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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 1

SISTEMAS DE CONTROLE EXTERNO

Segundo classificação adotada por Eduardo Lobo Gualazi, podemos classificar os sistemas de
controle externo legislativo em cinco tipos principais: anglo-saxônico, latino, germânico, escandinavo
e latino-americano.

Modelo anglo-saxônico – utilizado na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos, na Irlanda, em Israel


e em outros Estados de colonização anglo-saxônica da África e da Ásia. Compõe-se de um órgão
monocrático (controlador-geral), auxiliado por um órgão revisional, que a ele se subordina
hierarquicamente. Este órgão é indicado pelo Parlamento, devendo a ele reportar-se em relação aos
resultados de sua atuação.

Modelo Latino – compõe-se de um órgão colegiado incumbido de funções de controle e


funções jurisdicionais. Em regra, exerce apenas o controle de legitimidade. É o modelo adotado na
Itália, França, Bélgica, Romênia e vários Estados francófonos africanos.

Modelo Germânico – adotado nas Repúblicas Federais da Alemanha e da Áustria. Neste


modelo o órgão de controle possui estrutura colegiada, com garantias de independência judiciária
asseguradas aos seus integrantes. Exerce apenas atribuições de controle e algumas de natureza
consultiva, em relação ao Parlamento e ao Governo.

Modelo Escandinavo – O controle exerce-se por meio de uma série de órgãos, entre os quais
os revisores parlamentares e o ofício de revisão. Os primeiros detêm funções de controle sobre a
execução do orçamento e são nomeados, normalmente em número de cinco, a cada legislatura. O
ofício de revisão tem competência exclusiva para verificar a eficácia administrativa e propor medidas
corretivas dos problemas apontados.

Modelo Latino-americano – O controle externo é exercido pelas Controladorias ou Auditorias


Gerais (casos do Paraguai e da Argentina) ou pelos Tribunais de Contas (como são os casos do Brasil e
da Uruguai). Distintamente do modelo latino, em que o contencioso administrativo é proposto
perante corpo de magistrados não integrantes do Poder Judiciário, que dizem o direito com força de
coisa julgada, os Tribunais de Contas e as Controladorias não têm competências jurisdicionais e estão
situados dentro da órbita do Poder Legislativo.

Auditorias/Controladorias-Gerais versus Tribunais de Contas

A principal diferença é que os Tribunais de Contas são órgãos autônomos, de natureza


administrativa, que funcionam junto aos titulares do Controle Externo (Parlamento), prestando-lhes
auxílio no desempenho dessa função. Em regra, compete aos Tribunais o julgamento das contas dos
administradores públicos.

As Controladorias ou Auditorias-Gerais também são órgãos de natureza administrativa, mas


que guardam certa subordinação ao titular do Controle Externo. Não possuem, normalmente, o

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mesmo grau de autonomia conferido aos tribunais de contas. As auditoras gerais pronunciam-se
conclusivamente sobre contas, mas não as julgam.

O quadro a seguir apresenta outras diferenças:

AUDITORIAS OU CONTROLADORIAS
TRIBUNAIS DE CONTAS
GERAIS

 órgãos singulares.  órgãos colegiados.

 não possuem o mesmo grau de  possuem autonomia administrativa;


autonomia dos Tribunais de apenas vinculação ao Parlamento ou
Contas; subordinação ao integração ao Judiciário, como nos
Parlamento. casos de Grécia e Portugal.

 dirigentes com mandato.  membros equiparados a magistrados.

 decisões sem força cogente ou  decisões de caráter sancionador.


sancionadora.

O modelo das auditorias ou controladorias-gerais tem origem britânica e se espalhou por vários
países de sua influência: Reino Unido (National Audit Office); Estados Unidos (Government
Accountability Office); Canadá (Office of the Auditor General); Australia (Australian National Audit
Office); Nova Zelândia (Controller and Auditor General); e África do Sul (Auditor General of South
Africa).

O modelo de Tribunais de Contas com função jurisdicional é adotado, geralmente, em países de


origem latina, tais como, França, Itália, Bélgica, Portugal, Espanha e Brasil.
Alguns Estados adotam o modelo de órgão colegiado sem função jurisdicional: Alemanha, Holanda,
República Tcheca, Eslováquia e Luxemburgo. Cumpre observar que o Tribunal de Contas Europeu
também adota este último modelo.

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NATUREZA JURÍDICA E EFICÁCIA DAS DECISÕES DOS TRIBUNAIS DE CONTAS

• os Tribunais de Contas são órgãos componentes da administração direta, desprovidos,


portanto, de personalidade jurídica própria.

• apesar de desprovidos de personalidade jurídica própria, os TCs possuem capacidade


postulatória, ou seja, capacidade de figurar em um dos polos de uma relação jurídico-
processual.

• o TC é órgão administrativo autônomo e independente (autonomia funcional, administrativa,


financeira e orçamentária), no sentido de que deve respeito ao ordenamento jurídico sem ser
subalterno a outro órgão ou autoridade, inclusive ao órgão legislativo.

• é correto afirmar que o TC possui função judicante e jurisdição própria.; não é correto afirmar
que o TC é um órgão judicante, pois estaria a confundir com a função típica do Poder
Judiciário; também não se pode afirmar que o TC possui função jurisdicional ou judicial.

• há doutrinadores do direito que afirmam que as decisões dos Tribunais de Contas tem um
colorido “quase jurisdicional” e suas atividades devem se submeter às garantias
constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa.

• os tribunais de contas são órgãos administrativos especiais, de estatura constitucional,


dotados de função judicante especial.

• a natureza das decisões dos Tribunais de Contas é administrativa.

• as decisões do TC que imputem débito ou apliquem multa a responsável torna a dívida líquida
e certa e tem eficácia de título executivo extrajudicial.

• contra as decisões dos TC cabem recursos exclusivamente junto aos próprios tribunais,
contudo, por serem de natureza administrativa, as decisões dos TC podem ser revistas pelo
Poder Judiciário, em demanda específica;

• as decisões de mérito adotadas pelos TC em processos de contas são insuscetíveis de revisão


por qualquer outro órgão ou Poder, incluído aí o Judiciário. O Poder Judiciário pode rever as
decisões do TC quanto à legalidade e formalidade (aspectos formais), anulando, por exemplo,
o julgamento do TC e determinando a realização de outro, mas não quanto ao mérito da
decisão (aspectos materiais);

• o TC não é competente para executar as suas decisões; a execução é feita pelo Erário credor.
As decisões/acórdãos condenatórios do TCU são executados pela AGU, em nome da União.

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FUNÇÕES BÁSICAS DO TRIBUNAL DE CONTAS

Função Fiscalizadora - É exercida quando o Tribunal, no uso de suas competências constitucionais,


fiscaliza a atividade dos administradores públicos. O Regimento Interno do TCU apresenta os
seguintes modos de fiscalização: levantamento, auditoria, inspeção, monitoramento e
acompanhamento.

Instrumento Finalidades
 conhecer a organização e o funcionamento dos órgãos e entidades da
administração direta, indireta e fundacional dos Poderes da União,
incluindo fundos e demais instituições que lhe sejam jurisdicionadas,
Levantamento assim como dos sistemas, programas, projetos e atividades
governamentais no que se refere aos aspectos contábeis, financeiros,
orçamentários, operacionais e patrimoniais;
 identificar objetos e instrumentos de fiscalização; e
 avaliar a viabilidade da realização de fiscalizações.

 examinar a legalidade e a legitimidade dos atos de gestão dos


responsáveis sujeitos a sua jurisdição, quanto ao aspecto contábil,
financeiro, orçamentário e patrimonial;
 avaliar o desempenho dos órgãos e entidades jurisdicionados, assim
Auditoria como dos sistemas, programas, projetos e atividades governamentais,
quanto aos aspectos de economicidade, eficiência e eficácia dos atos
praticados;
 subsidiar a apreciação dos atos sujeitos a registro.

 Inspeção é o instrumento de fiscalização utilizado para suprir


omissões e lacunas de informações, esclarecer dúvidas ou apurar
denúncias ou representações quanto à legalidade, à legitimidade e à
Inspeção economicidade de fatos da administração e de atos administrativos
praticados por qualquer responsável sujeito à sua jurisdição.

 examinar, ao longo de um período predeterminado, a legalidade e a


legitimidade dos atos de gestão dos responsáveis sujeitos a sua
jurisdição, quanto ao aspecto contábil, financeiro, orçamentário e
patrimonial; e avaliar, ao longo de um período predeterminado, o
Acompanhamento desempenho dos órgãos e entidades jurisdicionadas, assim como dos
sistemas, programas, projetos e atividades governamentais, quanto
aos aspectos de economicidade, eficiência e eficácia dos atos
praticados.

Monitoramento  verificar o cumprimento de suas deliberações e os resultados delas


advindos.

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Função Consultiva – consiste na faculdade de algumas autoridades formularem consulta, em tese, à


Corte de Contas. Pode-se considerar como competências vinculadas à função consultiva a emissão de
Parecer Prévio sobre contas do Presidente da República ou do Governador do DF. Isto porque, sobre
essas contas, o TC emite apenas um parecer e não as julga.

Função Informativa - com previsão constitucional, consiste no dever de o TC, como órgão auxiliar do
Congresso Nacional, informar, quando solicitado, àquele órgão o andamento de trabalhos executados
no âmbito da Corte de Contas. Podem ser considerados também no âmbito da função informativa,
todos os alertas previstos na LRF.

Função Judicante - é praticada pelo TC ao julgar as contas de gestão dos administradores públicos e
dos responsáveis por prejuízos ao Erário.

Função Normativa – decorre da possibilidade de a Corte de Contas editar normas para os seus
jurisdicionados em matéria de sua competência.

Função Sancionadora - ocorre quando o TC ante a constatação de ilegalidade ou irregularidade, aplica


sanções aos gestores. Essa faculdade deriva do próprio texto constitucional, que prevê a aplicação aos
responsáveis das sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, a multa
proporcional ao dano causado ao erário.

Função Corretiva - ocorre quando o Tribunal, ao constatar algum descumprimento à norma legal,
assina prazo para a sua correção. No âmbito desta função, o TC pode fixar prazo para adoção de
providências; sustar ato irregular, exceto de contrato, e formular recomendações e determinações.

Função Pedagógica – é exercida quando o Tribunal orienta os gestores acerca da forma correta de
aplicação da lei, com objetivo de evitar a ocorrência de irregularidades.

Função de Ouvidoria – possibilita o TC atender à população quanto às suas reclamações, sejam em


decorrência de má utilização de recursos públicos, sejam em decorrência de conduta inadequada de
seus servidores. A CF prevê o recebimento de denúncias pelo TCU feitas por cidadão, partido político,
associação civil ou sindicato e de representação feita pelo controle interno.

DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS S0BRE O CONTROLE EXTERNO E O TCU

O controle externo é o exercido no âmbito do Congresso Nacional, com o auxílio do Tribunal


de Contas da União, ao qual compete a apreciação das contas do Presidente da República até o
julgamento das contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores
públicos da administração direta e indireta, conforme o artigo 71 da CF. A seguir, veremos cada uma
das competências definidas no referido artigo da lei maior.

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1. PARECER PRÉVIO SOBRE CONTAS DE GOVERNO (Artigo 71, INCISO I)

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do
Tribunal de Contas da União, ao qual compete:

I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer prévio
que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento;

A primeira competência apresentada no art. 71 refere-se à apreciação das contas do


Presidente da República.

Cabe lembrar que o Tribunal de Contas da União não julga as contas do Presidente da
República, somente emite parecer prévio sobre elas. Segundo o art. 49, inciso IX, da CF/1988, o
responsável pelo julgamento das contas é o Congresso Nacional.

Outro aspecto a ser destacado, é que o art. 56 da LRF estabelece que as contas prestadas
pelos Chefes do Poder Executivo (Federal, Municipal e estadual) devem ser acompanhadas das contas
dos presidentes dos órgãos dos poderes Legislativo, Judiciário e do Ministério Público respectivo.
Vejamos o dispositivo:

“Art. 56. As contas prestadas pelos Chefes do Poder Executivo incluirão, além das suas próprias,
as dos Presidentes dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Chefe do Ministério
Público, referidos no art. 20, as quais receberão parecer prévio, separadamente, do respectivo
Tribunal de Contas.
§ 1º As contas do Poder Judiciário serão apresentadas no âmbito:
I – da União, pelos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores,
consolidando as dos respectivos tribunais;
II – dos Estados, pelos Presidentes dos Tribunais de justiça, consolidando as dos demais
tribunais.”.

Contudo, o Supremo Tribunal Federal (STF) deferiu medida cautelar em Acão Direta de
Inconstitucionalidade (ADIn) ajuizada pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido Socialista
Brasileiro (PSB) e pelo Partido dos Trabalhadores (PT), suspendendo a eficácia, dentre outros, dos
artigos 56 e 57 da LRF.

No entendimento do STF, as contas referidas nos dispositivos contestados (arts. 56 e 57)


dizem respeito às contas de gestão dos administradores públicos, que não estariam, assim, sujeitas,
apenas à emissão de parecer prévio, mas sim ao julgamento por parte do TCU.

Antes da liminar do STF, tínhamos que, combinando-se o art. 20 com o art. 56 da LRF e o art.
92 da CF, as contas de governo, sujeitas à apreciação do TCU, abrangiam as contas dos presidentes de
diversos órgãos.

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A partir da decisão do STF, o TCU decidiu, por meio do Acórdão nº 2.248/2007 – Plenário, que,
para o ano de 2008, as contas de governo deveriam englobar somente as contas do Presidente da
República.

Cabe ressaltar que o Tribunal de Contas da União emite parecer prévio, uma vez que, o
parecer para julgamento das contas de governo será dado pela Comissão Mista Permanente a que se
refere o art. 166, § 1º da CF. Vejamos:

“Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao


orçamento anual e aos créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso
Nacional, na forma do regimento comum.
§ 1º Caberá a uma Comissão mista permanente de Senadores e Deputados:
I – examinar e emitir parecer sobre os projetos referidos neste artigo e sobre as contas
apresentadas manualmente pelo Presidente da República.”.

O parecer dado pela Comissão reveste-se na forma de projeto de decreto-legislativo, uma vez
que o julgamento das contas do Presidente da República se materializa com a apreciação deste
projeto de decreto legislativo.

ATENÇÃO: OBSERVAÇÃO RELEVANTE QUANTO AO ENTENDIMENTO DO CESPE ACERCA DO PARECER


PRÉVIO SOBRE AS CONTAS DE GOVERNO

Como vimos, a partir do Acórdão publicado em 12/9/08 e proferido no âmbito da Adin nº 2.238-5,
em que se deferiu medida cautelar para suspender a eficácia, dentre outros, do caput do art. 56 e de
todo o art. 57 da LRF, o TCU passou a emitir parecer prévio apenas sobre as contas do Presidente da
República, já que em relação às contas dos chefes dos demais poderes o tribunal as julga.

Era de se esperar que os dispositivos tivessem sido considerados inconstitucionais pelo Supremo
Tribunal, posto que não faria sentido o Tribunal de Contas emitir parecer prévio sobre as contas dos
chefes dos Poderes Legislativo e Judiciário para ele mesmo julgá-las. Vale lembrar que o Poder
Legislativo somente julga as contas do chefe do Poder Executivo.

Vejam o seguinte trecho da introdução do Relatório do TCU sobre as contas do Presidente da


República do exercício de 2012:

“Registro que o TCU emite parecer prévio apenas sobre as contas prestadas pela Presidente da
República, pois as contas atinentes aos Poderes Legislativo e Judiciário e ao Ministério Público não são
objeto de pareceres prévios individuais, mas efetivamente julgadas por esta Corte de Contas, em
consonância com a decisão do Supremo Tribunal Federal, publicada no Diário da Justiça de 21/8/2007,
ao deferir medida cautelar no âmbito da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2.238-5/DF. Nada
obstante, o Relatório sobre as Contas do Governo da República contempla informações sobre os
demais Poderes e o Ministério Público, compondo, assim, um panorama abrangente da administração
pública federal”.

