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I – DIREITO DAS FAMÍLIAS

Direito de família = Ramo do direito privado – direito civil. Em razão da


importância, indisponibilidade, dentre outras características, o direito de família,
embora sendo ramo do direito privado, possui viés público, já que seus institutos são
considerados de ordem pública, sendo, inclusive, protegidos pela Constituição
Federal, de maneira a assegurar o mínimo de condições indispensáveis à existência
de todos os membros da sociedade, conferindo-lhes maior proteção. O viés público
que o direito de família possui se dá em razão do especial interesse que o Estado
tem na proteção da família como célula básica, de especial importância na
sociedade e para que o próprio Estado se mantenha.
ATENÇÃO: as questões podem conter expressões como “ramo do direito civil com
viés publicista” – estaria verdadeira. Se, contudo, contiver a expressão “ramo do
direito público” – está errada.

Formas de família: atentar para a existência de diferentes formas de família.


Tradicional (matrimônio), informal (união estável), monoparental (um dos pais e sua
prole), homoafetiva (casais homossexuais), mosaico (fruto de divórcios e novos
casamentos = “os meus, os teus e os nossos filhos”), multiespécie (modelo de
família constituída pelos donos e animais de estimação – membros não humanos),
etc.

Existem diferentes tipos de família  Família consanguínea (onde há laços


genéticos e sanguíneos, relação de ascendência e descendência); Família afetiva
(não há laços genéticos, mas de afeto); Família por afinidade (em razão do
matrimônio ou da união estável, parentesco entre o cônjuge ou companheiro e os
parentes do outro: sogro/a, cunhado/a, enteado/a).

1. Características do Direito de família:


É um direito personalíssimo, por ser voltado à tutela da pessoa, aderindo à
sua personalidade em virtude de sua posição na família durante toda a vida, isto é,
são intransferíveis, intransmissíveis (não se transfere por ato jurídico, nem inter
vivos, nem causa mortis), irrenunciáveis (os alimentos, por exemplo. Ninguém pode
despojar-se por vontade própria, só pode haver transação com relação ao valor.
Também não pode haver renúncia ao poder familiar). São indisponíveis, ou seja,
ninguém pode cedê-los ou renunciá-los; irrevogáveis (o reconhecimento de filho,
por exemplo), indisponíveis e imprescritíveis (em decorrência de ser
personalíssimo, não prescreve. Ex.: o direito de investigar a paternidade e pedir
alimentos). Além disso, o direito de família ainda possui as características da
universalidade (compreende todas as relações jurídico-familiares); indivisibilidade
(não se admite que uma pessoa seja considerada casada para determinadas
relações e solteira para outras); correlatividade (é recíproco, ou seja, ao estado de
marido, corresponde o estado de esposa; ao de pai, o de filho,...) e oponibilidade
(oponível contra todas as demais pessoas. Ex.: a pessoa casada é casada perante
toda a sociedade).
ATENÇÃO: muitas questões podem ser resolvidas lembrando das características
do direito de família. Ex.: irrenunciabilidade do direito a alimentos; irrevogabilidade
do reconhecimento de filiação (pode ser anulado, mas apenas nos casos de
comprovação de erro ou coação).

2. O direito de família atual – família constitucionalizada:


Apesar de ser ramo do direito privado, o direito de família deve ser interpretado
de maneira constitucionalizada. Observar os princípios da dignidade da pessoa
humana (art. 1.º, III, CF), através do qual há uma valorização da família como
núcleo pelo qual há o desenvolvimento e a promoção da dignidade dos integrantes
(exemplo de aplicação deste princípio é o abandono da discussão da culpa nos
términos de matrimônios ou, ainda, as indenizações por abandono afetivo);
solidariedade familiar (art. 3.º, I, CF), o que justifica o pagamento de alimentos em
razão da necessidade (art. 1.694, CC); igualdade entre os filhos,
independentemente da origem: biológica, afetiva ou adotiva, todos os direitos e
deveres são os mesmos, sem distinções; igualdade entre cônjuges e
companheiros (art. 226, §5.º, CF e art. 1.511, CC), tanto o homem, quanto a mulher
podem adotar o sobrenome do outro com o matrimônio, podem pedir alimentos um
ao outro, etc.; igualdade na chefia familiar (art. 1.566, III e IV, 1.631 e 1.634, CC),
não há hierarquia na condução da família, tanto o homem quanto a mulher são
chefes da família e detentores (em igualdade de condições) do poder familiar;
melhor interesse da criança (art. 1.583 e ss., CC; art. 227, CF), no
estabelecimento da guarda, por exemplo, através da alteração da lei 13.058, haverá
o compartilhamento da mesma, mesmo se os genitores estiverem em litígio, pois
visa o melhor interesse da criança, possibilitando que tenha convivência com ambos
os genitores; afetividade, com a possibilidade de reconhecimento de filiação afetiva,
manutenção da filiação afetiva em detrimento da biológica, etc.

II – DIREITO MATRIMONIAL

Até a Proclamação da República, em 1889 – apenas casamento religioso.


1891 – surgimento do casamento civil
Código Civil de 1916 – casamento como única forma de constituição de família,
não havendo outra forma de convívio que fosse aceitável. O casamento era
indissolúvel.
Desquite – possibilidade de romper com o casamento, mas que não dissolvia o
vínculo matrimonial, impedindo, portanto, novo casamento. Em razão do desquite e
da impossibilidade de constituição de novo casamento, diversas famílias informais
passaram a ser constituídas, sem que houvesse regulamentação do Estado nesse
sentido.
Lei do Divórcio (lei 6.515/1977) – estabeleceu o divórcio e a separação judicial.
(o desquite foi transformado em separação e, ainda, criado o instituto do divórcio,
que dissolvia o vínculo matrimonial, possibilitando, então, novo casamento). A
separação rompia com a relação matrimonial e o divórcio, com o vínculo
matrimonial.
CF/88 – passou a considerar como entidades familiares relacionamentos
outros, que não a família formada pelo casamento. Assim, foram reconhecidas as
famílias constituídas pela união estável e as famílias monoparentais, aquelas que
são formadas por um dos pais e seus filhos.
Código Civil de 2002 – não inovou na redação, copiando as disposições do
Código de 1916, disciplinando, apenas, situações relativas à união estável e às
famílias monoparentais.
EC 66/2010 – alterou o § 6.º do art. 226 da CF e o sistema de dissolução do
matrimônio, deixando de contemplar a separação judicial ou fática como requisito
para a extinção do vínculo conjugal. Assim, tal Emenda Constitucional estabeleceu
que o casamento pode ser dissolvido pelo divórcio, sem a necessidade de
implementação de qualquer prazo para tato (tanto consensual quanto litigioso).
ATENÇÃO: Em termos de divórcio, cuidado para o que a questão pede: ou a visão
do Código Civil (e aí deve-se considerar os prazos) ou a chamada “visão moderna”
ou “visão constitucional” (e, neste caso, considera-se apenas o divórcio).

1. Conceito e natureza jurídica do casamento:


O casamento é a união de duas pessoas que objetivam a formação de uma
família, baseando-se no vínculo de afeto, com reconhecimento e tutela do Estado,
ou seja, é um
[...] contrato especial de Direito de Família, por meio do qual os cônjuges
formam uma comunidade de afeto e existência, mediante a instituição de
direitos e deveres, recíprocos e em face dos filhos, permitindo, assim, a
realização dos seus projetos de vida1.

A partir daí surge a questão: o casamento é um contrato? Quando se pretende


definir a natureza jurídica de algum instituto do Direito, é preciso que se respondam
alguns questionamentos: o que é isso para o Direito? Em que categoria do Direito
enquadra-se esse ente?
Existem três correntes para explicar a natureza jurídica do casamento:
 Contratualista: Contrato especial de direito de família, com regras próprias de
formação, um contrato de vontades convergentes para a obtenção de fins jurídicos.
Contrato civil regido pelas normas comuns aos contratos. Aperfeiçoa-se pelo simples
consentimento das partes. Adeptos: Silvio Rodrigues, Caio Mário Pereira, Orlando
Gomes, Pablo Stolze Gagliano.

1 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. Direito de
Família – as famílias em perspectiva constitucional. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 118-119.
 Institucionalista: O casamento é uma instituição social, um estado no qual os
nubentes ingressam. Trata-se de uma instituição social que reflete a situação
jurídica emergente da vontade dos contraentes, mas que possui um conjunto de
normas imperativas e preestabelecidas pela lei (são livres para escolher o cônjuge,
mas não podem discutir sobre o conteúdo dos direitos de deveres, não sendo
possível alterar a disciplina legal de suas relações). Não se trata de contrato, mas de
um estatuto, ou seja, há uma adesão a normas já estabelecidas, sem poder adotar
outras normas. Adeptos: Arnoldo Wald; Maria Helena Diniz.
 Mista: Ato complexo, um contrato quando de sua formação e uma instituição
no que diz respeito ao seu conteúdo, existência e efeitos. O casamento-ato é um
negócio jurídico e o casamento-estado é uma instituição. Adeptos: Giselda Maria
Fernandes Novaes Hironaka, Flávio Tartuce. Esta teoria é a que conta com mais
adeptos na atualidade.

2. Esponsais ou promessa de casamento – responsabilidade pré-negocial:


É a promessa de casamento entre os nubentes. São atitudes tomadas pelos
nubentes que indicam que pretendem casar-se. Ex.: noivado, confecção dos
convites, habilitação. É um negócio preliminar, uma promessa de contratar.
Neste aspecto, Dias2 afirma que pelo nome de esponsais era considerado o
noivado, tido como um contrato escrito no qual os noivos assumiam o compromisso
de casar. Esta previsão encontrava-se explícita na Consolidação das Leis Civis (arts.
76 e seguintes). Atualmente não existe regulamentação dos esponsais.
Os esponsais servem para comprovar o compromisso assumido entre os
nubentes, que demonstre a intenção de casar, pois quando algum deles desiste do
casamento, cabe indenização (art. 186, CC).
O rompimento imotivado ou injustificado (não tem mais vontade de casar), por
si só, não dá direito a indenização moral. Cabe, no entanto, indenização por danos
materiais, já que, com base no art. 186 do Código Civil, aquele que causa dano a
alguém tem o dever de indenizar.

2DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 98.
Toda e qualquer promessa de contrato, no caso de ser frustrada, gera efeitos
na inexecução culposa. Quando um dos nubentes quebra a promessa séria de
casamento e o outro já fez preparativos para o ato e para a futura vida em comum, é
fato gerador do dever de indenizar. Essa responsabilidade é subjetiva, devendo
ser demonstrada a culpa do nubente desistente. As situações de caso fortuito ou
força maior, bem como a culpa do outro nubente afastam o dever de indenizar.
Assim, são requisitos a serem provados (IMPORTANTE OBSERVAR):
a) Existência da promessa de casamento feita pelos noivos e não por terceiros.
b) Recusa injustificada de contraí-lo, de forma que é necessário que essa recusa
chegue ao conhecimento do outro noivo;
c) Existência de dano (material ou moral);
d) Nexo causal.
O dano pode ser: moral e/ou material. A desistência injustificada de casar por
um dos nubentes gera o dever de indenizar ao outro se este comprovar que teve
despesas com o casamento (DANO MATERIAL). Mas a ruptura de noivado por si só
não determina a responsabilidade do desistente, o que pode ensejar a reparação
moral são as circunstâncias em que a outra parte foi comunicada de seu intento. Isto
porque o não cumprimento da promessa de casamento não enseja reparação, pois o
relacionamento entre duas pessoas é espontâneo, livre de coação. O DANO
MORAL vem sendo reconhecido pelos Tribunais quando o comportamento atinge
bens imateriais caros e importantes, como a dor, a humilhação, o desprezo, a
angústia e agressão à honra e à imagem da pessoa, casos em que, em qualquer
outra hipótese, diversa daquela aqui tratada, a reparação se imporia. IMPORTANTE:
Meros dissabores x humilhação pública. Ex.: chegar no altar e dizer: aceita fulana
como sua legítima esposa? “Bem, pra ser franco, não!”. O noivo vai embora e deixa
a noiva na frente do padre e dos convidados.
O dano moral está sendo deferido apenas em casos excepcionais,
quando reste evidente a humilhação e exposição de um dos nubentes a
situações vexatórias.

3. Espécies de casamento:
São admitidas duas formas de casamento (art. 226, § 1.º e § 2.º, CF): o civil
(art. 1.512, CC) e o religioso com efeitos civis (art. 1.515 e 1.516, CC). Existem ainda
outras modalidades especiais de casamento: o casamento por procuração, o
nuncupativo, o putativo, o homossexual, o consular, o de estrangeiros.
 Civil: Realizado perante o oficial do Cartório do Registro Civil, pelo juiz de paz.
É ato solene levado a efeito por um celebrante e na presença de testemunhas. Pode
ser realizado nas dependências do Cartório ou em outro local. É previsto pela
Constituição no art. 226, § 1.º e no art. 1.512, CC. A celebração é gratuita para as
pessoas cuja pobreza for declarada, incluindo a habilitação, o registro e a primeira
certidão de casamento (art. 1.512, § único, CC).
 Religioso com efeitos civis: O casamento religioso com efeitos civis foi
reconhecido, no Brasil, com a Constituição de 1934, que estabeleceu que o
casamento religioso, celebrado perante um ministro de qualquer religião, produzirá
os mesmos efeitos do casamento civil, desde que fosse procedida a habilitação. A
CF/88 também faz esta previsão (art. 226, § 2.º), desde que preenchidos certos
requisitos (arts. 1.515 e 1.516, CC). Não é necessária a celebração do ato civil,
basta que o matrimônio realizado pelo ministro de Deus (de qualquer religião, não só
o casamento católico) seja registrado no Cartório de Registro Civil. Para tanto
devem ser obedecidos os requisitos da habilitação (antes ou depois do ato religioso).
Os efeitos civis são admitidos a partir do registro e a qualquer tempo, retroagindo a
data da celebração da solenidade religiosa (art. 1.515, CC). No caso de prévia
habilitação, o prazo para registro é de 90 dias. Depois desse prazo é possível o
registro, desde que efetuada nova habilitação. Portanto, realizado o casamento
religioso, poderá ser inscrito no registro civil, bastando que seja feita a devida
habilitação junto a autoridade competente (art. 1.516, CC). Se o casamento religioso
for anulado, em tendo sido procedido o registro civil do mesmo, tal não afeta a
validade deste. Se entre a celebração do casamento religioso e o registro um dos
cônjuges casar no civil com terceiro, há impedimento para efetuar o registro (art.
1.516, § 3.º, CC), pois haveria bigamia, neste caso.
 Por procuração: art. 1.542, CC. O instrumento procuratório deve ser público e
com poderes especiais (constar expressamente que é para casar com Fulano de
Tal). A procuração é válida por 90 dias. A revogação da procuração também é por
instrumento público. Se a revogação não chegar ao conhecimento do mandatário e o
casamento for celebrado o mandante responde por perdas e danos. Revogado o
mandato a lei determina que o casamento é anulável (art. 1.550, V, CC). Há a
possibilidade de o casamento ter validade na hipótese de, mesmo sendo revogado o
mandato, ocorrer a coabitação entre os cônjuges. O contato sexual entre os
cônjuges é que dá a validade ao casamento (não significa que o casamento se
consuma na noite de núpcias, mas quer evitar que exista o uso malicioso desse
expediente, conseguindo favores sexuais do cônjuge).
 Nuncupativo: É o casamento quando um dos nubentes está em iminente risco
de vida (arts. 1.540 ao 1.542, CC). Esta modalidade de casamento é realizada sem
nenhum requisito legal (celebração sem juiz de paz, sem prévia habilitação),
bastando a presença de seis testemunhas que não tenham parentesco (em linha
reta ou colateral, até segundo grau) com os nubentes. Dentro de 10 dias a contar da
celebração as testemunhas tem de confirmar o casamento perante a autoridade
judicial que, antes de mandar registrar o casamento, fará uma investigação. Não
existe previsão de ouvir o cônjuge sobrevivente. Se o nubente que estava em risco
de vida sobreviver poderá ratificar o casamento, retroagindo os efeitos a data da
celebração.
 Putativo: É o casamento que reputa verdadeiro, mas não o é. Trata-se de
casamento nulo ou anulável contraído de boa-fé (art. 1.561, CC). Neste caso, o
casamento produz efeitos com relação ao cônjuge de boa-fé, no período entre a
celebração e o trânsito em julgado da sentença que o desconstitui. Com relação aos
filhos todos os efeitos se operam. Havendo a boa-fé, sendo o casamento nulo ou
anulável, a sociedade conjugal dissolve-se, como se tivesse ocorrido a morte de um
dos cônjuges (o de má-fé), se partilhando os bens. No caso de ambos estarem de
boa-fé, o pacto antenupcial deve ser observado na partilha. Se a nulidade for
decretada após a morte de um dos cônjuges, o outro herda normalmente. Em caso
de morte: a) decretada a nulidade antes da morte, o sobrevivente não herda, pois o
término do casamento e do regime de bens ocorreu com a sentença que declarou a
nulidade ou anulação do matrimônio; b) se a nulidade for decretada após a morte de
um dos cônjuges, o outro herda normalmente. Se o cônjuge morre após a anulação,
não herdará. Se o casamento putativo for de um bígamo, morrendo este, ambos os
cônjuges serão herdeiros e a meação será divida entre ambos (25% para cada um).
 Consular: É o casamento de brasileiro, realizado no estrangeiro, perante a
autoridade consular brasileira, sujeitando-se, assim, as leis brasileiras e não à
legislação local. O registro deve ser procedido dentre do prazo de 180 dias a contar
da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no Cartório de seu domicílio ou,
em não possuindo domicílio certo, no 1.º Ofício da Capital do Estado em que
passem a residir (art. 1.544, CC). Se o registro não for feito dentro desse prazo, o
casamento não produzirá os efeitos jurídicos pela lei brasileira. Ver art. 18, LINDB.
No mesmo sentido, o art. 32 da Lei dos Registros Públicos. Aplica-se apenas em
casos de ambos os nubentes serem brasileiros e estarem casando no exterior. Se
um dos nubentes não for brasileiro, a autoridade consular não possui competência
para celebrar o casamento.
 Casamento realizado no estrangeiro: Para que o casamento de brasileiros ou
estrangeiros, realizado no exterior, tenha validade no Brasil, deve ocorrer o registro
do matrimônio no Brasil. A certidão de casamento deve ser traduzida por tradutor
juramentado e autenticada pelo agente consular brasileiro para, então, ser
registrada. Nestes termos, ver art. 32, Lei dos Registros Públicos.
 Casamento de casais homoafetivos: Em razão da Resolução 175 CNJ é
possível que casais homoafetivos celebrem casamento no Brasil – tanto por
processo de habilitação, como, também, por processo de conversão de união
estável em casamento.

4. Capacidade para o casamento:


Diz respeito a idade reconhecida para que as pessoas estejam aptas a casar.
Art. 1.517, CC = 16 anos. Contudo: 16 a 18 anos – com autorização dos pais
(de ambos os pais, salvo quando um deles não existir ou não puder emanar o
consentimento. Se um não concordar  juiz decide. Autorização pode ser revogada
até o momento da celebração do casamento (art. 1.518, CC), mas deve ser fundada
em fato novo e grave. A negativa da licença para casar deve ser baseada em
fundamentos sérios e justificáveis, de maneira que se for diferente, poderá o juiz
conceder a licença (art. 1.519, CC).
Indivíduo emancipado  não precisa da autorização dos genitores.
Poderá, contudo, ocorrer casamento de menor de 16 anos com o fim de evitar
a imposição ou o cumprimento de pena criminal ou em razão da gravidez da mulher.
Para tanto deverá haver permissão judicial (art. 1.520, CC). Nestes casos não será
anulado o casamento por motivo de idade o casamento de que resultou gravidez. O
regime de bens, quando o matrimônio é realizado fora da idade núbil é o da
separação obrigatória (art. 1.641, III, CC).
Deve-se observar, contudo que o art. 1.520, CC é polêmico, em razão das
leis 11.106/2005 e 12.015/2009. A Lei nº 11.106/05 revogou os incisos VII e VIII
do art. 107 do CP (extinção da punibilidade nos casos de estupro presumido).
A Lei 12.015/2009 passou a prever o art. 217-A, que prevê como crime a
conjunção carnal ou ato libidinoso com menor de 14 anos.
Mas e há uma idade limite para o casamento? O CC não estabelece idade
limite, mas, estabelece que aquele que tiver mais de 70 anos terá de casar sob o
regime da separação obrigatória de bens (art. 1.641, II, CC).
ATENÇÃO: A OAB, no exame de maio de 2015 (XVI) apresentou questão
dissertativa sobre a capacidade do casamento.
Após o período de relacionamento amoroso de dois anos, Mário Alberto, jovem com
17 anos de idade, e Cristina, com apenas 15 anos, decidem casar. A mãe de Mário,
que detém a sua guarda, autoriza o casamento, apesar da discordância de seu pai.
Já os pais de Cristina consentem com o casamento. Com base na situação
apresentada, responda aos itens a seguir. A) É possível o casamento entre Mário
Alberto e Cristina? B) Caso os jovens se casem, quais os efeitos desse casamento?
Há alguma providência judicial ou extrajudicial a ser tomada pelos jovens?

5. Habilitação para o casamento:


A habilitação é um procedimento administrativo, processo que corre perante o
Oficial do Registro Civil do domicílio dos nubentes com o fim de demonstrar que
estes estão legalmente aptos para o matrimônio. O Oficial, através da habilitação,
verifica a concorrência dos pressupostos de existência e validade do ato
matrimonial. Visa justamente o exame da capacidade e da aptidão, a fim de conferir
validade à celebração.
Para aquelas pessoas que tiverem a pobreza declarada na forma da lei, o
processo de habilitação, o registro e a primeira certidão de casamento estarão
isentos de custos, emolumentos e selos, nos termos do art. 1.512, § único, CC.
A habilitação é feita em um só documento, contendo os dados dos nubentes e
declarações ( Art. 1.525, CC):
 Certidão de nascimento dos nubentes ou outro documento que a supra
(carteira de identidade, passaporte...).
 Autorização dos pais, curador ou tutor Art. 1.517, CC. A necessidade de
consentimento é para nubentes entre 16 e 18 anos (quando atinge a maioridade
civil). Se o menor for emancipado, não precisa de autorização dos pais para casar.
O interdito precisa de autorização do curador. Até a celebração do casamento a
autorização emitida pelos responsáveis pode ser revogada (Art. 1.518, CC).
 Declarações de duas testemunhas sobre a identidade dos nubentes e a
inexistência de impedimento para a realização do casamento. As testemunhas
podem ser parentes ou não;
 Declaração firmada pelos nubentes (ou por procurador com poderes
especiais), com o fim de esclarecer o estado civil, profissão, filiação e domicílio (seu
e de seus pais). No caso de os nubentes residirem em locais diferentes, a
publicação dos editais deve ocorrer em ambos os lugares;
 Se um dos nubentes for viúvo, anulou ou obteve declaração de nulidade do
casamento ou se divorciou, precisa provar que o vínculo matrimonial anterior foi
dissolvido. No caso do viúvo, deve apresentar certidão de óbito do cônjuge anterior.
No caso de casamento nulo ou anulado, deve apresentar a sentença, com trânsito
em julgado, que anulou ou declarou nulo o casamento anterior. O divorciado deve
apresentar o registro da sentença de divórcio.
 Os nubentes deverão indicar o regime de bens. Em não indicando, prevalece
a comunhão parcial.
Processo de habilitação:
A habilitação ocorre no Registro Civil, com a audiência do Ministério Público –
NÃO HÁ MAIS A NECESSIDADE DE HOMOLOGAÇÃO PELO JUIZ.
Apresentados os documentos ao oficial, os pretendentes requererão certidão
de que estão habilitados para o casamento (Art. 1.517, CC, Art. 67, caput, Lei
6.015/73).
Edital se publicará pela imprensa se houver (Art. 1.527, CC, Art. 67, § 1.º, Lei
6.015/73). Se os nubentes residirem em circunscrições diversas, o edital deverá ser
publicado em ambas (Art. 67, § 4.º, Lei 6.015/73).
Função do edital = conhecimento aos terceiros para oposição de impedimento,
que devem ser opostos através de um documento escrito e assinado (Art. 1.529,
CC). Esta oportunidade perdurará até o momento da celebração do casamento.
Se ninguém opuser impedimento o Oficial certificará que os pretendentes estão
habilitados para se casar (Art. 1.531, CC, Art. 67, § 1.º§ 3.º, Lei 6.015/73) dentro dos
três meses imediatos – 90 dias (prazo da habilitação) (Art. 1.532, CC). Não se
realizando o casamento nesse prazo, a habilitação deverá ser renovada.

Documentação apresentada  estando em ordem  lavram-se os proclamas 


publicam-se mediante edital  edital afixado em local ostensivo  prazo de 15 dias
(art. 1.527, CC + art. 67, § 1.º, Lei 6.015/73)
Oficial do Registro, no processo de habilitação, esclarecer aos nubentes sobre
os fatos que podem invalidar o casamento, bem como sobre os diversos regimes de
bens (Art. 1.528, CC).
Havendo oposição = Oficial cientificará os nubentes da nota de oposição,
indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu (Art. 1.530, CC).
Os nubentes terão direito ao contraditório e a ampla defesa, tendo prazo razoável
para fazer contraprova, bem como promover ações civis e criminais contra o
oponente de má-fé (Art. 67, § 5.º, Lei 6.015/73). A decisão final será do juiz, com a
oitiva dos interessados e do Ministério Público.

6. Celebração do casamento:
Processada a habilitação, estão os nubentes em condições de casar.
A celebração é pública, de maneira que qualquer pessoa pode participar da
solenidade. O procedimento de celebração inicia-se pelo requerimento dos nubentes
indicando dia, hora e local onde deverá ser realizado o matrimônio (Art. 1.533, CC).
Via de regra realiza-se o casamento no Cartório. Entretanto pode ocorrer em
local diverso, desde que às portas abertas, para que seja público (Art. 1.534 e § 1.º,
CC). No Cartório – 2 testemunhas; Fora do Cartório (ou quando um dos nubentes for
analfabeto - Art. 1.534, § 2.º, CC) – 4 testemunhas.
A cerimônia é celebrada pelo juiz de paz, pessoa escolhida e designada
segundo as leis do Estado, não podendo haver substituição por qualquer outra
autoridade.
Juiz de paz pergunta aos nubentes se pretendem casar por livre e espontânea
vontade  sim, declarará o celebrante formalizado o casamento, nos termos da
segunda parte do Art. 1.535, CC. Neste momento o casamento passa a produzir os
efeitos. . Maria Berenice Dias defende que a perfectibilização do ato depende de um
duplo requisito: manifestação da vontade das partes e a declaração do celebrante de
que estão casados3.
Se responderem não, manifestarem dúvida (ainda que de brincadeira), a
celebração será suspensa (Art. 1.538, CC).
O registro do casamento deverá conter os dados constantes no Art. 1.536, CC.
Igualdade constitucional = qualquer dos cônjuges pode pode adotar o
sobrenome do outro. Art. 1.565, § 1.º, CC.

7. Provas do casamento:
Prova de casamento celebrado no Brasil = certidão do registro (Art. 1.543, CC);
casamento celebrado no exterior = documento emanado pelo país estrangeiro,
devidamente autenticado pelas autoridades consulares (prazo de 180 dias, a contar
da volta para o Brasil, para fazer o registro do casamento, que deverá ser feito no

3DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 166.
domicílio do casal ou no 1.º Ofício de Registro Civil da Capital do Estado (Art. 1.544,
CC) – prova direta.
Inexistindo o registro = prova indireta – admitida qualquer outra espécie de
prova (Art. 1.543, § único, CC)  ação judicial (ação declaratória ou justificação
judicial) que visa declarar o estado de casado. Ex.: Carteira de Identidade onde
conste o estado civil de casado. Também pode ser feita a prova do estado de
casado por testemunhas. No caso da ação declaratória, sua sentença deve ser
inscrita no registro civil, que produzirá seus efeitos quanto aos cônjuges e quanto a
seus filhos, desde a data do casamento (Art. 1.546, CC).
Posse do Estado de casados.
Aquelas pessoas que não possam manifestar vontade (por morte ou outra
circunstância – doença mental, por exemplo) e que vivam na posse do estado de
casadas – como se casadas fossem – poderão ter o reconhecimento do casamento,
sendo a posse do estado de casadas um início de prova.
Requisitos: a) nomen: a mulher usa o nome do marido ou vice-versa; b)
tractatus: ambos tratam-se, ostensivamente, como marido e mulher; c) fama: a
sociedade dever reconhecer esta condição dos cônjuges.

