teatro, do que propriamente Sei que preciso delas, sei que sem elas
de uma solitária composição privada. Os dificilmente atingiremos essa relação proposta
ambas as grafias acontecimentos serão deformados, quebrados, por Barba. Ao mesmo tempo, tenho tido a
eram adotadas estilhaçados para que deles se possa extrair impressão de que essas Larvas Palavras jamais
pelo próprio grupo potência, para que possamos descobrir uma obedecerão ao meu comando de parar. Talvez 12.Fazer Teatro é
com os mesmos realidade totalmente diferente da realidade que sejam nômades em um passeio infinito, não sei Pensar de Modo Para-
significados. o fato histórico já continha em seu virtual. ao certo ainda. Sim! Elas passaram pelo corpo
doxal, Eugenio Barba,
p. 15.

do NuTE, mas agora andam desgovernadas por Work in Progress não estava em seu roteiro PRIMEIRO
aí. quando se interessou por este livro. De certa ENSAIO
Dessa forma, talvez nossa única chance, forma você está correto, mas se eu puder
enquanto leitor/autor, seja aliar-nos com elas. contar com sua generosidade, peço que tenha
Se elas não me obedecem, mesmo sendo eu calma, e siga a leitura como lhe parecer mais
52 quem dirige esta escrita, ou justamente por agradável. Nas próximas páginas, você será 53
tentar dirigi-la, quem sabe possamos larvar- chamado a participar de uma conversa numa
nos e agenciar essa escritura-leitura a uma comunidade do Orkut, fica a seu critério fazê-
espécie de Experimentação de um Devir NuTE. lo ou não. Durante todo o livro, você será
Tento explicar um pouco melhor. convidado a acessar ao blog acima citado, bem
Durante a produção deste livro, fui expondo como a biblioteca Nutrindo13. Nesses espaços,
em nuteparatodos.wordpress.com seus você irá encontrar muitas das larvas que aqui
preparativos. Cada rascunho, cada conceito, tomaram forma de frases, parágrafos inteiros.
cada novo pensamento que me pedia passagem, Todas as entrevistas realizadas durante a
teve ali um território livre para circular, pesquisa estão transcritas, na íntegra, para
encontrar amigos, críticas, sugestões para se seu livre acesso. Quando você se deparar, num
esculpir, para se abandonar, para se refazer. dos Ensaios, com um recorte, como um trecho
À medida que o Acontecimento NuTE foi se de entrevista, por exemplo, não permita que
pronunciando, muitas das experimentações se nossa interpretação reduza seu entendimento
deram In Progress, em desenvolvimento, antes sobre o que foi o NuTE, baixe a entrevista no
desta edição/costura, desta formatação que blog e veja por si mesmo do que se trata. O
você, caro leitor, tem em mãos. mesmo procedimento serve aos documentos
Ou seja, minha tentativa agora – Progress in aqui fracionados, todos, sem exceção, estão
Livro in Progress – é permitir que um movimento disponíveis para sua consulta nessa biblioteca
larvar da pesquisa enuncie à sua leitura aquilo que criamos especialmente para hospedá-
12. a biblioteca
que o registro-freio tende a paralisar. los. Nos Segundo e Quarto Ensaios, você será
‘nutrindo’ conta,
Contudo, encontrei apenas uma forma de convidado a jogar, junto com os demais atores, atualmente, com
fazer isso. Convidando você, prezado leitor, a o Baralho NuTE. Aproveite, divirta-se. Monte mais de três mil
participar, melhor dizendo, a continuar este seu próprio espetáculo. No Terceiro Ensaio, documentos, e pode
Work in Progress. Por favor, não se assuste. você vai encontrar o Livreto Espetacular, onde ser acessada em
Talvez, num primeiro momento, você esteja ex-nutes compartilham suas experiências a www.nute.com.br
pensando que o papel de um leitor seja ler, respeito das principais montagens; neste mesmo
apenas ler, e que isso de ser empurrado para Ensaio, junto à cronologia dos 185 espetáculos
atuar junto aos demais atores de uma pesquisa encenados, você vai encontrar endereços/
links para assistir a apresentações, ensaios e fazer da vida uma obra de arte... PRIMEIRO
oficinas. No Quinto Ensaio virei pessoalmente Assim que tive em mãos o primeiro exemplar ENSAIO
lhe convidar, inclusive já comprei seu ingresso, de O Jardim das Ilusões, corri à Equipe Vira
gostaria muitíssimo de sua companhia para Lata com essa proposta. Para minha frustração,
assistir ao JOTE-Titac: Experimentando NuTE. baldes de água fria. Não obtive o entusiasmo
54 Por fim, para o Sexto Ensaio serão necessárias que esperava. Juntos, realizamos o lançamento 55
algumas cervejas. Recomendo que, desde já, o e, um ano depois, a publicação de Por Uma
prezado leitor as mantenha resfriando em seu Escrita Vira Lata – desdobramento de minha
freezer. pesquisa onde reúno a grande maioria dos
Passo agora a lhes contar como foi que textos escritos por Roberto Vergel, pseudônimo
chegamos ao nosso primeiro ensaio, como foi que Carlos Jardim utilizava para escrever.
que chegamos ao começo... Mas a imagem insistia. Parecia grudada em
minha respiração. Ao assistir um espetáculo,
sempre, ela retornava, ao dar um curso sobre
Um lugar onde se respira o antes do Prólogo Michel Foucault, ao ler Dostoiévski. Aos poucos,
fui me convencendo de que poderia escrever
Naquela tarde eu tive certeza, logo ao esse espetáculo-dobra. Alguns conceitos me
desligar o telefone, que O Jardim das Ilusões faltavam, e essencialmente um novo grupo
seria publicado. Gervásio Luz, emocionado de teatro. Comecei a me questionar: sobre
com o livro, transmitia a mim seu parecer quem valeria a pena pesquisar; que grupo me 14. A ação como um
positivo como conselheiro da editora Cultura todo levou semanas.
interessaria? Essa pergunta permaneceu por Desde a construção
em Movimento. Saí para sorrir ao sol. Não um bom tempo. dos objetos, passando
pelo lançamento dos
sei bem se um daqueles raios amarelados em Isso Não é Um Cocô14 foi uma intervenção objetos no rio Itajaí-
minha testa ou mesmo o recente falecimento de Açu, as filmagens, a
urbana de muitos. Entre eles, estavam Juliana edição e suas proje-
Carlos Jardim – turbilhão de imagens teatrais – Teodoro e Alexandre Venera. Em meio às ações ções. Nesse endereço
você pode assistir ao
não sei bem... Mas foi assim que esta obsessão de terrorismo poético, nos tornamos amigos. Lá vídeo que resultou das
começou. ações:
pelas tantas (eu estava um pouco embriagado, www.youtube.com/
Fui arrebatado por uma cena-imagem: um é verdade), foi no Farol Lanches, em Blumenau, watch?v=kknHIVUO-
NE
livro que, ao utilizar a estrutura teatral para resolvi contar a Alexandre o quanto o Teatro
descrever a trajetória de um grupo de teatro, da Terra, última fase do NuTE, havia sido
seria tomado pelo próprio grupo descrito como importante para mim. O quanto aquelas cenas
roteiro de seu próximo espetáculo. Espetáculo em meio à Floresta-Fazendarado continuavam
sobre si, dobra-cartográfica. Deleuze me presentes no que eu vinha ajudando a fazer de
sussurrava: Fazer da Vida Uma Obra de Arte, mim.
Num estalo, compreendi que o grupo que alguns meses se passaram e, como a tramitação PRIMEIRO
eu vinha procurando, há algum tempo, era o no Ministério da Cultura independe da ENSAIO
NuTE. Descrevi para Alexandre meu argumento empresa patrocinadora, acabamos recebendo
de pesquisa e ele, que também havia bebido um um Pronac. Ou seja, o projeto foi aceito, via
pouco, disse que era uma ideia genial. Lei Rouanet, caberia agora ao grupo conseguir
56 captação. Captação que contávamos fazer 57
(...) o Alexandre era um grande incentivador através do edital da Petrobras.
assim... Com tudo entrando em ebulição... Ele fazia Todo mundo que trabalha com cultura tem
a gente fazer. Um tremendo animador cultural no pelo menos três amigos que aprovaram projetos
melhor sentido da palavra, o Alexandre vibrava via lei Rouanet e que nunca conseguiram captar.
com essas coisas, os olhos dele brilhavam... “Vai O repasse feito via imposto de renda somente
lá, vamos fazer, tem que agitar, tem uma ideia pode ser dado por grandes empresas, as quais,
legal, faz”, e... Então empolgava muito a gente a geralmente, estão interessadas em atividades
produzir, e produzir cada vez mais. (entrevista com culturais de cunho comercial. Desanimados,
Pépe Sedrez, página 2). engavetamos o projeto e cada qual em seu canto
foi cuidar da vida. Comecei a trabalhar para o
Um estranho brilho nos olhos dele me fez governo do estado do Paraná e me mudei para
acreditar que a ideia era realmente boa. Ao Curitiba.
mesmo tempo me disse que não gostaria de se Quando o prazo de captação estava prestes a
comprometer com a direção do espetáculo, da terminar, seu Luiz, meu sogro, telefona dizendo
forma como eu estava propondo, porque não que Gabriela, sobrinha dele, comentava de uma
tinha mais interesse em teatro, mas que ficaria empresa da área de construção de hidrelétricas,
honrado com essa cartografia sobre o NuTE. a qual estava no momento com uma obra
Na mesma semana, procurei Aline e no oeste de Santa Catarina; esta empresa
Charles, velhos amigos e parceiros em projetos vinha avaliando projetos justamente para
culturais. Havia um edital aberto para pesquisa financiamento via Lei Rounet. Sem esperança
e publicação pela Petrobras. Eles gostaram da alguma, resolvi encaminhar o projeto e eis
ideia e começamos a trabalhar na redação do que, por um grande acaso do destino, somos
projeto. Uma das exigências desse edital era contemplados.
obter um Pronac junto ao Ministério da Cultura, Com o patrocínio do grupo Baesa-Enercan
via Lei Rouanet. Uma vez pronto, encaminhamos tudo parecia estar resolvido. Bastaria realizar a
o projeto e, ansiosos, aguardamos. Depois de pesquisa e, através dela, compor, procurar pela
alguns meses veio a resposta: reprovado. Não escrita NuTE. Contudo, minhas atividades na
conseguimos aprovação pela Petrobras. Mais Secretaria de Estado da Criança e da Juventude
me exigiam por completo. A escrita foi ficando e Venera, e da mesma forma como havia feito PRIMEIRO
para amanhã. Havia firmado compromisso com a bondosa senhora curitibana, expliquei ENSAIO
comigo mesmo de escrever em minhas férias, o que havia visto. Eles compreenderam e
as quais estavam programadas pra julho de gostaram da proposta. Juntos, chegamos
2009. ao conceito de JOTE-Titac: Experimentando
58 Em Curitiba, todo sábado à tarde, num NuTE. Funcionaria como todo JOTE-Titac, 59
bar da esquina de casa – bairro Água Verde com a diferença de que os textos encaminhados
– tocavam bandas de Blues. Era um lugar teriam que tratar de um único tema: o NuTE.
agradável para ler Nietzsche. Num desses Não necessariamente contar a história do NuTE.
sábados, a banda terminou mais cedo. Por Mas, de alguma forma, dar passagem a ela ou
volta das 18 horas, paguei as cervejas, coloquei a um devir NuTE, permitir ressonâncias com o
O Anticristo na mochila e tomei o rumo de NuTE, estar de alguma forma afetado por ele.15
casa. Foi nesse crepúsculo que aconteceu. Escolhemos uma data para o evento. Aline
Eu caminhava distraidamente pelas calçadas e Charles cuidaram da divulgação. Venera e 15. Caro leitor,
da rua Amazonas quando fui consumido por eu nos dedicamos à organização dos grupos. como você pode
um segundo arrebatamento: e se eu pudesse Professora Noemy Kellerman, Gregory Haertel e perceber, em nosso
assistir ao espetáculo que conta a trajetória do Tânia Rodrigues selecionaram os textos; Doutor índice há um
NuTE antes mesmo de escrever o livro? E se eu Ronaldo Faleiro, Pépe Sedrez e Noemy Kellerman capítulo destinado
pudesse transformar parte desse espetáculo julgaram os espetáculos. Foi um grande exclusivamente
no livro que irá servir de roteiro para o sucesso. Sem dúvida, eu faria tudo novamente. ao jote- jitac. por
próprio espetáculo? Mas minhas férias haviam terminado. Voltei isso, não iremos
para Curitiba, voltei a trabalhar, voltei a tentar
detalhar aqui seu
Sozinho, vibrando com a ideia, eu ria num
funcionamento e/
frenesi desvairado. Gritava: “É isso! É isso! escrever em meus finais de semana. Impossível.
ou propósito. além
Isso mesmo!”. E voltava a gargalhar, como se Sempre esgotado, não conseguia produzir. Essa
do capítulo, tudo o
estivesse possuído por algum demônio. Os exaustão me acoplou violentamente com um
que foi produzido
curitibocas transeuntes que vinham em minha antigo projeto: comprar uma casa-escrita. Uma pelo ‘jote-titac:
direção se afastavam. Alguns me apontavam casa onde escrever seria possível em qualquer experimentando
assustados. Uma senhora, já velhinha, que horário do dia. Um lugar onde não houvesse nute’, está
passeava com seu pequeno cachorro poodle, interferências de bares, buzinas, motores, hospedado em
tocou-me gentilmente no braço, perguntando se shows, vizinhos, cachorros, construção de
www.nuteparatodos.
eu estava bem. Tentei lhe explicar o que estava prédios ou qualquer outra modalidade ruidosa wordpress.com/joteti-
visualizando, mas ela não conseguia entender que pudesse dificultar o processo de escrita. tac
o que era um JOTE-Titac. Foi uma decisão difícil. Em dezembro de
Marquei uma reunião com Charles, Aline 2009, pedi demissão e comprei, através de
um financiamento pela Caixa Econômica do rosto. Tomado por uma carga absurda PRIMEIRO
Federal, uma casa na Praia da Tainha, em de sensações, as quais tenho dificuldade de ENSAIO
Bombinhas, Santa Catarina. Nesse mesmo descrever aqui, ele me disse:
mês, trago a mudança e começo a trabalhar. – Obrigado, Édio, obrigado por isso. Quero
Não na escrita, mas na casa que precisava que você saiba o quanto significa pra mim este
60 de uma série de reformas. Em meados de teu trabalho. Eu me sinto mais do que feliz com 61
fevereiro, as coisas se ajeitam e começo a tua proposta. Imagine – falou sorrindo – dirigir
trabalhar finalmente na produção da escrita um espetáculo sobre a história do NuTE, seria
NuTE. O isolamento da praia me permitiu uma maravilhoso. Mas... Mas, me desculpa, eu não
aventura quase monástica. Mas, em virtude posso, não, não posso...
de minha não formação em teatro, inúmeros Ele me entregou o livro, levantou-se pedindo
problemas conceituais retornavam. Em busca desculpas e saiu. Atônito, sozinho na sala da
de orientação, entro em contato com o Doutor Companhia Carona de Teatro, olhei para o
Ronaldo Faleiro, que muito gentilmente aceita livro em cima da mesa, olhei a placa da porta
me nortear nesse processo. ao lado: Equipe Vira Lata. Respirei, apanhei o
À medida que Faleiro analisava os capítulos, livro e me dirigi ao corredor de saída. Descendo
eles iam sendo postados no blog - www. a rua XV de Novembro, desanimado, perto da
nuteparatodos.wordpress.com - e sofriam a igreja matriz, ouço alguém me chamando. Era
interferência dos múltiplos virtualizados – Pépe.
pessoas que criticavam, elogiavam, davam – Desculpa mais uma vez, eu não consegui
dicas, ajustavam cenas – fui montando, te falar o que queria te dizer. Eu quero muito
capítulo a capítulo, este livro. O conceito que montar esse espetáculo. Mais do que você
utilizamos para essa composição foi o de Work pode imaginar. O que eu não posso é dirigir.
in Progress, de uma escrita In Progress... Quero participar como ator. Sei que muitos que
Em outubro de 2011, uma primeira versão participaram do NuTE também vão querer...
do livro estava pronta. Eu precisava agora de Nesse momento, Pépe me fez visualizar
um diretor. Como Alexandre havia sinalizado algo novo. Eu não havia pensado nisso. Minha
negativamente, marquei uma reunião com questão era encontrar um diretor. Passaria o
Pépe Sedrez. Levei o livro, entreguei a ele e livro a ele, que escolheria os atores e montaria à
lhe perguntei se teria interesse em montar o sua maneira. Mas a imagem de um espetáculo
espetáculo. Pépe olhava pra mim, olhava para com atores do próprio NuTE a encenar sua
o livro, permaneceu em silêncio por quase dez própria história, sem dúvida, era ainda mais
minutos, apenas folheando as páginas. Por interessante. Fiquei contente e retomei com
fim, uma lágrima lhe desceu a face esquerda Pépe:
– Ótimo; seria bem legal mesmo; agradeço – Qual? O Mackbéte? PRIMEIRO
muito tua vontade de participar; eu havia – Não! O outro: Trabalho Sujo. ENSAIO
pensado em ti como diretor, mas se...
– Sim! Sim. O que tem?
– Você não entende – cortando – eu não posso
– Podemos utilizá-lo para convencer o
dirigir; quem precisa dirigir esse espetáculo é o
62 Alexandre.
Alexandre. 63
– Como assim?
– Claro, vai precisar de uma adaptação. Mas
Nossa, se me dessem… Hoje em dia se o
acho que pode servir.
Alexandre me convidasse pra fazer um trabalho...
Pra fazer papel de cachorro, mudo, quieto, eu ia, – E quem vai adaptar?
e olha, amarradão... Sem sombra de dúvida (...) – Bem, eu sei que o Gregory Haertel fez
Acho que seria uma legal, uma montagem, até uma uma adaptação desse texto, chama-se a Sede
coisa porrada, mas aí é com meu amigo Alexandre do Santo, foi montada com direção do Rafael
né. (risos) (...) É, se ele quiser... Eu vou, a hora que Koehler. Mas, se essa adaptação não der conta
ele quiser (...) Acho que a... Como eu te digo, a vida de convencer o Alexandre, talvez o próprio Nira
tá passando, a gente tá ficando velho, e poxa, seria possa fazer...
muito... Pra mim seria uma honra muito grande, e – Beleza, pode dar certo.
um orgulho muito grande tá fazendo de novo um
– Vai dar, sim. Com certeza. Aí você cola aqui
trabalho com o Alexandre, e pô, se Deus quiser, se
na sequência, antes do retorno ao Primeiro Ato.
Pépe aceitar, com Pépe, Carlinhos, nossa, Juliana
Muller, que fazia parte do NuTE, e tantas outras
– Joia, vou fazer isso então.
pessoas que passaram por ali, eu acho que... Tadeu
Bittencourt, o próprio Carlinhos que não está mais
aqui em Blumenau, mas pô, chamando ele volta...
(entrevista com Giba, páginas 26-27).

– Mas Pépe, eu já tentei convencer Alexandre.


Ele está irredutível. Não quer saber de teatro...
– Eu sei, eu sei. Mas podemos bolar um
plano. Na verdade, eu já pensei em tudo.
Você lembra do texto escrito pelo Nira que foi
selecionado para participar do JOTE-Titac:
Experimentando NuTE?
Adaptação de Trabalho Sujo16 feito. Algo como convencer Alexandre Venera PRIMEIRO
a dirigir um espetáculo sobre o NuTE! Um ENSAIO
Argumento: A gangue deve ser virtual e problema havia: como fariam isso, incógnitos?
composta pelos fakes NuTE. Os personagens Como despistariam a Polícia Autoral? Cada vez
elaboram suas tramas pelo Orkut. Cada mais, as antigas missões pareciam brincadeira
64 qual tem um perfil. Ao leitor cabe jogar com de pré-adolescentes. Foi, porém, numa noite de 65
os personagens no sentido de encontrar uma abril que Naftalina chegou com a solução.
solução para o problema em questão: convencer
Alexandre a dirigir o espetáculo sobre o NuTE.
NAFTALINA JOHNSON – Caros comparsas,
Cada personagem terá um perfil no Orkut com
está aberta a sessão. Dona Blau Blau, a
login e senha. As senhas serão fornecidas aos
senhorita está anotando!
leitores através da leitura do livro. Não ficará
claro aqui no livro a resolução da trama. Para NEUSINHA BLAU BLAU – Estou! Tudo!
que o leitor saiba o que levou Alexandre a dirigir Anotando tudo! Podem olhar! Tá bem aqui!
o espetáculo ele terá que entrar no Orkut e Tudo anotadinho!
jogar com os personagens. NAFTALINA – Obrigado, muito obrigado.
Queridos amigos, convoquei esta reunião para
Trabalho Sujo e Virtual17 dar parte de uma notícia inédita e inaudita,
Personagens: NAFTALINA JOHNSON, a qual nunca foi vista nem ouvida e que
NÓDULO CHUCK, NEIDE SAPATINHO, permanece até agora na obscuridão das trevas
NIVALDO TRAPAÇA, NESTOR MIRONGA, desconhecidas!
NEUSINHA BLAU BLAU (os quais assumem NEIDE SAPATINHO – Ui, Nafta! Fiquei toda
identidades fakes); NARRANTE. arrepiadinha agora...
NIVALDO TRAPAÇA (levantando) – Não
16. Trabalho Sujo, de Cena I: Eureca! Epifania! Iluminação! precisa dizer mais nada!
Nira da Silveira, texto
NAFTALINA – Como disse?
escrito e selecionado NARRANTE – No evento Jote-Titac:
para o JOTE-Titac: Ex-
perimentando NuTE. Experimentando NuTE, a quadrilha de Naftalina NIVALDO TRAPAÇA – Poupe-nos, Naftalina.
O leitor tem acesso ao Johnson se esmerava em roubar quadros, Eu já sei o que são esses papéis na sua mão.
texto original através
do blog www.nutepa- sequestrar livros, pichar esculturas, corromper NAFTALINA – Já sabe? Mas como?
ratodos.word p ress.
com e no Quinto En- leitores e até piratear telenovelas – tudo levado NIVALDO TRAPAÇA – Ora, vamos e
saio deste livro. a cabo com preciosismo extremado. Até que venhamos! Do jeito que as coisas vão, só
chegou um momento em que eles descobriram podem ser os papéis da nossa aposentadoria.
17. Adptação de Nira que não poderiam seguir com ambições tão De qualquer maneira, obrigado por fraudar o
da Silveira. mesquinhas. Algo de muito pior deveria ser INSS por nós. Até que saiu rápido.
NAFTALINA – NÃO É NADA DISSO, IDIOTA!!! NAFTALINA – Está tudo bem, querida, eu já PRIMEIRO
NESTOR MIRONGA (dando um soco na planejei tudo. Desde o ano em que você nasceu, ENSAIO
cabeça de Nicanor) – Senta aí, ô imbecil! tudo estava resolvido.
NAFTALINA – Às vezes, acho que estou NEUSINHA BLAU BLAU – É mesmo?
cercado de crianças aqui. Pois fiquem sabendo NAFTALINA – Sim, meu amor. Naquela
66 época, um grupo de nerds num país longe daqui
67
que o que tenho nas mãos são passagens de
avião! resolveu nosso problema. Eles criaram uma
NEIDE SAPATINHO – Pra onde, Nafta? grande rede, uma teia de alcance mundial...
(black).
NAFTALINA – Para diversas cidades do país.
Precisaremos estar longe uns dos outros para
despistar as autoridades e, principalmente, o Cena II: “Quem é ele?” Ainda no porão da
Venera. gangue, final da reunião.
NEUSINHA BLAU BLAU – Ai meu Deus!
Eu vou viajar! Meu deusinho do céu, eu vou NESTOR MIRONGA – Mas, chefe, isso tudo
viajaaaar! vai custar dinheiro. Eu pensei que o nosso cofre
NÓDULO CHUCK (No fundo da sala, começa estava vazio.
a bater palmas, levanta-se e vai até a frente) – NAFTALINA – Sim, eu sei, meu rapaz.
Muito bem! Parabéns, Nafta! Seu plano é genial. Acontece que um cidadão muito excêntrico e
Ele só tem um problema. amante das causas nobres ofereceu-se para
MEMBROS – Qual o problema, Chuck? nos patrocinar.
NÓDULO CHUCK – O problema é que nosso MEMBROS – E quem é ele?
plano de celular pré-pago é uma merda! E NAFTALINA – Alguém que exigiu sigilo
quando precisarmos nos falar, vamos gastar ultra-mega-blaster confidencial, mas ao qual
uma fortuna? nos referiremos como “O Leitor”.
NAFTALINA (tirando lentamente um revólver MEMBROS (Vasculham a plateia com o
do paletó) – Agora chega. Eu não aguento mais. olhar, procurando por alguém que possa ser “O
Eu vou matar uns dois! Leitor”).
NESTOR MIRONGA E NEIDE SAPATINHO
(segurando Naftalina) – Calma, Nafta! Vai com Cena III: Conspiração, Conluio e
calma! (Naftalina se recompõe). Confabulação. Perfil de fake Giba de Oliveira
NEUSINHA BLAU BLAU – Chefe, meu no Orkut. Ele conversa com os comparsas,
celularzinho também é uma merda! os quais, depois de intenso treinamento,
aprenderam a se expressar quase como os amanhã vais encontra com ele por acaso no PRIMEIRO
reais. Não foi permitido pela gangue revelar farol ENSAIO
quem é quem. FAKE AFONSO – vlw fui

FAKE CLAUS JENSEN – giba? ainda ta aí?


68 Caro leitor, você chegou a uma encruzilhada 69
FAKE GIBA DE OLIVEIRA – Giba de Oliveira em sua leitura. Aqui se abrem dois caminhos
teclando perfeitamente! blz? distintos, duas estradas possíveis por onde
FAKE CLAUS – blz! estive ha pouco com seguir.
Alexandre Venera! 1 – Continuar a leitura do livro, passando
FAKE ÁLVARO – ele na desconfiou d nada? diretamente à próxima página, deixando essa
FAKE CLAUS – ele desconfio sim mas naum trama sem resolução.
d mim! ele disse q ontem axou o pepe meio 2 – Escolher um Fake na lista abaixo, entrar
estranho! com ele, na comunidade Orkut e interagir,
FAKE PEPE – por q extranho? conversar com os demais Fakes, investigar,
produzir, fabricar, inventar uma solução para a
FAKE GIBA – eu sei porq, eh q tu tais
trama. Ou seja, nesta segunda via cabe a você,
exagerando nos trejeitos!
caro leitor, criar um desfecho para a história.
FAKE CLAUS – ele falou que achou o Pepe Aos mais ousados, bom experimento.
muito insistente.
FAKE GIBA – eu disse q naum era pra insisti
Perfil login:
d+
O Leitor leitorfakenute@gmail.com
FAKE PEPE – mas eu nem falei da peça eu
Wilfried wilfriedfakenute@gmail.com
só convidei ele pra tomar uma cerva
Claus clausfakenute@gmail.com
FAKE ÁLVARO – idiota o ale só toma
destilado Afonso afonsofakenute@gmail.com

FAKE PEPE – não deram essa parte no curso Giba gibafakenute@gmail.com

FAKE CLAUS – deram sim tu falto pra ir Pépe pepefakenute@gmail.com


beber Silvio da Luz silvinhofakenute@gmail.com
FAKE GIBA – vamo tentar alguma coisa Dennis Radünz denisfakenute@gmail.com
diferente kd o afonso? alvarofakenute@gmail.com
Álvaro
FAKE AFONSO – to aki só lendo
Senha: somosmuitopoucosparadividir
FAKE GIBA – és o próximo nego te arruma
RETORNO AO PRIMEIRO ENSAIO – 01 DE ABRIL mas agora você precisa se aproximar do grupo. PRIMEIRO
DE 2015 – Aproximar do grupo, mas como eu posso ENSAIO
fazer isso?
– Tenho me esforçado – Édio responde a – Bom! Não quero te forçar a nada, a escrita
Venera – para fazer o melhor possível. Dediquei- é tua e acho que deves trabalhar da forma como
70 me em tempo integral a esta escrita, pedi a
71
te parecer melhor...
conta de um bom emprego que eu tinha, larguei – Como vocês faziam na época do NuTE?
tudo para trabalhar apenas nisso; mas, claro,
– Na maioria das montagens, a gente optava
precisamos continuar; aceito suas condições,
por ter a redação dos roteiros acontecendo
qual seria a proposta?
simultaneamente aos ensaios dos espetáculos.
– Bom, primeiro: eu não concordo com esse
prólogo, precisa ser feito de outra forma...
E era um processo todo extremamente lúdico,
– Mas eu tive tanto trabalho para escrever...
o Alexandre brincava com a gente como se nós
– Teve nada – diz Wilfried – você copiou dos
fossemos crianças assim, dava material e “deixa vir
Irmãos Karamázov.
o que vocês estiverem pensando, o que estiver na
– Não copiei, é uma acoplagem, acoplagem... cabeça”. Claro que tinha noites de não render nada,
– Que mané acoplagem, isso nem existe. a gente saía meio frustrado, mas tinham noites em
Copiou sim; é só pegar o livro pra ver... que a chama tava muito acesa, havia cenas que...
– Copiei merda nenhuma. “Nossa, isso tem que estar no espetáculo”, e depois
– Tudo bem, tudo bem; que seja – Venera podiam não estar na edição final, mas a gente
tenta mediar o conflito – você não precisa jogar levantou, produziu muito material. (entrevista com
fora o prólogo, deixa ele como está e começa Pépe Sedrez, página 16).
novamente.
– Um novo prólogo? – Não sei se entendi direito; se não havia
– Isso vai é confundir o leitor... nenhum roteiro, o que grupo ensaiava?
– Chame de outra forma, sei lá, que tal – Tudo começava com um disparador cênico:
começo, primeiro ensaio, replay, algo assim. uma imagem, um objeto, um recorte de jornal,
– Pode ser, pode ser... Primeiro Ensaio fica um fragamento de texto; e à medida que os
mesmo bem interessante. ensaios aconteciam, o roteiro ia sendo escrito...
– Outra coisa; acho que tua escrita está – Genial! Adorei a ideia!
um pouco distante. Isso de morar na Praia da – Eu também concordo – diz Silvinho – acho
Tainha pode ter te ajudado a se concentrar, que assim o espetáculo ganha em dramaturgia.
– Maravilha. Eu vou me sentar aqui ao PRIMEIRO
lado dessa mesinha, alguém tem um lápis aí? ENSAIO
Agradecido. Fico aqui, assisto e descrevo. À
medida que vocês forem encenando, eu vou
escrevendo. Mandem bala, podem começar.
72 Todos se olham. Nada acontece. 73
18. Pergunta a partir – Vamos lá pessoal, estou esperando as
da qual toda a escrita
aqui exposta se põe em cenas, dependo delas para escrever o roteiro... >> aquele que apela
movimento. Espécie de para o “desinteresse”?
primeira questão, ou
– Olha, não é bem assim – Venera intervém
E mesmo o homem as-
questão essencial da – eles precisam de algo que incite a criação. cético? E os utilitaris-
pesquisa. A análise de tas com seu conceito
cada documento está Você precisa trazer alguma coisa que dispare de utilidade? E Shope-
atravessada por ela, nhauer, quando forma
cada entrevista realiza-
as cenas...
o estranho conceito de
da encontra nela uma negação da vontade?
paisagem a ser percor-
– Entendi; sou eu quem propõe o disparador
Seria a verdade? Mas
rida. Trata-se de um cênico, é isso? o que querem enfim
disparador metodológi- os procuradores da
co chamado por Gilles – Exatamente, e sobre este dispositivo é verdade, aqueles que
Deleuze de Método de dizem: eu procuro
Dramatização. Segun- que as cenas serão construídas. a verdade? - Querer
do o filosofo francês, não é um ato como
esse seria o método – Deixa ver o que eu tenho aqui. – revirando os demais. Querer é
utilizado por Nietzsche a mochila – Achei uma pergunta; pode ser? a instancia ao mesmo
em suas Genealogias. tempo genética e crí-
Cito: – Lança ao grupo e vamos ver o que tica de todas as nos-
“Desta forma de per- sas ações, sentimen-
gunta deriva um mé- acontece... tos e pensamentos.
todo. Sendo dados O método consiste no
um conceito, um sen- – O que quer o NuTE?18 seguinte: referir um
timento, uma crença, conceito à vontade de
serão tratados como potência para dele fa-
os sintomas de uma zer o sintoma de uma
vontade que quer algu- vontade sem a qual ele
ma coisa. O que quer não poderia nem mes-
aquele que diz isso, mo ser pensado (nem
que pensa ou experi- sentimento ser experi-
menta aquilo? Trata- mentado, nem a ação
se de mostrar que não ser empreendida) Tal
poderia dizê-lo, pensá- método corresponde
lo ou senti-lo se não à questão trágica. Ele
tivesse tal vontade, tal próprio é o método trá-
maneira de ser. O que gico. Ou mais precisa-
quer aquele que fala, mente, se tirarmos do
que ama ou que cria? termo ‘drama’ todo o
E, inversamente, o que phatos dialético e cris-
quer aquele que pre- tão que corresponde
tende o lucro de uma seu sentido, é o méto-
ação que não faz, >> do de dramatização.”.
Foto: Acervo NuTE

cena do espetáculo ‘jato de amor’


da esquerda para direita: carlos crescêncio, ivan
alvaro, sabrina de moura, leonel campos.
Segundo Ensaio – 18 de abril de 2015 SEGUNDO
ENSAIO

Sol. Sábado...
(...) aproximadamente 14h. 77
Imagem Insistente: Grande Auditório do Teatro
Carlos Gomes

– É... Bem... Pessoal, olha só – os atores


que conversavam, cada qual em sua esquina
de afectos, centralizam olhar, alguns sorrindo,
outros ansiosos, em Alexandre Venera, e ele
continua – eu fiz aqui uma pesquisa que acredito
vai ajudar a gente a levantar esse espetáculo. –
os atores caminham em direção a Venera, que
faz vibrar alguns papéis em suas mãos, e vão
formando, aos poucos, um círculo em torno dele
– Na verdade são recortes de jornal, algumas
fotos, trechos das entrevistas, algumas coisas
que eu selecionei pensando no que poderia ser
um momento do NuTE entre 1984 e 1986. Nós
não vamos fazer isso, mas se um dia alguém
quiser inventar um início, um começo, uma
origem para esse núcleo de teatro, tenho a
impressão de que o melhor momento para esse
decalque estaria nos aperitivos que vamos ver
hoje. Estou chamando, provisoriamente, esse
período de No Princípio era a Música Têxtil
Gostante. Nós vamos trabalhar da seguinte
forma: vocês vão formar pequenos grupos, de
duas a três pessoas – todos os atores se olham – Acho que sim; não vejo problema. Na SEGUNDO
– cada grupo vai receber um jogo de aperitivos verdade, o que eu tenho aqui são jogos de ENSAIO
que preparei. Vocês vão ter um tempo para aperitivos. Cada jogo é composto por um ou
saboreá-los – Venera coloca uma folha de papel dois recortes de jornal, uma ou duas fotos,
na boca, os atores riem – e deverão trazer para de três a sete trechinhos de entrevistas, as
78 o grande grupo uma ou duas cenas disparadas, atividades do NuTE de determinado ano e, 79
construídas com esses aperitivos. Fica bom algumas vezes, um documento aleatório que
assim? O que vocês acham? pode ser uma partitura de um curso dado,
– Acho que não entendi direito: o espetáculo uma aula, coisas assim. A proposta é que cada
vai ser apenas sobre esse período de 84 a 86? grupo trabalhe em torno de um desses jogos.
Eu tinha pensado em sortear, mas se todos
– Não, não... Isso que vamos trabalhar hoje
concordarem em escolher e ficar bom, acho que
é apenas um platô. Pra facilitar nosso trabalho
pode ser, sim. Vamos ver se dá certo... Deixa
eu dividi o território NuTE – seus 18 anos de
ver, quantos grupos temos? Dois, três... São
produção – em cinco platôs: três grupos. Eu tenho aqui cinco jogos; ótimo,
vou colocar os jogos aqui e cada grupo pode
I – No Princípio era a Música Têxtil Gostante. manusear e escolher o seu.
II – Exuberante Cronologia Espetacular
Do Teatro Experimental e do Teatro Escola
Nuteanescos.
III – Do NuTE ao NUTe: como um Núcleo de
Teatro Experimental vem a ser um Núcleo de
Teatro Escola.
IV – Jogos de Teatro, Texto, Interpretação e
Técnica nas Artes Cênicas: JOTE-Titac.
V – Conversa de Bar: para quem gosta
de tomar umas conclusões bem geladas –
ahhháááááááááááááá!

– O que vamos trabalhar hoje é apenas um


destes.
– Como vai funcionar? A gente pode escolher
os aperitivos?
SEGUNDO
ENSAIO

80 81
APERITIVOS CÊNICOS esta versão lhe permite acessar com apenas um
clique – se você estiver conectado a internet – todos
e/ou nutrientes para
composição de mundos os endereços/links contidos no livro, experimente.
Contudo, caso lhe pareça mais interessante, também
é possível continuar sua leitura usando os jogos de
Caro leitor, os mesmos aperitivos cênicos que aperitivos como um apoio, manuseando-os conforme
foram entregues aos atores estão sendo entregues
aparecem na narrativa, como uma espécie de parte
a você. Suas possibilidades de atuação são múltiplas.
aberta do livro. Ou ainda simplesmente esquecer
Caso você queira criar uma cena, seguindo a proposta
os jogos de aperitivos cênicos e seguir a leitura
de Alexandre Venera, basta escolher o seu jogo de
livremente, deitado em sua rede, ou no sofá, como lhe
aperitivo. Para acessá-lo há duas opções:
parecer mais agradável, para assim, num momento
1. Porta Cartas localizado dentro do Box NuTE: de sua preferência, saborear com calma as imagens-
cartografia de um teatro. Nele você vai encontrar registros que disparam a Composição de Mundos nas
aperitivos em duas cores, escolha, neste momento, próximas páginas. Entre tantas outras possibilidades,
o de cor vermelha. acreditamos que a melhor é exatamente esta que
você está começando a jogar.
2. DVD Experimentando NuTE, onde além dos aperitivos
cênicos você vai descobrir a versão digital do livro,
Vá em frente, bom experimento.
Composição de Mundos SEGUNDO
ENSAIO
Caro leitor, como você deve ter percebido
acatei a sugestão que me foi feita na página
71. Ou seja, estou tentando descrever o que
acontece durante os ensaios. Caso você esteja 83
notando que algo me passa despercebido, por
favor, toda colaboração é bem-vinda. Tem uma
caneta bem aí do seu lado. Se bem que seria
melhor um lápis. Talvez você seja da opinião
que rascunhos se escrevam a lápis. Ou será
que vi isso num filme? Bem, de qualquer forma,
o que estou assistindo aqui é o seguinte:
Cada um dos três grupos ensaia num
espaço reservado: Camarim, Palco do Grande
Auditório, Corredor em Frente aos Banheiros.
Depois de alguns cigarros, Alexandre começa a
circular entre eles.
No Palco do Grande Auditório, o grupo
planeja suspender um ator. Alexandre gosta
muito da imagem, pergunta como farão a
suspensão. O grupo responde que usará uma
corda. Alexandre questiona se a corda será do
tipo falante ou se estará dormindo. Parabeniza
o grupo.
No Camarim, os três atores chutam
uns aos outros. Alexandre sorri e retorna em
silêncio, se esforça para não atrapalhar o
momento da improvisação.
No Corredor, um ator, deitado no chão,
balbucia espasmos próximos aos de uma crise
epiléptica. Na mesma cena, mas numa ponta
do corredor, bem em frente ao bar do teatro,
um segundo ator repete: “esses grupos vão
deixar de ensaiar, ensaiar, ensaiar e nunca (...) ele sempre trazia dados teóricos em SEGUNDO
apresentar”. Ele usa a frase – sussurrando, forma de jornaizinhos, panfletos, xerox ou
ENSAIO
gritando, em meio à gargalhadas... – para se verbalizando diretamente para os grupos que
aproximar e para se distanciar do ator deitado. dirigia. E, além disso, era crítico e extremamente
Um terceiro ator, sentado na escada, ao lado do criativo. Foi também, incontestavelmente, o
84 bebedouro, realiza um movimento que lembra mentor e organizador da ideia de, efetivamente, 85
alguém interpretando uma canção popular começar-se a fazer teatro num prédio chamado
com um violão. Impressionado com a cena, de “teatro”. Portanto o Alexandre é, sem dúvida
Alexandre passa a mão no cabelo e no nariz. – no sentido figurado – o “pai” do NuTE...
Quando o grupo faz uma pausa, elogia a energia Édio – Interessante! E quem seria a mãe?
com a qual estavam trabalhando. Pergunta Wilfried – Bem, igualmente no sentido
qual foi o Aperitivo Cênico escolhido pelo grupo figurado, é provável que tenha sido eu. Talvez
e eles indicam o jogo 2. Alexandre manuseia o eu tenha pego a criança no colo e a alimentado
Aperitivo Cênico N.2, e emite um “Ah! Legal!”. no momento do abandono e a mantido viva
Por fim, pede ao grupo que experimente um neste período de fragilidade. Com toda a ajuda
pouco mais com palavras-frases. do Álvaro, Diogo, Iraci, Roberto, Sandra e
Retornando ao Camarim, os três atores Valdir – obviamente -, que chegaram até o fim
improvisam, com mímica, o que parece o do primeiro curso e foram os atores e as atrizes
trabalho de operários em uma fábrica. Alexandre da primeira montagem, genuína, de um grupo
assiste a toda improvisação. Durante a pausa, efetivo do NuTE – a “Pantomimas”. (entrevista
pergunta o que aconteceu com os chutes. O 3 com Wilfried, páginas 2-3).
grupo responde que era apenas uma técnica de
aquecimento, que não pretendem utilizar para
a composição das cenas. Alexandre conta a O diretor aprova e, entusiasmado, incita
história de uma invenção polêmica: a máquina o grupo a abrir a cena. Um dos atores toma
de dar chutes. a palavra e comenta que aquela sequência
No grande auditório, dois atores improvisam havia acabado de surgir, que foi a primeira
uma cena romântica que logo se transforma em tentativa-experimento com o recorte-entrevista.
pequenos desentendimentos afetivos, evoluindo Alexandre elogia a “sacada-cênica” e sugere ao
para ódio e agressão. Alexandre descobre grupo explorá-la numa velocidade menor – a
que o grupo ensaia o Aperitivo Cênico N.3. mais lenta possível -, ele repete algumas vezes
Ainda curioso, resolve questionar o fragmento “a mais lenta possível”, para que, assim, aos
disparador da cena. O grupo aponta para o poucos, os demais fragmentos do jogo sejam
seguinte trecho de entrevista: incorporados.
Alexandre manuseia o Aperitivo Cênico N.3 personagens. Trata-se de Wilfried Krambeck e SEGUNDO
até encontrar uma foto que, separada por ele Iraci Potrikus. Um deles passa a cuidar do som
ENSAIO
do jogo, é citada como exemplo: e o outro a cuidar da iluminação do espetáculo.
O grupo se esforça para demonstrar que essa
foi a entrada dos dois personagens na trupe e
86 que ainda não se trata de NuTE. No espelho do 87
camarim escrevem: GATE – Grupo de Teatro da
ADR Sulfabril.
Saindo do camarim, Alexandre resolve
fumar mais alguns cigarros. Ao fumar,
comenta a importância que algumas empresas
Iraci Potrikus,

Foto: Acervo NuTE


têxteis da região tiveram no fomento da cultura
eck e
Wilfried Kramb os local. Cita como exemplo o Grupo de Teatro
ad
Alexandre Vener s. Amador da Artex, o Grupo de Mímica da ADR
Santo
Sulfabril, fundado pelo Wilfried, e o próprio
GATE, muito influenciado e inúmeras vezes
apoiado por Carlos Jardim. Diz que pessoas
O diretor acredita que uma boa acoplagem importantes da cena teatral blumenauense
desta foto com o momento que ele prefere foram trabalhadores têxteis. Que através de
grupos como esses, experimentavam teatro e,
chamar Gostante ao invés de Romântico
mais tarde acabaram, encontrando no NuTE um
potencialize a cena. Um ator questiona o termo
espaço para se inventar, para se Artreinventar.
Gostante. Alexandre explica que Amante é que
não poderia ser, porque as pessoas se gostavam,
mas amar seria coisa diferente; já o termo Eu trabalhei vinte e cinco anos na Artex, na
romântico pode dar uma ênfase desnecessária verdade eu sou um operário né, trabalhei vinte e
a determinado período classificado assim pela cinco anos na Artex, aposentei ali com vinte e cinco
anos na área têxtil. Mas na época fazia teatro na
história das artes. O grupo concorda, acata as
Artex, e comecei a estudar, eu comecei mesmo a
sugestões e começa a trabalhar. viver o teatro, estudar teatro mesmo, nessa época
No Camarim, o jogo de mímica começa a com Alexandre, porque a partir de então era mais
tomar forma. O grupo interpreta uma equipe de amador, aquela coisa assim de fazer por fazer.
teatro infantil que está montando um espetáculo (entrevista com Álvaro, página 3).

de Maria Clara Machado. Tudo leva a crer que


se trata de Pluft, o Fantasminha. De repente, Nesse sentido, Alexandre complementa, há
em meio a esse ensaio, aparecem dois novos um tanto de tecelagem, de fábrica, um tanto de
Têxtil in NuTE. Diz que sua proposta inicial com apresentando suas peças no Hoje Tem Teatro SEGUNDO
o Hoje Tem Teatro era simplesmente apresentar começaram a circular, no ano seguinte, em
ENSAIO
teatro. Lembra que era coordenador de eventos torno desses cursos. Os alunos que Wilfried
no Teatro Carlos Gomes, que os grupos passavam tinha na Sulfabril também são convidados para
o ano ensaiando, mas não apresentavam. Seu continuar estudando teatro no NuTE e, assim,
88 interesse maior era criar condições para que aos poucos, começa a se insinuar um núcleo de 89
as encenações acontecessem. Como se tratava pesquisa em teatro.
de um encontro de vários grupos, resolveu Realizado o processo inalatório, Alexandre
chamar esse coletivo, para diferenciar dos se dirige ao Corredor. Os atores, carregados
grupos profissionais da cidade, de Núcleo de de energia como antes, operam nas mesmas
Teatro Experimental. Ao mesmo tempo, dentro posições, mas agora num interessante jogo
da Sulfabril, Wilfried estava ministrando cursos dramático:
de mímica para funcionários da empresa.
Ator 1 – Eu entrei como aluno pra estudar...
Ator 3 – Música...
Ator 1 – Fiquei estudando...
Ator 3 – Piano...
Ator 2 – Foi mais ou menos uns quatro anos,
adulto já... Casado...
Ator 3 – Violoncelo, clarinete...
Ator 1 – Estudei um monte lá dentro, aí
durante minha universidade eu peguei emprego
lá de bibliotecário...
Ator 3 – Na musicoteca...
Ator 2 – Sempre me dedicando ao que eu
fazia, né... A mulher me convidou pra ser o
coordenador de eventos do teatro, não, primeiro
secretário da...
Ator 3 – Escola de Música...
Ator 2 – Acharam que seria a melhor pessoa
pra coordenar eventos artísticos e culturais do
Com a abertura desse espaço experimental, teatro, que tinha área de convenções...
Wilfried propõe trazer para o NuTE alguns Ator 3 – Daí durante um ano ou dois... Eu
desses cursos, e Alexandre aceita. Muitas fui testemunhando a dificuldade dos grupos
pessoas que participaram montando e amadores da cidade, que vinham ensaiar,
ensaiar e daí não apresentavam... transparecer, um tanto de fúria escorrega pelo SEGUNDO
Ator 2 – Ficava o uso do teatro inútil, né... canto esquerdo de sua boca quando pergunta o
ENSAIO
Ator 3 – Onde daí eu “porra”... Vou dar uma que estão fazendo. O grupo responde que tenta
mão pra eles... dar sequência ao disparo cênico utilizando parte
Ator 2 – Eu tenho assessoria de imprensa, do tema platô – No Princípio era a Música – como
90 tenho a agenda, pauta do teatro, pego as tom. Argumentam que tanto Alexandre Venera 91
datas que tão mais ruins, assim... Nenhum como Wilfried Krambeck são atravessados
empresário quer, tá sobrando... por uma intensidade musical. Alexandre via
Ator 3 – Vou aproveitar o espaço do teatro... composição erudita, que pode ser verificada em
Ator 1 – Aí onde comecei a compor uma sonoplastias escritas por ele para espetáculos
espécie de roteiro mensal de datas... como O Homem do Capote e Outros Seres,
Ator 3 – Entrevista com... Jato de Amor e O Olho Clínico do Coralista
Ator 2 – Alexandre Venera... Rouco19, e Wilfried via composição popular, que
Ator 1 – Página 26. pode ser verificada em canções como Natureza,
Solitário Elemento, Bavária Bananeira, sempre
Durante todo o processo, os atores são apresentadas em festivais da canção como o
banhados por ressonâncias fotográficas do que Festshow promovido pela Sulfabril e o FUC –
parece ser um Coral de Clube Caça e Tiro. Toda Festival Universitário da Canção20. Em meio à
a cena é realizada num intempestivo diálogo defesa, o grupo utiliza a máxima nietzschiana
com a projeção desta imagem: de que “a vida sem música seria um erro” e 19.Para ouvir Noite Ferra-
finaliza dizendo que talvez o NuTE seja um ovo da – trecho da sonoplastia
de O Homem do Capote
Coral Gesangverein da
musical. – acesse o endereço www.
nute.com.br/acervo/noi-
Sociedade Recreativa e O diretor, deixando transparecer o te_ferrada.mp3.
Cultural Salto do Norte
de Blumenau. Dirigido aborrecimento, pergunta ao grupo como foi
pelo maestro Kemmel-
meier - sentado, segu- que conseguiram retirar o projetor multimídia
rando o troféu. Da es- de dentro do seu carro, já que o mesmo estava
querda para a direita,
a quarta senhora em trancado. O grupo percebe que a cara amarrada
Foto: Acervo NuTE

pé: Irmgard Globig.


