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2015/2016
Facto – Não nos debruçamos sobre o facto de vida corrente, o facto neutro, mas sim
do facto jurídico.
→ Ato Jurídico Simples vs. Ato Jurídico Complexo – Nesta aceção de ato
jurídico simples, temos somente um único elemento de relevância jurídica discernível,
enquanto os complexos se decompõem em dois ou mais elementos. Cabe ainda uma
maior aprofundação desta segunda subcategoria.
→ Ato Jurídico Principal vs. Ato Jurídico Secundário – Nos principais, temos
os atos que são fonte ou causa de efeito jurídico, podendo ainda ser constitutivos,
→ Ato Jurídico Lícito vs. Ato Jurídico Ilícito – Como claro está, no primeiro
caso temos ações conforme ao Direito e, no segundo, desconformes, despoletando
assim sanções. Nota: Ilícito não se identifica com Inválido, podendo todavia coincidir.
→ Ato Jurídico Simples/Não intencional vs. Ato Jurídico Intencional (NJ lato
sensu) – No caso do ato jurídico simples, constatamos a presença de uma vontade
dirigida à prossecução de um comportamento e de um comportamento só,
independentemente do efeito jurídico que lhe seja consequência. Pelo contrário e em
acréscimo, no ato jurídico intencional estamos perante efeitos que só são
desencadeados pela norma quando a vontade se dirija, não só à conduta, mas
também ao seu resultado jurídico (vontade de acção e vontade funcional). O critério
é, portanto, a diferente relevância da vontade no regime dos efeitos do acto, mas há
que ir mais além nesta segunda figura.
Um negócio que se mova no domínio do jurídico é, desde logo, distinto dos negócios
que orbitam fora dele de forma conciliável, como os de pura obsequiosidade, fruto da
vontade funcional ou negocial dos intervenientes, acompanhada de uma consciência de
juridicidade. Se ela faltar, não há voluntarismo, como na declaração não-séria, logo, há
inexistência jurídica (246º CC). Deve haver uma vontade determinante dos efeitos
produzidos pelo acto, pois o negócio jurídico corresponde sempre a uma expressão da
autonomia privada, liberdade conexa com a dignidade da pessoa humana e consagrada
constitucionalmente (1º CRP). O negócio é sempre a maior fonte de relações jurídicas.
Nota: apesar destas divergências, o comum mantém-se quase sempre – nos negócios
unilaterais há 1 parte envolvida, 1 declaração (ou declarações paralelas) e 1 interesse,
Nota: Uma das decorrências jurídicas mais determinantes desta destrinça é o princípio
de livre revogabilidade dos NJ unilaterais (461ºCC), e a revogabilidade mediante
acordo dos contratos (406º nº1 2ª parte).
Um negócio típico é aquele que tem uma disciplina específica na lei (atenção,
que tipicidade difere de imperatividade). Se, porventura, não optar por nenhuma forma
fixada pelo ordenamento, for criado de raiz e agir por consenso, numa máxima
expressão das liberdades de celebração e de estipulação, é intitulado de negócio atípico.
Podem ainda ser mistos, quando engendram elementos de ambos os quadrantes. Há
quem ainda fale, como MC e CF, de “tipos sociais”, negócios que, ainda que não
tipificados legalmente, recebem um figurino comum pela prática quotidiana e jurídica.
Nota: Questão de maior dificuldade é dilucidar quando é que deixa o negócio básico de
ser típico, sendo que para tal há que atender a quais os elementos nucleares que o
tornam, nessa acepção, típico, e quais os acessórios que, apesar de apostos ao negócio,
não ferem a sua tipicidade.
está a chave da destrinça. Todos os outros são negócios inter vivos (no que à sua causa
concerne, pois, como é óbvio, não há negócio que não seja elaborado “entre vivos”).
Consoante o tipo de eficácia que dêem lugar seja real, obrigacional, familiar ou
sucessório ou dele resulte a constituição, modificação ou extinção de uma relação
jurídica ou direito tal, tal, tal ou tal. No domínio obrigacional o mais relevante é o
contrato de compra e venda que produz a obrigação de entregar a coisa vendida e de
pagar o preço para se dar a transmissão do direito de propriedade, no real o usufruto da
coisa, no familiar o casamento ou a convenção antenupcial e no sucessório o
testamento, a aceitação, o repúdio ou o pacto sucessório.
abstractos, ou seja, cujo tratamento jurídico se abstrai da causa que lhe subjaz.
Temos o exemplo dos NJ cartulares, em que a eficácia deriva de títulos de crédito que
subsistem independentemente da fonte (por exemplo, letras de câmbio). Para lá desta
bipartição, destacam-se ainda os presuntivos de causa, explanados no art.º 458.º n.º 1
do CC. De salientar que não está em causa a existência, ou não, de causa do negócio,
mas da necessidade ou dispensa do seu conhecimento para a viabilidade do mesmo.
Comutativo é o negócio oneroso que todas as atribuições das partes são, desde
a celebração do negócio, determinadas ou determináveis, em termos de nenhuma
delas ficar dependente de qualquer facto futuro e/ou incerto. Exemplo: quando A
vende certo prédio a B por um determinado preço. Quando, ao invés, um NJ envolve
um grau de risco (álea) para uma ou ambas as partes, ficando sempre na dependência
de facto futuro, em termos de só uma ou nenhuma alguma vez se realizar, designa-se
por aleatório. Exemplo: apostas desportivas ou contrato de seguro.
Um NJ é solene quando a lei exija forma especial para a sua celebração. Caso
a caso, há que averiguar se o negócio em causa admite qualquer meio de transmissão
da manifestação de vontade, consagrando a liberdade de forma, ou se, em fuga ao
princípio consignado no 219ºCC, impõe uma forma concreta para aquele tipo de
negócio. Se a exigência de forma não for respeitada, a consequência jurídica é a
nulidade da declaração negocial, como nos postula o 220º CC. Atenção a duas coisas:
primeira, só a forma legal é forma solene, nunca as formas voluntárias ou
convencionais; segunda, nem todas as exigências de forma especial ex lege devem ser
tomadas acriticamente. Por exemplo, apesar do 875º CC estipular a escritura pública ou
o documento particular autenticado como requisito formal legal (solenidade) dos
negócios de compra e venda de bens imóveis, esta imposição deve somente ser atendida
quando do NJ resulte eficácia real. Se dele somente resultarem efeitos obrigacionais
sobre o imóvel objecto do negócio, a forma ex lege não será requerida.
Nota: Neste domínio cumpre estabelecer a dicotomia entre negócios recipiendos e não
recipiendos: nos primeiros o conhecimento por parte do destinatário é condição de
eficácia do negócio, como na ratificação dos negócios ineficazes ou na revogação de
mandato, enquanto nos segundos basta a exteriorização do declarante e o negócio
torna-se plenamente eficaz, como no testamento ou na instituição de uma fundação.
De salientar que NJ recipiendo não se confunde com contrato, mesmo que a eficácia
daqueles dependa da aceitação dos destinatários. Na verdade, não há aí qualquer acordo
de vontades ou negócio jurídico autónomo, mas mera condição de eficácia do negócio,
sendo que o contrato implica ontologicamente um consenso de declarações.
Cabe ainda uma última referência à figura dos terceiros. Muito genericamente,
são entendidos como terceiros ao negócio todos os estranhos ao mesmo, ou seja, todos
cujos efeitos lhes são alheios, não os beneficiando nem prejudicando de forma alguma.
Contudo, e aqui urge uma explicação mais aprofundada, há casos em que terceiros (na
acepção de estranheza ao NJ) podem ser implicados, em termos favoráveis ou
desfavoráveis no negócio, aparentemente contradizendo a concepção classicista do
406º nº2. Há, então, “terceiros e terceiros”, numa contestação crescente à ideia clássica
de que o NJ não pode produzir efeitos quanto aos que não lhe constituam parte,
surgindo a nova teoria do dever geral de respeito. Esta posterga que nenhum ato jurídico
é, na verdade, indiferente para terceiros, já que todas as pessoas têm o dever de não
interferir nas suas regulações relacionais, ainda que sejam obrigacionais. A doutrina
divide, enfim, este instituto em quatro posições distintas:
Nota: esta dicotomia entre partes e terceiros tem fortes consequências a nível de
regime, como a inoponibilidade face a terceiros de direitos obtidos em negócios reais
relativos a coisas sujeitas a registo (291º CC).
Nota: Ordem pública vs. Bons costumes – o primeiro apela a uma interpretação
sistemática no âmbito da esfera pública, pois remete para os princípios fundamentais do
ordenamento, enquanto o segundo para as regras da moral social, familiar e sexual da
esfera privada.
Nota: Impossibilidade legal vs. Ilicitude: na primeira temos um ato de todo inviável
na sua prática, na segunda um ato que o ordenamento não tem como impedir, mas cuja
prática entrará em rota de colisão com uma norma injuntiva (consequência natural,
nulidade, 294º).
não à nulidade fixada pelo artigo 280º CC, ao contrário das respectivas contrapartes,
como postulado pelos 400º e 401º.
Na fixação do conteúdo negocial aludido pelo 405º CC, dois elementos fulcrais
intervêm: um deles assumindo indelevelmente o papel principal decorrente do
voluntarismo que preenche o nosso ordenamento e do próprio princípio da
autodeterminação e o outro, intervindo de forma ora imperativa ora supletiva, consoante
o conteúdo do negócio jurídico e a profundidade ou exaustividade do mesmo. Falamos
da Vontade e da Lei, passemos, enfim, à sua dissertação.
fonte primordial do conteúdo dos negócios jurídicos celebrados, por força de princípios
estruturantes como o explanado no artigo 405º - a liberdade contratual. Princípio que
se pode considerar dissecado de supraprincípios como a autonomia privada ou a
autodeterminação da pessoa humana. Estes dois elementos basilares do privatismo
contemporâneo manifestam-se, essencialmente, em duas dimensões fundamentais,
cuja compreensão na íntegra é absolutamente indispensável para a compreensão desta
teia, quantas vezes intrincada, que é o ordenamento jurídico:
Mas então qual a resposta à questão que importa, a solução para os casos de
divergências vontade-declaração? Não é um contra-senso a vertente dispositiva valorar
a vontade, enquanto a vertente exterior atribuir primazia á declaração? Como se
conciliam os princípios supra explicitados? A resposta está em saber se a confiança do
destinatário merece ser protegida à custa do declarante através da ideia de
responsabilidade do declarante pelo sentido, que lhe seja imputável, da sua declaração
divergente. Essa responsabilidade é imputável ao declarante quando um sentido
diferente daquele que ele pretendia exteriorizar surge após ele escolher um meio
inadequado para o transmitir. Atenção: este regime só é compatível com o erro quando
as partes tenham estipulado que ao contraente é reconhecido um “contra-direito” de
resolver (anular) o contrato. Fora disso, o erro é sempre irrelevante.
→ Solução adoptada pelo Código Civil – até neste campo surge uma profunda
divergência doutrinal, advogando Mota Pinto que está subjacente ao CC uma concepção
declarativista, Castro Mendes a concepção de que do regime legal extrai-se uma
tendência conforme à teoria da responsabilidade e, finalmente a que nos interessa, a de
Carvalho Fernandes, que postula que o legislador não seguiu rigorosamente nenhuma
das concepções doutrinais, adoptando posições distintas consoante os casos
(jurisprudência dos interesses). É, então, através da análise detalhada da
regulamentação fixada pelo CC para cada instituto jurídico que a solução do CC
deve ser buscada.
autores (vontade funcional), mas também por terem querido um certo comportamento
(vontade de acção) expressando através dele um certo conteúdo de pensamento (vontade
de declaração). Todavia, apesar da primazia que lhe atribuímos na demanda pela
aproximação teórica ao conceito de NJ, importa ter presente que não foi esta a solução
adoptada pelo legislador na feitura do Código Civil. Bem pelo contrário, o legislador de
1966 estabeleceu o regime da vontade em função da declaração, como desde logo
demonstra a epígrafe que tem início no 217º CC, o que não é, necessariamente, de
estranhar, na medida em que parece sensivelmente mais apreensível pelo Direito uma
exteriorização externa e formal, a declaração, de algo ontologicamente psicológico, a
vontade. É com base nesta posição metodológicas que nascem as duas grandes figuras
do NJ definidas pelo CC, o declarante e o declaratário. Qual será então o verdadeiro
alcance da caracterização do negócio como ato voluntário? Será a vontade
funcional ou negocial exclusivamente produto da autonomia privada dos
contraentes?
juridicamente atendível, que releva como vontade negocial, mesmo quando se ajusta à
vontade psicológica, somente vale enquanto reconhecida e valorada pela ordem jurídica.
