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CARO ALUNO,

Desde de 2010, o Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de


Medicina. Você está recebendo o terceiro caderno U.T.I. do Hexag Vestibulares. Este material tem o objetivo de
verificar se você apreendeu os conteúdos estudados, oferecendo-lhe uma seleção de questões dissertativas ideais
para exercitar sua memória e escrita, já que é fundamental que se esteja sempre pronto para realizar as provas de
2ª fase dos vestibulares.
Além disso, este material também traz sínteses do que você observou em sala de aula, ajudando-lhe
ainda mais a compreender os itens que, possivelmente, não tenham ficado claros e a relembrar os pontos que foram
esquecidos.
Aproveite para aprimorar seus conhecimentos.

Bons estudos!

Herlan Fellini
hexag
SISTEMA DE ENSINO

© Hexag Editora, 2016


Direitos desta edição: Hexag Editora Ltda. São Paulo, 2016
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Autores
Alessandra Alves (Geografia)
Alexandre Rocha Jabur Maluf (História)
Rodrigo S. Alves (Filosofia/Sociologia)
Diretor geral
Herlan Fellini
Coordenador geral
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Responsabilidade editorial
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Diretor editorial
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Revisor
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Pesquisa iconográfica
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Programação visual
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Editoração eletrônica
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Raphael Campos Silva
Raphael de Souza Motta
Capa
Hexag Editora
Fotos da capa (de cima para baixo)
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Acervo digital da USP (versão beta)
http://www.baia-turismo.com
Impressão e acabamento
Meta Solutions

ISBN: 978-85-68999-04-2

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CIÊNCIAS HUMANAS
e suas tecnologias

HISTÓRIA
História geral 4
História do Brasil 60
FILOSOFIA/SOCIOLOGIA
Filosofia/Sociologia 106
GEOGRAFIA
Geografia 1 128
Geografia 2 156
U.T.I. - 5, 6 e 7

História geral
Revoluções de 1830/1848 e
Segunda Revolução Industrial
No início do século XIX, forças sob o comando da burguesia liberal, inspiradas pela Revolução Francesa e lideradas
por Napoleão Bonaparte, invadiram grande parte da Europa, enfraquecendo, com isso, o Antigo Regime. Com a
derrota de Napoleão em Waterloo, configurou-se um ambiente propício ao retorno das casas reais absolutistas,
cenário em que nasceu o conservador Congresso de Viena (1815), que recusou os ideais revolucionários. Contudo,
as forças de oposição reagruparam-se e passaram a se rebelar contra o próprio regime absolutista. Foi o caso da
deflagração da Revolução Liberal do Porto (1820), em Portugal, que estabeleceu a Monarquia Constitucional e
subordinou o poder do rei João VI ao parlamento lusitano. Em outras áreas europeias, desenhava-se o mesmo ce-
nário de busca pela liberdade. No entanto, como o Congresso de Viena havia legitimado as invasões territoriais da
Áustria, Prússia e Rússia sobre algumas regiões da Europa, a luta pelo ideal de liberdade e pelo liberalismo burguês
passou a incluir também a luta pela independência daquelas regiões, acendendo a luz do nacionalismo.

Napoleão Bonaparte

Após o governo dos cem dias, a casa dos Bourbons retornou ao poder da França, com Luís XVIII. Contudo,
restauração não significou a volta à política absolutista. A partir de 1815, Luís XVIII adotou uma política moderada,
procurando conciliar a restauração do absolutismo com a manutenção de algumas conquistas da Revolução de
1789, como a igualdade jurídica dos cidadãos franceses. Outorgou uma constituição instaurando uma assembleia
que seria eleita pelo voto censitário.
Inspirados pelo chamado “terror branco”, passaram a perseguir os liberais, partidários da Revolução France-
sa, e os bonapartistas, mediante ações que se caracterizaram como verdadeiros massacres. Os excessos cometidos
pelos ultrarealistas obrigaram Luís XVIII a dissolver a Câmara e convocar novas eleições, vencidas pelos constitu-
cionalistas, partidários da plena aplicação da Constituição.
Após a morte de Luís XVIII, em 1824, ascendeu ao trono seu irmão Carlos X, chefe do partido ultrarrealista,
que, em 1830, apoiado pela nobreza, desfechou um golpe de Estado, com a intenção de aniquilar a oposição liberal
burguesa e restaurar o absolutismo no país.
Essas medidas foram criticadas pelo povo parisiense, que criou barricadas nas ruas durante os “Três dias
gloriosos”. Lutaram, assim, contra as tropas fiéis ao rei. Na madrugada de 29 de julho de 1830, a revolução mais
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uma vez triunfou na França. Carlos X, temendo o mesmo fim de Luís XVI, fugiu para a Inglaterra, deixando o trono
para seu neto menor de idade.
Naquele momento, a burguesia francesa, ao contrário de parte da população de Paris, queria uma monar-
quia constitucional. Por isso, os burgueses nomearam rei da França o duque de Orleans, Luís Filipe, cuja família
mantinha estreita relações com os grandes banqueiros. A proximidade de Luís com os banqueiros gerou-lhe a
alcunha de Luís, o Rei Banqueiro.
Essa revolução repercutiu na Europa e a burguesia passou a propagandear seus ideais, que foram sendo
assumidos pela maioria da população das pequenas nações na luta pela liberdade política (liberalismo), pelo nacio-
nalismo e crítica às decisões do Congresso de Viena. Com isso, um solo fértil para agitações políticas foi gestado,
ocasionando nas revoluções de 1848.

Barricada na rua Soufflot, 1848, de Horace Vernet

De modo geral, foram três os fatores das revoluções de 1848: o liberalismo, contrário às limitações impos-
tas pelo absolutismo; o nacionalismo, que procurou unir politicamente os povos de mesma origem e cultura; e o
socialismo, força nova, nascida nos movimentos de 1830, que pregou a igualdade social e econômica mediante
reformas radicais.
Além desses, podem ser mencionados também como fatores das revoluções de 1848:
§§ as péssimas colheitas na Europa, entre 1846 e 1848, fazendo com que os preços dos produtos agrícolas
subissem muito, agravando a situação das camadas mais pobres;
§§ a crise na indústria – notadamente a têxtil – e agrícola, que desencadeou o empobrecimento dos campone-
ses e diminuiu ainda mais o consumo de tecidos, gerando superprodução e desemprego.
No caso específico da França, quando Luís Filipe assumiu o poder, um político francês comentou: “De hoje
em diante governarão os banqueiros”. Ele tinha razão. Todas as facções da burguesia – pequenos burgueses,
industriais, comerciantes etc. – haviam participado da luta contra o poder absolutista e a velha aristocracia, mas
quem assumiu o poder foi apenas uma parte da burguesia ligada ao capital financeiro.
Em relação ao governo anterior, houve pequenos progressos sociais: direito de voto muito pouco ampliado,
embora mantivesse imprensa censurada e oposição reprimida. Mesmo assim, a França conseguira um desenvolvi-
mento industrial acelerado, que fortaleceu a burguesia industrial e comercial. Por outro lado, a situação dos operá-
rios era de extrema miséria, de baixos salários e de jornada de trabalho com mais de 14 horas diárias.
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Os oposicionistas ao governo de Luís Filipe organizaram-se em vários partidos: legitimista, constituído pela
nobreza, desejosa de restaurar o poder dos Bourbon, depostos em 1830; bonapartista, formado pela pequena
burguesia e liderado por Luis Bonaparte, sobrinho de Napoleão; socialista, composto por diversas facções que pro-
curavam organizar a classe operária; republicano, de tendência nacionalista, que encontrava apoio entre a classe
média e os profissionais liberais.
Seguido pela população da cidade e por alguns setores da Guarda Nacional, o proletariado parisiense
rebelou-se. Foram três dias de luta nas barricadas. No dia 24 de fevereiro, Luís Filipe abdicou, quando então
estabeleceu-se um governo provisório que proclamou a República.
Sob pressão dos trabalhadores foram criadas as oficinas nacionais, empresas dirigidas e sustentadas pelo
Estado. Para pagar os salários dos trabalhadores dessas oficinas, os impostos foram elevados, o que provocou uma
crise ainda maior na economia francesa. As oficinas foram fechadas.
Nesse ambiente de radicalização, a II República foi implantada, o voto universal instituído, para temor da
burguesia, mas imprescindível para que ela obtivesse o apoio da população e não se mantivesse isolada, permitin-
do o crescimento político dos grupos radicais.
A burguesia aproveitou-se da situação para indicar o sobrinho de Napoleão Bonaparte para a presidência
do país, graças à sua popularidade, herdada do tio, e às suas ligações com o pensamento liberal. Luís Bonaparte
venceu a eleição pelo voto universal e a burguesia continuou a controlar a administração pública.
Em 1851, a burguesia notou que o governo de Luis Napoleão tinha possibilidade de acabar com a radica-
lização da República, uma facção da burguesia apoiou-o numa espécie de segundo golpe de 18 de brumário que
implantou um plebiscito e tornou-o “imperador” com o título de Napoleão III no Segundo Império.
Politicamente, o Segundo Império caracterizou-se pelo cesarismo de Napoleão III, que governou ditatorial-
mente por meio de vários plebiscitos.
No âmbito social empreendeu vigoroso programa de modernização do país, com a construção de estradas
de ferro, portos, canais e estradas. O prefeito Haussmann mudou a fisionomia de Paris, ampliando suas avenidas e
reurbanizando a cidade.

Napoleão III

Podemos considerar a Revolução de fevereiro de 1848, na França, como o estopim para o início de um
período revolucionário no resto da Europa. A Itália viu-se sacudida por movimentos que se estenderam do Sul ao
Norte. Na Alemanha, por exemplo, a Prússia viveu um grande movimento popular. O mesmo ocorreu no Império
austríaco, quando a capital foi totalmente tomada pelos revolucionários.

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Concomitantemente às agitações políticas, germinava em solo europeu a Segunda Revolução Indus-
trial. Enquanto a primeira fase da Revolução Industrial concentrou-se na produção de bens de consumo, particu-
larmente de têxteis de algodão, na segunda fase, a indústria pesada passou a ser o centro do sistema produtivo.
A produção de aço superou a de ferro e os preços caíram consideravelmente. O descobrimento dos processos
eletrolíticos estimulou a produção de alumínio.
Na indústria química, o grande avanço foi representado pela obtenção de métodos mais baratos para pro-
dução de soda cáustica e ácido sulfúrico, particularmente importantes para a fabricação de papel e explosivos e
para a vulcanização da borracha.
A construção e expansão das ferrovias exigiram que os bancos e as companhias de ações mobilizassem seus
capitais; os efeitos multiplicadores desse processo foram a dinamização da produção de ferro, dormentes, cimento,
locomotivas e vagões. A invenção do barco a vapor, em 1808, revolucionou a navegação marítima.
A agricultura adaptou-se às novas condições impostas pela sociedade de massa, que incorporou novos
produtos e novos instrumentos de trabalho e intensificou os rendimentos, adequando a produção ao mercado
consumidor.
Fundamental para o período foi o desenvolvimento do motor a combustão interna, que abriu caminho para
a utilização do petróleo em larga escala. Ele passou a ser utilizado como força motriz em navios e locomotivas,
criando também condições para o aparecimento do automóvel e do avião. Além disso, a energia elétrica passou a
ser utilizada em processos produtivos até, finalmente, chegar ao consumo diário da população.

Desenho de uma região industrial em meados do século XIX

A partir da Segunda Revolução Industrial, o capitalismo industrial foi gradualmente cedendo lugar ao ca-
pital financeiro e passando para os grandes bancos o controle das empresas industriais e comerciais. As finanças
conquistaram a supremacia sobre a produção e a circulação de mercadorias. Nessa etapa, os grandes bancos
investiram na compra de ações e foram assumindo o controle acionário das empresas. Por outro lado, os emprés-
timos e financiamentos também contribuíram para submeter às empresas à inteira dependência das instituições
financeiras.
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Surgiram fenômenos de mercado, como trustes, que se formam graças à eliminação ou absorção de peque-
nos concorrentes por grandes empresas que passam a monopolizar a produção de certo produto. São regularmente
resultado da fusão de empresas do mesmo ramo. Cartéis, anomalia de mercado formada mediante acordo entre
grandes empresas, que, para evitarem os desgastes da concorrência, convencionam entre si formas de manutenção
dos preços e de divisão dos mercados, deixando sempre a salvo a autonomia de cada uma delas. Já a holding
consiste na assunção do controle de uma grande companhia sobre inúmeras outras mediante a compra da maior
parte de suas ações, o que lhe permite passar a atuar de forma coordenada.
Outra consequência importante da Segunda Revolução Industrial e da era do capitalismo financeiro ou
monopolista foi o desenvolvimento do imperialismo e o neocolonialismo. Em busca de novos mercados consu-
midores e de insumos para suas indústrias, os países europeus promoveram uma expansão territorial a partir de
intervenções violentas na Ásia e na África. Tal ânimo expansionista explica, em parte, as causas da Primeira Guerra
Mundial, já no século XX.

Ideologias do Século XIX


e o neocolonialismo

Liberalismo
Durante a Revolução Industrial, os interesses dos burgueses foram defendidos pelos economistas e filósofos liberais
(também chamados clássicos), que produziram uma série de teorias justificadoras do capitalismo e da não inter-
venção do Estado. Filosoficamente, destaca-se a figura de John Locke. Na economia, nomes como David Ricardo,
Adam Smith e Thomas Malthus.

Caricatura sobre a relação entre liberalismo, imperialismo e exploração

Dentre os princípios do liberalismo destacam-se:


§§ não intervenção do Estado na economia – obediência às leis naturais da economia. Da mesma forma que
o universo físico, a economia é governada por um conjunto de “leis naturais” que determinavam e condi-
cionavam os negócios. A economia se autorregula e se autogoverna naturalmente sem a necessidade de
qualquer interferência do Estado;

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§§ liberdade de contrato – o montante do salário e a extensão da jornada de trabalho, segundo os economistas
clássicos, devem ser fixados livremente através da negociação direta entre empregador e empregado, sem
nenhuma interferência do Estado;
§§ liberdade de comércio e produção – a função principal do Estado deve ser a manutenção da ordem, a pre-
servação da paz e a proteção da propriedade privada;
§§ inviolabilidade da propriedade privada e individualismo econômico – a propriedade privada é um direito
natural do ser humano, sagrado e inviolável; o que é herdado ou adquirido confere ao indivíduo o direito de
usá-lo livremente em seu proveito. Para os economistas clássicos, não há conflito algum entre os interesses
particulares do indivíduo e os interesses gerais da sociedade. Toda atividade econômica que resulte em
benefício pessoal, beneficia, por extensão, a sociedade em seu conjunto.

Cartismo
Na Inglaterra do século XIX, a classe trabalhadora, após várias constatações de que os governos e o Parlamento
não demonstravam interesse algum pela defesa de seus interesses, passou a reivindicar o direito ao voto para que
pudesse eleger os legisladores e assim influir na elaboração de uma legislação que favorecesse também os traba-
lhadores e não só os patrões.
Para conseguirem eleger seus representantes no Parlamento, no entanto, necessitavam fortalecer seus sin-
dicatos, à época apenas uma evolução das antigas associações de jornaleiros. Para isso, organizaram-se até conse-
guirem integrar-se nas chamadas Trade Unions.

Cartismo

Foram muitos os abaixo-assinados enviados ao Parlamento até que, em 1838, a classe dos trabalhadores,
representada pela Associação Geral dos Operários de Londres, remeteram ao Parlamento seu programa sintetizado
na Carta do Povo. As principais reivindicações do Movimento Cartista eram:
1. Sufrágio universal para os homens; 2. Pagamento aos membros eleitos da Câmara dos Comuns (o que
tornaria possível aos pobres candidatarem-se ao posto); 3. Parlamentos anuais; 4. Nenhuma restrição de proprie-
dade para os candidatos; 5. Sufrágio secreto, para evitar intimidações; 6. Igualdade dos distritos eleitorais.
(Leo Huberman. Historia da riqueza do homem. 15. ed., Trad.Rio de Janeiro: Zahar, 1979, p. 201).

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Socialismo científico
A ideia de uma distribuição equitativa de bens na sociedade foi defendida por Thomas Morus, o autor renascentista
de Utopia (1516). Durante a Revolução Francesa, certos ideais socialistas tomaram forma – como o de que os bens
deveriam ser coletivos – com as propostas de Rousseau, Marat, Hebert e, sobretudo, de Graco Babeuf.
Mas as origens mais claras do socialismo estão nas condições subumanas a que foram submetidos os tra-
balhadores no processo de consolidação do capitalismo, como sistema econômico, político e social, pela Revolução
Industrial.
Antes de o socialismo científico ser gestado, houve amplo desenvolvimento de ideais socialistas, principal-
mente na França, no início do século XIX. Seus representantes foram classificados posteriormente de socialistas
utópicos, por acreditarem que a mudança social viria meramente por uma mudança na consciência dos homens,
e não por uma mudança material e econômica. Seus principais representantes foram Saint-Simon, Charles Fourier,
Louis Blanc e Robert Owen.
Os alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1883) fundaram o socialismo científico. Para
eles, o proletariado era visto como a classe revolucionária encarregada a derrubar o Estado capitalista. Se a so-
ciedade capitalista detinha suas próprias regras, elas deveriam ser conhecidas e analisadas cientificamente sob o
crivo da história e da economia política. Conhecidos a natureza e o funcionamento da sociedade capitalista, seriam
propostas as condições de sua transformação.
Em fevereiro de 1848, publicaram o Manifesto comunista, no qual descreveram a luta de classes como pro-
pulsora da história e do advento do capitalismo; estabelecem a crítica ao socialismo utópico e traçam um programa
político conclamando as classes trabalhadoras a uma revolução para a derrubada do sistema capitalista.

Karl Marx

Em 1867, passa a ser publicado O capital – Análise crítica da produção capitalista (primeiro volume). Os
volumes dois e três foram publicados por Engels depois da morte de Marx. O quarto foi publicado por Karl Kaustsky.
Nessa obra, Marx e Engels dedicam-se ao estudo e à análise da origem, desenvolvimento e apogeu do ca-
pitalismo, detalhando a complexidade desse sistema; das instituições econômicas do passado e do presente, com
o objetivo de descobrir o que ordenava e movimentava a sociedade capitalista.
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Princípios do socialismo científico (marxismo)
§§ Materialismo histórico – a economia – (condições materiais de existência) – forma a base, a infraestru-
tura da sociedade, sobre a qual se ergue uma superestrutura política, jurídica, filosófica, religiosa, moral etc.
Em razão disso, as transformações ocorridas nessa superestrutura eram determinadas, em última instância,
pelas mudanças ocorridas nas forças econômicas da sociedade.
§§ A luta de classes é o motor da história – a divisão da sociedade em classes seria determinada por fa-
tores de ordem econômica, sobretudo pela existência da propriedade privada. Os interesses econômicos an-
tagônicos dão origem e sustentam o conflito entre as classes sociais e essa luta entre dominantes – donos
dos meios de produção e do capital – e dominados – proprietários tão somente da sua força de trabalho,
que é vendida ao capitalista e constitui a força motriz das grandes transformações históricas.

Representação da luta de classes

§§ O proletariado é o agente revolucionário de transformação da sociedade capitalista – como


classe subalterna, deve assumir o papel de agente transformador assim como fizera a burguesia contra a
nobreza ao derrubar o Antigo Regime durante a Revolução Francesa. Cabe-lhe ser agente de uma revolução
social que cria condições para a transformação da sociedade capitalista e burguesa em um novo tipo de
sociedade. Segundo Marx, a libertação da classe trabalhadora é uma obra dos próprios trabalhadores.
§§ Socialismo é uma fase de transição para o comunismo – da luta entre as classes operária e burgue-
sa surge a sociedade socialista, mediante a qual o proletariado apodera-se do poder político – ditadura do
proletariado – e converte em propriedade coletiva os meios de produção pertencentes à burguesia. Nessa
sociedade socialista ainda existem o Estado e a diferença entre o trabalho manual e intelectual. O socialis-
mo seria a fase intermediaria de transição, da passagem do capitalismo para o comunismo – baseado na
propriedade social dos meios de produção – fábricas, terras, bancos –, no fim da exploração do homem pelo
homem, na construção de uma sociedade sem classes e no desaparecimento gradual do Estado.
§§ Mais-valia – diferença entre o volume da riqueza produzida pelo trabalhador e o montante do salário
recebido pelo trabalho realizado. Como o salário é sempre inferior à riqueza produzida, essa diferença, cor-
respondente ao trabalho não pago, dá origem ao lucro obtido pelos capitalistas. O processo de acumulação
de riquezas pela burguesia tem por base a exploração do trabalho.
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O neocolonialismo
A segunda metade do século XIX foi marcada por um novo e vigoroso movimento do capitalismo, caracterizado
pelo imperialismo, que submeteu a maior parte dos territórios da África e da Ásia à condição de colônia das potên-
cias europeias, notadamente as que passaram pela transformação industrial. Deram início a uma verdadeira corrida
colonial: Inglaterra, Bélgica, França, Alemanha e Itália.
O novo colonialismo – neocolonialismo – pode ser entendido como filho da política industrialista e da
expansão do capital financeiro, sem desprezar, contudo, as rivalidades políticas europeias, que aguçaram o nacio-
nalismo e transformaram a conquista colonial em prestígio político.

A partilha da China pelas nações imperialistas

O interesse das potências europeias era fornecer insumos à sua pujante indústria, que passava por sucessi-
vas incorporações técnicas. O uso da borracha, do carvão, do petróleo e do minério de ferro nunca havia sido tão
expressivo e o continente europeu não mais supria a demanda industrial por tais insumos. Outro fator tornava a
política colonialista atraente para os governos europeus: a possibilidade de transferir um número significativo de
sua população como colonos para as novas regiões conquistadas, resolvendo, assim, o problema do excedente
populacional europeu, que crescia em ritmo acelerado. Além disso, o operariado europeu, insatisfeito com suas
precárias condições de vida e de trabalho, agitava a Europa comandando inúmeros movimentos sociais. Os go-
vernos europeus perceberam que a exploração colonial poderia possibilitar melhoria no padrão de vida da classe
operária do velho continente, enfraquecendo, assim, os levantes populares.
No plano político, as potências estavam preocupadas em aumentar seus contingentes militares a fim de
fortalecerem suas respectivas posições frente às demais potências. Com as colônias, contariam com maior disponi-
bilidade de recursos e aumento dos contingentes militares.
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Dentre essas teorias que justificaram o neocolonialismo, talvez a mais conhecida seja o darwinismo social,
que explica as conquistas dos homens de acordo com seus ganhos econômicos, sociais etc., como resultado da
“sobrevivência do mais apto”, à luz dos estudos de Charles Darwin sobre a evolução das espécies e da sobrevivên-
cia delas. Por outro lado, não raras vezes, os “desígnios divinos” e a defesa do cristianismo confundiam-se com os
interesses dos capitalistas de tal forma que “salvar as almas” dos nativos das colônias era sinônimo da necessidade
de transformá-los em empregados das grandes plantações administradas pelos europeus.
No caso da partilha africana, apesar de alguns territórios já pertencerem a europeus antes de 1870, foi só
a partir de então que o imperialismo reinou naquele continente. Em 1876, apenas 10,8% do território africano
estavam dominados por potências colonialistas. Em 1900, a porcentagem era de 90,4%.
Vários países europeus lançaram-se à aventura africana. A França conquistou, rapidamente, depois da Argé-
lia, a Tunísia, a África Ocidental Francesa, a África Equatorial Francesa, a Costa Francesa dos Somalis e Madagascar.
Os ingleses dominaram o Egito, o Sudão anglo-egípcio, a África Oriental Inglesa, a Rodésia, a União Sul-Africana, a
Nigéria, a Costa do Ouro e Serra Leoa. A Alemanha, que entrou tardiamente na corrida colonial, tomou Camarões,
o sudoeste africano e a África Oriental Alemã. A Itália conquistou o litoral da Líbia, a Eritreia e a Somália Italiana.
Os antigos países colonizadores da Europa, Portugal e Espanha, ficaram com porções reduzidas: a Espanha,
com o Marrocos espanhol, o rio de Ouro e a Guiné Espanhola; Portugal, com Moçambique, Angola e a Guiné Por-
tuguesa.
O ponto de partida para a corrida colonial no século XIX foi dado pela Conferência de Berlim (1884-1885),
da qual participaram todos os países colonialistas, que estipularam entre si os princípios reguladores do que se
convencionou chamar “partilha da África”. A Conferência impunha às potências colonizadoras a necessidade de
ocupação efetiva, demarcação e notificação de suas posses aos participantes da partilha.
Pela primeira vez na história, o mundo encontrava-se inteiramente partilhado, direta ou indiretamente,
submisso às grandes potências europeias e aos Estados Unidos. Em 1905, estavam conquistados: 90,4% da África,
56,6% da Ásia, 100% da Austrália, 27,2% da América e 98,9% da Polinésia. A partir de então, não haveria novas
apropriações, uma vez que já não existiam territórios sem dono. As grandes potências passaram a viver uma situ-
ação de choque permanente entre si na tentativa de expandir suas áreas de dominação econômica e política. Esse
choque de imperialismos terminaria por deflagrar a Primeira Guerra Mundial.

Estados Unidos no século XIX


O século XIX marcou o desenvolvimento capitalista dos Estados Unidos e o início da expansão do território em
direção ao Oeste.
Desde a colonização inglesa (século XVII), havia uma série de diferenças entre as colônias do Norte e do
Sul. Aquelas formavam a Nova Inglaterra e suas atividades econômicas estavam voltadas para a pesca, pecuária,
atividades comerciais e produção manufatureira. Em virtude da forte presença dos imigrantes puritanos ingleses,
a região caracterizou-se pela vida disciplinada e ética do trabalho como forma de obtenção da prosperidade eco-
nômica, sinal da salvação divina. A região foi marcada pela tolerância religiosa e um estilo de vida voltado para o
isolamento.
As colônias centrais eram socialmente mais abertas e receptivas aos grupos sociais que professassem dife-
rentes crenças religiosas. Recebiam imigrantes de outras regiões da Europa de diferentes credos, suecos, holande-
ses, escoceses, entre outros. Tornaram-se importante centro econômico e mantinham fortes laços com as colônias
do Norte. Ambas conseguiram um desenvolvimento econômico autônomo da Inglaterra, o que sustentou as revol-
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tas quando a Inglaterra quis fazer valer as regras do colonialismo mercantilista, o que e explica, de modo geral, a
precoce independência americana.
As colônias do Sul organizaram-se nos limites da clássica exploração econômica mercantilista colonial, a
plantation – exploração agrícola monocultora e exploração do trabalho escravo, com produção de tabaco, algodão,
arroz e índigo (anil), exportados para a Europa.
Durante o século XIX, o território americano assumiu dimensões próximas das atuais em virtude de uma
serie de fatores, dentre os quais a Doutrina do Destino Manifesto, que ocupou uma posição de suporte da atitude
americana em relação àqueles que não são reconhecidos como seus iguais.
Na expansão ao Oeste, os pioneiros dessa conquista – criadores de gado, agricultores sem terra, granjeiros
e caçadores – eram imigrantes europeus e americanos sem condições de sobrevivência na costa Leste. Com cavalos
ou em barcos pelos rios punham-se em marcha para o Oeste. Expulsavam ou dizimavam as tribos indígenas, con-
quistavam e povoavam as terras do interior e nelas desenvolviam a agricultura, a pecuária e a mineração.
A marcha para o Oeste era, em grande parte, justificada pela Doutrina do Destino Manifesto, segundo a
qual os norte-americanos tinham sido predestinados por Deus à conquista dos territórios situados entre os oceanos
Atlântico e Pacífico.
Em 1862, o presidente Abraham Lincoln criou o Homestead Act (Lei da propriedade rural), que concedia
terra aos imigrantes que nela se fixassem e produzissem qualquer gênero, acelerando ainda mais a ocupação ter-
ritorial em direção ao Pacífico.
Os novos territórios incorporados pelos Estados Unidos ao longo da expansão para o Oeste foram adquiri-
dos pela compra, pela diplomacia ou pela guerra.
A Luisiana foi comprada da França por 15 milhões de dólares; a Flórida, da Espanha por cinco milhões de
dólares; e o Alasca, da Rússia por sete milhões de dólares. Mediante tratado diplomático negociado com a Inglater-
ra, o Oregon, na costa norte do Pacífico, foi anexado aos EUA. Em 1848, metade do território mexicano, formado
pelas atuais regiões de Nevada, Califórnia, Utah, Arizona, Texas e Novo México, foi anexado pela guerra. Não foi à
toa que um presidente mexicano, Porfírio Diaz, declarou: “Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados
Unidos”.

Guerra de Secessão (1861-1865)


Após a conquista do Oeste, entre os anos 1861 e 1865, os Estados Unidos foram envolvidos pela guerra civil,
conhecida como Guerra de Secessão, consequência dos antagonismos entre os estados do Norte (União) e os do
Sul (Confederados). Como fora dito acima, a formação econômica das duas regiões foi muito distinta. Enquanto o
Norte pregava a liberdade individual e econômica, o Sul praticava era escravista e praticava a plantation.

Bandeira que simboliza os estados do Sul dos EUA


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As contradições entre o Norte e o Sul aprofundaram-se com a abolição da escravidão. Em franca expansão
territorial e capitalista, os Estados Unidos precisavam de uma identidade adequada a essa realidade. A escravidão
tornou-se vital no debate político do país que se pretendia democrático, bem como pela necessidade de liberar os
capitais investidos em escravos. No Acordo de Mississipi, de 1820, decidiu-se que a escravidão seria aceita so-
mente abaixo do paralelo 36º40’; posteriormente, a Califórnia decidiu-se contrária à escravidão. Com o Compro-
misso de Clay, de 1850, cada Estado optaria pela abolição ou não da escravidão após consulta a seus cidadãos.
Em 1854, foi criado o Partido Republicano que abraçou a causa do abolicionismo.
A questão do protecionismo também foi um dos principais motivos da guerra civil americana. As indús-
trias do Norte, menos produtivas que as inglesas, necessitavam de proteção alfandegária. Exigiam a adoção de uma
política tarifária protecionista que lhes assegurasse o controle do mercado interno e eliminasse a concorrência das
mercadorias importadas da Inglaterra. Essa proteção não interessava aos grandes produtores do Sul, uma vez que,
além de os produtos do Norte serem mais caros que os dos ingleses, eles corriam o risco de sofrer represálias por
parte dos importadores da Inglaterra, grandes compradores dos seus produtos, como do algodão.
O estopim da guerra, entretanto, foi a vitória de Abraham Lincoln, candidato do Partido Republicano e
representante dos industriais nortistas, nas eleições presidenciais de 1860. A aristocracia sulista reagiu à eleição
de Lincoln e, em 1861, onze Estados escravistas do Sul separaram-se do governo da União e fundaram os Estados
Confederados da América. Jefferson Davis foi escolhido presidente, a capital foi estabelecida em Richmond, na
Virgínia, e o general Robert Lee, nomeado comandante das tropas confederadas.

Abraham Lincoln

Esse conflito inaugurou uma nova tecnologia militar, um novo tipo de guerra. O velho fuzil de carga pela
boca foi substituído pelo fuzil raiado, de precisão, de recarga pela culatra, cujos tiros saiam em repetição, am-
pliando a capacidade ofensiva dos soldados da União. Os trens também foram bastante úteis para o transporte
das tropas e o telégrafo facilitou a transmissão de notícias. As tropas deslocavam-se rapidamente na direção onde
estavam sendo travados os combates.
A derrota dos exércitos confederados, em 1863, na Batalha de Gettysburg, foi decisiva. As tropas da União
continuaram avançando até a assinatura da capitulação em Appomatox. Em 9 de abril de 1865, o general sulista
rendeu-se e a guerra chegou chegou ao fim. Alguns dias depois, no dia 14, Lincoln foi assassinado em um teatro
por John Wilkes Booth, ator e simpatizante confederado.
A Guerra de Secessão deixou 600 mil mortos e consolidou a supremacia política e econômica do Norte
burguês e industrializado sobre o sul agrário e aristocrático, que foi devastado.
O resultado imediato da guerra civil foi o fim da escravidão, a liberação de capitais antes investidos na com-
pra de escravos e, agora, no capitalismo industrial. A vitória dos republicanos (norte), defensores do federalismo,
fortaleceu a União, permitiu o atendimento aos interesses das diferentes frações e facções de classe e deu feição à
16
moderna nação americana. Se, em 1860, os Estados Unidos ocupavam a posição de quarta potência mundial, em
1890 já haviam ultrapassado a Inglaterra, a Alemanha e a França e se transformado na primeira potência econô-
mica mundial.
A política isolacionista norte-americana tinha por objetivo evitar o envolvimento e a participação dos Es-
tados Unidos nas guerras e conflitos travados na Europa. O suporte teórico desse isolacionismo foi a Doutrina
Monroe, formulada, em 1823, pelo presidente James Monroe, cujo princípio básico era a oposição dos Estados
Unidos a qualquer intervenção política ou militar dos países europeus nos assuntos internos do continente ameri-
cano, sintetizado no lema “a América para os americanos”.

Caricatura da Doutrina Monroe

Já em 1890, o sistema industrial norte-americano se encontra plenamente desenvolvido. Há uma preocupa-


ção com a expansão dos mercados em virtude das necessidades de reprodução do capital, o que mostra a inserção
dos EUA no movimento de expansão imperialista do final do século XIX, sendo o principal objetivo dos Estados
Unidos o domínio de mercados e a reserva da matéria-prima.
Após a guerra com a Espanha (Guerra Hispano-americana – 1898) em favor da independência de Cuba, os
Estados Unidos tomaram posse de Porto Rico, Guam, Havaí e Filipinas. Cuba passou a ser uma nação independente,
mas sob a influência dos Estados Unidos.
O intervencionismo norte-americano no Caribe atinge o seu ponto máximo na virada do século XIX com a
política do presidente Theodore Roosevelt, denominada de Big Stick (grande porrete). Roosevelt instiga a separa-
ção do Panamá da Colômbia com a intenção de construir o canal do Panamá, em 1903, procurando satisfazer in-
teresses norte-americanos. Durante a administração de Roosevelt, deu-se também a intervenção armada em Cuba
e em São Domingos. A determinação de “falar suavemente e carregar um porrete” apresentava, assim, resultados
convincentes para os Estados Unidos.

Política do Big Stick


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Revolução Mexicana (1910-1920)
No ano de 1876, Porfírio Díaz assumiu o poder em nome da plataforma do regime liberal que defendia a política
de laicização do Estado e a aplicação de moderadas reformas políticas. Na prática era um regime de imobilismo
político.
Sob o ponto de vista social, o porfiriato era produto do latifúndio mexicano. As oito mil grandes haciendas
(latifúndios) estavam nas mãos de uma aristocracia agrária de origem espanhola (guachupines) não miscigenada,
totalizando menos de 3% das famílias mexicanas, mas que detinha o controle das melhores terras do país. Os
ranchos pertenciam aos pequenos proprietários de origem mestiça e os ejidos, reminiscência dos tempos astecas
que reunia a população indígena. 95% dos camponeses mexicanos não possuíam qualquer tipo de propriedade.
O Estado porfirista era dominado por uma burocracia civil-militar que se inspirava no positivismo europeu,
os chamados “científicos” que acreditam poder administrar a sociedade de maneira autoritária, de cima para baixo.
Os positivistas “científicos” eram adeptos da ideologia do “progresso”, equivalentes aos republicanos positivistas
brasileiros (“ordem e progresso”), que alimentavam desprezo pelo povo.
Em 1908, Díaz afirmou estar cansado de exercer o poder, abrindo assim brecha para as especulações a res-
peito de uma possível alternância de poder. Francisco Madero, rico fazendeiro nortista, aproveitou-se da declaração
do presidente e lançou-se candidato sob a plataforma contrária à reeleição (maio de 1909). A grande aceitação de
sua candidatura provocou euforia entre os seus seguidores e a imediata reação dos “científicos”, que passaram a
pressionar Díaz para que continuasse no governo.
Pouco antes das eleições, Madero e Roque Estrada foram presos. Em junho, Díaz venceu as eleições e ga-
nhou legitimidade para o exercício de mais um mandato. Esse processo esclareceu aos dissidentes mexicanos que
só a força deporia Diaz do poder.
Posto em liberdade, Madero refugiou-se nos EUA onde começou a organizar a insurreição. O contato com
Pancho Villa foi bem-sucedido. Juntos com Pascoal Orozco conseguem se apossar da cidade fronteiriça de Juarez.
Quinze dias depois, em 25 de maio de 1911, Díaz embarcou para o exílio depois de maderistas e federais assinarem
a paz. Madero entrou triunfante na Cidade do México e foi eleito Presidente em outubro de 1911. A rebelião teve
sucesso, uma vez que os federais foram obrigados a dividir suas forças. Enquanto Villa e Orozco rebelavam o Norte,
um camponês do estado sulista de Morelos, Emiliano Zapata, iniciava a insurreição dos pueblos.

Zapata, de sombrero, e seus combatentes

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Com a vitória, Madero acreditava que os objetivos da revolução já tinham sido alcançados, uma vez que o
México passou a contar com instituições democráticas que poderiam atender aos desejos reformistas da sociedade.
Zapata, por sua vez, pensava de modo diferente. Não acreditava na possibilidade de se fazer a reforma agrária sem
a posse das armas. Esse conflito, somado à rebelião de Pascoal Orozco, no Norte, entregou Madero à dependência
dos militares porfiristas, que não haviam sido extintos pela revolução.
Essa foi a oportunidade esperada pelos contrarrevolucionários: aproveitar a debilidade e insegurança do
regime de Madero para voltarem ao poder com um golpe político. O general pegou em armas contra o governo,
enquanto o general Huerta, depois de dez dias de combate na capital, estabeleceu um acordo com o general Felix
Díaz, firmado na embaixada americana (Pacto da Embaixada) sob tutela do diplomata Henry Lane Wilson. Huerta
formaria um novo governo, provisório, enquanto Díaz deporia as armas. Madero foi afastado do poder em 9 de
fevereiro de 1913. Huerta aproveitou e ordenou o assassinato de Madero e de seu vice, Pino Suarez, em 22 de
fevereiro.
Os revolucionários, com exceção de Orozco, não aceitavam a restauração do porfirísmo por Huerta. O não
reconhecimento do novo governo pelo governador nortista Carranza, possibilitou o início da mobilização contra
Huerta. O mesmo fez Villa no Norte onde reativa a sua célebre “Divisão del Norte” e Zapata no sul liderando os
índios. Forma-se, então, o exército constitucional, com o objetivo de restabelecer o maderismo, sob liderança de
Venustiano Carranza (Pacto de Torreón).
Posteriormente, as reivindicações de classe voltaram à tona. Carranza não se mostrava disposto a aceitá-las,
mas foi obrigado a enviar à Convenção um decreto de reforma agrária.
Apesar do acordo entre Villa e Zapata (Pacto de Xoximilco), não conseguiram coordenar uma ação em con-
junto. Carranza reorganizou as forças militares e derrotou Villa e Zapata, ao mesmo tempo em que estabeleceu a
pena de morte contra trabalhadores grevistas (1915/16).
Derrotados pelos federais, sob o comando de Alvaro Obregón, villistas e zapatistas entraram em decompo-
sição. Mal conseguiram manter suas lideranças em seu último reduto – Villa, em Sonora, e Zapata, em Morelos.
Buscando aniquilar essas poderosas lideranças, Carranza ordenou o assassinato de Zapata (1919) e o
afastamento de Villa, que recebeu, em troca, uma respeitável fazenda. Em 1923, foi assassinado provavelmente a
mando de Calles.
Mas os constitucionais foram obrigados a reconhecer a questão agrária, no fundo da luta revolucionária. Os
latifúndios foram limitados e a terra passou a ser redistribuída entre as comunidades camponesas.
Após a neutralização das lideranças camponesas e da oligarquia, Carranza encontrou as condições para a
aprovação de uma nova constituição, que se tornou o documento máximo da Revolução de 1910. Foi considerada
uma das mais modernas e liberais Cartas Magnas da América latina, da qual são notáveis os artigos 27, 30, 123 e
130, que no seu conjunto estabelecem:
§§ ensino laico a cargo do Estado e de certo setor privado;
§§ expropriação de terras não cultivadas em favor dos ranchos e dos ejidos;
§§ jornada de oito horas diárias de trabalho, regulamentação do trabalho do menor e da mulher, salários iguais
para tarefas iguais, direito de organização sindical e de greve, justiça do trabalho para arbitrar conflitos
entre capital e trabalho;
§§ restrição do poder da Igreja, casamento civil obrigatório, único válido, secularização do clero, profissionali-
zação dos sacerdotes.
Essa constituição foi juridicamente uma obra de síntese entre a grande tradição liberal – separação entre
Igreja e Estado, laicização do Estado – e a emergência do Estado populista – regulador dos conflitos e paternalista
para com os assalariados.
Com o assassinato de Carranza, em 1920, o poder refluiu para dois líderes militares que haviam sido os
guardiões do constitucionalismo, os generais Obregón e Calles. No período seguinte, houve uma momentânea
fragmentação do poder com a emergência de caudilhos militares provinciais. Em sua luta contra Villa e Zapata,
Carranza foi obrigado a ceder poderes a chefes federais que atuavam independentemente do poder central, apesar
da proclamação formal de fidelidade à unidade e ao constitucionalismo. A rebelião do caudilho militar De la Huerta
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foi a oportunidade de reunificação do país e de implantação da centralização revolucionária. O fracasso da rebe-
lião serviu de pretexto para que o duunvirato exterminasse fisicamente toda a alta hierarquia militar do exército
mexicano (1923).

Unificações tardias: Itália e Alemanha


Unificação italiana (1870)
O Congresso de Viena (1815) dividiu a Itália em sete regiões: o reino do Piemonte-Sardenha, liderado pela dinastia
de Savoia; o reino Lombardo-Veneziano, anexado ao império austríaco; os Estados Pontifícios, sob a direção do
papa, mas ligado aos Habsburgos; o reino das duas Sicílias ao sul, governado pela dinastia dos Bourbon; e três
ducados, Parma, Modena e Toscana, submetidos à influência austríaca.
A família real do Piemonte mantinha laços estreitos com a burguesia, o que a fez conscientizar-se do seu
crescimento, atrelado à unificação política da península Itálica, fundamental para o desenvolvimento do capitalis-
mo. Seriam criadas as condições, sob a mesma legislação, de um mesmo poder político e militar, de crescimento da
mão de obra, do mercado consumidor e do crescimento da oferta de matéria-prima.
O Reino do Piemonte, no norte da península Itálica, passou por um processo de modernização que o
transformou no mais poderoso dos pequenos estados italianos. Mesmo após a derrota da Revolução de 1848 na
Itália e da restauração das condições próximas à política do absolutismo em todos os estados da península, o
Piemonte conservou a monarquia constitucional como regime político.
Um surto de industrialização propiciou o fortalecimento da burguesia piemontesa cujos interesses econô-
micos tornavam necessária a unidade política do país. A burguesia desejava a unificação, que garantiria a con-
tinuidade do desenvolvimento interno e lhe daria possibilidades de concorrência no mercado exterior, liberando
a circulação de mercadorias dentro da península, favorecendo as exportações e impedindo as importações dos
produtos concorrentes. O nacionalismo desse reino, portanto, estava enraizado nas necessidades específicas da
expansão do capitalismo, que trilhou caminhos semelhantes aos da Prússia.
No sul da Itália, outra força poderosa era a dos Camisas Vermelhas, liderada por Giuseppe Garibaldi, que
defendia a criação da República com voto universal, pois acreditava que somente a unificação poderia retirar a
população humilde da miséria. A unificação italiana contou com dois grupos cujo objetivo da unificação eram
convergentes; divergiam, porém, no tocante à estrutura ideológica: o norte (Risorgimento) era elitista burguês e
Garibaldi, popular e radical.

Giuseppe Garibaldi

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Já os Estados Pontifícios, que constituíam o centro da península italiana, eram contra a unificação, visto que
o papa perderia o poder político para o chefe de Estado, caso a unificação constituísse uma política republicana ou
uma monarquia constitucional.
Após tentativa frustrada de unificação em 1848, com a ascensão de Cavour ao posto de primeiro-ministro
de Piemonte-Sardenha, em 1852, apoiado pelos partidários da unificação, estimulou a luta pela unidade italiana.
Em 1858, Cavour firmou com Napoleão III da França uma aliança franco-piemontesa, que resultou na organização
de um pacto militar antiaustríaco, o que favoreceu o Piemonte para iniciar em 1859 a luta pela unificação italiana.
Napoleão III apoiaria o Piemonte numa luta contra a Áustria e receberia em pagamento os condados da Savoia e
de Nice, pertencentes ao Piemonte; este receberia a Lombardia-Veneza, pertencente à Áustria.
Baseado nesse acordo, Cavour provocou a guerra contra a Áustria no início de 1859. Franceses e sardo-
-piemonteses obtiveram vitórias em Magenta e Solferino (Lombardia), mas a ameaça de intervenção militar da
Prússia levou a França a se retirar da guerra, obrigando os piemonteses a firmar com a Áustria o Tratado de Zurique:
a Áustria conservaria a região de Veneza e cederia a Lombardia ao Piemonte, que, por sua vez, cederia à França as
regiões de Nice e Savoia.
Paralelamente à guerra contra a Áustria, Garibaldi promovera várias insurreições de caráter nacionalista na
Itália central. As tropas garibaldinas conquistaram os ducados de Toscana, Parma e Modena, assim como a região
da Romanha pertencente aos Estados Pontifícios. Em 1860, após a realização de plebiscito, esses territórios foram
incorporados ao Piemonte, dos quais formou-se o Reino da Alta Itália.
Em 1860, Garibaldi atacou o Reino das Duas Sicílias, comandando a Expedição dos Mil Camisas Vermelhas,
que culminou com a conquista de Nápoles, capital do Reino. Nessa mesma época, as tropas piemontesas ocuparam
a parte oriental dos Estados Pontifícios e estabeleceram a ligação terrestre entre o Norte e o Sul da Itália. No ano
seguinte, esses territórios conquistados foram incorporados à Alta Itália, que formaram o Reino da Itália, do qual
Vitor Emanuel II foi proclamado rei.
Com a unificação concluída, rei Vitor Emanuel fez de Roma a capital italiana. O papa manteve o não re-
conhecimento e enclausurou-se na basílica de São Pedro. Esse dilema, conhecido como a Questão Romana, foi
resolvido somente em 1929 com o Tratado de Latrão, acordo o qual o governo fascista de Benito Mussolini indeni-
zava a Igreja pelos prejuízos sofridos com a perda de Roma e concedia-lhe a soberania sobre a Praça de São Pedro,
oportunidade em que foi criado o atual Estado do Vaticano.
A Itália concluíra tardiamente sua unificação política, já na segunda metade do século XIX, em 1870, o que
contribuiu muito para retardar seu desenvolvimento capitalista. O sul do país permaneceu agrário e não desenvol-
vido, dominado pelo latifúndio e pela aristocracia rural. O Norte conseguiu um relativo desenvolvimento industrial,
mas a falta de mercados e de matérias-primas impediu que a industrialização alcançasse grandes proporções. A
Itália chegou atrasada à corrida colonial, quando a divisão do mundo já estava praticamente concluída e os mer-
cados já dominados pela Inglaterra e pela França. A impossibilidade de formar um império colonial contribuiu para
retardar ainda mais o desenvolvimento do capitalismo italiano.

