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RESUMO
O trabalho apresenta uma análise da legislação relativa à proteção e combate a
incêndio nas etapas de projeto, construção e ocupação das edificações de uso
coletivo no estado de Minas Gerais e, especificamente, em Belo Horizonte.
Palavras-chaves: AVCB. Fiscalização de sistemas de prevenção a incêndio.
Legislação de segurança contra incêndio. Proteção e combate a incêndio.
Abstract
This paper presents an analysis of legislation about fire prevention and combat
related with the stages of design, construction and occupation of buildings for
collective use in Minas Gerais, Brasil, specifically in Belo Horizonte.
Keywords: Fire Prevention and Combat. AVCB. Systems of Fire Prevention.
Legislation of Fire Prevention and Combat.
1 INTRODUÇÃO
As maiores concentrações humanas que caracterizam o espaço urbano e
a vida contemporânea, são condições que aumentam os riscos de incêndio e os
seus impactos.
Assim sendo, as edificações urbanas, em especial, aquelas nas quais há
maior concentração de pessoas, não podem prescindir de um sistema de proteção e
combate a incêndio, aí incluída a capacitação de usuários dessas edificações para
que saibam como atuar na eventualidade de um incêndio.
1
Artigo elaborado a partir da monografia homônima apresentada à Faculdade de Engenharia e Arquitetura da
Universidade FUMEC, como requisito para a conclusão do Curso de Especialização em Engenharia de
Segurança do Trabalho e realizada sob a orientação do prof. Rildo Marcelo Alves.
2
Doutor em Ciência dos Alimentos. Mestre em Agroquímica e Agrobioquimica. Especialista em Ciências
Ambientais. Graduado em Ciências, Biologia, Química.
3
Especialista em Engenharia de Materiais e Segurança do Trabalho. Professora da Escola de Engenharia
Kennedy. E-mail: gisela.bemfica@gmail.com
Não se pode negar que, em praticamente todas as edificações coletivas –
habitacionais, industriais e comerciais – dos centros urbanos são encontrados
extintores e hidrantes. O que é bastante mais raro é que estas edificações
disponham de documentação legal que ateste a eficácia dos equipamentos
existentes, em caso de necessidade.
Os sistemas de certificação, e mais especificamente a Certificação
OHSAS 180014, podem ser um trunfo importante na promoção da conscientização
sobre a necessidade dessa documentação.
Este estudo foi orientado pela questão acerca de qual a legislação
relacionada à prevenção e ao combate a incêndio a ser considerada na atuação do
Engenheiro de Segurança, no estado de Minas Gerais. O objetivo foi o de identificar
e sistematizar - a partir de um histórico - as legislações relacionadas ao assunto no
estado de Minas Gerais e, em especial, no município de Belo Horizonte.
Para isso, realizou-se uma pesquisa qualitativa, de caráter descritivo e
que não requer o uso de técnicas e métodos estatísticos (GIL, 1991).
O trabalho, que se enquadra no estudo das legislações, consistiu de
pesquisa bibliográfica sobre as legislações pertinentes, da Carta Magna de 1988 às
legislações estadual e municipal, tendo por foco os procedimentos de aprovação e
fiscalização dos sistemas de proteção e combate a incêndio em edificações.
Além da presente introdução, o artigo está estruturado em quatro tópicos.
No primeiro aborda-se o tema de incêndio em edificações e medidas preventivas. No
tópico seguinte faz-se um breve histórico do corpo de bombeiros, situando-o nas
constituições federal e do estado de Minas Gerais. São também tratadas as
legislações de Minas Gerais e de Belo Horizonte relacionadas ao foco do trabalho.
No terceiro tópico apresenta-se uma análise da legislação estudada e, por fim, os
achados do estudo são sintetizados no último tópico, que trata das considerações
finais.
5 o
De conformidade com o Art. 4 .
6
Conforme Art. 9º.
7
Conforme o Art. 4º.
para emissão do AVCB8 e aumenta a validade deste documento de dois para três
anos, em locais de reunião de público, e para cinco anos, nas demais ocupações9.
8
Conforme § 1º do Art. 8º.
9
Conforme § 4º do Art. 8º.
10
Conforme os artigos 4º e 11.
11
Conforme o Art. 11.
estabelecimentos com vistas à prevenção de incêndio, a cargo do poder público
estadual.12
O desdobramento da Lei Estadual nº 5.497 no âmbito de Belo Horizonte
foi o convênio firmado entre o governo do estado e a prefeitura do município,
conforme a Resolução Estadual nº 310, que estabelece os termos do convênio e fixa
as condições para execução dos serviços de prevenção contra incêndios e
explosões, combate ao fogo, salvamento e socorros em geral, no âmbito do
município.13
Conforme essa resolução, cabe à organização de Bombeiros da PMMG a
execução dos serviços de prevenção contra incêndios e explosões, combate ao
fogo, salvamento e socorros em geral, sendo portanto da alçada estadual. Esses
serviços envolvem a fiscalização da aplicação das normas preventivas de incêndio,
o assessoramento e a assistência à Prefeitura nesse sentido e a vistoria das
instalações de prevenção e combate a incêndio nas edificações.