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Ocorre que em provas recentes, o CESPE elaborou itens afirmando literalmente o que dispõem os
dispositivos cuja eficácia foi suspensa pelo STF, ou seja, que as contas prestadas pelos chefes do
poder executivo incluirão as suas próprias e mais as dos chefes dos demais poderes e o Tribunal de
Contas emitirá parecer prévio separado para cada conta, e os considerou como CERTOS. Vejamos
alguns exemplos:

(TJ/CE/Analista/2009) Atualmente, as contas prestadas pelos chefes do Poder Executivo incluem


também, destacadamente, as dos presidentes dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário e do
chefe do MP. No âmbito federal, o TCU emite pareceres prévios distintos, pois o julgamento é de
competência do Congresso Nacional.

GABARITO: Certo

(INPI/Analista/2013) As contas prestadas pelos chefes do poder executivo incluirão as suas


próprias, as dos presidentes dos órgãos dos poderes legislativo e judiciário e do chefe do Ministério
Público, e dependerão de parecer prévio, separadamente, do respectivo Tribunal de Contas.

GABARITO: Certo

Analisando o entendimento do CESPE, pode-se concluir por dois caminhos. O primeiro, que considero
improvável, é que a banca ignora a liminar do STF. O segundo, a meu ver mais provável, é que o
CESPE considera correta a afirmação com base na literalidade do caput do art. 56, em virtude de que
os dispositivos da LRF foram apenas suspensos em sede de liminar, até o pronunciamento definitivo
quanto ao mérito pelo STF.

Se a liminar fosse concedida por ato monocrático de ministro e, depois, ratificado pelo pleno, eu até
poderia pensar em aceitar essa tese, mas a liminar foi apreciada pelo Plenário do Tribunal. Por outro
lado, mesmo que em sede de liminar, se os dispositivos da lei tiveram a sua eficácia suspensa pelo
STF, eles não são mais válidos ou aplicados na prática. Como pode o CESPE entender algo que, na
prática, não é adotado pelos órgãos da Administração?

Sem me alongar demais, em que pese a polêmica, em prova do CESPE questões afirmando o que está
escrito literalmente nos artigos 56 e 57 da LRF devem ser consideradas CERTAS, apesar da ADIN e da
liminar do STF.

2. JULGAMENTO DE CONTAS (INCISO II)

II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores
públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e
mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou
outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público;

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O julgamento das contas dos gestores públicos ou daqueles que causarem prejuízo ao Erário
público é uma competência própria (privativa) do Tribunal de Contas, não cabendo qualquer
participação ou revisão por parte do Poder Legislativo.

Esse julgamento alcança toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize,
arrecade, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União (bem
como Estados e Municípios) responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza
pecuniária.

Além das contas ordinárias ou anuais, o TCU julga as contas especiais, que são aquelas
instauradas quando se verificar a ocorrência de desfalque ou desvio de bens ou outra irregularidade
de que resulte prejuízo para a Fazenda Pública, ou, ainda, quando se verificar que o responsável pela
aplicação dos recursos públicos não prestou contas no prazo e na forma fixados nos normativos do
TCU e dos órgãos de Controle Interno.

Importa saber que compete privativamente ao TCU, nos termos da CF/88, julgar as contas:
• dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da
administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas
pelo Poder Público federal; e
• daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte
prejuízo ao erário público.

3. CONTROLE DE ATOS DE PESSOAL (INCISO III)

III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer
título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das
concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não
alterem o fundamento legal do ato concessório;

O primeiro aspecto para o qual chamamos atenção é que o TCU não julga atos sujeitos a
registro, mas sim, aprecia-os, verificando a sua conformidade às normas legais. Com efeito, a
apreciação dos atos sujeitos a registro não se trata de função judicante do TCU, mas sim de função
fiscalizadora.

Vale mencionar o entendimento do Supremo Tribunal federal acerca da natureza jurídica dos
atos sujeitos a registro. O STF já se manifestou no sentido de que esses atos possuem a natureza de
ato complexo. Assim, o ato de aposentadoria ou de pensão dos servidores estatutários (regidos pela
Lei n. 8.112/1990) somente se aperfeiçoa após a apreciação pelo TCU.

Outro dado importante é que o TCU, ao verificar ilegalidade no ato de aposentadoria ou de


concessão de pensão não pode, de ofício, corrigir o vício; cabendo-lhe apenas, no caso, negar o
registro ao ato e informar ao órgão da recusa, para que, este providencie a emissão de novo ato
escoimado do vício encontrado e o submeta novamente à apreciação da Corte.

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Atos de Admissão

A constituição prevê que serão apreciadas para fins de registros as admissões de pessoal
ocorridas a qualquer título, na administração direta e indireta.

Assim, mesmo que ocorra uma admissão temporária, como por exemplo, aquelas disciplinadas
em Lei n. 8.745/1993, ela terá que ser apreciada pelo TCU. A competência do Tribunal ocorre tanto
para as admissões da administração direta como indireta.

Dessa forma, serão apreciadas as admissões de empregados públicos, isto é, aqueles que são
regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), bem como as admissões dos servidores públicos
estatutários, regidos pela Lei n. 8.112/1990.

Como anteriormente mencionado, o TCU, antes de realizar o registro, deverá apreciar a


legalidade do ato. Nesse sentido, entre outras peculiaridades, é verificado se foi observada a regra da
obrigatoriedade do concurso público, bem como se está havendo a acumulação de cargos em
desacordo com o que é permitido pela Constituição.

Outro aspecto com relação à admissão de pessoal, é que o dispositivo em análise apresenta
uma exceção, qual seja, a apreciação, para fins de registro, de legalidade das nomeações para cargos
de provimento em comissão. Estes cargos são os de livre nomeação e exoneração pela autoridade
competente. Assim, pela precariedade do vínculo com a administração, estes atos são dispensados de
registros na Corte de Contas.

Contudo, embora o TCU não possua competência para apreciar a legalidade das nomeações
dos cargos de provimento em comissão para fins de registro, tal fato não impede o Tribunal de
fiscalizar a legalidade desses atos, por meio de fiscalizações ou por meio de julgamento das contas
dos gestores. Por exemplo, o TCU pode, ao realizar uma auditoria em determinado Tribunal Judiciário,
fiscalizar se as nomeações para cargos de provimento em comissão naquele Tribunal estão ou não de
acordo com a lei.

Concessões de Aposentadorias, Reformas e Pensões

A aposentadoria, de modo geral, é um benefício concedido às pessoas que satisfizeram os


requisitos constitucionais e legais para que possam receber o respectivo provento sem a necessidade
da contraprestação do serviço, isto é, estão aptas a receber sem trabalhar.

Já as reformas são benefícios concedidos aos militares, que possuem regime diferenciado dos
servidores civis. Para os objetivos de nosso curso, é suficiente sabermos que reforma é a passagem do
militar para a inatividade.

A pensão é o benefício concedido ao(s) dependente(s) de servidores que venham a falecer.

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Compete ao TCU apreciar a legalidade dos atos de admissão de pessoal, bem como dos atos
de concessão de aposentadoria, reforma e pensão.

Convém esclarecer que, diferentemente, dos atos de admissão de pessoal, o Tribunal somente
se preocupa com as aposentadorias e pensões relacionadas aos servidores estatutários. Assim, todos
aqueles funcionários públicos que são regidos pela CLT não terão as suas concessões apreciadas pelo
TCU. O Governo Federal possui órgão específico para tratar dos benefícios dos empregados celetistas:
o Instituto Nacional de Seguro Social – INSS.

Nunca é demais lembrar que na administração indireta também podemos ter servidores
estatutários, como ocorre com o próprio INSS e com o Banco Central. Assim, o que importa para
sabermos se o ato de aposentação será apreciado pelo TCU, não é o fato de o agente público
pertencer à Administração Direta ou Indireta, mas sim se é regido pela CLT ou se é estatutário (regido
pela Lei n. 8.112/1990), sendo que somente neste último caso é que o CTU irá apreciar o ato de
aposentadoria, ou pensão. A reforma, como vimos, é instituto aplicável somente ao militar.

Por fim, o inciso III apresenta a seguinte parte: “...ressalvadas as melhorias posteriores que
não alterem o fundamento legal do ato concessório”.

A parte final do dispositivo significa que, por exemplo, caso ocorra uma modificação em
determinada aposentadoria, o Tribunal só vai precisar se manifestar novamente caso seja alterado o
fundamento legal da aposentadoria. Assim, caso determinado servidor venha a se aposentar em um
cargo qualquer e depois preencha os requisitos constitucionais e legais para se aposentar em outro, o
Tribunal deverá apreciar a alteração do ato concessório. No entanto, caso ocorra uma alteração
apenas no vencimento da aposentadoria decorrente de aprovação de planos de cargos e salários, o
ato não passará de novo pelo crivo do Tribunal de Contas da União.

Por fim, destaco a Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal - STF nº 3 que dispensa o
contraditório e a ampla defesa quando da apreciação da legalidade pelo TCU do ato de concessão
inicial de aposentadoria, reforma e pensão. Esta súmula pode ser abordada pelo CESPE na prova, pela
sua importância e significado.

Súmula Vinculante nº 3 do Supremo Tribunal Federal – STF: Nos processos perante o Tribunal de
Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar
anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação
da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.

4. REALIZAÇÃO DE AUDITORIAS E INSPEÇÕES (INCISO IV)

IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Comissão
técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II;

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Este dispositivo reconhece a autonomia do TCU, prevendo que o Tribunal realize por iniciativa
própria as fiscalizações. Trata-se de dispositivo que estabelece a competência fiscalizadora do TCU e a
sua natureza e extensão.

Reparem que o TCU pode fiscalizar, sob todos os aspectos já estudados, as unidades
administrativas de todos os Poderes.

Outra observação refere-se aos legitimados para a solicitação. Um Deputado ou um Senador


isoladamente não tem competência para solicitar ao TCU a realização de fiscalização. Para que o
Tribunal atenda a solicitação é necessário que um órgão colegiado, como uma das Comissões das
casas legislativas, formalize o pedido. Importante destacar que, até mesmo as comissões de inquérito,
têm legitimidade para solicitar a fiscalização.

5. FISCALIZAÇÃO DAS CONTAS NACIONAIS DE EMPRESAS SUPRANACIONAIS (INCISO V)

V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a União
participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;

Empresa supranacional é uma estatal que pertence a mais de uma nação. A Itaipu-Binacional é
um exemplo de empresa supranacional.

Assim, a exemplo das empresas estatais, as supranacionais também devem ser fiscalizadas
pelo TCU, tendo o dever de prestar contas ao poder público.

Cabe alertar que somente serão objeto de fiscalização as contas nacionais, ou seja, as contas
que sejam originadas de recursos públicos federais brasileiros. Alertamos, contudo, que essa
fiscalização ocorrerá mesmo que a participação do Brasil seja minoritária.

Por fim, vale ressaltar que a fiscalização será efetuada na forma do tratado constitutivo. Esse
tratado há de prever que a fiscalização dos recursos públicos brasileiros caberá ao Tribunal de Contas
da União.

6. FISCALIZAÇÃO DE RECURSOS PÚBLICOS TRANSFERIDOS POR CONVÊNIOS (INCISO VI)

VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio,


acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;

Convênio é um Instituto do Direito Administrativo, pelo qual o Poder Público se associa a outra
entidade pública ou com entidades privadas, para que sejam produzidos objetos de interesse comum,
mediante mútua cooperação. Caracteriza o convênio o fato de haver um acordo de vontade entre os
signatários do ajuste.

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Dessa forma, convênio se diferencia de contrato pelo fato de que, neste último, há interesses
divergentes (enquanto uma parte quer o preço, a outra que o produto) e no convênio, ambas as
partes possuem o mesmo interesse.

Normalmente, os convênios visam à realização de obras públicas, o aporte de verbas em


programas de saúde, ou, ainda, em áreas específicas da educação, tais como para o incentivo da
educação de primeiro grau e da alfabetização de idosos.

Considerando que a transferência por meio de convênio é uma transferência voluntária e que,
por isso, deve haver interesse mútuo dos participantes, competirá à União (repassadora do recurso,
também chamado de ente concedente) fiscalizar se os recursos foram aplicados no objeto do
convênio, ou seja, no caso hipotético, na construção de uma escola. Caso o município (responsável
pela aplicação dos recursos, também chamado de ente convenente) não aplique os recursos no
objeto que foi avençado, pode ser compelido a devolver os recursos aos cofres da União.

Outro significado da expressão “fiscalizar a aplicação” é a possibilidade do concedente


verificar se o convenente respeitou todos os normativos aplicados à utilização dos recursos públicos,
razão pela qual poderá checar se, dentre outros normativos, a Lei de Licitações e Contratos (Lei n.
8.666/1993) foi cumprida.

Resumindo, o Tribunal de Contas da União tem competência para verificar se o objeto do


convênio foi cumprido, bem como para checar se o convenente respeitou os normativos ligados ao
gasto dos recursos públicos.

Interessante notar que a Constituição se refere a convênio, ajuste ou outros instrumentos


congêneres, ou seja, a qualquer transferência voluntária, a exemplo de contratos de repasse
(realizados pela Caixa) e outras formas de transferências.

IMPORTANTE: A aplicação de recursos transferidos voluntariamente pela União, mediante


convênio, para Estados e Municípios é fiscalizada pelo TCU. Contudo, o TCU não tem competência
para fiscalizar a aplicação de todos os recursos que a União obrigatoriamente repassa a Estados,
Distrito Federal e Municípios. Alguns desses repasses têm estatura constitucional e os demais são
determinados apenas pela lei. Dos repasses constitucionais, ao TCU não compete fiscalizar a
aplicação dos recursos entregues por conta do Fundo da Participação dos Estados (FPE) e do Fundo
de Participação dos Municípios (FPM). Por iniciativa própria, o TCU também não fiscaliza a aplicação
de valores entregues a Estados, DF e Municípios a título de participação no resultado da exploração
de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros
recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona
econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.

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7. PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÕES AO CONGRESSO NACIONAL

VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas Casas, ou
por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas;

O responsável pelo controle externo é o Congresso Nacional. Assim sendo, para o exercício de
sua competência, o Congresso Nacional possui a necessidade de saber a respeito dos resultados das
fiscalizações realizadas pelo Tribunal de Contas da União.

Ressalto que as informações não podem ser prestadas a um deputado ou senador


isoladamente, devendo ser solicitada pela mesa diretora das casas ou pela presidência de comissões
técnicas e de inquérito.

8. APLICAÇÃO DE SANÇÕES (INCISO VIII)

VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas,


as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano
causado ao erário;

Conforme ensinam Albuquerque e Cunha, esse dispositivo estabelece que, somente com
previsão legal, pode o TCU aplicar sanção ao responsável. Estamos diante, então, do princípio da
reserva legal. Dessa forma, somente se lei prever a possibilidade de sanção é que o Tribunal poderá
utilizar-se dessa faculdade. Assim, não pode o TCU criar por meio de seu Regimento Interno uma
sanção que não esteja prevista em alguma lei.

Vale ressaltar que esta é a única competência constitucional do Tribunal de Contas que, para
ser exercida, depende de ato infraconstitucional, ou seja, o TCU somente pode aplicar uma sanção
caso exista lei que estabeleça a sua aplicação, diante de determinadas circunstâncias e hipóteses.

Importante notarmos, também, que a Constituição não restringiu a uma lei específica a
necessidade de disciplinar a matéria. Nesse sentido, não é apenas a Lei Orgânica do TCU (Lei nº
8.443/992) que pode prever sanções. Tanto é assim que a Lei nº 10.028, de 2000, que disciplina os
crimes fiscais, em seu art. 5º, estabelece que as infrações administrativas serão processadas e
julgadas pelo Tribunal de Contas a que competir a fiscalização. Caso o tribunal verifique a existência
de infração, poderá aplicar multa de 30% sobre os vencimentos do agente infrator.

Outra observação importante é que, ao mencionar a expressão “entre outras cominações”, o


constituinte deixou claro que não pretendia apresentar um rol taxativo de sanções. Desse modo,
temos que a sanção de multa prevista no inciso em análise é apenas exemplificativa. A lei poderá
estabelecer outras sanções.

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9. ASSINAR PRAZO PARA CUMPRIMENTO DA LEI E SUSTAÇÃO DE ATOS E CONTRATOS (INCISOS IX e


X, § 1º e 2º)

IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;

X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos
Deputados e ao Senado Federal;
(...)
§ 1º - No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso
Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.
§ 2º - Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar as
medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.