Delimitada a noção de vontade normativa, cumpre tecer uma distinção bastante útil,
após a constatação de que o NJ, visto objectivamente, consta de declarações aptas a
traduzir um certo conteúdo de pensamento:
Feita esta destrinça, há que, enfim, estabelecer quais os requisitos para que a
vontade negocial se formule sem qualquer mácula, pois se é correto dizer que o NJ
estabelece os efeitos queridos pelos contraentes, é ainda mais correto afirmar que os
mesmos só se produzem quando queridos correctamente, sem vícios que os firam,
segundo determinadas imposições do Direito. Os requisitos são, então, os seguintes:
Desta feita, é correto estatuir que a vontade manifestada por quem tem
plena capacidade, de forma livre, esclarecida e para um fim conforme ao Direito,
os efeitos do negócio desencadear-se-ão, em princípio, tal como foram queridos e a
Por seu turno, falamos de declaração tácita quando temos factos (facta
concludentia) de onde se deduz (sentido implícito), com toda a probabilidade (nexo
de probabilidade plena, já não de causalidade como no anterior Código Civil) e
segurança, a vontade provável de emitir certa declaração negocial. O autor da
declaração pode prevenir-se contra a atribuição de um sentido implícito ao seu
comportamento, excluindo-o expressamente mediante declaração de sentido oposto
(protesto ou reserva). De salientar que num mesmo comportamento podem coexistir 2
manifestações de vontade diversas, uma expressa e a outra tácita, como por exemplo no
caso de um herdeiro inscrever num documento particular a intenção de vender todos os
móveis da casa que herdar do pai (intenção de vender, manifestação expressa de
vontade, intenção de aceitar a herança, manifestação tácita da vontade). Quanto à
declaração tácita cumpre ainda estabelecer que o nº2 do 217º estipula o princípio da
liberdade declarativa para a mesma quanto à forma exigida, ressalvando apenas que
os factos concludentes de onde se extrai a dedução devem eles mesmos revestir a forma
ex lege (transferência da necessidade formal legal para o plano dos factos). Como
apontamento, acrescento ainda que a averiguação da definição de uma declaração
como tácita é uma questão de direito e, como tal, sindicável pelo STJ. Bem
compreendido é que, todos estes reconhecimentos concernentes à liberdade declarativa
são produto da própria liberdade contratual e autonomia privada que estruturam todo o
ordenamento. Todavia cumpre discernir, dentro da declaração tácita, duas
subcategorias peculiares:
Nota: o enquadramento em cada uma destas modalidades, é sempre efectuado com base
nos critérios interpretativos postulados pelo 236º CC, relativo ao sentido normal da
declaração.
Posto isto, é-nos claro definir forma como o aspecto exterior que a declaração
assume (o modo por que a vontade se revela - entendimento de Castro Mendes). O NJ
pode apresentar um modo de revelação da forma mais ou menos solene, dependente de
mais ou menos formalidades, mas sempre um existe, pois não há negócio sem forma.
→ Forma legal
→ → Forma convencional
5. FORMAÇÃO DO CONTRATO
→ Recolha de informações
→ Negociações
→ Instrução e aconselhamento
→ Outros modelos.
Feita esta exposição genérica, com meros fins elucidativos não exaustivos,
cumpre penetrar na análise do modelo clássico (ainda que estereotipado), pois
constitui, na verdade, o sustentáculo essencial do regime legal do nosso código que,
apesar da já vincada ficcionalidade, prima pela simplicidade pratica e compreensiva.
Como já referido, este determina que na génese do contrato temos duas declarações
negociais subsequentes, antepostas e encadeadas. Estas, na existência ou não de
contrapropostas (propostas sucessivas de conteúdo parcialmente diverso), culminarão,
quando exista aceitação final, na formação do contrato. Após análise do articulado legal,
pode-se concluir pela existência, para lá desta sequência, de dois requisitos positivos
essenciais para a formação do contrato: o consenso (219º e 232º CC) e a adequação
formal (220º e 223ºCC), que impõe que as declarações devem revestir o mínimo de
forma imposto pela lei ou pela vontade.
Nota: No regime legal referido, está implícita a seguinte importante distinção dos NJ, a
que destrinça negócios entre presentes e negócios entre ausentes. O critério que os
separa é, ao contrário do que se poderia pensar, não físico ou geográfico, mas consoante
se observe a existência ou não de um intervalo de tempo juridicamente relevante entre
as declarações negociais constitutivas do contrato. No contrato entre presentes é
utilizado um meio de comunicação que permite um contacto ideal imediato entre as
partes, de modo que é possível ao destinatário da proposta negocial emitir sobre ela, em
acto contínuo, a sua vontade. São seus habituais veículos, o telefone, o fax, o e-mail, a
videoconferência, entre outros.
Nota: Por vezes surgem dúvidas na delimitação destas duas últimas categorias, e essas
dúvidas não são descabidas. É exemplo o leilão, onde há uma grande dificuldade e
intenso debate em determinar quem tem a iniciativa da negociação com o público. A
solução costuma passar pela aplicação das regras sobre a interpretação negocial.
Todavia, uma boa forma de delinear eficazmente os conceitos é compreendendo
que a oferta ao público constitui proposta contratual e, portanto, tem de reunir as
características desta. Se tal não suceder, faltando estas características, a iniciativa
de negociação com o público é qualificada como um mero convite a contratar.
Pedro da Palma Gonçalves Página 44
Universidade Católica Portuguesa ∆ Faculdade de Direito
→ Completa
→ Precisa
→ Firme
→ Formalmente adequada
→ Precisão - A proposta, uma vez aceite, não pode deixar dúvidas sobre os
elementos componentes do contrato celebrado, mas este requisito não deve, todavia,
ser exacerbado. A precisão, tal como a completude, é compatível com ambiguidades
solúveis pela interpretação e com lacunas supríveis por integração. Na verdade, sob
certos aspectos, o grau de precisão da proposta pode ficar aquém do grau de precisão
necessário relativamente ao contrato correspondente, por exemplo, quando na proposta
contratual são deixados certos elementos à livre escolha ou estipulação do aceitante.
Para aferir da razoabilidade prática de cada uma das 4 teorias supra enunciadas,
cumpre efectuar uma cuidada análise do artigo 224º CC, tendo em mente que o 217º
assegura, desde logo, que a simples emissão da declaração de vontade assegura a sua
existência jurídica. No 224º ficam estabelecidos diferentes critérios para os
diferentes tipos de declaração negocial:
Nota: uma rápida análise dos elementos aqui enunciados denota, desde logo, o
compromisso do CC com uma posição intermédia, moderada, temperando a teoria do
conhecimento com a recepção. Esta opção do legislador, que na verdade inclina-se para
a teoria do conhecimento ou da percepção, é perfeitamente compreensível, dado ser a
que melhor salvaguarda o destinatário da declaração (esta só produzirá efeitos
quando a pessoa a quem vai endereçada acede ao respectivo conteúdo). O
“tempero” da mesma surge, com o 224º nº2, ao estipular que, para a lei, basta que a
declaração chegue ao poder do destinatário em condições de poder ser por ele
conhecida, independentemente da efectiva tomada de conhecimento do conteúdo. A
Nota: Como apontamento teleológico, cabe esclarecer que no primeiro número do 226º
a eficácia justifica-se pela emissão da declaração se reportar a pessoa capaz, e no
segundo número a ineficácia é o melhor método para tutelar interesses de terceiros.
5.4.1. Aceitação
nº1 CC, caso não queira contratar), ou até a eficácia por vontade unilateral e
potestativa do proponente (229º nº2, 1ª parte, quando quiser contratar), desde que
expedida em tempo oportuno. O aceitante tem, portanto, um ónus de emissão
oportuna e tempestiva da sua declaração, pois necessário é que, consoante o meio
escolhido para o transporte da declaração, esta seja expedida com a antecedência
que, em circunstâncias normais, permita a sua recepção tempestiva. Não há dever
de aviso por parte do proponente se a intempestividade for óbvia. O veículo utilizado
para cumprir a exigência de aviso imediato deve ser tão ou mais veloz quanto o
utilizado pelo declaratário para fazer chegar a sua aceitação. No caso de incumprimento
do dever de aviso, o proponente poderá incorrer em culpa in contrahendo, por violação
de imperativos de boa-fé, nomeadamente de deveres de informação. Fora do 229º nº2,
1ª parte, a aceitação intempestivamente expedida nunca pode ser eficaz. Quanto muito,
a aceitação tardia e expedida fora de tempo oportuno poderá ser interpretada como
proposta do aceitante, desde que reúna os requisitos necessários para tal qualificação.
→ Dever de Segurança
→ Dever de Informação
→ Dever de Lealdade:
→ → Dever de Sigilo
→ → Dever de Não-concorrência
Nota: São diferentes os efeitos jurídicos que a proposta eficaz projecta na esfera jurídica
do proponente e do destinatário: o proponente, pelo período em que a proposta se
mantenha eficaz, fica numa situação de sujeição à aceitação do declaratário; por
Nota: Temos, então, como ciclos do processo negocial: a fase pré-negocial ou pré-
contratual (1ª), a formulação da proposta e a possibilidade de existirem contrapropostas
(2ª), e enfim, o momento da conclusão do contrato (3ª).
As CCG facultam a contratação eficaz com um elevado número de pessoas sendo que
certos sectores económicos nem existiriam, se não fosse possível contratar com base
nestas cláusulas. Estas fórmulas permitem a imperiosa lubrificação do fornecimento de
bens e serviços, os seus interesses de padronização (como no franchising), a cobertura
do risco multiplicado em termos ponderados e a protecção da parte mais fraca face ao
poderio negocial das empresas monopolistas ou oligopolistas. Posto isto, quais as suas
funções?
Apesar de não ser possível conceber uma sociedade moderna sem recurso a
CCG que não visse a sua dinâmica económico-social seriamente comprometida, não é
sem sérios riscos que a sua aplicação é disseminada: a proliferação de falhas na
concorrência (monopólios e oligopólios), as profundas assimetrias de informação, a
realidade da ignorância legítima e voluntária, a captura de mais-valias injustificadas
pelo utilizador das CCG (sobrerrenda) à custa dos aderentes e, por último, a abundância
de esquemas de publicidade e facilidades de contratação que levam o aderente a CCG a
celebrar negócios imprudentemente, por exemplo. Todos estes problemas podem-se
potencialmente colocar em qualquer área da vida jurídica, contudo, uma das vantagens
da consagração legislativa do regime das CCG é o de dotar este esquema negocial de
meios específicos de tutela do aderente, adequados e eficazes, enquadráveis,
essencialmente, em dois figurinos:
Nota: atenção que nas relações com os consumidores finais, aplicam-se analogicamente
as proibições cominadas para a relação entre empresários ou entidades equiparadas (20º
LCCG). Seja como for, o valor negativo que afecta as cláusulas proibidas é, sempre,
a nulidade das mesmas (12º LCCG), apesar da importante cambiante sui generis
consignada pelo artigo 13º LCCG, a que urge, em qualquer caso, atender.
Nota: Cabe ainda uma breve enumeração de outros modelos de contratação, tais
como os contratos celebrados fora do estabelecimento comercial (DL 24/2014, de 14.02,
alterado pela Lei 47/2014, de 28.07), os contratos celebrados por autómatos (mesmo),
os contratos à distância (mesmo), o correio electrónico (DL 7/2004, de 7.01, foi alterado
pelo DL 62/2009, de 10.05, e pela L 46/2012, de 29.08) e, finalmente, a contratação
proibida (de novo, DL 24/2014, de 14.02, alterado pela Lei 47/2014, de 28.07).
6. REPRESENTAÇÃO
decisão -, pelo que o risco de conflito de interesses na mesma pessoa está afastado, já
que ele não passa de uma simples boca das palavras ou corpo dos atos do titular do
interesse.
→ Extinção – Esta pode dar-se por várias causas (265º CC), como a renúncia
do procurador (265º nº1), a cessação da relação jurídica que serve de base à procuração
(como na extinção do contrato de mandato com representação – 1170º CC) e a
revogação da procuração pelo representado (265º nº2 e nº3), onde impera a regra
imperativa da livre revogabilidade da procuração (265º nº2). Uma única excepção à
regra da livre revogabilidade da procuração: quando a procuração tenha sido também
conferida no interesse do procurador ou do terceiro, não pode ser revogada sem acordo
do interessado, salvo ocorrendo justa causa (265º e nº3).
Há coação física (vis absoluta), quando uma força exterior ao agente o leva a
exprimir um comportamento declarativo independentemente da sua vontade, que,
por aquela, é completamente excluída, tornando-se inexistente. Da parte do
declarante não existe vontade de ação, vontade de declaração, nem vontade negocial,
logo, há inexistência de vontade funcional, apesar do comportamento exterior com
relevo declarativo. Como menção de valor, cumpre relembrar que Castro Mendes
enquadra a hipnose como uma situação de coação física. A força exterior coactora tanto
pode ser física (natural), como humana, mas tem de se tratar de uma força que coage
alguém fisicamente a praticar um acto involuntário.
apercebe que o declaratário tomou a declaração como séria, vê nascer na sua esfera
jurídica a obrigação, por imperativos de boa-fé, de informar o declaratário dessa falta de
seriedade, caso contrário, há reserva mental apta a produzir todos os seus efeitos.
Seguidamente, o declarante terá de indemnizar o declaratário por frustração da sua
confiança, repondo a situação pelo interesse positivo nos termos da responsabilidade
pré-contratual (227º).