Unificação alemã (1871)


No início do século XVI, quando a Europa ocidental firmava o processo de formação das monarquias nacionais, a
Alemanha ainda estava dividida em principados, feudos e cidades autônomas. Foi nesse período que se levantou
pela primeira vez a possibilidade de unidade nacional. No entanto, nenhum grupo revolucionário da época – bur-
guesia em formação, campesinato e pequena nobreza – era suficientemente forte para liderar sozinho tal intento.
Como não se uniram, lançando-se de modo independente na luta contra a nobreza, o fracasso foi inevitável. Os
príncipes foram os grandes beneficiários dessas “revoluções” e a Alemanha firmou-se como um mosaico de peque-
nos Estados soberanos, que tratavam de defender sua soberania e impedir a unidade nacional.
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Embora não estivesse sob o mesmo poder político, a população mantinha forte elo cultural com as narrativas
mitológicas que alimentaram um militarismo nobiliárquico apropriado pelos junkers – aristocracia prussiana que con-
trolava a administração e o exército. Outro fato que sustentava o orgulho dos alemães era o I Reich (Império) aliado
do Sacro Império Romano-germânico. Entretanto, os alemães foram humilhados por Napoleão, que os submeteu à
Confederação do Reno e, mesmo depois do Congresso de Viena, em 1815, seu território continuava fragmentado,
com 35 Estados independentes e quatro cidades livres, dominados pela Áustria graças à Confederação Germânica.

Otto von Bismarck

O sonho da unificação alemã só foi possível graças ao desenvolvimento econômico e social dos Estados,
particularmente o da Prússia. A Áustria, que impedira a unificação alemã, tentada pela Prússia em 1850, não con-
seguiu impedir o desenvolvimento econômico de seus Estados, alcançado graças ao Zollverein – liga aduaneira
adotada em 1834, que aboliu as tarifas alfandegárias no comércio entre os Estados germânicos, o que propiciou
o início da sua unidade econômica.
Após sucessivas guerras – Guerra dos Ducados (1864), Guerra Austro-prussiana (1866) e Guerra Franco-prus-
siana (1870) – a Prússia, então liderada pelo ministro junker Otto von Bismarck, garantiu a unificação alemã. Cabe
ressaltar a Batalha de Sedan, que selou a vitória da Prússia sobre a França e consolidou a anexação dos Estados do
sul da Alemanha, em 1871. Na Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, Guilherme I, rei da Prússia, foi coroado
imperador da Alemanha. Com a fundação do II Reich alemão, estava concluída a unificação política do país.

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O Império Alemão destruiu o equilíbrio de poder estabelecido na Europa desde 1815 pelo Congresso de Vie-
na. No prazo de algumas décadas, a Alemanha se transformaria na maior potência econômica e militar da Europa.
O Tratado de Frankfurt, assinado em 1871 com a França, permitiu à Alemanha anexar as províncias francesas da
Alsácia-Lorena, ricas em jazidas de ferro e carvão, além de receber da França uma pesada indenização de guerra.
Tudo isso contribuiu para o desenvolvimento do revanchismo francês, que se transformou numa das principais
causas da Primeira Guerra Mundial.

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918)


O estado de espírito predominante na Europa, no período anterior a 1914, era de orgulho pelas realizações da
civilização ocidental e de confiança em seu progresso futuro. Os avanços na ciência e na tecnologia, a elevação do
padrão de vida, a difusão das instituições democráticas, o incremento da alfabetização das massas, a posição de
poder da Europa no mundo, tudo contribuía para um sentimento de otimismo. Esse período de euforia e otimismo
que vai da segunda metade do século XIX até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, foi denominado
de Belle Époque.
Porém, paradoxalmente, o período que abrange o final da Guerra Franco-prussiana até o início da Primeira
Guerra Mundial (1871-1914) ficou conhecido como “paz armada”. Um período caracterizado pelas fortes rivalida-
des políticas (nacionalistas), econômicas (disputa por mercados e por matérias-primas industriais) e imperialistas
(concorrência colonial). A imprensa dos principais países europeus discutia e propagandeava a guerra e todos
garantiam que seu país sairia vencedor. Esse militarismo criou um clima de tensão.
Um dos principais fatores da Primeira Guerra Mundial – chamada à época de Grande Guerra –, em 1914, foi
o choque de imperialismos, que possuía raízes econômicas – disputa por novos mercados consumidores
e matérias-primas industriais, expressando-se de modo político e militar. Além disso, a Conferência de Berlim
(1885) buscou a inserção do II Reich germânico e da Itália no neocolonialismo através de uma série de negocia-
ções; no entanto, essa estratégia fracassou, pois a Inglaterra e a França confirmaram o controle sobre as regiões
africanas alimentando o ressentimento alemão, propiciando o aumento da militarização e a busca de mercados
consumidores por meio da guerra.

Soldados em uma metralhadora usando máscaras de gás

O boicote surgiu pela decadência da hegemonia econômica e militar inglesa, inclusive perdendo seu histó-
rico status de rainha dos mares. Houve, por exemplo, grande desenvolvimento da marinha alemã, fato comprovado
pelo lançamento, em 1912, pela Alemanha, do maior navio do mundo, o Imperator.
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Além da corrida imperialista, vários fatores nacionalistas estavam presentes na Europa e promoviam o au-
mento do ódio entre as nações. Um elemento desse nacionalismo foi o pangermanismo, que se caracterizou pela
defesa da ideologia segundo a qual era um direito do povo alemão, devido ao seu passado mitológico e pureza
racial, controlar a Europa central, bem como interferir nos Bálcãs
Na França, as novas gerações nasciam e educavam-se sob o signo da revanche: vingar a humilhação
militar e política sofrida na Guerra Franco-prussiana e recuperar Alsácia-Lorena. Em 1906, França e Alemanha am-
pliariam suas diferenças na luta pela dominação do Marrocos, contribuindo para aumentar a tensão internacional
e acelerar a marcha rumo à guerra.
Além desse embate entre as três principais potências europeias – Alemanha, França e Inglaterra –, questões
nacionalistas floresciam em diversas outras regiões do continente, como no caso do nacionalismo sérvio e no ex-
pansionismo do chamado peneslavismo russo.
Logo, para o início da Grande Guerra, bastava um estopim, que foi aceso nos Balcãs, região conhecida como
o “barril de pólvora da Europa”. Num domingo, o arquiduque herdeiro do trono austro-húngaro, que estava em
Sarajevo, capital da Bósnia – região anexada pela Áustria –, sofreu um atentado enquanto passeava de automóvel
com a esposa. Francisco Ferdinando e sua esposa foram assassinados pelo estudante bósnio, Gavrilo Princip, mem-
bro da organização terrorista secreta chamada Mão Negra, que lutava para livrar a Bósnia do domínio austríaco.
Acreditando que o atentado fora preparado pela Sérvia, o Império Austro-húngaro enviou-lhe um ultimato.
Pelo teor do pedido, os austríacos sinalizaram que desejavam a guerra e que certamente contariam com o apoio da
Alemanha. A Sérvia, apoiada pela Rússia, recusou o ultimato. No dia 28 de julho, o Império Austro-húngaro invadiu
a Sérvia, ao lado de quem a Rússia tomou posição em 1º de agosto. A partir de então, houve um verdadeiro efeito
dominó: a Alemanha, cumprindo seus compromissos com a Áustria, declarou guerra à Rússia; a França, em socorro
aos russos, declarou guerra à Alemanha e, pouco depois, os ingleses aliaram-se aos franceses. Começava então a
Primeira Guerra Mundial.
A Guerra estabeleceu-se em torno de dois grandes polos: a Tríplice Entente e a Tríplice Aliança.
A Tríplice Aliança foi o acordo militar entre a Alemanha, a Áustria-Hungria e a Itália, feito em 1882, em que
cada uma garantia apoio às demais no caso de algum ataque de duas ou mais potências sobre uma das partes.
A Alemanha e a Itália ainda garantiam apoio entre si no caso de um ataque vindo da França. A Itália, no entanto,
especificava que seu apoio não se estenderia contra o Reino Unido.
A Tríplice Entente foi uma aliança feita entre a Inglaterra, França e o Império Russo para lutarem na Primeira
Guerra Mundial contra o pan-germanismo e as expansões alemãs e austro-húngaras pela Europa. Foi feito após a
criação da Entente Anglo-russa.

Aviões de guerra alemães

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A primeira fase do conflito caracterizou-se pela guerra de movimento, rápido deslocamento de tropas, com
o objetivo de destruir o inimigo em batalhas sucessivas. O principal país a deslocar seus contingentes militares foi
a Alemanha. Usando uma tática que foi chamada de Plano Schliefen, os alemães pretendiam primeiro vencer a
França para depois atacar a Rússia. Na invasão da França, violou o território belga para evitar as fortificações da
futuramente famosa linha Maginot, o que serviu de pretexto para a Inglaterra declarar guerra à Alemanha.
Os movimentos em massa tentados pelos exércitos tiveram poucos resultados positivos. Cada avanço de
alguns quilômetros custava uma longa preparação e milhares de vidas. Durante três anos a frente imobilizou-se.
Numa extensão de 640 km, dos Alpes ao mar do Norte, os lados em confronto construíram uma vasta rede de
trincheiras, que tinham abrigos subterrâneos e eram cercadas de arame farpado. Atrás da frente de trincheiras havia
outras linhas para as quais os soldados podiam se retirar e as quais podiam ser usadas para o envio de auxílio. Entre
os exércitos oponentes ficava a “terra de ninguém”, uma vasta superfície de lama, árvores despedaçadas e troncos
partidos. A guerra de trincheiras era uma batalha de nervos, resistência e coragem, travada ao som estrondoso da
artilharia pesada. Era inevitavelmente uma carnificina.
Em 1915, os italianos, apesar de aliados à Áustria e à Alemanha, entraram na guerra ao lado da Entente, o
que se justifica graças aos tratados secretos, segundo os quais a França e a Inglaterra prometiam à Itália as regiões
do Trento, Tirol e Ístria, então sob domínio austríaco.
Em novembro de 1917, a revolução socialista saiu vitoriosa na Rússia. Em março de 1918, em Brest-Litovsk,
o governo da Rússia soviética assinou a paz com a Alemanha, aceitando suas condições que incluíam a entrega da
Polônia, da Ucrânia e da Finlândia, e se retirava da guerra.
No mesmo período da revolução russa, a Alemanha declarou guerra submarina, sem restrições, a todos os
países da Entente. Seriam afundados quaisquer navios de países neutros ou não que se dirigissem aos países da
Entente. Os EUA romperam relações com a Alemanha. Em março do mesmo ano, alguns navios americanos em
comércio com a Inglaterra foram afundados por submarinos alemães. Em 6 de abril, o Congresso americano votou
favoravelmente à declaração de guerra à Alemanha.
Na primavera de 1918, a superioridade alemã era inconteste a oeste. A Entente estava ameaçada de perder
a guerra e os EUA, seus capitais. Os EUA enviaram mais soldados para a França, que chegou a quase dois milhões
de homens. Essa participação foi decisiva para a derrota dos impérios centrais da Tríplice Aliança. Diante das suces-
sivas derrotas do exército alemão, revoltas internas derrubaram o II Reich e o novo governo republicano assinou o
armistício em 11 de novembro de 1918, pondo fim à guerra.
Com o fim da guerra, o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, propôs um acordo de paz
chamado 14 Pontos. Em linhas gerais, tratava da criação de uma sociedade internacional que teria por finalidade
manter a paz mundial, eliminar a diplomacia secreta e promover a liberdade total dos mares. Tratava, ainda, do
fim da guerra sem anexações nem indenizações por parte dos países beligerantes. Wilson insistia na ideia de que
deveria haver uma paz “sem vencedores nem vencidos”.
França e Inglaterra não aceitaram todos os pontos apresentados pelo presidente estadunidense. A França
exigia reparações de guerra em dinheiro, pressionada pelos vultosos prejuízos que tivera. A Inglaterra era contra a
liberdade total dos mares, uma vez que neles mantinha sua hegemonia.
Em junho de 1919, o Tratado de Versalhes fixava as penas a serem aplicadas aos vencidos. A Alemanha,
considerada a “grande culpada” pelo conflito, foi despojada de um sétimo de seu território, um décimo de sua
população, perdeu suas colônias, viu-se privada do território do Sarre (rico em carvão), foi obrigada a desmilitarizar
a região da Renânia (fronteira com a França) e a restituir o território da Alsácia-Lorena à França, teve seus exércitos
reduzidos para 100 mil homens, seu território foi separado em duas partes por um “corredor” de terras (“corredor
polonês”), que dava acesso para o mar à Polônia, a cidade alemã de Dantzig foi transformada em porto livre e
arcou com o pagamento de uma indenização de 33 bilhões de dólares. Ainda pelo tratado, criou-se oficialmente
a Liga das Nações, encarregada de preservar a paz mundial, desde que Alemanha e a recém-União Soviética
fossem excluídas de sua composição.
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Delegação alemã em Versalles

Um balanço da Primeira Guerra Mundial assinala o deslocamento da supremacia econômica, financeira,


política e militar da Europa para os Estados Unidos. No plano econômico, a guerra destruiu 40% do potencial in-
dustrial europeu e 30% de sua agricultura. No plano financeiro, de credora, a Europa transformou-se em devedora
dos Estados Unidos.
Houve também uma mudança radical no mapa político europeu. Surgiram os Estados independentes da
Hungria, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Polônia, Letônia, Lituânia, Estônia e Finlândia. Vários países tiveram seu
território ampliado ou diminuído.
A Grande Guerra assinalou também o declínio do capitalismo liberal baseado na livre concorrência, ceden-
do lugar, pouco a pouco, ao Estado intervencionista, com a economia passando a ser parcialmente regulada pelo
poder governamental.

Soldado canadense com sequelas dos gases tóxicos

No plano demográfico, a guerra deixou um saldo de aproximadamente oito milhões de mortos e 20 milhões
de mutilados.
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Revolução Russa (1917)
No fim do século XIX, a Rússia possuía 22 milhões de quilômetros quadrados e mais de 150 milhões de habitantes.
Sua principal característica era o gigante atraso econômico em relação aos países da Europa ocidental. Enquanto
Inglaterra, França e Alemanha passavam por um processo acelerado de desenvolvimento urbano e industrial, ado-
tavam regimes constitucionais e avançavam técnica e cientificamente, a Rússia permanecia atrasada econômica,
social e politicamente.
Como país predominantemente agrário e semifeudal, a aristocracia rural e o clero ortodoxo detinham o
controle da terra. Cerca de 40% das terras aráveis pertenciam à nobreza. O processo de industrialização tivera
início apenas no final do século XIX, caracterizando-se por sua extrema concentração em algumas grandes cidades,
como Kiev, Moscou e Petrogrado (atual São Petersburgo), então capital do país.
Essa industrialização tardia, dependente e concentrada produziu, por um lado, uma burguesia fraca e in-
cipiente e, por outro, um proletariado forte, organizado e combativo, que, dadas as suas origens rurais, mantinha
estreitos vínculos com os camponeses. As péssimas condições de vida do proletariado expressavam-se nos baixos
salários, nas jornadas de 11 ou 12 horas de trabalho e nas habitações miseráveis.
Inspirados por ideais iluministas e socialistas, surgiram no país vários partidos clandestinos de oposição à
autocracia czarista. Entre eles estava o Partido Social-Democrata Russo, baseado no socialismo marxista. Em 1903,
a social-democracia dividiu-se em duas facções: os bolcheviques (de bolchenstvo, maioria), liderados por Lenin,
eram revolucionários e defendiam a instauração do socialismo na Rússia com base numa aliança entre operários
e camponeses; e os mencheviques (de menschenstvo, minoria), liderados por Martov, eram revolucionários que
defendiam a aliança com a burguesia e a passagem gradual ao socialismo através de uma política de reformas
progressivas.

Cartaz bolchevique de 1920

Na virada ao século XX e com a construção da ferrovia trans-siberiana, os russos acabaram por se chocar
com o imperialismo japonês, na Manchúria e na Coreia. Essa rivalidade em torno dos mercados asiáticos acabou
por provocar a eclosão da Guerra Russo-japonesa (1904-1905), na qual os russos foram fragorosamente derro-
tados. Pelo Tratado de Portsmouth, o Japão ficou com o Sul da ilha de Sacalina, Port Arthur e o protetorado sobre a
Coreia e a Manchúria. A derrota frente ao Japão deixou clara e pública toda a crise que se escondia sob o manto
da autocracia do czar Nicolau II.
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Trabalhadores organizaram greves e manifestações em todas as cidades importantes. Liderados pelo padre
Gapon, um grupo de mais de três mil trabalhadores e suas famílias reuniram-se para protestar pacificamente diante
do palácio de inverno do czar, em São Petersburgo, a 22 de janeiro de 1905. Os manifestantes queriam entregar
um abaixo-assinado pedindo melhores condições de vida, direito de greve, reforma agrária e convocação de uma
assembleia nacional. Essa manifestação pacífica culminou com o massacre dos manifestantes, recebidos a tiros
pelas tropas da guarda (cossacos), fazendo com que essa data ficasse conhecida como Domingo Sangrento.

Cena do filme Devyatoe yanvarya, de 1925, retratando o domingo sangrento

O massacre de São Petersburgo criou uma onda de indignação pelo país seguida de greves e protestos. Os
marinheiros do Encouraçado Potemkin, ancorado em Odessa, e a guarnição de Kronstadt amotinaram-se. Os
diversos povos de nacionalidade não russa começaram a se movimentar, tornando a situação bastante grave. A
burguesia apoiava a insurreição popular, procurando capitalizá-la com o objetivo de instaurar no país um regime
constitucional e parlamentar. Os sovietes (conselhos de operários, camponeses e soldados) encabeçavam a luta
contra o czarismo. Nesses órgãos, os trabalhadores exerciam um poder ao mesmo tempo executivo e legislativo,
elegendo seus representantes a partir dos locais de trabalho e quartéis, destacando-se o soviete de Petrogrado,
liderado por Trotsky.
Diante da grande onda revolucionária, o czar Nicolau II lançou um manifesto, em outubro de 1905, fazendo
algumas concessões, entre as quais a promessa de uma Constituição que estabeleceria a eleição para o parlamento
(Duma). Tal foi a chamada Revolução de 1905.
Em 1906, reuniu-se a Duma, parlamento controlado pela burguesia e pelos latifundiários, com o objetivo de
redigir uma Constituição para o país.
Apesar dos inquestionáveis avanços oriundos da revolução de 1905, as diferenças entre as facções socia-
listas bolchevique e menchevique tornaram-se mais agudas, pois os bolcheviques, liderados por Lenin, passaram a
defender o partido comunista, mesmo pequeno, era formado por revolucionários profissionais que propagariam o
conceito de uma revolução socialista capaz de destruir o czarismo e o capitalismo simultaneamente. Já os menche-
viques propunham uma revolução por etapas: primeiro, a destruição do czarismo; posteriormente, mediante uma
nova revolução, implantar o socialismo.
Em meio ao cenário de forte agitação política, eclodiu a Primeira Guerra Mundial. A Rússia, participante da
Entente, fez parte da frente oriental da guerra, lutando contra o Reich alemão. Contudo, em condições precárias e
arcaicas de combate, a guerra custou três milhões de mortos, destruíra 25% da indústria e 9% da agricultura do
país e não trouxera nenhuma compensação. A inflação violenta desvalorizava os salários; as empresas nacionais
iam à falência, acentuando ainda mais os descontentamentos sociais.
No início de 1917, a burguesia, apoiada pela esquerda moderada, pressionava o governo do Czar, provo-
cando manifestações de trabalhadores nas ruas; uma greve geral paralisou os transportes na cidade de Petrogrado.
Os gritos por “pão” e abaixo a guerra” transformaram-se em gritos de “abaixo a autocracia”. A polícia era insufi-
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ciente para deter o movimento; o exército foi mobilizado, mas no dia 12 de março, 27 de fevereiro, pelo calendário
russo, os soldados recusaram-se a marchar contra o povo amotinado. No dia seguinte, sem o apoio do exército, o
poder imperial desapareceu com a abdicação do czar.
O Comitê da Duma transformou-se em Governo Provisório após a abdicação oficial do imperador, pre-
sidido por Lvov. Esse governo proclamava as liberdades fundamentais, deu anistia aos presos políticos e exilados
– permitindo a volta de líderes bolcheviques que estavam no exílio, entre eles Trotsky e Lenin. A timidez da política
social do novo governo propiciou o avanço dos bolcheviques. A Rússia ia mal na guerra, e os fracassos provocaram
reações internas, como as manifestações de julho em Petrogrado, logo reprimidas. Sob forte pressão, Lvov cede
lugar a Kerenski, apoiado pelos mencheviques. Os bolcheviques foram novamente perseguidos e Lenin refugiou-se
na Finlândia, enquanto Trotsky, presidente do soviete de Petrogrado, criou uma milícia popular, a Guarda Vermelha.
O Governo Provisório de Kerenski perdia terreno, pois insistia em continuar na Primeira Guerra Mundial,
negava-se a distribuir terras aos camponeses e adiava as eleições para a futura Assembleia Constituinte. Lenin
preparou o povo para uma revolução armada. Na noite de 6 de novembro, 24 de outubro no calendário russo, os
bolcheviques ocuparam os pontos estratégicos de Petrogrado. O encouraçado Aurora bombardeou o Palácio de In-
verno, sede do governo. Abandonado por suas tropas, Kerenski foi obrigado a fugir. Rapidamente, os bolcheviques
ganharam terreno e assumiram o poder, consolidando a Revolução Russa de 1917.
Sem saída, o recém-formado governo soviético, a 3 de março de 1918, assinou o Tratado de Brest-
Litovsky com a Alemanha: a Rússia perdia a Polônia, Finlândia, Estônia, Lituânia e Letônia.Diversos setores apoia-
ram uma contraofensiva contra o governo de Lenin, fazendo com que eclodissse uma guerra civil no país entre o
Exército Branco, formado pelos setores interessados na restauração do Antigo Regime, comandado por militares
ligados ao czarismo, e o Exército Vermelho, que chegou a contar com três milhões de soldados e foi organizado por
Trotsky para lutar pela preservação da nova ordem socialista.
Lenin, então, criou o comunismo de guerra, política que implicou na completa estatização dos bancos,
do comércio exterior e da indústria fabril, assim como a requisição compulsória da produção agrícola, o estabele-
cimento da igualdade de salários e o trabalho obrigatório. Finalmente, em 1921, a guerra civil chegava ao fim com
a vitória do Exército Vermelho e um saldo de nove milhões de mortos.
Os resultados econômicos do “comunismo de guerra” foram desastrosos: a produção declinou, pois os
trabalhadores não estavam habituados a gerir as empresas; a moeda foi inflacionada e o comércio, paralisado. Per-
cebendo o problema, Lenin iniciou, em março de 1921, a Nova Política Econômica, NEP. Como ela contivesse
alguns aspectos do capitalismo, no Ocidente pensou-se que a Rússia voltava à antiga ordem do capital. Na realida-
de, nas palavras de Lenin, tratava-se de uma tática de “dar um passo atrás, para poder dar dois passos à frente”.
Do ponto de vista econômico, a NEP foi um sucesso; fez crescer a produção agrícola e industrial e impulsionou o
comércio. Em 1924, a produção industrial atingiu 50% e a produção agrícola equiparou-se aos índices de 1913.

Lenin e Trotsky em comício


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Anos mais tarde, em 1924, Lenin teve uma morte precoce. Josef Stalin, secretário-geral do Partido Co-
munista, e Leon Trotsky, comissário do povo para a guerra, passaram a travar uma luta ferrenha pelo poder, que
resultou anos mais tarde no assassinato de Trotsky e numa ditadura liderada por Stalin.
A ascensão de Stalin assinalou o início de uma nova política econômica. A NEP foi abandonada e foram
adotados os planos quinquenais. A Gosplan – comissão estatal de planejamento econômico – passou a se encar-
regar da planificação da economia.
Os dois primeiros planos quinquenais estabeleceram dois objetivos básicos: criação de uma indústria pesa-
da e coletivização forçada da agricultura, através da qual a propriedade privada da terra foi substituída por coo-
perativas agrícolas, proprietárias da produção, mas não da terra (kolkhozes), e por fazendas estatais cujas terras,
máquinas e produção eram do Estado (sovkhozes).
Num processo de industrialização acelerado, os planos quinquenais desenvolveram a indústria pesada com
a exploração de petróleo e de carvão e minério de ferro, nos Urais, na Ásia Central e na Sibéria. Em 1940, a eletri-
ficação cresceu cerca de 80% em relação a 1928 e a produção de aço cresceu cerca de 450%, no mesmo período.
Em termos políticos, Stalin implantou um governo centralizado no Partido Comunista. As pessoas do Comitê
Central eram controladas por ele, para o que se criou uma burocracia distante do cotidiano da população humilde.
Esses burocratas formaram uma elite chamada de nomenklatura. Críticos da URSS chamavam-na burocracia de
Estado. Para esmagar a resistência e moldar um novo tipo de cidadão, devidamente motivado e disciplinado, Stalin
implantou um estado totalitário na Rússia. A revolução do totalitarismo englobou toda a atividade cultural: meios
de comunicações, literatura, artes, música, teatro passaram a ser forçados a se submeterem à ideologia soviética.
O Estado soviético exerceu os “grandes expurgos” entre os anos de 1936 e 1938, quando a oposição
interna, bem como membros do próprio Partido Comunista foram afastados, expulsos, eliminados ou presos nos
gulags – espécie de campos de concentração na Sibéria. Stalin permaneceria a frente do Partido Comunista da
União Soviética até 1953, ano de sua morte.

Crise capitalista de 1929


O crescimento econômico norte-americano em alguns setores estratégicos foi impressionante. A produção indus-
trial cresceu 50% entre 1922 e 1929. Foram produzidos 600 mil automóveis em 1928, o que correspondeu a
75% da produção automobilística mundial. Os rádios, cuja produção era mínima em 1920, atingiram 13 milhões
de unidades em 1929. Essa intensificação do ritmo de crescimento da produção norte-americana deveu-se a dois
fatores: aceleração do progresso técnico decorrente da racionalização da utilização da mão de obra (taylorismo e
fordismo) e processo de concentração industrial, que aumentava a capacidade produtiva das empresas pela melhor
utilização dos seus recursos. Por outro lado, os investimentos maciços ampliavam enormemente a produção, permi-
tindo a redução dos preços, bem como os investimentos crescentes dos capitalistas norte-americanos no exterior.
Por todas essas razões, os Estados Unidos concentravam, em 1929, 44% da produção industrial do mundo.
Entretanto, o poder aquisitivo da população não acompanhava esse crescimento industrial. Enquanto o va-
lor dos produtos industriais subiu cerca de 10 bilhões de dólares entre 1923 e 1929, o aumento global dos salários
não foi além de 600 milhões. Nessa situação, com o crescimento dos salários menor que o aumento da produção,
não havia quem consumisse boa parte do que se produzia. Embora se comprasse mais que antes, essa demanda
não acompanhava, na mesma proporção, o aumento da produção. Além disso, os produtores agrícolas, que não
encontravam compradores para seus excedentes, também diminuíam o consumo de produtos industrializados.
De 1920 a 1929, incentivados pela aparente prosperidade, os estadunidenses compraram desenfreada-
mente ações das mais diversas empresas, ações essas que atingiram em pouco tempo cotações altíssimas, muito
maiores que o crescimento real das empresas. No momento em que algumas delas faliram, os proprietários delas
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deram-se conta de terem pagado muito mais por elas do que realmente valiam. Em pânico, todos os investidores
passaram a querer vender suas ações, provocando uma vertiginosa baixa no seu valor.
No dia 24 de outubro de 1929, conhecido como Quinta-feira Negra, a Bolsa de Valores de Nova
Iorque sofreu a maior baixa de sua história. Mais de 16 milhões de ações não encontraram compradores. Esse
episódio foi o estopim para a grande crise e ficou conhecido como o crack da Bolsa de Nova Iorque.
Como a economia norte-americana era o carro chefe do capitalismo mundial, logo a crise fez-se sentir
em todo o mundo. Os Estados Unidos detinham 45% do ouro mundial e eram o grande centro econômico; deles
dependiam para importações e exportações quase todas as nações capitalistas. Somente em 1929, os americanos
haviam emprestado a vários países sete bilhões e 400 milhões de dólares, que reverteram em importações de pro-
dutos americanos. Com a crise, os capitais foram repatriados, reduzindo as importações dos países estrangeiros a
32% do que tinham sido.
O número de desempregados em todo o mundo variou entre 25 e 30 milhões de pessoas, de 1929 a 1933.
Na Inglaterra, onde a exportação diminuiu 70% nesse período, o número de desempregados atingiu 2,7 milhões,
em 1931.
No plano político, as consequências não foram menos significativas. O desemprego tinha profundas re-
percussões sociais e as manifestações contra os governos sucediam-se por toda parte. Os movimentos políticos
pregavam soluções radicais e encontravam numerosos adeptos entre os descontentes. Os partidos socialistas viram
crescer rapidamente suas fileiras. Contra eles surgiram os partidos fascistas – antiliberais e antidemocráticos –, que
defendiam a formação de governos autoritários para reprimir as agitações das massas desempregadas.

Bolsa de valores de Nova York, em 1929

Em tal contexto, o candidato do Partido Democrata à presidência, Franklin Delano Roosevelt, ganhou as
eleições de 1932 com a promessa de restaurar a confiança na economia e na sociedade. Como faziam os políticos
do mundo inteiro na época, fossem os socialdemocratas da Europa, os stalinistas da Rússia ou os populistas da
América Latina, Roosevelt reconheceu que a intervenção estatal massiva era necessária para salvar o sistema eco-
nômico e aliviar o conflito social.
Ao tomar posse em 1933, Roosevelt lançou o New Deal, um pacote de reformas – baseado nas ideias do
economista inglês John Maynard Keynes (keynesianismo) – para promover a recuperação industrial e agrícola,
regular o sistema financeiro e providenciar mais assistência social e obras públicas.
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Dentre as principais medidas implementadas com o New Deal, são consideráveis:
§§ concessão de créditos aos bancos para frear as falências no setor;
§§ criação de um fundo para resguardar os depósitos populares nos bancos;
§§ criação de um banco para financiar as exportações;
§§ concessão de crédito aos fazendeiros endividados;
§§ lançamento de um programa de grandes obras públicas – estradas, casas, sistemas de irrigação, barragens
hidroelétricas – para absorção dos desempregados;
§§ criação do seguro-desemprego;
§§ limitação da jornada de trabalho;
§§ aumento dos salários dos operários;
§§ fixação de um salário mínimo;
§§ ampliação do sistema de previdência social;
§§ proibição do trabalho infantil.
Os resultados decorrentes da aplicação do New Deal não tardaram. O número de desempregados foi re-
duzido de 14 para 7,5 milhões, entre 1933 e 1937; os preços subiram 31%; a produção industrial, 64%; a renda
nacional, 70%; e as exportações, 30%.

O fascismo italiano
A palavra fascismo tem suas origens no termo latino fasci, feixe. Na Roma Antiga representava um símbolo e um
princípio de autoridade. O feixe de varas paralelas, entrecortadas por um machado era um símbolo da autoridade
dos magistrados romanos. O movimento fascista nascido na Itália, no período entre guerras valeu-se dessa simbo-
logia e acrescentou-lhe novos significados.

Benito Mussolini

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Dentre os princípios da ideologia fascista, a despeito de suas vertentes nacionais, destacam-se:
§§ nacionalismo exacerbado – para os fascistas, a nação é o bem supremo; em nome dela qualquer tipo de
sacrifício deve ser exigido dos indivíduos; há de ser cultuada, mistificada, preservada suas origens e mantida
a “pureza” do povo;
§§ racismo – com vistas a “purificar” o elemento nacional de qualquer tipo de “contaminação”, há de se cul-
tuar as origens germânicas (Alemanha e Áustria), latinas (Itália), hispânicas (Espanha), lusitanas (Portugal)
etc.; o racismo alimenta-se do nacionalismo e vice-versa;
§§ expansionismo – necessidade básica para os “povos vigorosos e dotados de vontade”, plenamente justi-
ficado como forma de restabelecer o poderio do Império Romano;
§§ militarismo essencial à expansão e à afirmação do elemento nacional e racial. A vida militar é sinônimo de
cooperação do grupo, inerente aos “povos vigorosos” na marcha para subjugar os “fracos e degenerados”;
reforça os laços entre poder econômico e poder militar e desdobra-se necessariamente no expansionismo;
§§ totalitarismo, submissão de todos aos interesses do Estado forte e inquestionável, catalisador da vontade
nacional, elemento de preservação da identidade da nação; o que conta são os deveres do indivíduo para
com o Estado;
§§ culto à personalidade do líder, guia infalível, encarnação da vontade nacional, zelador da preservação
da vontade nacional, graças à pureza da raça, à integridade do Estado e do partido-Estado; o fanatismo
transforma o culto ao líder em uma apoteose mística, uma vez que o “Duce é infalível”;
§§ unipartidarismo, uma vez que o pluripartidarismo, a democracia e o parlamentarismo são causadores
de dissensão e conduzem à divisão da sociedade; o partido único encarna e preserva a vontade da nação,
confunde-se com o próprio Estado e, por extensão, com a própria vontade nacional;
§§ corporativismo à moda sindical baseavam em corporações, no interior das quais patrões, empregados e
representantes do Estado encarregam-se de planejar a produção e decidir sobre os conflitos entre capital e
trabalho; típico da Itália, o corporativismo assumiu outras características na Alemanha;
§§ anticomunismo, na medida em que se deve preconizar a união e a harmonia das classes em prol do de-
senvolvimento da nação e não a luta de classes como defendiam os comunistas.
Na Itália, diante da agitação social e política e da consequente ameaça de uma revolução socialista, o
fascismo fortaleceu-se com o apoio da classe média e o financiamento de grandes banqueiros, industriais e latifun-
diários. Nas eleições de 1921, o Partido Fascista conseguiu eleger 35 deputados. Os camisas negras, como eram
conhecidos os militantes fascistas, invadiam e destruíam sindicatos, assassinavam líderes socialistas, dissolviam
manifestações espancando os participantes e arrasavam as instalações dos jornais que os criticassem.
Aproveitando a total desorganização do regime parlamentar,o líder fascista Benito Mussolini ordenou aos
camisas negras a Marcha sobre Roma, em outubro de 1922. Cerca de 30 mil fascistas desfilaram pela capital e
exigiram a entrega do poder. O rei Vitor Emanuel III, pressionado por militares, pela alta burguesia e pelos latifun-
diários, convidou Mussolini para ocupar o cargo de primeiro-ministro. Em 1923, Duce, como era conhecido, criou o
Grande Conselho Fascista, composto pelos principais chefes do partido. Ao lado do exército regular, transformou a
milícia fascista (camisas negras) em órgão de segurança nacional, sob o comando do chefe de governo. Um longo
período de repressão e arbitrariedades se iniciou na Itália.
33
Marcha sobre Roma

No âmbito econômico, durante a década de 1930, cresceu a intervenção estatal na economia, que incre-
mentou a indústria bélica italiana. O país militarizou-se, iniciando a escalada expansionista. Em 1935, a Etiópia
foi ocupada pelas forças italianas e, em 1939, foi a vez da Albânia. O país aproximou-se da Alemanha nazista,
assinando, em 1939, com Hitler, o Pacto de Aço, caminho traçado para a Segunda Guerra Mundial.

Nazismo
Nos últimos dias da Primeira Guerra Mundial, uma revolução derrubou o governo imperial alemão e levou à cria-
ção de uma república democrática. O novo governo, chefiado pelo chanceler Friedrich Ebert, um social-democrata,
assinou em 11 de novembro de 1918 o armistício que pôs fim à guerra. Pouco depois, o humilhante Tratado de
Versalhes impunha à Alemanha cláusulas que reduziram sua área territorial e arrasaram sua economia. Comparada
com 1913, a produção industrial diminuíra 57% e a agrícola, 50%. Tal situação de crise propiciava a instauração
do caos político e social.
O setor mais radical do Partido Social-Democrata, a Liga Espartaquista, rompeu com o setor moderado e
fundou o Partido Comunista. Em janeiro de 1919, ocorreu o primeiro levante armado contra a recém-instaurada
República Weimar (1918-1933). A repressão foi imediata e brutal. O Exército e setores voluntários monarquistas
nacionalistas lideraram a repressão. Oficiais de direita assassinaram Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, deixando
seus corpos nos esgotos da cidade.
Prova-se que Weimar nasceria sob o signo da instabilidade.
Embora contivesse uma Constituição em moldes liberais, a qual organizava a República em duas câmaras –
o Reichstag, formado por deputados eleitos, e o Reichsrat, formado pelos representantes dos estados federados –,
a realidade econômica do país não permitia acordo político estável.

Rosa Luxemburgo
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Terminada a Primeira Guerra Mundial, a economia alemã estava arruinada. Durante a guerra, sem poder
aumentar os impostos sobre os ganhos de capital, as finanças foram equilibradas através da emissão monetária.
O grande volume de dinheiro em circulação provocou a desvalorização do marco (moeda alemã): em 1914, um
dólar valia 4,2 marcos e, no início de 1922, 182 marcos. O número de desempregados chegou a cinco milhões de
pessoas; a inflação desvalorizou ainda mais o marco a ponto de um dólar valer oito bilhões de marcos! A confusão
instalou-se. O salário variava no decurso do mesmo dia, enquanto os camponeses recusavam-se a ceder a produção
em troca de papel-moeda, fazendo ressurgir o sistema de escambo.
Nessa situação de ruína econômica, foi fundado em uma cervejaria de Munique um partido semelhante
ao fascista da Itália. Um ano depois, ele assumia o nome de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores
Alemães ou Partido Nazista. Em setembro de 1919, o ex-cabo do Exército alemão, Adolf Hitler, aderiu ao então
minúsculo Partido Nazista. Mostrando uma fantástica energia e uma extraordinária capacidade como orador dema-
gógico, propagandista e organizador, tornou-se rapidamente o líder do partido. Líder, Hitler insistiu na autoridade
absoluta e total fidelidade, exigência que coincidia com o anseio de pós-guerra de um líder forte que consertasse
a nação em ruínas.

Os primeiros anos do Partido Nazista

Em 1923, aproveitando-se do clima geral de insegurança e crise que dominava a República de Weimar,
Hitler liderou uma tentativa de golpe na Baviera, o Putsch de Munique, apoiado por Ludendorff. O golpe fracassou,
Hitler foi preso e condenado a cinco anos de prisão. Mas foi libertado oito meses depois. Na prisão, aproveitou
o tempo para escrever a primeira parte de seu livro Mein Kampf (Minha luta), obra que contém os fundamentos
da ideologia nazista: repúdio ao Tratado de Versalhes, antissemitismo, anticomunismo, nacionalismo exacerbado,
Estado totalitário, unipartidarismo, superioridade da raça alemã (raça ariana), expansionismo (“espaço vital”) e
militarismo.
A incapacidade de o governo parlamentar solucionar a crise econômica contribuiu para a polarização das
forças políticas e para o fortalecimento dos partidos comunista e nazista – financiado por industriais e banqueiros,
temerosos com o crescimento do comunismo.
Nas eleições de 1930, os nazistas elegeram 107 deputados para o Reichstag (Parlamento), com 6,5 milhões
de votos. Em 1932, conquistaram 280 cadeiras, com 13,5 milhões de votos, seguidos do Partido Social -Democrata,
com oito milhões de votos. Assim fortalecido, o partido com um milhão de membros passou a atacar o adversário
com as SA (tropas de choque) e as SS, que somavam 400 mil homens e compunham um exército particular na-
zista. Hitler exigiu e recebeu o cargo de chanceler em 30 de janeiro de 1933. Consumava-se assim a ascensão do
nazismo ao poder.
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Adolf Hitler

Em 27 de fevereiro de 1933, em meio a eleições parlamentares, os nazistas incendiaram o Parlamento


alemão e culparam os comunistas, que foram presos junto com os socialistas e os liberais hostis ao nazismo.
Restabeleceu-se a pena de morte e foram suspensas as garantias individuais e civis. A pretensa conspiração comu-
nista tinha a finalidade de levar os eleitores a votar no Partido Nazista. Os nazistas tiveram 44% dos votos e os
comunistas eleitos (81 deputados) foram excluídos do Parlamento, o que deu aos nazistas maioria absoluta. A 23
de março, Hitler conseguiu do Parlamento o voto que lhe dava plenos poderes.
Começou a aplicar alguns pontos do programa nazista: todos os partidos políticos foram suspensos (exceto
o nazista), os sindicatos foram extintos, os privilégios dos Estados foram diminuídos em favor do poder central,
o direito de greve foi cassado, os jornais da oposição foram fechados, a censura à imprensa foi estabelecida e as
primeiras medidas antissemitas foram postas em prática.

Suástica nazista

Com a morte do presidente Hindenburg, Hitler assumiu o título de führer (guia), acumulando as funções
de chanceler e presidente. Nessas condições, anunciou ao mundo a fundação do Terceiro Reich (Terceiro Império)
alemão. Os membros do Partido Nazista ocuparam todos os cargos da administração pública e a política reduziu-se
às manifestações anuais do partido, os congressos realizados em Nuremberg. O Parlamento, composto somente
pelo partido nazista, reunia-se intermitentemente, dependendo da vontade de Hitler de convocá-lo. Foi a consoli-
dação do totalitarismo alemão.
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Guerra civil espanhola (1936-1939)
Um fato colaborou com as tensas relações que antecederam a Segunda Guerra Mundial: a guerra civil deflagrada
entre fascistas e republicanos na Espanha. Como toda a península Ibérica, esse país era atrasado e predominante-
mente agrário até o início do século XX, quando teve início seu processo de industrialização. Nos primeiro anos da
década de 1930, a Espanha já possuía nas cidades uma parcela de sua população vinculada ao desenvolvimento
industrial, que exigia mudanças no antigo regime.
Em 1931, o rei Afonso XIII, pressionado pelas camadas urbanas que exigiam a República, abdicou. Esta-
beleceu-se então um governo comandado pela burguesia liberal. O crescimento das reivindicações populares, o
anticlericalismo, a autonomia das regiões economicamente mais adiantadas (Catalunha e províncias bascas), a
reação dos antigos setores dominantes na sociedade espanhola levaram o país a um impasse. Surgiu nessa época
um pequeno partido de características fascistas, denominado Falange.
Para as eleições gerais de 1936, anarquistas, comunistas, socialistas radicais, socialistas moderados, em-
presários liberais e minorias nacionais da Catalunha e províncias bascas formaram a Frente Popular. Vitoriosos nas
eleições, os partidos da Frente procuraram efetivar várias reformas sociais prometidas em campanha. O presidente
eleito, Manuel Azaña, anistiou 30 mil presos políticos, retomou a reforma agrária, deu autonomia à Catalunha e
implementou a reforma da educação.
Em 18 de julho de 1936, o general Francisco Franco deu início a um levante contra o governo republica-
no. Recebeu a adesão da Falange, de latifundiários, dos banqueiros, dos industriais, da maior parte da classe média
e de amplos setores da Igreja, à exceção do clero catalão e basco. Do lado do governo republicano legalista esta-
vam operários, camponeses, catalães, bascos, pequenos industriais, enfim, todos que acreditavam na democracia.
Como tentativa de se defender, em outubro de 1936 o governo republicano decretou a formação de um exército
popular. Começava assim a Guerra Civil Espanhola.

General Franco, já nos anos 1960

Os falangistas, por sua vez, comandados por Francisco Franco, contaram com amplo apoio da Alemanha
e da Itália. Fascistas e nazistas auxiliaram as forças nacionalistas – como ficaram conhecidos os comandados por
Franco –, através de homens e de ajuda material e bélica.
A partir de fevereiro de 1937, o avanço das tropas nacionalistas, auxiliadas pelos nazistas e fascistas, foi
mais violento. Tropas italianas tomaram Málaga. Em março de 1937, a aviação alemã, a famosa Legião Condor,
bombardeou a pequena cidade de Guernica, na região basca. A intervenção da Itália e da Alemanha foi decisiva, al-
terando a correlação de forças da luta e transformando a Espanha em um campo de testes dos novos armamentos.
A guerra civil terminou em 1939, quando os rebeldes conquistaram Madri, restabeleceram a Monarquia e
impuseram um governo de tendências fascistas liderado por Franco. Em três anos de guerra civil, o saldo de morte
chegou a um milhão. Surgia assim mais um país totalitário na Europa.
37
Combatentes republicanas

Como a ditadura de Franco era extremamente centralizadora, catalães e bascos passaram a utilizar o es-
porte como trincheira nacionalista – clube do Atlético de Bilbao, onde só jogam atletas bascos ou de ascendência
basca; parte da torcida do Barcelona (Catalunha) considera seu clube um símbolo do ideal da autonomia catalã.
Durante a Segunda Guerra Mudial, o governo fascista de Franco não inseriu oficialmente a Espanha ao Eixo
e à Alemanha, mas apenas como simpatizante, bem como durante a Guerra Fria, associou-se aos Estados Unidos
na luta contra o socialismo soviético. Esse governo manteve-se no poder até a década de 1970.

