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Introdução
1A geopolítica é uma notável área do saber que floresceu da intersecção da geografia com
a história, a ciência política, a estratégia e a segurança & defesa nacional, e sua longa e
tumultuada trajetória tem sido a seu modo a expressão de importantes transformações do
Estado Moderno e das relações internacionais.
3O exame das ideias e das práticas dos geopolíticos enquanto intelectuais, policy makers
ou dirigentes governamentais que de forma independente ou engajada – nas instituições
de pesquisa e nos aparelhos dos estados - dedicaram-se a ela, revela-nos a natureza e a
influência desse campo de reflexão e de ação política na condução dos negócios
territoriais internos e externos dos estados e nas relações de poder entre eles nas diversas
ordens mundiais desde, pelo menos, o Tratado de Westfalia de 1648.
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aquele que paira de forma absoluta e imperial sobre os indivíduos, grupos e a sociedade
em geral, dissolvendo nesse domínio onipotente sua diversidade sociocultural e política,
segmentos sociais, organizações e seus interesses particulares e espacialmente
localizados, os projetos e conflitos entre eles, bem como as disputas que se processam
entre autonomias políticas historicamente construídas e os sucessivos governos centrais.
5Essa concepção realista clássica marcou profundamente as teorias sobre as relações que
se estabelecem entre política e território ao longo do século XX, fomentando o surgimento
de escolas e instituições civis e militares abrangendo mais de três dezenas de países,
desenvolvidos e periféricos e com regimes democráticos e autoritários. Adequadamente
ajustada ao pragmatismo político dos estados, ela foi levada às últimas consequências
nesses países, já que estes obtinham a legitimação política mediante a sua sempre
presumida maior eficiência diante das ameaças à integridade territorial e aos superiores
interesses soberanos nacionais.
7Inversamente ao que supõem muitos dos seus críticos do meio acadêmico, esse tipo de
concepção (e de exercício de poder político) tradicional dos estados modernos, apesar da
sua derrocada moral devido à sua explícita e turbulenta aplicação ao nazismo alemão e às
diversas modalidades de fascismo e autoritarismo nos países periféricos nas décadas
seguintes, tem-se mostrado capaz de perenizar-se em diversas modalidades de arranjos
institucionais dentro e fora da órbita estatal.
8Esse modo de operar as políticas de estado ainda está muito presente, por exemplo, nas
estratégicas posições de inteligência, planejamento e comando de aparatos civis e
militares com matrizes culturais, ideológicas e políticas variadas. Daí porque é comum
que procurem escoimar ou dissimular o seu conteúdo originalmente centralizador e
autoritário e preferirem, no mais das vezes, destacar sua natureza puramente instrumental,
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isto é, enquanto um aparato técnico, em condições de ser operado com eficácia nos
assuntos especificamente territoriais no âmbito das políticas públicas em geral.
11Segundo, como também destaca o referido estudo, assim como ocorreu na Alemanha
e particularmente em países sul-americanos como Brasil, Argentina e Chile, essa
hegemonia institucional e intelectual dos meios militares sobre a geopolítica foi um
processo amplamente beneficiado pelo fato de que se tratou ali de formular um
pensamento e definir os modos pelos quais ele seria aplicado às políticas de Estado em
contextos nos quais diversos de seus protagonistas eram no mais das vezes, ao mesmo
tempo, pensadores, formuladores e executores dessas politicas. Tratava-se de geopolítica
com raízes no pensamento acadêmico como sabemos, mas que se materializou
enfatizando ao máximo sua vertente pragmática e instrumental e que foi sistematicamente
aplicada, seja pela forte influência da órbita militar nos governos civis, seja como
resultado dos regimes militares que se instalaram e dominaram diversos países da região
no período pós 1960.