Nota: a prova dos factos constitutivos do direito (como o direito de anular ou declarar
nulo um negócio) cabem ao seu titular – 342º CC. Há uma presunção de inocência. O
ónus da prova recai sobre o lesado, quem se queira fazer valer de um Direito ou situação
de facto.
Já que nos referimos a efeitos jurídicos, tracemos o quadro dos (des) valores das
declarações neste número já referidas…
→ Erro
→ → Simples (espontâneo)
→ Medo
→ Usura
→ Incapacidade acidental
Nota: A bem do rigor, cumpre fazer referência a dois institutos que demonstram uma
considerável afinidade com a matéria dos vícios do NJ: a lesão e os vícios redibitórios.
A primeira consiste na grave desproporção entre as prestações das partes, num NJ
oneroso comutativo. A doutrina clássica enquadrava-a como causa de invalidade
quando atingisse dimensões de desproporcionalidade grosseira (laesio enormes ou
laesio ultra diminium), mas hoje em dia, e nos termos do actual CC, a lesão não adquire
valor anulatório de regime geral, sendo apenas um dos elementos caracterizadores da
usura (282º CC) ou de alteração das circunstâncias (437º a 439º CC). A segunda, por
seu turno, engloba os vícios ocultos de uma coisa, que prejudicam o seu uso, tornando-a
inapropriada para o fim a que se destina. Apesar da afinidade com o erro, também não
revestem valor autónomo como causa geral de anulação de um negócio. De salientar,
que o CC dá tratamento específico a este vício no domínio dos contratos, como a
compra e venda (905º e ss., 913º e ss., 939º CC) e a locação (1035º CC).
7.2.1. Erro
→ Erro sobre os motivos (residual, na medida em que todos os prévios são “motivos”)
(Nota: à luz do actual CC, já não releva a distinção clássica entre error facti e error
iuris)
sobre um requisito legal, não seria relevante, o que assim sendo seria inaceitável, pois
como é lógico o erro relativo a requisitos legais (impróprio) também releva. É isso
mesmo que afasta a propriedade da condição de requisito comum do erro vício – o erro
impróprio é relevante. Por acréscimo, não fará grande sentido invocar o erro vício com
base na propriedade quando ele, por outro motivo só, já é nulo ou anulável. Se o NJ é
nulo por vício relativo a outro elemento e é também anulável por erro, este até é
relevante, mas não é invocável, pois a anulabilidade é consumida pelo valor negativo
mais forte (a nulidade). Se se tratar de duas causas de anulabilidade, o erro vício relativo
a requisito não legal e outro (como por exemplo a anulabilidade por incapacidade de
exercício do menor), não há razão para não serem ambas invocáveis, até porque o
segundo pode perder a invocabilidade mediante confirmação do representante legal. Em
suma, o erro impróprio não deixa de ser relevante, embora, em certos casos, a
correspondente anulabilidade não o seja. Enfim, a propriedade não é requisito
comum, mas o erro impróprio não deixe de ser relevante, embora, em alguns casos, a
sua anulabilidade não seja invocável.
Nota: Cabe ainda uma pequena referência aos requisitos relativos ao declaratário. A
lei exige sempre, no que toca ao erro simples, para o erro ser relevante, que o
declaratário assuma a essencialidade do motivo, porque a conhecia ou devia ter
conhecido (251º), ou porque a reconheceu por acordo (252º nº1). Tudo isto parece
pacífico quando nos referindo a contratos, ou seja, quando existem duas partes. Mas e se
não houver declaratário? Quando terá relevância anulatória o erro em NJ unilaterais (só
uma parte) ou, inclusive, em NJ onde nem há destinatário determinado (NJ unilaterais
não recipiendos)? Tendo em consideração que os requisitos do erro relativos ao
destinatário da declaração têm como pano de fundo defender os interesses deste na
subsistência do NJ, facilmente se compreende que os NJ não recipiendos, como o
testamento (2202º CC) não impõem requisitos relativos ao destinatário. Nesses casos
(utilizamos plural por deixarmos em abertos hipotéticas analogias), o requisito é outro: a
essencialidade do motivo tem de resultar patentemente das estipulações negociais.
→ Erro sobre base do NJ (252º nº2) – Antes de mais, a que nos referimos
quando falamos nas “bases do negócio”? Ao celebrar certo negócio, existem várias
circunstâncias de facto ou de direito, que mais ou menos determinam as partes a praticar
este ou aquele acto, com este ou aquele conteúdo. A “base” do NJ é, então,
constituída por essas circunstâncias que, sendo conhecidas de ambas as partes,
foram tomadas em consideração por elas na celebração do acto e determinaram os
termos concretos do conteúdo do negócio. Como bem diz Castro Mendes, a ideia
central no erro sobre a base do NJ é a de um erro bilateral sobre as condições
patentemente fundamentais do negócio. São circunstâncias fulcrais para ambas as
partes, ou, na hipótese de o serem só para uma delas, a outra não poderia deixar de a
considerar condicionante do NJ, sem violar os princípios da boa-fé. Nas palavras do
legislador, são “as circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de contratar”
(437º nº1). Posto isto, há erro se as partes, ao celebrarem certo NJ, dão como
verificadas certas circunstâncias que, ou não existem, ou são diferentes das que
elas tomaram como certas. Realce-se que as circunstâncias devem sempre ser
contemporâneas ou passadas em relação ao momento da celebração do negócio. Não
inclui, pois, o instituto da pressuposição (437ºCC). Esta modalidade de erro pode
referir-se a quaisquer circunstâncias determinantes da celebração do acto, desde que
revistam as características e requisitos supracitados. Ele é, também cumulativo face a
outras modalidades, desde que essas circunstâncias constituam também base do NJ, por
exemplo no caso da contratação de um famoso pintor para ornamentar uma parede de
nossa casa, quando depois se descobre que não era aquele artista que desejávamos (erro
sobre a pessoa do declaratário e erro sobre a base do NJ). No que ao seu regime diz
respeito, reparos há a fazer relativamente à remissão do 252º nº2 para o 437º e
seguintes. Como é óbvio, não fará sentido falar de resolução. O que o nº2 do 252º
pretende apenas dizer é que o erro sobre a base do negócio é relevante nos termos em
que o seja a alteração das circunstâncias, ressalvadas as diferenças entre as duas figuras.
O que a remissão verdadeiramente significa é que o erro sobre a base do NJ só releva se
incidir sobre circunstâncias patentemente fundamentais para a decisão de contratar,
sendo essas circunstâncias comuns a ambas as partes, ou a outra parte não poderia
deixar de aceitar como condicionante do negócio, segundo a boa-fé, pois a manutenção
do mesmo NJ como fora celebrado, seria atentatório da tutela confiança. Qual será,
então, o valor negativo do erro sobre a base do NJ? Já sabemos que não será,
certamente, a resolubilidade. Ora bem, tratando-se de um vício contemporâneo da
celebração do NJ, está em causa o valor do acto nesse momento (vício genético, não
superveniente). Como tal, a solução para esse tipo de vício é a anulabilidade, ou a
modificabilidade, segundo juízos de equidade, à luz do 437º CC.
→ Erro sobre os motivos (252º nº1) – esta modalidade de erro tem caráter
residual, abarcando o que não for enquadrável em nenhuma outra categoria das
supracitadas, devendo, contudo excluir-se o erro sobre a base do NJ, que segue regime
próprio (252º nº2). Em comum com os outros pode-se encontrar o respeito em comum a
fins ou móbeis de natureza subjetiva do declarante. Exige-se, portanto, que as partes
tenham reconhecido, por acordo, a essencialidade do motivo, garantindo a tutela
do declaratário e de terceiros, dando irrelevância a motivos não patentes, sem
Nota: Acrescente-se que quem se queira valer da anulabilidade e tenha o ónus legal de
provar (342º) que o declaratário conhecia ou deveria conhecer a essencialidade do
elemento sobre que recaiu o erro (247º) tem à sua disposição todos os meios de prova
legalmente exigidos (prova documental, pericial, testemunhal, presunções legais,
confissões, entre outras).
O erro é qualificado por dolo quando seja provocado por dolo relevante,
pois se o dolo não for juridicamente atendível, existirá erro simples. O 253º nº1 dá-
nos a noção legal de dolo: “qualquer sugestão ou artifício que alguém empregue
com a intenção ou consciência de induzir ou manter em erro o autor da declaração,
bem como a dissimulação, pelo declaratário ou terceiro, do erro do declarante”. A
primeira nota é a de que a conduta dolosa pode provir do declaratário ou de terceiro
(deceptores, os que provocam o erro com dolo), ainda que a diferença entre ambos não
seja regimentalmente irrelevante. O erro provocado pode englobar diversas
modalidades, tais como…
→ Quando o deceptor, com o seu comportamento, não visa o erro, mas tem
consciência do seu efeito enganatório quanto ao declarante, criando, mantendo ou
encobrindo o erro deste.
Condutas omissivas…
Haverá, assim, dolo positivo, quando se envereda por certa conduta, e dolo
negativo, omissivo, de reticência ou de má-fé quando não se faz certa conduta
provocando o erro no declaratário. Muitas vezes traduz-se no incumprimento do dever
legal de elucidar o declarante, fazendo cessar o erro em que ele se encontra (253º
nº2, in fine).
Por último, no que concerne aos efeitos do dolo, quando relevante, a sua
consequência natural é a anulabilidade do NJ, nunca descorando a possibilidade de
outras consequências jurídicas, nomeadamente a responsabilidade civil ou penal que
poderá advir. Como já referido, se o dolo for irrelevante e estiverem preenchidos os
requisitos do erro simples, ele valerá como causa de anulação do mesmo, nos termos do
Pedro da Palma Gonçalves Página 90
Universidade Católica Portuguesa ∆ Faculdade de Direito
251º-247º. Bem entendido, será mais fácil a anulação do NJ em caso de erro qualificado
por dolo, do que no de erro simples, uma vez que são menos exigentes os requisitos de
relevância daquela modalidade (tratamento mais favorável ao errante, pois o dolo é,
igualmente, uma situação mais gravosa). Dado que o dolo é um ato ilícito, se houver
dolo do declaratário, o único requisito de relevância do erro é a dupla causalidade,
sendo dispensados os requisitos relativos ao declaratário. Quando o dolo provém
de terceiro, exige-se que seja conhecido ou cognoscível pelo declaratário.
7.2.2. Medo
→ Coacção moral – casos com raízes num acto humano em que o sujeito celebra
certo NJ sob ameaça de um mal.
Posto isto, quais serão os requisitos para a relevância prática da coacção moral?
Tal como no erro qualificado por dolo, é necessário que o medo resulte da ameaça do
mal, e que o medo causado pela ameaça seja a causa da declaração. Como podemos ver,
falamos mais uma vez da dupla causalidade. Verificando-se este requisito, a
declaração negocial é anulável, não necessitando de haver, forçosamente, prejuízo para
o coagido, ainda que quase sempre haja. Assim como no erro provocado por dolo,
cumpre distinguir, mais uma vez e como já referido, se o erro provém do declaratário ou
de terceiro, sendo o regime distinto para cada situação…
Nota: o temor reverencial não constitui coacção, como nos diz o 255º nº3. Este traduz-
se no receio de desagradar a certa pessoa de quem se é psicológica, social ou
economicamente dependente, e não há coacção pelo facto da ameaça não ser ilícita, mas
enquadrar-se no exercício normal de um direito. Como é óbvio, se este direito for
excedido, deixa de haver temor reverencial e pode haver coacção moral, ou até usura.
Apesar de tudo isto, o CC não lhe fez menção quando enumera os vícios da
vontade, mas apenas a respeito da usura (282º nº1). Nesse esquema já não operando
autonomamente, mas cumulativamente com outros mais elementos do referido instituto.
A sua relevância não é pacífica na doutrina - em geral, o estado de necessidade só releva
enquanto elemento da usura, segundo o regime desta. Pode contudo dar-se o caso de
alguém se aproveitar da situação de necessidade de certa pessoa, quando, por dever
jurídico ou por imperativo dever moral, lhe devia prestar auxílio. Se a situação for
7.2.3. Usura
→ Divergências vontade-declaração
→ Intencionais…
→ Inocentes
7.3.1. Simulação
Posto isto, qual é o valor do NJ simulado? Neste ponto não reside qualquer
dúvida, é a sua nulidade, independentemente de ser absoluta ou relativa (240º nº2).
Muito maiores problemas advêm no que concerne ao valor do NJ dissimulado, ou seja,
quando estamos perante uma simulação relativa, como desde logo se denota do artigo
241º CC. Desse artigo desde logo resulta que o negócio dissimulado não é afectado no
seu valor jurídico, pela simulação, mas sim apreciado em si mesmo como um NJ
comum, como se não houvesse qualquer dissimulação. Desta forma, será válido ou
inválido (anulável, nulo, inexistente) consoante preencha os requisitos de validade
que a lei exige para um negócio do seu tipo.