E da esquerda para a do diretor não estava conectada à cena, mas
direita, o quarto se- 20.Wilfried Krambeck
sim à utilização do recurso eletrônico. Os atores gentilmente organizou um
nhor, único de óculos:
Hermann Globig. Avós sorriem aliviados, e explicam que Juliana cronograma a respeito de
de Wilfried Krambeck, sua trajetória musical. O
única criança presente Teodoro, ex-atriz do NuTE e atual companheira documento encontra-se à
na foto. Registro reali- disposição em www.nute-
de Alexandre, passando e assistindo à cena, paratodos.files.wordpress.
zado no Natal de 1971.
sugeriu a utilização do recurso, que prontamente com/2010/09/minha-
O diretor, de forma abrupta, interrompe trajetoria-musical.pdf
a cena. Mesmo se esforçando para não foi buscar no carro e lhes emprestou.
Alexandre se convence, pede desculpas A hora que a gente vai juntar com a palavra cena
SEGUNDO
pela cara amarrada e verifica com o grupo a (...) A cena é o núcleo, o ponto básico do teatro, é
ENSAIO
possibilidade de assistir a cena novamente. Os através de cenas que se monta uma peça de teatro,
21. O conceito começa
atores repetem toda a sequência. Alexandre a cena é o momento máximo, ou mínimo de uma
a ser desenvolvido em
1990 durante o Desa- comenta que eles estão muito perto de ação, e então o teatro é baseado na cena. (entrevista
fio Macbeth – jogos ela-
borados por Alexandre
para construção do
desencadear uma partitura. Fica tão satisfeito com Juliana Teodoro e Alexandre Venera, páginas
93
37 e 38).
espetáculo Macbeth: com o andamento dos ensaios que resolve
uma interferência na
história. leitor encon- comemorar fumando mais um cigarrinho.
tra um interessante
documento dessa épo- O grupo vai junto, aproveitando a porta Um ator pede cigarro. Alexandre oferece
ca sobre a Estereoce- entreaberta ao lado do bebedouro. Em meio à o maço. Ele retira um. Acende. Enquanto
na no link: www.nute.
com.br/acervo/0_ conversa, Juliana Teodoro retorna e comenta fuma, sorri. Ao final do cigarro, quando todos
sobreMacbeth_c.jpg.
Alguns anos mais tar- com Alexandre que, minutos atrás, quando já retornavam ao Corredor, tenta parafrasear
de, em 1997, Alexan-
dre propõe a um grupo presenciou a ação, lembrou-se dos experimentos Nietzsche dizendo que “sem a música o
de alunos da Escola
NUTe um experimento da Estereocena21. Um dos atores, interessado, NuTE seria um erro”. Alexandre questiona a
de imersão com Este- questiona o que seria a Estereocena. Juliana equivalência moral de certo versus errado. O
reocena. Durante um
mês inteiro permane- responde que se trata do método de trabalho ator sustenta sua apropriação de erro como
cem acampados no Sí-
tio Fazendarado. En- que Alexandre vinha desenvolvendo no NuTE. ausência. Acredita que se não fosse uma vontade
contramos parte deste
experimento gravado O mesmo ator acha curioso o conceito de de música em Wilfried, bem como uma vontade
em duas fitas cassete,
que foram convertidas “estéreo”, pergunta que relação haveria com o de música em Alexandre, o NuTE, se viesse a
para Mp3 e disponi- teatro. Alexandre explica:
bilizadas nestes qua- existir mesmo assim, seria qualquer outra coisa,
tro endereços: www. menos o NuTE. Um ator, não fumante, ironiza
nute.com.br/acervo/
fita1ladoA.mp3; www.
Estéreo, como as caixas de som, que são a utilização do conceito de vontade, segundo
nute.com.br/acervo/
fita1ladoB.mp3; www. levemente afastadas pra reproduzir o som que foi ele, uma aplicação incoerente. Os atores, já no
nute.com.br/acervo/
fita2ladoA.mp3; www. captado também por dois microfones. (...) tu sentes Corredor, iniciam um debate filosófico sobre
nute.com.br/acervo/
fita2ladoB.mp3. mais ou menos que, vamos dizer, a guitarra da a Vontade de Poder. Alexandre segue para o
Caso o leitor pro- banda de roque tá vindo daqui, o baixista tá aqui, Palco do Grande Auditório, Juliana se despede.
cure por uma siste-
matização a respeito a bateria no meio, o vocal, tu sentes pelo estéreo Ao entrar, pela plateia, o diretor
da Estereocena, reco-
mendamos o seguinte o volume, onde estão os músicos, de onde está
documento, datado
é surpreendido por dez cordas falantes.
vindo o som, né. E estéreo vem de cúbico, medida
de setembro de 2000: Dois atores conversam, cada qual em uma
www.nute.com.br/ de um metro cúbico da madeira é um estéreo, né.
acervo/99_06_26_cur- suspensão, com cinco cordas. O primeiro se
so_1.jpg. E assim como o microfone capta esses dois sons,
e é o mesmo som, mas ele consegue, através de
relaciona com elas de forma numérica – suas
um artifício mecânico, reproduzir aquele ambiente, cordas vão de 1 a 5 -, já o segundo de forma
onde a gente sabe que o avião rááááá... Sai daqui literal – suas cordas vão de A a E.
e passa pra lá, no estéreo tu sente essa passagem.
O diálogo acontece envolto no que os atores SEGUNDO
nominam Saudosismo Gostante. O diretor
ENSAIO
chega a questionar a interpretação das cordas,
segundo ele, um tanto forçada, beirando o
clichê do canastrão. Mas o grupo sustenta
94 que a proposta é justamente esta, que tal 95

Foto: Acervo NuTE


encenação seria proposital. O diretor aceita.
Espetáculo Alegoria ao
Vamos ao Teatro, uma O próximo diálogo gravita em tonalidades bem
das peças apresen-
tadas no projeto Três diferentes: sensações de intriga, quase rancor,
Terças Tem Teatro, tomam conta do ar.
em 1986. Na plateia,
Valdir Lopes Junior, Ator 2 – O Wilfried, em 1984 vinha como
Leandro de Assis e De- convidado...
liane Travasso. Sus-
Ator 1 – E ano novo, virou, e...
pensos pelas cordas, Corda 3 – Janeiro. Corda A – Como um grupo convidado...
Dennis Radünz – re-
presentando Mário – e Ator 1 – Fazer o quê? Corda B – Como teve outros grupos...
Tanise Creuz – repre- Corda C – Tu vai ver os programas...
sentando Nete. Corda 3 – Fevereiro, março, abril?
Ator 1 – Ninguém pensava NuTE... Corda B – Só que a afinidade com o que eu
Corda 1 – Ah, vamos fazer outro... Não sei tava tentando fazer...
o quê... Ator 2 – Aí ele pegou o NuTE pra ele, ele
ficou um meio ano com o NuTE só pra ele...
Corda 2 – Vamos fazer um curso de mímica,
pantomima. Corda A – Tipo com...
Corda 4 – Não, nós queremos nos reunir e Corda B – Meu...
manter essa ideia NuTE... Ator 2 – Eu não queria arrumar encrenca,
Ator 1 – O Wilfried com três quatro... sabe...
Continuou, NuTE não parou, entende... Por Corda A – E não era NuTE, era qualquer
mim talvez tivesse parado. coisa, podia ser... E acabou ficando NuTE...
Corda 2 – Ou pelo Teatro. Ator 2 – Ele ficou um... Praticamente um
Corda 4 – Não havia muito... ano ficou na mão dele, logo no começo.
Corda B – Entrevista com Alexandre Venera,
Ator 1 – Aí, 1985 um curso, também
página 17.
trouxemos o... Trouxemos o pessoal do Teatro
Guaíra pra dar aula, e os professores, alunos
do Teatro Guaíra. Terminado o segundo diálogo, o foco da cena
Corda 4 – Entrevista com Alexandre... volta a ser o Ator 1 e suas cordas numéricas.
Corda 2 – Venera. O sentimento de intriga e rancor fica mais forte
Corda 3 – Página 24. à medida que o diálogo vai acontecendo. Nas
últimas frases é possível perceber ódio.
Ator 1 – No entender dele você fazia uma Ator 2 – Balança a cabeça, ah, balança a SEGUNDO
produção de... cabeça, acorda, acorda.
ENSAIO
Corda 3 – Artaud... Corda 1 – Corda não tem cabeça, babaca.
Ator 1 – Uma produção do... Corda A – (cantando) Minhoca, minhoca,
Corda 3 – Brecht... me dá uma beijoca...
96 Corda 1 – E você ia aprender, ia se formar Ator 1 – Corda nenhuma vai me amarrar, 97
assim com ilhas, digamos, conhecendo sempre não importa se são numéricas, se são literais...
cada ilha, uma nova ilha, uma nova ilha, pra Não vou viver preso, não vou...
ter um continente no final.
Corda B – Mas que bobagem, o que é a
Corda 2 – E aí onde a gente divergia, eu liberdade senão uma prisão com mais espaço?
achava que você tem que ter uma base, depois Além do mais você precisa de mim, sem a
um aprimoramento, e sempre do todo...
minha estrutura, sem a minha base você não
Ator 1 – Então quer dizer, todas as linhas, pode voar.
você vai pegar o...
Ator 2 – Acorda, você precisa, acorda...
Corda 3 – Teatro grego...
Ator 1 – Vou voar a partir de mim mesmo e
Ator 1 – O...
meu voo será Apocalíptico...
Corda 3 – Teatro romano...
Corda 2 – Estamos avisando, é melhor você
Corda 4 – E o bá-bá-bá...
colaborar, porque se não for por acordo, vai ser
Corda 3 – O medieval... por corda.
Corda 4 – E pam-pam-pam...
Corda D – Vamos economizar cortes e
Ator 1 – E vai chegando... Até chegar na... enforcá-lo de uma vez por todas, chega desse
No... papo aranha.
Corda 3 – Absurdo...
Ator 2 – Oh! Alice, acorda... Acorda, Alice...
Corda 4 – E ou... O...
(todas as cordas riem)
Corda 3 – Teatro contemporâneo...
Ator 1 – Homem Pássaro!!!
Ator 1 – Dependendo das linhas, né, do...
Corda 3 – BUROCRACIA!!!
Corda 3 – Teatro...
Ator 1 – Que se fazia aqui e no oriente e no... Corda C – Ordem!
Corda 4 – Pá-pá-pá... Corda B – O que permite o prazer é a lei.
Ator 1 – Eu entendia assim. Corda 2 – Lineares degraus da escada que
Corda 4 – Entrevista 2 com Wilfried, página se sobe passo a passo, passo a passo, passo a
17. passo...
Corda A – Alguém viu o encordamento do
No quarto diálogo, a cólera atinge as cordas. meu violão?
Urros, gritos, um frenesi histérico banhado em Ator 2 – Acorda, acorda.... Nossa, que
ódio e ressentimento. Os dois atores e as dez pesadelo terrível, finalmente acordei...
cordas interagem. Corda B – Você é apenas uma marionete,
quem te move são as cordas... Corda B – Corda a deusa Corda. SEGUNDO
Ator 1 – Não! (todas as cordas: Corda a deusa Corda, ENSAIO
Corda 3 – Nós! Somos nós que movemos o Corda a deusa corda, Corda a deusa corda)
mundo. Corda 4 – Isto não é uma entrevista. Estamos
Corda 1 – Todo Poder às Cordas! na página 99 do Segundo Ensaio.
98 Corda A – (cantando Sinnerman de Nina 99
Simone) Power, Power, Power...
Visivelmente impressionado com a cena,
Ator 2 – Do que vocês estão brincando?
o diretor me pergunta, por três vezes, se
Posso brincar também?
consegui anotar as falas. Respondo que alguns
Corda C – De acordo. Atores: vocês aceitam
ou não obedecer às cordas? trechos escaparam dada a velocidade com
Ator 2 – Eu aceito! que os diálogos aconteceram, mas que anotei
tudo que pude. Comenta com o grupo que
Ator 1 – Eu lhes anuncio o Além do Ator.
O que é a emotividade em comparação com para uma boa parte dos estudiosos de teatro,
a máquina senão riso e escárnio. Oh, meus não seria difícil aproximar alguns espetáculos
irmãos, existe ainda muito de emotivo em vós. do NuTE a uma estética simbolista, o que
Acaso vos digo para que volteis a se emocionar? realmente abriria a possibilidade de cavar essa
Não! Eu vos ensino a Supermarionete. O Ator influência de Gordon Craig com conceitos como
é superável. O que tens feito até hoje para
o de supermarionete. Parabeniza o grupo. Um
superar a ti mesmo? O Ator é uma corda
estendida entre a Emotividade e o Além do Ator. dos atores questiona se a grande influência
A Supermarionete é o sentido do teatro, fazei simbolista do NuTE não viria de Grotowski.
com que sua vontade diga: a Supermarionete é Alexandre responde que o encenador polonês
o sentido do teatro. Assim falava o Ator 1. foi essencial para muitas montagens do NuTE,
Corda B – Para salvar o teatro é preciso um dos pratos principais, sem dúvida. Mas
destruir o teatro: os atores e as atrizes devem que isso não diminui a importância nutritiva
todos morrer de peste. Eleonora Duse. de outras refeições como Gordon Craig, Artaud,
Corda D – Agora que estamos entre amigos, Schechner, Brecht, Heiner Müller, Meyerhold,
uma pergunta: se somos nós que movemos os Bob Wilson.
atores, afinal de contas, quem manipula as
cordas? O diretor propõe visualizar o NuTE como uma
Corda 1 – Deus... tribo de antropófagos. Em meio às gargalhadas
Corda D – Pensei que ele estivesse morto. disparadas pelo canibalismo nuteano –
imagens de uma antropofagia teatral – um ator
Corda 1 – Sim, sim aquele Deus criado
pelos homens já faz tempo, dizem que morreu permanece sisudo. Assim que a onda de riso
estrangulado por sua própria compaixão, mas começa a baixar, ele questiona se não seria
o nosso Deus, a Deusa Corda é eterna... exatamente essa a discussão que suscita a cena
das cordas: fazer pensar aquilo que nos prende exemplo, desenvolve o argumento: “Quando SEGUNDO
e ao mesmo tempo alimenta, que nos manipula assisti há pouco à cena de vocês, fui arrebatado
ENSAIO
e faz voar, que permite criar e aprisiona. Sem por uma centena de imagens, lembranças dos
cordas, como Artaud, Grotowski, Bob Wilson, meus passados, dos meus futuros, das coisas
Craig, o NuTE não seria NuTE. que nunca fui e de algo que venho deixando
100 Alexandre argumenta que, pensando assim, de ser, pude me abandonar por alguns 101
ficaríamos presos – amarrados/alimentados instantes e isso é ótimo, mas se eu estivesse
– a uma dialética panóptico-antropofágica, assistindo à cena com esse conceito no bolso,
que pode ser útil, pode ajudar a levantar um o que vocês acham que teria acontecido
espetáculo, mas esse não seria um espetáculo comigo? Que experiência eu poderia ter? Eu
sobre o NuTE. O ator, ainda sério, pergunta qual seria direcionado, empurrado, aprisionado,
o motivo disso e Alexandre comenta que esse amarrado em uma mono-interpretação.
Vocês percebem o problema disso? Se vamos
conceito-corda nos amarra em dois problemas.
fazer teatro para aprisionar as pessoas nelas
Um problema experimental e um problema
mesmas é melhor não fazer. Se obrigamos
interpretativo. Com muita paciência e didática,
nossa plateia a interpretar uma cena através
houve um momento que precisou demonstrar
de um único sentido, nosso teatro não serve
com laranjas, explica que NuTE só era
pra nada. Teatro não é catequese. O mais
importante é que cada um possa experimentar
(...) experimental porque não haviam leis (...) Hoje
tem a lei e já não é mais experimental, o ator hoje
o NuTE do seu jeito. É óbvio que esse ‘jeito’ de
tá fodido, ele tem que seguir tal lei, tal fórmula, ele experimentar envolve uma série de coisas, o
vai empregar tal método e o modo dele chegar lá cara vai fazer isso a partir do corpo que ele vem
no final já tá demarcado... Então virou mais uma
ajudando a construir pra si próprio. Tem um
espécie de prisão ... Tendo muitas ferramentas
pra se aprisionar e não pra se libertar (...) Porque povo que chama isso de corpo sem órgãos. Mas
qualquer forma de lei é forma de criar limites, ou essa montagem também é experimental, às
patamares, ou então apoios... No momento em que vezes não dá certo e o cara não consegue nada,
a pessoa tá se apoiando, ou criando apoios, ela tá
segura, ela tá tranquila, quer dizer, nessa proteção não acontece nada com ele, não passa nada
existe uma espécie de lei, em que ela tá sendo por ele, o corpo simplesmente trava. Ele tá ali
dominada... (entrevista com Alexandre Venera, assistindo a um puta espetáculo e só consegue
página 6).
ficar entediado, fica pensando na pizza que
vai comer com os amigos depois que a peça
Já o problema interpretativo, continua terminar. Nós não podemos, em detrimento, ou
Alexandre, surge quando a cena, mesmo por compaixão dos que só conseguem pensar na
experimental, como acabou de ser, é direcionada pizza, facilitar o acesso, porque assim acabamos
por esse conceito. Tomando a si mesmo como impondo um único acesso a todos. Isso não
é arte, é fascismo. Às vezes a democracia é perguntar se Alexandre havia passado por SEGUNDO
extremamente fascista. Hoje é moda criticar ali. Eles respondem que não e querem saber
ENSAIO
o teatro comercial. Nunca vi problema em se se eu havia compreendido a diferença entre o
ganhar dinheiro fazendo teatro. O problema é Hoje tem Teatro e o 3 Terças tem Teatro. Nesse
fazer teatro para impor verdades que ninguém instante, noto que o espelho do Camarim está
102 tem certeza se são mesmo verdades ou se completamente preenchido com cópias do 103
são delírios compartilhados por um grande mesmo cartaz:
número de pessoas. Nós não somos padres,
somos artistas. Por isso, quanto mais aberta,
mais ampla, mais plural for nossa arte, mais
possibilidades de interpretação terá o nosso
público, melhor será o nosso espetáculo. Vocês
compreendem o que eu digo?”. Em coro, os
atores dizem “Sim senhor!” e batem continência
às gargalhadas. Alexandre não gosta da
brincadeira, resmunga algo incompreensível e Cartaz produzido por
abandona o ensaio dizendo que não vai mais Flávio Meirinho.

dirigir “porcaria nenhuma”. Insiste nas frases


“vão tomar no cu” e “não dirijo mais essa
Informo o grupo sobre o sumiço repentino
merda”. Os atores, estupefactos, sem saber o
de Alexandre e sugiro que retornem ao Palco do
que fazer, olham uns para os outros; o silêncio
Grande Auditório, para conversarmos, os três
pesado e absurdo dura longos segundos, até
grupos, juntos. Saio em direção ao Corredor
que todos os olhares, cruzando o meu, cobram
acompanhado por um dos atores que retoma
uma saída, ou ao menos um sentido provisório a pergunta anterior. Caminhando, à procura
ao acontecimento. Eu balanço as mãos e a de Alexandre, digo que minha impressão é a
cabeça, atordoado, numa gesticular tentativa de que não existem dois, mas sim um único
incapacitada de direcionar a cena. Por fim, projeto com dois nomes diferentes. Inicialmente,
digo-lhes que também não sei o que fazer. Peço em dezembro de 1984, era Hoje Tem Teatro,
para que aguardem alguns minutos enquanto e quando retomaram o projeto em 1986,
procuro Alexandre no Corredor e no Camarim. chamaram de 3 Terças Tem Teatro. Não consigo
Quando entro no Camarim, encontro prestar muita atenção na conversa, a cada sala
os atores, sentados em círculo no chão, que passamos entro e procuro Alexandre. O
conversando a respeito do projeto 3 Terças ator, que não para de falar um segundo, tenta
Tem Teatro. Interrompo o diálogo para me convencer de que o JOTE-Titac – Jogos de
Teatro, Texto, Interpretação e Técnica nas Artes de encerramento do Hoje Tem Teatro) começou, SEGUNDO
Cênicas – seria uma continuação desse projeto. dentro do Teatro Carlos Gomes, a desenvolver
ENSAIO
Respondo que podemos pensar numa certa um curso de mímica que vinha realizando na
influência, mas que existem muitas outras Sulfabril. Resolveu, em parceria com Alexandre
forças atuando na invenção do JOTE-Titac. Venera, acoplar a esse curso, já que o curso
104 E que teremos um momento mais adequado poderia ter o nome dele ou qualquer outro, o 105
para fazer essa discussão. Ele insiste que sem mesmo NuTE que havia realizado o Hoje Tem
aquele projeto inicial não seria possível chegar Teatro. Ao final desse curso, os atores montam
ao formato dos Jogos de Teatro, acredita que o espetáculo Pantomimas e nesse ano não
também a escola de teatro do NUTe tenha ocorre Hoje Tem Teatro. Mas o Pantomimas
origem nesse projeto. aparece como espetáculo do NuTE. Logo no ano
Numa respiração dele, consigo emitir alguns seguinte o final do curso volta a ser o Hoje tem
sons próximos de “sua interpretação me parece Teatro, com a diferença de ser chamado de 3
um tanto apressada”; ele não ouve e continua Terças Tem Teatro e, fundamentalmente, com
falando, fala cada vez mais e mais rápido. Quer a diferença de que agora quem se apresenta
me convencer a todo custo, não sei bem porquê, são apenas os alunos do curso.
de sua estranha teoria sobre o começo do NuTE. O ator metralhadora, cuspindo doze
Na opinião dele, em 1984, antes do NuTE o que palavras por segundo, quase sem ar, pergunta
havia era apenas uma ideia na cabeça do então um instante antes de tomar fôlego: “Não seria
coordenador de eventos do Teatro Carlos Gomes: muita coincidência, no final do curso de teatro
o Hoje tem Teatro. Esse coordenador queria dado pelo NuTE de 1987, aparecer o JOTE-
provocar/fomentar apresentações teatrais e, Titac com elementos tão próximos do Hoje Tem
para isso, convida os grupos de teatro da cidade Teatro: tempo reduzido para montagem, textos
e sugere que cada grupo monte em apenas dois curtos, apresentações de vários grupos em
meses um texto curto para apresentar, sem apenas um dia? E com relação à escola de teatro
custo nenhum, no palco do grande auditório do NUTe, sem o Hoje Tem Teatro, Wilfried teria
do Teatro Carlos Gomes. Ele me pergunta se aproximado seus cursos de mímica do Núcleo
tenho ideia do preço que o Teatro Carlos Gomes de Teatro Experimental?”
cobra por apresentação nesse espaço. Tento Aproveito a respiração do ator para, mais
responder, mas ele está com a boca entupida uma vez, comentar sua pressa em concluir
de palavras, precisa falar, e falando me diz que um roteiro aberto. Um roteiro que perde muito
em 1985 o que aconteceu foi que o diretor do quando aprisionado num começo, meio e fim
grupo de mímica da ADR Sulfabril, Wilfried de causas e efeitos. Ele não compreende; tento
Krambeck (o mesmo que trouxe o espetáculo novamente, dizendo que apesar de um gosto
popular pelas novelas e romances em que tudo acontecimento estaria presente, forçando a SEGUNDO
linearmente começa, se desenvolve e termina em história do NuTE a ser como ela é. Eu digo
ENSAIO
momentos precisos, na vida real as tramas são que sim e mais que isso, que para além das
bem mais complexas. Nem sempre uma coisa múltiplas forças envolvidas no acontecimento,
leva a outra, geralmente é um emaranhado de o que inventa sentido à cena é o observador.
106 redes que força algo a acontecer. Tomo como Comento que tudo o que ele fez há pouco foi 107
exemplo as atividades desenvolvidas já em ocupar o lugar de um observador que tentava dar
1985 pelo NuTE: um sentido ao caos das linhas em movimento.
Ele estranha a ideia de movimento. Eu explico
09/05 – Palestra com os atores "Pepita Rodrigues que o passado não está parado, que ele se move
e Eduardo Dolabella"; 13/05 – Workshop sobre
"O Comportamento do Elemento no Grupo Teatral quando tentamos observá-lo, e complemento
(Arte em Grupo) com o Prof. Thiers Camargo" dizendo que estou muito mais interessado em
(do Grupo Sia Santa de Campinas/SP); 06/06 –
uma espécie de geografia ou de arqueologia do
Palestra com os atores do Grupo "La Nave Vá" [Và];
27/06 a 23/12 – "Curso de Mímica e Pantomima" NuTE do que propriamente em sua história.
com o Prof. Wilfried Krambeck; 12 a 14/09 – Traçar, encontrar, inventar mapas que ajudem
"Primeiro Seminário de Teatro" com o Prof. Thiers
Camargo 09 a 13/10 – Performances no "Estande
o leitor a sobrevoar paisagens nuteanas, é isso
de Mini-Teatro no IV SALÃO BLUMENAUENSE DA que estou tentando fazer. O ator ironiza meu
CRIANÇA"; 23/12 – Espetáculo "PANTOMIMAS" no argumento. Não compreende como poderiam as
GA/TCG.
tais forças, que estão em disputa, caminharem
de mãos dadas rumo ao mesmo vetor. Rindo
Cada um desses eventos empurrou, com a
muito, ele me pergunta como elas fecham os
força que conseguia, o NuTE numa direção. Se
acordos entre elas. Um tanto aborrecido com
o vetor resultante dessas forças naquele ano é o
as piadinhas, faço de conta que não ouço a
que conhecemos hoje, não podemos simplificar
pergunta; sempre que vejo uma possibilidade,
dizendo que no ponto A começa a mover algo
que irá passar pelo ponto B e terminar em C. tento me distanciar, procurando Alexandre
Da mesma forma, não é possível remeter um aqui e acolá. Ele repete a pergunta. Novamente
acontecimento à filiação direta de uma pessoa. não respondo. Ele percebe que estou tentando
O sujeito nunca é origem de nada. Ele é sempre me afastar e, levantando a voz pelo pouco de
atravessado por uma multiplicidade de forças distância que já surgia, diz:
que o constituem fazendo produzir. Tentei falar Ator – Como podem essas tais linhas
algo sobre a importância da música e do teatro de força, que você diz múltiplas e em duelo
têxtil para o NuTE, mas o ator me interrompeu permanente, estabelecerem um acordo para
sorrindo, achando impossível analisar dessa criar uma paisagem nuteana que possa ser
forma, porque se assim o fosse, todo e qualquer sobrevoada?
Nesse exato instante adentramos ao chegamos ao Palco do Grande Auditório. Aos SEGUNDO
Corredor. A pergunta que chegou antes é três grupos reunidos informo que não consegui
ENSAIO
tomada pelos atores que ali estavam, aquecidos encontrar Alexandre em nenhum local do
na discussão conceitual, como parte do jogo teatro. Compartilho a angústia de não saber
cênico. Iniciam uma improvisação sobre o tema. o que fazer. Um ator propõe que os grupos
108 Interrompo para perguntar sobre Alexandre. apresentem uns para os outros, como Alexandre 109
Como já esperava, a resposta foi negativa. inicialmente havia proposto, a cena produzida.
Explico a situação e convido o grupo para nos Todos concordam. Aproveito para melhorar
acompanhar até o Palco do Grande Auditório, minhas anotações. Ao final das apresentações,
contente por me afastar finalmente das marco o próximo ensaio para dia 26 de abril de
perguntas fora de hora do ator falante. Minha 2015.
alegria, contudo, dura apenas umas poucas
linhas. Assim que começamos a caminhar,
mais uma vez, ele retornou à questão.
Ator – Como podem essas tais linhas de força,
que você diz múltiplas e em duelo permanente,
estabelecer um acordo para criar uma paisagem
nuteana que possa ser sobrevoada?
Para minha surpresa, um dos atores do
Corredor, percebendo meu cansaço com a
discussão, conseguiu costurar uma síntese
provisória ao complexo e inesgotável tema. Para
esse ator, as forças não estabelecem acordos.
Quem as comanda é uma determinada Vontade,
sua vetorização, sua síntese é realizada por
essa Vontade. “A força é quem pode, a vontade
de potência é quem quer, (...) é sempre pela
vontade de potência que uma força prevalece
sobre outras, domina-as ou comanda-as. Além
disso, é a vontade de potência ainda que faz
com que uma força obedeça numa relação; é
pela vontade de potência que ela obedece”22.

22. Deleuze, Nietzsche


O ator perguntante finalmente silencia.
e a Filosofia, p. 26. Vence nele uma força menos ruidosa. E assim
Foto: Acervo NuTE

cena da performance ’k’.


io josé da luz.
na frente: marcelo de souza; atrás: silv
Terceiro Ensaio – 26 de abril de 2015 TERCEIRO
ENSAIO

Domingo e Chuviscos
(...) esperando até as 15h. 113
Imagem Insistente: O Excesso.

Olho-lâmina, olho-estilete, olho-corte, olho-


navalha, olho-faca, olho-sangue, olho-foice,
olho-máquina-de-roçar-grama, olho-estripar,
olho-moto-serra, olho-agora-fodeu-tudo. Todo
o grupo me olhava. Alguns chegaram atrasados,
é verdade, coisa de cinco a dez minutos,
mas a grande maioria estava ali desde as 14
horas, conforme rezava o contrato. Um pouco
conversamos, um pouco rimos, em pouco tempo
não havia mais nada. Uma única e excessiva
pergunta se espalhava fazendo ranger o silêncio:
Alexandre vai continuar dirigindo o espetáculo?
Se vai, onde estaria o desgraçado a uma hora
dessas; se não vai... Bom, melhor não pensar
nisso. O atraso dos poucos permitiu explicar,
por três vezes, minha peregrinação em busca
desta resposta: assim que cheguei, assim que
os primeiros atores atrasados chegaram, assim
que os segundos atores atrasados chegaram.
Mas agora, com toda munição gasta, não
tinha mais pra onde correr. A lâmina circular
dos bem treinados olhares fazia cortar, eram
finas incisões, agudas, eu as podia sentir
estridentes, transversalizadas em minha pele. apoiadores se o espetáculo não saísse conforme TERCEIRO
De nada adiantava repetir as mais de 20 vezes combinado. Será que teríamos que devolver o ENSAIO
que liguei, as tantas que deixei recado ou ainda dinheiro? Será que meu nome ficaria queimado
que pessoalmente estive na casa de Alexandre, para novos projetos? Que merda, o que fazer?
e que de nenhuma forma consegui encontrá-lo. O relógio corria: 14h43min (...) 14h49min
114 O silêncio fazia buraco, exigia uma resposta. E, (...) 14h55min (...) 15h (...) 15h07min (...) 115
infelizmente, a resposta que veio precipitada e Quando chegou em 15h15min, eu havia me
cretina, eu concordo, foi. transformado num quase budista de quietudes
– Bem pessoal, vamos esperar até as 15 abstratas. Um dos atores, percebendo, resolve
horas. Se Alexandre não aparecer, tenho uma abrir a ferida.
proposta para lhes fazer. – Parece que Alexandre não vem mesmo.
O olho-lâmina foi cedendo lugar ao Qual seria sua proposta?
cínico-olho-interrogativo. Nos grupelhos, frases – Na verdade não tenho proposta
sussurradas para que eu ouvisse sem poder nenhuma, falei para acalmar vocês, ou para me
ouvir eram abafadas: acalmar, não sei ao certo. Estou muito ansioso
– Esse babaca não vai ter coragem de... com a prestação de contas do projeto, vocês
todos estão recebendo seus cachês em dia, o
– (...) mas ele mal sabe escrever, quem
aluguel desse teatro não é barato, as refeições,
dirá...
as despesas com transporte, muita coisa já foi
– Seria muita arrogância dele, acho que paga; mas o que vamos fazer se esse espetáculo
precisamos... não sair? Meu receio é de que tenhamos que
– Na época do NuTE sempre foi assim, devolver esse dinheiro, e isso forçosamente vai
Alexandre brigava com a gente, abandonava os obrigar cada um de vocês a devolver as parcelas
ensaios e depois retornava, quem não lembra que já recebeu.
disso? Não podemos permitir agora que esse... Olho-cifra, olho-fraterno, olho-nós,
Sim, a frase que flutuava entre as bocas olho-solidariedade. Finalmente o grupo me
atuantes me havia escapado. Mas nunca me acolhe; percebem que o “bom andamento
passou pela cabeça dirigir o grupo, talvez a do projeto” não depende apenas de mim.
pressão das lâminas, talvez o silêncio, difícil Sentamos, em círculo, no piso madeirado do
dizer. Agora, além da ausência de Alexandre, palco. Conversamos. A opinião era unânime:
eu tinha que consertar isso. Pra melhorar, Alexandre é quem deve dirigir. Ninguém pode
só conseguia pensar na prestação de contas tomar esse lugar. Combinamos aguardar seu
do projeto, no início da turnê, marcada para retorno. A grande maioria tinha certeza de que
daqui a dois meses, no que iriam dizer nossos ele iria voltar, já que essa não era nem a primeira
e nem a segunda vez que Alexandre fazia isso. EXUBERANTE CRONOLOGIA TERCEIRO
Era mesmo costume dele abandonar os ensaios ESPETACULAR DO TEATRO ENSAIO
e depois retornar. Mas o que se pode fazer na EXPERIMENTAL E DO TEATRO ESCOLA
ausência de um diretor, quando ninguém se NUTEANESCOS
atreve a dirigir? Aos poucos, foi ganhando forma
116 uma proposta de estudo, cuja finalidade seria e/ou PUTA QUE PARIU!!! ESSES CARAS 117
potencializar as cenas que seriam montadas MONTARAM 185 (cento e oitenta e cinco)
quando Alexandre retornasse. ESPETÁCULOS
Assim, eles me pediram para que lhes
fornecesse algum material novo, algo em que
estivesse trabalhando nos últimos dias. Eles
dedicariam o ensaio de hoje ao estudo desse
1984
material e, no próximo sábado, quando ESPETÁCULOS APRESENTADOS PELO
Alexandre estivesse conosco, assim falavam, o PROJETO HOJE TEM TEATRO
utilizariam para composição das cenas. A ideia
me pareceu muito boa, mas que tipo de material 1 – Nariz Novo
daria conta de uma ressonância dessas? A Direção: Alexandre Venera e Mauro Machi.
única imagem que me veio, provavelmente Texto: Robert Thomas.
pela proximidade, havia terminado uma Elenco: Luciana, Olivia, Josué, Álvaro.
noite antes do ensaio, foi a da cronologia dos Força Cênica Preponderante: Teatro Experi-
mental.
espetáculos montados pelo NuTE. Brevemente
Estreia: 10 de dezembro de 1984.
expus a pesquisa ao grupo que, vibrando com
a imagem de acessar numa única pegada
2 – Reencontro
todas as montagens-NuTE, insistiam na
Direção: Alexandre Venera.
importância desse material para o espetáculo.
Texto: Rubem Fonseca.
Como não havia imprimido nenhuma cópia,
Elenco: Bete, Calinho.
pois não imaginava que algo assim pudesse
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi-
acontecer, liguei meu notebook, gravei o mental.
arquivo num pen-drive e, já de saída em busca Estreia: 10 de dezembro de 1984.
de uma gráfica, percebo um ator sacando um
projetor multimídia de sua mochila. Ele sugere 3 – A Dama de Copas e o Rei de Cuba
projetarmos a cronologia nas paredes brancas Direção: Alexandre Venera e Valem Rodrigo.
do teatro. Achei muito bonita a metáfora. Foi o Texto: Timochenco Wehbi.
que fizemos: Elenco: Tania, Verinha.
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi- Direção: Wilfried Krambeck.
mental. Texto: Wilfried Krambeck.
23. prezado leitor,
Estreia: 10 de dezembro de 1984. para as doze
Elenco: Diogo Junkes, Sandra Cardoso, Valdir
Lopes, Iraci Krambeck, Álvaro A. Andrade, montagens
Roberto Schindler. mais relevantes,
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. preparamos
118 um ‘livreto
Estreia: 23 de dezembro de 1985.
1985 espetacular’, que,
provavelmente,
PANTOMIMA Importante: este espetáculo é resultado do
curso de teatro e mímica ministrado por você já encontrou
Wilfried Krambeck. Curso que aconteceu entre nos anexos deste
27 de junho e 23 de dezembro de 1985 com livro.
carga horária de 160 horas/aula. É a primeira O livreto é uma
montagem do NuTE que resulta do aprendizado coleção de textos
em teatro; tendo como recurso para estudar que versam sobre
teatro a construção de um espetáculo.
os doze espetáculos
escolhidos.

Foto: Acervo NuTE


Para escrever sobre
esses espetáculos
foram convidados
atores, diretores,
Livreto Espetacular: para técnicos, poetas
saber mais sobre a
4 – Pantomima montagem, consulte o que participaram
Sinopse: o espetáculo conta com uma sequência artigo de Wilfried e/ou assistiram
de quadros – cenas – que são apresentadas Krambeck no anexo Livreto tais montagens.
segundo esta ordem: menores abandonados Espetacular.23 Portanto,
(drama), protagonizado por Sandra Cardoso; sempre que
nascimento, vida e morte das plantas, relação nesta cronologia
destas com os animais selvagens e intempéries aparecer o carimbo
da natureza (drama), com participação de todo a seguir, é sinal de
elenco; O terceiro quadro (drama com grande
força expressiva) inicia com um poema sobre
que um bom artigo
a insanidade humana e o respectivo abandono lhe aguarda.
social do "louco", recitado por Sandra Cardoso,
na sequência, apresenta-se a "convivência"
deste num ambiente manicomial. Por fim,
os quadros cômicos com a maquiagem dos
personagens sendo feita em cena.
1986 Wilfried Krambeck também coordenou
organizou o currículo dos cursos.
e TERCEIRO
ENSAIO
ESPETÁCULOS APRESENTADOS PELO
PROJETO 3 TERÇAS TEM TEATRO 6 – Morte

120 121
“Pandareco: O Rei do
Riso”, Esquete apre-
sentado pelo Grupo
Teatrhering, o qual
fora convidado pelo

Foto: Acervo NuTE

Foto: Acervo NuTE


NuTE para se apresen-
tar no encerramento
do 3 Terças Tem Tea-
tro em 24 de junho de
1986. Elenco: Antonio
R. Carvalho, Cleusa
M. de Melo, Custódia
Marcos, Inês Pereira,
José Lino Frutuoso e
Rosimeri Lunelli. Di- 5 – Alegoria ao Vamos ao Teatro
reção: Cláudio A. Sch- Direção: Wilfried Krambeck.
midt. Direção: Alexandre Venera dos Santos. Texto: charges do cartunista chileno COPI.
Texto: Alexandre Venera dos Santos sobre parte Elenco: Adriana Kalckmann, Wilfried Krambeck,
da música Coming home to see you. Álvaro de Andrade.
Elenco: Dennis Radünz, Elisete Creuz, Isabel Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Ribeiro, Maria Teresa Dias, Claudio Constantin, Estreia: 10 de junho de 1986.
Sandra Cardoso, Flavio Meirinho, Deise
Gonçalves, Waldir Lopes, Marlise dos Santos,
Alexandre Correia, Deucélia Travasso, Deliani 7 – Segunda-feira de Cidade Grande
Travasso, Evi Geisler, Tanise Creuz, Leandro Direção: direção coletiva.
de Assis. Texto: autoria coletiva sobre tema exposto.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Elenco: Isabel Ribeiro, Tanise Cruz, Deucélia
Estreia: 10 de junho de 1986. Travasso.
Importante: diferente do ano anterior, onde Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
apenas Wilfried Krambeck ministrou aulas, o Estreia: 10 de junho de 1986.
curso de iniciação ao teatro em 1986 é dado
por vários professores. Ao final do curso,
temos o 3 Terças Tem Teatro (em junho) e as 8 – Diversões Eletrônicas
apresentações finais do curso de iniciação ao Direção: Flavio Meirinho.
teatro (em julho) com praticamente os mesmos Texto: adaptação de Flávio Meirinho sobre tema
atores-alunos. Além de professor, nesse ano de Arrigo Barnabé.
Elenco: Flavio Meirinho. Elenco: Waldir Lopes, Álvaro de Andrade, TERCEIRO
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Sandra Cardoso.
ENSAIO
Estreia: 10 de junho de 1986. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 10 de junho de 1986.
9 – Canibalismo
122 Direção: Dennis Radünz. 123
Texto: Luís Fernando Veríssimo. MOSTRA DE FINAL DE CURSO – PRIMEIRO
Elenco: Evi Geisler, Claudio Constantin, SEMESTRE
Leandro de Assis, Dennis Radünz.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
12 – Grito d´Alma
Estreia: 10 de junho de 1986.
Direção: Deise Gonçalves.
Texto: criação coletiva.
10 – O Sonho
Elenco: Tanise Creuz, Elisete Creuz, Marlise
Texto: adaptação de Marlise dos Santos sobre dos Santos.
música de Vanusa.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Elenco: Marlise dos Santos.
Estreia: 31 de julho de 1986.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 10 de junho de 1986.
13 – E isso é vida?
Direção: Isabel.
11 – Gênio e Cultura
Autor do Texto: criação coletiva.
Elenco: Deucélia, Deliani, Leandro, Rosane.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 31 de julho de 1986.

14 – Ciranda ao redor da fonte


Direção: Dennis Radünz.
Autor do Texto: Dennis Radünz.
Foto: Acervo NuTE

Elenco: Dennis Radünz, Maria do Carmo


Machado, Lauro Radünz.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 31 de julho de 1986.

15 – Outrora
Direção: Alexandre Venera dos Santos. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Texto: Umberto Boccioni. Estreia: 31 de julho de 1986.
MOSTRA DE FINAL DE CURSO ironiza as qualidades da outra. O fio condutor TERCEIRO
SEGUNDO SEMESTRE de toda a proposta desse segundo ato é o texto
ENSAIO
“O Mendigo ou o Cão Morto” de autoria de
Bertold Brecht, que em sua teoria teatral nos
16 – Essa Tal de Evolução solicita refletir criticamente muito mais sobre a
Direção: Wilfried Krambeck. mensagem colocada (texto) do que sobre o meio
124 Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. de execução (desempenho), embora um seja o 125
complemento do outro. “O Mendigo ou o Cão
Estreia: 15 de outubro de 1986.
Morto” é em si mesmo uma fábula, a parábola
Importante: apresentação de alunos do Curso do Espelho, Espelho Meu, e é bom saber que
de Mímica. quem está no trono procura ficar informado.
Direção: Alexandre Venera.
CLASSE GLACÊ Texto: adaptação sobre textos de Luís Fernando
Veríssimo e sobre o texto O Mendigo ou o Cão
Morto, de Bertold Brecht.
Elenco: Alan Ada Kardek, Álvaro de Andrade,
Claudio Constantino, Dennis Radünz, Deise
Gonçalves, Deucélia Travasso, Elisete Creuz,
Isabel Ribeiro, João de Oliveira, Marlise dos

Acervo NuTE
Santos, Maria Teresa Dias, Rosane Paasch,
Tanise Creuz, Antonieta Kraus.
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi-
mental.
Estreia: 09 de outubro de 1986.
17 – Classe Glacê
Importante: até onde conseguimos mapear,
Sinopse: Classe Glacê é um espetáculo em foi a primeira vez que um grupo de teatro
dois atos. Na primeira parte, através de uma blumenauense montou Bertold Brecht.
coletânea de textos baseados em artigo de
Luís Fernando Veríssimo, os atores se revezam
nos vários momentos, repetindo situações
que, como um exercício teatral, mostram VEIAS CATIVAS
os problemas que as diferenças de classes
proporcionam na luta pela sobrevivência e 18 – Veias Cativas
a esperança de se elevar nos diversos níveis
sociais. A segunda parte é uma reflexão-prática Sinopse: um espetáculo “musicado”, porque
de um confronto das classes. Cada um “vê” à não é cantado, mas é dublado e falado; não é
sua maneira os problemas e as vantagens do dançado, mas é coreografado e interpretado.
outro. E como na parábola A Raposa e as Uvas, Direção: Alexandre Venera.
cada classe se orgulha das suas desventuras e Texto: poemas de Rosane Magaly Martins e
Músicas de Ney Matogrosso. nós nos preocupamos com o fim e só sabemos TERCEIRO
Elenco: Alan Alda Kardek, Álvaro de Andrade, o que passou. Assim é com a vida como com o
espetáculo “21 Cadeiras”. Para a vida o tema
ENSAIO
Carlos dos Santos, Claus Jensen, Evelis Sailer,
Gilmar Borges, Marlise de Valbone, Neli Lenzi, do improviso é viver, e para o espetáculo “21
Raquel Furtado e Rosane Magaly Martins. Cadeiras” o improviso é relacionado com o tema
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi- título, que assenta anatomicamente a nossa
126 mental. proposta de sobreviver. Pegue a sua cadeira 127
e venha assistir ao nosso improviso. Sente-se
Estreia: 16 de dezembro de 1986. à vontade, mas cuidado com a Aids, que é o
tipo de doença que se pega sentando em cima.
Sinta-se confortavelmente sentado em nossa
roda. Nós vamos girar, virar e torcer por você!
E isso é só o início...
Direção: Alexandre Venera.

Foto: Acervo NuTE


Texto: criação coletiva.
Elenco: Wilfried, Iraci, Gilberto, Helena, Tete,
Marcia, Raquel, Álvaro, Adriana, Tanise,
Rosane, Karla, Antonieta, Dido, Diogo, Dennis,
Marlise, Sandra, Alan, Ula, Natália, Jota.
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi-
Livreto Espetacular: para saber mais sobre a mental.
montagem, consulte o artigo de Rosane Magaly Estreia: 10 de março de 1987.
Martins no anexo Livreto Espetacular.

O TÚNEL
1987 20 – O Túnel
Sinopse: em linhas gerais, O Túnel
Acervo NuTE

mostra a passagem “desta para


21 CADEIRAS a melhor”. E essa passagem é tão
rápida que ele nem se dá conta.
19 – 21 Cadeiras Excitado, não para de falar, mas
Sinopse: veja bem: num espetáculo, a criação aos poucos vai enfraquecendo,
espontânea para o artista é o tempero e, para o prestando mais atenção a sua volta,
público, é o divertimento. O improviso é nosso ao amigo Jorge, que vai ao seu
companheiro em todas as nossas atitudes. encontro – compreendendo, por fim,
Nossa vida é um improviso. Todos improvisam: sua verdadeira situação.
no relacionamento, no trabalho, no amor, na
briga ou no sofrimento. Quando se está por Direção: Alexandre Venera.
cima, por baixo, colocado de lado ou até no Texto: Paer Lagerkvist.
meio, não se conhece precisamente o início, Elenco: Alex Müller, Claus Jensen,
Helena Brown, Álvaro de Andrade. os seus propósitos, há a cisão. Esta ordem de TERCEIRO
Força Cênica Preponderante: Teatro Experimen- acontecimentos tem uma sequência cíclica e
até retrógrada, que aos poucos constrói, ou
ENSAIO
tal.
Estreia: 29 de maio de 1987. até rapidamente se transforma, na essência do
passado. E o passado, através da experiência
Importante: inauguração do Espaço (O)Caso. dos seres, constrói uma “meda” individual
128 ou coletiva até, onde são armazenadas as 129
ATENDENDO A PEDIDOS experiências já sentidas e representadas pelos
“fios da experiência”. A “meda” é o acúmulo
de propostas realizadas, onde são empilhadas
21 – Atendendo a Pedidos uma a uma, numa construção cônica: “a
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. pirâmide da existência”. Ao ter-se demais
Estreia: 05 de junho de 1987. de um só fio de experiência na “meda” deste
ser, há uma deformação na construção dessa
“meda” e sua consequente desestabilização.
MORCEGO PESSOA Entre outros seres, o Homem do Capote deu
importância demasiada a uma só atitude e faz-
22 – Morcego Pessoa nos preocupar como outros seres.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Direção: Alexandre Venera.
Estreia: 26 de outubro de 1987. Texto: adaptação de Alexandre Venera a partir
de poemas de Lindolf Bell e criações coletivas.
Elenco: Carlos, Alan, Giba, Juliana, Sabrine,
O HOMEM DO CAPOTE E OUTROS SERES Mari, Jota, Zé, João, Dennis, Gilberto, Wilfried,
Iraci, Do Carmo, Cléo.
23 – O Homem do Capote e Outros Seres Força Cênica Preponderante: Teatro Experimen-
Sinopse: há muitos, muitos anos, continuamen- tal.
Foto: Acervo NuTE te se encontram, num espaço indeterminado, Estreia: 01 de novembro de 1987.
vários seres. Estes seres desenvolvem Importante: primeiro espetáculo assinado pelo
suas atitudes individualizadas a distância, Grupo Liturgia do Teatro, que nas próximas
de maneira impenetrável e particular. O montagens irá aparecer como Grupo Fusão
encontro com outros seres é técnico e restrito Liturgia do Teatro e Para-choques. Em Bomba
ao essencial, sendo o primeiro encontro Nucleada, zine manifesto escrito por integrantes
muito curto. Estes seres se preocupam do NuTE pós-apresentação de O Homem do
narcisicamente, ao ver e ouvir o outro, pouco Capote e Outros Seres no Fecate – Festival
tentando entendê-lo ou criticá-lo. Os seres Catarinense de Teatro – lê-se “(...) durante
necessitam do convívio social e se aproximam todo o espetáculo, a condição de desencanto
daqueles com os quais sentem afinidades. Com é flagrante e, segundo Antonin Artaud em um
a soma dos interesses, ocorre a ligação total, de seus manifestos sobre as obras-primas, ele
onde a união, de qualquer maneira, faz crescer. nos adverte: “Uma das razões da atmosfera
Entretanto, a desunião, como um desencanto, asfixiante na qual vivemos sem escapatória
acontece afastando os seres. Entre si ou entre possível e sem remédio – e pela qual somos
todos um pouco culpados, mesmo os mais TERCEIRO
revolucionários dentre nós – é o respeito pelo que
ENSAIO
é escrito, formulado ou pintado, e que assumiu
uma certa forma, como se toda expressão já
não estivesse exaurida e não tivesse chegado
ao ponto em que é preciso, em que as coisas

Foto: Acervo NuTE


130 estourem para que se recomeçasse tudo de 131
novo”. E é nessa afirmação de Artaud que
se baseia o tema expressivo do espetáculo,
mostrando essa singular e invulgar maneira de
se interpretar a arte cênica”.

Livreto Espetacular: para saber mais sobre a


montagem, consulte o artigo de Dennis Radünz Atores: Iraci Potrikus, César Reis e Dennis
no anexo Livreto Espetacular. Radünz.
Iluminação: Carlos L. Correia (Cahco).
GESTO E SENTIMENTO À MODA DA CASA
24 – Gesto e Sentimento à Moda da Casa O MOÇO QUE CASOU COM MULHER BRABA
Direção: Wilfried Krambeck.
Texto: Diogo Junckes, César Reis, Wilfried 26 – O Moço que Casou com Mulher Braba
Krambeck. Direção: Alexandre Venera.
Elenco: César Augusto Reis, Diogo Fernado Texto: Don Juan Manuel.
Junkes, Iraci Potrikus, Wilfried Krambeck. Elenco: Rosana, Elke, Veruska, Betina, Marcia,
Sonoplastia: Carlos Zanon. Arethuza, Sabrina, Tânia, Sandra, Eunice,
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi- Adilson, Samara, Nelson, Ariana.
mental. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 27 de julho de 1987. Estreia: 13 de junho de 1988.

1988 APOCALYPSIS CUM FIGURIS NA VISÃO DE


SANTA CATARINA, OS ANJOS E NÓS
ILUSTRAÇÃO GESTUAL DE POESIAS
27 – Apocalypsis Cum Figuris na Visão de
BLUMENAUENSES Santa Catarina, os Anjos e Nós
Sinopse: Apocalypsis Cum Figuris na Visão
25 – Ilustração Gestual de Poesias de Santa Catarina, os Anjos e Nós é um
Blumenauenses espetáculo de colagens das diversas passagens
Direção e Narração: Wilfried Krambeck. da vinda de Cristo, visualizadas sob o ângulo
Textos: autores blumenauenses diversos. da modernidade do tempo em que vivemos.
Apocalypsis não é um teatro convencional, TERCEIRO

Foto: Everson Bressan / JSC/ Acervo NuTE


pela ausência de diálogo e trama, situações
ENSAIO
que normalmente norteiam a comunicação
dramática. Para o espectador, processa-se
uma viagem transcendental que passa pelos
seus olhos com a história que está embutida
132 em sua memória ancestral. Essa montagem é 133
um poema, poesia pura, e é mais fácil entender
um poema do que explicá-lo. O Apocalypsis se
define pela expressão do corpo do ator e através
dos textos/fragmentos poéticos de vários
poetas catarinenses, que servem de subsídios
para citações e desabafos emocionais.
Direção: Alexandre Venera.
Texto: adaptação de Alexandre Venera sobre
texto de Konstanty Puzyna, que discute a Fusão Liturgia do Teatro e Para-choques efetua
montagem original de Jerzy Grotowski (1967), e uma releitura de dois expoentes da dramaturgia
sobre textos de escritores e poetas catarinenses, universal. Independentemente, estes textos
como Lindolf Bell, Cruz e Souza, Artemiro no original permitem um realinhamento de
Zanon, entre outros. cenas de início, meio e fim que, entretanto, não
Elenco: Álvaro de Andrade, Carlos Crescêncio, alteram o conteúdo da obra. O que caracteriza
Claus Jensen, Dennis Radünz, Giba de Oliveira, Variante Woyzeck-Mauser como outra obra
Marcos Suchara, Pépe Sedrez. original é a união de alguns temas resgatados de
Força Cênica Preponderante: Teatro Experimen- um e de outro texto, dentro de uma outra ótica
tal. divergente da dos originais em que se baseia.
Estreia: 28 de novembro de 1988. O resultado é uma mensagem irônica sobre o
Grupo: Grupo da Fusão Liturgia do Teatro e falso moralismo da nossa sociedade: um jogo
Para-Choques. da vida para o cidadão que passa a ser como
uma marionete nas mãos de uma sociedade
Livreto Espetacular: para saber mais sobre que lhe cobra as mais absurdas atitudes.
a montagem, consulte o artigo de Alexandre
Venera dos Santos no anexo Livreto Espetacular. Direção: Alexandre Venera.
Texto: livre-adaptação de Alexandre Venera,
Giba de Oliveira e Pépe Sedrez, sobre texto
1989 de Georg Büchner (Woyzek) e Heiner Müller
(Mauser).
Elenco: Roberto Murphy, Ivan Felicidade,
VARIANTE WOYZECK-MAUSER Álvaro de Adrade, João da Matta, Alex Müller,
Ernesto Santos, Everton Fonseca, Michelli
28 – Variante Woyzeck-Mauser Rocha, Paulo de Araujo, Sidnei Mafra, Regina
Sinopse: com essa montagem, o Grupo da Simas, Rita Macado, Pépe Sedrez, Marcio Mori,
Amarildo Fortunato, Claus Jensen, Cleide TERCEIRO
Furlani, Dennis Radünz. ENSAIO
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi-
mental.
Estreia: 22 de outubro de 1989.
134 135
Livreto Espetacular: para saber mais sobre

Foto: Acervo NuTE


a montagem, consulte o artigo de Roberto
Murphy no anexo Livreto Espetacular.

