Sie sind auf Seite 1von 19

AGOSTINHO DA SILVA E PORTUGAL

A VISÃO, O PROCESSO, O PROJETO E A MANIFESTAÇÃO.


por Carminda H. Proença

Artigo publicado na NOVA ÁGUIA Nº 13 - 1º semestre 2014,


Revista de Cultura para o Século XXI

A VISÃO: "Homem Completo"


No vídeo “Agostinho da Silva, Ele Próprio”, gravado por António
Escudeiro, e publicado em livro e DVD pela Ed. Zéfiro em Março de
2006, o filósofo afirma ao jornalista - para espanto deste e nosso -
que esteve em diálogo com o Espírito Santo, seu interlocutor na
gravação: "aquela câmara era o Espírito Santo".
Como ponto de partida para essa conversa, escolhe uma ideia que
encontra nas reflexões do abade beneditino Joaquim de Fiore
sobre o significado de tempo na conceção cristã das três pessoas
da Trindade.
Pai, Filho e Espírito Santo são para Fiore idades coeternas,
omnipresentes no Tempo - com T grande, da eternidade. Mas elas
se manifestam também em cada tempo - com t pequeno, relativo,
próprio da forma como apreendemos na nossa condição humana -
como três eras sucessivas, correspondentes a três estados de
consciência: a Era do Pai, a que se segue a Era do Filho, e depois
desta a Era do Espírito Santo, que será a do pleno desenvolvimento
do Homem completo, completamente consciente de quem é e
agindo em conformidade com as qualidades do Espírito.
Temendo que o entusiasmo das pessoas por esta terceira Era
conduzisse a uma perda do prestígio da Igreja de Cristo, esta
pressionou Fiore a desdizer-se e ele teve de abandonar a ordem
por se recusar a fazê-lo, acolhendo-se junto de um grupo de
franciscanos espirituais que também recusavam a recomendação
do Papa no sentido de que os conventos procurassem acumular
riquezas e se mantinham fiéis aos ideais fraternos do seu
fundador.
Agostinho da Silva enraíza na ideia das três Eras e nos ideais
franciscanos as suas reflexões sobre a visão do Homem completo,
de como é e de como age. Na sua vida, no seu exemplo e na sua
palavra, o grande Professor procura ir mais além e ilumina o
processo interno capaz de trazer a sua visão, à luz da nossa
consciência. Revela-nos as linhas mestras do projeto para a
manifestação do pleno desenvolvimento do Homem, incitando-nos
como portugueses a vivê-lo e a irradiá-lo para o mundo.
O culto do Espírito Santo, tal como é praticado pelos portugueses,
é para ele revelador desse projeto. Sublinha que o interesse pela
concretização, bem característico do povo português, se revela no
entusiasmo com que esse culto se espalhou em Portugal, desde
que a Rainha Santa Isabel veio de Aragão para casar com D. Dinis,
em 1282. Conhecedora dos ideais de Joaquim de Fiore e dos
franciscanos espirituais, ela promove em Alenquer, no séc. 13, a
1ª festa do Espírito Santo como um culto popular.
Lembra-nos Agostinho que o Espírito Santo é criação pura,
portanto “instabilidade e inesperado” mas ao mesmo tempo diz
que os portugueses anseiam antever “como” se organizará essa
futura Idade.
Parece haver aqui uma contradição, uma ilusão, uma missão
impossível. encoberta... Será esta contradição indicativa de uma
nostalgia que tenta encontrar uma ordem racional no caos da pura
criação ou trará essa aparente contradição à luz uma portuguesa
capacidade de intuir, neste caso, a multidimensionalidade
quântica em permanente movimento que parece ser a criação e
onde todas as aparentes contradições convivem, por direito
próprio, numa íntima e indissociável unidade diferenciada,
no Tempo e no tempo?