Nota: Uma referência especial ao regime dos herdeiros legitimários. Estes podem agir
na qualidade de herdeiros do simulador (depois da morte do simulador). Nesta hipótese,
não agem na qualidade de terceiros, mas sim no exercício de um direito que cabia ao
simulador e que lhes foi transmitido mortis causa. Aplica-se-lhes o regime do nº 2 do
394º. Contudo, podem agir no exercício de um direito próprio, em defesa da sua
qualidade de herdeiro legitimário (da sua legítima). Nesta hipótese, são considerados
terceiros. Releva aqui o artigo 242º nº 2 - a nulidade pode também ser invocada pelos
herdeiros legitimários que pretendam agir em vida do autor da sucessão contra os
negócios por ele simuladamente feitos com o intuito de os prejudicar. Tem aqui
relevo a distinção entre simulação inocente e fraudulenta, sendo que só a segunda
faculta o poder de arguição.
que ela é emitida, sendo que qualquer pessoa normalmente (236º) atenta pode
deduzir, de tais elementos, a vontade real. O seu regime é, em tudo, similar ao do
erro conhecido, invocando-se, mais uma vez, o 236º que dá a validade ao NJ
segundo a vontade real do declarante.
1 - A propõe a B comprar-lhe certa coisa por 10.000, sendo este o sentido vinculativo
do negócio; mas B entende 11.000 e responde simplesmente «aceito». Neste caso há
erro vício sobre os motivos, nos termos do 252 nº1º CC → erro irrelevante, em regra.
2 - A propõe a B comprar-lhe certa coisa por 10.000, sendo este o sentido vinculativo
do negócio, mas B entende 11.000 e responde «aceito por 11.000». Neste caso poderá
haver erro obstáculo quanto à declaração de B → erro irrelevante, em regra (247º).
Todo pode, ainda assim, ficar mais complicado, quando se conjuga um erro na
declaração com um entendimento errado por parte do declaratário (que atribui ao
negócio sentido não coincidente com o seu sentido objectivo, nem com o querido pelo
declarante): neste caso, o sentido objectivo do negócio não coincide com o que lhe
atribui nenhum dos intervenientes…
3 - A propõe a B vender X ao preço corrente do mercado, mas quer escrever «ao preço
corrente do mercado do vendedor». B entende que venda é feita ao «preço corrente do
mercado do comprador» e nessa base aceita a proposta. Ocorre, então, um dissenso ou
um desentendimento. Se preço for essencial para A e B o souber ou não dever ignorar,
A pode anular o negócio (247º). B pode validar o negócio (248º), se a manutenção lhe
convier. Mas quando nenhuma dessas duas situações aconteça, como decidir? A
verdade é que não se pode manter a validade do negócio, por aplicação meramente
formal da lei, tal situação não satisfaria nenhum interesse de nenhuma parte nem se
adequaria à vontade de nenhuma delas. Nestas hipóteses há duas divergências e não se
pode dizer que alguma das partes possa responder pelo sentido que a outra dá à
declaração. A melhor solução é considerar que o negócio é anulável, sem mais
requisitos, com fundamento no dissenso.
Nota: O não dissenso não se confunde com a falta absoluta de consenso. Aqui nem se
chega a formar o negócio: o negócio é inexistente, não havendo, por isso, erro. Cite-se,
como exemplo, um caso em que A declara “vendo” e B entende “arrendo” e declara que
aceita arrendar o objecto negocial.
8.1. Condição
Como desde logo se deduz do artigo 270º CC, chama-se condição a um facto
ou acontecimento futuro incerto a que as partes subordinam a produção dos
efeitos do NJ ou a sua resolução. “Condição” também pode designar, não só o
referido objecto jurídico, mas também a sua forma, ou seja, a cláusula acessória
pela qual as partes introduzem a condição no NJ. Em suma, os 3 requisitos da
condição são…
→ Tal facto tem de ter fonte convencional, e nunca legal (conditio iuris)
Como tal, constatamos que a condição não se pode referir a factos passados ou
contemporâneos da celebração, nem envolver um facto de verificação certa, sendo
incerto apenas o momento em que se verificará, pois aí não há condição, mas termo
incerto (quanto ao momento da verificação certa). Adiantemos, desde já, uma referência
ao termo, para precisarmos o sentido da condição. Diferentemente da condição, o termo
é o facto futuro, mas certo, de que as partes fazem depender o início ou a cessação dos
efeitos do NJ. Como denotado, os acontecimentos futuros podem, ser certos ou incertos,
podendo sê-lo quanto a dois aspectos: o da sua verificação ou não verificação (an
sequuntur) e o do momento da verificação (quando sequuntur). Um esquema talvez
auxilie uma plena compreensão…
Nota: A condição resolutiva tácita é uma modalidade de condição legal: num contrato
sinalagmático, se uma das partes não cumprir, pode a outra resolvê-lo (direito
potestativo de resolução e não resolução automática – artigos 801º nº2 e 808º nº1).
no arrasto, ou não, de todo contrato pela nulidade desta cláusula: na condição ilícita, a
nulidade acarreta a nulidade de todo o negócio (271º nº1); na condição impossível
suspensiva, também há a nulidade de todo o contrato (271º nº2, 1ª parte); todavia, a
condição impossível resolutiva, tem-se por nunca escrita, ou seja, a nulidade só atinge a
própria cláusula (271º nº2, 2ª parte), ocorrendo, de tal modo, nulidade parcial e uma
redução do NJ.
A que negócios poderão condições ser e não ser apostas? Neste domínio, a
regra é a da livre aponibilidade ou condicionalidade dos negócios, com último
fundamento na autonomia privada da vontade dos contraentes. Há, contudo, NJ em que
não pode ser incluída qualquer condição: declaração de compensação (848º nº2),
casamento (1618º nº1), perfilhação (1852º nº1), aceitação e repúdio da herança ou
legado (2054º nº1, 2064º nº1, e 2249º). Esta última ordem de restrição remete para casos
em que a norma expressamente interdita a condição. Em institutos como a adopção, é a
própria natureza do acto que impossibilita, e no NJ unilaterais resultantes de um direito
potestativo que atinja a esfera jurídica de outrem com eficácia vantajosa, a necessidade
de certeza quanto ao regime proíbe a aponibilidade (em denúncias, em resoluções ou em
despedimentos). Posto isto, que sucederá a um NJ incondicionável a que se apõe
uma condição? Verdadeiramente, a dúvida só se levanta quando o legislador nada diga,
já que nesses casos é claramente contra legem (294º). Nos restantes, é de perfilar o
entendimento de que se deve aplicar analogicamente o 271º, fixando a nulidade desse
mesmo negócio.
Nota: Como complemento, qual será, então, a relevância das condições na eficácia do
NJ? Sendo a condição uma cláusula acessória, ela pressupõe a existência de certo
negócio, sempre. É sempre sobre a eficácia do NJ que a condição incide. Por exemplo,
na condição suspensiva, o negócio é válido, mas ineficaz, há uma ficção legal ab initio
que impede a eficácia plena, o mesmo se passará na condição resolutiva, mas em
sentido inverso. Todavia, algumas consequências podem verificar-se, desde a
celebração, impostas, nomeadamente, pela necessidade de tutela de terceiros…
8.2. Termo
ele o regime que as partes pretendem submeter a regulamentação dos seus interesses
fica fixado. Tal como a condição, pode revestir várias modalidades…
Termo próprio vs. Termo impróprio – Não há nada mais a adiantar relativamente
à distinção feita na modalidade da condição. Um exemplo de termo impróprio é o termo
legal, pois lhe falta a voluntariedade dos sujeitos na sua consagração – elemento
essencial.
Termo inicial vs. Termo final - Não há nada mais a adiantar relativamente à
distinção feita na modalidade da condição, desta feita entre suspensivas e resolutivas.
Termo essencial vs. Termo não essencial – Por último, a destrinça assenta no
tipo de efeitos decorrentes do decurso do prazo de realização de uma prestação. Nos
primeiros, o não cumprimento dentro do prazo é equiparado à impossibilidade da
prestação, enquanto nos segundos o devedor entra em mora, mas a prestação
ainda é possível. De salientar que a essencialidade pode resultar da vontade das partes
ou da lei.
Nota: tudo se passa de forma similar à condição no que toca à aponibilidade do termo,
com as devidas divergências – 1307º CC, quanto à aquisição da propriedade (nulidade
do negócio há sempre, mas neste caso há possível conversão, segundo o 293º, num
direito real menor, como o usufruto do direito de propriedade).
8.3. Modo
1 - Doação - a lei permite que o doador ou seus herdeiros peçam a resolução da doação
(966º);
Apesar da diferença entre modo e condição nem sempre ser muito nítida,
podemos desde já excluir todas os casos que envolvam NJ onerosos ou se a
condição for potestativa a parte debitoris, uma vez que o problema só se coloca
→ “A condição (resolutiva) resolve, mas não obriga e o modo obriga, mas não
resolve” - Se o beneficiário não praticar o acto condicionante, a que não está
obrigado, os efeitos do negócio cessam, ipso facto. No caso do modo, se não for
cumprida a obrigação, não há resolução automática dos efeitos do negócio. O não-
cumprimento apenas confere o direito potestativo de resolução, e, mesmo que esta
se verifique, não tem eficácia retroactiva.
Para além das cláusulas acessórias típicas já citadas – condição, termo e modo -,
importa fazer referência a outras categorias igualmente de relevo…
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/6b466565eae6
93e580257829003489ba?OpenDocument
R: Como elucidado pelo artigo 1142º CC, o mútuo é o contrato pelo qual uma
das partes empresta à outra dinheiro ou outra coisa fungível, ficando a segunda obrigada
a restituir outro tanto do mesmo género e qualidade. Com base nesta definição, será de
entender o mútuo como um negócio real quoad constitutionem, ou seja, como um
negócio cuja tradição da coisa não é um mero efeito contractual ou condição de plena
eficácia, mas um requisito da perfeição da própria constituição do negócio? Aqui duas
visões se digladiam, o entendimento tradicional advogado, por exemplo, por Antunes
Varela, e o entendimento actualista. A visão tradicional-romanista é clara quanto ao
enquadramento inequívoco do mútuo na categoria de NRQC, frisando que a sua
perfeição depende, para além da manifestação de vontade, formal ou não, solene ou não,
da prática da entrega da coisa (traditio). Relembro que o negócio real é aquele que exige
não só os requisitos comuns da definição de negócio jurídico, como também a
transferência do bem (a datio rei, segundo a terminologia romana). A visão progressista
de autores como Menezes Cordeiro ou Carvalho Fernandes vê a questão sob um prisma
menos restritivo, mais conforme ao princípio consensualista, intimamente conexo com a
liberdade contractual do 405º CC que enforma o Direito Privado: defendem que, em
certas situações, o contrato tipificado de mútuo pode, por consenso das partes e mútuo
acordo, constituir-se num contrato atípico de mútuo perfeitamente válido. Bem
entendido que esta incursão liberalizante deve ser temperada com o circunstancialismo
do negócio, na medida em que não é por acaso que os NRQC necessitam de traditio
(consciencialização do mutuante). Atendendo a este caso concreto, é de perfilar a
posição de que António tem direito ao montante de 1000 euros acordado com Bento a
15 de junho de 2014. Nesse dia, sob a forma de acordo oral não solene, foi celebrado
um contracto atípico de mútuo entre ambos através da coincidência das manifestações
de vontade. Nesse momento, Bento viu nascer na sua esfera jurídica a obrigação de
entrega do dinheiro no dia 1 de julho de 2015 e António um direito de crédito sobre essa
mesma obrigação, ou seja dois efeitos obrigacionais e um real. Como tal, António está
no direito de exigir o dinheiro a Bento, não como requisito de celebração do contracto,
mas como condição de eficácia do mesmo.
António, proprietário de uma grande fortuna, decide, em vida, partilhar parte dos
seus bens. Para o efeito, deu a cada um dos seus três filhos uma casa. A Bento e Carlos,
uma casa avaliada em 1 milhão de euros cada e a Daniel uma casa avaliada em 1,6
milhões de euros, com o acordo de Daniel restituir 200.000,00 a cada um dos seus
irmãos.
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/4e95166b8d9f
357180257b5c0035acd1?OpenDocument
= 1,2M (quinhão)
Relativamente às tornas…
http://www.dgsi.pt/jtrg.nsf/0/fc46a4b9455dea7e80257164004fc0be?OpenDocu
ment
§ 3. O OBJETO NEGOCIAL
5. “Martinhal à venda”
Finda a época balnear, António decide colocar uma placa na praia do Martinhal
a dizer: “Vende-se esta praia a bom preço”. Bëntø, turista dinamarquês, decide comprar
a praia. Quid iuris?
6. “Ética empresarial”
Cláusula 4.ª
Cláusula 5.ª
pois estamos perante uma ilicitude mediata do objecto material prestacional. Em adição
temos ainda uma violação do artigo 406º CC no que concerne ao cumprimento pontual
dos contratos e, como tal, uma ilicitude imediata ou direta (cláusula contra legem), o
que sublinha a nulidade da mesma por ofensa de preceito legal (294º CC). Na cláusula
5ª nº1 constata-se um problema estruturalmente similar aliado ainda a uma violação do
princípio da proporcionalidade (modalidade de proibição do excesso), também
decorrente da Lei Fundamental (1º e 2º CRP) e, como tal, de ordem pública. No
segundo nº da referida cláusula, o objecto da mesma é mais uma vez ofensivo da ordem
pública através do atentado à liberdade religiosa constitucionalmente consagrada. Como
tal, ambas as cláusulas devem ser liminarmente declaradas nulas.
