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N.

12 JUN 2018

cerrado o berço das águas corre perigo

OS DOIS LADOS DA IRRIGAÇÃO: SUSTENTABILIDADE DAS O CACAU QUE VIAJA


PROBLEMA OU SOLUÇÃO? CIDADES É TEMA DO ODS 11 O PAÍS E O MUNDO
editorial
NESTE MÊS, A RETRATOS COMEMORA Minas Gerais. Mas, por outro lado, o méto-
SEU PRIMEIRO ANIVERSÁRIO. Até agora do pode trazer prejuízos ao meio ambiente,
foram 12 edições dedicadas a estreitar a relação como empobrecimento e erosão dos solos,
do IBGE com a sociedade, através de reportagens além de redução do volume dos rios em
sobre temas atuais baseados em informações es- épocas de estiagem.
tatísticas e geocientíficas sobre o Brasil. Para cele- Falando em preservação ambiental, os her-
brar em grande estilo, resolvemos produzir uma bários do IBGE são guardiões de milhares de
edição pautada em uma data muito importante: amostras de plantas conservadas em condições
o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho). especiais: as “exsicatas”. Outra iniciativa vem
De partida, publicamos uma reportagem de da produção de cacau na Bahia. Trata-se do
capa que busca afinar nosso olhar sobre o Cer- sistema cabruca, que consiste em plantar os
rado, um dos biomas de maior relevância para pés de cacau em consórcio com a vegetação
o equilíbrio dos ecossistemas nacionais, mas, nativa da Mata Atlântica.
ao mesmo tempo, o ambiente mais ameaçado Ainda nesta edição, a série dos ODS destaca o
pela degradação ambiental. objetivo 11, que trata da produção de indicadores
Como o Cerrado, o rio São Francisco para tornar as cidades e comunidades susten-
também é foco de uma contradição. Por um táveis. E, para completar, trazemos o desafio
lado, suas águas são utilizadas em projetos de “Bioma Go” que testa os conhecimentos sobre
irrigação, que garantem alta produtividade e nossa fauna. Boa leitura!
trabalho para inúmeros agricultores da região
conhecida como Mata da Jaíba, no norte de Equipe da redação

expediente Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


Avenida Franklin Roosevelt, 166 sala 900 A - Centro - Rio de Janeiro - RJ 20021-120

UNIDADE RESPONSÁVEL Rita Martins Colaboradores Retratos a Revista


Coordenação de Editoração eletrônica Eduardo Peret do IBGE
Comunicação Social Licia Rubinstein Embrapa é uma publicação men-
Diana Paula de Souza Pedro Vidal Irene Gomes sal do Instituto
Presidente
Editor Simone Mello Rosangela Garrido Machado para distribuição
Roberto Olinto Ramos
Marcelo Benedicto Botelho interna e externa.
Diretor-Executivo Foto da capa
Editora assistente Fernando da Costa Pinheiro Revisão de textos A publicação não é
Fernando José de
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Fernando da Costa Pinheiro Coordenação de Marketing
Diretoria de Geociências Editora de fotografia Caso queira reproduzir
Licia Rubinstein Helena Tallmann Impressão
João Bosco de Azevedo as matérias e as imagens
Luciano de Lima Guimarães COAN Indústria Gráfica Ltda.
Diretoria de Informática Projeto gráfico desta edição, entre
Marina Cardoso (estagiária) Tiragem
José Sant`Anna Bevilaqua Helga Szpiz em contato através do
Simone Mello Ilustração 20.000 exemplares nosso e-mail.
Centro de Documentação Licia Rubinstein ISSN
e Disseminação Reportagem Pedro Vidal A publicação das
2595-0800
de Informações Eduardo Peret informações individuais
Helena Tallmann Tratamento de imagens
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José Zasso Licia Rubinstein
Escola Nacional de Ciências da pelos entrevistados.
Marcelo Benedicto Pedro Vidal
Estatísticas Logística de distribuição Críticas e sugestões:
Marília Loschi
Maysa Sacramento Helena Pontes
Marina Cardoso (estagiária) revistaretratos@ibge.gov.br
de Magalhães

jun 2018 retratos a revista do ibge 3


5
26
#ibge  

Bioma Go
g
b
i
12 S.O.S Cerrado
Bioma é fonte de
encanto, preocupação
e resistência
e
8 Cacau na Mata
Atlântica,
chocolate no
frio do Sul
A diversidade da
produção de cacau e
seus derivados

6 Cidades e 18 Aexsicatas
magia das 20 Irrigação:
solução ou
comunidades
sustentáveis A variedade da flora problema?
brasileira catalogada Apesar de aumentar
ODS 11 traz o
nos herbários do IBGE produtividade,
tema transversal da
urbanização irrigação pode
trazer riscos ao meio
ambiente

4 retratos a revista do ibge jun 2018


#ibge
agenciadenoticias.ibge.gov.br  @ibgecomunica  /ibgeoficial   @ibgeoficial 
referência: abril

/ibgeoficial

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OLHA QUEM A EQUIPE DO PROJETO DE ATUALIZAÇÃO


DO MAPA DOS BIOMAS ENCONTROU NOS ARREDORES
DE CÁCERES (MT)!
Este simpático tatuzinho, ilustre exemplar fauna da
pantaneira! Não sabemos exatamente qual a espécie
dele, mas após interagir com a equipe, o mamífero saiu
caminhando tranquilamente em seu habitat natural.
Fotos: Therence de Sarti e Carlos Belmont
Quer ver mais imagens das paisagens, fauna e flora
brasileiras? Acompanhe o trabalho de atualização do
mapa dos Biomas pelas mídias sociais do IBGE!
Veja mais: bit.ly/2FVd9U3

282.868
Você conhece os
principais solos encontrados
seguidores no Facebook no Brasil? Hoje [15/04] é o
Dia Nacional da Conservação

66.809 do Solo, data que propõe uma


reflexão sobre a relevância

682
reações no Facebook dos solos e a necessidade
de sua utilização adequada.
curtidas Veja mais: bit.ly/2I2rx2w
Notícia mais lida
10% DA POPULAÇÃO CONCENTRAM QUASE
METADE DA RENDA DO PAÍS
O módulo Rendimento de todas as fontes da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD
Contínua), divulgada hoje [11/04] pelo IBGE, mostrou
que, em 2017, a massa de rendimento domiciliar per
capita do país foi de 263,1 bilhões.