O PROCESSO: "Conversão"
Será esta a Mensagem que Fernando Pessoa acredita podermos
partilhar com o mundo, como a nossa mais profunda e verdadeira
Identidade cultural e espiritual? A de acreditarmos que cada ser,
cada grupo, cada cultura, seguindo a busca da sua identidade, da
sua verdadeira natureza à luz do Espírito e agindo em
conformidade com ela, esteja a cumprir-se, a si e ao mundo? A de
acreditarmos no valor supremo da diversidade dos modos de
manifestação de todas as identidades culturais e espirituais e da
sua aceitação, da sua partilha amorosa e fraterna, no interesse de
todos?
Será esse olhar português enraizado nas nossas tradições e na
nossa história, no pensamento e na escrita dos nossos mestres, nas
nossas melhores realizações, que nos cabe afirmar como a nossa
Identidade de sermos o tal "rosto da Europa" e com este olhar
olharmos para o mundo e com ele sermos capazes de vislumbrar a
3ª Era, o advento do Homem completo?
Agostinho da Silva, tal como Camões e Pessoa assim o crêem. Com
efeito existe um paralelismo entre a ideia das três Eras do tempo
em Fiore e a teoria das três ideias de Portugal de Fernando
Pessoa: ao Portugal enquanto construção da sua identidade
territorial, seguiu-se a expansão para além dela, na aprendizagem
do convívio com outras identidades territoriais, culturais e
espirituais. Por fim, como bem explica Renato Epifânio no seu
precioso escrito "Visões de Agostinho da Silva", Ed. Zéfiro em
2006, chegou a hora de manifestar o 3º Portugal, o Portugal
indelimitado que difunde pelo mundo a ideia que cada um e todos
sejam plenamente eles próprios e, assim, livremente se
manifestem e fraternamente se aceitem e entreajudem.
Na forma como os portugueses concretizam simbolicamente a ideia
de Fiore e dos franciscanos na Festa popular, encontra Agostinho o
sentido de uma visão do universo como “criação contínua”,
“incriado e criador”, e do Homem completo como “poeta que faz
poemas e que é ele próprio poema”, ou seja, uma criação
contínua também. Como aliás, ele próprio, se revela, na escola e
na vida: Homem Poema espírito criativo, sempre imprevisível,
desconcertante e desafiador.
No "entre" da visão e da manifestação, podemos assim vislumbrar
uma espécie de zoom inter dimensional de consciência que nos
permite viajar, boiar, bolinar, do tempo ao Tempo, unificando o
espaço que vai da nossa realidade mais concreta e cheia de
contradições até à infinita e eterna unidade do ser.
Ele reconhece em nós, portugueses, atributos que nos capacitam
para vivermos esse processo, tecermos essa obra interna que ele
nos propõe como caminho para a manifestação da Idade do Espírito
Santo no mundo. Estará este puro ideal franciscano a querer
reviver também agora com o Papa Francisco? É interessante
lembrar que ele consagrou o Mundo à Senhora de Fátima de
Portugal, no dia 13 de Outubro 2013.
Agostinho aponta aos portugueses um caminho de busca interna e
de descoberta consciente da Alma, extensivo ao coletivo humano:
trata-se, por isso, de fazer presente o Homem completo em cada
aqui e agora, a partir de cada contexto onde a alma coletiva se vai
manifestando. A sua ocupação permanente é apontar-nos
caminhos que frutifiquem em realizações para o bem de todos.
Ele explica o entusiasmo dos portugueses pelo culto do Espírito
como sendo uma representação do anseio mais profundo da velha
Alma Portugal: a Saudade da completude do ser, incriado e criado,
presença viva da eterna Origem.