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12Terceiro, a aplicação continua desse pensamento geopolítico pragmático em um país
periférico e de dimensões continentais como o Brasil esteve entre os pilares do
planejamento estratégico nacional no aparelho estatal ao longo desses sessenta anos,
inspirando e não raramente comandando as políticas territoriais, isto é ordenamento do
território e planejamento regional, urbano e ambiental. Em outros termos, a ocupação e a
proteção das fronteiras, as políticas de integração nacional, a construção de Brasília, as
políticas de defesa e ocupação para a Amazônia e o Atlântico Sul, a alocação dos
investimentos na infraestrutura de transportes e de energia e os programas de colonização.
Enfim, a predominância de concepções e práticas que constituem os principais vetores da
geopolítica clássica inspirada em Ratzel e Mackinder e que podem ser resumidas no que
seria uma forma de radicalização dos princípios da coesão territorial, do fortalecimento
do poder nacional e da correspondente estratégia visando sua projeção externa.
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mudanças profundas em várias esferas da vida nacional. Em primeiro lugar, o acelerado
processo de transformação do país que se expressou, especialmente, nos processos de
industrialização, urbanização e modernização em geral, e que tiveram o seu maior
dinamismo durante as décadas 1960 e 1970. Ao mesmo tempo, mudanças significativas
também ocorreram na dinâmica populacional, na estrutura social e, sobretudo, no
processo de democratização do país que se intensificou com a lei da anistia para presos
políticos, exilados e cassados em 1969; o direito à livre organização partidária; a eleição
direta para governadores em 1982; o Congresso Constituinte em 1988 e a primeira eleição
direta para Presidente da República ocorrida em 1989.
16É nesse novo contexto nacional que surgem os primeiros grupos de intelectuais do meio
acadêmico dedicados aos estudos da geopolítica como um pensamento explicitamente
civil, não autoritário e relativamente autônomo em relação ao Estado. Podem ser
considerados como ilustrativos desse período de transição os trabalhos de Miyamoto
(1981), Becker (1982), Mello (1987) e Costa (1988). O mais emblemático dos estudos
desse intenso período de produção acadêmica em que floresce essa nova geopolítica é o
texto de Becker (1988), no qual a autora explicita a ruptura entre o velho e o novo
pensamento na área e aponta os caminhos para uma reflexão teórica que implique não
apenas no alargamento e na diversificação do objeto e dos temas de estudo mas,
principalmente, em abordagens teóricas que na prática reconciliam em outros termos a
geopolítica com a geografia humana e a ciência política contemporânea.
17Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer o forte impacto dos eventos intelectuais
franceses associados à efervescência provocada pelas ideias de Yves Lacoste e seu grupo
da Universidade de Vincennes no meio acadêmico brasileiro e especificamente entre
aqueles interessados nas relações entre geografia, ideologia e política. A publicação do
seu pequeno e incendiário livro “La géographie, ça sert d’abord a faire la guerre” e do
primeiro número da Revista Hérodote, em 1976, representaram de fato um marco
histórico não só para a evolução da geopolítica contemporânea, mas para os rumos da
própria geografia brasileira.
18A influência francesa nessa renovação da geopolítica brasileira também pode ser
creditada aos trabalhos de Raffestin (1980), que aplicando as ideias de Foucaudt, nos
oferece a primeira análise critica abrangente da geopolítica clássica com raízes em Ratzel
e aponta ainda que o poder político e sua territorialização não são movimentos exclusivos
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da órbita estatal. Essa inovação teórica e metodológica também pode ser verificada nas
contribuições de Giblin (1986) quando chama a atenção para a natureza política e
geopolítica das regiões.
19Também a partir de meados dos anos 1980 esse ambiente marcado por uma conjunção
de modernização e democratização do país como um todo e, em particular, das
instituições, favoreceu enormemente o surgimento de centros de pesquisas e de debates
sobre temas direta ou indiretamente geopolíticos e estratégicos. Esses centros, que nos
Estados Unidos são chamados de think tanks, são basicamente núcleos híbridos ou
semiautônomos de pensamento estratégico que, em geral, congregam tanto os policy
makers de origem estatal (militares e civis), quanto intelectuais acadêmicos e
representantes da sociedade civil em geral. Ao mesmo tempo, multiplicaram-se os cursos
de pós-graduação em Geografia e Ciência Política e os cursos na área das Relações
Internacionais no país. Como consequência, passou-se a atuar no campo da pesquisa e da
reflexão em geopolítica em praticamente todas as áreas que direta ou indiretamente se
interessam pelos temas da estratégia, do desenvolvimento e da política internacional.