PNAD Contínua
3.982
acessos
bit.ly/
2KLfbtF

jun 2018 retratos a revista do ibge 5


Cidades e comunidades sustentáveis
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11 não se refere a um tema específico,
mas à questão mais ampla das cidades e à urbanização em si, o que abre um
leque de indicadores diversificados. Um dos principais desafios é a demanda
por informações locais, que muitas vezes não têm harmonização metodológica,
conforme explica o geógrafo Claudio Stenner.

texto Revista Retratos  O que se são estatísticas tradicionais, os cidades. É um ODS que integra
  Eduardo Peret e destaca no ODS 11? indicadores do ODS 11 não muito a geografia e a estatística
Marina Cardoso
Claudio Stenner  Em primeiro fazem parte do conjunto de no território urbano.
(estagiária)
lugar, a transversalidade. O foco estatísticas econômicas, de saú-
arte e design
  Licia Rubinstein nas cidades se dá globalmente de e de trabalho, por exemplo. Retratos  Quais as fontes des-
pelo motivo de a população Há um esforço muito grande sas informações?
mundial ser cada vez mais de criar um conjunto novo de Stenner  São muito diversas.
urbana. Recentemente, mais da indicadores para tratar dessas O grupo de trabalho do ODS 11
metade da população mundial especificidades das cidades. inclui, além do próprio IBGE,
passou a viver nas cidades. No Nesses indicadores novos, você o Ministério da Integração, a
Brasil, nem 1% da área territo- tem um componente geográ- Secretaria da Defesa Civil, o
rial é urbanizada efetivamente. fico/espacial muito forte para Instituto do Patrimônio Históri-
Além disso, há a novidade. Não avaliar o que acontece nas co e Artístico Nacional (Iphan),

6 retratos a revista do ibge jun 2018


OBJETIVO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 11:
TORNAR AS CIDADES E OS ASSENTAMENTOS HUMANOS
INCLUSIVOS, SEGUROS, RESILIENTES E SUSTENTÁVEIS

o Ministério das Cidades, o mas para o transporte público na Plataforma Digital dos ODS,
Ministério do Meio Ambiente, nós dependemos das prefeitu- que foi lançada recentemente
o Instituto Nacional de Proprie- ras. Para o 11.b.2, que trabalha, (ods.ibge.gov.br).
dade Industrial (INPI), o Centro entre outras questões, com
Nacional de Monitoramento e políticas e planos de prevenção Retratos  Quais os desafios
Alertas de Desastres Naturais de riscos, fizemos uma adapta- para esse objetivo?

Marina Cardoso
(Cemaden), o Ministério da ção do indicador global usando Stenner  Ainda temos trabalho
Saúde e o Instituto de Pesquisa a nossa Pesquisa de Informações a ser feito de articulação ins-
Econômica Aplicada (Ipea). Básicas Municipais (Munic) de titucional para que possamos,
Além disso, o trabalho envol- 2013, que tinha um bloco dedi- por exemplo, padronizar um Claudio Stenner
ve uma grande quantidade de cado à gestão de risco e desastres dado de poluição atmosférica é geógrafo, com
mestrado em Geografia
informações locais. Por exemplo, e que foi repetido em 2017. nas cidades. Essa informação pela UFRJ. No IBGE,
para o indicador que trata dos várias cidades coletam, mas não ele é responsável pela
assentamentos precários das ci- Retratos  Como está a coorde- há uma harmonização metodo- articulação do ODS 11.
dades, precisamos das informa- nação com os outros órgãos? lógica conceitual que permita
ções sobre a situação fundiária Stenner  Estamos produzindo criar um indicador. Esse tra-
das áreas, e quem detém essas algumas informações novas, balho vai demandar um pouco
informações é a prefeitura de como as das áreas urbanizadas. mais de tempo. Alguns indica-
cada município. Dependemos de Estamos usando registros dores ainda não estão definidos,
uma parceria federativa para que administrativos do Iphan, va- então é difícil dizer se um ou
possamos reunir as informações mos usar também do Ministério outro vai ou não ser produzido.
necessárias para esse ODS. da Integração. Por exemplo, o Porém, temos a perspectiva de
11.5 é sobre desastres, são dois que, talvez para o Brasil, seja
Retratos  Que indicadores indicadores: um sobre efeitos adequado outro indicador em
o IBGE já tem? diretos e outro sobre questões determinadas situações. Isso
Stenner  Por exemplo, o 11.1 econômicas. Para ele, pegamos tudo ainda vai ser discutido. No
é sobre habitação precária. Já a informação do Ministério da caso de alguns indicadores mais
temos essa informação, produ- Integração, que tem uma base desafiadores, até serve como
zida nos censos demográficos e de dados de registro adminis- provocação para tentar produ-

i
na Pnad Contínua. O 11.2, que trativo sobre pessoas mortas, zir junto com os parceiros uma
trata de mobilidade urbana, é afetadas e desaparecidas por agenda para o futuro. Afinal,
um indicador da metodologia conta de desastres. Foi um a Agenda 2030 também é um
global, que envolve os pontos indicador que eles desenvolve- pouco isso, não apenas produ-
de ônibus, informações sobre ram e fizemos uma colaboração zir os indicadores em si, mas
transporte público e da localiza- técnica com eles para deixar também propor novas formas
ção da população. O IBGE tem nos padrões do indicador glo- de medir as coisas, aprimorar
algumas informações no Censo, bal. Colocamos três indicadores a informação.