A Segunda Guerra Mundial (1939-1945)


Entre os anos de 1939 e 1945, o mundo foi envolvido por um conflito de grandes proporções, que ultrapassou
as fronteira da Europa, tendo como pano de fundo a concorrência imperialista entre o capitalismo industrial mo-
nopolista inglês e francês em contraposição ao alemão, japonês e italiano, acrescido da óbvia divergência entre o
capitalismo e o socialismo da recém-criada URSS. O imperialismo permite afirmar que a Segunda Guerra Mundial
é uma continuação da Primeira, pois as disputas por mercado consumidor entre a burguesia da antiga Entente
contra a burguesia do extinto II Reich alemão não foram solucionadas com o término do conflito militar em 1918.
Em 1939, os blocos militares eram os Aliados, formados pela Inglaterra e a França, acrescidos pelos Estados Unidos
e pela União Soviética, em 1941: e o outro bloco bélico era o Eixo, formado pela Alemanha, Itália e Japão.
Na década de 1930, Hitler aproveitava-se das questões internacionais para ampliar seu sistema de alianças.
Aproximou-se da Itália em 1935, prestando-lhe ajuda econômica durante o embargo econômico aplicado pela Liga
das Nações por causa da invasão da Etiópia. Juntamente com Mussolini, apoiou Francisco Franco na Guerra Civil
Espanhola, de 1936 a 1939, aproveitando para testar a eficiência de seus tanques e aviões. Assinou com o Japão
o Pacto Anti-Komintern, em novembro de 1936, destinado a conter a União Soviética e a ação da Internacional
Comunista. A Itália, a Hungria e a Espanha aderiram ao pacto. Ao mesmo tempo, Hitler aproximava-se da Itália e
Mussolini proclamava o Eixo Roma–Berlim.
38
Hitler e Mussolini
O III Reich germânico não aceitava as imposições do Tratado de Versalhes e passou a mostrar sinais de
ambicionar um crescimento bélico e territorial, principalmente sobre o corredor polonês, embora o próprio Tratado
de Versalhes proibisse o militarismo alemão.
Foi nesse contexto que o parlamento britânico elaborou um plano diplomático chamado de Política de Apa-
ziguamento, que se caracterizava pela “permissão” de um relativo crescimento bélico alemão que teria o intuito
de barrar um possível avanço do socialismo soviético, ou seja, o Estado inglês queria que o nazismo defendesse
a civilização ocidental da “barbárie” comunista. Como resultado, Hitler conseguiu fortalecer-se e passou a buscar
o controle territorial de parte da Europa Central que ele chamava de “espaço vital”, apoiado veladamente pela
Inglaterra e pela França na formação do III Reich. Antes da Segunda Guerra Mundial começar, a Alemanha já tinha
anexado a Áustria (Anschluss) e a Tchecoslováquia, cuja invasão foi legalizada pela Conferência de Munique, em
setembro de 1938.
Para posterior desespero dos Aliados, Hitler e Stalin resolveram criar o Pacto de não agressão Germano-
-soviético. Esse acordo permitiria que, no futuro, a Alemanha pudesse invadir seus inimigos europeus ocidentais
(a oeste) sem dividir seu exército, pois estaria em “harmonia” com sua inimiga URSS (a leste). Também conhecido
como Ribbentrop-Molotov, esse pacto ajudaria o governo de Stalin, pois a União Soviética não tinha estrutura
militar que pudesse protegê-la de um ataque nazista.
Na década de 30, já era nítido que outra guerra de grandes proporções se aproximava. As causas da Segun-
da Guerra podem ser resumidas em tais pontos:
§§ O comportamento revanchista das nações vencedoras da Primeira Guerra Mundial, especialmente da Fran-
ça em relação à Alemanha, contou com vencidos desgastados pela guerra e sobrecarregados com seus
compromissos financeiros para com os vencedores (indenizações e reparações). Cresciam seus problemas
econômicos e sociais. Na Itália e na Alemanha, o descontentamento da população deu oportunidade ao
surgimento de partidos totalitários – fascista e nazista –, culminando com a implantação de Estados milita-
ristas e expansionistas, com forte apelo nacionalista.
§§ A crise de 1929 e suas graves consequências políticas e sociais em quase todos os países da Europa: em
razão de sua amplitude internacional, reduziu o mercado consumidor de todas as nações capitalistas. Os
países atingidos pela grande depressão procuraram defender seu mercado interno da concorrência estran-
geira através da elevação das tarifas alfandegárias. Esse nacionalismo econômico intensificou as lutas pelo
domínio dos mercados entre as várias potências imperialistas.
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§§ O surgimento de governos totalitários, militaristas e expansionistas: a partir de 1930, quando os efeitos da
recessão econômica repercutiram em todo o mundo, iniciou-se o expansionismo de alguns países imperia-
listas. A Itália ocupou a Etiópia, em 1935, situada no Nordeste da África. A Alemanha, desrespeitando o
Tratado de Versalhes, remilitarizou a região da Renânia, em 1936, e anexou a Áustria a Tchecoslováquia,
em 1938. O Japão, no segundo semestre de 1931, partiu para a conquista da Manchúria – que pertencia à
China –, começando assim a penetração naquele país dominado pelo governo de Chiang Kai-shek.
§§ O fracasso da Liga das Nações: ao longo da década de 1930, o mundo contava com a Liga das Nações,
órgão internacional que tinha por objetivo manter a paz e a ordem entre os diversos países. No entanto,
Inglaterra e França dominaram o organismo, direcionando as decisões de conformidade com seus interesses.
Quando algum país menos importante era agredido, as decisões da Liga das Nações eram quase sempre
brandas em relação aos agressores. França e Inglaterra temiam gerar conflitos com as potências expansio-
nistas. Dessa forma, inúmeras vezes as pequenas nações foram sacrificadas.
Nesse contexto, o cenário da guerra já estava criado e, em 1º de setembro de 1939, as forças bélicas de
Hitler invadiram o corredor polonês da cidade de Dantzig, hoje Gdansk. Em resposta, o governo inglês, mais bem
preparado, decretou guerra à Alemanha; em 1940, com a blitzkrieg (guerra relâmpago), invadiu a Dinamarca, a
Noruega, a Holanda, a Bélgica e a França. Diante dessa inusitada realidade, os exércitos francês e inglês foram
obrigados à Retirada de Dunquerque e a fugirem para a Grã-Bretanha.

Pacto de não agressão Germano-Soviético

A França foi dividida em duas áreas, o Sul continuou, supostamente, independente com a República de
Vichy liderada pelo general francês Pétain, que não demonstrou resistência à ascensão de Hitler, por isso mesmo
foi considerado seu colaborador; já o norte foi completamente ocupado pelas tropas nazistas, que passaram a
administrá-lo. As tropas francesas fixadas em solo inglês foram lideradas pelo general Charles de Gaulle. É im-
portante salientar que De Gaulle também utilizava emissoras inglesas de rádio de ondas curtas para ser ouvido,
reservadamente, por membros da Resistência e, com isso, articular ações contra o domínio germânico.
Paralelamente se agravavam as tensões entre os Estados Unidos e o Japão, na Ásia e no Pacífico. Em 1941,
prosseguia a Guerra Sino-japonesa. Com a queda da França, o Japão promoveu a ocupação da Indochina Francesa.
Em novembro, o governo norte-americano decretou o embargo comercial ao Japão e exigiu a imediata evacuação
da China e da Indochina. Em 7 de dezembro de 1941, enquanto prosseguiam as negociações diplomáticas entre
os dois países, o Japão atacou sem prévia declaração de guerra a base naval americana de Pearl Harbor, no Havaí.
Logo depois, a Alemanha e a Itália declaravam guerra aos Estados Unidos.
40
Pearl Harbor
O ano de 1941 marcou a mudança do curso da guerra. O Eixo, até então imbatível, tomou duas decisões
nefastas para a continuidade do seu domínio: invadir a União Soviética e atacar a base norte-americana de Pearl
Harbor, no Pacífico, pelo Japão.
Após o fracasso na Batalha da Inglaterra, a Alemanha resolveu ocupar a URSS em busca de reservas de
matéria-prima e de petróleo, no Cáucaso, e aniquilar o que os nazistas consideravam a suposta raça inferior dos
eslavos. Em razão disso, a invasão foi chamada de Operação Barbarossa (Barba Ruiva). Pretendia também destruir
o comunismo representado pelo governo de Stalin. Hitler acreditava que venceria a União Soviética em semanas
ou meses, mas experientes generais alemães, como Rommel, sabiam que seu exército possivelmente seria derrota-
do. Hitler estava cometendo os mesmos erros de Napoleão Bonaparte. Foi o que realmente ocorreu, uma vez que,
utilizando a tática da terra arrasada e o extremo frio, o Exército Vermelho aniquilou as forças alemãs em 1943 e
passou a atacar a Alemanha. Por isso a Batalha de Stalingrado foi “o começo do fim da Alemanha”.
Após a Batalha de Stalingrado, a Alemanha foi perdendo grande contingente de tropas no leste em razão do
incisivo avanço soviético, que fez diminuir o poder germânico no canal da Mancha. Consequência: o alto comando
aliado europeu ocidental, nas mãos do general norte-americano Eisenhower, reuniu tropas norte-americanas, in-
glesas e francesas e penetrou no território europeu, libertando a França no episódio que se tornou conhecido como
o Dia D, 6 de junho de 1944, quando as tropas aliadas desembarcaram na Normandia.

A Batalha de Stalingrado

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Enquanto isso, em janeiro de 1945, a Polônia fora libertada pelos russos, que logo depois realizaram a jun-
ção de suas tropas com as americanas às margens do rio Elba. Com o suicídio de Hitler, a conquista de Berlim pelo
Exército Vermelho e a queda do III Reich, em maio de 1945 terminava a guerra na Europa.

O Holocausto

Quando já era iminente a derrota do III Reich, Inglaterra, EUA e URSS reuniram-se em Ialta, na Crimeia,
às margens do mar Negro. Nesse encontro foi fixada oficialmente a Linha Curzon como fronteira entre a União
soviética e a Polônia, e foram cedidas aos soviéticos as regiões ocupadas quando da partilha, em 1939; em com-
pensação, a Polônia receberia a leste os territórios alemães até as margens do rio Oder. Decidiu-se também que
Estados Unidos, a União Soviética e a Inglaterra manteriam controle sobre os países libertados da Europa oriental
e que a Alemanha seria dividida em zonas de ocupação sob a direção de um Conselho Aliado.
Outra decisão importante, com a anuência do presidente Roosevelt, foi transformar os países da Europa
oriental em área de influência da União Soviética. Finalmente se estabeleceu a intervenção da União Soviética na
guerra contra o Japão em troca de Port Arthur, ao sul de Sacalina e das ilhas Kurilas. Pela relevância de suas deci-
sões e pelas consequências que produziu no pós-guerra, a Conferência de Alta foi considerada a mais importante
da Segunda Guerra Mundial.

Stálin

A Guerra não havia acabado. No Pacífico, apesar do inequívoco recuo, o Japão relutava em se render, pois
acreditava que a derrota seria um martírio religioso, já que o imperador Hirohito era considerado Deus. Em razão
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disso, muitos pilotos japoneses transformaram-se em kamikazes e praticaram o suicídio bélico, utilizando seus
aviões como mísseis para melhor se chocar contra os navios norte-americanos. Foi nesse contexto que o presidente
norte-americano Harry Truman autorizou o bombardeio atômico em Hiroshima (6 de agosto de 1945), cuja bomba
foi intitulada de Little boy, e em Nagazaki (9 de agosto de 1945). À época, argumentava-se que o lançamento das
bombas seria a única maneira de findar com as esperanças japonesas. Contudo, muitos historiadores acreditam
que a real causa das detonações esteja relacionada à antecipação da Guerra Fria, já que os EUA queriam anular a
ascensão das forças socialistas soviéticas.
Com a rendição japonesa, em 2 de setembro de 1945, a Segunda Guerra Mundial terminava e com ela
a hegemonia europeia sobre o mundo, que assistiu ao surgimento de uma nova ordem mundial dominada pela
Guerra Fria.

Organização das Nações Unidas (ONU)


Com o término da Segunda Guerra Mundial, a Europa Ocidental perdeu o poder hegemônico sobre as relações
internacionais. Sua política imperialista entrou em decadência e o mundo foi submetido a uma nova ordem mundial
baseada na expansão e na disputa pela hegemonia econômica, militar e política das novas superpotências: Estados
Unidos e União Soviética, chamada Guerra Fria. Contudo, esse novo modelo de relacionamento internacional se
diferenciava dos anteriores, pois o embate não se dava somente por controle de territórios e riqueza, mas também
pela confirmação ideológica entre capitalismo e socialismo, acrescida por uma monstruosa construção de arsenais
nucleares que colocaria em risco a existência da humanidade.

ONU em 1948

Já no início dessa nova era, a ONU (Organização das Nações Unidas) foi criada em 1945 com o objetivo de
reorganizar as relações internacionais de modo a superar os acordos militares secretos entre os países para ins-
taurar reuniões que abrangessem os interesses das nações e fossem discutidos livremente entre todos os Estados
membros. Com isso, as soluções de caráter pacífico nasceriam democraticamente e com mais viabilidade. Em abril
de 1945, vários representantes de países reuniram-se na cidade norte-americana de São Francisco e, evitando os
erros da antiga Liga das Nações, resolveram criar uma instituição que viabilizasse a paz mundial e ao mesmo tempo
se preocupasse com os problemas sociais e de cidadania. A partir dessa Conferência, a ONU passou a contar com
192 países membros, da qual o Vaticano participaria apenas como observador, que se reúnem em Assembleia Geral.
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Apesar do suposto aspecto democrático da ONU, uma vez que ela representa quase todos os países do
mundo, transmitindo a impressão de que a é comandada segundo os interesses dessas nações, na realidade o
poder de decisão está concentrado nas mãos dos cinco Estados fixos do Conselho de Segurança. Esse conselho
constitui-se de fato na autoridade máxima, pois, ao ter o poder de veto, possibilita que a decisão de um único
país tenha o poder de anular as decisões da Assembleia Geral. Os cinco países fixos do Conselho são EUA, Rússia
(antiga URSS), Inglaterra, França e China.

Guerra Fria
Guerra Fria é a designação atribuída ao período histórico de disputas políticas, econômicas, ideológicas, tecno-
lógicas, estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendido entre o
final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991).
Temendo a penetração soviética no Mediterrâneo oriental e ciente da fragilidade da Inglaterra nessa re-
gião, em março de 1947 o presidente Harry Truman promulgou a Doutrina Truman: “Os Estados Unidos devem
ter como política apoiar os povos livres que estejam resistindo às tentativas de subjugação por parte de minorias
armadas ou de pressões externas”. Essa doutrina foi a peça central da nova política de contenção – de manter o
poder soviético dentro de suas fronteiras. Os Estados Unidos logo forneceram apoio militar e econômico à Grécia
e à Turquia, e a política externa norte-americana sofreu uma profunda inversão: o isolamento anterior à grande
guerra deu lugar a uma vigilância mundial contra qualquer esforço soviético de expansão.

Truman e seu gabinete

A Doutrina Truman tornou-se real quando, em junho de 1950, eclodiu uma guerra entre as duas Coreias. O
norte, socialista e governada por Kim II Sung, apoiado pela URSS e pela China maoísta, não aceitou a divisão da pe-
nínsula e atacou a Coreia do Sul, que foi defendida pelas tropas norte-americanas lideradas pelo general McArthur.
Para evitar que o conflito desembocasse numa Terceira Guerra Mundial, em 1953 foi declarado o cessar-
-fogo de Panmunjon, mantendo o paralelo 38 como linha divisória dos dois países. Seul tornou-se capital de um
Tigre Asiático, e Pyongyang tornou-se uma ditadura de economia pobre, governada por Kim Jong-un, colocando em
risco a frágil paz da região através de um belicismo atômico.
No âmbito econômico, os Estados Unidos deram um importante passo rumo ao fortalecimento e poder so-
bre o Ocidente. O secretário de Estado George Marshall anunciou um formidável programa de auxílio econômico à
Europa, cujo nome formal era Programa de Recuperação Europeia, mundialmente conhecido como Plano Marshall.
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O Plano Marshall surgiu para proteger os interesses do capitalismo, principalmente na Europa ocidental e no
Japão, pois essas áreas estavam com seus parques produtivos destruídos devido à Segunda Guerra Mundial; conse-
quentemente, o desemprego era muito grande ao lado de todos os problemas gerados por essa situação, criando,
assim, condições para que movimentos dissidentes surgissem, particularmente para a difusão dos de esquerda.
Para revitalizar os países socialistas, a URSS criou o Comecon, que se estruturou através de planos estatais
quinquenais, foi integrado à economia dos Estados socialistas e serviu como máquina política para perseguir oposi-
cionistas dentro do Leste europeu; entretanto, como a Segunda Guerra Mundial destruiu a infraestrutura soviética,
o Comecon não suplantou o dinamismo do Plano Marshall.

Stálin e Mao Tsé-Tung


Nos aspectos relacionados à inteligência, à espionagem, os Estados Unidos e a União Soviética dinamiza-
ram respectivamente a CIA (Agência de Inteligência dos EUA) e a KGB (Comitê de Segurança do Estado Soviético)
a ponto de se criar um clima de “caça às bruxas” tanto nos assuntos externos como internos.
Nos Estados Unidos, essa caça às bruxas deu origem ao macarthismo, cujo autor, o senador Joseph
McCarthy, disseminou perseguições sem provas de supostos inimigos internos dos EUA. inúmeros cidadãos pas-
saram a ser considerados espiões, principalmente artistas de Hollywood, como Charles Chaplin entre outros. Na
União Soviética, a “caça às bruxas” consolidou o stalinismo, a estrutura estatal burocrática e policialesca através
dos gulags, campos de trabalho forçados, criados após a Revolução Bolchevique de 1917 para abrigar criminosos
e “inimigos” do Estado.
Durante a Guerra Fria, a corrida espacial foi um campo fértil de disputa entre os dois países. Os projetos de
viagem ao cosmo representavam a real disputa ideológica de que a tecnologia de uma superpotência era superior
à da outra, além do fato de que o foguete que se desloca ao espaço aperfeiçoa a tecnologia usada nos mísseis
balísticos que transportam ogivas nucleares de um continente a outro.

Yuri Gagarin e Neil Armstrong

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No primeiro momento, a corrida espacial foi vencida pela URSS, pioneira ao lançar com sucesso o primeiro
satélite artificial chamado Sputnik, em 1957, enviar a cadela Laika como primeiro ser vivo a viajar pelo espaço e,
principalmente, por promover a primeira viagem sideral de um cosmonauta, Yuri Gagarin, em 1961, na nave Vostok I.
Em 1963 levou ao espaço a primeira mulher, a cosmonauta Valentina Tereshkova.
Os Estados Unidos somente conseguiram melhorar sua performance quando a NASA passou a ser assesso-
rada por Wernher Von Braun, ex-chefe do órgão militar alemão criador de bombas V-2 que destruíram grande parte
de Londres na Segunda Guerra Mundial. Von Braun liderou a criação dos foguetes Saturno e, em 1969, à frente da
Apollo 11, o astronauta norte-americano Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar a Lua.

Os Estados Unidos durante a Guerra Fria


Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tiveram um surto de desenvolvimento em várias áreas, como o
baby boom populacional; entretanto, vários problemas afloraram e foram exaustivamente discutidos, principalmen-
te na década de 1960. Os presidentes continuavam a ser livremente eleitos, sejam do partido Democrata ou do Re-
publicano, mas todos sempre administravam numa ótica imperialista de confirmação do poderio norte-americano
como grande nação capitalista do mundo.
Ainda no final da Guerra e após a morte de causas naturais de Roosevelt, o vice-presidente Harry Truman
(1945-1953) assumiu a faixa presidencial e esboçou a Guerra Fria, ao autorizar o bombardeio de bombas atômi-
cas sobre o Japão e ao aumentar o militarismo ao formular a Doutrina Truman. O próximo presidente eleito foi o
republicano general Dwight Eisenhower (1953-1961), que manteve o conservadorismo de Truman, a Guerra Fria;
entretanto, iniciou timidamente o questionamento acerca da severa segregação racial nos estados do Sul, se bem
existisse em todos os EUA, ao autorizar o estudo de negros ao lado dos brancos em algumas escolas, o que revoltou
agremiações racistas como a Ku Klux Klan.
O próximo presidente eleito foi o democrata John Kennedy (1961-1963), que derrotou o republicano
Nixon e iniciou um governo marcado pela exploração do imaginário popular. Aperfeiçoou o marketing político,
promoveu um personalismo festivo em torno do casal presidencial, particularmente em torno da primeira-dama,
Jacqueline Kennedy, incentivou a corrida espacial, enfim, investiu no nacionalismo americano. Entretanto, foi figura
central de fatos que mostram prepotência e autoritarismo, como a tentativa fracassada de invadir a baía dos Por-
cos, em Cuba, em 1961, provocando um dos momentos mais tensos da Guerra Fria: a crise dos mísseis atômicos.
O mundo ficou muito próximo de uma guerra nuclear. Também pesa sobre os ombros desse governo o início do
acirramento dos atritos que geraram a Guerra do Vietnã.

Krushchev e Kennedy

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O vice-presidente Lyndon Johnson (1963-1969) assumiu o governo em 1963 após o assassinato de Ken-
nedy. Durante seu governo, o envolvimento norte-americano na Guerra do Vietnã atingiu o ponto culminante: dos
55 mil soldados em 1965 passou a 550 mil em 1968. Mesmo assim se tornou evidente a impossibilidade de uma
vitória militar decisiva dos americanos no conflito do Sudeste asiático.
O próximo Presidente da República foi o republicano Richard Nixon (1969-1974), que manteve a inimi-
zade política com a URSS. Entretanto, iniciou uma série de conversações, promovendo a détente, uma distensão
militar que foi amenizando as relações da Guerra Fria e gerou um tímido sinal verde à busca pela paz. Em seu
governo teve início a retirada gradual das tropas americanas do Vietnã, houve o reconhecimento diplomático da
China e a busca de um entendimento global com a União Soviética. Contudo, a trajetória do presidente Nixon ficou
irremediavelmente manchada devido ao escândalo Watergate, que provocou sua renúncia em 1974. O escândalo,
investigado por jornalistas do jornal Washigton Post consistiu numa operação secreta e ilegal promovida pelo
presidente, que usou a máquina de inteligência governamental para espionar as reuniões do partido democrata
durante a campanha para a Presidência da República. Após a renúncia de Nixon, a presidência foi entregue ao
parlamentar republicano Gerald Ford (1974-1977) numa espécie de mandato tampão, pois Ford foi derrotado
na eleição presidencial seguinte pelo democrata Jimmy Carter (1977-1981), que praticou uma política externa
voltada para o não financiamento de algumas ditaduras na América latina.
O ex-ator de Hollywood Ronald Reagan foi eleito para o mandato de 1981 a 1989. Anticomunista feroz,
Reagan ocupou a Casa Branca com intenção de acelerar a contenção do comunismo mundial e posicionou-se con-
trário à política de desarmamento nuclear que governos americanos haviam negociado nos anos 1970. Propôs um
ambicioso programa chamado “Guerra nas Estrelas” – uso de lasers e satélites para proteger os Estados Unidos de
mísseis soviéticos. A oposição massiva de europeus e americanos ao acirramento das relações entre os dois super-
poderes resultou na retomada de negociações em 1983. Reagan administrou os Estados Unidos no momento em
que a Guerra Fria chegava ao fim com a desagregação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Na política interna, Reagan introduziu uma política neoliberal. Impostos foram cortados em 25% e regula-
mentações da economia, do meio ambiente e do direito do consumidor foram desmanteladas. Cortes sucessivos
nos programas sociais voltados apara a população carente caminharam ao lado de acordos de livre comércio ne-
gociados em nível internacional para abolir restrições à expansão de mercados internacionais.

A União Soviética durante a Guerra Fria


Stalin morreu em 1953, depois de uma sangrenta ditadura de 25 anos. Após um período de incerteza política, o
poder foi assumido por Nikita Krushchev, que, em 1956, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviéti-
ca, fez uma estarrecedora denúncia dos crimes de Stalin e do culto à personalidade praticado pelo ditador falecido.
Krushchev deu então início a um processo de “desestalinização” que pôs fim ao terror de Stalin: as exe-
cuções sumárias e os campos de trabalho forçado foram suprimidos e a ação da polícia política tornou-se menos
opressiva. Não obstante, a estrutura totalitária do poder foi mantida, assim como o controle sobre os países satéli-
tes da URSS. Nesse contexto, uma tentativa dos húngaros em se libertar do jugo soviético foi afogada em sangue,
em 1956. No governo de Kurshchev, a Guerra Fria foi levada ao seu limite crítico com a Crise dos Mísseis de Cuba,
em 1962.
Apesar de incentivar a coexistência pacífica, Kruschev teve papel marcante na crise dos mísseis atômicos
em Cuba em que colocou o governo norte-americano de Kennedy em dificuldades . É interessante notar que essa
crise foi solucionada com a retirada dos mísseis soviéticos da ilha cubana e, em contrapartida, com a retirada,
pelos Estados Unidos, de seus mísseis nucleares da Turquia. Essa solução foi vista pelo Politburo5 soviético como
um fracasso, que, somado à oposição da nomenklatura e dos militares, provocou a queda de Kruschev num golpe
branco em 1964.
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O secretário-geral escolhido Leonid Brejnev (1964-1982), que revitalizou muitos aspectos do stalinismo,
manteve a coexistência pacífica implantando a détente, que abriu caminho para a salutar negociação sobre armas
nucleares com a criação do Plano Salt (Tratado de Limitação de Armas Estratégicas) junto aos EUA.

Brejnev e Nixon
Em 1982, Brejnev faleceu e foi sucedido por Yuri Andropov (1982-1984), dirigente da KGB. Naquele mo-
mento, a economia soviética estava em declínio devido à burocratização dos planos quinquenais, aos privilégios da
nomenklatura e ao militarismo exagerado da Guerra Fria, à defasagem na criação de novas tecnologias do parque
industrial e do campo. Nem Andropov resolveu esses problemas estruturais nem seu sucessor Konstantin Cher-
nenko (1984-1985). Mikhail Gorbachev (1985-1991) governou a União Soviética tentando revitalizar sua estrutura
econômica através da Perestroika (reconstrução), utilizando-se de elementos de caráter liberal com a gradativa
diminuição do poder estatal sobre a economia, permitindo a implantação de empresas privadas, e da Glasnost
(transparência), aceitando uma relativa liberdade de imprensa e partidária. Gorbachev passou a sofrer a oposição
da nomenklatura e dos altos oficiais das Forças Armadas, que tentaram promover um golpe branco, mantendo-o
numa prisão domiciliar; entretanto, a população russa reagiu a essa tentativa de golpe.

Gorbachev

Bóris Yeltsin não apoiou a queda de Gorbachev, pois tinha interesses pessoais de poder, usando a solida-
riedade à parcela da população que era contrária à queda de Gorbachev em seu próprio benefício. Com sucesso
isolou politicamente a nomenklatura e os generais. Yeltsin considerava a Perestroika e a Glasnost muito lentas e
não aceitou a autoridade do secretário-geral Gorbachev, passando a tomar decisões governamentais na Rússia,
tornando-a independente da URSS e aproximando-se do ideal de separação das repúblicas bálticas da Letônia,
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Estônia e Lituânia. Quando Gorbachev percebeu que não possuía mais nenhum poder, restou somente a tarefa de
assinar o documento que selou o fim da União das Repúblicas socialistas Soviéticas, em dezembro de 1991.

Yeltsin durante a tentativa de golpe que acelerou o fim da URSS

Descolonização da África e da Ásia


Desde o século XIX, o imperialismo, particularmente inglês e francês, fez dos continentes africano e asiático seu
alvo, transformando seus vastos territórios em colônias. Após a Segunda Guerra Mundial, os povos africanos e asiá-
ticos iniciaram um longo processo de descolonização com o objetivo de alcançarem as suas independências. Contu-
do, em muitas regiões, a soberania não significou necessariamente uma melhoria no padrão de vida da população,
pois a exploração agora estava nas mãos de uma elite regional e das duas novas superpotências: Estados Unidos
e União Soviética. O processo de descolonização foi legitimado internacionalmente pela Carta de São Francisco,
que criou a ONU e proclamou o direito dos povos se auto govenarem (princípio da autodeterminação dos povos).

Independência da Índia (1947)

Ghandi

A independência da Índia representou um marco no processo de descolonização. Dominada pelos ingleses desde o
século XVIII, somente no século XIX, por volta de 1885, teve início um movimento nacionalista, impulsionado por
minorias intelectualizadas cuja educação fora propiciada pelos ingleses.
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O grande líder do movimento de emancipação foi Mahatma Gandhi, um advogado de formação europeia,
que tinha por princípio a não violência, a resistência passiva aos dominadores e a desobediência civil. Após a
Grande Guerra, o movimento intensificou-se e ganhou a adesão das massas, nem sempre respeitando os princípios
pacifistas de Gandhi. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1947 a Inglaterra outorgou a independência
ao país, mas, diante da cisão entre os hindus e os muçulmanos, repartiu o território, que foi dividido em Índia e
Paquistão, ficando a Índia no centro e o Paquistão Oriental separado do Paquistão Ocidental por mais de 1,7 mil
quilômetros. A divisão foi seguida por deslocamentos maciços de população e confrontos sangrentos entre hindus
e muçulmanos. A ilha do Ceilão, atual Sri Lanka, formou um terceiro Estado, budista.
Em 1971, o Paquistão Oriental separou-se do Ocidental com o apoio da Índia e passou a se chamar
Bangladesh. Atualmente, Índia e Paquistão, que possuem bombas atômicas, estão em estado de guerra por ques-
tões territoriais na Caxemira, entre outros fatores.
Vale salientar que a inspiração sobre a não violência defendida por Gandhi originou-se do fato do hindu-
ísmo, segundo o qual somente as ações nobres elevariam o espírito humano para as castas superiores depois da
ressurreição. Gandhi foi assassinado em 1948 por um fanático hindu que não concordava com sua política de
respeito aos interesses dos muçulmanos.

Independência da Indochina (1949)


A Indochina, formada por povos distintos, foi ocupada pelo segundo império francês, que, na época, não tinha
uma política colonial para a Ásia. Com a aplicação dos capitais excedentes, deram inicio à exploração das jazidas
minerais, à produção de chá em grandes plantações, exportado para a França, e à construção da rede telegráfica.
O Vietminh, Movimento de Libertação Nacional da Indochina, nasceu em 1914, na região fronteiriça entre
a China e a Indochina, liderado por setores da burguesia e intelectuais.
Em 1930, o Partido Comunista Indochinês foi criado por Ho Chi Minh, que havia militado na França, na
Rússia e depois na China, onde, em 1925, fundou o Partido da Juventude Revolucionária. O Partido Comunista
Indochinês fez alianças com a burguesia dentro do Movimento de Libertação Nacional.

Ho Chi Minh visitando um circo no Vietnã

A crise de 1929 fez estragos também na Indochina, com a queda dos preços dos metais e do chá, deixando
um saldo de operários desempregados, camponeses arruinados, artesãos e comerciantes falidos.
A região, dominada pelos franceses, foi ocupada pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Em
1945, depois da derrota japonesa, Ho Chi Minh, que em 1930 havia fundado o Partido Comunista da Indochina,
tomou o poder no Norte do país, criando a República Democrática do Vietnã. Depois de uma breve ocupação por
tropas inglesas e chinesas, a França tentou recuperar o controle da região, passando a negociar com o Vietminh,
partido de Ho Chi Minh.
50
Em 1946, estourou o conflito armado (Guerra da Indochina) e, após 1949, com a vitória da revolução co-
munista na China, o partido de Ho Chi Minh pôde contar com o apoio chinês. Como a França não reconhecesse a
independência, atacou o Norte do país e o governo de Ho Chi Minh entrou para a clandestinidade, dando início à
guerra de guerrilhas. Em 1954, os franceses foram derrotados na Batalha de Dien Bien Phu.
Em Genebra, na Suíça, realizou-se uma conferência, da qual participaram EUA, França e República Popular
da China, com a finalidade de pôr fim à Guerra da Indochina (1946-1954). Nessa conferência decidiram-se a
retirada das tropas francesas, a Independência do Laos e do Camboja e a divisão do Vietnã em duas partes, esta-
belecendo o paralelo 17 como linha divisória. Nasciam assim a República Democrática do Vietnã (Norte), socialista
e governada por Ho Chi Minh, e o Vietnã do Sul, capitalista e sob o controle de Ngo Dinh Diem. Ainda segundo o
Acordo de Genebra, a divisão do Vietnã era temporária e a reunificação do país deveria ocorrer em 1956 através
da realização de um plebiscito.

A Guerra do Vietnã (1961-1975)


A Guerra do Vietnã foi um prolongamento da Guerra da Indochina. O Acordo de Genebra havia estabelecido que
um plebiscito decidiria a reunificação do Vietnã. Como a maioria dos vietnamitas era favorável à reunificação e Ho
Chi Minh seu líder mais popular, o governo do Sul, incentivado pelos EUA, adiava esse plebiscito. O cancelamento
do plebiscito por Ngo Dinh Diem, com o objetivo de perpetuar a divisão do país, desencadeou, no ano de 1961, a
Guerra do Vietnã.

Protesto contra a Guerra do Vietnã nos EUA

A luta pela reunificação do país foi comandada pelo Vietcong, Frente de Libertação Nacional, de tendências
comunistas, nascida no Vietnã do Sul e apoiada pelo Vietnã do Norte, enquanto a ditadura de Ngo Dinh Diem, por
sua vez, era apoiada pelos Estados Unidos através de uma intervenção militar que, no auge da guerra, chegou a ter
550 mil soldados combatendo no Vietnã do Sul. Uma nova escalada na guerra ocorreu em 1965, quando o governo
norte-americano iniciou bombardeios aéreos sistemáticos sobre o Vietnã do Norte. Em 1970, com a invasão do
Camboja e a intervenção no Laos pelas tropas norte-americanas, o conflito generalizou-se.
Em 1973, com a convocação da Conferência de Paris para iniciar as negociações de paz, os Estados Unidos
iniciaram a retirada gradual de suas tropas do Vietnã do Sul. Em 1975, a Guerra do Vietnã chegou ao fim com a
conquista de Saigon (capital do Vietnã do Sul) pelas forças do Vietcong e a reunificação do país, sob a denominação
de República Socialista do Vietnã. Apesar do gritante desequilíbrio de forças, os Estados Unidos perderam a guerra,
na qual morreram mais de 50 mil e foram feridos mais de 300 mil soldados norte-americanos. Ao menos 1,1 milhão
de vietnamitas morreram no conflito – algumas estimativas falam em três milhões de mortos.
51
Independência da Argélia (1962)
Localizada no Norte da África, a Argélia foi conquistada pela França em 1830, durante o governo de Luís Filipe I.
A França manteve sobre esse território uma tutela colonial que se estendeu até o fim da Segunda Guerra Mundial.
Em 1950, cerca de um milhão de colonizadores de origem francesa – os pieds noirs, ou pés pretos – controlava um
terço das melhores terras do país em detrimento dos oito milhões de argelinos.
A crise da França no pós-guerra e sua derrota na Guerra da Indochina contribuíram decisivamente para
o fortalecimento do nacionalismo argelino. Em 1954, surgia a Frente de Libertação Nacional, FLN, incitadora da
guerra de independência da Argélia, que foi o primeiro país africano a adotar táticas modernas de guerrilha (rural
e urbana) na luta contra o colonialismo europeu.

Mobilização pela Independência da Argélia

Na Batalha de Argel, em 1957, as forças francesas, que chegaram a contar com 500 mil soldados, consegui-
ram desmantelar a organização clandestina da FLN na capital do país. Uma sangrenta repressão à população civil
árabe, no entanto, consumou a divisão entre a minoria francesa e a maioria muçulmana.
Em 1958, a crise do governo francês, em consequência da Guerra da Argélia, levou à queda da IV República
e à ascensão ao poder do general Charles de Gaulle. Em 1961, um referendo popular concedeu a De Gaulle plenos
poderes para negociar a paz com o governo provisório republicano da Argélia, formado pela FLN e com sede no
Cairo. O setor mais reacionário do exército francês desfechou um golpe de Estado contra De Gaulle, cujo fracasso
foi seguido de uma campanha terrorista de direita empreendida pela Organização do Exército Secreto, OAS, tanto
na Argélia quanto na França.
Em 1962, as negociações de paz culminaram na assinatura do Acordo de Evian, que pôs fim às hostilidades
e reconheceu a independência da Argélia. A guerra de libertação estendera-se por oito anos e provocara o êxodo
de 900 mil colonos franceses, 500 mil refugiados e a morte de um milhão de argelinos.

Independência de Angola (1975)


Angola, a maior e mais rica das províncias ultramarinas, está situada na África ocidental, nas costas do oceano
Atlântico. Em seu território há petróleo, diamantes, ferro, cobre, urânio e outros minerais.
Em 1956, foi fundado o MPLA, Movimento Popular pela Libertação de Angola, que, em 1961, sob a lide-
rança de Agostinho Neto, deu início à guerra de guerrilha contra as forças colonialistas portuguesas. Surgiram
posteriormente a FNLA, Frente Nacional de Libertação de Angola, e a Unita, União Nacional para a Independência
total de Angola, movimentos de caráter regional e de base essencialmente tribais.
52
Bandeira angolana erguida pelo MPLA

Após a queda do fascismo português em 1974, foi assinado o Acordo de Alvor, fixando a independência de
Angola para o final de 1975 e criando um governo de transição formado por MPLA, FNLA e Unita. Pouco antes
da independência, o Zaire, atual Congo, apoiado pela FNLA, invadiu Angola pelo Norte, enquanto a África do Sul,
apoiada pela Unita, invadia Angola pelo Sul. Essa invasão de cunho neocolonialista foi apoiada pelos Estados
Unidos.
Em novembro de 1975, o MPLA assumiu o poder em Luanda, capital do país, e proclamou, unilateralmente,
a independência de Angola, que mergulhou numa sangrenta guerra civil. O novo governo, presidido por Agostinho
Neto, solicitou a ajuda de Cuba e do bloco socialista para fazer frente à invasão estrangeira. As forças do MPLA,
apoiadas por tropas cubanas, iniciaram a “segunda guerra de libertação”, que culminou em 1976 na vitória sobre
a Unita e a FNLA e na expulsão dos mercenários sul-africanos e zairenses do território angolano. Em 1979, com a
morte de Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos assumiu a presidência do país.

Revolução Chinesa (1949)


Em 1921, foi fundado o Partido Comunista Chinês, inspirado na Revolução Russa de 1917, que lançou imediata-
mente uma campanha militar contra os “senhores da guerra”, isto é, a elite do país. Os comunistas aliaram-se ao
Kuomintang, partido de cunho nacionalista, mas, em 1927, o líder desse partido, general Chiang Kai-shek, rompeu
a aliança e massacrou milhares de comunistas em Xangai. Tinha início uma guerra civil que duraria 22 anos.
Derrotados no Sul, os comunistas sob a liderança de Mao Tsé-Tung realizam a chamada Longa Marcha em
direção ao Norte. Lá organizaram uma República Vermelha, resistindo aos ataques do Kuomintang e, ao mesmo
tempo, lutando contra a ocupação japonesa desde 1937.
Terminadas a Segunda Guerra Mundial e a aliança para expulsar os invasores japoneses, continuou a guerra
civil. Os comunistas receberam a ajuda soviética e os nacionalistas foram auxiliados pelos Estados Unidos. Final-
mente, em 1949 as forças lideradas Mao Tsé-tung derrotam o Kuomintang e implantam a República Popular da
China. Chiang Kai-shek fogiu para a Ilha de Formosa, onde organizou um governo dissidente, recebendo pleno
apoio dos EUA.
O novo governo chinês implantou uma radical reforma agrária, aboliu os privilégios feudais, tornou a edu-
cação obrigatória e criou as bases para uma rápida industrialização.
Inicialmente, os chineses seguiram, em linhas gerais, as diretrizes adotadas pela União Soviética, consi-
deradas adequadas, indiscriminadamente, a todos os países socialistas. Mas já no início da década de 1950, a
Revolução Chinesa começou a seguir caminhos próprios, justificados no fato de a China ter origem camponesa.
53
Mao Tsé-Tung

Em 1958, Mao Tsé-Tung lançou um ambicioso projeto denominado Grande Salto Para a Frente. O plano
pretendia “queimar etapas” na construção do socialismo, ou seja, formar um parque industrial amplo e diversifica-
do. Em 1961, porém, os projetos de industrialização rápida entraram em colapso e, ainda nesse ano, em razão de
atritos com a União Soviética, foram retirados do país os técnicos soviéticos, agravando-se a situação.
Em 1966, iniciou-se na China um período de grande turbulência política conhecido por Revolução Cultu-
ral. Diante da paulatina perda de controle sobre o Partido Comunista, Mao Tsé-tung estimulou principalmente os
jovens e o exército contra seus adversários internos. A Revolução Cultural foi ao mesmo tempo um extraordinário
esforço de transformação ideológica e uma violenta e gigantesca depuração partidária, que afetou toda a estrutura
política do país durante dez anos.
Em 1976, com a morte de Mao Tsé-tung, teve o início de um processo de “desmaoização”, em que as ideias
e os adeptos da Revolução Cultural foram perdendo poder. A nova liderança do Partido Comunista e da nação,
Deng Xiaoping, pôs em prática um novo plano de reorganização política e econômica da China e aprovou uma
nova constituição, um novo plano decenal e um novo hino nacional.
O desenvolvimento da economia chinesa acelerou-se quando o governo comunista decidiu abri-la às na-
ções capitalistas. Esse processo de abertura econômica, todavia, não foi acompanhado de uma abertura política
nos moldes da que se verificou na Europa oriental. Em 1989, estudantes chineses que lutavam por mais liberdade
foram violentamente reprimidos pelo exército, na Praça da Paz Celestial.

54
U.T.I. - Sala
1. (Unicamp) Um motivo para a melhoria da dieta ao longo do século XIX era que chegavam cada
vez mais alimentos do que chamamos de “periferia” da Europa, denominação vaga que engloba a
Rússia e a Europa do Leste, como também das zonas de abastecimento do Novo e do Velho Mundo.
Grande parte da Europa acabou por beneficiar-se dessas importações, mas os países mais neces-
sitados desses produtos eram aqueles onde a industrialização e o desenvolvimento urbano ocor-
reram com maior ímpeto, ou seja, Grã-Bretanha, os Países Baixos e a Alemanha. Do Novo Mundo
chegavam o açúcar, o café e o cacau, e da China, do Ceilão e da Índia chegavam o chá e o arroz.
(Adaptado de Norman J. G. Pounds, La Vida Cotidiana: historia de la cultura material. Barcelona: Editorial Crítica, 1992, p. 507-509.)

a) Explique a relação entre o processo de industrialização e importação de alimentos na Europa.


b) Por que a dieta europeia melhorou ao longo do século XIX?

2. (Unesp) Quando da criação do Estado de Israel pela ONU, estava prevista a criação de dois estados,
um judeu e outro árabe, no território do antigo mandato britânico. Apenas o primeiro viabilizou-
-se.
Explique o contexto em que se deu a criação do Estado de Israel.

3. (Unicamp)

O painel pintado por Pablo Picasso em 1937, Guernica, é uma referência ao bombardeio da área de
mesmo nome, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).
a) Apresente os principais aspectos visuais dessa obra de Picasso.
b) De que forma a imagem pode ser compreendida como uma crítica ao franquismo?

4. (Uel) Leia os textos a seguir.


O reino recém-unido da Grã-Bretanha estava emergindo como uma potência europeia, intelectual,
militar e comercial. Newton era reconhecido como o gênio supremo da época, enquanto a Royal
Society de Londres era vista como seu árbitro científico supremo. Locke estava fundando a Filo-
sofia empírica e promulgando as ideias políticas liberais que, na altura do fim do século, seriam
corporificadas na constituição americana. Enquanto isso, Robinson Crusoé, de Defoe, e As Viagens
de Gúliver, de Swift, satisfaziam, cada um à sua maneira, a fome de aventuras estrangeiras do
público. Essa era uma nação autoconfiante, experimentando os primeiros rebuliços do que viria
a ser a Revolução Industrial – a máquina a vapor já estava sendo usada nas minas da Cornualha.
(STRATHERN, P. Uma Breve História da Economia. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. p.62.)

Há hoje, nas planícies da Índia e da China, homens e mulheres, infestados por pragas e famintos,
vivendo pouco melhor, aparentemente, do que o gado que trabalha com eles de dia e que comparti-
lha seu local de dormir à noite. Esse padrão asiático, e esses horrores não mecanizados, é o destino
daqueles que aumentam seus números sem passar por uma revolução industrial.
(ASHTON, T. S. The Industrial Revolution, 1760-1830. London: Oxford University Press, 1948. p.161.)

Com base nos textos e nos conhecimentos sobre o tema, responda aos itens a seguir.
a) Explique o contexto histórico da Revolução Industrial.
b) Situe o posicionamento dos autores desses textos quanto a esse evento histórico.
55
5. (Unesp) Muitas áreas de domínio europeu na Ásia e na África obtiveram suas independências nas
décadas de 1940 e 1950. Cite dois casos de países que se tornaram independentes nesse período e
indique uma possível explicação para a simultaneidade da descolonização em áreas tão distintas.

6. (Fgv) Observe atentamente as imagens abaixo:

a) Por quais motivos a Revista Time elegeu o manifestante (protestador) como o homem do ano de 2011?
b) Aponte as semelhanças ideológicas entre a imagem reproduzida pela Time e a imagem elaborada pelo
artista Banksy.
c) Diversos protestos desde 2011 vêm sendo denominados como “primaveras, numa alusão à Primavera de
Praga de 1968. Apresente as principais características desse movimento ocorrido na antiga Tchecoslo-
váquia.

7. (Ufscar) Se vendemos nossa terra a vós, deveis conservá-la à parte, como sagrada, como um lugar
onde mesmo um homem branco possa ir sorver a brisa aromatizada pelas flores dos bosques.
Assim consideraremos vossa proposta de comprar nossa terra. Se nos decidirmos a aceitá-la, farei
uma condição: o homem branco terá que tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo outro modo. Tenho visto milhares de búfalos apodrecerem
nas pradarias, deixados pelo homem branco que neles atira de um trem em movimento. Sou um
selvagem e não compreendo como o fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante que o
búfalo, que nós caçamos apenas para nos mantermos vivos.
(Carta do chefe índio Seattle ao presidente dos Estados Unidos, que pretendia comprar as terras de sua tribo em 1855.)

a) Identifique uma diferença na maneira do chefe índio e dos brancos entenderem a relação entre o ho-
mem e a natureza.
b) Explique as consequências, para a população indígena dos Estados Unidos, do contato com os brancos.

8. (Fgv) A senhora Eva Duarte [Perón] se perdeu entre quebrantos, milhões choraram-na, conser-
varam-na como a um faraó. Fixaram-na na pompa de sua juventude trágica: converteram seu
corpo em objeto de culto. Os militares argentinos, tão cristãos, sabiam do poder da relíquia (...)
seus inimigos o entenderam: enquanto puderam roubaram o corpo morto-vivo, esconderam-no.
Converteram-na na primeira desaparecida.
CAPARRÓS, M. “O juremos”. Crecer a golpes. Crónicas y ensayos de América Latina a cuarenta años de
Allende y Pinochet. FONSECA, D. (ed.), New York: C. A. Press, 2013, p. 37, (trad. livre).

O peronismo é uma corrente política organizada em torno de Juan Domingo Perón (1895-1974),
que dava ênfase aos direitos trabalhistas através da implementação de políticas públicas pelo Esta-
do. Além de Perón, a atuação de sua esposa Eva, conhecida como Evita, foi decisiva para o prestígio
político do peronismo. A esse respeito, responda:
a) Qual a relação entre Eva Duarte e o peronismo na Argentina? Explique.
b) Em que contexto interno e externo ocorreu o golpe militar na Argentina, em 1976?
c) Por que o texto se refere à Eva Duarte como a “primeira desaparecida na Argentina”?
56
9. (Unicamp) Observe o gráfico e responda às questões.

a) Qual a relação existente entre as duas linhas apresentadas no gráfico?


b) Apresente dois motivos para a crise financeira de 1929.

10. (Unicamp) A palavra árabe iman provém de uma raiz que significa ‘ter certeza’ e designa fé, no
sentido da certeza.
A fé, por conseguinte, não contradiz o conhecimento nem a compreensão. Pelo contrário, o desejo
de saber é uma obrigação religiosa, e os tempos pré-islâmicos (século VI) na Arábia são chamados
pelos islâmicos de jahiliya, ignorância.
(Adaptado de Burkhard Scherer (org.), As Grandes religiões: temas centrais comparados. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 77.)

a) Cite uma característica política e uma característica religiosa da península arábica pré-islâmica.
b) Como conviveram fé e conhecimento científico no mundo islâmico na Alta Idade Média?