22No Brasil, esse novo ambiente político promoveu uma vigorosa abertura desses temas
para o meio acadêmico e em particular para os cada vez mais atuantes think tanks a que
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nos referimos. A experiência que mais simbolizou essa mudança foi o processo de
elaboração da Política de Defesa Nacional, aprovada em 2005.
23Pela primeira vez, participaram desse tipo de atividade intelectuais de diversas origens
e orientações ideológicas e políticas, antigos representantes dos estamentos militares e os
diplomatas, sendo que estes últimos com papel cada vez mais destacado na formulação
das políticas relativas à defesa nacional e das estratégias de projeção externa.
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na qual predomina um franco e acelerado processo de integração nos campos da
economia, da política, da infraestrutura e até mesmo da segurança e defesa.
29Um dos mais importantes trabalhos que tratam desse processo de mudanças na região
e que expressa a crescente simbiose entre os círculos militares e civis em torno dos temas
estratégicos e geopolíticos, é a coletânea organizada por Oliveira (2008). Alguns
trabalhos procuram expressar também o tema da integração regional de uma perspectiva
explicitamente geopolítica, como o de Costa (2009). Também merece destaque a
coletânea organizada por Girault (2009), elaborada a partir de seminário organizado por
ele em parceria com o Programme Arcus e o Instituto de Estudos Avançados da USP, na
qual se encontram artigos dedicados especificamente a essa temática.
30Destaque-se na referida obra o artigo de Costa & Thery (2009) no qual os autores
examinam o processo recente de integração regional e identificam o que para eles
representaria a atuação de vetores ou forças de convergências e divergências nesse
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cenário. No primeiro caso, tratam-se das políticas bem-sucedidas de integração
econômica, política e estratégica, já mencionadas, e que se tem expressado empiricamente
no aprofundamento da cooperação bilateral e multilateral em todas as esferas das relações
de vizinhança. Exemplos delas é a multiplicação de experiências de articulação
fronteiriça, incluindo arranjos institucionais para a gestão compartilhada de áreas urbanas
e recursos naturais comuns. Além disso, são emblemáticos os projetos de infraestrutura
voltados para implantação e modernização de rodovias, ferrovias, oleodutos e gasodutos.
31Outros trabalhos têm examinado essas mudanças recentes em seus aspectos mais afetos
às relações internacionais, como o de Saint-Pierre (2009), nos quais se sobressaem os
processos decorrentes do aprofundamento dos arranjos institucionais multilaterais e o
modo pelo qual a região procura se organizar para fazer frente aos novos desafios do
sistema internacional. No campo da política regional sul-americana tem merecido
destaque a atuação bem-sucedida da UNASUL, que tem se firmado como importante
fórum voltado para a concertação política de natureza genuinamente regional envolvendo
todos os seus 12 governos nacionais. E isso tem-se demonstrado, especialmente, na sua
eficácia enquanto fórum voltado para a solução de conflitos entre os pares, como aquele
entre a Colômbia e o Equador envolvendo o bombardeiro colombiano a uma base das
FARC em território equatoriano.
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antigo quadro de rivalidades regionais. Tais são os casos, dentro outros, dos recorrentes
conflitos fronteiriços agravados pelos ilícitos de toda ordem e, em particular, do tráfico
de drogas. Também os litígios de natureza fiscal ou alfandegária que se expressam, muitas
vezes, em barreiras comerciais envolvendo grupos específicos de produtos ou, ainda,
conflitos decorrentes da intensificação dos fluxos migratórios, em geral envolvendo
grandes contingentes de brasileiros que se estabeleceram décadas atrás no Paraguai e,
mais recentemente, Bolívia, Peru, Venezuela e a Guiana Francesa.