8. Impedimentos para o Casamento:


Impedimento é a falta de condições impostas por lei para que o casamento seja
celebrado sem vícios passíveis de nulidade ou sem penalidade para os nubentes, o
oficial do registro e o juiz.
Art. 1.521. Não podem casar. Se realizado o matrimônio = casamento nulo.
Impedimento x incapacidade: O impedimento priva que o casamento seja
celebrado entre certas pessoas; a incapacidade impede a realização de casamento
com quem quer que seja.
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil
– O parentesco em linha reta consanguínea persiste ao infinito, independente do
grau. Visa impedir o incesto e, também, problemas congênitos. Avô e neta,...
II - os afins em linha reta – Afinidade – parentesco advindo do casamento ou
união estável. Limita-se a linha reta em primeiro grau, pois afinidade não gera
afinidade. Assim, só são parentes em linha reta que tem impedimento para casar:
sogro e nora, sogra e genro, padrasto e enteada, madrasta e enteado. Este
impedimento, contudo, não ocorre na linha colateral, de maneira que os cunhados
não estão impedidos de casar.
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o
foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro
grau inclusive – Não podem se casar os irmãos (unilaterais ou bilaterais). Os
impedimentos relativos a linha colateral vão até o terceiro grau, ou seja, tios e
sobrinhos, hipótese que está autorizada mediante parecer médico (art. 2.º, Decreto-
lei n.º 3.200/41 , CC) que ateste não existir inconveniente do ponto de vista da saúde
dos cônjuges e da prole (este casamento chama-se AVUNCULAR).
V - o adotado com o filho do adotante – filho adotivo se iguala ao biológico,
de maneira que também surgem os impedimentos, iguais aos da consanguinidade.
O impedimento só surge se houver adoção regularizada.
VI - as pessoas casadas – Aqueles que já são casados não podem se casar
outra vez, o que configuraria a bigamia (crime previsto no art. 235 do Código Penal).
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa
de homicídio contra o seu consorte – Deve haver sentença penal condenatória
transitada em julgado e o crime não deve estar prescrito para que configure a
nulidade. Esse impedimento vale para homicídio doloso, não para o culposo.

MATRIMÔNIO REALIZADO COM INOBSERVÂNCIA DE IMPEDIMENTO =


nulo (art. 1.548, II, CC) – interessados ou o MP poderão, a qualquer tempo, buscar a
nulidade (art. 1.549, CC).

9. Causas suspensivas do Casamento:


As causas suspensivas visam impedir a realização do casamento. NÃO
DEVEM CASAR (art. 1.523, CC). Se realizado, o matrimônio é válido, impondo a lei
apenas sanções de natureza econômica (o regime de bens será obrigatoriamente o
da separação – arts. 1.550 + 1.641, I, CC).
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não
fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros – visa evitar a
confusão de patrimônios. A existência de casamento entre essas pessoas poderia
causar dificuldades para a identificação do patrimônio das distintas proles por
dificuldade na identificação. Poderá ser solicitado ao juiz que não aplique a causa
suspensiva se comprovado que não houvera prejuízo aos herdeiros, como no caso
de não haver patrimônio a ser partilhado.
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido
anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da
sociedade conjugal – evitar a confusão sanguínea, de maneira que possa nascer
um filho nesse período e, caso a mulher tenha casado novamente, não se saiba qual
é o pai. Na verdade, nascendo um filho nesse período, presume-se seja do primeiro
marido. Ver art. 1.597 e 1.598, CC.
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a
partilha dos bens do casal – evitar a confusão patrimonial.
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos,
cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não
cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas –
evitar que o incapaz case para isentar o administrador de seus bens da prestação de
contas.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes
sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste
artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o
herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do
inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de
gravidez, na fluência do prazo.

MATRIMÔNIO REALIZADO COM INOBSERVÂNCIA DE CAUSA


SUSPENSIVA = imposição do regime de separação obrigatória (art. 1.641, I, CC).

Momento da Legitimados
oposição
Oposição (em Impedimentos No processo de Juiz e oficial do
declaração escrita, habilitação e até o registro (de ofício),
assinada e com momento da Ministério Público e
provas) – 1.529 celebração qualquer interessado
(1.522)
Causas suspensivas Só no processo de Parentes em linha reta
habilitação, até 15 dias e colateral até 2.º grau
após os proclamas (consanguíneos ou
afins) (1.524)

ATENÇÃO:
Impedimento = não PODEM – 1.521
Causa suspensiva = não DEVEM – 1.523

10. Existência do Casamento e casamento inexistente:


Negócio jurídico  dois planos = plano da existência e plano da validade.
Existência = cumprimento dos requisitos mínimos. Validade = quando é
considerado perfeito e produz efeitos.
Considera-se inexistente o casamento “quando lhe faltam um ou mais
elementos essenciais, como o consentimento, ou o congraçamento de duas
pessoas, ou a união de seres humanos de sexo diferente”4.
No ato inexistente há, quando muito, aparência de ato jurídico. Não é um ato
jurídico, pois não possui os pressupostos para tanto. No caso do casamento, há uma
mera aparência de matrimônio, pois não possui qualquer conteúdo jurídico, de
maneira que o ato não se formou para o Direito. Os atos inexistentes são um nada
jurídico, não devem gerar qualquer efeito. NÃO HÁ A PRODUÇÃO DE EFEITOS!
Requisitos de existência do casamento – Art. 1.514, CC – CUIDADO com a
questão de pessoas de sexos diferentes (não pode-se mais considerar este
requisito, pois é permitido o casamento entre pessoas de mesmo sexo – Resolução
175 CNJ); Manifestação da vontade – consentimento de ambas as partes (Art.
1.535, CC) – o consentimento, a concordância, o “sim” é da essência do ato,
integrando a solenidade de celebração. Celebração perante autoridade
legalmente investida de poderes para tanto (Art. 1.533, CC) – falta de celebração
ou celebração feita sem o juiz de paz. No caso da celebração ser feita por juiz de

4RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei n.º 10.406, de 10.01.2002. Rio de Janeiro: Forense,
2006, p. 104.
paz incompetente (de outra circunscrição, p. ex.), por um equívoco, não será caso
de inexistência, mas sim, causa de anulabilidade (Art. 1.550, VI, CC).

IMPORTANTE: A capacidade matrimonial não é requisito. O casamento de


menores de 16 anos que for celebrado não é inexistente, mas sim anulável. Ver art.
1.550, CC.

Para a existência do casamento são necessários os requisitos. Não se


confunde com o casamento nulo ou anulável, pois o ato nunca existiu. Foi uma
materialidade de fato, mas sem qualquer significação jurídica.

Declaração de inexistência: pode ser declarada de ofício. Simplesmente


averba-se a inexistência do ato. Em havendo ação judicial, esta será declaratória
(declara a inexistência do matrimônio) e os efeitos práticos serão os mesmos da
nulidade (a seguir veremos).

11. Casamento nulo e anulável:


Os planos da validade e da eficácia do casamento não podem ser confundidos.
A validade depende da manifestação da vontade das partes e da declaração, pelo
juiz de paz, de que os nubentes estão casados. A eficácia depende do registro
público do casamento5.
Tanto a nulidade, quanto a anulação do casamento dependem de declaração
judicial. Enquanto não declaradas por sentença, o casamento produz efeitos – arts.
1.561 e 1.563, CC.
O matrimônio, quando celebrado com inobservância a um impedimento de
ordem pública, DEVE ser desconstituído, não havendo prazos para a declaração de
nulidade (imprescritível). Quando celebrado com inobservância de uma norma de
interesse individual, PODE ser desconstituído, desde que dentro dos prazos
estabelecidos (prazos prescricionais exíguos). A nulidade não se convalida6.

5 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 189.
6 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2016, 189.
Uma vez que seja declarado nulo ou anulado o matrimônio, os efeitos são
retroativos à data da celebração. O casamento é considerado putativo (reputa-se
verdadeiro mas não é), produzindo todos os efeitos para aquele que estiver de boa-
fé e para os filhos (art. 1.561, CC).

12. Casamento nulo:


O casamento que for celebrado com a violação dos impedimentos previstos no
art. 1.521, CC será eivado de nulidade. Nesse sentido, o art. 1.548, CC traz as
causas de nulidade do casamento: violação dos impedimentos.
CUIDADO! O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) retirou do
rol de situações de nulidade o casamento quando contraído por enfermo mental
desprovido de discernimento. Referida lei incluiu um parágrafo no art. 1.550, que
permite que a pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbil possa
casar, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou
curador.
Quando os nubentes não forem capazes de manifestar de modo inequívoco
sua vontade/consentimento, trata-se de casamento anulável (art. 1.550, IV, CC).
Revela-se nulo o casamento: contraído com inobservância a impedimento (art.
1.521)
No caso de o casamento ser celebrado por alguém que não esteja investido na
função de juiz de casamento e, embora com essa falta de investidura, desempenha
publicamente tal função, efetuando o registro do casamento, embora, a rigor o ato
fosse nulo, a lei sobreleva a nulidade, nos termos do Art. 1.554, CC.

Ação para a nulidade do casamento: Para a declaração de nulidade do


casamento é necessária ação judicial para tanto, proposta pelo interessado (Art.
1.549, CC) ou o Ministério Público poderão ingressar com a ação de nulidade. A
ação é IMPRESCRITÍVEL. Legitimados = MP, primeiro cônjuge, cônjuge bígamo,
colaterais sucessíveis e credores dos cônjuges. EFEITOS = ex tunc – art. 1.563,
CC, retroagindo até a data da celebração do casamento, sem que, contudo,
prejudique a aquisição de direitos por terceiros de boa fé.
13. Casamento anulável:
O casamento é anulável quando celebrado em ferimento apenas do interesse
de pessoas que o legislador quer proteger por considerá-las hipossuficientes. A lei
não quer o matrimônio e, se foi contraído, autoriza a dissolução. O silêncio das
partes permite que um ato jurídico defeituoso convalesça, o que equivale a uma
ratificação tácita, ou melhor, a uma ratificação presumida. Art. 1.550, CC. É anulável
o casamento:
I - de quem não completou a idade mínima para casar – casos dos menores
de 16 anos. Não se anulará, todavia o casamento, por motivo de idade, se dele
resultou gravidez (Art. 1.551, CC). O menor poderá confirmar seu casamento
quando alcançar os 16 anos, com a autorização de seus representantes legais ou
com suprimento judicial (Art. 1.553, CC). É uma ratificação do ato, que ocorre com
um termo, constando a assinatura do ratificante, duas testemunhas e os
representantes legais, perante o Oficial do Registro Civil e o juiz de paz, sem
necessidade da convalidação judicial. Esse ato não importa em nova celebração do
casamento. Mesmo que não tenha sido ratificado o ato, quando atingida a
maioridade, o ato segue gerando seus efeitos, pois trata-se de ato anulável.
Também poderá ser confirmado o matrimônio quando atingida a maioridade.
Para que haja a anulação do casamento de menores de 16 anos o
requerimento deve partir do próprio cônjuge, por seus representantes legais ou por
seus ascendentes (Art. 1.552, CC).
PRAZO = Art. 1.560, § 1.º, CC: 180 dias, contado o prazo do dia em que o
menor completou 16 anos para ele e, da data do casamento para seus
representantes legais ou ascendentes.
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu
representante legal – entre 16 e 18 anos deve haver anuência de seus
responsáveis (pais) para poderem casar. Se o menor tiver sido emancipado não é
necessário tal consentimento. PRAZO = 180 dias, por iniciativa do incapaz, ao deixar
de sê-lo, de seus representantes legais, a partir do casamento, ou de seus herdeiros
necessários, a partir da morte do incapaz. Não poderá haver anulação se os
representantes legais do incapaz tiverem assistido ao ato de celebração do
casamento ou manifestado, de qualquer modo, sua concordância (Art. 1.555, CC).
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558 – Sem o
consentimento o casamento inexiste, pois é requisito essencial. Mas é necessário
que o ato seja livre e espontâneo, não viciado, a fim de que tenha eficácia.
Art. 1.556, CC – Erro essencial quanto a pessoa do outro: falta de
conhecimento da identidade ou de uma qualidade essencial do outro cônjuge. Ao ser
dado o consentimento, um dos cônjuges o faz imbuído por falso conceito, ou uma
idéia equivocada em relação à pessoa com quem se casou (art. 1.557, CC).
 Identidade, honra e boa fama: pensava ser uma pessoa e era outra. Ex.:
nome e identidade falsos; transexual; pessoa que se descobre depois do casamento
ser de conduta devassa, com envolvimento com traficantes de drogas, etc.
IMPORTANTE (JÁ CAIU NO EXAME DA OAB): esse fato deve ser conhecido após o
matrimônio, tornando insuportável a vida em comum.
 Ignorância de crime: são requisitos: a) a prática de crime; b) que seja
anterior ao casamento; c) que seja fato ignorado pelo outro cônjuge ao casar-se; d)
que torne insuportável a vida em comum. Ex.: cometimento de estupro anterior ao
casamento.
 Ignorância de defeito físico irremediável: O Estatuto da Pessoa com
Deficiência introduziu esse inciso, não sendo cabível a anulação do casamento em
caso de pessoas com deficiência. Como forma de erro essencial, capaz de levar à
anulação do matrimônio, encontram-se, então: defeitos irremediáveis como
hermadroditismo; deformações genitais; ulcerações no pênis e impotência coeundi
(para o ato sexual)7 ou instrumental (não é esterilidade, é impotência).
Com relação às moléstias graves e transmissíveis, tais devem ser
transmissíveis por contágio ou herança, capaz de colocar em risco a saúde do outro
cônjuge e sua prole. A moléstia deve ser anterior ao casamento e não desconhecida
do outro cônjuge. Ex.: AIDS, hepatite, sífilis, epilepsia, hemofilia, etc. Não é

7
TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2016, p. 95.
discriminação. O portador de HIV, por exemplo, merece proteção e respeito e tem
todo o direito de constituir família, mas seu futuro cônjuge deve saber da situação.
OBSERVAÇÃO: O Estatuto da Pessoa com Deficiência revogou o inciso IV do
art. 1.557, CC, que mencionava a ignorância de doença mental grave, que fosse
anterior ao casamento, grave e desconhecida pelo outro cônjuge. Agora este
casamento é válido, visando a inclusão social das pessoas.
PRAZO NOS CASOS ACIMA: 3 anos (art. 1.560, III, CC), contando da data da
celebração do casamento.
Art. 1.558, CC – Coação: a coação é a pressão física ou moral, ou o
constrangimento que sofre uma pessoa, com o fim de ser obrigada a realizar um ato
ou negócio. Ocorre no momento da celebração do casamento. Somente o cônjuge
que sofreu a coação pode demandar a anulação de casamento, mas a coabitação,
havendo ciência do vício, valida o ato. A coação, para viciar a declaração de
vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e
considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens ou temor de morte.
PRAZO: 4 anos a contar da celebração do ato (art. 1.560, IV, CC).
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o
consentimento – Em razão do Estatuto da pessoa portadora de deficiência, a
previsão do inciso IV incide apenas sobre os alcoólatras e viciados em tóxicos (art.
4.º, II, CC). As pessoas com capacidade reduzida podem contrair matrimônio,
manifestando sua vontade pessoalmente ou por responsável (art. 1.550, §2.º, CC).
O prazo para revogação é de 180 dias a contar da celebração do casamento
(Art. 1.560, I, CC).
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente
soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os
cônjuges – Uma vez ocorrendo a coabitação, naturalmente se depreende a
renúncia da revogação do mandato, porquanto o mandante, indo coabitar com o
outro cônjuge, naturalmente aceitou o casamento, além de lhe competir a
comunicação ao outro cônjuge da revogação do mandato. Cabe ao mandante tomar
todas as providencias necessárias para cientificar o mandatário ou o outro
contraente da revogação da procuração. No caso disso não ocorrer, o mandante
responde por perdas e danos. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato
judicialmente decretada (Art. 1.550, § único, CC). PRAZO = 180 dias a contar da
ciência pelo mandante da celebração do casamento (Art. 1.560, § 2.º, CC).
VI - por incompetência da autoridade celebrante – Tal infração refere-se a
incompetência relativa ou em razão do lugar do juiz de casamentos. Só tem
validade, em princípio, o casamento realizado pelo juiz do distrito onde se processou
a habilitação para o casamento. Contudo o Art. 1.554, CC protege o estado de
aparência, quando o casamento é celebrado pro quem, sem possuir a competência
exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de paz e, nessa qualidade,
tiver registrado o ato no Registro Civil. Mas só na hipótese de juiz de paz
incompetente o casamento se convalida. Se for outra pessoa (delegado, ministro,
prefeito...) o casamento é inexistente. PRAZO = 2 anos, a contar da data da
celebração (Art. 1.560, II, CC).

EFEITOS DA ANULAÇÃO = ex tunc, retroagindo até a data de sua celebração,


de forma que os cônjuges voltam a ser solteiros. Ver art. 1.563, CC – boa fé.

ANULAÇÃO X DIVÓRCIO – efeitos são diferentes – o objetivo, na anulação é


voltar ao status quo, ou seja, voltar a ser solteiro, com o aproveitamento dos efeitos
no caso da boa-fé (art. 1.561, CC). No divórcio, o estado civil passa a ser divorciado
(não volta a ser solteiro).
14. Consequências da nulidade ou da anulação do casamento:
Até a nulidade/anulação = produz todos os efeitos se contraído de boa-fé (Art.
1.561, CC).
Depois da nulidade/anulação = considera-se o casamento como inexistente
(volta ao status quo ante). Se for o caso, perde o cônjuge o estado de casado e de
capaz, tornando à menoridade. O pacto antenupcial também desaparece.
Efeitos = Os efeitos da sentença transitada em julgado retroagem a data do
casamento, como se ele nunca tivesse existido. Contudo, os direitos de terceiros de
boa-fé são preservados, ou seja, as vendas feitas a terceiros permanecem
inalteradas. Aos filhos os efeitos aproveitam sempre. Havendo patrimônio –
obedecer regime de bens. Quando a nulidade/anulabilidade decorrer de culpa de um
dos cônjuges, o culpado deverá devolver ao outro todas as vantagens e benefícios
que deste recebeu (art. 1.564, I, CC). Também fica obrigado o cônjuge culpado a
cumprir com as promessas feitas no contrato antenupcial, de maneira que se fez
promessa de fazer uma doação, a anulação não lhe retira o dever de cumprir com tal
obrigação.

QUESTÕES:
VI EXAME - Rejane, solteira, com 16 anos de idade, órfã de mãe e devidamente
autorizada por seu pai, casa-se com Jarbas, filho de sua tia materna, sendo ele
solteiro e capaz, com 23 anos de idade. A respeito do casamento realizado, é
correto afirmar que é
(A) nulo, tendo em vista o parentesco existente entre Rejane e Jarbas.
(B) é anulável, tendo em vista que, por ser órfã de mãe, Rejane deveria obter
autorização judicial a fim de suprir o consentimento materno.
(C) válido.
(D) anulável, tendo em vista o parentesco existente entre Rejane e Jarbas.

III – REGIME DE BENS:

Maneira pela qual se estabelece, no casamento, as formas de contribuição e


cada um para o lar, a titularidade e administração dos bens comuns e particulares e
em que medida esses bens respondem por obrigações de terceiros. É uma das
consequências jurídicas do casamento. Assim, o casamento não subsiste sem um
regime de bens, de maneira que se os cônjuges não se manifestarem, a lei supre
sua omissão, disciplinando o regime de bens de seu casamento.
Regime Legal  Até 1977 - comunhão universal de bens (não havia pacto).
Após 1977 - lei do divórcio (6.515/77) - comunhão parcial de bens.
Regra – liberdade dos pactos e escolha do regime de bens – art. 1.639, CC.
Início do regime de bens = data do casamento – momento do “sim” (art. 1.639,
§ 1.º, CC). Fim do regime de bens = separação de fato.
Possibilidade de mesclar diversos regimes de bens, ou seja, adotarem um
regime e, com referência, a certos bens, elegerem outro. Ex.: adotar o regime da
separação total de bens, estipulando que com relação ao bem X vigorará o regime
da comunhão de bens.

1. Princípios:
1. Variedade do regime de bens: a lei oferece uma multiplicidade de regimes
de bens: 4 diferentes regimes de bens para que os consortes possam optar
pelo que mais lhes convier: comunhão universal, comunhão parcial,
separação e participação final dos aquestos.
2. Liberdade dos pactos antenupciais: é decorrência do primeiro. É a liberdade
de escolha dentre os vários regimes de bens existentes, podendo ainda,
criar um regime novo, mesclando partes de um regime e elementos de outro
(art. 1.639, CC). O Estado não pode, salvo havendo motivo relevante e
norma específica, intervir demasiadamente e coativamente na relação
matrimonial, de forma a impor o regime de bens.
Assim, podem os cônjuges:
a) Ficar em silêncio e ser aplicado o regime da comunhão parcial.
b) Escolher um dos regimes previstos em lei.
c) Criarem, através de pacto antenupcial o regime que bem entenderem,
podendo, dessa forma, mesclar diversos regimes.

Existem, contudo, casos em que a liberdade de escolha dos nubentes é


relativizada (ou podada!), ou seja, existem casos em que a lei determina um regime
obrigatório – o da separação de bens – seja por precaução ou para punir os
nubentes. Nesses casos, se eles regularem diferentemente, via pacto antenupcial,
seus interesses econômicos, as cláusulas serão nulas, prevalecendo a
determinação legal (art. 1.655, CC).
3. Mutabilidade do regime de bens: o art. 1.639, § 2.º, CC (+ art. 734,
CPC/2015) veio admitir a mutabilidade do regime matrimonial adotado,
desde que haja, em jurisdição voluntária, autorização judicial, atendendo a
um pedido motivado de ambos os cônjuges, após a verificação da
procedência das razões por eles invocadas e da certeza de que tal
modificação não causará qualquer gravame a direitos de terceiros.
4. Imediata vigência do regime de bens: a vigência do regime de bens é
imediata a celebração do ato nupcial.
5. Comunicabilidade: a partir do momento em que é celebrado o casamento,
passa a viger o princípio da comunicabilidade do patrimônio que for
amealhado após as núpcias.

2. Pacto antenupcial:
Quando o regime não for o legal dispositivo (CPB), a escolha do regime de
bens é feita através de um negócio jurídico solene: o pacto antenupcial, realizado
mediante escritura pública, no Tabelionato de Notas (art. 1.653, CC).
CPB8 – regra: sem pacto; havendo alteração: com pacto;
CUB – sempre com pacto;
PFA – sempre com pacto;
SOB – sempre sem pacto – imposição legal;
SCB (SAB) – sempre com pacto. Separação consensual = absoluta.

 não havendo convenção, ou sendo esta nula ou ineficaz (pelo


estabelecimento de cláusulas que não sejam possíveis)  regime da CPB
(art. 1.640, CC).

- Pode ser por procuração pública, com poderes especiais;


- Menores de idade = o representante legal deverá assistir no ato de lavratura
do pacto antenupcial, salvo no caso do regime obrigatório de bens (art. 1.654, CC).
- MOMENTO DE ELABORAÇÃO = antes da habilitação, pois tal escritura
pública deve ser anexada na documentação exigida para habilitação do casamento.
- Não pode haver qualquer cláusula que ofenda os bons costumes e a ordem
pública. Ex.: é proibido cláusula no pacto antenupcial que altere a ordem de vocação
hereditária ou que ajuste a comunhão de bens, quando o casamento só podia
realizar-se pelo regime da separação total. Em havendo cláusulas nesse sentido,
serão nulas (art. 1.655, CC).

8
CPB – Comunhão parcial de bens; CUB – Comunhão universal de bens; PFA – Participação final nos aquestos;
SOB – Separação obrigatória de bens; SCB – Separação convencional de bens (também conhecido como SAB –
separação absoluta de bens).
- Após a celebração do casamento o pacto antenupcial deverá ser registrado
no Cartório de Registro de Imóveis, em livro especial, para ter validade contra
terceiros (art. 1.657, CC; art. 167, I, n.12 e II, n.1, Lei 6.015/73). Se o nubente for
empresário, o pacto deverá ser arquivado e averbado no Registro Público de
Empresas Mercantis (art. 979, CC).
- Pelo pacto os nubentes podem fundir os regimes de bens, criando seu próprio
regime.

3. Outorga conjugal – outorga uxória e outorga marital


Autorização conjugal é a manifestação do consentimento entre os cônjuges
para que determinados atos possam ser praticados, sob pena de invalidade. Ex.:
compra e venda de imóvel.
Outorga uxória – autorização da mulher
Outorga marital – autorização do marido
Essa autorização é exigida quando um dos cônjuges praticar ato que afeta o
patrimônio do casal (alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis, litigar em juízo
acerca desses bens, prestar fiança ou aval, etc).
REGRA: necessidade da outorga.
EXCEÇÕES:
a) No regime da separação convencional de bens (art. 1.647, CC).
b) No regime da participação final nos aquestos, quando o casal convencionar
a livre disposição dos bens.
Caso o cônjuge não possa dar a autorização (por estar doente ou incapaz) ou
não queira, o suprimento será dado pelo juiz – art. 1.648, CC.

4. Regime Legal:
4.1. Regime Legal Dispositivo
Determinado pelo Estado = CPB.
Se os nubentes não escolherem o regime de bens  CPB (regime legal
dispositivo).
4.2. Regime Legal Obrigatório
Em razão de certas circunstâncias os nubentes não podem escolher livremente
o regime de bens: quando ocorrer alguma causa suspensiva, quando o nubente for
maior de 70 anos, quando o nubente necessitar de suprimento judicial para casar
(art. 1.641). Nesses casos o regime passa a ser obrigatório – separação de bens –,
não se aplicando nem o regime legal dispositivo, nem outro escolhido via pacto
antenupcial.
Neste caso, incide a súmula 377 do STF, permitindo a comunicabilidade dos
bens aquestados:
Súmula 377, STF: “No regime de separação legal de bens comunicam-se
os adquiridos na constância do casamento”.

De forma prática, essa súmula faz uma aproximação entre o regime da


separação legal e o regime de comunhão parcial de bens. A separação fica adstrita
aos bens adquiridos antes do casamento.
IMPORTANTE!!!
Há discussões sobre a exigência do esforço comum ou não. A jurisprudência não é unânime, pois,
nem o STJ tem um mesmo posicionamento. Há decisões que exigem a prova do esforço comum.
Outras, não. Sendo assim, em termos de concursos públicos – primeira fase – pouca exigência há
quanto a esta questão. Em termos de segunda fase, sugere-se que o aluno posicione-se a respeito,
fundamentando seu posicionamento.

IMPORTANTE!!!!!
Há a possibilidade de modificação do regime legal obrigatório quando a hipótese que lhe deu causa
tiver sido superada. Só não é possível no caso dos maiores de 70 anos.

5. Regime Convencional:
Os nubentes poderão escolher o regime de bens que mais lhe aprouver, dentre
os previstos no Código Civil ou mesclá-los. Art. 1.639, CC.

6. Mutabilidade:
Possibilidade de alterar o regime de bens escolhido para a celebração do
casamento. Também é permitida nos casos de união estável, bastando um singelo
acordo, podendo retroagir a data do início da união estável.
Vedação de alteração nas hipóteses do art. 1.641, CC, SALVO SE A CAUSA
QUE DEU ORIGEM TIVER CESSADO! Enunciado 262, da III Jornada de Direito
Civil, realizada pelo Conselho da Justiça Federal: “A obrigatoriedade da separação
de bens, nas hipóteses previstas no art. 1.641, I e III, do CC não impede a alteração
do regime, desde que superada a causa que o impôs”. Contudo, esse enunciado
não abrange as hipóteses do art. 1.641, II, ou seja, quando os cônjuges tiverem mais
de 70 anos quando da celebração do casamento. Neste caso, não poderá haver a
modificação.