57
U.T.I. - E.O. 4. (Unesp) Sob qualquer aspecto, este [a Re-
volução Industrial] foi provavelmente o
mais importante acontecimento na história
do mundo, pelo menos desde a invenção da
1. (Unicamp) A Primeira Guerra Mundial aba- agricultura e das cidades. E foi iniciado pela
lou profundamente todos os povos envolvi- Grã-Bretanha. É evidente que isto não foi
dos, e as revoluções de 1917-1918 foram, acidental.
acima de tudo, revoltas contra aquele holo- (Eric Hobsbawm. A era das revoluções: 1789-1848, 1986.)
causto sem precedentes, principalmente nos
Aponte dois fatores que justifiquem a im-
países do lado que estava perdendo. Mas em
portância dada pelo texto à Revolução Indus-
certas áreas da Europa, e em nenhuma ou-
trial e indique dois motivos do pioneirismo
tra mais que na Rússia, foram mais que isso:
britânico.
foram revoluções sociais, rejeições populares
do Estado, das classes dominantes e do sta-
tus quo. 5. (Unesp) 1. Exigimos, baseando-nos no di-
(Adaptado de Eric Hobsbawm, Sobre História. São
reito dos povos a disporem de si mesmos, a
Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 262-263.) reunião de todos os alemães em uma Grande
Alemanha.
a) Relacione a Primeira Guerra Mundial e a si- 2. Exigimos a ab-rogação [revogação] dos
tuação da Rússia na época. Tratados de Versalhes e de Saint-Germain.
b) Cite e explique um princípio da Revolução 3. Exigimos territórios para a alimentação
Russa de 1917. de nosso povo e para o estabelecimento de
seu excedente de população.
2. (Unicamp) Existem épocas em que os acon- 4. Não pode ser cidadão senão aquele que
tecimentos concentrados num curto período faz parte do povo. Não pode fazer parte do
de tempo são imediatamente vistos como povo senão aquele que tem sangue alemão,
históricos. A Revolução Francesa e 1917 fo- qualquer que seja sua confissão. Consequen-
ram ocasiões desse tipo, e também 1989. temente, nenhum judeu pode fazer parte do
Aqueles que acreditavam que a Revolução povo.
Russa havia sido a porta para o futuro da 5. Aquele que não é cidadão não pode viver
história mundial estavam errados. E quando na Alemanha senão como hóspede e deve ser
sua hora chegou, todos se deram conta disso. submisso à legislação aplicável aos estran-
Nem mesmo os mais frios ideólogos da guer- geiros.
ra fria esperavam a desintegração quase sem (Programa do Partido Nacional-Socialista dos
resistência verificada em 1989. Trabalhadores Alemães, 1920. In: Kátia M. de Queirós
(Adaptado de Eric Hobsbawm, “1989 – O que sobrou para Mattoso. Textos e documentos para o estudo da história
os vitoriosos”. Folha de São Paulo, 12/11/1990, p. A-2.) contemporânea (1789-1963), 1977. Adaptado.)

a) No contexto entre as duas guerras mundiais, Explique as origens da exigência contida no


quais seriam as razões para a Revolução Rus- item 2 do Programa do Partido Nacional-
sa ter simbolizado uma porta para o futuro? -Socialista dos Trabalhadores Alemães e cite
b) Identifique dois fatores que levaram à derro- duas ações, realizadas pelos nazistas após
cada dos regimes socialistas da Europa após sua chegada ao poder, que derivaram do que
1989. é proposto nos itens 4 e 5 desse Programa.

3. (Unesp) A Segunda Guerra Mundial mal ter- 6. (Unesp) Nunca houve um ano como 1968 e
minara quando a humanidade mergulhou no é improvável que volte a haver. Numa oca-
que se pode encarar, razoavelmente, como sião em que nações e culturas ainda eram
uma Terceira Guerra Mundial, embora uma separadas e muito diferentes — e, em 1968,
guerra muito peculiar. [...] Gerações inteiras Polônia, França, Estados Unidos e México
se criaram à sombra de batalhas nucleares eram muito mais diferentes um do outro
globais que, acreditava-se firmemente, po- do que são hoje — ocorreu uma combustão
diam estourar a qualquer momento, e devas- espontânea de espíritos rebeldes no mundo
tar a humanidade. [...] Não aconteceu, mas inteiro.
por cerca de quarenta anos pareceu uma pos- (Mark Kurlansky. 1968 – O ano que abalou o mundo, 2005.)
sibilidade diária.
(Eric Hobsbawm. Era dos extremos, 1995.)
Indique dois movimentos de “espíritos re-
beldes” ocorridos em 1968 e identifique, em
Identifique o conflito a que o texto se refere cada um deles, o caráter “espontâneo” men-
e caracterize as forças em confronto. cionado no texto.
58
7. (Unesp) Discorra sobre a experiência socia- 10. (Ufscar) Se nem todas as grandes crises eco-
lista iniciada na Europa no período entre as nômicas, como a atual, que, periodicamente
duas Guerras Mundiais. acometem o capitalismo, levam a uma trans-
formação no seu funcionamento, todas as
8. (Fgv) A Primeira Guerra Mundial envolveu grandes transformações pelas quais ele pas-
todas as grandes potências, e na verdade sou foram desencadeadas por uma grande
todos os Estados europeus, com exceção da crise.
Espanha, os Países Baixos, os três países da Situe historicamente e explique as crises
Escandinávia e a Suíça. E mais: tropas do que levaram ao chamado capitalismo
ultramar foram, muitas vezes pela primeira a) com participação estatal (keynesiano).
vez, enviadas para lutar e operar fora das b) desregulado (neoliberal).
suas regiões (...).
HOBSBAWM, E. Era dos extremos. O breve século XX (1914-
1991). Trad., São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 31.

a) Quais foram as motivações econômicas do


conflito citado no texto?
b) Como a guerra influenciou e dividiu os mo-
vimentos e partidos socialistas do período?
c) Apresente duas transformações decorrentes
diretamente do conflito.

9. (Fgv) O fotógrafo chileno Marcelo Montecino


produziu a foto abaixo em 13 de setembro de
1973. A imagem registra uma movimentação
diante da sede da Presidência da República
do Chile, em Santiago, a capital do país.

a) A partir da escolha de um elemento apre-


sentado pela foto, explique que situação foi
retratada.
b) A fotografia representa o final de um perí-
odo da história do Chile, iniciado em 1970
e encerrado em setembro de 1973. Aponte
duas características desse período da histó-
ria chilena.
c) Aponte duas características do período da
história chilena que teve início após os
eventos representados na fotografia e que
viria a se encerrar em 1990.
59
U.T.I. - 5, 6 e 7

História do Brasil
Crise da República Oligárquica
Governo Epitácio Pessoa (1919-1922)
Ao assumir a presidência da República, Epitácio Pessoa contraiu um empréstimo, junto aos EUA, para promover a
remodelação do centro do Rio de Janeiro e, posteriormente, recorreu a novo empréstimo destinado à construção
de ferrovias, açudes e barragens no Nordeste como forma de combater a seca na região. Em 1920, foi criada a
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A década de 1920 foi marcada pelo processo de declínio do domínio oligárquico, tal como fora organizado
e herdado do Império, que passou a ser contestado pela burguesia industrial em desenvolvimento, uma fração da
própria classe dominante, mas com novos interesses e com ambições e necessidades que as facções e frações da
antiga classe dominante não conseguiam atender. O operariado e as camadas médias urbanas apresentavam suas
reivindicações e organizavam-se politicamente. O movimento tenentista e a Semana de Arte Moderna são exem-
plos das inquietações daquele período.
Esses segmentos sociais contestavam o domínio oligárquico de várias maneiras.
§§ A burguesia industrial, contrária às constantes políticas de valorização do café, exigia mais participação
política.
§§ O movimento operário exigia leis trabalhistas e contestava as medidas de valorização do café, que promo-
viam o aumento de impostos e a inflação desenfreada, causadora da corrosão dos salários.
§§ As camadas urbanas criticavam as fraudes eleitorais e se revoltavam contra elas, contra a inflação e contra
os altos impostos, reflexos das políticas de valorização do café.
Durante o governo Epitácio Pessoa, ocorreu entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal
de São Paulo, a Semana de Arte Moderna. Foi o ponto culminante do movimento modernista em franco desenvolvi-
mento, particularmente em São Paulo. Figuraram entre seus promotores e participantes, os pintores Anita Malfatti,
Tarsila do Amaral e Di Cavalcante; os escritores Mario de Andrade, Menotti Del Pichia, Graça Aranha, Manuel Ban-
deira e Oswald de Andrade; o músico Heitor Villa-Lobos; e o escultor Victor Brecheret.

Cartaz da Semana de Arte Moderna


61
Os artistas brasileiros viam o movimento modernista como uma forma de representar, na cultura e nas ar-
tes, todas as transformações observadas na realidade, bem como criar padrões culturais genuinamente nacionais,
rompendo com os padrões europeus. O movimento também foi porta voz de crítica à sociedade burguesa e um
protesto contra a situação política do País.
Os intelectuais e artistas modernistas valorizavam temas e aspectos nacionais, redimensionando o nacio-
nalismo brasileiro relacionado ao cotidiano, na tentativa de promoverem a aproximação das artes de um público
maior. Sinal evidente disso foi a linguagem coloquial utilizada por escritores e poetas, sem “macaquear a sintaxe
lusíada”, conforme afirmou Manuel Bandeira; na literatura, os índios foram valorizados de modo mais realista e
menos romântica; em Macunaíma, Mario de Andrade construiu seu “herói sem caráter”, baseado em lendas de
várias regiões do país.
Também em 1922, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi fundado. Após sucessivas greves operárias
em 1917 e da entrada de ideais socialistas e anarquistas, o movimento operário brasileiro amadureceu. Prova disso
foi, sem dúvida, a fundação do PCB, que seguia as orientações gerais da União Soviética.

O tenentismo
O movimento tenentista nasceu na baixa oficialidade do Exército, congregando especialmente tenentes recém-
-saídos da Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, e capitães recém-promovidos ao posto, insatisfeitos com a
realidade política, econômica e social do país, com a situação dos militares e a demora das promoções no Exército.
A renovação iniciada no Exército tendeu a agravar as divisões entre “velhos” e “novos” oficiais. Os “ve-
lhos”, geralmente de patente superior, apresentavam-se acomodados ao sistema oligárquico e ao papel pouco im-
portante nele desempenhado pelas Forças Armadas. Os “novos” culpavam a organização política pela situação de
atraso do país e reivindicavam, para a corporação militar, um papel de relevo na condução dos negócios públicos.
O tenentismo contestava os vícios políticos, a corrupção, as fraudes eleitorais, o voto de cabresto e o domí-
nio oligárquico que marcavam a República Velha. O movimento apresentava-se com uma missão salvadora defen-
dendo o voto secreto, a reforma do ensino – que deveria se tornar gratuito – e o fim da socialização das perdas,
reivindicações que coincidiam com os interesses das camadas médias urbanas. Defendiam também a autonomia
do Poder Judiciário e o nacionalismo em defesa dos recursos naturais do País.

Crise das cartas falsas e Revolta do Forte de Copacabana (1922)

A indicação do mineiro filiado ao PRM, Artur Bernardes, não agradou as oligarquias do Rio Grande do Sul, Bahia,
Rio de Janeiro e Pernambuco, que se aliaram e lançaram a candidatura de Nilo Peçanha (Reação Republicana),
representando a oposição ao candidato “café com leite”, ou seja, do PRP e PRM.
Com o intuito de tumultuar o processo eleitoral e conquistar o apoio do exército ao candidato Nilo Peçanha,
o jornal carioca Correio da Manhã publicou cartas atribuídas a Artur Bernardes, nas quais ele tecia uma série de
ofensas aos militares e ao presidente do Clube Militar e ex-presidente da República, o Marechal Hermes da Fon-
seca.
Artur Bernardes negou a autoria das cartas, que foram submetidas a criteriosas análises e declaradas falsas.
Mesmo assim, os militares exigiram que Bernardes renunciasse à sua candidatura. Não atendidos, assumiram a
oposição, declarando que não aceitariam a posse de Artur Bernardes na Presidência da República.
Mas as eleições foram vencidas por ele.
Em meio às agitações no cenário político nacional, no contexto das eleições para a escolha do sucessor de
Epitácio Pessoa, ocorreu um levante militar em Pernambuco entre militares que se opunham às oligarquias locais.
O presidente do Clube Militar, Marechal Hermes da Fonseca, apoiou o movimento, pelo que foi preso por vinte e
quatro horas e o Clube Militar, fechado.
62
Em reação aos fatos, em 5 de julho de 1922 ocorreu o primeiro levante tenentista no Forte de Copa-
cabana, sob comando de Euclides da Fonseca, filho do Marechal Hermes da Fonseca, imediatamente apoiado por
outras guarnições militares do Rio de Janeiro e do Mato Grosso.
A reação governamental foi imediata e o levante foi rapidamente controlado nos outros quartéis, à exceção
do Forte de Copacabana, onde estavam as principais lideranças do movimento, o tenente Siqueira Campos e o
capitão Euclides da Fonseca. Decidiram permitir quem não quisesse resistir e ficaram apenas 29 rebeldes.

Movimento de tenentes após ocupação de quartel no Rio

Ao tentar negociar com o alto comando militar, Euclides da Fonseca foi preso. Alguns de seus companheiros
decidiram deixar o Forte de Copacabana e enfrentar as forças governamentais. Eram 17 homens liderados pelo
tenente Siqueira Campos, que marcharam pela Avenida Atlântica, onde receberam a adesão do civil Otávio Corrêa.
Os 18 do forte de Copacabana marcharam para se encontrar com as tropas federais designadas para conter
o movimento. Houve troca de tiros e os rebeldes foram mortos. Sobreviveram apenas os tenentes Siqueira Campos
e Eduardo Gomes.

Governo Artur Bernardes (1922-1926)


O governo do mineiro Artur Bernardes foi um dos mais tumultuados da história republicana brasileira, quando o
país esteve constantemente em estado de sítio, devido à instabilidade política e constantes ameaças de golpe,
levantes militares em São Paulo e no Rio Grande do Sul e a oposição do Exército, desde o processo eleitoral.
No Rio Grande do Sul, ocorreu a Revolução Libertadora de 1923, liderada por Assis Brasil – fundador
da Aliança Libertadora –, em oposição ao oligarca Borges de Medeiros, velho patriarca do Partido Republicano
Gaúcho. Ele controlou o poder político no estado e se beneficiou da constituição gaúcha, que permitia reeleições
ilimitadas para a presidência do estado. Depois de intensos combates foi firmado o Pacto de Pedras Altas, que con-
firmou Borges de Medeiros na presidência do estado sem direito a nova reeleição que foi retirada da constituição
do estado.
Em São Paulo, em 5 de julho de 1924, várias guarnições rebelaram-se sob o comando dos generais Isidoro
Dias Lopes e Miguel Costa e dos tenentes Joaquim e Juarez Távora e Eduardo Gomes. Os rebeldes forçaram a fuga
do governador Carlos de Campos e ocuparam a cidade durante 22 dias, exigindo a derrubada de Bernardes, uma
Constituinte e mudanças políticas, como o voto secreto.
Tropas legalistas avançavam para a capital paulista, que passou a sofrer bombardeios aéreos ordenados por
Bernardes. No dia 27 de julho, em meio aos combates, os rebeldes começaram a se retirar rumo ao interior do Pa-
raná, onde se juntariam com uma coluna vinda do Rio Grande do Sul, comandada pelo capitão Luís Carlos Prestes.
63
Coluna Prestes (1924-1927)
O comando da coluna foi assumido pelo major Miguel Costa. A divisão paulista, pelo tenente Juarez Távora e a
gaúcha, pelo capitão Luís Carlos Prestes, aclamado chefe do Estado-maior da coluna que recebeu seu nome.
Percorrendo o interior do país e combatendo as forças governamentais e oligárquicas, a Coluna deslocou-se
aproximadamente 25 mil quilômetros pelo território de nove estados, ao longo de pouco mais de dois anos. Além
de combater as tropas designadas para destruí-las, a Coluna Prestes tentava conscientizar a população rural dos
vícios e males do domínio oligárquico e derrubar o presidente Artur Bernardes.

A Coluna, com Prestes sentado embaixo, terceiro da esquerda para a direita

Em fevereiro de 1927, já no Governo de Washington Luís, a Coluna Prestes retirou-se para a Bolívia, onde se
dissolveu. Restavam dela aproximadamente 600 homens esfarrapados, famintos e atingidos pela cólera.

Governo Washington Luís (1926-1930)


Após eleito, Washington Luís procurou concentrar poderes políticos em suas mãos e promover a pacificação inter-
na. Suspendeu o estado de sítio, atenuou a censura à imprensa e libertou vários presos políticos.
Em contrapartida adotou uma série de medidas repressivas. Famoso pela frase, “A questão social é um caso
de polícia”, a ele atribuída, mas nunca provada como sua, seu governo aprovou a Lei Celerada, que estabelecia
repressão às atividades políticas e sindicais operárias, particularmente às ligadas aos comunistas, por considerá-las
nocivas à ordem social e econômica.
O presidente Washington Luís desejava realizar uma reforma monetária no Brasil baseada na adoção do
padrão-ouro, com a substituição do inflacionando mil-réis, por uma nova moeda, o cruzeiro. Sua iniciativa, porém,
foi frustrada em razão da crise de 1929.
Profundamente marcado pela crise mundial capitalista, o ano de 1929 também foi agitado no Brasil pelo
início do processo eleitoral para a escolha do novo presidente da República. Segundo o acordo da política do “café
com leite”, o presidente Washington Luís, que pertencia ao PRP, deveria indicar um candidato do PRM, o presidente
de Minas Gerais, Antônio Carlos de Andrada.
Inesperadamente, no entanto, Washington Luis rompeu com o acordo e indicou para sua sucessão o presi-
dente de São Paulo, do PRP, Júlio Prestes. Revoltado, Antônio Carlos de Andrada procurou apoio político em outros
estados e aliou-se às oligarquias de Paraíba e do Rio Grande do Sul. Insatisfeitos com o alijamento do poder, for-
maram a Aliança Liberal, que apresentou como candidatos Getúlio Vargas e João Pessoa.
Em seu programa político, a Aliança Liberal propunha a adoção do voto secreto e do voto feminino, anistia
política e reforma agrária. Contava com o apoio de membros do movimento tenentista, de oligarquias dissidentes
e de camadas médias urbanas.
Após a contagem dos votos, o candidato Julio Prestes, do PRP, foi declarado vencedor e deveria assumir a
presidência da República em novembro daquele ano.
64
A Revolução de 1930
Dentre alguns políticos de oposição, Getúlio Vagas e João Pessoa aceitaram a derrota eleitoral da Aliança Liberal.
Mas a maioria dos opositores, inconformados com o resultado eleitoral, passaram a planejar uma conspiração. No
entanto, no dia 26 de julho de 1930, João Pessoa foi assassinado por João Dantas, em Recife, por questões de or-
dem pessoal. O crime somou-se às acusações de fraude nas eleições presidenciais e ao descontentamento popular
com a crise econômica, dando margem para o ataque ao Governo Federal.

Vargas após a Revolução

O movimento teve início no Rio Grande do Sul, no dia 3 de outubro de 1930, sob a chefia de Getúlio Vargas
e Oswaldo Aranha. O poder federal foi assumido por uma junta militar composta pelo almirante Isaías Noronha e
pelos generais Mena Barreto e Tasso Fragoso. Um mês depois do golpe, a chefia do governo foi entregue a Getúlio
Vargas, que tomou posse como chefe do Governo Provisório. Estava consumada a chamada Revolução de 1930,
que coroava a derrota das forças representadas pelos PRP e PRM e a política do “café com leite”. Tinha início a
Era Vargas, que se estendeu até 1945.

O governo provisório de
Getúlio Vargas (1930-1934)
Um mês depois da Revolução, a junta militar que assumira o poder transferiu a chefia do Governo Provisório a
Getúlio Vargas, que imediatamente decretou:
§§ a suspensão parcial da Constituição de 1891;
§§ o fechamento do Congresso Nacional, das assembleias legislativas e das câmaras municipais;
§§ a destituição dos presidentes de todos os estados e a indicação de interventores ligados ao movimento te-
nentista para os respectivos governos, exceto para Minas Gerais, uma vez que o governador Olegário Maciel
havia apoiado a Revolução de 1930;
§§ a formação de um ministério por representantes dos grupos políticos vencedores;
§§ a criação dos ministérios do Trabalho, Indústria e Comércio, da Educação e Saúde.
Outra medida importante do novo governo foi a criação do Conselho Nacional do Café, CNC, que passaria
a controlar a produção e o comércio do principal produto de exportação brasileiro no período, o que denotou certo
acordo com os representantes da oligarquia cafeeira.
65
O governo provisório foi marcado pela criação das primeiras leis trabalhistas, estratégia política com a fina-
lidade de atender as reivindicações dos movimentos operários, ao mesmo tempo em que os neutralizava, retirando
suas bandeiras de luta e fazendo parecer uma “doação” do governo ao operariado. A jornada de trabalho foi limi-
tada a oito horas diárias, com obrigatoriedade de descanso semanal remunerado e direito a férias anuais de quinze
dias úteis sem prejuízo dos vencimentos. Todos esses itens constavam das pautas de reivindicações dos operários.
Paralelamente à transformação das reivindicações trabalhistas em leis, o governo cerceava a liberdade
sindical, concentrando em suas mãos o papel de controlador dessa atividade e determinando aos funcionários do
ministério que assistissem às assembleias dos sindicatos. A legalidade de um sindicato dependia do reconhecimen-
to do Ministério do Trabalho, que poderia cassá-lo caso se verificasse o não cumprimento de uma série de normas.

A Revolução Constitucionalista de São Paulo (1932)


As medidas governamentais e a publicação do Código Eleitoral, em 1932, não foram suficientes para acalmar os
ânimos dos opositores paulistas ao governo provisório, oligarquias afastadas do poder e do controle político federal
e estadual.
Getúlio Vargas, o havia nomeado interventor de São Paulo logo que assumiu a chefia do governo provisório,
para substituir o general Hastinfilo de Moura, ligado ao Partido Democrático, PD, que havia apoiado a Revolução
de 30. Essa medida afastou o PD de Vargas e definiu sua aliança com o PRP em oposição ao governo provisório.
Juntos, passaram a exigir a convocação de eleições e a imediata reconstitucionalização do Brasil.
A coalizão entre o Partido Republicano Paulista, PRP, e o Partido Democrático, PD, sustentou a formação da
Frente Única Paulista, FUP, que se tornou porta-voz das reivindicações de reconstitucionalização e de autonomia
administrava para o estado de São Paulo. Além disso, a FUP passou a articular junto aos meios militares e entidades
de classe paulistas a preparação de um movimento armado contra o governo provisório.
Como tentativa de arrefecer o movimento, em fevereiro de 1932 foi apresentado o novo Código Eleitoral e
marcadas as eleições para maio de 1933.
O recuo de Vargas não foi suficiente para aplacar a exaltação da FUP e dos paulistas, que promoviam gran-
des manifestações contra o governo provisório, reivindicando a imediata volta do país à normalidade constitucio-
nal. Em uma dessas manifestações, no dia 23 de maio de 1932, soldados fiéis a Vargas atiraram contra a multidão
reunida na Praça da República e mataram quatro estudantes secundaristas: Mário Martins de Almeida, Euclides
Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Américo Camargo de Andrade.

Cartaz sobre as mortes de Mário Martins de Almeida, Euclides Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza
e Antônio Américo Camargo de Andrade

Indignados, os paulistas se organizaram em um enorme esforço de guerra. As indústrias mobilizaram-se


para produzir armamentos, estimuladas pela Federação das Indústrias de São Paulo, Fiesp. A população civil, no-
tadamente as mulheres, engajou-se na Campanha “Ouro para o bem de São Paulo”, que arrecadava joias para
levantar recursos necessários ao esforço de guerra. Também elas formavam grupos de voluntários que costuravam
fardas e agasalhos, arrecadavam alimentos e medicamentos e cuidavam dos soldados feridos.
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As forças legalistas de Getúlio partiram de Minas Gerais e bloquearam o porto de Santos, facilitando a
repressão. Em 1º de outubro, os paulistas renderam-se. Apesar da derrota militar, seus objetivos políticos foram
atendidos: em 1933 houve eleições para a formação de uma Assembleia Nacional Constituinte, responsável pela
promulgação, em 1934, de uma nova Constituição para o Brasil.

A Constituição de 1934
A nova constituição brasileira promulgada no ano de 1934 preconizava:
§§ Regime presidencialista, com mandato presidencial de quatro anos sem direito à reeleição.
§§ Extinção do cargo de vice-presidente.
§§ Representação estadual no Congresso por dois senadores, com mandato de oito anos, e por um número de
deputados proporcional à população do estado, com mandato de quatro anos.
§§ Voto secreto e universal para ambos os sexos, alfabetizados e maiores de 18 anos.
§§ Voto profissional (deputados classistas) escolhidos pelos sindicatos.
§§ Criação da Justiça Eleitoral.
§§ Ensino primário obrigatório e gratuito.
§§ Obrigatoriedade de as empresas estrangeiras empregarem no mínimo 2/3 de brasileiros.
§§ Monopólio do Estado dos recursos hidrominerais.
§§ Nacionalização das companhias de seguro estrangeiras.
§§ Criação da Lei de Segurança Nacional e instituição do mandato de segurança.
§§ Incorporação das leis trabalhistas – limitação da jornada de trabalho para oito horas diárias, salário mínimo,
descanso semanal obrigatório, férias remuneradas, indenização para demissão sem justa causa e licença-
-maternidade de sessenta dias para as mulheres.
Além desses pontos, com a aprovação da nova constituição, Vargas garantiu-se no poder pelo menos até o
ano de 1938, quando deveria haver novas eleições.

Governo constitucional de Getúlio Vargas (1934-1937)


O início da década de 1930 no Brasil foi marcado pela polarização ideológica entre esquerda e direita, que defen-
diam respectivamente o comunismo e o fascismo, reflexo interno da situação internacional notadamente europeia.
A polarização provocou intensos conflitos e disputas ideológicas em âmbito nacional entre a Ação Integralista
Brasileira, AIB, e a Aliança Nacional Libertadora, ANL.

Cartaz integralista
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Fundada em 1932 por Plínio Salgado, a Ação Integralista Brasileira liderava a associação e pregava o
combate brutal ao comunismo, nacionalismo extremado e à formação de um Estado totalitário. Extremamente con-
servadores e intolerantes, os integralistas defendiam a disciplina e a hierarquia social, a censura, particularmente
às atividades artísticas. Tinham como lema: “Deus, pátria e família”. Os integrantes vestiam camisas verdes que
exibiam a letra grega Σ (sigma) e cumprimentavam-se com a saudação “anauê” (salve). Inspirados pelo fascismo
europeu, defendiam o monopartidarismo e o regime totalitário de governo.
A Aliança Nacional Libertadora era uma frente ampla antifascista que reunia várias tendências: sociais
democratas, socialistas, anarquistas, comunistas, sindicalistas e antigos membros do tenentismo. Liderada por Luís
Carlos Prestes, a ANL tinha como lemas: “Pão, terra e liberdade” e “Todo poder à ANL”. Seu programa político
defendia a:
§§ nacionalização de empresas estrangeiras;
§§ suspensão do pagamento da dívida externa;
§§ realização de reforma agrária;
§§ garantia das liberdades agrárias;
§§ criação de um governo popular.
Além de antifascista, a ANL opunha-se ao governo autoritário de Vargas, que, baseado na Lei de Segurança
Nacional, determinou em julho de 1935 o fechamento da ANL e a prisão de vários de seus líderes, após discurso
de Luís Carlos Prestes com críticas ao governo.
Em reação ao fechamento da ANL, seus membros passaram a atuar na clandestinidade e a organizar, com
o apoio do Partido Comunista, um golpe para derrubar Getúlio Vargas da presidência e preparar a implantação do
comunismo no Brasil. Essa organização constituiu a chamada Intentona Comunista, com início em novembro de
1935, quando ocorreram levantes nas cidades de Natal, Recife e Rio de Janeiro.
O governo Vargas usou a Intentona para justificar a implantação do Estado de Sítio e recorrer a instrumen-
tos repressivos – torturas, prisões arbitrárias de comunistas ou acusados de esquerda, até a identificação e total
desarticulação deles. Prestes foi preso em 1936 e sua mulher, a judia comunista alemã Olga Benário Prestes, depois
de presa, foi extraditada para a Alemanha.

Olga Benário Prestes

Já em 1937 foram marcadas eleições presidenciais para a escolha de um sucessor para Getúlio Vargas. Seu
mandato de quatro anos aproximava-se do final e, de acordo com a Constituição de 1934, não havia possibilidade
de ele ser reeleito. Vargas chegou a indicar o candidato que apoiaria: o paraibano José Américo de Almeida. Plínio
Salgado e Armando Salles de Oliveira também lançaram candidatura à Presidência.
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Contudo, no mesmo ano, autoridades militares teriam descoberto e divulgado um suposto plano comunista
para tomar o poder no Brasil, derrubar Getúlio e assassinar políticos – o Plano Cohen. Tratava-se de um plano
comunista que visava à tomada do poder à custa de assassinatos, luta armada, invasão de lares e outras tantas
violências. Constituído em pretexto para o golpe, esse plano era uma fraude forjada pelo capitão Olímpio Mourão
Filho, membro do movimento integralista.
No entanto, a mentira cumpriu seu propósito. Os parlamentares aceitaram o pedido de implantação do Es-
tado de Sítio solicitado por Vargas, que fechou o Congresso Nacional no dia 10 de novembro de 1937 e outorgou
uma nova Constituição para o Brasil, que consumou o golpe de estado e inaugurou a ditadura do Estado Novo
até 1945. Os partidos políticos foram proibidos, inclusive a AIB, que havia apoiado o golpe, instalou-se a censura,
avançaram as perseguições políticas e a tortura. Iniciava o flerte de Vargas com a Alemanha nazista, observado de
perto pelos Estados Unidos.

A ditadura do Estado Novo (1937-1945)


O golpe de 1937 gestou a quarta Constituição brasileira, redigida pelo jurista Francisco Campos, ficou conhecida
como “Polaca”; baseava-se em modelos fascistas europeus, destacadamente a Constituição polonesa. Outorgada
por Getúlio Vargas em novembro de 1937, a Constituição trazia como principais dispositivos:
§§ ampliação dos poderes do presidente da República graças a uma rígida centralização governamental;
§§ governo do presidente da República mediante decretos leis, suspensão de imunidades e estado de sítio;
§§ mandato presidencial ampliado para seis anos;
§§ perda da autonomia dos estados que passaram a ser governados por interventores nomeados pelo presi-
dente da República;
§§ dissolução dos partidos políticos;
§§ censura da imprensa e dos meios de comunicação em geral;
§§ instituição do estado de emergência e permissão ao presidente de suspender imunidades parlamentares,
prender, exilar e invadir domicílios;
§§ proibição das greves;
§§ pena de morte para os crimes contra a segurança nacional.
Essa deveria ter sido submetida a um plebiscito, como determinava seu próprio texto, mas o ditador fez com
que essa determinação não fosse cumprida.
A repressão recrudesceu. Por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda, DIP, o governo
controlava os meios de comunicação sob rígida censura, bem como servia-se de jornais, cartilhas e, principalmente,
rádio para enaltecer a figura de Vargas e suas realizações. Com esse objetivo, já em 1934, foi criado o programa
radiofônico “Hora do Brasil”.
A polícia política, principal organismo de repressão do Estado e comandada por Filinto Müller, encarre-
gava-se de perseguir, prender e torturar opositores.
O Departamento Administrativo do Serviço Público, Dasp, foi criado em 1938 com a finalidade de
dar ao Estado um aparato burocrático racional e modernizador da administração pública. Com ele, generalizou-
-se o sistema de mérito: o recrutamento de candidatos passou a ser feito mediante a avaliação da capacidade em
concursos públicos e provas de habilitação.
Outra marca importante do Estado Novo foi a intensificação da legislação trabalhista, que publicou a Con-
solidação das Leis do Trabalho, CLT, inspirada na Carta del Lavoro (Carta do Trabalho), implantada na Itália
pelo ditador Benito Mussolini. Foram incorporadas à CLT as leis trabalhistas que vinham sendo promulgadas no
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Brasil ao longo da década de 1930, como a jornada de oito horas diárias, o descanso semanal obrigatório e as
férias remuneradas. Foram regulamentados também os contratos entre patrões e empregados, que deveriam ser
registrados na Carteira de Trabalho. O funcionamento dos sindicatos foi permitido, desde que subordinados ao
Estado, que os utilizava como instrumento de manipulação da classe trabalhadora.
Em julho de 1940 foi criado o imposto sindical – instrumento básico de financiamento do sindicato e de sua
subordinação ao Estado. Consistia de uma contribuição anual obrigatória, correspondente a um dia de trabalho,
paga por todo empregado sindicalizado ou não.
Antes apoiadores do Estado novo, os integralistas passaram a promover duras críticas a Vargas. Para dar o
golpe 1937, Getúlio contou com o apoio dos integralistas. Plínio Salgado e seus adeptos mostravam-se eufóricos,
uma vez que também no Brasil o fascismo era o destino do mundo. No entanto, consolidado no poder, Vargas
tratou de descartar os integralistas. Em 2 de dezembro de 1937, foram surpreendidos pela lei que punha fim aos
partidos políticos, sem excluir a AIB, bem como pela falta de oferta de cargo algum a eles pelo novo governo. Igno-
rados, passaram a conspirar contra o governo.
Em março de 1938 fizeram uma primeira tentativa de golpe, duramente reprimida. Logo depois, unidos a
outros oposicionistas, tentaram a queda de Vargas mediante um ataque ao Palácio da Guanabara, residência do
presidente. Assim fizeram na manhã do dia 10 de maio, obrigando Vargas e seus familiares a defenderem-se de
armas na mão. A ajuda militar ao presidente só chegou depois de quatro horas de tiroteio. Mas essa tentativa de
golpe, conhecida por intentona integralista, também falhou, com inúmeros golpistas presos e fuzilados no
próprio palácio. Plínio Salgado, líder do movimento, foi exilado em Portugal.

Propaganda varguista direcionada ao trabalhador

Economicamente, o Estado Novo foi marcado ainda pelo nacionalismo econômico, que visava limitar a
atuação do capital estrangeiro na economia nacional, ao mesmo tempo em que incentivava a industrialização do
Brasil por meio da implantação de uma indústria de base, que o levou à criação da Companhia Vale do Rio Doce,
em Minas Gerais, e da Companhia Siderúrgica Nacional, CSN, no Rio de Janeiro.
Em 1938 foi criado o Conselho Nacional do Petróleo, CNP, que se encarregou de prospectar poços petrolífe-
ros e dar início ao desenvolvimento desse setor no Brasil. No ano seguinte foram encontrados indícios de petróleo
na Bahia, onde foi perfurado o primeiro poço do Brasil, na cidade de Lobato.
Quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, em 1939, o Brasil manteve-se neutro, embora Getúlio
simpatizasse com o Eixo. Paralelamente, no entanto, pressões externas e internas pela entrada do país na guerra
do lado Aliado fizeram-se valer. A aproximação ideológica entre o Estado Novo e o fascismo europeu era evidente.
Ministros de Vargas, como Francisco Campos, da Educação e Saúde, e Eurico Gaspar Dutra, da Guerra, defendiam
a entrada do país na guerra ao lado do Eixo. Oswaldo Aranha, das Relações Exteriores, defendia o apoio brasileiro
aos Aliados.
Getúlio Vargas manteve-se neutro enquanto procurava obter vantagens econômicas de ambos os lados
em troca do apoio do Brasil. Em meados de 1940, chegou a anunciar a intenção do governo alemão investir na
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siderurgia brasileira com a fundação de uma indústria siderúrgica. Em 1941, para evitar esse acordo e exigir o
compromisso do governo brasileiro, o governo norte-americano ofereceu ao Brasil recursos para a construção da
Companhia Siderúrgica Nacional, CSN.
Em contrapartida, o governo brasileiro cedeu bases militares na região Nordeste para norte-americanos e
ingleses, enviou tropas aos campos de batalha europeus. A Força Expedicionária Brasileira, FEB, continha 25 mil
homens e foram comandados pelo general Mascarenhas de Moraes. A FEB foi incorporada ao IV Exército norte-
-americano e lutou nos campos italianos contra o fascismo, de forma surpreendentemente bem-sucedida.

Vargas e Roosevelt
A participação brasileira na Segunda Guerra Mundial ao lado das democracias liberais e contra os regimes
totalitários de extrema direta revelaram a contradição do país governado por uma ditadura. A partir de então cres-
ceu a pressão interna pela redemocratização do Brasil. Em janeiro de 1945, antes do final da guerra, foi realizado
em São Paulo o Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores, com a participação de Graciliano Ramos, Caio Prado
Júnior, Monteiro Lobato e Carlos Drummond de Andrade. Eram escritores e intelectuais que defendiam a realiza-
ção de eleições diretas para os diversos cargos públicos, a reabertura democrática, o fim da censura aos meios de
comunicação.
Vargas aparentemente cedeu às pressões e surpreendeu o país: iniciou um processo de abertura política
anunciando a convocação de eleições presidenciais para o final de 1945; reduziu a censura à imprensa e concedeu
anistia política, que beneficiou Luís Carlos Prestes, preso desde 1936, e permitiu-lhe voltar à cena política nacional.
Com a concessão da liberdade partidária, foram fundados vários partidos políticos: União Democrática
Nacional, UDN, composta por conservadores, burgueses e latifundiários, representantes dos interesses das elites
nacionais em oposição a Vargas; Partido Social Progressista, PSP, em São Paulo, com grande poder local e liderado
por Adhemar de Barros; Partido Comunista Brasileiro, PCB, devidamente legalizado e atuante; Partido Social Demo-
crático, PSD, que congregava uma facção das elites nacionalistas ligadas ao setor industrial que apoiavam Vargas;
e Partido Trabalhista Brasileiro, PTB, ligado aos sindicatos, trabalhadores e camadas médias urbanas. Getúlio atuou
diretamente na fundação desses dois partidos políticos, PSD e PTB, que lhe serviam de base de apoio.
Enquanto o processo eleitoral desenvolvia-se, Vargas apoiava e estimulava discretamente um movimento
em prol de sua continuidade na presidência da República: o Queremismo. Sob o slogan “Queremos Getúlio”, os
queremistas defendiam a continuidade de Vargas na presidência até que fossem realizadas eleições para a forma-
ção de uma Assembleia Nacional Constituinte, que elaboraria uma nova Constituição e convocaria eleições para a
escolha de um novo presidente.
O apoio maciço ao Queremismo suscitou desconfiança geral de que Getúlio preparava um golpe, visando
à permanência no poder. Para evitar que isso ocorresse, os generais Góes Monteiro, Eurico Gaspar Dutra e Otávio
Cordeiro de Farias lideraram as Forças Armadas na deposição de Getúlio Vargas da presidência da República, no
dia 29 de outubro de 1945, pondo fim ao Estado Novo e à Era Vargas.
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Governo Eurico Gaspar Dutra (1946-1951)
O período democrático situado entre as ditaduras do Estado Novo (1937-1945) e o Regime Militar (1964-1985) é
chamado, por alguns historiadores de República Liberal Populista. Nesse período, o país viveu uma relativa liberda-
de democrática, com grande atuação de partidos políticos, imprensa e movimentos sociais.
Eleito pela coligação PSD/PTB, Partido Social Democrático e Partido Trabalhista Brasileiro, com o apoio de
políticos varguistas, logo que assumiu a presidência da República em Janeiro de 1946, Dutra iniciou um processo
de aproximação política com as elites nacionais, particularmente, representadas pela UDN, União Democrática Na-
cional. No cenário internacional marcado pela Guerra Fria, o novo presidente definiu o posicionamento brasileiro
pró-EUA, o que provocou uma série de problemas internos. No governo Dutra foi a promulgada a nova Constituição
Brasileira, em 1946.
A Constituição de 1946 previa a intervenção nos sindicatos e a censura a algumas manifestações artísti-
cas e culturais notadamente de caráter comunista. Foi mantido o voto secreto para maiores de 18 anos, exceto para
analfabetos, cabos e soldados, e eleições diretas em todos os níveis. O mandato presidencial foi fixado em cinco
anos sem possibilidade de reeleição e o cargo de vice-presidente foi recriado. Além disso, os direitos trabalhistas do
período getulista foram incorporados ao texto constitucional.
As consequências do alinhamento do governo brasileiro com os EUA no contexto da Guerra Fria podem
ser constatadas na política interna. Houve restrição ao direito de greve pelo decreto-lei 9.070, de março de 1946.
Baseada em justificativas fúteis, a maioria governista da Câmara votou pelo fechamento do Partido Comunista
Brasileiro, PCB, em maio de 1947 e, no ano seguinte, todos os mandatos legislativos – senadores, deputados e
vereadores – dos comunistas foram cassados.
Em 1947 o presidente norte-americano Harry Truman visitou o Brasil, quando foi realizada na cidade
fluminense de Petrópolis a Conferência Interamericana de Manutenção da Paz e Segurança. Encerrando a Confe-
rência, foi assinado o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, Tiar, mediante o qual os países das Américas
estabeleciam um pacto para defesa mútua, permitindo a intervenção dos EUA em qualquer área do continente para
preservar a paz e a segurança, o que deve ser entendido como combate ao comunismo no continente.

Dutra e Truman

Em virtude do alinhamento do governo brasileiro à política americana, Eurico Gaspar Dutra adotou uma
política econômica liberal, caracterizada pela abertura ao capital estrangeiro e pela importação de vários produtos,
principalmente os supérfluos.
72
Em 1948 foi lançado o Plano SALTE, que previa investimentos nas áreas de Saúde, ALimentação, Transportes
e Energia. “Em linhas gerais, o Plano SALTE visava estimular e suprir a iniciativa privada através da ação do Estado
na economia. O Estado, sem substituir as empresas particulares, deveria investir para sanar as deficiências daqueles
setores identificados como ’pontos de estrangulamento do desenvolvimento nacional’”
(CACERES, Florival. História do Brasil. São Paulo: Moderna, 1993, p. 303).

A sucessão presidencial ocorreria no final de 1950 e Getúlio Vargas decidiu disputar a presidência pelo
PTB, apoiado por Adhemar de Barros e seu PSP, que indicaram o candidato a vice-presidente, Café Filho. O acordo
previa ainda que Vargas apoiaria Adhemar nas próximas eleições presidenciais. O PSD lançou o candidato Cristiano
Machado, mas grande parte dos filiados do partido deu apoio a Vargas, especialmente nos estados. A UDN lançou
novamente o brigadeiro Eduardo Gomes.
Getúlio Vargas venceu a eleição com 49% dos votos válidos e pôde voltar ao Palácio do Catete, sede da
presidência, “nos braços do povo”.

Segundo Governo Vargas (1951-1954)


A candidatura de Vargas à presidência da República provocou a oposição sistemática e ruidosa da UDN, determi-
nada a evitar sua volta ao Catete a todo custo, como podemos constatar na afirmação de Carlos Lacerda: “O
senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito não
deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”. A afirmação de Lacerda
é uma síntese da atitude dos udenistas durante a campanha presidencial e o governo Vargas até o seu trágico fim.
A polarização do sistema político deu-se em torno de Nacionalistas e Entreguistas.
O grupo dos nacionalistas era composto por intelectuais, militares, burguesia nacional, estudantes e mem-
bros das camadas urbanas, que defendiam mais autonomia do Brasil em relação ao capital estrangeiro, bem como
a exploração das riquezas nacionais por empresas brasileiras e a industrialização baseada em capitais nacionais.
Já os setores liberais eram compostos por políticos conservadores, elites agrárias e membros da burguesia,
militares e parte da classe média na sua maioria congregados na UDN. Eram chamados de “entreguistas”,
por defenderem o desenvolvimento econômico nacional baseado na abertura da economia brasileira ao capital
estrangeiro, particularmente norte-americano, através da montagem de empresas multinacionais no Brasil, para
utilizarem sua tecnologia na exploração das riquezas nacionais.
Em seu mandato democrático, Vargas criou o BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico) para
investimentos de longo prazo. Em 1952 foi aprovada a Lei de Remessa de lucros ao Exterior, que obrigava as
empresas estrangeiras a reinvestir no Brasil pelo menos 10% dos lucros obtidos em território nacional. Apesar
das dificuldades, Vargas ainda fundou a Eletrobrás e iniciou a construção da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso.
Todavia, a maior obra do segundo governo de Vargas foi a criação da Petrobras, em 1953.
Para proteger as riquezas petrolíferas nacionais de interesses estrangeiros, em 1953, um projeto de lei
foi aprovado, garantindo com que a recém criada a Petrobras, empresa de capital misto controlada pelo governo
brasileiro, teria o monopólio de pesquisa, exploração e refino do petróleo brasileiro, frustrando os interesses inter-
nacionais. O monopólio não se estendia à distribuição de derivados do petróleo no Brasil, que poderia ser feita por
grupos privados e estrangeiros.
Em termos trabalhistas, Vargas, mesmo sob imensa pressão, aprovou, em 1º de maio de 1954, um reajuste
de 100% no salário mínimo, o que lhe rendeu profundas críticas das elites econômicas e de sua porta-voz imprensa.
73
Vargas com a mão suja de petróleo

O principal veículo de crítica a Getúlio era o jornal Tribuna da Imprensa, do jornalista Carlos Lacerda, corre-
ligionário da UDN, que diariamente lançava ataques e graves acusações ao presidente.
No dia 5 de agosto de 1954, Carlos Lacerda sofreu um atentado próximo à sua residência, na rua Tonele-
ro, no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro. O jornalista foi atingido no pé e o major da Aeronáutica, Rubens
Florentino Vaz, que o acompanhava, foi morto com um tiro no peito.

Carlos Lacerda logo após sofrer um atentado

No mesmo dia, Lacerda acusou o presidente pelo atentado. Vargas declarou-se inocente, mas as investi-
gações apontaram como mandante do atentado o chefe da guarda pessoal do presidente, Gregório Fortunato, o
“Anjo Negro”, que foi acusado pelo pistoleiro que efetuou os disparos, Alcino do Nascimento. Mesmo declarando-
-se inocente e como a grande vítima do atentado, Vargas perdeu o apoio da Aeronáutica, influenciada pelo Bri-
gadeiro Eduardo Gomes. Oficiais do Exército e da Marinha solidarizaram-se com a Aeronáutica e parte das Forças
Armadas passou a exigir a renúncia do presidente.
Os militares enviaram ultimatum a Vargas exigindo sua renúncia, o que deixava claro que um golpe de
Estado estava sendo preparado. Na noite do dia 23 de agosto realizou-se uma reunião ministerial no Palácio do
Catete. Nela, foi cogitada uma licença do presidente, mas as negociações não avançaram. Já de madrugada, Ge-
túlio retirou-se para seus aposentos.
Na manhã do dia 24 de agosto de 1954, o presidente Getúlio Vargas foi encontrado morto sobre sua cama,
com um tiro no coração. Na cabeceira da cama havia uma carta-testamento, cuja divulgação comoveu a população.
74
“Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía
os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançaram até 500% ao ano. Nas declarações
de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano.
Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi
uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo supor-
tando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda
desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de
alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao
vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e
vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos
manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chamada
imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o
perdão.
E aos que pensam que me derrotam respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto
para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício
ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do
Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não
abateram meu ânimo. Eu vos dei minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente
dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”
(Carta-testamento deixada pelo presidente Getúlio Vargas. 24 ago. 1954).