1990
SR. MEURSAULT, O ESTRANGEIRO DE CAMUS 1991
29 – Sr. Meursault, O Estrangeiro de Camus MACBETH´S
Direção: Giba de Oliveira. UMA INTERFERÊNCIA NA HISTÓRIA
Autor do Texto: livre-adaptação de Giba de
Oliveira e alunos do NuTE sobre texto de Albert 31 – Macbeth´s – Uma Interferência na
História
Camus.
Sinopse: a história descreve a ascensão e queda
Elenco: Natalie Rodrigues, Rafaela Rejane, de um homem cuja sede de poder acaba por
Paula, Margareth Müller. subverter os valores sociais da vida em grupo.
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi- Aborda a transgressão das leis da sociedade,
mental. da solidariedade, do amor, da universalidade.
Estreia: 16 de outubro de 1990. Macbeth é a transgressão do homem! Esta
versão tem no Macbeth não a cobiça apenas
Grupo: ARTEATROZ. pelo poder, mas principalmente pela vida.
Contemporaneamente, critica o homem preso a
si mesmo, que toma decisões impensadas e vive
PELOS QUATRO CANTOS em busca da vida, da liberdade, do sossego e
TEATRO DA COR EM QUATRO ATOS impressionantemente busca até mesmo o fim...
Em meio à busca desse poder, desconfianças
30 – Pelos quatro cantos – Teatro da Cor em e hipocrisias, o ser e o não ser agem
Quatro Atos conjuntamente. A dualidade é transparente.
Força Cênica Preponderante: Teatro Experimen- Mas, é observável, todos temos a sede de vida.
tal. Ou de VIDA.
Estreia: 10 de junho de 1986. Direção: Alexandre Venera.
Texto: adaptação de Alexandre Venera sobre PIQUENIQUE NO CAMPO TERCEIRO
texto de W. Shakespeare.
ENSAIO
Elenco: Pépe Sedrez, Carlos Crescêncio, Giba 32 – Piquenique no Campo
de Oliveira, Marcelo de Souza. Sinopse: do confronto entre os horrores e a
Força Cênica Preponderante: Teatro Experimen- inconsciência dos visitantes e participantes
tal. deste inusitado piquenique, nasce um cômico
136 Estreia: 20 de agosto de 1991. (e ao mesmo tempo crítico) diálogo absurdo. O 137
soldado Zapo encontra-se entediado no campo
de batalha. Para animá-lo, seus pais resolvem
fazer uma visitinha propondo um piquenique em
pleno front. Durante o lanche surge o inimigo.
Após capturá-lo e sem saber o que fazer com o
prisioneiro, convidam-no para o lanche.
Direção: Pépe Sedrez.
Texto: Fernando Arrabal.
Elenco: Giba de Oliveira, Marcelo de Souza,

Foto: Acervo NuTE


Francinete Bittencourte, Pedro Dias, Cintia
Gruener, Patrícia dos Santos.
Força Cênica Preponderante: Teatro Experimental
Estreia: 28 de novembro de 1991.
Grupo: Grupo Meu Grupo.
Importante: o elenco citado é o da montagem
No blog www.nuteparatodos.wordpress.com de 1993.
Raymond Chandler escreve:
MOSTRA DE FINAL DE CURSO
LENDAS DO NUTE – PARTE LXI PRIMEIRO SEMESTRE
Um vento forte e úmido entrava pela janela,
dificutando o trabalho de taxidermia em Antonio 33 – Big Hamlet
Leopolski. Marcelinho de Souza levantou, fechou Força Cênica Preponderante: Teatro escola.
a maldita janela e vestiu o figurino do defunto.
Estreia: 1 de Julho de 1991.
Alguém bateu à sua porta. Era sua mãe, mas
felizmente a porta estava trancada. Marcelinho
reviu todos os passos da reestreia de Macbeth para 34 – Quando se Segue a Tradição e Quando
o dia seguinte. Ninguém – a não ser Silvio da Luz, se Reflete
seu cúmplice – sabia que um ator seria substituído Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
na última hora. E nem deveriam saber… Estreia: 1 de Julho de 1991.

Livreto Espetacular: para saber mais sobre a 35 – A Mulher Judia


montagem, consulte o artigo de Iran da Silveira Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
no anexo Livreto Espetacular. Estreia: 1 de Julho de 1991.
36 – Prólogo no Teatro de Fausto tornam-se visíveis as grandes e numerosas TERCEIRO
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. hecatombes. Ira de deuses (?)... Destino cruel
ENSAIO
Estreia: 1 de Julho de 1991. (?!)... Finda o século XX e as palavras de
ordem são ecologia e a era de aquarius. O ciclo
37 – Bicharada no Barril macrocósmico se repete e o homem continua
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. bola de futebol dos deuses. É a consciência
138 Texto: Wilfried Krambeck.
massificante atropelando o indivíduo. O 139
espetáculo trata do homem neutralizado,
Estreia: 1 de Julho de 1991. espoliado e romântico, uma das esquecidas
engrenagens nessa “coisa” que nos envolve. O
PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI homem que não distingue o amor do romântico.
Há de se adquirir ternura sem perder a dureza.
38 – Pra Não Dizer que Não Falei Que a consciência aquariana seja em cada um
Força Cênica Preponderante: Teatro Experimental de nós! Tememos a besta do apocalipse e não a
Estreia: 8 de dezembro de 1991. vemos ao nosso lado, ela nos contamina com o
conformismo... Criar é coisa de outro mundo. A
água baixou e continua-se afogado, como antes
MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO DEU das cheias. A solidão é a única coisa que nos
PANE NO BLACKOUT) SEGUNDO SEMESTRE faz parecidos.
Direção: Carlos Crescêncio.
39 – O Túnel Texto: Pépe Sedrez.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Elenco: Cícero da Silva, Adriana Sebastião,
Estreia: 19 de dezembro de 1991. Elisabeth Thomé, Maicon Rossi, Mauro Ribas.
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi-
40 – No País da Anestesia mental.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Estreia: 30 de junho de 1992.
Estreia: 19 de dezembro de 1991. Grupo: (CO) INCIDENTES.

41 – Os Cegos
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. MOSTRA DE FINAL DE CURSO
Estreia: 19 de dezembro de 1991. PRIMEIRO SEMESTRE
43 – Estação Agosto: a exceção e a lenda
Direção: Giba de Oliveira.
1992 Texto: Rosane Magaly Martins e Giba de
O PÊNDULO Oliveira.
Elenco: Aline Antunes, Elisete Possamai, Erna
42 – O Pêndulo Parquer, Francinete Bittencourt, Francisco
Sinopse: quando uma era está finalizando, Koch, Jerusa de Sá, Mariana da Silva, Odete
Maria, Osmar Gomes, Priscila de Souza, Sandra 48 – Viagem ao Coração da Cidade TERCEIRO
da Silva, Sebastião Crispim, Wlademir Treis. Direção: Alexandre Venera. ENSAIO
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Texto: Adhemar de Oliveira.
Estreia: 11 de agosto de 1992. Elenco: Ana Nunes, Ana Paula Souza, Andreia
Grupo: Sugiro Já. da Conceição, Elisangela Pereira, Evandro
140 Costa, Janaina Nascimento, Juliana Maske,
Juliana Garcia, Luana dos Santos, Osnildo 141
44 – A Morte de Danton Souza, Pablo Lopes, Verônica Lopes, Amanda
Direção: Antonio Leopolski. Werner.
Texto: livre-adaptação de textos de Bertold Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Brecht, Georg Büchner, William B., Huie, Estreia: 28 de agosto de 1992.
L’Express. Grupo: Grupo do Ser ou não Ser – Um Tributo
Elenco: Alessandra Tonelli, Cristiana Venera, a Shakespeare.
Gabriele Bruns, Itamar Burmaniere, Jackson
Assino, James Beck, Marineusa Goterra, Nelson MOSTRA DE FINAL DE CURSO
Souza, Soraia de Souza, Valdete Schuter.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
SEGUNDO SEMESTRE
Estreia: 11 de agosto de 1992. 49 – Chapeuzinho às Avessas
Grupo: Ato ComCreto. Direção: Pépe Sedrez.
Texto: Pépe Sedrez.
45 – Não, Carta Aberta aos Senhores Nazistas. Elenco: Jeferson Fietz, Melissa Silva, Adalgisa
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. da Silva, Graziela Cicatto, Carolina Trisotto,
Renata Müller, Rafael Ruzinski, Eugenio
Estreia: 18 de agosto de 1992.
Lingner, Pépe Sedrez.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
46 – A Mente Capta Estreia: 27 de novembro de 1992.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Grupo: PAPA BATATA (DA PESADA).
Estreia: 18 de agosto de 1992.
50 – O Dragão
47 – Na Casa do Dr. Jacobsen Direção: Antonio Leopolski.
Direção: Alexandre Venera. Texto: Ellen Wolfran.
Texto: Giba de Oliveira. Elenco: Antonio Leopolski, Juliana Garcia,
Elenco: Graziela Cicatto, Jeferson Fietz, Jubal Pablo Lopes, Osnildo Souza, Amanda Werner,
Santos, Lenara Santos, Magali de Jesus, Rafael Renaty Affonso, Andressa Deschamps.
Ruzinski, Tamara Sanches, Melissa da Silva. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Estreia: 27 de novembro de 1992.
Estreia: 22 de agosto de 1992. Grupo: Grupo do Ser ou Não Ser – Um Tributo
Grupo: PAPA BATATA (DA PESADA). a Shakespeare.
51 – Quando a Coisa Vira Caso sobre uma ilha fictícia, “o país delirante das TERCEIRO
Direção: Antonio Leopolski. bananas, do sol e do mar”, e cujo cenário,
um palácio, é a metamorfose de um terrível ENSAIO
Texto: Elias Gomes.
e decadente bordel. A história passa-se em
Elenco: Ana Nunes, Barbara de Aguiar, Juliana tal ilha cercada de tubarões por todos os
Maske, Pablo Lopes, Andressa Deschamps, lados onde se vive uma episódica e eletrizante
Janaina Nascimento, Osnildo Souza, Verônica
142 Lopes.
aventura política de capa-espada. Em meio a 143
conspirações diversas e situações absurdas,
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. a comédia mostra de que forma pode o poder
Estreia: 27 de novembro de 1992. passar de mãos sem realmente passar de
Grupo: Grupo do Ser ou Não Ser – Um Tributo mãos, ou ainda, de que forma o paradoxo pode
a Shakespeare. ser vital a uma manobra conjunta entre vários
poderes.
52 – Um Canto nas Alturas Direção: Giba de Oliveira.
Direção: Antonio Leopolski. Texto: livre-adaptação do texto de Ricardo
Vieira.
Texto: Giba de Oliveira.
Elenco: Cristiana Venera, Jackson Assino,
Elenco: Geraldo Niada, Fernanda Müller, Priscila de Souza, Francinete Bittencourt,
Renata Marques, Paula Igreja, Vilmar Alesandra Tonelli, Mariana da Silva, Francisco
Schroeder, Américo Kichelli, Greicy Tambosi, Koch, Gabriele Bruns, Sandra da Silva, Erna
Aline Luchtenberg, Sandra Daicampi, Josiane Packer, Itamar Burmaniere, James Beck,
Theiss, Rubia Nascimento, José da Cruz. Jerusa de Sá, Marineusa Goterra, Mauro Ribas,
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Maicon Rossi, Nelson Souza, Odete Maria,
Estreia: 14 de dezembro 1992. Sebastião Crispim, Soraia de Souza, Wlademir
Treiss, Giba de Oliveira.
53 – Diante dos seus olhos Força Cênica Preponderante: Teatro Experi-
mental.
Direção: Carlos Crescêncio.
Estreia: 14 de dezembro de 1992.
Texto: textos de Pépe Sedrez, Márcia Sedrez,
Luis Alberto Correia. Grupo: Grã Cruz da Cornetada Nacional.
Elenco: Airton Berkenbroch, Arnaldo
Formentin, Araci Molinari, Luiz Alves, Marcia
Gazania, Marileusa Pisa, Magara Casas.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
1993
Estreia: 14 de dezembro 1992. ESPETÁCULOS APRESENTADOS NO PROJETO
Grupo: Éthos. PULSAR, SIPAT E OUTROS
55 – Nosso Reino Por um Bom Guerreiro
PALÁCIO DOS URUBUS Estreia: 24 de março de 1993.
54 – Palácio dos Urubus Importante: espetáculo-intervenção, apresen-
Sinopse: trata-se de uma comédia desenhada tado no Restaurante Percy’s Fast Food.
56 – Queda Livre “Oi, gente boa! Sobre a montagem de ÁGUAS DE TERCEIRO
CIMA PRA BAIXO, comédia inteligentíssima do
Estreia: 31 de março de 1993. ENSAIO
Wilfried Krambeck: quando tive a honra de dirigir,
Importante: espetáculo-intervenção apresen- contou com os atores Carlos Crescêncio, Pedro
tado no Restaurante Percy’s Fast Food. Dias e Silvio José da Luz. O cenário do Tadeu
Bittencourt, como cita o Wilfried em comentário
acima, causou mesmo grande sensação na platéia
144 57 – Godot Espera Godot do Bar Percy’s, na Alameda Rio Branco, atraindo 145
Estreia: 14 de abril de 1993. a atenção dos que por aquela alameda passavam.
Importante: espetáculo-intervenção apresen- O bar ficou superlotado quando as pessoas
perceberam que naquela noite não chovia em
tado no Restaurante Percy’s Fast Food.
Blumenau, exceto dentro do Percy’s”. Acervo NuTE

58 – Águas de Cima Para Baixo 59 – Álcool a Ser Dito


Direção: Pépe Sedrez.
Estreia: 09 de agosto de 1993.
Texto: Wilfried Krambeck.
Importante: Projeto SIPAT.
Elenco: Carlos Crescêncio, Silvio José da Luz,
Pedro Dias.
Estreia: 05 de maio de 1993. 60 – As Cartas Marcadas
Importante: espetáculo-intervenção apresen- Estreia: 03 de outubro de 1993.
tado no Restaurante Percy’s Fast Food. Cenário
por Tadeu Bittencourt. 61 – Cuidado com o Tamanduá Bandeira
Estreia: 17 de outubro de 1993.

RODA GIGANTE
62 – Roda Gigante
Sinopse: a peça aborda a incessante e
desenfreada busca da sapiência universal.
Foto: Acervo NuTE

Quem somos? Para onde vamos? De onde


viemos? São questionamentos co-muns do ser
humano. No enredo de A Roda Gigante, um grupo
de pessoas, interessado na resposta desses
questionamentos e guiado por um cicerone,
parte numa viagem mágica e misteriosa para
No blog www.nuteparatodos.wordpress.com descobrir isso que dá e põe fim à vida. Frutos
Pépe Sedrez escreve: do exercício dessa viagem, surgem “Melusina e
Foto: Acervo NuTE
Rossi, Silvio da Luz, Alexandre Farias. TERCEIRO
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi- ENSAIO
mental.
Estreia: 20 de junho de 1993.
Grupo: Grupo da Fusão Liturgia do Teatro e
146 Para-Choques. 147
Ensaio: para assistir ao ensaio geral do
espetáculo acesse o endereço www.youtube.
com/watch?v=apxF3Cdpffc.

Livreto Espetacular: para saber mais sobre a


montagem, consulte o artigo de Tchello d’Barros
Remodin”, personagens de uma lenda francesa. no anexo Livreto Espetacular.
Ele é um simples mortal. Ela, uma fada
amaldiçoada pela mãe – toda noite de sábado
para domingo sofre um estranho encanto. MOSTRA DE FINAL DE CURSO
Juntos, Remodin e Melusina transgridem a lei PRIMEIRO SEMESTRE
do racismo. Na ânsia de saber tudo, de tudo, o
homem, dirigindo seu poder inventivo em busca 63 – Ele é Assim Mesmo
do conhecimento, desde a invenção da roda – Direção: Giba de Oliveira.
sua maior descoberta – vagueia numa eterna Texto: livre-adaptação de textos de diversos
autores blumenauenses, provenientes do
viagem rumo ao desconhecido. A roda, guiada
JOTE-Titac.
por esses intrépidos turistas, torna-se gigante Elenco: Alessandra Heiden, Elias Moura,
símbolo de inventividade, conhecimento e desejo Elisangela Bertoli, Hugo Baumgarten, Juçara
de evolução. A peça ambienta-se e desenvolve- Balzan, Niraci Jr., Pethra Naves, Roberta
se no clima “psicodélico” do filme The Magical Tomelin, Alice Taufer, Carolina Quezada, Carla
Mistery Tour, realizado pelos Beatles. Thomas, Cleide de Oliveira, João Rodrigues,
Mariléia Almeida, Nádia Sais, Renata Müller,
Direção: Pépe Sedrez. Salete da Silva.
Texto: Alexandre Venera. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Elenco: Álvaro de Andrade, Cintia Gruener, Estreia: 22 de agosto de 1993.
Patrícia dos Santos, Cícero da Silva, Marcelo
de Souza, Marcia Olinger, Marcus Andersen, Grupo: Charanga Não Batizada.
Viviane Cechet, Adriana Sebastião, Gerusa
Teixeira, Michelli Ferreira, Maicon Rossi, César 64 – Paz Nem Que Seja Na Porrada
Direção: Pépe Sedrez cargos oficiais, o incentivo ou a motivação para TERCEIRO
Texto: Pedro Maurício Dias. abrir suas mentes e corações para receber a tão ENSAIO
Elenco: Adriana Amaro, Ana Cristina Nunes, sonhada e legítima cultura. Malditos tiranos
Andréia Oliveira, Ariel Espíndola, Cintia culturais: ou ponham suas cabeças no lugar,
Huerves, Fabio Schaefer, Gerusa Matos, ou tirem suas mãos de nossos bolsos, ou ergam
Janaina Nascimento, José Volkmann, Liliane
148 Jarschel, Marcelo de Oliveira, Patrícia Bürigo,
suas bundas destas cadeiras. Não suportamos 149
Taís Dalfovo, Valsir Elias, Zuleica Dorow. mais tamanho descaso, tamanha omissão.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Chega de engodos! Abaixo a Tirania Cultural.
Estreia: 22 de agosto de 1993. Direção: Pépe Sedrez.
Grupo: Filhos da Meretriz. Texto: Giba de Oliveira.
Elenco: Marcelo Fernando de Souza, Fran
65 – O Poema para o Mundo Bittencourt, Cintia Gruener, Alvaro Alves de
Direção: Silvio da Luz. Andrade, Patrícia dos Santos, Silvio da Luz, Léo
Texto: Nassau de Souza. Almeida, Edilamar da Silva, Alexandre Venera
dos Santos.
Elenco: Viviane Cechet, Cícero da Silva, Jerusa
Teixeira, Vilmar Schroeder, Indira Pereira, Força Cênica Preponderante: Teatro Experi-
Luciana May, Andréa dos Santos, Juliana mental.
Vendrami. Estreia: 05 de dezembro de 1993.
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi- Grupo: Por Nós Não Desatados e Grupo Meu
mental. Grupo.
Estreia: 22 de agosto de 1993. Importante: espetáculo-protesto que teve
Grupo: Contra Senha do Lado do Avesso. origem no JOTE-Titac.
Importante: trata-se de espetáculo convidado LIvreto Espetacular: para saber mais sobre a
para encerramento da mostra. montagem, consulte o artigo de Pépe Sedrez no
anexo Livreto Espetacular.
SENHORAS E SENHORES
66 – Senhoras e Senhores
MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO
SAIDEIRA TEATRAL) – SEGUNDO SEMESTRE
Sinopse: Senhoras e Senhores não é apenas
mais um espetáculo teatral. É um protesto. 67 – Tudo Azul No Hemisfério Sul
Um grito alto e forte contra o desrespeito com Direção: Giba de Oliveira.
a nossa cultura. Nós não queremos cultura.
Texto: Marcos Borges.
Nós exigimos! É dever do Estado incentivar as
Elenco: Alessandra Heiden, Hugo Baumgarten,
manifestações artístico/culturais de seu povo, Niralci da Silveira, Roberta Tomelin, Sebastião
sim, senhoras e senhores. Em nosso caso, um de Souza, Taís Dalfovo, Cintia Hueves, Mauro
povo que trabalha e bebe chopp, não encontra Ribas, Carlos Crescêncio, Silvio da Luz, Juçara
nestas senhoras e nestes senhores que ocupam Balzan.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Lúcia Siqueira, Sylvia Nunes, Valdecir Correia, TERCEIRO
Estreia: 16 de dezembro 1993. Nelson de Souza, Fernanda da Silva, Gabriela
ENSAIO
Grupo: Nú Anonimato. Sônego, Marelise Koepsel, Valéria Santana.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
68 – O Círculo de Giz Caucasiano Estreia: 17 de dezembro 1993.
150 Direção: Giba de Oliveira. Grupo: Demo(nício)... Nisso.
151
Texto: Bertold Brecht.
Elenco: Ana Cristina Nunes, Paula Igreja, 71 – Menino Deus
Priscila de Souza, Patricia Búrigo, José Direção: Silvio José da Luz.
Volkmann, Volmar Schroeder, Luciana May, Texto: Silvana Costa.
Cristiana Venera, Nelson de Souza. Elenco: Fabiana Goll, Vilmar Schroeder, Júlia
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. da Silva, Luíza da Silva, Carolina Accetta,
Estreia: 16 de dezembro 1993. Débora Rossi.
Grupo: Grupo AH! Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 17 de dezembro 1993.
69 – Quanto Riso, Oh, Quanta Alegria Grupo: QD Fama.
Direção: Marcelo F. de Souza. Importante: espetáculo convidado para
Texto: Marcelo F. de Souza. encerramento da mostra.
Elenco: Ana Paula Girardi, Sylvia Penkhun,
Adriana Gotzinger, Eduardo Reiter, Daniele 72 – Clowns
Machado, Emanoelle da Cunha, Cristina Elenco: Maicon Rossi, Mauro Ribas, Nelson de
Scheefer, Karina Müller, Susan Kotmann, Souza.
Elisaura da Silva, Fabiana Goll, Raquel
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Rodrigues, Ana Priscila Benitez, Fábio Marcílio,
Ingon Erdmann, Rafael de Almeida, Keila Estreia: 17 de dezembro 1993.
Peixer, Claudia Félix, Regiane Ferreira, Ticiane Grupo: Os Clowns do NuTE.
Menschein, Karina Shmitt, Fabyana Raulino, Importante: Espetáculo convidado para
encerramento da Mostra.
Samira Tschoeke.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 17 de dezembro de 1993. 73 – Abra As Asas, Somos Nós.
Grupo: Cuspiu Eu Tô Anotando. Direção: Pépe Sedrez.
Texto: Pépe Sedrez.
70 – A Entradeira (Só) no Paraíso Elenco: Fernando Lopes, Felipe Steinert, Thiago
Meireles, Carl Johann Blosfeld, Nina Liesenberg,
Direção: Carlos Crescêncio. Jamyle Krueger, Katrin Grützmacher, Roni
Texto: Giba de Oliveira, Wilfried Krambeck e Lana, Mareike Valentin, Raquel Weiss, Betina
Umberto Boccioni. Riffel, Karina Steinert, Camila Pedrini, Thaís
Elenco: Afonso Carneiro, Fabiano Schlosser, Meireles, Manoela Blodorn, Barbara Beskow.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Estreia: 22 de maio de 1994. TERCEIRO
Estreia: 17 de dezembro de 1993. Grupo: Grupo dos Clowns. ENSAIO
Grupo: Abre a cortina que eu quero entrar. Importante: número de clown.
Importante: primeira turma NuTE no município
de Pomerode. 78 – Madame Blaty
152 Direção: Alexandre Venera. 153
Texto: Giba de Oliveira.
1994 Elenco: Alice Taufer, Fernanda da Silva, Janice
Vasselai, Nelson Souza, Sidnéia Kopp.
MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO 3
PEÇAS, 2 TIRO, 5 PÕE) – PRIMEIRO SEMESTRE Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 22 de maio de 1994.
74 – A História do Manuel
MOSTRA DE FINAL DE CURSO (PROJETO O
75 – A Estação
Direção: Carlos Crescêncio.
TEATRO) – PRIMEIRO SEMESTRE
Texto: Marcia Sedrez. 79 – No Supermercado
Elenco: Janaina Nascimento, Juliano Theis,
Direção: Alexandre Venera.
Roberta Tomelin, Sebastião de Souza, Sylvia
Penkun. Texto: Ricardo Odebrecht.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Elenco: Ana Ligia Bacca, Antonio Fernandes,
Alexsandro Santos, Benni Zanie, Camila
Estreia: 22 de maio de 1994.
Cordeiro, Carla Corsini, Erick Boing, Ernesto V.
Santos, Franco Souza, Gisele Caresia, Ludmila
76 – Godot Espera Godot & O Monólogo da Kander, Patrícia Pereira, Paula Gonçalves,
Desesperada Rafael Almeida.
Direção: Maicon Rossi. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Texto: Tania Rodrigues e Nira da Silveira. Estreia: 11 de agosto de 1994.
Elenco: Alessandra Heiden, Fabiana Goll, Fábio
Schaefer, José Volkman, Karina Müller, Nira 80 – No Açougue
Silveira, Samira Tschoeke, Sebastião Souza,
Direção: Alexandre Venera.
Vilmar Schroeder.
Texto: Ricardo Odebrecht.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Elenco: Ana Ligia Bacca, Antonio Fernandes,
Estreia: 22 de maio de 1994.
Alexsandro Santos, Benni Zanie, Camila
Cordeiro, Carla Corsini, Erick Boing, Ernesto V.
77 – O Bêbado Santos, Franco Souza, Gisele Caresia, Ludmila
Direção: Maicon Rossi. Kander, Patrícia Pereira, Paula Gonçalves,
Elenco: Mauro Ribas. Rafael Almeida.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 11 de agosto de 1994. Venera, Rafael Ruzinski, Romeica Wippel, Elise TERCEIRO
81 – A preguiça na visão de um especialista Sprung, Carolina da Silva.
ENSAIO
Direção: Alexandre Venera. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Texto: Ricardo Odebrecht. Estreia: 11 de agosto de 1994.
Elenco: Ana Ligia Bacca, Antonio Fernandes,
154 Alexsandro Santos, Benni Zanie, Camila 84 – As Rosas Morrem em Agosto & Um 155
Cordeiro, Carla Corsini, Erick Boing, Ernesto V. Canto nas Alturas
Santos, Franco Souza, Gisele Caresia, Ludmila Direção: Carlos Crescêncio.
Kander, Patrícia Pereira, Paula Gonçalves, Texto: autores diversos, Giba de Oliveira, Márcia
Rafael Almeida. Sedrez, Wilfried Krambeck, criações coletivas
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. do grupo e adaptações de Carlos Crescêncio.
Estreia: 11 de agosto de 1994. Elenco: Nelson de Souza, Gisele Marcílio, Sonia
Michelon, Leonardo Lucas, Jeniffer Pezzoti,
82 – Uma espécie de aula Adriana Araújo, Karoline Sengler, Jucilene
Direção: Carlos Crescêncio. Pitz, Ana Leite, Regiana Cordeiro, Alana
Trauczynski, Osnildo de Souza, Leonardo
Texto: autores diversos, Giba de Oliveira, Márcia Venera, Rafael Ruzinski, Romeica Wippel, Elise
Sedrez, Wilfried Krambeck, criações coletivas Sprung, Carolina da Silva.
do grupo e adaptações de Carlos Crescêncio. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Elenco: Nelson de Souza, Gisele Marcílio, Sonia Estreia: 11 de agosto de 1994.
Michelon, Leonardo Lucas, Jeniffer Pezzoti,
Adriana Araújo, Karoline Sengler, Jucilene
Pitz, Ana Leite, Regiana Cordeiro, Alana 85 – A Confissão ou a Confusão
Trauczynski, Osnildo de Souza, Leonardo Direção: Carlos Crescêncio.
Venera, Rafael Ruzinski, Romeica Wippel, Elise Texto: autores diversos, Giba de Oliveira, Márcia
Sprung, Carolina da Silva. Sedrez, Wilfried Krambeck, criações coletivas
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. do grupo e adaptações de Carlos Crescêncio.
Estreia: 11 de agosto de 1994. Elenco: Nelson de Souza, Gisele Marcílio, Sonia
Michelon, Leonardo Lucas, Jeniffer Pezzoti,
83 – A Cena de Gilda Adriana Araújo, Karoline Sengler, Jucilene
Pitz, Ana Leite, Regiana Cordeiro, Alana
Direção: Carlos Crescêncio. Trauczynski, Osnildo de Souza, Leonardo
Texto: autores diversos, Giba de Oliveira, Márcia Venera, Rafael Ruzinski, Romeica Wippel, Elise
Sedrez, Wilfried Krambeck, criações coletivas Sprung, Carolina da Silva.
do grupo e adaptações de Carlos Crescêncio. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Elenco: Nelson de Souza, Gisele Marcílio, Sonia Estreia: 11 de agosto de 1994.
Michelon, Leonardo Lucas, Jeniffer Pezzoti,
Adriana Araújo, Karoline Sengler, Jucilene
Pitz, Ana Leite, Regiana Cordeiro, Alana 86 – O Farwest que não enxergamos
Trauczynski, Osnildo de Souza, Leonardo Direção: Carlos Crescêncio.
Texto: autores diversos, Giba de Oliveira, Márcia Direção: Alexandre Venera. TERCEIRO
Sedrez, Wilfried Krambeck, criações coletivas Texto: Ricardo Kosovski. ENSAIO
do grupo e adaptações de Carlos Crescêncio. Elenco: Ana Ligia Bacca, Benni Zanin, Camila
Elenco: Nelson de Souza, Gisele Marcílio, Sonia Cordeiro, Ernesto V. Santos, Carla Corsini,
Michelon, Leonardo Lucas, Jeniffer Pezzoti, Gisele Caresia, Rafael Almeida, Sebastião
Adriana Araújo, Karoline Sengler, Jucilene Crispim.
156 Pitz, Ana Leite, Regiana Cordeiro, Alana 157
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Trauczynski, Osnildo de Souza, Leonardo
Venera, Rafael Ruzinski, Romeica Wippel, Elise Estreia: 17 de dezembro de 1994.
Sprung, Carolina da Silva.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. 90 – O Dr. Roballo
Estreia: 11 de agosto de 1994. Direção: Alexandre Venera.
Texto: Irmãos Marx.
Elenco: Ana Ligia Bacca, Benni Zanin, Camila
Cordeiro, Ernesto V. Santos, Carla Corsini,
ESPETÁCULOS APRESENTADOS NO PROJETO Gisele Caresia, Rafael Almeida, Sebastião
PEÇAS BREVES E GOSTOSAS Crispim.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
87 – Cinderella Estreia: 17 de dezembro de 1994.
Direção: Maicon Rossi.
91 – Reveillon
Texto: adaptação de Tatiana Belinski.
Direção: Alexandre Venera.
Elenco: Antonio Fernandes, Caroline Fernandes,
Arabutan Santos, Gisele Bucher. Texto: Ricardo Kosovski.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Elenco: Ana Ligia Bacca, Benni Zanin, Camila
Cordeiro, Ernesto V. Santos, Carla Corsini,
Estreia: 17 de dezembro de 1994.
Gisele Caresia, Rafael Almeida, Sebastião
Crispim.
88 – Pega Fogo Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Direção: Alexandre Venera. Estreia: 17 de dezembro de 1994.
Texto: Jules Renard.
Elenco: Ana Ligia Bacca, Benni Zanin, Camila 92 – Na Noite de Terça
Cordeiro, Ernesto V. Santos, Carla Corsini, Direção: Mariana da Silva.
Gisele Caresia, Rafael Almeida, Sebastião
Texto: criação coletiva.
Crispim.
Elenco: Mônica da Costa, Rudimar Labes,
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Samira Tomio, Marlos Vasselai, Nilson Ferreira,
Estreia: 17 de dezembro de 1994. Sebastião de Souza, Liana Guedes, Adriana
Mette, Gerusa Simão, Edésio da Silva.
89 – Um Caso Assombroso Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 20 de dezembro de 1994. TERCEIRO
93 – Visão, razão, emoção... qual a solução Desnomeado diz:
Grande Wilfried!
ENSAIO
Direção: Carlos Crescêncio.
Endosso assinando embaixo na linha em que
Texto: criação coletiva. escrevo meu nome (nome? acaso “nira” é nome?).
Elenco: Krislei Deschler, Josy Mayer, Taísa Principalmente no que diz respeito ao ex-
158 Bugmann, Karin Fiedler, Rosana Quintino, multimetido-mor, ou seja, eu. 159
Lidiane Wilwert, Katrin Osti, Tatiane Pereira, Mas quero lembrar também de um grupo de
Tamara Georgi, Anahi Ibars, Deborah apaixonados que infelizmente durou pouco: em
Schroeder. 1994, o grupo principal do Nute (GFLT&P-C)
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. era formado por alguns jovens arrojados que
encenaram apenas dois espetáculos, sob a batuta
Estreia: 20 de dezembro de 1994. e tutela (batutela?) do nosso Alex Stein. Um desses
espetáculos não chegou a ser levado a público:
94 – Dia de Festa apenas foi filmado um ensaio geral, filmagem esta
perdida (acredito). A peça era “Carnaúba” (texto
Direção: Alexandre Venera. Gibanceira), e faziam parte: no elenco: Binho
Texto: Alexandre Venera. Schaefer, Zé Volkmann, Vini Schroeder, Maicon
Elenco: Pablina Soeth, Roberta Tomelin, Sylvia Rossi, Bia Goll, Janice Pezzotti; na sonoplastia ao
Penkhun, Ana Carolina Leite, Jeane Rimes, vivo: Fernando Alex e este escriba alucinado pela
Luise Bucher, Sabina Klug, Caroline Sporrer, realidade espaço-atemporal ou tempo-inespacial.
Infelizmente, pouca gente viu esse legítimo produto
Mauro Ribas, Rafael Ruzinski, Osnildo de
da mente experimentalista de AVS. Quando tu
Souza. falaste em “paixão”, amigo, lembrei de cara desse
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. exemplo.
Estreia: 20 de dezembro de 1994. Parte desse grupo, acrescido de alunos e convidados
especiais de outras cidades, encenaria logo em
seguida o auto de natal “morte e vida severina”,
CARNAÚBA espetáculo que não teve um décimo da energia
criativa de “Carnaúba”. Terminado o ano, desfez-
95 – Carnaúba se o grupo, e terminava ali um capítulo ligeiro
(lisérgico?) e obscuro, mas muito significativo
Direção: Alexandre Venera. capítulo da História desse monstro que tantos
Texto: Giba de Oliveira. ajudaram a criar.
Elenco: Binho Shaefer, José Volkmann, Vini Abraços
Schroeder, Maicon Rossi, Bia Goll, Janice Aquele que até ontem se chamava nira, niralci,
Pezzotti. qualquer coisa.
Grupo: Grupo Fusão Liturgia do Teatro e Para-
Choques. Édio Raniere comenta:
Durante as discussões do Segundo Ensaio Salve Nira-Niralci, Desnomeado
no blog www.nuteparatodos.wordpress.com fiquei bem curioso sobre essa montagem; não tenho
nenhum documento sobre ela. Estou exatamente
aconteceu um interessante diálogo sobre este trabalhando num capítulo sobre os espetáculos.
espetáculo: Poderias contar um pouco melhor com mais
detalhes qual era a proposta e o que aconceteu? segurança, paz, fraternidade, para o equilíbrio TERCEIRO
abçs
e o amor. Apesar de toda a confusão que nos
Édio cerca, sabemos que buscamos uma vida plena
ENSAIO
e digna. A viagem do retirante Severino do
Desnomeado responde:
sertão pernambucano até os mangues do Recife
RELATO DA MONTAGEM DE CARNAÚBA, texto nos oferece uma ampla oportunidade para
160 de Giba de Oliveira, direção de Alexandre Venera,
filmada em 05 de novembro de 1994.
refletirmos sobre o nascimento e a peregrinação 161
do grande mestre Jesus Cristo. O nascimento
A cena passava-se dentro de uma caverna, onde da vida Severina nos mangues formados pelo
viviam o Irmão Fogo, o Irmão Terra e o Irmão Água rio Capibari e a água do oceano nos enche de
– fanáticos bestiais que, na montagem, lembravam
esperança e confiança num mundo melhor.
um pouco os personagens de “O Massacre da
Oxalá consigamos erradicar a SEVERINIDADE
Serra Elétrica” de 1974. Seus objetivos: comer
carne humana. A certo ponto eles conseguem
neste país. Trabalhamos e lutamos para isto,
raptar uma moça e estripam suas vísceras. para que tenhamos um mundo justo e unido
O enredo é curto e simples; essa sinopse foi feita em torno de uma grande meta: a vida com
mentalmente; para mais detalhes, ler texto original. dignidade.
A montagem: o espetáculo não tinha cenário. A Direção: Alexandre Venera.
iluminação não era nem um pouco tradicional:
dois contra-regras seguravam os refletores nas
Texto: João Cabral de Melo Neto.
mãos, seguindo os atores, como se alguém os Elenco: Tarcísio Feller, Giba de Oliveira, Mariana
iluminasse com uma lanterna. A sonoplastia era da Silva, Claus Jensen, Carlos Crescêncio,
tribal, feita com peças de percussão e latões. Janice Pezzoti, Bia Brehmer, Sebastião
O câmera VHS tentou acompanhar isso tudo. Crispim, Jenifer Pezzoti, Gisele Marcílio, Sônia
A fita foi enviada para o Festival Catarinense de Michelon, Pablina Soeth, Mauro Ribas, Nira
Teatro; o júri não nos classificou pela precariedade Silveira, André de Souza, Fernando Alex, Fábio
do registro, mas declarou para AVS que ficou Schaefer, Beto Terra.
extremamente curioso e intrigado com a filmagem.
Força Cênica Preponderante: Teatro
No geral, a peça assemelhava-se a um filme
de terror psicológico vanguardista. Na minha
Experimental.
opinião, foi a experiência Nute mais radical depois Estréia: 20 de dezembro de 1994.
do Apocalypsys. Se não me engano, foi a única Grupo: Grupo da Fusão Liturgia do Teatro e
montagem deste texto feita até hoje – o que significa Para-choques.

Foto: Acervo NuTE


que ele nunca foi levado a público.
(não estou certo quanto a este último dado; pode
ser confirmado pelo Giba.)

MORTE E VIDA SEVERINA


96 – Morte e Vida Severina
Sinopse: vivemos num universo atribulado,
cheio de nuances, de espectros complexos. O
ser humano busca uma saída para a liberdade,
1995 de Souza, Karina Vieira, Maria Fernanda
Beduschi, Rafael de Almeida, Roberto Silva.
TERCEIRO
ENSAIO
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
O MENSTRUADO, OU A DÚVIDA DE Estreia: 05 de agosto de 1995.
HELIOGÁBALO
162 100 – Um Canto nas Alturas 163
97 – O Menstruado, ou a dúvida de Heliogábalo Direção: Silvio José da Luz.
Direção: Carlos Crescêncio. Texto: Giba de Oliveira.
Texto: Carlos Crescêncio. Elenco: Aline Santos, Patrícia Schwartz, Rafael
Elenco: Samira Tomio, Simone Passold, de Almeida, Selena Paris, Juliana Vendrami,
Sebastião de Souza, Liana Guedes, Janice Beatriz Vigeta, Pollyana Silva, Renata Rodrigues,
Pezzoti, Rudimar Labes, Monica Costa, Carla Silvana Müller.
Behringer, Andrea Vieira, Mauro Ribas, Jerusa Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Simão, Lidiane Wilwert, Nilson Ferreira, Robson Estreia: 05 de agosto de 1995.
Rosseto, Jenifer Pezzoti, Fábio Schaefer, Gisele
Marcílio, Carlos Crescêncio, Marlos Vasselai.
101 – Os Cegos às Cegas
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi-
Direção: Carlos Crescêncio.
mental.
Texto: livre-adaptação de Carlos Crescêncio
Estreia: 18 de março de 1995.
sobre o texto “Os Cegos”, de Michel Ghelderode.
Grupo: (CO) INCIDENTES.
Elenco: Richard Huewes, Sheilla Santos,
Sebastião Crispim, Patrícia Cabral, Marizete
Slomp.
MOSTRA DE FINAL DE CURSO – PRIMEIRO Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
SEMESTRE Estreia: 05 de agosto de 1995.
98 – As Trapalhadas de Xalamin
Direção: Janice Pezzoti. O PODEROSO SAPÃO
Texto: criação coletiva.
102 – O Poderoso Sapão
Elenco: Gabriela Maluf, Gustavo Alves, Nadja
Tiellet, Rafael Steinbach. Sinopse: o Poderoso Sapão narra a saga de um
sapo que resolve se casar com uma princesa
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. e, ao contrário do que se pode prever, tem um
Estreia: 05 de agosto de 1995. final surpreendente, bem diferente dos contos
de fadas. Com inúmeras cenas engraçadas
99 – Uma Família Bem Unida e situações divertidas, foram criadas para o
espetáculo várias possibilidades de participação
Direção: Silvio José da Luz.
do público. Outro aspecto interessante é a
Texto: Jacques Prévert. utilização de efeitos de sonoplastia e dublagem
Elenco: André Manske, João Aguiar, Juliana ao vivo dos atores.
Silva, Mauro Cesar Ribas. TERCEIRO
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. ENSAIO
Estreia: 19 de outubro de 1995.

105 – Colombo
164 Direção: Carlos Crescêncio. 165
Texto: Michel Guelderode.

Foto: Acervo NuTE


Elenco: Robson Rosseto, Samira Tomio,
Sebastian Vieira, Rudimar Labes, Andréia
Vieira, Liana Guedes, Mônica Costa, Carla
Behringer, Jerusa Simão, Richard Huewes.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 19 de outubro de 1995.
É essa mistura de efeitos e dublagem, aliados
às técnicas de pantomima e clown que dão
ao espetáculo um ritmo de show, divertido e
interativo, dirigido a crianças, jovens e adultos. MOSTRA DE FINAL DE CURSO
Direção: Alexandre Venera e Giba dos Santos. (PROJETO AS PEÇAS) – SEGUNDO SEMESTRE
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi-
mental. 106 – Jingle para o Natal
Estreia: 07 de outubro de 1995. Direção: Silvio José da Luz.
Grupo: Teatro-Show Clowns Mimos e Cia. Texto: Giba de Oliveira.
Elenco: Patrícia Venturini, Eliana Kuhnen,
Renata Müller, Rafael Steinbach, Gabriela
ESPETÁCULOS APRESENTADOS NO FESTIVAL Maluf.
NuTE MOSTRA TUDO DE TEATRO Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 19 de dezembro de 1995.
103 – Pequenas grandes peças em um ato
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. 107 – O Teatro das Maravilhas
Estreia: 19 de outubro de 1995. Direção: Carlos Crescêncio.
Texto: Miguel de Cervantes.
104 – A Condessa Katllen Elenco: Adrian Marchi, Ana Lygia Bacca,
Direção: Silvio José da Luz. Sebastião Crispim, Mariane Ortlieb, Tailann
Tutunnyk, Camila Cordeiro, Kalinka Maronez,
Texto: William Butler Yets. Ana Lara Cim, Mayara Damas, Carlos Wovst,
Elenco: Katiuscia Cordeiro, Ana Carolina Leite, Maria Luiza Lapoli.
Osnildo de Souza, Krislei Oeschler, Juliana Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Vendrami, Taísa Bogman, Sebastião Crispim,
Estreia: 19 de dezembro de 1995.
Rafael Ruzinski, Pollyana da Silva, Roberto da
108 – Anjo Negro Texto: Karl Valentin. TERCEIRO
Direção: Silvio José da Luz. Elenco: Sabrina de Moura, Ivan dos Santos, ENSAIO
Texto: Nelson Rodrigues. Priscila Mafezzolli, Geferson da Silva, Edna
Elenco: Patrícia Schwartz, Denis Inácio, Rafael Franceschi, Diego Nogherbon, Guilherme de
de Almeida, Maria Fernanda Beduschi, Pollyana Oliveira.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
166 da Silva, Jerusa Simão, Renata Rodrigues,
Juliana Vendrami, Marisa Calissi, Mônica Estreia: 18 de agosto de 1996.
167
Costa, Samira Tomio.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. 112 – Robalo, Robalinho e Mão de Vaca:
Estreia: 19 de dezembro de 1995. Adevogados
Direção: Carlos Crescêncio.
Texto: Irmãos Marx.
1996 Elenco: Sabrina de Moura, Ivan dos Santos,
Priscila Mafezzolli, Geferson da Silva, Edna
MOSTRA DE FINAL DE CURSO Franceschi, Diego Nogherbon, Guilherme de
(PROJETO ÓI GENTE) – PRIMEIRO SEMESTRE Oliveira.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
109 – O Mau Necessário Estreia: 18 de agosto de 1996.
Direção: Mônica Costa.
Texto: criação coletiva. 113 – Vida e Ficção
Elenco: Aline Ferreira, Cintia Gals, Osnildo de Direção: Jaime Gonzáles Encina.
Souza, Jenifer Pezotti. Texto: criação coletiva.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Elenco: Angela Ferrari, Daniela Ulrich, Esther
Estreia: 18 de agosto de 1996. Santana, Joaquim Farias, Bianca Peixoto,
Andressa Pinto, Lenita Siegel, Luciana Tridapali,
Maria Lucia Marquez, Sandra da Silva, Priscila
110 – Pai e Filho a Respeito da Guerra Cordova.
Direção: Carlos Crescêncio. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Texto: Karl Valentin. Estreia: 18 de agosto de 1996.
Elenco: Sabrina de Moura, Ivan dos Santos,
Priscila Mafezzolli, Geferson da Silva, Edna 114 – A Festa, Minha Filha e Eu
Franceschi, Diego Nogherbon, Guilherme de
Oliveira. Direção: Carlos Crescêncio.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Texto: Groucho Marx.
Estreia: 18 de agosto de 1996. Elenco: Viviane Navarro Linz, Gerson Ebel,
Sabine Fiedler, Mirella Ribeiro, Flávia
Rodrigues, Letícia Reichert, Juliana Mafezzoli,
111 – Na Loja de Chapéus Adriana Krieck, Ana Paula da Silva, Luciana
Direção: Carlos Crescêncio. Bianchi, Silvana Silva, Márcio Couto.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. MOSTRA DE FINAL DE CURSO TERCEIRO
Estreia: 18 de agosto de 1996. (PROJETO 3 VIDAS) – SEGUNDO SEMESTRE ENSAIO

115 – O Pai decide? 118 – O Suicídio


Direção: Carlos Crescêncio. Direção: Luciano Costa.
168 Texto: adaptação de Carlos Crescêncio sobre Texto: criação coletiva. 169
texto de Sempé e Goscinny. Elenco: Peter Alan Ramos, Jonas Buch, Denise
Elenco: Viviane Navarro Linz, Gerson Ebel, de Almeida, Daiane Saut, Priscila Mafezzoli,
Sabine Fiedler, Mirella Ribeiro, Flávia Sabrina de Moura.
Rodrigues, Letícia Reichert, Juliana Mafezzoli, Estreia: 22 de dezembro de 1996.
Adriana Krieck, Ana Paula da Silva, Luciana
Bianchi, Silvana Silva, Márcio Couto. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 18 de agosto de 1996. 119 – Aids, um caminho sem volta
Direção: Luciano Costa.
116 – Família Feliz Texto: Luciano Costa.
Direção: Carlos Crescêncio. Elenco: Cristiane Bonfim, Denise de Almeida,
Alexandre Fernandes, Carolina de Farias, João
Texto: criação coletiva.
Zimmerman.
Elenco: Viviane Navarro Linz, Gerson Ebel,
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Sabine Fiedler, Mirella Ribeiro, Flávia
Rodrigues, Letícia Reichert, Juliana Mafezzoli, Estreia: 22 de dezembro de 1996.
Adriana Krieck, Ana Paula da Silva, Luciana Grupo: Grupo Banco de Praça.
Bianchi, Silvana Silva, Márcio Couto.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. 120 – Aquele que diz sim e aquele que diz
Estreia: 18 de agosto de 1996. não
Direção: Carlos Crescêncio.
117 – Ida ao Teatro Texto: Bertold Brecht.
Direção: Carlos Crescêncio. Elenco: Mariane Quinto, Diego Noghrbon,
Texto: Karl Valentin. Geferson da Silva, Sabrina de Moura, Priscila
Mafezzoli.
Elenco: Viviane Navarro Linz, Gerson Ebel,
Sabine Fiedler, Mirella Ribeiro, Flávia Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Rodrigues, Letícia Reichert, Juliana Mafezzoli, Estreia: 22 de dezembro de 1996.
Adriana Krieck, Ana Paula da Silva, Luciana
Bianchi, Silvana Silva, Márcio Couto.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
O CASAMENTO DOS PEQUENOS
Estreia: 18 de agosto de 1996. 121 – O Casamento dos Pequenos
Sinopse: O Casamento dos Pequenos Burgueses
é uma farsa desenfreada, escrita num tom
Grupo: Grupo de Clowns, Mimos e Cia.

Foto: Acervo NuTE


TERCEIRO
Importante: apresentação de estreia no sítio ENSAIO
Fazendarado.

