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1. Introdução
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Doutorando e Mestre em Economia (UnB). Consultor Legislativo do Núcleo de Economia do Senado
Federal.
www.brasil-economia-governo.org.br
2002 e 2012, abrangendo o final do governo FHC, os dois mandatos de Lula e o início
do governo Dilma. Como a formação do tribunal não foi uniforme entre junho de 2002
e março de 2012, os pontos foram estimados para diferentes períodos, respeitando as
nove composições diferentes que o Supremo teve.
Também foram estimados pontos ideais para o Advogado-Geral da União (AGU)
e para o Procurador-Geral da República (PGR). Ambos devem se posicionar em todas
as ações diretas de inconstitucionalidade, e a comparação dos seus pontos estimados
com os dos ministros enriquece a análise das teorias de comportamento judicial.
Apesar de o artigo 131 da Constituição atribuir ao AGU a função de representar
e assessorar a União, a mesma Constituição lhe reserva, no artigo 103, outro papel nas
ADI: o de advogado de defesa. Assim, ele é, em tese, obrigado a se manifestar em
todos os processos defendendo a norma que é alvo da ação. No entanto, desde a ADI
1616, julgada em 2001, o AGU ficou desobrigado a defender normas em processos em
que a jurisprudência do STF aponte para a inconstitucionalidade. Essa possibilidade
tornou a atuação do Advogado-Geral da União mais interessante, porque ele passou a
ter maior discricionariedade.
Já o PGR deve apresentar um parecer, que pode ser tanto favorável quanto
contrário à ação, atuando como custos legis, o fiscal da lei. Tal qual acontece com a
manifestação do AGU, o parecer do PGR não vincula o voto dos ministros: eles podem
seguir ou não seguir esse parecer.
colocada de acordo com o Presidente que o indicou). Não é isso que acontece: pontos
vermelhos (indicações de Lula) estão dispersos pelos gráficos, e pontos de outras cores
(indicações de outros Presidentes) também não se dividem dessa forma.
Também em relação ao modelo estratégico é possível fazer algumas
considerações a partir dos gráficos. A ideia então de que o Supremo não seria
completamente independente por temer contrariar o Executivo perde força quando se
compara a posição dos ministros com a do AGU, que representaria o governo federal.
Por fim, como salienta a literatura de comportamento judicial, é muito difícil
provar objetivamente que um voto é estratégico ou que é sincero (como no modelo
jurídico). É a presença do PGR nos gráficos estimados que permite discutir a validade
do modelo jurídico. Se, por hipótese, ele de fato segue o seu papel constitucional de
custos legis (“fiscal da lei”) e produz pareceres independentes com objetivos
estritamente jurídicos, não perseguindo estratégias, a análise da sua localização em
relação aos ministros indicaria a validade do modelo para o STF.
Não é possível concluir, portanto, que algum dos três modelos analisados é
mais pertinente do que outro para explicar o comportamento judicial no STF. A
aplicação do modelo de votação espacial vai ao encontro de outros trabalhos
empíricos para o STF: de que o voto de um ministro pouco se correlacionaria com a
ideologia do Presidente que o indicou, contrariamente ao que parte da opinião pública
pensa sobre a questão. Uma explicação plausível para isso é que, a partir de sua
nomeação, o ministro não depende mais do que Presidente que o indicou: não há
qualquer mecanismo de recondução, devido à vitaliciedade do cargo.
Este texto é baseado no paper “How Judges Think in the Brazilian Supreme Court: Estimating
ideal points and identifying dimensions” e na dissertação “Como Decidem os Ministros do STF:
Pontos Ideais e Dimensões de Preferências”.
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Leituras recomendadas:
EPSTEIN, L.; KNIGHT, J., The Choices Justices Make. Washington: CQ Press, 1998. 186 p.
EPSTEIN, L.; KNIGHT, J.; MARTIN, A. The Supreme Court as a Strategic National Policymaker.
Emory Law Journal, v. 50, p. 583-612, 2001.
POSNER, R How judges think. Cambrige: Harvard University Press, 2008. 400 p.
SEGAL, J.; SPAETH, H. The Supreme Court and the Attitudinal Model. New York: Cambridge
University Press, 1992.
EVERSON, P.; VALLELY, R.; WISEMAN, J. NOMINATE and American Political History: A Primer.
VoteView Working Paper, 2009.
POOLE, K.; ROSENTHAL, H. A Spatial Model for Legislative Roll Call Analysis. GSIA Working
Paper #5-83-84, 1983.
LANNES, O.; DESPOSATO, S.; INGRAM, M. Judicial Behavior in Civil Law Systems: Changing
Patterns on the Brazilian Supremo Tribunal Federal. In: CICLO 2012 DO PROGRAMA DE
SEMINÁRIOS CIEF-CERME-LAPCIPP-MESP, 2, Brasília, 14. nov 2012.
LEONI, E.; RAMOS, A. Judicial Preferences and Judicial Independence in New Democracies: the
Case of the Brazilian Supreme Court. Disponível em:
http://eduardoleoni.com/workingpapers/>. Acesso em: 14 out. 2012.