REQUISITOS: deverão estar presentes três requisitos, cumulativamente:


a) autorização judicial: deve ser feita petição conjunta, por advogado, ao juiz
competente. O pedido só pode prosseguir se ambos os cônjuges forem
autores, ou seja, ambos devem ter a intenção de alterar o regime de bens.
A alteração só produz efeitos a partir do trânsito em julgado da decisão
judicial, mas a eficácia perante terceiros depende do registro imobiliário. A
eficácia da mudança pode ser ex nunc ou ex tunc, dependendo da vontade
das partes, já que não existe qualquer óbice legal quanto a isso. Para isso,
contudo, deve haver pedido expresso do casal, pois sem isso o efeito é a
partir da sentença.
b) motivação relevante: a alteração não pode estar baseada apenas no
desejo dos cônjuges. Entre os motivos relevantes está a alteração do
regime de comunhão parcial para o de separação de bens, em razão de os
cônjuges passarem a ter vidas econômicas e profissionais próprias, sendo
conveniente a existência de patrimônios próprios para garantirem
obrigações que necessitam profissionalmente ou para incorporação em
capital social de empresa.
c) ressalva dos direitos de terceiros: terceiros são os que estejam de boa-fé e
possam ser atingidos em seus patrimônios ou créditos com a alteração do
regime de bens. A regra é que a mudança de regime apenas valerá para o
futuro, não prejudicando os atos jurídicos perfeitos. A mudança só
alcançará oi passado se o regime adotado beneficiar os terceiros credores,
pela ampliação das garantias patrimoniais.
Não é necessária a lavratura de pacto antenupcial para a mutação do regime
de bens.
EFEITOS: entre cônjuges: ex tunc (retroagindo a data das núpcias); com
relação a terceiros: ex nunc, visto que poderá prejudicar credores.
É exigida ampla publicidade para a autorização da mudança. Nesse sentido, o
STJ, ao realizar a I Jornada de Direito Civil, aprovou o Enunciado 113: “é admissível
a alteração do regime de bens entre os cônjuges, quando então o pedido,
devidamente motivado e assinado por ambos os cônjuges, será objeto de
autorização judicial, com ressalva dos direitos de terceiros, inclusive dos entes
públicos, após perquirição de inexistência de dívida de qualquer natureza, exigida
ampla publicidade”.
Mesmo os casamentos celebrados na vigência do Código de 1916 poderão ter a
modificação do regime. O art. 2.039, CC dispõe que a modificação não será
possível, mas o STJ está autorizando a mudança, em razão da aplicação da lei
mais benéfica.
CIVIL - CASAMENTO - REGIME DE BENS - ALTERAÇÃO JUDICIAL –
CASAMENTO CELEBRADO SOB A ÉGIDE DO CC/1916 (LEI Nº 3.071) -
POSSIBILIDADE - ART. 2.039 DO CC/2002 (LEI Nº 10.406) -
PRECEDENTES - ART. 1.639, § 2º, CC/2002. I. Precedentes recentes de
ambas as Turmas da 2ª Seção desta Corte uniformizaram o entendimento
no sentido da possibilidade de alteração de regime de bens de casamento
celebrado sob a égide do Código Civil de 1916, por força do § 2º do artigo
1.639 do Código Civil atual. II. Recurso Especial provido, determinando-se
o retorno dos autos às instâncias ordinárias, para que, observada a
possibilidade, em tese, de alteração do regime de bens, sejam
examinados, no caso, os requisitos constantes do § 2º do artigo 1.639 do
Código Civil atual. (STJ, 3.ª Turma, REsp 1112123, j. em 24-7-2009, rel.
Min. Sidnei Beneti).

7. Administração dos bens no casamento:


Independentemente do regime de bens escolhido para vigorar no casamento,
existem atos que os cônjuges podem praticar sem depender da autorização do
outro. Nesse sentido, o art. 1.642 é claro:
Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a
mulher podem livremente:
I - praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao
desempenho de sua profissão, com as limitações estabelecida no inciso I
do art. 1.647;
II - administrar os bens próprios;
III - desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados ou
alienados sem o seu consentimento ou sem suprimento judicial;
IV - demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a
invalidação do aval, realizados pelo outro cônjuge com infração do disposto
nos incisos III e IV do art. 1.647;
V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos
pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não
foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado
de fato por mais de cinco anos;
VI - praticar todos os atos que não lhes forem vedados expressamente.

O art. 1.643, CC traz as permissões para que os cônjuges possam atuar de


forma individual. Tratam-se de situações necessárias à manutenção da vida
doméstica, onde não haveria a necessidade de autorização expressa do outro para
que tais despesas fossem assumidas.
Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do
outro:
I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica;
II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa
exigir.

Com relação às dívidas, contudo, a responsabilidade patrimonial é solidária –


art. 1.644, CC:
Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do artigo antecedente obrigam
solidariamente ambos os cônjuges.

O art. 1.647, CC traz os atos que nenhum dos cônjuges pode praticar sem
autorização do outro, exceto no regime de separação absoluta:
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges
pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que
possam integrar futura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando
casarem ou estabelecerem economia separada.

8. Regime da Comunhão Parcial de Bens:


O regime da comunhão parcial de bens é o que advém da falta, ineficácia ou
nulidade de pacto antenupcial ou por convenção dos nubentes, que optam pelo
regime da comunhão de aquestos.

Basicamente: afasta da comunhão os bens que os consortes possuíam ao


casar ou que venham a adquirir por causa anterior e alheia ao casamento; e inclui
na comunhão os bens adquiridos posteriormente a união. Dividem-se os bens
adquiridos na constância da união.
Ainda que o regime seja o da comunhão parcial de bens, que dispensa o pacto
antenupcial, é possível que se estabeleça, por pacto, cláusulas sobre a
administração dos bens particulares (art. 1.665).
Art. 1.665. A administração e a disposição dos bens constitutivos do
patrimônio particular competem ao cônjuge proprietário, salvo convenção
diversa em pacto antenupcial.

8.1. Bens que não se comunicam


O art. 1.661 prevê que são incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver por
título causa anterior ao casamento. Dessa forma, não faz parte do patrimônio o bem
reivindicado pelo marido solteiro, sendo que a ação julgada procedente quando já
casado, nem o dinheiro recebido após o casamento pela venda anterior de um bem.

Também são INCOMUNICÁVEIS, conforme o art. 1.659, CC:


I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem,
na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em
seu lugar;
Aqueles bens que o consorte leva consigo para o casamento, que lhe
pertencem antes da realização do ato nupcial não se comunicam no regime da
comunhão parcial de bens.
No caso de doações ou testamento, caso o doador/testador pretendesse que o
bem fosse de propriedade do casal, faria a doação em favor de ambos e não de
apenas um deles. Dessa maneira, a doação ou o testamento em benefício de um
dos cônjuges, só a este aproveita, não se comunicando ao outro cônjuge.
Da mesma maneira ocorre com os bens que forem adquiridos no lugar dos
recebidos em doação, testamento ou daqueles que já eram de propriedade de um
dos cônjuges antes do casamento. Isto se denomina sub-rogação, ou seja, os bens
que forem colocados no lugar dos já existentes.
Ex.: Carlos possuía um carro, no valor de R$ 20.000,00 antes de casar. Casa-se com Joana.
Após o casamento, Carlos vende o carro por R$20.000,00 e compra outro de mesmo valor.
Joana não terá direito sobre o carro, pois se trata de sub-rogação. Contudo, se Carlos comprar
um carro no valor de R$ 50.000,00 Joana terá direito a receber a diferença, ou seja, R$
30.000,00.
Também não se comunica a herança que um dos cônjuges vier a receber,
mesmo que depois da celebração do casamento, nem os produtos que dela
resultarem (no caso de herança em dinheiro).
Contudo, os frutos dos bens particulares percebidos na constância da
união se comunicam (art. 1.660, V, CC). Nesse caso, o bem em si não se
comunica, mas os aluguéis recebidos ou os juros, sim.

II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um


dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares;
Se os bens possuídos por ocasião do ato nupcial não se comunicam, é óbvio
que também não devem comunicar-se os adquiridos com o produto da venda dos
primeiros. É uma sub-rogação real.
Pode ser sub-rogação de dinheiro, quando, por exemplo, um dos consortes
possuía poupança anterior ao matrimônio e, depois da realização deste, adquire um
imóvel. O imóvel não se comunica, pois proveniente de valor pertencente
exclusivamente a um dos consortes.
Conforme já afirmado, se o bem sub-rogado é mais valioso, a diferença do
valor, se não tiver sido coberta com recursos próprios e particulares do cônjuge,
integrará o acervo comum.
Ex.: carro de R$ 30.000  carro de R$ 50.000 = a diferença (R$20.000,00) integrará o
patrimônio comum.

III - as obrigações anteriores ao casamento;


A responsabilidade é pessoal de quem contraiu a obrigação. Dessa maneira, o
cônjuge que arcou com responsabilidade anterior ao casamento, ainda que venha a
se perfectibilizar após a celebração deste, deverá arcar exclusivamente com seus
bens particulares.
Ex.: dívida de cheque especial contraída antes do matrimônio. Só pertence
àquele que contraiu a dívida. Seu patrimônio exclusivo é que arcará.

IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em


proveito do casal;
O cônjuge faltoso é responsável pelos atos ilícitos que praticar (com seu
patrimônio particular), salvo se ambos os cônjuges vierem a tirar proveito de tal ato,
quando então o patrimônio comum do casal responderá pelos prejuízos causados
com o ilícito.
Ex.: o marido pratica uma fraude tributária, sonegando a receita, para comprar
uma casa na praia para que a família desfrute. Neste caso, haverá a comunicação
da dívida.
É nesse sentido a súmula 251, STJ: “A meação só responde pelo ato ilícito
quando o credor, na execução fiscal, provar que o enriquecimento dele resultante
aproveitou o casal”.

V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;


Em razão do cunho nitidamente pessoal, não há comunicação desses bens.
Assim, estão excluídos os bens pessoais: roupas, sapatos, etc.
Também se excluem da comunhão os livros utilizados para o exercício da
profissão: livros profissionais do advogado, por exemplo; os instrumentos
profissionais: violino de um concertista. Isto porque desses instrumentos dependem
a sobrevivência do consorte.
É possível, contudo, que, demonstrado o esforço comum, o valor do
instrumento profissional seja partilhado:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE UNIÃO ESTÁVEL.
PARTILHA. INSTRUMENTO MUSICAL - GAITA - DE USO
PROFISSIONAL. INCIDÊNCIA DO ARTIGO 1659, INCISO V, DO CCB.
Ainda que o bem fisicamente não seja partilhável, já que o varão é músico
profissional, dependendo da utilização da gaita para a sua atividade, o valor
empregado na sua aquisição na constância da união estável merece ser
considerado na partilha, conforme precedentes da Corte. FGTS. Não se
excluem da partilha os valores sacados da conta vinculada de FGTS na
vigência da união estável, ainda que empregados para a aquisição de bem
de uso pessoal e profissional. NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.
(Apelação Cível Nº 70034147199, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Alzir Felippe Schmitz, Julgado em 24/06/2010)

Questão complicada é a das joias. Algumas possuem valor altíssimo. Sendo


assim, a doutrina se divide. Dias9 afirma que há que se reparar na forma de
aquisição de tais bens. Se forem recebidos por presente de um cônjuge ao outro,
serão incomunicáveis, pois configura-se doação. No entanto, se comprados no
intuito de investir algum dinheiro (situação bastante difícil de ocorrer), deverão ser
partilhados.

VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;


Significa dizer que cada cônjuge tem direito aos proventos relativos ao seu
salário.
Em regra, os bens adquiridos com o valor recebido do trabalho pessoal de um
dos cônjuges não se comunica, bem como o próprio provento.
Contudo, existe posicionamento entendendo que no caso de o valor do
provento ser utilizado para adquirir imóvel poderá ser partilhado, pois ambos os
cônjuges, no direito de família atual, contribuem com seus proventos para o sustento
da família, de maneira que deve o bem proveniente ser partilhado.
Se os ganhos do trabalho pessoal não se comunicam, praticamente tudo será
incomunicável, pois na grande maioria das vezes, as pessoas sobrevivem e
constituem patrimônio como fruto do trabalho pessoal e das economias. Assim, não
9DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 317.
é justo que um dos cônjuges, com os frutos de seu trabalho pessoal, pague as
despesas do casal e, o outro, guarde os frutos fazendo uma economia (poupança).
Nesse caso, se formos pela letra fria da lei, não haveria partilha desse patrimônio
(poupança).
Mas o STJ já entendeu pela partilha dos bens:
Direito civil e processual civil. Família e Sucessões. Inventário.
Bens frutos do trabalho do cônjuge inventariado integram a meação da
viúva inventariante.
- No regime de comunhão universal de bens, os honorários advocatícios,
provenientes do trabalho do cônjuge inventariado, percebidos no decorrer
do casamento, ingressam no patrimônio comum do casal, porquanto lhes
guarneceram do necessário para seu sustento, devendo, portanto, integrar
a meação da viúva inventariante.
- Muito embora as relações intrafamiliares tenham adquirido matizes
diversos, com as mais inusitadas roupagens, há de se ressaltar a
peculiaridade que se reproduz infindavelmente nos lares mais tradicionais
não só brasileiros, como no mundo todo, em que o marido exerce profissão,
dela auferindo renda, e a mulher, mesmo que outrora inserida no mercado
de trabalho, abandonou a profissão que exercia antes do casamento, por
opção ou até mesmo por imposição das circunstâncias, para se dedicar de
corpo e alma à criação dos filhos do casal e à administração do lar, sem o
que o falecido não teria a tranqüilidade e serenidade necessárias para
ascender profissionalmente e, conseqüentemente, acrescer o patrimônio,
fruto, portanto, do trabalho e empenho de ambos.
Recurso especial conhecido e provido. (REsp 895344/RS, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/12/2007, DJe
13/05/2008)

UNIÃO ESTÁVEL. DISSOLUÇÃO. PROVA. PARTILHA DE BENS. REGIME


DA COMUNHÃO PARCIAL. IMÓVEL ADQUIRIDO COM O USO DO FGTS.
1. Reconhecida a união estável, imperiosa a divisão igualitária dos bens
adquiridos de forma onerosa em nome de um ou outro convivente, sem que
se perquira a contribuição de cada um. Inteligência do art. 1.725 do Código
Civil. 2. O FGTS constitui "provento do trabalho pessoal" e não se comunica
entre os cônjuges, ex vi do art. 1.659, inc. VI, do Código Civil, e quando o
pagamento do imóvel é feito mediante expressa entrega do próprio FGTS,
opera-se, de forma inequívoca, a sub-rogação, devendo esse valor e
também as prestações pagas exclusivamente pelo varão, depois de
rompida a relação marital, ser abatidos do valor do imóvel, devendo tais
valores receber a devida correção monetária. 3. Não restando comprovado
que o veículo que o varão possuía antes de iniciar a relação tenha sido
dado em pagamento daquele adquirido na constância da união estável,
imperiosa a partilha igualitária desse bem, pois a sub-rogação é exceção à
regra da comunicabilidade e, para ser admitida, deve ficar cabalmente
demonstrada. Recurso provido em parte. (Apelação Cível Nº 70036754216,
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando
de Vasconcellos Chaves, Julgado em 14/09/2011)

Direito civil e família. Recurso especial. Ação de divórcio. Partilha dos


direitos trabalhistas. Regime de comunhão parcial de bens. Possibilidade. -
Ao cônjuge casado pelo regime de comunhão parcial de bens é devida à
meação das verbas trabalhistas pleiteadas judicialmente durante a
constância do casamento. - As verbas indenizatórias decorrentes da
rescisão de contrato de trabalho só devem ser excluídas da comunhão
quando o direito trabalhista tenha nascido ou tenha sido pleiteado após a
separação do casal. Recurso especial conhecido e provido. (REsp
646.529/SP, Terceira Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20.06.2005)

Isto quer dizer que o salário (provento) não é partilhado, mas o bem adquirido
com este poderá (e deverá) o ser. Isto porque nada justifica que um cônjuge tenha
ingerência sobre o salário do outro. Além disso, se o salário for depositado em uma
poupança, previdência privada, enfim, algum tipo de investimento, os rendimentos
advindos daí serão comunicáveis.
O STJ entende que também se incluem na partilha os bens adquiridos, em sua
maior parte, com o produto do levantamento do FGTS de um dos cônjuges.

VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.


Pensões: valor pago periodicamente e em virtude de lei, decisão judicial ou ato
jurídico para assegurar a sobrevivência de alguém.
Meio-soldo: é a metade do soldo pago pelo Estado ao militar reformado.
Montepios – pensão devida a herdeiro de funcionário falecido.
Tenças – pensão alimentícia devida pelo Estado ou por outra pessoa de direito
privado, para subsistência do beneficiário.
Deve-se destacar que, neste caso, não se comunica o direito ao recebimento
desses benefícios. O valor recebido deve ser partilhado.

Art. 1.661 - Também são incomunicáveis os bens adquiridos por causa


anterior ao casamento
Ex.: se a moça solteira vender um imóvel antes do casamento e só após vier a
receber o valor devido, o dinheiro apurado com a venda não se comunica, pois
existente em razão de causa anterior ao casamento.
Mostra-se sem razão a incomunicabilidade dos proventos do trabalho pessoal
de cada cônjuge, já que a maior parte das famílias sobrevive da contraprestação
pecuniária de quem trabalha. Assim, se alguém transforma suas economias em
patrimônio, torna-se incomunicável e isto é injusto com aquele que também trabalha
e transforma suas economias em alimentos, vestuário para a família, etc.
8.2. Bens que se comunicam
São COMUNICÁVEIS, conforme o art. 1.660, CC:
I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso,
ainda que só em nome de um dos cônjuges;
Quanto a bens imóveis, bastará verificar o Registro Imobiliário para verificar se
a aquisição se deu antes ou após o casamento.
Se se tratar de bem móvel, há presunção de que são de propriedade comum,
adquiridos na constância da união, salvo se for possível provar por documento
autêntico (fatura, nota fiscal) ou outro meio admitido em direito, que foram adquiridos
em data anterior ao ato nupcial. Art. 1.662.
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de
trabalho ou despesa anterior;
Ex.: jogo, aposta, loteria, bingo. Os bens advindos do valor recebido nessas
loterias
III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de
ambos os cônjuges;
Herança ou testamento só se comunicam se forem em favor de ambos os
cônjuges.
IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;
Tudo que for acrescido aos bens particulares dos cônjuges entra na divisão do
patrimônio comum, desde que haja a presunção de que foram feitas com o produto
do esforço comum, para evitar o enriquecimento indevido.
V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge,
percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a
comunhão.
Isto porque são ganhos posteriores ao casamento e esse regime visa a
composição de um patrimônio comum após a união.
Ex.: se um dos cônjuges for acionista de uma sociedade anônima na qual
hajam ganhos periódicos em razão dos lucros. O valor percebido integra o
patrimônio comum.
Ex.: os aluguéis, ainda que de imóvel particular de um dos cônjuges também
passa a integrar o patrimônio comum.
Os rendimentos resultantes da exploração dos direitos patrimoniais do autor
Os direitos patrimoniais do autor não se comunicam, mas os rendimentos
resultantes da exploração desses direitos, sim.
Nesse sentido, ver a Lei 9.610/98:
Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra
literária, artística ou científica.
[...]
Art. 39. Os direitos patrimoniais do autor, excetuados os rendimentos
resultantes de sua exploração, não se comunicam, salvo pacto antenupcial
em contrário.

8.3. Administração dos bens


A administração do patrimônio comum cabe a qualquer dos cônjuges. Art.
1.663.
Contudo, será necessária a anuência de ambos para prática de atos que
impliquem, a título gratuito, em cessão do uso ou gozo desses bens (art. 1.663, §
2.º). Também é necessária a anuência para alienar ou gravar os bens imóveis (art.
1.647, I).
Se ficar comprovada a má administração dos bens comuns, o magistrado
poderá atribuir a administração a apenas um dos cônjuges (art. 1.663, § 3.º), ou
seja, o que solicitou ao juiz, em razão de ter sido prejudicado. Com o deferimento
desse pedido, os atos praticados pelo outro cônjuge serão nulos.
A administração dos bens particulares competirão ao cônjuge proprietário,
exceto se houver convenção contrária estabelecida no pacto antenupcial (art. 1.665),
mas para alienar imóvel, dependerá da anuência do outro (art. 1.647, I). O cônjuge
que administra o patrimônio particular do outro age como seu representante,
apenas.

8.4. Dívidas
Cada consorte responde pelos próprios débitos anteriores ao casamento, pois
se constituem patrimônios separados.
Se o débito for subseqüente ao casamento, contraídas no exercício da
administração do patrimônio comum, obrigam aos bens comuns e aos particulares
do cônjuge que o administra e aos do outro na proporção do proveito que houver
auferido (art. 1.663, § 1.º).
O débito contraído por qualquer dos consortes na administração dos bens
particulares e em benefício destes não obrigam os bens comuns (art. 1.666).
Quando a dívida for para atender aos encargos da família (contas de água, luz,
alimentação), despesas de administração dos bens comuns (reparos) e decorrentes
de imposição legal (impostos) os bens comuns irão responder, para resguardar
direitos dos credores (art. 1.664).

8.5. Dissolução
Dissolve-se pela morte de um dos cônjuges, separação, divórcio, nulidade ou
anulação de casamento. No caso de morte, o patrimônio particular do falecido
transmite-se aos filhos, sem que haja meação. Quanto ao patrimônio comum, deverá
ser partilhado entre o viúvo/viúva meeira e os herdeiros.

9. Regime da Comunhão Universal de Bens:

METADE IDEAL METADE IDEAL


DA MULHER DO MARIDO

Importa na comunhão de todos os bens dos cônjuges, presentes e futuros, bem


como de suas dívidas. Cada cônjuge passa a ter direito a metade ideal do
patrimônio comum, de maneira que não poderão constituir sociedade entre si (art.
977).
Antes da dissolução e partilha não há meação, mas a metade ideal de bens e
dívidas (art. 1.667). Não há propriedade sobre metade de cada bem, pois há uma
indivisão. O que há é a propriedade sobre a metade ideal do patrimônio comum, ou
seja, não se sabe quem é proprietário do que, pois ambos o são de todo o
patrimônio.
Assim, tudo o que entra para o acervo subordina-se a comunhão, de modo que
se torna comum tudo o que cada consorte adquire, no momento da aquisição. Os
cônjuges são meeiros em todos os bens do casal, mesmo que não tenha trazido
nada ou nada adquirido na constância do casamento.

9.1. Bens excluídos da comunhão universal


Mesmo que o regime da comunhão universal implique na comunhão de todos
os bens presentes e futuros, existem alguns que, em razão de sua natureza ficam
EXCLUÍDOS da comunhão (art. 1.668):
I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e
os sub-rogados em seu lugar;
Para que esta exclusão ocorra deve haver o gravame da cláusula de
incomunicabilidade.
Ex.: se um imóvel doado com cláusula de incomunicabilidade for
desapropriado, a indenização é paga ao donatário, sem que se comunique ao seu
cônjuge.

II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro


fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva;
O fideicomisso é um ato de disposição de vontade expressa em testamento,
pelo qual uma pessoa pode deixar um bem imóvel para o sucessor do seu herdeiro.
O herdeiro ou legatário que recebe em primeiro grau o imóvel denomina-se
fiduciário, ficando ele com o encargo de transmitir a propriedade para aquele que
será o proprietário final do bem, designado fideicomissário. O Código Civil de 2002,
no seu art. 1.951, assim define o fideicomisso: “Pode o testador instituir herdeiros ou
legatários, estabelecendo que, por ocasião de sua morte, a herança ou o legado se
transmita ao fiduciário, resolvendo-se o direito deste, por sua morte, a certo tempo
ou sob certa condição, em favor de outrem, que se qualifica de fideicomissário”.
Ex.: José deixa em testamento, gravado com fideicomisso, um bem x para
Carlos, seu filho, durante 10 anos. Este será o fiduciário. José estabelece no
testamento que passados os 10 anos, o bem passará para o patrimônio de Marcus,
filho de Carlos. Este será o fideicomissário.
Fideicomitente Fiduciário Fideicomissário
 1.º herdeiro  2.º herdeiro
Testador Incomunicabilidade Comunica-se

Neste caso, o bem não se comunica com o cônjuge do fiduciário. Os bens só


passam a se comunicar a partir do momento em que se implementar a condição
(apenas com o cônjuge do fideicomissário, se for o caso).
É lógico que essa propriedade deve ser incomunicável, para que o fiduciário
possa, a certo tempo ou em certa condição, transmitir o bem ao fideicomissário.
Assim, a propriedade só ingressa no patrimônio comum se ocorrer a condição antes
do falecimento do fideicomissário, pois se isto ocorrer antes, caduca o fideicomisso,
consolidando-se a propriedade nas mãos do fiduciário (art. 1.958).

III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas


com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum;
As dívidas anteriores ao matrimônio não se comunicam e o devedor responde
por elas com seu patrimônio particular ou com o que tiver trazido para a comunhão,
ou seja, os bens do outro cônjuge não respondem por dívidas anteriores a união.
Só se houver a dissolução do casamento é que o patrimônio comum (sua
meação), responderá pelos débitos contraídos antes das núpcias.
Se as dívidas forem oriundas dos aprestos com o casamento (enxoval, imóvel,
etc.) ou se reverterem em proveito do casal, haverá a comunicabilidade.
É diferente do que ocorre na comunhão parcial (art. 1.659, III), quando
nenhuma dívida pretérita se comunica, nem as pessoais, nem as feitas em proveito
do casamento.

IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a


cláusula de incomunicabilidade;
A fim de proteger o donatário, ainda que o doador seja o seu consorte.
V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.
Bens de uso pessoal: pela própria natureza pessoal.
Proventos do trabalho: porque um cônjuge não tem direito ao salário do outro,
a não ser que o valor passe a pertencer ao casal. Ex.: conta conjunta, quando todos
os valores são depositados lá e de lá sai o sustento da família e são adquiridos os
bens do casal.
Pensões, meio-soldos, montepios e outras rendas: também pela natureza
personalíssima.
Os bens de herança necessária a que se impuser a cláusula de
incomunicabilidade.
A legítima de um consorte não se comunica ao outro pela redação do art. 1.848
– caso de haver causa legítima.
Os direitos patrimoniais do autor, excetuados os rendimentos resultantes de
sua exploração, salvo pacto antenupcial em contrário (art. 39, Lei 9.610/98)
Art. 39. Os direitos patrimoniais do autor, excetuados os rendimentos
resultantes de sua exploração, não se comunicam, salvo pacto antenupcial
em contrário.
Ex.: se um dos nubentes antes de casar tinha direito a uma pensão, esse
direito não se comunica pelo casamento. Mas o dinheiro que receber após as
núpcias se comunica a partir do vencimento da prestação.
Contudo, estas incomunicabilidades não se estendem aos frutos percebidos ou
vencidos durante a constância do casamento.
Art. 1.669. A incomunicabilidade dos bens enumerados no artigo
antecedente não se estende aos frutos, quando se percebam ou vençam
durante o casamento.

9.2. Administração dos bens


A administração do patrimônio, na constância da sociedade conjugal, é comum.
Essa administração segue as regras dos arts. 1.663, 1.665, 1.666 (art. 1.670).
Para ceder gratuitamente o uso e gozo dos bens, bem como para aliená-los ou
gravá-los, dependerá de anuência de ambos os cônjuges.
A administração dos bens excluídos da comunhão caberá ao proprietário, salvo
estipulação em contrário.
Havendo morte de um dos cônjuges, o outro administrará os bens até que seja
efetivada a partilha entre eles e os herdeiros do falecido.
9.3. Dívidas
Pelas dívidas contraídas na gestão da administração dos bens, respondem os
bens comuns e os particulares do cônjuge administrador. Os bens particulares do
outro cônjuge só responderão se provado que ele obteve algum proveito.
Quanto aos débitos oriundos da administração do patrimônio particular não
serão responsáveis os bens comuns.

9.4. Extinção
A extinção do regime se dá com a dissolução da sociedade conjugal pela morte
de um dos cônjuges, sentença de nulidade ou anulação ou pela separação ou
divórcio ou, ainda, com a separação de fato.
Com a ocorrência de um desses fatos, deverá ser operada a partilha para que
seja posta fim à indivisão.
Se houver separação de fato, os bens ou dívidas adquiridos posteriormente,
ainda que não tenha se operado a partilha, não serão partilhados, pois a separação
de fato põe fim ao regime de bens.
Com a morte, caso o cônjuge supérstite tiver realizado aumento no patrimônio,
esse fica excluído da partilha. Partilha-se 50% para o cônjuge sobrevivente e 50%
entre os herdeiros. Se houverem bens incomunicáveis estes só serão partilhados
entre os herdeiros.
No caso de nulidade, não se tem comunhão de bens, pois o casamento não
existiu, de maneira que cada cônjuge retira o que trouxe para o casamento. Se
houve, nesse período, aquisição de bens em conjunto, esse será partilhado na
proporção da colaboração financeira.
Caso de casamento anulável, se tiver sido considerado putativo, haverá a
partilha dos bens. Se um dos cônjuges for culpado, perderá as vantagens que
obteve e não terá direito a meação quanto ao patrimônio que o outro trouxe para o
casamento. Contudo, o inocente terá direito de exigir sua meação sobre tudo.
Extinta a comunhão e efetuada a divisão do ativo e passivo, cessará a
responsabilidade de cada um dos cônjuges para com os credores do outro por
dívidas que este houver contraído (art. 1.671).
10. Regime da Participação Final nos Aquestos:
O regime da participação final nos aquestos foi introduzido pelo Código de
2002 no sistema brasileiro, que não mais contempla o regime dotal (que há muito já
não era utilizado).
Esse regime tem maior aplicabilidade quando os cônjuges exercem atividades
empresariais distintas, para que possam manusear com maior liberdade seus
pertences.
Ainda assim, é pouco procurado.
Por este regime, cada cônjuge conserva como de seu domínio os haveres que
trouxe para o casamento, e os conseguidos ao longo de sua duração,
administrando-os e aproveitando os seus frutos. Mas, na época da dissolução do
vínculo conjugal procede-se a divisão do acervo adquirido a título oneroso. Para
Tartuce10 a divisão dos bens, ao final, é feita somente dos bens adquiridos, de forma
onerosa, e nos quais tenha havido a participação. Não se trata de uma meação, mas
de uma participação no patrimônio.
“Basicamente, durante o casamento há uma separação total de bens, e no
caso de dissolução do casamento e da sociedade conjugal, algo próximo de uma
comunhão parcial. Cada cônjuge terá direito a uma participação daqueles bens para
os quais colaborou para a aquisição, devendo provar o esforço para tanto”11.
Nesse regime, formam-se massas de bens particulares incomunicáveis durante
o casamento, mas que se tornam comuns no momento da dissolução do matrimônio.
Cada cônjuge tem a expectativa da meação, sendo credor da metade do que o
outro adquiriu a título oneroso durante o matrimônio, se houver dissolução da
sociedade conjugal (art. 1.672).
Existem dois patrimônios: o inicial, que é o conjunto de bens que cada cônjuge
adquire durante a vigência matrimonial e o patrimônio final, que é o patrimônio
verificável no momento da dissolução do casamento.