170 1997 171


MOSTRA DE FINAL DE CURSO
PRIMEIRO SEMESTRE
122 – A Raiz
realista, conduzindo quase ao absurdo. A Direção: Alexandre Venera.
peça mostra uma festa de casamento. O noivo
Texto: Alcione Araújo.
elogia os móveis, que ele mesmo construiu.
Os convidados discutem. Pouco a pouco, o Elenco: Susana Rossi, Keila Rossi.
ambiente fica pesado e a verdade se revela Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
além das aparências: a noiva está grávida, o Estreia: 09 de março de 1997.
noivo desconfia de sua fidelidade, os móveis
se despedaçam, o cenário se destrói. No final,
reina certa paz. Os dois estão finalmente sós. A 123 – Garotos de Rua
luz se apaga, ouve-se um forte barulho: a cama Direção: Luciano Costa.
se desmorona. O texto tem violência e sarcasmo Texto: criação coletiva.
na análise moral da época. O deboche, cínico e Elenco: Janaina Meneghel, Ana Luisa
feroz, é a arma usada por Brecht. Valores éticos Kobuszewski, Grassi Russi, Carlos Pereira.
de uma sociedade são colocados em questão de
forma crítica. (texto extraído do programa do Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
espetáculo informando a seguinte referência: Estreia: 09 de março de 1997.
Brecht – Vida e Obra. Peixoto. Ed. Paz e Terra,
1974). 124 – Cenas de um Acampamento
Direção: Alexandre Venera. Direção: Alexandre Venera.
Texto: livre-adaptação sobre o texto O Texto: Alexandre Venera.
Casamento dos Pequenos Burgueses, de
Elenco: Mauro Ribas, Sebastião Crispim.
Bertold Brecht.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Elenco: Carlos Crescêncio, Richard Huewes,
Carlos Wovst, Luciano Costa, Andréia Vieira, Estreia: 09 de março de 1997.
Sebastião Crispim, Juliana Vendrami, Luciana Grupo: Grupo de Clowns, Mimos e Cia.
Tridapalli e Grupo de Clowns Mimos e Cia.
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi-
mental.
Estreia: 09 de novembro de 1996.
SEGUNDA MOSTRA DE FINAL DE CURSO Juliana Morais, Charles Ewald, Juliana TERCEIRO
PRIMEIRO SEMESTRE Meneghel, Gabriela Kuehn.
ENSAIO
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
125 – Peruacho Estreia: 10 de agosto de 1997.
Direção: Alexandre Venera e Giba de Oliveira.
172 Texto: Bernadete da Silva. 129 – Um Restaurante A de Ótimo 173
Elenco: Viviane Teixeira, Jussara Hobus, Julice Direção: Giba de Oliveira e Alexandre Venera.
da Rosa, Fernando Bonatti, Sabrina de Moura. Texto: criação coletiva.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Elenco: Julice da Rosa, Jussara Hobus,
Estreia: 10 de agosto de 1997. Fernando Bonatti, Viviane Teixeira.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
126 – Eleonora Estreia: 10 de agosto de 1997.
Direção: Alexandre Venera.
Texto: Nassau de Souza. 130 – Timipim do Tupiniquim
Elenco: Elise Kluge, Juliana Teodoro, Vera Direção: Alexandre Venera.
Tafner, Patricia Cipriani, Vânia Tafner, Mireile Texto: Giba de Oliveira.
Gomes, Marina Medeiros. Elenco: Patricia Cipriani, Fabiana Fernandes,
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Juliana Teodoro, Marina Medeiros, Alessandra
Estreia: 10 de agosto de 1997. Benvenuti, Charlene Leber.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
127 – Robalo, Robalinho e Mão de Vaca: Estreia: 10 de agosto de 1997.
Adevogados
Direção: Giba de Oliveira.
Texto: Irmãos Marx.
MOSTRA DE FINAL DE CURSO (TRIBUTO A NEI
Elenco: Janaina Meneghel, Gabriela Kuehn, LEITE) – SEGUNDO SEMESTRE
Carlos Pereira, Sebastião Crispim.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. 131 – Nus
Estreia: 10 de agosto de 1997. Direção: Giba de Oliveira.
Importante: espetáculo já encenado em 1996 Texto: Wilfried Krambeck.
sob direção de Carlos Crescêncio e com outro Elenco: Julice da Rosa, Fernando Bonatti,
elenco. Silvana Silva, Flávia Rodrigues, Mauro C. Ribas.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
128 – Cruzadas do Diabo na Terra de Babel Estreia: 14 de dezembro de 1997.
Direção: Alexandre Venera.
Texto: Nassau de Souza. 132 – Uma luz na escuridão
Elenco: Roberta Regis, Carolina de Faria, Direção: Giba de Oliveira.
Texto: Erli Rosi Fonseca. 136 – A Confissão ou a Confusão TERCEIRO
Elenco: Sheila Maçaneiro, Fabiana Ribas, Katia Direção: Giba de Oliveira. ENSAIO
Morais. Texto: Márcia Sedrez.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Elenco: Ceigler Marques, Carla Ramos, Katia
Estreia: 14 de dezembro de 1997. Morais, Fabiana Ribas, Gisele Oliveira, Leonel
174 Campos.
175
133 – O Afogado Afunda Lentamente Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Direção: Alexandre Venera. Estreia: 14 de dezembro de 1997.
Texto: Ricardo Odebrecht.
Elenco: Shirlei Marcelino, Amanda Trentini, 137 – Natal
Roberta de Gasperin, Anice Tufaile, Juliana Direção: Alexandre Venera.
Von Czekus. Texto: Horácio Braum Jr.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Elenco: Anice Tufaile, Tatiana dos Santos,
Estreia: 14 de dezembro de 1997. Roberta de Gasperi, Amanda Trentini, Juliana
Von Czekus, Shirlei Marcelino.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
134 – A Preguiça na Visão de um Especialista
Estreia: 14 de dezembro de 1997.
Direção: Alexandre Venera.
Texto: Ricardo Odebrecht.
138 – Natal Maluquinho
Elenco: Roberta Regis, Juliana Teodoro, Patricia
Cipriani, Alessandra Benvenuti, Vera Tafner, Direção: Polianna Silva e Andréia dos Santos.
Vânia Tafner. Texto: Giba de Oliveira.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Elenco: Munick Bonassa Polli, Tiago Bonfanti,
Estreia: 14 de dezembro de 1997. Fabricio Batista, Janaina Meneghel, Gabriela
Kuehn, Carlos Pereira.
Importante: espetáculo já encenado em 1994
sob mesma direção, mas com elenco diferente. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 14 de dezembro de 1997.
135– O Sentido da Vida Segundo Aluisio e
Miguelito JATO DE AMOR
Direção: Giba de Oliveira.
Texto: Nira Silveira. 139 – Jato de Amor
Elenco: Ceigler Marques, Carla Ramos, Mauro Sinopse: Jato de Amor conta as ações do ser
Ribas. enamorado, a busca do par, a manutenção do
par, a sua unificação. São histórias de amores
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
desenhadas sobre os gestos dos apaixonados,
Estreia: 14 de dezembro de 1997. captando na ação figuras de suas des(a)
venturas. Jato de Amor é para ser visto como
Teatro Imagem, um caleidoscópio visual e
sonoro em que a palavra fica quase desvinculada Força Cênica Preponderante: Teatro Experi- TERCEIRO
à ação nas cenas. As personagens, quase mental.
ENSAIO
decalques dos ritos de amor, transfiguram-se Estreia: 21 de novembro de 1997.
entre o real e o imaginário, subvertendo-se nos Grupo: Grupo da Fusão Liturgia do Teatro e
amores “novo”, “velho”, “vendido” e “triangular”. Para-Choques.
Por tratar-se de imagens, o desempenho cênico
176 – geralmente norteado em ações coreográficas Clipe: para assistir ao clipe elaborado 177
– assume, entretanto, um sentido ginástico. quando do lançamento do espetáculo, acesse
Como enredo, o roteiro das cenas adapta para o endereço www.youtube.com/watch?v=Z_
o palco: citações, trechos e frases de diversos wfitlUs1k&feature=related
autores (poemas de Jacques Prévert, e Antonin Ensaio: para assistir ao Ensaio Geral do
Artaud; Fragmentos de um Discurso Amoroso, Espetáculo, acesse o endereço www.youtube.
de Roland Barthes), além de experiências com/watch?v=Vbb7IyWHdRQ.
pessoais (do elenco, colaboradores, amigos) e
de intuições.
Livreto Espetacular: para saber mais sobre a
Direção: Alexandre Venera. montagem, consulte o artigo de Giba de Oliveira
Texto: livre-adaptação de Alexandre Venera no anexo Livreto Espetacular.
sobre o texto Jato de Sangue, de Antonin
Artaud.
Elenco: Giba de Oliveira, Poli Vendrami, Carlos
Crescêncio, Sabrina de Moura, Leonel Campos,
1998
Ivan Álvaro, Cris Müller, Jerusa Simão, Rafael
de Almeida, Wladimir Treiss. MOSTRA DE FINAL DE CURSO
PRIMEIRO SEMESTRE
Foto: Acervo NuTE 140 – Um Convento Muito Louco
Direção: Mônica Costa.
Texto: Ana C. Voltolini e Ana Julia Marchi.
Elenco: Ana Paula Glasenapp, Bárbara Schmitt,
Jamile Assini, Juliana Medeiros, Monique
Becker, Mayla Voss, Patrícia Glasenapp.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 24 de agosto de 1998.

141 – O Poeta Solitário


Texto: Douglas Zunino.
Elenco: Carlos Eduardo Pereira.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 24 de agosto de 1998.
142 – Fim Elenco: Carolina Andreoli, João Felipe Buerger. TERCEIRO
Direção: Arno Alcântara Jr. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. ENSAIO
Texto: Arno, Paulo, Tarcísio. Estreia: 16 dezembro de 1998.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Importante: texto já encenado em 1996 sob
Estreia: 24 de agosto de 1998. mesma direção, mas com elenco diferente.
178 179
143 – Programa Piloto Especial: TV Capivaras 146 – Eleonora
Direção: Alexandre Venera e Giba de Oliveira. Direção: Juliana Teodoro.
Elenco: Amanda Trentini, Anice Tufaile, Carlos Texto: Nassau de Souza.
Crescêncio, Carlos Pereira, Flávia Rodrigues, Elenco: Talira dos Santos, Sarah Beduschi,
Gabriela Kuhen, Juliana Von Czekus, Juliana Afonso de Souza, Leandro Cunha Rocha,
Teodoro, Jamile Meneghel, Janaina Meneghel, Alexandre Jung, Silvana Cadori.
Leonel Campos, Póli Vendrami, Pollyanna Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Silva, Rafael Almeida, Roberta Regis, Sebastião
Crispim, Shirlei Marcelino. Estreia: 16 de dezembro de 1998.
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi- Importante: texto já encenado em 1997 sob
mental. direção de Alexandre Venera e com elenco
Estreia: 24 de agosto de 1998. diferente. A diretora desta montagem compõe o
elenco de 1997.
144 – Acrobacias – Duo Acrobático
Direção: Mônica Costa. 147 – A Confissão Ou...
Elenco: Afonso de Souza, Alessandra Teodoro, Direção: Carlos Crescêncio.
Fábio Cardoso, Giseli Prada, Luana, Mônica Texto: Márcia Sedrez.
Costa, Sócrates Rufatto, William Oliveira. Elenco: Eloisa Borges, Alexander Franzmann,
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi- João Buerger.
mental. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 24 de agosto de 1998. Estreia: 16 de dezembro de 1998.
Grupo: Grupo Acrobático Livres, Leves e Importante: texto já encenado em 1997 sob
Loucos. direção de Giba de Oliveira e com elenco
diferente.
MOSTRA DE FINAL DE CURSO
(PROJETO PUXA BRASAS, SABEMOS QUE 148 – Nus
ESTÃO AÍ) – SEGUNDO SEMESTRE Direção: Juliana Teodoro.
Texto: Wilfried Krambeck.
145 – Na Loja de Chapéus Elenco: Sócrates Ruffato, Daniela Vogel, Jucélia
Direção: Carlos Crescêncio. Deluca, Tatiane Scoz.
Texto: Karl Valentin. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 16 de dezembro de 1998. O CIO DAS FERAS TERCEIRO
Importante: texto já encenado em 1997 sob ENSAIO
direção de Giba de Oliveira com elenco diferente. 152 – O Cio das Feras
Sinopse: montagem dramá-tico-musical e
149 – Peruacho audiovisual (VT, slides, projeções de 8 e 16
180 Direção: Juliana Teodoro. milímetros) sobre poemas, acompanhada
de música ao vivo e apresentada em espaço
181
Texto: Bernardete da Silva.
alternativo (semiarena). U m a
Elenco: Leandro Cunha Rocha, Adriana Krieck, homenagem aos dez anos do lançamento do
Alexandre Jung, Micheli Dias, Ana Paula Zucki. livro Poetas Independentes de Blumenau e O
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Fel do Cio, de Rosane Magaly Martins.
Estreia: 16 de dezembro de 1998. Direção: Alexandre Venera.
Importante: texto já encenado em 1997 sob Texto: adaptação de Alexandre Venera sobre os
direção de Alexandre Venera e Giba de Oliveira, livros O Fel do Cio, de Rosane Magaly Martins e

Foto: Acervo NuTE


com elenco diferente. Poetas Independentes, antologia da Associação
de Poetas Independentes de Blumenau.
150 – Madame Blaty Elenco: Anice Tufaile, Mariane Quinto, Sebastião
Direção: Carlos Crescêncio. Crispim, Juliana Von Czekus, Juliana Teodoro,
Texto: Giba de Oliveira. Carlos Crescêncio, Carlos Pereira.
Elenco: Silvana Becker, Rita de Cássia Lopes, Força Cênica Preponderante: Teatro Experi-
Cristina Torri, Sebastião Crispim. mental.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Estreia: 16 de dezembro de 1998.
Estreia: 16 de dezembro de 1998. Grupo: Grupo da Fusão Liturgia do Teatro e
Importante: texto já encenado em 1994 sob Para-Choques.
direção de Alexandre Venera e com elenco Apresentação Fenatib: para assistir à
diferente. apresentação do espetáculo no Festival
Nacional de Teatro Infantil de Blumenau,
acesse o endereço
O AMOR DE DOM PERLIMPLIM POR BELISSA www.youtube.com/watch?v=s8oMh-G7nk4
EM SEU JARDIM
151 – O Amor de Dom Perlimplim por Belissa Apresentação Curupira: para assistir à
em seu Jardim apresentação do espetáculo no Festival de Bandas
Direção: Alexandre Venera. Undergraud do Curupira, acesse o endereço
www.youtube.com/watch?v=TrNOpr__aVU.
Texto: Frederico Garcia Lorca.
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi- Livreto Espetacular: para saber mais sobre a
mental. montagem, consulte o artigo de Afonso Nilson
no anexo Livreto Espetacular.
1999 Crispim e Adriana Krieck.
Força Cênica Preponderante: Teatro
TERCEIRO
ENSAIO
O RITUAL DE OFERENDAS Experimental.
Estreia: 07 de agosto de 1999.
153 – O Ritual de Oferendas Grupo: Grupo da Fusão Liturgia do Teatro e
182 Direção: Carlos Crescêncio. Para-Choques.
183
Texto: João & Insone Pessoa. Importante: esse espetáculo faz parte do projeto
Elenco: Sebastião Crispim, Juliana Teodoro, Teatro da Terra: apresentações que aconteciam
Afonso de Souza, Anice Tufaile, Juliana Von no sítio Fazendarado, dentro da mata.
Czekus, Janaina Meneghel, Tamara Beims Apresentação: para assistir à apresentação
Guañabens.
deste espetáculo, acesse o endereço
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
http://youtu.be/DdDXLwIWP3Y
Grupo: (CO)INCIDENTES.
Livreto Espetacular: para saber mais sobre
a montagem, consulte o artigo de Luciano
TEATRO DA TERRA Bugmann no anexo Livreto Espetacular.

154 – O Camaleão da Mata – A Lenda


Direção: Alexandre Venera e Tadeu Bittencourt. A MORTA
Texto: baseado em um argumento de Alexandre
Venera e Tadeu Bittercourt. 156 – A Morta
Elenco: Carlos Crescêncio, Juliana Teodoro, Sinopse: A Morta narra a busca de um poeta
Juliana Von Czekus, Sebastião Crispim. por sua musa inspiradora até os confins além
Força Cênica Preponderante: Teatro Experi- morte. A Morta é um dos mais eloquentes
mental. manifestos modernistas contra as convenções As fotos deste espetá-
sociais impostas pela religião, a moral, a culo foram gentilmente
Estreia: 06 de Março de 1999. burguesia, e que se torna um grande instigador cedidas ao projeto pela
fotógrafa Maria Emília
Grupo: Grupo da Fusão Liturgia do Teatro e à manifestação artística pura. da Silva.
Para-Choques. Direção: Alexandre Venera.
Importante: esse espetáculo faz parte do projeto
Teatro da Terra: apresentações que aconteciam
no sítio Fazendarado, dentro da mata.

155 – Metafísica de Caeiro – O Voo


Direção: Alexandre Venera.
Texto: argumento de Alexandre Venera e Daniel
Curtipassi sobre poemas de Fernando Pessoa.
Elenco: Carlos Crescêncio, Juliana Teodoro,
Juliana Von Czekus, Afonso Barbosa, Sebastião
Texto: Oswald de Andrade. 159 – Bye, Bye... Paraíso TERCEIRO
Elenco: Juliana Von Czekus, Juliana Teodoro, Direção: Carlos Crescêncio. ENSAIO
Carlos Crescêncio, Sebastião Crispim, Afonso Texto: Nassau de Souza.
de Souza, Analice Tufaile, Janaina Meneghel,
Elenco: Janete Nogueira, José Luiz Cujik, Joice
Tamara Beims Guañabens, Carlos Pereira.
Daiana Leite, Susi da Silva, Eloísa Borges,
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
184 Estreia: 28 de setembro de 1999.
Priscila Barbieri.
185
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Grupo: Grupo de Fusão Liturgia do Teatro e Estreia: 30 de julho de 2000.
Para Choques.
Importante: último espetáculo do Grupo de 160 – Bicharada do Barril
Fusão Liturgia do Teatro e Para-Choques. Direção: Alexandre Venera
Livreto Espetacular: para saber mais sobre a Texto: Wilfried Krambeck.
montagem, consulte o artigo de Juliana Teodoro Elenco: Luiz Garcia Soares, Aritana Froeschlin,
no anexo Livreto Espetacular. Crislene Caetano, Silvio Volpato, Maicon Berg,
Jucélio Pandini.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
2000 Estreia: 30 de julho de 2000.
Importante: texto já encenado em 1991.
MOSTRA DE FINAL DE CURSO
PRIMEIRO SEMESTRE 161 – Vaca Amarela
Direção: Juliana Teodoro.
157 – Restaurante Mercenário Texto: adaptação do grupo sobre texto de autor
Direção: Alexandre Venera. desconhecido.
Texto: criação coletiva. Elenco: Marcia Schnaider, Marciel Sabel,
Elenco: Silvio Volpato, Maicon Berg, Crislene Viviane Catarina, Manoela Machado, Fabrícia
Caetano, Jucélio Pandini, Aritana Froeschlin, Hafermann, Luciana, Juliano.
Luiz Garcia Soares. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Estreia: 30 de julho de 2000.
Estreia: 30 de julho de 2000.
162 – O Último Será o Primeiro
158 – Um Quarto de Casal Direção: Alexandre Venera.
Direção: Juliana Teodoro. Texto: Silvio Volpato.
Texto: Márcio Pereira Couto. Elenco: Crislene Caetano, Silvio Volpato,
Elenco: Luiz Garcia Soares, Viviane de Cassio, Jucélio Pandini, Aritana Froeschlin, Luiz Garcia
Luciana Fistarol, Juliano Bittencourt. Soares, Maicon Berg.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 30 de julho de 2000. Estreia: 30 de julho de 2000.
163 – Morreu de... Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. TERCEIRO
Direção: Ariane Regis. Estreia: 17 de dezembro de 2000. ENSAIO
Texto: Ariane Regis.
Elenco: Ricardo Koehler, Ariane Regis, Patrícia 167 – O Porco e o Morto de Fome
Cenzi. Direção: Mauro Ribas Neto.
186 Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Texto: Fabiano Schlosser. 187
Estreia: 30 de julho de 2000. Elenco: Silvio Volpato.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
164 – O Medo que Cala Estreia: 17 de dezembro de 2000.
Direção: Alexandre Venera. Grupo: Grupo Clowns Mimos e Cia.
Texto: Alessandra Rosa.
Elenco: Alessandra Rosa, Suzana Soares, Elton 168 – Concerto de Orquestra
Girelli, Tiago Freitas, Cintia Viventi, Gabriela Direção: Carlos Crescêncio.
Koehler.
Texto: Karl Valentin.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Elenco: Danúbia Pereira, Sonia Nogara, Daniela
Estreia: 30 de julho de 2000. de Oliveira, Célia Clérice, Gabriela Caminha,
Sebastião Crispim, Tiago Freitas.
165 – Pigmaleão e Galatea Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Direção: Mauro Ribas Neto. Estreia: 17 de dezembro de 2000.
Texto: adaptação de Alexandre Venera.
Elenco: Patrícia Cenzi, Gabriela Koehler, 169 – O Mendigo ou o Cão Morto
Ricardo Koehler, Luiz Garcia Soares.
Direção: Carlos Crescêncio.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Texto: Bertold Brecht.
Estreia: 30 de julho de 2000.
Elenco: Janete Nogueira, Ricardo Koehler,
Grupo: Grupo de Clowns Mimos e Cia. Susana Stein, Paulino Junior, Gabriela Koehler.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 17 de dezembro de 2000.
MOSTRA DE FINAL DE CURSO Importante: texto já encenado em 1986 dentro
SEGUNDO SEMESTRE do espetáculo Classe Glacê, sob direção de
Alexandre Venera, com outro elenco.
166 – O Livro Proibido
Direção: Carlos Crescêncio. 170 – Guernica em Blumenau
Texto: Carlos Crescêncio. Direção: Alexandre Venera.
Elenco: Caroline Selhorst, Jenifer Fischer, Texto: adaptação de texto de Fernando Arrabal.
Shawn Nicolai, Bernardo Azevedo, Marcos, Elenco: Gabriela Koehler, Joice Daiana Leite,
Sebastião Crispim. José Luiz Cujik, Priscila Barbieri, Tiago Freitas,
Juliana Rodrigues. Estreia: 16 de agosto de 2002. TERCEIRO
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Importante: texto já encenado em 1994 e em ENSAIO
Estreia: 17 de dezembro de 2000. 1997 sob mesma direção, mas com elencos
diferentes.
171 – O Califa da Rua do Sabão
188 174 – Peruacho
Direção: Alexandre Venera.
Direção: Alexandre Venera.
189
Texto: Artur Azevedo.
Texto: Bernadete da Silva.
Elenco: Silvio Volpato, Jucélio Pandini, Crislene
Caetano, Aritana Froeschlin, Alexandra Batisti, Elenco: Ester Cunha, Rodrigo Demétrio, Adriana
Patrícia Lenzi. Dellagiustina, Elias Lana, Paulo Vasconcelos.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Estreia: 16 de agosto de 2002.
Estreia: 17 de dezembro de 2000.
Importante: texto já encenado em 1997 com
direção de Alexandre Venera e Giba de Oliveira
2001 e em 1998 com direção de Juliana Teodoro; as
três montagens possuem elencos diferentes.
Não houve montagens.
175 – A galinha que chocava pedras
Direção: Alexandre Venera.
2002 Texto: Hermes Altemani e Nery Gomide.
MOSTRA DE FINAL DE CURSO Elenco: Solange Wasmuth, Patrícia Mara
Martins, Silvia Mara Jacinto, Sebastião
PRIMEIRO SEMESTRE Crispim, Mauro Ribas Neto.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
172 – A Situação
Estreia: 16 de agosto de 2002.
Direção: Alexandre Venera.
Texto: Luís Fernando Veríssimo.
Elenco: Adriana Dellagiustina, Rodrigo Demétrio. 176 – Madame Blaty
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Direção: Alexandre Venera.
Estreia: 16 de agosto de 2002. Texto: Giba de Oliveira.
Elenco: Ester Cunha, Rodrigo Demétrio, Elias
Lana, Adriana Dellagiustina, Paulo Vasconcelos.
173 – A preguiça na visão de um especialista
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Direção: Alexandre Venera.
Estreia: 16 de agosto de 2002.
Texto: Ricardo Odebrecht.
Importante: texto já encenado em 1994 com
Elenco: Patrícia Mara Martins, Silvio Mara direção de Alexandre Venera e em 1998 com
Jacinto, Solange Wesmuth. direção de Carlos Crescêncio, sempre com
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. elencos diferentes.
177 – Nosso Reino por um Bom Guerreiro Joaquim Wolff, Bruna Rudolpho. TERCEIRO
Direção: Alexandre Venera. Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. ENSAIO
Texto: Giba de Oliveira. Estreia: 21 de dezembro de 2002.
Elenco: Solange Wasmuth, Mauro Ribas Neto,
Patrícia Mara Martins, Silvia Mara Jacinto, 181 – Camaradas Médicos
190 Sebastião Crispim.
Direção: Alexandre Venera. 191
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Texto: Giba de Oliveira.
Estreia: 16 de agosto de 2002.
Elenco: Andreia de Souza, Pamela Cândido,
Sebastião Crispim.
178 – Nus Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Direção: Alexandre Venera. Estreia: 21 de dezembro de 2002.
Texto: Wilfried Krambeck.
Elenco: Adriana Dellagiustina, Elias Lana, Ester 182 – Equivalência
Cunha, Paulo Vasconcelos, Rodrigo Demétrio. Direção: Alexandre Venera.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Texto: Ricardo Kosowky e Dino Buzzati.
Estreia: 16 de agosto de 2002. Elenco: Flavia Faustino, Joaquim Wolff,
Importante: texto já encenado em 1997 com Sebastião Crispim.
direção de Giba de Oliveira e em 1998 com Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
direção de Juliana Teodoro, sempre com Estreia: 21 de dezembro de 2002.
elencos diferentes.

183 – A preguiça na visão de um especialista


Direção: Alexandre Venera.
MOSTRA DE FINAL DE CURSO Texto: Ricardo Odebrecht.
SEGUNDO SEMESTRE Elenco: Hannah Theis, Amanda Mendes,
Pamela Cândido, Angela Otto, Bruna Rudolpho.
179 – A Exceção e a Lenda
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola.
Direção: Alexandre Venera.
Estreia: 21 de dezembro de 2002.
Texto: Giba de Oliveira.
Importante: texto já encenado em 1994, em
Elenco: Andréia de Souza, Sebastião Crispim. 1997 e em 2002 sob mesma direção, mas com
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. elencos diferentes.
Estreia: 21 de dezembro de 2002.
184 – Melhor não tê-los, mas...
180 – Delicadeza Direção: Alexandre Venera.
Direção: Alexandre Venera. Texto: Janice Pezotti.
Texto: Ricardo Kosowky e Dino Buzzati. Elenco: Simone Tambosi, Sebastião Crispim,
Elenco: Dilma da Silva, Flavia Faustino, Angela Otto.
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. Estupefatos, os atores balançam a cabeça, TERCEIRO
Estreia: 21 de dezembro de 2002. esfregam os olhos, voltam ao cronograma. ENSAIO
Alguns, durante a leitura, emitem fortes
gargalhadas, outros se lamentam. Por fim, o
185 – No Bar da Zuleica mais corajoso, dentre eles, resolve arriscar:
192 Direção: Alexandre Venera.
– Desses 185 espetáculos, quantos realmente 193
Texto: criação coletiva sobre textos de Pedro
Dias. são do NuTE e quantos são montagens do
Força Cênica Preponderante: Teatro Escola. JOTE-Titac?
Estreia: 21 de dezembro de 2002. – Todos, sem exceção, foram montados
pelo NuTE. Optei em não misturar espetáculos
NuTE com espetáculos JOTE-Titac.
– Você quer dizer que, além dessas 185
montagens, ainda existem as peças do JOTE-
Titac?
– Exatamente...

Frenesi, exclamações descontinuas, risos e


salivas explodem no ar.

– Mas isso é impossível. Se o grupo durou


18 anos, eles teriam que montar uma média
de dez espetáculos por ano para atingir esse
número alucinante. Deve haver algum erro...
– Olha, tem aqui vários textos – Bicharada
do Barril, Nus, Funesta Noite, Senhoras e
Senhores, Nosso Reino Por um Bom Guerreiro,
entre tantos outros – que foram escritos para o
JOTE-Titac, aparecem no livro Jogos de Teatro:
12 anos de Teatro em Blumenau. Você deve ter
cometido algum equívoco, não é possível...
– Não, não..., não é nada disso, quem está
fazendo confusão são vocês. O que acontece é
o seguinte: muitos textos, como esses que você
citou, originalmente foram escritos para os – Seis horas para o terceiro ensaio, fora os TERCEIRO
Jogos de Teatro e, consequentemente, muitos demais. Isso é loucura, vamos ter um espetáculo ENSAIO
deles foram montados nos Jogos de Teatro. com mais de dez horas...
Contudo, fora dos Jogos, a Escola NUTe também – Bem! Acho que vocês todos reconhecem
utilizava, de forma didática, esses textos. Não uma influência de Bob Wilson sobre Alexandre
194 sei se vocês sabem, mas a proposta básica do Venera, não? 195
curso de formação dado pela Escola NUTe era Black-Out. Salivas secas seguem gargantas
de que o aluno pudesse “aprender fazendo”. à dentro. Dois atores se aproximam e,
Assim, todo semestre as turmas montavam prometendo devolver o cachê pago, rendem
alguns espetáculos que eram encenados dentro homenagem ao capitão Nascimento “pedindo
de uma mostra de final de curso. Esse tipo de para sair”; o excesso lhes tenciona abandonar
montagem faz ressonância com uma série de os ensaios. Percebo minha imbecilidade, mais
forças, as quais vetorizei, nesse cronograma, uma vez tarde demais. Tento acalmar o grupo,
como Teatro Escola. Paralela a essa composição ninguém me ouve, ninguém ouve ninguém.
vetorial, corre, dentro do NuTE, um tipo distinto Todos falam e gesticulam ao mesmo tempo, num
de forças, as quais vetorizei como Teatro pandemônio generalizado e dramático, já que
Experimental. Este segundo vetor atravessa as deixamos as cadeiras confortáveis da plateia e
grandes montagens do NuTE. Montagens que se estamos, todos, no palco. De repente, por fora,
utilizam de textos consagrados, como Macbeth, alguém abre a porta do grande auditório. A
por exemplo, mas que por vezes também se estranheza da cena, àquela altura da tarde, fez
utilizam de textos vindos do JOTE-Titac, como calar os gestos e as matracas falantes.
por exemplo, Senhoras e Senhores. Seria um É provável que o leitor suspeite, dada à
desrespeito de minha parte catalogar Macbeth intempestividade do acontecido, da veracidade
e desprezar Senhoras e Senhores, já que ambos do relato que segue. Por isso, faço questão de
são espetáculos-NuTE. ressaltar que exatamente como aconteceu é
– Tudo bem, podemos até estar de acordo que conto, ou melhor, o conto é exatamente o
com sua análise. Mas, por favor, nos diga, como que irá acontecer.
é que vamos dar conta de montar um espetáculo Pelo silêncio da porta entra ninguém menos,
que apresenta a história de 185 montagens? ninguém mais, que Alexandre Venera dos
Isso é irrealizável. Mesmo se montarmos uma Santos. Ele caminha lentamente até o palco,
pequena cena sobre cada um deles, digamos calça jeans, camiseta esverdeada, chinelos
que cada cena tenha apenas dois minutos, Havaianas, traz consigo um pequeno sorriso ao
teremos ao final aproximadamente seis horas lado esquerdo da boca. Sobe ao palco, alguns
de espetáculos... sussurros orelhais lambem o silêncio da porta.
Ao se aproximar do grupo, todos percebem à projeção, me passou umas ideias que, se TERCEIRO
um excêntrico meio bigode de um lado – em vocês toparem, pode ficar joia.– todas as almas ENSAIO
contraponto a uma excêntrica meia costeleta de olham para Alexandre. Depois de uma pausa,
barba de outro – no rosto de Alexandre. Alguns ele diz:
atores se cutucam, trancando o riso. Por fim, – Vocês gostam do Bob Wilson? – um quase
196 Alexandre diz: desespero atravessa o grupo. Sinto que é hora 197
– Oi gente, e aí, porque estão todos quietos, de me redimir e entro na conversa.
éééé, vocês gostaram do meu bigode novo, é – A gente chegou a fazer um cálculo rápido,
isso? Venera, e a conclusão foi de que seria inviável e
O riso se espalha pelos quatro cantos desgastante um espetáculo tão longo...
do teatro, sinto alguns quilos a menos em – Desgastante? Muito pelo contrário, vai ser
meus ombros. Lá pelas tantas, num tom de tonificante, energético... – batendo uma mão
brincadeira, alguém resolve perguntar onde, na outra.
afinal de contas, Alexandre esteve até então; – Por menores que sejam as cenas, o volume
e ele responde que encontrou dificuldades de montagens vai impor horas ao espetáculo. A
para fazer a barba. Alguns risos depois, o não ser que façamos um corte, talvez possamos
grupo resolve, bastante animado, mostrar escolher os mais importantes e, com eles, criar
para Alexandre a cronologia que vínhamos as cenas para esse capítulo.
discutindo. Impressionado, Alexandre sorri: – Mas quem vai definir o critério que vamos
– Puxa, que bacana! Na minha cabeça era usar para escolher esse ou aquele espetáculo?
coisa de pouco mais de cinquenta espetáculos. Eu não me sinto à vontade pra fazer isso. Não!
Quer dizer que montamos tudo isso mesmo? É o seguinte, eu não abro mão, temos sim que
Que legal... acolher todos eles. Afinal, é NuTE para todos
– Sim, mas estamos com medo desse ou não é?
excesso... – Mas como, como vamos falar de todos os
– Medo? O excesso não conversa com o espetáculos?
medo. O oposto dele sim. Além do quê, isso – Nós não precisamos fazer isso. Os
tudo vai ficar super bom na peça que estamos espetáculos falam por si. Além do quê, seria
levantando, vai cair como uma luva azul... redundante criar uma cena para fazer falar
– Mas é exatamente isso o que nos assusta... uma cena. Não vejo propósito nisso.

– Isso o quê, a luva azul? Então vamos – Entendo cada vez menos...
cortar ela. Olha pessoal, não tem motivo pra – Não se trata de entender, mas de projetar.
nenhum receio; na verdade, enquanto assistia – Projetar?
– Isso! O que vocês acham da gente pegar cênicas potencializariam o espetáculo. Seria TERCEIRO
esse tal de EXUBERANTE CRONOLOGIA preciso selecionar entre oito e doze espetáculos ENSAIO
ESPETACULAR DO TEATRO EXPERIMENTAL para que em cada minuto, aproximadamente,
E DO TEATRO ESCOLA NUTEANESCOS e/ou possa acontecer uma cena ou, então, elaborar
PUTA QUE PARIU!!! ESSES CARAS MONTARAM uma única ação sobre os escolhidos. Durante
198 185 (cento e oitenta e cinco) ESPETÁCULOS e o embate, surge a proposta de questionar o 199
projetar do jeito como ele está? leitor a esse respeito. Nesse sentido, a opinião
– Sem mudar nada? do grupo acabou consensual: apenas o leitor
– Sim! Podemos deixar assim como está. estaria autorizado a realizar essa seleção.
Acho que ficou bom. Minha sugestão é mudar Foi o que fiz. Dessa enquete, realizada
apenas o número de projetores/projeções. Ao através do blog, surgiu a lista de espetáculos
invés de utilizar um único projetor como vocês que compõem o Livreto Espetacular.
fizeram hoje, podemos projetar três imagens
ao mesmo tempo: um espetáculo no centro,
um à esquerda e um à direita. Cada projeção
terá uma duração de dez segundos. Assim, em
1 minuto teremos 18 espetáculos, e em pouco
mais de 10 minutos fechamos os 185. O que
vocês acham?
Era uma excelente ideia. Concordamos
todos, sem pestanejar. Houve apenas uma
discordância. Metade dos atores insistia que
seria melhor, mais neutro de nossa parte,
apenas projetar o cronograma; já a outra
metade acreditava que durante a projeção
deveria haver interferências, atores no palco
encenando, dialogando com a projeção. Depois
de algum debate, Alexandre e a maioria do grupo
se direcionam para a segunda opção, mas o
problema do critério de seleção dos espetáculos
retorna, já que seria impossível em dez minutos
passar por todos os 185. O grupo, de uma
forma geral, concorda que uma vez resolvida a
questão do critério de seleção, as interferências
Foto: Acervo NuTE
201

registro do curso ‘treinamento cotidiano do ator’.


da esquerda para direita:giba de oliveria, alexandre
venera dos santos, regina simas, carlos simioni, pérola,
álvaro alves andrade, pepe sedrez, milena.
sentados: ivan, josé aparecido dos santos, carlos
crescêncio e carlos alberto dos aantos;
Quarto Ensaio – 04 de Maio de 2015 QUARTO
ENSAIO

Segunda-feira de Trabalho
No relógio ponto marcam 07h30min 203
Imagem Insistente: Apolo X Dioniso

– Bom dia. Espero que estejam todos bem


acordados. Hoje o ensaio vai ser puxado,
pessoal. Tá todo mundo bem disposto? – os
atores sinalizam que sim, Alexandre prossegue
– Minha proposta é retomarmos o esquema
de trabalho do Segundo Ensaio. Achei que
funcionou bem naquele dia...
– Aquele com os aperitivos?
– Exatamente, o que vocês acham?
– Boa ideia...
– As cenas ficaram bem boas mesmo.
– Vamos utilizar os mesmos aperitivos?
– Não! Eu montei cinco jogos novos. Com
a bandeja do Segundo Ensaio não daria certo,
pois nosso tema agora é outro. A intenção,
hoje, é focar toda energia na Escola de Teatro
do NUTe. Levantar cenas sobre a Escola.
– Vamos poder escolher os aperitivos
novamente?
– Acho que sim, não vejo problema, desde
que haja consenso entre vocês. Tenho apenas
uma ressalva. Além do jogo de aperitivos que
vocês vão escolher, gostaria que todos os grupos a cena, nada mais... QUARTO
jogassem com o Aperitivo Livretante. – Cenas sobre a Escola NUTe... ENSAIO
– Como assim? – Isso. Escolacênicas, cenicasescolares...
– O Aperitivo Livretante é um aperitivo – E os locais de ensaio, temos que usar os
anexo à bandeja deste ensaio. Além dos cinco
204 aperitivos que serão servidos, existe essa espécie
mesmos? 205
– Os locais são vocês que escolhem. A
de Experiência do Fora. É um sexto aperitivo
diferença é que, desta vez, vamos precisar de
que não entra na bandeja da escolha. A ideia
cinco grupos, dois grupos a mais. Tudo bem?
é que cada grupo escolha um aperitivo para
– os atores dividem olhares, aos poucos vão se
disparar suas cenas e, junto a este, quando
aproximando e, sem nenhuma palavra, cinco
estiverem encenando, permitir ressonâncias
grupos surgem no palco.
com o Livretante.
– Ótimo. Já temos os cinco grupos.
– Deixa ver se entendi. Funciona da mesma
Maravilha! Mais alguma pergunta, pessoal?
forma que o Segundo Ensaio, mas agora, ao
Não? Nada mais? Então, garçom, por favor, a
invés de um aperitivo, vamos trabalhar com
bandeja:
dois. Um que a gente escolhe e outro que você
já definiu.
– É quase isso. Vocês não precisam dar
conta de encenar todo o Livretante, a ideia é que
vocês o acionem sobre as cenas. Que ele ajude
na composição, que esteja acoplado de alguma
forma. É um “plus”, um a mais sobre aquilo
que vocês montarem. Mas claro, não se sintam
na obrigação de fazer dessa ou daquela forma.
O mais importante é criar com liberdade. Os
aperitivos servem para ajudar vocês a encontrar
algo. Agora, se eles, em algum momento,
dificultarem essa pesquisa, abandonem sem
medo, joguem fora os aperitivos e passem ao
prato principal...
– Prato principal?
– Claro, a cena de vocês. O aperitivo é
apenas uma bengala; a função dele é disparar
QUARTO
ENSAIO

207
APERITIVOS CÊNICOS
e/ou nutrientes para
composição de mundos

Caro leitor,
Convidamos você agora a provar dos nossos
aperitivos cênicos na cor cinza,
que incluem as cartas bônus:
“APERITIVOS LIVRETANTES”.

...vá em frente, bom experimento!


Composição de Mundos QUARTO
ENSAIO
Enquanto os grupos pesquisam seus
espaços cênicos, Alexandre fuma um, dois,
três cigarros. Consegue, para ele, e também 209
para mim, um copinho de café na secretaria da
Carona Escola de Teatro. Seduzido pela cafeína,
resolvo fumar um cigarro também. Ao término
desse estimulante abastecimento fisiológico,
iniciamos nossa andança.
Os cinco grupos selecionaram, como
espaço de ensaio, os seguintes locais:
Grupo I – (O)Caso – corredor do terceiro piso
do Teatro Carlos Gomes, onde na década de 80
foram apresentados espetáculos como O Túnel.
Grupo II – Porão do Teatro – local onde o
NUTe realizou as Oficinas de Base.
Grupo III – Grande Auditório do Teatro
Carlos Gomes – Auditório Heinz Geyer.
Grupo IV – Pequeno Auditório do Teatro
Carlos Gomes – Auditório Willy Sievert.
Grupo V – Antiga Sede-Secretaria do NUTe –
espaço que deixou de existir com a reforma do
Teatro Carlos Gomes em 2002.

Os atores que ensaiam no espaço (O)
Caso utilizam a técnica do João Bobo como
aquecimento. Um ator se posiciona entre
outros dois e se lança livremente para frente e
para trás, onde estes o apanham trazendo de
volta ao centro-meio do jogo. O movimento é
revezado por todos os atores, que hora fazem a
rede, hora o João Bobo.
No Porão do Teatro, sobre uma mesinha que nenhum deles consegue olhar os demais. QUARTO
improvisada, dois atores disputam uma queda Alexandre achou curioso. Sentados em duas ENSAIO
de braço. Os demais, em volta, fazem torcida cadeiras improvisadas, permanecemos por
gritante e apostam dinheiro no vencedor. alguns minutos, mas nada acontece. A tensão
O grupo que ensaia no Grande Auditório da queda de braço havia se esvaziado. Em cena,
210 percorre o palco realizando o que parece ser um apenas o silêncio e o distanciamento entre 211
estudo sobre a rede elétrica disponível. Fazem os atores. Aguardamos mais alguns minutos.
anotações, cálculos; discutem a impedância, a Nada. Alexandre começa a coçar a cabeça,
amperagem.... olha pra mim, faz menção de que vai intervir,
levanta-se, mas, ao começar a falar, o dorso
Alguns atores da plateia do Pequeno
da mão esquerda do primeiro ator atinge, com
Auditório aplaudem o que parece ser um desfile
muita força, a face do segundo, o que faz com
de moda que se realiza através dos demais
que o dorso da mão esquerda do segundo ator
atores no palco.
atinja a face do terceiro. O mecanismo se repete
Na antiga sala-sede do NUTe, um único
até atingir a face do primeiro ator. Quando
ator de pé está cercado pelos demais, que o
isso acontece, o ator que iniciara a ação, num
reverenciam sentados sobre seus próprios
abrupto movimento de 180 graus, nos olha com
calcanhares em estranhos movimentos: violência, escárnio e certa simpatia, dizendo:
lançam os braços acima da cabeça e curvam-
se até o chão. Quando retornam ao início do
Alguns de nós achávamos que tínhamos que
movimento, bradam em coro: mestre, mestre, montar espetáculos com mais frequência. Mas
mestre... quase ninguém tomou partido tão abertamente por
um dos dois projetos de NuTE, já que eles tinham
Alexandre não interfere. Apenas observa começado mais ou menos juntos, o Experimental
os grupos. Por vezes sorri, por vezes passa a e a Escola, com Alexandre e Wilfried. O Wilfried
mão no cabelo, usando os dedos da mão direita sempre mais com a ideia da escola e o Alexandre
sempre com a ideia dos espetáculos, era mais ou
como pente às franjas que lhe caem sobre a menos assim. (entrevista com Dennis Radünz,
testa. Depois dessa primeira rodada, claro que página 24).
um cigarrinho vai muito bem, melhor ainda
se acompanhado daquele cafezinho que se Ao finalizar a fala, numa velocidade incrível,
consegue na secretaria da Carona Escola de o grupo desfaz a configuração circular e retorna
Teatro. Uma respirada, algumas tragadas e ao braço de ferro, à balbúrdia, à torcida e às
estamos prontos para continuar. apostas. Venera deixa escapar um susto.
Voltamos ao Porão. Os atores, em Com os olhos esbugalhados, escreve algo
silêncio, formam um círculo de costas. Cada num bilhete, aproxima-se dos atores e, como
qual olha numa direção a sua frente, de modo quem faz uma aposta num dos combatentes,
joga o bilhete sobre a mesa. A cena não para. A cerimônia continua, mas agora o ator do QUARTO
Suavemente deixamos o porão. projetor multimídia veste um professoral jaleco ENSAIO
Na antiga Sala-Sede do NUTe, o ritual branco. Retira de um dos bolsos uma caneta
de aclamação “mestre, mestre, mestre” segue laser e, apontando para a imagem projetada,
sem nenhuma novidade. Alexandre se irrita e inicia o que parece ser uma aula dedicada a
212 interrompe a cena. Pergunta ao grupo se há uma turma de ensino médio. 213
algum motivo para tanta repetição. O grupo – Bem, como vimos em nossa última aula, a
se dissolve em torno do único ator de pé e se escola NUTe vinha pipocando desde os primeiros
refaz em torno de Alexandre. Novamente, com anos do Núcleo de Teatro Experimental. Num
o mesmo cerimonial, repetem: “mestre, mestre, primeiro momento, os cursos são ministrados
mestre”. Ainda mais irritado, Alexandre balança por Wilfried Krambeck, que logo na sequência
a cabeça numa desaprovação que mastiga se transforma em coordenador-pedagógico,
fogo pelos olhos, o que deixa a cena muito possibilitando que outros membros do núcleo
engraçada. Sem poder conter, acaba me saindo ministrem cursos. Atenção pessoal, menos
uma gargalhada. Imediatamente, o grupo barulho, por favor, isso aqui pode cair na prova.
abandona Alexandre e me circula, dizendo Nós vamos chamar essa primeira fase da escola
“mestre, mestre, mestre”. Continuo rindo e NUTe de Krambeck in Cursos. Sobre isso nós
Alexandre acaba achando graça também. Por conversamos bastante em nossa última aula,
fim, um ator que estava separado do grupo liga espero que todos estejam lembrados. Quem
o projetor multimídia e todos os demais passam faltou nesse dia e não quer tomar bomba no
a reverenciar a imagem projetada, dizendo exame, recomendo estudar o livro da página 85
“mestre, mestre, mestre”: à 111.
– Já a segunda fase da escola NUTe se põe
em movimento quando o núcleo começa a
trazer importantes nomes do teatro nacional,
os quais ministram cursos que desencadeiam o
processo, sem volta, à primeira Escola Livre de
Teatro de Santa Catarina. Gostaria que vocês
anotassem também este ponto: temos certeza
Foto: Charles Steuck

de ser a primeira Escola Livre de Teatro do Vale


do Itajaí, porém algumas pessoas acreditam
dr. josé que o NUTe possa ser a primeira Escola Livre de
ronaldo faleiro Teatro de toda Santa Catarina. Sendo ou não,
algo fundamental que acontece nessa segunda
fase é que os alunos NUTe têm a possibilidade de Olga Reverbel, então professora na QUARTO
de assistir a aulas de Thiers Camargo, Irene Universidade Federal do Rio Grande do Sul ENSAIO
Ravache, José Possi Neto, Roland Zwicker, (UFRGS), que havia sido convidada a lecionar
Jorge Cherques, Walmor Chagas, Pepita temporariamente na licenciatura em artes da
Rodrigues, Eduardo Dolabella. Vamos chamar Universidade Regional de Blumenau (Furb).
214 essa Segunda Fase da Escola NUTe de Grande Faleiro acaba assumindo, além da pesquisa 215
Mestres. e do ensino, também a chefia da Divisão de
– Mestre, mestre, mestre – clamam os Promoções Culturais nesta universidade. Uma
demais atores em torno da imagem projetada. vez em Blumenau, sofre grande impacto ao
– Contudo – retorna o ator professor -, se assistir O Homem do Capote e Outros Seres,
vocês fizeram a tarefa de casa que deixei semana espetáculo que lhe pareceu muito próximo ao
passada já sabem que, dentre tantos, dois teatro contemporâneo europeu. Impressionado
cursos foram fundamentais nesse processo. com o fato de um grupo de teatro amador do
Eles são citados veementemente em quase interior de Santa Catarina estar realizando
todas as entrevistas realizadas pela pesquisa montagens com elementos pesquisados por um
e publicadas no blog www.nuteparatodos. teatro que vinha acompanhando em especial na
wordpress.com .Ganha um ponto positivo na França e na Alemanha, passa a se aproximar
prova quem primeiro me disser o nome dos do então Núcleo de Teatro Experimental.
professores que deram esses cursos. – Mestre, mestre, mestre – clamam os
– Mestre, mestre, mestre – clamam os demais atores em torno da imagem projetada.
demais atores em torno da imagem projetada. – Em maio de 1987 e em março de 1988,
– Muito bem, é isso mesmo. Trata-se, em Faleiro ministra para o NUTe o curso de
primeiro momento, do curso de Aprimoramento Aprimoramento Teórico Prático em Teatro
em Teatro Universal dado por José Ronaldo Universal, o qual, conforme podemos observar
Faleiro e, alguns anos mais tarde, o curso na inscrição deste aluno, consistia do seguinte
Treinamento Cotidiano do Ator, dado por Carlos programa:
Simioni e Ricardo Pucceti.
José Ronaldo Faleiro, natural de Porto
Alegre, retorna ao Brasil depois de longa estadia
na França – de 1972 a 1986 – onde defenderá
sua tese de doutorado – La Formation de
l´Acteur à partir des Cahiers d´Art Dramatique
de Léon Chancerel et des Cadernos de Teatro
d´O Tablado. Aceita voltar por insistência
que estamos na década de 80, não existe QUARTO
internet, a dificuldade de acessar produções ENSAIO
contemporâneas é imensa, a maior parte das
informações se encontra apenas em material
impresso, importado e caro. Generosamente,
216 esse senhor disponibiliza parte de seu tempo, 217
sua casa e sua biblioteca a esses jovens. No
recorte aperitivo que recebemos da entrevista
realizada com Roberto Murphy, jogo número 2,
é possível perceber isso com mais clareza:

Ele trouxe uma biblioteca de teatro. Todas as


paredes da casa dele eram repletas de livros. E
tinha um palco no meio, onde tudo era livro de
teatro, de arte em geral, mas basicamente teatro.
O banheiro da casa dele era cheio daqueles...
Aquelas coisas de guardar sapatos, aquilo era
cheio de livros. E a gente ia pra lá, passava a tarde
lá, ele fazia uma torta de maçã com mel e chá de
não sei o quê... E conversa, conversa... Aquilo
foi nutrindo muito a gente. E ele começou a ter
contato com o Wilfried, com todos os fundadores
lá do NuTE, e começou a haver um fervo mútuo...
Aquilo ali foi revolucionário. O contato do Faleiro
– O curso mobiliza novas forças e intensifica com o Alexandre foi demais. E isso provocou em
o combate entre as já existentes – escolar e todos nós, porque eu me considero um discípulo
deles todos, desses dois principalmente, assim
experimental – dentro do núcleo. Mais que isso, como Giba é também, como Pepe é... (entrevista
Faleiro torna-se uma espécie de mestre dos com Roberto Murphy, páginas 6-7).
nutes.
– Mestre, mestre, mestre – clamam os – Mestre, mestre, mestre – clamam os
demais atores em torno da imagem projetada. demais atores em torno da imagem projetada.
– Nutes em busca de Nutrientes encontram – Um bom exemplo desse contato que
em Faleiro uma referência teatral. Passam Murphy nos fala é o espetáculo Apocalypsis
a frequentar sua casa, emprestam livros de Cum Figuris na Visão de Santa Catarina, os
sua biblioteca pessoal, um impressionante Anjos e Nós, concebido e dirigido por Alexandre
acervo sobre teatro que superava em muito Venera, contando com assessoria de Ronaldo
as bibliotecas da região. Cabe lembrar Faleiro. E assim, bem nutrido, este Núcleo de
Teatro Experimental terá condições, alguns QUARTO
anos mais tarde, de vir a ser Núcleo de Teatro ENSAIO
Escola. Olha pessoal, o barulho tá demais.
Não quero colocar ninguém pra fora hoje, mas,
se for preciso, vai pra direção, sim senhor.
218 Os nossos amigos que já estão com duas 219
advertências sabem que mais uma visita ao
diretor acarreta suspensão, correto? É muito
chato isso de ter que ficar parando a aula pra

Foto: Acervo NuTE


pedir silêncio. Quero que todo mundo anote
o que vou passar no quadro agora. Eu disse
todo mundo. O colega não vai anotar por quê?
carlos simioni
Isso não é desculpa, meu caro, se esqueceu do
caderno em casa, pega uma folha emprestada,
anota e depois passa a limpo. Pessoal, atenção,
isso aqui com certeza vai cair na prova. – Mestre, mestre, mestre – clamam os
demais atores em torno da imagem projetada.
Em 1991, o NuTE, que está passando a ser
Ascenção e Queda do Império NUTe:
NUTe, já dispõe em seu currículo de importantes
montagens: O Homem do Capote e outros
Primeira Fase – Krambeck in Cursos Seres; Variante Woysek-Mauser; Macbeth’s:
Segunda Fase – Grandes Mestres uma interferência na história. A ousadia
24. Durante a pesqui- Terceira Fase – Núcleo de Teatro Escola experimental, bem como a insistente pesquisa
sa, encontramos um em Artaud e Grotowski, chamam a atenção do
registro audiovisual Quarta Fase – Intrigas, decadência e morte.
deste curso, o qual grupo fundado por Luís Otávio Burnier, já na
soma cerca de 60 mi-
nutos. Para assistir época referência internacional em Antropologia
ao curso Treinamen- – Na aula de hoje estamos vendo os principais Teatral. Trata-se do Laboratório Unicamp de
to Cotidiano do Ator,
acesse o endereço acontecimentos entre a Segunda e a Terceira Movimento e Expressão: LUME. Ou, como é
www.youtube.com/ chamado atualmente: Núcleo Interdisciplinar
atch?v=YBxOZogxf0A. Fase. Mais propriamente as condições de
possibilidade que permitiram essa passagem. de Pesquisas Teatrais da Unicamp.
Já conversamos sobre a importância de José
Ronaldo Faleiro e agora iremos falar um pouco (...) a gente chamou muito atenção do pessoal do
LUME, pessoal do Teatro Antropológico Eugenio
sobre o curso dado por Carlos Simioni e Ricardo
Barba, a gente se aproximou muito dessa linha
Pucceti: Treinamento Cotidiano do Ator24. de trabalho... A gente foi... Se era experimental,
ali mesmo foi mais do que nunca. Só que nessa fase, que seria quando nós montamos a escola e QUARTO
época, exata, eu acho que deixou de ser Teatro começamos a dar aula. (entrevista com Alexandre
Experimental e passou a ser Teatro Escola. Venera, página 150). ENSAIO
(entrevista com Alexandre Venera, página 58).

