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O PROCESSO: "Conversão"
Será esta a Mensagem que Fernando Pessoa acredita podermos
partilhar com o mundo, como a nossa mais profunda e verdadeira
Identidade cultural e espiritual? A de acreditarmos que cada ser,
cada grupo, cada cultura, seguindo a busca da sua identidade, da
sua verdadeira natureza à luz do Espírito e agindo em
conformidade com ela, esteja a cumprir-se, a si e ao mundo? A de
acreditarmos no valor supremo da diversidade dos modos de
manifestação de todas as identidades culturais e espirituais e da
sua aceitação, da sua partilha amorosa e fraterna, no interesse de
todos?
Será esse olhar português enraizado nas nossas tradições e na
nossa história, no pensamento e na escrita dos nossos mestres, nas
nossas melhores realizações, que nos cabe afirmar como a nossa
Identidade de sermos o tal "rosto da Europa" e com este olhar
olharmos para o mundo e com ele sermos capazes de vislumbrar a
3ª Era, o advento do Homem completo?
Agostinho da Silva, tal como Camões e Pessoa assim o crêem. Com
efeito existe um paralelismo entre a ideia das três Eras do tempo
em Fiore e a teoria das três ideias de Portugal de Fernando
Pessoa: ao Portugal enquanto construção da sua identidade
territorial, seguiu-se a expansão para além dela, na aprendizagem
do convívio com outras identidades territoriais, culturais e
espirituais. Por fim, como bem explica Renato Epifânio no seu
precioso escrito "Visões de Agostinho da Silva", Ed. Zéfiro em
2006, chegou a hora de manifestar o 3º Portugal, o Portugal
indelimitado que difunde pelo mundo a ideia que cada um e todos
sejam plenamente eles próprios e, assim, livremente se
manifestem e fraternamente se aceitem e entreajudem.
Na forma como os portugueses concretizam simbolicamente a ideia
de Fiore e dos franciscanos na Festa popular, encontra Agostinho o
sentido de uma visão do universo como “criação contínua”,
“incriado e criador”, e do Homem completo como “poeta que faz
poemas e que é ele próprio poema”, ou seja, uma criação
contínua também. Como aliás, ele próprio, se revela, na escola e
na vida: Homem Poema espírito criativo, sempre imprevisível,
desconcertante e desafiador.
No "entre" da visão e da manifestação, podemos assim vislumbrar
uma espécie de zoom inter dimensional de consciência que nos
permite viajar, boiar, bolinar, do tempo ao Tempo, unificando o
espaço que vai da nossa realidade mais concreta e cheia de
contradições até à infinita e eterna unidade do ser.
Ele reconhece em nós, portugueses, atributos que nos capacitam
para vivermos esse processo, tecermos essa obra interna que ele
nos propõe como caminho para a manifestação da Idade do Espírito
Santo no mundo. Estará este puro ideal franciscano a querer
reviver também agora com o Papa Francisco? É interessante
lembrar que ele consagrou o Mundo à Senhora de Fátima de
Portugal, no dia 13 de Outubro 2013.
Agostinho aponta aos portugueses um caminho de busca interna e
de descoberta consciente da Alma, extensivo ao coletivo humano:
trata-se, por isso, de fazer presente o Homem completo em cada
aqui e agora, a partir de cada contexto onde a alma coletiva se vai
manifestando. A sua ocupação permanente é apontar-nos
caminhos que frutifiquem em realizações para o bem de todos.
Ele explica o entusiasmo dos portugueses pelo culto do Espírito
como sendo uma representação do anseio mais profundo da velha
Alma Portugal: a Saudade da completude do ser, incriado e criado,
presença viva da eterna Origem.
A MANIFESTAÇÃO no Mundo
Agostinho reconhece o caracter permanente e global do processo
das três Eras, ou de conversão, como a própria vida em ação
manifestada. Denuncia tudo o que bloqueia esse processo
alquímico de busca do Homem universal completo e, à sua maneira
muito própria, rebela-se e trabalha para desfazer os bloqueios,
destruir os medos, os julgamentos, os velhos hábitos ilusórios, os
valores errados.
Abre caminho para construirmos o novo enquanto manifestação
das qualidades do Espírito: liberdade, criatividade, humildade,
fraternidade e amor.
Considera que existe um potencial económico e de avanço
tecnológico que pode libertar o Homem para a capacidade de
criar, o qual deve ser usado para proporcionar a todos melhores
condições de vida digna.
Por ora a concorrência especulativa global ainda impera e
mantendo o jogo dos domínios e dependências, continua a viciar
as relações. Com o avanço de uma verdadeira democracia de
homens completos e livres não será mais possível uma atitude
imperialista de comércio especulativo e desigual. A cooperação
vencerá a concorrência e as trocas serão equilibradas e baseadas
no interesse recíproco.