10 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 180.
11 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 181.
Dias12 afirma existirem cinco universalidades de patrimônios: 1. Os bens
particulares que cada um possuía antes de casar; 2. Os bens que o outro já possuía;
3. O patrimônio adquirido por um dos cônjuges, em nome próprio, após o
matrimônio; 4. Os adquiridos pelo outro, em seu nome, após o casamento; 5. Os
bens comuns, adquiridos pelo casal.
Trata-se de um regime misto: durante o casamento assemelha-se a separação
de bens e, na dissolução, assemelha-se à comunhão parcial.
Contudo, a participação ocorrerá sobre o patrimônio adquirido, de forma
onerosa, pelo outro, mas através de um crédito e não pela constituição de
condomínio sobre o patrimônio. Significa dizer que o direito não é sobre o
patrimônio, mas sim sobre eventual saldo após as compensações dos acréscimos
de cada um13.

10.1. Administração dos bens


A administração do patrimônio inicial é exclusiva de cada cônjuge, que
administrará os bens que possuía ao casar, os adquiridos por doação e herança e
os obtidos onerosamente, durante a constância do casamento.
Em princípio nenhum dos cônjuges pode alienar ou gravar os bens sem a
anuência do outro (art. 1.647, I). Contudo, pode ser estabelecido no pacto
antenupcial a livre disposição dos bens imóveis, quando não será necessária
qualquer anuência do outro cônjuge para alienar ou gravar (art. 1.656).

10.2. Dívidas
Pelas dívidas contraídas por um dos cônjuges antes do matrimônio, responde
seu patrimônio particular. Quanto aos débitos posteriores ao casamento, contraídos
por um dos cônjuges, em princípio, o patrimônio particular deste é que responderá,
salvo de comprovado o proveito comum, quando o patrimônio do outro consorte
responderá na proporção do seu proveito (art. 1.677).

12 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 304.
13 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2016, 322.
No caso de um dos cônjuges pagar dívida do outro, com bens de seu
patrimônio, o valor deverá ser atualizado e imputado na meação do devedor, na data
da dissolução (art. 1.678).
Quando as dívidas de um dos cônjuges for superior a sua meação, não
obrigam o outro, ou a seus herdeiros (art. 1.686). Assim, se falecer o cônjuge
devedor, seus credores só terão direito a sua meação e, se não for suficiente para
saldar a dívida, não poderão cobrar do outro cônjuge ou dos herdeiros, pois estes só
têm responsabilidade no exato teor do que lhes couber na herança.
No caso de direito de terceiros, presume-se como sendo do cônjuge devedor
os bens móveis (art. 1680).

10.3. Dissolução
Com a dissolução da sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges,
invalidade, separação ou divórcio apura-se o montante dos aquestos, excluindo-se
da soma o patrimônio próprio dos cônjuges: bens anteriores ao casamento, os sub-
rogados em seu lugar e os obtidos pelos cônjuges por herança, legado ou doação,
bem como os débitos relativos a esses bens (art. 1.674). Incluem-se na partilha os
frutos dos bens particulares. Os bens móveis, salvo prova em contrário, presumem-
se adquiridos na constância do casamento (art. 1.674, parágrafo único).
Por ocasião da partilha, para a apuração do montante dos aquestos, ficam
excluídos:
Art. 1.674. Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-á o
montante dos aqüestos, excluindo-se da soma dos patrimônios próprios:
I - os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogaram;
II - os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade;
III - as dívidas relativas a esses bens.
Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumem-se adquiridos durante
o casamento os bens móveis.

No caso de bens adquiridos com o esforço comum dos cônjuges, ambos terão
direito a quota igual no condomínio (50% para cada cônjuge) (art. 1.679).
Ex.: se uma casa foi construída em conjunto (esforço comum), sobre o terreno
de um deles, o cônjuge que contribuiu para a construção da casa terá direito apenas
a indenização, pois o imóvel pertencerá ao dono do solo, pois se operou a acessão
artificial.
Se houver doação feita por um cônjuge sem a autorização do outro, este
poderá ser, ao final do matrimônio, indenizado em sua meação (art. 1.675). Pode
haver a reivindicação desse bem. Contudo, também se pode optar por fazer integrar
o monte partilhável o valor equivalente ao bem (art. 1.676).
No caso de separação ou divórcio o montante a ser apurado com os aquestos
será o da data que cessou a convivência (art. 1.683). Neste caso, utiliza-se da
contabilidade para realizar a divisão, pois se levanta o acréscimo patrimonial de
cada cônjuge no período da vigência do casamento. Faz-se o balanço e aquele que
tiver enriquecido menos terá direito à metade do saldo encontrado.
Ex.:
ITEM MARIDO MULHER
PATRIMÔNIO FINAL 1.000.000,00 500.000,00
BENS EXCLUÍDOS 500.000,00 300.000,00
GANHO OU AQUESTOS 500.000,00 200.000,00
ENRIQUECIMENTO
Cálculo  500.000,00 (enriquecimento do marido) – 200.000,00 (enriquecimento da
mulher) = 300.000,00.
R$ 300.000,00 é o valor que o marido enriqueceu a mais que a mulher. Este valor
deverá ser partilhado (50% para cada um).
Assim, a mulher terá um crédito de R$ 150.000,00, que o marido deverá pagar.

Assim, os bens adquiridos durante a separação de fato ou na pendência da


separação judicial ou do divórcio não entrarão na partilha. Contudo, se houver
reconciliação antes do fim da ação, haverá a comunicação desses bens.
Como já dito, é um regime misto, pois durante a vigência é separação de bens
e, na dissolução, comunhão parcial, devendo haver partilha dos bens amealhados a
título oneroso ou por esforço comum, desde que durante a união.
O direito a meação é irrenunciável, incessível ou impenhorável na vigência do
regime patrimonial (art. 1.682). No entanto, é possível a penhora da meação do
devedor sobre determinado bem comum. Se a penhora ocorrer sobre a totalidade do
bem, o outro consorte poderá resguardar sua meação via embargos de terceiro.
Pode ocorrer de que não seja possível a divisão dos bens em natureza. Neste
caso, será calculado o valor da meação, para que este receba sua parte (art. 1.684).
Ex.: um carro – não é possível sua divisão. Dessa forma, haverá a avaliação do bem
para que o cônjuge não proprietário receba sua meação em dinheiro.
No caso de não poder ser feita a reposição do direito a meação em dinheiro,
em razão de poucos recursos do cônjuge proprietário, será feita avaliação e
alienação judicial de tantos bens quantos bastem para o ressarcimento da meação
(art. 1684, parágrafo único).

11. Regime de Separação de Bens:


O regime da separação de bens é aquele em que cada consorte conserva, com
exclusividade, o domínio, a posse e administração de seus bens presentes e futuros
e a responsabilidade pelos débitos anteriores e posteriores ao matrimônio.
Existem dois patrimônios bem separados: o do marido e o da mulher.

Não há qualquer comunicação de bens. Tanto os adquiridos antes do


matrimônio, quanto aqueles que venham a possuir depois do casamento, em
nenhum deles há comunicação.
Cada um conserva o domínio, a posse e a administração de seus bens, assim
como a responsabilidade por dívidas anteriores ou posteriores ao casamento.
Qualquer dos cônjuges pode alienar ou gravar seus bens sem anuência do
outro cônjuge (caso seja separação convencional). Poderá, também, qualquer dos
cônjuges, prestar fiança, aval, pleitear direitos acerca de bens ou direitos
imobiliários, sem autorização do outro (art. 1.647).
O art. 1.647, CC deve ser interpretado no sentido de que quando trata da
“separação absoluta”, refere-se a separação convencional e não na separação
obrigatória. Isto porque na separação convencional os cônjuges podem, no pacto
antenupcial dispor aquilo que pretenderem e, no caso da separação obrigatória, não.
Nesses termos:
SEPARAÇÃO ABSOLUTA = convencional, com pacto.
SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA = não é absoluta. Aplica-se a súmula 377, STF.
No pacto antenupcial tudo pode ser disposto, desde que não seja contrário a
lei.
Ativo e passivo são separados, de maneira que nenhuma dívida se comunica,
seja ela anterior ou posterior ao matrimônio.
Quanto às despesas da família, ambos os cônjuges possuem obrigação com
elas, na proporção de seus bens ou de seus rendimentos, salvo se houver alguma
estipulação em contrário no pacto antenupcial. Ex.: estabelecer que só ao marido
compete o sustento da família.
O regime da separação de bens tanto pode provir de imposição legal (art.
1.641), quanto de convenção (art. 1.687).

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:


I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas
da celebração do casamento;
As causas suspensivas são as previstas no art. 1.523. Deve-se observar que
em qualquer das causas, se comprovado que não há prejuízos, poderá ser requerido
ao juiz que não imponha a separação de bens.
II - da pessoa maior de setenta anos;
Contudo, nessa hipótese, se houver existido união estável há mais de dez anos
consecutivos ou tiver resultado filhos, não seria aplicada a regra, podendo os
nubentes escolher livremente o regime de bens. É nesse sentido o Enunciado 261
do Conselho da Justiça Federal, na III Jornada de Direito Civil:
261 – Art. 1.641: A obrigatoriedade do regime da separação de bens não se
aplica a pessoa maior de sessenta anos, quando o casamento for
precedido de união estável iniciada antes dessa idade.

A imposição do regime de bens é unicamente para evitar casamentos por


interesse econômico.
Deve-se destacar que para todos os outros casos de imposição do regime da
separação obrigatória, a lei permite que seja requerida ao juiz a exclusão dessa
pena (art. 1.523, § único). Mas essa chance não é concedida aos noivos maiores de
70 anos. Assim, como na união estável não vigora essa “pena”, se pretenderem
outro regime de bens, que o façam através de união estável.
Aliás, demonstra Maria Berenice Dias14 que tal imposição é descabida, pois no
caso dos noivos menores de 18 anos, quando os pais não consentem com o
casamento, há o suprimento judicial. Em havendo, há a imposição do regime da
separação obrigatória de bens. Contudo, o juiz pode, a requerimento das partes, não
aplicar essa penalidade. Então, se o juiz não aplica aos menores de 18 anos,
quando os pais não concordam com o casamento, porque não liberar os maiores de
70 anos? Qual é a justificativa para essa limitação? Na verdade, não há explicação:
é assim porque é!

III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.

Fora esses casos, os nubentes que quiserem instituir o regime da separação


de bens como convenção, terão de realizar pacto antenupcial (art. 1.639). Nesse
sentido, poderá ser estabelecido que alguns bens se comunicarão, por exemplo, ou
que a mulher fica isenta das responsabilidades do lar (art. 1.688). Nestes casos,
quando o regime é o da separação convencional, a súmula 377 do STF não surte
efeitos. Contudo, basta a comprovação do esforço comum na aquisição do
patrimônio para que tenha de ocorrer a divisão.
A separação de bens pode ser pura ou absoluta, que é quando estabelece a
incomunicabilidade de todos os bens; ou limitada ou relativa, que é quando podem
ser estabelecidas certas comunicabilidades, relativas a determinados bens.
Não se pode esquecer, contudo, a súmula 377 do STF, que determina que os
bens adquiridos na constância do casamento se comunicam, podendo ser
partilhados. Desde que esses bens sejam adquiridos a título oneroso e com esforço
comum dos cônjuges.

14DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 7.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2010. p. 243.
11.1. Dívidas
Pelas dívidas contraídas antes ou depois do casamento não responde o
patrimônio do outro cônjuge, só o patrimônio daquele que é devedor. Contudo, as
dívidas que forem contraídas, ainda que sem a autorização do outro cônjuge, em
proveito de ambos, ou seja, para o bem da família, se comunicarão ao outro
cônjuge.

11.2. Administração
Cada consorte terá a administração e fruição do que lhe pertence, sem
necessidade de anuência um do outro para alienar ou gravar seus bens (art. 1.687).

11.3. Dissolução
Na dissolução cada um dos consortes retira seu patrimônio próprio. No caso de
óbito de um dos consortes, o outro entrega aos herdeiros o patrimônio do falecido, e,
se houver bens comuns, o administrará até a partilha.

12. Partilha de Bens15:


A partilha de bens decorre do modelo de regime escolhido. Contudo, algumas
questões especiais têm aparecido nas decisões.
Animais. O casal que tiver animais de estimação pode estabelecer não só a
guarda/custódia do bichinho, como também o direito de convivência e o pagamento
de alimentos.
Mancomunhão. Cada cônjuge é proprietário de metade do patrimônio, estando
em condomínio sobre os bens comuns.
Diferença de partilha. Havendo diferença de partilha, incide ITCD, pois
entende-se que houve transmissão gratuita de patrimônio entre os ex-cônjuges.
15
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 335-358.
Uso exclusivo de bem comum. Ao final do relacionamento, se um dos
cônjuges ficar usando, sozinho, bem que é comum, deverá fazer o pagamento pelo
uso (sobre a metade do valor, já que a outra metade lhe pertence) – espécie de
indenização.
Sub-rogação. Se um dos cônjuges tiver bens particulares recebidos por
doação ou herança, estes são incomunicáveis. Caso efetue a venda destes e
aquisição de outro, com o produto da venda, também ficará incomunicável, ainda
que a aquisição tenha ocorrido durante o matrimônio. Trata-se de sub-rogação. No
caso de a aquisição ocorrer por valor superior ao valor da venda dos bens
particulares, ocorre sub-rogação parcial, devendo haver a partilha do valor que foi
acrescido ao patrimônio.
Dívidas e encargos. As dívidas também são comuns do casal, sempre que
contraídas em benefício da família. No caso de financiamento, deve-se verificar o
número de prestações quitadas durante o matrimônio e o percentual do bem que o
valor se refere. A partilha será do percentual do imóvel que foi quitado durante o
relacionamento.
FGTS, verbas rescisórias e créditos trabalhistas. Com relação ao FGTS,
deve-se atentar para a polêmica existente, pois trata-se de frutos civis, rendimentos
do trabalho pessoal, estando excluído da comunhão, nos termos do art. 1.659, VI,
CC. Contudo, a jurisprudência tem entendido que se os valores, no momento do
divórcio, permanecem depositados, são incomunicáveis. Contudo, se foram
levantados para aquisição de algum bem, o imóvel deverá ser partilhado. Da mesma
forma ocorre com as verbas rescisórias e créditos trabalhistas: transformado em
patrimônio = dever de partilhar.
Ativos financeiros. Embora os frutos do trabalho pessoal sejam excluídos da
comunhão, uma vez que tenham sido aplicados em instituições financeiras, deverão
ser partilhados. Ex.: depósito do salário em conta conjunta = partilha desse valor.
Edificação em imóvel de terceiro. Pode ocorrer de o casal construir casa sobre
terreno alheio (normalmente do pai de um deles). No momento da separação, o
filho do dono do terreno permanece com o imóvel. Contudo, terá de indenizar
o outro sobre metade do valor do que a casa agregou sobre o terreno.
QUESTÕES:
EXAME X - Amélia e Alberto são casados pelo regime de comunhão parcial de
bens. Alfredo, amigo de Alberto, pede que ele seja seu fiador na compra de um
imóvel.
Diante da situação apresentada, assinale a afirmativa correta.
A) A garantia acessória poderá ser prestada exclusivamente por Alberto.
B) A outorga de Amélia se fará indispensável, independente do regime de bens. PQ
não é esta? Pq no regime de separação de bens não há a necessidade de outorga.
C) A fiança, se prestada por Alberto sem o consentimento de Amélia, será
anulável.
D) A anulação do aval somente poderá ser pleiteada por Amélia durante o período
em que estiver casada.

EXAME XI - A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado


de fé pública, notadamente no que tange ao fato de o ato de declaração ter sido
praticado na presença do tabelião e ter sido feita sua regular anotação em assentos
próprios, o que não importa na veracidade quanto ao conteúdo declarado.
A respeito desse tema, assinale a afirmativa correta.
A) Aos cônjuges ou à entidade familiar é vedado destinar parte do seu patrimônio
para instituir bem de família por escritura pública, cuja forma legal exige testamento.
B) A escritura pública é essencial para a validade do pacto antenupcial,
devendo ser declarado nulo se não atender à forma exigida por lei.
C) A partilha amigável entre herdeiros capazes será feita por termo nos autos do
inventário ou por escritura pública, não se admitindo escrito particular, ainda que
homologado pelo Juiz.
D) A doação será realizada por meio de escritura pública ou instrumento particular,
não tendo validade a doação verbal, tendo em vista ser expressamente vedada pela
norma.

EXAME XVIII - Roberto e Ana casaram-se, em 2005, pelo regime da comunhão


parcial de bens. Em 2008, Roberto ganhou na loteria e, com os recursos auferidos,
adquiriu um imóvel no Recreio dos Bandeirantes. Em 2014, Roberto foi agraciado
com uma casa em Santa Teresa, fruto da herança de sua tia. Em 2015, Roberto e
Ana se separaram. Tendo em vista o regime de bens do casamento, assinale a
afirmativa correta.
A) Os imóveis situados no Recreio dos Bandeirantes e em Santa Teresa são bens
comuns e, por isso, deverão ser partilhados em virtude da separação do casal.
B) Apenas o imóvel situado no Recreio dos Bandeirantes deve ser partilhado,
sendo o imóvel situado em Santa Teresa bem particular de Roberto.
C) Apenas o imóvel situado em Santa Teresa deve ser partilhado, sendo o imóvel
situado no Recreio dos Bandeirantes excluído da comunhão, por ter sido adquirido
com o produto de bem advindo de fato eventual.
D) Nenhum dos dois imóveis deverá ser partilhado, tendo em vista que ambos são
bens particulares de Roberto.
EXAME XX – Em maio de 2005, Sérgio e Lúcia casaram-se pelo regime da
comunhão parcial de bens. Antes de se casar, ele já era proprietário de dois imóveis.
Em 2006, Sérgio alugou seus dois imóveis e os aluguéis auferidos, mês a mês,
foram depositados em conta corrente aberta por ele, um mês depois da celebração
dos contratos de locação. Em 2010, Sérgio recebeu o prêmio máximo da loteria, em
dinheiro, que foi imediatamente aplicado em uma conta poupança aberta por ele
naquele momento. Em 2013, Lúcia e Sérgio se separaram. Lúcia procurou um
advogado para saber se tinha direito à partilha do prêmio que Sérgio recebeu na
loteria, bem como aos valores oriundos dos aluguéis dos imóveis adquiridos por ele
antes do casamento e, mensalmente, depositados na conta corrente de Sérgio. Com
base na hipótese narrada, assinale a afirmativa correta.
A) Ela não tem direito à partilha do prêmio e aos valores depositados na conta
corrente de Sérgio, oriundos dos aluguéis de seus imóveis, uma vez que se
constituem como bens particulares de Sérgio.
B) Ela tem direito à partilha dos valores depositados na conta corrente de Sérgio,
oriundos dos aluguéis de seus imóveis, mas não tem direito à partilha do prêmio
obtido na loteria.
C) Ela tem direito à partilha do prêmio, mas não poderá pleitear a partilha dos
valores depositados na conta corrente de Sérgio, oriundos dos aluguéis de seus
imóveis.
D) Ela tem direito à partilha do prêmio e dos valores depositados na conta
corrente de Sérgio, oriundos dos aluguéis dos imóveis de Sérgio, uma vez que
ambos constituem-se bens comuns do casal.

EXAME XX – Juliana é sócia de uma sociedade empresária que produz bens que
exigem alto investimento, por meio de financiamento significativo. Casada com Mário
pelo regime da comunhão universal de bens, desde 1998, e sem filhos, decide o
casal alterar o regime de casamento para o de separação de bens, sem prejudicar
direitos de terceiros, e com a intenção de evitar a colocação do patrimônio já
adquirido em risco. Sobre a situação narrada, assinale a afirmativa correta.
A) A alteração do regime de bens mediante escritura pública, realizada pelos
cônjuges e averbada no Registro Civil, é possível.
B) A alteração do regime de bens, tendo em vista que o casamento foi realizado
antes da vigência do Código Civil de 2002, não é possível.
C) A alteração do regime de bens mediante autorização judicial, com pedido
motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas
e ressalvados os direitos de terceiros, é possível.
D) Não é possível a alteração para o regime da separação de bens, tão somente
para o regime de bens legal, qual seja, o da comunhão parcial de bens.

EXAME XXI – João e Maria casaram-se, no regime de comunhão parcial de bens,


em 2004. Contudo, em 2008, João conheceu Vânia e eles passaram a ter um
relacionamento amoroso. Separando-se de fato de Maria, João saiu da casa em
que morava com Maria e foi viver com Vânia, apesar de continuar casado com
Maria. Em 2016, João, muito feliz em seu novo relacionamento, resolve dar de
presente um carro 0 km da marca X para Vânia. Considerando a narrativa
apresentada, sobre o contrato de doação celebrado entre João, doador, e Vânia,
donatária, assinale a afirmativa correta.
A) É nulo, pois é hipótese de doação de cônjuge adúltero ao seu cúmplice.
B) Poderá ser anulado, desde que Maria pleiteie a anulação até dois anos depois
da assinatura do contrato.
C) É plenamente válido, porém João deverá pagar perdas e danos à Maria.
D) É plenamente válido, pois João e Maria já estavam separados de fato no
momento da doação.

EXAME XXIII – Arlindo e Berta firmam pacto antenupcial, preenchendo todos os


requisitos legais, no qual estabelecem o regime de separação absoluta de bens. No
entanto, por motivo de saúde de um dos nubentes, a celebração civil do casamento
não ocorreu na data estabelecida. Diante disso, Arlindo e Berta decidem não se
casar e passam a conviver maritalmente. Após cinco anos de união estável, Arlindo
pretende dissolver a relação familiar e aplicar o pacto antenupcial, com o objetivo de
não dividir os bens adquiridos na constância dessa união. Nessas circunstâncias, o
pacto antenupcial é
A) válido e ineficaz. Fundamento – art. 1.653, CC
B) válido e eficaz.
C) inválido e ineficaz.
D) inválido e eficaz.

IV – BEM DE FAMÍLIA
O direito à moradia é um direito fundamental social, garantido
constitucionalmente, através do art. 6.º, CF. A instituição de bem de família visa
afetar bens para o destino especial de abrigar a família, protegendo-os. Depois de
instituído, o bem torna-se impenhorável por dívidas posteriores a sua constituição,
salvo as relativas aos impostos devidos pelo próprio prédio (IPTU e ITR, p.ex.).
Tem por objetivo assegurar um lar à família, pondo-a ao abrigo de penhoras
por débitos posteriores a sua instituição, salvo os que provierem de tributos relativos
ao próprio prédio ou de despesas condominiais (IPTU, ITR, etc).

1. Espécies:
Existem duas espécies de bem de família: voluntário (decorre da vontade do
instituidor, devendo obedecer certos requisitos) e o legal (independe da vontade do
instituidor, de forma que a lei torna impenhorável o imóvel simplesmente pelo fato de
o devedor residir nele).

2. Convencional/voluntário:
A instituição do bem de família voluntário pode ser feita pelo proprietário ou
pela entidade familiar (art. 1.711, CC). Uma vez que seja instituído um imóvel como
bem de família, não responde mais por dívidas futuras (mas responde pelas
pretéritas), pois a impenhorabilidade não possui efeito retroativo (1.715, CC).
O bem de família poderá ser instituído pelos cônjuges, companheiros,
integrante-chefe da família monoparental ou por terceiro, por ato inter vivos ou causa
mortis (testamento), desde que ambos os cônjuges beneficiados ou membros da
família contemplada aceitem expressamente a liberalidade (art. 1.711, parágrafo
único). Deve haver o assento no Registro de imóveis (art. 1.714), para que tenha
oponibilidade erga omnes.
O bem de família pode constituir de prédio urbano ou rural, bem como seus
pertenças (mobília), que a família destina para ser o abrigo ou domicílio familiar (art.
1.712).
Existem limites à instituição do bem de família: só pode usar 1/3 do patrimônio
líquido do instituidor, existente ao tempo da instituição. Dessa forma, o proprietário,
para poder instituir o bem de família, deve ter, no mínimo 3 imóveis (art. 1.711).
Trata-se de uma medida legal protetiva dos credores, ante a possibilidade de má-fé
do instituidor. Além disto, apenas pessoas mais abastadas podem se utilizar deste
instrumento, tornando-o de pouco uso.
Essa isenção dura enquanto viverem os cônjuges (ou companheiros) ou
enquanto os filhos forem menores de idade. Somente depois de finda a cláusula é
que o bem ficará sujeito ao pagamento dos credores e o prédio será levado a
inventário. Ademais, deve ser lembrado que o bem não fica isento de
responsabilidade quanto aos débitos de condomínio e IPTU, por exemplo.

REQUISITOS:
- institui-se por Escritura Pública.
- não ultrapassar 1/3 do patrimônio.
- constitui-se por registro no Cartório de Registro de Imóveis.
- se na família existirem menores ou incapazes (interditos) não pode ser
eliminada a cláusula que institui o bem de família, salvo se houver sub-rogação (art.
1.719).
Só pode haver alienação do prédio no qual foi instituído o bem de família se
houver a concordância do interessado (instituidor ou filhos menores) e ouvido o MP
(art. 1.717). No caso de falecerem os cônjuges e deixarem filhos menores, o tutor é
que será responsável por gerir o bem de família. Se houver necessidade de vendê-
lo, poderá fazê-lo desde que com autorização judicial e ouvido o MP.
Se restar comprovada a impossibilidade de manter o bem de família, como por
exemplo, para pagar despesas com UTI, poderá haver requerimento ao juiz que
extinga o bem de família, ouvido o MP e o interessado (instituidor ou filhos
menores). Neste caso poderá haver a sub-rogação de outro bem no lugar, quando
ficará gravado como bem de família ou o produto da venda será depositado
judicialmente, sendo o valor liberado para o pagamento da UTI, por exemplo (art.
1.719).
A administração do bem de família caberá a ambos os cônjuges, em igualdade
de condições (art. 1.720). Se ambos os cônjuges falecerem, a administração passa
ao filho mais velho ou ao seu tutor, se menor.
A cláusula de bem de família só poderá ser levantada por mandado judicial.
Só haverá a partilha quando for eliminada a cláusula que o institui, pela morte
dos cônjuges e maioridade de todos os filhos, por exemplo.

3. Legal:
A lei 8.009/90 institui o bem de família legal, impedindo a penhora do único
bem imóvel rural ou urbano da família, destinado a moradia permanente, excluindo
casas na praia ou casas de campo. Tais bens não responderão pelos débitos
contraídos pela entidade familiar. Contudo, se o devedor oferecer este bem à
penhora, não poderá, depois, pleitear a exclusão.
O bem de família legal não responde por qualquer tipo de dívida (civil,
comercial, fiscal, previdenciária, ou qualquer natureza) (art. 1.º, lei 8.009/90),
podendo ser oposta a impenhorabilidade em qualquer tempo ou grau de jurisdição.
A lei 13.144/2015, alterou o art. 3.º, III da lei 8.009/90, de forma que pode ocorrer a
penhora do bem de família para pagamento de débito alimentar, resguardado o
direito do coproprietário.
Para que essa impenhorabilidade seja reconhecida, o único imóvel do devedor
deve estar sendo habitado por ele e sua família. PODE ESTAR LOCADO, mas a
renda deve reverter para a subsistência da família:

Súmula 486, STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor


que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja
revertida para a subsistência ou a moradia da sua família.

O fato de o devedor possuir mais bens não impede que seja declarada a
impenhorabilidade sobre o imóvel de residência da família.
A execução da dívida alimentar afasta a impenhorabilidade do bem de família.

V – UNIÃO ESTÁVEL:

Houveram diferentes fases na evolução histórica da união estável:


1. REJEIÇÃO: até o início do século XX as relações não matrimoniais
eram repugnadas pela sociedade, não sendo aceita como família e associada ao
adultério. A ainda chamada concubina não tinha direito a nada.
2. TOLERÂNCIA (tutela de natureza previdenciária): o quadro anterior
começou a se modificar, sendo a união estável (ainda chamada de concubinato)
tolerada como fato da vida. Surgiram os primeiros direitos dos concubinos: a tutela
previdenciária, previsto no art. 3.º, d, da lei 4.297/63 (esta lei foi revogada pela lei
5.698/71).
3. ACEITAÇÃO COMO FATO SOCIAL (tutela de natureza obrigacional):
No princípio as decisões eram tão somente relacionadas ao patrimônio. Concessão
de alimentos “de forma camuflada”, sob o nome de indenização por serviços
domésticos. O objetivo maior era a vedação do enriquecimento ilícito pelo homem,
por se aproveitar do trabalho e da dedicação da mulher, não podendo abandoná-la
sem indenização.
Com o tempo, a justiça passou a reconhecer a existência de sociedade de fato,
permitindo a partilha dos bens, mas exigindo a comprovação de efetiva participação
financeira de cada parte na aquisição dos bens, para que pudessem ser partilhados.
Os consortes eram considerados sócios e a divisão era, portanto, dos lucros, ou
seja, dos bens adquiridos durante a “sociedade”.
Nesse sentido é a súmula 380 do STF:
"Comprovada a existência da sociedade de fato entre os concubinos, é
cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo
esforço comum."