– Os registros que permaneceram do curso


– Como vocês podem perceber pela citação
220 e que estão disponíveis na biblioteca – www. 221
acima, esse curso intensifica as forças nute.com.br – mostram a importância dada
experimentais, dando-lhes vazão, permitindo ao momento. Alguns, que chegaram a ser
ressonâncias com a Antropologia Teatral. Ao datilografados, possivelmente para serem
mesmo tempo, fortalece as forças escolares utilizados em aulas posteriores, carregam
deixando o terreno pronto para a travessia da títulos como Anotações Antológicas de um
segunda à terceira fase: onde se vai consolidar dia de Trabalho Sobre Orientação de Carlos
definitivamente o NUTe como Escola de Teatro. Simioni e Ricardo Pucceti. Outros, escritos à
O que parece irônico aqui é que a filiação
mão, cuidadosamente conservados, talvez por
experimental se potencializa justamente como
serem a base dos demais documentos, revelam
escola. Dizendo de outra forma, enquanto não
um pouco a atmosfera do encontro:
havia uma identidade a se remeter, enquanto
o inominável operava, a experimentação era
caótica e livre, a partir do momento em que se
reconhece uma filiação, que se constrói uma
casa, que se torna senhor, proprietário da sua
morada, começa a ser importante defendê-la
contra os invasores e zelar por sua manutenção.
O devir experimental se reorganiza na identidade
escola.

(...) quando a gente montou Apocalypsis ainda não


tava dando aula não... Tava começando a montar a
Escola. Com Apocalypsis nós trouxemos mais um
grupo de fora, pra dar um curso de uma semana,
onde todo mundo entrava às sete e meia da manhã
e saía à uma da tarde, da aula. E daí tinha mais
uma turma à noite pra quem não podia durante
o horário comercial, né. Esse curso com o LUME,
o Simione, que é antropologia teatral pura. Nós,
com Apocalypsis, apresentamos pra levantar uma
grana pra ajudar a pagar a vinda desses caras
pra cá. E nessa época começou a vir a terceira
O ator professor faz uma pausa, bebe um Um dos atores questiona o motivo disso, QUARTO
gole de água em sua garrafinha de refrigerante pergunta se a proposta deste dia de trabalho ENSAIO
diet, depois estaciona os olhos em sua plateia. não seria justamente contar um história, a
Alexandre e eu, encostados na parede da história da escola NUTe. Num tom de deboche,
sala, fizemos esperar. Após alguns segundos, o mesmo ator questiona como seria possível
222 percebemos que os demais atores também fazer isso sem servir ao público alguns blocos de 223
estavam nos olhando. Por fim, dois deles informação, ao menos com pedaços-trechos de
balançam os braços e, um tanto constrangidos, sujeitos, de espaços, de tempo, e finaliza dizendo
nós aplaudimos o grupo. Um dos atores comenta que o público precisa ter onde se agarrar para
que, até então, foi o que conseguiram produzir. conseguir experimentar a encenação. O diretor
Alexandre parabeniza o grupo, faz questão de discorda veementemente. Numa explosão
cumprimentar um a um os atores. Gosta em de entusiasmo, questiona a importância da
especial dos momentos em que o professor história do NUTe, para quem e para quê serviria
ator quebra seu personagem falando do jogo de contar essa história. O grupo olha para mim,
aperitivo número 2. Comenta que a cena está eu me calo. Alexandre pergunta novamente.
maravilhosa. Todos sorriem. Alexandre repete Tento responder que existe relevância histórica
“Muito bom, muito bom mesmo”. Um dos atores em muitas coisas feitas pelo Núcleo, que nosso
pergunta o que poderia ser melhorado. O diretor trabalho vale como um registro dessas ações
comenta que apesar de tudo funcionar muito para as próximas gerações do teatro. Alexandre
bem, a cena criada corre o risco de essencializar balança a cabeça em tom negativo; diz que
uma persona, substancializar o ator professor isso tudo não passa de burocracia, de discurso
num sujeito-personagem. Um dos atores comercial que serve para aprovar projetos como
argumenta que a intenção da repetição mítica este no Ministério da Cultura ou para conseguir
“mestre, mestre, mestre” seria justamente recursos numa empresa.
deslocar o personagem substancializado às Artisticamente falando, continua o diretor,
forças que o colocam em movimento. Alexandre não serve para nada. “A arte não é imitação da
acredita que isso é possível, que de certa forma a vida, mas a vida que é imitação de algo essencial
ironia fabrica esse desequilíbrio na cena, que a com o que a arte nos põe em contato”25. Ele
estrutura criada pelo grupo pode permitir uma faz uma breve pausa, observa o grupo; por
desterritorialização do bloco de informações e fim, numa respiração profética, sustenta que
abri-lo à experiência do público. Mas para isso o maior interesse da arte é a vida. A grande
acontecer seria preciso ir mais a fundo, injetar pergunta que a arte nos ajuda a colocar, diz ele,
mais delírios aos jogos, retirar um tanto da é Como Viver. A arte, e em especial o teatro, nos
mensagem, da historinha. permite acessar mundos que as representações, 25. Antonin Artaud.
as regras, as normas cotidianas não permitem. inventar. Agora, essa operação só funciona QUARTO
Vivemos todos presos, enjaulados, a liberdade quando a compartilhamos com alguém. Por isso ENSAIO
convencional é apenas uma cadeia com mais as macro linhas de significação da vida fazem
espaço. A função da arte é nos ajudar a ir além tanto sucesso. Ao aprisionar as pessoas, elas
dessas grades, estourá-las, romper com elas. permitem a experiência comum de estar vivo
224 Mas isso não se encontra representando uma dentro de uma cela. Na igreja, no shopping, na 225
historinha sobre o NUTe. Alias, não há nada academia, nas novelas da Rede Globo está tudo
menos NuTE do que contar uma historinha pronto, não há necessidade nenhuma de criar.
sobre o NUTe. O NuTE não montava espetáculos Isso é o oposto do que estamos fazendo aqui,
para entreter as pessoas, muito menos para pois o que queremos é estourar as grades da
esclarecer, conscientizar, convencer sobre representação.
algo. A proposta sempre foi libertar as pessoas,
Um ator toma a palavra se dizendo confuso
libertar o pensamento, o delas e o nosso. Muitas
com a quebra da representação proposta pelo
vezes, talvez na maioria das vezes até, as pessoas
diretor, questiona se a realização disso não
saíam dos nossos espetáculos se perguntando,
quebraria também a fronteira entre arte e vida.
‘mas o que isso quer dizer?’ ou ‘acho que não
Alexandre gosta muito da questão, dizendo
entendi direito a mensagem do espetáculo’, ou
que é exatamente isso o que acontece, pois
ainda ‘o que vocês queriam passar com isso?’.
nisso que estamos trabalhando, “(...) o limite
As pessoas estão viciadas em comprimidos de
significação e não param de pedir mais uma é muito estreito entre o que é vida e o que é
dose. O nosso teatro negava essa dose, nós arte. Porque é uma arte na qual se decide a
não dizíamos nada, os nossos espetáculos não questão – como viver”27. Seria possível aceitar
queriam ensinar nada; queríamos sim permitir as coisas da forma como estão, isso também é
às pessoas pensarem, mas pensarem por si; um como viver, e apenas representá-las e nada
porque cada um precisa encontrar sentido mais. Mas para isso não precisamos da arte,
no espetáculo, o sentido não é o mesmo para isso não é arte, isso é consumo. Serve para
todos, ele não está pronto, é preciso inventá-lo, os que vivem na Falta, para os que vivem na
26. Comentário de procurá-lo ao seu modo. No fim das contas, era Fome. Para os que querem consumir existem
José Ronaldo Faleiro isso que todos os nossos espetáculos queriam os shoppings, os restaurantes, as pizzarias,
ao revisar este trecho
do ensaio: “Os espe- dizer: construa o seu sentido, procure por ele, aqui estamos procurando por outra coisa. Algo
táculos do AVS pro-
vocavam isso, por sua não é fácil, nós sabemos, mas estamos juntos difícil de atingir, difícil até de dizer. Algo que, 27. Jerzy Grotowski.
fragmentação, pela nessa procura26. Invente um sentido para você, de uma forma ou de outra, todos procuram. Conferencia realiza-
fragmentação da sua da em 1971 no Teatro
estrutura narrativa, pois não há sentido nenhum neste espetáculo, Alguns procuram no dinheiro, acreditam que Ateneum. Publicada
pela surpresa quanto em The Theatre in Po-
ao desempenho dos
assim como não há nenhum sentido na vida. quando tiverem muita grana vão encontrar;
land. Especial abril-
atores”. É preciso a todo momento fabricar, criar, outros procuram numa pessoa, num amor, maio 1975.

encontrariam nela; outros ainda na fama; do nosso público o que há de melhor, de mais QUARTO
no fetiche, para esses estaria na ação de ser revolucionário na arte: a produção de sentido, ENSAIO
adorado por muitos; ou ainda procuram no produção de si, produção de mundos.
prazer; na droga; na comida; no sexo. Quantos Se nós resolvemos o problema para nosso
estômagos encontramos, todos os dias, público, nós o alienamos, nós o acorrentamos
226 caminhando pelas ruas em busca, sempre à frágil saída que conseguimos encontrar. 227
em busca; quantas genitálias saem de casa e Saída que geralmente não é tão boa quanto
vão para a festa em busca, sempre em busca; gostaríamos que fosse. Um ator, se dizendo
quantas máquinas-caça-níquel registram dia a um pouco confuso, pergunta que problema se
dia, mais e mais ansiedades monetárias. Talvez estaria tentando resolver. O diretor responde
os últimos humanistas de plantão queiram que se trata sempre de um mesmo e único
fazer algo por eles. Queiram ajudá-los. Mas nós, problema, seja para a Arte, para a Religião,
que não temos certeza nem da nossa busca, para a Ciência. O problema é Como Viver.
não podemos ajudar ninguém. Não temos como O diretor propõe que todos suspendam, por
salvar o mundo. O que conseguimos fazer é alguns segundos, seus assentos existenciais
pouco, muito pouco, e esse pouco é continuar e que mergulhem sem medo de encontrar
procurando ao nosso modo: através da arte. A aquilo que já sabem, mas que se esforçam para
grande diferença entre essa multidão da Fome- esconder de si mesmos. Ou seja:
Falta e nós, é que eles procuram por algo que
lhes sacie o desejo, enquanto nós procuramos I – Que a vida não tem nenhum sentido,
mobilizar nossas vontades para inventar II – Que enquanto estivermos vivos,
mundos, formas de existir, de experimentar a inevitavelmente iremos sofrer,
vida. Trata-se de uma guerra entre as paixões III – Que ao final dessa vida sem sentido e
tristes e as alegres... acometida de dores iremos todos morrer,
tudo terminará.
O grupo compartilha um momento de
grande intensidade. Um dos atores pergunta o Dizendo de outra forma, a presença absoluta
que contrapõe nossa alegria à representação. da morte, da finitude desse animal que somos,
Ou seja, qual seria, exatamente, o problema nos obriga, diariamente, a inventar sentidos
de contarmos uma historinha, de passarmos às nossas vidas. Essa invenção pode se dar de
uma mensagem ao nosso público. O problema, várias formas. A questão é que algumas delas
responde Alexandre, é que ao impor ao nosso nos aprisionam, enquanto outras nos libertam.
público um mundo provisório que fabricamos Aqui é onde podemos afirmar sem medo que a
para nosso conforto pessoal, mundo que lhes arte é superior à religião e à ciência. Pois, se o
obrigamos a engolir goela abaixo, roubamos padre e o cientista precisam convencer a todos
que suas respostas são as melhores, quando Ao chegar ao Grande Auditório, somos QUARTO
não, em acessos de arrogância as únicas surpreendidos por relâmpagos atravessando o ENSAIO
possíveis, nós, artistas, precisamos apenas palco. Duas, sete, vinte e cinco impressionantes
de espaço para criar e doar nossa arte. Vocês descargas elétricas formam uma espécie de
entendem por que é tão importante esvaziar a parreira de uva eletromagnética. Do centro do
228 mensagem do espetáculo? Se nossa intenção é palco, um ator, completamente nu, levanta-se, 229
libertar as pessoas e, com isso, libertar a nós abre os braços e pede:
mesmos, a interpretação também deve ser – Potência máxima.
livre. Não podemos direcionar se não queremos
Imediatamente, seu corpo é atravessado
ser direcionados às grandes respostas, às
pelos raios, obrigando-o a uma dança caótica
saídas hegemônicas, que durante muito tempo
que parece, ao mesmo tempo, alimentar-se de
acreditou-se boas para todos. Sabemos, hoje,
uma dor insuportável e de uma alegria febril.
que cada um precisa criar sua saída e assim
Desfragmentando cada parte do seu corpo, o
experimentar uma vida livre.
ator começa a numerar as atividades realizadas
Voltando ao nosso espetáculo. Se pelo NUTe no ano de 1993:
pretendemos contar uma vida, se nosso trabalho
aqui se resume a expressar algo que foi vivido, o
que precisamos fazer é esvaziar as mensagens.
Esvaziar para que o público possa preencher
como achar melhor, ou como conseguir. Na
arte, a vida não se expressa resolvendo a vida.
Isso é o mais importante “(...) a vida só pode
ser expressa na arte pela falta de vida e pelo
recurso à morte, por meio das aparências, da
vacuidade, da ausência de toda mensagem”.
(KANTOR, 2001, p. 201).
Vocês entendem isso? Os atores sinalizam
que sim, agradecem a palestra. Alexandre,
dando-se conta de que havíamos passado um
bom tempo com eles, lembra-se dos outros
grupos. Pergunta se ainda possuem material
para continuar. Um ator, sorrindo muito, quer
compartilhar uma ideia que considera brilhante.
Alexandre motiva o grupo a trabalhar. Saímos.
QUARTO
ENSAIO

230 231

Assim que finaliza a última frase, os raios


enfraquecem, o ator oscila, procura recuperar
o fôlego; um segundo ator lhe traz uma toalha
branca. Ele rejeita, faz menção de querer
continuar. Os demais atores arrastam uma
corda formando um quadrado em torno do
ator elétrico, que agora ganha luvas de boxe e
passa a lutar com sua sombra. Mais uma vez
lhe trazem a toalha, ele lança a toalha à plateia convenceu de que eu deveria montar uma escola QUARTO
em sinal de desprezo e continua lutando. de teatro. Durante vários anos, eu lutei contra ENSAIO
Também com luvas de boxe, entra no ringue o essa ideia. Meu amigo Wilfried sempre insistiu
ator oponente. Ambos se estudam, pesquisam que deveríamos fazer do NuTE uma escola de
a melhor forma de avançar sobre o adversário, teatro, mas meu projeto eram os espetáculos.
232 caminham em passos dançantes. O oponente Achava que a escola iria me atrapalhar. Foi você 233
aproveita um deslize do ator elétrico e ataca: quem me convenceu, você e mais ninguém, eu
– Até quando você acha que vai aguentar? nunca quis isso; e agora você vem me dizer
que...
– Você?
– Não há pra onde ir, aqui é o auge. Você
– Eu te fiz uma pergunta, idiota, até quando
quer ser professor o resto da vida?
você acha que vai aguentar?
– Quero fazer arte. Nosso trato era esse. Eu
– Eu, eu não sei; mas... Mas você, foi
daria aula para ganhar um dinheirinho e em
justamente você que...
troca poderia fazer minha arte...
– Tá, tá, tá... Já sei! Mas isso passou.
– Tudo bem, eu lembro do nosso acordo.
Estamos agora em outro momento...
Mas e eu, o que estou ganhando com isso?
– Outro momento? Como assim? É a minha
– Eu tenho me dedicado a planejar aula,
vida, eu só tenho esta vida. Você me garantiu
cobrar mensalidade, fazer relatórios de
que eu poderia...
atividade, prestação de contas, borderô. Você
– E você pode, é claro que pode, mas como não está contente, essa merda toda ainda não
professor? Convenhamos... basta?
– Não! Não... Não desta vez. Não vou mais – Claro que não!
acreditar, não desta vez, não... Não... Eu queria
– O que mais você quer?
fazer cinema, o teatro me pareceu um bom
– Quero tua alma!
caminho. Montar espetáculos, eu pensei, vou
montar bons espetáculos que me ajudem a – Mefistófeles?
começar o meu cinema. Eu estava fazendo isso – Ah! Que coisa chata; olha meu querido,
quando você apareceu: Apocalypsis, Variante eu tenho vários nomes... Chame como achares
Woizec-Mauser, Macbeth’s. Claro que eram, que... Mas espera, espera – sorrindo – é verdade,
eram sim bons espetáculos. Mas aí, você veio me teve um outro professor, mas isso já faz muito
convencer de que eu tinha responsabilidades, tempo, que me chamava assim... Engraçado...
que não seria possível sobreviver assim, do Mas e então, vai vender?
teatro, que eu tinha família, que precisava – Eu não sei, vender significa que vou para
ganhar dinheiro e que isso e aquilo. Você me o inferno quando morrer, é isso?
– Ah! Ah! Ah! – gargalhada fatal – Que acende um cigarro e lembra do cafezinho. Vai até QUARTO
bobiça, hein nego... Isso de inferno é uma a secretaria da Carona Escola de Teatro e retorna ENSAIO
grande baboseira. Deus e o diabo são invenções com uma garrafa de café e vários copinhos, e
humanas, demasiadamente humanas. Nada serve a todos. Parabeniza o grupo pela cena. Um
disso existe. Coisas que as titias contavam aos dos atores comenta que se trata de um trecho,
234 sobrinhos peraltas para se divertirem. Até que que a intenção é desenvolver mais a sequência. 235
foi uma boa invenção, durou vários séculos, mas O diretor pede para que se mantenha a força
hoje em dia Deus está morto, assim como toda cênica, esta teria lhe impressionado muito.
a parafernália metafísica que o cercava. O que Elogia a atuação dos atores e a brincadeira com
quero saber é se você vai ou não vai me vender o tema clássico, quase clichê, da luta interna.
essa porra de alma... Tô ficando nervoso... Acredita que, ao problematizar um tema ao qual
– Tá, tudo bem. Mas, afinal, o que seria constantemente se recorre, seja possível falar
te vender minha alma, então? Se Deus está dele e até se utilizar dele para dizer algo. Chama
morto, ainda existe alma? a atenção do grupo para o que considerou uma
– Não, não. Claro que não, babaca. Essa pequena dificuldade: as imagens atravessadas
alma que supostamente seria sua essência, pelo conceito de alma. Comenta que existe uma
seu eu verdadeiro, em nada me interessa, essa crise na filosofia e, em especial, na psicologia
não existe, nem nunca existiu. O que quero contemporânea sobre esse tema. Sabendo que
são tuas experiências de vida, a maneira como me dedico a estudar o conceito, Alexandre me
você se relaciona com o mundo, teus acordos pede para falar um pouco a respeito.
políticos, teu modus vivendi. Se preferes, uma Acendo um cigarro, tomo um gole de café
palavra espinozeana, tua ética. Você aceita? e começo dizendo que gostei muito da cena.
Ambos retiram as luvas de boxe, os Ficou muito forte, pra mim, o funcionamento
demais atores desatam as cordas do ringue. em rede do sujeito. Ou seja, pareceu-me que o
Sentam-se na ribalta e olham para Alexandre. ator elétrico depende, para agir, de toda uma
Constrangido, ele se levanta, olha para trás, rede em sua volta. Tal qual a música de um
à porta do auditório, caminha um passo em rádio que só toca quando ligamos o aparelho
direção. Os atores ficam atônitos. Eu me dou à tomada de energia na sala de nossa casa.
conta de que a cena terminou e aplaudo o grupo; O que geralmente esquecemos é que essa
todos aplaudem. O diretor retorna ao local de tomada está conectada a um cabo que segue
onde assistia ao ensaio, retira um cigarro do aos disjuntores; estes, por sua vez, estão
maço e propõe ao grupo conversar ao ar livre. A ligados ao relógio que contabiliza e distribui
proposta é bem aceita. Saímos. energia para a casa o qual está ligado à rede
Em frente à antiga sala do NUTe, Alexandre de baixa tensão, que está ligada, através dos
transformadores, acoplados aos postes, à rede feita por um capacitor eletrolítico dentro dele, QUARTO
de alta tensão; essa rede de alta tensão está nem pela mão que ajusta a frequência, nem ENSAIO
ligada a uma usina de distribuição de energia; pelo locutor responsável pela programação,
essa usina de distribuição está ligada a uma nem pelo músico que compôs a canção.
usina de geração de energia, onde geradores – Mas algo em nós prefere ouvir essa e não
236 acoplados à correnteza da água produzem aquela música – interrompe um ator. 237
energia elétrica; essa água está ligada a vários
– Sim, mas que algo seria esse? – pergunto
rios; esses rios a vários córregos; esses córregos
ao grupo – Haveria uma substância, uma
a várias nascentes; essas nascentes ao barro, à
alma agindo dentro de você? Vocês percebem
chuva; e assim ao infinito.
como é ingênuo o pensamento atomista?
A mesma infinitude rizomática acontece em Pensar aquilo que quer em nós como uma
cada um dos componentes do rádio de onde unidade, uma substância isolada, um Eu, é o
sai a música. Cada parafuso, cada pedaço
mesmo que dizer que quem escolhe a música
de plástico, cada componente eletrônico ali
é o capacitor eletrolítico do rádio. Quando
presente é antecedido por uma rede infinita
algo quer em nós, esse algo está em muitos, é
que o faz agir daquela forma e não de outra.
atravessado por muitos, composto por muitos.
A rede que antecede o capacitor eletrolítico
Multidões humanas e inumanas nos habitam
e o obriga a agir de tal forma que possamos
e nos forçam a querer assim e não de outra
ouvir um programa de jazz em tal horário e em
forma. Haveria como culpar, responsabilizar,
determinada frequência. Alguém conseguiria
criminalizar individualmente o sujeito por tocar
culpar, responsabilizar ou afirmar que esse
essa e não aquela música? – da mochila retiro
capacitor eletrolítico escolhe, através do livre
O Crepúsculo dos Ídolos e leio um trecho do
arbítrio, que lhe foi concedido por Deus, agir
oitavo aforismo de Os Quatro Grandes Erros:
dessa forma? Obviamente que não.
A rede que antecede a ação humana é
Qual pode ser a nossa doutrina? Aquela para a qual
igualmente infinita. Nossas escolhas resultam ninguém dá ao homem suas qualidades: nem Deus,
sempre da imposição dessas redes. O que nem a sociedade, nem os pais ou os antepassados,
conseguimos fazer é nos colocar à disposição nem ele próprio. (...) Ninguém é responsável pelo
fato de existir dessa ou daquela maneira, nesta
de algumas redes. Podemos nos aproximar de ou naquela condição, neste ou naquele meio. (...)
algumas linhas de força e nos distanciar de Que ninguém seja mais tomado como responsável,
outras. Mas isso é muito diferente de escolher que o modo de existir não possa mais levar a uma
prima causa, que o mundo, nem como sensorium
a música que vamos tocar. Esse rádio que
nem como espírito, seja mais uma unidade: isto e
somos não escolhe sozinho a música que toca. somente isto é a grande libertação – é por isso e
Ao mesmo tempo, essa escolha também não é unicamente por isso que foi restaurada a inocência
do devir... A Ideia de Deus foi até agora a principal nesse sentido. Se no final Dioniso abandona a QUARTO
objeção contra a existência... Nós negamos Deus,
guerra, por cansaço, desgaste ou por realmente ENSAIO
negamos em Deus a responsabilidade: é com isso
e unicamente com isso que salvamos o mundo. 28 ter sido ultrapassado por Apolo, se Apolo vence
no final, mais uma vez nos damos conta de que
Assim, se Fausto vende sua Alma a não está em jogo “(...) nenhuma ‘substância’,
238 Mefistófoles, não é por escolha individual, mas antes algo que anseia por fortificação; e que 239
sim por ser a única ação possível na rede que apenas indiretamente quer-se ‘manter’ (ele
Fausto habita. Acho que vocês acertam quando quer ultrapassar-se)”29 .
transferem o problema do sujeito para a ética. No exato momento que finalizo a citação do
No fundo é isso. Se sou uma multidão ou se um aforismo, o grupo que ensaia na sala ao lado
coletivo de forças me carrega, com quais outras interrompe a conversa com seu já enfadonho:
multidões traço alianças? Ou seja, que tipo de – Mestre, mestre, mestre...
vida experimento se me aproximo dessa linha
O grupo com o qual estamos conversando
de força, se me distancio daquela?
não gosta da intervenção e pede gentilmente
E por falar em ética, achei muito feliz o aos intrusos que retornem ao seu local de
momento em que vocês evidenciam que a ensaio. Sem lhes dar a mínima importância,
organização da Escola NUTe não se fez a partir continuam:
de uma disputa entre Alexandre e Wilfried.
– Mestre, mestre, mestre...
Mas sim, entre forças infinitamente maiores
De repente, uma explosão, fumaça, gritos de
que eles. Imaginar essas forças combatendo
dor: um ator atingido na perna chora pedindo
em um Alexandre isolado do mundo pode ser
socorro. Os atores intrusos olham para o céu e
um recurso didático bastante eficiente, mas é
clamam:
onde vocês correm perigo, em minha opinião,
de serem capturados pela Identidade-Eu-Alma. – Mestre, mestre, mestre...
Seria preciso distanciar suficientemente Sobre nossas cabeças, desce, num
Alexandre de NUTe para que o assédio ético paraquedas multicolorido, o Ator-Professor que
que parte de Mefistófoles pudesse se evidenciar agora porta uma metralhadora de plástico e
como Assédio de Apolo. Ou seja, é Apolo dezenas de rojões, os quais acende e despeja
quem quer sobrepujar, através da razão, da às gargalhadas. Todos se afastam, procurando
temperança, da organização, as forças criativas local seguro, mas o grupo intruso continua com
e caóticas de Dioniso experimental. O conjunto a cena bizarra:
de forças que estou nominando como Dioniso – Mestre, mestre, mestre...
28. Friedrich Nietzs- 29. Friedrich Nietzs-
che. A Vontade de Po- resiste por um bom tempo, elas insistem, Ao pisar no chão, o Ator-Professor- che. A Vontade de Po-
der, Aforismo 488. der, Aforismo 488.
lutam, vocês compõem imagens excelentes Guerrilheiro inicia uma panfletagem:

Dada a balbúrdia, todos os demais, que QUARTO

Acervo NuTE
ensaiavam cada qual em local distinto, ENSAIO
agrupam-se em frente à antiga sala do NUTe. O
grupo que estava no pequeno auditório reclama
o cartaz utilizado na panfletagem. Acusam o
240 grupo do Ator-Professor-Guerrilheiro de roubar 241
seu aperitivo, argumentam que o cartaz estava
no jogo de aperitivos de número 4 escolhido
por eles. O grupo exige a devolução imediata do
aperitivo, já que passaram boa parte do ensaio
trabalhando sobre ele.
Infelizmente, eles não ouvem e continuam
encenando, ou o que quer que fosse aquilo que
estavam fazendo. O Ator-Professor-Guerrilheiro
sobe nos ombros dos demais atores de seu
À matrícula no curso de teatro do NUTe ele grupo, que estranhamente sossegaram a
convida os assustados atores escondidos, os cantilena mítica, e agora estão perfilados em
transeuntes, os funcionários do teatro – que a formação de pirâmide humana. Assim que
essa altura já haviam chamado a polícia e a toda chega ao topo, para desespero e pavor de todos,
força de seus pulmões exigiam explicações, bem dispara sua metralhadora:
como responsáveis pelo acontecido – e também
os passarinhos, as lantejoulas e os caminhões. (...) não deu uma semana, um mês depois, ele
Em meio a tantos convites, o Ator-Professor- tava montando um curso lá dentro do Teatro, de
interpretação pra cinema e TV, e vem uma ordem
Guerrilheiro insiste em entregar o cartaz a uma da direção do teatro (...) vieram lá, jogaram o cartaz
furiosa funcionária de crispados dedos em riste, na minha mesa e “olha, nós temos um contrato
a qual inicialmente esmaga o papel A4 no chão com uma outra escola que vai fazer cursos de
cinema e vídeo. Vocês são teatro, não pode ter
sob seus delicados sapatos azuis de número 43, duas escolas fazendo a mesma coisa aqui dentro”.
recebendo-o, logo na sequência, em sua boca Foi pra mim um baque grande, “pô, como, eu faço
pelas mãos do Ator-Professor-Guerrilheiro que interpretação de cinema e TV há mais de cinco
anos”... Tinha programas, o documentário do
com certa brutalidade ali o coloca, fazendo com Hermann Baumgarten é do terceiro curso que a
que a funcionária furiosa se cale e se alimente gente fez... Gerou um documentário né, aniversário
do material, o que só consegue com o apoio de da TV Galega. Então tinha... Aí vem essa... “Pô,
mas quem é que tá dando esse curso?”, “não,
um elevado número de bofetadas e da ameaça isso eu não posso dizer, diz a gerente do teatro”.
de trocar o papel por dois rojões acesos. (entrevista com Alexandre Venera, páginas 84-85).
Os disparos atingem dois atores, o carro será vencido” ou “ um, dois, três, quatro, cinco QUARTO
funerário da prefeitura e um pé de abacate no mil, enfia a metralhadora dentro do barril”, ou ENSAIO
estacionamento. Com o sangue correndo pela ainda “queremos o nosso aperitivo” e, o mais
calçada, o motorista de smoking – por sinal, recorrente entre todos, “monstro, monstrengo,
um belíssimo smoking preto – avaliando os monstrinho, devolva já o nosso aperitivinho”.
242 estragos na lataria do carro e com as folhas do Tento negociar com o grupelho terrorista 243
abacateiro pedindo clemência, eu me sinto na oferecendo aperitivos não ensaiados e até
obrigação de restabelecer a ordem. Através dos mesmo algumas citações filosóficas, peço que
poderes que me foram confiados pelo Ministério em troca eles libertem os aperitivos que estão
da Cultura no afinco de coordenar este projeto, fazendo de reféns. Alguns atores terroristas
convoco todos os atores que compõem este demonstram interesse na proposta. A
grupo terrorista e sumariamente os demito. metralhadora de plástico faz uma pausa. Eles
Numa gargalhada estrondosa, o Ator- conversam e, após alguns minutos, chegam a
Professor-Guerrilheiro, do alto de sua pirâmide um acordo. Aceitam a proposta, mas querem
humana, sem a menor consideração à minha um helicóptero para a fuga. Apenas para ganhar
posição coordenativa, aciona mais uma vez sua tempo, digo que vamos tentar conseguir, peço
terrível metralhadora: que mantenham a calma. O grupelho terrorista
ameaça sacrificar mais um dos aperitivos do
Houve aí uma coisa... Um mal-estar, que eu não grupo protestante caso suas exigências não
sei de onde surgiu, e o Alexandre tomou a decisão sejam imediatamente atendidas. A tensão é
de mandá-las embora. E nesse ínterim, como na
enorme. Alexandre me pergunta se consigo
época elas faziam parte do meu grupo, do Arte
Atroz – eu acho que aí surgiu essa rusga né, ou proteger a descida pela escada. Digo que posso
você é Arte Atroz ou você é NuTE – ele as mandou tentar, mas que seria loucura descer agora,
embora, e eu me vi, e não me arrependo disso, já o risco de ser atingido é grande demais. Ele
conversamos várias vezes sobre isso, eu me vi na
obrigação, e faria de novo, eu apoiei a saída delas insiste, eu monto a proteção. Escada abaixo ele
saindo junto com elas. E nessa época a gente corre, mas no último degrau o Ator-Professor-
pensou “porque não montar uma escola de teatro Guerrilheiro percebe a movimentação e dispara
que não seja o NuTE, que fosse nossa”. (entrevista
com Giba de Oliveira, página 19). sem nenhuma compaixão:

(...) uma semana antes tava trabalhando, e ali
O grupo que ensaiava no pequeno os jurados, o pessoal que tava no júri, um deles
auditório exige justiça. Levantando faixas e era conhecido, não lembro quem, mas ele “pô, e
cartazes, iniciam uma manifestação em prol Alexandre, nada mais de teatro?”... Ah não... Uma
hora saiu, não é mágoa, mas é o tiro que tinha pra
dos direitos aperitivantes. Em marcha, repetem dar, né... “cara, foi muito tempo inútil, fútil que
frases de efeito como “o grupo unido jamais eu gastei, queimei minha vida e nada apareceu
né...”. Hoje a gente tá falando de uma escola, né, precisa fumar um cigarro. Sorrindo, pergunta QUARTO
mas era assim uma, uma coisa que ficava muito
se quero um café, respondo que sim e ele, ENSAIO
bairrista, tinha que tá andando em cima de cascas
de ovos, né, cuidando pra não quebrar, porque, mais uma vez, se dirige à secretaria da Carona
por picuinhas, gente que achava que tava lutando Escola de Teatro. Sentado no chão, encostado
por um mercado, por alunos... (entrevista com na parede do teatro, começo a rabiscar alguma
244 Alexandre Venera, página 83).
coisa em meu bloco de anotações. Um aperitivo 245
libertado soluça no colo de um ator ao meu lado.
Alexandre é atingido no ombro direito. Uma sensação de chuva forte que termina se
Mesmo ferido, continua correndo. Consegue espalha pela calçada. Entretanto, ao levantar
chegar ao “Tudo por R$ 1.99” da esquina. os olhos do papel-risque-rabisque, vejo caída
Entra na loja. Poucos segundos depois, retorna bem em minha frente a garrafa térmica da
com um helicóptero vermelho em suas mãos. Carona Escola de Teatro. Grito tentando avisar
Em frente ao caixa rápido do Bradesco, grita Alexandre, mas é tarde demais. Ele retorna,
ao grupo terrorista que está com o helicóptero, pé ante pé, de costas, de dentro da secretaria
que irá deixá-lo ali na calçada. Pede para que com as mãos estendidas acima do ombro. O
mantenham a calma, que estamos cumprindo Ator-Professor-Guerrilheiro havia conseguido
com todas as exigências deles e que é a vez escapar. Caminhava lentamente. Na mão
deles cumprirem com o combinado. esquerda, trazia a metralhadora apontada para
O grupo terrorista concorda. Os aperitivos Alexandre, e com a mão direita, tampava a boca
do grupo protestante são libertados. Os atores do aperitivo que fazia de refém.
do grupo protestante se emocionam, abraçam Os atores do grupo protestante vão ao
seus aperitivos; é um momento de muita desespero:
comoção, soluços e lágrimas. – Meu aperitivo, meu pequeno aperitivo...
O grupo terrorista desce a escada, atravessa – Todo mundo quieto – exige o Ator-
a rua, está cerca de poucos metros do helicóptero Professor-Guerrilheiro -, vocês me enganaram,
quando chega a polícia, armada da cabeça aos confiei minha cena a vocês, minha grande cena,
pés com bolinhas de papel. Temendo ter de meu melhor momento; e o que foi que vocês
passar pelos mesmos exames ultrassonográficos fizeram comigo?
impostos a José Serra durante o pleito de
– Calma, ninguém...
2010, os atores terroristas se entregam,
são algemados e levados, sob aplausos, ao – Eu mandei todo mundo ficar quieto,
camburão. Um suspiro de alívio perpassa todos porra!!!
os demais. Pergunto a Alexandre se está tudo
bem com ele. Ele responde que sim, mas que
Aí chegou um momento em que pros alunos já não da inocência e da irresponsabilidade de QUARTO
compensava mais pagar a mensalidade da Escola,
Friedrich Nietzsche e utilizar a polícia como ENSAIO
e... Então eles saíram e me convidaram pra sair
junto, né. As coisas já não estavam lá muito boas solução literária a um conflito ficcional.
pra mim, não estavam ruins não, mas já não me Argumento que mantenho um carinho especial
davam muito prazer as coisas no NuTE. A gente pelas contradições, por me parecerem bem
246 tava fazendo uma montagem nova, numa ideia de
montagem nova, e eu estava no pique do Grupo. mais saudáveis do que as interpretações 247
(entrevista com Pépe Sedrez, página 30). puritanas, mas que, nesse momento, não fora
proposital, minha tentativa era problematizar a
importância de Apolo na questão Como Viver.
A polícia ouve a rajada de tiros e retorna.
O grupo rebate dizendo que até então o que
Após alguma perseguição, capturam o ator,
eu fazia era justamente o contrário, segundo
que finalmente se rende e é levando junto aos
eles, apologia a Dioniso. Eu me nego a aceitar
demais. Alexandre esquece o café e acende um
o estereótipo e, ao mesmo tempo, analiso que
cigarro. Fuma. Os atores do grupo protestante
o vencedor, em nossa cultura, foi sim Apolo
estão em estado de choque. Possivelmente,
Crucificado, que nossa necessidade de negar
a psiquiatria moderna diagnosticasse o
a morte se deve justamente a um excesso de
quadro como síndrome do pânico. Balbuciam
zelo, de cuidados, de proteção, de leis para
estranhas interjeições. Um deles acredita estar
com o indivíduo, e que trazer Dioniso de
sendo acometido por ataque cardíaco, outro
volta nos ajudaria a aceitar a vida como ela é:
enfartando, a grande maioria grita que está
finita e trágica. Contudo, o Dioniso puro, sem
tendo um treco. Pedem socorro, ambulância,
misturas, é tão insuportável quanto o niilismo a
choram compulsivamente. Por sorte, passava
que chegamos via cristianismo. Eurípedes nos
pelo local um psiquiatra de maleta preta e mostrou em As Bacantes algumas imagens.
guarda-pó branco que, gentilmente, abriu Dioniso puro nos levaria a isso: mães servindo
uma caixa de medicamentos e disponibilizou cabeças de seus próprios filhos em bandejas
antidepressivos a todos. Foi uma festa. Após de prata. Ou seja, sem a temperança de Apolo,
medicá-los, o médico recomenda três meses os delírios de Dioniso também nos fariam mal.
de afastamento do trabalho. Sem pestanejar, A pergunta então passa a ser como temperá-
aceitamos, desejando boas melhoras aos atores. los, como dar espaço a ambas as forças? Nesse
Nesse instante, os atores que vieram sentido, a polícia surge na cartografia para
conosco do grande auditório se aproximam ilustrar a solução cristã, que desde a invenção
e, em grupo, solicitam abandonar o projeto. do Livre Arbítrio por Santo Agostinho sempre
Estupefato, pergunto o motivo. Eles sustentam foi a mesma: capturar Dioniso e obrigá-lo a
haver uma contradição teórica de minha parte se responsabilizar individualmente por seus
ao empregar simultaneamente a doutrina atos. A genealogia dessa história conhecemos
bem, vai da penitência à penitenciária. O percebendo nosso abatimento, fazem de tudo QUARTO
modelo cristão da culpa, responsabilidade para nos animar. Malabarismos, piruetas, ENSAIO
individual e penitência é adotado pelo “Estado cambalhotas; enquanto um deles conta a piada
Laico” que constrói penitenciárias para punir do papagaio que engoliu um litro de vodca,
individualmente, em cada cela, os culpados. outro se dirige à lanchonete mais próxima e
248 Ou seja, seria preciso, psicologicamente nos traz dois copos de café. Por fim, fazem uma 249
falando, ao mesmo tempo estourar as grades belíssima propaganda e nos convidam para
que prendem Dioniso e retirar Apolo da Cruz. assistir às cenas em que estiveram trabalhando
A meu ver, a questão colocada por Grotowski juntos. Com um sorriso amarelo, sabendo do
– Como Viver – passa por aí. Minha tese, esforço dos dois grupos, resolvemos, apesar
interpretação, ou seja lá o nome que se queira do cansaço e da angústia, aceitar o convite.
dar a isso, é que NuTE tenta libertar Dioniso, Alexandre propõe que ambos os grupos se
libertar as forças avassaladoras, animais, apresentem no mesmo local, para ganharmos
sexuais, bizarras, criativas e selvagens em um pouco de tempo e de corpo. O local escolhido,
nós, e NUTe tenta permitir que essa libertação por unanimidade, foi o Espaço (O)Caso.
aconteça proporcionando nutrientes físicos e Arrastamo-nos escadas acima. Degrau a
intelectuais aos nutes: comer, vestir, pagar o degrau, e ainda mais um degrau. A vida estava
aluguel, beber, conseguir experimentar e fazer pesando alguns quilos a mais. Alexandre,
algo com um conceito. emudecido, volta e meia tocava com os dedos
Apesar da tentativa de conciliação, o grupo da mão direita nas paredes brancas do teatro.
continuou irredutível; já havia tomado sua De longe começa a chegar uma cantilena
decisão e parecia, inclusive, profundamente fúnebre. Em alguns atores, há mais de uma
magoado, traído até. Despedem-se prometendo lágrima à espera. O deslocamento se assemelha
escrever uma cartografia totalmente dionisíaca, muito a um velório. Do último degrau que dá
onde não haverá nem sombra de Apolo, “vamos acesso ao terceiro piso, avistamos um caixão
escrever uma cartografia à altura do que foi o vermelho. Os atores se posicionam lado a lado
NuTE; Dioniso é um bom deus quando não é e suspendem o caixão, passando a carregá-lo.
negado”, eles saem dizendo. A cena é fortíssima. Alexandre se emociona,
pede para ajudar, um ator lhe cede uma alça. A
Com um grupo preso, um grupo doente
procissão segue cantando, cada vez mais alta a
e outro em busca de uma narrativa pura,
triste canção que anuncia o fim do NUTe.
Alexandre e eu compreendemos que era hora
de fumar um cigarro. Fumamos. Mas e agora,
o que fazer? Sem atores não há como produzir
um espetáculo. Os dois grupos restantes,
jovens, que eram a maioria absoluta. (entrevista QUARTO
Dennis Radünz, página 25).
ENSAIO
Stop. Dona Morte volta a se sentar na
mesinha. Alguns atores lhes agradecem a
250 gentileza, ela acena suavemente e a caravana 251
Foto do espetáculo A passa. Chegando ao Espaço (O)Caso, o
Morta, gentilmente
cedida pela fotógrafa
caixão é cuidadosamente engatado na lateral
Maria Emília da Silva. esquerda, onde havia para ele quatro correntes
Para saber mais sobre
a montegem, consul- de argola: duas para o centro e duas para as
te o Terceiro Ensaio extremidades. As correntes desciam do teto e,
e o anexo Livreto Es-
petacular. Aparecem Sentada no que parece ser uma apocalíptica uma vez acoplado a elas, o caixão criava, quase
na Foto: Juliana Von mesinha de bar, onde repousam algumas espontaneamente, um balanço intermitente
Czekus, Carlos Cres-
cêncio, Sebastião garrafas vazias de cerveja ao lado de boa parte que dialogava com os movimentos do gigantesco
Crispim.
do mundo destruído, empunhando a foice- boneco João Bobo, à direita do espaço. Entre
cliché-ceifadora, Dona Morte interrompe a os dois, com uma luz esverdeada brotando do
procissão para dançar um número de hip hop. fundo, um Túnel.
Apesar de entediante e vulgar, a performance
De dentro do Túnel surge um Ator-
recebe entusiásticos aplausos. Dona Morte
Adolescente, muito magro e franzino, vestido
fica satisfeita. Permite à procissão seguir.
de preto ao estilo Dark, anos 80. Passeia pelo
A triste cantilena retorna. Contudo, alguns
palco, brinca com o João Bobo, experimenta
poucos metros adiante escutamos a famosa
o caixão. Por fim se aproxima de sua plateia
foice rasgando o piso do teatro. Mais uma vez o
e, num tom quase confidencial, como quem
cortejo é interrompido, o caixão é posto no chão,
transcreve seu diário para um blog, diz:
todos olham para trás. Dona Morte balança a
cabeça em sinal afirmativo e aciona o play do
portátil surround system 3 em 1: Quando eu tinha quatorze anos, do nada, estava
andando na rua XV de Novembro e vi um cartaz
muito humilde, em mimeógrafo, falando do Curso
Eu recordo que alguns anos depois, muitos anos de Iniciação ao Teatro e, num impulso, como se
depois, talvez em 2001, eu tomando cerveja com o fosse uma epifania, acabei me inscrevendo: fui
Venera, numa conversa muito divertida, ele dizia o inscrito 002. E lembro, como se fosse hoje, a
que o início da derrocada do NuTE, o primeiro primeira vez em que estive na Sala Verde, no
NuTE, se deu quando o ‘E’ de experimental, virou andar térreo do teatro. Fui recebido pelo Wilfried
‘E’ de escola. Porque daí a tentativa de criar a escola Krambeck e também por aquele que depois eu
foi nos institucionalizando, nos burocratizando, saberia que é o Álvaro Alves de Andrade. Foram
foi nos dando responsabilidades às quais nem muito receptivos e fiz lá esse primeiro curso de
todos estavam preparados, principalmente os mais iniciação ao teatro, de março a julho de 1986.
Era um curso que tinha uma carga horária até João Bobo à Esquerda – E eu quero ser QUARTO
relativamente grande, se pensarmos hoje, carga
artista. ENSAIO
de quatro meses. Passávamos por noções básicas
de mímica, de interpretação, de iluminação... E o João Bobo à Direita – Eu cheguei e comecei a
curso preparava você para a experiência radical dizer, na minha primeira e única briga de saída
que é colocar os pés pela primeira vez num palco
do NuTE (...) “não cara, eu quero ser artista a
252 (...). (entrevista com Dennis Radünz, página 1).
partir de agora, eu não quero mais preencher 253
plano de aula, escrever a lista de chamada
O Ator-Adolescente retorna para o Túnel,
de aluno, se pagou a mensalidade, quem não
desaparece na luz verde. Quatro atores
pagou, não quero ver quanto foi a conta do
rotacionam o Túnel em sentido inverso, fazendo
telefone da escola, porque a sala tá suja, eu
com que início e fim troquem de posição. A luz
tenho que acordar mais cedo pra buscar um
verde se apaga, em seu lugar surge um rocho-
caixão de defunto pra peça que vai ser montada
azul-escuro-com-tonalidades-avermelhadas
hoje à noite, o nosso figurino...”, coisa que me
que preenche todo o espaço. O caixão se
tomava demais, entende?
abre, range; de dentro para fora uma mão se
João Bobo à Esquerda – Eu quando decidi
apoia nas laterais, faz força; unhas arranham
ser artista foi muito velho já, mas eu passei, eu
madeiras macabras, sons estridentes; aparece
acho, a fazer mais arte agora.
a segunda mão, os braços, a cabeça. O ator sai
do caixão, atravessa o Túnel, para em frente João Bobo à Direita – Alexandre Venera em
entrevista com Juliana, página 67.
ao João Bobo e passa a espancá-lo com muita
força. A cada descida, através de uma gravação
ruidosa, o boneco fala: O Ator continua surrando o Boneco até furá-
lo, num pontapé agudo. Um prolongado silvo
João Bobo à Esquerda – Eu quero ser artista. de ar se espalha pelo ambiente, refrescando
João Bobo à Direita – Mas eu tenho que ser a melancólica sequência de imagens. O ator
educador. retorna para seu caixão. As correntes são
desatadas e a urna colocada no chão. Pela coxia
João Bobo à Esquerda – Eu quero ser artista.
direita, entra em cena uma retroescavadeira
João Bobo à Direita – Eu tenho que ganhar amarela com a caçamba cheia de barro,
dinheiro. ela ergue o braço e, lá de cima, despeja-o,
João Bobo à Esquerda – Eu quero ser artista. lentamente, sobre o caixão. Segue ao centro do
João Bobo à Direita – Eu tenho que palco, apresenta uma dancinha típica desses
ensinar... Eu tenho que preencher borderô, eu modelos de máquina e sai.
tenho que fazer a parte burocrática, tenho que Os atores de ambos os grupos sentam-
administrar uma escola. se no chão, e assim compreendemos que era
o final da sequência. Aplaudimos. Alexandre aquilo contrastava com as nossas naturezas QUARTO
agradece a disponibilidade dos atores de mais primeiras. Então é engraçado porque nessa
dualidade apolíneo e dionisíaco, e qual seria essa ENSAIO
continuarem o trabalho, mesmo depois de tudo potência?, ou impotência? Acho que era um grupo
que aconteceu. Pede desculpas pelo cansaço absolutamente dionisíaco como artista, que falhou
e pela impossibilidade de continuar com os muito quando tentou ser apolíneo como docente.
254 ensaios, comenta que não tem condições de (entrevista com Dennis Radünz, página 46).
255
seguir adiante. Mas antes de sair, faz questão
de parabenizar ambos os grupos pela forma Levanto o rosto e vejo os atores, tristes,
como compartilharam seus aperitivos. Diz que emudecidos, dobrando, guardando o material
foram muito felizes com a proposta de criar utilizado em cena. Decido ajudá-los. Apesar de
um Túnel entre os aperitivos de número 1 e não haver portas no Espaço (O)Caso, quando
5. Eu lhe pergunto o que iremos fazer com os deixamos o local tive a impressão de sentir um
Aperitivos Livretantes, que não foram utilizados pouco o que sentiu Alexandre Venera ao fechar,
por nenhum grupo. Ele me responde que não pela última vez, a porta do NUTe em 2002.
consegue pensar em mais nada hoje, pede para
comunicar-me com ele caso eu tenha alguma
ideia.
Visivelmente abatido, Alexandre deixa os
ensaios. Enquanto caminha de cabeça baixa,
procurando um último cigarro torto no maço,
recebe um forte e emocionado aplauso dos
atores restantes. Ele se vira, olha o grupo por
alguns segundos. Uma lágrima desce em seu
rosto. Caminha escada abaixo.
Extremamente cansado, mas vencido pela
curiosidade, aproximo-me de um ator do grupo
que ensaiava no porão e lhe pergunto o que
havia naquele bilhete entregue pelo diretor
durante a cena do braço de ferro. O ator retira
do bolso o pedaço de papel amassado e me
entrega. Nele, eu leio:

Eu acho que o NuTE falhou quando tentou ser


apolíneo, porque todo o processo era dionisíaco
e na medida em que você tenta colocar Apolo,
Foto: Charles Steuck
257

objeto cênico utilizado no


espetáculo ‘maqbéte: uma
ão’
interferência na transmiss
Quinto Ensaio – 08 de maio de 2015 QUINTO
ENSAIO

Sexta-feira de Insônia
03h43min 259
Imagem Insistente: Solidão

Nada. Ninguém. Nem mesmo uma negação.