Pelo dispositivo, compete ao TCU verificar se os administradores pautam as suas gestões em


ações que se realizam em consonância com os dispositivos legais que regem a Administração Publica.
Caso seja verificada qualquer ilegalidade, competirá ao TCU determinar que o responsável pela ação,
em prazo estipulado pela própria Corte de Contas, adote providências no sentido de sanar a
ilegalidade.

Pode ocorrer, contudo, que o responsável pela ação não cumpra a determinação do TCU.
Nesse caso, o que o Tribunal poderá fazer?

A primeira providência é verificar se a legalidade ocorreu em ato ou em contrato


administrativo.

O ato administrativo decorre da vontade unilateral da administração. Como exemplo, citamos


a remoção de servidor público por interesse da administração. Quando a legalidade decorrer de ato
administrativo, teremos um caminho mais curto para percorrer, pois a própria Constituição concede
competência para o TCU sustar diretamente o ato.

Reparem que a Constituição não concedeu competência para que o TCU anule o ato
impugnado. De acordo com o nosso ordenamento jurídico somente pode anular o ato aquele que o
praticou, ou o Poder Judiciário. Assim, o TCU não detém competência para a anulação. Pode,
entretanto, sustar a execução do ato.

Assim, a exata significação de “sustar o ato” é a de que a Corte de Contas retira a eficácia do
ato. Dessa forma, apesar ainda estar no mundo jurídico, o ato não mais produzirá efeito.

Vale lembrar que, de acordo com observação contida no inciso X, o constituinte colocou que,
ao sustar o ato, o Tribunal deve comunicar essa decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado
Federal. Cuidado, pois não foi dito que a comunicação deve ser dirigida ao Congresso Nacional e sim
às duas casas isoladamente.

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E em caso de contrato, o que o Tribunal poderá fazer?

No caso de contrato (em que há a vontade de duas ou mais pessoas), o Tribunal não detém
competência para sustá-lo, de imediato. Dessa forma, caso se depare com ilegalidade ocorrida no
âmbito de contrato administrativo, deve comunicar a ilegalidade ao Congresso Nacional, que adotará
as providências necessárias para a sua sustação.

Embora o § 1º do art. 71 da CF informe que o Congresso Nacional solicitará, de imediato, ao


Poder Executivo, a adoção das medidas cabíveis, nem sempre é o Poder Executivo o responsável pelo
contrato.

Assim, se o contrato ilegal for de responsabilidade do Poder Judiciário, a comunicação deve


ser dirigida a este Poder, pois, conforme vimos anteriormente, somente o responsável pelo contrato –
ou o próprio Poder Judiciário, no uso de sua função judicante – terá competência para anular o
contrato ilegal.

Perceba que neste exemplo, o Poder Judiciário deverá anular o contrato, mas não o fará
utilizando-se de sua função judicial, mas sim atuando como administração pública.

Por fim, passemos para o § 2º do art. 71 da CF, que apresenta a seguinte redação:

“Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de 90 dias, não efetivar as medidas
previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito”.

Na forma do Regimento Interno do TCU, na hipótese do dispositivo acima, se decidir sustar o


contrato, o Tribunal determinará ao responsável que, no prazo de quinze dias, adote as medidas
necessárias ao cumprimento da lei.

Cabe ressaltar o posicionamento do STF por ocasião do Mandado de Segurança 23.550/DF. A


decisão do STF foi no sentido de que o TCU possui competência para determinar a anulação de
contrato. A Suprema Corte assim entendeu porque a CF concedeu competência para a Corte de
Contas assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, se verificada a ilegalidade.

TOME NOTA: O TCU não possui competência para sustar, de imediato, um, contrato, somente
podendo fazê-lo, se o Congresso Nacional, no prazo de 90 dias não se pronunciar a respeito da
sustação. No entanto, o TCU pode, de imediato, desde que concedida ampla defesa e contraditório
ao contratado, determinar que a autoridade competente anule o contrato.

Por fim, vale destacar que o STF também reconheceu a validade do provimento cautelar do
TCU no MS 26.547/DF. Mediante tal julgado, ficou assente a possibilidade de o TCU expedir medida
cautelar para impedir a execução de um contrato, sem que tal fato caracterize-se em abuso de poder
da Corte de Contas.

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É justamente esse poder cautelar que tem gerado alguns conflitos entre o atual Governo e o
TCU. Alega o governo federal que o TCU não deveria ter esse poder de determinar a suspensão da
execução de contratos de obras públicas, especialmente preocupado com as obras do PAC. Não
pretendemos entrar no mérito da questão, dada a polêmica criada.

10. DEVER DE REPRESENTAÇÃO (INCISO XI)

XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados.

Outra atribuição constitucional é a que estabelece que o Tribunal de Contas tem o dever de
representar aos Poderes e órgãos competentes sobre irregularidades e abusos apurados no curso dos
processos administrativos da sua competência, de forma a possibilitar a adoção das medidas cabíveis
que lhe são afetas.

O exemplo mais comum é a representação ao Ministério Público acerca de fatos apurados que
se constituem em indícios de ilícitos penais e/ou atos de improbidade administrativa.

11. EFICÁCIA DAS DECISÕES DO TCU (Art. 71, § 3º)

§ 3º - As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de


título executivo.

Conforme ensina Valdecir Pascoal, ter a eficácia de título executivo significa que o erário-
credor do título, a partir da decisão do Tribunal de Contas, tem o direito de receber determinada
quantia proveniente de dano ao erário ou multa aplicada pelo TC e caso o responsável não efetue o
ressarcimento no prazo legal, não precisará ingressar no Poder Judiciário com o processo de
conhecimento.

A decisão condenatória do TC (mediante Acórdão, no caso do TCU), por ter eficácia de título
executivo, poderá ser diretamente executada pela Administração. Assim, a caracterização de título
executivo torna desnecessária a inscrição do débito na Dívida Ativa da Administração.

12. ENCAMINHAMENTO RELATÓRIO AO CONGRESSO NACIONAL (Art. 71, § 4º)

§ 4º - O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral e anualmente, relatório de


suas atividades.

Em que pese o TCU não ser subordinado ao Congresso Nacional, o Tribunal deve prestar
contas de seu desempenho e resultados alcançados em sua fiscalização ao Congresso Nacional, sendo
que os relatórios trimestrais e anuais enviados pelo TCU ao Legislativo constituem instrumentos que
permitem esse controle.

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13. DESPESAS NÃO AUTORIZADAS (Art. 72)

Art. 72. A Comissão mista permanente a que se refere o art. 166, §1º, diante de indícios de
despesas não autorizadas, ainda que sob a forma de investimentos não programados ou de
subsídios não aprovados, poderá solicitar à autoridade governamental responsável que, no prazo
de cinco dias, preste os esclarecimentos necessários.
§ 1º - Não prestados os esclarecimentos, ou considerados estes insuficientes, a Comissão
solicitará ao Tribunal pronunciamento conclusivo sobre a matéria, no prazo de trinta dias.
§ 2º - Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a Comissão, se julgar que o gasto possa causar
dano irreparável ou grave lesão à economia pública, proporá ao Congresso Nacional sua sustação.

Esses dispositivos estabelecem uma importante competência conjunta do Congresso Nacional


e do TCU. Verifica-se que, no dispositivo em tela, tanto a Comissão Mista de Planos, Orçamentos
Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional (CMO) possui obrigações específicas, como o TCU
também as têm.

O pronunciamento do TCU é apenas opinativo, ou seja, não vincula nem a Comissão Mista de
Orçamento nem o Congresso Nacional. Quem vai decidir se vai ou não sustar a despesa considerada
irregular vai ser o próprio Congresso Nacional.

A CMO, ao se deparar com indícios de despesas não autorizadas, ainda que sob a forma de
investimentos não programados ou de subsídios não aprovados (são só alguns exemplos de despesas
não autorizadas), tem competência para solicitar esclarecimentos da autoridade governamental
responsável.

O responsável disporá de cinco dias (corridos) para isso. Se os esclarecimentos forem


considerados insuficientes ou não forem prestados, a comissão provocará o TCU, para que, em trinta
dias (corridos), emita um parecer conclusivo sobre a referida despesa.

No caso de o parecer do TCU concluir pela irregularidade da despesa, e entendendo a


comissão que o gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão à economia pública, esta proporá
ao Congresso Nacional a sua sustação.

14. COMPOSIÇÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO

MINISTROS DO TCU

Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros (...).
§ 1º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre brasileiros que
satisfaçam os seguintes requisitos:
I – mais de trinta e cinco anos e menos de sessenta e cinco anos de idade;
II – idoneidade moral e reputação ilibada;
III – notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de
administração pública;

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IV – mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija
conhecimentos mencionados no inciso anterior.

São nove ministros que compõem o Tribunal de Contas da União. Reparem que a Constituição
não impõe restrição a brasileiro naturalizado. Outra observação, é que não há a necessidade de curso
superior em área específica para ser Ministro do TCU.

Seguindo, vamos ver como é feita a escolha dos Ministros do Tribunal de Contas da União:

§ 2º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão escolhidos:


I – um terço pelo Presidente República, com aprovação do Senado Federal, sendo dois
alternadamente dentre os auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal, indicados
em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e merecimento;
II – dois terços pelo Congresso Nacional.

Portanto, seis Ministros do TCU são escolhidos pelo Congresso Nacional. Essa escolha pode
recair em qualquer pessoa que preencha os requisitos apresentados no art. 73 da CF. Dessa forma,
não há nenhuma necessidade de o Ministro a ser escolhido pelo Congresso Nacional ter sido
deputado ou senador. Ainda com relação a esses seis Ministros, como foram escolhidos pelo próprio
Congresso Nacional, não há necessidade de serem aprovados pelo Senado Federal.

Somente os escolhidos pelo Presidente da República, isto é, três Ministros, devem passar por
essa aprovação do Senado Federal.

Com relação aos três escolhidos pelo Presidente da República, a Constituição prevê que
somente um pode ser de sua livre escolha, uma vez que os outros dois devem ser escolhidos dentre
Auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas.
TOME NOTA: Em caso de vacância, a competência para a escolha de ministro do Tribunal de Contas
da União será definida de modo que mantenha a composição definida na CF. Assim, se aposentar
um ministro indicado pelo Congresso Nacional, este caberá indicar o sucessor.

Dessa forma, a composição de Ministros deve ser sempre a seguinte:


• seis que tenham sido indicados pelo Congresso Nacional e três que tenham sido
indicados pelo Presidente da República
• dos Ministros escolhidos pelo Presidente, um deve ser oriundo dos Auditores e outro
dos membros do Ministério Público junto ao TCU. Assim, por exemplo, caso haja
aposentadoria de um Ministro oriundo do quadro de Auditores, o novo Ministro deve,
obrigatoriamente, ser escolhido dentre os Auditores da Corte de Contas.

ATENÇÃO: Embora seis ministros sejam escolhidos pelo Congresso Nacional, TODOS os nove
componentes da Corte de Contas são nomeados pelo Presidente da República (art. 84, inciso XV, a
CF).

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Dando prosseguimento acerca das disposições contidas no Art. 73 da CF, verifica-se que a
Constituição equipara os Ministros do Tribunal de Contas da União aos Ministros do Superior Tribunal
de Justiça - STJ.

Art. 73 O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito
Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, exercendo, no que
couber, as atribuições previstas no art. 96.
(...)
§ 3º Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias, prerrogativas,
impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-
se-lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do art. 40.

ATENÇÃO NA PROVA: As bancas tentam pegar os candidatos afirmando que a equiparação é com
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Os ministros do TCU se equiparam aos ministros do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o não com ministros do STF.

Com relação às garantias, elas estão estabelecidas no próprio texto constitucional, artigo 95.
São elas:

• vitaliciedade, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em
julgado;

• inamovibilidade;

• irredutibilidade de vencimentos/subsídios.

Além dessas garantias, a Lei Orgânica do TCU prevê ainda como garantia, a aposentadoria,
com proventos integrais, compulsoriamente aos setenta anos de idade ou por invalidez comprovada,
e facultativa, após trinta anos de serviço, contados na forma da lei.

O dispositivo foi parcialmente revogado pela Emenda Constitucional nº 20/1998. Agora, as


aposentadorias dos Ministros do TCU obedecem ao preconizado no art. 40 da CF, a teor do disposto
no § 3º do art. 73 da CF/1988. Observamos ainda que a Emenda Constitucional nº 41/2003 introduziu
regras para a aposentadoria, mudando o estatuído no art. 40 da Constituição.

Os impedimentos também estão consignados na Constituição Federal, no parágrafo único do


artigo 95. É vedado aos membros dos Tribunais de Contas:

• exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;

• receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;

• dedicar-se a atividade político-partidária;

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• receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas,


entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lê;

• exercer a advocacia no tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três amos do


afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.

 o TCU é composto por nove membros, isto é, são os nove Ministros;


 para uma pessoa ser Ministro do TCU, deve satisfazer os requisitos previstos no § 1º do art. 73
da CF/1988 (mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade; idoneidade
moral e reputação ilibada; notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e
financeiros ou de administração pública e mais de dez anos de exercício de função ou de
efetiva atividade profissional que exija os conhecimentos mencionados);
 os Ministros do TCU são equiparados a Ministro do STJ e são escolhidos da seguinte forma:
três pelo Presidente da República, sendo que desses, um deve vir do quadro de membros do
Ministério Público junto ao Tribunal e um do quadro de Auditores; os outros seis pelo
Congresso Nacional;
 os Ministros indicados pelo Presidente da República devem ser aprovados pelo SENADO
FEDERAL; quem dá a posse para os Ministros é o Presidente do TCU, que ocorre em sessão
extraordinária do Plenário; e
 independentemente do processo de escolha, todos os nove Ministros são nomeados pelo
Presidente da República (art. 84, inciso XV, da CF).

AUDITORES

Em número de quatro, os Auditores substituem os ministros em caso de vacância, férias,


impedimentos, licenças e outros afastamentos legais. É por isso que os Auditores do TCU costumam
ser chamados de MINISTROS-SUBSTITUTOS.

Diferentemente do que ocorre com os Ministros, o ingresso no cargo de Auditor se faz por
meio de concurso de provas e títulos. Todavia, o art. 77 da Lei Orgânica do TCU estabelece que, para
investidura no cargo de Auditor, deve-se preencher os mesmos requisitos exigidos para o cargo de
Ministro do Tribunal de Contas da União, ou seja, o que está preconizado no § 1º do art. 73 da
CF/1988.

A Constituição apresenta as seguintes garantias e impedimentos aos Auditores:

Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito
Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, exercendo, no que
couber, as atribuições previstas no art. 96.
(...)

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§ 4º - O auditor, quando em substituição a Ministro, terá as mesmas garantias e impedimentos


do titular e, quando no exercício das demais atribuições da judicatura, as de juiz de Tribunal
Regional Federal.

Portanto, o Auditor no curso normal de suas atividades dentro do TCU possui as mesmas
garantias e impedimentos de juiz de Tribunal Regional Federal, ou seja, de juiz de 2ª instância.
Contudo, quando em substituição a Ministro, possui as mesmas garantias e impedimentos de
Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

15. APRESENTAÇÃO DE DENÚNCIAS AO TCU (§ 2º do Art. 74 da CF)

§ 2º - Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na


forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União.

O recebimento de denúncias por parte do TCU está vinculado a sua função de ouvidoria.

Cabe destacar quem são as pessoas legitimadas para denunciar: CIDADÃO, ASSOCIAÇÃO,
PARTIDO POLÍTICO E SINDICATO. Note que a Constituição não deu legitimidade para qualquer pessoa
denunciar e sim qualquer cidadão.

16. REGRAS DE APLICAÇÃO AOS TRIBUNAIS DE CONTAS DOS ESTADOS E DOS MUNICÍPIOS (Art. 75
da CF)

Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização,
composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos
Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.
Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas respectivos,
que serão integrados por sete Conselheiros.

O art. 75 dispõe que as normas estabelecidas na Seção que trata da fiscalização contábil,
financeira e orçamentária são aplicáveis, no que couber, à organização, composição e fiscalização dos
Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas
dos Municípios.