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cacau na Mata Atlântica

chocolate
texto  Eduardo Peret, José Zasso e Rita Martins
fotos Associação Cacau Sul Bahia - ACSB (divulgação) 
no frio do Sul

design  Simone Mello

8
b
retratos a revista do ibge jun 2018
o
cacau faz parte da história do sul
da Bahia. Com mais de 200 anos
de ciclos de colheita, o produto
passou por vários altos – como
a época de ouro em que a Bolsa
de Valores negociava o cha-
mado “Cacau Bahia Superior”
nos anos 1940 – e baixos, como
nacional de cacau, de acordo
com a Pesquisa Agrícola Mu-
nicipal (PAM) 2016. O estado
foi o maior produtor desde o
início da série histórica, em
1974, até 2017, quando o Pará
assumiu a liderança com 116,5
mil toneladas, contra 83,9 mil
O que é cacau
cabruca?
O sistema cabruca
é usado no sul da
Bahia há dois séculos.
Consiste em plantar
os pés de cacau em
consórcio (coabitação
no mesmo terreno)
com a vegetação nativa
quando a doença da vassoura- da Bahia. da Mata Atlântica
de-bruxa dizimou as lavouras na “Tivemos dois anos de seca, presente na região.
Essa técnica maximiza
década de 1990, levando a cultu- em 2015 e 2016, o que refletiu o aproveitamento da
ra a um processo de decadência na safra de 2017. Este ano nós água disponível, auxilia
do qual ela vem se recuperando esperamos um aumento na no controle de pragas
e preserva a vegetação
nos últimos anos. produtividade, sabendo que o original.
“A gente vem construindo foco da Bahia nacional
uma nova narrativa olhando e internacionalmente está
para o futuro. Focando nisso, voltado para nicho de mer-
nós conseguimos o selo de Indi- cado específico, com história
cação Geográfica Sul da Bahia”, e tradição de alta qualidade,
comemora o diretor da Associa- com menor quantidade, mas
ção Cacau Sul Bahia, Cristiano alto valor agregado”, explica
Sant’Ana. O selo do Instituto Cristiano.
Nacional de Propriedade Indus- O prognóstico da safra
trial (INPI) foi concedido em 2018, feito pelo Levantamento
janeiro deste ano e estava dispo- Sistemático da Produção
nível, a partir de abril, para os Agrícola do IBGE, estima
produtores atuantes dentro dos um crescimento de 3% na
61,4 mil km² dos 83 municípios produção baiana de cacau
integrantes da Área Geográfica (86,4 mil toneladas). O estado
da Indicação de Procedência. deve permanecer em segundo
Juntos, eles já responderam lugar com 40,1% da produção
por até 76% da produção nacional.

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“A aposta é na especialização, verticalizando
para derivados de cacau, como chocolates
finos, “nibs”, mel de cacau, polpa de cacau
e alguns transformados como o chocolate
rústico, chamado de cacauada” Cristiano Sant’Ana

PRODUÇÃO LOCAL, habitantes em 2017, Grama- própria cidade, enquanto outras


DESTINOS DIVERSOS do acolhe 30 empresas que atendem demandas específicas
Os produtores do sul da Bahia produzem chocolates artesa- de grandes e médias empresas
estão focando na valorização nais. Segundo a Associação dos nacionais dos mais variados
da cultural local. “A aposta é Produtores de Chocolate de ramos, que realizam encomen-
na especialização, verticalizan- Gramado (Achoco), elas geram das para datas especiais, como
do para derivados de cacau, dois mil empregos diretos, seja Páscoa e Natal, na confecção de
como chocolates finos, “nibs” nas fábricas ou nas lojas que cestas que serão entregues para
[amêndoa do cacau torrada e atraem turistas de todo funcionários e clientes. Algu-
granulada, que é antioxidante o Brasil e da América Latina. mas chocolaterias também têm
e rica em gordura saudável], O Cadastro Geral de Empresas lojas e franquias em shoppings e
mel de cacau, polpa de cacau e do IBGE, em 2015, indica que aeroportos em vários estados.
alguns transformados como o o município detém o segundo Para o presidente da Acho-
O dentista que chocolate rústico, chamado de maior número de empresas na co, Altanísio Ferreira de Lima,
amava chocolate cacauada”, explica Cristiano. fabricação de produtos deri- a produção poderia ser ainda
caseiro Além de ser beneficiado vados do cacau, chocolates e maior. Na empresa que admi-
A história do
chocolate de Gramado
na própria região, o cacau do confeitos, atrás apenas de São nistra, a produção para o Natal
começou com Jayme sul da Bahia é exportado para Paulo, que tem 62 empresas. já começa em julho.
Prawer. Nascido em outros países e estados brasilei- Segundo dados da Secre- “Hoje, não conseguimos
Porto Alegre, ele
ros, como Rio Grande do Sul. taria Municipal de Turismo, dar conta de toda a deman-
se apaixonou por
Gramado na infância. Em Gramado, município da mais de 6,5 milhões de turistas da que temos”. A Associação
Quase cinquenta anos Serra Gaúcha nacionalmente visitam a cidade ao longo do defende que seja criado um
mais tarde, visitando conhecido pela produção de ano, com picos na Páscoa, no distrito industrial na cidade e
Bariloche, na Argentina,
trouxe de lá a ideia de
chocolates artesanais, a maior Festival de Cinema de Grama- mais incentivos para a pro-
fundar uma chocolateria parte da manteiga de cacau do, que acontece em agosto, e dução e geração de empregos,
caseira, aproveitando e do pó de cacau, matérias- no Natal Luz, com programa- o que possibilitaria ampliar
a abundância da
produção nacional
-primas do chocolate, vêm da ção entre outubro e janeiro. A a oferta de chocolate para
de cacau. A primeira Bahia, seguida pelo Pará e por fama do chocolate artesanal atender a demanda existente.
fábrica foi implantada países africanos e da América e da culinária colonial dos O próprio município não dá
em 1976, com 70
Central. imigrantes alemães e italianos conta de fornecer toda a mão
metros quadrados
e apenas três ajuda a impulsionar o turismo de obra necessária, precisando
funcionários. FANTÁSTICAS FÁBRICAS na cidade. contratar nas cidades vizinhas.
Parte dessa história DE CHOCOLATE ARTESANAL As fábricas de chocolate em
está sendo recuperada
em documentos
Localizado a cerca de 100 km Gramado atendem públicos PROJETO PROCEDÊNCIA DO
para serem enviados de Porto Alegre e com uma diversos. Algumas produzem CHOCOLATE DE GRAMADO
ao INPI. população estimada de 35 mil apenas para o consumo na Desde 2016, a Secretaria de