O culto do Espírito Santo retrata este sonho. Espalhou-se com as
Descobertas pelo Brasil, Açores e daí para a Califórnia (Festa de
San Diego), mas diminuiu muito com a invasão da península pela
Europa no séc 16, que trouxe uma organização do capital “oposta
à economia comunitária de Portugal e dos cumeros espanhóis” e
também um tipo de governação centralista autocrático,
completamente diferente do governo da coordenação que tinha
sido sempre a forma de governo em Portugal: "coordenação pelos
reis, coordenação pelos monarcas de um conjunto de municípios
que só podemos classificar plenamente democráticos e
republicanos” e onde a educação era feita livremente através da
experiência: “havia poucas escolas e elas não eram frequentadas
senão em casos muito especiais”.
Podemos reconhecer nos ensinamentos e práticas dos grupos
iniciáticos, religiosos ou laicos, que marcaram desde sempre a
origem e a história de Portugal enquanto nação, o fio condutor que
preservou o sonho da “ligação” deste povo com a consciência da
sua Alma. E nessa religação encontrarmos a vontade, o entusiamo
e a motivação para nos expandirmos de novo para dentro e para
fora de nós mesmos, no processo alquímico de nos tornarmos,
neste mundo, no Sonho que a Alma Sonha na Saudade da Unidade
Amorosa do Ser.
Os sonhos eternos das almas são bem diferentes dos sonhos ainda
velados e ilusórios da psique básica, feitos de energias bloqueadas,
ligadas à experiência de densidade corporal. Mas, é também nesse
mundo denso, que os sonhos da alma se terão de manifestar.
Agostinho da Silva ilumina, com o culto do Espírito Santo, o
sentimento de que vivemos num espaço sagrado de comunhão de
afetos: este sentimento cresce, torna-se a própria essência do ser
de cada um e de todos, e d'Ele emerge todo o saber, todo o fazer,
toda a manifestação, todo o Amor, tornamo-nos almas vivificadas
na consciência da comum Presença Viva, que é Origem e Fim, que
é Direção e Alimento.
Mas para que tal aconteça, salienta, é necessária uma envolvência
de identidade cultural que acompanhe o desenvolvimento ao longo
de todo o crescimento, de toda a vida. Daí a importância de um
ensino que mantenha viva a criatividade conduncente à
manifestação da visão no mundo dos homens, tornando-os cada
vez mais Homens Poema.
Cultura é Identidade. Identidade cultural é uma energia de alma
coletiva em ação, que a si mesmo se reconhece como tendo
sonhos, atitudes e comportamentos comuns, na liberdade de todas
as diferenças. Não se aprende por imposição ou curiosidade
inteletual, antes se descobre e vem à consciência quando se
procura a partir de dentro, pois pré existe à consciência que dela
se toma, habitando a alma como a "tonalidade" própria de cada
ser, de cada grupo.
Caminho certo para a resposta final à Saudade da Alma, base sólida
para a realização da sua mais profunda aspiração: ser tocada pela
Presença amorosa, harmoniosa, curadora, do Espírito, que a
preenche de alegria e potência vital. Energia, vibração, alegria
interna que se descobrem contagiantes e, devagar, devagarzinho,
se podem espalhar como azeite em pano...
A Identidade cultural de Portugal e suas manifestações ao longo da
História são bem reveladoras de que a Alma em Português –
essa Identidade suprema - é uma Alma Velha, cada vez mais
consciente de “O” Ser, mais sábia e mais capaz de “O” Fazer ou
seja de criativamente “O” trazer à manifestação: trazer o Espírito
Santo, O Amor Fraterno, à manifestação, de forma criativa e nisso
ser exemplo para o mundo.
O processo é sempre o mesmo, seja ele vivido por dentro de cada
um, seja ele vivido enquanto grupo, pois é O processo da
Humanidade inteira que se expande na consciência do Ser.
Reconhecê-l´O é reconhecermo-nos na nossa essência mais
abrangente e mais profunda.
Esse processo é também o começo da manifestação do Espírito
Criativo no mundo, do Homem completo, do “céu na terra”, do
Criador na Criação, ambos Um Só. Tal como acontece com mestre
e discípulo, à medida que a Criação se torna consciente do Criador
deixa de haver separação: Criação e Criador são Um Só, O Amor
Pessoa.
Agostinho faz isso na sua vida, por exemplo, criando a
Universidade de Brasília a partir do nada. Insiste no fortalecimento
da comunidade lusófona. Como diz Renato Epifânio, o Movimento
Internacional Lusófono - MIL - tem um sentido de processo e a
lusofonia interessa a todos, mas as coisas não se fazem de um
momento para o outro; tem sido o tempo de curar as feridas da
descolonização e as novas gerações são a esperança na
continuação do caminho.
“P E D R A A L T A”
Na praia
sentada na Pedra Alta
perguntei ao meu corpo:
Finalmente perguntei
ao meu corpo
(ansiosa por senti-lo):