Vargas em seu caixão

Governo Café Filho (1954-1955)


Em virtude do suicídio do presidente Getúlio Vargas (1954), a Presidência da República foi assumida pelo vice-
-presidente João Café Filho, que pertencia ao PSP (Partido Social Progressista) e havia sido indicado à chapa por
Adhemar de Barros.
No exercício da presidência, Café Filho aproximou-se de políticos conservadores, especialmente da UDN
(União Democrática Nacional) e de militares contrários a Getúlio, nomeando-os para as principais pastas ministe-
riais.
75
No ano de 1955 tiveram início as movimentações de candidatos a presidente e vice, sendo lançados, respec-
tivamente, Juscelino Kubitschek (JK) e João Goulart (Jango). Aliada a partidos de menor expressão, a UDN lançou a
candidatura de Juarez Távora, um dos militares que haviam conspirado contra Vargas. Plínio Salgado candidatou-se
pelo PRP (Partido da Representação Popular) e Adhemar de Barros pelo PSP.
Na área econômica, uma importante medida foi a Instrução 113 (17 jan. 1955) da Superintendência da
Moeda e do Crédito (Sumoc), pela qual empresas estrangeiras podiam importar máquinas e equipamentos do
exterior sem cobertura cambial, contanto que se associassem a empresas nacionais. Para os empresários nacionais
independentes persistiam as restrições cambiais nas importações, de modo a forçá-los a uma associação com os
capitais estrangeiros. Iniciava-se um rápido processo de desnacionalização econômica que tenderia a se intensificar.
O presidente Café Filho afastou-se do cargo em novembro de 1955, alegando problemas de saúde e foi
substituído pelo presidente do Congresso Nacional, Carlos Luz, que era filiado ao PSD, mas mantinha estreitas
relações com a UDN.

Carlos Lacerda, da UDN

Realizadas as eleições, Juscelino Kubitschek obteve 36% dos votos e Juarez Távora, 30%, enquanto João
Goulart foi eleito vice-presidente. Inconformados com a vitória de JK e Jango, Carlos Lacerda e políticos da UDN
tentaram tumultuar ainda mais o ambiente político nacional, inicialmente justificando que os vitoriosos não pode-
riam assumir por não terem obtido mais da metade dos votos, mesmo que isso não estivesse presente na Consti-
tuição de 1946.
O presidente Carlos Luz também não era favorável à posse de JK e Jango, demonstrando simpatia pelo gol-
pe que se processava junto a políticos da UDN para impedir suas posses. Para favorecer o golpe que estava sendo
preparado, Luz precisava afastar do cargo de ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott, que era legalista e
a favor do respeito à Constituição e ao resultado das eleições, à posse de JK e Jango, portanto.
Incentivado por outros militares legalistas, Lott resistiu e depôs o presidente Carlos Luz, cercando o Rio de
Janeiro com aproximadamente 2,5 mil homens. Com isso, a posse de Juscelino e Goulart foi garantida no dia 31
de Janeiro de 1956.

76
Governo Juscelino Kubitschek (1956-1961)
Logo que assumiu a presidência da República, o mineiro Juscelino Kubitschek começou a pôr em prática seu plano
de governo, chamado Plano de Metas. Utilizando o slogan “50 anos em 5”, o presidente pretendia estimular o
desenvolvimento nacional através de uma aliança entre o Estado e a iniciativa privada, promovendo grande aber-
tura ao capital estrangeiro e estimulando a industrialização e o crescimento econômico nacional.
O termo “Plano de Metas” foi usado como referência ao Plano Nacional de Desenvolvimento, composto
por 31 metas, das quais a última sintetizava as demais: construir a nova capital na região do Planalto Central, que
deveria ser inaugurada no dia 21 de abril de 1960. O plano contemplava ainda os setores de transporte, energia,
saúde, educação, indústria e agricultura.
Quanto à industrialização, houve grande desenvolvimento, destacando-se o setor de bens de consumo du-
ráveis, que recebeu volumosos investimentos externos atraídos por facilidades concedidas pelo governo ao capital
estrangeiro. As diretrizes para uma efetiva implantação da indústria automobilística partiram do Grupo Executivo
da Indústria Automobilística (Geia), criado pelo decreto 39.412 e assinado por Juscelino em 16 de junho de 1956.
Conforme o previsto, a capital foi transferida para Brasília inaugurada em 21 de abril de 1960 –, bem
como ministérios, tribunais, órgãos administradores e repartições públicas. Ainda em 1960, Juscelino indicou Darcy
Ribeiro para planejar a Universidade de Brasília, com auxílio de Niemeyer, Ciro dos Anjos e Anísio Teixeira. A cons-
trução de Brasília criou na região Centro-Oeste um polo de desenvolvimento demográfico e econômico. Porém, a
transferência da capital federal para o Planalto Central brasileiro gerou certo distanciamento entre o centro das
decisões do governo e eventuais pressões políticas e sociais regionais. Além disso, considera-se que esse isolamen-
to proporcionou às autoridades mais segurança institucional.

Juscelino Kubitschek e o Palácio do Planalto

A necessidade de grandes volumes de capital para a execução do Plano de Metas forçava o governo a
recorrer intensamente a empréstimos externos. JK tentou obter um empréstimo de 300 milhões de dólares junto
ao Fundo Monetário Internacional, que impôs condições severas ao Brasil para liberar os recursos, como corte
de gastos públicos, contenção de salários e redução de subsídios agrícolas. O governo brasileiro não aceitou as
condições impostas, mas também não conseguiu o empréstimo, o que o levou ao rompimento de relações do Brasil
com o FMI.
Os resultados do Plano de Metas foram impressionantes, sobretudo no setor industrial. Entre 1955 e 1961,
o valor da produção industrial cresceu em 80%, com altas porcentagens nas indústrias do aço (100%), mecânicas
(125%), de eletricidade, de comunicações (380%) e de material de transporte (600%).
De 1957 a 1961, o PIB, Produto Interno Bruto, cresceu a uma taxa anual de 7%, correspondendo a uma
taxa per capita de quase 4%. Se considerarmos toda a década de 1950, o crescimento do PIB brasileiro per capita
foi aproximadamente três vezes maior que o do resto da América latina.
77
No entanto, os gastos governamentais para sustentar o programa de industrialização, a construção de
Brasília e um forte saldo negativo na balança comercial resultaram em crescentes déficits do orçamento federal. O
governo gastava mais do que arrecadava. Esse déficit passou de menos de 1% do PIB em 1954 e 1955 para 2%
em 1956 e 4% em 1957.
Esse quadro foi acompanhado do avanço da inflação. Em 1956, a inflação estava em 19%; ao final do
governo JK, a inflação atingiu 30% ao ano. Houve também aumento espetacular da dependência em relação ao
capital externo. Em setores como a indústria automobilística, cigarros, eletricidade, material elétrico, produtos quí-
micos e farmacêuticos, o domínio do capital estrangeiro passou a ser de 80% a 90%.
Some-se a todos esses problemas um aumento significativo da dívida externa. Quando da posse de JK, a
dívida externa brasileira era de 1,5 bilhão de dólares; no final de seu governo, saltara para 3,8 bilhões de dólares.
Quando da sucessão de Juscelino, nas eleições de 1960, PSP, Partido Social Progressista, indicou Adhemar
de Barros e o minúsculo PTN, Partido Trabalhista Nacional, com o apoio da UDN, União Democrático Nacional, lan-
çou a candidatura de Jânio Quadros, ex-vereador, ex-deputado, ex-prefeito e ex-governador sempre por São Paulo.
Dotado de uma oratória envolvente e utilizando discursos fortes e uma imagem que o aproximava das ca-
madas populares, Jânio Quadros venceu as eleições com a maior votação já obtida até então por um candidato
à presidência.

Governo Jânio Quadros (1961)


Carismático, excêntrico, conservador, grande orador e acima de tudo populista, Jânio Quadros baseava suas cam-
panhas na sua imagem e na sua personalidade, não se ligando a partidos ou a correntes políticas. Isso fica claro
nas constantes trocas de partido que fazia a cada eleição e na vitória na campanha presidencial pela coligação de
pequenos partidos, apesar do apoio da UDN, União Democrática Nacional, encabeçada pelo PTN, Partido Trabalhis-
ta Nacional, partido de pouca expressão política.

Jânio Quadros e a “vassourinha”

Desde o início de seu curto governo, Jânio Quadros definiu que a política externa brasileira seria indepen-
dente, não alinhada automaticamente pelos interesses estrangeiros, especialmente os norte-americanos. O ponto
crítico de sua política ocorreu quando recusou-se a apoiar a invasão norte-americana à Baía dos Porcos, em repre-
sália à Revolução Cubana, e condecorou o ex-guerrilheiro e um dos líderes da Revolução ao lado de Fidel Castro,
Ernesto “Che” Guevara. Tais medidas não satisfizeram os setores conservadores ligados ao capital estrangeiro,
perdendo sua base parlamentar com o afastamento da UDN do governo.
78
Para enfrentar a crise econômica, a moeda foi desvalorizada, foram cortados gastos públicos e reduzidos
os subsídios para a importação de trigo e petróleo, medidas que geraram oposição ao presidente da República,
pois provocaram recessão e inflação. Tentando desviar a atenção da imprensa e da população dos reais problemas
brasileiros e das medidas impopulares do governo, Jânio Quadros adotou medidas polêmicas que o mantinham
constantemente na mídia, como proibições do uso de biquínis em desfiles, brigas de galo, corridas de cavalo em
dias úteis e de lança-perfumes em bailes de carnaval.
Mais uma vez, o ambiente político nacional foi agitado por Carlos Lacerda da UDN. Revoltado com as con-
decorações de Che Guevara, o então governador do estado da Guanabara denunciou em 24 de agosto de 1961,
aniversário de morte de Getúlio Vargas, que Jânio Quadros preparava um golpe de Estado. Contrariado, o presiden-
te reuniu seus ministros militares e exigiu que fosse mantida a ordem no país. No dia seguinte, 25 de agosto, Jânio
Quadros participou pela manhã, em Brasília, de uma solenidade em homenagem ao dia do soldado. No início da
tarde enviou um bilhete ao Congresso Nacional comunicando sua renúncia à presidência da República.
A situação era tensa e o vice-presidente João Goulart estava fora do país em visita oficial à China. Com
medo da ascensão política do trabalhista Jango, o Congresso e os militares aceitaram prontamente a renúncia do
presidente e a presidência da República foi ocupada por Ranieri Mazzilli, presidente do Congresso Nacional. O
Brasil viveria uma crise política sem precedentes.

João Goulart e Mao Tsé-Tung

Governo João Goulart (1961-1964)


A renúncia de Jânio Quadros mergulhou o país em uma séria crise política, pois militares e setores conservadores
opunham-se à posse do vice-presidente João Goulart, considerado herdeiro político de Getúlio Vargas e comunista.
Logo que soube da renúncia, Jango voltou ao Brasil, mas foi impedido de entrar no país pelos ministros
militares brigadeiro Gabriel Grün Moss (Aeronáutica), almirantes Sílvio Heck (Marinha) e general Odílio Denys
(Exército). Eles contavam com o apoio da UDN e de Carlos Lacerda, que defendiam o impedimento de Jango, uma
reforma constitucional e a realização de novas eleições presidenciais.
João Goulart seguiu para o Uruguai e entrou no Brasil pelo Rio Grande do Sul, de onde o governador Leonel
Brizola organizava um movimento em prol do respeito à Constituição e da posse de Jango. O movimento foi bati-
zado de “Campanha da Legalidade”.

Goulart e Brizola
79
O governador Leonel Brizola ameaçava distribuir armas à população e o país estava à beira de uma guerra
civil, quando foi selado um acordo para resolver o impasse: o Congresso Nacional aprovou uma emenda à Consti-
tuição de 1946, que estava em vigor, instituindo o parlamentarismo no Brasil durante um período, quando, através
de um plebiscito a ser realizado em 1965, coincidiria com o término do mandato de Jango. A população decidiria
se mantinha o sistema ou se o Brasil deveria retornar ao presidencialismo.
Ciente das dificuldades do país e da oposição dos meios elitistas, conservadores e militares, João Goulart ini-
ciou a primeira fase de seu governo procurando alternativas para restaurar o presidencialismo, o que lhe garantiria
poderes para tentar realizar as reformas necessárias ao Brasil. Para tanto deveria conquistar o apoio ou quebrar a
resistência dos militares e acalmar a oposição conservadora sem perder o apoio popular e de setores progressistas
de esquerda.
Nessa fase, o país era governado de fato por um primeiro-ministro, cargo ocupado respectivamente por Tan-
credo Neves (PSD), Brochado da Rocha (PSD) e Hermes Lima (PSB). Durante esses governos, não houve melhoria
na situação do país, o que fazia aumentar a crença de que somente Jango poderia resolver os problemas nacionais.
O resultado do plebiscito provocou a restauração do presidencialismo no Brasil. No dia 24 de janeiro de
1963 foi empossado o novo ministério montado pelo presidente João Goulart, com destaque para Almino Afonso
(Trabalho), Celso Furtado (Planejamento e Coordenação Econômica) e San Tiago Dantas (Fazenda).
Diante da crise, o governo elaborou um plano para ser aplicado entre os anos de 1963 e 1965, chamado
Plano Trienal, que contemplava prioridades como combate à inflação, retomada do crescimento econômico e rene-
gociação da dívida externa, bem como Reformas de Base, consideradas fundamentais para solucionar os problemas
sociais do País.
As Reformas de Base compreendiam reformas político-eleitorais – direito de voto aos analfabetos – e
partidárias; tributária – limitação da remessa de lucros ao exterior e regulamentação de impostos de acordo com a
renda; universitária – de acordo com exigências estudantis; constitucional e agrária – baseadas na desapropriação
de terras às margens de rodovias e ferrovias federais.
O presidente recebia apoio de segmentos nacionalistas e progressistas, como sindicatos, trabalhadores em
geral, Comando Geral dos Trabalhadores, CGT; União Nacional dos Estudantes, UNE; Ligas Camponesas, Ação Po-
pular – católicos de esquerda –, Pacto de Unidade e Ação Popular, Frente de Mobilização Popular, FMP, liderada por
Leonel Brizola, políticos do PTB e PSB; comunistas e intelectuais ligados ao Instituto Superior de Estudos Brasileiros,
ISEB; e segmentos populares.
A oposição a Jango e às Reformas de Base congregava políticos conservadores, especialmente da UDN,
empresários, militares; imprensa – com destaque para Carlos Lacerda e o jornal O Globo –, parte da Igreja Católica,
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, Ipes – composto por empresários –, Campanha da Mulher pela Democra-
cia, Cade – financiada pelos Ipes –, Movimento Anticomunista, MAC, Frente da Juventude Democrática – formada
por estudantes de classe média e alta –, e setores de classe média assustados com a amplitude das Reformas de
Base, que poderiam, segundo a imprensa conservadora, atingir seus bens.
Diante da crise, João Goulart tentou implantar o Estado de sítio, mas o Congresso não aprovou tal medida.
Jango decidiu então aproximar-se das massas e implantar as Reformas de Base. No dia 13 de março de 1964 acon-
teceu um comício no Rio de Janeiro, em frente à estação Central do Brasil, organizado por sindicatos e entidades
estudantis, com o objetivo de pressionar o Congresso Nacional a aprovar as Reformas de Base. O comício reuniu
cerca de 200 mil pessoas e contou com a participação do presidente João Goulart, que assinou dois importantes
decretos: a desapropriação e a nacionalização das refinarias de petróleo particulares e estrangeiras; a criação da
Superintendência da Reforma Agrária, Supra, que desapropriaria latifúndios situados às margens de ferrovias e
rodovias federais.
As medidas provocaram reações nos meios oposicionistas, assustados com a amplitude das reformas. As
críticas avolumavam-se na imprensa e, em São Paulo, foi organizado um protesto por entidades femininas ligadas
à Igreja Católica, que ocupou as ruas do centro da cidade, no dia 19 de março: a Marcha da Família com Deus
pela Liberdade.
80
(Marcha da Família com Deus pela Liberdade)

No Rio de Janeiro ocorreu um motim de marinheiros liderados pelo Cabo José Anselmo dos Santos, presidente da
Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais, exigindo a demissão do ministro da Marinha, Silvio Mota. Fuzileiros
navais designados para reprimir os amotinados aderiram ao movimento e o Ministro da Marinha demitiu-se do
cargo. Tentando contornar a situação, o presidente interveio anunciando que os revoltosos não seriam punidos, o
que foi visto pelos oficiais como quebra de hierarquia, pois o presidente posicionava-se ao lado de marinheiros que
haviam desrespeitado o comando.
No dia 31 de março de 1964, os generais Olympio Mourão Filho e Carlos Guedes iniciaram o movimento
militar em Minas Gerais, sob a chefia do general Castelo Branco, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, com
o apoio dos governadores Adhemar de Barros, Carlos Lacerda e Magalhães Pinto, respectivamente de São Paulo,
Guanabara e Minas Gerais.
Já no dia 1º de abril de 1964, o cargo de Presidente da República foi declarado vago e ocupado por Ranieri
Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados. Consumava-se o Golpe Civil-Militar de 1964.

Ditadura militar: governo Castello Branco


Após a deposição do presidente João Goulart, a presidência da República foi assumida por Ranieri Mazzili, presi-
dente da Câmara dos Deputados. Imediatamente foi formado o Comando Supremo da “revolução”, como se de-
nominava o golpe de Estado, formado pelos ministros militares almirante Augusto Rademaker, da Marinha; general
Arthur da Costa e Silva, da Guerra; e brigadeiro Corrêa de Melo, da Aeronáutica.
O comando foi responsável pela publicação do Ato Institucional nº 1 (Al-1, de 9 de abril de 1964), que
suspendeu as garantias constitucionais por sessenta dias, durante os quais poderiam ser cassados mandatos e sus-
pensos os direitos políticos de qualquer cidadão. Além disso, o presidente, que seria eleito indiretamente, poderia
propor emendas à Constituição e decretar estado de sítio. O AI-1 atingiu, ainda, segundo Meira, “cerca de 122 ofi-
ciais que passaram para a reserva e mais de 1.000 pessoas que foram afastadas de seus cargos; 50 parlamentares
tiveram seu mandato cassado; e 49 juízes foram atingidos pela medida de exceção”
(MEIRA, Antônio Carlos. Brasil: recuperando a nossa História. São Paulo: FTD, 1998, p.241).

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Tanques nas ruas do Rio de Janeiro durante o Golpe de 1964

No dia 15 de março de 1964, a junta militar indicou o marechal Humberto de Alencar Castello Branco
para ocupar o cargo de presidente da República, devendo concluir o mandato do presidente deposto, João Goulart,
que se estenderia até janeiro de 1966.
Controlando o Congresso Nacional, composto basicamente por parlamentares que apoiavam o regime
militar, já que seus principais opositores tiveram os mandatos cassados e os direitos políticos suspensos em virtude
do AI-1, Castello Branco conseguiu a aprovação de importantes medidas para o regime. Entre elas destaquem-se a
aprovação da Lei de Greve, que tornava ilegais as greves, e da Lei Suplicy, proposta pelo Ministro da Educação Flá-
vio Suplicy de Lacerda, que extinguia a UNE e todas as entidades estudantis, bem como determinava o fechamento
dos centros acadêmicos das universidades.
Também foi criado o Serviço Nacional de informação, SNI, principal órgão de informação do governo,
que teve importante atuação na repressão aos opositores do regime. Idealizado pelo general Golbery do Couto e
Silva, o SNI coletava, processava e fornecia informações úteis ao combate à subversão interna, transformando-se
em um dos principais órgãos do regime militar no Brasil.
A primeira grande preocupação do novo governo foi adotar uma rígida intervenção na economia, com o
objetivo de controlar a inflação. Foi criado o Plano de Ação Econômica do Governo, Paeg, que estabeleceu o
corte nos gastos públicos (menos verbas para saúde, educação, salários de funcionários) e o aumento de impostos.
No mesmo período foi criado o Banco Central (lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964), tendo como principal função
controlar a emissão monetária e o sistema bancário e foi introduzida uma nova moeda, o Cruzeiro Novo (NCr$).
Castelo Branco limitou os reajustes salariais e facilitou as demissões e a rotatividade de mão de obra, ao
substituir as garantias de estabilidade no emprego pelo FGTS, Fundo de garantia por tempo de serviço. Foi
criado o Banco Nacional da Habitação, BNH, que deveria utilizar o dinheiro dos depósitos do FGTS para finan-
ciar a construção de casas populares.
Em 1965, houve eleições para governadores de onze estados. Contudo, a importante vitória eleitoral de po-
líticos do PSD e PTB contrariou a cúpula militar e demonstrou que o populismo ainda tinha força no país. A reação
estimulada especialmente pela “linha dura” foi a promulgação do Ato Institucional nº 2, de 27 de outubro de
1965, afirmando em seu preâmbulo que “não se disse que a Revolução foi, mas que é e continuará”.
O AI-2 determinava que o presidente pudesse intervir nos estados e municípios “para prevenir ou reprimir
a subversão”; permitia ainda a decretação de recesso no Legislativo, podendo o presidente legislar através de
decretos-lei; foram estabelecidas eleições indiretas para presidente da República e vice; e o presidente
poderia determinar a suspensão de direitos políticos por dez anos. O Al-2 determinava ainda a extinção de to-
dos os partidos políticos no Brasil. No entanto, um decreto complementar estabeleceu o bipartidarismo e os
políticos foram obrigados a se vincular a duas novas legendas criadas: a Aliança Renovadora Nacional, Arena,
e o Movimento Democrático Brasileiro, MDB.
Em outubro de 1966, o candidato imposto pela “linha dura”, Arthur da Costa e Silva, foi eleito presidente,
tendo como vice o civil Pedro Aleixo, ex-ministro da Educação do governo Castello Branco. Antes de concluir seu
82
mandato, Castello Branco publicou os atos institucionais 3, de 5 fevereiro de 1966, e o 4, de 7 de dezembro de
1966. O primeiro determinou a realização de eleições indiretas para a escolha de governantes estaduais,
prefeitos das capitais e de áreas consideradas de Segurança Nacional.
O AI-4 estabelecia um conjunto de normas a serem seguidas pelo Congresso, para a elaboração de uma
nova Constituição, que seria o último ato de Castello Branco na Presidência, a Constituição de 1967. Foi inclu-
ída na Carta Magna a Lei de Segurança Nacional, que proibia manifestações ofensivas ao governo na mídia e
oficializava censura prévia à imprensa.

Ditadura militar: governo Costa e Silva


A posse de Costa e Silva representou a ascensão da chamada “linha dura” ao comando político do país. O novo
governo não manteve membros do governo anterior nos cargos comissionados e nos ministérios, que passaram a
ser ocupados por oficiais e políticos ligados à “linha dura”, com destaque par o civil Delfim Netto, responsável pelo
comando da economia nacional. Logo no início do mandato, o novo governo elaborou o Programa Estratégico de
Desenvolvimento, PED, que tinha como metas prioritárias combater a inflação e estimular o crescimento econômi-
co. O governo passou a controlar preços e salários e incentivou os investimentos estrangeiros no Brasil.

Polícia perseguindo manifestante em 1968

Políticos descontentes com a marginalização a que estavam submetidos, especialmente Carlos Lacerda,
que sonhava ser presidente, organizaram uma Frente Ampla de oposição ao regime militar. O principal objetivo
dessa Frente era restaurar a democracia e as eleições diretas para Presidente da República e elaborar uma nova
Constituição. A Frente Ampla contou com o apoio dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, o que
demonstrava seu caráter eclético ao reunir antigos adversários.
O ano de 1968 foi marcado por grandes manifestações estudantis de protesto contra a política educacional
que o governo desejava implantar através do acordo Mec-Usaid e contra o próprio governo.
Em março desse ano, o estudante secundarista Edson Luis de Lima Souto foi morto a tiros em um confronto
entre manifestantes e policiais militares. Revoltados, os estudantes realizaram o velório de Edson no prédio da
Assembleia Legislativa do Estado, onde vários discursos foram proferidos contra a ditadura. O enterro foi acompa-
nhado por cerca de 50 mil pessoas, assim como a missa de sétimo dia, na igreja da Candelária, que reuniu milhares
de pessoas, apesar da rígida vigilância policial.
O resultado foi a realização de uma grande passeata contra o regime militar, organizada por estudantes,
intelectuais, artistas e membros da Igreja católica, realizada no dia 26 de junho de 1968. Conhecida como a Pas-
seata dos Cem Mil, a manifestação foi um marco e serviu de estímulo à manifestação em todo o País.
Diante das pressões, o governo editou o Ato Institucional Nº5, que suspendeu direitos e garantias cons-
titucionais dos cidadãos e o habeas corpus; ampliou os poderes do presidente – demitir, remover ou pôr em dispo-
nibilidade funcionários públicos federais, estaduais e municipais, fechar casas legislativas, decretar estado de sítio e
confiscar bens como forma de punição por corrupção e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais;
demitir ou reformar oficiais e membros das Forças Armadas e das polícias militares.
83
Protesto contra a ditadura

Em 1969, o presidente Costa e Silva sofreu um derrame e foi afastado do cargo, que deveria ser assumido
pelo vice, o civil Pedro Aleixo, que se opusera ao AI-5. Os militares não admitiram a posse do vice e o governo foi as-
sumido por uma Junta Militar composta dos ministros do Exército, Marinha e Aeronáutica, respectivamente, general
Aurélio Lyra Tavares, almirante Augusto Rademaker e brigadeiro Márcio de Sousa Melo. Em outubro, o Congresso
Nacional foi reaberto para escolher o novo presidente. O Comando Supremo da Revolução indicou como candidato
o general Emílio Garrastazu Médici, que foi confirmado para o cargo.

Ditadura militar: governo Médici (1969-1974)


O presidente general Emílio Garrastazu Médici era um fiel representante da “linha dura”. No seu governo empe-
nhou-se em combater toda e qualquer oposição ao regime militar. Aquele período – conhecido como os “anos de
chumbo” – foi o mais cruel e de mais repressão do Estado sobre a sociedade civil e os meios de comunicação. Em
nome da segurança nacional, o governo promoveu perseguições, torturas e assassinatos contra seus opositores e
contra os meios de comunicação, que foram bastante censurados.
A base política e econômica do governo Costa e Silva foi mantida por Médici, bem como o ministro da
Fazenda, Antonio Delfim Netto, o que lhe permitiu colher os frutos da política econômica implantada no governo
anterior pelo Programa Estratégico de Desenvolvimento, PED. Com o intuito de elevar o Brasil às grandes potências
econômicas mundiais, foi criado o Plano Nacional de Desenvolvimento, PND, cujas principais metas eram
manter os baixos índices inflacionários e promover o desenvolvimento da economia nacional. Houve grande estí-
mulo às exportações, principal fonte de recursos da economia brasileira, bem como à importação de máquinas e
equipamentos industriais, fundamentais para o desenvolvimento do País.
Durante o período do chamado “milagre econômico” (1969-1973), o PIB cresceu na média anual 11,2% e
alcançou o pico em 1973, com uma variação de 13%. A inflação média anual não passou de 18%. Médici realizou
grandes investimentos no setor de infraestrutura e na construção de grandes e portentosas obras, chamadas “fa-
raônicas”, em virtude do tamanho, como, por exemplo, a Ponte Rio–Niterói e a rodovia Transamazônica, símbolos
de um “Brasil grande”.
Apesar desses indicadores positivos, no entanto, o “milagre brasileiro” também apresentou pontos ne-
gativos. Um dos seus pontos vulneráveis estava em sua excessiva dependência do sistema financeiro e do comércio
internacional, responsáveis pela facilidade dos empréstimos externos, pela inversão de capitais estrangeiros, pela
expansão das exportações etc. Outro ponto negativo era a necessidade cada vez maior de contar com determi-
nados produtos importados, dos quais o mais importante era o petróleo. Porém, o principal aspecto negativo do
“milagre” foi de natureza social.
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Médici visitando as obras da ponte Rio-Niterói

A política econômica de Delfim Netto tinha o propósito de fazer crescer o “bolo” pra só depois pensar em
distribuí-lo. Alegava-se que antes do crescimento pouco ou nada havia para distribuir. Privilegiou-se assim a acu-
mulação graças às facilidades já apontadas e da criação de um índice prévio de aumento dos salários em nível que
subestimava a inflação. Do ponto de vista do consumo pessoal, a expansão da indústria, notadamente no caso dos
automóveis, favoreceu as classes de renda alta e média. Os salários dos trabalhadores de baixa qualificação foram
comprimidos, enquanto os empregos administrativos de empresas e publicidade valorizaram-se ao máximo. Tudo
isso resultou em uma concentração de renda acentuada que vinha já de anos anteriores.
Na sucessão de Médici, indicação de Geisel representou um triunfo dos “castelistas” e uma derrota da
“linha dura”. Seria equivocado pensar, porém, que ele tivesse recebido o mandato de uma corrente no interior
das Forças Armadas favorável à liberalização do regime. No âmbito da corporação, Geisel foi escolhido pela sua
capacidade de comando e suas qualidades administrativas.

Ditadura militar: governo


Ernesto Geisel (1974-1979)
O general Ernesto Geisel ocupava a presidência da Petrobrás pouco antes de ser eleito e já havia exercido o cargo
de Chefe da Casa Militar no governo Castello Branco. Sua posse representou o retorno da ala dos militares conside-
rada mais moderada, o grupo da Sorbonne, castelista, que passa a defender o início da transição para a democracia
de forma “lenta, gradual e segura”, nas suas palavras.
Com novas derrotas da Arena nas eleições parlamentares, foi promulgada a Lei Falcão, criada pelo Mi-
nistro da Justiça Armando Falcão, que limitava a propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Os candidatos não
poderiam mais falar; portanto, não mais atacariam o governo. Na televisão seria mostrada a imagem do candidato
enquanto um narrador oficial expunha seu nome, número, partido e currículo.
No governo de Geisel, a economia sofria com os sintomas do fim do “milagre econômico”, representados
pela queda do PIB e pelo retorno da inflação, que reduziriam o poder aquisitivo da população e o consumo, pro-
vocando aumento do desemprego e crises no setor industrial e comercial. A dívida externa havia crescido muito
e representava aproximadamente 25% do PIB nacional e a especulação retirava investidores e impedia novos
investimentos no país.
Em outubro de 1973, ainda no governo Médici, ocorreu a primeira crise internacional do petróleo, con-
sequência da chamada Guerra do Yom Kippur, movida pelos Estados árabes contra Israel. A crise afetou profunda-
mente o Brasil, que importava mais de 80% do total de seu consumo. Com o objetivo de combater a crise e retomar
o crescimento econômico do país, a equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen
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elaborou o II Plano Nacional de Desenvolvimento, II PND. O plano elegia um novo setor prioritário para a
economia nacional: a produção de bens de capital – máquinas, derivados de petróleo, eletricidade, ferro e aço.
O II PND seria responsável por uma ampliação da atuação do Estado na economia, representado princi-
palmente pelas empresas estatais responsáveis pela execução das medidas, com destaque para a Petrobrás e a
Eletrobrás. Houve também o acordo nuclear Brasil-Alemanha, que seria um acordo de cooperação nuclear
entre os dois países, através do qual a Alemanha forneceria tecnologia para a construção de oito usinas nucleares
a custo de 10 bilhões de dólares e urânio para abastecer suas centrais nucleares.
O Proálcool foi anunciado também em 1975 e consistia no incentivo ao desenvolvimento de carros movi-
dos a álcool e na produção em larga escala de álcool combustível e de seu uso como matéria-prima na indústria
química. Além disso, o álcool seria adicionado à gasolina.
Na política, o processo de abertura do presidente Geisel sofria críticas constantes da “linha dura”, através
de panfletos distribuídos nos quartéis e nos bastidores, denotando haver “briga” interna entre os membros das For-
ças Armadas quanto à forma de condução das políticas governamentais. Por outro lado foram mantidas a tortura,
a repressão e até mesmo o assassinato de opositores ao regime, embora Geisel deixasse ser difundida a versão de
que tudo ocorria à sua revelia. Em outubro de 1975, o jornalista Wladimir Herzog, diretor de jornalismo da TV
Cultura, foi assassinado sob tortura nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo. A morte do jornalista provocou
grande comoção e mobilização da sociedade civil contra o governo, acalorando as lutas contra o regime.
Tal descontentamento com o regime fez-se sentir não somente na população, mas na alta cúpula política.
Por conta disso, em 1978, ano no qual ocorreriam eleições para governadores estaduais, deputados e senadores,
havia uma clara ameaça para o governo de uma expressiva vitória eleitoral do MDB. Vitória essa que impediria a
aprovação no Congresso de vários projetos do governo, especialmente um de reforma do Judiciário, já derrotado
por influência do MDB, mas que o governo insistia em aprovar.

Wladimir Herzog enforcado

Usando os poderes especiais conferidos pelo AI-5, em abril de 1977 o presidente Geisel determinou o fecha-
mento do Congresso Nacional e decretou o Pacote de Abril. Com essa medida foram alteradas as regras eleito-
rais e estabelecidas eleições indiretas para governador, criação dos senadores biônicos (indicados pelo governo)
e ampliação do mandato presidencial para seis anos. O pacote determinava ainda que a escolha do presidente não
seria mais realizada pelo Congresso Nacional, mas por um Colégio Eleitoral, composto pelo Congresso Nacional e
mais seis representantes de cada Assembleia Legislativa Estadual.
A crise econômica que se abatia sobre o Brasil e a inflação levaram segmentos da imprensa, da sociedade
civil e dos trabalhadores a pressionar o governo pela abertura e a realizar manifestações. Em maio de 1978, exi-
gindo aumento de salários, os metalúrgicos da região do ABC Paulista entraram em greve, liderados por Luís Inácio
Lula da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema.
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Em outubro de 1978, o governo anunciou a revogação do AI-5, que deixaria de vigorar a partir de 1º
de janeiro de 1979, iniciando de fato a desmontagem do Estado militar autoritário. A medida agradava setores
da sociedade civil – Ordem dos Advogados do Brasil, OAB, Associação Brasileira de Imprensa, ABI, Igreja Católi-
ca, sindicatos, estudantes, bem como até mesmo o governo norte-americano, comandado pelo presidente Jimmy
Carter – que pressionavam pela redemocratização do Brasil.

Ditadura militar: governo João


Figueiredo (1979-1985)
O novo presidente da República João Figueiredo assumiu o cargo com o compromisso de manter o processo de
abertura política lenta, gradual e segura iniciada por Geisel. O novo governo deveria evitar o radicalismo político
tanto na oposição ao regime quanto na “linha dura”, contrária à abertura, evitando que prejudicassem o processo
de redemocratização do Brasil.
A crise econômica, a elevada dívida externa e o crescimento da inflação eram sérias dificuldades que deve-
riam ser superadas. Com esse intuito, Delfim Neto foi nomeado Ministro da Fazenda e lançou o III Plano Nacional
de Desenvolvimento – III PND, que não teve resultados favoráveis, especialmente em virtude da falta de recursos
disponíveis no mercado financeiro internacional.
Em junho de 1979, o presidente Figueiredo enviou ao Congresso a Lei de Anistia, que foi aprovada em
outubro do mesmo ano. O projeto previa anistia ampla, geral e irrestrita para crimes políticos e conexos, e benefi-
ciou militares envolvidos nos atos de torturas, mortes e desaparecimentos. A lei não incluía pessoas envolvidas em
ações consideradas terroristas pelo Estado e não apresentava solução para o problema dos prisioneiros políticos
desaparecidos, o que suscitou críticas de vários setores da sociedade civil, particularmente dos movimentos sociais
e da imprensa.

Ato pela Anistia

Com o intuito de dividir a oposição, enfraquecendo-a, o presidente Figueiredo enviou ao Congresso uma
proposta de emenda constitucional aprovada em novembro de 1979, que extinguia o bipartidarismo e implantava
o pluripartidarismo no Brasil. A Arena manteve-se coesa, mas a oposição de fato fragmentou-se em:
§§ Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB, liderado por Ulysses Guimarães e que contou
com a maioria dos ex-membros do MDB;
§§ Partido Popular, PP, fundado por Tancredo Neves e que teve curta duração, com a maioria de seus inte-
grantes ingressando posteriormente no PMDB;
§§ Partido Trabalhista Brasileiro, PTB, comandado por Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio Vargas;
§§ Partido Democrático Trabalhista, PDT, fundado por Leonel Brizola;
§§ Partido dos Trabalhadores, PT, que congregava representantes do movimento operário e intelectuais de
esquerda, cuja liderança coube a Luís Inácio Lula da Silva.
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Em 1980, foram restauradas eleições diretas para governadores dos estados e extinto o cargo de senador
biônico.
A abertura política revoltava os setores conservadores radicais do Exército ligados à “linha dura”, que
decidiram reagir por meio da violência, realizando sequestros de militares de esquerda, torturas e assassinatos,
além de atentados a bomba contra bancas de revistas que vendiam publicações de esquerda ou de oposição ao
regime militar e contra cerimônias ou atos públicos de partidos e entidades de oposição. Também foram praticados
atentados na sede do jornal oposicionista A Hora do Povo, na sede do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais
e no prédio da OAB, no Rio de Janeiro. Além desses, alcançou grande repercussão o atentado no Centro de
Convenções do Rio de Janeiro, o Riocentro.
Em pleno estacionamento do prédio do Riocentro, explodiu uma bomba em um automóvel que conduzia
dois militares, matando o sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário e ferindo o capitão Wilson Luís Chaves
Machado. As investigações da imprensa pareciam revelar que os dois foram vítimas de um “acidente de trabalho”
quando se preparavam para executar um atentado terrorista de extrema direita.

Atentado no Riocentro

O clima de agitação permeou toda a sucessão de Figueiredo, em 1984, que deveria ser feita a partir de
votação indireta pelo colégio eleitoral. Com o intuito de pressionar o Congresso a reformular a Constituição, o PT
lançou a ideia, logo incorporada pelo PMDB e outros partidos de oposição, de associados a entidades da socieda-
de civil, sindicatos e estudantes organizarem grandes comícios e manifestações nas principais cidades brasileiras,
especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. A campanha das Diretas já! usava o slogan “Eu quero votar
para presidente” e mobilizou a população brasileira, que empolgada saía às ruas defendendo a imediata redemo-
cratização do País.

Ato das Diretas Já! na Catedral da Sé


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O clima nacional levou o deputado federal Dante de Oliveira (PMDB-MT), a propor uma emenda constitu-
cional que restabelecia as eleições diretas para presidente da República. A emenda foi votada no dia 25 de abril de
1984 e, para a frustração da população nacional, não foi aprovada, pois necessitava de dois terços de votos favo-
ráveis (320), mas recebeu apenas 298 votos. Com a não aprovação da Emenda Dante de Oliveira e a manutenção
da eleição indireta para presidente da República, a oposição passou a se mobilizar para tentar derrotar o governo
no Colégio Eleitoral, ou como dizia Ulysses Guimarães, “vamos matar a cobra no seu próprio ninho”.
O PMDB lançou o nome de Tancredo Neves e o PDS, que tinha maioria no Congresso, acabou enfraquecido
por uma divergência interna entre Mario Andreazza, Paulo Maluf e Aureliano Chaves, que disputavam a indicação
do partido para concorrer ao cargo. Ao fim, pelo PDS concorreu com Paulo Maluf.
As eleições ocorreram no dia 15 de janeiro de 1985 e foram vencidas por Tancredo Neves, que deveria tomar
posse no dia 15 de março. Todavia, na véspera da posse, o presidente eleito sofreu um mal-estar e foi internado no
Hospital de Base de Brasília, sendo, posteriormente, transferido para o Instituto do Coração, em São Paulo. No dia
15 de março, o vice-presidente José Sarney tomou posse, assumindo interinamente o cargo de Presidente. Tancre-
do Neves foi submetido a várias cirurgias, mas não resistiu. Seu falecimento foi oficialmente anunciado no dia 21
de abril de 1985. Sarney foi então efetivado no cargo de Presidente da República.

Tancredo em seu caixão

Governo Sarney (1985-1990)


José Sarney herdara do regime militar um país com sérios problemas econômicos, especialmente as altas taxas de
inflação (223,8%, em 1984), crescente dívida externa, investimentos produtivos baixos, especulação financeira, re-
cessão e um Estado falido. Em fevereiro de 1986, o ministro da fazenda Dílson Funaro lançou um plano econômico:
O Plano de Estabilização Econômica ou Plano Inflação Zero, que visava combater a inflação e manter o crescimento
econômico, tendo como principais disposições:
§§ criação de uma nova moeda, o Cruzado;
§§ congelamento de preços e salários, que foram reajustados em 8%;
§§ redução das taxas de juros;
§§ desindexação1 da economia; e
§§ aumento automático dos salários, todas as vezes que a inflação superasse os 20% mensais.
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Tancredo e Sarney

O plano ficou conhecido como Plano Cruzado e, em virtude da estabilização dos preços, da queda da
inflação e dos juros, recebeu o apoio da população Tabelas de preços eram distribuídas diariamente e os brasileiros
foram convocados a fiscalizar os preços, denunciando aumentos irregulares como “fiscais do Sarney”, assim de-
nominados. O consumo foi estimulado e a queda no rendimento das aplicações financeiras, inclusive a poupança,
levou as pessoas a retirar seu dinheiro das aplicações financeiras e utilizá-lo na compra de mercadorias. O cresci-
mento do consumo não foi acompanhado pelo crescimento da oferta de mercadorias, pois parte das empresas não
estava preparada para ampliar rapidamente sua produção.

Broche de “fiscal do Sarney”

A escassez de mercadorias e o ágio provocaram a perda do controle da situação por parte das autoridades
econômicas. Por razões políticas, o congelamento de preços foi mantido até as eleições de novembro de 1986,
quando seriam escolhidos os novos governadores estaduais. A vitória eleitoral do PMDB foi devastadora: somente
o estado de Sergipe não elegeu um governador do partido do presidente Sarney. Logo após as eleições veio o
descongelamento de preços e salários e a inflação voltou a subir descontroladamente. Para contê-la, depois de
Dílson Funaro vieram Luís Carlos Bresser Pereira e Maílson da Nóbrega, responsáveis, respectivamente, por mais
dois choques econômicos: O Plano Bresser, em 1987, e o Plano Verão, em 1989. Este último substituía o Cruzado
(CZ$) pelo Cruzado Novo (NCz$).
A crise econômica e o desemprego provocaram descontentamento geral da população com a situação eco-
nômica do país. No último mês do Governo Sarney, março de 1990, a inflação correspondente ao período de 15
de fevereiro a 15 de março atingiu o recorde histórico de 84,32%, chegando ao índice acumulado de 4.853,90%
nos 13 meses anteriores. O país foi marcado por greves e manifestações contra o governo, que perdia cada vez
mais popularidade.
90
Greve no Grande ABC Paulista

Mesmo sob a periclitante situação econômica e social, elaborada ao longo de um ano e meio, a nova Consti-
tuição foi promulgada no dia 5 de outubro de 1988 pelo presidente do Congresso Constituinte, Ulysses Guimarães.
Ela apresentava como principais características:
§§ manutenção do regime republicano e do sistema presidencialista;
§§ mandato presidencial de cinco anos;
§§ eleição direta para todos os níveis e em dois turnos, sempre que um dos candidatos não conseguisse maioria
absoluta, do qual participariam os dois primeiros candidatos, para os cargos dos Executivos federal, estadual
e municipal;
§§ voto obrigatório para ambos os sexos entre 18 e 60 anos de idade e facultativo para pessoas de 16 e 17
anos de idade, maiores de 60, analfabetos, deficientes físicos e indígenas;
§§ ênfase aos poderes do Legislativo e transformação do Judiciário em poder verdadeiramente independente,
apto inclusive a julgar e anular atos do Executivo;
§§ consolidação dos princípios democráticos e defesa dos direitos individuais e coletivos dos cidadãos;
§§ nacionalismo econômico, reservando várias atividades somente a empresas nacionais;
§§ assistencialismo social, com a ampliação dos direitos dos trabalhadores; e
§§ ampliação da autonomia administrativa e financeira dos estados da federação.

Aprovação da Constituição de 1988

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Em 1989, os brasileiros votaram para presidente da República após uma longa espera de 29 anos, em meio
a um quadro político-econômico e social bastante conturbado. Quase todas as legendas lançaram candidaturas
próprias, mesmo as que tinham remotas chances de vitória, num total de 21 candidatos ou 22, se incluídos nesse
grupo a tentativa de candidatura do apresentador de televisão Sílvio Santos.
Porém, para o segundo turno, foram Fernando Collor e Luís Inácio Lula da Silva.
Collor era na verdade o candidato das elites, dos empresários, dos latifundiários e dos usineiros e contava
com o apoio dos principais grupos que controlavam os meios de comunicação e a grande imprensa, especialmente
as Organizações Globo. Lula, de origem operária, era candidato pelo Partido dos Trabalhadores.

Debate entre Collor e Lula

Collor explorou o medo no debate final às vésperas da eleição, alegando que Lula promoveria o confisco
de todas as aplicações financeiras e investimentos dos cidadãos. Collor investiu também em ataques pessoais,
alegando que seu oponente defenderia o aborto, tendo inclusive contado para isso com a declaração de uma ex-
-namorada de Lula, além de assegurar que Lula seria favorável à luta armada.
Collor venceu com uma pequena margem e Lula, apesar da derrota, saiu fortalecido como principal repre-
sentante da oposição.

Governo Fernando Collor (1990-1992)


O governo Collor desde o início foi bastante conturbado, especialmente pela necessidade de criar mecanismos efi-
cientes de combate à inflação. Não era fácil, pois seu antecessor já tinha buscado em fórmulas, denominadas pelos
economistas, de choques heterodoxos, controlar a inflação. Todas as tentativas fracassadas. O presidente divulgou
o novo plano econômico de combate à inflação, denominado de Brasil Novo, também conhecido por Plano Collor,
articulado por um grupo de ministros chefiados pela professora Zélia Cardoso de Melo, então ministra da Fazenda.
Foi sem dúvida impactante, pois promoveu o confisco geral da economia limitando os saques de investimentos,
aplicações financeiras, cadernetas de poupança entre outros, mudou novamente a moeda (retornou ao Cruzeiro) e
promoveu novo congelamento da moeda.
Além disso, o governo, assumindo princípios da política econômica neoliberal, promoveu o enxugamento
da máquina administrativa com a extinção de secretarias e ministérios que resultou em demissões em massa, pro-
moveu a privatização de várias empresas e cortou subsídios a vários setores da economia e da cultura. Ao mesmo
tempo, o governo facilitou a entrada de capitais e produtos estrangeiros no Brasil. Se em alguns casos essas me-
didas contribuíram para o aperfeiçoamento de produtos nacionais que competisse com os importados, em outros
gerou a falência, já que muitas dessas empresas não tinham condições de competir com as vantagens concedidas
aos estrangeiros.
Com a justificativa de debelar uma inflação de mais de 80% ao mês, a equipe de Zélia, nas palavras do
ex-ministro Delfim Netto, transformou a economia do País em uma “experiência de laboratório e os brasileiros, em
ratinhos”. As consequências para muitas famílias foram irreparáveis, com mortes, suicídios e desemprego – provo-
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cado por uma recessão aguda logo no primeiro ano do plano. Em 1990, o PIB caiu 4,5% e a economia permaneceu
estagnada.
Somados aos desgastes resultantes do fracasso dos planos de combate à inflação, surgiram sérias denúncias
de corrupção na equipe de governo, algumas das quais envolviam até mesmo o presidente e a primeira-dama. A
mesma mídia que trabalhara intensamente para garantir a eleição de Collor abastecia a opinião pública com novi-
dades sobre os escândalos de corrupção no governo.
Uma das denúncias mais graves partiu do irmão mais velho do presidente, o empresário Pedro Collor, que,
em uma entrevista concedida à revista Veja em maio de 1992, acusava o presidente de se envolver em negociatas
ilícitas e ter recebido doações não contabilizadas em sua campanha coordenada pelo tesoureiro, Paulo César Fa-
rias, o PC Farias, como era conhecido, numa operação conhecida popularmente como “caixa 2”.
Em junho de 1992, outra entrevista, agora na revista Isto É, com Eriberto França, motorista da secretária de
Collor, mudaria os rumos da investigação. O motorista revelou detalhes da ligação de PC Farias com o presidente
Collor, que faziam uso de contas fantasmas, isto é, de pessoas inexistentes, para pagamentos de despesas pessoais
do presidente – boa parte delas superfaturadas –, em sua mansão em Brasília, a Casa da Dinda.