10 retratos a revista do ibge jun 2018


Turismo de Gramado e
uma empresa licitada estão
trabalhando no Projeto
Procedência do Chocolate
de Gramado. Oito empre-
sas produtoras de chocolate
artesanal integram atual-
mente o Projeto que tem
como objetivo conseguir
junto ao INPI o selo de
Indicação de Procedência
do chocolate.
Alguns critérios téc-
nicos já estão definidos,
como ter, no mínimo, 35%
de cacau no chocolate e
zero de gordura vegetal. A
legislação brasileira estabe-
lece que o chocolate tenha
ao menos 25% de cacau. Na
avaliação do secretário de
Turismo de Gramado, Luiz
Kraieski, a Indicação de
Procedência é uma forma
de preservar a identidade
do chocolate artesanal pro-
duzido no município. “O
chocolate é uma marca de
Gramado que faz a cidade
ser conhecida em todo o
Brasil, e o selo servirá para
proteger essa história”,
salienta. A expectativa da
Achoco é que dentro de
um ano o processo esteja
concluído.

jun 2018 retratos a revista do ibge 11


s.o.s.
cerrado texto  Marcelo Benedicto
foto  Fernando da Costa Pinheiro
design  Pedro Vidal
infográficos  Embrapa (adaptado) e Pedro Vidal

g
12 retratos a revista do ibge jun 2018
Indispensável para a sobrevivência humana, para
a manutenção dos ecossistemas e para a produção
agropecuária do país, o Cerrado é fonte de encanto,
preocupação e resistência.

Pequenas árvores, vastos terre- distintos ao longo de toda a área Alerta máximo
nos gramados e áreas de matas do Cerrado, que ocupa quase O Cerrado é a única
pouco densas. Esse é o cenário um quarto do território nacional savana do mundo
considerada um hotspot.
típico do Cerrado do Brasil (2 milhões de km2). Cada um Esse reconhecimento
Central, um tanto modesto desses ambientes surpreende internacional torna
quando comparado à exube- pela riqueza de espécies, o que o bioma uma das
áreas prioritárias para
rância da Floresta Amazônica. torna o Cerrado o bioma que receber investimentos
Porém, é debaixo da terra que concentra mais de 15% de toda para realização de
o Cerrado se agiganta: lá que a biodiversidade conhecida no pesquisas e projetos
de conservação. A
se encontram as extensas raízes mundo. No entanto, 49% da
Mata Atlântica é o outro
da vegetação desse bioma e região ocupada pelo bioma foi bioma brasileiro que
as maiores reservas de águas desmatada para ser convertida faz parte da lista de
subterrâneas do continente. É em pastagens, lavouras, barra- hotspots.

como se estivéssemos diante gens de hidrelétricas, garimpos e


de uma floresta invertida, na áreas urbanas. Para completar o
qual apenas cerca de um terço quadro, apenas 8% da vegetação
da estrutura das plantas está na nativa está protegida.
superfície do solo. Essas características fize-
Na paisagem, um tanto ram com que o Cerrado fosse
árida em vários pontos, os incluído na lista dos 34 hotspots
diversos cursos d’água são o mundiais: áreas com grande
indício de outra característica biodiversidade, ricas principal-
marcante do Cerrado: configu- mente em espécies endêmicas,
rar-se como o berço das águas e que apresentam alto grau de
do país, ao abrigar as nascentes ameaça. “O Cerrado é um siste-
de importantes bacias hidrográ- ma muito diversificado, muito
ficas e levar água para a Ama- heterogêneo, mas que é muito
zônia, Mata Atlântica, Pantanal dependente do que acontece em
e Caatinga – biomas que depen- seu entorno. A influência do
dem direta ou indiretamente da homem é percebida de forma
drenagem realizada pelos rios muito mais rápida do que na
dessas bacias. Amazônia”, explica Mauro
Tamanha abundância explica Lambert, gerente da Reserva
a coexistência de 25 ambientes Ecológica do IBGE (Recor).

jun 2018 retratos a revista do ibge 13


berço
das águas

O Cerrado é a caixa d’água


do Brasil formada por nove
bacias hidrográficas. Os rios
são de pequeno porte, mas há
exceções, como o Araguaia, o
Tocantins e o São Francisco.
Tudo que acontece no entorno
dessas bacias tem reflexo direto
nos cursos d’água. No caso
do Pantanal, os sedimentos
oriundos do Cerrado seguem
rio abaixo e se acumulam nessa
planície inundada que, por ter
de Recursos Naturais e Estudos Ambientais do IBGE
Imagem ilustrativa baseada em mapa produzido pela Coordenação

baixa capacidade de escoamento,


estoca esses materiais e fica cada
vez mais assoreada. Um olhar
Bacias Hidrográficas mais atento revela que cada uma
Tocantins
das bacias do Cerrado tem um
Araguaia
São Francisco
perfil específico, mas problemas
Paraná muito parecidos, como vemos
Paraguai
na página ao lado.
Parnaíba
Periférica Amazônica
Periférica Atlântica
Periférica do Golfão Maranhense
Antropismo (intervenção humana)