A aprovação e divulgação das normas técnicas propostas pela PMMG
para a prevenção contra incêndios e explosões é da alçada municipal, assim como a
exigência de cumprimento dos requisitos legais para isso; e o condicionamento da
concessão do “habite-se” à aprovação, pela PMMG, da execução de projeto
preventivo previamente aprovado, consubstanciada pela emissão do certificado de
vistoria da edificação.
Com a desvinculação entre Corpo de Bombeiros e Policia Militar, em
1999, as atribuições dos primeiros tornaram-se específicas, tendo sido definidas em
normas estaduais posteriores.
Em termos do foco deste trabalho, cumpre registrar que, à exceção do
município de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, as prefeituras somente
liberam a edificação e o respectivo “habite-se”, depois de aprovado o projeto de
prevenção e combate a incêndio e emitido o AVCB.
No caso de Belo Horizonte, a legislação municipal atribui ao responsável
técnico (RT) pela execução da edificação, a responsabilidade de que sejam
atendidas as condições mínimas de segurança contra incêndio (hidrante e extintor),
e de que a edificação atenda às normas vigentes pelo período de 5 anos.
12
Conforme os incisos IV e VIII do Art. 8º.
13
A Lei Municipal nº 2060 de 27/04/1972, do município de BH, tratada mais adiante, estabelece, em
termos municipais, as condições para o convênio.
Conforme a legislação estadual, o RT tem a responsabilidade de que o
projeto executado esteja dentro das normas legais, cabendo ao(s) proprietário(s)
e/ou ao responsável pelo uso da edificação a responsabilidade pela manutenção das
condições previstas em projeto ao longo da vida da edificação.
14
Conforme os artigos 31 e 32.
15
Conforme Art. 33.
aprovação do projeto arquitetônico e concessão de alvará de construção à
aprovação, pelo Corpo de Bombeiros, do projeto de prevenção e combate a incêndio
e a exigência da plena execução do mesmo, para concessão de “habite-se”.
A lei municipal nº 9.064, de 2005, introduz modificações tanto na lei nº
2.060 como na lei nº 6.824. O parágrafo único do Art. 1º da lei 9.064 conceitua a
edificação destinada a uso coletivo como “a edificação, cujo fim seja comercial, de
serviço, industrial ou residencial multifamiliar, que se preste à ocupação por
pessoas, em caráter permanente ou temporário”16 e o Art. 2º estabelece que “a
certidão de baixa e “habite-se”, parcial ou total, somente poderá ser concedida após
apresentação de laudo técnico, emitido por profissional legalmente habilitado e com
anotação de responsabilidade técnica, que ateste a eficiência do sistema de
prevenção e combate a incêndio implantado e a sua adequação às normas técnicas
e à legislação vigente.”17
Com isso, a partir de 2005 tanto a aprovação de projetos de arquitetura e
concessão de alvarás de construção, como a concessão de “habite-se” e baixa de
construção deixaram de estar explicitamente condicionados à vistoria pelo Corpo de
Bombeiros. Em seu lugar, o poder público municipal passou a exigir,
expressamente, um “laudo técnico” elaborado por profissional legalmente habilitado
e com a devida anotação da responsabilidade técnica, para atestar a eficiência do
sistema de prevenção e combate a incêndio das edificações.18
Ao estabelecer tais condições, o decreto nº 11.998 deixa de exigir a
manifestação explícita do Corpo de Bombeiros e transfere a agentes da sociedade a
responsabilidade técnica pela eficiência do sistema de prevenção e combate a
incêndio.
A responsabilização de agentes da sociedade se amplia na medida que
inclui a obrigação de renovação periódica do laudo afim de garantir a manutenção
da eficiência do sistema de prevenção e combate a incêndios e pânico e exige que o
responsável pela edificação mantenha atualizado o documento comprobatório dessa
eficiência.
16
Nova redação, porém sem alteração de conteúdo.
17
Alteradas as condições de concessão de certidão de “habite-se” e baixa de construção.
18
Como consta respectivamente , do parágrafo único do Art. 3o. da lei 6.824 e do Art. 2o. da lei
2.060 modificados pela lei 9.064.
É importante notar que não é responsabilidade do profissional que atestou
inicial ou anteriormente tal eficiência a obrigação de fiscalizar o sistema ou de
mantê-lo em perfeitas condições. A manutenção da eficiência do sistema e as
providências para renovação periódica do laudo são atribuições dos proprietários da
edificação, diretamente ou por meio daquele que indicarem como responsável pela
mesma.