34Os conflitos mais agudos no momento são aqueles relacionados à presença dos
pequenos produtores de rurais no Paraguai (os “brasiguaios”) e dos grandes produtores
de soja na Banda Oriental da Bolívia (Província de Santa Cruz). Há um consenso entre os
especialistas, entretanto, de que o mais importante potencial de riscos para o futuro da
integração é aquele decorrente do aprofundamento do quadro de graves assimetrias entre
os países da região.
35Se no início desse processo já era evidente a desproporção entre as economias, por
exemplo, de Brasil face ao Paraguai e Uruguai, com o acelerado crescimento do PIB
brasileiro na última década, a situação do MERCOSUL tende a se tornar insustentável
caso não sejam adotados políticas específicas voltadas para a promoção de uma maior
equidade no desenvolvimento regional, como foi a recente criação dos Fundos
Estruturais, tradicionais no âmbito da União Europeia e aqui adotados sob a denominação
do Focem (Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do
Mercosul).
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37Sabe-se a propósito que as novas bases militares colombianas implantadas com o apoio
dos EUA, dispõem de aeronaves capazes de realizar voos com autonomia de até seis mil
quilômetros e, portanto, é evidente que o seu teatro de operações militares não se restringe
aos territórios colombianos dominados pelo narcotráfico e até recentemente pelas FARC.
Esta região representa, em suma, o hot point sul-americano, aquela de maior fricção
politico-estratégica e geopolítica na atual conjuntura e é certo que esse tema é prioritário
na agenda dos organismos multilaterais de consulta mútua da região.
40No caso da Amazônia, esta região é um dos mais caros objetos de preocupações e
estudos ao longo dos oitenta anos de pensamento geopolítico brasileiro. De fato, com seus
mais de cinco milhões de quilômetros quadrados, a mais importante bacia hidrográfica
no mundo e a maior biodiversidade tropical do planeta, além dos seus mais de oito mil
quilômetros de fronteiras, por si só mereceria o qualitativo de estratégica por qualquer
um dos estados da comunidade internacional. No auge no regime militar, conforme já
mencionado, a geopolítica para essa região se materializou principalmente através de do
que foi denominado de “Plano de Integração Nacional” (1971).
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um lado cristalizava na prática ideias expressas pela velha geopolítica militar, como foi
dito, de outro, inspirou diversos estudos críticos da nova geopolítica que se desenvolveu
no país a partir no início dos anos oitenta.
43O que se poderia chamar de uma segunda fase dos estudos da Amazônia sob uma
perspectiva geopolítica foi em grande parte inspirado pela formidável influência do
debate internacional sobre o futuro da região do ponto de vista da sustentabilidade
ambiental durante a Conferência Rio 92 e os seus diversos impactos sobre a produção
acadêmica e as políticas territoriais e, especificamente, ambientais. Merece destaque o
Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia que gerou inúmeras
pesquisas sobre aspectos físico-bióticos e socioeconômicos da região, além de subsidiar
políticas voltadas para o planejamento regional e ambiental no âmbito dos nove estados
amazônicos.
44A partir dessa Conferência, especialmente, o país se defrontou com uma aguda
contradição que tem marcado profundamente o presente e impactarão os cenários futuros
da Amazônia. De um lado, porque se robustece em todo o mundo uma mescla de
percepções diversas e de resultados de pesquisas científicas que põe em destaque os
impactos desse ecossistema no funcionamento do ambiente planetário. De outro, porque
está em curso a revalorização dos recursos naturais (minerais, hídricos, bioprodutos, etc.)
e das commodities em geral no comércio internacional, um fator que impõe uma complexa
e incontornável agenda ao país - governos e empreendedores privados em geral – que se
encontram compelidos a não apenas reagir técnica e politicamente às pressões externas
sobre a região, como também a atuar com rapidez e eficiência no que se refere ao seu
quadro e tendências atuais e ao planejamento do seu desenvolvimento em novas bases
políticas, sociais, tecnológicas, econômicas e ambientais.