14 retratos a revista do ibge jun 2018


Bacia Hidrográfica do Rio Paraguai A Reserva Ecológica
A maior parte da bacia pertence ao Pantanal, mas as do IBGE (Recor)
nascentes do Rio Paraguai e de seus principais afluentes Criada em 1975,
estão no Cerrado. A Chapada dos Guimarães e a Serra da destaca-se no
Bodoquena são formações que se destacam, assim como as cenário nacional e
grutas, rios e lagos subterrâneos de Bonito (MS). Dentre os internacional como
problemas, estão a poluição dos rios por conta da mineração, a área do bioma
a erosão provocada pela ocupação das cabeceiras dos rios por Cerrado com maior
grandes plantações (soja e cana-de-açúcar) e a contaminação concentração de
Bacia Hidrográfica do Rio Tocantins dos cursos de água por pesticidas e fertilizantes. pesquisas científicas
O Rio Tocantins nasce no planalto de Goiás a cerca de mil nas áreas de
metros de altitude, o que é uma vantagem para a construção ecologia, botânica e
de usinas hidrelétricas. A região possui reservas de ouro, Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba zoologia. É referência
esmeralda, granito, cassiterita e amianto, além de águas É uma das maiores bacias do país, que se divide entre o na compreensão
subterrâneas, como os aquíferos Motuca e Ponta Grossa. A Cerrado e a Caatinga. O Rio Parnaíba é uma importante da estrutura e do
bacia sofre com a construção de hidrelétricas e hidrovias, hidrovia para o transporte dos produtos agrícolas da região. funcionamento dos
desmatamento, ocupação desordenada, falta de saneamento, Sua bacia comporta o Parque Estadual do Jalapão, com ecossistemas desse
transposição de águas entre bacias e projetos de irrigação. paisagens que mesclam cerrado, veredas, cachoeiras, serras e bioma, integrando
dunas. A região é uma das fronteiras agrícolas do Brasil, com importantes redes de
grande potencial para a produção de grãos, o que tem levado pesquisa nacional e
à supressão da vegetação e da biodiversidade locais. internacional sobre
Bacia Hidrográfica do Rio Araguaia ecologia e impactos
O Rio Araguaia tem a maior parte de sua bacia (81%) no do fogo. Conheça mais
Cerrado, possui amplas superfícies inundáveis e trechos Bacia Periférica Amazônica sobre a reserva no
com cachoeiras e corredeiras. Abriga a Ilha do Bananal, que Engloba parte das bacias dos rios Madeira, Tapajós e vídeo: bit.ly/2KyOreY
é a maior ilha fluvial do mundo e território indígena, e cinco Xingu, drenando suas águas para o rio Amazonas. Já o rio
unidades de conservação, como o Parque Nacional das Emas. Aripuanã possui trechos encachoeirados, de grande potencial
A bacia é um dos mais importantes sistemas de áreas úmidas hidrelétrico, a maioria em áreas indígenas. Boa parte da
(wetlands) do Brasil central. Sofre com a perda de grande vegetação das nascentes do Rio Xingu e de seus afluentes
parte da vegetação, em função da agricultura e pecuária, foi destruída, em função da produção agrícola em grandes
erosão e alterações no fluxo dos rios. extensões de terra e do uso de agroquímicos e maquinário.
A degradação ambiental nas nascentes desse rio também
representa uma ameaça ao Parque Indígena do Xingu.

Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco


É a maior bacia totalmente brasileira. Drena uma área Bacia Periférica Atlântica
de 640 mil km² e ocupa 8% do território nacional. Possui Contempla parte das bacias dos rios Doce, Jequitinhonha e
jazidas de chumbo, zinco, cobre, ouro e esmeraldas, além Pardo, em Minas Gerais, que drenam predominantemente o
de hidrelétricas, como Paulo Afonso e Xingó. Sofre com o bioma Mata Atlântica. No rio Jequitinhonha, foi construída
despejo de esgoto, resíduos industriais e de garimpos, e com a hidrelétrica Presidente Juscelino Kubitscheck. Na bacia,
o assoreamento dos rios. Nas cabeceiras, o maior problema é a mineração é baseada no garimpo de diamantes e ouro.
a retirada da mata ciliar para a produção de carvão vegetal. As No Vale do Jequitinhonha, a região apresenta solo árido e
barragens e a irrigação alteraram a intensidade e a época das castigado regularmente por secas e enchentes. No entanto,
enchentes, com impactos sobre a pesca. a agropecuária é uma das principais atividades econômicas,
seguida da indústria.
Fonte: capítulo
“Recursos Naturais e
Bacia Hidrográfica do Rio Paraná Bacia Periférica do Golfão Maranhense questões ambientais”,
O Rio Paraná, principal formador do rio da Prata, apresenta Abrange parte das bacias dos rios Munim, Mearim, dos pesquisadores
o maior aproveitamento hidrelétrico do Brasil. A hidrovia Pindaré e Itapecuru – que abastecem 75% da população do IBGE, Rosangela
Tietê-Paraná, além de conectar as regiões Sul, Sudeste e de São Luís (MA) e funcionam como via de transporte Garrido Machado
Centro-Oeste, transporta pessoas, mercadorias e produtos de cargas e passageiros. A região possui reserva de Botelho e Judicael
agrícolas (como grãos), inclusive para países do Mercosul. minerais não metálicos e de argila, além de pedreiras. Na Clevelário Júnior,
A maior parte da bacia está ocupada por cultivos e bacia do rio Munim, encontra-se o Parque Nacional dos publicado no livro
pastagens, restando pouco da vegetação nativa. O intenso Lençóis Maranhenses. Bastante assoreado, o rio sofre as “Brasil : uma visão
aproveitamento hidrelétrico fez com que poucos trechos do rio consequências dos desmatamentos e do uso inadequado do geográfica e ambiental
mantivessem sua condição original. solo, que tornam suas águas escassas e turvas. no início do século XXI”.

jun 2018 retratos a revista do ibge 15


Projeto Fogo RESISTÊNCIA NATURAL AJUDA Cerrado: a capacidade Frederico. A questão se agrava
Desde 1989, CERRADO A SOBREVIVER de regeneração. em ambientes do Cerrado mais
coordenado pela As raízes profundas ajudam a De acordo com Frederico sensíveis ao fogo e ao desmata-
Reserva Ecológica
do IBGE e várias
explicar por que a vegetação do Takahashi, pesquisador da mento. Nesses casos, os efeitos
universidades do Cerrado consegue sobreviver em Reserva Ecológica do IBGE, o da devastação comprometem
país, o estudo avalia solos de baixa fertilidade quí- Cerrado se adapta aos incên- seriamente todo o bioma.
o impacto de diversos
regimes de incêndios
mica e à estação seca (de maio dios espontâneos, provocados,
sobre a estrutura e a a setembro), quando a umidade por exemplo, por raios: “as AMEAÇA E MORTE
dinâmica da vegetação relativa do ar fica muito baixa, cascas espessas e a maior capa- DAS NASCENTES
e da fauna do Cerrado.
podendo chegar a níveis en- cidade de reserva de nutrientes Localizadas ao longo de cór-
contrados nos desertos. Graças ajudam as plantas no momento regos e pequenos rios, em ter-
a essas raízes, as plantas têm em que elas estão sem folhas. renos relativamente férteis, as
maior capacidade de absorver os Mesmo as gramíneas que apa- matas de galeria são responsá-
nutrientes e a água depositados rentemente ficaram destruídas veis pela proteção desses cursos
nas profundezas da terra. possuem estruturas subterrâ- d’água. São formadas por árvo-
Outra característica que aju- neas que garantem sua sobrevi- res que mantêm a cobertura de
da na adaptação dessas plantas vência”, explica Frederico. folhas ao longo de todo o ano,
ao bioma são as cascas espessas O problema é quando o o que nem sempre ocorre com
que encobrem seus troncos e homem queima a vegetação outras espécies desse bioma. “A
galhos, garantindo maior isola- no pico da seca, o que gera proteção que os córregos têm é
mento térmico especialmente um grande impacto em todo justamente as matas de galeria,
quando ocorrem incêndios. E o ecossistema. “Esse fogo não que é uma mata diferente [da
é justamente o fogo que revela tem uma passagem tão rápida, vegetação] do Cerrado cir-
outra marca de resistência do é mais demorado”, esclarece cundante porque é úmida. Ela