Devemos notar que a expressão “no que couber” indica que nem todas as regras poderão ser
aplicadas aos Tribunais de Contas Estaduais. Como por exemplo, citamos que o STF ponderou que, em
relação a Estados novos (CF/1988, art. 235), a qualificação profissional formal não é requisito à
nomeação de Conselheiro de Tribunal de Contas Estadual e que o requisito notório saber é
pressuposto subjetivo a ser analisado pelo governador de estado, a seu juízo discricionário, deixando,
portanto, de ter como integralmente aplicáveis no novo Estado os requisitos do art. 73, § 1º, da
CF/1988.

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Cabe ressaltar que o artigo 231, inciso III, da CF estabelece que nos dez primeiros anos da
criação de novo Estado o Tribunal de Contas terá três membros nomeados pelo Governador eleito,
dentre brasileiros de comprovada idoneidade e notório saber.

A Constituição Federal estabelece que os Tribunais de Contas Estaduais serão integrados por
sete Conselheiros (art. 75, parágrafo único).

No modelo federal, vimos que três Ministros do TCU são escolhidos pelo Presidente da
República, sendo um dentre Auditores, um dentre os Procuradores e um de livre escolha, e, os outros
seis escolhidos pelo Congresso Nacional.

Assim, em alinhamento a este modelo, a indicação dos Conselheiros dos Tribunais de Contas
Estaduais, do Distrito Federal e dos Municípios deve ser feita pelo Chefe Executivo local e pelo Poder
Legislativo.

O Supremo Tribunal Federal editou a súmula nº 653 dispondo que: “No Tribunal de Contas
Estadual, composto por sete conselheiros, quatro devem ser escolhidos pela Assembleia Legislativa e
três pelo Chefe do Poder Executivo Estadual, cabendo a este indicar um dentre Auditores e outro
dentre membros do Ministério Público, e um terceiros à sua livre escolha”.

OBSERVAÇÃO: A Lei Maior não disciplinou a composição de Tribunais de Contas de Municípios


novos porque a própria CF, artigo 31, § 4º veda a criação de novos Tribunais ou Conselhos de Contas
municipais, pelos Municípios. Na hipótese de criação de um município novo, será o Tribunal de
Contas do Estado o órgão competente para fiscalização.

Em síntese, o membro da Corte de Contas estadual é denominado de Conselheiro e cada um


desses tribunais será integrado por sete conselheiros. O STF entende que os Tribunais de Contas dos
Estados devem ter quatro conselheiros eleitos pela Assembleia Legislativa e três conselheiros
nomeados pelo Chefe do Poder Executivo do Estado-membro.

Os Conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados terão as mesmas garantias,


prerrogativas, impedimentos e vantagens dos Desembargadores do Tribunal de Justiça.

Nos Estados e Municípios, os auditores possuem as mesmas garantias e impedimentos dos


Conselheiros, quando os estão substituindo, e as de juiz de última entrância, quando no exercício das
demais atribuições.

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DEMAIS COMPETÊNCIAS DO TCU (LEGAIS, REGIMENTAIS E JURISPRUDENCIAIS)

O art. 1° da Lei Orgânica do TCU e do seu Regimento Interno trata das competências do
Tribunal. A maioria das competências do TCU decorre da Constituição Federal e já foi objeto de
estudo anteriormente.

Veremos, a seguir, apenas as competências do TCU estatuídas na Lei Orgânica e no Regimento


Interno e outras decorrentes da jurisprudência do STF, que não vimos anteriormente quando
estudamos as competências definidas no art. 71 da CF.

Competência para auditar projetos e programas autorizados na lei orçamentária anual (inciso V do
art. 1º do RITCU)

Nos exatos termos do inciso V do art. 1º do Regimento Interno do TCU, compete ao Tribunal
auditar, por solicitação da comissão mista permanente de senadores e deputados referida no § 1º do
art. 166 da Constituição Federal, ou de comissão técnica de qualquer das casas do Congresso
Nacional, projetos e programas autorizados na lei orçamentária anual, avaliando os seus resultados
quanto à eficácia, eficiência, efetividade e economicidade.

O inciso IV do art. 71 da CF prevê, de forma genérica, a realização de inspeções e auditorias,


entre elas as auditorias operacionais.

Já o inciso do RITCU em comento é um caso particular. As fiscalizações de que trata avaliam


resultados quanto à eficácia, eficiência, efetividade e economicidade. Não trata, portanto, de
auditorias de conformidade. Destina-se especificamente a auditorias operacionais. Outra
particularidade é que somente são legitimadas para solicitá-las a comissão mista de senadores e
deputados referida no § 1º do art. 166 da Constituição e comissões técnicas de qualquer das Casas do
Congresso. Não são legitimadas, as casas legislativas per se e nem as comissões parlamentares de
inquérito (CPIs).

Competência para acompanhar a arrecadação da receita (inciso IV do art. 1º da LOTCU e inciso VII
do art. 1º RITCU)

Outra competência do TCU é acompanhar a arrecadação da receita a cargo da União, das


entidades da administração indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo
poder público federal, e das demais instituições sob sua jurisdição, mediante fiscalizações, ou por
meio de demonstrativos próprios.

Utilizando-se de demonstrativos próprios ou dos instrumentos de fiscalização, o TCU


acompanha todas as etapas da arrecadação de receita.

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Competência para efetuar o cálculo das quotas referentes aos fundos de participação de estados e
municípios (inciso VI do art. 1º da LOTCU e inciso IX do art. 1º do RITCU)

Compete ao TCU efetuar, observada a legislação pertinente, o cálculo das quotas referentes
aos fundos de participação a que alude o parágrafo único do art. 161 da Constituição Federal,
fiscalizando a entrega dos respectivos recursos.

Diferentemente do que ocorre com os convênios, o TCU não fiscaliza a aplicação desses
recursos. Esse fato tem uma explicação simples. Os recursos dos convênios só são repassados para
outro ente, porque a União tem interesse em que o ente realize determinada ação. Dessa forma, a
União tem todo o direito de verificar se os recursos foram gastos no objeto do ajuste.

Já em relação aos recursos do FPE e FPM, a própria Constituição, no caput do art. 159, estipula
que “a União entregará (...)”. Assim, os recursos pertencem a União, uma vez que a Constituição
determina que eles serão entregues àqueles fundos. Dessa forma, não cabe ao TCU fiscalizar a
aplicação dos referidos recursos. A CF, por meio do parágrafo único do art. 161, estipulou que a
competência do TCU é de apenas efetuar o cálculo da quota que será destinada a cada Estado e
Município. A esta competência soma-se a de fiscalizar a entrega dos recursos a seus destinatários,
conforme dispõe o art. 1º, inciso IX, do RITCU.

Competência para emitir parecer prévio sobre as contas do governo de território federal (inciso VII
do art. 1º da LOTCU e inciso XII do art. 1º do RITCU)

A LOTCU define como competência do TCU emitir, nos termos do § 2º do art. 33 da


Constituição Federal, parecer prévio sobre as contas do Governo de Território Federal, no prazo de
sessenta dias, a contar de seu recebimento, na forma estabelecida no Regimento Interno.

Competência para fiscalizar, no âmbito de suas atribuições, o cumprimento das normas da Lei de
Responsabilidade Fiscal (inciso XIII do art. 1º do RITCU) e processar e julgar as infrações
administrativas contra as finanças públicas e a responsabilidade fiscal (inciso XIV do art. 1º do
RITCU)

Conforme prevê o caput do art. 59 da Lei de Responsabilidade Fiscal, a fiscalização do


cumprimento de suas normas, em cada esfera de governo, é atribuição primária do Poder Legislativo
e dos sistemas de controle interno de cada Poder e do Ministério Público. A fiscalização pelo
legislativo pode ser exercida diretamente ou com o auxílio dos tribunais de contas. Os incisos do art.
59 indicam o que será enfatizado na fiscalização:

I - atingimento das metas estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias;

II - limites e condições para realização de operações de crédito e inscrição em Restos a Pagar;

III - medidas adotadas para o retorno da despesa total com pessoal ao respectivo limite, nos
termos dos arts. 22 e 23;

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 26

IV - providências tomadas, conforme o disposto no art. 31, para recondução dos montantes
das dívidas consolidada e mobiliária aos respectivos limites;

V - destinação de recursos obtidos com a alienação de ativos, tendo em vista as restrições


constitucionais e as desta Lei Complementar;

VI - cumprimento do limite de gastos totais dos legislativos municipais, quando houver.

A LRF criou uma série de atribuições para as cortes de contas, no âmbito das suas respectivas
jurisdições. Para o TCU, entre outras, cabe apreciar as contas prestadas pelo Presidente da República.

A LRF estabelece caber aos tribunais de contas alertar os Poderes e órgãos da Administração
Pública acerca:

• da possibilidade de ocorrência de fatos ensejadores de limitação de empenho;

• do atingimento de 90% do limite total da despesa com pessoal;

• do atingimento de 90% dos limites dos montantes das dívidas consolidada e mobiliária, das
operações de crédito e da concessão de garantia;

• da extrapolação do limite estabelecido para os gastos com inativos e pensionistas;

• dos fatos que comprometam os custos ou os resultados dos programas ou indícios de


irregularidades na gestão orçamentária.

Compete ainda aos Tribunais de Contas verificar os cálculos dos limites da despesa total com
pessoal de cada Poder e órgãos.

Especificamente ao TCU compete acompanhar o cumprimento das vedações impostas ao


Banco Central, nos §§ 2o, 3o e 4o do art. 39 da LRF.

Com referência a violações às regras aplicáveis às finanças públicas, a Lei de Crimes Fiscais (Lei
nº 10.028, de 2000) promoveu alterações no Código penal, na Lei nº 1.079, de 1950 – que define os
crimes de responsabilidade – e no Decreto-Lei nº 201, de 1967 – que dispõe sobre a responsabilidade
de prefeitos e vereadores. Além de estabelecer novas condutas passíveis de responsabilização penal,
a Lei de Crimes Fiscais estabelece uma série de condutas contra as finanças públicas tipificadas como
infrações administrativas.

Segundo o art. 5º da Lei de Crimes Fiscais, são infrações administrativas contra a lei de
finanças públicas:

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 27

• deixar de divulgar ou de enviar ao Poder Legislativo e ao Tribunal de Contas o relatório de


gestão fiscal, nos prazos e condições estabelecidos em lei;

• propor lei de diretrizes orçamentárias anual que não contenha as metas fiscais na forma da
lei;

• deixar de expedir ato determinando limitação de empenho e movimentação financeira, nos


casos e condições estabelecidos em lei;

• deixar de ordenar ou de promover, na forma e nos prazos da lei, a execução de medida


para a redução do montante da despesa total com pessoal que houver excedido a
repartição por Poder do limite máximo.

Competirá ao TC respectivo processar e julgar essas infrações administrativas, e aquele que


der causa a uma das infrações acima listadas será punido com multa de trinta por cento dos seus
vencimentos anuais. O pagamento da multa é de responsabilidade pessoal do agente.

Competência para acompanhar, fiscalizar e avaliar os processos de desestatização e as concessões,


permissões e autorizações de serviço público (inciso XV do art. 1º do RITCU)

A Lei nº 9.491, de 1997, prevê que o TCU aprecie os processos de desestatização da


administração federal (art. 18, VIII). A apreciação do Tribunal envolve acompanhar as suas etapas,
exercendo controle concomitante, fiscalizar o exato cumprimento dos normativos legais e avaliar as
bases em que se fundam, sempre tendo em vista o atendimento do interesse público. Vale lembrar
que esses processos não se resumem apenas à alienação dos ativos, incluindo ainda a fiscalização das
concessões, permissões e autorizações de serviços públicos, assim como a execução dos respectivos
contratos.

Competência para aplicar sanções e adotar medidas cautelares (inciso XV do art. 1º do RITCU)

Nos termos do inciso VIII do art. 71 da CF, compete exclusivamente ao TCU aplicar aos
responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em
lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário.

Como vimos, além de sanções previstas em sua lei orgânica, a Lei nº 10.028, de 2000, que
disciplina os crimes fiscais, em seu art. 5º, estabelece que as infrações administrativas serão
processadas e julgadas pelo Tribunal de Contas a que competir a fiscalização. Caso o tribunal verifique
a existência de infração, poderá aplicar multa de 30% sobre os vencimentos do agente infrator.

Outra observação importante é que, ao mencionar a expressão “entre outras cominações”, o


constituinte deixou claro que não pretendia apresentar um rol taxativo de sanções. Desse modo,
temos que a sanção de multa prevista no inciso em análise é apenas exemplificativa. A lei poderá
estabelecer outras sanções.

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De acordo com a sua Lei Orgânica e Regimento Interno, o TCU pode aplicar aos responsáveis,
em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, e outras hipóteses, as seguintes
sanções, isolada ou cumulativamente:

Multa proporcional ao débito. No caso de julgamento pela irregularidade, o Tribunal aplicará


ao responsável a multa de até 100% do valor do débito, prevista no art. 57 da lei nº 8.443/92.
Havendo mais de um responsável, mesmo que solidário, a multa poderá ser superior ao valor do
débito, pois, tendo em vista o princípio da individualização da pena, cada um dos responsáveis poderá
sofrer multa equivalente a 100% do valor da condenação.

Multa sem débito. Se as contas forem julgadas irregulares, sem que haja condenação em
débito, e por não atendimento de diligência ou determinação do Tribunal, por obstrução ao livre
exercício de inspeções ou auditorias e por sonegação de processo, documento ou informação, o
Tribunal aplicará ao responsável a multa prevista no art. 58, inciso I, da lei 8.443/92, nos limites
fixados no Regimento Interno (dosimetria). Cabe destacar que, por se tratar de sanção de natureza
pecuniária, as multas tanto podem ser aplicadas a pessoas físicas quanto jurídicas, desde que se
comprove que ambas contribuíram de forma direta para a existência do prejuízo.

Inabilitação para cargo/função. Pode ainda o Tribunal, por deliberação exclusiva do Plenário,
no caso de contas julgadas irregulares, com ou sem débito, inabilitar o responsável para o exercício
de cargo em comissão ou função de confiança na Administração Pública federal por período ente
cinco e oito anos, desde que a irregularidade seja considerada grave pela maioria absoluta dos
Ministros.

Declaração de inidoneidade do licitante. Existe ainda uma sanção que, apesar de não ser uma
consequência do julgamento pela irregularidade das contas, ao contrário, poderá a pena ser aplicada
em outros processos, tais como auditorias e denúncias, o Tribunal poderá, comprovada a existência
de fraude à licitação, declarar a inidoneidade do licitante fraudador para participar de licitação
perante a Administração Pública federal pelo prazo de até cinco anos.

Como medidas cautelares, o RITCU prevê as seguintes:

a) o afastamento provisório de seu cargo, do dirigente responsável por cerceamentos a


inspeções e auditorias enquanto durarem os respectivos trabalhos;

b) a decretação, no curso de qualquer apuração de irregularidade, da indisponibilidade, por


prazo não superior a um ano, dos bens do responsável, considerados bastantes para garantir o
ressarcimento do prejuízo;

c) a solicitação à Advocacia-Geral da União, ou ao dirigente de entidade jurisdicionada, de


adoção de providências para arresto dos bens de responsáveis julgados em débito.

Cumpre destacar, ainda, que as penalidades aplicadas pelo Tribunal de Contas não excluem a
aplicação de sanções penais e de outras sanções administrativas, estas últimas pelas autoridades

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 29

competentes. Ressalte-se, também, que a legislação eleitoral prevê a inelegibilidade, por um período
de cinco anos, dos responsáveis por contas irregulares. Todavia, não cabe ao TCU declarar a
inelegibilidade e sim ao Tribunal Eleitoral.

Competência para fiscalizar as declarações de bens e rendas apresentadas pelas autoridades e


servidores públicos (XXIII do art. 1º do RITCU)

Esta competência decorre da Lei Orgânica do Tribunal e da Lei nº 8.730, de 1993, que
estabelece a obrigatoriedade da apresentação de declaração de bens, com indicação das fontes de
renda, no momento da posse ou, inexistindo esta, na entrada em exercício do cargo, emprego ou
função. Bem como no final de cada exercício financeiro, no término da gestão ou mandato e nas
hipóteses de exoneração, renúncia ou afastamento definitivo, por parte de determinadas autoridades
e servidores públicos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

O art. 104 da LOTCU, que é de 1992, prevê a possibilidade de o Plenário ou as Câmaras do


Tribunal, a seu critério, solicitarem a remessa de cópia das declarações de rendimentos e de bens dos
“ordenadores de despesas dos órgãos da administração direta, bem assim os dirigentes das entidades
da administração indireta e fundações e quaisquer servidores responsáveis por atos de que resulte
despesa pública”. Aquele que descumprir essa obrigação está sujeito à multa. O sigilo quanto às
informações encaminhadas deve ser mantido, mas o Plenário poderá quebrá-lo, em processo no qual
haja comprovação de enriquecimento ilícito por exercício irregular da função pública.