Protestos contra Collor

Insuflados pela mídia, a população foi tomada pela indignação. Surgiam cada vez mais manifestações que
exigiam o afastamento do presidente. Ganhou destaque a atuação dos estudantes em todo o país. Os jovens cha-
mavam a atenção pintando o rosto de verde, amarelo e preto em sinal de protesto contra a corrupção em manifes-
tações pelo país afora, ficando conhecidos como os “caras pintadas”. Essas manifestações foram amplamente
divulgadas pelos meios de comunicação e contribuíram decisivamente para engrossar as fileiras dos que queriam
ver Collor fora do governo.
Após a instalação de uma CPI para averiguar o caso, várias denúncias acabaram surgindo; graças à pressão
exercida pela opinião pública, a CPI aprovou o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo no dia 29 de
setembro de 1992, que foi afastado do cargo até o julgamento no Senado.
Tentando evitar a perda de seus direitos políticos, Collor resolveu renunciar ao seu mandato horas antes
da votação no Senado, em 29 de dezembro de 1992, mas não adiantou, pois perdeu o mandato presidencial e os
direitos políticos, tornando-se inelegível, por oito anos.

Governo Itamar Franco (1992-1994)


Com o afastamento de Collor, assumiu o cargo o vice-presidente Itamar Cautiero Franco, primeiro interinamente,
em 2 de outubro de 1992, e empossado como Presidente em 29 de dezembro do mesmo ano, diante de uma si-
tuação econômica e política de crise devido à inflação e à desconfiança da população na política após sucessivos
93
escândalos de corrupção. Como previa a Constituição de 1988, foi realizado um plebiscito em que a forma e o
sistema de governo foram avaliados pela população, vencendo a forma republicana e o sistema presidencialista
de governo.

Itamar Franco em um recém-produzido Fusca

A inflação continuava a ser o inimigo público número um de todos os brasileiros. Os diversos choques na
economia tinham se mostrado incapazes de solucionar o problema da inflação de maneira definitiva. Itamar, no
primeiro ano de governo, também enfrentou essa crise que gerou uma consecutiva substituição de ministros até a
indicação de Fernando Henrique Cardoso para o ministério da Fazenda.
Inspirado em exemplos semelhantes no México e na Argentina, FHC, como é conhecido, e uma equipe de
economistas estruturaram um plano econômico fundamentado na paridade da nossa moeda com a moeda ameri-
cana, inclusive com a criação de uma nova moeda chamada Real. O plano fora criado para ser implantado em eta-
pas. Inicialmente foi criada a URV (unidade real de valor), indexador econômico que promoveria a transformação
do valor das compras em Cruzeiros reais para o Real.

Nota de um real

Para manter o câmbio próximo ao dólar, entre outras medidas, foram tomados empréstimos destinados a
reforçar as reservas monetárias brasileiras. A elevação acentuada da taxa de juros foi outro artifício usado para
controlar a inflação e para a atração de capitais para o País. Essa medida acabou, no entanto, contribuindo poste-
riormente para um quadro recessivo e para o aumento do desemprego.
A desconfiança logo deu lugar ao otimismo, na medida em que a inflação baixava, contribuindo decisiva-
mente para a candidatura e para a vitória de FHC nas eleições presidenciais de 1994, contra o duplamente derro-
tado Lula, do Partido dos Trabalhadores.
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A Era Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002)
Ao tomar posse em 1º de janeiro de 1995, FHC fez um discurso de acordo com sua formação acadêmica de so-
ciólogo, destacando a necessidade de combater as desigualdades sociais no país. Porém, suas primeiras medidas
acarretaram frustrações para a população devido à autorização do aumento do próprio salário, de parlamentares e
ministros, resultando em fortes críticas.
A base de seu governo era composta principalmente pelo PMDB e PFL (Partido da Frente Libera, hoje DEM).

FHC e Bill Clinton

Um dos recursos para a obtenção de apoio dos partidos era a distribuição de cargos entre os parlamentares
da base aliada, a que os opositores acusam de estar sendo feito o loteamento do poder. Sem maioria no Congresso,
as reformas não avançam, afirmavam os representantes do governo, pois determinados partidos e figuras políticas
conservadoras e retrógradas só votavam favoravelmente se fossem recompensados. Tais alianças e atitudes acaba-
ram rendendo críticas ao governo devido à contradição ideológica de interesses.
Em termos políticos, uma marca registrada da gestão FHC foi o grande número de medidas provisórias,
se comparada à outros governos que o antecederam. Diante disso, também surgiram críticas, na medida em que
tais medidas acabavam dando ao Executivo o poder de legislar. Algumas propostas de emendas constitucionais
resultaram em discussões e polêmicas, mas eram consideradas indispensáveis pelo governo, para o crescimento e
a modernização do país, bem como para garantir a manutenção da estabilidade econômica obtida à duras penas.
Desses projetos polêmicos, destacaram-se:
§§ quebra dos monopólios do petróleo, das telecomunicações, do gás canalizado e da navegação de cabota-
gem (dentro das fronteiras nacionais);
§§ alteração do conceito de empresa nacional, no sentido de não discriminar o capital estrangeiro;
§§ reforma administrativa;
§§ reforma tributária;
§§ reforma da Previdência, que ampliava as exigências para aquisição da aposentadoria (medida justificada
pelo famoso déficit da Previdência, que necessitava arrecadar mais e pagar menos).
Para muitos, a gestão FHC provocou uma série de frustrações, uma vez que se esperava de um sociólogo,
professor universitário, o melhor conhecimento dos problemas do país. Esse foi o sentimento de muitos que apos-
taram suas fichas em um intelectual de prestígio internacional e com um handcap de ter apoiado a criação de um
vitorioso plano de estabilização econômica de combate à inflação.
De fato, podemos constatar um certo imobilismo do governo ao atendimento das questões sociais, algumas
das quais foram até prejudicadas pelas reformas propostas pelo governo, como no caso da flexibilização das leis
95
trabalhistas. Se a educação básica ganhou fôlego com programas como o Bolsa Escola, o ensino superior suscitou
muitas críticas. As reclamações eram originadas pela falta de apoio e de investimentos, provocando um progressivo
sucateamento das universidades públicas.
Apesar do contexto econômico complicado ao final do seu primeiro mandato devido à crise na Ásia, FHC
lançou-se novamente como candidato reeditando a aliança vitoriosa de 1994 com o PFL, desta vez com o foco no
combate ao desemprego. Usava o slogan: “O homem que acabou com a inflação agora vai acabar com o desem-
prego”. Lula perderia sua terceira eleição consecutiva.
FHC iniciou seu segundo mandato em 1º de janeiro de 1999 e tinha a sua frente grandes desafios a superar.
O primeiro deles referia-se à aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada em 2000, que resta-
belecia regras para o uso do dinheiro público em todas as esferas (federal, estadual e municipal). Todo gasto ou
investimento deveria ser comprovado, bem como a receita necessária para sua conclusão. O objetivo era evitar que
houvesse mais gastos do que a receita permitisse o que quase sempre ocorria, especialmente nos momentos em
que antecediam as eleições. A inobservância dessas regras passaria a acarretar sérias punições, inclusive perda de
direitos políticos, pagamento de multas, prisão e confisco de bens dos infratores.
Houve, também, maciça política de privatizações. Os que eram contra alegavam a desmontagem do patri-
mônio público nacional, bem como o preço defasado que as empresas nacionais estariam sendo ofertadas, valores
bem menores que os praticados pelo mercado – indícios de favorecimento a determinados grupos particulares
interessados na compra das estatais. Criticavam ainda a inobservância dos interesses nacionais, já que não foram
realizadas consultas públicas sobre a venda das tais empresas.
O programa de privatização atingiu setores considerados essenciais no país, como as telecomunicações
(Telebrás), distribuição de energia (Eletrobrás), siderurgia (Usiminas, Cosipa e CSN, Cia. Siderúrgica Nacional) e
recursos minerais (Companhia Mineradora Vale do Rio Doce), não sem muitos protestos, além de bancos estaduais.
Naquele período, algumas políticas sociais foram consideradas excessivamente paternalistas e assistencia-
listas. Ainda que não tenha sido uma revolução, são inegáveis alguns importantes avanços na área social postos
em prática na gestão FHC, que em boa parte serviram de esteio para o governo Lula.
Destaque especial merece a atuação do Ministério da Saúde, sob o comando de José Serra, com a quebra
das patentes do setor de medicamentos usados no tratamento da Aids, bem como do lançamento de medi-
camentos genéricos, que usavam o mesmo princípio ativo dos remédios de “marca” “patenteados” a preços mais
baixos. Sem dúvida, a atuação como ministro da Saúde, entre 1998 e 2002, esses fatores credenciariam José Serra
para concorrer à presidência da República nos pleitos de 2002 e 2010.

Protestos contra a ALCA

Em 2002, Lula, derrotado nas últimas três eleições, enfrentou José Serra. Embora Serra contasse com boa
aprovação pessoal, por conta de sua atuação no Ministério da Saúde, carregou uma dura realidade econômica her-
dada pelos últimos anos de governo FHC. O desemprego acumulava índices assustadores, além de a dívida externa
brasileira ter crescido assustadoramente, sob o pretexto de conter o câmbio e a inflação.
Nos bastidores da campanha de Lula, o principal reforço foi a contratação do publicitário Duda Mendon-
ça, considerado pelos especialistas um verdadeiro mago no ramo do marketing político. Lula demonstrava uma
96
postura diferente da apresentada em outras campanhas eleitorais. Nos programas, passou a aparecer com ternos
bem cortados, barba bem feita, palavras e gestos mais suaves, evitando o máximo os ataques aos adversários e
concentrando seus esforços na apresentação de propostas para o desenvolvimento da nação. Lula definia essa sua
nova fase como: “Lulinha Paz e Amor”.
Durante toda a campanha, Serra procura convencer a população da necessidade de ser experiente no
exercício do poder sem o que o país estaria ameaçado de total descontrole, do caos generalizado e da perda das
principais conquistas obtidas no governo FHC, como e principalmente a estabilidade econômica. Num dos momen-
tos mais polêmicos da campanha, a atriz Regina Duarte afirmou no horário eleitoral de Serra que tinha medo do
governo Lula, reavivando o temor das campanhas anteriores.
Às vésperas do encerramento da campanha, Lula reuniu-se com empresários e tentou tranquilizar o mer-
cado, afirmando que as regras seriam claras e que o desenvolvimento do país estaria sempre em primeiro lugar.
Proclamou ainda a necessidade de um pacto social que envolvesse todos na luta contra a fome e a miséria.
Em 27 de outubro de 2002, com 61,3% dos votos válidos, Lula foi eleito o primeiro presidente operário da
República do Brasil.

Governo Lula (2003-2010)


No dia 1º de janeiro de 2003, Lula tomou posse numa cerimônia histórica em Brasília, marcada pelo estilo perso-
nalista do novo presidente. Várias caravanas saíram de todo o país para assistir à posse do presidente, que havia
sido operário e, como tantos outros brasileiros, veio de “baixo”.
O PT sentiu nos primeiros dias do mandato o peso de ser governo. Promessas e ataques outrora feitos ao
governo anterior passaram a ser mais bem dimensionados, como a questão da redução da alíquota do imposto
de renda. Surgiram críticas dos setores mais à esquerda que exigiam mudanças na política e na economia. Lula
optou por seguir a o modelo econômico de seu antecessor, começando a inovar na área social ao criar o programa
denominado Bolsa Família.
As primeiras medidas do governo voltaram-se para o Projeto Fome Zero, e todos os esforços se concen-
trariam em erradicar a fome no país. Foi formada uma comitiva composta pelo presidente e vários ministros e
secretários de Estado, que visitou algumas áreas críticas como a periferia de Recife e Teresina, que faziam parte do
mapeamento do projeto. Talvez esse tenha sido um dos mais bem sucedidos projetos para a erradicação da fome
já criados na história da humanidade.

Lula na cerimônia de posse em 2003


97
Os maiores desafios do governo Lula foram provar a viabilidade das propostas sociais concomitantemente
ao desenvolvimento econômico sustentado do país, além de promover uma reforma constitucional visando reduzir
os déficits do governo sem vender o patrimônio público e sem mexer nos direitos dos trabalhadores. Porém, não
tardaram a vir as primeiras críticas, especialmente pela proposta da Reforma da Previdência, que estabelecia a
taxação da cobrança mensal dos aposentados (inativos) e que até então deixavam de pagar essa contribuição
após a aposentadoria.
Na parte externa, o pagamento antecipado de acordos firmados com o FMI provocou dúvidas na população
e resultou em polêmicas sobre as intenções e benefícios de ação. Lula teria antecipado o pagamento de emprés-
timos contraídos nas gestões passadas, chegando até a aportar recursos no Fundo, tirando o país da condição de
devedor e colocando-o na condição de credor. O governo alegava que, pagando esses acordos, o país teria mais
liberdade para estabelecer suas metas na área econômica sem se submeter às exigências feitas pelo FMI (especial-
mente no superávit primário e na taxa de inflação) em troca dos empréstimos. O problema é que, para muitos, o
Brasil tinha zerado a centenária dívida externa, o que não era verdade, e que o governo teria tirado vantagem po-
lítica desse equívoco. Os críticos alegavam que esses recursos destinados à antecipação do pagamento do crédito
com o FMI poderiam ter sido aplicados em saúde, habitação, educação, transporte etc. Essa é uma longa discussão
que deve ser estudada com atenção, mas sem dúvida o pagamento da dívida com o FMI deu ao Brasil liberdade de
ação sem ingerências externas na sua política-econômica.
O governo Lula não escapou de escândalos envolvendo alguns de seus membros com denúncias de corrup-
ção. A título de exemplo, podemos citar a CPI dos Bingos e dos Correios e outros escândalos. A CPI do “mensa-
lão” indiciou vários nomes que envolviam desde ex-ministros, parlamentares até dirigentes do PT. Por fim, alguns
parlamentares, diante de iminente cassação, acabaram renunciando para não perderem seus direitos políticos.
Efetivamente foram cassados apenas dois: Roberto Jefferson e José Dirceu, homem forte do governo e Ministro
Chefe da Casa Civil.
Mesmo sob constantes críticas da imprensa e de sequentes escândalos de corrupção, Lula reelegeu-se com
facilidade em 2006, vencendo o pleito contra Geraldo Alckmin (PSDB). Lula havia prometido que, em caso de vi-
tória e após a consolidação da estabilidade econômica, era hora do “espetáculo do crescimento”, que resultou na
criação de um projeto conhecido como PAC, Programa de Aceleração de Crescimento. Tratava-se de um conjunto
de políticas econômicas comandadas pelo governo federal nas mais variadas áreas e previstas para o quadriênio
2007–2010.
O PAC teria como madrinha a Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Dessa forma, Lula preparava
sua sucessora na presidência, que passou a aparecer frequentemente na inauguração das obras do PAC ao lado
do presidente.
Milhões de pessoas saíram da linha de pobreza absoluta; houve melhoria na redistribuição da renda; o nú-
mero de empregados cresceu; o governo Lula surpreendeu, ainda, na política externa. Muitos analistas apostavam
que um presidente sem diploma de nível superior, operário, teria sérias dificuldades para representar os interesses
do Brasil no cenário internacional. Pesava contra ele ainda o fato de seu antecessor ser um homem culto, diplomata
e de formação acadêmica respeitável. Não foi bem assim que aconteceu. Aos poucos, Lula foi ganhando prestígio
internacional, inclusive na mediação de questões diplomáticas envolvendo a ONU. Chegou inclusive a pleitear a
indicação brasileira para membro permanente do Conselho de Segurança, órgão mais importante daquele organis-
mo internacional. Nesse contexto, outra façanha do governo foi conseguir vencer, enfrentando fortes candidatos, a
disputa pela realização da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e a dos Jogos Olímpicos, em 2016, os maiores e
mais importantes eventos esportivos mundiais.
98
Programa Fome Zero

Além do Bolsa Família, do PAC e do Fome Zero, programas como Prouni, Programa Universidade para Todos,
e Fies, Programa de Financiamento Estudantil, na área da educação, e “Minha Casa Minha Vida”, na área da ha-
bitação, contribuíram para uma imagem positiva do governo pela maioria da população, cuja parcela significativa
ganhou promoção e ascensão social.

Lula discursando

99
U.T.I. - Sala
1. (Uel) Durante a Ditadura Militar, no Brasil, em especial após o AI-5 em 1968, inicia-se um período
de intensa censura às produções culturais, inclusive das músicas, quando vários cantores e compo-
sitores tiveram partes e mesmo canções inteiras vetadas à divulgação, discos banidos das lojas, e,
como punição, alguns foram condenados ao exílio. Pode-se afirmar que o cantor e compositor Chico
Buarque de Hollanda foi um dos alvos prediletos da censura, o que o levou a adotar o pseudônimo
“Julinho da Adelaide”, por um tempo. A canção Apesar de Você, de 1970, foi um dos alvos dos
censores. Leia parte de sua letra a seguir.

Hoje você é quem manda Falou, tá falado / Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda Falando de lado e olhando pro chão. Viu?
Você que inventou esse Estado / Inventou de inventar
Toda escuridão / Você que inventou o pecado / Esqueceu-se de inventar o perdão.

Apesar de você / amanhã há de ser outro dia. / Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia? / Como vai proibir / Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando / E a gente se amando sem parar.

Quando chegar o momento / Esse meu sofrimento / Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido, / Esse grito contido, / Esse samba no escuro.

Você que inventou a tristeza / Ora tenha a fineza / de “desinventar”.


Você vai pagar, e é dobrado, / Cada lágrima rolada / Nesse meu penar.

Apesar de você / amanhã há de ser outro dia. / Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia? / Como vai proibir / Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando / E a gente se amando sem parar.

Apesar de Você (compacto simples)/Álbum Chico Buarque – 1970.

É possível perceber, por meio da canção de Chico Buarque, certas características da sociedade
daquele período que o Regime Militar preferia que a grande maioria da população não viesse a
conhecer. Disserte sobre pelo menos uma dessas características.

2. (Uff)
Distribuição das 100 maiores empresas por tipo de propriedade
(anos selecionados)
Tipos de 1990 1935 1998
Propriedade
Número % da Número % da Número % da
receita receita receita
Estrangeira 27,0 26,0 31,0 38,0 34,0 40,0
Compartilhada 5,0 4,0 15,0 10,0 23,0 19,0
Estatal 38,0 44,0 23,0 30,0 12,0 21,0
Familiar 27,0 23,0 26,0 17,0 26,0 17,0
Fonte: Adaptado de MENDONÇA, Sonia Regina de. “A Industrialização
Brasileira”. SP. Ática, 2004, p. 118.

O quadro apresentado ilustra o perfil das maiores indústrias existentes no Brasil durante a década
de 1990 no tocante ao tipo de propriedade. Ele engloba o período correspondente ao governo dos
presidentes Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Tomando por referência
os anos de 1990 e 1998, duas marcantes alterações se destacam na observação dos números.
Com base no quadro e na afirmativa:
a) mencione as duas transformações marcantes ocorridas na estrutura de propriedade das maiores em-
presas industriais entre os anos indicados.
b) analise o significado econômico-social de ambas as transformações.
100
3. (Unicamp)

As duas imagens fazem parte de um trabalho do artista plástico Cildo Meireles, intitulado “Inser-
ções em Circuitos Ideológicos - Projeto Cédula (1970-2013)”.
a) Como as inscrições produzidas pelo artista se relacionam aos momentos históricos a que as obras se
referem?
b) Cite e explique a principal diferença, do ponto de vista da divulgação das obras, entre os anos 1970 e
2013.

4. (Unicamp) Em janeiro de 1932, o aniversário de São Paulo foi comemorado com enorme comício
na Praça da Sé. A multidão empunhava bandeiras do Estado, além de cartazes com palavras de
ordem como “Tudo pelo Brasil! Tudo por São Paulo!”, “Abaixo a ditadura!”, ou ainda “Constituição
é Ordem e Justiça!”.
(Ilka Stern Cohen, “Quando perder é vencer”. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, jul. 2012. http://
www.revistadehistoria.com.br/secao/dossie-imigracao-italiana/quando-perder-e-vencer. Acessado em 05/10/2012.)

a) Aponte dois aspectos que contribuíram para a tensão entre o governo Vargas e o Estado de São Paulo,
em 1932.
b) Explique por que a Constituinte era uma reivindicação dos paulistas.

5. (Unicamp) Na foto abaixo reproduzida, o presidente Jânio Quadros condecora o líder da Revolução
Cubana, Ernesto Che Guevara.

a) Como essa condecoração pode ser explicada no contexto das propostas do governo Jânio Quadros para
as relações externas do Brasil?
b) Quais grupos, no Brasil, criticaram esse acontecimento?

6. (Fgv) Leia o texto abaixo e depois responda às questões propostas:


Na plataforma do Bloco Operário de 5 de janeiro de 1927, apresentava-se a noção de ‘direitos
políticos de classe’: defesa dos interesses dos trabalhadores urbanos e rurais, apoio às suas lutas
e reivindicações e defesa das liberdades políticas dos trabalhadores (associação, reunião, pensa-
mento e palavra).
KAREPOVS, D., A classe operária vai ao Parlamento. O Bloco Operário e Camponês
do Brasil (1924-1930). São Paulo: Alameda, 2006, p. 57.

101
a) Explique o que era o Bloco Operário Camponês.
b) Aponte as características políticas da crise política no Brasil na década de 1920.
c) Apresente quatro itens do programa do BOC.

7. (Uel) Analise a foto, a seguir, tirada durante o período do Regime Militar no Brasil (1964-1985).

a) Identifique e descreva dois elementos da foto que permitam caracterizar o Regime Militar no Brasil.
b) A luta pela anistia ampla, geral e irrestrita tem desdobramentos no presente, a exemplo da Comissão
da Verdade. Discorra sobre essa Comissão.

8. (Uff) Escrevendo sobre a transição democrática brasileira e a emergência da Nova República em


1985, Boris Fausto afirma que “O fato de que tenha havido um aparente acordo geral pela demo-
cracia, por parte de quase todos os atores políticos, facilitou a continuidade de práticas contrárias
a uma verdadeira democracia. Desse modo, o fim do autoritarismo levou o país a uma ‘situação de-
mocrática’ mais do que a um regime democrático consolidado. A consolidação foi uma das tarefas
centrais do governo e da sociedade nos anos posteriores a 1988”
(FAUSTO, Boris. “História Concisa do Brasil”. São Paulo: Edusp/ Imprensa Oficial do Estado, 2002, p. 290).

Com base na leitura do texto, analise duas contradições presentes no processo da transição “de-
mocrática” no Brasil.

9. (Uff) “Em janeiro de 1953 o general Eisenhower assumiu o mandato presidencial (...). Além de
converter o anticomunismo em uma verdadeira cruzada, o governo dos Estados Unidos adotou uma
postura rígida diante dos problemas financeiros dos países em desenvolvimento. A linha domi-
nante consistiria em abandonar a assistência estatal e dar preferência aos investimentos privados.
As possibilidades de o Brasil obter créditos públicos para obras de infraestrutura e para cobrir os
deficits do balanço de pagamentos encolheram sensivelmente” (FAUSTO, Boris. “História Concisa
do Brasil”. SP, Edusp/Imprensa Oficial, 2002, p. 227).
Partindo da citação, analise a conjuntura histórica brasileira em relação à política externa ameri-
cana, estabelecendo conexões com o suicídio do presidente Getúlio Vargas.

10. (Unicamp) É interessante notar que o Brasil “padece” de quase todas as “patologias” institucionais
identificadas como fatores responsáveis pela elevação do custo de governar: tem um sistema presi-
dencialista; é uma federação; possui regras eleitorais que combinam um sistema de lista aberta com
representação proporcional; tem um sistema multipartidário com partidos políticos considerados
débeis na arena eleitoral; e tem sido governado por uma ampla coalizão no Congresso.
(Adaptado de Carlos Pereira e Bernardo Mueller, “Comportamento estratégico em presidencialismo
de coalizão: as relações entre o Executivo e Legislativo na elaboração do orçamento brasileiro”.
Dados – Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, 2002, v. 45, n. 2, p. 2.)

a) O Congresso Nacional no Brasil é formado pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados, exercendo
as funções de legislar e fiscalizar. Qual a diferença básica, no sistema bicameral, entre o Senado Fede-
ral e a Câmara de Deputados?
b) Qual a diferença entre Estado e governo?

102
U.T.I. - E.O. De você viver longe de mim
Não quero mais esse negócio

De você viver assim


1. (Fgv) Vamos deixar desse negócio
De você viver sem mim
Vinicius de Moraes / Tom Jobim. João Voz
e Violão. Universal Music, CD, 1999.

A canção Chega de Saudade foi composta por


Vinicius de Moraes (letra) e por Tom Jobim
(melodia). Foi gravada pela primeira vez em
1958 na voz de Eliseth Cardoso, acompanha-
da pelo violão de João Gilberto. Alguns anos
depois, essa gravação ficou conhecida como
um dos primeiros registros fonográficos da
Bossa Nova. Chega de Saudade traz elemen-
tos novos para a música popular brasileira,
que constituirão a Bossa Nova. Cite cinco
dessas novidades quanto aos elementos me-
lódicos e à temática da letra.

3. (Uel) Alguns itens da lista de assuntos cen-


surados pelo Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP) aos jornalistas em 1943:
“Nenhuma fotografia da Rússia; Nada so-
a) Comente e explique o significado das ima- bre a tragédia de Alegrete: um indivíduo
gens do quadro Abaporu. assassinou a esposa e 8 filhos; Nada sobre
b) O quadro é representativo de qual movimen- a União Nacional de Estudantes a não ser a
to artístico? Quais elementos presentes na nota oficial; Proibida a divulgação das aspi-
obra justificam esta classificação? rações das classes trabalhistas de Porto Ale-
gre, enviadas ao chefe do governo; Proibida
2. (Uel) Leia a letra de canção a seguir. a reprodução do artigo do sr. Macedo Soa-
res sobre o problema da produção leiteira.
Vai, minha tristeza, e diz a ela Nada sobre o leite, completamente nada; So-
Que sem ela não pode ser bre o peixe deteriorado, só nota da polícia;
Diz-lhe numa prece que ela regresse Nenhum anúncio ou polêmica em torno do
Porque eu não posso mais sofrer livro “Stalin”; Nada sobre as dívidas exter-
nas; Nada sobre uma granada que explodiu
Chega de saudade na Vila Militar, matando um tenente e vários
A realidade é que sem ela não há paz soldados; Nada contra a Espanha; Proibidas
Não há beleza, é só tristeza quaisquer alusões ao regime brasileiro ante-
E a melancolia que não sai de mim rior a 10 de novembro de 1937, sem prejuízo
Não sai de mim, não sai de referências à democracia, pois o regime
atual é também uma democracia; Nada assi-
Mas se ela voltar, se ela voltar nado por Oswald de Andrade”.
Que coisa linda, que coisa louca! (Depoimento do jornalista Hermínio Sacchetta ao
repórter Noé Gertel para a Folha de São Paulo em
1979. Disponível em: <http://almanaque.folha.uol.
Pois há menos peixinhos a nadar no mar com.br/memoria_6.htm>. Acesso em: 27 jul. 2011.)
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca
Com base no texto e nos conhecimentos so-
Dentro dos meus braços
bre o tema, explique o papel desempenhado
Os abraços hão de ser milhões de abraços
pelo DIP durante o Estado Novo.
Apertados assim, colados assim, calados as-
sim,
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
103
4. (Uel) No século XXI, o mundo ainda não conseguiu se desvencilhar do etnocentrismo, dos nacio-
nalismos ou localismos radicais e dos preconceitos.

Com base nas imagens e nos conhecimentos sobre o tema, escolha um momento da história da
humanidade para discorrer sobre práticas de intolerância.

5. (Uff) “Do ponto de vista econômico, stricto 6. (Uff)


sensu, o golpe de 1964 não correspondeu a
nenhum marco no sentido da definição de um
novo modelo de acumulação. Pelo contrário,
seu papel foi apenas o de garantir a conso-
lidação definitiva do modelo implantado nos
anos 50, aprimorando-o. Uma vez “limpa a
casa”, em pleno auge da recessão econômica,
a política econômica do novo governo obede-
ceu a dois imperativos: a) recriar condições
para financiar as inversões necessárias à re-
tomada da expansão capitalista; e b) fornecer
as bases institucionais do processo de con-
centração oligopolista a qual, até o momento,
vinha se dando caoticamente”
MENDONÇA, Sonia Regina de. Estado e Economia
no Brasil: Opções de Desenvolvimento. 3a.
ed., Rio de Janeiro, Graal, 2003.

Com base no texto acima,


a) indique duas medidas de política econômi-
Tarsila do Amaral. A Gare. Óleo sobre
ca, praticadas pelo governo militar pós-64, tela, 84,5 x 65 cm, 1925.
responsáveis pela recriação das condições de
financiamento da expansão capitalista no Tarsila do Amaral foi uma das mais expressi-
Brasil; vas pintoras do Modernismo brasileiro. Sua
b) explique por que o golpe de 64 não repre-
obra A Gare (A Estação) apresenta alguns
sentou mudança estrutural no modelo de
desenvolvimento, vigente desde a segunda dos principais símbolos da modernidade, na
metade da década de 50. cidade de São Paulo, na década de 20, mo-
mento marcante nas transformações da so-
ciedade brasileira.
a) O modernismo no Brasil ganha força e ex-
pressão com a Semana de Arte Moderna, em
1922. Cite dois outros marcos da década de
20, explicando sua importância histórica
para as transformações que se passavam na
sociedade brasileira naquele momento.
b) Explique o papel desempenhado pela cidade
de São Paulo no desenvolvimento e expan-
são do setor industrial brasileiro.
104
7. (Unicamp) Após o Ato Institucional nº 5, 9. (Unicamp) Em 1980, num show comemo-
a ditadura firmou-se. A tortura foi o seu rativo ao Primeiro de Maio, o cantor Chico
instrumento extremo de coerção, o último Buarque apresentou uma canção intitulada
recurso de repressão política desencadeada “Linha de Montagem”, que fazia referência
pelo AI 5. Ela se tornou prática rotineira por às recentes greves do ABC:
conta da associação de dois conceitos. O pri- As cabeças levantadas,
meiro relaciona-se com a segurança da so- Máquinas paradas,
ciedade: o país está acima de tudo, portanto Dia de pescar,
vale tudo contra aqueles que o ameaçam. O Pois quem toca o trem pra frente
segundo associa-se à funcionalidade do su- Também, de repente,
plício: havendo terroristas, os militares en- Pode o trem parar.
tram em cena, o pau canta, os presos falam e (http://www.chicobuarque.com.
br/letras/linhade_80.htm)
o terrorismo acaba.
(Adaptado de Elio Gaspari, A ditadura escancarada. a) Qual foi a importância das greves do ABC nos
São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 13, 17.) últimos anos do regime militar brasileiro,
que vigorou de 1964 a 1985?
a) Segundo o texto, de que maneiras o regime
b) Aponte duas mudanças políticas que carac-
ditatorial implantado no Brasil após 1964
terizaram o processo de abertura do regime
justificava a tortura aos opositores?
militar.
b) Por que o AI 5 representou uma ruptura com
a legalidade?
10. (Ufscar) As duas Grandes Guerras do século
passado afetaram significativamente nosso
8. (Unicamp) Os animais humanizados de país, mas o Brasil de 1939 a 1945 era bem
Walt Disney serviam à glorificação do estilo diferente do Brasil de 1914 a 1918. Levando
de vida americano. Quando os desenhos de em conta esses aspectos, indique a situação
Disney já eram famosos no Brasil, o criador e o posicionamento do nosso país na
de Mickey chegou aqui como um dos embai- a) Primeira Guerra Mundial.
xadores da Política da Boa Vizinhança. Em b) Segunda Guerra Mundial.
1942, no filme Alô, amigos, um símbolo das
piadas brasileiras, o papagaio, vestido de
malandro, se transformou no Zé Carioca. A
primeira cópia do filme foi apresentada a
Getúlio Vargas e sua família, e por eles as-
sistida diversas vezes. Os Estados Unidos es-
peravam, com a Política da Boa Vizinhança,
melhorar o nível de vida dos países da Amé-
rica Latina, dentro do espírito de defesa do
livre mercado. O mercado era a melhor arma
para combater os riscos do nacionalismo, do
fascismo e do comunismo.
(Adaptado de Antonio Pedro Tota, “O imperialismo sedutor:
a americanização do Brasil na época da Segunda Guerra”. São
Paulo: Companhia das Letras, 2000, pp. 133-138, 185-186.)

a) De acordo com o texto, de que maneiras os


personagens de Walt Disney serviam à po-
lítica externa norte-americana na época da
Segunda Guerra Mundial?
b) Como o governo Vargas se posicionou em re-
lação à Segunda Guerra Mundial?
105
U.T.I.

Filosofia e Sociologia
Filosofia contratualista
Os filósofos contratualistas são aqueles que partem da análise do Homem em um estado de natureza (anterior à
sociabilidade, pré-social), para ingresso na sociedade civil, por meio de um pacto artificial, ou seja, um contrato
social.
O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam jusnaturale, é a liberdade que cada homem
possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de
sua vida, e, consequentemente, de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios
adequados a esse fim; é isso que faz com que eles deixem esse estado para conviverem em sociedade.
A partir da tendência de secularização do pensamento político, os filósofos do século XVII estão preocu-
pados em justificar racionalmente e legitimar o poder do Estado sem recorrer à intervenção divina ou a qualquer
explicação religiosa. Daí a preocupação com a origem do Estado de Hobbes, Locke e Rousseau.

Thomas Hobbes (1588-1679)


“O homem é o lobo do homem.”
“... guerra de todos contra todos.”
“... todos os homens são naturalmente iguais.” [egoístas]

Estado de natureza
O estado de natureza é o modo de ser do homem antes de ingressar no estado social.
Direitos naturais: autopreservação (da procura do que é necessário e cômodo à vida).

Contrato

É o instinto de conservação que leva ao contrato (pacto entre os súditos) e que provoca a saída do estado de
natureza e a instauração do estado social (que é, portanto, artificial). É uma paz tática.
No estado social, o poder político funda-se no arbítrio do governante (poder privado = poder público).
107
Soberania
(Absolutismo)

Absoluta: ilimitada, despótica, detém todo o poder, não sujeita a nenhuma lei, sem necessidade de prestar contas.
Legítima: fruto da transmissão definitiva do poder dos indivíduos ao governante (pacto se dá entre os súditos).
Una: não mista (como a monarquia constitucional).
Indivisível: sem divisão de poder (contra o parlamento).
Intransferível: somente pode ter sido adquirida pelo pacto.
Irrevogável: não pode ser destituído, punido ou morto.
Direitos individuais: autopreservação.

John Locke (1632-1704)


“Sendo os homens por natureza todos livres, iguais e independentes, ninguém pode ser expulso de sua proprieda-
de e submetido ao poder político de outrem sem dar consentimento.”

Estado de natureza
No estado de natureza, cada um é juiz em causa própria (gera insegurança). Direitos naturais: propriedade pri-
vada (liberdade, vida, bens, corpo, trabalho), independência, igualdade.

Contrato

O contrato social, que provoca a saída do estado natural e a instauração da sociedade civil, é a busca da se-
gurança, do conforto e da paz, garantindo a propriedade privada. Na sociedade civil (sociedade política), o poder
político, de origem parlamentar, funda-se nas instituições (poder público ≠ poder privado).
108
Soberania
(Liberalismo)

Restrita: não deve intervir na economia, mas apenas na segurança e defesa dos direitos individuais.
Legítima: fruto do consentimento dos cidadãos, através do pacto firmado livremente entre membros da sociedade.
Divisível: vários poderes (legislativo = poder supremo, executivo, federativo = real, exteriores).
Direitos individuais (privados): liberdade de pensamento, expressão e religião (na verdade, igualdade apenas
abstrata e formal); insurreição (o poder é um ‘trust’: confiança), iniciativa econômica (propriedade).

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)


“O homem nasce livre, e por toda parte encontra-se a ferros.”

Estado de natureza
No estado de natureza, os homens são selvagens sadios, ingênuos e felizes, até que surja, por um falso contrato, a
propriedade privada (~ sociedade civil hobbesiana). Direitos naturais: vida, felicidade, manutenção.

Contrato
O contrato é a única associação legítima e manifesta-se no pacto entre governados e governantes, em que abdica-
-se de todos os direitos em favor da comunidade, isto é, o corpo moral e coletivo (Estado).
O estado social busca a satisfação do bem comum, e não do bem particular.

Soberania
(Democracia direta)

Governo (representante) ≠ soberano (povo)


Legítima: fruto do consentimento unânime dos cidadãos, por meio do pacto firmado entre governados e governantes.
Indivisível: não se pode tomar os poderes separadamente.
Inalienável: não pode ser retirada do povo e é manifestada pelo legislativo. A soberania é de todos, logo, exige a
submissão dos governantes e dos governados à vontade geral.
O povo soberano é constituído, ao mesmo tempo, por cidadãos, enquanto ativos e súditos, enquanto passivos.
109
Filosofia política: conceito de cidadania
A palavra cidadania tem sua origem na palavra latina civitas que significa cidade, porém o seu conceito em relação
ao exercício de determinados direitos já pode ser visto na Grécia Antiga. De uma forma geral o conceito de cidada-
nia está diretamente relacionado ao fato dos indivíduos possuírem determinados direitos políticos.
Atualmente a cidadania deve ser vista como o exercício dos direitos e deveres civis, político e sociais que es-
tão fundamentados na Constituição. Esses direitos e deveres são interligados e serve como base para a convivência
em sociedade no mundo contemporâneo.

O significado de ser cidadão, ontem e hoje


A cidade de Atenas esteve alicerçada em bases mais democráticas, cabendo a todos os seus cidadãos o direito de
debater os destinos da coletividade. O próprio sistema educacional ateniense, compromissado com uma formação
baseada na reflexão e debate acerca da realidade, salienta este traço da política de Atenas.
Entretanto, não podemos esquecer que a noção de cidadania ateniense era extremamente limitada, se
comparada aos dias de hoje. As mulheres, por exemplo, eram normalmente excluídas dos debates políticos, assim
como escravos, estrangeiros e indivíduos não abastados. De tal modo, o cidadão ateniense era necessariamente
do sexo masculino, livre e detentor de propriedades, o que afastava a maioria da população da política estatal e
detinha nas mãos de poucos o direito à educação.
Como na Grécia, em Roma o exercício de cidadania estava ligado à capacidade de exercer direitos políticos
e civis. A cidadania romana era atribuída somente aos homens livres (nem todos os homens livres eram considera-
dos cidadãos). Os cidadãos tinham direito: a ser sujeito de direito privado (jus civile); ao acesso aos cargos públicos
e às magistraturas; à participação das assembleias políticas; e às vantagens fiscais.
Na sociedade romana, as pessoas eram diferenciadas entre livres e escravos. Os cidadãos não eram con-
siderados todos iguais e livres, e se dividiam em categorias de classes. A participação nas atividades político-
-administrativas era restrita a uma parcela mínima, aos cidadãos ativos; além do que, nem todos podiam ocupar
cargos políticos e administrativos.
110
A cidadania no mundo moderno
A questão da cidadania é enfocada sob um outro ângulo pelos filósofos que pensam a constituição do Estado mo-
derno. A igualdade e a liberdade, como direitos reivindicados pela burguesia que disputa o espaço público com a
nobreza e o clero, a centralização do poder e a soberania, são as questões definidoras do Estado nacional, no qual
está compreendida a cidadania moderna.
Pensadores como Hobbes explicam o Estado como uma sociedade artificial, decorrente de uma convenção
entre os homens que buscam a paz e a segurança da propriedade. "A conservação da propriedade", enquanto
produto do trabalho, "seria o fim maior e principal para os homens unirem-se em sociedades políticas”.
A cidadania moderna, vinculada ao Estado-nação e à afirmação da burguesia enquanto classe, guarda, em
sua definição, elementos comuns e, ao mesmo tempo, diferentes aos encontrados na cidadania grega ou romana.
O cidadão, tanto o grego clássico como o europeu moderno, é um indivíduo masculino, dotado de razão e
proprietário. No caso grego, a razão está associada à propriedade da terra, ao ócio, ao exercício do conhecimento
filosófico e à ação política.
Nos dois casos, a cidadania qualifica classes que estão no poder (Atenas) ou que aspiram ao poder (burgue-
sia europeia). No mundo grego, o cidadão necessita do ócio para se dedicar à política; daí o fato da escravidão ser
o sistema econômico vigente, já que para os gregos existe uma clara distinção entre os homens livres e os homens
não livres, isto é, escravos.
No caso da cidadania moderna, os pensadores que refletem sobre o Estado-nação, no qual se encontram os
fundamentos dessa cidadania, percebem a propriedade como resultante do trabalho humano. O trabalho significa,
portanto, a ruptura com o estado de natureza e o fundamento do princípio da propriedade, que dá ao homem
burguês a justificativa moral e legal para preservá-la e defendê-la. Entretanto, associado à ideia de uma racionali-
dade que determina o uso dos meios naturais em função dos fins orientados para a produtividade e o progresso,
o trabalho, ao romper com o estado de natureza, pode justificar, também, a expropriação da terra, a subordinação
dos camponeses, a escravidão dos negros e até o extermínio daqueles que não a fazem produzir por "métodos
racionais", como os povos indígenas, negros e agricultores.

Filosofia moderna: René Descartes

René Descartes é considerado um dos pais da filosofia moderna, pois sua filosofia e originalidade sintetizam o
espírito do século XVII. Ele pauta seus estudos no racionalismo.
111
Para obter o conhecimento, o indivíduo primeiro necessita duvidar de tudo. Assim, é a partir da dúvida
que começa a construção do conhecimento. O objetivo da dúvida cartesiana é encontrar uma primeira verdade,
impondo-se com absoluta certeza.
Para começar a descobrir a verdade, o indivíduo precisa colocar todos os juízos em suspensão. Não atingi-
remos a verdade se, antes, não pusermos todas as coisas em dúvida.
Nas meditações metafísicas, Descartes apresenta uma série de argumentos demonstrando a importância de
pôr à prova todas as certezas aparentes que vão, metódica e progressivamente, destruindo as falsas certezas. São
falsas todas as coisas das quais nós podemos duvidar.
A dúvida, em Descartes, tem três características fundamentais; ela é:
§§ Metódica: a dúvida é metódica, pois é metodicamente necessário pôr tudo em dúvida. Assim, a dúvida é
um caminho para se buscar a primeira verdade indubitável.
§§ Hiperbólica: a dúvida é hiperbólica porque é exagerada, chegando a extremos de generalização (radical).
§§ Provisória: por fim, a dúvida é provisória, pois ela termina, no momento em que se chega à primeira ver-
dade indubitável, que é o cogito, ergo sum.
Descartes coloca tudo em dúvida, até que se chegue a uma certeza, da qual não se pode duvidar. Assim,
começa a dúvida em Descartes.

Argumentos da dúvida metódica


O filosofo começa por colocar em dúvida tudo aquilo que nos é dado pelos sentidos, pois esses, por vezes, nos
enganam.
Depois, destrói também as certezas mais difíceis de serem postas em dúvida, ter algo, estar em determinado
lugar, pois podemos estar sonhando. Quantas vezes não tivemos um sonho tão vívido que nos parecia real?
Em seguida, para destruir as certezas matemáticas, Descartes supõe a existência de um Deus enganador.
Para reforçar o argumento do Deus enganador, imagina a existência de um gênio maligno, que se diverte
em enganar as pessoas.
Após todo esse mergulho em diversas dúvidas, Descartes tem uma intuição: ele nota com clareza que
duvida, e se duvida, ele pensa. Assim, não importa se o que ele pensa é um pensamento verdadeiro, não importa
que ele não tenha certeza; existe, porém, a consciência de que pensa. E uma coisa que pensa, existe, pelo menos
enquanto pensa.
A partir daí, ele terá acesso à primeira verdade indubitável: “COGITO, ERGO SUM”.
Aqui está o racionalismo de Descartes: ele funda sua primeira certeza somente na razão.
O homem é pensamento, daí a primeira certeza, do ponto fixo procurado, momento fundamental da reflexão
cartesiana.
Assim, tem-se a primeira verdade, ou certeza encontrada por Descartes, “o penso, logo existo.”, ou cogito,
ergo sum. Desse modo, o cogito cartesiano é a primeira verdade indubitável, e fundamenta as outras duas verda-
des: Deus e a Matemática.
A segunda verdade indubitável a que Descartes chega é a da existência de Deus (argumento ontológico).
Isso significa que Deus existe, pois, se não existisse, não poderia causar a ideia de perfeição que existe em cada um
de nós. Por isso, para o filósofo, a ideia de Deus só pode ser inata, pois ela nasceu com os indivíduos, e produzida
por ele desde o momento em que ele foi criado.
A terceira verdade indubitável é a do raciocínio lógico-matemático, ou seja, a essência geométrica do mun-
do material. Dessa maneira, quando se chega à primeira verdade indubitável, a dúvida termina, por isso, Descartes
não pode ser considerado um filósofo cético, pois sua dúvida não é permanente.
112
Para Descartes, o conhecimento sensível (isto é, sensação, percepção, imaginação, memória e linguagem) é
a causa do erro e deve ser afastado.
O conhecimento verdadeiro é puramente intelectual, parte das ideias inatas, e controla (por meio de regras)
as investigações filosóficas, científicas e técnicas.