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45Outros estudos de síntese procuraram explorar a transversalidade da questão ambiental
nas políticas territoriais para Amazônia, uma demonstração de que esse é um caminho
complexo, porém o mais adequado para abordar tal região numa perspectiva de
contemporaneidade que inspira a nova geopolítica brasileira. O trabalho que melhor
expressa essa tendência é o de Mello-Théry (2006).
48Desse modo, abre-se para o país um cenário estratégico não tradicional, agora
envolvendo o seu potencial de influência para além da ZEE, o espaço ampliado pela
Plataforma Continental (A Amazônia Azul) e, em seguida a Bacia do Atlântico Sul, nela
incluídos os países da Costa Ocidental da África, os países lusófonos e em especial a
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África do Sul, sua parceira nos BRICS. Nesse sentido, os textos mais recentes sobre o
tema como, por exemplo, o estudo organizado sob os auspícios do IPEA, tem apontado
que esse desafio consiste justamente na capacidade do país, nos próximos anos, de
combinar com habilidade, de um lado, uma atuação especificamente estratégico-militar
de dissuasão, voltada para a defesa da soberania desse território nacional agora ampliado
e, de outro, a ampliação da influência do país mediante o aprofundamento dos laços de
cooperação internacional nessas regiões.
49No nosso estudo sobre esse tema, chamamos a atenção para a complexidade e os
desafios do alargamento do entorno regional brasileiro em direção ao Atlântico Sul:
50Aspecto destacável nesse novo quadro é que o vulto dos negócios relacionados à
exploração de petróleo e gás na região tem sido um poderoso vetor de mudanças que
afetam as posições regionais relativas, os objetivos e as opções dos atores nacionais –
sejam eles pequenos e pobres, ou potências médias e grandes potências – nas suas
estratégias políticas de alinhamentos preferenciais ou circunstanciais e mesmo de
confrontações. Enfim, o principal a reter na análise desse processo é que hoje a economia
e a política do Atlântico Sul têm nova escala, movimentam-se de outro modo e é por isso
que este se converteu num dos espaços relevantes da geopolítica mundial.
52Nesse evento também se pode observar o papel destacado da Ilha de Ascenção no apoio
logístico às operações militares britânicas na região. Localizada na porção setentrional do
Atlântico Sul a aproximadamente dois mil km de Recife e a seis mil km das Malvinas,
nela encontra-se em operação, desde a Segunda Guerra Mundial, uma base aérea norte-
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americana, além de estratégico centro de monitoramento e vigilância eletrônicos com fins
civis e militares. Trata-se de estreita parceria de Inglaterra e Estados Unidos que replica
no Atlântico Sul o alinhamento automático que mantêm há pelo menos um século e que
hoje é ilustrado pelas ações militares conjuntas no Iraque, no Afeganistão, na Organização
do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e em outras bases militares operadas em
consórcio, como é o caso da sua poderosa força aeronaval conjunta na Ilha Diego García
no Oceano Índico.
55Por fim, e desse ponto de vista, o país deveria também, com igual determinação e ao
mesmo tempo, realizar pesados investimentos de curto e médio prazo na sua capacidade
de dissuasão, isto é, a modernização das Forças Armadas e, em particular, os programas
voltados para o monitoramento das fronteiras terrestres, a aviação militar de transporte e
de caça e o urgente reequipamento da Marinha de Guerra. Por isso adquire especial
relevância o esforço de manter os investimentos do atual programa de modernização da
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flotilha brasileira, e em especial o acordo estratégico Brasil-França de 2008 que inclui o
projeto para a construção de cinco novos submarinos, sendo o último deles de propulsão
nuclear.
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