Competência para decidir sobre denúncias e representações (incisos XXIV e XXVI do art. 1º do
RITCU)

A competência para decidir sobre denúncias vem da CF, conforme já visto, e é repetida na
LOTCU (inciso XVI do art. 1º), que não fala de representações.

O § 2º do art. 74 da Lei Maior estatui que “qualquer cidadão, partido político, associação ou
sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o
Tribunal de Contas da União”.

Vale ressaltar que a denúncia e a representação são institutos similares, mas diferenciados por
particularidades significativas, em especial, os legitimados para apresentar um e outro. As denúncias
podem ser encaminhadas por qualquer cidadão, partido politico, associação ou sindicato. A lista é
exaustiva. Por seu turno, representações serão encaminhadas por força da lei, como no caso do art.
113, § 1º, da Lei de Licitações e Contratos (Lei nº 8.666, de 1993).

Competência para decidir sobre consultas (inciso XVII do art. 1º da LOTCU e inciso XXV do art. 1º do
RITCU)

A consulta está prevista na Lei Orgânica do Tribunal, inciso XVII do art. 1º, in verbis:

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 30

XVII - decidir sobre consulta que lhe seja formulada por autoridade competente, a respeito de
dúvida suscitada na aplicação de dispositivos legais e regulamentares concernentes a matéria
de sua competência, na forma estabelecida no Regimento Interno.

A primeira coisa a ser notada é que consultas devem ser formuladas por quem seja
competente para tanto. A outra é a matéria sobre a qual a consulta poderá versar: dúvida na
aplicação de dispositivos legais e regulamentares abrangidos pela jurisdição da Corte de Contas.

A consulta não poderá versar sobre fato ou caso concreto, e sua resposta tem caráter
normativo, constituindo prejulgamento da tese (art. 1º, § 2º, da LOTCU).

A definição de quem é legitimado para formular consulta foi delegada pela Lei Orgânica ao
Regimento Interno.

Eis as disposições contidas no RITCU acerca da consulta:

Art. 264. O Plenário decidirá sobre consultas quanto a dúvida suscitada na aplicação de
dispositivos legais e regulamentares concernentes à matéria de sua competência, que lhe
forem formuladas pelas seguintes autoridades:
I – presidentes da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo
Tribunal Federal;
II – Procurador-Geral da República;
III – Advogado-Geral da União;
IV – presidente de comissão do Congresso Nacional ou de suas casas;
V – presidentes de tribunais superiores;
VI – ministros de Estado ou autoridades do Poder Executivo federal de nível hierárquico
equivalente;
VII – comandantes das Forças Armadas.
§ 1º As consultas devem conter a indicação precisa do seu objeto, ser formuladas
articuladamente e instruídas, sempre que possível, com parecer do órgão de assistência técnica
ou jurídica da autoridade consulente.
§ 2º Cumulativamente com os requisitos do parágrafo anterior, as autoridades referidas nos
incisos IV, V, VI e VII deverão demonstrar a pertinência temática da consulta às respectivas
áreas de atribuição das instituições que representam.
§ 3º A resposta à consulta a que se refere este artigo tem caráter normativo e constitui
prejulgamento da tese, mas não do fato ou caso concreto.
§ 4º A decisão sobre processo de consulta somente será tomada se presentes na sessão pelo
menos sete ministros, incluindo ministros-substitutos convocados, além do Presidente.
Art. 265. O relator ou o Tribunal não conhecerá de consulta que não atenda aos requisitos do
artigo anterior ou verse apenas sobre caso concreto, devendo o processo ser arquivado após
comunicação ao consulente.

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 31

Competência para fiscalizar a aplicação dos recursos repassados ao Comitê Olímpico Brasileiro e ao
Comitê Paraolímpico Brasileiro por força da legislação vigente (inciso XXVII do art. 1º do RITCU)

A Lei nº 10.264, de 2001 (Lei Agnelo/Piva), modificando a Lei nº 9.615, de 1998, determina que
dois por cento da arrecadação bruta de todas as loterias federais do país sejam repassados ao Comitê
Olímpico Brasileiro (COB) e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB). O repasse dos recursos deve
obediência às regras aplicáveis a convênios.

O § 5º do art. 56 da referida Lei atribui ao TCU a competência para fiscalizar a aplicação dos
recursos repassados ao COB e ao CPB.

Competência do TCU para realizar o controle da constitucionalidade de leis e atos – Jurisprudência


do STF

O Tribunal de Contas da União dispõe de competência para realizar o controle da


constitucionalidade de leis e atos.

Em 1963, foi editado o Enunciado nº 347 da Súmula de Jurisprudência do STF, o qual dispôs ser
cabível aos Tribunais de Contas, no exercício de suas atribuições, apreciar a constitucionalidade de
leis e atos normativos do poder público. O Enunciado nº 347 foi editado em 13/12/1963, nos autos do
Mandado de Segurança – MS nº 8.372/Ceará, de Relatoria do Ministro Pedro Chaves. Apreciava-se, na
espécie, recurso impetrado por um Delegado de Polícia contra decisão do Tribunal de Contas do
Ceará que negara registro ao seu ato de aposentadoria, e, ainda, contra decisão do Tribunal de Justiça
do Estado do Ceará, que mantivera a decisão daquele Tribunal de Contas.

O Relator assim consignou em seu voto:

Nego provimento ao recurso. Considerando sem efeito a lei que servira de fundamento ao ato
de aposentadoria do recorrente, não poderia ser feito o registro por falta de supedâneo
jurídico. A meu ver o acórdão recorrido bem decidiu a espécie, mas não posso deixar de lhe
opor um reparo de ordem doutrinária, pois não quero ficar vinculado a uma tese que tenho
constantemente repelido. Entendeu o julgado que o Tribunal de Contas não poderia declarar a
inconstitucionalidade da lei. Na realidade, esta declaração escapa à competência específica
dos Tribunais de Contas. Mas há que distinguir entre declaração de inconstitucionalidade e
não aplicação de leis inconstitucionais, pois esta é a obrigação de qualquer tribunal ou órgão
de qualquer dos poderes do Estado. Feita essa ressalva, nego provimento ao recurso.

Com base na leitura do voto acima, é possível notar que o Relator não tencionou deferir ao
Tribunal de Contas a faculdade de declarar a inconstitucionalidade de leis, eis que tal competência
não lhe competiria.

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 32

O que fora enfatizado na decisão que serviu de fundamento à edição da Enunciado nº 347 foi a
obrigatoriedade, não só do Tribunal de Contas, mas de qualquer tribunal ou órgão de qualquer dos
poderes do Estado, de negar aplicação a leis inconstitucionais.

É forçoso reconhecer que, embora o Enunciado Sumular nº 347 faça menção expressa à
faculdade de o Tribunal de Contas apreciar a constitucionalidade das leis, tal competência não lhe
fora deferida, por meio daquela Súmula, em razão de sua missão institucional, mas sim com base no
entendimento de que qualquer órgão ou tribunal deveria negar aplicação à lei por ele considerada
inconstitucional.

Consoante dispõe o art. 16 do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União, compete ao


Plenário deliberar sobre propostas de determinações de caráter normativo, de estudos sobre
procedimentos técnicos, bem como daqueles em que se entender necessário o exame incidental de
inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do poder público.

Já o art. 28, inciso X do RITCU informa que compete ao Presidente do TCU votar quando se
aprecia inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do poder público.

Como se vê, a apreciação acerca da constitucionalidade pelo Tribunal de Contas da União é


efetuada em sede difusa, eis que os efeitos da decisão limitam-se às partes envolvidas no processo.
Vale lembrar que a apreciação, em abstrato, da constitucionalidade é de competência do Supremo
Tribunal Federal, nos termos da CF.

Vale ressaltar, por fim, que em outros julgados do STF, chama atenção a existência de
discordância no próprio seio do STF em relação ao exercício do controle de constitucionalidade
incidental pelo TCU, em que pese a existência de jurisprudência sumulada sobre o tema na própria
Suprema Corte.

TOME NOTA: De todo modo, para o concurso, temos que compete sim ao TCU exercer o controle da
constitucionalidade de leis e atos, no caso concreto, ao apreciar processos que lhe compete. O TCU,
contudo, apenas afasta a incidência da lei ou do ato normativo, por considerá-lo inconstitucional,
mas não promove nenhuma declaração de inconstitucionalidade.

Fundamento constitucional do poder cautelar do TCU – Jurisprudência do STF

O art. 276 do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União possibilita ao Plenário, ao Re-
lator e ao Presidente, em casos de urgência, fundado receio de grave lesão ao erário, ao interesse
público, ou de risco de ineficácia da decisão de mérito, adotar medida cautelar, na qual se
determinará, entre outras providências, a suspensão do ato ou do procedimento impugnado até a
deliberação de mérito do Tribunal.

Esse dispositivo regimental, em apertada síntese, positiva, no âmbito do controle externo, o


denominado poder cautelar, essencial, em muitas situações concretas, para preservar o resultado útil
do processo.

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 33

Entretanto, enquanto no Código de Processo Civil há previsão expressa tanto das cautelares
nominadas quanto do poder cautelar genérico do magistrado, a Lei nº 8.443/1992 silencia quanto a
esse poder.

Essa questão, da possibilidade de o TCU exercer o poder cautelar, não passou ao largo do
Supremo Tribunal Federal. No mandado de segurança nº 24.510, relatado pela Ministra Ellen Grace
(julgado em 19/11/2003, DJ 19-03-2004 PP-00018 EMENT VOL-02144-02 PP-00491 RTJ VOL-00191-03
PP- 00956), o Plenário daquela Corte assegurou o poder cautelar ao TCU.

Consta da ementa desse julgado que o TCU “tem competência para fiscalizar procedimentos
de licitação, determinar suspensão cautelar (artigos 4º e 113, § 1º e 2º da Lei nº 8.666/93), examinar
editais de licitação publicados e, nos termos do art. 276 do seu Regimento Interno, possui
legitimidade para a expedição de medidas cautelares para prevenir lesão ao erário e garantir a
efetividade de suas decisões”.

O Ministro Cezar Peluso defendeu o poder cautelar do TCU com base nos princípios da
legalidade e da moralidade, além de fazer analogia com o poder jurisdicional. O Ministro Celso de
Mello recorreu à teoria dos poderes implícitos. Segue trecho de seu voto:

Isso significa que a atribuição de poderes explícitos, ao Tribunal de Contas, tais como
enunciados no art. 71 da Lei Fundamental da República, supõe que se lhe reconheça, ainda
que por implicitude, a titularidade de meios destinados a viabilizar a adoção de medidas
cautelares vocacionadas a conferir real efetividade às suas deliberações finais, permitindo,
assim, que se neutralizem situações de lesividade, atual ou iminente, ao erário público.
Impende considerar, no ponto, em ordem a legitimar esse entendimento, a formulação que se
fez em torno dos poderes implícitos, cuja doutrina, construída pela Suprema Corte dos Estados
Unidos da América, no célebre caso McCULLOCH v. MARYLAND (1819), enfatiza que a outorga
de competência expressa a determinado órgão estatal importa em deferimento implícito, a
esse mesmo órgão, dos meios necessários à integral realização dos fins que lhe foram
atribuídos.
(...)
É por isso que entendo revestir-se de integral legitimidade constitucional a atribuição de
índole cautelar, que, reconhecida com apoio na teoria dos poderes implícitos, permite, ao
Tribunal de Contas da União, adotar as medidas necessárias ao fiel cumprimento de suas
funções institucionais e ao pleno exercício das competências que lhe foram outorgadas,
diretamente, pela própria Constituição da República.
Não fora assim, e desde que adotada, na espécie, uma indevida perspectiva reducionista,
esvaziar-se-iam, por completo, as atribuições constitucionais expressamente conferidas ao
Tribunal de Contas da União.
(...)
Na realidade, o exercício do poder de cautela, pelo Tribunal de Contas, destina-se a garantir a
própria utilidade da deliberação final a ser por ele tomada, em ordem a impedir que o

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 34

eventual retardamento na União apreciação do mérito da questão suscitada culmine por


afetar, comprometer e frustrar o resultado definitivo do exame da controvérsia.
(...)
Assentada tal premissa, que confere especial ênfase ao binômio utilidade/necessidade, torna-
se essencial reconhecer – especialmente em função do próprio modelo brasileiro de
fiscalização financeira e orçamentária, e considerada, ainda, a doutrina dos poderes implícitos
– que a tutela cautelar apresenta-se como instrumento processual necessário e compatível
com o sistema de controle externo, em cuja concretização o Tribunal de Contas desempenha,
como protagonista autônomo, um dos mais relevantes papéis constitucionais deferidos aos
órgãos e às instituições estatais.

Por fim, o Ministro Sepúlveda Pertence também ressaltou que “nenhum poder decisório
constitucional é dado para tornar-se ineficaz: e, por isso, tenho como implícito, na forma que outorga
o poder de decidir, o poder cautelar necessário a garantir a eficácia da eventual decisão futura”.

Esse entendimento foi reproduzido no MS 26.547/MC (Relator: Ministro Celso de Mello,


decisão publicada no DJ de 29-05-2007), com o acréscimo de que se explicitou que o poder cautelar
do TCU pode ser exercido mesmo sem a oitiva prévia do interessado.

Do exposto, mesmo à míngua de previsão legal expressa na Lei nº 8.443/1992, o STF


reconheceu a possibilidade de o TCU exercer o poder de cautela.

Possibilidade de o TCU determinar à administração que anule contrato - Jurisprudência do STF

Como vimos antes, a Constituição Federal de 1988, ao disciplinar as competências do TCU,


tratou de forma diferenciada a possibilidade de sustar ato administrativo e contrato. Enquanto o TCU
pode sustar diretamente atos administrativos (art. 71, X, da CF/1988), no caso de contratos
administrativos o ato de sustação compete, em princípio, ao Congresso Nacional (art. 71, § 1º, da
CF/1988). Apenas no caso de inércia do Parlamento, pelo prazo de 90 dias, poderia o TCU decidir a
respeito do contrato.

Entretanto, esses ditames constitucionais não representam óbice ao TCU realizar


determinações corretivas à Administração para retificações em contratos ou, até mesmo, a anulação
dos ajustes.

No MS 23.560 (Plenário), impetrado perante o STF, essa questão foi tratada. O TCU, por meio
do Acórdão nº 45/1999 e da Decisão nº 469/1999, determinou a anulação de contrato firmado entre
o TRT da 2ª Região e a impetrante que tratava da venda de imóvel. O relator, ministro Marco Aurélio,
considerou que falecia competência ao TCU para determinar o afastamento do cenário jurídico de
escritura de compra e venda (contrato).

Após pedido de vista, o ministro Nelson Jobim afirmou que a escritura de compra e venda em
verdade seria um contrato para a execução de uma obra. Considerou que o relator atribuiu eficácia
desconstitutiva à determinação do TCU (em relação ao contrato), quando, na verdade, haveria

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 35

simplesmente efeito mandamental (determinação para anular contrato). Dessa forma, votou pela
denegação da ordem.

O presidente do STF, à época, ministro Maurício Corrêa, afirmou que o TCU, ao examinar a
nulidade de contrato, “agiu no estrito cumprimento do que determina a Constituição Federal. Com
efeito, se entendêssemos que seria o caso de deferir a segurança, estaríamos inibindo a própria
atividade do Tribunal de Contas”. Assim, acompanhou a divergência.

Vencido o relator, o Plenário do STF indeferiu a segurança em sessão de 20/9/2000.

Outro exemplo dessa atuação do TCU consistiu na Decisão nº 621/1999, por meio da qual o
TCU determinou a anulação de concorrência e do contrato dela decorrente, em razão de imprecisões
na definição do objeto contratado terem inviabilizado o julgamento objetivo das propostas.