8. Declaração tácita
Após Bento já ter comprado o bilhete de avião para Paris, António rompe com o
contrato já celebrado alegando “ter visitas”. Este incumprimento contratual de António
fá-lo incorrer em responsabilidade obrigacional (facto, ato voluntário, ilícito, culpa –
negligencia - e nexo de causalidade entre o ato e o facto) nos termos do artigo 798ºCC
pela violação de deveres específicos, com presunção de culpa à luz do artigo 798º e
799º CC. Como sanção, António terá de indemnizar Bento pelo interesse contratual
positivo (como é regra na responsabilidade contratual, ainda que importe proceder a
uma análise casuística), quiçá restituindo-lhe o dinheiro despendido no bilhete de avião
(562º e 566ºCC).
António, pintor, sabendo que o seu amigo Bento estava à procura de alguém que
lhe pintasse a casa por 1000 euros, envia-lhe um e-mail com o seguinte teor: “O Carlos
contou-me que precisas que te pintem a casa por 1000 euros. Eu faço-te esse trabalho.
Se nada disseres em contrário, apareço em tua casa para trabalhar no próximo fim-de-
semana”. Como não obteve resposta de Bento, António adquiriu o material necessário à
pintura e apresentou-se em casa de Bento. Este recusa-se a aceitar o serviço e a pagar
qualquer quantia. Bento afirma ter direito ao pagamento dos 1000 euros, em troca do
serviço que pretende realizar. Quid iuris?
§ 5. A FORMA DA DECLARAÇÃO
Benta, passados uns dias, diz a António: “Já escolhi! Dá cá o teu Mercedes 300
SL Gullwing de 1955!”.
b) Imagine que o acordo quanto à forma tinha sido celebrado por escrito e que
existia a seguinte cláusula:
Cláusula 3.ª
a) A carta de Bento não chegou ao seu destino porque foi perdida pelos Correios.
Foi celebrado algum contrato entre António e Bento?
Neste caso concreto não houve qualquer contrato entre António e Bento, na
medida em que não houve qualquer acordo de vontades entre os 2 contraentes, pois a
aceitação é uma declaração recipienda e, à luz do 224º nº2 (a contrario sensu), ou do
224º nº1 CC 1ª parte expressamente, a declaração não é recebida e não por culpa do
destinatário, mas por culpa de terceiros auxiliares, os Correios. Como tal, nunca chegou
a ser conhecida pelo destinatário, pelo que é ineficaz. Pode-se ainda dizer que os prazos
de vigências das declarações negociais foram cumpridos (228ºCC), pelo que não será
daí que algum problema advirá.
R: Não, não se tem por formado qualquer contrato. Neste caso, fazendo uma
interpretação literal e declarativa do artigo 224º nº3 CC alcançamos a solução de que a
declaração é ineficaz, pois não é por culpa de António que o conteúdo da carta é
ininteligível, pelo que nunca se deu o acordo de vontades que formaria o contrato à luz
do 224º nº1 CC. Como tal, nenhum direito ou obrigação constitui-se na esfera jurídica
de nenhuma das partes.
Por vezes surgem dúvidas na delimitação destas duas últimas categorias, e essas
dúvidas não são descabidas. É exemplo o leilão, onde há uma grande dificuldade e
intenso debate em determinar quem tem a iniciativa da negociação com o público. A
solução costuma passar pela aplicação das regras sobre a interpretação negocial.
Todavia, uma boa forma de delinear eficazmente os conceitos é compreendendo que a
oferta ao público constitui proposta contratual e, portanto, tem de reunir as
características desta (completude e firmeza, precisão e adequação formal). Se tal não
suceder, faltando estas características, a iniciativa de negociação com o público é
qualificada como um mero convite a contratar.
Para tal, basta-nos constatar requisito a requisito a presença ou não dos quatro
pressupostos do contrato, a completude, a firmeza, a precisão e a adequação formal.
Dentro dos mesmos, todos estão claramente presentes, com excepção da firmeza ou
intenção inequívoca de contratar. É o único pressuposto do contrato que se pode dizer
que levanta dúvidas. Mas como analisar se há intenção inequívoca de contratar? Temos
de recorrer às regras da interpretação contratual, neste caso consubstanciadas no
236ºCC. E o que nos dizem elas? Dizem-nos que temos de nos por no lugar do
declaratário normal e aferir se o mesmo, no nosso lugar, encararia a situação jurídica
como uma clara intenção contratante. Portanto, sendo a Loja das Meias uma loja de
roupa, onde se incluem os vestidos, e servindo a montra como exposição dos produtos
que estão para venda - numa clara oferta ao público com todos os requisitos da proposta
contratual preenchidos -, não há razão para um declaratário normal duvidar da firmeza
da proposta. Como tal, a menina da loja não tem razão, mas sim Benta, pois já foi
celebrado um contrato de compra e venda entre Benta e a Loja das Meias, à luz do 224º
nº 2. Caso a loja se recuse a vender, pode incorrer em responsabilidade contratual
(facto, ato voluntário, ilícito, culpa – negligencia consciente - e nexo de causalidade
entre o ato e o facto) nos termos do artigo 798ºCC pela violação de deveres específicos,
com presunção de culpa à luz do artigo 798º e 799º CC. Como sanção, encontra-se
adstrita à obrigação de indemnização de Benta pelo interesse contratual positivo,
garantindo a aquisição do vestido.
http://www.dgsi.pt/jstjf.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/1d10adeed45e
d74480257b900033eda0?OpenDocument
Acórdão…
No acórdão recorrido entendeu-se, tal como na 1ª instância, que dos factos dados
como provados se tinha que concluir que o negócio tinha sido concluído, na medida em
que as “partes tinham acordado sobre os elementos essenciais, tanto assim que a autora
chegou a iniciar a execução dos trabalhos, com a preparação do terreno (desaterro,
demarcação, construção do muro” e que os réus, ao contratarem outro empreiteiro,
tinham tacitamente desistido da empreitada, o que conferiu à autora, empreiteira inicial,
o direito a uma indemnização pelos “gastos e trabalho” ainda pelo “proveito que
poderia tirar da obra”.
Mas mesmo que se considerasse que o contrato ainda não estava concluído e se
estava ainda na fase negociatória ou preambular do contrato, mesmo assim, tendo em
conta que já tinha havido acordo sobre as obras a executar e o valor do preço (elementos
essenciais), mas faltando a convencionada redução a escrito (forma convencional),
existiria sempre “acordo pré-contratual e uma “uma clara “situação objectiva de
confiança”, cuja conduta dos Réus deve ser entendida como uma tomada de posição
vinculante em relação a dada situação futura (a conclusão do contrato), um
“investimento na confiança” e a boa fé da Autora.
Os recorrentes entendem que face aos factos dados como provados não se podia
concluir ter sido celebrado qualquer contrato de empreitada entre as partes uma vez que
a autora abandonou as negociações em curso, não tendo havido qualquer concretização
da obra a realizar, do prazo para a sua conclusão, da redução do preço a escrito, da
forma de pagamento do preço.
Entendem também os recorrentes que dos factos dados como provados não se
pode concluir que da sua parte tenha havido violação culposa de deveres por que se
pauta a fase das negociações, antes se tem concluir que foi a autora a assumir essa
violação com a sua conduta ao rejeitar os contactos tentados pelos réus.
Cremos que não têm razão e na realidade, dos factos dados como provados se
tem que concluir que as partes concluíram um contrato.
A proposta da autora tinha, assim, que ser considerada completa, precisa, firme e
formalmente adequada.
Acordaram com a mesma autora que para esta iniciar a obra teriam que a avisar
da existência de água e electricidade, que se comprometeram a requerer junto das
respectivas entidades.
Ora, destes factos, não podemos deixar de concluir que os réus praticaram actos
que indicaram a sua intenção do aceitar a proposta da autora.
Sendo assim, temos que concluir que os réus aceitaram tacitamente a proposta da
autora, o “que se deduz de factos que, com toda a probabilidade, a revelam” – cfr.
última parte do nº1 do artigo 217º do Código Civil.
Temos, pois, que concluir pela existência do contrato invocado pela autora.
O contrato foi verbal, sendo que as partes convencionaram que ele seria reduzido
a escrito.
Sendo assim e em princípio, não tinha a proposta da autora de ser feita por
escrito.
Mas está provado que “entre as partes foi acordado que o negócio seria reduzido
a escrito” – resposta ao ponto 23º da base instrutória.
Ora sendo assim e face ao disposto no nº1 do artigo 223º do Código Civil,
parece que a proposta teria que ser feita por escrito.
Mas, dispõe-se no nº2 do mesmo artigo que “se, porém, a forma só for
convencionada depois de o negócio estar concluído ou no momento da sua conclusão, e
houver fundamento para admitir que as partes se quiseram vincular desde logo,
presume-se que a convenção teve em vista a consolidação do negócio, ou qualquer outro
efeito, mas não a sua substituição”.
Dos factos dados como provados acima referidos, não podemos deixar de
concluir que no momento da conclusão do negócio ou até depois, celebraram as partes
uma convenção onde pactuaram para o referido contrato a forma escrita.
Ora e conforme refere Galvão Telles “in” Manual dos Contratos em Geral, 4ª
edição, página 148, a aludida convenção sobre a forma “coeva da conclusão do negócio
ou subsequente a tal conclusão, deixa de pé, intacto, o contrato realizado, ainda que este
o tenha sido de forma diversa da determinada nessa convenção. Esta terá servido, não
para infirmar o contrato, mas, ao invés, para o consolidar (…)”.
“O negócio está validamente celebrado. Deve, pois, presumir-se, neste caso, que
as partes apenas quiseram, com a forma escrita, consolidar o acto, facilitar a sua prova,
tornar mais precisas as cláusulas ou qualquer outro efeito análogo, e não substitui-lo por
outro” – Pires de Lima e Antunes Varela "in" Código Civil Anotado, 2ª edição, em
anotação ao citado artigo 223.
Como resulta do acima exposto, quando os réus tentaram contactar a autora nos
termos da resposta ao ponto 25º da base instrutória, o contrato já estava concluído.
Logo, a questão que se põe, é se face aos factos aí referidos, se podia concluir
que a autora abandonou a obra, ou seja, se recusava a executar a sua prestação ou o que
restava dela.
Mas desistindo e nos termos da última parte desse normativo, ficaram obrigados
a indemnizar a autora empreiteira “dos seus gastos e trabalho e do proveito que poderia
tirar da obra”.
Esquematização…
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12
Dado que o prazo de transporte foi respeitado, a aceitação foi expedida dentro do
prazo de 5 dias de reflexão e chegou à esfera jurídica de António dentro do prazo de
transporte, o contrato tem-se por formado.
Nota: visto que foi utilizada a forma “carta” na proposta original o prazo de
vigência das declarações é de 6 dias (soma dos prazos de transporte de correio normal –
3+3).
b) A carta redigida por Antónia foi colocada no correio no dia 1 e recebida por
Benta no dia 4. Benta responde, por carta no dia 6, afirmando que queria comprar. A
resposta de Benta chega ao correio de Antónia no dia 13, por atraso imprevisível dos
correios. Foi celebrado algum contrato entre Antónia e Benta?
Esquematização…
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c) A carta redigida por Antónia foi colocada no correio no dia 1 e recebida por
Dora no dia 4. Benta responde, por carta no dia 13, afirmando que queria comprar. A
resposta de Benta, enviada por correio azul, chega ao correio de Antónia no dia 14. Foi
celebrado algum contrato entre Antónia e Benta?
Esquematização…
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13 14
10 às 24h do dia 12 e nada – a proposta caducou às 24h do dia 12. No dia 13 e no dia
14, tanto a emissão da aceitação como a recepção da mesma já intempestivas são. Não
pode operar a figura da aceitação tardia pois o aceitante não observou o ónus de envio
oportuno, desrespeitando os prazos de vigência da proposta. Como tal, o contrato não se
tem por formado (232º nunca houve acordo de vontades), nem Antónia está adstrita a
qualquer dever de aviso de não formação do contrato de compra e venda. Quanto muito,
a emissão de dia 13 pode funcionar como nova proposta, se reunir os requisitos
(completude, adequação formal, precisão e firmeza) reiniciando-se todo o processo
negocial.
Esquematização…
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12
Cabe ainda acrescentar que se, porventura, Antónia não possui-se endereço de
correio electrónico ou nunca lá fosse, a aceitação ter-se-ia por ineficaz nos termos do
artigo 224º nº3.
Em 2 de Março de 2014, António envia uma carta a Bento dizendo que lhe
vende a sua coleção selos por 20.000 euros.
Bento, no dia 4, responde também por carta, que chega ao seu destino do dia 5,
aceitando o negócio. No mesmo dia, Bento, entusiasmado com a compra, vai comprar
uma série de álbuns, no valor de 300 euros, para arquivar os novos selos.