As ideias em Descartes
De acordo com Descartes, nós possuímos três tipos de ideias que se diferenciam por sua origem e qualidade:
§§ Adventícias: originam de nossas sensações, lembranças; ideias que nos vêm da experiência. Podem ser
verdadeiras ou falsas. Descartes denomina as ideias adventícias como obscuras, pois dependem da expe-
riência. São aquelas que se originam de nossas sensações, percepções, lembranças; são as ideias que nos
vêm por termos tido a experiência sensorial ou sensível das coisas a que se referem. Por exemplo, andando
à noite por uma floresta, vejo fantasmas. Quando raia o dia, descubro que eram galhos retorcidos de árvores
que se mexiam sob o vento. Olho para o céu e vejo, pequeno, o Sol. Acredito, então, que é menor do que a
Terra, até que os astrônomos provêm racionalmente que ele é muito maior do que ela.
§§ Fictícias: aquelas que criamos em nossa fantasia e imaginação. Essas ideias nunca são verdadeiras, pois
não correspondem a nada que exista realmente e sabemos que foram inventadas por nós, mesmo quando
as recebemos já prontas de outros que as inventaram. São aquelas que criamos em nossa fantasia e ima-
ginação, compondo seres inexistentes com pedaços ou partes de ideias adventícias que estão em nossa
memória. Por exemplo, cavalo alado, fadas, elfos, duendes, dragões, Super-homem etc. São as fabulações
das artes, da literatura, dos contos infantis.
§§ Inatas: inteiramente racionais e só podem existir porque já nascemos com elas, por isso, são ideias sempre
verdadeiras. As ideias inatas são resultado exclusivo da capacidade de pensar e, portanto, independentes
da experiência sensível. Elas são a assinatura do Criador nas criaturas; assim, a razão é a luz natural inata
que nos permite conhecer a verdade.
No discurso sobre o método, Descartes afirma a igualdade, de direito, do bom senso ou razão: todos nós
possuímos a razão, ou seja, essa capacidade de bem julgar e de discernir o verdadeiro do falso.
Nem todos os homens utilizam corretamente sua razão, segundo a filosofia de Descartes. Daí a necessidade
de um método, quer dizer, um “caminho seguro para bem conduzir a razão à verdade nas ciências”.
Daí as quatro regras do método formuladas pelo filósofo:
§§ Evidência: jamais admitir coisa alguma como verdadeira, se não a reconheço evidentemente como tal;
isto é, evitar cuidadosamente a precipitação (pressa excessiva) e prevenção (opiniões), e de nada incluir
em meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse
nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida. Ideias claras e distintas são o mesmo que ideias evidentes.
§§ Análise: dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e
quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las.
§§ Síntese: conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de
conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo
mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.
§§ Enumeração, revisão, verificação: fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão ge-
rais, que se tenha a certeza de nada omitir.
Para Descartes, uma ideia clara e distinta é aquela que pode ser apreendida em sua totalidade pelo espírito
atento e que não pode ser confundida com nenhuma outra. Assim, uma ideia clara e distinta é o mesmo
que uma ideia evidente.
113
§§ Concepção dualista da realidade em Descartes: separação da realidade material e da realidade
espiritual. Assim, para o filósofo, mente e corpo são coisas separadas e distintas. Assim, existe, além da res
cogitans (coisa pensante) a res extensa: (coisa extensa). Isso significa que o conhecimento certo e seguro do
mundo externo será possível apenas no que diz respeito a essas propriedades quantitativas, geométricas,
matemáticas, as únicas que podem ser conhecidas pela razão.
Desse modo, para o filósofo, o universo propriamente sensível, por sua incerteza, isto é, por não garantir a
consciência à certeza das ideias claras e distintas, não poderá ser objeto de conhecimento.

Filosofia moderna: David Hume

David Hume defende uma filosofia empirista, na qual não existem ideias inatas. Assim, para o filósofo, as ideias vão
se formando na mente humana ao longo da vida, por isso, os indivíduos nascem uma “folha de papel em branco”
e formam suas ideias a partir da experiência.
Os empiristas pretenderam dar uma explicação do conhecimento a partir da experiência, eliminando, assim,
a noção de ideia inata, considerada obscura e problemática.
Para Hume, os materiais da mente, ou conteúdo da consciência, constituem as chamadas percepções.
As percepções se dividem em:
§§ Impressões: são as percepções mais vivas, como aquelas que se tem quando se “ouve, vê, sente, ama,
deseja”. As impressões, por sua vez, se subdividem em duas espécies:
114
1. impressões de sensação, que nascem na alma originariamente, de causas desconhecidas;
2. impressões de reflexões, que derivam em grande parte das ideias.

§§ Ideias ou pensamentos: são as percepções mais fracas que as impressões, pois são cópias destas, e
ocorrem quando recordamos, imaginamos, refletimos. Imagens enfraquecidas que a memória apresenta das
impressões.
Desse modo tem-se que:

IMPRESSÃO: Sempre forte e vívida


X
IDEIA: Sempre fraca e menos vívida

A ideia, portanto, é uma lembrança de uma experiência, ou seja, uma impressão já vivida por cada um de
nós.

O conhecimento se origina nas impressões, pois a validade das ideias é determinada a partir das impressões
que lhes deram origem. Assim, não existem ideias inatas.
Desse modo, compreende-se a anterioridade das impressões em relação às ideias. As ideias nada mais são
do que hábitos mentais de associação de impressões semelhantes ou impressões sucessivas.

Tipos de ideia
§§ Ideia simples: formada por meio da sensação e da reflexão. Exemplos: branco, frio, duro.
§§ Ideia complexa: composição de ideias simples. As ideias formadas a partir de um repertório de impres-
sões que se encontram disponíveis em nossa memória. Exemplo: cubo de gelo, onde, para conhecê-la, são
necessárias as ideias simples de frio, duro, branco.
115
Sociologia

O estrangeiro sob o ponto de vista sociológico

Para a sociologia, o estrangeiro é a pessoa que está disposta a melhorar aspectos de sua vida econômica ou social.
Daí sua saída da terra natal para a busca da felicidade em terras desconhecidas. Um dos problemas enfrentados
pelos estrangeiros, na atual sociedade contemporânea, é a xenofobia presente especialmente nos países europeus.
Um exemplo da presença da xenofobia pode ser vista no aumento de movimentos neonazistas entre os jo-
vens que acreditam que os emigrantes estariam sendo responsáveis pelo fim dos postos de trabalhos e dos direitos
sociais.
Para esses jovens, o estrangeiro, antes de tudo, é o “outro”, isto é, aquele que, do ponto de vista étnico e
cultural, é a negação daquele que nasce e vive no país. O estrangeiro se destaca dos outros integrantes do local
de destino por suas particularidades: cultural, idioma, características físicas. Por estes mesmos motivos, ele nunca
se insere totalmente no grupo, às vezes, nem os seus descendentes. A relação que se dá entre os estrangeiros e
os habitantes locais sempre se configura na relação de amizade entre alguns membros deste grupo, mas de um
distanciamento e desprezo, por ambas as partes, quando se olha a relação com o grupo por suas diferenças.
É importante lembrar que o processo de globalização favoreceu uma maior circulação de pessoas no mun-
do, devido ao fato de existir um grande desequilíbrio na distribuição de riquezas entre os chamados países “desen-
volvidos” e “subdesenvolvidos”.
Essa circulação maior de pessoas, indo de um país para outro, criou nos países que recebem grande quan-
tidade de imigrantes comunidades e bairros que procuram recriar alguns dos aspectos culturais do país emigrado,
o que acaba por gerar um grande choque cultural que, muitas vezes, é acompanhado de segregação feita pela
comunidade local.

A formação da diversidade
Foi durante o século XIX que o Brasil sofreu um intenso processo de imigração europeia. A vinda de imigrantes es-
tava relacionada a três fatores importantes: a crise da mão de obra escrava na lavoura de café, o início da Segunda
Revolução Industrial na Europa e a unificação da Itália e da Alemanha.
Esse contexto favoreceu uma política de imigração para o Brasil, que precisava, naquele momento, de mão
de obra para substituir o trabalho escravo que encontrava-se em processo de abolição. Outros motivos que podem
ser destacados foram que os donos de fazendas não queriam pagar salários para ex-escravos, além disso, havia
uma política que buscava o clareamento da população, o que fez com que a imigração europeia resolvesse também
essas questões internas dos problemas sociais do Brasil.
116
O número de italianos que chegaram ao Brasil foi de aproximadamente 1,5 milhão de pessoas. O maior
número de italianos fora da Itália, mas houve ainda a imigração de alemães e, posteriormente, de poloneses,
ucranianos, japoneses, chineses, espanhóis, sírio-libaneses, armênios, coreanos – alguns se espalharam com suas
famílias e outros se organizaram em colônias ou vilas no vasto território brasileiro.
Os grupos que se mantiveram unidos até hoje conseguiram resguardar a cultura de seus antepassados, ao
contrário de outros indivíduos que, simplesmente, se misturaram ao resto da população brasileira. Assim, encon-
tramos colônias japonesas espalhadas pelo Brasil, assim como bairros com grupos de descendentes de imigrantes
predominantes ou até cidades fundadas por grupos de imigrantes, como: as cidades de Americana e Holambra (de
origem estadunidense e holandesa, respectivamente), e os bairros da Moóca, do Bixiga e da Liberdade, na cidade
de São Paulo (sendo os dois primeiros de origem italiana e o outro de origem japonesa). Nestes lugares, a cultura
pode ser vista nos estabelecimentos comerciais, no dialeto e nas festas tradicionais.

Migração, emigração e imigração


A necessidade que os homens possuem de sair de sua terra natal é algo que está presente desde os primórdios da
civilização e presente inclusive nos livros sagrados do judaísmo, cristianismo e islamismo.
Entre os vários fatores existentes que possam explicar os deslocamentos humanos, podemos destacar a
necessidade econômica e as guerras, seja ela civil ou militar. O importante aqui é saber que a maior parte dos
deslocamentos de pessoas é feita por motivos que possibilite uma melhora de vida em comparação ao seu lugar de
origem. Vejamos, agora, alguns dos conceitos presentes na sociologia para explicar esse fenômeno social:
§§ A migração é o movimento interno das pessoas dentro do próprio país ou Estado; desse modo, a migração
é o fenômeno de deslocamento populacional feito pelas pessoas dentro do seu próprio território.
§§ A emigração é quando o indivíduo sai de seu país e vai morar em outro país, isto é, quando um brasileiro sai
do Brasil e vai morar em algum país da Europa. Ele torna-se, naquele momento, um emigrante.
§§ Imigração é quando um país recebe pessoas de outros países. Esse foi o caso do Brasil na segunda metade
do século XIX, quando recebeu um grande número de italianos.

Exemplos:
1. Durante um tempo, os europeus emigraram para o Brasil. (saíram de onde estavam: Europa)
2. Os imigrantes, vindos da Europa, vieram trabalhar no Brasil. (os que entraram no Brasil)
3. A emigração foi feita por navio. (saída do país de origem)
4. Os imigrantes chegaram em navios. (os que entravam em determinado país para morar nele)
5. A corte portuguesa imigrou para o Brasil para fugir de Napoleão. (entrou no Brasil e fixou residência)
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O panorama da imigração no Brasil atual
O Brasil, nesse início do século XXI, voltou a receber um intenso número de imigrantes bolivianos, haitianos e
africanos. Como já foi dito, o que impulsiona os movimentos migratórios na atualidade são, de forma geral, os
mesmos do passado, isto é, a procura de uma vida melhor do que a oferecida nos países de origem.
O perfil desses imigrantes que chegam ao Brasil é de jovens de ambos os sexos, na maioria homens, sol-
teiros, que vêm sendo atraídos pelas oportunidades de empregos. No caso dos bolivianos, o emprego é o setor
têxtil das oficinas de costura localizados, em sua maior parte, em São Paulo; já os haitianos, encontram trabalho
especialmente na construção civil e no setor de serviços e estão espalhados em todo território brasileiro já no caso
dos africanos, sua vinda ao Brasil está relacionada ao mito da receptividade dos brasileiros e da fuga das guerras
civis, muito presentes em alguns países da África.
A chegada de imigrantes nunca foi realmente um problema para os brasileiros, afinal nossa formação socio-
cultural se dá dentro desse processo que começou com a chegada de portugueses e africanos e, posteriormente, os
italianos; porém, no Brasil atual, muitos desses imigrantes acabam trabalhando em regime de trabalho análogo à
escravidão e muitos têm sofridos violência, como assaltos, além de preconceito, já que são considerados cidadãos
de “segunda categoria”.

Conceito de violência simbólica, física e psicológica


A violência simbólica se baseia na fabricação de crenças no processo de socialização, que induzem o indivíduo a se
enxergar e a avaliar o mundo de acordo com critérios e padrões definidos por alguém. Trata-se da construção de
crenças coletivas e faz parte do discurso dominante.
Como exemplo de violência simbólica fomentados pela religião, podemos citar o machismo (pois a mulher
entregou a maçã a Adão), o preconceito contra homossexuais (Sodoma e Gomorra), o texto do catecismo católico
sobre homossexualidade (que o classifica como intrinsecamente desordenado), racismo (Cain gerou o povo que
vivia nas tendas), a reiterada aclamação da família pai-mãe-filhos como a única legítima pela hierarquia católica,
e assim por diante.
A violência psicológica é caracterizada pela tentativa de degradar ou controlar outra pessoa por meio de
condutas de intimidação, manipulação, ameaça, humilhação e isolamento ou qualquer conduta que prejudique a
saúde psicológica, autodeterminação ou desenvolvimento de uma pessoa. A violência física é aquela que utiliza a
agressividade no sentido de machucar ou mesmo matar alguém.

Diferentes formas de violência: doméstica, sexual e na escola


A violência doméstica é aquela que ocorre dentro do âmbito familiar e pode ser praticada contra crianças, adoles-
centes, mulheres e idosos, sendo que os agressores são os próprios familiares.
O que favorece essa violência física contra membros da própria família é, geralmente, a personalidade dese-
quilibrada do agressor, que não consegue lidar com frustações presentes no cotidiano familiar.
O perfil do agressor é caracterizado por autoritarismo, falta de paciência, irritabilidade, grosserias e xinga-
mentos constantes, ou acompanhados de alcoolismo e uso de outras drogas. A forma de praticar a violência no
lar é, geralmente, pelo espancamento que acontece com crianças, mulheres e idosos. No caso das crianças e dos
idosos, muitas vezes a causa está vinculada à necessidade de cuidados especiais.
A violência sexual também é recorrente contra as crianças, que são, na maior parte, meninas com idade
entre 7 e 10 anos.
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As mães também são as grandes espancadoras quando, por algum motivo, acontece uma quebra na vincu-
lação afetiva entre ela e o filho, seja por doença, hospitalização ou mesmo por não ter aceitado a gravidez.
A violência aparece também de forma psíquica, onde se destrói a moral e a autoestima do sujeito, sem
marcas visíveis ao corpo da vítima que, normalmente, são adolescentes e mulheres. As marcas, nesse caso, são
internas, psicológicas, através de humilhações, xingamentos, podendo chegar a injúrias e ameaças contra a vida.
São consideradas violência sexual situações de abuso, violação e assédio sexual. É a passagem ao ato
quando o outro não o deseja; é uma agressão focalizada na sexualidade da pessoa, mas que a atinge em todo o
seu ser; é crime punido pela lei.
As marcas físicas e psicológicas da violência sexual são frequentemente graves e não se trata apenas de fe-
rimentos, infecções sexualmente transmitidas ou gravidezes não desejadas. O uso da coação psicológica é também
muito frequente, sendo, em muitos casos, uma forma de o agressor confundir e criar situações de grande ansiedade
e angústia na vítima. As situações de violência sexual são, muitas vezes, difíceis de denunciar ou sinalizar, porque
o medo da vítima induz ao silêncio e ao segredo, protegendo, desta forma, o agressor.
Abuso sexual define o comportamento de alguém do sexo masculino ou feminino face a um menor que
englobe a prática de um ato sexual de relevo. Consideram-se ainda como situações de abuso as práticas de carácter
exibicionista perante o outro, obscenidade escrita ou oral, obrigatoriedade de assistir a espetáculos pornográficos, o
uso de objetos pornográficos, ou ainda se o menor é usado para fins fotográficos ou filmes de índole pornográfica.
A violência na escola é aquela em que crianças e adolescentes sofrem nesse espaço; é importante lembrar
que, nesse tipo de violência, a sua prática não ocorre somente pela instituição, mas sim pelos próprios alunos atra-
vés de brigas e humilhações. Atualmente, a prática do bullyng tem sido motivo de preocupações de educadores e pais.

Importância do trabalho na vida social brasileira


O trabalho deve ser visto como algo inerente à natureza humana, isto é, desde a pré-história até o mundo contem-
porâneo, o trabalho sempre esteve presente na vida humana.
A importância do trabalho é crucial na vida dos homens, pois é através do trabalho que temos a interven-
ção do homem na natureza, que procura explorar ou transformar os recursos naturais existentes para sua vida;
desse modo, o trabalho pode ser visto como uma condição humana necessária para existência do homem em sua
plenitude.
Para uma melhor compreensão, podemos definir trabalho como um conjunto de atividades rea-
lizadas, é o esforço feito por indivíduos, com o objetivo de atingir uma meta. O trabalho também pode
ser abordado de diversas maneiras e com enfoque em várias áreas, como na economia, na física, na filosofia, a
evolução do trabalho na história etc., porém, para ter uma visão que fuja do senso comum, é importante lembrar
que o sentido etimológico da palavra trabalho, que deriva do latim tripalium (tri = três e palum = madeira), ou seja,
o trabalho era uma forma de castigo que os romanos aplicavam aos escravos considerados preguiçosos.
Tripalium

Disponível em <https://gustavosirelli.wordpress.com/2011/06/21/tripalium/tripalium/>

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Foi devido a relações sociais existentes no trabalho que se desenvolveu ao longo da história humana a so-
ciedade dividida em classes, que acabou sendo objeto de estudo de grandes pensadores da sociologia, como Karl
Marx, Adam Smith e Max Weber. Esses pensadores queriam compreender o funcionamento da sociedade capitalis-
ta, sendo assim, se debruçaram no funcionamento das relações de produção.
As relações de produção necessitam de indivíduos que se relacionem uns com os outros para a produção
de bens e serviços. Nesse processo, essas pessoas estão ligadas entre si e dependem uma das outras, fazendo do
trabalho um ato social, isto é, que é realizado em sociedade. Isso faz da relação social de produção o meio neces-
sário para a distribuição dos bens e serviços necessários à organização da vida social, já que em cada civilização
ou época existe uma visão acerca do trabalho, que pode ser positiva ou negativa.
No caso negativo, podemos observar as sociedades que possuem uma forte influência da religião católica.
No catolicismo, durante o período medieval especialmente, predominou a condenação do trabalho como forma
de acumular riqueza, além disso, o lucro e a usura também eram formas de condenação, uma vez que existia o
preço, o justo, e o juros não poderia existir, pois não cabe ao homem comum cobrar pelo tempo de algo divino.
Essa mentalidade religiosa em relação à possibilidade do acúmulo de riqueza ainda está presente na sociedade
brasileira; vejamos o caso do jogador Neymar, que saiu do Santos onde ganhava uma quantia muito superior ao de
qualquer profissional bem-sucedido e que seria suficiente para que ele tivesse o máximo de conforto, porém, ele
preferiu ir jogar no Barcelona, com um salário de R$ 4,8 milhões por mês, o que dá R$ 51,4 milhões por ano. Para
muitas pessoas, Neymar se tornou um mercenário, já que o seu interesse passou a ser o de ganhar cada vez mais.
Já no caso positivo, em relação ao trabalho nas sociedades onde predomina a religião protestante calvinista,
o caso Neymar seria visto como de um vencedor que usou seu trabalho para chegar onde está.
Na obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber aponta a relação existente entre o trabalho
e o acúmulo de capital.
Para Weber, a ética calvinista traz consigo o ímpeto do capitalismo no dito “mãos desocupadas, oficina do
diabo”. Esse aforismo transforma o trabalho numethosconjunto dos costumes e hábitos fundamentais, no âmbito
do comportamento. O calvinismo proclama o trabalho como um dever e uma obrigação moral e também como
um poderoso racionalizador da atividade econômica geradora do lucro, fazendo com que o trabalho renda mais
dinheiro, pois, ao invés de gastá-lo, investe em mais trabalho para gerar mais dinheiro.
Ao lado das máximas de Benjamin Franklin o pensamento weberiano estabelece que no calvinismo “traba-
lhar é ganhar para poupar e investir para que se possa trabalhar mais e investir mais.”
Entretanto, para Marx, em seu livro “O capital”, diz que foi graças ao seu trabalho que o homem conseguiu
dominar, em parte, as forças da natureza, colocando-as a seu serviço. Vejamos o que ele disse:
"Como criador de valores de uso, como trabalho útil, é o trabalho, por isso, uma condição de existência do
homem, independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo
entre homem e natureza e, portanto, da vida humana."
Os animais também trabalham e produzem, porém, somente para atender às exigências práticas imediatas,
exigências materiais diretas dos mesmos ou de seus filhotes, portanto, não podendo ser livres ao trabalharem, pois,
a atividade dos mesmos é determinada unicamente pelo instinto ou pela experiência limitada que podem ter. O
que ocorre ao homem é diferente. Anterior à realização de seu trabalho, o homem é capaz de projetá-lo, ou seja,
a capacidade de definir meios diversos que possibilitam o alcance de seu objetivo, possuindo a livre escolha da
alternativa que melhor se adeque a seus meios e procura segui-los.
Justamente porque o trabalho humano pode ser diferente do trabalho dos animais, é que o homem modifica
a natureza de acordo com suas possibilidades. O que Marx observa na História é a evolução gradativa do trabalho,
naquilo que corresponde à evolução do homem e à necessidade de suprir suas necessidades frente ao meio.
O economista Ada Smith também foi outro pensador que estudou o trabalho; em sua obra “A riqueza das
nações”, apresentou o trabalho como a única fonte de riqueza que era fruto das ações individuais em benefício
próprio, criando, assim, o liberalismo econômico.
120
"Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar,
mas sim do empenho deles em promover seu auto interesse."
Assim acreditava que a iniciativa privada deveria agir livremente sem a interferência do Estado, já que exis-
tiria a mão invisível do mercado para regulamentar as ações econômicas.
Agora que tivemos uma síntese sobre o conceito de trabalho no mundo ocidental, veremos o trabalho no Brasil.
Para compreender o trabalho na sociedade brasileira, é preciso lembrar das primeiras relações sociais de
produção que ocorreram no nosso território, antes e depois da presença europeia; o primeiro exemplo a ser des-
tacado é o trabalho do indígena, que criava uma relação de degradação menor com o meio, já que o índio se via
parte dessa mesma natureza; durante o período de colonização, o trabalho passou a ser feito sobre o sistema de
escravidão, que teve duração de mais de 300 anos e promoveu uma grande exploração não apenas dos recursos
naturais, mas especialmente da mão de obra utilizada pelos africanos; posteriormente, tivemos o estabelecimento
do trabalho livre assalariado, que apesar desse nome teve sérias consequências sociais durante sua implantação,
já que a jornada de trabalho era extremamente longa e não havia direitos sociais que garantissem o bem-estar do
trabalhador, seja na lavoura ou na indústria.
É importante lembrar que, tanto na escravidão como no trabalho livre, a exploração da natureza foi imensa
devido ao fato dessas formas estarem inseridas na lógica mercantil de acumulação de capital. O acúmulo de capital
na sociedade capitalista ocorre em duas esferas: a primeira, de retirar o máximo de recursos da natureza para sua
transformação em mercadorias, para que sejam colocadas no mercado à venda; a segunda, ocorre na forma de
exploração da mão obra assalariada, para a execução desse trabalho.
O trabalho físico, ao longo dos séculos, sempre esteve relacionado às camadas sociais subalternas e, geral-
mente, não era valorizado pela classe dominante, que o considerava uma atividade que devesse ser praticada por
pessoas inferiores.

Fonte: (http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/42/trabalho-como-conceito-filosofico-nas-paginas-dos-manuscritos-economico-
-filosoficos-290788-1.asp)

A pensadora Marilena Chauí, em seu artigo “Sobre o direito à preguiça”, diz que o trabalho como desonra
e degradação não é algo apenas da sociedade ocidental, já que esse pensamento está presente em vários mitos de
origem. Um exemplo é o caso das sociedades do mundo clássico (Grécia e Roma), onde os poetas e filósofos não se
cansam de proclamar o ócio como um valor indispensável para a vida livre e feliz pelas letras, artes e ciências e para
o cuidado do corpo e da beleza. O trabalho nessas sociedades é uma pena que cabe ao escravos ou aos homens
livres pobres. São estes últimos na sociedade romana que eram chamados de humiliores, os humildes ou inferiores,
em contraposição aos honestiores, os homens bons, porque eram livres, senhores das terras, da guerra e da política.
121
A iconografia, a seguir, é um quadro da modernista Tarsila do Amaral, pintado em 1933. Nesse período, a
pintora estava ligada politicamente ao comunismo, além disso, havia visitado a extinta URSS. Sua tela ilustra o mo-
mento político e social brasileiro dos anos de 1930, como a industrialização, a migração do campo para as cidades,
a consolidação do capitalismo industrial e o surgimento de uma classe social de trabalhadores marginalizada e
explorada. Isso pode ser visto nos rostos sobrepostos, o que indica a massificação e a vida nas cidades. Outro de-
talhe é a expressão desses trabalhadores que não demonstram nenhum tipo de alegria em suas feições, que estão
dominadas pelo cansaço, além de mostrarem as diferentes etnias da sociedade brasileira.

Sistemas de governo
Monarquia é um sistema de governo em que o monarca, imperador ou rei governa um país como chefe de Estado.
O governo é vitalício, ou seja, até morrer ou abdicar, e a transmissão de poder ocorre de forma hereditária (de pai
para filho), portanto, não há eleições para a escolha de um monarca.
Este sistema de governo foi muito comum em países da Europa durante a Idade Média e Moderna. Neste
último caso, os monarcas governavam sem limites de poder. A monarquia ficou conhecida como absolutismo. Com
a Revolução Francesa (1789), este sistema de governo entrou em decadência, sendo substituído pela República,
na grande maioria dos países.
Hoje em dia, poucos países utilizam este sistema de governo e, os que ainda o usam, conferem poucos
poderes nas mãos do rei. Neste sentido, podemos citar as monarquias constitucionais do Reino Unido, Austrália,
Noruega, Suécia, Canadá, Japão e Dinamarca. Nestes países, o rei possui poderes limitados e representa o país
como uma figura decorativa e clássica.
O período monárquico no Brasil ocorreu entre os anos de 1822 e 1889, com os reinados de D. Pedro I e
D. Pedro II.

Parlamentarismo
O parlamentarismo é um sistema de governo em que o poder legislativo (parlamento) proporciona a sustentação
política (apoio direito ou indireto) para o poder executivo. Sendo assim, o poder executivo necessita do poder do
parlamento para ser constituído e também para governar. No parlamentarismo, o poder executivo é, na maioria das
vezes, exercido por um primeiro-ministro (chanceler).
O sistema parlamentarista pode se apresentar de duas maneiras:
§§ Na República Parlamentarista, o chefe de estado (com poder de governo) é um presidente eleito pelo povo
e empossado pelo parlamento, por tempo determinado.
§§ Nas Monarquias Parlamentaristas, o chefe de governo é o monarca (rei ou imperador), que assume de forma
hereditária. Neste último caso, o chefe de Estado (quem governa de fato) é um primeiro-ministro, também
chamado de chanceler.
O parlamentarismo tem sua origem na Inglaterra medieval. No final do século XIII, nobres ingleses passaram
a exigir maior participação política no governo, comandado por um monarca. Em 1295, o rei Eduardo I tornou
oficiais as assembleias dos representantes dos nobres. Nascia, assim, o parlamentarismo inglês.
Países parlamentaristas na atualidade: Canadá, Inglaterra, Suécia, Itália, Alemanha, Portugal, Holanda, No-
ruega, Finlândia, Islândia, Bélgica, Armênia, Espanha, Japão, Austrália, Índia, Tailândia, República Popular da China,
Grécia, Estônia, Egito, Israel, Polônia, Sérvia e Turquia.
O sistema parlamentarista é um sistema mais flexível que o presidencialista, pois, em caso de crise política,
por exemplo, o primeiro-ministro pode ser substituído com rapidez e o parlamento pode ser derrubado, o que no
caso do presidencialismo, o presidente cumpre seu mandato até o fim, mesmo em casos de crises políticas.
122
Presidencialismo
O presidencialismo é um sistema de governo, no qual o presidente é o chefe de Estado e de Governo. Este presi-
dente é o responsável pela escolha dos ministros que o auxiliam no governo.
No sistema do presidencialismo, o presidente exerce o poder executivo, enquanto os outros dois poderes,
legislativo e judiciário, possuem autonomia.
O Brasil é uma República Presidencialista desde 15 de novembro de 1889, quando ocorreu a Proclamação
da República.
No Brasil, o sistema parlamentarista existiu entre 7 de setembro de 1961 e 24 de janeiro de 1963, durante
o governo do presidente João Goulart.

Organização dos poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário

O território brasileiro está divido em Estados, e estes estão divididos em municípios. Como eles são governados?
Quem governa o município, o Estado e o país?
O Brasil, seus estados e municípios têm um governo. Esse governo é responsável pela elaboração de leis,
cobrança dos impostos e prestação de serviços à população. Quem cuida da iluminação pública e da coleta de
lixo, por exemplo, é a Prefeitura (o governo municipal). Já a segurança pública é de responsabilidade do governo
estadual. E, todas as questões ligadas à defesa do país (Exército) cabem à União (o governo federal).
Os municípios são governados pelos prefeitos e vice-prefeitos, os Estados, pelos governadores e vice-gover-
nadores e o país é governado pelo presidente e pelo vice-presidente. Todos eles são eleitos pela população, ou seja,
são escolhidos por meio do voto da maioria das pessoas, para que assim possam exercer o poder em nome delas.
Ocupam cargos públicos que podem ser preenchidos tanto por homens quanto por mulheres.
O poder exercido pelos prefeitos, governadores e presidente recebe o nome de poder Executivo. Recebe este
nome porque cabe a seus representantes colocar as leis em prática, ou seja, executá-las e administrar os negócios
públicos, como cobrar impostos, decidir onde o dinheiro recolhido será aplicado, quantas escolas ou hospitais públi-
cos serão construídos em um ano, quantas e quais as ruas receberão calçamento etc. O poder executivo é auxiliado,
em sua tarefa de governar, pelo poder Legislativo e pelo poder Judiciário.
O poder Legislativo é responsável pela elaboração e aprovação das leis. Para compor o poder Legislativo,
também são eleitos através do voto, os vereadores, os deputados (estaduais e federais) e os senadores.
O poder Judiciário é o fiscalizador. Ele cuida para que essas leis sejam cumpridas e zela pelos direitos dos
indivíduos. Do poder Judiciário fazem parte os juízes e os promotores de justiça.

123
U.T.I. - Sala (Filosofia)
1. Em relação ao conceito de estado de natureza, segundo John Locke, por que o homem é como uma
tábula rasa?

2. Explique de que forma Descartes chega à sua primeira certeza, o cogito. Que razões levaram
Descartes a rejeitar os conhecimentos provenientes dos sentidos?

3. Quais os conceitos que permitiram o reconhecimento de um cidadão? O que permite o desenvolvi-


mento da liberdade no Estado contratual?

U.T.I. - Sala (Sociologia)


1. Que conceito se desenvolve em um grupo de indivíduos que apresenta um conjunto de caracterís-
ticas culturais comuns, no qual faze parte da mesma sociedade?

2. Em relação ao conceito de violência, qual a distinção entre violência física, violência simbólica e
violência psicológica?

3. Muitos sociólogos pesquisaram extensivamente a respeito das consequências potenciais da divisão


do trabalho – tanto para os trabalhadores em termos individuais, quanto para toda a sociedade.
Para Karl Marx, a industrialização e o assalariamento dos trabalhadores resultaram em que fator?

124
U.T.I. - E.O. 4. Sempre que alimentarmos alguma suspeita
de que uma ideia esteja sendo empregada
sem nenhum significado, precisaremos ape-

(Filosofia) nas indagar: de que impressão deriva esta


suposta ideia? E se for impossível atribuir-
-lhe qualquer impressão sensorial, isso ser-
virá para confirmar nossa suspeita.
1. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) faz HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento.
parte dos contratualistas, porém, tem uma São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).
posição inovadora em relação a Hobbes e a
No texto, o autor se posiciona sobre a natu-
Locke, quanto ao conceito de soberania. Para
reza do conhecimento humano. A compara-
ele:
ção do excerto permite assumir que Hume:
a) a democracia direta impede que os cidadãos
a) defende o sentido como critério originário
vivam em paz, pois libera as paixões que im-
para considerar um conhecimento legítimo.
pedem essa paz.
b) entende que é desnecessário suspeitar do
b) soberano é o poder executivo, que tem o po- significado de uma ideia na reflexão filosófi-
der absoluto para garantir paz ao povo. ca e crítica.
c) é necessário distinguir os conceitos de so- c) é legítimo representante do criticismo quan-
berano e de governo, atribuindo ao povo a to à gênese do conhecimento.
soberania inalienável e indivisível. d) concorda que conhecimento humano é im-
d) a vontade geral institui o governo, que sub- possível em relação às ideias e é à base de
mete o povo, para garantir a paz, não po- todo conhecimento.
dendo, portanto, ser destituído. e) atribui diferentes lugares ao papel dos sen-
tidos no processo de obtenção do conheci-
2. Para Thomas Hobbes, os seres humanos são mento, dessa forma, a experiência habitual
livres em seu estado natural, competindo e constrói o conhecimento entre ideias, tendo
lutando entre si, por terem relativamente a como base a experiência.
mesma força. Nesse estado, o conflito se per-
petua através de gerações, criando um am-
biente de tensão e medo permanente. Para
esse filósofo, a criação de uma sociedade
submetida à Lei, na qual os seres humanos
vivam em paz e deixem de guerrear entre si,
pressupõe que todos renunciem à sua liberda-
de original. Nessa sociedade, a liberdade in-
dividual é delegada a um só dos homens que
detém o poder inquestionável, o soberano.
Fonte: MALMESBURY, Thomas Hobbes de. Leviatã ou
matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e
civil. Trad. João Paulo Monteiro; Maria Beatriz Nizza
da Silva. São Paulo: Editora NOVA Cultural, 1997.

A teoria política de Thomas Hobbes teve papel


fundamental na construção dos sistemas po-
líticos contemporâneos que consolidou a(o):
a) monarquia paritária.
b) despotismo soberano.
c) monarquia republicana.
d) monarquia absolutista.
e) despotismo esclarecido.

3. Ideias provenientes da nossa imaginação,


uma combinação de imagens fornecidas pe-
los sentidos e retidas na memória, cuja com-
binação nos permite representar (imaginar)
coisas que nunca vimos.
a) Adventícias
b) Fictícias
c) Inatas
d) Falsas
e) Duvidosas
125
U.T.I. - E.O. 4. O sistema presidencialista de governo adota-
do no Brasil faz do presidente da República
pessoa de extrema importância para o fun-

(Sociologia) cionamento efetivo e eficaz do poder Execu-


tivo. Julgue os itens abaixo, acerca da con-
figuração do presidencialismo no Brasil, em
1. No ano de 1933, a artista modernista Tarsi- confronto com outros sistemas de governo
la do Amaral (1886-1973) pintou o quadro existentes, assinalando a alternativa correta.
“Operários”, dando início à pintura social no a) Os ministros de Estado são nomeados pelo
Brasil. Sobre o tema da diversidade étnica, presidente da República, após voto de con-
fiança do Congresso Nacional.
as teorias sociológicas afirmam que, sob a
b) O presidente da República divide seu poder
perspectiva cultural:
com o chefe de Estado, mantendo as rela-
a) os termos raça, etnia e cultura têm o mesmo
ções com Estados estrangeiros e acredita
significado analítico no contexto brasileiro,
seus representantes diplomáticos.
quando utilizados por sociólogos e antropó-
c) Em um Estado Federado, a chefia de Estado é
logos.
partilhada entre o presidente da República e
b) as populações indígenas brasileiras foram
os governadores de Estado.
classificadas, corretamente, como primitivas
d) A forma de governo republicana vincula-se
pelos colonizadores, porque são naturalmen- obrigatoriamente ao sistema de governo pre-
te mais vagarosas e atrasadas. sidencialista.
c) os grupos biológicos de indivíduos que com- e) O presidencialismo tem sua origem na França.
partilham de uma história comum, feita de
laços linguísticos e culturais, são tidos como
pertencentes da mesma etnia.
d) alguns elementos culturais, como o futebol,
as comidas típicas e o carnaval, não podem
ser objetos da análise sociológica por mas-
carar a desigualdade existente nas relações
sociais.
e) a chegada dos japoneses, em 1908, e a cons-
trução de uma nova identidade nacional
com a implantação de suas associações civis,
educativas e religiosas, foram o marco das
relações inter-raciais no Brasil.

2. Dentre as formas de violência doméstica e


familiar contra a mulher, expressamente
previstas na Lei nº 11.340/06, NÃO figura a
violência:
a) psicológica.
b) patrimonial.
c) moral.
d) endêmica.
e) sexual.

3. É a condição material dos indivíduos que de-


terminaria os demais aspectos de sua vida.
A importância dada por Marx a esse quesito
de nossas vidas é justificada, segundo sua
teoria, em razão do impacto que a situação
econômica de um sujeito tem em sua traje-
tória de formação.
Essa linha de pensamento é chamada de:
a) evolucionismo material.
b) capitalismo selvagem.
c) contratualismo.
d) materialismo histórico.
e) meritocracia.

126
U.T.I. - 5, 6 e 7

Geografia 1
Rússia e Ásia Central
Aspectos físicos

Relevo

§ uma planície no leste europeu e outra na parte oeste, separadas pelos montes Urais;
§ planaltos e montanhas na porção meridional

Clima e vegetação

§ por sua extensão territorial, possui clima e vegetação diversificado: ártico, subártico, temperado e subtropical;
§ invernos longos e com neve, primavera temperada, verão curto e com temperaturas amenas e outono chuvoso;
§ subpolar na Sibéria, onde aparece a tundra, que crescem nos alagados no período da primavera e do verão;
§ a sul, o clima é mais quente, havendo campos e estepes;
§ na região central encontram-se florestas com carvalhos, divididas por estepes.
129
Hidrografia

§ 18% do território é coberto por rios e lagos, com destaque para os rios Volga, Don e o rio Neva, que deságua
no golfo da Finlândia;
§ Possui a maior bacia hidrográfica, a bacia do Ob;
§ O lago Baikal é o mais importante corpo d’água.

Aspectos históricos
§ Rússia czarista;
§ Economia atrelada ao feudalismo;
§ Dependência com a Inglaterra e França;
§ Pequenos avanços na indústria;
§ Êxodo rural;
§ Insatisfação da classe operária e da burguesia nacional;
§ Ideais socialistas ganham força;
§ Repressão do governo às greves;
§ “Domingo Sangrento” (1905);
130
Domingo Sangrento

§ Revolução Russa (1917);


§ Teses de abril: diretrizes propostas por Vladimir Lênin para fundamentar um plano concreto na revolução
socialista;
§ Reformas instituídas: estatização dos bancos e indústrias; reforma agrária; sistema unipartidário (Partido
Comunista);
§ Com a morte precoce de Lênin, Trotsky e Stálin divergem politicamente e, em 1925, Stálin derrota Trotsky,
mandando-o para o exílio;
§ “Expurgos de Moscou”;
§ Pós Segunda Guerra: investimento pesado na indústria bélica;
§ Crise nos países do leste europeu e crescente insatisfação popular frente ao governo de Moscou;
§ Reformas políticas e econômicas: Perestróika e Glasnost;
§ Fim da Guerra Fria e unificação da Alemanha;
§ Fim da União Soviética (1990).

Aspectos econômicos
§ Possui importantes recursos naturais;
§ 12º lugar no PIB mundial;
§ Principais indústrias:
1. Mineração (carvão, petróleo, gás natural e metais);
2. Indústria bélica (radares e mísseis);
3. Construção naval;
4. Indústria química.
§ Integra a APEC, bloco econômico que tem como objetivo transformar o Pacífico numa área de livre comércio.

Agropecuária
§ A partir de 1990, o país passou a investir na modernização de empresas agrícolas para a produção de ce-
vada, aveia, centeio, batata e trigo;
§ Uso de biotecnologia.
131
Energia

§ Superpotência energética;
§ Maiores reservas mundiais de hidrocarbonetos;
§ Maior exportador de gás natural do mundo;
§ Maior produtor e exportador de petróleo do mundo;
§ Segunda maior rede de gasodutos;
§ Grande potencial hidrelétrico.

Aspectos populacionais
§ Baixa densidade demográfica,
§ Maior concentração populacional próximo aos montes Urais e na porção sudoeste,
§ 73% da população vive em áreas urbanas,
§ Decréscimo populacional a partir da década de 1990.

Questão da Crimeia

§ Província semiautônoma da Ucrânia, disputada pela Rússia após a extinção da União Soviética;
§ Possui fortes relações étnicas e políticas com a Rússia;
§ Importante saída para o Mar Negro, onde possui bases navais estratégicas;
§ Entreposto comercial para a Europa;
§ Grande produtora de grãos e de alimentos industrializados;
§ Insatisfação da população russa da Crimeia com o governo de Kiev;
§ Reivindicam laços mais estreitos com a Rússia ou mesmo a independência total por não se sentirem repre-
sentados pela Ucrânia;
§ Vladimir Putin enviou tropas para a Ucrânia para assumirem o controle político na região da Crimeia, fato
que provocou o descontentamento dos EUA e da União Europeia, com um possível bloqueio econômico.

Porcentagem da população que fala Russo

132
Ásia Central
§ Subcontinente constituído por cinco países:
a) Cazaquistão;
b) Uzbequistão;
c) Turcomenistão;
d) Tajiquistão;
e) Quirguistão.
§ Possui relevo relativamente plano, vegetação do tipo estepe e clima predominantemente árido e semiárido;
§ Mar do Aral: vem sofrendo grande impacto ambiental por conta da irrigação para o plantio de arroz e
algodão.

Geografia do turismo
§ O turismo é um importante fator de mudanças sociais e espaciais;
§ Entendido como um fenômeno econômico, social, político e cultural;
§ É a especificidade dos lugares (seu patrimônio) que lhes conferirá o caráter turístico;
§ O nascimento do turismo como uma atividade organizada decorre de uma convergência de fatores culturais,
materiais e organizativos;
§ Sociedade pós-industrial – globalização – tecnologias;
§ Prática elitista – fenômeno de massa – aumento da acessibilidade: direitos trabalhistas, valorização do lazer
§ Incremento nos transportes e na informação;
§ Atividade responsável por 10% da riqueza do mundo;
§ Logística de consumo do espaço geográfico;
§ Principais tipos de turismo:
a) lazer;
b) religioso;
c) cultural;
d) negócios;
e) saúde.
133
A questão ambiental
Fatos que fortaleceram a educação e a difusão da consciência ambiental:
§ 1972: Conferência de Estocolmo;
§ 1973: no Brasil, a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA;
§ 1975: a Unesco criou o Programa Internacional de Educação Ambiental – PIEA;
§ 1977: Conferência Intergovernamental em Educação Ambiental, na Geórgia;
§ 1983: no Brasil, foi promulgado o decreto que regulamenta a implantação de políticas de meio ambiente e
da criação de estações ecológicas e áreas de proteção ambiental;
§ 1987: Congresso Internacional sobre Educação Ambiental, em Moscou, que define a inclusão da educação
ambiental nos currículos escolares dos países participantes;
§ 1992: Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ECO-92, Brasil;
§ 1994: I Congresso Ibero-Americano de Educação Ambiental, em Guadalajara;
§ 1997: Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade, que resultou na Declaração Thessaloniki;
§ 2002: Encontro da Terra, Rio+10, em Johanesburgo;
§ 2012: Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20.
134
Protocolos Internacionais para o Meio Ambiente

Agenda 21
§ Gestão de recursos naturais;
§ Desenvolvimento de uma agricultura sustentável;
§ Incentivo à concepção de cidades sustentáveis;
§ Construção de infraestruturas com vistas à integração regional;
§ Redução das desigualdades sociais;
§ Potencialização da ciência e da tecnologia voltadas para a sustentabilidade.

Protocolo de Montreal
§ Sobre substâncias que destroem a camada de ozônio;

Protocolo de Kyoto
§ Os países industrializados reduziriam suas emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos
5% em relação aos níveis de 1990 até o período de 2008 e 2012.

Problemas ambientais mundiais

Oscilação decadal do Pacífico


§ É um fenômeno cíclico que consiste na variação de temperatura das águas do oceano Pacífico, sendo um
dos fatores mais decisivos na dinâmica climática em várias partes do mundo.

Oscilação decadal do pacífico e linha de temperatura

ciclo da ODP: 50 a 60 anos

135
El Niño
§ É um fenômeno climático que tem como consequência o aquecimento anormal das águas do oceano Pacífi-
co tropical, que influencia a distribuição da temperatura da superfície da água e, consequentemente, o clima
de várias regiões do mundo.

El Niño

La Niña
§ Provoca o resfriamento irregular das águas do Pacífico em virtude do aumento da força dos ventos alísios.

Aquecimento global
É o processo de aumento da temperatura média dos oceanos e da atmosfera da Terra causados por massivas emis-
sões de gases que intensificam o efeito estufa, originados da ação antrópica.
No meio científico, debate-se muito a respeito da existência e das possíveis causas do aquecimento global.
136
Grandes biomas do mundo
Floresta tropical
§ Desenvolvem-se em baixas latitudes e próximas ao Equador;
§ Cobre 6% da Terra e abriga mais da metade das espécies de plantas e animais;
§ A grande produtividade biológica é resultado da alta radiação solar, temperatura entre 18 e 30º C e alto
índice pluviométrico;
§ Dossel;
§ Estratificação;
§ Presença de sombra.

Savanas
§ Regiões quentes da Austrália, América do Sul e África;
§ Chuvas mal distribuídas durante o ano;
§ Vegetação arbustiva, herbácea e espaçadas entre si.

137
Floresta temperada
§ É encontrada entre os polos e os trópicos;
§ Floresta decídua caducifoliada;
§ Clima temperado com médias anuais moderadas e estações bem definidas;
§ O índice pluviométrico é bem uniforme durante o ano;
§ Solos abundantes em matéria orgânica;
§ Animais migratórios.

Campos
§ Ocorrem em todos os continentes, como as pradarias na América do Norte e os Pampas na América do Sul;
§ Vegetação herbácea;
§ É o bioma mais utilizado e transformado pelas ações antrópicas.

Desertos
§ Reduzida precipitação em decorrência da localização:
a) áreas de alta pressão atmosféricas;
b) atrás de altas cadeias de montanhas;
c) região de influência de correntes marítimas frias;
§ Clima quente;
§ Grande amplitude térmica;
§ Vegetação rara e espaçada, com plantas que armazenam água, como as cactáceas.
138
Tundra
§ Localiza-se no Círculo Polar Ártico;
§ Inverno longo e rigoroso e verões curtos com temperaturas amenas;
§ Permafrost;
§ Vegetação gramínea, plantas lenhosas e liquens.

Taiga
§ Constitui-se como um cinturão abaixo do Circulo Polar Ártico, que limita o domínio da tundra;
§ Possui duas estações bem distintas, com predomínio do inverno sobre o verão;
§ Floresta de coníferas;
§ Homogênea;
§ Alelopática.

Chaparral
§ Distribuem-se em regiões com clima temperado ameno, como a Califórnia, México, litoral do mar Mediter-
râneo, Chile e costa meridional da Austrália;
§ Vegetação arbustiva e árvores de pequeno e médio porte, com folhas duras e grossas;
§ Micorrizas: associação entre fungos e raízes, que aumenta a chance de sobrevivência em condições adversas;
§ Ocorrência de fogo.

139
Caatinga
§ Encontram-se na América do Sul, no sudeste africano e em algumas partes do sudoeste asiático;
§ Condições de umidade intermediária entre o deserto e a savana;
§ Vegetação herbácea e cactácea.

Hotspots ambientais
§ São pontos ou manchas de extrema biodiversidade.
§ Dois fatores são críticos na escolha de um hotspot:
1. a existência de espécies endêmicas;
2. grandes taxas de destruição do habitat;
3. grande biodiversidade.

Hotspots globais

140
Oceania e regiões polares

Oceania
§ Localizado à sudeste da Ásia, compreende um conjunto de ilhas, onde a Austrália é a maior delas;
§ Foi o ultimo continente colonizado pelos europeus, onde atualmente há apenas 14 Estados independentes
§ É dividida em três zonas:
1. Melanésia;
2. Polinésia;
3. Micronésia.

Relevo
§ Com exceção da região que compreende o escudo australiano, todas as unidades de relevo da Oceania são
geologicamente recentes, com destaque para as inúmeras ilhas vulcânicas.

Clima e vegetação
§ Predominantemente tropicais, com a presença de desertos no interior da Austrália.