Agostinho ensina que a nossa viagem terrena é também uma


viagem interna de recordar um passado que é futuro.
É o processo individual, que por sua vez se torna coletivo e
externo, se consciencializa e se foca na intenção de um projeto de
manifestação, de ação e de realização concreta no mundo. É um
trabalho permanente de transmutação interior, alquímica,
do ego mais básico auto centrado para o eu cônscio de si mesmo e
deste para a presença viva do Espírito que o habita e que,
finalmente, descobre e aceita como a força criadora e
impulsionadora, sua guia: O amor maior em ação em todos nós e
que se manifesta de uma forma única em cada ser.
Todo este processo íntimo está em curso, devagar, humildemente,
silenciosamente, interiormente buscando a manifestação, de
forma persistente, inspirada e inspiradora, herança de Mulheres e
Homens Grandes porque Crianças e Poemas tal como Agostinho,
esforçados ”Descobridores”, que contam histórias vivas e vivos as
dizem de geração em geração, como se a alma lhes reconheça a
valia e lhes ordene imperativamente essa generosa e fraterna
partilha, ilustrando tais histórias em atitudes e ações nas suas
próprias vidas, e sabendo também iluminá-las nas vidas de todos.
Agostinho da Silva é uma Luz, um Farol, um Mestre, alguém que
faz a Viagem de Vida a caminho do Homem completo e nos fala
dela intuindo um destino que é o de todos. Ele nos mostra a sua
Visão de um futuro que é também memória, na alma, do passado,
sua Origem. Afirma que esta Visão é inata e está presente na
criança enquanto ainda ser livre. Incita-nos a recuperar e
conservar a sua memória viva e a redescobri-la nas sucessivas
experiências da vida.
É uma aprendizagem na qual se revela Mestre. Egos aprendizes
esquecidos de quem somos, ele nos conduz com segurança ao
leme, na Viagem, pelas suas palavras, pelo seu exemplo, e nos
aponta a direção certa, incitando-nos a prossegui-la.
Agostinho ensina-nos que é possível agir e realizar obra neste
mundo em que vivemos, obra de almas abertas pelo toque do
Espírito, unidas pela e na Presença eterna do Amor Maior, almas
vivas e conscientes, ou seja, como diz, iluminadas, transparentes,
translucidas, como as “mundas almas” de Camões. Diz ele que
Camões usou a palavra "munda" como adjetivo para se referir às
almas boas que não tenham nenhuma mancha, límpidas e puras e
que poderão ascender ao Paraíso. Ou trazer o Paraíso à
manifestação nas consciências dos homens...
Agostinho da Silva ensina aquela irreverência de não sermos de
ninguém servos, nem sequer sobretudo de nós próprios, do nosso
pequeno ego. Exorta-nos a despertar a consciência para a criança,
para o poeta que sempre somos, que nunca verdadeiramente
deixamos de ser: este é o processo interno que nos propõe
considerando-o a única “conversão” que realmente podemos
fazer: a de nós próprios.
Esta é uma grande lição deste grande Professor. Ele nos mostra
que o propósito é viver e que viver é aprender e ensinar vivendo;
ele nos mostra que professor e aluno são uma e a mesma coisa. Ele
nos encoraja, nos encaminha e nos acompanha para a liberdade, a
criatividade, a partilha fraterna, para a realização da Idade do
Espírito na terra, para assumirmos com consciência a nossa própria
realização de sermos Poema, de vivermos a própria criação em
ação.

O PROJETO: "Programa de Futuro"


Nesse culto popular português, que tem como Imperador uma
criança e culmina em fraterna partilha de pessoas livres, Agostinho
vê simbolicamente três momentos essenciais, reveladores de
“como” será organizada a vida dos homens na 3ª Idade:
1º Ato da Festa: escolha do Imperador para governar o mundo
Quem melhor pode representar o Espirito Santo na terra? O povo
português escolhe para reger o mundo novo, uma criança que o
Padre coroa na Igreja como Imperador.
O Menino Imperador, qual Menino Deus, remete-nos para a
criança interna que somos chamados a manter viva: “o divino
reapresentando-se ao mundo para que os homens entendam o
divino pela maneira por que ele se comportava". Agostinho exorta-
nos deste modo a comportarmo-nos como ele e assim sermos
alunos e professores de Deus no Mundo.
Diz ele que a escolha de uma criança pelo povo se pode dever a
três motivos:
a) À capacidade de livremente imaginar “soluções para os
problemas que atrapalham os adultos" e “de fazer perguntas para
as quais as pessoas mais preparadas dificilmente encontram
respostas adequadas”. Quer ele assim reforçar o papel da intuição
relativamente à razão.
b) À recuperação do enfoque franciscano no Presépio e no Jesus
Menino, que se apresenta no mundo por obra do Espírito Santo
Pessoa Amor.
c) À recuperação do ideal beneditino de abrir as portas dos
conventos a todos e a todos fraternamente acolher como se
fossem o próprio Cristo disfarçado.
2º Ato da Festa: O Menino Imperador abre as portas da prisão
local, libertando todos os presos.
Diz Agostinho que é isto para mostrar ao Mundo que na Idade do
Espírito Santo, Idade plena do Mundo, não é preciso privar
ninguém da liberdade porque não há mais guerra, pois não há mais
carências nem dificuldades económicas que atinjam a
humanidade.
Não há mais pressões como as que "a economia que existiu a partir
do pecado original exerce, tal como a Bíblia refere: o
aproveitamento do fruto da árvore (o alimento sabedoria) por
alguns, excluindo outros, quando esse fruto devia pertencer a toda
a humanidade e portanto não podia ser submetido ao poder de um
só homem ou de um pequeno grupo de homens” … “só seria de
todos se nunca fosse consumido por ninguém para um
aproveitamento individual” em detrimento de outros.
3º Ato da Festa: o banquete gratuito
Todos os que vêm, consomem o que há, sem serem obrigados a
pagar por isso.
Em suma:
Os portugueses declaram o culto do Espírito Santo como um
“programa de futuro”, um futuro de um mundo ordenado e
“dirigido pelas qualidades inatas na criança que não fossem
destruídas pela educação…. ou pelas pressões económicas” e,
portanto “a vida quotidiana devia ser gratuita e que, sendo as
crianças levadas a ser crianças grandes, em plena liberdade, desse
modo e não havendo pressões económicas sobre ninguém, deixaria
de existir o crime, ou as prisões seriam apenas uma absurda e
violenta recordação do passado”.