FORMAÇÕES FLORESTAIS

MATA CILIAR MATA DE GALERIA MATA SECA CERRADÃO CAMPO LIMPO


“O Cerrado tem uma biomassa
invertida. Para cima parecem
plantas menores, mais baixas,
ralas; para baixo é que está o
funciona como um filtro para necessário quase quatro vezes grosso da biomassa”
todos os sedimentos da erosão”, mais de mata de galeria, cerca
Mauro Lambert
conta Mauro Lambert. de 120 metros, só para filtrar os
A erosão é um processo sedimentos de solo transferidos
natural, mas acelerado pelo para dentro dos canais”. soja e milho do país em 2017
homem. Para equilibrar a No entanto, normalmente (ver Retratos n° 6). Também é
sedimentação natural que vem acontece o oposto. Em áreas de lá que deslizam as águas que
da terra firme para a água, é ne- agrícolas e urbanas, as pessoas banham expressivas áreas do
cessária uma mata com cerca de ocupam até a beira dos cursos território nacional e onde estão
38 metros de largura – porém, d’água, eliminando a proteção depositadas grandes reservas de
dependendo do tipo de modi- natural. O resultado, de acordo águas subterrâneas, nos aquífe-
ficação ambiental, a dimensão com Mauro, é o entupimento ros Urucuia, Bambuí e Guarani.
da área verde ideal para garantir dos córregos e a consequente Entretanto, a disputa por
a proteção dos rios pode ser diminuição do volume de água, água protagonizada pela
maior, como esclarece o gerente o que muitas vezes resulta na agropecuária e hidrelétricas e
da Recor: “quando se substitui o morte das nascentes dos rios: o lançamento de poluentes (es-
Cerrado por uma área agrícola, “uma mudança no solo muda goto, agrotóxicos etc.) apontam
a transferência de sedimentos é toda a lógica de funcionamento para os riscos de escassez. “Não
muito mais intensa. Para filtrar do ecossistema”. é à toa que Brasília, uma cidade
isso e não deixar entupir os que cresceu muito rápido, sofre
córregos, seria necessária uma O BRASIL PRECISA graves problemas de falta de Ilustração adaptada da
imagem produzida por
mata de galeria de 90 metros de DO CERRADO água”, alerta Mauro. O desafio é
José Felipe Ribeiro e
largura. E, quando o Cerrado é É desse bioma que veio boa conseguir uma convivência sus- Bruno Machado Teles
substituído por área urbana, é parte das safras recordes de tentável entre essas riquezas. Walter (Embrapa)

FORMAÇÕES SAVÂNICAS FORMAÇÕES CAMPESTRES

CERRADO DENSO CERRADO RALO PARQUE DO CERRADO PALMEIRAL VEREDA CERRADO CAMPO CAMPO CAMPO
RUPESTRE RUPESTRE SUJO LIMPO

jun 2018 retratos a revista do ibge 17


18 retratos a revista do ibge jun 2018
texto  Marília Loschi e Rita Martins

A magia das
foto  Luciano de Lima Guimarães
design  Simone Mello

exsicatas
Herbários do IBGE catalogam
a variedade da flora brasileira
Mais de 80 mil plantas secas, em armários hermeticamente também contam com exempla- RadamBrasil
identificadas e catalogadas num fechados. “O herbário é manti- res de outros biomas. Sempre Criado em 1970, o
grande inventário da diversida- do a temperaturas baixas e com que possível, nos trabalhos de Radam (Radar da
Amazônia) tinha o
de vegetal. Assim funcionam os baixa umidade, para conservar”, campo são coletadas amostras objetivo de capturar
herbários do IBGE, divididos conta Marina. extras de cada espécie para que imagens aéreas de
em duas unidades: em Brasília, Em Salvador, o herbário possam ser trocadas ou doadas toda a Amazônia.
Em 1975, o projeto
dentro da Reserva Ecológica do é uma herança do projeto para outros herbários. passou a se chamar
IBGE (Recor) e em Salvador, RadamBrasil e foi incorporado E, apesar de as exsicatas RadamBrasil e foi
dentro do Jardim Botânico. ao IBGE em 1986. Ele atrai a serem a principal atração dos estendido para todo
o território nacional.
A principal atração desses curiosidade de herbários, há
O estudo das
herbários tem um encanto todo pesquisadores Os herbários do outras coisas imagens possibilitou
próprio, a começar pelo nome. e de estudantes. para se ver. o conhecimento
Chamadas de exsicatas, as Segundo o cura-
IBGE estão entre os “Além dessas integrado da gelologia,

amostras de plantas conserva- dor Eric Carva- mais destacados exsicatas, temos geomorfologia,
pedologia (estudos
das em condições especiais são lho, há visitas do Brasil e frutas, amostras dos solos) e vegetação
referência para estudos científi- durante todo de madeira, do país. Em 1985,

cos, conforme explica a curado- o ano letivo, possuem uma das briófitas”, diz a equipe e o acervo
técnico do projeto
ra das coleções do herbário da especialmente de melhores coleções Marina. E, por foram incorporados
Recor, Marina Resende: escolas do ensino
de gramíneas do que não, memó- ao IBGE.
“As exsicatas são a planta fundamental. rias, conforme
seca, desidratada e afixada “Há ainda a bioma Cerrado. ressalta Eric:
numa cartolina com todos os visita de curiosos “É importante

g
dados referentes a ela. É como que têm interesse em saber salientar a existência, em quase
se fosse uma identidade, uma o que é um herbário e quais toda a sua totalidade, das
certidão. Cada uma tem um os trabalhos desenvolvidos”, plantas coletadas pelo Projeto
rótulo com o nome científico, acrescenta Eric. RadamBrasil. Esta coleção é
informações de altitude, loca- Os herbários contam com uma das memórias vivas do
lização, descrição da planta”. amostras de diversas espécies projeto. Ela foi e continua
Para que não sejam contami- raras e endêmicas. Seus acervos sendo uma fonte riquíssima
nadas ou atacadas por insetos, são formados principalmente de dados e informações sobre
as exsicatas ficam guardadas por plantas do Cerrado, mas a flora brasileira”.