Esses subterfúgios eram utilizados para efetivar a partilha do patrimônio e


evitar o enriquecimento ilícito de qualquer dos companheiros.
4. VALORIZAÇÃO (prestígio constitucional): A Constituição Federal
introduziu o nome união estável e incluiu este tipo de relacionamento como entidade
familiar. A partir daí outros relacionamentos passaram a ser protegidos, não só os
decorrentes do casamento. Contudo, nenhum reflexo quanto a direitos foi trazido, já
que os litígios relativos às uniões estáveis continuaram a ser julgados pelas varas
cíveis e não pelas de família. Persistia a vedação de conceder herança ao cônjuge
sobrevivente e a negativa de assegurar direito real de habitação ou usufruto de parte
dos bens. Duas leis vieram regulamentar o novo instituto.
Lei 8.971/94 – assegurou o direito a alimentos e à sucessão ao companheiro,
exigindo prazo de 5 anos de convivência ou prole.
Lei 9278/96 – não previu prazo; reconheceu o direito real de habitação e fixou a
competência para julgar litígios dessa natureza nas varas de família. Os bens
adquiridos a título oneroso durante a relação de convivência, passaram a ser
entendidos como fruto do esforço comum, sem necessidade de prova de
participação efetiva para que pudesse haver a partilha igualitária dos bens.
Código Civil de 2002 – sistematizou a matéria relativa a união estável,
revogando a legislação anterior. A união estável passou a ser entendida como
aquela sem impedimentos para o matrimônio. Concubinato não é mais sinônimo de
união estável, mas se refere àquelas situações do passado, tratadas como
concubinato impuro ou adulterino (quando um dos parceiros é casado e vive uma
outra união fora do casamento).
1. Conceito:
Considerando a decisão do STF na ADIN 4277, o conceito de União estável se
modificou, de forma que GAGLIANO e PAMPLONA FILHO afirmam que é possível
se conceituar a “união estável como uma relação afetiva de convivência pública e
duradoura entre duas pessoas, do mesmo sexo ou não, com o objetivo imediato de
constituição de família”.

2. Requisitos e aspectos controvertidos:


São requisitos da união estável, por força do art. 226, § 3.º da CF e do art.
1.723 do CC:
ESTABILIDADE: não é qualquer relacionamento fugaz e transitório que
configura a união estável. A proteção é para aquelas uniões que se apresentam com
os elementos do casamento, ou seja, que tenham por objetivo a constituição de
família.
DURADOURA: Assim que deriva da estabilidade a característica de ser
DURADOURA. Não há a estipulação de um prazo, mas a convivência, com intuito de
constituir família, por um período mais ou menos longo é o retrato da estabilidade e
da duração da união. Assim, o prazo é importante, mas não absoluto, eis que podem
existir uniões que não possuindo prazo (podem ser inferiores a 1 ano), possuem o
intuito de constituir família, sendo que podem, inclusive, ter gerado filhos.
CONTINUIDADE: é complemento da estabilidade, de maneira que a união
deve ser contínua, sem interrupções, com ânimo de permanência e definitividade.
Contudo, depende de prova, pois nem sempre um rompimento afasta o conceito de
união estável.
DIVERSIDADE DE SEXOS: Em razão da decisão do STF na ADIN 4.277 não
mais se exige a diversidade de sexos.
PUBLICIDADE: é importante a notoriedade da união, ou seja, deve ser uma
relação onde o casal se apresenta como se marido e mulher fossem perante a
sociedade.
OBJETIVO DE CONSTITUIÇÃO DE FAMÍLIA: esse é o objetivo principal da
união estável: constituir família. Para tanto, não é necessária a existência de prole,
mas a união com o objetivo de constituir família é aquela que se traduz na
comunhão de vida e interesses. Aqui entra, por exemplo, a questão da fidelidade,
pois sem ela cai por terra a comunhão de vida, de interesses e sentimentos.
COABITAÇÃO = tal elemento não é obrigatório, pois existem casos em que
existe união sólida, duradoura e notória, mas onde o casal não reside na mesma
casa, sem que, contudo, desconfigure a união estável. Assim, a estabilidade da
relação não é afetada por essa circunstância, quando os companheiros se
comportarem, nos espaços públicos e sociais, como se casados fossem.
Nesse sentido a súmula 382, STF:
A VIDA EM COMUM SOB O MESMO TETO, "MORE UXORIO", NÃO É
INDISPENSÁVEL À CARACTERIZAÇÃO DO CONCUBINATO.

Por ser ato-fato jurídico, a união estável não necessita de qualquer


manifestação de vontade para que produza seus efeitos jurídicos. Basta sua
configuração fática. Assim, o CONTRATO DE NAMORO não tem efeitos, pois não
importa o que venha a dispor, se os requisitos da união estável restarem
configurados, poderá haver o reconhecimento (espontâneo ou judicial), pois ser um
ato-fato jurídico, não necessita da vontade das partes para a configuração. Quanto
ao contrato de namoro, segundo Flávio Tartuce e José Fernando Simão, “é nulo o
contrato de namoro nos casos em que existe entre as partes envolvidas uma união
estável, eis que a parte renuncia por esse contrato e de forma indireta a alguns
direitos essencialmente pessoais, como é o caso do direito a alimentos. Esse
contrato é nulo por fraude à lei imperativa (art. 166, VI, do CC), e também por ser o
seu objeto ilícito (art. 166, II, do CC)”16.
Mas qual, então, a diferença entre a união estável e o namoro? Tartuce e
Simão (p. 269) afirmam que a constituição de família é que estabelece esta
diferença. Se a constituição de família é um projeto para o futuro, trata-se de
namoro. Se a família já está constituída, independentemente da existência ou não
de filhos, trata-se de união estável.

16TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. 8.ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2013, p. 2.
RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE RECONHECIMENTO
DE UNIÃO ESTÁVEL - IMPROCEDÊNCIA - RELAÇÃO DE NAMORO QUE
NÃO SE TRANSMUDOU EM UNIÃO ESTÁVEL EM RAZÃO DA
DEDICAÇÃO E SOLIDARIEDADE PRESTADA PELA RECORRENTE AO
NAMORADO, DURANTE O TRATAMENTO DA DOENÇA QUE
ACARRETOU SUA MORTE - AUSÊNCIA DO INTUITO DE CONSTITUIR
FAMÍLIA - MODIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS FÁTICOS-PROBATÓRIOS -
IMPOSSIBILIDADE - INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N. 7/STJ -
RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. I - Na hipótese dos autos, as
Instâncias ordinárias, com esteio nos elementos fáticos-probatórios,
concluíram, de forma uníssona, que o relacionamento vivido entre a ora
recorrente, F. F., e o de cujus, L., não consubstanciou entidade familiar, na
modalidade união estável, não ultrapassando, na verdade, do estágio de
namoro, que se estreitou, tão-somente, em razão da doença que acometeu
L.; II - Efetivamente, no tocante ao período compreendido entre 1998 e final
de 1999, não se infere do comportamento destes, tal como delineado pelas
Instâncias ordinárias, qualquer projeção no meio social de que a relação por
eles vivida conservava contornos (sequer resquícios, na verdade), de uma
entidade familiar. Não se pode compreender como entidade familiar uma
relação em que não se denota posse do estado de casado, qualquer
comunhão de esforços, solidariedade, lealdade (conceito que abrange
"franqueza, consideração, sinceridade, informação e, sem dúvida,
fidelidade", ut REsp 1157273/RN, Relatora Ministra Nancy Andrighi, DJe
07/06/2010), além do exíguo tempo, o qual também não se pode reputar de
duradouro, tampouco, de contínuo; III - Após o conhecimento da doença
(final de 1999 e julho de 2001), L. e F. F. passaram a residir, em São Paulo,
na casa do pai de L., sem que a relação transmudasse para uma união
estável, já que ausente, ainda, a intenção de constituir família. Na verdade,
ainda que a habitação comum revele um indício caracterizador da affectio
maritalis, sua ausência ou presença não consubstancia fator decisivo ao
reconhecimento da citada entidade familiar, devendo encontrar-se
presentes, necessariamente, outros relevantes elementos que denotem o
imprescindível intuito de constituir uma família; IV - No ponto, segundo as
razões veiculadas no presente recurso especial, o plano de constituir família
encontrar-se-ia evidenciado na prova testemunhal, bem como pelo
armazenamento de sêmen com a finalidade única de, com a recorrente,
procriar. Entretanto, tal assertiva não encontrou qualquer respaldo na prova
produzida nos autos, tomada em seu conjunto, sendo certo, inclusive,
conforme deixaram assente as Instâncias ordinárias, de forma uníssona,
que tal procedimento (armazenamento de sêmen) é inerente ao tratamento
daqueles que se submetem à quimioterapia, ante o risco subseqüente da
infertilidade. Não houve, portanto, qualquer declaração por parte de L. ou
indicação (ou mesmo indícios) de que tal material fosse, em alguma
oportunidade, destinado à inseminação da ora recorrente, como sugere em
suas razões. Bem de ver, assim, que as razões recursais, em confronto com
a fundamentação do acórdão recorrido, prendem-se a uma perspectiva de
reexame de matéria de fato e prova, providência inadmissível na via eleita,
a teor do enunciado 7 da Súmula desta Corte; V - Efetivamente, a
dedicação e a solidariedade prestadas pela ora recorrente ao namorado L.,
ponto incontroverso nos autos, por si só, não tem o condão de transmudar a
relação de namoro para a de união estável, assim compreendida como
unidade familiar. Revela-se imprescindível, para tanto, a presença
inequívoca do intuito de constituir uma família, de ambas as partes,
desiderato, contudo, que não se infere das condutas e dos comportamentos
exteriorizados por L., bem como pela própria recorrente, devidamente
delineados pelas Instâncias ordinárias; VI - Recurso Especial improvido.
(REsp 1257819/SP, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 01/12/2011, DJe 15/12/2011)

Aplicam-se à união estável os mesmos impedimentos legais para o casamento.


Contudo, o fato de um dos conviventes estar casado, mas separado de fato ou
judicialmente, não obsta a configuração da união estável.
E quanto às uniões estáveis paralelas ou uniões plúrimas ou múltiplas, ou
seja, quando houver mais de uma união estável, duas famílias paralelas? Neste
caso, considerando a comprovação do início de cada relação, a segunda união não
configura união estável, somente a primeira.
Ex.: (Tartuce17)
Tício, reside na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, vive em união
estável, nesta cidade, com Maria Antônia, desde o ano de 2002. A união apresenta
todos os requisitos constantes na lei civil. Toda a sociedade local reconhece a
existência da entidade familiar, tratando os companheiros como se casados fossem.
Todavia, Tício é viajante e, desde o ano de 2003, encontra-se com Maria
Figueiredo todas as segundas-feiras, na cidade de Franca, onde mantém um
escritório. A relação também se enquadra nos termos do art. 1.723, CC. Tício e
Maria Figueiredo têm um filho comum: João Henrique, de um ano de idade.
Tício mantém ainda uma união pública, notória e contínua com Maria Augusta,
na cidade de Batatais, para onde vai todas as quintas-feiras vender seus produtos.
Aliás, Maria Augusta é dona de um estabelecimento comercial em que Tício consta
como sócio. Ambos têm um negócio lucrativo naquela cidade do interior paulista. O
relacionamento amoroso existe desde 2004.
Por fim, Tício tem um apartamento montado na cidade de São Paulo, onde vai
ocasionalmente, de quinze em quinze dias, a fim de comprar produtos para vender
no interior paulista. Nesse apartamento reside Maria Carmem, com quem Tício tem
um relacionamento desde o final do ano de 2004. Essa sua convivente está grávida
e espera um filho seu.
No caso hipotético, uma Maria não sabe da existência da outra como
convivente de seu companheiro, até que, um dia, o pior acontece e o mundo
desaba.

17 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 341-342.
A partir daí, como ficam os direitos das conviventes? Segundo Tartuce18
existem três posicionamentos diferentes a esse respeito.
1. Nenhum dos relacionamentos constitui união estável. Como não há
lealdade na relação, não constitui um dos seus requisitos, sem o qual não há a
entidade familiar (posicionamento de Maria Helena Diniz). As conviventes poderão
pleitear indenização por danos morais e materiais, em razão da boa-fé.
2. Aplicação das regras do casamento putativo. Neste caso, como as
Marias estavam de boa-fé e não sabia da existência uma das outras, devem pedir a
aplicação analógica do art. 1.561, CC.
Se não houver filhos em comum o segundo parceiro terá pretensão contra o
primeiro no campo das relações patrimoniais, segundo o modelo do direito das
obrigações, quando à partilha dos bens adquiridos com esforço comum ou à
indenização por serviços prestados. Os filhos comuns terão direito tanto a pretensão
de natureza patrimonial, quanto pessoal.
Nesse sentido a jurisprudência do STJ:
União estável. Reconhecimento de duas uniões concomitantes.
Equiparação ao casamento putativo. Lei nº 9.728/96.
1. Mantendo o autor da herança união estável com uma mulher, o posterior
relacionamento com outra, sem que se haja desvinculado da primeira, com
quem continuou a viver como se fossem marido e mulher, não há como
configurar união estável concomitante, incabível a equiparação ao
casamento putativo.
2. Recurso especial conhecido e provido. (STJ. REsp 789.293/RJ. Rel. Min.
Carlos Alberto Menezes Direito. j. 15/02/2006).

No mesmo sentido tem ocorrido quando há um casamento e uma união estável


paralelas. Os Tribunais Superiores não tem reconhecido o direito da segunda
companheira, não reconhecendo, nesta relação, uma união estável, mas sim, o
concubinato.
DIREITO DE FAMÍLIA E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL. HOMEM CASADO.
OCORRÊNCIA DE CONCUBINATO. INDAGAÇÕES ACERCA DA VIDA
ÍNTIMA DOS CÔNJUGES.
IMPERTINÊNCIA. INVIOLABILIDADE DA VIDA PRIVADA. SEPARAÇÃO
DE FATO NÃO PROVADA. ÔNUS DA PROVA QUE RECAI SOBRE A
AUTORA DA AÇÃO.

18 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 342-349.
1. A jurisprudência do STJ e do STF é sólida em não reconhecer como
união estável a relação concubinária não eventual, simultânea ao
casamento, quando não estiver provada a separação de fato ou de direito
do parceiro casado.
2. O acórdão recorrido estabeleceu que o falecido não havia desfeito
completamente o vínculo matrimonial - o qual, frise-se, perdurou por trinta e
seis anos -, só isso seria o bastante para afastar a caracterização da união
estável em relação aos últimos três anos de vida do de cujus, período em
que sua esposa permaneceu transitoriamente inválida em razão de
acidente. Descabe indagar com que propósito o falecido mantinha sua vida
comum com a esposa, se por razões humanitárias ou qualquer outro
motivo, ou se entre eles havia "vida íntima".
3. Assim, não se mostra conveniente, sob o ponto de vista da segurança
jurídica, inviolabilidade da intimidade, vida privada e dignidade da pessoa
humana, discussão acerca da quebra da affectio familiae, com vistas ao
reconhecimento de uniões estáveis paralelas a casamento válido, sob pena
de se cometer grave injustiça, colocando em risco o direito sucessório do
cônjuge sobrevivente.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1096539/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 27/03/2012, DJe 25/04/2012)

3. Reconhecimento de todas as relações como uniões estáveis e todos os


direitos daí advindos. Esse entendimento, contudo, despreza a questão da
lealdade e ignora a caracterização da união estável, que deve ser exclusiva. É o
posicionamento defendido por Maria Berenice Dias.
3. Efeitos:
A união estável gera efeitos a partir do seu início. Contudo, bastante difícil
estabelecer seu prazo inicial. Assim, o início da união estável é o início da
convivência dos companheiros. Havendo coabitação mais fácil a identificação do
momento de início da produção de efeitos. Não havendo, necessário identificar o
tempo em que os companheiros passaram a viver como se marido e mulher fossem
perante as relações sociais. A prova pode ser feita por correspondências, fotos,
documentos de viagens, etc. No caso de companheiro casado, para a configuração
do início da união estável com outrem é necessária, no mínimo, a separação de fato.
Não há distinção entre os filhos advindos de relações matrimoniais e filhos
advindos de relação de união estável. Assim, quanto a direitos pessoais aplicam-se
as mesmas regras quanto a poder familiar, filiação, adoção, etc. (art. 1.724).
Lei dos Registros Públicos (art. 57) – permite que um companheiro adote o
sobrenome do outro se forem (ambos ou um apenas) separado de fato ou
judicialmente, pois tal fato configura impedimento para o matrimônio.
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. UNIÃO ESTÁVEL.
ALTERAÇÃO DO ASSENTO REGISTRAL DE NASCIMENTO. INCLUSÃO
DO PATRONÍMICO DO COMPANHEIRO. POSSIBILIDADE.
Pedido de alteração do registro de nascimento para a adoção, pela
companheira, do sobrenome de companheiro, com quem mantém união
estável há mais de 30 anos. A redação do o art. 57, § 2º, da Lei 6.015/73
outorgava, nas situações de concubinato, tão somente à mulher, a
possibilidade de averbação do patronímico do companheiro, sem prejuízo
dos apelidos próprios, desde que houvesse impedimento legal para o
casamento, situação explicada pela indissolubilidade do casamento, então
vigente. A imprestabilidade desse dispositivo legal para balizar os pedidos
de adoção de sobrenome dentro de uma união estável, situação
completamente distinta daquela para qual foi destinada a referida norma,
reclama a aplicação analógica das disposições específicas do Código Civil
relativas à adoção de sobrenome dentro do casamento, porquanto se
mostra claro o elemento de identidade entre os institutos e a parelha ratio
legis relativa à união estável, com aquela que orientou o legislador na
fixação, dentro do casamento, da possibilidade de acréscimo do sobrenome
de um dos cônjuges, pelo outro. Assim, possível o pleito de adoção do
sobrenome dentro de uma união estável, em aplicação analógica do art.
1.565, § 1º, do CC-02, devendo-se, contudo, em atenção às peculiaridades
dessa relação familiar, ser feita sua prova documental, por instrumento
público, com anuência do companheiro cujo nome será adotado.
Recurso especial provido. (REsp 1206656/GO, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/10/2012, DJe 11/12/2012)

Se, contudo, forem ambos livres e desimpedidos para casar, não poderão se
valer desse direito.
REGIME DE BENS: comunhão parcial ou qualquer outro convencionado
formalmente pelos conviventes. Em razão disto, qualquer alienação depende da
autorização do outro companheiro, sob pena de possibilidade de anulação do ato. O
terceiro de boa-fé tem direito, no caso de anulação, de pleitear do cônjuge que lhe
vendeu o bem, o ressarcimento dos valores pagos e indenização por perdas e
danos. Necessidade de registrar o contrato no registro de imóveis para que as
cláusulas estabelecidas tenham validade contra terceiros. Se não for registrado o
contrato, para efeitos contra terceiros, presume-se a comunhão parcial de bens, de
modo que poderá haver a penhora de parte de um imóvel adquirido depois da união,
para pagamento de dívida de um dos companheiros (mesmo que o regime
estabelecido no contrato – e não registrado – seja o da separação de bens).
Deve-se observar, ainda, que o CPC/2015, no art. 73, § 3.º, exige a
aquiescência do convivente em união estável nas ações que versarem sobre direitos
reais imobiliários, desde que a união estável esteja comprovada nos autos.
Não se aplica à união estável o regime legal obrigatório da separação de bens
(art. 1.641), pois normas restritivas de direitos não pode ter interpretação extensiva.
Assim, se houver união estável de pessoa com mais de 70 anos, o regime legal é o
da comunhão parcial de bens, salvo estipulação em contrário.
Se a união estável iniciou-se antes da entrada em vigor do CC, a ela também
se aplica o regime da comunhão parcial de bens, salvo se os companheiros
estipularam algo em contrário.

4. Contrato de convivência:
Aos conviventes é lícito estabelecerem convenções por escrito quanto ao
direito patrimonial, assim como ocorre com o casamento, sendo aplicado,
supletivamente, as regras quanto aos regimes de bens. Não é necessária escritura
pública, podendo ser feito por documento particular. Para que tenha eficácia contra
terceiros, é preciso que o contrato de convivência seja feito por escritura pública ou
registrado no Cartório de Títulos e Documentos.
IMPORTANTE (Tartuce19): “no caso de dois nubentes que celebraram um
pacto antenupcial por escritura pública no Tabelionato de Notas. O casamento não
se realiza, o que faz com que o pacto não tenha eficácia, para fins de casamento.
Todavia, se ambos passarem a viver em união estável, o pacto antenupcial vale e
gera efeitos como se fosse um contrato de convivência”.
Aplicam-se subsidiariamente as normas aplicáveis aos pactos antenupciais, ou
seja, não podem ser fixadas cláusulas que nos pactos também são vedadas. Dessa
maneira, só são permitidas cláusulas que estabeleçam quanto ao regime de bens
dos companheiros e nada mais. Pode ser estabelecido pelos companheiros, no
contrato de união estável, que o regime de bens seja retroativo, mas tem como limite
a proteção dos interesses de terceiros de boa-fé. No caso de ausência desse pacto
escrito, aplicam-se as regras pertinentes ao regime da comunhão parcial de bens.

5. Alimentos:

19 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 161.
Qualquer dos companheiros, em caso de necessidade, pode exigir do outro
alimentos (art. 1.694). Basta que seja comprovada, em ação pertinente, a
necessidade. Essa ação pode ser tanto a que visa o reconhecimento e a dissolução
da união estável, quanto a ação de alimentos propriamente dita.

6. Direito sucessório:
O direito sucessório dos conviventes era tratado pelo art. 1.790 do CC, que
acabou sendo declarado inconstitucional pelo STF em maio de 2017. Sendo assim,
atualmente aplica-se à sucessão do companheiro, a mesma regra da sucessão do
cônjuge.

7. Conversão em casamento:
O art. 1.726 dispõe que a união estável poderá ser convertida em casamento,
mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no registro civil. Contudo,
deve-se observar que essa disposição não dispensa os procedimentos preliminares
e o processo de habilitação do casamento.
Na conversão há dispensa da celebração do casamento, mas da habilitação,
não. Há, sim, uma simplificação na habilitação, pois a união estável pressupõe que a
união tenha sido constituída sem violação aos impedimentos matrimoniais, tornando
desnecessária publicação de edital. O único impedimento é quanto ao convivente
que estivesse separado de fato ou judicialmente no início da união estável, quando
terá de comprovar que já se encontra divorciado, para possibilitar o casamento.
O pedido deve ser feito por ambos os conviventes ou por procuradores com
poderes para tanto. Feita prova da união estável o juiz determinará o registro do
casamento.
A conversão não produz efeitos retroativos. As relações pessoais e
patrimoniais da união estável permanecerão desde seu início até a conversão em
casamento. A partir daí os efeitos do casamento passarão a viger. Assim, se os
cônjuges estabelecerem o regime da separação total de bens, por pacto antenupcial,
os bens adquiridos durante a união estável ingressam no regime legal da comunhão
parcial, permanecendo em condomínio e, em caso de dissolução, serão partilhados
igualitariamente. HÁ DIVERGÊNCIAS, POIS ROLF MADALENO ENTENDE QUE
HÁ A RETROATIVIDADE DO CASAMENTO ATÉ A DATA DO INÍCIO DA UNIÃO
ESTÁVEL. DESSA FORMA, TAMBÉM O REGIME DE BENS RETROAGIRÁ A
DATA DO INÍCIO A UNIÃO ESTÁVEL.

8. Dissolução e partilha de bens:


Quando houver a dissolução da união estável, o quadro assemelha-se a
separação consensual ou litigiosa. Contudo, termina da mesma maneira que inicia,
sem qualquer ato jurídico ou decisão judicial, bastando a separação de fato.
A dissolução pode ser amigável ou litigiosa. Se for amigável os conviventes
poderão fazer documento escrito (público ou particular). No caso de dissolução
litigiosa, se não houver contrato de união estável, será necessária a ação de
reconhecimento e dissolução da união estável. Na partilha de bens, reconhecida a
união estável, aplica-se os princípios da comunhão parcial (art. 1.725 + art. 1.658 e
seguintes), se não houver contrato em contrário.

QUESTÕES:
V EXAME – Em relação à união estável, assinale a alternativa correta.
A) Para que fique caracterizada a união estável, é necessário, entre outros
requisitos, tempo de convivência mínima de cinco anos, desde que durante esse
período a convivência tenha sido pública e duradoura.
B) Quem estiver separado apenas de fato não pode constituir união estável, sendo
necessária, antes, a dissolução do anterior vínculo conjugal; nesse caso, haverá
simples concubinato.
C) Não há presunção legal de paternidade no caso de filho nascido na
constância da união estável.
D) O contrato de união estável é solene, rigorosamente formal e sempre público.

EXAME XXI – Felipe e Ana, casal de namorados, celebraram contrato de compra


e venda com Armando, vendedor, cujo objeto era um carro no valor de R$
30.000,00, a ser pago em 10 parcelas de R$ 3.000,00, a partir de 1º de agosto de
2016. Em outubro de 2016, Felipe terminou o namoro com Ana. Em novembro,
nem Felipe nem Ana realizaram o pagamento da parcela do carro adquirido de
Armando. Felipe achava que a responsabilidade era de Ana, pois o carro tinha
sido presente pelo seu aniversário. Ana, por sua vez, acreditava que, como
Felipe ficou com o carro, não estava mais obrigada a pagar nada, já que ele
terminara o relacionamento. Armando procura seu(sua) advogado(a), que o
orienta a cobrar
A) a totalidade da dívida de Ana.
B) a integralidade do débito de Felipe.
C) metade de cada comprador.
D) a dívida de Felipe ou de Ana, pois há solidariedade passiva.

VI – DISSOLUÇÃO DO VÍNCULO CONJUGAL

O divórcio é uma dissolução voluntária do casamento, com a extinção do


vínculo conjugal. Decorre da simples vontade das partes, sem causa específica (já
que não se presta para discutir as razões do fim do casamento), permitindo, após
sua decretação, a constituição de novos vínculos matrimoniais.

1. Evolução histórica do divórcio no Brasil:


Para que se compreenda o atual estágio da extinção do vínculo conjugal no
sistema jurídico brasileiro, necessário se faz uma análise histórica acerca do divórcio
no país. São claras as fases pelas quais o Brasil passou, no que se refere ao
divórcio: vai desde a indissolubilidade absoluta do vínculo conjugal, com a ausência
do divórcio, até o divórcio direto, sem exigência de prévia separação, introduzido
pela chamada “PEC DO AMOR”.
1.1. Indissolubilidade absoluta do vínculo conjugal (ausência de
divórcio)
O casamento inicialmente somente podia ser dissolvido pela morte ou
reconhecimento de nulidade. Código de 1916 previu o desquite que dissolvia a
sociedade conjugal, mas mantinha o vínculo conjugal, impossibilitando os cônjuges
a contraírem novos casamentos.
1.2. Lei do Divórcio: possibilidade jurídica do divórcio, com
necessidade da separação judicial prévia
Lei do Divórcio (6.515/77) – substituiu o desquite por separação judicial e
introduziu a possibilidade de dissolução do vínculo matrimonial pelo divórcio
(separação prévia, transcurso de 3 anos do trânsito em julgado, etc). Adoção de um
modelo dual.
1.3. A ampliação da possibilidade do divórcio: o divórcio direto e o
divórcio extrajudicial
CF/88 – previsão do divórcio direto, desde que houvesse separação de fato há
mais de 2 anos – art. 226, § 6.º (redação originária).
Lei 11.441/2007 – estabeleceu a possibilidade de a separação e o divórcio
consensuais serem feitos administrativamente, via escritura pública, no Tabelionato
de Notas (art. 733, CPC/2015), desde que não existam filhos menores ou incapazes.
1.4. O atual estágio do divórcio no Brasil – a “PEC DO AMOR”
EC 66 (julho/2010) – “PEC DO AMOR” ou “PEC DO DIVÓRCIO” – alterou o §
6.º do art. 226 da CF e o sistema de dissolução do matrimônio, deixando de
contemplar a separação judicial ou fática como requisito para a extinção do vínculo
conjugal. O casamento pode ser dissolvido pelo divórcio, sem a necessidade de
implementação de qualquer prazo para tato (tanto consensual quanto litigioso).
1.5. O atual estágio do divórcio no Brasil – o retrocesso do CPC/2015
Deve-se destacar que o CPC/2015 já nasceu atrasado, em termos de normas
de direito de família. Embora a EC 66/2010 tenha retirado os prazos de separação
prévia para a realização do divórcio, o novo CPC traz em seu conteúdo normas
processuais de trâmite das ações de separação judicial. O art. 731 e seguintes,
CPC/2015 tratam da separação consensual. Por sua vez, o art. 693 e seguintes,
CPC/2015, tratam do procedimento para a separação judicial litigiosa, prevendo o
incentivo às audiências de conciliação e mediação.