A MANIFESTAÇÃO no Mundo
Agostinho reconhece o caracter permanente e global do processo
das três Eras, ou de conversão, como a própria vida em ação
manifestada. Denuncia tudo o que bloqueia esse processo
alquímico de busca do Homem universal completo e, à sua maneira
muito própria, rebela-se e trabalha para desfazer os bloqueios,
destruir os medos, os julgamentos, os velhos hábitos ilusórios, os
valores errados.
Abre caminho para construirmos o novo enquanto manifestação
das qualidades do Espírito: liberdade, criatividade, humildade,
fraternidade e amor.
Considera que existe um potencial económico e de avanço
tecnológico que pode libertar o Homem para a capacidade de
criar, o qual deve ser usado para proporcionar a todos melhores
condições de vida digna.
Por ora a concorrência especulativa global ainda impera e
mantendo o jogo dos domínios e dependências, continua a viciar
as relações. Com o avanço de uma verdadeira democracia de
homens completos e livres não será mais possível uma atitude
imperialista de comércio especulativo e desigual. A cooperação
vencerá a concorrência e as trocas serão equilibradas e baseadas
no interesse recíproco.
O culto do Espírito Santo retrata este sonho. Espalhou-se com as
Descobertas pelo Brasil, Açores e daí para a Califórnia (Festa de
San Diego), mas diminuiu muito com a invasão da península pela
Europa no séc 16, que trouxe uma organização do capital “oposta
à economia comunitária de Portugal e dos cumeros espanhóis” e
também um tipo de governação centralista autocrático,
completamente diferente do governo da coordenação que tinha
sido sempre a forma de governo em Portugal: "coordenação pelos
reis, coordenação pelos monarcas de um conjunto de municípios
que só podemos classificar plenamente democráticos e
republicanos” e onde a educação era feita livremente através da
experiência: “havia poucas escolas e elas não eram frequentadas
senão em casos muito especiais”.
Podemos reconhecer nos ensinamentos e práticas dos grupos
iniciáticos, religiosos ou laicos, que marcaram desde sempre a
origem e a história de Portugal enquanto nação, o fio condutor que
preservou o sonho da “ligação” deste povo com a consciência da
sua Alma. E nessa religação encontrarmos a vontade, o entusiamo
e a motivação para nos expandirmos de novo para dentro e para
fora de nós mesmos, no processo alquímico de nos tornarmos,
neste mundo, no Sonho que a Alma Sonha na Saudade da Unidade
Amorosa do Ser.
Os sonhos eternos das almas são bem diferentes dos sonhos ainda
velados e ilusórios da psique básica, feitos de energias bloqueadas,
ligadas à experiência de densidade corporal. Mas, é também nesse
mundo denso, que os sonhos da alma se terão de manifestar.
Agostinho da Silva ilumina, com o culto do Espírito Santo, o
sentimento de que vivemos num espaço sagrado de comunhão de
afetos: este sentimento cresce, torna-se a própria essência do ser
de cada um e de todos, e d'Ele emerge todo o saber, todo o fazer,
toda a manifestação, todo o Amor, tornamo-nos almas vivificadas
na consciência da comum Presença Viva, que é Origem e Fim, que
é Direção e Alimento.
Mas para que tal aconteça, salienta, é necessária uma envolvência
de identidade cultural que acompanhe o desenvolvimento ao longo
de todo o crescimento, de toda a vida. Daí a importância de um
ensino que mantenha viva a criatividade conduncente à
manifestação da visão no mundo dos homens, tornando-os cada
vez mais Homens Poema.
Cultura é Identidade. Identidade cultural é uma energia de alma
coletiva em ação, que a si mesmo se reconhece como tendo
sonhos, atitudes e comportamentos comuns, na liberdade de todas
as diferenças. Não se aprende por imposição ou curiosidade
inteletual, antes se descobre e vem à consciência quando se
procura a partir de dentro, pois pré existe à consciência que dela
se toma, habitando a alma como a "tonalidade" própria de cada
ser, de cada grupo.
Caminho certo para a resposta final à Saudade da Alma, base sólida
para a realização da sua mais profunda aspiração: ser tocada pela
Presença amorosa, harmoniosa, curadora, do Espírito, que a
preenche de alegria e potência vital. Energia, vibração, alegria
interna que se descobrem contagiantes e, devagar, devagarzinho,
se podem espalhar como azeite em pano...
A Identidade cultural de Portugal e suas manifestações ao longo da
História são bem reveladoras de que a Alma em Português –
essa Identidade suprema - é uma Alma Velha, cada vez mais
consciente de “O” Ser, mais sábia e mais capaz de “O” Fazer ou
seja de criativamente “O” trazer à manifestação: trazer o Espírito
Santo, O Amor Fraterno, à manifestação, de forma criativa e nisso
ser exemplo para o mundo.
O processo é sempre o mesmo, seja ele vivido por dentro de cada
um, seja ele vivido enquanto grupo, pois é O processo da
Humanidade inteira que se expande na consciência do Ser.
Reconhecê-l´O é reconhecermo-nos na nossa essência mais
abrangente e mais profunda.
Esse processo é também o começo da manifestação do Espírito
Criativo no mundo, do Homem completo, do “céu na terra”, do
Criador na Criação, ambos Um Só. Tal como acontece com mestre
e discípulo, à medida que a Criação se torna consciente do Criador
deixa de haver separação: Criação e Criador são Um Só, O Amor
Pessoa.
Agostinho faz isso na sua vida, por exemplo, criando a
Universidade de Brasília a partir do nada. Insiste no fortalecimento
da comunidade lusófona. Como diz Renato Epifânio, o Movimento
Internacional Lusófono - MIL - tem um sentido de processo e a
lusofonia interessa a todos, mas as coisas não se fazem de um
momento para o outro; tem sido o tempo de curar as feridas da
descolonização e as novas gerações são a esperança na
continuação do caminho.