Vazio. Deserto. Náusea. Um gosto metálico em
minha respiração fazia subir... Descer... Subir...
Descer... Estranhas ondas a explodir espumas
oxidáveis no costão de minhas vértebras. Ao
fechar os olhos, sempre, era arrebatado pelas
imagens do último ensaio. Meu estômago,
ou o que estivesse em seu lugar, carregava
minha alma aos buracos vazios de meu plexo.
Sem conseguir dormir, passava as noites na
internet. Da página de e-mails ao Facebook, do
Facebook ao blog Nute Para Todos, do blog à
página do Orkut dos Fakes-NuTE, do Orkut a
um blog amigo, e deste à página de e-mails. Uma
vez, duas vezes, toda a madrugada. O círculo
repetia, repetia, e mais uma vez recomeçava.
O que fazer? Eu estava esgotado. Não tinha de
onde arrancar forças para convencer Alexandre,
novamente, a dirigir o espetáculo. Pior, bem pior
que isso. Na verdade, meu assento beirava um
precipício, precisava continuar a montagem, o
projeto estava em meu nome e a prestação de
contas começaria, logo, logo, a bater à porta;
mas entendia, agora, pois experimentava das principais motivações que desencadearam QUINTO
em meu próprio corpo um tanto dos motivos o projeto e, sem muitas delongas, anunciei ENSAIO
que levaram Venera a abandonar o teatro. O ao grupo o encerramento das atividades. Não
que fazer? Estava praticamente sem atores. houve protesto, todos compreendiam que era a
Contava com metade do elenco, talvez nem isso, única coisa possível a se fazer. Um forte aperto
260 um terço do grupo. Não tinha recursos para de mão e uma lágrima escondida puseram fim 261
continuar locando salas de ensaio, nem para aos ensaios. Assisti ao último ator fechando a
uma segunda seleção de atores, os cheques porta; deitei-me no palco por um segundo, e não
já haviam sido depositados. Havia gastos sei bem, provavelmente o cansaço extremo, as
com alimentação, hospedagem, combustível, tantas noites de insônia, o momento conclusivo,
uma boa parte das rubricas estava zerada. algo me fez dormir ali mesmo.
O que fazer? Eu não conseguia dormir. Tudo Desta situação Alice no País das Teatrologias
empurrava à mesma direção. Parecia me restar surgiram condensações e deslocamentos, num
apenas aquele caminho que há tanto teimava sentido propriamente freudiano dos termos.
em não seguir. Sonhei que havíamos terminado a montagem
Foi assim que, exausto, tomei a decisão: e estávamos apresentando, circulando com o
cancelar a montagem do espetáculo. Estava espetáculo Brasil afora. Viajávamos todos no
resolvido. Precisava agora avisar o grupo. Kombinutebus in Progress, espécie de ônibus
Olhei o relógio, eram 05h47min. Esperei em formato de Kombi ou Kombi em formato de
até as 08h30min e comecei a ligar para os ônibus que ia se fazendo à medida que viajava.
atores que haviam permanecido até o final do Visitamos muitas cidades, quase sempre, com
quarto ensaio. Pareceu-me desrespeito, com o razoável sucesso de público e crítica. Mas, a
processo, terminar tudo por telefone, assim não cada apresentação, lá estava eu na primeira
lhes adiantei o assunto, dizia apenas tratar-se fila anotando as cenas, escrevendo o bendito
de um ensaio agendado às pressas para a tarde roteiro. Eu não entendia porque continuava
daquela sexta-feira. Por volta das 14 horas, eles escrevendo mesmo depois da estreia, era algo
começaram a chegar. como uma obrigação, uma função, minha parte
Como era de costume, sentamos em no espetáculo. Eu não queria mais escrever,
círculo, sem cadeiras. Ao se perceberem como estava cansado, ansiava finalizar, parar, queria
sobreviventes da montagem, nada disseram assistir ao espetáculo. Na passagem de uma
sobre os demais atores. Não demorou muito, cidade a outra, um ator comenta comigo que a
contudo, para se colocar em questão a próxima apresentação seria a última. A trupe
presença de Alexandre. Expliquei o momento comemora, vamos para casa depois de tantos
que estávamos atravessando, retomei algumas meses – ou seriam anos? – na estrada.
Sorrindo, percebo uma chance, enfim, de percebo, aos poucos, os atores dos quais havia QUINTO
assistir ao espetáculo, de nada mais fazer, me despedido recentemente. Estou cercado por ENSAIO
apenas relaxar e contemplar as cenas que com eles. Envergonhado com a situação e ao mesmo
tanto esforço ajudei a criar. Convenço a mim tempo agradecido pela acolhida, não consigo
mesmo de que não faz sentido descrever cenas escapar aos risonhos pedidos de uma narrativa
262 de uma última apresentação, tais anotações onírica. Passo a lhes contar o que se passou, 263
seriam inúteis, visto que todas as apresentações e foi nesse momento, em meio à descrição do
já ocorreram. Quando toca o primeiro sinal, sonho, que algo muito, mas muito estranho
como de costume, procuro meu lugar. Tudo está aconteceu.
diferente, é incrível a sensação, as anotações – Perfeito, é isso mesmo...
que tanto fiz, meras linhas escritas e reescritas, – Que incrível, foi exatamente por isso que
vão agora respirar. Toca o segundo sinal, meu resolvemos voltar.
corpo vibra. Os atores se posicionam em cena. – Mas é sincronicidade demais para minha
Percebo a plateia, completamente lotada. Toca cabeça, como é possível?
o terceiro sinal. Nada. O espetáculo deveria
O grupo experimentava algo muito intenso.
começar, mas os atores estão paralisados, todos
Atordoado, eu não compreendia absolutamente
olham para mim. Uma gigantesca tela branca
nada. Frases e mais frases de urra, viva,
se abre e Alexandre aparece projetado nela.
conseguimos.
O diretor, agitado, com dedos em riste, exige
– Parabéns cara, você encontrou, sabia que
que eu anote as cenas. Toda a plateia olha em
conseguiria...
minha direção. Subo no palco extremamente
– Ótimo, ótimo, muito bom, vamos tocar
irritado e improviso um breve discurso, onde
assim então.
argumento que não faz o menor sentido anotar
– Maravilha, é isso mesmo, é isso mesmo...
cenas de uma última apresentação. A plateia
então se levanta, ergue os braços e, num Lá pelas tantas, sufocado com a
macabro uníssono, lança a voz: comemoração, resolvo perguntar:
– Que só se escrevam roteiros depois de – Mas, afinal de contas, do que diabos vocês
estrearem os espetáculos. O melhor roteiro é estão falando?
aquele que se escreve na última apresentação. Silêncio geral. Todos me olham. O ator mais
Assustado, acordo encharcado de suor sorridente se decide:
e palavras. Provavelmente estava gritando, – É uma brincadeira ou você realmente não
pois alguém me pergunta se está tudo bem e percebeu que conseguiu encontrar a saída?
me oferece um copo d’água. Em minha volta, – Saída? – começava a ficar irritado com a
gargalhadas e comentários. Saindo do transe, situação. – Mas que merda de palhaçada é essa?
Alguém pode me dizer o que está acontecendo? Nesse instante, os demais atores, mais QUINTO
– Os atores se olham e caem na gargalhada. calmos, sentados em nossa volta, repetem ENSAIO
Por alguns minutos, que me pareceram horas, sorrindo:
freneticamente arregaçam dentes e bocas aos – Somos muito poucos para dividir,
ares, aos chãos, a eles mesmos. Eu permanecia queremos tentar...
264 sentado no piso madeirado do palco, os atores
– Olha pessoal, estou emocionado com isso
265
que não riam deitados riam em pé. Aos poucos,
tudo, mas mesmo com esse sacrifício pessoal de
um deles encontrou forças para se acalmar e,
cada um de vocês, ainda estamos sem direção.
movido por uma compaixão quase paterna,
Alexandre não vai voltar...
sentou-se ao meu lado, repousou sua mão
esquerda em meu ombro e disse: – Mas as cenas já estão prontas. Alexandre
já fez a parte dele. Ele nos dirigiu e nós
– Saímos daqui carregando uma forte
encontramos as cenas, o processo de criação
sensação de fracasso. Era impossível ir embora.
está pronto e registrado pelo roteiro. Basta
Alguém, não lembro exatamente quem foi,
agora encenarmos...
sugeriu uma cervejinha. Fomos ao bar. Depois
de muito beber e muito falar nos demos conta – Tudo bem, tudo bem, podemos até
de que o roteiro está quase pronto, de que conseguir encenar o que já está pronto. Mas e
faltam apenas as cenas do JOTE-Titac. o JOTE-Titac? Foram treze edições, treze anos
– Sim, mas o que está pronto foi escrito para de Jogos de Teatro, é uma parte importante
ser encenado por três vezes o número de atores demais para simplesmente desaparecer do
que temos... espetáculo.
– Você não percebeu mesmo, né?
– Aí é que você se engana. Teu roteiro
– Perceber o quê?
descreve as cenas que surgiram durante a
Composição de Mundos de cada Ensaio. E – Você resolveu isso no sonho...
nesses ensaios estávamos sempre em grupos – Como assim?
menores, Alexandre nos pedia essa formação – Está tudo pronto, você só precisa colocar
em grupelhos. Ou seja, se pensarmos cada no roteiro.
cena de forma isolada, o roteiro que existe – Do que vocês estão falando? Nós nunca
até agora está escrito para ser encenado pelo ensaiamos nada sobre o JOTE-Titac...
exato número de atores que temos. Certamente – O que acontecia no seu sonho?
teremos um tanto de trabalho extra, são muitas – Era diferente, o espetáculo estava
cenas, seria preciso fabricar energia para dar pronto, eu não estava anotando cenas de um
conta. Mas todos queremos tentar, voltamos ensaio, mas de uma apresentação, da última
para te dizer que queremos tentar... apresentação...
– De uma última apresentação sobre? – Não! Longe disso. Cada JOTE tem a QUINTO
– Sobre o NuTE, era o nosso espetáculo... sua singularidade – atuações, textos, cenas, ENSAIO
situações – nunca se repetem. O décimo quarto,
– Então por que você não faz exatamente
pra destacar apenas um ponto, foi temático, os
isso?
textos deveriam necessariamente falar sobre
266 – Mas que piada é essa? Não faço isso porque o NuTE. Isso nunca havia acontecido antes. 267
nós ainda não terminamos o espetáculo, porque Agora, o disparador, com pequenos ajustes, é
nunca houve uma apresentação sobre... Espera! basicamente sempre o mesmo...
Espera... Mas é claro, é isso! – iniciando com – Disparador?
um sorriso e desenrolando em gritos – o JOTE-
– Estou falando do regulamento dos Jogos
Titac: Experimentando NuTE! Não temos uma
de Teatro. Por exemplo, para que esse JOTE-
apresentação sobre o NuTE, mas oito. Mais Titac pudesse acontecer, tivemos que montar
que isso, nós filmamos todo o evento, desde o uma comissão organizadora. Isso sempre
sorteio dos textos, na quinta-feira à noite, até as se repete, todo JOTE precisa de pessoas que
apresentações no domingo. Fomos aos ensaios organizem o festival. Essa comissão espalhou
de cada grupo, registramos o processo; se não aos quatro cantos a notícia de que iria
me engano, temos até uma entrevista com cada acontecer, entre os dias 16 e 19 de julho de
um dos grupos participantes. É isso! Eu posso 2009, na Fundação Cultural de Blumenau, o
descrever tudo que foi filmado. 14º JOTE-Titac. Estabeleceu datas para que
– Ou editar, produzir pequenos vídeos que os autores enviassem seus textos e para que
possam ser projetados durante o espetáculo. os grupos fizessem suas inscrições. O formato
permitido aos textos, a composição permitida
– É uma linda paisagem: escrever com
aos grupos, os prêmios, etc. Convocou um
imagem e som...
júri para selecionar os textos e um júri para
– Maravilha, talvez essa escrita imagética- avaliar os espetáculos30. Uma vez que os textos
sonora abra o JOTE-Titac ao nosso público, estavam selecionados e os grupos inscritos, a
permita uma efetiva experimentação do comissão organizadora pôde sortear os textos
processo. Quase como se o JOTE-Titac pudesse 30. O júri que selecio-
e os horários de apresentação aos grupos nou e premiou os tex-
dizer algo sobre si mesmo. Ou seja, ao descrever inscritos, o que aconteceu dia 16 à noite. Antes tos foi composto por
Noemi Kellermann,
o processo da décima quarta edição do JOTE do sorteio nenhum grupo sabia qual seria seu Gregory Haertel e Tâ-
nia Rodrigues. O júri
as edições anteriores ficarão espreitando nas texto, depois do sorteio cada grupo teve apenas que avaliou e pre-
entrelinhas... dois dias para montar o espetáculo, já que miou os espetáculos
foi composto por José
– Você está querendo dizer que o JOTE-titac todos apresentaram no domingo, dia 19. Ronaldo Faleiro, Noe-
mi Kellermann e Pépe
é sempre igual? – Mas então quem dispara os Jogos é a Sedrez.
comissão organizadora e não o regulamento... contemplava apenas grupos universitários, QUINTO
– Claro que não, pois tudo que a comissão mas sim todo e qualquer sujeito que de alguma ENSAIO
organizadora faz é seguir o regulamento. forma tivesse interesse em experimentar, fazer
Pra usar uma imagem dos nossos Ensaios teatro. Resultado: o grupo organizador não
anteriores, eu diria que o regulamento é o aprovou o regulamento; Alexandre, frustrado,
268 Aperitivo Cênico dos Jogos de Teatro. retira-se de cena. A primeira edição do Festival 269
Universitário aconteceu de 27 de julho a 01
– Bacana isso, hein? Que tal a gente copiar
de agosto. Ironicamente, em dezembro deste
a ideia que Alexandre trouxe para o Segundo
mesmo ano, o NuTE lança o que acabaria se
e Quarto Ensaios e propor aqui também um tornando um dos festivais de teatro mais livres
Aperitivo Cênico? e intensos do Brasil, os Jogos de Teatro, Texto,
– Fazer do regulamento dos Jogos de Teatro Interpretação e Técnica nas Artes Cênicas, o
nosso aperitivo cênico? nosso JOTE-Titac.31
– Excelente. – Quer dizer que o Festival Internacional de
Teatro Universitário de Blumenau era pra ter 31. Aí, o Festival, a
– Sim, sim; vai ficar joia... TV ia dar todo apoio,
sido um grande JOTE-Titac? e não sei o que lá... Aí,
– Tá, vamos colocar então. Do Festival de pô, um cara lá sugeriu
Teatro Universitário de Blumenau para o JOTE- – Calma, você está reduzindo as coisas. Pascoal Carlos Mag-
no, que fazia mostras
Titac e do JOTE para um Espetáculo NuTE. Para dizer alguma coisa sobre o FUTB, ou de Teatro Universitá-
Esse regulamento é uma viagem... FITUB, como é conhecido atualmente, sem falar rias (...) E aí, pô, va-
mos fazer um Festival
bobagem, seria preciso uma nova pesquisa, Universitário (...) Aí eu
Rindo sozinho, eu me dou conta de que assim “não, mas se fi-
talvez um novo livro, digo, um novo espetáculo.
ninguém entendeu a piada. zer outro tipo de Fes-
Esse evento é complexo demais para dois ou tival, eu tenho um re-
– Vocês não sabiam que esse regulamento gulamento”, e fui pra
três parágrafos apressados. Melhor a gente se casa, e pá, escrevi,
foi originalmente escrito para o Festival de preocupar com nossa montagem... datilografei... Montei o
primeiro regulamento
Teatro Universitário de Blumenau? – Também acho. Aliás, não entendi até do JOTE-Titac, e en-
treguei pra eles. Nes-
– O regulamento do JOTE-Titac era o agora como vai funcionar, na prática, esse tal sa o Faleiro já tava ali,
regulamento do FITUB? escrever com imagem e som... e batendo papo, o Fa-
leiro também gostou
– Quase isso. Em 1987, quando se estava – Bem, na verdade eu também não entendi e coisa... mas a coisa
era pra ser um pou-
organizando a primeira edição do Festival de ainda. Mas se vocês toparem, podemos dar quinho mais glamoro-
sa né... Aí eu recolhi
Teatro Universitário de Blumenau, Alexandre uma espiada nas filmagens do JOTE. Eu passei o meu regulamento...
Venera, que participava dos debates, tomou todas as fitas para o HD do meu notebook, é só Não deu três meses
depois foi o primeiro
frente à construção de um regulamento, que ligar e assistir ao material... JOTE-Titac (risos)...
(Entrevista com Ale-
serviria como base para o Festival. Passa algum – Bacana. Mostra aí... xandre Venera, pági-
tempo, ele aparece com o documento, que não na 124.)
– São mais de 20 horas de filmagem. Tem

muita coisa. Por onde vocês gostariam de assistir, por favor, contate-nos num desses QUINTO
começar? endereços: nuteparatodos@gmail.com ou www. ENSAIO
– Que tal, só pra variar um pouco, nuteparatodos.wordpress.com.
começarmos do começo... – risos. – Pra mim pareceu bem tranquilo de
– Mas é uma boa mesmo. Eu lembro que acessar, tem várias opções. Acessei clicando
270 direto no hiperlink. 271
naquela quinta-feira à noite vocês fizeram uma
recepção para os grupos. Foi antes do sorteio – Ficou engraçada essa dobradinha Alex
dos textos. Era um momento de boas-vindas, Stein X Alexandre Venera...
algo como uma saudação, uma apresentação – Também gostei, mas fiquei na dúvida
dos Jogos de Teatro... se recortar um trechinho de O Monstro
– Deixa ver se encontro aqui... – procurando de Nutenstein não estraga a surpresa do
no computador. espetáculo.

– Eu lembro disso, foi Alexandre quem fez. – Acho que não, bem pelo contrário, deixa
o público curioso a respeito dessa peça que
– Acho que vocês estão se referindo a esse
levou vários prêmios, inclusive o de melhor
momento aqui – mostrando as filmagens.
montagem.
– Esse, esse mesmo... – Tá divertido, coloca mais um vídeo aí...
– Olha que bacana, sou eu ali na plateia. – Qual?
– Onde? – O sorteio dos textos...
– Ali, ao lado da menina de vermelho... – Isso! O sorteio com os copos de cachaça,
– O.k.! Então vamos abrir o editor de vídeo, aquilo foi muito bom...
recortar esse trecho aqui, colar com esse; esse – Beleza – depois de algumas bricolagens
aqui não está muito bom, e esse tem problema digitais – sorteio etílico pronto para acessar:
no áudio, vamos ajustar todos nessa última
sequência e finalizar. Agora é só exportar e fazer www.youtube.com/watch?v=GPwtJL1rtfY
o upload. Está pronto. Já podemos assistir ou
Vídeo Jote-Titac:
baixar, se preferirem, diretamente na internet. Sorteio dos Textos
– Cresce, cresce, cresce...
– Ficou bizarro com essa trilha de O Homem
www.youtube.com/watch?v=_TcDrbZdmig do Capote.
Vídeo abertura
Jote-Titac – Agora entendi. Funciona melhor que eu
– Deu certo? Todo mundo conseguiu pensava.
assistir? Se alguém estiver com problemas para – Essa música fazia parte da sonoplastia de
O Homem do Capote? mais me interessa. Quando olhamos uma QUINTO
– Sim! Sim, chama-se Noite Ferrada . Mas e
32 cachoeira, temos a impressão de ver ali algo ENSAIO
então, o que vocês acharam, vamos continuar que chamamos cachoeira. Mas na verdade a
com essa escrita imagética-sonora? Deu certo cachoeira é uma ilusão, ela não existe. O que
pra vocês? há são zilhões de gotículas de água descendo
272 – Eu tô curtindo muito. juntas, descendo, descendo, sempre descendo. 273
Contudo, é agradável olhar e ver ali uma
– Eu também.
cachoeira, pensar nela como uma unidade.
– Funciona, cara, funciona super bem. Acho
Assim como é agradável pensar na unidade de
que podes ir direto para o Aperitivo Cênico, e
um autor, na unidade de uma escrita.
dele para a Composição de Mundos...
– Você está querendo dizer que a escrita é
– Como Aperitivo Cênico ficou o regulamento
sempre coletiva, uma espécie de matilha?
dos jogos de teatro?
– Mais que isso. Além de ser coletiva
– Se tudo no JOTE-Titac é mesmo disparado
por natureza, a escrita que se colocou em
por ele, não tem porquê ser outra coisa...
movimento para esse livro-espetáculo clama
– E a Composição de Mundos?
por agenciamentos. Ela não funciona sozinha,
– Estou pensando em colocar como base mesmo sendo sua solidão composta por milhares,
para essa Composição de Mundos os oito outros milhares são sempre chamados. Assim
textos que o júri selecionou para o JOTE-titac: fazemos Work in Progress. Assim escrevemos
Experimentando NuTE. Que lhes parece? em múltiplas mãos rizomáticas.
– Mas são textos escritos por vários autores... – Tá, mas então a ideia é colocar um texto,
– Exatamente... depois outro, e assim até o último?
– A Composição de Mundos não corre o risco – Não era bem isso, mas gostei dessa
de ficar meio esquizofrênica? Se a escrita de um estrutura. Podemos acrescentar entre um texto
autor já é composta por centenas de milhares e outro um local para assistir aos ensaios e às
de pequenas almas, o que dizer de uma escrita entrevistas dos grupos: um pequeno platô onde
coletiva desse porte? se concentraria o Escrever com Imagens e Sons.
– Rios de almas... Ou seja, ao final de cada texto, montamos um
– Cachoeiras... quadro dispondo os endereços dos vídeos.
– Engarrafamento em São Paulo, capital... – Mas e os espetáculos?
– Um imenso cardume de peixes no mar... – Pensei em colocar os espetáculos como
– Belas imagens-conceito, meus caros. “GranFinale”, num espaço-plano-platô
32. Composição de
Alexandre Venera dos Pois é bem a poética desses fragmentos o que reservado apenas para eles. Nesse local,
Santos.
podemos concentrar as informações sobre cada QUINTO
montagem: direção, elenco, nome do grupo, etc. ENSAIO
– Acho que tá bem legal.
– Sim, manda bala.

274 – E nós podemos voltar ao boteco, pedir


275
algumas cervejinhas e começar a adaptação das
cenas. Tens uma cópia dos ensaios anteriores
aí contigo?
– Impressa não tenho, mas se alguém tiver
um pen-drive posso copiar direto da máquina.
– Eu tenho, copia aqui, por favor.
Com a cópia digital dos ensaios, os atores
saem de cena me desejando merda. No palco,
APERITIVO CÊNICO
sozinho com minhas multidões, percebo a e/ou nutrientes para composição de mundos
bateria do notebook pedindo carga. Puxo uma
extensão da tomada mais próxima, ligo o
carregador na energia elétrica, aciono o editor
de texto e, então, as cortinas digitais se abrem.

Caro Leitor,
desta vez, nossos aperitivos
serão servidos AQUI mesmo,
neste volume, na sequência...
QUINTO
ENSAIO

277
REGULAMENTO DOS JOGOS DE TEATRO
TEXTO, INTERPRETAÇÃO E TÉCNICA NAS ARTES CÊNICAS 2009 às 19h30min serão divulgados os textos pré-selecionados QUINTO
considerados aptos para serem encenados no 14º JOTE.
ANO 2009 – Experimentando NuTE ENSAIO
8 – Dos textos concorrentes serão indicados os três melhores e,
entre estes, o premiado. Outras indicações podem ser premiadas,
Quanto ao TEXTO: conforme o júri, visando reconhecimento aos méritos dos
1 – Deve ser inédito, em língua portuguesa e poderão concorrer participantes, em quesitos como, por exemplo: “originalidade do
278 quaisquer pessoas. texto”, “autor revelação”, etc. A premiação, que consiste de troféu e279
2 – Esta edição do JOTE-Titac é temática: “Experimentando certificado, acontecerá com as demais no dia 19 de julho de 2009.
NuTE”, e para a escrita dos textos estão disponíveis, na internet, 25
disparadores (referências textuais, icnográficas e audiovisuais), no Quanto aos INTÉRPRETES e TÉCNICOS:
endereço www.nuteparatodos.wordpress.com/jote/disparadores. 1 – Deverão os intérpretes e técnicos formar uma Equipe de
3 – Deve ser redigido obrigatoriamente para a representação trabalho, de no mínimo quatro e no máximo dez pessoas que, além
(através de técnicas dramatúrgicas). Os contos, poemas, etc. de atuarem, assumirão as responsabilidades técnicas de criação
inscritos serão automaticamente considerados como “Temas para e operação do equipamento de palco (iluminação, sonoplastia,
Representação”, cabendo ao júri a decisão de sua inclusão, ou cenários, etc.).
não, no julgamento. 2 – As Equipes deverão especificar (em ficha de inscrição,
4 – O texto, como peça teatral, deve comportar um elenco médio conforme modelo disponível em www.nuteparatodos.wordpress.com
de três atores, admitindo-se um máximo de cinco; sendo permitido, bem como na Fundação Cultural de Blumenau) as funções de seus
entretanto, um acréscimo de personagens caso seja possível que componentes nas categorias de premiação: ELENCO / DIREÇÃO
os atores representem mais de um personagem no mesmo texto. / ILUMINAÇÃO / SONOPLASTIA / CENOGRAFIA / FIGURINOS /
5 – O texto deve ser digitado em Fonte Arial Tamanho 10, MAQUIAGEM / PRODUÇÃO /COREOGRAFIA / FOTOGRAFIA /
espaçamento simples, não podendo ultrapassar o limite de uma IMAGEM-DOCUMENTÁRIO. Até quatro destas funções artístico/
única folha de papel ofício comum. Não são admitidos os recursos técnicas podem ser executadas e responsabilizadas por uma
de reduções fotocopiadas, porém o papel pode ser utilizado em mesma pessoa. O prazo de inscrições das Equipes de Intérpretes
“frente e verso”. e Técnicos encerra-se às 17 horas do dia 10 de julho de 2009.
6 – No ato de inscrição, os textos devem ser entregues em Independente do formato, a inscrição só terá validade depois que
oito vias, assinadas com o pseudônimo do autor. Juntamente, a equipe pagar a inscrição no valor de R$ 10,00 por integrante –
deve acompanhar um envelope lacrado contendo em seu interior: reembolsáveis através da cota de ingressos.
o nome do autor, o nome do texto, o pseudônimo empregado, 2.1 – Cota de Ingressos: cada membro da equipe receberá
endereço e algumas considerações sobre sua obra. Do lado de quatro (4) ingressos, que poderão ser comercializados a R$ 5,00,
fora deste envelope deve constar apenas o pseudônimo e o nome cada (totalizando um retorno de R$ 20,00) para reembolsar o
da peça inscrita, devendo ser entregue na recepção da Fundação valor da inscrição e proporcionar à equipe uma ajuda de custo na
Cultural de Blumenau – Rua XV de Novembro, 161– Blumenau/ montagem do seu espetáculo.
SC aos cuidados de Carol Borba. Ou enviados juntamente com a 2.2 – Inscrição: para efetivar a inscrição, enviar para o
Ficha de Inscrição para nuteparatodos@gmail.com. Serão aceitos e-mail nuteparatodos@gmail.com ficha de inscrição preenchida
como participantes os textos recebidos até as 17 horas do dia 10 e comprovante de depósito das cotas de ingressos. Após isto, os
de julho de 2009. ingressos da equipe poderão ser retirados antecipadamente na
7 – Os textos serão analisados por um Júri Convidado, Liquidificador Comunicação e Arte (Rua Itajaí, 3225 – Sala 01 –
levando-se em conta três aspectos: “Leitura” (a literatura – o Vorstadt – Blumenau) ou retirados no dia do sorteio dos textos, 16
texto), “Espetáculo” (a dramaturgia – a peça) e coerência com o de julho, às 20 horas.
tema proposto (“Experimentando NuTE”). Dia 16 de julho de 2.3 – Conta para depósito: a quantia da cota de ingressos
deverá ser depositada em qualquer agência da CAIXA ECONÔMICA estará representado. Ao final, baseado na pontuação geral, o QUINTO
Júri
FEDERAL ou em Casas Lotéricas na conta: agência ****, conta Convidado Especial se reunirá com a Comissão Organizadora para
********. Guardar comprovante de depósito para validar inscrição.
ENSAIO
indicar os três melhores e o premiado em cada categoria: TEXTO
3 – A Comissão Organizadora, norteada pelos currículos – MONTAGEM – ATOR – ATRIZ – COADJUVANTES – DIREÇÃO
e intenções de participação constantes na Ficha de Inscrição, – ILUMINAÇÃO – SONOPLASTIA – FIGURINO – CENÁRIO –
selecionará até 7 (sete) Equipes como aptas a participar dos Jogos. MAQUIAGEM -COREOGRAFIA – PRODUÇÃO – FOTOGRAFIA
280 4 – Quanto ao público presente e ao bom andamento dos Jogos – IMAGEM-DOCUMENTÁRIO (14 categorias). Outras categorias 281
de Teatro, as Equipes deverão proporcionar o acesso ao público podem ser premiadas ao se visar o aprimoramento e incentivos
ao Auditório em tempo não inferior a cinco minutos do início dos participantes, como exemplo: ator-revelação, melhor
do espetáculo, assim como não será admitido atraso superior a caracterização, etc.
cinco minutos sobre o horário previsto para a apresentação. Cada 4 – Na categoria Fotografia, serão premiadas as melhores
minuto de atraso representa menos um ponto na avaliação final do
capturas fotográficas das apresentações. Em Imagem-
Júri Convidado Especial. No caso do não cumprimento deste item
documentário, serão avaliados os melhores registros dos ensaios,
do regulamento, a Equipe será desclassificada.
valendo-se de qualquer mídia (filmagem, fotografia, desenho,
5 – Cada Equipe deverá fornecer ao público presente em sua história em quadrinho, etc.).
apresentação um programa cujo conteúdo, além de informações
básicas, contenha suas observações sobre o espetáculo. Em 5 – A Equipe deverá entregar as Fotografias e Imagem-
programas, cartazes, faixas, anúncios, etc. deve obrigatoriamente documentários até as 19:00 horas do dia 19 de julho de 2009
constar: JOTE-titac, data, local e hora da apresentação. para a comissão organizadora do JOTE, em mídia CD ou DVD (no
formato MPG ou AVI). A premiação dessas categorias ocorrerá no
dia 25 de julho de 2009, em local a ser definido.
Quanto aos JOGOS DE TEATRO:
6 – Casos omissos, problemas e dúvidas surgidas serão
1 – Os textos inscritos serão numerados e sorteados para resolvidos pela Comissão Organizadora.
as Equipes participantes, que os representarão dois dias após
o sorteio (tempo em que serão ensaiados e produzidos). FICA
ESTABELECIDO UM LIMITE MÁXIMO DE SETENTA E CINCO Quanto ao DIREITO AUTORAL:
MINUTOS PARA AS APRESENTAÇÕES DE CADA EQUIPE, 1 – Os autores dos textos, das fotografias e imagens-
INCLUINDO MONTAGEM E DESMONTAGEM. O sorteio dos documentários, produzidos no Jote-Titac: Experimentando NuTE
textos para as equipes participantes será realizado no dia 16 de cederão seus direitos autorais para as publicações do projeto
julho de 2009, às 20 horas na Fundação Cultural de Blumenau. NuTE Para Todos, em livro e cyber-espaço, sendo citados sempre
Nesse mesmo dia, a programação completa do evento e o horário que utilizados e conservando seus direitos para suas próprias
para a encenação das peças também serão sorteados e decididos
publicações.
previamente para cada equipe participante. Em caso de espaços
diferentes para as apresentações também se fará um sorteio entre
Quanto à utilização de imagem:
as Equipes para a ocupação desses palcos.
1 – Todos os inscritos no JOTE-Titac: Experimentando
2 – Todos os espetáculos deverão ser encenados impreterivelmente
no dia 19 de julho de 2009, na Fundação Cultural de Blumenau. NuTE autorizam a utilização de seus textos e de suas imagens
pessoais, inclusive em meio virtual, para composição da pesquisa
3 – Dois grupos de jurados farão o julgamento das categorias
e publicações futuras sobre o NuTE.
de INTÉRPRETES e TÉCNICOS, o Júri Técnico será composto por
um integrante representante de cada Equipe concorrente, que
dará seu voto (notas de 1 a 3) em todas as categorias de premiação Informações e dúvidas:
de todos os espetáculos apresentados, menos naquele em que (47) 3340-0596 ou pelo e-mail nuteparatodos@gmail.com
Composição de Mundos QUINTO
ENSAIO

CRINU E CASTITE
283

Foto: Charles Steuck


Por Dostuevisqui da Silva

Primeira Tonalidade – Kafka – Enquanto o


público se dirige às cadeiras, quatro atores
espalhados pela plateia os observam a certa
distância. Esses atores-detetives-kafkinianos
fazem comentários entre si sobre alguns dos
sujeitos-público. Os comentários não devem
ser ouvidos pela plateia. Em cena, uma senhora
idosa sentada numa cadeira. A intenção é levar
o público a acreditar que esse boneco é mesmo
uma senhora idosa. Quando todas as atenções-
olhos-interesses estiverem concentrados nela,
inicia-se a segunda tonalidade. Segunda
Tonalidade – Dostoiévski – Muito lentamente,
Raskólnikov caminha por detrás do boneco da
velha. Aos poucos, deixa o público perceber
que dentro de seu sobretudo há um machado.
Lentamente, retira o machado, perfilado atrás experimento. Já que caminhamos para um QUINTO
da cadeira, levanta sobre sua cabeça e, num julgamento, podemos ambas as existências ENSAIO
golpe fortíssimo, divide a velha e a cadeira em em termos de lei. A lei da existência ordinária
duas. Após uma pausa, inicia diálogo com a prega: Ele é Mau, Logo eu Sou bom. A lei da
plateia. existência extraordinária diz: Seja bem-vindo
284 Dioniso: 285
Raskólnikov – A humanidade se divide em
duas: de um lado temos os seres ordinários Terceira Tonalidade – Ritual Dionisíaco –
e de outro os seres extraordinários... Fiquem Faixas-gritos-panfletos-projeções-etc. anunci-
tranquilos, prometo não lhes causar nenhum am: “Não interpreta, FAZ!”; “Apolo morre
aborrecimento clichê. Sei que vocês conhecem crucificado”; “Dioniso Vive”; “O importante
o meu Crime, que conhecem também o meu não é o sentido das palavras, não é tornar o
Castigo. É justamente por isso que quem escreve texto inteligível, mas torná-lo vivo”; “Em busca
esse texto me utiliza. Ele acredita que entre nós do Ator Santo”. Algumas ressonâncias com
haja uma certa cumplicidade. Acredita que se os experimentos do NuTE em fotos-imagens-
for eu a lhes contar, alguns serão capazes, com textos criam um clima Ritual-NuTE. Quando o
um pouco de esforço, de perdoar. O dilema ético crescente do ritual atingir o limite, ocorre uma
de quem escreve esse texto é ter, junto ao NuTE, parada brusca.
experimentado momentos extremos de alegria e
ser a única testemunha de um Crime Hediondo Blackout
cometido por integrantes deste Núcleo de
Quarta Tonalidade – Julgamento-Tribunal –
Teatro Experimental. Denunciar aqui, através
Pela plateia entra em cena o Promotor-Fritz-
de mim, algo que nunca teve coragem de levar
Oktoberfest: suspensórios, chapéu, bermuda:
à polícia, foi a única forma que encontrou
figurino clássico. Sua entrada é marcada com
para resolver esse conflito... Mas, por favor,
uma melodia-oktoberfest, esta melodia não deve
mantenham o senso crítico. Culpar é fácil, é
ser alegre, mas sinistra, se possível macabra.
uma ação ordinária. Todos somos bons em
Fritz ostenta ares germânicos de superioridade.
culpar, o cristianismo nos aperfeiçoou nisso.
Possui forte sotaque alemão de Blumenau. Será
Já a experimentação é difícil, pouquíssimos
o promotor do caso. Deve auxiliar a plateia a se
conseguem. Se a existência ordinária necessita
perceber como Juiz do Caso.
eminentemente da culpa, da responsabilização
e do ressentimento, se ela só funciona julgando Fritz – Meritíssimo; eu vou começar ressaltando
e condenando um outro como seu algoz, se a forma como o acusado se auto-nominava; ele
para respirar precisa sempre ser a vítima. dizia fazer teatro, mas todos os conheciam por
A existência extraordinária necessita do NuTE.
Cristo – Aaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiii. (que QUINTO
Juiz – NuTE?
agora assume traços histéricos-afetadíssimos) ENSAIO
Fritz – NuTE, Meritíssimo. Onde já se viu chamar Sim, eu conheço. É o NuTE. Ele apresentou
PUTA a um grupo de teatro? Se realmente a um espetáculo monstruoso chamado
intenção era fazer teatro, por que chamavam “Apocalypsis Cum Figuris na Visão de Santa
286 de NuTE? Temos aqui um primeiro indício de Catarina, Os Anjos e Nós”. Uma abominação, 287
que o real propósito era bem outro. Se Vossa um sacrilégio para com os textos sagrados.
Excelência me permite, gostaria de chamar Deveria ser queimado em praça pública, depois
minha primeira testemunha... (Voz em off – Que esquartejado. Se eu conseguisse sair dessa
entre a testemunha). Novamente pela plateia. A
cruz, encheria a cara dele de tabefe. Fizeram
testemunha é um Cristo-Mendigo-Crucificado.
piada de mim, compararam minha atuação com
Numa das mãos presas, segura um chicote;
a daquele comunista Che Guevara. Imprimiam
na outra, uma placa com os dizeres “Bata-me
por R$ 0,50”. Faz-se uma parada em meio ao sudários da minha cena do lava-pés, minha
público. Cristo-Mendigo esmola seus R$ 0,50 cena, onde ao invés da minha imagem pessoal,
ao público. Se ninguém da plateia pagar pelo faziam propaganda desse comunistinha de
serviço, um ator que deverá estar junto ao merda... Meu pai está furioso, furioso...
público paga os 50 centavos e chicoteia com
Fritz – Temos aqui, Meritíssimo, inúmeras
força o Cristo-Mendigo que sente enorme prazer
evidências da montagem desse espetáculo.
com a ação. Continua mendigando outros R$
(projetar filme, mostrar cartazes, fôlderes,
0,50, até que Alemão Fritz se aproxima dele e
material sobre a peça; ao gosto do diretor é
diz:
possível misturar as imagens com a montagem
Fritz – O senhor jura dizer a verdade, somente original de Grotowsky).
a verdade e nada mais que a verdade?
Fritz – (para NuTE, que responde sempre sim
Cristo – (que se transforma em Inri Cristo) Eu com as cabeças) O senhor ainda montou “O
sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai Homem do Capote e Outros Seres”, não é mesmo?
ao Pai senão através de mim. “Variante Woyzec-Mauser”, “MacBeth's”? “Cio
Fritz – Meritíssimo; a testemunha dispensa das Feras”, “Camaleão da Mata”, “A Morta”...
apresentações. Se Vossa Excelência consentir, O senhor se dedicou a produzir estes e muitos
gostaria de passar diretamente as minhas outros espetáculos onde críticas e deboches ao
perguntas. (pausa) Vossa Santidade (para nosso modelo de existência eram evidenciados?
Cristo) conhece este senhor? (aponta para Mas não, rir de nós não era o bastante, era
NuTE. Formação de irmãos-irmãs siameses: preciso ainda seduzir nossos filhos para que
múltiplas cabeças e um corpo) eles rissem junto com o senhor. Meritíssimo,
este sujeito ardilosamente construiu uma pensar, encontrar pessoas com quem pensar, QUINTO
armadilha aos nossos descendentes, uma criticar o conservadorismo (junto às vozes em ENSAIO
arapuca, uma verdadeira arapuca camuflada cena, incluir trechos das entrevistas gravadas
com a denominação JOTE-titac. (Pausa) Para onde se fala dos objetivos do grupo).
esse tal JOTE-Titac NuTE, convidava nossas
Fritz – Ah! Então o senhor confessa; o senhor
288 crianças que inocentemente apareciam achando 289
confessa. Meritíssimo, o acusado acaba de
se tratar apenas de um Festival de Teatro. Mas
confessar o Crime!
o teatro era apenas uma isca, não é mesmo?
Tenho aqui comigo, Meritíssimo, alguns dos Raskólnikov – Meritíssimo, a segunda página
textos apresentados nesse dito Festival JOTE- em letra 10 Arial está terminando. Não há mais
Titac (Mostrar livro “Jogos de Teatro: 12 anos de espaço para um fechamento dialogado entre os
teatro em Blumenau), textos escritos por este atores-personagens. Restam apenas oito linhas
mostro e encenados por nossos filhos: “ÉV'E a quem escreve este texto: Regra do JOTE-Titac:
ADÃO”; “OS FILHOS DE BLUMENAU”; “NUS”; Experimentando NuTE. A confissão de meu
“DISCURSO, PELE E SEXUALIDADE”, entre cliente não deixa dúvidas. Sei da gravidade.
tantos e tantos outros cujas intenções eram Afinal, foram 18 anos. É muito tempo. Não
satirizar nossa fé, nossa moral, nossa cultura irei convocar sua benevolência nesse sentido.
germânica e até mesmo, Meritíssimo, nossa Que há um Crime, meu cliente confessa, que
masculinidade. O senhor nunca teve formação o Crime em questão foi praticado pelo Sr.
em teatro e mesmo assim criou uma escola para NuTE ao tentar transformar seres ordinários
“ensinar” teatro. E o que se ensinava ali? Se em seres extraordinários, concordamos com a
os espetáculos eram todos afrontas aos valores promotoria; mas, tenho certeza, Meritíssimo, de
mais preciosos, muito provavelmente o que o que se Vossa Excelência ousar experimentar a
senhor ensinava não passava de... existência extraordinária conosco, pelo menos
por alguns segundos, terá muito mais condições
Raskólnikov – Protesto, Meritíssimo, a
de julgar este caso. (Volta-se ao Ritual-NuTE-
promotoria está induzindo meu cliente a uma
Dioniso, contudo, dessa vez, o público é levado
resposta.
a participar).
Fritz – O.k.! Vou mudar minha pergunta: o que
quero saber é muito simples. Sr. NuTE, qual o
verdadeiro objetivo do senhor nesses 18 anos
ONDE SE ESCREVE COM IMAGENS E SONS
Ensaio:
de atividades “ditas” teatrais?
www.youtube.com/watch?v=Zrcjc_KN6rQ
NuTE – (as três vozes falam de forma Entrevista:
desordenada) Liberdade; levar as pessoas a www.youtube.com/watch?v=yxkdu8Kepkw
longa linhagem de bons maus guerreiros que, QUINTO
MAQBÉTE: UMA INTERFERÊNCIA NA não obstante terem abandonado seu Rei, ainda ENSAIO
TRANSMISSÃO trabalham para a Sombra dele.

MARIONETE 1 – Meu nome é Sedrez, pois tenho


290 sede de vingança. Meu negro olhar ajuda o
291
Homem, camarada Rei. Seu cetro é meu bastão,
com o qual golpeio e incendeio. E hoje... Hoje o
provarei perante todos vós.

Foto: Charles Steuck


MARIONETE 2 – Meu nome é Crescêncio,
porque eu cresci neste Reino. Fui um bom
serviçal por toda a minha vida, mas, quando
este palco desmoronou, tudo o que sobrou
de um banquete de casamento foi o bacalhau
pequeno-burguês, cozido por um idiota, com
sal e injúria, do qual se saboreou nada.

MARIONETE 3 – Meu nome é De Oliveira,


porque tenho óleo nas veias: óleo de carnaúba.
Por Iran da Silveira Com o óleo, produzo a vela; com o olho, produzo
a cela; com o alho, produzo a ceia. (distribui
Personagens: Bruxo Narrador, quatro facas de cozinha) O mecanismo é o próprio
“marionetes” (que poderão ser interpretados atleta, a exceção é a própria lenda... Os filhos de
por atores), o Rei e a Rainha. Blumenau que nasceram de 1930 para cá irão
morrer... (aponta para os outros) E quando os
BRUXO NARRADOR – Senhoras e senhores
arbustos do Teatro andarem, o Rei será morto
desta roda gigante, boa noite (?). É com muita
por uma mulher que não nasceu de homem.
honra, alegria e lástima que vos apresento a
história de uma interferência – uma interferência MARIONETE 4 – Meu nome é Leopolski,
na transmissão de uma história. Este Rei que porque leio Polanski, mas também tenho meus
senta ao lado é Alexandre King, mais conhecido Greenaways. Sofri do mal de Bergman, fiz a
como Ale-Quim. Ao lado dele, sua incentivadora terapia de Cronemberg, curei-me com Lynch.
e algoz, pois seu amor o levou à ruína e à Depois de tudo isso, sei que nunca morrerei –
morte. E as quatro marionetes que deste lado mesmo que todo o amanhã conduza os tolos à
gritam e se debatem são o que restou de uma via em pó da má sorte.
REI – Que se inicie a batalha, Marionetes do RAINHA (aproximando-se) – Meu pai não QUINTO
Rei! Podem começar o ritual! (em duplas, as era homem... (começa a golpeá-lo. A Rainha ENSAIO
“marionetes” lutam com as facas, como se matará o Rei de uma forma ainda mais violenta,
estivessem empunhando espadas pesadas. A requintada, sanguinolenta e criativa que as
coreografia da luta deve ser agressiva e graciosa. mortes anteriores) Tu querias oferecer-me
292 Resultado: Marionete 1 mata Marionete 2 e ao teu súdito?! Maldito Rei Ale-Quim da Rua 293
Marionete 3 mata Marionete 4). Escócia!!!
REI (de pé) – Ó, valorosos primos! Tendes REI (nesse ínterim, berra e depois agoniza) – Por
provado que a honra anda com vós! Como favor, ó Juliana, nããooo... Ahh... Alguém me
prêmio pela coragem do vencedor sobrevivente arranje uma Kombi... (morre. A Rainha, vingada
dentre meus estimados guerreiros, eu oferecerei e ensanguentada, com os olhos esbugalhados,
minha esposa! (outra luta. Marionete 3 grita: fica estátua, numa pose de “Carrie a Estranha”).
“Tome isto, falso Parnavack!!!”. Marionete 1,
que estava perdendo, mata Marionete 3). BRUXO NARRADOR (voltando à cena, em tom
mais solene) – Senhoras e senhores desta roda
MARIONETE 1 – Meu Rei... Tenho vencido gigante, tendes visto a mais brutal e sanguinária
todas as batalhas... Mas agora estou ferido... morte da história deste Palco. Tenho certeza de
Meu braço não foi poupado, e jaz neste chão que ganhará o Prêmio de Melhor Morte de um
como o cal jaz no túmulo... Rei Inspirado em Macbeth deste festival. É o que
REI – Um guerreiro ferido não é um guerreiro acontece quando um homem bom confia seu
digno de seu Rei! Sua punição é a morte! (o coração, sua cama e seu trono a uma mulher
Rei o mata violenta e sanguinariamente) Enfim, maligna... E quanto aos arbustos do Teatro,
minha rainha... Os maus guerreiros se foram... amigos... Eu estive há dois minutos no Carlos
Agora é hora de recrutar um novo exército. Gomes e posso testemunhar que eles andaram.
Mas não, isso não será difícil, minha rainha, Juro pela minha mãe! Muito obrigado!
pois já tenho um lugar onde poderei encontrar
centenas de bons guerreiros: a internet!!! E REFERÊNCIAS:
então... Há, há, há...
AS PEÇAS OU MONTAGENS DO NUTE (e outros
RAINHA – Tens esquecido de uma coisa, meu grupos da cidade) citadas são:
Rei...
– de Giba de Oliveira – nove peças, todas de
REI (nervoso pela interrupção) – O que, mulher, JOTEs-titac: Senhoras e Senhores, Nosso
por toda a Escócia, o que quereis dizer agora, Reino Por Um Bom Guerreiro, Os Camaradas
o quê? Médicos, Carnaúba, 1930, Filhos de Blumenau,
O Mecanismo e o Atleta, A Exceção e A Lenda, ONDE SE ESCREVE COM IMAGENS E SONS
Sr. Parnavack – a maioria foi encenada com Ensaio:
seu grupo, o Arteatroz; www.youtube.com/watch?v=fpu6Rd7CvSc
Entrevista:
– de Marcelo Fernando de Souza – Negro Olhar www.youtube.com/watch?v=BBDIBCgvGOk

294 (adaptação de Otelo, de W.S., dirigida por Pépe


Sedrez);

– de Alexandre Venera dos Santos – Macbeth’s


Uma Interferência na História (adaptação e
direção em 1991-93 em duas versões; a primeira
com elenco numeroso, e a segunda com quatro
atores somente: Antônio Leopolski, Carlos
Crescêncio, Giba de Oliveira e Pépe Sedrez) e
A Roda Gigante (sendo o espetáculo dirigido
por Pépe Sedrez, ainda no NuTE). Também
foram citadas, de Bertolt Brecht, as peças O
Casamento dos Pequeno-Burgueses, encenada
em 1996 por Silvio da Luz como O Casamento
dos Pequenos (foi servido bacalhau no palco); e
O Homem Ajuda O Homem, espetáculo de Pépe
Sedrez de 2001, o qual adaptou dois textos do
autor. Os cineastas Roman Polanski (polonês),
Peter Greenaway (inglês), Ingmar Bergman
(sueco), David Cronemberg (canadense) e
David Lynch (americano), foram citados. Além
de diversas citações textuais da própria peça
de William Shakespeare, evidentemente. Este
texto foi escrito no presente ano em Blumenau.
As metáforas empregadas não levam consigo
qualquer julgamento pessoal, político, filosófico
ou artístico às pessoas envolvidas na história,
mas, sim, recriam-nas. As mortes e vinganças
são apenas recursos de ação dramática,
parodiando a obra de William Shakespeare.
O DE PRETO, O DE BRANCO E OS DE CORES O de Preto – É... É que eu estou de saco cheio. QUINTO
ou um, despretensioso, questionamento... São ensaios pra caramba, cursos, workshops, ENSAIO
palestras, leitura de livros, análise de textos, o
diabo, e taí ó... Uma merreca de público...

O de Branco – Tudo bem, mas não é só isso. O


teatro ganha notoriedade, aparece, faz história. 297
E todos têm vantagens com o processo. O ganho
é, também, individual. Você se aprimora, você
evolui como ator, como artista, como pessoa e

Foto: Charles Steuck


se prepara para outras situações da vida...

O de Preto – Pra mim foi uma perda de tempo,


cara. Eu podia ter feito tanta coisa útil nesse
período todo, ao invés de ter ficado aqui
tentando fazer não sei o quê nessa porra... É
foda...

O de Rosa – (chegando) – Gente, tou nas nuvens,


Por Wilfried Krambeck
tou encantado, tou extasiado...

O de Preto – Que é isso, cara? Tá viajando???