Contra essa deliberação foi impetrado o MS 23.550 (Plenário). Defendeu a Procuradoria-Geral


da República a concessão da segurança, pois “tendo sido concluído o processo licitatório e o contrato
assinado, o ato de sustação só poderia ser adotado diretamente pelo Congresso Nacional, (...)”. O
relator, ministro Marco Aurélio, acolheu o entendimento da PGR e votou pela concessão da ordem.

Dissentiram a ministra Ellen Gracie e os ministros Nelson Jobim e Celso de Mello. Nos termos
da dicção do ministro Celso de Mello: o TCU “não sustou o contrato, mesmo porque ele não dispunha
de competência constitucional para tanto, mas limitou-se a cientificar quem teria competência para
sustá-lo, (...)”.

O ministro Sepúlveda Pertence acolheu a fundamentação da divergência, porém, debruçou-se


sobre outra alegação da impetrante: ausência de contraditório. Votou pela concessão da ordem para
que fosse intimada a interessada. Essa proposta foi acolhida com o reajuste dos votos dos ministros
que encampavam a divergência original. Assim, ficou vencido apenas o relator, que concedia a ordem
em maior extensão. O julgamento se deu na sessão plenária de 4/4/2001.

Nos autos do MS 26.000 (1ª Turma, sessão de 16/10/2012), a sociedade empresária


Concessionária de Rodovias do Vale do Itajaí S.A. (Ecovale) contestou acórdão do TCU que
determinou ao Ministério dos Transportes que declarasse nulo contrato mediante o qual foi
transferido à impetrante, sob regime de concessão, a exploração de parte da BR-470.

O relator, ministro Dias Toffoli, assentou que o TCU não é um tribunal administrativo no
sentido francês, em razão do princípio da inafastabilidade da jurisdição. Também ressaltou a
jurisprudência do STF, assentada no MS 23.550, e afirmou que a participação do TCU no processo de
anulação, resolução ou resilição de contratos, limita-se a determinar essa conduta à autoridade.
Eventual desrespeito à decisão do TCU seria discutido em outra esfera.

Esse tema foi recentemente objeto de discussão nos autos do MS 29.599 (sessão da 1ª Turma
de 7/5/2013). Nesse processo discute-se imputação de débito solidário a gestor público e a
empreiteira em razão de sobrepreço em obras rodoviárias.

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 36

O relator, ministro Dias Toffoli, defendeu a correção da deliberação do TCU, pois a Corte de
Contas pode expedir determinações para o cumprimento da lei, citou como precedente o MS 26.000.
Acrescentou que a devolução dos valores decorreria de ilegalidade geradora de dano ao erário. Esse
entendimento foi acompanhado pelo ministro Luiz Fux.

O ministro Marco Aurélio abriu divergência e repisou posição externada nos MS 23.550 e
23.560, no sentido de que o TCU não poderia sustar um contrato, quanto mais impor a um particular
uma obrigação de dar. Defendeu que o TCU deveria meramente extrair cópia dos autos e remetê-las à
AGU. Houve pedido de vista da ministra Rosa Weber, estado em que se encontra.

Observa-se que o entendimento não unânime do STF consiste na inviabilidade de o TCU anular
ou alterar diretamente um contrato administrativo, assim, sua deliberação não teria caráter
desconstitutivo. Porém, a Corte de Contas pode expedir determinações para que o órgão/a entidade
anule o contrato, ou seja, aceita-se a natureza mandamental da deliberação, desde que facultada a
ampla defesa e o contraditório.

RESUMÃO QUANTO ÀS COMPETÊNCIAS DO TCU: Entre as competências atribuídas pela CF


exclusivamente ao TCU no exercício do controle externo, somente a aplicação de sanções depende de
norma infraconstitucional para o seu exercício. Quanto às sanções, a CF prevê apenas a multa
proporcional ao dano; as demais sanções serão instituídas em lei.

Muita atenção em prova quanto aos seguintes aspectos:

 O TCU julga as contas de gestão orçamentária, financeira e patrimonial de todos os gestores


(contas anuais/ordinárias) e daqueles que causarem dano ao erário (tomadas de contas
especiais). O TCU NÃO julga as contas do Presidente da República, somente emite parecer prévio
conclusivo sobre elas. Segundo o art. 49, inciso IX, da CF/1988, o responsável pelo julgamento das
contas do Presidente da República (de governo) é o Congresso Nacional.

 O TCU exerce atribuições fiscalizadoras em conjunto com a Comissão Mista de Senadores e


Deputados referida no § 1º do art. 166 da CF:
• Pronunciamento conclusivo em 30 dias sobre despesas não autorizadas, conforme solicitado pela
Comissão do CN;
• Auditoria em projetos e programas autorizados na LOA, avaliando a eficácia, eficiência,
efetividade e economicidade.

 O TCU NÃO fiscaliza a aplicação de quaisquer recursos transferidos pela União a estados e
municípios. No caso dos Fundos de Participação de Estados e Municípios (repassados pela União
por determinação constitucional), o TCU calcula as cotas e fiscaliza a entrega dos recursos. Quem
fiscaliza a aplicação desses recursos são os Tribunais de Contas locais.

 O TCU NÃO julga atos sujeitos a registro (admissões de pessoal, aposentadorias etc), mas sim,
aprecia-os, verificando a sua conformidade às normas legais. Ao verificar ilegalidade no ato NÃO

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 37

pode o TCU, de ofício, corrigir o vício. Com relação à admissão de pessoal, NÃO cabe ao TCU
apreciar, para fins de registro, a legalidade das nomeações para cargos de provimento em
comissão, sem prejuízo de fiscalizá-los. Diferentemente dos atos de admissão de pessoal, o
Tribunal somente se preocupa com as aposentadorias e pensões relacionadas aos servidores
estatutários. Quanto às concessões de aposentadorias, reformas e pensões, o TCU NÃO aprecia
as melhorias posteriores que NÃO alterem o fundamento legal do ato concessório.

SÚMULA VINCULANTE Nº 3 DO STF: Nos processos perante o tribunal de contas da união asseguram-
se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato
administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de
concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.

LEMBRAR DA REGRA SOBRE A SUSTAÇÃO DE CONTRATOS: No caso do gestor não atender à


determinação do TC para anular um ato, competirá ao próprio TC sustar a execução do ato
impugnado. No caso de contrato, não compete ao TCU sustar a execução do contrato; a sustação será
adotada pelo CN.

COMPETÊNCIA PARA DETERMINAR A ANULAÇÃO DE CONTRATO: O TCU – embora não tenha poder
para anular ou sustar contratos administrativos – tem competência, conforme o art. 71, IX, para
determinar à autoridade administrativa que promova a anulação do contrato e, se for o caso, da
licitação de que se originou (Mandado de Segurança 23.550).

FUNÇÃO CAUTELAR: O TCU tem competência para fiscalizar procedimentos de licitação, determinar a
suspensão cautelar (artigos 4° e 113, § 1° e 2° da Lei n° 8.666/93), examinar editais de licitação
publicados e, nos termos do art. 276 do seu Regimento Interno, possui legitimidade para a expedição
de medidas cautelares para prevenir lesão ao erário e garantir a efetividade de suas decisões
(Mandado de Segurança 24.510).

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DE LEIS E ATOS: Súmula 347 do STF: “O Tribunal de Contas,


no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder
Público”. Esse controle é incidental, em processo examinado pelo Tribunal.

JURISDIÇÃO DO TCU

Inicialmente, é importante definirmos o que seja jurisdição. O termo jurisdição vem do latim e
é a aglutinação de JURIS + DIÇÃO. O termo JURIS significa Direito e o termo DIÇÃO significa dizer, logo
jurisdição significa dizer do direito. Dessa forma, quando afirmamos que a jurisdição do Tribunal de
Contas da União abrange as sociedades de economia mista, estamos dizendo que o TCU pode dizer o
direito para aquelas sociedades.

Vimos anteriormente que alguns doutrinadores entendem que é inapropriado dizer que o TCU
possui jurisdição, pois, segundo eles, somente o Poder Judiciário pode dizer o direito.

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 38

Contudo, para o concurso, cabe firmar o entendimento de que os Tribunais de Contas


possuem uma jurisdição de contas, ou seja, uma jurisdição própria, anômala e distinta da jurisdição
tradicional. Albuquerque e Cunha lembram que o termo “jurisdição” foi utilizado pelo próprio Poder
Constituinte originário ao estabelecer no caput do art. 73 da Constituição Federal que o TCU possui
JURISDIÇÃO em todo território nacional.

Prosseguindo, temos que a jurisdição do Tribunal de Contas da União é tratada tanto na Lei
Orgânica do Tribunal bem como no seu Regimento Interno, por intermédio dos mesmos artigos: 4º e
5º. Como o tema é abordado de forma mais completa no RITCU, vamos estudar o assunto com base
nesse normativo, que assim dispõe:

Art. 4º O Tribunal de Contas da União tem jurisdição própria e privativa, em todo o território
nacional, sobre as pessoas e matérias sujeitas à sua competência.

Desse dispositivo, cabe chamar a atenção para o fato de que somente o Tribunal pode dizer o
direito, em matérias de sua competência, para as pessoas mencionadas no art. 5º do RITCU. Assim,
por exemplo, não pode o Poder Judiciário adentrar ao mérito das questões afetas ao Tribunal de
Contas da União, como já estudamos anteriormente.

Outra conclusão a ser extraída do art. 4º é a que a jurisdição do TCU só abrange as matérias
sujeitas a sua competência. Por exemplo, caso um servidor desvie um recurso público, cabe ao TCU
condená-lo ao ressarcimento do valor subtraído, juntamente com alguma sanção prevista em lei. Não
poderia o Tribunal condenar o servidor pelo crime de peculato, pois somente o Poder Judiciário
possui competência para condená-lo pelo crime.

Vamos ver, então, quem são as pessoas sujeitas à jurisdição do TCU. Nos termos do art. 5º do
RITCU, a jurisdição do Tribunal abrange:

I - qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada que utilize, arrecade, guarde,
gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda ou
que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.

A jurisdição alcança pessoas físicas ou jurídicas, inclusive sociedades privadas, nacionais ou


estrangeiras, desde que arrecadem, guardem, gerenciem ou administrem dinheiros, bens e valores
públicos. Essas pessoas têm o dever constitucional de prestar contas dos recursos públicos.

Por esse dispositivo, qualquer órgão ou entidade pública está alcançado pela jurisdição do
TCU, incluindo-se também as autarquias especiais, as agências reguladoras e executivas e as
sociedades de economia mista. Do mesmo modo, pode o TCU dizer do direito para as organizações
sociais ou qualquer entidade privada que receba recursos públicos para a sua administração.

II - aqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte dano
ao erário.

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 39

O inciso I, como vimos, estabelece a jurisdição do TCU para todas as pessoas ou responsáveis
que utilizam, arrecadam, guardam, gerenciam ou administram dinheiros, bens e valores públicos.

Já o inciso II em comento amplia a jurisdição do Tribunal para todos aqueles que derem causa
a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte dano ao erário.

Assim, caso um servidor público, que não esteja na condição de gestor ou de ordenador de
despesas, cause um dano ao erário, estaria alcançado pela jurisdição do TCU. Esse é o caso, por
exemplo, de um servidor que, ao utilizar um notebook em serviço externo, por descuido, deu causa ao
extravio desse bem. Portanto, pelo dispositivo, caberia ao TCU dizer do direito sobre o fato ocorrido,
podendo ser constituído um processo de tomada de contas especial a ser apreciado pelo Tribunal.

Quando um servidor ou agente público causa um prejuízo ao erário, não há dúvida de que esta
pessoa estará alcançada pela jurisdição do TCU, já que estará caracterizada a gestão de recursos ou
bens públicos. Aqui se inclui a hipótese de um particular que esteja guardando ou administrando bens
em nome do Estado. Se causar prejuízo, estará alcançado pela jurisdição do TCU.

Diferente é o caso do particular, sem vínculo com a administração pública, que não está
praticando ato de gestão, mas causa prejuízo ou dano ao erário.

Uma hipótese em que é pacífica a existência de jurisdição do TCU é aquela em que o


particular, agindo em solidariedade com um agente público, causa prejuízo ou dano ao erário. O
exemplo clássico é o licitante que frauda uma licitação em conluio com o agente público. Nesse caso,
estarão alcançados pela jurisdição do TCU o agente público e o particular, de forma solidária. Mais
objetivamente, caberá a constituição de uma tomada de contas especial a ser julgada pelo TCU,
envolvendo as contas e a responsabilidade do agente público e do particular.

Já a hipótese em que o particular age sem a solidariedade de agente público e causa prejuízo
ao erário apresenta uma polêmica interessante. Dando um exemplo prático: se um particular
depredar uma vidraça de prédio público ou se bater com o seu veículo contra um veículo oficial da
polícia estará sujeito à jurisdição do TCU? Estará sujeito a uma tomada de contas especial a ser
apreciada pelo Tribunal?

A polêmica é por conta de que existe divergência doutrinária quanto à possibilidade de


jurisdição e, consequentemente, de instauração de TCE nesse caso. Alguns autores defendem que não
caberá atuação do TCU quando o particular, sem nenhuma relação contratual com o serviço público,
cause dano ao Erário. O Estado deverá acioná-lo judicialmente.

Esse entendimento, contudo, não é acompanhado pelo CESPE. Vejam a seguinte questão do
CESPE sobre o tema, que constou da prova de Analista de Controle Externo do Tribunal de Contas da
União de 2009:

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 40

(TCU/CESPE/2009) O cidadão que, em meio a uma manifestação pública, for identificado como o
responsável pela destruição de um veículo de uma universidade pública constituída na forma de
fundação, estará sujeito a julgamento pelo TCU, em razão do ato que praticou.

A questão foi considerada como CERTA pela banca, o que surpreendeu muitos candidatos que
fizeram a prova.

O entendimento do CESPE guarda respaldo com os exatos termos da CF (inciso II do art. 71),
que estabelece a competência do TCU de julgar as contas de todos aqueles que derem causa a perda,
extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público. Nesse sentido, o
responsável pela destruição de um veículo de uma universidade pública constituída na forma de
fundação, estará sujeito a julgamento pelo TCU, em razão do ato que praticou. O Tribunal poderá até
dispensar outro tratamento, determinando que o administrador da fundação tome as medidas
cabíveis para que o dano seja ressarcido, mas, por força constitucional, há a competência judicante do
TCU, em virtude do dano ao erário.

Nessa linha de entendimento, cabe analisar o que dispõe a jurisprudência do TCU, consolidada
na Súmula 187 do Tribunal, cujo teor é o seguinte:

SÚMULA Nº 187
Sem prejuízo da adoção, pelas autoridades ou pelos órgãos competentes, nas instâncias,
próprias e distintas, das medidas administrativas, civis e penais cabíveis, dispensa-se, a juízo
do Tribunal de Contas, a tomada de contas especial, quando houver dano ou prejuízo
financeiro ou patrimonial, causado por pessoa estranha ao serviço público e sem conluio
com servidor da Administração Direta ou Indireta e de Fundação instituída ou mantida pelo
Poder Público, e, ainda, de qualquer outra entidade que gerencie recursos públicos,
independentemente de sua natureza jurídica ou do nível quantitativo de participação no
capital social.

Repare que a jurisprudência sumulada do TCU não exclui, nesse caso, a jurisdição do Tribunal.
Ou seja, o particular estaria, sim, sujeito à jurisdição da Corte de Contas e à TCE, podendo este
procedimento ser dispensado, a juízo do Tribunal de Contas.

É bem verdade que, com base na súmula 187, em diversos processos, o TCU tem manifestado
o entendimento de não caber a TCE ou a responsabilização pelo Tribunal quando houver dano ou
prejuízo financeiro ou patrimonial, causado por pessoa estranha ao serviço público e sem conluio com
servidor da Administração Direta ou Indireta e de Fundação instituída ou mantida pelo Poder Público.

Essas decisões estão baseadas nos princípios da proporcionalidade e razoabilidade e da


eficiência, sendo legítimas as ações que buscam focar a atuação de controle nas situações mais
relevantes.