A IDENTIDADE: Ser Poema


O uso dos símbolos, que de geração em geração espelham a nossa
identidade coletiva, a nossa alma de grupo, torna mais acessível a
partilha desta visão, deste saber interno. A nossa identidade
pessoal descobre-se como fazendo parte do caminho conjunto e
nessa descoberta se vê a si mesma a uma nova luz.
Caminhando e partilhando, atravessando a Torre de Babel dos
percursos, na senda dos ensinamentos de Mestres como Agostinho
da Silva, temos a possibilidade de, fraternamente, nos
descobrirmos e construirmos, numa Identidade lusófona que
juntos somos, na plural diversidade cultural.
Cultura, ensina, não é algo abstrato e erudito ou só para alguns
que muito estudaram.
Cultura para Agostinho é Identidade Cultural. Algo que vem de
dentro, do nosso interior, da nossa alma, um saber que trazemos e
lembramos quando olhamos a partir de dentro, para dentro da
dimensão em que nos vemos viver, e para dentro do- e dos - que
connosco partilham.
Esse olhar feito de escuta, acorda as almas para o projeto que nos
poderá conduzir à manifestação da nossa natureza lusófona no
mundo.
Como direção, Agostinho aponta-nos uma vida interior de encontro
com o Espírito, guia e referência da navegação de descoberta da
transcensão de todas as dualidades separativas e conflituantes.
Viagem a partir do Ser para o Estar e para o Fazer, unindo céu e
terra, pois Um só na verdade são.
Descobrir as qualidades do Divino, do Espírito Santo, do Ser
Espírito, e manifestá-las neste mundo pela partilha fraterna que
traz a alegria nova que nos faz sentir “irmãos”, é o caminho e o
exemplo que podemos e queremos continuar a dar ao mundo.
Uma comunhão de almas que se empenham na manifestação do
Ser e assim, juntas, potencializam a energia, a vibração, a luz, o
fogo, a vontade, a ação, no reconhecimento da vivência comum
dessas qualidades e do seu poder de transcensão individual e
coletiva: o poder de tornar os humanos mais Humanos. Todas essas
qualidades do Ser Espírito estão contidas em uma só palavra:
“Amor” ou, como gosto de dizer, consciência da “Presença Viva do
Amor Maior" em nós e entre nós.
O processo é Um só e está presente em toda a Criação e em cada
uma das criaturas de todos os reinos da natureza. É um processo
contínuo, um bolinar da luz para a densidade e da densidade para
a luz, do céu para a terra e da terra para o céu.
Cada vez é mais claro que a saída para a crise civilizacional que o
mundo atravessa tem a ver com este caminho que Agostinho nos
propõe manifestarmos.
Na sua última entrevista, dada em 1993, originalmente publicada
no jornal sesimbrense Raio de Luz, e que pode igualmente ser lida
na íntegra no website do Círculo António Telmo, Agostinho mostra-
se muito cético sobre a União Europeia e diz-nos que a Europa vai
desaparecer, diz que só faz sentido economicamente e que a
união política não faz sentido porque não se funda em
comunidades histórico linguísticas, nem em comunidades de
afetos. Pelo contrário, acredita no valor civilizacional da
comunidade lusófona porque é uma comunidade de afetos, com
um passado de história, cultura e economia comuns. Por isso,
defende também o passaporte e a cidadania lusófona.
- Projeto, utópico sonho? – interroga-se. E logo responde - Oxalá o
seja pois amanhã é dos loucos de hoje.
Nesta mesma entrevista refere-se a Sesimbra (onde viveu e
sempre esteve muito presente) num plano muito concreto. Aí ele
vê espelhada a sua visão de Portugal realizado, não só com os
atributos culturais da sua gente e as circunstâncias da sua
identidade, a enorme beleza e harmonia da sua paisagem, mas
também num outro plano em que as terrenas formas, cores, sons,
cheiros, texturas, e sabores se combinam numa verdadeira
alquimia com o Sol, o Mar e o Ar, tocando quem a ela se abre,
dando à luz nas pessoas o sentimento e a palavra certas.
Agostinho, António Telmo e muitos outros, em Sesimbra, o sentem
também.
Nessa sua última entrevista Agostinho exorta os “Amigos” e todos
os que o desejem, a assim “acordarem” e passarem de “múmias
do deixa estar como está para ver como fica", para
“ressuscitados”, levando a cabo a missão que Portugal não
cumpriu ainda, de tornar fraterno o mundo:
“Portugal que se concentra em Sesimbra, que em Sesimbra tem
seu perfeito resumo com litoral de alcantil e praia, com seu
castelo e seu porto, suas encostas e seus plainos, seus ocres e seus