A peça começa com o ambiente totalmente
(para o de Branco) Parece viado...
escuro e em silêncio; duas luzes de ponto são
acesas, repentinamente, no palco, sobre dois O de Branco – (para o de Preto) Psssiiiiiiuuuu,
atores. Uma peça qualquer, que está sendo ele estava com a gente... É dos nossos...
encenada, encerra-se, naquele momento. Os
O de Rosa – Tou feliz, é só isso. Acabou, mas
dois atores, em cena, agradecem, recebem os para mim foi demais!!!... Pude declamar minhas
aplausos, caso os haja, e fecham-se as cortinas. poesias, pude dançar, cantar, bailar... Criar
Na sequência, uma luz geral é acesa, a cortina figurinos maravilhosos, caracterizações, coisas
é reaberta e os atores que vão aparecendo agem mil...
como se o auditório estivesse vazio.
O de Preto – (para o de Branco) – Cara, é coisa
O de Preto – (saindo das coxias, para o público) de boiola mesmo, hein. Quem diria...
– Até que enfim, acabou esta bosta...
O de Branco – (para o de Preto) Deixa de ser
O de Branco – (chegando pelo outro lado) – O chato. Ele gostou, aproveitou... Ótimo para
que é isso? Isso é forma de falar??? ele...
O de Rosa – (para o de Preto) É isso aí, me O de Dourado – (chegando) – Aí rapazes, tudo QUINTO
realizei. Tá legal? Tudo que se faz com prazer, bem... (dá a mão para ambos) Eu comecei ENSAIO
dá resultado, traz satisfação. Mas é só para por aqui, agora que terminou mesmo, vou
aquele que se empenha, o.k.? Aliás, preto te sentir saudades. Fizemos uns trabalhos com
deixa insosso, deprê... Se eu fosse você, botaria muita pesquisa por aqui, coisas de primeiro
298 um figurino mais alegre, uma cor quente, sei mundo. Tivemos professores e diretores muito 299
lá... (sai). bons. Fomos para festivais, recebemos ótimas
críticas, ganhamos prêmios, reconhecimento.
O de Preto – Puta que o pariu, tem cada um...
Eu devo muito a esse pessoal que lutou por aqui.
Olha a do cara, meu...
Companheiros, amigos, gente determinada.
O de Branco – É... Acho que você é incapaz de Hoje estou na Globo e estou trabalhando em
notar. Mas existem diferentes percepções... montagens no eixo Rio-São Paulo, com diretores
consagrados. A base veio daqui. É uma pena o
O de Verde – (chegando) Pô, gente, aprendi
projeto ter acabado, pena mesmo... (sai).
coisas pra caramba por aqui. (o de Preto balança
a cabeça e se afasta um pouco, indignado) O de Branco – E agora, o que você me diz?
Quando cheguei, eu não sabia nada dessa
O de Preto – Vou falar o quê? O cara tá na Globo,
parada do teatro, pensei que era só viagem. Mas
não é não, cara... Os bom da bola, aí, botaram tá se achando.. Acontece que eu não tô, né.
a gente pra raciocinar, pra discutir, pra sacar O de Branco – Mas, me diga uma coisa: é possível
os babados... Aí eu fui nessa, eu li alguns livros que alguém fique por anos a fio num projeto,
aí, de uns caras da pesada, foi demais... Entrei tenha trabalhado, se dedicado, participado, e
numa peça aí, show de bola, mas aí tive que não tenha levado nada de bom durante todo
sair, cara, não deu mais... É que com essa esse período? Isso não seria uma forma de
parada aí, me motivei, cara... Voltei pra escola, masoquismo? Você, por acaso, se odeia?
cara, 1º Grau, noturno, aí já peguei um trampo
legal de dia, na moral cara, na moral.... Mas O de Preto – Ahhhh, com a decepção que eu tô
valeu cara, muuuuiiiito bacana meeeesssssmo, sentindo, aqui no peito, me odeio, sim...
só posso dar o maior plá, de coração, cara...
O de Branco – Então, você é o único. Porque
Valeu... (sai).
ninguém aqui deu um depoimento que não
O de Branco – Viu, é o que eu acabei de falar, fosse favorável. Estão todos felizes: o de Rosa,
o teatro mudou a vida dele... E para melhor... o de Verde, o de Dourado, você ouviu...

O de Preto – Ohhhhhhh... Fiquei impressionado O de Preto – Grandes merdas, se alguns desses


com a cultura do cara!!!... O cara é BABACA... viajões aí estão felizes...
O de Branco – Lá vem você com palavrão de explicar, mas este não consegue entender nada QUINTO
novo... por mais que se esforce; sem comunicação, ENSAIO
saem, um para cada lado, e o de Roxo, sem dar
O de Preto – Merda! Taí uma coisa que aprendi
atenção, continua aspirando).
no teatro... Merda pra você, merda pra você...
300 Fim
O de Branco – Tá, esquece o palavrão. Mas eu 301
gostaria de saber, exatamente, o que foi que
te desagradou... (entra o de Roxo assobiando, DISPARADORES PARA A MONTAGEM:
com uma vassoura, espanador, sacos de lixo, Preto = ausência de luz = a crítica destrutiva =
balde, aspirador, e o de Branco, interrompendo descompromissada = derrotista.
a conversa com o de Preto, dirige-se a ele)... E...
Branco = a soma de todas as cores = o ideal
Você aí, de Roxo, o que achou desse movimento
coletivo = o sonho = o lado positivo.
teatral? Pode nos dizer, por favor?
Cada cor = uma visão peculiar = um interesse
O de Roxo – Olha gente, eu... Não acho nada, de específico = ponto de vista = uma interpretação.
movimento algum. Agora, vocês me dão licença,
pessoal. Vou ter que dar uma geral aqui. Vou
ter que limpar o ambiente, tá legal?
ONDE SE ESCREVE COM IMAGENS E SONS
Ensaio:
O de Branco – Tá, tudo bem, desculpe. Eu www.youtube.com/watch?v=j3Ycc_2xEWk
pensei que você fosse... Deixa para lá. Mas...
Entrevista:
A gente pode ficar aqui? Só para concluir uma
www.youtube.com/watch?v=lKU8nHwUFok
conversinha, uma desavença de opiniões, que...

O de Roxo – Poder pode. Só que a coisa tá suja,


por aqui. Eu vou ter que pegar no pesado, já.
Senão sobra pro meu lado e quem dança sou eu,
tá legal? (se vira e prepara os equipamentos).

O de Branco – Então, me diga só um dos


motivos, pelo menos um, para que eu possa
entender essa tua mágoa... Me faz esse favor?...

O de Preto – Você quer, realmente, saber? Então


deixa eu te dizer... (aqui o de Roxo liga o aspirador
– som muito alto – e começa a trabalhar; o de
Preto fala, grita, para o de Branco, tentando se
O MONSTRO DE NUTESTEIN sérias, que, por segurança, de noite, encerrava- QUINTO
se cedo em suas casas. Eles divertiam-se ENSAIO
uma vez por ano, numa grande festa que lá
ocorria, mas este lugar, por via das dúvidas,
era completamente cercado. Durante o resto do
302 ano, apenas uma vez ou outra, a elite deste povo, 303
vestindo suas peles caras, encontrava-se num
grande castelo isolado bem no centro daquela
cidade, para irem a um ou outro luxuoso baile ou
a uma audição musical. Contudo, procuravam
voltar cedo também. Mas o que, até a época dos
acontecimentos que vou lhes relatar, poucos
sabiam: é que ali naquele castelo quase sem
cor, gélido e de pedras frias, havia inúmeros
corredores completamente escuros, sinistros,
apavorantes, lugares nos quais se encontravam
menos almas do que dentro de um túmulo de
um herege amaldiçoado. E foi nestes corredores
sombrios que surgiu um dos nomes mais
controversos da história dessa cidade, fechada

Foto: Charles Steuck


em si mesma: o Cientista Alex Stein. Era este o
nome desse homem inescrutável, que criou um
“ser” que assolou aquele povo durante mais de
uma década: O MONSTRO DE NUTESTEIN.

Alex Stein (para o público) – Descobri como


Por Wilfried Krambeck
desenvolver o meu “ser”, diferente de tudo que
já foi criado neste lugar. Estava tudo aqui,
Voz tenebrosa (acompanhada de música de mentalizado, circulando na minha cabeça.
terror) – Esta história aconteceu num certo vale, Li muitas obras de mestres antigos e, agora,
numa cidade não muito pequena, entremeada finalmente cheguei lá. A ideia, na essência, é
por um rio poluído, um local amaldiçoado por simples até. Vou juntar restos, digo, pedaços
inúmeras catástrofes naturais. O povo que lá mal aproveitados, vou submetê-los à máquina
morava era um povo trabalhador, de feições que descobri no centro do castelo, uma máquina
composta de uma grande roda horizontal que implantarmos na cabeça do seu “ser”. QUINTO
farei girar, tudo isso submetido a uma forte ENSAIO
Alex Stein (se antepondo ao Cientista Alemão) –
luz proveniente de todos os lados. Já está
Ah, mein Herr..., onde está a sua bolsa?
tudo preprado: os pedaços, a máquina, a luz.
Presenciem o momento da sublime criação... Cientista Alemão – Está na sala ao lado...
304 (nasce o “ser”– som). 305
Alex Stein – Pode deixar que EU pego para
Alex Stein – Oh, minha fabulosa “criação”, o Sr. (sai, volta com uma velha bolsa de
como você ficou enorme, não vai ser fácil couro e, na hora de entregá-la, deixa-a cair
te nutrir. Mas não me importa, sempre te propositadamente) Oh, mil desculpas, mein
terei como meu filho, sempre te nutrirei. Vou Herr... (abre-a e olha dentro) Que pena,
chamar-te de... NUTESTEIN. Agora, mostre-me esfacelou-se todo o cérebro, uma pena...
se consegui acertar: dê uns passos, caminhe,
Cientista Alemão – Estou achando que o Sr. não
NUTESTEIN... (o “ser” caminha sempre – e
quer cérebro algum para sua “criaçãozinha”,
somente – lateralmente, para a esquerda).
estou muito magoado... Vou-me embora e não
Alex Stein (para o público) – É um dispositivo volto mais para este lado do castelo, hum!...
mecânico que incluí na fórmula: ele só anda (sai).
para a esquerda e na penumbra, é o diferencial
Dr. Cientista Francês (entrando) – Ouvi a
que pensei para ele...
conversa, foi sem querer, desculpe-me. Mas
Cientista Alemão (entrando) – Ho, ho, ho. Vejo se me permite uma modesta contribuição:
que o Sr. criou um ser diferente, hum, hum, um cérebro é sempre importante num ser.
interessante... Mas só anda para a esquerda e Permite-lhe a livre escolha do seu destino. É
no escuro, estranho... Pelo visto, ele não tem claro, este “ser” é de sua criação e cabe-lhe a
vontade própria... Me parece que o Sr. esqueceu escolha. Mas eu pensaria com carinho sobre
de botar um cérebro no seu “ser”, hum? o assunto, pois se ele não tiver um cérebro,
será sempre dependente, a criação não será
Alex Stein – Nada de cérebro, eu penso por ele, completa. Dá bem mais trabalho conduzir um
digo para ele e ele faz. É bem mais seguro para ser com vontade própria... Mas aí está o desafio
ele e, além disso, assim ele não faz nenhuma do cientista: ‘Arbeit, Arbeit, Arbeit’, não acha,
bobagem e nunca irá me decepcionar. Monsieur? (sai).
Cientista Alemão – Acho que quem está fazendo Alex Stein – É... Sim... Não... Talvez... Não sei...
bobagem é o Sr., pois a sua criação não é perfeita (pensa um pouco sobre o assunto, depois se
se não tem um cérebro. Eu sempre carrego um entretém dando comandos ao “ser” – de repente,
cérebro na minha bolsa. Vou buscá-lo para nós feliz, recebe aplausos de todos os lados).
Cientista Baixinho (entrando com outros dois Voz tenebrosa (acompanhada de música QUINTO
cientistas) – Sr. Alex Stein, chega de conversa. funesta) – Aos poucos, NUTESTEIN foi perdendo ENSAIO
Nós – por unanimidade – já decidimos: vamos sua identidade original, tinha um cérebro agora,
colocar um cérebro na sua criação. mas não era seu, era de muitos, era confuso.
Todos os Cientistas, que no início tanto se
Alex Stein – Mas... Meu “ser” está indo bem,
306 preocupavam com ele, foram aos poucos 307
está evoluindo, nunca alguém caminhou para
perdendo o interesse. Seu próprio criador, Alex
a esquerda por aqui... E na penumbra, quem
Stein, começou a desenvolver um novo “ser”,
andou? Não custa nada para ninguém e todos
imaterial agora, “ser” este que ele poderia criar,
estão impressionados, nunca viram nada igual,
manipular e manter dentro de seu próprio
já estão até aplaudindo, não ouviram?
cérebro, sem a interferência de ninguém... E
Cientista Baixinho – É... Ouvimos. Mas vamos então, numa noite negra, de tempestade, ele
melhorar o “ser” e até já preparamos o cérebro: conduziu a “criatura”, sua primeira criação, até
é, na verdade, um misto, um pouco de todos os o mais escuro dos calabouços do castelo e lá
nossos cérebros, inclusive, tem uma parte do a acorrentou. Sempre com lágrimas nos olhos,
seu cérebro também, Sr. Stein. Só que somos por uns tempos ainda o alimentou, às vezes,
nós que vamos implantar, para evitar que ele se ajudado pelo Cientista Baixinho – até no dia
espatife pelo chão... O Sr. entendeu, Sr. Stein? em que todos foram embora, abandonando os
(um mantém Alex Stein a distância e os outros corredores escuros do castelo. NUTESTEIN,
dois dominam e implantam o cérebro no “ser” e então, já esquelético, desnutrido e retornando
saem, o “ser” então se levanta. Consciente, anda ao estado de acéfalo, agonizou, agonizou,
para todos os lados, salta, corre, mas também agonizou e... MORREU. (concomitante com a
tropeça, bate nas paredes, cai, fica atordoado). narração, na penumbra, Alex Stein, triste, faz
Alex Stein – Ei, NUTESTEIN, vá para a a última visita ao “ser” e este – a sós – falece,
esquerda, a esquerda... (o “ser” vai, mas volta abandonado).
para a direita). Não, não saia da penumbra... (o Voz feliz eufórica (entrando – repentinamente
“ser” vem para a luz e Alex Stein se desespera) – com fundo de música animada – de Os Caça
Nossa mãe, NUTESTEIN, você se tornou um Fantasmas) – Mas não fiquem tristes, pois
MONSTRO... (voltam os outros três cientistas chegou nesta cidade um repórter de metrópole!
e também começam a comandar o “ser” e Chegou EndGhostbuster! Ele veio para caçar,
este tenta, inicialmente, atender a todos, mas para detonar, para desmistificar o NUTESTEIN.
depois se torna confuso e desiste de atender Para, finalmente, retirar, exorcizar sua alma
os comandos de todos eles, recolhendo-se num dos corredores escuros do castelo. Ele veio
canto). para saber de tudo, detalhes, nuances,
episódios, pensamentos, reflexões, e acreditem: TRABALHO SUJO
todos estão falando, contando, rememorando,
especificando, lembrando até de coisas que
nunca existiram. Até estranho, já palpita.
Mas é assim mesmo, só alegria! NUTESTEIN
308 virou FOLCLORE. Cada um conta do seu
jeito, cada um inventa, cada um aumenta
ou acrescenta. NUTESTEIN não era oito nem
oitenta, mas com certeza tinha pimenta. É isso
aí, EndGhostbuster, provocou, agora aguenta.
Tem coisa boa. Tem miserenta. Tente digerir
esta baita polenta. A cada dia a coisa esquenta.

Foto: Charles Steuck


Mas é assim, que incrementa, se alimenta... (a
música se sobrepõe à narração, fim).

ONDE SE ESCREVE COM IMAGENS E SONS


Ensaio:
www.youtube.com/watch?v=FzeylLvO3uc
Entrevista: Por Iran da Silveira
www.youtube.com/watch?v=S0RvDDRd6IQ
Drama policial ambientado na Blumenau
do ano 1999. Personagens: NÓDULO CHUCK,
NAFTALINA JOHNSON, NIVALDO TRAPAÇA,
NESTOR MIRONGA, NEIDE SAPATINHO,
NEUZINHA BLAUBLAU, NICANOR NEW
YORK, NEM DE LADO, NARRANTE, DOGMA
ZUNINDO, GRITO, DR. JACÓ, DR. JACÚ, JOSH
PALHA NARRANTE – No último JOTE-Titac, a
quadrilha de Naftalina Johnson planejava um
grande crime...

NICANOR NEW YORK (andando num carrão) –


Atenção Nódulo Chuck! Atenção Nódulo!
NÓDULO CHUCK (também) – Nódulo Chuck CHUCK – Neide, quanto podemos ganhar com QUINTO
ouvindo perfeitamente! isso? ENSAIO
NEW YORK – Atenção! Congresso dos traficantes NEIDE – Deixa eu ver... Poderíamos pedir a
de quadros, ladrões de esculturas e plagiadores soma das vendagens dos três primeiros livros,
isso ia dar... Uns 15 milhões de reais novos.
310 de livros no morro em frente a Ufos, última 311
casa! Assunto de interesse geral e urgente!
NEW YORK – Como está estipulado em nossas
NAFTALINA JOHNSON (já no local...) – Ainda leis, os senhores Johnson e Trapaça, autores
bem que estão todos aqui, porque o assunto é do sequestro, ficarão com 20% do lucro total,
de extrema importância. cada um. Os 60% restantes serão divididos
entre nós seis.
NEUZINHA BLAU BLAU – Fala logo, Nafta! Fala!
Fala! NESTOR MIRONGA – Só uma coisa. E se ele se
recusar a pagar?
NAFTALINA – Vocês vão ficar com água na boca
quando virem isso! É o último livro que Dogma NEW YORK – Aí roubamos toda a grana dele, o
Zunindo acaba de escrever! apagamos e lançamos o livro com a autorização
do autor cedendo todos os direitos autorais.
NEM DE LADO – Mas como você conseguiu
isso? DE LADO – Mas isso vai dar uma fortuna!

NAFTALINA – Foi um plano que bolei com muito NEIDE – Nafta, esse plano é muito bom. Você
carinho; palmas para o Sr. Nivaldo Trapaça, é terrível!
responsável pela sua execução. NAFTALINA – Tem razão, minha querida.
NIVALDO TRAPAÇA (depois das palmas) – Foi Quando a arte e o crime se juntam, qualquer
coisa pode acontecer, até mesmo uma pintura
muito fácil. Eu esperei ele dormir e aí, TCHUM!
impressionista! Vamos ao trabalho. (...)
BLAU BLAU – Eu quero ver! Ver! Ver!!!
DOGMA (ao ser contactado) – Sou eu mesmo.
NAFTALINA – Calma, eu tirei xerox pra todos. Em que posso ajudá-los?
Aqui estão.
MIRONGA – Não fale nada, ou estouraremos
NEIDE SAPATINHO – Vocês têm consciência do seus miolos! Nós temos o seu último texto em
que temos nas mãos? Isso é uma porcaria, mas cativeiro!
os críticos e intelectuais babam!
DOGMA – Aquele que escrevi ontem? Ia jogar
TRAPAÇA – E o resgate é todo nosso! Iiiiça! no lixo.
MIRONGA (bate-lhe na cara) – Nunca mais NARRANTE – E agora, para a apresentação dos QUINTO
despreze assim uma obra de arte, canalha! membros da gangue de Naftalina Johnson. ENSAIO
DOGMA – O que vocês querem? Nódulo Chuck, o rebelde solitário tem sua vida
dividida entre pequenos roubos de obras de arte
TRAPAÇA – Toda a grana da vendagem dos e sua mãe, uma simpática velhinha. Nicanor
312 seus quatro livros. 313
New York, vigarista e golpista, um gringo que
DOGMA – São só três. O meu lucro com eles foi na verdade nasceu em Chicago, no Illinois, é
de 75 reais. o mais elegante e menos temperamental; sua
calma lembra a dos quadros de Guto Bouer, os
BLAU BLAU – É pouco! É pouco! Ai, ai, ai! É quais já furtou quatorze. Neuzinha Blau Blau, a
pouco! mulher que roubou o Bofe Áspero, de Leonardo
dá Vinte, saiu do manicômio direto para o
DOGMA – Também acho, mas foi o que ganhei,
mundo do crime. A prostituta Neide Sapatinho
na época. Lembro que deu pra pagar minhas
dedica-se ao crime para vingar a morte de seu
contas no London, no Tip Tim e no bar do teatro.
pai, um ex-diretor do grupo Kontra Senha.
MIRONGA (dá-lhe um tapa) – O London mudou Nivaldo Trapaça, marginal absolutamente sem
de nome, imbecil! Agora é Rodolfus! escrúpulos e tarado sexual por mulheres que
estão lendo o “Conde de Monte Cristo”. Nestor
TRAPAÇA – Não importa. Fica com essa mixaria
Mironga, o braço negro do crime, sempre pronto
aí, nós vamos lançar esse livro e ganhar uma
para golpear impiedosamente qualquer um que
nota preta, sacou? E não vamos dar um centavo queira publicar um poema pelas vias da lei.
pra editora. Nem de Lado, cheirador safado, tem esse nome
DOGMA – Então é assim? Eu faço o trabalho porque gosta de comer papinha com cebola.
sujo e vocês faturam? Seu maior feito foi ter violado um cemitério
de naturezas mortas. E Naftalina Johnson, o
NEIDE – Ele tem razão, ele é o artista. intelectual da corrupção autoral, expert em
CHUCK – Tá bem, fique com 10%. estupro da inspiração e em sequestro do talento
alheio. E agora, sim, a continuação da história.
DOGMA – Vinte.
DOGMA – Já são quatro da manhã, daqui a
CHUCK – Quinze e tá acabado. E lembre-se: pouco eu preciso ir pra rua e não posso ficar
esse livro é um marco, sacasse? UM MARCO! aqui escrevendo essa peça. Se desse dinheiro
eu até terminava. Agora me deem licença.
DOGMA – Tá legal, boa sorte! Como tem gente
iludida nesse mundo... NARRANTE – Já que o autor não está em
condições, aí vai a continuação da peça de NARRANTE – Será nosso autor ressarcido QUINTO
qualquer maneira. pelos danos causados pela malévola gangue ENSAIO
de Naftalina Johnson? Conseguirá realizar
UM GRITO VINDO DAS COXIAS – Que história
seu sonho de fazer uma novela para o Toni
é essa de não querer terminar a peça? Todo
Ramos, o Francisco Cuoco e o Tarcísio Meira
314 mundo aqui trabalha, só intelectual é que não?
chamada “Zero”? Não percam no próximo 315
CHUCK (entrando com os outros) – Chefe, você JOTE! Continuem com a gente!
não vai acreditar, mas esse Dogma Zunindo
Nota do autor: Trabalho Sujo parte de uma
é um niilista, um pessimista! Chega a ser
trama policial folhetinesca para descambar
perigoso!
numa análise irônica sobre o papel da arte na
NARRANTE – Quem comenta sobre a vida das pessoas comuns e dos próprios artistas.
personalidade do autor são os psicanalistas, O formato telessérie funciona mais como uma
Doutor Jacó e Doutor Jacú. metáfora do antigo JOTE-Titac, como fica claro
no início e no fim da peça.
DR. JACÓ – O senhor Zunindo não passa de
um rebelde sem causa. É isso o que ele é. Ele
não dá valor ao que tem. Ele não merece viver.
ONDE SE ESCREVE COM IMAGENS E SONS
Ele é um estorvo.
Ensaio:
DR. JACÚ – Não seja tão duro com ele, ele sofre www.youtube.com/watch?v=ork4t4rP8w4
também, sabia? Entrevista:
DR. JACÓ – Sofre nada, ele gosta é de nos fazer www.youtube.com/watch?v=7gJTU-Kt5QU
de palhaços. Ele tira sarro o tempo todo.

DR. JACÚ – Eu acho que ele não tem culpa. Ele


é assim mesmo.

NARRANTE – Já que a ciência não se decide,


vamos ver se o esoterismo ajuda. Com a palavra,
o famoso guru Josh Palha.

JOSH PALHA – Só sei de uma coisa: enquanto


houver um sopro de vida, haverá em Dogma
Zunindo o desejo de se renovar, dia após dia.
Ai, tenho de ligar para o Walter Mercado!
O AUTOR ESQUARTEJADO olhar com essa cara. Não vou dar aula, não QUINTO
sou professor. Sou ator, não estão vendo? Mas ENSAIO
acontece que sou um ator que não aguenta
mais ter que fazer das tripas coração para pôr
em cena essas coisas que as pessoas acham
316 que é um texto para teatro. Tudo bem, tudo 317
bem. Reconheço que é bem mais fácil pôr em
cena um poema, uma crônica, do que um texto
com falas, ação e tudo que como teatro não
serve nem para um arremedo. Já viram? Como
é que se interpreta um “oh” em cena? “Oh, meu
amor”. “Oh, dor!” Ou pior, “Oh, me mataste!”.
Já pensou? Me mastates! O cara leva um tiro,
cai no chão, olha para seu assassino e solta
essa “Oh, me mataste”. Não dá, né? Aí chega o
Jote. Aquele monte de texto em cima da mesa

Foto: Charles Steuck


e as pessoas dão uma olhada num, noutro,
já descartam os monólogos, e quando veem
uma frase de efeito, lá perdida por acaso entre
um punhado de “ohs”, pronto, tá lá o texto, e
é aquela carnificina para ter a oportunidade
de dizer uma única frase que preste nesse
emaranhado que são os textos para o Jote.
O.k., tudo bem. Dá pra montar tudo hoje em
Por Afonso Nilson
dia. Já ouviram falar de teatro pós-dramático?
Azar o de vocês. Hoje dá pra montar até bula
Personagens: ator, autor, diretor, alguém do
de remédio. Dá pra adaptar receita de bolo, dá
público, figurantes com vísceras escondidas
pra fazer depoimento pessoal, dá pra grunhir
em suas roupas.
igual a um porco e dizer que é performance, que
Ator – O.k., mais um JOTE. O último, eu é arte contemporânea. Tão brincando comigo!
espero, dessa vez. Falo o último porque eu não Isso é coisa do passado. Anos 50, 60, 70, living,
aguento mais esses textos que não são escritos Asdrúbal, Barba, Zé Celso. Um pouco depois,
para teatro. Tem poesia, tem crônica, tem carta aqui em Santa, Venera. O Venera pode, porque
de amor, tem confissão de homossexualidade, ele foi o primeiro.   Enquanto o pessoal ainda
tem tudo. Até aula de teatro. Não precisam me tava montando chanchada, o Venera metia
o terror, fazia o que ainda era novidade nas um atorzinho. Teatro se faz, não se explica. QUINTO
terras da novidade. Mas agora, 20 anos depois, Não quero saber desses textos adaptados, não ENSAIO
rapazinho me vem com teatro performático, quero saber de bula de remédio, não quero
improvisando sobre qualquer besteira que saber de nada de nada dessa merda de teatro
ouviu dizer de um professor que ouviu de um contemporâneo. Eu quero é o teatrão! Qual é?
318 terceiro que nem sequer sabia do que estava Não posso mais gostar de texto clássico? Sim, 319
falando? Não dá, né! meu amigo, eu escrevo “oh”! Eu uso frase de
efeito no meu dia a dia. Eu escrevo poema e
(Da plateia levanta um cara, vai rápido até o
ator e lhe dá um empurrão). ponho na boca de meus personagens. Qual é?
Vai encarar?
Autor – Fala mal do meu texto mais uma vez se
você é homem! Ator – Eu hein, quero saber dessa merda não. 

Ator – O idiota, tá estragando a cena. Autor – Mas aqui no palco você vai ter que
querer. Tá na chuva é pra se molhar, meu.
Autor – Não tinha nada disso no meu texto.
Ator – Isso é que é frase de efeito, "meu". (entra
Ator – Como é? Quer dizer agora que eu não
o diretor na história).
posso dar uma improvisadinha sequer?
Diretor – Amigos, amigos. Vamos nos acalmar.
Autor – Improvisar? Você não disse uma única
Não precisamos ficar tão exaltados, é apenas
palavra que eu tenha escrito até agora!
a estreia. Toda a estreia é meio estranha, não
Ator – Você devia me ser grato por isso. Até é? (para o público) Vocês vão nos perdoar por
bem grato, se for levar em consideração aquela esse contratempo, mas na verdade tudo isso
merda que você mandou pro Jote. faz parte do show, está tudo no "script".
Autor – Olha aqui, seu puto! Se você acha que Autor – No texto, tá tudo no texto. Era pra estar,
eu vou aturar isso quieto...
na verdade.
Ator – Isso, mostra a cara, pseudônimo! Mostra
Diretor – Mas você não acha que isso às vezes
essa fuça incapaz de articular uma única
até ajuda a encenação a ficar mais rica, mais
palavra que seja teatro de verdade!
natural?
Autor – E o quê, pra você, viado, é teatro de
Autor – Texto é texto e tá acabado.
verdade?
Ator – Mas e a reação da plateia? Agora porque,
Ator – Ora o teatro, o teatro...
Vossa Excelência, o autor, quer, eu não posso
Autor – O teatro não é pra ser explicado por mais interagir?
Diretor – Podemos achar um meio termo, que insuportável. Antes um filme fraco do que uma QUINTO
tal um texto colaborativo, criação coletiva? montagem fraca. ENSAIO
Autor – Tais gozando com a minha cara, não é? Ator – Mas e aí, e a pergunta do cara? O que é
Não existe esse negócio de criação coletiva, tem que o teatro tem a mais que o cinema?
sempre um que encabeça a história.
320 Diretor – Imaginação, porra. No cinema você 321
Ator – Ah é, vamos ver só. Vou chamar alguém vê o mar Cáspio. No teatro o mar não precisa
da plateia. (puxa alguém da platéia). nem de uma gota de água para significar um
oceano. Quer ver? Oceano!
Ator – O senhor me desculpe, mas a gente precisa
resolver essa história. O que o senhor acha? Ator – Você acha mesmo que eu vou me afogar,
Improviso, faço um teatro contemporâneo, sem não é?
texto, texto-não dramático, ou volto a ser um
tolaço do século XIX tendo que decorar todas Diretor – Era só pra dar um exemplo.
as minhas falas? Autor – Dá pra mudar rápido de história e
Alguém do público – Olha, eu não sei muito cenário sem um único adereço no teatro.
bem... Que é que eu vou dizer... O autor... Ator – Ah, é?
Autor – O senhor pode sentar, por favor. Muito Autor – Aja rápido! Peça podre! (o ator faz um
obrigado pela sua participação, numa próxima trejeito) Viu, você nem precisava fazer nada,
vez em que seja preciso tirar a roupa, a gente te bastava continuar a fazer o que estava fazendo.
chama de novo.
Diretor – O importante é o contato direto com
Ator – Gostasse dele, não é? o público. Nunca no cinema alguém viria até
Autor – Sai pra lá! a sua cadeira e faria isso. (vai até o cara do
público e lhe torce o nariz).
Diretor – Não estamos evoluindo.
Ator – Muito interessante. Deve ter sido uma
Ator – Pra evoluir, temos que representar a experiência muito boa para o senhor, não é?
bula.
Ação em 3D.
O cara do público (fala de seu lugar) E o que é
(há um grande silêncio vazio)
que o teatro tem a mais que o cinema. Prefiro
ir ao cinema ver uma merda qualquer do que Diretor – Improvise.
ficar aqui nessa tortura de não teatro.
Autor – É, vamos acabar com esse tédio, faça aí
Diretor – O cara tem razão, teatro ruim é qualquer coisa.
(o ator pode nesse momento fazer qualquer Diretor – Velho, mas útil. QUINTO
coisa) ENSAIO
Ator – Conclamo todos da plateia a matar o
Diretor – Até que foi interessante. autor. (o diretor e o ator puxam pessoas da
Autor – Mas estava no texto. plateia para cercar o autor no meio da cena.
322 Ator – Não senhor, no texto dizia claramente “o
Eles o cercam lentamente, eles o consomem,
323
rasgam suas roupas, retiram intestinos, unhas,
ator pode fazer qualquer coisa”. dentes, cabelo, até não sobrar nada além de
Autor – Então estava no texto. carne crua e tomates sobre o palco. Todos
voltam aos seus lugares. O autor, nu, senta-se
Ator – Mas quem criou fui eu.
junto ao público).
Autor – Azar o seu, leve o crédito.
(mais um momento de silêncio vazio)
ONDE SE ESCREVE COM IMAGENS E SONS
Autor – Pra esse texto dar certo, alguém precisa Ensaio:
morrer ou ser traído. www.youtube.com/watch?v=folk5Y3EvzA
Ator – Traído tu já foi, corno. (o autor agarra o Entrevista:
autor pelo pescoço, o diretor intervém). www.youtube.com/watch?v=TUZEqE5UfgY
Diretor – Ele tem razão.
Ator – Eu não disse, corno!
Diretor – Não, não isso. Mas que algo tem que
acontecer, tem. Sei lá, a intriga, sabe? A tensão
dramática!
(ator e autor se entreolham furiosamente,
fingindo tensão, caem na gargalhada)
Autor – Que piada.
Diretor – Se fosse uma comédia, seria de chorar.
Autor – Vamos acabar logo com essa merda?
Diretor – Alguém tem que morrer.
Autor – Já sei, já sei, “a morte do autor”. Esse
texto é velho, meu.
“QUE CHEIRO É ESSE?!?” A – Bem. É isso... Aí eu trouxe esse meu chapa QUINTO
aqui... Pra não falar sozinho, entendeu? ENSAIO
B – Ooooopa, tamo junto nessa parada... Toca
aqui ó... Cê é meu parceiro, cê é meu mano...

324 A – Aí o cara me falou: tu dá uma sacada no 325


blog, antes de ir até lá, que tá tudo lááááá,
cara...

B – Ele falou: olha no blog, é isso aí, mano...

A – Aí eu disse: blog cara??? Que porra é essa???


Foto: Charles Steuck

B – É. Que porra é essa???


A – Ele falou: internet cara, tu é burro hein?!?
Eu disse: burro não, pega leve, um pouco
desinformado, até pode ser, né, ôôô cara...
B – Que burro o quê...
A – Bom, eu sei que daí ele abriu lá pra gente
Por Wilfried Krambeck aquele tal de blog, a gente viu umas coisa lá e
tamo aqui, nessa parada, pra trocá umas ideia,
A e B entram em cena, debatem-se um pouco aí...
com a luz no rosto e dirigem-se ao público. B – É, a gente viemos, né...
A – Bem... Olá... Tudo bem? Nós viemos hoje A – Pô, uma coisa legal que eu vi, cara, é que
aqui para falar sobre esse... NuTE, né... tinha um boteco lá e a turma mandava ver...

B – Isso, sobre esse tal de NuTE... B – Pô, legal... Papo furado, cigarro, cerveja e
salgadinho... É?
A – Na verdade, eu nem sacava desse NuTE, mas
tô, aí, representando um... Um cara que teve, A – Isso aí. Outra parada eram os barracos. De
aí... Digamos assim... Uma, breve, passagem vez em quando tinha nego montando um baita
por esse NuTE, aí, e que disse... Vai lá, fala com dum barraco no meio deles...
o pessoal, fala das coisas que rolaram lá, tu é o B – Era tudo barraqueiro?
cara... (para B) Não é?
A – Não, tudo não, mas parece que tinha uns
B – Isso aí. Ele falou que tu é o cara... cara especializado nessa parada, meu...
B – Cara, isso era mó zona, então, Mermão?... um prêmio não sei de quê, pro cara... QUINTO
A – Sei lá, né... Mas diz que os caras B – Tá me gozando? ENSAIO
ameaçavam se jogar dos prédios, invadiam
prédio abandonado, toda hora batia polícia... A – Sério. Aliás, diz que pra ganhar prêmio a
Um outro passava de carro nos pontos de turma fazia o diabo... Enchiam os corno de
326 ônibus, baixava as calças e mostrava a bunda jurado com cerveja... Diz que tinha um que, 327
pra galera... Pô meu, os cara só faziam merda... pra tentar ganhar um prêmio, ficava trepado
em cima de uma roda por mais de uma hora...
B – Tá loco...
B – Era doido?????
A – Pra tu vê como os cara eram manés, meu:
eles enterravam livro zero bala... Eles podiam A – Sei lá... Mas o cara ficava...
vender, fazer uma grana... Mas eles enterravam, B – Deviam mandar ele pro pinel...
assim, sem plástico, sem nada, cara...
A – Por falar nisso, cara, tinha uma turma
B – Orra, meu, papelzinho bom pra enrolar um inteira... Cara, eram uns quinze, tudo
bagulho... Enfiado no barro, cara? misturado, cara, era homem, mulher, novo,
A – Então... Outra parada é que tinha um cara velho, tudo junto... Que corriam, pelados, no
que chegava no ouvido dos outros e dizia que meio da noite... Pelo mato, pelos campos de
entregava a rosquinha... futebol, pelas cachoeiras... Assim, peladões,
meeeeeismo...
B – O quuuuuuê?
B – Na boa???
A – É. Dizia: qué comê minha rosquinha? Na
cara dura. Tudo bem... Ele vendia, quer dizer... A – Na maior! Diz que era até feio de ver... Mas,
Cobrava, mas pô meu... Um negócio assim só cara, nunca vi... Eles gostavam de ficar pelados...
em pensar já dói, né... Era no mato, na praia, no apartamento, no
palco... Era tudo pirado, cara...
B – Tá doido, meu... Mas ele não dava de
verdade, né? B – Não era à toa que batia a polícia...

A – Sei lá? Né?... Tinha um outro que jogava A – Ahhh... E tinha um tal de um metido a
bombinha falhada num lixeiro... E, nada. E escritor que não escrevia coisa com coisa...
tinha gente, mais maluca ainda, que achava B – Como assim?
isso o máximo... Tem tapado pra tudo, mesmo,
A – Só falava de papo de bêbado, de chuva, de
né...
briguinhas daqueles barraqueiros...
B – Pô meu, bombinha é pra estourar, é pra
B – Ei, mas não foi esse cara que disse pra tu
fazer o escarcéu, é pra fazer festa...
não falar isso dele aqui... Que ele ia te deletar
A – Um outro pendurou uma cadeira e deram deste texto?
A – Falou. Mas o chapa que me mandou aqui, A PEDIDOS QUINTO
disse que não tem essa. Depois que a coisa ta ENSAIO
impressa ninguém mais deleta porra nenhuma.
Fica frio...
B – Ahhh... Então, tá. Mas, por via das dúvidas,
328 eu vou dar no pé... (sai). 329
A – É cara, acho que falamo muita merda em
pouco tempo, vambora... (sai também).

FIM

Foto: Charles Steuck


ONDE SE ESCREVE COM IMAGENS E SONS
Ensaio:
www.youtube.com/watch?v=kWaN1pZovGg
Entrevista:
www.youtube.com/watch?v=7x_ReaLb3Io
Por Giba de Oliveira

(Ao entrar na plateia, o público encontra no


palco um músico com seu violão. Ele está ao
fundo, na direita, sentado sobre uma simples
banqueta tocando e cantando a música
TERRA, de Caetano Veloso. Numa mesa mais
deslocada, à direita baixa, sob um foco de luz,
estão sentados Luciano e Francisco. Observam
o músico até o final da música. Os dois estão
em silêncio, entorpecidos, mas NÃO estão
embriagados, ora fumando, ora bebendo. Aliás,
fumam muito).

Músico – A pedidos. (começa a dedilhar a


próxima música: CÁLICE, de Chico Buarque de
Hollanda).
Francisco – A Pedidos!? Por que ele falou isso? Luciano – Tô calmo. QUINTO
Luciano – Porque alguém pediu. Francisco – Então. ENSAIO

Francisco – Foste tu? Luciano – Vamu lá...

Luciano – Fui eu. Francisco – NuTE.


330 331
Francisco – Tu és um merda mesmo! Essa Luciano – Hã???? Que é isso?
música se chama Cálice.
Francisco – Aí não vai dar... Tu és muito
Luciano – Foda-se. ignorante, porra!

Francisco – Cálice. Luciano – Fala aí, cacete! Eu sou bom em


entender as coisas.
Luciano – Tá. E esse Festival?
Francisco – Entende nada. De cultura tu não
Francisco – JOTE-titac? Jogos! Jogos! entendes nada.
Luciano – Jogos. Certo... O que acontece? É um Garçom – (aparecendo de repente. Trata-se do
tipo de RPG? músico disfarçado) Mais alguma coisa?
Francisco – Tu parece criança, poxa! Trata-se Luciano – Hã???? Deixa eu ver... Peraí... Tu
de um concurso cênico de cunho cultural onde saberias me dizer, por um acaso do destino, o
grupos e autores participam. Os grupos com que significa a palavra NuTE?
seus elencos e técnicos e os autores, por sua
Garçom – Pois não: o Núcleo de Teatro e Escola,
vez, com seus textos... Tendeu?
fundado Núcleo de Teatro Experimental por
Luciano – Putz! Tá parecendo telecurso segundo Alexandre Venera dos Santos, em 1984, tendo
grau explicando uma soma de quadrados. muitos e importantes colaboradores durante
vários anos em que atuou na Sociedade
Francisco – Então faz o seguinte, o seu merda. Dramático Musical Teatro Carlos Gomes de
Luciano – Faz o quê? Blumenau, é, foi e continua sendo uma das
maiores correntes artísticas legítimas do sul do
Músico – Um minuto de intervalo e voltamos já. Brasil...
Francisco – Caraiu... Na horinha né? Vai meu Luciano – Hã?
filho vai... Vai lá...
Garçom – É servido com molho madeira, batata
Luciano – Porra cara! Tu não ias falar de uma frita e salada. Mais alguma coisa?
peça de teatro que tu ias escrever?
Francisco – Deixa ele. O lance é o seguinte,
Francisco – Vou falar... Calma. Luciano...
Luciano – Fala aí Francisco... uma das mãos e com a outra empunha uma QUINTO
lanterna). Vejo um caminho por aqui. Vou seguir ENSAIO
Francisco – Decorou o nome, né?
em frente. Está bem nublado. Aqui termina a
Luciano – Fala da tua peça, caralho. trilha... Estou ouvindo um ruído, acho que é
Francisco – Então... Vamos supor o seguinte: aí um riacho. Há uma pequena represa aqui. Está
332 o negócio consiste em você escrever um texto. E bem escorregadio. Mas está relativamente fácil 333
eu escrevi um. de... Tem alguém aí? Tem alguém aí? Escutei
sons de passos mais adiante... Parado! Parado
Luciano – Sim... Adiante...
eu já disse! Parado ou eu atiro! Ele está fugindo...
Francisco – É assim, ó. (blackout) Hummmmmm, (Anda por entre a plateia lentamente com a
acabou a luz. (o cenário muda de lugar em 90 arma e a lanterna... A fumaça em abundância
graus. A luz volta. O músico volta). continua. Logo se pode ver três lanternas em
Músico – Desculpem a falha técnica. Com vocês, meio à escuridão, sendo duas na plateia, de
uma música da nossa querida Juliana Muller. lados opostos e outra no palco. Francisco fala
para a segunda lanterna na plateia.) Quem é
Francisco – Nossa! Sou tarado nessa mulher.
você? Fique parado! Bote sua arma no chão
Luciano – Se concentra, porra! junto com a lanterna. Agora!!!

Francisco – Mas ela é gostosa. Luciano, que agora é outro – Calma! Sou amigo.
Não atire. Calma, por favor, calma.
Luciano – Pensa no Tadeu.
Francisco – Aí tu forças a amizade. Tu sabes Francisco – Quem é você?
que o véio Tadeu é gênio... Luciano – Um amigo.
Luciano – Dizem que o Tadeu é um Bruxo. Francisco – O que você fazia na casa de
Francisco – Parece que bebe. Mas tá. Lá vai... É Elizabeth?
assim ó: o cara é um detetive que vai narrando Luciano – Elizabeth? Eu fui avisá-la... Alguém
os acontecimentos num gravador, como se está tentando matar Elizabeth. (Ouve-se
descrevesse uma cena. um tiro. A terceira lanterna sai correndo em
Luciano – Como seria? disparada. Luciano cai no chão.)

Francisco – Fique atento... A luz se apaga... Francisco – Nããão.


Ele está com uma lanterna. Respira ofegante...
Luciano – Eu amava Elisabeth... Jamais faria
(enquanto vai falando, a luz muda e ele assume
mal a ela.
a personagem do detetive. Existe muita fumaça
no ambiente agora. Ele carrega uma arma com Francisco – Quem a queria morta? Diga o nome.
Luciano – Lorival. pessoas que fazem o mundo brilhar: Alexandre QUINTO
Venera dos Santos, Wilfried Krambeck, Carlos ENSAIO
Francisco – Nãããããooooooo. (Novo blackout. Ao
Crescêncio dos Santos, Pépe Sedrez, Sílvio da
voltar a luz, o cenário está totalmente invertido.
O músico em sua banqueta e os dois amigos Luz, Giba de Oliveira, Niralcí Ferreira, Rosane
sentados à mesa. Música: Águas de março, de Magaly Martins, Tânia Rodrigues, Antônio
334 Tom Jobim.) Leopolsky, Janice Penzzotti, Jeniffer Penzzotti, 335
Klaus Jensen, Tadeu Bittencourt, Édio Raniere,
Luciano – E aí? Acabou? Ele morre e o bandido
José Aparecido da Silva, Juliana Muller, Leonel
foge?
Campos, Wladimir Juliano Treiss, Cristiane
Francisco – A arte imita a vida, meu amigo. Muller, José Ronaldo Faleiro, Otto, Álvaro,
Tanise, Diogo, Pollyanna Maria da Silva,
Luciano – Tu estás mentindo. Tu nunca dirias
Andrea dos Santos, Polly Vendrami, Kadu,
uma besteira dessas.
Nassau de Souza, Douglas Zuninno, Janaína,
Francisco – Tens razão. Mas somos artistas. Gabriela, Luciana May, Denniz Radünz, Jucélia
Vivemos em mundos onde tudo é possível, Zimmermann... (aqui poderão ser incluídos
posto que é feito de ideias, de imaginação, sons outros nomes, que provavelmente foram
e imagens. Cores e formas. omitidos por puro esquecimento. Na saída da
Músico – E poesia. Átomos. Núcleos! plateia essa relação deverá ser entregue com a
ficha técnica do elenco).
Francisco – Isso mesmo. E poesia, porque
se trata de uma homenagem ao belo, ao FIM
fundamental nas nossas vidas. Pra alimentar
nossos espíritos. Já tão sofridos.

Luciano – E como será o título?


ONDE SE ESCREVE COM IMAGENS E SONS
Ensaio:
Francisco – Eu não faço a menor ideia. (Ficam www.youtube.com/watch?v=0LpZEZRun4M
os dois em silêncio contemplativo.)
Entrevista:
Músico – A pedidos. (With Or Without You, do www.youtube.com/watch?v=jix56Qib3tg
U2. Os dois se olham, interrompendo o fluxo
de cigarros. A luz vai saindo em Fade Out. O
cenário gira e agora todos estão de costas com
uma luz contra, muito tênue. Os dois continuam
gesticulando na mesa, como se conversassem.
O músico continua.) Queremos agradecer as
Apresentação dos Espetáculos MAQBÉTE: UMA INTERFERÊNCIA NA QUINTO
ou Quando se Experimenta TRANSMISSÃO ENSAIO
Oito Olhares sobre o NuTE
336 CRINU E CASTITE 337
Foto:

Foto: Wilfried Krambeck

Foto: Charles Steuck


Texto de Dostuevisqui da Silva.
Grupo: L.E.G.U.M.E. Palhaços.
Direção: Telja Rebelatto. Texto de Iran da Silveira.
Elenco: Ana Peres Batista, Juliana Goldfeder, Grupo: Elementos em Cena.
Charles Augusto. Direção: Cleber Lach; Codireção: Roberto
Músico: Lucio Locateli. Murphy.
Produção: Italo Reis. Elenco: Dorly Luchini, Lúcio Mello, Roberto
Fotografia: Glaucia Maindra. Murphy, Juliana Skutnik, Adriana Dellagustina.
Imagem-documentário: Glaucia Maindra, Italo Reis. Sonoplastia: Rubens.
Maquiagem: Ana Peres Batista. Iluminação: Rubia Cris.
Figurino: Juliana Goldfeder, Telja Rebelato.
Iluminação: Charles Augusto. Espetáculo:
Cenografia: O Grupo. www.youtube.com/watch?v=lWClvHpyisw
Coreografia: Telja Rebelato, Ana Peres Batista e
Juliana Goldfeder.
Espetáculo:
www.youtube.com/watch?v=4hE9tk8zg7k
O DE PRETO, O DE BRANCO E OS DE CORES O MONSTRO DE NUTESTEIN QUINTO
ou um, despretensioso, questionamento... ENSAIO

338 339

Foto: Charles Steuck


Foto: Charles Steuck
Texto: Wilfried Krambeck.
Texto de Wilfried Krambeck.
Grupo: Grupo AmaDores.
Grupo: Trupe SOU de Experimentações
Direção: Marco Antonio de Oliveira e Samantha
Teatrais.
Bernardo.
Direção Geral: Gisele Bauer.
Elenco: Daniella Curtipassi, Leonel Curtipassi,
Elenco: Ana Acácia Schuarz Schüler, Fábio Marco Antonio de Oliveira, Mariella Kratz,
Schmidt, Fernanda Borges Raupp, Kaio Gomes Samantha Bernardo.
Bergamim, Mariluce Rodrigues de Freitas. Produção: Alexandre Silveira, Daiana Hostins,
Sonoplastia: Ramon Jerônimo Trajano e Carlos Diego Vargas, Guilherme Reddin, Ruan Rafael
Alexande Schurubbe. Rosa.
Produção: Anna Mock. Fotografia, Imagens e Sonoplastia: Grupo
AmaDores.
Espetáculo:
www.youtube.com/watch?v=PVPk3U91iEQ Espetáculo:
www.youtube.com/watch?v=zQcabJ0A8a8
TRABALHO SUJO O AUTOR ESQUARTEJADO QUINTO
ENSAIO

Foto: Wilfried Krambeck


Foto: Bianca Macoppi
340 341

Texto de Iran da Silveira. Texto de Afonso Nilson.


Grupo: Konvidados. Grupo: Kontra Senha do Lado Avesso.
Direção: Rafael Koehler. Direção: Silvio José da Luz.
Elenco: Angelene Lazzareti, Daidrê Thomas, Elenco: Patrícia Aracelli Bieging, Anna Lena
Daniela Farias, Edegar Starke, Joanna Oliari, Riffel, Igor Trapinauska, Nayara Aline Schmitt
Kriséven Campana e Rafael Koehler. Azevedo, Katherine Hoge.
Coreografia: Edegar Starke. Produção: Cristiane Serpa da Luz, Katherine
Sonoplastia: Joanna Oliari. Hoge.
Figurino: Lú May. Figurino e Cenário: O Grupo.
Produção: Pedro Wolff e Bianca Macoppi. Maquiagem: Patrícia Aracelli Bieging.
Imagem-documentário: Bianca Macoppi e Iluminação: Silvio José da Luz.
Rafael Koehler.
Iluminação: Joanna Oliari. Espetáculo:
www.youtube.com/watch?v=9Bk5DUrY-eQ
Espetáculo:
www.youtube.com/watch?v=9Bk5DUrY-eQ
QUE CHEIRO É ESSE?!? A PEDIDOS QUINTO
ENSAIO

Foto: Charles Steuck


Foto: Charles Steuck
342 343

Texto de Wilfried Krambek. Texto de Giba de Oliveira.