Definir proposta…..
Neste caso, tudo dependerá de uma situação: terá Bento recebido ou tomado
conhecimento da declaração de António (nos termos do 224º nº1,e nº3 a contrario
sensu) – a proposta para um contrato de compra e venda da colecção de selos - antes ou
depois de António, o proponente, ter perdido o poder de disposição do direito sobre a
colecção de selos? A única coisa que sabemos é que António enviou a proposta dia 2,
que Bento enviou a aceitação dia 4 e a mesma torna-se perfeita na esfera jurídica de
António dia 5, e que, por último, António vendeu dia 4 a colecção de selos a um
coleccionador de selos japonês.
Perante este cenário, analisando os factos que nos são facultados, duas possíveis
soluções jurídicas poderão advir:
§ 7. A REPRESENTAÇÃO
19. Procuração
→ Forma – meios por que opera a manifestação de vontade, é-nos claro definir
forma como o aspecto exterior que a declaração assume, o modo por que a vontade se
revela (entendimento de Castro Mendes.
R: Como tal, Bento, nos seus 17 anos de idade já preenche os requisitos legais
do 263º para entender e querer o NJ que irá efectuar em nome, no interesse e no uso do
poder representativo facultado por António, ainda que por sua conta e interesse não
pudesse, supondo que não é plenamente emancipado. Esta liberalização de regime
justifica-se pelo facto da escolha do representante ser exclusivamente da
responsabilidade do representado e pela situação de que tudo o que suceda de desejado
ou indesejado no exercício dos poderes funcionais repercute-se na esfera jurídica do
representado e de mais ninguém.
fixar um prazo para a ratificação, decorrido o qual, ela tem-se por negada. Se
desconhecia falta de poderes no momento da conclusão do negócio, o sujeito que
contratou com o falso representante pode revogar ou rejeitar o negócio, enquanto este
não for ratificado pelo representado (268º nº4). Se a contraparte só se aperceber da falta
de poderes ou do excesso de representação após certos investimentos de confiança, o
representante (e talvez o representado) poderão incorrer em culpa in contrahendo (227º)
por violação dos deveres de informação e lealdade. A representação admite a
modalidade tácita, não constituindo impedimento o carácter formal da procuração (217º
nº1 e nº2), apenas bastando a existência de um facto concludente e que sejam
observadas as formalidades legalmente exigidas.
António, ausente em França, atribuiu a Bento “poderes para vender, pelo preço
mínimo de € 50.000,00, um prédio urbano de que é proprietário, podendo Bento
convencionar o mais que entendesse por conveniente”.
Poderá Bento adquirir o prédio para si, por 50 mil euros, a pagar em 10
prestações mensais? Poderia este ter vendido o prédio a Carlos por 75 mil euros, pagos
de imediato? Poderá anular António os contrato anulados por Bento? Terá essa anulação
algum efeito face a Carlos?
representado tem legitimidade para invocar, à luz do 261º-287º nº 2 CC, em que o prazo
para a anulação (não estando o negócio cumprido – 406º -, devido às 10 prestações
mentais) é ilimitado, podendo ser arguida a todo o momento.
Sim, dentro dos poderes funcionais representativos que lhe foram conferidos.
Mas operará aqui a remissão para o 268º? Será que a outra parte conhecia ou
devia conhecer o abuso?
§ 8. A FALTA DE VONTADE
António, professor de Contratos Civis, durante uma aula, vira-se para Bertílio e,
com o intuito de melhor explicar a matéria relativa à proposta negocial, diz-lhe: “Quer
comprar a minha mota por 1000 euros?”.
Vontade e declaração…
Estamos perante uma declaração não séria, nos termos do 245º CC, pois o
declarante expressa uma vontade que efectivamente não tem, na convicção de o
declaratário se aperceber da falta de seriedade da declaração. Temos uma declaração
sem qualquer vontade negocial mas sem qualquer intuito de enganar. No caso presente,
reveste a modalidade de docendi ou demonstrationis causa, pois a declaração não séria
tem somente fins académicos. Nos termos do referido artigo, os seus efeitos jurídicos
pura e simplesmente não o são, ou seja, o valor negativo do negócio é a inexistência
jurídica do ato, daí, nenhum direito ou obrigação nasceu na esfera jurídica de nenhum
dos sujeitos intervenientes. António e Bertílio, supondo que Bento e Bertílio partilham a
personalidade jurídica.
Irritado por não ter ficado com a mota, Bento encontra o professor António no
bar e hipnotiza-o. Neste estado, António assina um contrato de doação da mota. Quid
iuris?
Vontade e declaração…
O artigo 246º consagra a coacção física, nos termos em que é definível como
força exterior ao agente que o leva a assumir um comportamento declarativo
independentemente da sua vontade, totalmente repelida e censurada por essa força. É
uma das modalidades da falta de vontade, a par da declaração não-séria e da falta de
consciência na declaração. A coacção é designada por vis absoluta quando é física e vis
relativa quando é psicológica (vício na formação da vontade). Na hipótese da hipnose,
Castro Mendes enquadra-a no âmbito da coacção física, entendimento que é de perfilar.
Da parte do declarante não existe vontade de ação, vontade de declaração, nem vontade
negocial, logo, há inexistência de vontade funcional, apesar do comportamento exterior
com relevo declarativo Como tal, a sua consequência jurídica é a inexistência jurídica
do ato, pelo que o contrato de doação da mota assinado pelo professor em estado de
hipnose inexiste, portanto, não produzirá qualquer efeito jurídico nas esferas jurídicas
dos intervenientes. Bento poderá ainda incorrer em responsabilidade criminal.
Acrescente-se ainda que não haverá lugar a indemnização.
António, hospedado no Hotel Ritz, em Lisboa, entra, por engano, numa sala
onde decorria um leilão de antiguidades e, ao deparar com Bento, seu amigo de
infância, acena entusiasticamente na sua direcção.
O leiloeiro, ao ver o seu gesto diz: “1 milhão uma, 1 milhão duas, 1 milhão três,
vendido por um milhão de euros ao senhor que acabou de entrar na sala! Os meus
parabéns!”.
António, assustado, diz que “não era sua intenção oferecer qualquer quantia”.
Quid iuris?
Não poderá haver erro sobre a pessoa do declaratário, pois refere-se, claramente
ao objecto negocial e não à pessoa de Bento, pelo que excluiremos, desde já essa opção.
Poderá haver erro sobre o objecto negocial? No que toca ao erro sobre o objecto
negocial, convém dilucidarmos que nos referimos ao objecto material pois falamos na
sua identidade ou qualidades objectivas (nunca subjectivas, caso contrário, 252ºCC). O
erro abrangido pelo 251º CC, em qualquer das modalidades é relevante nos termos do
247º CC, o preceito que consagra o erro na declaração. Deste modo, o erro vício sobre o
objecto ou a pessoa do declaratário só é relevante para fins anulatórios quando este
conhecesse ou não devesse ignorar a essencialidade, para o declarante, do motivo sobre
que incidiu o erro (247º). O conhecimento ou a cognoscibilidade referem-se, à
essencialidade do motivo do erro.
Perfilando esta segunda posição, também não poderemos advogar qualquer erro
sobre a base do NJ, já que não há conhecimento bilateral da essencialidade do elemento
sobre que recaiu o erro. Nem erro sobre os motivos – a categoria residual – já que lhe
falta o necessário acordo.
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/dbf335787790
04b980257734003168c9?OpenDocument&Highlight=0,erro
Não poderá haver erro sobre a pessoa do declaratário, pois refere-se, claramente
ao objecto negocial e não à pessoa de Bento, pelo que excluiremos, desde já essa opção.
Poderá haver erro sobre o objecto negocial? No que toca ao erro sobre o objecto
negocial, convém dilucidarmos que nos referimos ao objecto material pois falamos na
sua identidade ou qualidades objectivas (nunca subjectivas, caso contrário, 252ºCC). O
erro abrangido pelo 251º CC, em qualquer das modalidades é relevante nos termos do
247º CC, o preceito que consagra o erro na declaração. Deste modo, o erro vício sobre o
objecto ou a pessoa do declaratário só é relevante para fins anulatórios quando este
conhecesse ou não devesse ignorar a essencialidade, para o declarante, do elemento
sobre que incidiu o erro. O conhecimento ou a cognoscibilidade referem-se, à
essencialidade do elemento do erro.
De salientar que o erro sobre o objecto negocial também seria anulável pelo erro
sobre a base do NJ, na medida em que há, como bem diz Castro Mendes, um erro
bilateral sobre as condições patentemente fundamentais do negócio. A base do NJ são
circunstâncias fulcrais para ambas as partes, ou, na hipótese de o serem só para uma
delas, a outra não poderia deixar de a considerar condicionante do NJ, sem violar os
princípios da boa-fé. Nas palavras do legislador, são “as circunstâncias em que as partes
fundaram a decisão de contratar” (437º nº1). Posto isto, há erro se as partes, ao
celebrarem certo NJ, dão como verificadas certas circunstâncias que, ou não existem, ou
são diferentes das que elas tomaram como certas. Qual será, então, o valor negativo do
erro sobre a base do NJ? Já sabemos que não será, certamente, a resolubilidade. Ora
bem, tratando-se de um vício contemporâneo da celebração do NJ, está em causa o valor
do acto nesse momento (vício genético, não superveniente).
António comprou na Fnac, por 1000 euros, um gira-discos. Fê-lo depois de ter
consultado os preços em várias lojas, convencido de que este era o melhor preço.
Todavia, dias depois de ter efetuado a compra, apercebe-se que, numa pequena loja
perto de sua casa, existe um aparelho igual 200 euros mais barato.
Perante isto, dirigiu-se à Fnac para devolver o aparelho, alegando que nunca
teria comprado o gira-discos se soubesse que o conseguiria comprar mais barato. Quid
iuris?
será anulável. Toda essa exclusão resulta do facto de não preencher o requisito essencial
para o declaratário – a FNAC - de que este conhecesse ou não devesse ignorar a
essencialidade, para o declarante – António -, do elemento sobre que incidiu o erro. O
conhecimento ou a cognoscibilidade referem-se, à essencialidade do elemento do erro, e
a Fnac não poderia adivinhar se ele estaria a comprar o gira-discos por ser o mais
barato, por ser o mais bonito, por apreciar aquela marca, para oferecer a um amigo,
enfim… Muito menos se falaria no erro bilateral que caracteriza o erro sobre a base do
NJ.
27. O hipocondríaco
António, advogado, supondo estar gravemente doente e que, por isso, não mais
poderia exercer a sua profissão, doa a Bento uma valiosa coleção de discos. Tendo
recebido entretanto o resultado das análises, António verifica que, afinal, o seu
problema não passa de uma mera infeção temporária e sem qualquer gravidade. Pode
anular a doação?
Definição de doação…
A única hipótese de erro que pode ocorrer seria erro sobre a base do NJ, já que
não falamos da pessoa do declaratário nem do objecto negocial. Veremos…
→ Erro sobre base do NJ (252º nº2) – Antes de mais, a que nos referimos
quando falamos nas “bases do negócio”? Ao celebrar certo negócio, existem várias
circunstâncias de facto ou de direito, que mais ou menos determinam as partes a praticar
este ou aquele acto, com este ou aquele conteúdo. A “base” do NJ é, então, constituída
por essas circunstâncias que, sendo conhecidas de ambas as partes, foram tomadas em
consideração por elas na celebração do acto e determinaram os termos concretos do
conteúdo do negócio. Como bem diz Castro Mendes, a ideia central no erro sobre a base
de contratar” (437º nº1). Posto isto, há erro se as partes, ao celebrarem certo NJ, dão
como verificadas certas circunstâncias que, ou não existem, ou são diferentes das que
elas tomaram como certas.
Bento, professor, foi colocado a dar aulas em Vila Real de Santo António.
Quando preparava a sua mudança de Lisboa, arrendou a Carlos, através da internet, uma
casa em Vila Real de Trás-os-Montes.
d) Imagine que o negócio é anulável, mas que Benjamim, por mero acaso,
tem uma casa exactamente igual em Vila Real de Santo António, com a mesmo renda e
à mesma distância da escola. Pode Benjamim forçar Américo a arrendar esta casa?