verdes, seu arreigamento no concreto e sua pronta partida para as
nuvens” e onde “devem surgir os primeiros núcleos em que o
poder de criação que está oculto em Portugal desde o século XV
desperte, ganhe forças e ajude a tirar Europa e América dos becos
em que se meteram, os de se julgarem superiores, e ajude a tirar
pretos, amarelos e vermelhos dos outros becos, os de se julgarem
inferiores, em que a ciência volte a ser humana e de todos, como
nas caravelas o foi”.
Assim como cultura para Agostinho é Identidade cultural, será para
ele a espiritualidade, Identidade espiritual? Haverá uma
identidade espiritual pessoal e de grupo? Ou será a Identidade
espiritual una por natureza? Sim e não.... Provavelmente será una
no destino último da viagem da descoberta….
Por ora aqui, podemos sentir a Alma em português. É um Alma
velha, no sentido em que há muito vem fazendo a viagem na busca
de quem é. Assim o revelam os poetas e os filósofos que se
mantém firmemente ao leme em muitas dimensões, num
admirável e profundo trabalho de travessia de muitos mares, de
mergulho nas águas profundas e inefáveis do ser, através de uma
imensa e valiosa herança registada em símbolos e rituais.
Herança valiosa que pode conduzir-nos ao destino certo.
Simbolismos que são um somatório de registos de um caminho
laboriosamente percorrido enquanto povo, no vai e vem do perto e
do longe, no espaço e na diversidade de identidades culturais
diferenciadas, de navegações sopradas por vários ventos… O vento
do interesse egóico é um dos que mais árduas e difíceis torna as
viagens e também ainda um dos mais fortes e omnipresentes na
história atual da humanidade…
Precisamos aprender a discernir de onde vêm os ventos que nos
conduzem pelos mares e marés, ora calmas ora tumultuosas, da
nossa vida pessoal e coletiva. E para podermos discernir
precisamos ter bussolas seguras, precisamos “abrir”
amorosamente a alma à comunhão no Sopro do Espírito, em quem
podemos confiar para chegarmos a bom porto.
Entre muitos ventos e tempestades não deixámos no entanto
nunca de navegar, de buscar o destino mais além e, por isso, a
Alma em português se apresenta como uma Alma de Síntese, de
diáspora, “abrindo-se”, ao longo dos tempos e com avanços e
recuos, a outros mundos, sem contudo se perder na sua identidade
própria da munda alma. E Agostinho revela-nos que a nossa
própria natureza é este mesmo “bolinar”.
Perguntamos: e no “Aqui”, e no “Agora”?
Filósofos portugueses revivem e continuam a procurar decifrar o
saber acumulado e registado que nos revela as diferentes formas e
fases de realização da Obra interna.
O caminho concretiza-se passo a passo, trazendo a visão da 3ª
Idade do Espírito Santo à manifestação em cada homem: cada um
em si e reconhecendo-a também amorosamente na verdadeira
identidade de cada outro, todos diferentes e todos parte da
unidade de Ser.
Olhamos o papel de Portugal neste agora, no seio da Europa e do
Mundo e aparece-nos talvez como uma fase ao “nigredo” do
processo alquímico de transcensão. Uma fase extremamente
desafiante de perda dos contornos mais amplos da nossa
Identidade, presa aos aspetos mais básicos da sobrevivência
material.
A recuperação da verdadeira identidade é o desafio do Agora. A
cultura e a língua são certamente e sempre um instrumento que
lhe é inerente.
A velha Alma Portugal anseia pelo reencontro da sua dignidade.
Ela sabe que a obra ao nigredo faz parte da aprendizagem pessoal
e coletiva, faz parte do processo e do caminho. E essa poderá ser
uma menos negativa explicação para a nossa aparente passividade
face à escravização a que estamos a ser sujeitos pelos ventos
poluídos do primado do trabalho escravo por dinheiro, sem
margem para livres expressão e escolha, e que sabemos - como em
Abril de 1974 demonstrámos - só puderem conduzir ao beco sem
saída da pobreza, da destruição, da fome e da morte.
A saudade que sentimos é a memória interna da plenitude fraterna
do Ser: da "liberdade de não sermos escravos, de termos tempo
livre e ocuparmo-nos em sermos fraternos no que fazemos".
A identidade da Alma Portugal pode encontrar-se tanto na
contemplação do alentejano descansando à sombra do chaparro
enquanto sente e comunga da natureza viva que o rodeia, como na
peregrina que se recolhe e ora na Capelinha das Aparições em
Fátima, como no pescador que mergulha na contemplação do azul
que em cima e em baixo o rodeia até ao horizonte infinito,