2. Modelo dual ou não?


Em razão da alteração trazida pela EC 66 ao ordenamento jurídico brasileiro,
há discussões se permanece vigente o modelo dual de dissolução do casamento no
Brasil, ou seja, separação e do divórcio. Deve-se observar, contudo, que a
separação apenas coloca fim na sociedade conjugal, mas não extingue/dissolve o
vínculo matrimonial, que apenas ocorrerá com o divórcio.
Há, nesse aspecto, grandes discussões, na atualidade, sobre a manutenção ou
não desse sistema dual.
Alguns entendem que com a alteração introduzida pela EC 66/2010, houve a
derrogação das disposições infraconstitucionais contrárias, ou seja, a parte do
Código Civil que dispõe sobre a dissolução do casamento através da separação,
estaria derrogado. Outros, no entanto, entendem que a separação se mantém no
sistema jurídico e que cabe às partes decidirem o que pretendem: romper com a
relação matrimonial (entrar com separação e respeitar o CC) ou com o vínculo
conjugal (entrar com divórcio, nos termos da EC 66/2010).

3. Separação de fato:
A separação de fato é o que realmente coloca um ponto final no casamento,
podendo resultar de decisão conjunta do casal ou da iniciativa de um dos cônjuges.
Todas as conseqüências dessa situação fática passam a correr da ruptura da união,
ou seja, da separação de fato. A separação de fato não exige que o casal já se
encontre residindo em residências distintas, sendo aceita a separação de fato de
casais que ainda residem sob o mesmo teto. Com o término do casamento pela
separação de fato as partes podem, inclusive, constituir novo relacionamento,
através da união estável.
A separação de fato faz cessar o dever de vida em comum, configurando
requisito suficiente para o fim do regime de bens. Este é o momento da apuração
dos bens para efeitos de partilha (ex.: participação final nos aquestos – art. 1.683).

4. Separação Judicial:
A separação é o gênero do qual a separação consensual e a litigiosa são as
espécies. É uma forma de dissolver a sociedade conjugal, romper com os deveres
do casamento. NÃO ROMPE O VÍNCULO MATRIMONIAL.
É a dissolução do vínculo conjugal, da sociedade conjugal decretada e
homologada pelo juiz, sem a extinção do vínculo matrimonial.
Tem caráter pessoal, personalíssimo, não podendo o Pai, por exemplo, buscar
a separação, através de ação judicial, em nome da filha. Pode, contudo, nos termos
do art. 1.576, § único, a ação ser feita por outra pessoa (curador, ascendente ou
irmão), no caso de um dos cônjuges ser incapaz. Só cabe em caso de separação
judicial, pois na extrajudicial os cônjuges devem estar em pessoa presentes na
frente do Tabelião.

4.1. Separação consensual:


É o acordo entre duas partes que tem por objetivo por fim à sociedade
conjugal. É negócio jurídico bilateral, sendo válido a partir da declaração livre e
consciente de ambas as partes.
Se ambos os cônjuges pretenderem por fim ao vínculo conjugal e não quiserem
esperar o tempo de 2 anos para o divórcio direto, poderão optar pela separação
consensual, mediante requerimento assinado por ambos os cônjuges e por seus
advogados e submetido à homologação do juiz.
4.1.1. Requisitos – art. 1.574:
São requisitos para a separação consensual (art. 1.574, CC):
a) Manifestação de ambos os cônjuges;
b) Transcurso do tempo de um ano da celebração do casamento;
c) Preservação dos interesses dos filhos ou de um dos cônjuges.

4.2. Separação judicial litigiosa:


Se não houver possibilidade de consenso para a separação do casal, o conflito
deverá ser resolvido pelo juiz, através da separação litigiosa.
Neste caso um dos cônjuges assume a posição de autor e o outro de réu,
sendo que o autor deverá fundamentar seu pedido na ocorrência de uma causa
objetiva ou subjetiva.
Se um dos cônjuges não puder (interdição), será representado por curador,
ascendente ou irmão (art. 1.576, § único) – trata-se de substituição processual. Só
cabe na separação litigiosa.
4.2.1. Causas objetivas:
a) Ruptura da vida em comum há mais de um ano: Separação-falência. Art.
1.572, § 1.º.
b) Doença mental de um dos cônjuges, deflagrada depois do casamento:
doença deverá ser grave e sua superveniência deve ocorrer após o
casamento (se a doença for anterior, mas descoberta pelo outro cônjuge
depois, é causa de anulação). Ex.: esquizofrenia. Além disso, outros
requisitos também devem estar presentes no laudo: que a doença torne
insuportável a vida em comum e que ela seja considerada incurável, após
dois anos da sua manifestação inicial. Separação-remédio. Art. 1.572, §
2.º. Neste caso, o art. 1.572, § 3.º estabelece que a partilha de bens será
diferenciada. Isto porque o legislador quer evitar esse tipo de desfazimento
da união, pois é como se um dos cônjuges estivesse se negando a prestar
mútua assistência ao outro. Então, na dissolução a partilha ficará da
seguinte forma: reverterão em favor do enfermo, que não pediu a
separação, o remanescente dos bens que levou para o casamento
(comunhão universal) e se o regime permitir, a meação dos bens
adquiridos na constância do casamento.

4.2.2. Causas subjetivas:


Neste caso, um dos cônjuges impõe ao outro a culpa pela separação.
Separação-sanção.
São causas subjetivas:
a) Grave violação dos deveres conjugais: Os deveres do casamento estão no
art. 1.566, ou seja, fidelidade recíproca, vida em comum, domicílio
conjugal, mútua assistência, sustento, guarda e educação dos filhos e
respeito e consideração mútuos. Art. 1.572, caput.
b) Insuportabilidade da vida em comum.
c) Adultério. Art. 1.573, I.
d) Tentativa de morte: Não é necessária a conclusão do processo penal,
sendo suficientes as provas produzidas no inquérito policial, por exemplo.
Art. 1.573, II.
e) Sevícia ou injúria grave: sevícias são maus tratos, atos de crueldade ou
tortura física ou mental cometido por um cônjuge contra outro. A prova se
dá pelo exame de corpo de delito (constituem crime). Injúria grave é a
violação da honra, reputação, dignidade ou integridade moral cometida por
um cônjuge contra outro. É a atribuição de uma qualidade negativa de um
contra o outro, não admitindo exceção da verdade (só na calúnia). Art.
1.573, III.
f) Abandono do lar conjugal: afastamento físico e moral do cônjuge da
unidade familiar sem motivo justificável, por mais de 1 ano. Não há
abandono se esse afastamento se der em razão de trabalho. Também não
configura abandono de lar se um dos cônjuges sair de casa por medo de
ofensas físicas ou morais ou ameaças praticadas pelo outro cônjuge. Art.
1.573, IV.
g) Condenação por crime infamante: crime infamante é o que repercute no
âmbito pessoal e familiar do autor do crime, ou seja, prejudicará a boa
fama da família do autor do fato. Deve ter havido o trânsito em julgado da
sentença. Ex. de crimes infamantes: tortura, tráfico de drogas, terrorismo,
latrocínio,... Art. 1.573, V.
h) Conduta desonrosa: é a que recebe desaprovação social, por afrontar os
bons costumes e a moral social da comunidade onde vivem os cônjuges.
Não é a prática de ato ilícito, mas de ato moralmente reprovável. Art. 1.573,
VI.
i) Outros fatos que impossibilitem a vida em comum: é cláusula aberta ao
convencimento judicial, bastando o desaparecimento do affectio societatis,
sem necessidade de devassa da intimidade do casal. Art. 1.573, § único.

Na realidade, todas essas causas podem ser concentradas nos itens “b” ou “i”
quando a separação for irreversível e impossível a reconciliação.
Sempre que ficar caracterizada a insuportabilidade ou a impossibilidade da vida
em comum o juiz deve decretar a dissolução judicial, sem investigar a culpa de um
ou outro cônjuge e sem o requisito do prazo anual da separação de fato (art. 1.572,
caput).
Na separação judicial litigiosa cabe ao autor comprovar a culpa do outro
cônjuge, imputando-lhe a causa que levou à dissolução da sociedade conjugal.
Na inicial o autor deve estabelecer todas as cláusulas da separação (alimentos,
guarda, nome do cônjuge, partilha de bens, direito de visitas, etc.), para que se
possa discutir ou conciliar sobre essas cláusulas no correr da ação.
Se na inicial o autor alegar a culpa do outro pelo fim do casamento, na
contestação, o outro poderá alegar que a culpa não era dele, mas sim do autor,
fazendo prova nesse sentido.

4.3. Efeitos da sentença de separação:


a) Dissolução da sociedade conjugal – principal efeito.
b) Extinção do regime de bens – provocando a partilha. Não é necessária a
partilha na separação, podendo ser feita após a separação.
c) Uso do sobrenome – o CC vinculou o direito a manter o sobrenome do
outro à ocorrência ou não de culpa por parte do portador. Assim, se o
portador for inocente, poderá manter o sobrenome do outro se desejar ou
voltar ao nome de solteiro. Se for culpado, obrigatoriamente deverá voltar
ao nome de solteiro. Contudo, a perda não é admitida se o sobrenome do
outro já tiver integrado a identidade do portador, especialmente quanto as
atividades profissionais, de modo que se houver a mudança haverão sérios
prejuízos ao portador.
Ainda assim, sempre dependerá de requerimento do cônjuge inocente,
para que isso se proceda.
Art. 1.578, § 1.º - a qualquer momento o cônjuge inocente poderá renunciar
o sobrenome do outro.
d) Poder familiar – o poder familiar não se altera em razão da separação. A
definição da guarda para um dos cônjuges não impede o acesso do outro
aos filhos, nem às decisões que emanam do poder familiar.

4.4. Reconciliação – art. 1.577:


Os separados judicialmente poderão a qualquer tempo requerer em juízo o
restabelecimento da sociedade conjugal, pois ela foi apenas dissolvida e não o
casamento (o casamento só é dissolvido pelo divórcio). Bastará que façam uma
petição ao juiz, que determinará a expedição de novo mandado para averbação no
Registro, restabelecendo o vínculo. No entanto, são ressalvados os direitos de
terceiros. O regime de bens será o mesmo. Para que haja a mudança, só com
petição nesse sentido (art. 1.639, § 2.º). A reconciliação não dispõe de eficácia
retroativa. Os bens adquiridos na constância da separação não se comunicam. Se
tiver sido convertida a separação judicial em divórcio não mais será possível o
restabelecimento, sendo necessário novo casamento, inclusive com o processo de
habilitação.
Obs.: o divórcio não permite reconciliação!

5. Divórcio:
O divórcio é o meio voluntário de dissolução do casamento. Possui fundamento
constitucional. Será nos termos dos arts. 731 e ss, CPC/2015. Em razão da EC
66/2010 para que as partes possam requerer o divórcio, não mais existem requisitos
de prévia separação judicial ou de separação de fato por 2 anos. Pode ser requerido
a qualquer tempo: no mesmo dia ou no dia seguinte ao casamento. O CPC/2015, no
entanto, previu, ainda, o processo de separação consensual (arts. 693 a 699,
CPC/2015 – processo litigioso e arts. 731 a 734, CPC/2015 – processo consensual).

DISPOSIÇÕES DO CÓDIGO CIVIL SOBRE DIVÓRCIO:


5.1. Divórcio direto – art. 1.580, § 2.º:
Tem como causa objetiva a separação de fato há dois anos.
Pode ser consensual ou litigioso. Será consensual quando os cônjuges
acordarem quanto às cláusulas estabelecidas (guarda de filhos, alimentos,
manutenção ou não do sobrenome, etc). Existe a presunção da separação de fato
alegada pelos cônjuges no pedido. Contudo, o juiz pode exigir que os cônjuges
comprovem que a separação de fato já ultrapassou o prazo de 2 anos, o que poderá
ser feito através de declaração de testemunhas, por exemplo. Essa declaração
poderá ser em audiência ou via documento escrito, com firma reconhecida (só para
o consensual). O divórcio direto consensual visa obter do juiz a homologação
judicial, não se aplicando a regra do art. 1.574, § único do CC (só se aplica à
separação). Assim, o juiz só verificará a configuração dos requisitos legais
indispensáveis e homologará o divórcio, sem julgar se o acordo preserva os
interesses dos filhos de um dos cônjuges.
Será litigioso quando não houver acordo sobre essas questões, remetendo ao
juiz para a decisão sobre as divergências. Não se admite discussão de culpa pelo
fim do matrimônio (esta é a função da separação). O pedido deve comprovar a
existência de casamento e de separação de fato por mais de 2 anos. O cônjuge-réu
apenas pode contestar quanto ao prazo legal, nada mais, já que não se admite
discussão de culpa pela ruptura do casamento. Admite-se a existência de audiência
de tentativa de conciliação promovida pelo juiz. Se os cônjuges não chegarem a um
acordo, o juiz decidirá sobre as questões decorrentes do divórcio (guarda, alimentos,
manutenção ou não do sobrenome, etc.).
O divórcio consuma-se pelo trânsito em julgado da sentença, que deverá ser
registrada no cartório.

5.2. Divórcio indireto (por conversão) – art. 1.580:


Deriva da ocorrência de dois fatores: a) prévia separação judicial (consensual
ou litigiosa); b) transcurso do prazo de 1 ano após o trânsito em julgado da sentença
de separação ou da decisão que determinou a separação de corpos. Pode ser tanto
litigioso quanto consensual, dependendo de haver ou não acordo entre os
separados para participar do pedido de divórcio. A prova a ser feita é documental,
baseada na sentença que decreta a separação do casal. Se confirmar o transcurso
do prazo, o juiz deverá decretar o divórcio e determinar a anotação do registro
público.

5.3. Partilha de bens no divórcio:


A partilha de bens é decorrência do divórcio judicial, mas não é pré-requisito
para sua concessão (art. 1.581). Assim, a partilha poderá ocorrer por acordo das
partes antes, durante ou após o trânsito em julgado do divórcio. É possível realizar
divórcio sem prévia partilha de bens (a partilha pode ser feita, posteriormente, em
ação autônoma).

5.4. Legitimação para pedir o divórcio – art. 1.582:


Em regra, apenas os próprios cônjuges podem pedir o divórcio. Contudo,
excepcionalmente poderão ser representados, como no caso do cônjuge declarado
incapaz ou que, por uma circunstância ocasional, não possa ajuizar diretamente a
ação ou defender-se, será representado por curador, ou por ascendente ou pelo
irmão.

5.5. Efeitos:
O maior efeito do divórcio é a dissolução do casamento (a sociedade conjugal
termina com a separação, mas o vínculo do casamento só com o divórcio). Quanto
ao nome, poderá manter, salvo disposição em contrário. Art. 1.571, § 1.º. Contudo,
quanto ao poder familiar, independentemente da modalidade de divórcio, não há
alteração, exceto quanto ao tipo de guarda que ficar acordado ou decidido pelo juiz.
Ainda assim, a guarda exclusiva de um dos pais não retira do outro o direito de
acesso do filho ao pai não guardião e deste àquele ou o direito-dever do pai não
guardião de participar da formação moral, religiosa e intelectual do filho (art. 1.579).

5.6. Divórcio realizado no exterior:


Se o divórcio for realizado no exterior, sendo um ou ambos os cônjuges
brasileiros, os efeitos ficam suspensos por um ano da data da sentença judicial. Lei
12.036/2009. Essa regra não se aplica se o direito estrangeiro também fizer a
previsão de prévia separação judicial e houver transcorrido o prazo de 1 ano da
respectiva sentença, de maneira que produzirá efeitos diretos no Brasil. Contudo,
com a EC 66/2010, entende-se que este prazo de suspensão não precisa ser
cumprido20. Em qualquer hipótese, contudo, deverá haver a homologação da
sentença estrangeira pelo STJ. Assim, o casamento do divorciado no exterior sem
que tenha havido homologação do divórcio pelo STJ é nulo.

20CAHALI, Yussef Said. Separações conjugais e divórcio. 12.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2011, p. 1048-1050.
6. Cláusulas a serem estabelecidas no divórcio
São fatores indispensáveis para regulação da separação consensual:
a) Guarda dos filhos: modo de exercício do poder familiar sobre os filhos.
Poderá ser compartilhada (quando Pai e Mãe são responsáveis pela
educação e criação dos filhos) ou exclusiva (viverá na casa de um dos pais
– o que será o detentor da guarda –, que será responsável pela criança e
esta usufruirá da presença do outro genitor através das visitas). OBS.: No
Brasil não é possível a guarda alternada (a criança viverá sucessivamente,
por longos períodos de tempo na casa de cada um dos genitores; cada
genitor exercerá alternadamente a guarda dos filhos).
b) Partilha de bens: pode ser igualitária ou beneficiar integralmente um dos
cônjuges, devendo ser respeitada a liberdade destes. Poderá haver a
separação consensual sem que haja a partilha dos bens. Ela poderá ser
feita no divórcio ou até mesmo depois deste, através de um pedido
específico ao juiz para homologação do acordo.
c) Visitas: art. 1.589. No caso de a guarda ficar exclusivamente com um dos
genitores, o outro deverá ter direito de visitas, que deverá ser estipulado na
separação a forma que se dará (livre ou com hora marcada). A lei
12.398/2011 estabeleceu o direito de visitas extensivo aos avós, no caso
de ser benéfico à criança e/ou adolescente.
d) Dever alimentar: Deve ser fixado tanto em favor dos filhos, quanto com
relação ao casal, podendo haver a dispensa mútua dos alimentos (quanto
ao casal, não quanto aos filhos). Por quê? Pois decorrem do parentesco e
são irrenunciáveis.
e) Nome do cônjuge: art. 1.578. Poderá haver a continuidade ou não do uso
do sobrenome de um dos cônjuges pelo outro. A regra é que o nome de
casado seja retirado. Contudo, esta regra não se aplica quando o
sobrenome do cônjuge já foi incorporado ao nome do
separando/divorciando, em razão dos direitos da personalidade. Dessa
forma, desimporta discutir culpa pelo fim do relacionamento. Se houver a
configuração de alguma das hipóteses do art. 1.578, CC, deverá ser
mantido o sobrenome do cônjuge.

7. A possibilidade de julgamentos parciais no divórcio – art. 356,


CPC/2015
O art. 356 do CPC/2015 estabelece a possibilidade de julgamento parcial de
mérito nas ações, incluindo-se, aqui, as situações de divórcio. Assim, se a ação de
divórcio é cumulada com guarda, alimentos, visitas, uso do nome, etc., havendo o
acordo sobre o divórcio, pode o juiz decretá-lo e manter o processo em tramitação
apenas sobre as questões controversas.
Neste sentido, cabe o julgamento parcial do mérito quando o pedido ou parte
dele: a) mostrar-se incontroverso; b) estiver em condições de imediato julgamento
(por desnecessidade de produção de provas ou revelia).

8. A possibilidade de pleito de alimentos após o divórcio


Uma vez que tenha sido decretado o divórcio do casal, desaparece o vínculo
familiar que dava fundamento ao pleito de alimentos, nos termos do art. 1.694, CC.
Contudo, tem ganhado corpo a tese de que mesmo após o divórcio seria possível
fundamentar pedido de alimentos, em situações em que os ex-cônjuges mutuamente
tivessem dispensado os alimentos, em razão do princípio da solidariedade, previsto
no art. 3.º, I, CF. Esta tese vem sendo defendida por Maria Berenice Dias 21 e Flávio
Tartuce22 denomina-os de alimentos pós-divórcio.

9. Separação e Divórcio Extrajudiciais – art. 733, CPC/2015


A lei 11.441/2007 introduziu a possibilidade de o divórcio ou a separação
consensuais serem feitos via escritura pública, através do Tabelionato de Notas.
Requisitos para o divórcio e separação extrajudiciais:
a) Consenso;
b) Inexistência de filhos incapazes ou nascituros (novo CPC) – cabe, neste
caso, emancipar os filhos menores de idade para a realização do divórcio

21 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, p. 566-568.
22 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 276.
extrajudicial – o CPC/2015 retirou o termo menores, deixando os incapazes
e incluindo os nascituros;
c) Observância do prazo de 1 ano da celebração do casamento para o caso
de separação; COM A EC 66 NÃO MAIS É EXIGIDO.
d) Observância do prazo de 2 anos de separação de fato para o divórcio;
COM A EC 66 NÃO MAIS É EXIGIDO.
e) Assistência de advogado.
Quanto as cláusulas, a escritura deve expressar a livre decisão do casal quanto
aos alimentos – poderá haver estipulação de um em favor do outro ou mútua
dispensa –, descrição e partilha dos bens comuns, estipulação quanto a mantença
ou mudança do sobrenome do outro.
Enunciado 571: Se comprovada a resolução prévia e judicial de todas as
questões referentes aos filhos menores ou incapazes, o tabelião de notas
poderá lavrar escrituras públicas de dissolução conjugal.

Havendo discordância com relação a qualquer dessas cláusulas o Tabelião não


poderá lavrar a escritura.
Havendo transmissão de bens de um para o outro (no caso de os bens ficarem
para um dos cônjuges apenas), ou seja, quando a partilha não for igualitária, incidirá
o ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis), que deverá ser pago e
consignado na escritura, em razão da diferença de partilha.
No caso do divórcio extrajudicial o Tabelião deve consignar na escritura, pelo
menos, o depoimento de uma testemunhas, que prove que o casal está separado de
fato a mais de 2 anos. COM A EC 66 NÃO MAIS É EXIGIDO.
No caso de separação e divórcio extrajudiciais a partilha dos bens não poderá
ser feita após, ou seja, na mesma escritura que faz a separação ou divórcio já deve
ser feita a partilha dos bens, pois na escritura pública não podem ficar pendências
remetidas à decisão judicial (por isso da concordância dos cônjuges quanto a todas
as cláusulas do ato).
Os efeitos do divórcio e da separação produzem efeitos imediatos, pois
independem de homologação judicial, de maneira que assinada a escritura e
extraído o traslado, este deverá ser averbado no Registro Civil e no Registro de
Imóveis, para publicizar aos terceiros interessados.
A assistência do advogado é obrigatória e não se resume a somente assinar a
escritura. O advogado deve acompanhar todos os passos da escritura,
aconselhando seus clientes, fazendo a minuta das cláusulas da
separação/divórcio,... Na escritura constará a qualificação do advogado e o número
da OAB. Cada cônjuge pode ter o seu advogado ou ambos estarem representados
por apenas um. Podem também ser assessorados pelo Defensor Público, no caso
de não possuírem condições de arcar com os honorários (art. 134, CF).
Os pobres que assim se declararem perante o Tabelião ficarão isentos dos
emolumentos que seriam devidos ao Cartório. Isso porque o Tabelionato e serviço
público delegado pelo Poder Judiciário, ainda que exercido em caráter privado.
Os cônjuges poderão se fazer representar por procurador, com poderes
específicos para tanto. Ainda nesse caso a presença do advogado é indispensável.
No caso de separação, transcorrido um ano da lavratura da separação, os
separados poderão lavrar outra escritura, convertendo a separação em divórcio. No
mesmo caso, poderão fazer com a separação que tenha se operado judicialmente.
A reconciliação dos separados extrajudicialmente será formalizada também
mediante escritura pública, que será levada à averbação no Registro Civil.
Se já tiver sido proposta a ação judicial, os cônjuges podem optar pela
separação ou divórcio extrajudiciais? Sim, basta pedir a suspensão da ação ou
desistir do mesmo.

QUESTÕES
Não se tem observado, nos últimos Exames, questões em se de primeira fase. Nos
últimos anos encontra-se apenas questões de segunda fase:
IV EXAME - Maria, casada em regime de comunhão parcial de bens com José por 3
anos, descobre que ele não havia lhe sido fiel, e a vida em comum se torna
insuportável. O casal se separou de fato, e cada um foi residir em nova moradia,
cessando a coabitação. Da união não nasceu nenhum filho, nem foi formado
patrimônio comum. Após dez meses da separação de fato, Maria procura um
advogado, que entra com a ação de divórcio direto, alegando que essa era a visão
moderna do Direito de Família, pois, ao dissolver uma união insustentável, seria
facilitada a instituição de nova família. Após a citação, João contesta, alegando que
o pedido não poderia ser acolhido, uma vez que ainda não havia transcorrido o
prazo de dois anos da separação de fato exigidos pelo artigo 40 da Lei 6.515/77.
Diante da hipótese apresentada, responda aos itens a seguir, empregando os
argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
a) Nessa situação é juridicamente possível que o magistrado decrete o divórcio, não
obstante não exista comprovação do decurso do prazo de dois anos da separação
de fato como pretende Maria, ou João está juridicamente correto, devendo o
processo ser convertido em separação judicial para posterior conversão em
divórcio?
b) Caso houvesse consenso, considerando as inovações legislativas, o ex-casal
poderia procurar via alternativa ao Judiciário para atingir o seu objetivo ou nada
poderia fazer antes do decurso dos dois anos da separação de fato?

VII – PROTEÇÃO DA PESSOA DOS FILHOS – GUARDA:


O rompimento da relação entre os pais não pode significar separação de pais e
filhos. Assim, ao chegar ao fim a relação conjugal, deve ser estabelecida a guarda
dos filhos, estabelecendo com quem ficarão os menores. Contudo, ainda que a
guarda seja estabelecida em favor de um dos pais, o outro tem o direito e o dever de
visitar permanentemente o filho.
Os filhos não têm de escolher entre um pai ou outro. Tem o direito de
convivência com ambos. Contudo, sempre que o juiz entender necessário, para
estabelecer a guarda do menor, poderá a criança ser ouvida, atentando para o
melhor interesse da criança, sem jamais levá-la a escolha.
A questão da guarda encontra-se, atualmente, estabelecida pela lei
13.058/2014, prevendo que a guarda será, obrigatoriamente, compartilhada entre os
pais. Desde a entrada em vigor desta lei, muitas confusões vêm ocorrendo e, a
maioria delas, ainda, são no sentido de confundirem a guarda compartilhada com a
guarda alternada. Sendo assim, inicialmente, apresenta-se a diferenciação entre as
modalidade de guardas existentes: unilateral, compartilhada e alternada.

1. Guarda unilateral
A guarda unilateral é aquela em que um dos genitores é detém a guarda física
da criança ou adolescente e o outro detém o direito de visitas. Pela redação trazida
pela lei 13.058/2014, esta modalidade será aplicável apenas quando um dos
genitores manifestar que não tem interesse em deter a guarda do filho.
Também é unilateral a guarda estabelecida a terceiro quando o juiz se
convencer que nenhum dos pais preenche as condições necessárias para tal.
No estabelecimento da guarda, em casos de separação, não importa se um
dos pais foi considerado ou não culpado pela separação. Isto não influenciará na
fixação da guarda, mas sim o melhor interesse da criança. Dessa forma, o filho ficará
com aquele que detiver melhores condições de exercício da guarda.
Melhores condições não significa, de maneira alguma, melhores condições
financeiras. O juiz deve levar em conta o conjunto de situações existentes para o
desenvolvimento moral, educacional, psicológico do filho. Fator relevante é o de
menor impacto emocional ou afetivo sobre o filho, para essa delicada escolha.
Em situações excepcionais o juiz pode deferir a guarda a terceiros, quando
concluir que nenhum dos pais tem condições de ficar com o filho. Ex.: pais viciados
em drogas. Nesses casos, o parente mais próximo, normalmente presume-se o mais
indicado para ficar com a guarda (avós, por exemplo), mas essa aptidão deve ser
confirmada. Nestes casos, ainda, deve ser levado em conta a afetividade entre a
criança e a pessoa que assumirá a guarda. Ex.: um tio/tia ou madrasta/padrasto
podem ter mais afetividade do que os avós.

2. Guarda compartilhada:
A Lei 13.058/2014 alterou o sistema de guardas até então vigente no Brasil,
estabelecendo a guarda compartilhada como obrigatória, estabelecendo-se mesmo
em caso de litígio entre os genitores (embora não se saiba bem como se daria este
funcionamento).
A guarda compartilhada pode ser requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe,
ou por qualquer deles, em ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução
de união estável ou, ainda, decretada pelo juiz, em atenção a necessidades
específicas do filho, ou em razão da distribuição de tempo necessário ao convívio
deste com o pai e com a mãe.
O art. 1.584, § 2.º, CC, com a redação da lei 13.058/2014, estabelece que a
guarda compartilhada é obrigatória ou compulsória.
§ 2o Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do
filho, encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar,
será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos genitores declarar
ao magistrado que não deseja a guarda do menor.
É obrigatória, pois só pode ser afastada motivadamente, cabendo ao juiz
analisar a situação23. Ela estimula a coparentalidade e corresponsabilidade em
relação ao filho, que tem direito de conviver e ser formado por ambos os pais, em
igualdade de condições.
Enunciado 603: A distribuição do tempo de convívio na guarda
compartilhada deve atender precipuamente ao melhor interesse dos filhos,
não devendo a divisão de forma equilibrada, a que alude o § 2 do art. 1.583
do Código Civil, representar convivência livre ou, ao contrário, repartição de
tempo matematicamente igualitária entre os pais.