→ Erro sobre base do NJ (252º nº2) – Antes de mais, a que nos referimos
quando falamos nas “bases do negócio”? Ao celebrar certo negócio, existem várias
circunstâncias de facto ou de direito, que mais ou menos determinam as partes a praticar
este ou aquele acto, com este ou aquele conteúdo. A “base” do NJ é, então, constituída
por essas circunstâncias que, sendo conhecidas de ambas as partes, foram tomadas em
consideração por elas na celebração do acto e determinaram os termos concretos do
conteúdo do negócio. Como bem diz Castro Mendes, a ideia central no erro sobre a base
do NJ é a de um erro bilateral sobre as condições patentemente fundamentais do
negócio. São circunstâncias fulcrais para ambas as partes, ou, na hipótese de o serem só
para uma delas, a outra não poderia deixar de a considerar condicionante do NJ, sem
violar os princípios da boa-fé. Nas palavras do legislador, são “as circunstâncias em que
as partes fundaram a decisão de contratar” (437º nº1). Posto isto, há erro se as partes, ao
celebrarem certo NJ, dão como verificadas certas circunstâncias que, ou não existem, ou
são diferentes das que elas tomaram como certas. Realce-se que as circunstâncias
devem sempre ser contemporâneas ou passadas em relação ao momento da celebração
do negócio. Não inclui, pois, o instituto da pressuposição (437ºCC). Esta modalidade de
erro pode referir-se a quaisquer circunstâncias determinantes da celebração do acto,
desde que revistam as características e requisitos supracitados. Ele é, também
cumulativo face a outras modalidades, desde que essas circunstâncias constituam
também base do NJ, por exemplo no caso da contratação de um famoso pintor para
ornamentar uma parede de nossa casa, quando depois se descobre que não era aquele
artista que desejávamos (erro sobre a pessoa do declaratário e erro sobre a base do NJ).
No que ao seu regime diz respeito, reparos há a fazer relativamente à remissão do 252º
nº2 para o 437º e seguintes. Como é óbvio, não fará sentido falar de resolução. O que o
nº2 do 252º pretende apenas dizer é que o erro sobre a base do negócio é relevante nos
termos em que o seja a alteração das circunstâncias, ressalvadas as diferenças entre as
duas figuras. O que a remissão verdadeiramente significa é que o erro sobre a base do
NJ só releva se incidir sobre circunstâncias patentemente fundamentais para a decisão
de contratar, sendo essas circunstâncias comuns a ambas as partes, ou a outra parte não
poderia deixar de aceitar como condicionante do negócio, segundo a boa-fé, pois a
manutenção do mesmo NJ como fora celebrado, seria atentatório da tutela confiança.
Qual será, então, o valor negativo do erro sobre a base do NJ? Já sabemos que não será,
certamente, a resolubilidade. Ora bem, tratando-se de um vício contemporâneo da
celebração do NJ, está em causa o valor do acto nesse momento (vício genético, não
superveniente). Como tal, a solução para esse tipo de vício é a anulabilidade, ou a
modificabilidade, segundo juízos de equidade, à luz do 437º CC.
Desta feita sim, se considerarmos que o NJ é anulável por ter havido erro sobre a
base do NJ, o mesmo será potencialmente modificável, por alteração das circunstâncias
vigentes no momento em que o contrato foi concluído, segundo juízos de equidade
(252º nº2, 437º nº1). O Bento poderá então, modificar o contrato para que Carlos lhe
arrende a casa em Vila Real de Santo António. Acrescente-se que este é um dos casos
em que a equidade é fonte de direito (4º a) CC).
→ Erro sobre base do NJ (252º nº2) – Antes de mais, a que nos referimos
quando falamos nas “bases do negócio”? Ao celebrar certo negócio, existem várias
circunstâncias de facto ou de direito, que mais ou menos determinam as partes a praticar
este ou aquele acto, com este ou aquele conteúdo. A “base” do NJ é, então, constituída
por essas circunstâncias que, sendo conhecidas de ambas as partes, foram tomadas em
Desta forma, constatamos que há erro sobre a base do NJ, na medida em que
ambas as partes, a sociedade produtora de eventos XPTO e a Pavilhão Atlântico S.A.,
30. Dolo
António, que se tem por bom conhecedor de arte, entra numa galeria e logo se
entusiasma por um quadro que atribui a Júlio Pomar.
(segundo as concepções dominantes no comércio jurídicos), o que nos revela que a lei
só proíbe o dolus malus. Estaremos perante dolus malus?
Não poderá ser nem erro sobre a pessoa do declaratário, nem erro sobre a base
do NJ, na medida em que o erro bilateral é entre o declarante, António, e o terceiro
estudante, Carlos, a única hipótese que se concebe será o erro sobre o objecto negocial
material…
No que toca ao erro sobre o objecto negocial, convém dilucidarmos que nos
referimos ao objecto material quando falamos na sua identidade ou qualidades
objectivas (nunca subjectivas, caso contrário, 252ºCC), e ao objecto jurídico quando
abordamos o conteúdo do objecto negocial. O erro abrangido pelo 251º CC, em
qualquer das modalidades é relevante nos termos do 247º CC, o preceito que consagra o
erro na declaração. Deste modo, o erro-vício sobre o objecto ou a pessoa do declaratário
só é relevante para fins anulatórios quando este conhecesse ou não devesse ignorar a
essencialidade, para o declarante, do motivo sobre que incidiu o erro.
Alberto, durante uma noite de muitos copos, acorda com Benilde a venda do seu
valioso relógio, presente do seu avô, por 20 euros.
a) No dia seguinte, Alberto pretende reaver o seu relógio. Como o poderá fazer?
Tanto poderíamos resolver este caso pela incapacidade acidental, como pela
usura, como pela falta de consciência na declaração, mas avançaremos pelo problema
que se nos afigura como mais óbvio, o da incapacidade acidental de Alberto decorrente
da embriaguez.
Nos termos do artigo 257º, a declaração de Alberto feita pelo mesmo em estado
de embriaguez – onde tem a sua vontade viciada pelo álcool, faltando vontade de acção,
mas não havendo vontade nem consciência da declaração, faltando, por isso, a vontade
funcional – é anulável desde que provado por Alberto que o facto seja notório ou
conhecido do declaratário. Como tal, o NJ padece de um vício de anulabilidade,
arguível por António, o interessado (que tem à sua disposição todos os meios de prova,
segundo o 342º nº1, e s.s., pois trata-se da arguição de um facto constitutivo de um
direito, o direito a arguir a anulação, havendo presunção de inocência de Bento), nos
termos do 254º e do 287º, até 1 ano após a cessação do vício, ou seja, quando ele teve
conhecimento do NJ que fez e, como tal, postulando os efeitos retroactivos do 289º. Os
efeitos da declaração de anulação serão de dúplice ordem, divididos em atos jurídicos e
materiais. Nos primeiros, dar-se-á precisamente, a destruição da transmissão derivada
translativa do direito de propriedade, enquanto nos segundos se dará a restituição das
prestações já efectuadas por cada um dos contraentes, o pagamento do preço e a entrega
do relógio. Benilde poderá, ainda, incorrer em responsabilidade pré-contratual por
violação dos deveres de segurança, por se ter aproveitado da fragilidade de Alberto.
Talvez pela usura o caso fosse melhor resolvido. Na definição avançada pelo
282º nº1 do CC, o NJ diz-se usurário quando alguém, explorando a situação de
necessidade, inexperiência, ligeireza, dependência, estado mental ou fraqueza de
carácter de outrem, obtiver deste, para si ou para terceiro, a promessa ou a concessão de
Neste caso, a solução mais apropriada seria a anulação pura e simples do NJ, nos
termos do 282º, segundo o regime geral do 287º e os efeitos do 289º, já adiantados na
solução pela incapacidade acidental.
b) Será relevante o facto de Alberto ser conhecido “por beber muito, mas sem
nunca perder a compostura, nunca parecendo que está embriagado”.
Se não fosse, o NJ não poderia ser anulável por não preenchimento do requisito
da incapacidade acidental. O NJ poderia, ainda assim, ser anulado por falta de
consciência na declaração ou por usura, como já referido.
António entende que estamos perante uma situação de coacção moral, terá
razão?
Temor reverencial não constitui coacção, como nos diz o 255º nº3. Este traduz-
se no receio de desagradar a certa pessoa de quem se é psicológica, social ou
economicamente dependente, e não há coacção pelo facto da ameaça não ser ilícita, mas
enquadrar-se no exercício normal de um direito. Como é óbvio, se este direito for
excedido, deixa de haver temor reverencial e pode haver coacção moral, ou até usura.
Este exemplo serve para discernir o que se entende por exercício normal ou exercício
abusivo de um direito (anormal).
Posto isto, quais serão os requisitos para a relevância prática da coacção moral?
Tal como no erro qualificado por dolo, é necessário que o medo resulte da ameaça do
mal, e que o medo causado pela ameaça seja a causa da declaração. Como podemos ver,
falamos mais uma vez da dupla causalidade – cuja prova impende sobre quem se queira
valer desse direito (342º nº1). Verificando-se este requisito, a declaração negocial é
anulável, não necessitando de haver, forçosamente, prejuízo para o coagido, ainda que
quase sempre haja. Assim como no erro provocado por dolo, cumpre distinguir, mais
uma vez e como já referido, se o erro provém do declaratário ou de terceiro, sendo o
regime distinto para cada situação…
Neste caso, não está presente o requisito da ilicitude da ameaça, já que o pedido
de cumprimento da dívida e ameaça de execução do património é um direito normal do
credor. Como tal, não haverá coacção moral e António não terá razão.
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/4702dc370314
a61580257b13003dcf9f?OpenDocument&Highlight=0,usura
33. O taxista
Usura como vícios na vontade (282º a 284º CC). Na definição avançada pelo
282º nº1 do CC, o NJ diz-se usurário quando alguém, explorando a situação de
necessidade, inexperiência, ligeireza, dependência, estado mental ou fraqueza de
carácter de outrem, obtiver deste, para si ou para terceiro, a promessa ou a concessão de
benefícios excessivos ou injustificados.
pertencer, por absurdo, à própria vítima, já que a consciência ou intenção pode advir de
quem quer que seja.
Artur escreveu uma carta a Bento, propondo-lhe a venda, por 500 euros,
de uma enciclopédia. Esta carta esclarecia que tal preço correspondia ao valor de 50
euros por cada um dos 10 volumes que compunha a enciclopédia.
Por proposta contratual, entenda-se a declaração pela qual uma pessoa manifesta
a sua intenção de celebrar determinado negócio, destinando-se a integrar o
correspondente conteúdo se ele vier a celebrar-se. A proposta é, regra geral, uma
declaração recipienda, segunda aproximação adiante explicitada. A proposta contratual,
enquanto declaração negocial unilateral (Menezes Cordeiro e Ferreira de Almeida),
deve reunir as seguintes três (ou quatro) características indispensáveis. Enunciemo-las,
para, de seguida, as desenvolvermos:
→ Completa e precisa
→ Firme
→ Formalmente adequada
Averiguamos que a proposta reúne todos estes requisitos, mas avancemos com a
definição sumária de cada um deles.
→ Precisão - A proposta, uma vez aceite, não pode deixar dúvidas sobre os
elementos componentes do contrato celebrado, mas este requisito não deve, todavia, ser
exacerbado.
Há erro na declaração quando alguém, por lapso, manifesta uma vontade que
não corresponde à sua vontade real. Sublinhe-se a importância do “lapso”, como
plataforma da não intencionalidade do erro: o declarante pretendia manifestar a sua
vontade em termos adequados, mas há uma circunstância acidental e alheia à sua
vontade que o impede de o fazer, como um engano na identificação do prédio objecto
do NJ, ou na indicação do valor do preço. Os mais comuns são os chamados erros
materiais (mecânicos, lapsus linguae e afins), ou por desconhecimento da língua.
Mas esse erro é ostensivo ou cognoscível, pelo que não é relevante para fins
anulatórios, na medida em que é solúvel pelas regras da interpretação constantes do
236º - declaratário normal apercebe-se que após Bento dizer que aceita o valor de cada
um dos 10 volumes, não poderá estar a querer dizer 400 euros, mas 500.
Posto isto, não haverá erro relevante e Bento não poderá anular o NJ, pelo
menos fazendo uso do erro na declaração, só poderá ser outro qualquer vício afectar o
NJ, outro qualquer a que não teremos acesso pelo enunciado.
António <----------------------------------------------------------------------------------
Bento
- - - - - - - - - - -
-
António <----------------------------------------------------------------------------------
Bento
- - - - - - - - - - -
-
→ Lei (arrendatário)
António e Bento alegarão que o valor é de 500 mil euros, o valor efectivamente
pago para a C/V do imóvel de Bento. Carlos dirá que nada tem a ver com isso, pois o
valor declarado na escritura pública é outro.
→ Pactum simulationis
Mas quem estará abrangido por este regime? Só os que sofreriam um prejuízo
caso vissem o NJ simulado invalidado, como o sub-adquirente do simulador comprador
em caso de simulação absoluta? Ou também aquelas que tiram vantagem da sua
validade e que sofrem uma desvantagem se ele for invalidado e os efeitos desta lhes
forem oponíveis, como nos casos de simulação de valor em que o terceiro preferente
perde o benefício de preferir pelo preço (necessariamente mais baixo) do negócio
simulado? Ou, pura e simplesmente, todos, incluindo os que meramente perdem um
benefício? Esta última resposta é a que melhor se adequa à letra e história do preceito,
ainda que com ressalvas. O entendimento correto redunda na compreensão teleológica
do consignado no 243º CC – impedir que a invalidação do acto simulado venha pôr em
causa direitos adquiridos por terceiros de boa-fé, na medida em que o terceiro não deve
ser prejudicado pelo facto de o simulador invocar a sua própria torpeza. Aqui entra a
ressalva: tais razões não valem no caso de o terceiro apenas tirar vantagem da
manutenção do NJ simulado, pois o aproveitamento do terceiro seria também
censurável. Mesmo se Carlos estivesse de boa-fé, apenas não tem o benefício do
desconto de 200 mil euros. Por tudo isso, ele não pode ser considerado terceiro de boa-
fé, tal facto seria censurável! O regime do 243º nº1 não é, então, aplicável a Carlos, pelo
que a declaração de nulidade é-lhe oponível, não podendo ele substituir-se a António no
NJ por 300 000 euros (pois é nulo), mas somente por 500 mil euros (NJ dissimulado).