deixando-se embalar pelo marulhar ondulante das águas… Ele sabe
como ninguém que o sopro da brisa irmã lhe dirá quando é a hora
de partir e em que direção…
Nessas pausas atentas, a psique se silencia e a Alma encontra o seu
movimento próprio de expressão criativa pela contemplação e
aceitação do natural movimento interno que conduz à oração, à
escrita, à pintura, à música, à dança, ao saber, à investigação, à
invenção tecnológica, ao serviço, ao Amor, ao abraço com o
Espírito.
Ao descobrirmos a Alma que nos habita e nos move, a Alma que
somos, sabemos que ela É em todos nós, em toda a criação, e daí
surge naturalmente o sentimento de irmandade, de amorosa
fraternidade no qual Agostinho baseia a sua visão e o seu projeto.
Descobrir a Alma vivificada pelo Espírito faz parte integrante do
processo de realização da sua visão que pode parecer-nos muito
difícil e, paradoxalmente, de uma desconcertante simplicidade, ao
centrar-se unicamente na descoberta e na partilha d'O Amor Novo,
em contribuirmos com o nosso modo próprio de existir para a
manifestação da nossa comum identidade cultural e espiritual.
O Amor Maior É, em cada um de nós e em todos nós. Manifesta-se
como identidade espiritual, na Ilha dos Amores, Paraíso na Terra,
Era do Espírito Santo…
Todo o Caminho que fazemos até essa descoberta é um meio e
acontece frequentemente ficarmos dela separados pelo
encantamento de algum apego que nos pára no percurso, nos leva
de volta até a uma qualquer comodidade ou segurança bem
conhecida. São pausas de reabastecimento, de integração do
aprendido, que fazem também parte do processo, até pormos o
projeto de novo em marcha, conduzidos e animados pela ânsia da
nossa alma e pela força do espírito.
É nesse vai e vem entre mundos, da ilusão da dualidade à
experiência da unidade de sermos, que vamos aprendendo a
mergulhar na identidade do que realmente somos. É um longo
percurso de vida até à descoberta da ilusão da separação como um
caminho sem saída…
Quando a psique se abre e expande o seu horizonte interno, o eu
descobre-se para além do ego básico, toma consciência do Si
mesmo como Eu Interior.
Quando nos interrogamos sobre quem de dentro de nós olha, ouve,
sente, fala e nos move, descobrimos que existe uma outra
dimensão interna do nosso ser. Descobrimos a própria alma como
algo vivo em nós, algo que por dentro nos anima, que É (existe) em
Si mesmo e cuja realidade podemos tocar quando aprendemos a
esvaziar-nos da agitação dos pensamentos e das emoções reativas
da nossa psique básica, e nos distanciamos das ilusões redutoras
que tendemos a fazer do mundo dos arquétipos.
É nesse profundo silêncio interno que a alma despida se revela em
nós.
Segue-se a tomada de consciência da alma em Si mesma “o Eu sou
Alma” ou algo se move, vibra e é vivo em mim.
A vivência interna verdadeiramente espiritual acontece quando a
Alma se “abre” ao toque do Espírito, se rende incondicionalmente
ao Poder e Ação do Espírito Santo Amor Pessoa e por Sua Guia se
deixa conduzir e transformar. É uma “abertura”, uma “iniciação”
que nos leva de experiência em experiência até à descoberta da
identidade do Ser em nós: ao “eu sou criação e criador".
Esse estado de união revela-se como um estado amoroso de Ser. É
um rasgar de véu que a nossa Alma assim aberta e unida ao
Espírito, reconhece como um regresso a casa. Busca, que desde
sempre a acompanhou, como um impulso primordial, ao encontro
da sua verdadeira natureza.
Sabe ela também que não se transforma sozinha. Sabe que é parte
de tudo e que todos estamos juntos no caminho. A viagem para o
saber é a viagem para o ser, manifestando-se e descobrindo-se na
ação.
A direção que Agostinho aponta torna-se assim uma bússola para
os noonautas aprenderem que partindo do ser para o saber, estar
e fazer, se estão a revelar e a oferecer, no melhor de si, a si
mesmos e aos outros.
Este é o processo íntimo de transcensão alquímica que ilumina o
projeto e o traz à manifestação.
Ser Poema é abrir a alma à memória deste seu mais profundo e
inato anseio pelo toque do Espírito, por essa união mística, da qual
nasce uma Força Maior que em nós se manifesta como A Fonte
inspiradora.
Na Era da plenitude do Homem Alma completo, esse é O alimento
vital e ao alcance de todos na plenitude dos seus frutos, que
plenamente nos saciarão: a irradiação da luz do entendimento e da
fé, a alegria doce da esperança realizada, a paz do amor
partilhado.