Aspectos populacionais
§ A densidade demográfica é de aproximadamente 4,3 habitantes por Km2, ou seja, o continente é pouco
povoado;
§ A Austrália abriga 60% da população, com mais de 25 milhões de habitantes;
§ A expectativa de vida é de 81 anos, na Austrália e na Nova Zelândia;
§ Além do contraste populacional entre os países da Oceania, há também o contraste no nível de desenvolvi-
mento socioeconômico, onde a Nova Zelândia e a Austrália desfrutam de um elevado padrão de vida, com
altos índices de desenvolvimento humano, enquanto que os outros países detém médio e baixo IDH.
141
Aspectos econômicos
§ A Austrália e Nova Zelândia detêm o maior PIB do continente;
§ São grandes produtoras de alimentos, com uma agropecuária avançada e extremamente mecanizada, vin-
culado a um elevado parque industrial alimentício;
§ Os pequenos países do continente concentram suas atividades econômicas no turismo.

Regiões polares
§ São os pontos extremos do planeta, com a centralidade definida pelo eixo do movimento de rotação terres-
tre;
§ Representam os níveis máximos de latitude;
§ Possuem a importante função de amenizar as temperaturas do Planeta;
§ O Polo Norte, também chamado de Ártico, não possui terra firme, sendo basicamente formado por gelo, e,
portanto não é considerado um continente;
§ O polo Sul, bem maior, envolve a área do continente Antártico, onde as temperaturas são menores.

Permafrost
§ É um tipo de solo existente na região do Ártico, que fica permanentemente congelado;
§ Formou-se há milhares de anos, tornando-se também um importante registro das variações climáticas da
Terra.

142
Aurora polar
§ Caracteriza-se por um brilho intenso e difuso nos períodos noturnos devido ao impacto de partículas de
vento solar no campo magnético da Terra.

População – teorias demográficas


Teoria malthusiana
§ Segundo o economista inglês Tomas Malthus, a população mundial cresceria em um ritmo muito rápido e a
produção de alimentos cresceria em um ritmo lento;
§ “Sujeição moral”: a população deveria adotar uma postura de privação voluntária dos desejos sexuais, com
o objetivo de reduzir a natalidade.

Teoria reformista
§ Os reformistas atribuem a pobreza à má distribuição de renda da sociedade, ocasionada, sobretudo, pela
exploração a que os países desenvolvidos submetem os países subdesenvolvidos.

143
Teoria Neomalthusiana
§ Defende o controle do crescimento populacional para conter o avanço da miséria nos países subdesenvolvi-
dos;
§ Preconiza a difusão de medidas governamentais para intensificar o controle do crescimento da população.

Ecomalthusianismo
§ Teoria demográfica que questiona a relação entre crescimento populacional e a preservação da natureza;
§ A maior quantidade de habitantes da Terra gera mais impactos ambientais.

População: conceitos e transição demográfica

População absoluta
§ É o total de habitantes de um determinado lugar.

Densidade demográfica
§ É obtida por meio da divisão da população total pela área;
§ Permite-se observar a distribuição da população pelo território.

Superpovoamento ou superpopulação
§ Um local densamente povoado é aquele com muitos habitantes por km2;
§ Um local populoso é aquele com uma população muito grande em termos absolutos.

Taxa de mortalidade infantil


§ Expressa o número de crianças de um determinado local que morrem antes de completar um ano de vida a
cada mil nascimentos;
§ Indicador de qualidade de serviços de saúde e saneamento básico.

Taxa de fecundidade
§ Consiste em uma estimativa do número médio de filhos que uma mulher tem ao longo da vida;
§ Esse indicador expressa a condição reprodutiva das mulheres de um determinado local, para análise da
dinâmica demográfica.
144
Taxa de natalidade
§ É a relação matemática entre o número de nascimentos em um ano em relação ao total de habitantes de
um determinado local.

Taxa de mortalidade
§ Representa o número de falecimentos durante o período de um ano para cada mil habitantes.

Saldo migratório
§ É o resultado do número de imigrantes menos o número de migrantes.

Transição demográfica
§ Descreve a dinâmica do crescimento populacional decorrente dos avanços da medicina, da urbanização,
bem como do desenvolvimento de novas tecnologias.

Transição demográfica

145
Urbanização no Brasil
§ Podemos estabelecer uma periodização histórica para o desenvolvimento das cidades brasileiras a partir do
perfil da economia nacional desde o período colonial, quando os aglomerados urbanos se distinguiam em
povoados, freguesias, vilas e cidades, de acordo com a condição territorial, populacional e administrativa.
1. Do século XIV ao início do XX:
§ urbanização na fase agroexportadora;
§ principais núcleos urbanos inseridos no contexto territorial na forma de “arquipélago” ou “ilhas” desar-
ticuladas entre si e todas ligadas à metrópole colonial;
§ Recife e Salvador se destacavam como entrepostos do comércio do algodão e do açúcar;
§ no século XVIII, cresceram as vilas de Minas Gerais e Goiás devido à mineração de ouro e pedras precio-
sas;
§ na segunda metade do século XX, a economia cafeeira impulsionou o crescimento das cidades do Rio
de Janeiro, do Vale do Paraíba, de Santos e de São Paulo.

2. Do início do século XX até meados dos anos 1940:


§ a urbanização se concentra nos núcleos da região Sudeste, São Paulo e Rio de Janeiro;
§ fase da modernização da economia e criação de laços entre as economias regionais;
§ mudanças sociais com o crescimento da massa do operariado urbano;
§ expansão e instalação de redes de infraestrutura (rodovias, ferrovias, energia e saneamento), dando um
conteúdo mais técnico ao território;
§ implantação de indústrias de base;
§ subordinação das demais regiões com o Sudeste, levando uma estagnação ou redução da população de
várias cidades.

3. Pós-Segunda Guerra Mundial:


§ as grandes cidades tornaram-se o meio técnico aptos para receber as inovações tecnológicas;
§ atuação de empresas transnacionais;
§ São Paulo e Rio de Janeiro se consolidam como os centros mais importantes na economia e das finanças
e se articulam com outras regiões;
§ forte concentração urbana regional em capitais como Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte;
§ crescente metropolização;

146
§ interiorização da urbanização proporcionada pela construção de Brasília;
§ integração da Amazônia ensejada pelo Estado e por empresários estrangeiros e nacionais que diversificou
seu quadro urbano;
§ maior crescimento de cidade com médias a partir dos anos de 1980;
§ conurbação;
§ em 1973, o Congresso Nacional aprova uma lei que cria as regiões metropolitanas;
§ RIDE (regiões integradas de desenvolvimento).

Problemas de urbanização
§ Periterização;
§ Desemprego;
§ Favelas e cortiços;
§ Loteamentos populares;
§ Enchentes;
§ Violência.

Fontes de energia

Fontes primárias
§ É toda forma de energia disponível na natureza antes de ser convertida ou transformada, ou seja, é a ener-
gia contida nos combustíveis crus (petróleo), a energia solar, eólica, entre outras. Quando é transformada,
torna-se energia secundária (eletricidade, calor etc.).
§ Quando a natureza, aliada ou não a intervenção do homem, consegue repor esses recursos em curto
período de tempo, essas fontes primárias de energia são consideradas renováveis, como o carvão vegetal.
Quando a reposição não pode ser feita em tempo hábil, os recursos são considerados não renováveis, como
o petróleo e o carvão mineral.

Hidrelétricas
§ A maior parte da energia elétrica no mundo é obtida por meio da rotação de uma turbina, que converte a energia
cinética da rotação em energia elétrica, a partir da construção das hidrelétricas, onde o curso do rio é bloqueado
por uma barragem, criando um grande lago artificial que serve para armazenar água e controlar a vazão.
Dentro de uma usina hidrelética

147
Embora seja considerada renovável, seu impacto ambiental é considerado grande, pois alem das áreas
inundáveis provocarem impactos imprevisíveis no microclima das regiões, as árvores submersas pela barragem é
decomposta anaerobicamente, liberando gás metano e aumentando o efeito estufa.
Mencionemos ainda os impactos sociais às populações próximas das barragens. Atingidas direta e con-
cretamente através do alagamento de suas propriedades, casas, áreas produtivas e até cidades, também sofrem
os impactos indiretos como a perda de laços comunitários, separação de comunidades e famílias, destruição de
igrejas, capelas, escolas, entre outras instituições que guardam a cultura e a história de comunidades inteiras, prin-
cipalmente comunidades tradicionais.

Termoelétricas
§ Países que não dispõem de recursos suficientes para a obtenção de energia, como muitos países europeus,
costumam utilizar usinas termoelétricas, onde a rotação das turbinas é feita pela alta pressão de vapor
d’água, obtido pela queima de carvão, óleo ou biomassa.

Eólica
§ Nesse tipo de usina, o movimento de rotação das turbinas e causado pelo vento.
§ No Brasil, é crescente o número dessas torres com imensas pás, que alcançam mais de 20 metros de com-
primento.
§ Apesar de ser uma fonte reconhecida como limpa, sua eficiência é pequena e depende de ventos constantes
e com velocidade adequada.
§ O impacto ambiental está ligado a sua estética, a colisão de aves e ao ruído gerado pela rotação das pás.

148
Petróleo

§ O petróleo se caracteriza por ser uma energia não renovável pelo descompasso entre seu lento processo de
formação e seu crescente consumo.
§ Esse hidrocarboneto foi formado pelo soterramento de materiais de origem animal e vegetal que, isolada
do oxigênio do ar, foi lentamente sendo decomposta por bactérias anaeróbicas, gerando uma mistura de
substâncias.

§ A gasolina é um dos derivados do petróleo e seu uso como combustível é muito difundido no mundo.
§ O uso da gasolina é um das causas do aumento no nível da poluição atmosférica.
§ A indústria petroquímica tem no petróleo a matéria-prima bruta para a fabricação de plásticos, tintas, me-
dicamentos e ferramentas.

Biodigestores
§ A existência do biogás é conhecida pelo menos desde 1806, quando o químico inglês Humphry Davy identi-
ficou um gás rico em carbono e CO2 que resultava da decomposição de dejetos animais em lugares úmidos.
§ Com o passar dos anos, vários estudos e experiências desenvolveram dois modelos principais de biodiges-
tor: o chinês, mais simples e econômico e o indiano, mais técnico e sofisticado.
§ Os biodigestores são equipamentos de fabricação relativamente simples, que possibilita o reaproveitamento
de detritos para gerar gás e adubo, também chamados de biogás e biofertilizantes.
149
§ Para o uso de biodigestores, assim como a retomada de técnicas tradicionais para aumentar a autonomia
energética de uma sociedade e preciso investimento no desenvolvimento de pesquisas na área técnica e
na área social, bem como o diálogo entre ambas as produções, para estimulara a agricultura através dos
biocompostos, reduzindo perdas de transmissão, gerando autonomia energética e know-how tecnológico.

150
U.T.I. - Sala
1. Um conflito entre Rússia e Ucrânia, em 2014, acarretou em anexação de uma península ucraniana
pela Rússia. Indique o nome desta península e os principais motivos do conflito por esse território.

2. Dentre as principais transformações socioambientais que ocorrem nas comunidades receptoras do


turismo, aponte dois pontos positivos e dois pontos negativos dessas alterações.

3. Explique o que é o Protocolo de Kyoto e seu principal objetivo.

4. Sobre os eventos El Niño e La Ninã: indique a área de ocorrência desses eventos, as características
que os diferenciam e seus impactos sobre as Regiões Nordeste e Sul do Brasil.

5. Descreva a principal área de ocorrência, as características climáticas, as características fisionômi-


cas da vegetação e o tipo de exploração que se faz do bioma taiga.

6. Indique os três principais conjuntos de ilhas da Oceania.

7. Explique a teoria demográfica malthusiana.

8. Aponte os três indicadores utilizados pela ONU para avaliar o IDH dos países do mundo e, conside-
rando os países Noruega e Serra Leoa, comente as principais diferenças desses países com relação
ao desenvolvimento social.

9. Sobre os principais, e atuais, fluxos migratórios internacionais com destino à Europa, indique as
duas principais áreas de repulsão (local de origem dos imigrantes) e os principais motivos de fuga
dessas pessoas.

10. Explique a principal diferença entre as pirâmides etárias de países pobres e países ricos.

151
U.T.I. - E.O. b) relacione a crise de 2008 à variação na ten-
dência dos fluxos turísticos observada no
gráfico;
1. (Ufjf) Leia o texto e o mapa a seguir. c) indique dois fatores responsáveis pelo au-
mento dos fluxos do turismo de negócios
Prêmios Nobel pessimistas e do turismo cultural para a cidade de São
Grandes nomes da economia apontam que Paulo, nas últimas duas décadas.
já existe uma nova Guerra Fria que poderia
contribuir para a decadência da Europa 3. (Ufjf) Leia os textos a seguir.
POR GRAÇA MAGALHÃES-RUETHER / CORRESPONDENTE A Rio+20 será uma das mais importantes
reuniões globais sobre desenvolvimento sus-
BERLIM – Desde a queda do muro de Berlim,
tentável de nosso tempo.
há quase 25 anos, o perigo de uma guerra na
No Rio, nossa visão deve ser clara: uma eco-
Europa nunca foi tão grande quanto atual-
nomia verde sustentável que proteja a saúde
mente. A conclusão é de 17 prêmios Nobel de
do meio ambiente e apoie o alcance dos Ob-
economia, que estiveram reunidos (...) em
jetivos de Desenvolvimento do Milênio atra-
Lindau, no sul da Alemanha, para o seu en-
vés do crescimento da renda, do trabalho de-
contro anual, mas também de Volker Ruhe,
cente e da erradicação da pobreza.
ex-ministro da defesa da Alemanha. Em uma
Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon
pesquisa de opinião feita pelo jornal “Die
Welt”, os gênios da economia afirmaram que O desenvolvimento sustentável não é uma
já existe uma nova Guerra Fria, o que pode- opção! É o único caminho que permite a
ria contribuir para a decadência da Europa toda a humanidade compartilhar uma vida
também do ponto de vista econômico. decente neste único planeta. A Rio+20 dá à
nossa geração a oportunidade para escolher
este caminho.
Sha Zukang, Secretário-Geral da Conferência
Rio+20 Disponível em: http://www.onu.org.
br/rio20/img/2012/03/Rio+20_Futuro_que_
queremos_guia.pdf. Acesso em: 12 mar. 2012.

a) O que é desenvolvimento sustentável?


b) Em 2000, a Organização das Nações Unidas
(ONU), ao analisar os maiores problemas
mundiais, estabeleceu 8 Objetivos do Milê-
nio (ODM), que no Brasil são chamados de 8
a) Por que a Rússia anexou a Crimeia? Jeitos de Mudar o Mundo. Cite um dos Obje-
b) Por que o conflito na Ucrânia está sendo tivos do Milênio.
considerado como a causa de uma “nova” c) Em Uganda, uma transição para uma agri-
Guerra Fria? cultura orgânica gerou receita e renda para
pequenos agricultores e beneficiou a econo-
2. (FGV) A indústria do turismo movimenta, mia, a sociedade e o meio ambiente. Como
anualmente, bilhões de dólares, tendo apre- a agricultura orgânica beneficia o meio am-
sentado, nas últimas décadas, taxas de cresci- biente?
mento em torno de ao ano. O gráfico a seguir
mostra o crescimento do número de turistas 4. (Ufu) Terceiro El Niño mais intenso da his-
no período 1995/2010, em escala mundial. tória vai durar até 2016
O fenômeno climático El Niño, que reapa-
receu em março, deve durar até o segundo
trimestre de 2016 e pode ser um dos mais
intensos da história, segundo as projeções
anunciadas nesta quinta-feira pelo Centro
de Previsão do Clima (CPC) dos Estados Uni-
dos.
Disponível em: <http://www.correiodoestado.com.br/
ciencia-e-saude/terceiro-el-nino-mais-intenso-da-historia-
vai-ate-2016/257442/> Acesso em: 20 de fev. 2016.

Sobre a indústria do turismo: A partir do texto e de seus conhecimentos


a) apresente dois fatores responsáveis pelo au- sobre o assunto, responda:
mento dos fluxos turísticos em escala mun- a) Explique o fenômeno climático exposto e
dial, como indicado no gráfico; sua relação com os ventos alísios.

152
b) Durante sua atuação, quais são as principais década de 1970. Como a senhora pode ima-
consequências ambientais e econômicas que ginar, muito em breve chegaremos aos oito
o fenômeno apresentado desencadeia nas re- bilhões. Pense nas implicações. (...)
giões Nordeste e Sul do Brasil? Espécies animais estão entrando em extin-
ção num ritmo aceleradíssimo. A demanda
por recursos naturais cada vez mais escassos
5. (Unesp) Analise o gráfico. é astronômica. É cada vez mais difícil encon-
trar água potável.
BROWN, Dan. Inferno. São Paulo: Arqueiro, 2013.

A fala do personagem no trecho citado ilus-


tra o ponto de vista defendido por uma teo-
ria demográfica.
Nomeie essa teoria e explicite o ponto de
vista que ela defende. Nomeie, também, a
teoria demográfica que defende o ponto de
vista contrário.

8. (Fgv) Examine os mapas e gráficos abaixo.

Considerando as relações existentes entre


condições climáticas, dinâmica hidrológica
e distribuição dos biomas no planeta, faça
uma comparação do nível médio dos ocea-
nos e da distribuição das florestas tropicais e
equatoriais nos momentos em que a tempe-
ratura média do planeta alcançou um ponto
de mínimo e de máximo no período destaca-
do pelo gráfico.

6. (Unesp) A distribuição da população aus-


traliana apresenta características bem defi-
nidas e, apesar da grande extensão territo-
rial, a rede hidrográfica do país é pobre, com
grande número de rios intermitentes.

Com base nos mapas e gráficos e em sem co-


nhecimentos sobre o assunto, responda:
a) O Índice de Desenvolvimento Humano Mu-
nicipal (IDHM) é um índice composto, cal-
culado a partir de três variáveis: educação,
longevidade e renda. Explique a importância
Utilizando seus conhecimentos e examinan- de cada uma na mensuração do desenvolvi-
do os dois mapas, responda. mento humano.
a) Qual o principal fator restritivo ao desenvol- b) Considerando o conjunto dos municípios
vimento da rede hidrográfica australiana? brasileiros, procure explicar a evolução do
IDHM entre 1991 e 2010.
b) Por que a ocupação humana está concentra-
c) Com base no IDHM, é possível afirmar que
da principalmente no sudeste do país? ainda persistem desigualdades regionais no
Brasil? Justifique sua resposta.
7. (Uerj) Pense no seguinte: a população da
Terra levou milhares de anos, desde a aurora 9. (Unesp) O entendimento dos processos so-
da humanidade até o início do século XIX,
ciais envolvidos nos fluxos de pessoas entre
para atingir um bilhão de pessoas. Então,
países, regiões e continentes passa pelo re-
de forma estarrecedora, precisou apenas de
uns cem anos para duplicar e chegar a dois conhecimento de que sob a rubrica migração
bilhões, na década de 1920. Depois disso, internacional estão envolvidos fenômenos
em menos de cinquenta anos, a população distintos, com grupos sociais e implica-
tornou a duplicar para quatro bilhões, na ções diversas. A migração internacional, no

153
contexto da globalização, é inevitável e deve
ser entendida como parte das estratégias de
sobrevivência, de impulso para alcançar no-
vos horizontes, e a globalização, nesse con-
texto, age como fator de estímulo.
(Neide L. Patarra. “Migrações internacionais:
teorias, políticas e movimentos sociais”.
Estudos Avançados, 2006. Adaptado.)

Explique por que a globalização é um estí-


mulo à migração internacional. Cite dois as-
pectos ou “fenômenos distintos” motivado-
res das migrações.

10. (Pucrj)

O conceito de ‘bônus demográfico’ está liga-


do ao momento em que uma sociedade pos-
sui uma estrutura etária capaz de facilitar o
crescimento econômico.
Levando-se em consideração esse conceito:
a) compare a capacidade de crescimento do
país em 1960 e em 2020, explicando o seu
diferencial entre os períodos assinalados.
b) analise as tendências das curvas ‘somente
idosos (65 ou mais)’ e ‘somente crianças (0
a 14)’, a partir de 1960, e as associe com
futuras políticas sociais que devem ser im-
plementadas no país, a partir de agora.

154
U.T.I. - 5, 6 e 7

Geografia 2
Industrialização no Brasil
O processo de preparação do Brasil para o capitalismo, passou por 4 etapas:
1. Ocorreu entre os anos de 1500 e 1808, quando o Brasil ainda era colônia e, portanto, a metrópole não tinha
uma política que comportasse a implantação de manufaturas, onde a produção ainda possui um caráter
artesanal.
2. Entre os anos de 1808, com a chegada da família real portuguesa no Brasil, até a década de 1930. Um fator
importante foi a expansão da economia cafeeira para o oeste paulista, quando os ricos fazendeiros come-
çam a diversificar seus empreendimentos, investindo numa insipiente industrialização e no setor financeiro,
promovendo uma dinamização da economia. Além disso, houve uma aliança entre cafeicultores do oeste
paulista com capital inglês, principalmente em infraestrutura, com a construção de estradas de ferro e a
modernização dos portos.
3. Período entre os anos de 1930 e 1955. Com o acúmulo de capital da economia cafeeira, houve investimen-
tos na ampliação e construção de vias de circulação de mercadorias, matérias-primas e pessoas. Em 1942,
foi instalada a Companhia Siderúrgica Nacional, fundamental para o sistema produtivo industrial.
4. Teve início por volta de 1955, no governo de Juscelino Kubitschek, que implantou uma política econômica
que permitiu a entrada de recursos em forma de empréstimos e também em investimentos com a instalação
de empresas multinacionais.

Desconcentração industrial
§§ A partir da década de 1970, o poder público iniciou uma série de planos com o objetivo de criar uma maior
democratização espaço industrial no País;
§§ Criação da Sudam E Sudene;
§§ Incentivos fiscais oferecidos por governos estaduais;
§§ Guerra fiscal dos lugares;
§§ Migração de empresas para regiões interioranas e cidades médias.

Fatores locacionais das indústrias


§§ Transporte;
§§ Energia;
§§ Mercado consumidor;
§§ Matérias-primas;
§§ Mão de obra;
§§ Incentivos fiscais;
§§ Ciclo do produto;
§§ Disponibilidade de capital.
157
Transportes: matriz de transportes,
rodovias, ferrovias e portos
Ferroviário
§§ Vantajoso para cargas pesadas, particularmente matérias-primas.

Rodovias
§§ A consolidação do transporte rodoviário ocorreu com o desenvolvimento da indústria automobilística;
§§ Envolve altos custos (se comparado ao transporte hidroviário e ferroviário) no frete, decorrente do preço do
combustível e da manutenção periódica dos veículos e das vias terrestres.

Hidrovias
§§ É o transporte com menos representatividade no Brasil;
§§ Justifica-se a falta de investimento em hidrovias em função dos muitos rios de planalto, que exigem obras
de correção para facilitar o transporte, e que os rios de planície estão afastados dos grandes centros eco-
nômicos;
§§ Na década de 1980, com a criação do Mercosul, houve a exigência da implantação de mais hidrovias para
a integração do Cone Sul;
§§ Principais hidrovias: Tietê-Paraná, São Francisco e Amazônas.

Críticas ao transporte público no Brasil


§§ Passagens caras;
§§ Baixa qualidade dos serviços prestados;
§§ Insuficiência na rede (estações e terminais);
§§ Más condições de manutenção e conservação.

Ferrovias
§§ Baixo custo por tonelada transportada;
§§ O transporte ferroviário no Brasil foi predominante até o final do século XIX;
§§ A partir dos anos de 1950, a maior parte da rede foi desativada e sucateada;
§§ Privatização na década de 1990.

Transporte marinho e portos


§§ Inovações tecnológicas a partir da Primeira Guerra Mundial;
§§ Embarcações especializadas;
§§ Aperfeiçoamento dos instrumentos de navegação e de combustíveis;
§§ 70% da mercadorias são transportadas por navios;
§§ No Brasil, o setor portuário movimenta anualmente cerca de 700 milhões de toneladas de mercadorias;
§§ Apresenta os menores custos para o transporte de carga;
§§ O Brasil possui 37 portos entre marítimos e fluviais.
158
Comércio internacional
A globalização e o comércio internacional
§§ Surto de multinacionais no mundo após a Segunda Guerra Mundial;
§§ Aumento das relações internacionais entre os países:
1. dispersão das multinacionais;
2. desenvolvimento dos meios de transportes;
3. Nova Divisão Internacional do Trabalho.
§§ O fluxo de mercadorias em âmbito internacional ocorre majoritariamente por meio de transporte marítimo,
movimentando 75% do volume de carga no mundo.

Acordos internacionais
§§ Estabelecimento dos blocos econômicos;
§§ G7;
§§ G20;
§§ OEA.

OMC
§§ A Organização Mundial do Comércio é um mecanismo internacional fundado, em 1995, em substituição ao
antigo GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio);
§§ Tem como objetivo promover a liberação do comércio mundial, diminuindo ou restringindo as barreiras
comerciais e alfandegárias para facilitar trocas econômicas em âmbito internacional.

Agropecuária

História da agricultura
§§ A agricultura é a principal e mais antiga forma de transformação do espaço geográfico;
§§ Existe desde o período neolítico, sendo um dos processos constitutivos das primeiras civilizações;
§§ Na transição do namadismo para a sedentarização (com o desenvolvimento de técnicas agrícolas), a agricul-
tura foi a atividade econômica fundamental para a constituição e manutenção das sociedades;
§§ Novas técnicas agrícola permitiram a produção de excedentes e, com isso, ocorreram as primeiras trocas
comerciais;
§§ Posteriormente, com a industrialização, as cidades vão ganhando autonomia econômica e dependendo cada
vez menos do campo, que por sua vez, vê crescer sua dependência com as cidades;
§§ Mecanização;
§§ Biotecnologia.
159
Agropecuária
§§ Esse segmento da economia é um dos elementos que compõe o PIB de um determinado lugar.

Sistemas agrários
Os sistemas agrários se diferenciam à partir do tamanho da área cultivada e do índice de produtividade alcançada:
§§ sistema intensivo;
§§ sistema extensivo;
§§ pecuária tradicional;
§§ pecuária moderna;
§§ agricultura tradicional.

Agricultura moderna:
§§ plantation;
§§ agricultura itinerante;
§§ agricultura de jardinagem;
§§ pastoreio nômade;
§§ agricultura orgânica.

160
Revolução verde
§§ Foi uma revolução tecnológica que ocorreu no meio rural a partir da década de 1960;
§§ Tinha como objetivo aumentar a oferta de alimentos para combater a fome.

Agrobussiness
§§ É a agroindústria, definida pela fusão da produção primária com a indústria.
Exemplos: laticínios, indústria têxtil.

Agropecuária brasileira
§§ A agricultura no Brasil é historicamente uma das principais bases econômicas do país;
§§ Inicialmente produtora de cana-de-açúcar, depois café, apresenta-se como uma das maiores exportadoras
do mundo em diversas espécies.

Questões agrárias
§§ Desde sua origem, o Brasil possui uma grande concentração de terras;
§§ Sesmarias;
§§ Lei de Terras de 1850;
§§ Os conflitos rurais atingiram seu ápice em 1996 com o Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará.

Infraestrutura agrícola
§§ Dentre os principais itens de infraestrutura nas atividades agrícolas estão o transporte, os estoques regula-
dores , armazenagem, política de preço mínimo, defesa fitossanitária, entre outros.
161
Agricultura familiar no Brasil
§§ É responsável direta pela produção de grande parte dos produtos agrícolas brasileiros;
§§ Na década de 1990, a agricultura familiar cresceu cerca de 75% contra 40% da agricultura patronal, em
virtude do Pronaf, que abriu uma linha especial de crédito para o financiamento do setor.

Agrotóxicos no Brasil
§§ O Brasil apresenta uma taxa de 3,2 Kg de agrotóxicos por hectare, ocupando a décima posição mundial;
§§ O Estado de São Paulo é o maior consumidor de agrotóxicos do País, sendo também o maior produtor.

Transgênicos no Brasil
§§ O País ocupa a terceira posição mundial no uso de sementes transgênicas;
§§ As principais culturas que usam dessa biotecnologia são a soja, o algodão e o milho.

Cultivo orgânico
§§ Visa a produção de alimentos sem uso de fertilizantes e agrotóxicos;
§§ Os orgânicos estão presentes nas pequenas e médias propriedades e a maioria dos produtores estão orga-
nizados em associações e coperativas;
§§ O estado com maior numero de produtores é a Bahia, seguida por Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do
Sul, Paraná e Espírito Santo.

A evolução do agronegócio brasileiro


§§ O Brasil é o terceiro maior exportador agrícola do mundo;
§§ Melhoria nos insumos;
§§ Políticas públicas de incentivo a exportação;
§§ Diminuição da carga tributária;
§§ Taxa de câmbio real que permitiu estabilidade de preços;
§§ Aumento da demanda em países asiáticos;
§§ Triplicaram o número de empresas por região.

Pecuária
§§ A carne, ovos, leite e mel são os principais produtos alimentares oriundos da atividade pecuária;
§§ Couro, lã e seda são exemplos de fibras usadas na indústria de vestimentas e calçados;
§§ As subdivisões da pecuária são: suinocultura (porcos), ovinocultura (ovelhas), bovinocultura (bois) e capri-
nocultura (cabras).

Pecuária no Brasil
§§ O Brasil tem hoje um rebanho de aproximadamente 193 milhões de cabeças criadas em 220 milhões de
hectares;
§§ A produção pecuária de bovinos é partilhada, principalmente pelo Centro-Oeste, Sudeste e Sul, cabendo ao
Nordeste o predomínio sobre as criações de caprinos e muares.
162
Conflitos no campo brasileiro
Estrutura fundiária brasileira
§§ Corresponde ao modo como as propriedades rurais estão dispersas em um determinado território e seus
respectivos tamanhos, facilitando a compreensão das desigualdades que acontecem no campo.

O trabalho e a terra no Brasil


§§ Latifúndio: são grandes propriedades rurais com aproximadamente 600 hectares;
§§ Minifúndio: são pequenas propriedades com aproximadamente 3 hectares;
§§ Expropriação: é a venda obrigatória da terra por um pequeno proprietário rural endividado para pagar
suas dívidas, geralmente adquiridas por grandes fazendeiros próximos;
§§ Êxodo rural: é o deslocamento de trabalhadores rurais com destino aos centros urbanos em razão da falta
de trabalho no campo ou das condições precárias de sobrevivência;
§§ Posseiros: são trabalhadores rurais que ocupam e/ou cultivam terras devolutas ou não exploradas;
§§ Parceria: é a junção entre dois trabalhadores ou produtores rurais, onde um possui a propriedade da terra
e o outro apenas a força de trabalho, que cultiva a terra e divide uma parte da produção;
§§ Arrendatário: é o agricultor que não possui terra, mas tem recursos financeiros para arrendar ou alugar a
propriedade por um período determinado;
§§ Trabalhador assalariado ou temporário: são trabalhadores rurais que recebem salário, mas que traba-
lham apenas uma parte do ano, durante as colheitas;
§§ Grileiro: quem falsifica documentos para, ilegalmente, tomar posse da terra;
§§ Trabalhador escravo: é o trabalhador sem garantias de direitos trabalhistas, que não recebe salário, ou
que se endivida com o proprietário e fica impedido de ir embora.

As ligas camponesas
§§ Movimento de luta pela reforma agrária iniciado na década de 1950;
§§ “Reforma agrária na lei ou na marra”;
§§ As reivindicações das ligas camponesas foram fortalecidas durante o governo do presidente João Goulart;
§§ Sofreram forte repressão da polícia durante a ditadura militar.

Movimentos sociais no campo


§§ Principais bandeiras: reforma agrária, melhoria nas condições de trabalho no campo e combate ao pro-
cesso de substituição do homem pela máquina no meio agrário;
§§ As principais frentes são: as ligas camponesas e o MST (Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra);
§§ O MST atua através de ocupação de grandes latifúndios e terras improdutivas, constituindo assentamentos.
Além de criar pressão para que o Estado ofereça condições de infraestrutura, o movimento também oferece
apoio às famílias, criando escolas e cursos de formação política e de técnicas de cultivo e agricultura familiar,
estimulando, assim, a organização de pequenos produtores rurais em cooperativas.

163
Fronteira agrícola no Brasil
§§ Designa o avanço da produção agropecuária sobre o meio natural;
§§ Inicialmente, localizava-se na região do Cerrado, mas atualmente encontra-se na região Norte, adentrando
a floresta Amazônica;
§§ Tem como primeiro processo a frente de expansão, realizada pó pequenos produtores sobre terras devolutas;
§§ Frente pioneira, representada pelo avanço dos grandes produtores rurais representantes do agronegócio,
geralmente através da grilagem de terras;
§§ Imediata devastação da vegetação;
§§ Aumento dos latifúndios.

Urbanização

As primeiras cidades
§§ Historicamente, a formação dos núcleos urbanos foi o primeiro modelo de ocupação do espaço colonial,
vinculada à função que as cidades tinham no interior do projeto de dominação colonial implantado pelos
portugueses;
§§ Concentravam-se nas regiões litorâneas para facilitar o escoamento dos produtos e riquezas exploradas;
§§ Obedecia o relevo natural, provocando um traçado desordenado.

Urbanização
§§ Corresponde à modernização dos aglomerados urbanos, dotando-os de infraestrutura, ao mesmo tempo
que concentra as atividades industriais e comerciais no espaço da cidades;
§§ O crescimento das cidades vincula-se às atividades industriais e comerciais;
§§ O processo de urbanização ocorreu no início do capitalismo comercial, intensificando-se, sobretudo, após
as revoluções industriais.

Fatores atrativos associados ao processo de urbanização


§§ Maior oferta de emprego;
§§ Melhores condições sanitárias;
§§ Fácil acesso aos produtos, bens de consumo e serviços;
§§ Maior interação cultural.
164
Fatores repulsivos
§§ Inchaço urbano;
§§ Baixos salários;
§§ Violência;
§§ Escassez de moradias;
§§ Poluição.

Hierarquia urbana
§§ As cidades podem ser classificadas em diferentes níveis hierárquicos de influência socio econômica. As
maiores aglomerações urbanas exercem uma polarização sobre as menores, formando um sistema inte-
grado. No centro-sul do País, essa rede é mais densa existem cidades em todos os níveis hierárquicos. Na
Amazônia, no entanto, essa rede não é completa;
§§ Para delimitar essas áreas de influência, o IBGE considera o fluxo de consumidores que utilizam o comércio
e os serviços públicos e privados no interior da rede e mapeia a rede de transportes entre os municípios e os
principais destinos das pessoas que buscam produtos e serviços fora do seu município de origem.

Configuração interna das cidades brasileiras

§§ A cidade é palco das interações sociais com o espaço;


§§ Contraditoriamente, é lugar do encontro e do desencontro com seus condomínios fechados e shoppings
centers, onde o espaço está segregado;

165
§§ Desvalorização dos espaços tradicionais de convivência;
§§ O automóvel reforçou a fragmentação;
§§ Especulação imobiliária que agrava o déficit de habitações para as classes populares;
§§ Aumento das favelas, cortiços, loteamentos clandestinos e movimentos sociais organizados de ocupação de
espaços urbanos ociosos.

Fluxos migratórios nacionais


e internacionais

Migrações no Brasil
§§ No Brasil, as migrações internas são impulsionadas pelos aspectos econômicos:
§§ século XVII: fluxo migratório para a região de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais, provocada pela busca
por metais e pedras preciosos;
§§ séculos XVIII e XIX: expansão do café atraiu milhares de pessoas;
§§ século XX: a industrialização no Sudeste provocou o deslocamento de milhares de pessoas, principal-
mente para São Paulo. Hoje, a região Sudeste tem apresentado um declínio na migração, consequência da
estagnação econômica.

Emigração brasileira
§§ Entre as décadas de 1980 e 1990, milhões de brasileiros deixaram o Brasil movidos por sucessivas crises
econômicas e pelo crescente desemprego;
§§ Os países desenvolvidos são sempre os principais destinos: Estados Unidos, Paraguai e Japão;
§§ As cidade dos Estados Unidos que atraem os brasileiros são Nova York, Boston e Miami.
166
Migração e xenofobia
§§ Ocorre nos países desenvolvidos, onde há maior contingente de imigrantes;
§§ Os nativos acreditam que os imigrantes são responsáveis pelo desemprego e criminalidade.

População brasileira: pirâmides etárias,


etnias, gêneros e IDH

Pirâmide etária
§§ É um gráfico organizado para classificar a população de determinada localidade por faixa de idade e sexo;
§§ São importantes para a elaboração de planejamentos públicos a médio e a longo prazo;
§§ Existem 4 tipos de pirâmides:
1. Pirâmide jovem: tem sempre uma base mais ampla, em virtude dos altos índices de natalidade, e um
topo muito estreito, em virtude da baixa mortalidade. Esse tipo de pirâmide é mais frequente em países
subdesenvolvidos;
2. Pirâmide adulta: também tem uma base ampla, com taxa de natalidade menor, no entanto, em face
da população infantil e jovem. A pirâmide brasileira é um exemplo;
3. Pirâmide rejuvenescida: apresenta um relativo aumento do número de jovens em relação a um perí-
odo anterior, em razão do aumento de fecundidade, frequente em países desenvolvidos, que estimulam
a natalidade;
4. Pirâmide envelhecida: tem população adulta predominante e base bem reduzida. A quantidade de
idosos é significativamente maior em comparação com as demais pirâmides. Esse tipo de pirâmide é
comum em países desenvolvidos.

População economicamente ativa (PEA)


§§ Diz respeito aos habitantes que representam a capacidade produtiva do país, ou seja, que tem potencial de
mão de obra;
§§ O IBGE classifica como a população ocupada e a população desocupada entre 15 e 60 anos;
§§ O Brasil registra nos últimos anos uma gradativa redução da PEA, representando aproximadamente 46%
da população.

As etnias no Brasil
§§ A atual composição étnico-cultural da população brasileira resulta do processo histórico de construção da
nacionalidade ou da identidade étnica nacional a partir de três matrizes:
1. povos indígenas;
2. portugueses;
3. africanos.
167
As populações negras
§§ O negro foi introduzido na sociedade brasileira como mão de obra escrava, no contexto do desenvolvimento
capitalista da economia do País;
§§ O tráfico de escravos forçou a migração de aproximadamente 3,5 milhões de africanos;
§§ No Brasil, a escravidão impossibilitou aos povos negros a manutenção integral de seus aspectos culturais e
técnicos. Receberam e perderam certos elementos em virtude dos contatos entre os vários povos;
§§ Atualmente, embora não sejam mais escravos, a situação dos negros ainda não é de igualdade com os bran-
cos, pois grande parte dessa população encontra-se excluída social e economicamente, com baixa renda e
alfabetização.

Os povos indígenas
§§ As estimativas dizem que antes da colonização viviam mais de 6 milhões de indígenas;
§§ Atualmente, não passam de 800 mil;
§§ Apenas 12% do território são terras indígenas, sendo que a maioria está localizada na região Norte;
§§ A luta pela terra tem sido o grande desafio das populações indígenas.

Mulheres na história
§§ Os homens sempre conduziram predominantemente as ações políticas e militares, cujos feitos eram narra-
dos também por historiadores do sexo feminino. Essa forma de estudar história relegou um papel secundá-
rio à história das mulheres no tempo;
§§ Podemos dizer que o capitalismo acabou com o patriarcado característico dos modos de produção e na
organização do trabalho;
§§ A necessidade do assalariamento levou as mulheres a conseguirem também independência e superação;
§§ Direito ao voto;
§§ O machismo ainda continua presente nas relações sociais e como componente cultural da imensa maioria
das civilizações do mundo;
§§ Lei Maria da Penha;
§§ Movimentos feministas.

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)


§§ Foi criado para avaliar o nível de desenvolvimento humano dos países, ou seja, o modo como as pessoas
vivem nas diversas nações do mundo;
§§ Três aspectos básicos são avaliados:
1. expectativa de vida: média de anos que um indivíduo vive;
2. nível de escolaridade: média de anos de estudos da população;
3. PIB per capita: renda média da população.

168
U.T.I. - Sala
1. Explique por que o início da industrialização brasileira se deu em São Paulo e proximidades indi-
cando pelo menos dois fatores que contribuíram para a concentração das indústrias nessas locali-
dades.

2. Considerando o processo de desconcentração industrial no Brasil a partir da década de 70, indique


os principais fatores que possibilitaram a criação de uma maior democratização no espaço indus-
trial do país.

3. Para planejar um sistema eficiente de transportes para a circulação de mercadorias e pessoas,


quais modais devem ser priorizados para deslocamentos de grandes e de pequenas distâncias?
Justifique sua resposta.

4. Explique o que é a OMC, seu principal objetivo e funções perante os países-membros.

5. O que foi a Revolução Verde?

6. O setor agropecuário é responsável por grande parte do PIB brasileiro. Indique dois importantes
cultivos produzidos para exportação, a localização desses cultivos no território brasileiro e suas
principais características sobre a forma de produção.

7. Caracterize a estrutura fundiária brasileira e indique o principal movimento social que reivindica/
reivindicava a mudança dessa estrutura.

8. Explique a diferença entre megacidades e megalópoles, citando ao menos um exemplo de cada


situação.

9. Cite dois exemplos de fontes renováveis e dois exemplos de fontes não renováveis de energia, in-
dicando um ponto positivo e um ponto negativo de cada exemplo.

10. Compare a eficiência e a renovabilidade das energias geradas a partir de termonucleares e hidrelé-
tricas.

169
U.T.I. - E.O.
1. (Unifesp) Comparando-se dois momentos do processo de industrialização brasileira, a década de
1930 e a década de 1950, responda:
a) Quais são as diferenças, com relação ao mercado externo, entre esses dois momentos?
b) Quais transformações a industrialização trouxe para a organização espacial brasileira?

2. (Unifesp) Na década de 1990, verificou-se uma desconcentração industrial no Brasil.


a) Quais as consequências para o Estado de São Paulo?
b) Quais estados ganharam maior destaque industrial nesse processo? Explique.

3. (Ufba) Os transportes são fundamentais para que um país tenha competitividade no mercado in-
ternacional. Na era dos blocos econômicos e da luta por mercados, é preciso poder contar com uma
rede de transportes bem estruturada.
Há muito tempo, nosso país sofre perdas constantes nesse setor, em virtude do alto custo dos
investimentos.
(ALMEIDA; RIGOLIN, 2005, p. 500).

Considerando o texto e os conhecimentos sobre a articulação e a racionalização dos meios de trans-


portes, no Brasil:
§§ justifique o porquê da necessidade de criação de uma rede de transportes adequada e eficiente,
em um país de dimensões continentais, incluído entre as grandes economias do mundo e que
almeja crescer ainda mais;
§§ relacione dois problemas ligados ao planejamento imprevidente das vias de transporte, origi-
nados de projetos políticos que, muitas vezes, sobrepõem os interesses individuais e econômi-
cos aos coletivos.

4. (Fuvest) A maior integração da Amazônia Legal à economia brasileira está baseada na estruturação
de um sistema de circulação, envolvendo, principalmente, hidrovias e rodovias, conforme esquema
abaixo.

Com base nesse esquema e em seus conhecimentos, identifique o eixo:


a) hidroviário A e analise sua relação com os mercados interno e externo.
b) rodoviário B e analise a polêmica em torno da pavimentação dessa rodovia, considerando um impacto
ambiental e um social.

170
5. (Fgv) A economia mundial transformou-se dramaticamente na última década, como resultado da
desregulamentação e da abertura das economias nacionais para as empresas estrangeiras, bem
como da crescente participação dos agentes econômicos nacionais nos mercados globais. A econo-
mia contemporânea é caracterizada pela ascensão das tecnologias da informação e pelo aumento
da mobilidade e da liquidez de capitais.
Adaptado de SASSEN, Saskia. The Global Cities. 1991.

A partir do texto e do mapa:


a) identifique e explique uma das transformações da economia mundial apresentadas no texto;
b) avalie as competências da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do Fundo Monetário Internacio-
nal (FMI) como instâncias de regulação da economia globalizada;
c) indique duas funções que permitem classificar São Paulo como uma cidade global.

6. (Uerj)

No Brasil, o setor agropecuário se caracteriza tanto por áreas que ainda adotam práticas tradicio-
nais como por aquelas em que há forte presença de modernização, como se observa no mapa.
171
Aponte o complexo regional que concentra o a) Identifique, com base no quadro acima, uma
uso mais intenso de práticas agropecuárias fonte de energia que é considerada a maior
modernas e a que concentra o uso menos responsável tanto pelo efeito estufa quanto
intenso. Em seguida, cite duas característi- pela formação da chuva ácida. Justifique sua
cas presentes no processo de modernização resposta.
agropecuária do país. b) Identifique a principal fonte de energia usa-
da nas usinas hidrelétricas, no Brasil, e ex-
plique uma vantagem quanto ao uso desse
7. (Uftm) Os grandes proprietários e fazendei-
recurso natural.
ros são, antes de tudo, homens de negócio,
c) Identifique, com base no quadro acima, as
para quem a utilização da terra constitui um
fontes de energia usadas nas usinas termelé-
negócio como outro qualquer (...). Já para os tricas, no Brasil, e explique uma desvantagem
trabalhadores rurais, para a massa camponesa de ordem econômica que elas apresentam.
de proprietários ou não, a terra e as ativida-
des que nela se exercem constituem a única 1
0. (Ufc) O Brasil tem, cada vez mais, buscado
fonte de subsistência para eles acessível. investir em novas fontes de energia, o que
(C. Prado Junior. A questão agrária no Brasil, 2000.) tem exigido da sociedade mudanças de hábi-
a) Caracterize a estrutura fundiária brasileira. tos e reflexões sobre maneiras de utilizá-las.
b) Explique o que é reforma agrária para a mas- Sobre essa problemática, atenda ao que se
sa camponesa de proprietários ou não. solicita nos itens a seguir.
a) Nomeie duas das principais fontes de ener-
gia do país.
8. (Ufscar) Observe o quadro.
b) Aponte três áreas onde estão localizadas im-
portantes fontes de energia do país.
Tóquio, Cidade do México, c) Cite dois tipos de energia alternativa em ex-
Nova Iorque, São Paulo, Mum- pansão no Brasil.
bai Délhi, Calcutá, Buenos d) Cite três exemplos de atitudes e mudanças
AS MEGACIDADES1 Aires, Xangai, Jacarta, Los
de hábitos cotidianos que podem contribuir
Angeles, Daca, Osaka, Rio de
para uma melhor maneira de utilizar os re-
Janeiro, Kurachi, Pequim,
Cairo, Moscou, Manila Lagos. cursos energéticos.

Nova Iorque, Tóquio, Londres,


AS CIDADES Paris, Chicago, Frankfurt,
GLOBAIS2 Hong Kong, Los Ange-
les, Milão e Cingapura.

1. Segundo a ONU (Organização das Nações


Unidas), com base em dados de 2004.
(www.un.org/.02.09.2005.)

2. Segundo Beaverstock; Smith; Taylor. A


roster of world cities. GaWC, 1999.
(www.iboro.ac.uk/. 02.09.2005.)

O quadro apresenta formas distintas de clas-


sificar as grandes cidades na atualidade.
a) Qual o critério básico para definir uma me-
gacidade? E uma cidade global?
b) Justifique a localização das megacidades e
das cidades globais, considerando o centro e
a periferia do capitalismo.

9. (Fuvest) Considere a matriz energética mundial.

172

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