Mas tudo isto pressupõe que o NJ dissimulado entre António e Bento seja
válido. Mas será? Tudo dependerá de preencher, ou não, os requisitos de substância e
forma comuns a qualquer outro NJ.
Aqui, o 241º nº2, quando aplicado a negócios dissimulados para cuja celebração
a lei exija documento autêntico ou particular autenticado, não pode ser interpretado no
sentido de exigir que o próprio negócio dissimulado seja celebrado pela forma
legalmente prevista para o tipo negocial em causa, se assim fosse, o preceito conduziria
à invalidade sistemática do negócio dissimulado, quando a forma legal exigida para este
fosse a escritura pública ou o documento particular autenticado. Só se fossem parvos é
que estariam a revelar, perante uma autoridade pública, todo o esquema que pretendem
montar para dissimular o verdadeiro negócio! Por exemplo, se A e B celebram por
escritura pública uma compra e venda simulada de um imóvel, para encobrirem uma
doação (negócio dissimulado), é evidente que não vão celebrar por escritura pública ou
documento particular autenticado o contrato de doação, pois, se o fizessem, estariam a
revelar o negócio que pretenderam esconder com a simulação – cominando a sua
invalidade.
Desta forma, e para solucionar estes problemas, deve-se ter em conta o regime
do âmbito da forma legal (221º CC, já estudado). Para que o NJ dissimulado formal
cumpra os requisitos de forma basta somente que os elementos do negócio dissimulado
para os quais seja determinante a exigência da forma legal constem de documento que
revista as formalidades exigidas por lei para o negócio dissimulado (após o apuramento
das razões subjacentes à exigência de forma, e da sua aplicabilidade, ou não às
estipulações essenciais ou acessórias em causa). Esse documento poderá ser o próprio
documento onde se consubstancia o negócio simulado ou qualquer outro documento.
Caso não seja encontrado nenhum documento onde concorram tais elementos, o NJ
António <----------------------------------------------------------------------------------
Bento
- - - - - - - - - - -
→ Lei (arrendatário)
→ Pactum simulationis
O negócio dissimulado não é afectado no seu valor jurídico, pela simulação, mas
sim apreciado em si mesmo como um NJ comum, como se não houvesse qualquer
dissimulação. Desta forma, será válido ou inválido (anulável, nulo, inexistente)
consoante preencha os requisitos de validade que a lei exige para um negócio do seu
tipo. Quanto a requisitos substanciais, nada indica que estejam em falta (por exemplo,
vícios na vontade). Mas e os requisitos formais (forma, tipo negocial, objecto e
sujeitos)?
Aqui, o 241º nº2, quando aplicado a negócios dissimulados para cuja celebração
a lei exija documento autêntico ou particular autenticado, não pode ser interpretado no
sentido de exigir que o próprio negócio dissimulado seja celebrado pela forma
legalmente prevista para o tipo negocial em causa, se assim fosse, o preceito conduziria
à invalidade sistemática do negócio dissimulado, quando a forma legal exigida para este
fosse a escritura pública ou o documento particular autenticado. Só se fossem parvos é
que estariam a revelar, perante uma autoridade pública, todo o esquema que pretendem
montar para dissimular o verdadeiro negócio! Por exemplo, se A e B celebram por
escritura pública uma compra e venda simulada de um imóvel, para encobrirem uma
doação (negócio dissimulado), é evidente que não vão celebrar por escritura pública ou
documento particular autenticado o contrato de doação, pois, se o fizessem, estariam a
revelar o negócio que pretenderam esconder com a simulação – cominando a sua
invalidade.
Desta forma, e para solucionar estes problemas, deve-se ter em conta o regime
do âmbito da forma legal (221º CC, já estudado). Para que o NJ dissimulado formal
Numa das suas habituais idas ao restaurante, deixa lá o menu falso. Momentos
depois, esse menu é entregue na mesa de Carlos que, vendo na lista uma garrafa de
Henri Jayer Richebourg Grand Cru de 1986 a bom preço – António decidiu que essa
garrafa iria custar apenas 1000 euros, em vez dos originais 11 000 euros –, decidiu
pedir.
Todo este problema tem a sua resolução adstrita ao artigo 236º, onde se
estabelecem as regras da interpretação negocial. O tal artigo consagra o regime geral de
consagração da importância da vontade e da declaração no nosso ordenamento. Há
quem identifique nele uma visão objectivista, presente no nº1, e outros, como Carvalho
Fernandes, que dão maior relevo ao nº2 onde se dá prevalência à vontade real, sempre
que conhecida. Qual será a vertente preponderante no nosso CC?
Quais são, então, os requisitos de relevância do erro não conhecido? O 247º fixa
dois (aferidos pelo tribunal, claro está): a essencialidade, para o declarante, do elemento
(preço, objecto material ou jurídico do negócio) sobre que recaiu o erro, E o
conhecimento dessa essencialidade, ou dever de não a ignorar, por parte do declaratário.
O primeiro, a essencialidade, traduz-se na necessidade do erro incidir sobre um
elemento decisivo para a intenção de celebrar o NJ. Esta pode ser, ainda, absoluta,
quando influi na decisão de celebrar o negócio em si mesmo, ou relativa, quando apenas
influi nos termos em que o negócio é concluído. O segundo refere-se à essencialidade
do elemento sobre que recaiu o erro, e já não o erro em si. Não é exigido que o erro seja
desculpável, mas, quanto menos o for, mais difícil será para a contraparte se aperceber
do mesmo, pelo que é o melhor é observar, ao máximo, o ónus de adequada expressão.
“Quero reservar dois quartos com três camas, para a noite de 31 de Dezembro de
2015.”
António queria reservar dois quartos, um com duas camas e um com uma
cama. No entanto, quando chegou ao hotel, deparou-se com a reserva de dois quartos,
cada um com três camas, num total de seis. Com que sentido deve valer este negócio?
Quais são, então, os requisitos de relevância do erro não conhecido? O 247º fixa
dois: a essencialidade, para o declarante, do elemento (preço, objecto material ou
jurídico do negócio) sobre que recaiu o erro E o conhecimento dessa essencialidade, ou
dever de não a ignorar, por parte do declaratário. O primeiro, a essencialidade, traduz-se
na necessidade do erro incidir sobre um elemento decisivo para a intenção de celebrar o
NJ. Esta pode ser, ainda, absoluta, quando influi na decisão de celebrar o negócio em si
mesmo, ou relativa, quando apenas influi nos termos em que o negócio é concluído. O
segundo refere-se à essencialidade do elemento sobre que recaiu o erro, e já não o erro
em si. Não é exigido que o erro seja desculpável, mas, quanto menos o for, mais difícil
será para a contraparte se aperceber do mesmo, pelo que é o melhor é observar, ao
máximo, o ónus de adequada expressão.
42. A biblioteca
c) António alugou o seu carro a Bento, tendo acordado que o contrato produziria
efeitos a partir do mês seguinte ao da sua celebração e que vigoraria pelo prazo de dois
anos.
e) António contrata com Bento que este pinte um retracto de sua mãe, pelo preço
de € 500. Nos termos do contrato celebrado, “No caso de Bento incumprir a sua
obrigação, pagará € 750 a António”.
António compra a Bento um carro, tendo ficado acordado que: “no caso de no
prazo de dois anos a contar da data da celebração deste contrato o comprador não
obtiver licença para condução, fica o contrato sem efeito”.
Tal como combinado com Carlos, António chumba no exame. Quid iuris?
Estamos perante um contrato de compra e venda a que foi aposta uma cláusula
acessória.
Esta violação conduziria, mais uma vez, à nulidade das referidas cláusulas (12º),
mas a uma possível subsistência do contrato (13º nº1 e nº2). Os funcionários
incorreriam ainda em responsabilidade penal por furto qualificado.
3.ª - As condições contratuais podem, a todo o tempo, ser alteradas pela seguradora,
mediante carta remetida para o domicílio dos segurados;
5.ª - Sempre que as instalações da Seguradora se encontrem em obras, esta não será
responsável por eventuais danos pessoais ou patrimoniais sofridos pelo segurado ou
seus acompanhantes em deslocações às mesmas instalações”.
Quid Iuris?
2ª – Pode.
3ª – 19º h)
5ª – 18º a) b)
- A consequência é a nulidade de todas estas cláusulas (12º) com excepção da 2ª, sendo
que o 13º nº1 e nº2 permitem que o contrato ainda subsista, o que assegura a protecção
equilibrada dos dois contraentes.
Nota: na resolução desta hipótese, partimos do princípio que António age no âmbito da
sua actividade de empresário, enquanto profissional liberal (arquitecto), o que nos
exclui dos números 20º, 21º e 22º da LCCG.
Francisco, indignado com a empresa, pretende saber que meios que tem à sua
disposição para se defender e para obstar à utilização de semelhantes cláusulas em
contratos celebrados com futuros clientes.
Para se defender…
b) Neste caso, apesar dos motivos para suspeitar da violação dos deveres de informação
(6º, 8º b) - 9º), viola claramente o 18º b) c) através do 20º e 17º LCCG (talvez 21º d)).
As cláusulas serão nulas pelo 12º, mas pelo 13º nº1 o contrato pode subsistir. Haverá
ainda lugar a responsabilidade civil extracontratual (Dano, Acto voluntário, Ilicitude
(infracção de normas jurídicas sem justificação), Culpa (relação de meios-fim que
resulta num juízo de censura), com as modalidades:- Negligência consciente (fuga aos
deveres de cuidado que ao caso se impunham) - Nexo de causalidade (entre o acto e o
dano causado)), nos termos do artigo 483º CC, por violação de deveres genéricos, com
presunção de inocência, com indemnização a ser fixada pelo interesse positivo e por
danos não patrimoniais.
Logo… se for anterior Francisco não tem razão, se for posterior tem. Mas
mesmo que seja anterior, Francisco pode invocar o 9º nº2 para destruir todo o contrato
pelos motivos já aventados.
Nota: neste caso, partimos do princípio que Francisco não é um empresário ou entidade
equiparada no ramo agrícola, mas um mero consumidor final.
TÓPICOS
“PARA UMA RESPOSTA COMPLETA”
- Definir tipo negocial (ex. compra e venda real quoad effectum, consensual,
sinalagmático, oneroso), se possível com recurso aos artigos do CC onde a matéria vem
regulada.
→ Objecto negocial
→ Modalidades da declaração
- Definir declaração expressa e tácita, com maior enfoque pela que estiver em causa no
negócio. Se for tácita, distinguir entre tácita s.s. e presumida ou ficta.
→ Forma da declaração
Nota: Atenção às presunções legais do 221º nº1 e do 223º nº1 e à sua ilidibilidade
mediante prova (difícil),nos termos do 350º nº2 (iuris tantum).
→ Representação
→ Falta de vontade
→ → Erro
- Havendo erro-vício causal, aferir se estamos perante erro simples ou erro qualificado
por dolo, definindo o que ao caso disser respeito.
- Havendo erro-vício causal qualificado por dolo, enquadra-lo numa das suas 3
modalidades e submodalidade. Ter sempre atenção que este tipo de erro-vício
comummente se consubstancia como um incumprimento do dever legal de elucidar o
declarante (252º nº2).
→ → Medo
→ → Usura
→Vícios da declaração
→ → Simulação
- Definir simulação enquanto divergência intencional com base nos seus 3 requisitos do
240º e distingui-la da reserva mental.
Nota: A prova da simulação é de conhecimento oficioso pelo tribunal, pelo que poderá
ser elaborada independentemente de qualquer interessado.
Nota: a simulação de valor é, quase sempre, a única que não enferma a validade do NJ
dissimulado. Simulações subjectivas (interposição fictícia de pessoas) ou objectivas
(natureza ou conteúdo), por seu turno, raramente garantem a validade autónoma do NJ
dissimulado. A prova da simulação é de conhecimento oficioso pelo tribunal, pelo que
poderá ser elaborada independentemente de qualquer interessado.
- Aferir se quem intenta arguir a simulação tem legitimidade para o fazer nos
termos do 242º e do 286º, tendo em consideração as categorias mais comuns e especiais
de terceiros interessados na nulidade, nomeadamente os sub-adquirentes, os herdeiros
legitimários, os credores e os preferentes.
→ → Reserva mental
→ → Erro na declaração
- Havendo erro na declaração não conhecido nem cognoscível, há que fixar o seu
regime, que segue o 247º e o requisito do conhecimento ou dever de não ignorar, para o
declaratário, da essencialidade do elemento sobre que recaiu o erro do declarante.
→ → Erro no entendimento
→ Interpretação do NJ