jun 2018 retratos a revista do ibge 19


i r r i g a çsolução 
ão

e
20 retratos a revista do ibge jun 2018
  ou problema?

texto e fotos  Helena Tallmann


design  Simone Mello

Vetor de desenvolvimento, a agricultura irrigada


também pressiona a demanda por recursos hídricos

jun 2018 retratos a revista do ibge 21


c ada vez mais presente nas agen-
das nacionais e internacionais,
a preservação da água ganhou
destaque especial este ano no
Brasil, já que pela primeira
vez o Fórum Mundial da Água
aconteceu no Hemisfério Sul,
em Brasília, no mês de março.
abrir novas áreas para plantio,
menor risco para o produtor
(que não fica dependente das
chuvas) e maior oferta de ali-
mentos. Porém, o método pode
trazer prejuízos ao meio am-
biente, como empobrecimento
e erosão dos solos, além de
Cardoso. A iniciativa é fruto de
uma parceria entre os governos
federal e estadual para o desen-
volvimento da região localizada
entre os rios São Francisco e
Verde Grande.
O projeto só é possível devi-
do à captação feita diretamente
Na ocasião, o IBGE apresentou comprometimento do volume do Velho Chico para o uso nas
os primeiros resultados das de água de rios em períodos lavouras. O processo começa
Contas Econômicas Ambientais de estiagem. com o desvio de parte da água
da Água. O estudo inédito mos- do rio para uma das estações de
trou que a atividade “agricultu- EXEMPLO DE SUCESSO bombeamento, que direciona
ra, pecuária, produção florestal, Associada à seca e pobreza, a água por quase 400 km de
pesca e aquicultura” é a maior a imagem típica do sertão se canais construídos, que fazem
consumidora de água, repre- transforma quando chegamos à a distribuição para as proprie-
sentando mais de 70% do total, região conhecida como Mata da dades e também para o próprio
sendo a agricultura irrigada Jaíba, no norte de Minas Gerais, município de Jaíba. Além de
responsável pelo maior uso. devido ao Projeto Jaíba. Trata-se viabilizar a agricultura, a inicia-
Dados da Organização das do maior projeto de irrigação tiva atrai serviços relacionados
Nações Unidas para Alimen- em área contínua da Améri- à cadeia agrícola, gerando em
tação e Agricultura (FAO) ca Latina, com quase 44 mil torno de 25 mil empregos dire-
apontam que o Brasil está entre hectares irrigáveis. Desafiando o tos e indiretos.
os dez países com a maior área estereótipo e as próprias condi- A iniciativa privada se
equipada para a irrigação. E, ções do semiárido – períodos inseriu no empreendimento
segundo a Agência Nacional de prolongados de estiagem, chuvas ainda no início da década de
Águas (ANA), a área irrigada irregulares e terra arenosa – a 1990 com a criação do Distrito
no Brasil cresceu de 462 mil localidade se tornou, nas últimas de Irrigação de Jaíba (DIJ), enti-
hectares para 6,95 milhões de décadas, o maior polo produtor dade sem fins lucrativos gerida
hectares entre 1960 e 2015, po- de frutas no estado e um dos pelos próprios irrigantes para
dendo chegar a 10 milhões de maiores do país. administrar a infraestrutura
hectares em 2030, 45% a mais A realidade baseada na construída. Hoje, existem mais
do que a área atual. agricultura de subsistência e na de 2 mil produtores no Distrito
Entre os benefícios da pecuária começou a mudar no de Irrigação, sendo a grande
Foto de abertura
irrigação estão o aumento da final da década de 1980, quando maioria deles familiares e em
Pivô central da
estrutura de irrigação produtividade das culturas, o projeto começou a operar nos torno de 70 médios e grandes
do Projeto Jaíba redução da necessidade de municípios de Jaíba e Matias empresários.

22 retratos a revista do ibge jun 2018


“Aqui é comparado com um RECURSO AMEAÇADO De acordo com a ANA, Carro-chefe
deserto e esse projeto trouxe Mesmo com as soluções tecno- mais de 85% dos usuários A banana é um dos
a possibilidade de uma das lógicas para o plantio, a água da bacia do Velho Chico são principais produtos
do Projeto Jaíba,
regiões mais pobres de Minas que dá vida ao Projeto Jaíba é irrigantes. Para o presidente do respondendo por
Gerais ter plantação de uva, ba- hoje também fonte de preocu- Comitê da Bacia Hidrográfica quase 25% da área
nana, cana-de-açúcar”, explica o pação, seja para pequenos ou do Rio São Francisco (CBHSF), cultivada. Segundo a
pesquisa da Produção
gerente-geral da Sada Bioener- grandes produtores, devido Anivaldo Miranda, a agricul- Agrícola Municipal
gia, Leandro Renato, empresa à falta de chuvas nos últimos tura representa hoje o maior (PAM), do IBGE, a
que emprega 400 funcionários, anos. “Estamos vivendo um foco de preocupação para a produção da banana
em Jaíba cresceu de
no período de entressafra, e o dos piores momentos. Des- sobrevivência do curso d’água,
3,5 mil toneladas no
dobro disso durante a safra de 2014 enfrentamos níveis o qual abastece em torno de 18 ano de 2000 para
(de maio a novembro). muitos baixos de rio”, lamenta milhões de pessoas e tem mais 85 mil toneladas em
A constância das altas tem- Marcos Medrado, gerente-exe- da metade de seu território na 2016, confirmando o
potencial do cultivo.
peraturas na região promove as cutivo do DIJ. região semiárida. Além disto, a banana
condições para o desenvolvi- Ainda que o período chuvo- “O São Francisco é funda- divide espaço com
mento das frutas, que apresen- so de 2018 aponte perspectivas mental para o abastecimento mais de 70 culturas,
entre as quais se
tam sabor e qualidade distintos, mais animadoras, a situação do semiárido. Minas Gerais e destacam as de limão
com reconhecimento internacio- crítica do rio tem exigido Bahia podem ter incremento e de manga, que
nal. “A banana que se produz em estratégias para que o principal da irrigação pelas próprias abastecem tanto
Minas Gerais quanto
outro lugar não é igual a daqui”, recurso do projeto não falte, condições de solo e clima.
o exterior.
afirma Paulo Roberto de Carva- como a restrição da expansão Uma vez tendo perspectiva de
lho, agrônomo da Companhia de novas áreas de irrigação. crescimento, nossa atuação é no
de Desenvolvimento dos Vales Outra medida adotada durante sentido de mostrar que a expan-
do São Francisco e do Parnaí- o período de seca que teve iní- são tem que ser feita de forma
ba (Codevasf), proprietária da cio em 2013 foi reduzir a vazão racional e equilibrada, para não
estrutura física do projeto. mínima dos reservatórios. esgotar os rios”, afirma Alexan-