Enunciado 604: A divisão, de forma equilibrada, do tempo de convívio dos


filhos com a mãe e com o pai, imposta na guarda compartilhada pelo § 2°
do art. 1.583 do Código Civil, não deve ser confundida com a imposição do
tempo previsto pelo instituto da guarda alternada, pois esta não implica
apenas a divisão do tempo de permanência dos filhos com os pais, mas
também o exercício exclusivo da guarda pelo genitor que se encontra na
companhia do filho.

Enunciado 605: A guarda compartilhada não exclui a fixação do regime de


convivência.

Enunciado 606: O tempo de convívio com os filhos "de forma equilibrada


com a mãe e com o pai" deve ser entendido como divisão proporcional de
tempo, da forma que cada genitor possa se ocupar dos cuidados
pertinentes ao filho, em razão das peculiaridades da vida privada de cada
um.

Contudo, a lei 13.058/2014, ao estabelecer essa obrigatoriedade, vai contra


uma situação importante: a necessidade de diálogo entre os genitores para que esta
modalidade de guarda possa ser implementada. A lei torna a guarda compartilhada
medida impositiva, mesmo havendo litígio entre os genitores e, neste sentido, cria
mais problemas, do que apresenta soluções.
Nestes casos, é estabelecida a residência do filho na residência de um dos
pais, até para que a criança tenha referência de um lar, mas terá a liberdade de
freqüentar a casa do outro quando e como quiser ou, até mesmo, viver de forma
alternada em uma ou outra casa.
O ponto central da guarda compartilhada é a igualdade entre os genitores nas
decisões que influenciem na vida do filho, de modo que evita que um dos genitores
seja mero coadjuvante e só colabore financeiramente para o sustento do filho.

23 , Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 265.
Deve ficar claro que o estabelecimento desta modalidade de guarda nada tem
de relação com a dispensa do pagamento de alimentos com relação aos filhos,
devendo, para tanto, sempre ser levado em consideração a relação do trinômio
necessidade x possibilidade x proporcionalidade.
Enunciado 607: A guarda compartilhada não implica ausência de
pagamento de pensão alimentícia.

3. Guarda alternada:
A guarda alternada é uma modalidade que se aproxima da guarda
compartilhada, pois o tempo de convivência do filho é divido entre os pais, passando
a viver alternadamente, de acordo com o que ajustarem os pais ou o que for
decidido pelo juiz, na residência de um e de outro. Ex.: no caso de pais que vivam
em cidades diferentes, o filho reside durante o período escolar com um dos pais e,
durante as férias, com o outro.
Sua utilização é bastante rara, pois pode trazer certa instabilidade para a
criança, sendo aplicada apenas em casos excepcionais e se evidenciado que trará
benefícios para o menor.
O filho permanece um tempo com o pai e um tempo comm a mãe,
pernoitando certos dias da semana com o pai e outros com a mãe. [...]
Alguns a denominam como a guarda do mochileiro, pois o filho sempre deve
arrumar a sua mala ou mochila para ir à outra casa24.

No Brasil não é aplicável e vem sendo muito confundida com a guarda


compartilhada, especialmente após a entrada em vigor da lei 13.058/2014, que
estabelece no art. 1.583, § 2.º que, na “guarda compartilhada, o tempo de convívio
com os filhos deve ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre
tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos”.

A guarda pode ser unilateral ou exclusiva, quando exercida por apenas um


dos pais; ou compartilhada, quando exercida por ambos.
Quando os pais estiverem separados, a preferência é para que acordem
quanto a guarda dos filhos. Contudo, o juiz deve observar se o acordo observa o
melhor interesse da criança (art. 1.586).

24 , Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 271.
A guarda pode ser modificada se ficar provado que o guardião ou pessoas de
sua convivência familiar não trata convenientemente a criança ou o adolescente.
Ex.: a mãe que ficou com a guarda do filho que vem a contrair nova união. Se o
companheiro da mãe tiver conduta prejudicial à formação da criança, a guarda
poderá determinar a retirada do menor de tal convivência, transferindo a guarda para
o pai ou terceiro. Também poderá haver a modificação da guarda se este abusar de
seu direito, excedendo os limites da guarda.

A guarda pode ser estabelecida a terceira pessoa, desde o nascimento, se


houver abandono afetivo. Ex.: se a mãe biológica abandonou a criança, a guarda
pode ser estabelecida em favor da avó.

4. Direito de visitas
O genitor que não ficar com a guarda terá direito de visitas, conforme
convencionado entre os genitores ou definido pelo juiz. Não devem haver grandes
limitações, sob pena de prejudicar a própria criança.
A regulamentação do direito de visitas deve ser estabelecida já na separação
ou divórcio (art. 729, III, CPC/2015).
O direito de visitas não se restringe a visitar o filho na residência do guardião
ou no local que este designe. Abrange o direito de ter o filho em sua companhia e o
de fiscalizar sua manutenção e educação (art. 1.589, CC).
Cabe ao pai não guardião o direto-dever de fiscalizar o exercício da guarda, de
maneira que se ela não estiver sendo desempenhada da melhor forma possível, no
melhor interesse da criança, o genitor não guardião poderá requerer ao juiz que
destitua aquele que está com a guarda exclusiva e a transfira para si.
Mas o direito de visita não se restringe apenas ao pai não guardião, mas
também aos familiares deste (avós, tios, primos), ou seja, a criança deve ter contato
afetivo tanto com a família da mãe, quanto a do pai – art. 1.589, § único.
As visitas só podem ser negadas – tanto nos casos dos genitores, quanto nos
casos dos familiares destes – quando houver sérios indícios de prejuízos para a
criança, que desaconselhem as visitas. Nestes casos o juiz poderá restringir ou
suspender as visitas.

5. Síndrome da Alienação Parental – SAP


A Lei 12.318, de 2010 foi criada para evitar a chamada alienação parental,
quando um dos genitores induzia a criança a romper laços afetivos com o outro
genitor. Situações como estas normalmente ocorrem com o rompimento de um
relacionamento, quando, como forma de represália, os genitores passam a criar
falsas memórias nas crianças.
Como uma espécie de vingança, o genitor que não aceita a separação, que se
sente abandonado, começa a criar dificuldades para que o outro siga se
relacionando com o filho. Trata-se de um processo de destruição, desmoralização e
descrédito do ex-cônjuge, o que é feito na frente do filho. Exemplo desta situação
ocorre/ocorreu na novela “Salve Jorge” onde o casal Antonia e Celso se separam,
ele não aceita o divórcio e começa a “infernizar” a vida da ex-esposa com a filha. O
casal briga pela guarda e, depois de ser estabelecida uma “guarda compartilhada”, o
genitor sempre tenta impedir que a Mãe veja a filha; quando a menina está em sua
casa tenta desrespeitar horários, etc, na tentativa de “difamar” a Mãe para a filha,
para que a menina passe a rejeitar a genitora.
A Síndrome da Alienação Parental – SAP – é uma espécie de “programação”
para que a criança rejeite e odeio o outro genitor, sem qualquer justificativa. O
genitor “agressor” passa a ser visto como “verdade absoluta” pela criança e, o outro
genitor, como “invasor”.
Assim, um dos genitores, magoado com o fim do relacionamento, procura
afastar os filhos do outro genitor, denegrindo sua imagem perante a criança e
prejudicando o direito de visitas. Esta conduta é prevista no art. 2.º da lei 12.318:
Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação
psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a
sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além
dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados
diretamente ou com auxílio de terceiros:
I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício
da paternidade ou maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre
a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de
endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou
contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou
adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a
dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com
familiares deste ou com avós.

Para resolver tais situações, cabe ao juiz, em verificando a ocorrência da


alienação parental, alterar a guarda e o direito de visitas e, até mesmo impedi-lo.
Como uma última solução (a mais drástica) é possível suspender o exercício do
poder familiar.

QUESTÕES
EXAME XXI - Augusto e Raquel casam-se bem jovens, ambos com 22 anos. Um
ano depois, nascem os filhos do casal: dois meninos gêmeos. A despeito da
ajuda dos avós das crianças, o casamento não resiste à dura rotina de criação
dos dois recém-nascidos. Augusto e Raquel separam-se ainda com os filhos em
tenra idade, indo as crianças residir com a mãe. Raquel, em pouco tempo,
contrai novas núpcias. Augusto, em busca de um melhor emprego, muda-se para
uma cidade próxima. A respeito da guarda dos filhos, com base na hipótese
apresentada, assinale a afirmativa correta.
A) A guarda dos filhos de tenra idade será atribuída preferencialmente, de forma
unilateral, à mãe.
B) Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos será dividido de
forma matemática entre o pai e a mãe.
C) O pai ou a mãe que contrair novas núpcias perderá o direito de ter consigo os
filhos.
D) Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos
filhos será a que melhor atender aos interesses dos filhos.

VIII – PARENTESCO
“Entende-se por parentesco a relação jurídica, calcada na afetividade e
reconhecida pelo Direito, entre pessoas integrantes do mesmo grupo familiar, seja
pela ascendência, descendência, ou colateralidade, independentemente da natureza
(natural, civil ou por afinidade)” (Gagliano e Pamplona Filho).
O parentesco pode ser (art. 1.593, CC): natural ou biológico; civil (adoção ou
inseminação, por exemplo); afetividade (ainda que a legislação não faça previsão,
há o reconhecimento desta modalidade de parentesco pelos Tribunais (decisões que
permitem a inclusão de dois Pais ou duas Mães na certidão de nascimento)
Processo de desbiologização da paternidade-maternidade-filiação –
evolução da engenharia genética deixou de limitar os vínculos de parentesco à
verdade biológica.
Parentesco natural: Parentesco natural é o que decorre da consanguinidade
dos parentes, ou seja, é o vínculo biológico que liga as pessoas.
Parentesco civil: Parentesco civil é o decorrente da socioafetividade, do
parentesco por adoção, tendo qualquer outra origem, que não seja a biológica
(fertilização in vitro, p. ex.).
Parentesco por afinidade: Parentesco por afinidade é o decorrente do
casamento e da união estável, vinculando-se com os parentes do cônjuge ou
companheiro. Significa dizer que somos parentes dos parentes do nosso cônjuge ou
companheiro (ou, em uma linguagem vulgar, com o casamento, o pacote vem
completo). Contudo, os afins de um cônjuge não são afins do outro, nem os parentes
colaterais dos afins são parentes em relação àquele. Nesse sentido o art. 1.595, §
1.º, CC estabelece:
§ 1o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos
descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.

1. Classificação do parentesco quanto a linhas e graus


O parentesco divide-se em linha reta e linha colateral.
LINHA RETA é o previsto no art. 1.591, CC e estabelece-se quando a relação
se dá entre uma pessoa e seus ascendentes e descendentes. Ex.: avô, pai, filho.
Esse parentesco é infinito, não se limitando (enquanto existir um parente ascendente
ou descendente vivo).
O parentesco em linha reta é infinito.
Os parentes mais próximos preferem aos mais remotos, quanto aos direitos e
obrigações recíprocos (Ex.: art. 1.833). Significa dizer, por exemplo que, se tenho
pais que podem prestar alimentos, não posso cobrar dos avós.
Existe a linha reta ASCENDENTE e a DESCENDENTE.
LINHA COLATERAL ou LINHA TRANSVERSAL é o parentesco no qual os
parentes se relacionam mediante um ancestral comum, sem descenderem uns dos
outros, pressupondo um ancestral comum, de maneira que parentes colaterais não
descendem uns dos outros. Ex.: irmãos (o pai é o ancestral comum). Este
parentesco é finito e limita-se ao 4.º grau colateral (para fins sucessórios), ao 3.º
grau colateral (para fins de casamento) e, ao 2.º grau colateral (para fins
alimentares).
O parentesco colateral entre irmãos pode ser bilateral ou unilateral, conforme
provenham dos mesmos pais (irmãos germanos), ou tenham apenas o mesmo pai
ou mesma mãe.
Não existe parente colateral em 1.º grau, pois não descendem uns dos outros,
ou seja, se conta subindo ao ascendente comum, de maneira que há, no mínimo
dois graus e três pessoas relacionadas.
GRAU é a unidade de parentesco em cada linha, contada a partir de uma
pessoa e seu parente imediatamente próximo. Ex.: o avô é parente em 2.º grau do
neto (há o pai entre eles). O critério para a contagem dos graus é o número de
gerações. Grau, portanto, é a distância que separa um parente do outro.
CONTAGEM EM LINHA RETA: Toma-se como ponto de partida determinada
pessoa e conta-se a distância geracional entre ela e o parente que se quer chegar.
Tantos serão os graus quantas forem as gerações (art. 1.594, 1.ª parte).
CONTAGEM EM LINHA COLATERAL: Inicia-se a partir de determinada
pessoa, subindo-se até o ascendente comum da outra pessoa (o primeiro comum),
daí descendo-se até esta, para se poder constatar ou não a relação de parentesco,
no limite legal de 4.º grau. Não há parentes colaterais de primeiro grau, pois uns não
descendem dos outros.
Ex.: para contar o grau de parentesco entre A e seu tio B, sobe-se de A a seu
pai C; a seguir a seu avô D e depois se desce a B, tendo-se então, 3 graus,
correspondendo cada geração a um grau.
Avô
“D”
Tio 3.º 2.º Pai
“B” “C”

1.º
A

O adotado assume integralmente a condição de filho do adotante, desligando-


se dos vínculos com a família e parentes biológicos (art. 1.626). Assim, todos os
parentes dos adotantes serão do adotado.

2. Afinidade:
Art. 1.595, CC – O parentesco por afinidade é estabelecido em decorrência do
casamento ou da união estável. É o vínculo que se estabelece entre um dos
cônjuges/companheiro e os parentes do outro.
É estabelecido por lei – art. 1.595, CC e depende da existência de casamento
válido ou união estável. O concubinato ou o casamento putativo não gera a
afinidade.
Os parentes afins são equiparados aos consanguíneos, mas não são iguais. O
enteado, por exemplo, não é igual ao filho, não gerando direitos e deveres iguais aos
que possui o último.
O parentesco estabelece-se em linha reta (sogro, sogra, genro, nora, enteado),
de forma infinita, que jamais se extingue, gerando impedimentos para o casamento
(art. 1.521, II) e em linha colateral (cunhados), até o 2.º grau, que se extingue com o
fim do casamento (morte ou divórcio). Art. 1.595, § 2.º. Deve-se observar que essa
extinção só ocorre com o divórcio e não com a separação.

IX – FILIAÇÃO E RECONHECIMENTO DOS FILHOS:


“A filiação pode ser conceituada como sendo a relação jurídica decorrente do
parentesco por consanguinidade ou outra origem, estabelecida particularmente entre
os ascendentes e descendentes de primeiro grau”25.
No direito brasileiro a filiação é biológica ou não biológica, reforçando-se a ideia
da necessidade de reconhecimento da paternidade/maternidade por afetividade.
Como é feita a comprovação da filiação? A filiação é demonstrada pela certidão
do registro de nascimento, efetuado junto ao cartório civil.
Possibilidade do reconhecimento da multiparentalidade, ou seja, do
reconhecimento, no registro civil dos indivíduos, tanto da paternidade biológica,
quanto da socioafetiva. Não existe um grande número de decisões a esse respeito,
mas algumas sentenças já estão determinando o registro duplo da criança (dois pais
ou duas mães) e, a partir daí, direitos alimentares e sucessórios, também múltiplos.

1. Presunção legal de filiação:


Independentemente da verdade biológica, a lei presume que a maternidade é
sempre certa (em razão do parto), e o marido da mãe é o pai de seus filhos. Nesse
sentido, a presunção é “pater is est quem nuptiae demonstrant” (pai é aquele que as
núpcias demonstram).
O art. 1.597 estabelece casos de presunção de paternidade. Serve para casos
em que o genitor não possa registrar (por já estar morto ou ausente do local de
domicílio, p.ex.).
Existem discussões sobre estas presunções, especialmente sobre sua
aplicação aos casos de união estável. A lei prevê a presunção de filiação na
“constância do casamento”, mas esta presunção pode aplicar-se integralmente à
união estável, desde que exista declaração de união estável ou certidão de
nascimento de outro filho comum.
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a
convivência conjugal;
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade
conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;

25TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. 8.ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2013, p. 328
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o
marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões
excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia
autorização do marido.

Essa presunção, contudo, não é absoluta, sendo ilidida através de prova em


contrário. Mas a ação para ilidir a presunção de paternidade só pode ser proposta
pelo marido ou companheiro da mãe da criança. A prova é feita via DNA. Neste
aspecto, deve-se atentar para o fato de que ação que contesta esta paternidade
(1.601, CC) é a negatória de paternidade. Esta ação só é cabível se proposta pelo
pai (art. 1.601) e é imprescritível. Deve-se observar, contudo, a questão da
paternidade socioafetiva nestes casos.
A prova da impotência do varão à época da concepção (impotência generandi),
ilide a presunção de paternidade (art. 1.599), mas a confissão de adultério não ilide
(1.600 + 1.602). O exame de DNA serve como forma de sanar quaisquer dúvidas
quanto a paternidade.
No caso de inseminação artificial heteróloga a presunção de filiação decorre
exclusivamente da verdade afetiva, de modo que é reconhecida a filiação mesmo
diante da certeza da inexistência de filiação biológica.

2. Paternidade registral:
O registro de nascimento é meio de prova da filiação, não sendo, contudo, o
único, já que a declaração manifestada perante o juiz, a escritura pública, o escrito
particular e o testamento, também comprovam a filiação (art. 1.609).
Todo aquele que se apresenta no Cartório e registra um recém nascido,
declarando-se como pai do mesmo, passa assim o ser considerado para todos os
fins legais. O registro só pode ser invalidado se houver erro ou falsidade (art. 1.604).
Nestes casos, se o pai que registrou a criança, acreditando ser filho seu, descobrir
que não é, deve ingressar com ação anulatória de paternidade.
Segundo Tartuce26, esta situação não se aplica nos casos de socioafetividade.
Para ele:
- Regra: não cabe a quebra do que consta do registro de nascimento.
- Exceção: o registro pode ser quebrado nos casos de erro ou falsidade do
registro. Ação anulatória.
- Exceção da exceção (retorna-se à regra): a quebra do registro não pode
ocorrer nos casos de parentalidade ou paternidade socioafetiva.

3. Inseminação artificial:
O art. 1.597 presume como tendo sido concebidos na constância do casamento
os filhos havidos por técnicas de reprodução assistida: homóloga, mesmo que
falecido o marido; havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões
excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; e os havidos por
inseminação artificial heteróloga, desde que exista prévia autorização do marido.

HOMÓLOGA: é a concepção que decorre da manipulação de gametas


masculinos e femininos do próprio casal. O filho será sempre do casal, pois
biologicamente é filho! A fecundação é feita in vitro e depois o óvulo é implantado na
mulher. Não é necessária autorização do marido para tal prática. Contudo, para os
casos de inseminação post mortem, necessário o expresso consentimento do
marido para que isso ocorra e gere a presunção de paternidade (Enunciado 106 do
Conselho de Justiça Federal). Se não houver tal consentimento, os embriões devem
ser descartados, pois não há presunção de que alguém queira ser pai depois de
morto:
Enunciado 106 do Conselho de Justiça Federal: Para que seja presumida a
paternidade do marido falecido, será obrigatório que a mulher, ao se
submeter a uma das técnicas de reprodução assistida com o material
genético do falecido, esteja na condição de viúva, sendo obrigatório, ainda,
que haja autorização escrita do marido para que se utilize seu material
genético após sua morte.

26TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. 8.ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2013, p. 349
HETERÓLOGA: é a concepção que utiliza esperma de um doador, mas com a
concordância do marido. Trata-se de filiação afetiva, pois biologicamente não é filho
do pai. A fecundação é feita com o óvulo da mulher e em seguida implantado. O
vínculo de filiação, neste caso, é estabelecido com a parturiente que, no caso de ser
casada, o marido será, por presunção legal, o pai do filho gerado, se tiver consentido
com tal prática. Mas e se o casal separar, poderá haver a retratação? Sim, desde
que a retratação ocorra antes da implantação do óvulo, pois a autorização não pode
ter duração infinita.
EMBRIÕES EXCEDENTÁRIOS: embrião é o óvulo fecundado em suas
primeiras 8 semanas de desenvolvimento no útero materno. Pré-embrião é o óvulo
fecundado até os seus primeiros 14 dias. Embrião excedentário é o fecundado in
vitro, não aproveitado imediatamente pelo casal e armazenado em laboratório.
Todos os embriões excedentários que venham a ser utilizados (a qualquer tempo),
presumem-se tenham sido concebidos na constância do casamento (art. 1.597, IV –
havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes
de concepção artificial homóloga).
BARRIGA DE ALUGUEL: é vedada constitucionalmente (art. 199, § 4.º). É
permitida a cessão temporária do útero, sem fins lucrativos, desde que a cedente
seja parente até o segundo grau (mãe, avó, neta ou irmã) da mãe genética. Também
parentes por afinidade, até segundo grau, podem ceder o útero (sogra ou cunhada).

4. Filiação e afeto – Filiação socioafetiva:


A posse do estado de filho constitui-se de modalidade de parentesco civil de
origem afetiva (art. 1.593). Revela a constância da relação entre pais e filhos,
caracterizando uma paternidade que não existe só pelo fator biológico, mas em
decorrência de uma convivência afetiva.
Segundo Nader (p. 279) o “critério socioafetivo dimana de uma situação fática,
que nasce da educação, amparo, proteção, afetividade, aplicados na criação de uma
pessoa e por quem não é pari ou mãe biológica”.
Posse do estado de filho: quando as pessoas desfrutam da aparência (teoria
da aparência) do estado de filho, o que não pode ser desprezado pelo direito. Essa
condição não se estabelece com o nascimento, mas sim com um ato de vontade,
que se sedimenta no terreno da afetividade. A filiação socioafetiva assenta-se no
reconhecimento da posse do estado de filho.
Digamos que os pais tenham falecido e não tenham procedido ao registro do
filho, como ficará essa situação? O art. 1.605 exige que haja “começo de prova por
escrito, proveniente dos pais”. Assim, a posse do estado de filho é uma situação de
fato, uma indicação da relaçao de parentesco, uma presunção legal. Ela oferece
parâmetros para o reconhecimento da relaçao de filiação.
Para o reconhecimento da posse do estado de filho, devem estar presente três
aspectos, os quais não necessariamente estarão em conjunto:
A) Tractatus: quando o filho é tratado como tal, o tratamento dispensado entre o
que aparenta ser o ascendente e o descendente.
B) Nominatio: usa o nome da família e assim se apresenta.
C) Reputatio: conhecido pela opinião pública como pertencente à família de
seus pais (aparência do estado de filho).
Assim, aquele que detém a posse do estado de filho pode buscar o
reconhecimento jurídico da filiação. Qualquer meio de prova pode ser utilizado, mas
a lei prevê (art. 1.605) que tenham dois requisitos: a existência de começo de prova
por escrito (cartas, autorização para atos em benefício dos filhos, declaração de
filiação para fins de imposto de renda ou previdência social, anotações dando conta
do nascimento do filho), proveniente dos pais, ou presunções veementes da filiação
resultante de fatos já certos.
A tutela jurídica da posse do estado de filho abriga dos chamados filhos de
criação, que se enquadram na filiação socioafetiva. A posse do estado de filiação,
consolidada no tempo, não pode ser contraditada por investigação de paternidade
fundada em prova genética.

5. Prova da filiação:
No direito brasileiro a prova da filiação é feita pela certidão de nascimento
registrada no Registro Civil (art. 1.603). Contudo, essa prova não é exclusiva, pois
se admite a prova da posse do estado de filiação (art. 1.605). Também não é
definitiva, pois admite eventual invalidação (art. 1.604).
O art. 50 da Lei 6.015/73 estabelece que todo nascimento deverá levado a
registro, no lugar onde tiver ocorrido o parto ou no local de residência dos pais, no
prazo de 15 dias.
O art. 52 estabelece que o dever de fazer a declaração de nascimento é dos
pais ou, na falta destes, o parente mais próximo, prosseguindo sucessivamente o
ônus nas pessoas dos administradores de hospitais, dos médicos, das parteiras,
terceiros, que tiverem assistido ao parto.
Se a mãe for casada, constará o nome do marido como pai, pela presunção de
paternidade. Se não o for, o nome do pai só constará no registro se ele assim se
declarar.
O registro de nascimento produz uma presunção de filiação quase absoluta,
pois apenas pode ser invalidade se provado que houve erro ou falsidade.
O art. 1.604 estabelece que ninguém poderá vindicar estado contrário ao que
resulta do registro de nascimento. Assim, a validade do registro pode ser impugnada
apenas nas hipóteses de erro ou falsidade.
A prova da filiação, acolhida em juízo, é o quanto basta para regularizar o
registro de nascimento e a certificação da paternidade e maternidade. A ação de
estado de filiação não prescreve nem decai em tempo algum.

Ação de prova de filiação ≠ ação de investigação de paternidade  A ação


de prova de filiação (art. 1.606) busca comprova a situação de fato (posse do estado
de filho), cuja aparência resulta de presunção veemente ou de começo de prova
escrita dos pais. É a regularização do registro de nascimento que deixou de ser feito
por algum motivo. O pai sempre se comportou como tal. Não cabe o exame de DNA.
Na segunda, objetiva-se o reconhecimento compulsório do filho, por omissão ou
recusa do investigado, tenha ou não havido convivência familiar.
O legitimado para propor a ação de prova de filiação é somente o filho, que não
pode ser substituído por quem quer que seja. É um direito personalíssimo e
imprescritível (o titular pode propor enquanto estiver vivo). Os herdeiros não podem
propor esta ação, de maneira que só poderão prosseguir na ação iniciada pelo
titular.
No caso de filho menor a ação poderá ser intentada pelo representante legal,
porque será o próprio filho o autor da ação.

6. Reconhecimento de filho:
O reconhecimento é o ato que declara a filiação, estabelecendo, juridicamente,
o parentesco entre pai, mãe e filho. Não cria a paternidade, apenas declara um fato.
Dessa maneira, o ato de reconhecimento é declaratório e não constitutivo.
O reconhecimento de estado de filiação é direito personalíssimo,
indisponível e imprescritível, podendo ser exercido contra os pais ou seus
herdeiros, sem quaisquer limitações. Sendo ato personalíssimo, não pode ser feito
por avô ou filho, por exemplo. Todavia, é permitido o reconhecimento por
procurador, com poderes especiais para tanto, pois a declaração de vontade já está
expressa na própria procuração.
O ato declaratório do reconhecimento pode decorrer da livre manifestação dos
pais, quando será voluntário ou de sentença proveniente de ação de investigação
de paternidade ou maternidade, quando será judicial.

6.1 Voluntário:
O reconhecimento voluntário é o meio legal pelo qual pai, mãe, ou ambos,
revelam espontaneamente o vínculo que os liga ao filho, outorgando-lhe o status
correspondente (art. 1.607).
Filho maior – art. 1.614 – necessidade de consentimento.
Filho menor – pode impugnar o reconhecimento nos 4 anos posteriores a sua
maioridade ou emancipação.
Reconhecimento de filho falecido – art. 1.609, § único – só é permitido se o
filho tiver deixado herdeiros, caso em que cabe a eles consentir com o ato de
reconhecimento. Essa exigência existe para evitar que haja reconhecimento de
filhos a fim de receber herança (caso de não haverem descendentes, os
ascendentes herdarão).
Reconhecimento = ato irretratável ou irrevogável, inclusive se feito em
testamento (art. 1.610). Pode, contudo, ser anulado, se eivado de vício de vontade,
como erro, coação, ou se não observar as formalidades legais (através da
anulatória).
O reconhecimento será feito (art. 1.609, CC – lei 8.560/92):
I - no registro do nascimento. O pai comparece ao Registro Civil e presta
declarações sobre a descendência do registrado, assinando o termo na presença de
testemunhas. Se o pai é o declarante, constando a maternidade no termo de
nascimento (emitido pelo Hospital), a mãe só poderá contestar provando a falsidade
do termo ou das declarações nele contidas (art. 1.608). O registro de nascimento
feito por quem sabe não ser o pai biológico da criança é tido como adoção à
brasileira e gera paternidade socioafetiva.
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório.
A escritura pública não precisa ser específica para esse fim, podendo ocorrer em
uma escritura de compra e venda, quando a paternidade será declarada de modo
incidente, assinado pelo declarante e testemunhas. Pode também ocorrer por
escritura particular, com firma reconhecida, devendo ser arquivada no Cartório.
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado. O testamento
pode ser cerrado, público ou particular ou especial (art. 1.886). Ainda que o
testamento venha a ser anulado, o reconhecimento constante nele não perderá o
efeito, a menos que o testador não tenha condições de manifestar sua vontade de
forma inequívoca (ex.: se for demente).
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o
reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém.