Grupo: Badulak. Grupo: Equipe VísCera de Teatro.
Direção: Jean Massanero. Direção: Maicon Robert Keller.
Elenco: Aline Barth, Elisangela França (Zanza), Elenco: Cleiton Jr Pereira da Rocha, Cíntia
Jorge Gumz, Leomar Peruzzo, Suellen Junkes. Daniela Galz, Cíntia Tribess, Denis Roberto
Iluminação: Jean Massanero. Inácio, Evair Graciola, Mayara Luana Voltolini.
Sonoplastia: Aline Barth. Maquiagem: Fabrício Gustavo Gesser Cardoso.
Cenografia: Kethlin Luana Gusawa. Iluminação: Maicon Keller.
Figurinos: Bruna Aline Moraes, Suellen Junkes, Cenografia e Figurinos: Equipe VísCera de
Priscila Franzoi, Elisangela França. Teatro.
Maquiagem: Bruna Aline Moraes, Priscila Produção Executiva: Fabrício Gustavo Gesser
Franzoi, Suellen Junkes, Jorge Gumz. Cardoso
Produção: Kethlin Luana Gusawa. Produção Geral: Equipe VísCera de Teatro.
Fotografia: Dora Moraes.
Imagem-documentário: Priscila Franzoi. Espetáculo:
Participação Especial: Maicon (violino). www.youtube.com/watch?v=U1ZpVSuj_3I
Recomendação: 18 anos.
Espetáculo:
www.youtube.com/watch?v=IfWQ9Jfc_ZE
Foto: Maria Emília da Silva
QUINTO
ENSAIO

345

cena do espetáculo “a morta”.


atriz-pássaro: janaina meneghel.
Sexto Ensaio - 08 de julho de 2015 SEXTO
ENSAIO

Ensaio Final de Quarta-feira


No relógio do bar marcam 23h12min 347
Imagem Insistente: Estreia

Passamos os meses de maio e junho


trabalhando, quase que diariamente, no
espetáculo. Com a estreia marcada para 10 de
julho, ontem e antes de ontem tentamos um
ensaio geral. Apesar de um grande esforço
coletivo, a sensação que transbordava era de
um espetáculo ainda em desenvolvimento,
parecia não estar pronto, carecia de algo,
precisava ser finalizado. No ensaio de hoje à
noite mais uma vez isso se repetia. O grupo,
um tanto ansioso com a estreia, um tanto
perturbado com o inacabado, entreolhava-se;
todos os corpos, mesmo os inumanos e até os
imóveis, transpiravam interrogações. Como
vai ser? O que fazer? O público vai gostar?
Alguém vai nos criticar? Vão nos aplaudir?
Vai aparecer um personagem ressentido, que
não foi entrevistado, nos acusando de usar
indevidamente o dinheiro público? Vai aparecer
uma empresa, muito impressionada com nosso
trabalho, querendo patrocinar um novo projeto
via alguma lei de incentivo à cultura? Vão nos
amar, odiar, desprezar? Ficarão entediados,
surpresos, assustados? Alguém vai sorrir? E
lágrimas? Será que...
Lá pelas tantas, Silvinho propõe uma deixado pra gente, além dos aperitivos cênicos, SEXTO
intervenção etílica. O bar, a essa altura do um tal de Aperitivo Livretante. Esse Aperitivo ENSAIO
campeonato, parecia ser realmente a única Livretante era sobre a editora πpa. O problema
solução possível. Fomos beber. é que ninguém utilizou porque aquele merda do
Chegando ao estabelecimento, aproximamos Ator Guerrilheiro provocou uma guerra dentro
348 duas mesas e solicitamos ao garçom a primeira do grupo, a maioria dos atores abandonaram os 349
rodada de cerveja, pois em Blumenau, mesmo ensaios, mal conseguimos encenar o aperitivo
no frio de julho, sempre se bebe cerveja. Depois escolhido. Ou seja, não existe nenhuma cena
da quinta ou sexta rodada, algumas boas ideias sobre essas publicações.
começaram a surgir: – Por isso que eu sugeri chamar a tua mãe,
– E se no meio da peça a gente explodir tais entendendo agora? Podemos sentar a véia
tudo, podemos citar O Homem do Capote e numa banqueta e dar uma plaquinha pra ela
mandar tudo pros ares: teatro, público, cadeira, ficar segurando: PIPA. Vai ficar joia, joia...
BUMMMM, tudo voando, voando, ia ser lindo... – Eu acho que o que está publicado fala de
– É uma boa! Faria sucesso de crítica... si com muito mais força do que aquilo que tenta
– Olha, pessoal, pra dizer a verdade, eu interpretá-lo. Não tinha uma rubrica no projeto
acho que faltou alguma coisa, por isso estamos destinada a impressões de material?
assim... – Sim! Não usamos nada ainda, tá lá
– Assim como, bêbados? – risos. esperando...
– Meu analista sempre diz que a falta tem – Por que então a gente não seleciona esse
relação com o Complexo de Édipo... material, publica em formato de livreto e distribui
ao público durante nossas apresentações?
– Édipo? Quem sabe se a gente chamasse a
tua mãe então... – É uma boa ideia...
– Não, porra! Tô falando sério. Tipo a editora – É uma excelente ideia!
πpa, por exemplo, é uma marca forte do – É uma ideia que merece um brinde.
NuTE. Numa época que circulava pouquíssimo – Cacete, acabou a cerveja. Garçom! Traz
material sobre teatro na região, o que se mais quatro cervejas aqui, por favor...
conseguia traduzir, por sorte encontrar, ou O garçom trouxe as cervejas. Bebemos. As
mesmo produzir, publicava-se por lá; onde é cervejas acabaram, pedimos mais uma rodada.
que se fala dessas publicações? Depois da comemoração borbulhante, um
– No Quarto Ensaio. silêncio travoso amargava na boca. Amargou,
– Tá, mas pera lá, o que acontece não vai além amargou, até que Juliana, pedindo mais uma
de uma citação. Lembro que Alexandre havia rodada, saiu com essa:
– Eu ainda acho que faltou pesquisa sobre edições do JOTE-Titac, que não utilizamos pra SEXTO
a Estereocena... nada. ENSAIO
– Bobagem, a Estereocena aparece no – Olha – diz Pépe pegando um gancho – se for
Segundo Ensaio. Tem um trecho enorme da pra fazer mais um Ensaio sobre o JOTE-Titac,
entrevista do Alexandre explicando o que é; acho que o foco então deveria ser a pulsação
350 você até participa da cena, lembra? Com os artística que acontecia ao redor do NuTe, os 351
projetores multimídia... poetas, os músicos, os artistas plásticos, os
– Sim, sim, eu sei, mas tudo acontece num bailarinos, todo aquele clima de efervescência
relâmpago, é rápido demais pra importância artística que rolava, bem como todos os grupos
que tem. Acho que poderíamos ter explorado de teatro que se formaram dentro do NuTE.
mais... Antes de montarmos a Cia Carona de Teatro,
– O que dizer então do JOTE-Titac? – por exemplo, havia o Grupo Carona para Irmão
interrompe Wilfried. Sol e Irmão Lua, ambos foram antecedidos
– Não, Wilfried, peraí cara. Tem um Ensaio pelo Grupo Meu Grupo que nasceu dentro do
inteiro sobre o JOTE-Titac. NuTE. Tudo começou ali. Sobre isso quase
nada foi dito. Acho que são coisas que ficaram
– Mas é pouco, deveria ter mais coisas...
à margem...
– Tipo o quê?
– Mas Pépe, esse troço daria outro livro,
– Tipo uma cronologia, como aquela do digo, outro espetáculo...
Terceiro Ensaio, onde apareceriam os textos
– Cada um desses temas daria outro
premiados, seus respectivos autores, bem como
espetáculo, por si só...
os espetáculos encenados. Algo com maior
embasamento histórico. Acho justo porque o – Isso é verdade – respirações. As palavras
JOTE-Titac foi uma das coisas mais intensas se calam, apenas os copos conversam.
do NuTE. – Garçom, traz mais quatro cervejas, por
– Mas isso já foi feito. favor...
– Onde? Depois de alguns goles emudecidos, Afonso
diz:
– No livro Jogos de Teatro: 12 anos de
Teatro em Blumenau, publicado pela Cultura – E se, ao invés de preencher com algo
em Movimento, em 2000. faltante, criássemos alguns buracos pra coisa
toda escapar?
– Sim, mas é um tratamento totalmente
diferente do que estamos dando aqui. Insisto, – Do que você está falando?
pois existem quilos de material, inclusive – Dá licença, lembrei de que preciso ir ao
catalogados pela pesquisa, sobre as treze banheiro...
– Talvez – Afonso explica – estejamos – Boba? SEXTO
procurando no caminho errado; parece-me que – É. Meio ingênua. Quem é que consegue ENSAIO
o espetáculo não precisa de algo a mais, mas realmente fazer isso? A descrição é sempre
sim de uma fissura por onde escapar, um duto parcial. Para se falar sobre qualquer coisa
através do qual ele possa correr para todos os deixamos de falar sobre inúmeras outras. Não
352 lados, uma linha de fuga. tem jeito de escapar. Lembra quando Barthes 353
– Acho que você está bêbado... – gargalhadas. diz que escrever é um gesto político, que você
precisa optar a cada letra, a cada vírgula, por
– Peraí pessoal, vamos tentar entender a
uma estética, por uma ética33?
ideia.
– Se estou entendo bem, você está querendo
– Tá bom! Então me diz, como é que vamos
me convencer de que deixar a coisa pela metade
abrir buracos – risos – num espetáculo. é aceitável...
– Bem, eu não tenho exatamente uma – Mais que isso. Estou tentando te dizer que
receita pronta pra fazer isso, mas se vocês o fragmento é muito mais interessante que a
concordarem, podemos começar aceitando o totalidade.
fato de que o NuTE não cabe em um espetáculo. – Você pode até achar o fragmento mais
– Como assim? interessante, agora, para que as pessoas
– Acho que deveríamos aceitar que nossa consigam entender o que foi o NuTE, elas
pesquisa é falha, frágil, que construímos um precisam do todo. O fragmento não vai ajudá-
mapa provisório, um mapa que, para funcionar las a aprender melhor.
bem, precisa ser conectado a outros mapas, e – Aprender? Mas por que cargas d’água te
esses outros mapas nem existem ainda, estão preocupas em ajudar as pessoas a aprender?
por vir... Não há nada para se aprender aqui. O que
estamos fazendo passa muito mais por uma
– Eu não concordo com isso. Em minha
esfera artística do que racional. Isso aqui não
opinião, o espetáculo precisa abarcar o NuTE
é catequese, não é aulinha de telecurso do
como um todo.
segundo grau. Só queremos servir à história à
– Como um todo, ou como um tolo? – risos. medida que ela serve para a vida. Se a história
33. Roland Barthes em
– Quem comeu o tolo? – mais risos. não serve para a vida, ela não nos serve34. Grau Zero da Escritu-
ra.
– O Tolo ou o Bolo? – ninguém achou graça. – Ah! Essa é boa! Se a função desse
Constrangimentos. Calados, todos bebem. espetáculo não é construir um aprendizado
34. Friedrich Nietzs-
– Cara, essa ideia de todo é meio boba, você sobre o NuTE, então ele serve pra quê? che. Da utilidade e des-
vantagem da história
não acha? – Para libertar as pessoas... para a vida.
– Você está bêbado, só pode ser... – risos. é patético. Se algum cheiro, sabor, clima, tom SEXTO
– Então vou chamar alguém sóbrio que fale nuteanescos chegarem às pessoas através de ENSAIO
por mim. Pode ser? nosso espetáculo, é justamente porque ele
– Vai ser difícil encontrar um por aqui, não é totalitário, é porque conseguimos de
hein... – risos. alguma forma manter o processo em aberto.
354 Não podemos transformar a vida palpitante, 355
Afonso apanha sua mochila preta e retira
de dentro dela um volumoso livro de capa plena de energia, num produto finalizado, bom
esverdeada. Folheia algumas páginas até apenas para se expor em vitrines. Além do quê,
chegar à 147. Por fim, aos ouvidos ansiosos em NuTe escapa por todos os lados, não permite
sua volta, sorrindo, pões-se a ler: uma apropriação, parece haver intrincado
em seu próprio funcionamento uma máquina
Torna-se decisivo que o abandono da totalidade não anarco-rizomática que estende suas paisagens-
seja pensado como déficit, mas como possibilidade memória em múltiplos sentidos/direções.
libertadora – de expressão, fantasia e recombinação
– que se recusa a “fúria do entendimento”35.
NuTE não se deixa apanhar, governar, definir,
catalogar, restringir, dizer o que é. Assim, se esta
pesquisa se quer filiada ao que busca pesquisar,
– Na minha opinião, se essa foi, se nós a
nada melhor que anunciar suas fragilidades,
utilizamos para levantar esse espetáculo,
seus equívocos, suas dificuldades. Nada mais
também deve continuar sendo a política do
natural que provocar outros pesquisadores a
NuTE. Mesmo sem saber, mesmo quando
escrever-encenar sobre o NuTE. Pois era assim
não era proposital, NuTE sempre esteve work
in progress. Se utilizamos o mesmo recurso que tudo funcionava dentro do NuTE. Certa
para montar um espetáculo sobre esse tema, vez, escutei Alexandre Venera dizendo que o
precisamos minimamente zelar por essa momento mais interessante de um espetáculo
estrutura. Tentar falar do NuTE através de é a sua montagem. Por que não fazemos disso
uma totalização é trair o processo NuTE que o nosso refrão?
sempre preferiu os fragmentos, que sempre – Porque agora, meu caro filósofo, nós
buscou libertar a si mesmo e ao mundo da precisamos estrear, depois de amanhã vai
fúria do entendimento, da grande razão, da acontecer a estreia deste trabalho e não vai
consciência que tudo apreende, que tudo sabe, ter nenhum desses conceitosinhos bonitos no
que tudo ensina, que tudo enjaula, tranca, palco para nos proteger de um grande vexame...
35. A expressão “fúria
do entendimento” é de aprisiona. Não podemos ter a arrogância, a – Pessoal, eu sei que estamos há um bom
Jochen Horisch, a ci- presunção e a prepotência de querer ensinar
tação foi extraída de tempo nos dedicando a esse espetáculo. Sei
Teatro Pós-Dramático as pessoas o que foi o NuTE. Montar uma que as pessoas virão nos assistir. Muitas delas
de Hans-Thies Leh-
mann. NuTE-Biografia é ridículo, é romântico demais, estão esperando assistir uma Nute-Biografia,
uma historinha início-meio-fim sobre o NuTE. sua última fase. SEXTO
O que precisamos responder para nós mesmos – Olha, isso tá muito lindo, tô até ficando ENSAIO
é: afinal de contas, o que nós temos para dar emocionado, não sei se é a cerveja, às vezes me
a elas? O que vamos apresentar? O que temos dá uma caganeira desgraçada... Mas você acha
para encenar? mesmo que podemos sustentar o espetáculo
356 – Ensaios? nessa coisa meio sem chão que a arte permite 357
– Exatamente. Vamos apresentar nossos acessar e que a vida cotidiana tende a bloquear?
ensaios, nossos fragmentos. Nossas tentativas Isso não fica meio, como dizer, solto, quase
de montar um espetáculo. Ou melhor, a própria metafísico, um papo de bêbado, não?
montagem. Vamos lhes apresentar, nas palavras
– Tudo é delírio, mesmo o mais sério dos
de Venera, aquilo que há de mais interessante
burocratas passa a vida a se embriagar
num espetáculo. É isso que vamos encenar. Se
com códigos, sistemas, números. Mesmo o
estivéssemos escrevendo um livro e a estreia
revolucionário que tomou para si a missão de
fosse sua publicação, seria correto dizer que
melhorar o mundo conscientizando as massas,
mesmo depois de publicado ele continuaria em
desenvolvimento, Nonstop Work in Progress. Já iluminando a todos, mesmo Don Quixote ou o
que a biblioteca Nutrindo permanecerá aberta mais sisudo dos empresários de terno e gravata,
a novos nutrientes, materiais encontrados em também o Cavaleiro Inexiste, uma dona de casa
pesquisas que estão por vir; o blog NuTE Para lavando roupa, um pescador na proa do barco
Todos vai hospedar a publicação, para que ou Gurdulu em sua sopa, todos deliram. Não
todos possam livremente baixar, ler, comentar, existe outra saída para a existência humana
quando e como lhes parecer melhor. Assim, que não seja o delírio.
as discussões realizadas, que se acumularam – Isso também é bonito, mas não diz merda
durante a montagem, não param por aqui, nenhuma.
vão continuar acontecendo mesmo depois da – Não diz pra ti, está tudo aí seu babaca.
estreia-publicação. Trata-se de um espetáculo
– Tudo o quê?
em devir, onde não interessa tanto a história
factual, os próprios fatos, mas sim algo que a – Vou tentar te explicar com laranjas.
arte permite acessar e que as convenções da vida Presta atenção. A vida humana impõe um
cotidiana tendem a bloquear. Nesse sentido, problema a todos. Indiferente de classe social,
o espetáculo não serve como um totalizador gênero, etnia, crença, grau de inteligência,
histórico do que aconteceu, mas sugere pistas ninguém, ninguém mesmo atravessa a vida
de como acontecia, dos principais nutrientes sem responder a isso. Se você quiser conversar
e dos venenos mais consumidos, forças não com os humanistas de plantão, talvez esta
menos intensas que o fizeram improdutivo em possa ser a condição humana, aquilo que nos
difere dos outros animais. Ter que responder – Não! Eu quis dizer exatamente o que disse. SEXTO
a isso, ou melhor, responder a isso é o que Deus é uma resposta, assim como a ciência é ENSAIO
passamos a vida fazendo. É um problema bem uma reposta, assim como a arte é uma resposta,
simples até, de se colocar. Mas a sua resposta assim como a cerveja, o sexo, o dinheiro, o
é múltipla, existem centenas de milhares de trabalho, o amor, passar a vida economizando
358 possibilidades. E a vida de cada um de nós é cada centavo para comprar aquela casa, aquele 359
exatamente aquilo que conseguimos dar como carro, aquela roupa, são respostas que nos
resposta a esse problema. O NuTE, portanto, conectam com a vida. Eis o sentindo mais
meu caro, é uma resposta. profundo do Religare. Enquanto nos ocupamos
– Mas do que você está falando agora, cacete, em responder, esquecemos temporariamente o
resposta do quê? Que maluquice de problema problema e assim a vida se torna possível.
universal é esse que o NuTE responde?
– Mas isso é um absurdo. – interrompendo
– O NuTE é uma resposta à finitude da vida, – Você não pode colocar Deus, NuTE, um carro,
uma resposta à morte. A gente falou um pouco
por melhor que seja, mesmo se for uma Ferrari,
sobre isso no Quarto Ensaio, lembra? Qualquer
no mesmo nível de uma peça de roupa ou de
inseto, camundongo, cachorro, girafa, avestruz,
um copo de cachaça...
percevejo ou rinoceronte eleva ao máximo o
grau de potência em sua vida. Com exceção – Olha, querido, vou te contar, dependendo
do homem, os animais estão instintivamente a peça de roupa que eu quiser comprar, pode
equipados para fazer de sua pequena existência custar o mesmo preço da sua Ferrari... – risos.
um núcleo de poder. Mas nossa espécie foi – Ah! Vão à merda. Não é disso que estou
amaldiçoada com a consciência, sabemos falando e vocês sabem. Se tudo é igual, se tudo
que vamos morrer, sabemos que enquanto vale a mesma coisa, se nada é melhor ou pior,
estivermos vivos vamos sofrer e sabemos que então esse espetáculo é um presente de grego.
não há sentido natural nisso. Eis o problema Promete levar o público a experimentar NuTE
humano: o que fazer com isso, como lidar com em sua embriaguez dionisíaca, seu Work in
essa falta, ou, na formulação proposta por Progress de intensidades e delírios, mas o que
Grotowski: Como Viver? realmente faz é cavar um buraco niilista para
– Você está insinuando que Deus não existe? enterrar a todos. Seduz o público, tal qual o
– Não! Estou dizendo que Deus é uma Flautista de Hamelin, com belas imagens e
resposta... conceitos, e quando todos estão dentro do
– Ah! Bom, pensei que você fosse... O quê? espetáculo, abre o chão e os despeja num
Uma resposta? Você quis dizer que Deus é a imenso vazio. Ao invés de chamar NuTE Para
resposta. Todos esse projeto deveria ter sido batizado de
Niilismo Para Todos. começar a levantar paredes, é preciso limpar o SEXTO
– Garçom, traz mais umas cinco cervejas, terreno, preparar o aterramento e a fundação, ENSAIO
por favor... colocar as vigas e aí sim, com muito cuidado,
– Acabou meu cigarro, posso pegar um dos assentar tijolo a tijolo. Trata-se de uma casa
teus? que nunca se termina de construir, Work in
360 – Claro! Alguém mais quer? Vou deixar aqui
Progress infinito, invenção de si, de mundo, de 361
uma vida como obra de arte.
na mesa, se quiserem, é só pegar.
Dennis acende um cigarro, toma um gole da – A estes, e apenas a estes que procuram por
cerveja gelada que acabou de chegar e, por fim, uma vida como obra de arte, nós apresentaremos
quando o copo se assenta na mesa, categórico, um espetáculo como obra viva, um espetáculo
respira: em desenvolvimento, que se pode ajudar a
construir, que não está morto, mumificado,
– A casa começa no caos sendo acaso,
pronto para ser aprendido, vendido, comprado
cálculo, coito como sacas de cal ou sinais
numa prateleira do mercado. A melhor ilusão
escavados, caiados nos ocos36.
é a própria vida: amar o destino, aceitá-lo,
– E daí?
desejar seu eterno retorno. Eis nosso presente
– Quis dizer que só existe um jeito de se apolíneo ao mundo: um espetáculo para todos
ultrapassar o niilismo. – silêncio. e para ninguém...
– Indo ao fundo, ao mais profundo, ao para
– Calma cara, você está ficando um tanto
além da casa vazia. Amor Fati.
megalomaníaco. Tira a cerveja dele...
– Escuta, acho que estou um pouco bêbado,
– Acho que o efeito do Nietzsche é maior do
do que ele está falando, hein?
que o do álcool...
– Que para superar o niilismo é preciso
– Então tira o Nietzsche dele...
encará-lo de frente, ou seja, aceitar a vida como
ela se apresenta. Topar a finitude, o sofrimento, – Mas como se faz isso?
a ausência de sentido, como o pedreiro toma um Em meio a este curioso debate, atônitos,
saco de cimento para construir uma casa. Se já assistimos se aproximar de nossa mesa
não conseguimos mais nos esconder na barra da Alexandre Venera dos Santos. O diretor puxa
saia de um Deus morto, precisamos encontrar, uma cadeira ao lado de Juliana, acende um
fabricar novas respostas que nos religuem à cigarro e pede um cuba ao garçom. Constrangido
vida nua, à vida crua, à vida finita, trágica e com o silêncio ruidoso em sua volta, pergunta-
36. Trecho do poema incrivelmente bela. Trata-se de experimentar o nos a quantas anda o espetáculo. Conta que
Cultivo do Acaso de vazio em toda sua plenitude, para ter condições
Dennis Radünz, in Li-
acabara de fazer download do Quinto Ensaio, o
vro de Mercúrio. de preenchê-lo com boas respostas. Antes de qual lhe pareceu uma solução muito boa para
o JOTE-Titac, e que agora está muito curioso, – O que forçou esse grupo de pessoas à SEXTO
querendo assistir à estreia. resposta NuTE chama-se Vontade de Poder. ENSAIO
O exercício de anotar cenas para a – Ai, ai, ai, agora o bicho vai pegar...
composição de mundos durante os Ensaios – Olha, como diria o sábio deputado, pior do
carregou-me a um estranho vício, desde então, que tá não fica; depois do buraco niilista o que
362 não consigo mais conviver em grupo sem anotar vier é lucro...
363
tudo que se passa em minha volta. Em virtude – Vontade de Poder? – Alexandre não aceita
deste malefício que se apossou de minha muito bem a solução gaguejada – Qual seria a
natureza, estava, mais uma vez, descrevendo as relação da Vontade de Poder com a resposta
conversações que até então ali se fazia, naquela NuTE?
mesa de bar. Riscos e rabiscos transportados
– É que A Vontade de Poder se deixa mostrar
às mãos do diretor, que se põe a ler calmamente
em todo vivente, que tudo faz não para se
enquanto o garçom trazia mais duas rodadas de
conservar, mas para se tornar mais38...
cerveja. Bebemos, fumamos, Giba pediu uma
porção de babatas fritas. Por fim, Alexandre – Hein?
se surpreende dizendo que o NuTE sempre lhe – Você está insinuando que o que fez/faz o
pareceu uma resposta à algo, embora nunca NuTE ser NuTE é uma Vontade de Dominar, de
tivesse se perguntado ao que ele respondia. controlar, de subjugar as pessoas?
Parabeniza o grupo pela discussão e questiona – Não! Não é nada disso. A Vontade de Poder
a validade de um instrumento que generaliza a qual me refiro não tem nenhuma relação com
tudo a ponto de ser possível interpretar qualquer algo que queira o poder, ou deseje dominar. Se
coisa a partir dele. Se tudo é resposta, o que interpretamos a Vontade de Poder no sentido
37 Há muita publi- mais me interessa – diz Alexandre – é saber o de Desejo de Dominar, fazemo-la forçosamente
cação a respeito do
Lume, um livro inte-
que produziu, o que fez acontecer uma resposta depender de valores estabelecidos, os únicos
ressante é A Arte de NuTE; suas diferenciações respostivas. Ou capazes de determinar quem deve ser
Não Interpretar Como
Poesia Corpórea do seja, o que faz com que a resposta NuTE seja reconhecido como o mais poderoso neste ou
Ator, de Renato Fer- diferente da resposta LUME, Equipe Vira Lata,
racini. Sobre Equipe
naquele caso, neste ou naquele conflito. Desse
Teatral Vira Lata ver Fênix? O que teria levado esse grupo de pessoas modo, ficamos sem conhecer a natureza da
O Jardim das Ilusões,
de Édio Raniere. So- a responderem dessa forma e não de outra37? vontade de poder como princípio plástico de
bre Grupo Fênix não todas as nossas avaliações, como princípio
encontramos nenhum Novamente apenas os copos conversam. 38. Wolfang Müller-
Lauter in A Doutrina
livro em específico, po- Aos poucos, a fumaça dos cigarros vai se escondido para a criação de novos valores da Vontade de Poder
dem ser consultados em Nietzsche, p.55.
artigos de Edith Kor- materializando numa espessa nuvem branca. não reconhecidos. A Vontade de Poder, diz
mann, fundadora do Nietzsche, não consiste em cobiçar sequer em
grupo, e Noemi Keller- Tossindo, gaguejando, tropicando nas letras, 39. Gilles Deleuze in
Nietzsche, p.22
man. uma voz se arrisca: tomar, mas em criar e em doar39.

– Criar e Doar!? Sabe que esse troço lembra usar um termo que gera tanta confusão como SEXTO
mesmo o NuTE... Alguém já se perguntou, Vontade de Poder? ENSAIO
afinal, qual era a do NuTE, o que eles realmente – Porque é a forma mais precisa que temos
queriam? Se a gente parar pra pensar, os para falar sobre isso. Nenhum morto pode
espetáculos não eram comerciais, nunca se desejar mais vida, pois dele a vida já se esvaziou,
364 ganhou dinheiro, nem fama, ou qualquer coisa assim como aquele que está vivo não tem como 365
desse tipo. Mas o que se ganhava, então? Com querer mais vida, já que a vida está nele e ele já
que moeda NuTE pagava as contas? está na vida. Trata-se de querer ir além do que
– Me parece que o que estava em jogo, se é, aumentar seu poder. Quem participou de
durante os dezoito anos de atividade do NuTE, um JOTE-Titac sabe bem o que é isso...
era atingir níveis mais altos na Vontade de – JOTE-Titac?
Poder, permitir que esses níveis aumentassem – Sim, ou você acha que as pessoas passam
o próprio poder. Eis o que o NuTE fez/faz por três dias sem dormir porque querem ganhar
nós. Artaud chegou bem perto de formular isso um trofeuzinho. O que está em jogo realmente
com clareza quando disse que não é a arte que é uma absurda vontade de criar e de doar, de
imita a vida, mas a vida que imita algo essencial compartilhar um espetáculo. Num JOTE-Titac
que a arte nos põe em contato. a Vontade de Poder atravessa um escritor que
– Não sei se estou entendendo bem, me tem seus escritos encenados, um diretor cuja
parece que você está querendo contrapor a concepção está em cena, um ator que quer ir
vontade de poder à consciência humana da além de si mesmo, que se faz cena, que se doa
finitude; é isso? ao público num corpo-obra de arte.
– De certa forma, sim; trata-se de uma – Agora entendi, você está falando é daquela
questão de vida ou morte. Um gato não precisa adrenalina que toma conta da gente durante o
de arte para aumentar sua vontade de poder, ele JOTE-Titac...
eleva ao máximo grau de potencia sua vida em – Não! Estou falando de um princípio que
quase todos os instantes, também uma árvore, move o mundo e que, em última instância,
uma flor ou um jacaré assim o fazem; mas move também a espécie humana.
para nós a Arte é algo vital, nos mantêm vivos, – Tá, tá, tá; só não vai começar a generalizar
sem sua resposta leve, todos estaríamos bem tudo de novo.
mais próximos do suicídio, dada a ausência de – Por que você acha que estou generalizando?
sentido, o sofrimento inerente à vida e o peso – Oras, se a Vontade de Poder força todos a
das grandes respostas. serem o que são e a resposta, que discutimos
– Mas então, não seria mais acertado dizer há pouco, é necessariamente dada por todos,
que se trata de uma Vontade de Vida? Por que onde fica o NuTE nisso tudo?
– NuTE Para Todos e para Ninguém... garçom levanta o porrete em tom de ameaça. SEXTO
– Eu me refiro à pergunta do Alexandre, se Giba retira um canivete do bolso e o chama ENSAIO
tudo é Para Todos, onde está a singularidade- para briga. O pessoal do “deixa disso” age
NuTE? rapidamente, conseguindo segurar ambos.
– Pensar a singularidade de um corpo é – Calma aí, meu povo, se todo mundo
366 pensar como a vontade de poder se manifesta colaborar com um pouquinho, a gente consegue 367
nele, pois é assim que ele responde à finitude. pagar e ir embora sem confusão...
Ou, dizendo de outra forma, pensar o processo A trupe passa alguns minutos a esgravatar
de diferenciação de um corpo é pensar como profundamente carteiras, bolsos, meias. Aos
ele responde à finitude, porque é assim que se poucos, as moedas começam a tilintar sobre a
manifesta nele A Vontade de Poder. mesa:
– Beleza, então vamos lá... – todos se
levantam, sacodem a poeira, tomam rumo da V1 – Vontade Musical – Assistimos
porta de saída... no Segundo Ensaio às suas principais
– Ei, seus vagabundos, onde é que vão sem manifestações em Wilfried e Venera. Para além
pagar a conta? – grita o garçom, passando a das personas esta vontade se espalha em todo
mão num cassetete que até então repousava
o grupo. Em entrevista, Dennis Radünz define
sob o balcão.
o NuTE como uma Banda de Rock:
– Putz, alguém tem grana?
– Quanto é que deu?
Acho que nós éramos uma banda de rock, na
– Tá aqui a conta. – o garçom joga a nota verdade, só que nós não tocávamos, fazíamos
sobre a mesa. teatro. Nós tínhamos essa mesma energia. O
– Caramba! Tudo isso? Faleiro, recordo bem as palavras dele (ele recordou
isso comigo no ano passado), dizia assim: “o que
– Mas isso é um roubo, a gente não bebeu mais me impressionava em vocês era a vontade de
tanto assim. fazer teatro”. (página 12).
– Todo mundo senta aí e podem ir juntando
os trocados, senão vou chamar a polícia. Tão V2 – Vontade de Saber – Uma vontade
pensando que é vir aqui, encher a cara e sair de saber sobre teatro, de conhecer mais, de ir
de fininho é!? Beberam a noite toda e agora além daquilo que aprendeu, mais que isso, de
querem sair sem pagar... ultrapassar o conhecimento da comunidade,
– Não é isso, mas é que tô achando que nove dos seus pares, de todos a sua volta. De criar
vontades e quatro respostas é muito dinheiro. alianças com Mestres distantes, estrangeiros,
Ninguém aqui bebeu pra tanto... de beber em fontes desconhecidas. Esta vontade
– Beberam sim; Ana, liga pra polícia – o perpassa todos os Ensaios deste espetáculo-
livro. Suas principais manifestações percorrem Terças tem Teatro. Ambos os projetos preparam SEXTO
um longo caminho, vão desde os encontros terreno para criação do JOTE-titac. ENSAIO
iniciais que inauguram o espaço NuTE, V4 – Vontade de Encenar – Assistimos
passando pelos cursos de Faleiro, Simioni, às suas manifestações no Terceiro Ensaio,
Editora πpa, Escola NUTe, Internute. Mesmo através do absurdo número de espetáculos
368 no JOTE-Titac e nas montagens, percebe-se montados – Cento e Oitenta e Quatro -, 369
uma vibração intensa pelo conhecimento. também assistimos às suas manifestações no
Quinto Ensaio, através do experimento JOTE-
V3 – Vontade de Ensinar – Tal qual a taça Titac. É interessante notar como a Vontade
de Zaratustra, pronta para transbordar, para de Saber e a Vontade de Encenar por vezes
derramar, esta terceira vontade parte em busca aparecem juntas – a didática utilizada pela
de mãos que se estendam a ela. Assistimos Escola NUTe, por exemplo, onde o aluno
às suas principais manifestações no Segundo aprendia fazendo, montando espetáculos, bem
Ensaio: cursos de mímica de Wilfried – ainda como várias montagens do próprio NuTE, onde
na Sulfabril – e os primeiros cursos de teatro o tempo dedicado à pesquisa era superior ao
dentro do NuTE. Também assistimos às suas tempo dedicado à circulação, às apresentações
manifestações no Quarto Ensaio, onde um do espetáculo finalizado. Vale aqui lembrar,
Núcleo de Teatro Experimental se transforma mais uma vez, a máxima de Alexandre Venera,
em Núcleo de Teatro Escola e a Vontade de segundo a qual o momento mais interessante
Ensinar cresce a tal ponto de quase sufocar de um espetáculo é sua criação, seus ensaios.
a Vontade Experimental. Também é possível
perceber suas ressonâncias em algumas R2 – Resposta JOTE-Titac – Possível
produções escritas, como exemplo, a coluna resposta ao formato que o Festival Internacional
que Alexandre Venera manteve, por anos, no de Teatro Universitário de Blumenau acabou
Jornal de Santa Catarina e as publicações da tomando. Em artigo publicado no livro Jogos
Editora πpa. de Teatro: 12 anos de teatro em Blumenau,
Alexandre Venera escreve:
R1 – Resposta Hoje tem Teatro – No princípio de 1986, Dalton Gonçalves,
Assistimos ao desenvolvimento desta resposta Daniel Curtipassi, José Ronaldo Faleiro e eu
no Segundo Ensaio, onde Alexandre Venera, organizávamos o festival de teatro que veio a
como coordenador de eventos do Teatro Carlos tornar-se o importante “Festival Universitário
Gomes, responde à ausência de teatro dentro de Teatro de Blumenau”, promoção
do Teatro. Este projeto resposta será o estopim respectiva às personalidades acima da RBS
para inveção, dois anos mais tarde, do Três TV, Departamento de Cultura da Prefeitura
Municipal de Blumenau, FURB e Teatro SEXTO
Carlos Gomes/NuTE. Incumbido da criação do (...) qualquer forma de lei é forma de criar limites, ENSAIO
regulamento desse festival, apresentei na época ou patamares, ou então apoios... No momento em
que a pessoa tá se apoiando, ou criando apoios,
uma opção de regras que, meses depois, veio a ela tá segura, ela tá tranquila, quer dizer, nessa
ser o embrião para os JOTE-Titac. proteção existe uma espécie de lei, em que ela tá
370 sendo dominada. (página 6). 371
V5 – Vontade de Artista – Perpassa todos os
V7 – Vontade de Coletivos – De estar com
Ensaios aqui apresentados. Vontade de respirar
outros, de produzir junto, de criar coletivamente,
arte, de se artistar, de inventar-se artista, de
de compor um espetáculo com músicos, artistas
sobreviver artisticamente. Em entrevista, Pépe
plásticos, escultores, poetas e até mesmo com
Sedrez diz que:
não artistas. Quando do convite à montagem
de Apocalypsis Cum Figuris na Visão de Santa
Eu lembro que Marcos e eu tínhamos nessa época
o conflito de ter de servir o exército, e a gente tava Catarina, os Anjos e Nós, Alexandre Venera
morrendo de medo... Largamos nossos empregos. espalha cartazes pelo Teatro Carlos Gomes
Eu trabalhava na Ceval, que hoje é Bunge, e tinha
onde se lê: Somos muito poucos para Dividir. A
lá uma dita carreira promissora... Larguei pra
fazer o espetáculo... (...) Eu queria fazer só teatro sonoplastia do Teatro da Terra era feita por uma
e tomar conta da família, essas coisas todas. Eu banda, com guitarras elétricas, bateria, baixo,
tinha só 18 anos, e era uma loucura, naquela
época largar... Sei lá, eu sou de família pobre e o
em meio à floresta. Em Senhoras e Senhores há
meu salário era importantíssimo, era entregue na uma performance do bailarino Edson Farias.
mão da mãe ainda, ela tirava quase tudo e dava Em vários espetáculos do NuTE, o cenário era
uma graninha pra gente sair no fim de semana ou
pagar os estudos também, e eu larguei tudo pra
composto em parceria com o artista plástico
fazer teatro, inclusive a escola. Inclusive as aulas Tadeu Bitencourt. Cio das Feras e Apocalypsis
porque... Nós ensaiávamos somente à noite, não utilizam poesia catarinense. No artigo que
precisava talvez ter largado o emprego, mas eu
sabia que isso ia funcionar em seguida. Eu queria, Alexandre Venera publica junto ao livro Jogos
achava necessário chegar no ensaio já com alguma de Teatro: 12 anos de teatro em Blumenau,
coisa trabalhada. (página 8). encontramos uma interessante lista onde se
nomina alguns membros destes coletivos:

V6 – Vontade Libertária – uma vontade


nas artes plásticas: César Otacílio, Fernando Alex,
anárquica, de liberação de si e do mundo, de Crista Sitônio, Francis Bento, Simone Tanaka,
ausência de lei, Deus, governo. Atravessa todo Sola Ries, Janete Dallabona, Terezinha Heimann,
o espetáculo-livro, em especial o Segundo, Tadeu Bitencourt; no ballet: Edson Farias, Grupo
de Dança e Sapateado do Pró-Dança de Blumenau;
o Quarto e o Sexto Ensaios. Em entrevista, os arquitetos: Leo Campos, Etson e Jaime Jung;
Alexandre Venera diz que: os músicos: do Tranca Rua, do Baurimbe, Nana,
Hector Lagos, Giovana Voigt; os publicitários: da Fusão Liturgia do Teatro e Para-choques. SEXTO
Claus Jensen, Paulo Porche, Dicesar Leandro;
V9 – Vontade de Guerra – Uma vontade de ENSAIO
a equipe da Gráfica da Fundação Cultural de
Blumenau: Giba Santos e em especial o Sr. Bernardo jogar, disputar, guerrear, vencer, de ir além de
Tomelin; os poetas, escritores, dramaturgos, si mesmo. Assistimos às suas manifestações,
críticos, jornalistas, editores: Tânia Rodrigues,
em especial, no Quarto e no Quinto Ensaio.
372 Tchello d’Barros, Marcelo Steil, Marcelo Ricardo
d’Almeida, Douglas Zunino, Sandra Heck, Gervásio
373
Tessaleno Luz, Vilson Nascimento, Joel Gehlen,
Eliane Lisboa, além dos autores incluídos nesta
O tilintar das moedas sobre a mesa abre
antologia: Raquel Furtado, Carlos Peixer Vinci, um portal por onde o Ator Guerrilheiro
Bernadete da Silva, Alceu Custódio, Horácio Braun rompe as grades do Quarto Ensaio. Surge
Jr., Sidnei Mafra; o pessoal do teatro (como
júri): Carlos Crescêncio, Carlos Jardim, Silvio
sorrindo, empostando sua metralhadora,
José da Luz, Lorival Andrade, Álvaro Andrade, achando graça na cena NuTES pagando as
Luiz Sampaio, Gabriela Diaz, Roberto Mallet, Pita contas. Numa gargalhada infernal, liga a
Beli, Cida Milezzi, Denise da Luz, e o pessoal não
metralhadora e dispara sobre o grupo rajadas
júri: Mauro Ribas Neto, Paulo Camargo, Sandra
Cardoso; aos técnicos: Lúcio Vieira, Nei Leite, e mais rajadas de balas. O evento dura uns
Lúcia Siqueira, Ivan Felicidade, Jussara Barbosa; cinco minutos, aproximadamente. Quando
os atores e diretores (dentre o grande pessoal
se encerra, encontramos Pépe descascando
participante, muitos dos premiados): Margareth
D’Niss, Sandra Knoll, Silvana Costa, Jussara uma de morango; Alexandre, que prefere as
Balsan, Carla Mello, Leo Almeida, Giseli Marcílio, de carambolas, junta um punhado sobre a
Bia Brehmer, Juliana Vendrami, Rita Machado,
mesa; e mesmo o garçom mastiga uma de
Francinete Bitencourt, Patrícia Schwartz, Anice
Tufaille, Raquel Wollert, Pollyanna da Silva, hortelã. O grupo, muito irritado, organiza-
Sidnéia Kopp, Regina Simas, Andrea dos Santos, se para perseguir o Ator Guerrilheiro, que a
Iraci Krambeck, Paula S. Igreja, Alan Imianowsky,
essa altura corria pelado rua XV de Novembro
James Pierre Beck, João da Mata, Kalinho Santos,
José Aparecido, Fábio Shaefer, Roberto Morauer, abaixo. Muitos dos presentes consideram o Ator
Pedro Dias, Luis Alberto Rafael de Almeida, Oto Guerrilheiro o verdadeiro culpado pelo fim do
Müller Alexandre, Diogo Junkes, Nelson de Souza,
NuTE, e assim debatem a melhor forma de punir
Marcus Suchara.
seu crime. Alexandre intervém a favor do Ator
Guerrilheiro. O diretor argumenta que o ator
Um núcleo de teatro em torno do qual não pode ser responsabilizado individualmente
gravitavam artistas, não artistas e outros seres. por uma cena. Se o NuTE terminou é porque
o espetáculo, como um todo, movimentou-se
V8 – Vontade do Novo – Ligada às respostas nesse sentido, não poderia ter acontecido de
Hoje Tem Teatro, JOTE-Titac, Editora πpa e à outra forma. O ator não tem culpa, porque
grande maioria dos espetáculos encenados pelo sua ação é anterior à invenção desta. O ator
NuTE, destaque para as montagens do Grupo apenas desempenha o seu papel, da mesma
forma como você, neste exato momento, está o local de ensaio, era uma casa cheia de quadros, SEXTO
as paredes todas pintadas, cheia de instalações,
desempenhando o seu. E assim, trazendo a ENSAIO
era uma loucura. Aquilo que eu sonhei a vida toda
inocência de volta ao espetáculo, o Ensaio pode eu vivi naquele momento. Foi uma experiência
continuar. incrível. (página 8).

374 R3 – Resposta à Mediocridade – Impulso V10 – Vontade Experimental – No Terceiro 375


à diferenciação; desejo de ir além das Ensaio, assistimos a uma cronologia com todos
convenções sociais, dos modelos existenciais os espetáculos experimentais e didáticos. Esta
pré-determinados, de se produzir estranho às dicotomia, um tanto arriscada, pareceu-nos
normas estabelecidas. Interessante perceber o oportuna para evidenciar ambas as forças. Ou
quanto essa resposta está ligada à Vontade de seja, seu embate demonstra o quanto a Escola
Coletivos e à Vontade do Novo. Em entrevista, NUTe serviu como trampolim à experimentação.
Nira diz o seguinte: Ou seja, as aulas e os espetáculos didáticos
eram necessários para a sobrevivência
(...) eu morava numa cidade muito pequena dos professores, mas o que realmente lhes
e conservadora, pra um adolescente como eu interessava, o platô onde vibravam suas
era. Então, num primeiro momento, assistir o
Apocalypsis me deixou muito feliz. E num segundo existências, estava conectado ao vetor oposto.
momento me deixou depressivo, porque eu vi Em entrevista, Alexandre Venera diz:
que aquela vidinha que eu tava levando, naquela
cidadezinha, não era uma vida que eu gostaria de
levar. Então, de 1989 pra 1993, quando eu entrei Aí eram vários alunos, turmas, o pessoal tendo
no NuTE, são quatro anos, durou muito tempo. que organizar aula, ensinar pro cara que entrou,
Então, nesses quatro anos, a vontade de fazer a primeira vez que subiu no palco, o quê que ele
alguma coisa foi crescendo, só que eu não tinha faz, onde põe a mão (...) E ao mesmo tempo o cara
vazão, não tinha como eu fazer nada. Então um ano que tava ensinando isso, querendo fazer a sua
antes de eu entrar no NuTE, eu tive uma depressão arte também. Então ele tinha que dar aula pra
muito grande, muito forte, que quase... Enfim. Mas ganhar dinheiro, mas ele tinha que fazer o seu
saí. Quando eu entro pro NuTE, com 20 anos né, teatro também... Aí tinha que ter o grupo iniciante,
era uma vida inteira de... Assim, querendo me dos alunos, pra alimentar o sonho dos... Porque
expressar sem poder, e que eu começo, naquele ninguém entrou ali no NuTE pra ser professor...
momento ali. Então, num primeiro momento, tudo O professor era uma forma de ganhar um troco
o que eu fazia era muito pouco. Eu queria ter... Eu e poder viver do teatro com uma certa garantia
queria fazer teatro 24 horas por dia. Mas claro, não (página 18).
dá. Aí no segundo ano, em 1994, quando já não era
mais só aluno do NuTE, já era um fazedor de teatro
também, aí sim, aí eu começo a entrar de cabeça R4 – Resposta à Geração Anterior – NuTE
mesmo e, inclusive, durante algum tempo, eu e o não é um descendente direto da Equipe Teatral
Contra Senha, a gente praticamente morava na
casa do César Rossi, né. Ele e o Maicon moravam Vira Lata, do Grupo Fênix, do Ribalta, do
sozinhos numa casa na Itoupava Central, e lá era teatro feito nos clubes de caça e tiro ou Lira
Circulo Italiano, do teatro blumenauense que a se fazer é trabalhar para inventar alguém SEXTO
lhe precede em uma geração. Suas principais que perceba. Utilizar o teatro para inventar um ENSAIO
alianças passam por teorias de um teatro povo que ainda nos falta40. Assistimos às suas
estrangeiro: Grotowski, Barba, Bob Wilson, principais manifestações no Segundo, Quarto e
Artaud, Gordon Craig, Schechner, Brecht, Sexto Ensaios.
376 Heiner Müller, Meyerhold, pelo Grupo Lume de 377
Campinas e por uma espécie de orientação dada
por José Ronaldo Faleiro. Contudo, mesmo não
sendo filho, ele se serviu muito bem da morte O garçom, de cara amarrada, conta o
do pai. A existência NuTE é atravessada por dinheiro sobre a mesa. Repete a operação
um crítica feroz ao formato teatral adotado três vezes até se convencer. Resmunga algo
pela geração anterior. Tentamos aqui, neste inaudível, vai ao balcão, expõe a situação
espetáculo-livro, problematizar essa tensão para Ana, por fim retorna à mesa. Contrariado
através da estrutura Work in Progress. Contudo, como alguém que procura fugir de seu próprio
é possível, em especial no Segundo e Quarto julgamento, ele nos diz:
Ensaios, compreender um pouco melhor as
motivações desta resposta. – Sobrou uma reposta e uma vontade, vão
querer o troco?
R5 – Resposta ao Público – Aqui um – Troco?
primeiro nível apontaria na direção de uma – Não! Claro que não!
resposta à ausência de público ao Teatro
– Traz em cerveja...
Contemporâneo, NuTE estaria respondendo
com formação de público à algo que estaria em
devir. Contudo, ao menos é o que nos parece, 40. Livre adaptação
do famoso trecho de
trata-se, acima de tudo, de uma resposta à Crítica e Clínica: “A
saúde como literatura,
ausência de um povo. Pessoas que consigam como escrita, consiste
experimentar um determinado tipo de vida. em inventar um povo
que falta. Compete a
Amigos a quem presentear com o mais belo dos função fabuladora in-
ventar um povo. Não
presentes. Um povo generoso com o qual se se escreve com as
possa compartilhar o que vem sendo produzido, próprias lembranças,
a menos que delas se
pois assim o poder aumenta, pois assim o poder faça a origem ou a des-
tinação coletivas de
cresce – Poder = Criar + Doar. Dizendo ainda de um povo por vir ain-
outra forma, se aquele que ganha um presente da enterrado em suas
traições e renegações.”
não percebe o que acabou de receber, o melhor
A memória preservada

A confecção deste belo material artístico, composto por


três livros e um DVD, é o produto mais expressivo do projeto
“NuTE para todos”, uma iniciativa do pesquisador Édio Ra-
niere em resgatar a memória do NuTE – Núcleo de Teatro Ex-
perimental, cuja atuação proporcionou relevantes conquistas
para cultura catarinense, como a formação de mais de 2 mil
alunos, criação de escolas, grupos teatrais e cursos perma-
nentes de teatro em várias cidades, produção de espetáculos
teatrais e implantação de uma biblioteca de teatro, composta
por um acervo de textos teatrais, livros, cadernos e apostilas
sobre teatro.
Em 18 anos de atividades, encerradas em 2002, o NuTE
concretizou também outros dois projetos elogiáveis: a funda-
ção, em Blumenau, da primeira escola de “livre” de teatro em
Santa Catarina, possibilitando o acesso de qualquer pessoa
interessada estudar e praticar a arte teatral, e a criação do
Jote-Titac – os Jogos de Teatro, Texto, Interpretação e Técnica
nas Artes Cênicas, evento que ajudou a popularizar uma das
mais antigas manifestações artísticas.
Em face da valiosa contribuição do NuTE à cultura de
Santa Catarina, a BAESA (Energética Barra Grande S/A)
sentiu-se motivada a apoiar o projeto “NuTE para todos”, e
constata que sua participação foi decisiva para a elaboração
deste acervo. O livro “NuTE: Cartografia de um teatro”, o DVD
“Experimentando NuTE” e as publicações “Editora Pipa” e “Li-
vreto Espetacular” cumprem plenamente o objetivo de resga-
tar, em texto impresso, em imagens e em formato digital, a
bela trajetória do NuTE.
Para a BAESA, apoiar o projeto “NuTE para todos” é
mais uma demonstração do quanto a empresa aprecia e
valoriza a cultura, em suas mais variadas expressões. A
publicação deste material é, portanto, motivo de orgulho e
satisfação, não apenas por ter acreditado na proposta de
seu idealizador, o pesquisador Édio Raniere, mas sobre-
Grande satisfação é poder apoiar projetos como o
tudo por saber que a história e o legado do NuTE estão,
NuTE Para Todos e, de certa forma, fazer parte da his-
agora, definitivamente preservados.
tória tão bonita desse núcleo de teatro que por 18 anos
se doou para compartilhar sua arte com o público.
Através da Lei Rouanet, a ENERCAN – Campos No-
Carlos Alberto Bezerra de Miranda Edson Schiavotelo
vos Energia S.A tem a possibilidade de apoiar projetos
Diretor Superintendente Diretor de Sustentabilidade culturais importantes como esse, que traz ao público
e de Relações com Investidores e de Relações Institucionais uma leitura sobre a maravilhosa experiência de se fazer
teatro, contando as expectativas, os medos, os proces-
sos criativos e o trabalho para apresentar da melhor
forma essa arte aos espectadores, fazendo o leitor sen-
BAESA - ENERGÉTICA BARRA GRANDE S/A
tir no livro as emoções dessa arte.
Fundamental para compreender a realidade, a cul-
tura, em suas mais variadas vertentes, é tida como
uma das prioridades dentro da Política de Responsabi-
lidade Social da ENERCAN. E, com grande prestígio e
apoio é possível proporcionar à população acesso não
só ao teatro, mas a espetáculos de música, literatura,
cinema e a tudo mais que a palavra cultura engloba.
O livro “NuTE: Cartografia de um teatro”, junto com
o Box, onde está presente outras três produções que
aliam o analógico (livro) ao digital (DVD e internet), é
um presente para a população catarinense saber um
pouco mais da história do teatro no Estado e a forte
presença dessa arte em Santa Catarina.
A ENERCAN parabeniza o projeto NuTE Para To-
dos e se mostra orgulhosa de poder apoiar iniciativas
como essa, que buscam intensificar a cultura dentro do
Estado, tornando a história cada vez mais presente na
sociedade.

Carlos Alberto Bezerra de Miranda


Diretor Superintendente
Este livro é parte integrante da caixa
NuTE: Cartografia de um Teatro.

Para saber mais sobre o NuTE e sobre a pesquisa


“NuTE: Cartografia de um Teatro”, acesse o blog do
projeto www.nuteparatodos.wordpress.com e o acervo
virtual www.nute.com.br.

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