Nesse sentido, o Tribunal firmou entendimento de que pode haver situações em que a
natureza da operação que provocou o dano ao erário não justifica ou não recomenda a atuação do

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 41

TCU. Tome-se, por exemplo, a inadimplência de particulares em operações de crédito regularmente


realizadas - ou seja, de acordo com os normativos pertinentes - por bancos oficiais. Primeiro, porque a
quantidade dessas operações demandaria significativos esforços dos órgãos de controle, alijando-os
da atuação em situações mais relevantes. Segundo, porque se trata de operações tipicamente
privadas de acordo com o regime jurídico próprio das empresas privadas a que estão submetidas as
instituições financeiras oficias (art. 173, § 1º, inciso II, da Constituição Federal).

Recentemente, contudo, ao proferir o Acórdão 946/2013-Plenário, o TCU reviu a


jurisprudência, passando a entender possível a responsabilização e a condenação em débito de
particular de forma isolada, sem a necessidade de condenação solidária de agente público.

Em verdade, o entendimento manifestado no voto do Ministro relator e em declaração de


voto por parte de outro ministro, coincide com o entendimento do CESPE acerca da interpretação da
Súmula 187, em virtude da questão que vimos anteriormente. Para elucidação, transcrevo parte do
voto de um dos ministros:

[...] Assim, por força do dispositivo acima transcrito, embora empresas privadas não estejam
sujeitas a prestar contas ordinárias (art. 70, parágrafo único, da CF), estão sujeitas ao processo
de tomada de contas especial, se porventura derem causa a dano ao Erário.
Para reforçar o entendimento, o art. 5º, inciso II da Lei 8.443/92 definiu que a "jurisdição" do
TCU abrange "aqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que
resulte dano ao erário".
Nesse sentido, aliás, direciona o Enunciado nº 187 da Súmula de Jurisprudência do TCU, abaixo
transcrita. Tal Enunciado estabelece que fica a critério do TCU a instauração de TCE nos casos
em que o prejuízo ao Erário tenha sido causado por pessoa estranha ao serviço público, sem o
conluio com servidor da Administração, o que plenamente reafirma a competência desta Corte
sobre essas pessoas:
"sem prejuízo da adoção, pelas autoridades ou pelos órgãos competentes, nas instâncias
próprias e distintas, das medidas administrativas, civis e penais cabíveis, dispensa-se, a juízo
do Tribunal de Contas, a tomada de contas especial, quando houver dano ou prejuízo
financeiro ou patrimonial, causado por pessoa estranha ao serviço público e sem conluio com
servidor da Administração Direta ou Indireta e de Fundação instituída ou mantida pelo Poder
Público, e, ainda, de qualquer outra entidade que gerencie recursos públicos,
independentemente de sua natureza jurídica ou do nível quantitativo de participação no
capital social." (grifei)
Assim, não poderia interpretação de norma legal ou de dispositivo regimental restringir o
alcance da jurisdição do TCU conferida pela Constituição Federal de 1988, porquanto a lei e o
regimento se interpretam a partir da Constituição e não o contrário.

A jurisdição do TCU alcança aqueles que derem causa a perda, extravio ou


outra irregularidade de que resulte dano ao erário, incluindo o particular que tenha agido sem o
conluio com servidor da Administração. Nessa hipótese, apesar de configurada a jurisdição do

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 42

Tribunal sobre o particular, poderá ser dispensada, a juízo do Tribunal de Contas, a tomada de
contas especial.

III - os dirigentes de empresas públicas e sociedades de economia mista constituídas com


recursos da União.

Vale notar que os dirigentes de empresas públicas e sociedades de economia mista


constituídas com recursos da União estão sob a jurisdição do TCU. Significa que o Banco do Brasil,
bem como as demais sociedades de economia mista terão as suas contas apreciadas pelo TCU e
poderão ser objeto de fiscalizações por parte do Tribunal.

IV - os dirigentes ou liquidantes das empresas encampadas ou sob intervenção ou que, de


qualquer modo, venham a integrar, provisória ou permanentemente, o patrimônio da União
ou de outra entidade federal.

Importante nesse inciso é definir o que sejam empresas encampadas ou que estejam sob
intervenção. A encampação é instituto do Direito administrativo. A Lei 8.987, de 13/2/1998, que
dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos, previsto no art.
175 da CF, define o instituto da seguinte forma:

Art. 37. Considera-se encampação a retomada do serviço pelo poder concedente durante o
prazo da concessão, por motivo de interesse público, mediante lei autorizativa específica e
após prévio pagamento da indenização, na forma do artigo anterior.

Dessa forma, caso o poder público decida retomar a prestação de um serviço de transporte
que vinha sendo prestado, por meio de concessão, por uma determinada empresa de ônibus, valer-
se-á do instituto da encampação.

Recentemente, tivemos um episódio de encampação pelo governo do Distrito Federal do


Grupo Viplan, passando o DF a assumir, mesmo que temporariamente, o controle e a operação das
empresas de ônibus do grupo. Assim, estão sujeitos à jurisdição do TCDF os dirigentes ou liquidantes
das empresas encampadas.

A intervenção está também disciplinada na Lei nº 8.987/95, em seu art. 32, dispõe:

Art. 32. O poder concedente poderá intervir na concessão, com o fim de assegurar a
adequação na prestação do serviço, bem como o fiel cumprimento das normas contratuais,
regulamentares e legais pertinentes.
Parágrafo único. A intervenção far-se-á por decreto do poder concedente, que conterá a
designação do interventor, o prazo da intervenção e os objetivos e limites da medida.

V - os responsáveis pelas contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social
a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo.

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 43

O inciso V refere-se ao caso das empresas supranacionais de que o Brasil faça parte. Assim,
neste caso, os gestores das verbas federais brasileiras da empresa binacional estão sob a jurisdição do
TCU.

VI - os responsáveis por entidades dotadas de personalidade jurídica de direito privado que


recebam contribuições parafiscais e prestem serviço de interesse público ou social.

Por esse dispositivo, estão sob a jurisdição do TCU os sindicatos (em função de que a
contribuição sindical tem natureza tributária) e os serviços sociais autônomos (SESC, SEBRAE, SESI,
SENAC etc).

Os Conselhos de Fiscalização Profissional, apesar de receberem contribuições parafiscais e


prestarem serviço de interesse público, são autarquias, portanto, estão sujeitos à ação fiscalizadora
do TCU não por este dispositivo, mas por aquele que vincula as entidades públicas que arrecadem ou
gerenciem recursos públicos.

VII - todos aqueles que lhe devam prestar contas ou cujos atos estejam sujeitos à sua
fiscalização por expressa disposição de lei.

Como exemplo do inciso VII, podemos citar as Organizações Sociais, que por força da Lei
9.637/98 estão sujeitas à fiscalização do TCU e prestam contas ao Tribunal.

As Fundações de Apoio são alcançadas pelo TCU, mas dispensadas de prestar contas.

Outros exemplos do inciso VII são o Comitê Olímpico Brasileiro e o Comitê Paraolímpico
Brasileiro, que se enquadram nesta hipótese, em função de Lei Agnelo/Piva (Lei 9.615/98) direcionar
recursos da loteria a essas entidades para financiar os esportes e prever a atuação fiscalizadora do
TCU. Sujeitam-se à atuação fiscalizadora do TCU, mas não prestam contas ordinárias ao Tribunal.

VIII - os responsáveis pela aplicação de quaisquer recursos repassados pela União, mediante
convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou
a Município.

A regra é a seguinte: recursos do orçamento federal repassados pela União a estados e


municípios voluntariamente são alcançados pelo dever de prestar contas e pela ação fiscalizadora do
TCU.

No caso do FPE e FPM, não cabe a ação fiscalizadora do TCU quanto à aplicação dos recursos,
pois esses recursos pertencem aos estados e municípios. O TCU apenas calcula as quotas e fiscaliza a
entrega dos recursos pela União.

Anoto que, apesar da jurisdição do TCU quanto à boa e regular aplicação desses recursos,
mediante fiscalização, os estados, o Distrito Federal, os municípios e as pessoas físicas ou entidades
privadas, quando beneficiários de transferência de recursos federais, incluindo auxílios, subvenções,

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 44

contribuições ou outra forma de transferência de valores por intermédio de órgãos e entidades da


administração federal direta, indireta, de fundações instituídas e mantidas pelo poder público federal
e de suas entidades paraestatais, prestarão contas ao órgão ou entidade repassador quanto à boa e
regular aplicação de tais recursos, apresentando documentos e informações necessários à
composição das tomadas e prestações de contas dessas unidades jurisdicionadas.

IX - os sucessores dos administradores e responsáveis, até o limite do valor do patrimônio


transferido.

O inciso IX apresenta uma garantia aos herdeiros. Por esse dispositivo, os sucessores só
precisam responder por eventuais dívidas herdadas até o limite do patrimônio transferido. A
reparação do dano transmite-se aos herdeiros, até o limite do patrimônio transferido, mas não se
transfere a obrigação de pagar a multa, pois é personalíssima, ante o seu caráter punitivo.

X - Representantes da União em conselhos fiscais e de administração das estatais.

Esses representantes da União estão sujeitos ao controle do TCU na medida de seus atos,
mesmo que a participação da União seja minoritária. Por exemplo, a União detém 49% das ações da
Terracap, sendo 51% do GDF, o que dá ao Distrito Federal o controle e a competência fiscalizadora
plena, inclusive mediante o julgamento das contas da entidade pelo Tribunal de Contas do DF.
Contudo, o TCU poderá responsabilizar os representantes da União nos conselhos da empresa, em
caso de decisões ou atos omissivos que causem prejuízo aos cofres da empresa e, por consequência, à
União.

ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DO TCU

São órgãos do TCU:


⇒ o Plenário, a Primeira e Segunda Câmaras, o Presidente, as comissões, de caráter permanente
ou temporário, e a Corregedoria.

ATENÇÃO: Quem preside as Câmaras? Uma pela Vice-Presidente do Tribunal e a outra pelo ministro
mais antigo no exercício do cargo, designados pelo Presidente do TCU na primeira sessão ordinária
de cada ano.

Muita atenção quanto às competências do Plenário comparadas com as das Câmaras. Vamos
relembrar algumas no quadro a seguir:

Deliberações do Tribunal Pleno Deliberações das Câmaras


- Parecer Prévio relativo às contas do – prestação e tomada de contas, inclusive
Presidente da República; especial;
- pedido de informação ou solicitação do - apreciação de ato de admissão de pessoal e a
Congresso Nacional; legalidade das concessões de aposentadorias,
- incidente de uniformização de jurisprudência; reformas e pensões;

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 45

- sanções de inabilitação de responsável e - representação, exceto de equipe de


inidoneidade de licitante e medidas cautelares; fiscalização prevista no art. 246 do RITCU;
- realização de fiscalizações no Poder - relatório de fiscalização, exceto aqueles que
Legislativo, STF, Tribunais Superiores, PR etc; competem ao Plenário, como fiscalizações em
- relatório de auditoria operacional; unidades do Legislativo, STF etc, de auditoria
- consulta e denúncia; operacional e em virtude de solicitação do
- recursos apresentados contra suas próprias Congresso Nacional;
deliberações; - recurso suas próprias deliberações, exceto os
- deliberar sobre recurso de revisão; de revisão.
- aprovar o plano de controle externo.

Dicas com relação aos Ministros do TCU:


 para uma pessoa ser Ministro do TCU, deve satisfazer os requisitos previstos no § 1º do art. 73
da CF/1988 (mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade; idoneidade moral
e reputação ilibada; notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou
de administração pública e mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade
profissional que exija os conhecimentos mencionados).
 os Ministros do TCU são equiparados a Ministro do STJ e são escolhidos da seguinte forma: três
pelo Presidente da República, sendo que desses, um deve vir do quadro de membros do
Ministério Público junto ao Tribunal e um do quadro de Auditores; os outros seis pelo Congresso
Nacional.
 o Presidente da República tem a prerrogativa de escolher livremente apenas um dos nove
ministros do TCU, além de outros dois indicados em listas tríplices pelo próprio TCU, estando
essas três escolhas sujeitas ao crivo do SENADO FEDERAL. Como os demais (seis ministros) são
indicados pelo CN, não há necessidade de serem aprovados pelo Senado Federal.
 independentemente do processo de escolha, todos os nove Ministros são nomeados pelo
Presidente da República, mas quem dá a posse para os Ministros é o Presidente do TCU, que
ocorre em sessão extraordinária do Plenário.

ATENÇÃO: Em caso de vacância, a competência para a escolha de ministro do Tribunal de Contas da


União será definida de modo que mantenha a composição definida na CF. Assim, se aposentar um
ministro indicado pelo Congresso Nacional, este caberá indicar o sucessor.

Dicas com relação aos Ministros Substitutos:


 diferentemente do que ocorre com os Ministros, o ingresso no cargo de ministro-substituto se
faz por meio de concurso de provas e títulos, sendo que para investidura no cargo, DEVE-SE
PREENCHER OS MESMOS REQUISITOS EXIGIDOS PARA O CARGO DE MINISTRO DO TCU.
 o ministro-substituto, no curso normal de suas atividades dentro do TCU, possui as mesmas
garantias e impedimentos de juiz de Tribunal Regional Federal, ou seja, de juiz de 2ª instância.
Contudo, quando em substituição a Ministro, possui as mesmas garantias e impedimentos de
Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
 os ministros-substitutos presidem a instrução de processos, mas não votam; contudo,
participarão da votação, quando substituem os ministros ou quando necessário para manter o
quórum, no lugar do ministro que declarar impedimento em processo constante da pauta.

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 46

Dicas com relação ao Ministério Público junto ao TCU:


 os membros do Ministério Público junto ao TCU (MPTCU) NÃO são indicados ou pertencem ao
Ministério Público Federal. O ingresso na carreira far-se-á no cargo de procurador, mediante
concurso público de provas e títulos, assegurada a participação da OAB em sua realização e
observada, nas nomeações, a ordem de classificação.
 o MPTCU compõe-se de uma procurador-geral, três sub-procuradores-gerais e quatro
procuradores, nomeados pelo Presidente da República, entre brasileiros, bacharéis em
Direito.
 O MPTCU tem por Chefe o Procurador-Geral, que será nomeado pelo Presidente da
República, entre integrantes da carreira, para exercer mandato de dois anos, permitida a
recondução, tendo tratamento protocolar, direitos e prerrogativas correspondentes aos de
cargo de ministro do Tribunal.
 Quanto às competências do MPTCU, cabe destacar a competência de dizer de direito,
oralmente ou por escrito, em todos os assuntos sujeitos à decisão do Tribunal, sendo
obrigatória a sua audiência nos processos de tomada ou prestação de contas e nos de
admissão de pessoal e de concessão de aposentadorias, reformas e pensões.

TIPOS DE FISCALIZAÇÃO

A fiscalização do TCU será de natureza contábil, financeira, orçamentária, patrimonial e operacional,


abrangendo ainda a legalidade, a legitimidade, a economicidade, a eficiência, a eficácia e a
efetividade da gestão pública e a verificação da aplicação de subvenções e de renúncia de receitas.

A fiscalização poderá ser realizada, por iniciativa própria (de ofício) ou por solicitação da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, por meio de inspeções e
auditorias. Cabe lembrar que um Deputado ou um Senador isoladamente não tem competência para
solicitar ao TCU a realização de fiscalização.

A aplicação de recursos transferidos voluntariamente pela União, mediante convênio, para Estados e
Municípios é fiscalizada pelo TCU, inclusive as prestações de contas. Cuidado: o ente recebedor dos
recursos presta contas ao órgão que transferidor, mas o TCU pode fiscalizar as contas e a execução do
objeto do convênio, pois os recursos são federais.

O TCU NÃO tem competência para fiscalizar a aplicação de todos os recursos que a União
obrigatoriamente repassa a Estados, Distrito Federal e Municípios. Alguns desses repasses têm
estatura constitucional e os demais são determinados apenas pela lei. Dos repasses constitucionais,
ao TCU NÃO compete fiscalizar a aplicação dos recursos entregues por conta do Fundo da
Participação dos Estados (FPE), do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e do Fundo a que se
refere o inciso XIV do art. 21 da CF, para a execução de serviços públicos do Distrito Federal. Por
iniciativa própria, o TCU também NÃO fiscaliza a aplicação de valores entregues a Estados, DF e
Municípios a título de participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos
hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo

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Resumo de Controle Externo para Técnico de Controle Externo do TCU 47

território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação


financeira por essa exploração.