4 ANÁLISE
O foco do percurso proposto neste trabalho foi a identificação das
responsabilidades relativas à segurança e prevenção contra incêndios em
edificações de uso coletivo. Partiu-se do reconhecimento, na Carta Magna, da
subordinação da organização dos bombeiros aos governos estaduais e passou-se a
examinar a legislação no âmbito do estado de Minas Gerais. A análise desta
legislação evidencia que até 2006 o AVCB19 da edificação era emitido uma única vez
e tinha validade permanente, desde que mantidas as condições iniciais da
edificação.20 No entanto, essa certificação não assegurava a efetiva eficiência do
sistema de prevenção e combate a incêndio, já que constituía uma iniciativa
voluntária por parte dos síndicos/proprietários da edificação manter em condições os
equipamentos de segurança, uma necessidade pouco reconhecida, certamente
ainda hoje. Com o decreto estadual 44.270, em 2006 o auto de vistoria passa a ter
validade limitada, o que torna obrigatória a atualização da sua validade,
responsabilidade esta atribuída ao responsável pela edificação, sob pena de
aplicação de sanções pelo Corpo de Bombeiros.
No que se refere à legislação municipal de Belo Horizonte, observa-se
uma significativa modificação no ano de 2005, ano de publicação da Lei 9.064,
relativamente às exigências do município para aprovação de projetos e concessão
de “habite-se”, complementarmente à ação fiscalizadora do Corpo de Bombeiros de
Minas Gerais.
19
AVCB- Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros.
20
Com o estabelecimento de um prazo de validade, tanto para o AVCB como para os laudos técnicos
mencionados na legislação municipal, é possível garantir que os equipamentos instalados
permaneçam eficientes, já que é obrigatória a vistoria local sempre que se for proceder à
renovação de ambos documentos. No entanto, em termos de divulgação da obrigatoriedade de
renovação, é pouco provável que os responsáveis pelas edificações coletivas do município tenham
ciência disso.
A partir de 2005, a lei é explícita apenas em relação às exigências de
apresentação de anotação de responsabilidade técnica referente ao projeto e de
laudo técnico, atestando a eficiência do sistema de prevenção e combate a incêndio
implantado emitido por profissional legalmente habilitado, com a devida anotação de
responsabilidade técnica. A exigência anterior, de aprovação do projeto de combate
a incêndio pela corporação dos bombeiros bem como a apresentação do AVCB é
retirada do texto legal e, quando muito, pode-se supor estar contida na exigência
genérica de adequação às normas técnicas e à legislação vigente.
Por sua vez, a efetiva segurança contra incêndio se faz por meio de
atividades voltadas a prevenir e evitar o surgimento do fogo, proporcionar sua
extinção e a redução dos seus efeitos até a chegada do Corpo de Bombeiros.
Conforme expõe Berto (1989/1990), trata-se de um objetivo que se impõe durante
todas as etapas envolvidas no processo produtivo e no uso de uma edificação.
A instalação predial deve funcionar conforme as condições de segurança
estabelecidas por lei, mas nada disso tem efetividade se não se souber manusear os
equipamentos de segurança. Nesse sentido, as normas e regulamentações vigentes
no Brasil incluem questões de treinamento e capacitação das pessoas com vistas a
orientar sua ação nos primeiros instantes de um eventual incêndio ou explosão. A
mera existência – ainda que em perfeito estado de uso e conservação21 - de
equipamentos destinados a combater incêndios não é condição suficiente, sendo
necessário haver pessoas capazes de acionar alarmes, de utilizar corretamente os
equipamentos, e de coordenar - sem pânico e tumulto – os procedimentos de
evacuação, se necessários.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise da legislação mais recente evidencia que as atribuições de
fiscalização pelo poder público estadual, representado no caso, pelo Corpo de
Bombeiros, foram desvinculadas da ação direta do poder público municipal com a
alteração do texto legal municipal que substituiu esse condicionamento explícito pela
simples referência à adequação às normas técnicas e legais vigentes.
Embora a legislação municipal não contradiga e nem se oponha à
estadual, a ausência de uma referência explícita à aprovação pelo Corpo de
21
O que significa dizer, que os equipamentos devem atender aos requisitos relacionados com a
manutenção periódica estabelecida pela legislação.
Bombeiros tanto para a fase de projetação da edificação, quanto para a liberação de
sua utilização representam uma “perda de sinergia” na ação do Poder Público que
pode representar uma redução na atuação preventiva do Corpo de Bombeiros e,
mesmo, a subutilização da competência técnica dos seus quadros.
Embora não se possa deixar de considerar o papel de órgãos como o
CREA, é inegável que, com o advento da Lei nº 9.064, o poder público, através do
Corpo de Bombeiros, deixou de contar com dois momentos importantes para sua
ação fiscalizadora, a saber: 1- o momento de aprovação de projetos, para o qual se
exigia a apresentação do projeto de combate a incêndio devidamente aprovado pelo
Corpo de Bombeiros; e 2- o momento de concessão de “habite-se” e alvará de
localização e funcionamento, quando se exigia a apresentação do laudo de vistoria
feito por esta corporação.
REFERÊNCIAS
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.