jun 2018 retratos a revista do ibge 23


Os métodos mais eficientes
são o de irrigação
localizada (gotejamento
e microaspersão) e a
aspersão por pivô central.
Em Jaíba, as projeções
indicam que essas técnicas
deverão responder por
75% da ampliação do setor
nos próximos anos. Por
outro lado, modelos não
mecanizados (como por
sulcos e por inundação),
menos eficientes, devem
seguir uma tendência de
retração ou estabilidade.
“Ainda temos maus
irrigantes, mas vem
crescendo muito a
profissionalização no setor”,
diz João Carlos Guimarães
(Emater-MG).

24 retratos a revista do ibge jun 2018


dre Teixeira, especialista em pode provocar a lixiviação de ter uma terra ali do que no Solo seco
Recursos Hídricos e coordena- nutrientes no solo, causando sequeiro (área longe do rio). Área irrigada no
dor de Conjuntura e Gestão da o empobrecimento do mes- Para manter o cultivo, ele utili- município de
Itacarambi (MG)
Informação da ANA. mo, a salinização e a erosão; za o método de gotejamento.
Somente no Projeto Jaíba, a além de poder impactar no A abundância de água no
Codevasf estima que a necessi- recurso hídrico. Ele argumen- entorno é um facilitador; o
dade de água cresça entre 10% ta, no entanto, que se ela for problema está no transporte
e 15% nos próximos cinco bem planejada, com uso de até a lavoura, feito por meio de
anos. Apesar de ter levado de- métodos mais adequados a um motor a gasolina. “A gente
senvolvimento socioeconômi- cada região, não traz riscos à tira a água do braço do rio,
co ao Vale do São Francisco, a segurança hídrica. joga na caixa, ela vai para as
Companhia reconhece que a mangueiras e a gente faz o go-
ocupação e o aproveitamento DO OUTRO LADO DO RIO, tejo. Em cada cova da verdura
dos recursos hidroagrícolas da A SECA IMPÕE SUA FORÇA eu ponho o gotejo. Economiza
região também intensificaram Pouco mais de 50 km e uma água, mas mesmo assim é pre-
sua degradação ambiental. travessia de balsa separam ciso molhar bastante, porque o
Conforme Anivaldo Mi- Jaíba de Itacarambi, no outro clima é muito quente”.
randa, do CBHSF, a agricultura lado do rio São Francisco. O produtor explica que
irrigada feita fora dos padrões No município, a alguns mi- não consegue irrigar a área
legais tem deixado o solo erodi- nutos de bicicleta, fica a “Ilha toda porque a gasolina está
do e salinizado, além de utilizar do Meio do Rio”. Quando o cara, e se emociona ao falar
mais água do que o necessário. curso d’água está cheio, o local das dificuldades dos norte-mi-
“Rios como o Verde Grande fica ilhado e o acesso é feito neiros. Segundo ele, quem não
Parceria
viraram rios intermitentes, por barco, que atravessa um tem aposentadoria abandona
As Contas Econômicas
dada a violência de exploração”, pequeno córrego. Quando a roça, sai da região ou migra Ambientais da Água,
reforça. Além de mais fiscaliza- o nível da água está baixo, é para a cidade. “O sofrimento referentes ao período
ção, ele defende que a ativi- possível cruzar a pé. aqui é grande por causa da de 2013 a 2015, é um
projeto desenvolvido
dade agrícola deve sofrer um Embora localizada à beira seca. Carecemos de mais aju- pelo IBGE em parceria
“choque de modernidade”, com do São Francisco, a área não da, empréstimo barato, facili- com o Ministério
investimentos em tecnologia e tem garantia de boa produção, dade para adquirir materiais do Meio Ambiente
(MMA) e a Agência
extinção de técnicas ultrapassa- já que os investimentos para de irrigação, luz elétrica, uma Nacional de Águas
das de irrigação. a irrigação ideal da lavoura cooperativa para comprar os (ANA), com o apoio da
O gerente da Emater-MG, são altos e o retorno, peque- produtos; melhoraria as con- Agência Internacional
de Cooperação
João Carlos Guimarães, expli- no. Ainda assim, o agricultor dições do agricultor. A gente
Alemã para o
ca que a irrigação mal ma- Antônio Pimenta Flores, de espera que alguma autoridade Desenvolvimento
nejada ou usada em excesso 60 anos, afirma que é melhor se sensibilize”. Sustentável (GiZ).

jun 2018 retratos a revista do ibge 25


Celebrando o mês do meio ambiente,
escolhemos um animal para
representar cada bioma brasileiro!
Você consegue identificá-los?
Veja as fotos originais dos animais
em facebook.com/ibgeoficial.

PAMPA

AMAZÔNIA

Amazônia: Piranha / Pampa: Caxinguelê / Caatinga: Arara / Pantanal: Jacaré / Cerrado: Onça Pintada / Mata Atlântica: Sapo
CAATINGA

PANTANAL

CERRADO

MATA ATLÂNTICA

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