ATENÇÃO: Dê uma revisada na atuação fiscalizadora do TCU prevista nas seguintes leis:
- Art. 113 da Lei 8.666/93 (licitações) fiscalização e representações de licitantes;
- Arts. 15 e 21 da Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa);
- Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal);
- Lei 12.465/2011 (LDO 2012): competência fiscalizadora do TCU sobre as obras públicas em parceria
com a CMO (Capítulos VIII e IX).

INSTRUMENTOS DE FISCALIZAÇÃO DO TCU:

Instrumento Quem determina Característica


Levantamento Plenário, Câmara, Relator Destina-se a acumular conhecimento sobre o
ou Presidente órgão ou programa
Auditoria Plano de fiscalização Procedimento de maior profundidade e
dimensão
Inspeção Plenário, Câmara, Relator Adotada no curso de um processo; in loco;
ou Presidente apuração de denúncias
Acompanhamento Plano de fiscalização Não exige a presença in loco da equipe de
fiscalização; durante um período de tempo;
seletivo
Monitoramento Plano de fiscalização Verifica o cumprimento das deliberações do
Tribunal

TIPOS DE FISCALIZAÇÃO

Por iniciativa própria do TCU


Quanto à iniciativa
Por iniciativa do CN

- Auditoria
Quanto ao instrumento - Inspeção
de fiscalização - Levantamento
- Acompanhamento
- Monitoramento

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- Fiscalização de atos e contratos

- Fiscalização das contas nacionais das empresas supranacionais

- Fiscalização das transferências constitucionais e legais:


• Entrega de parcelas de FPE e FPM
• Aplicação de recursos dos fundos constitucionais do Norte,
Nordeste e Centro-oeste
• Aplicação dos recursos transferidos ao DF (inciso XIV art. 21 da CF)
• Cálculo, entrega e aplicação, conforme o caso, de quaisquer
recursos repassados pela União por determinação legal
Quanto ao objeto
- Fiscalização de convênios

- Fiscalização da aplicação de subvenções, auxílios e contribuições

- Fiscalização da arrecadação de receita

- Fiscalização da renúncia de receitas


- Outras fiscalizações:
• Do cumprimento das disposições da LRF
• Processos de desestatização (avaliação, fiscalização e avaliação)
• De declarações de bens e rendas
• Da aplicação dos recursos repassados ao COB e CPB

DELIBERAÇÕES E RECURSOS

As deliberações do Plenário e, no que couber, das Câmaras, terão a forma de:


 Instrução Normativa: será adotada quando se tratar de disciplinamento de matéria que envolva
pessoa física, órgão ou entidade sujeita à jurisdição do Tribunal.
 Resolução: aprovação do Regimento Interno, de ato definidor da estrutura, atribuições e
funcionamento do Tribunal, das unidades de sua Secretaria e demais serviços auxiliares.
 Decisão Normativa: será a forma própria para a fixação de critério ou orientação, e não se
justificar a expedição de instrução normativa ou resolução.
 Parecer: quando se tratar de Contas do Presidente da República.
 Acórdão: é a forma de deliberação mais frequente e utilizada quando se tratar de matéria da
competência do Tribunal de Contas da União, não enquadrada nos casos anteriores.

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São partes essenciais das deliberações do Tribunal:


 O relatório do relator (incluindo as instruções e pareceres);
 A fundamentação com que o relator analisar as questões de fato e de direito.
 O dispositivo com que o relator decidir o mérito do processo.
 As ressalvas, quando feitas pelos votantes.

Muito cobrado: O regimento interno do Tribunal somente poderá ser alterado mediante aprovação,
pela maioria absoluta de seus ministros.

As sessões do plenário serão ordinárias e extraordinárias (posse do Presidente e do Vice, apreciação


das Contas do Presidente da República, posse de ministro, eleição do Presidente e do Vice) e somente
poderão ser abertas com o quórum de cinco ministros, excluindo o Presidente.

Atenção quanto aos tipos de decisões em processo de tomada ou prestação de contas:


Preliminar - decisão que antes do mérito, resolve sobrestar o julgamento, ordenar a citação ou a
audiência dos responsáveis ou, ainda, diligências necessárias ao saneamento do processo.
Definitiva - é a decisão pela qual o Tribunal julga as contas regulares, regulares com ressalva, ou
irregulares.
Terminativa - é a decisão pela qual o Tribunal ordena o trancamento das contas que forem
consideradas iliquidáveis e o consequente arquivamento do processo. LEMBRAR DOS 5 ANOS PARA
DESARQUIVAMENTO OU ENCERRAMENTO, com baixa na responsabilidade do administrador.

Quanto às decisões definitivas:


⇒ Em contas julgadas regulares, o TCU dará quitação plena ao responsável.
⇒ Serão julgadas regulares com ressalva em caso de impropriedades ou falhas de natureza
formal. O TCU dará quitação com determinação.
⇒ Serão julgadas irregulares quando comprovada qualquer das seguintes ocorrências: a) omissão
no dever de prestar contas; b) prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo, antieconômico, ou
infração à norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária,
operacional ou patrimonial; c) dano ao erário decorrente de ato de gestão ilegítimo ao
antieconômico; d) desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores públicos.

LEMBRETE: O Tribunal poderá julgar irregulares as contas no caso de reincidência no


descumprimento de determinação de que o responsável tenha tido ciência, feita em processo de
tomada ou prestarão de contas.

Inabilitação para cargo/função. Pode o Tribunal, por deliberação exclusiva do Plenário, no caso de
contas julgadas irregulares, com ou sem débito, inabilitar o responsável para o exercício de cargo em
comissão ou função de confiança na Administração Pública federal por período ente cinco e oito anos,
DESDE QUE A IRREGULARIDADE SEJA CONSIDERADA GRAVE PELA MAIORIA ABSOLUTA DOS
MINISTROS.

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Declaração de inidoneidade do licitante para participar de licitação perante a Administração Pública


federal pelo prazo de até cinco anos. Poderá ser aplicada em qualquer processo, mas só pode ser
aplicada se COMPROVADA A EXISTÊNCIA DE FRAUDE À LICITAÇÃO.

MODALIDADES RECURSAIS NO TCU:


 recurso de reconsideração: em processo de tomada e prestação de contas; prazo de 15 dias;
com efeito suspensivo.
 pedido de reexame: em processo concernente à admissão de pessoal ou concessão de
aposentadoria, reforma ou pensão, bem como a contratos e outros atos ou procedimentos
sujeitos à fiscalização; prazo de 15 dias; com efeito suspensivo.
 embargos de declaração: em todos os processos, dentro de 10 dias do conhecimento ou da
publicação oficial da decisão ou do acórdão, quando houver obscuridade, dúvida, contradição
ou omissão no pronunciamento do Tribunal; com efeito suspensivo.
 recurso de revisão: de natureza similar à ação rescisória, sem efeito suspensivo, poderá ser
interposto em uma única oportunidade, por escrito, pelo responsável, pelos seus sucessores
ou pelo Ministério Público junto ao Tribunal, dentro do prazo de cinco anos, e será fundado
em: erro de cálculo nas contas; falsidade ou insuficiência de documentos em que se tenha
fundamentado o acórdão recorrido; superveniência de documento novo com eficácia sobre a
prova produzida.
 agravo regimental: de decisão monocrática de Relator ou do Presidente, e de medida
cautelar.

ATENÇÃO:
⇒ NÃO cabe recurso de decisão que rejeitar alegações de defesa, converter processo em TCE ou
determinar sua instauração, nem da que determinar a realização de citação, audiência,
diligência, inspeção ou auditoria.
⇒ Nos embargos de declaração, no agravo e no pedido de reexame em processo de fiscalização de
ato ou contrato NÃO é obrigatória a audiência do Ministério Público. Nos demais recursos, é
obrigatória.

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QUADRO-RESUMO DOS RECURSOS NO TCU

TIPO CABIMENTO PRAZO EFEITO SUSPENSIVO PROCEDIMENTO/PROCESSAMENTO


O relator é a autoridade que proferiu
AGRAVO Para impugnar despacho decisório do Presidente do o despacho decisório impugnado; não
Poderá ser concedido a
Tribunal, de Presidente de Câmara ou de relator ou 5 dias se admite sustentação oral; a
critério do relator.
Acórdão que tenha adotado medida cautelar. audiência do MPjTCU não é
obrigatória.
SIM
Suspende os prazos para
cumprimento da decisão O relator é o próprio redator da
EMBARGOS DE
Para impugnar obscuridade, omissão ou contradição embargada e para decisão impugnada; não se admite
DECLARAÇÃO 10 dias
na decisão recorrida. interposição dos demais sustentação oral; a audiência do
recursos. Pode não ocorrer MPjTCU não é obrigatória.
se forem considerados
meramente protelatórios.
SIM
O relator será sorteado dentre os
Vendidos os 15 dias e
membros que compõem o colegiado
dentro de um período
PEDIDO DE Contra decisão de mérito em processos concernentes cuja decisão foi proferida; em
adicional de 180 dias pode
REEXAME a ato sujeito a registro e à fiscalização de atos e 15 dias processo de fiscalização de ato ou
ser concedido em razão de
contratos. contrato a audiência do MPjTCU não
superveniência de fatos
é obrigatória; admite-se sustentação
novos, caso em que não terá
oral.
efeito suspensivo.
SIM
Vendidos os 15 dias e
O relator será sorteado dentre os
dentro de um período
RECURSO DE membros que compõem o colegiado
Para impugnar decisão definitiva em processos de adicional de 180 dias pode
RECONSIDERAÇÃO 15 dias cuja decisão foi proferida; a audiência
prestação ou tomada de contas, inclusive especial. ser concedido em razão de
do MPjTCU não é obrigatória; admite-
superveniência de fatos
se sustentação oral.
novos, caso em que não terá
efeito suspensivo.
Contra decisão definitiva em processos de prestação
ou tomada de contas, inclusive especial, quanto aos O relator será sorteado e o colegiado
RECURSO DE
seguintes requisitos: a) erro de cálculo nas contas; b) que apreciará o recurso será sempre
REVISÃO
falsidade ou insuficiência de documentos em que se 5 anos NÃO o Plenário; a audiência do MPjTCU é
tenha fundamentado o acórdão recorrido; c) obrigatória; admite-se sustentação
superveniência de documentos novos com eficácia oral.
sobre a prova produzida.

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TEORIA GERAL DO PROCESSO

As etapas do processo no TCU são:


 a instrução;
 o parecer do Ministério Público;
 o julgamento; e
 os recursos.

Conceitos importantes: No TCU, são partes no processo o responsável e o interessado.


Responsável, nos termos da Resolução no 36/1995, é aquele que figure no processo em razão da
utilização, arrecadação, guarda, gerenciamento ou administração de dinheiros, bens e valores
públicos, ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza
pecuniária, ou por ter dado causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao
Erário.
Interessado é aquele que, em qualquer etapa do processo, tenha reconhecida, pelo Relator ou pelo
Tribunal, razão legítima para intervir no processo ou na possibilidade de lesão a direito subjetivo
próprio.

IMPORTANTE: Nos processos em tramitação no TCU não é obrigatório que a parte esteja
representada por advogado. As partes podem praticar os atos processuais diretamente ou por
intermédio de procurador regularmente constituído, ainda que não seja advogado.

DEFINIÇÃO DO RELATOR:
• Sorteio das LUJs (1º sessão ordinária do Plenário do mês de julho nos anos pares)
• Sorteio de processos específicos (recursos, auditoria coordenada, projetos de atos normativos
etc)
• Sorteio do relator das contas do Presidente da República

PROCESSOS URGENTES COM TRAMITAÇÃO PREFERENCIAL:


• Solicitações do Congresso Nacional;
• Pedido de informação para instrução de mandado de segurança ou outro feito judicial;
• Consulta que, pela sua natureza, exija imediata solução, a critério do relator;
• Denúncia ou representação que indique a ocorrência de fato grave, a critério do relator;
• Medidas cautelares;
• Caso em que o retardamento possa representar significativo dano ao erário;
• Recursos previstos neste Regimento que tenham efeito suspensivo;
• Outros assuntos que, a critério do Plenário ou do Presidente, sejam entendidos como
urgentes.

ALEGAÇÕES DE DEFESA E RAZÕES DE JUSTIFICATIVAS:


• Serão admitidas dentro do prazo determinado na citação ou na audiência
• Juntada de novos documentos: até o término da instrução (parecer do titular da UT)

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• Sem prejuízo à distribuição de memorial a ministro, após a inclusão do processo em pauta


• Havendo mais de um responsável pelo mesmo fato, a defesa apresentada por um deles
aproveitará a todos, mesmo ao revel, no que concerne às circunstâncias objetivas, e não
aproveitará no tocante aos fundamentos de natureza exclusivamente pessoal.

PROVAS: Sempre apresentadas de forma documental, mesmo as declarações de terceiros

PEDIDO DE VISTA E DE CÓPIA DOS AUTOS:


• Mediante solicitação das partes ao relator
• Do despacho que indeferir pedido de vista ou cópia de peça de processo cabe agravo
• Retirada de processo do TCU somente por advogado pelo prazo de 5 dias
• Em caso de cópias, a parte deve ressarcir os custos
• Não será concedida vista ou fornecida cópia de peças da etapa de instrução antes de seu
término

SUSTENTAÇÃO ORAL:
• Produzida após a apresentação do relatório e antes da leitura do voto resumido do relator,
desde que requerida ao Presidente do colegiado até 4 horas antes do início da sessão
• Após o pronunciamento do MPjTCU, a parte ou seu procurador falará uma única vez por 10
minutos (pode ser prorrogado por + 10 min)
• + de uma parte com mesmo procurador: 10 min
• Partes com interesses opostos: cada parte fala por 10 min
• + de uma parte com procuradores diferentes: 2 x 10 min/quantidade de procuradores
• Durante a discussão e o julgamento pode ser concedida a palavra à parte ou a seu procurador
para estrito esclarecimento de matéria de fato
• Não se admitirá sustentação oral no julgamento de consulta, embargos de declaração, agravo
e medida cautelar

ARQUIVAMENTO DE PROCESSO:
• O processo será encerrado no sistema informatizado de controle de processos, mediante
despacho do dirigente da unidade técnica, nas seguintes situações:
I - quando houver decisão do relator ou de colegiado pelo apensamento definitivo a outro
processo;
II - quando houver decisão do relator, de colegiado ou da Presidência pelo seu encerramento,
após efetuadas as comunicações determinadas e expirados os prazos dos recursos cabíveis
dotados de efeito suspensivo;
III - nos casos de decisões definitivas ou terminativas, após a adoção das providências nelas
determinadas e a efetivação das competentes comunicações;
IV - após o registro de que trata o art. 259 do Regimento Interno;
V - nos casos em que o processo tenha cumprido o objetivo para o qual foi constituído;
VI – nos casos previstos nos arts. 212 (ausência de pressupostos), 213 (economia processual e
racionalização), 235, parágrafo único (denúncia sem observância dos requisitos) e 265
(consulta sem observância dos requisitos).

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NULIDADES:
• Nenhum ato será declarado nulo se do vício não resultar prejuízo para a parte, para o erário,
para a apuração dos fatos pelo Tribunal ou para a deliberação adotada.
• Quando puder decidir do mérito a favor da parte a quem aproveitaria a declaração de
nulidade, o Tribunal não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta.
• Não se tratando de nulidade absoluta, considerar-se-á válido o ato que, praticado de outra
forma, tiver atingido o seu fim.
• A parte não poderá arguir nulidade a que haja dado causa ou para a qual tenha, de qualquer
modo, concorrido.
• Conforme a competência para a prática do ato, o Tribunal ou o relator declarará a nulidade de
ofício, se absoluta, ou por provocação da parte ou do Ministério Público junto ao Tribunal, em
qualquer caso.
• A nulidade do ato, uma vez declarada, causará a dos atos subsequentes que dele dependam
ou sejam consequência.
• A nulidade de uma parte do ato, porém, não prejudicará as outras que dela sejam
independentes.
• Nos processos em que deva intervir, a falta de manifestação do Ministério Público implica a
nulidade do processo a partir do momento em que esse órgão deveria ter-se pronunciado.
• OBS: A manifestação posterior do Ministério Público sana a nulidade do processo, se ocorrer
antes da decisão definitiva de mérito do Tribunal, nas hipóteses em que expressamente anuir
aos atos praticados anteriormente ao seu pronunciamento.

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