Numa humilde participação nesta homenagem aos ensinamentos


do Mestre, aqui deixo o Poema "Pedra Alta" que recebi na Praia de
Sesimbra, sentada na pedra conhecida por esse nome porque é
sempre banhada pelas marés mas nunca coberta de areia, e onde
mais tarde vim a saber ter aparecido em tempos a cruz do Senhor
Jesus das Chagas, que ficou como Padroeiro de Sesimbra.

“P E D R A A L T A”
Na praia
sentada na Pedra Alta
perguntei ao meu corpo:

"O que é que em mim é Terra?"


...Senti meu peso
na dureza da rocha fria
e minha própria solidez
ao tocá-la...

"O que é que em mim é Água?"


O barulho exaltado
duma emoção ondulada
a quietude tranquila
dum silencioso marulhar,
no interior de mim senti...

"O que é que em mim é Ar?"


Por cima da minha cabeça
vi meu pensamento partir,
turbilhar...
Senti na brisa leve e fresca
longínquas mensagens
acariciando minha pele
em íntimo diálogo...

Finalmente perguntei
ao meu corpo
(ansiosa por senti-lo):

"O que é que em mim é Fogo?"


Um suave incêndio
de pronto flamejou
e ao calor do sol
numa tocha ardente
toda me tornei...

"De onde vem tanta força?


Tanto poder?" Perguntei.

Por trás das pálpebras cerradas


tudo, de repente, se ilumina!
E do centro de mim
-cadinho alquímico-
é meu coração
quem responde...
"Da substância prima
do solvente Universal
do Caos que tudo cria...
...O Amor..."

Das könnte Ihnen auch gefallen