6.2 Judicial:
Resulta de sentença proferida em ação intentada com o fim de ter o
reconhecimento do filho (ação de reconhecimento da paternidade ou maternidade).
Essa ação deve ser intentada pelo filho, por ser pessoal, mas os herdeiros poderão
prosseguir nela, no caso do falecimento do titular do direito. A ação pode ser
ajuizada contra o pai, contra a mãe, ou contra ambos. A contestação pode ser feita
por qualquer pessoa que tenha interesse moral ou econômico na ação (art. 1.615)
(ex.: cônjuge do réu, herdeiros, etc.). A sentença tem eficácia absoluta, valendo
contra todos. Deverá já haver a fixação dos alimentos provisionais ou definitivos.
Deve ser averbada no registro competente.

6.3 Oficioso:
Lei 8.560/92, art. 2.º. Se apenas a mãe comparecer no Cartório de Registro
Civil e esta indicar o nome do pai, o registrador deverá remeter ao juiz corregedor a
certidão do registro e o nome do indicado pai, devidamente qualificado, para que
oficiosamente se verifique a procedência da imputação da paternidade. A indicação
falsa leva a mãe a incursionar no crime de falsidade ideológica.
O juiz, sempre que possível, ouvirá a mãe sobre a paternidade alegada e será
notificado o suposto pai para se manifestar.
Se o suposto pai confirmar a paternidade, será lavrado termo de
reconhecimento, remetendo-se a certidão ao oficial do Registro, para que faça a
averbação da paternidade.
Se o suposto pai não se apresentar dentro de 30 dias da notificação judicial, ou
se negar a paternidade, os autos serão remetidos ao MP para que intente ação de
investigação de paternidade, mesmo sem a iniciativa do interessado direto. O MP
age como substituto processual. Mas se o interessado (investigado) quiser, poderá
intentar a ação de investigação – art. 2.º, § 6.º, Lei 8.560/92.
Art. 2° Em registro de nascimento de menor apenas com a maternidade
estabelecida, o oficial remeterá ao juiz certidão integral do registro e o nome
e prenome, profissão, identidade e residência do suposto pai, a fim de ser
averiguada oficiosamente a procedência da alegação.
§ 1° O juiz, sempre que possível, ouvirá a mãe sobre a paternidade alegada
e mandará, em qualquer caso, notificar o suposto pai, independente de seu
estado civil, para que se manifeste sobre a paternidade que lhe é atribuída.
§ 2° O juiz, quando entender necessário, determinará que a diligência seja
realizada em segredo de justiça.
§ 3° No caso do suposto pai confirmar expressamente a paternidade, será
lavrado termo de reconhecimento e remetida certidão ao oficial do registro,
para a devida averbação.
§ 4° Se o suposto pai não atender no prazo de trinta dias, a notificação
judicial, ou negar a alegada paternidade, o juiz remeterá os autos ao
representante do Ministério Público para que intente, havendo elementos
suficientes, a ação de investigação de paternidade.
§ 5o Nas hipóteses previstas no § 4o deste artigo, é dispensável o
ajuizamento de ação de investigação de paternidade pelo Ministério Público
se, após o não comparecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a
paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para
adoção. (Redação dada pela Lei nº 12,010, de 2009) Vigência
§ 6o A iniciativa conferida ao Ministério Público não impede a quem tenha
legítimo interesse de intentar investigação, visando a obter o pretendido
reconhecimento da paternidade. (Incluído pela Lei nº 12,010, de
2009) Vigência

6.4 Efeitos do reconhecimento:


O reconhecimento (voluntário ou judicial) de filho havido fora do casamento
produz efeitos ex tunc, retroagindo até o dia do nascimento do filho ou mesmo de
sua concepção se isto for de seu interesse. O reconhecimento produz os seguintes
efeitos:
 Estabelece o parentesco entre o filho e seus pais, atribuindo-lhe o
status familiar, fazendo constar no Registro de nascimento o nome dos
pais e dos avós.
 Impede que o filho reconhecido por um dos cônjuges resida no lar
conjugal sem a concordância do outro (art. 1.611).
 Concede ao filho o direito à assistência e a alimentos.
 Sujeita o filho menor ao poder familiar do genitor que o reconheceu e,
se ambos o reconheceram, e não houver acordo, sob o poder de quem
melhor atender aos interesses do menor (art. 1.612).
 Concede direito à alimentos tanto para o genitor quanto para o filho
(art. 1.694 e art. 1.696).
 Estabelece direito sucessório recíproco entre pais e filhos.
 Autoriza o filho reconhecido a propor ação de petição de herança e
nulidade de partilha, em razão da sua condição de herdeiro.
 Fica sujeito a deserdação ou indignidade.

7. Ações de filiação:
7.1 Negatória de paternidade:
Casos do art. 1.597, CC – a paternidade pode ser impugnada por aquele cujo
nome veio a ser declinado como genitor da criança (marido da mãe da criança). A
presunção de paternidade não é absoluta, de modo que o pai pode elidi-a provando
o contrário. A ação é de ordem pessoal, privativa daquele a quem foi atribuída a
paternidade, de maneira que só ele é legitimado a propor referida ação (art. 1.601).
Contudo, se o titular da ação falecer, seus herdeiros poderão prosseguir com a ação
(art. 1.601, § único). A ação negatória é imprescritível (art. 1.601).
IMPOTÊNCIA GENERANDI: impossibilidade de conceber filho. Para tanto será
exigida perícia médica que comprove a impotência absoluta, pois se houver mero
distúrbio psíquico transitório, a presunção será mantida, só sendo elidida pelo
exame de DNA. Trata-se da impotência em razão de infertilidade.
ADULTÉRIO DA MULER: deve provar que houve adultério e relação sexual de
sua mulher com outro homem. Mas por si só não é fato para justificar a negatória de
paternidade, devendo, ainda, provar que estava fisicamente impossibilitado de gerar
filhos à época da concepção. Ex.: estava separado judicialmente, não tendo
convivido um só dia sob o mesmo teto, daí não ter havido qualquer relaçao sexual
entre eles. Assim, o adultério serve como prova complementar na negatória de
paternidade.

7.2 Negatória de maternidade:


A maternidade só pode ser impugnada se comprovada a falsidade do termo de
nascimento (falsidade material) ou das declarações nele contidas (falsidade
ideológica), por ter havido equívoco na qualificação da verdadeira mãe, não ter
ocorrido o parto, atribuição de filho pertencente a outra mulher, etc. (art. 1.608).
Várias são as situações que podem determinar a ação, como por exemplo troca de
bebês na maternidade, falsidade instrumental ou ideológica no registro, etc.

7.3 Anulatória:
Quando o reconhecimento é feito pelo suposto genitor (voluntária ou
judicialmente). É ato irretratável e incondicional. Contudo, poderá emanar de vícios
de vontade ou defeitos formais de registro. Neste caso a modificação do registro
somente se admite com a ação anulatória. O autor da ação poderá ser tanto o pai
que reconheceu, quanto o filho reconhecido. Pode também ser proposta pelo MP,
quando pai e filho estarão no polo passivo da ação. A ação é imprescritível, pois se
trata de estado de filiação.
7.4 Investigatória:
Por meio da ação investigatória de paternidade busca-se a declaração de seu
respectivo status familiae. Processa-se mediante ação ordinária proposta pelo filho
contra o genitor ou seus herdeiros ou legatários. Caso o investigante faleça antes do
fim da ação, seus herdeiros poderão prosseguir na ação, mas não poderão intentá-la
em nome do investigante. Nesse sentido, o direito à investigação de paternidade é
personalíssimo, na medida em que pode ser exercida somente pelo filho (podendo
ser representado ou assistido, se menor de idade); é indisponível, já que não pode
ser renunciado; é imprescritível, pois pode ser exercido a qualquer momento
(súmula 149, STF).
Contudo, deve-se destacar que a Lei 8.560/92, no art. 2.º, §§ 4.º e 5.º
reconheceu a possibilidade de o MP propor a ação de investigação de paternidade.
Questão controvertida na investigação de paternidade – a paternidade
socioafetiva: existindo paternidade socioafetiva o entendimento é de que ela não
pode ser desconstituída em nome da verdade biológica.
Questão controvertida na investigação de paternidade – a negativa do
suposto pai de se submeter ao exame de DNA: Há discussões sobre a negativa
do pai a submeter-se ao exame de DNA por ser atentatório a sua dignidade e
intimidade. A maioria da doutrina, bem como o STJ (súmula 301) entende que
haverá a presunção da paternidade neste caso. SÚMULA 301, STJ: Em ação
investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz
presunção juris tantum de paternidade. Para terminar com as discussões, a Lei
12.004/09, veio a regulamentar essa questão, incluindo o art. 2.º-A, § único, da Lei
8.560/92, e estabelecendo que a recusa do réu em se submeter ao exame de DNA
gerará a presunção da paternidade, que deverá ser apreciada em conjunto com o
contexto probatório. Essa presunção é relativa. O juiz, para reconhecê-la, deve
analisar outras provas (fotos da relação do casal, cartas, testemunhas, etc).

7.5 Investigação de maternidade:


A ação de investigação de maternidade será proposta pelo filho contra a
suposta mãe ou seus herdeiros. Ocorre apenas em situações excepcionais, pois
invariavelmente se tem certeza sobre a maternidade, já que normalmente se o
genitor não fizer o registro, a própria mãe o fará. Prova-se a maternidade,
naturalmente, pelo parto. Porém possível a investigação da maternidade nos casos
de abandono, ocultação, exposição indevida e rapto.

QUESTÕES
EXAME VII - A respeito da perfilhação é correto dizer que
A) constitui ato formal, de livre vontade, irretratável, incondicional e
personalíssimo.
B) se torna perfeita exclusivamente por escritura pública ou instrumento particular.
C) não admite o reconhecimento de filhos já falecidos, quando estes hajam deixado
descendentes.
D) em se tratando de filhos maiores, dispensa‐se o consentimento destes.

EXAME XIX - Júlio, casado com Isabela durante 23 anos, com quem teve 3 filhos,
durante audiência realizada em ação de divórcio cumulada com partilha de bens
proposta por Isabela, reconhece, perante o Juízo de família, um filho havido de
relacionamento extraconjugal. Posteriormente, arrependido, Júlio deseja revogar
tal reconhecimento. Sobre os fatos narrados, assinale a afirmativa correta.
A) O reconhecimento de filho só é válido se for realizado por escritura pública ou
testamento.
B) O reconhecimento de filho realizado por Júlio perante o Juízo de Família
é ato irrevogável.
C) O reconhecimento de filho em Juízo só tem validade em ação própria com
essa finalidade.
D) Júlio só poderia revogar o ato se este tivesse sido realizado por testamento.

X – ALIMENTOS:
Juridicamente, “os alimentos significam o conjunto das prestações necessárias
para a vida digna do indivíduo” (Gagliano e Pamplona Filho, p. 683).

1. Obrigação de prestar alimentos:


É um dever personalíssimo, devido pelo alimentante, em razão de vínculo de
parentesco, conjugal ou convivencial que o liga ao alimentado. O art. 1.694, CC
determina que
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos
outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com
a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua
educação.
Não se deve confundir a obrigação de prestar alimentos com os deveres
familiares de sustento, assistência e socorro que tem o marido em relação à mulher
e vice-versa e os pais para com os filhos menores, devido ao poder familiar, pois
seus pressupostos são diferentes.
Dever familiar de sustento ≠ obrigação alimentar. Dever familiar de sustento
é decorrência do poder familiar. Obrigação alimentar é fixada judicialmente. O dever
familiar de sustento cessa com a maioridade, sem necessidade de qualquer
declaração. Obrigação alimentar deve ser extinta judicialmente, através de ação de
exoneração.

2. Natureza da obrigação alimentar:


A pretensão alimentar é de natureza personalíssima, não podendo ser objeto
de cessão entre vivos ou de sucessão hereditária. O débito de alimentos pode ser
objeto de sucessão, de maneira que os herdeiros tenham de suportar com seus
encargos, no limite de seus quinhões. A obrigação alimentar não tem função
punitiva. Na fixação dos alimentos deve-se observar o trinômio:
necessidade/possibilidade/proporcionalidade, a fim de que não haja enriquecimento
ilícito a partir dos alimentos.

3. Características da obrigação alimentar:


O direito a alimentos possui as seguintes características:
ATENÇÃO para essas características! Muitas questões podem ser resolvidas com
base nelas!!!
1. É um direito personalíssimo. Sua titularidade não passa a outrem;
2. É suscetível de reclamação após o óbito do devedor. É
transmissível a obrigação alimentar. O art. 1.700 determina que o
credor de alimentos poderá exigi-los inclusive dos herdeiros do devedor,
se este falecer. Os herdeiros serão responsáveis no limite de seu
quinhão. Na verdade não existe a transmissão da obrigação, pois o
espólio é que será responsável (débito do espólio). O débito é do
falecido. Contudo, se o falecido for o alimentado, extingue-se a
obrigação alimentar, não tendo direito seu espólio a exigir a prestação
alimentícia.
3. É incessível em relação ao credor, de maneira que o crédito não pode
ser cedido a terceiro, por ser inseparável da pessoa do credor.
4. É irrenunciável. É possível que se deixe de exercer, mas não que se
renuncie o direito a alimentos. Pode-se renunciar o exercício, mas não o
direito. Art. 1.707.
Discute-se sobre a possibilidade de renúncia de alimentos em sede de
separação/divórcio. A doutrina e a jurisprudência não são uníssonas,
ainda que o entendimento majoritário seja no sentido de admitir a
renúncia no divórcio. Nesse sentido, a III Jornada de Direito Civil
aprovou enunciado:
Enunciado n.º 263, CJF/STJ: O art. 1.707 do Código Civil não impede que
seja reconhecida válida e eficaz a renúncia manifestada por ocasião do
divórcio (direto ou indireto) ou da dissolução da ‘união estável’. A
irrenunciabilidade do direito a alimentos só é admitida enquanto subsista
vínculo de Direito de Família.
Apesar disto, ainda não há uma uniformidade, de forma que, ainda hoje,
se encontrem decisões em ambos os sentidos (algumas admitindo a
renúncia e outras, não). Em concursos públicos, na primeira fase, deve-
se observar o que diz a lei: irrenunciabilidade, nos termos do art. 1.707,
CC. Nas segundas fases e provas orais, deve-se explanar essas
discussões doutrinárias e jurisprudenciais.
5. É imprescritível. Mesmo que não seja exercido, não prescreverá o
direito de, no futuro, pleitear os alimentos. Contudo, se fixados os
alimentos, prescreve em 2 anos a pretensão de cobrança das parcelas
em atraso, salvo exceções. Tartuce (p. 436) apresenta uma tabela sobre
a matéria:
Direito aos Alimentos já Alimentos Alimentos
alimentos fixados fixados em favor devidos pelos
de pais aos filhos
absolutamente
incapaz
Prazos Não há prazos 2 anos 2 anos 2 anos
para se pleitear
Início do prazo ------------- A prescrição se A prescrição não A prescrição não
prescricional inicia com o corre contra corre entre
vencimento absolutamente ascendentes e
incapaz (art. 198, descendentes
I, do CC). Só se durante o poder
iniciará quando o familiar (art. 197,
menor completar II, do CC). Só se
16 anos. iniciará quando o
menor completar
18 anos ou
ocorrer a
emancipação.

6. É impenhorável. Destina-se a prover a subsistência do necessitado e


dessa maneira não pode, de maneira alguma, responder por suas
dívidas.
7. É incompensável. Se houvesse compensação dos alimentos com
outras obrigações, tirariam os meios de sobrevivência do alimentado.
Mesmo que o alimentante torne-se credor do alimentado, não poderá
haver compensação.
8. É intransacionável. Não é possível a transação quanto ao direito a
alimentos, mas quanto ao valor da prestação, sim.
9. É atual. Os alimentos visam satisfazer as necessidades atuais ou
futuras e não as passadas do alimentando.
10. É irrestituível. Uma vez pagos, os alimentos não devem ser restituídos,
mesmo que a ação do beneficiário seja julgada improcedente.
11. É variável. É possível a revisão dos alimentos (redução, majoração,
exoneração), desde que haja mudança na situação econômica de quem
presta e na necessidade de quem recebe. Art. 1.699.
12. É divisível. Divide-se entre os parentes do alimentado encarregados da
prestação alimentícia (ex.: entre o pai e os avós). Art. 1.696 e 1.697 e
1.698. Assim, se o parente que deve os alimentos não tem condições de
pagá-los, é possível que se estabeleça o litisconsórcio facultativo, de
forma que o autor da ação chame ao processo os demais parentes, nos
termos do art. 1.698, CC. Aqui se enquadra a situação da obrigação
avoenga, quando os avós são chamados para complementar ou arcar
com os alimentos de forma exclusiva, quando os pais não possuam
condições. É neste sentido o Enunciado 342 do CJF/STJ, aprovado na
IV Jornada de Direito Civil:
Enunciado 342, CJF/STJ: Observadas as suas condições pessoais e
sociais, os avós somente serão obrigados a prestar alimentos aos netos em
caráter exclusivo, sucessivo, complementar e não-solidário, quando os pais
destes estiverem impossibilitados de fazê-lo, caso em que as necessidades
básicas dos alimentandos serão aferidas, prioritariamente, segundo o nível
econômico-financeiro dos seus genitores.
13. É periódico. O pagamento da obrigação alimentar deve ser periódico,
pois assim se atende à necessidade de se prover a subsistência.
Normalmente é mensal.

A obrigação de prestar alimentos possui as seguintes características:


1. Condicionalidade. Só surge quando ocorrem seus pressupostos legais.
Faltando um deles, cessa a obrigação (se o alimentado adquirir recursos
materiais que lhe possibilitem a mantença, o obrigado ficará liberado).
2. Mutabilidade do quantum da pensão alimentícia. Os alimentos podem
sofrer variações quantitativas e qualitativas. O quantum é fixado
analisando o binômio necessidade x possibilidade. Pode haver redução,
majoração ou exoneração. Também haverá a alteração com as
atualizações monetárias e variações do salário mínimo.
3. Reciprocidade. O parente que presta os alimentos poderá, se mudar sua
situação econômica, solicitá-los àquele a quem prestava.
4. Periodicidade. Seu pagamento poderá ser quinzenal ou mensal, de
maneira que não pode ser pago de uma única vez.

4. Pressupostos:
Os pressupostos essenciais da obrigação alimentar são:
a) Existência de companheirismo, vínculo de parentesco ou conjugal entre
o alimentando e o alimentante. Podem ser exigidos alimentos entre
irmãos? Sim, trata-se de vínculo de parentesco. Art. 1.697.
b) Necessidade do alimentando. O alimentado deve estar precisando dos
alimentos, pela impossibilidade de trabalhar e prover seu próprio
sustento.
c) Possibilidade econômica do alimentante. O alimentante deverá cumprir
com o dever, sem que haja desfalque do necessário ao seu próprio
sustento.
d) Proporcionalidade, na sua fixação, entre as necessidades do alimentário
e os recursos econômico-financeiros do alimentante.

5. Classificação
Quanto à finalidade:
a) Provisionais: se concedidos em ação cautelar preparatória ou incidental.
Serão arbitrados pelo juiz. Podem ser revogados a qualquer momento.
Os fixados em cautelar de separação de corpos, por exemplo. Art. 1.706.
b) Provisórios: Fixados incidentalmente pelo juiz no curso do processo de
congnição ou liminarmente em despacho inicial na ação de alimentos.
Tem natureza antecipatória. Liminar em ação de alimentos.
c) Regulares: estabelecido pelo magistrado ou pelas partes, com
prestações periódicas, de caráter permanente, embora sujeitos a
revisão.
Quanto à natureza:
d) Naturais: compreendem o estritamente necessário à subsistência do
alimentando, ou seja, alimentação, remédios, vestiário, habitação. Art.
1.694, § 2.º (quando resultar de culpa de quem os pleiteia).
e) Civis: concernem a outras necessidades, como as intelectuais e morais
(educação, instrução, assistência, recreação). Art. 1.694, caput.
Quanto à causa jurídica:
f) Voluntários: resultantes de declaração de vontade, inter vivos ou causa
mortis. Ex.: o marido, na separação, estipula a pensão a prestar à
mulher.
g) Ressarcitórios: destinados a indenizar vítima de ato ilícito. Ex.: autor do
homicídio deve prestar alimentos às pessoas a quem o falecido os devia.
h) Legítimos: impostos por lei em virtude do fato de existir entre as pessoas
um vínculo de família.
Quanto ao momento da reclamação:
i) Atuais: se forem a partir do ajuizamento da ação.
j) Futuros: se devidos após a prolação da decisão. Os alimentos pretéritos
não são devidos.
Quanto à modalidade:
k) Próprios: é o fornecimento direto de alimentos no próprio lar do
alimentante, que fornece hospedagem e sustento ao alimentado.
Fornecimento de alimentos in natura. Normalmente o genitor que fica
com a guarda presta alimentos próprios.
l) Impróprios: pagamento de prestação pecuniária, na forma de pensão
mensal. É a forma mais comum de pagamento de alimentos. Geralmente
é pago pelo genitor não detentor da guarda.

Tartuce (p. 423) afirma que os alimentos devidos entre os cônjuges tratam-se
de alimentos compensatórios, ideia desenvolvida por Rolf Madaleno, que entende
que trata-se de uma prestação periódica, paga de um cônjuge para o outro, visando
compensar um possível desequilíbrio econômico causado pela separação/divórcio.
Isto porque, durante o matrimônio o casal experimentava um nível de vida que pode,
eventualmente, ter sido reduzido (condições econômicas) em razão do rompimento.
Devem ser prestados por determinado tempo, possibilitando que o cônjuge
necessitado possa se qualificar para se inserir no mercado de trabalho.

6. Sujeitos da obrigação alimentícia:


A obrigação de prestar alimentos é recíproca, entre ascendentes,
descendentes e colaterais de 2.º grau (irmãos).
Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes,
guardada a ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim
germanos como unilaterais.

Só as pessoas que procedem de um mesmo tronco ancestral comum é que


podem exigir alimentos uma das outras, excluindo-se os afins (sogro, genro,...).
Os parentes mais próximos excluem os mais remotos na exigência da
obrigação alimentar, passando-se aos mais distantes só na falta dos mais próximos.
Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos,
e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais
próximos em grau, uns em falta de outros.

Mas é possível pleitear alimentos complementares dos parentes mais remotos,


na falta dos mais próximos.
Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver
em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a
concorrer os de grau imediato;

Avós – obrigação avoenga – enunciado 342, CJF/STJ = Art. 1.695:


Observadas suas condições pessoais e sociais, os avós somente serão obrigados a
prestar alimentos aos netos em caráter exclusivo, sucessivo, complementar e não-
solidário quando os pais destes estiverem impossibilitados de fazê-lo, caso em que
as necessidades básicas dos alimentandos serão aferidas, prioritariamente, segundo
o nível econômico-financeiro de seus genitores.
Dessa maneira, se o pai prestar 30% dos alimentos necessários, o filho poderá
exigir do avô que complemente, devendo este prestar 70%.
Assim, a ordem de exigência é a seguinte: pai/mãe  na falta destes  avós
 na falta destes  bisavós  na ausência de ascendentes  descendentes  na
ausência destes  colaterais em 2.º grau (irmãos).
Tio não tem dever de prestar alimentos a sobrinho. Também não existe
obrigação alimentar entre primos!
Deve-se observar o fato da adoção. Neste caso, extinguindo-se o
parentesco biológico, o adotado não pode exigir dos pais naturais alimentos,
na impossibilidade dos adotivos prestarem, nem os pais biológicos podem
exigir alimentos do filho que foi adotado. Contudo, essa obrigação surge entre o
adotado e os parentes do adotante e vice-versa.
Nessa ordem não entra o cônjuge, pois o dever de alimentos é por força de
outro fundamento legal, o dever de assistência do marido à mulher e vice-versa.
Nestes casos, se o alimentado (cônjuge) passar a viver com outra pessoa,
constituir nova família, ou praticar atos desonrosos contra o alimentante, exonerará
o devedor da obrigação de prestar alimentos. Mas precisa de ação judicial para que
a exoneração se opere. Art. 1.708.
Mas a constituição de nova família por parte do alimentante não o exonera da
obrigação alimentar prestada à ex mulher. Contudo, pode haver a minoração do
valor prestado. Art. 1.709.
No caso de separação, o cônjuge culpado perderá o direito a alimentos. Estes
só serão fixados, nestes casos, se o culpado não tiver parentes que possam prestar
os alimentos, nem aptidão para o trabalho. Art. 1.704, § único. Se ambos os
cônjuges forem culpados, não haverá a fixação de alimentos.

É possível a fixação de alimentos gravídicos: alimentos fixados à mulher para


que possa atender a suas necessidades especiais. Esses alimentos serão fixados
pelo juiz contra o suposto pai, havendo indícios da paternidade. A lei 11.804/2008 é
que disciplina essa matéria.
Art. 2o Os alimentos de que trata esta Lei compreenderão os valores
suficientes para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que
sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as referentes a
alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames
complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições
preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de
outras que o juiz considere pertinentes.
Parágrafo único. Os alimentos de que trata este artigo referem-se à parte
das despesas que deverá ser custeada pelo futuro pai, considerando-se a
contribuição que também deverá ser dada pela mulher grávida, na
proporção dos recursos de ambos.
Art. 6o Convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz fixará
alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança,
sopesando as necessidades da parte autora e as possibilidades da parte
ré.
Parágrafo único. Após o nascimento com vida, os alimentos gravídicos
ficam convertidos em pensão alimentícia em favor do menor até que uma
das partes solicite a sua revisão.

Estes alimentos serão os valores suficientes para cobrir despesas adicionais do


período gestacional – desde a concepção até o parto –, inclusive as decorrentes de
alguma alimentação especial, assistência médica, internação, exames, etc.
Deve-se atentar para o fato de que os valores deverão ser custeados na
proporção das possibilidades dos genitores (suposto pai e gestante), já que tais
alimentos são para o feto e não para a gestante. Deve-se, portanto, observar a
questão da proporcionalidade na fixação de tais alimentos.
Legitimada para pleitear = a mãe da criança.

7. Majoração, minoração e exoneração:


Havendo modificação do binômio necessidade x possibilidade é possível a
alteração do quantum fixado a título de alimentos (art. 1.699).
Assim, é possível que o prestador proponha ação de redução de prestação
alimentícia ou o alimentado proponha ação de majoração de prestação alimentícia.
A constituição de nova família por parte do alimentante não o exonera da
obrigação alimentar, mas pode fazer com que seja modificado o valor fixado.
Com a maioridade do alimentando, o alimentante pode pleitear a exoneração.
Contudo, se o alimentando estiver cursando faculdade ou curso técnico, os
alimentos podem ser prolongados.
Assim, para a exoneração, o alimentante deve comprovar que não existe mais
a necessidade por parte do alimentado, pelo fato de poder ele próprio prover seu
sustento. Cessa a obrigação de prestar alimentos:
a) Pela morte do alimentando, devido a sua natureza pessoal; lembrando que
a morte do devedor transfere a obrigação para seus herdeiros, nos limites
da herança.
b) Pelo desaparecimento de um dos pressupostos do art. 1.695 –
necessidade x possibilidade.
c) Pelo casamento, união estável ou procedimento indigno do credor de
alimentos.
A extinção da obrigação alimentar não faz coisa julgada, pois, voltando a haver
a necessidade, os alimentos podem, novamente, ser pleiteados.

8. Ação de alimentos:
A ação de alimentos é o meio técnico de reclamar a prestação alimentícia,
desde que se configurem os pressupostos jurídicos.
A lei 5.478/68 estabelece o rito especial para a ação de alimentos, que deve
ser célere. Para tanto, deve haver prova pré-constituída da existência da relação de
parentesco (paternidade já reconhecida).
Esta ação é imprescritível. Contudo, para exigir a execução dos alimentos, já
fixados, e que estão vencidos, o prazo prescricional é de 2 anos.
O foro competente é o do domicílio do alimentando – art. 53, II, CPC/2015.
Depende de intervenção do MP.
Podem os pais propor ação de alimentos a fim de fixar o valor devido aos
filhos? Sim. Ver art. 24, lei 5.478/68.
Art. 24. A parte responsável pelo sustento da família, e que deixar a
residência comum por motivo, que não necessitará declarar, poderá tomar a
iniciativa de comunicar ao juízo os rendimentos de que dispõe e de pedir a
citação do credor, para comparecer à audiência de conciliação e julgamento
destinada à fixação dos alimento a que está obrigado.

PROCEDIMENTO DA AÇÃO DE ALIMENTOS – Lei de Alimentos (Lei


5.478/1968):
1. Petição inicial. O valor da causa será o somatório de 12 prestações
pedidas pelo autor (art. 292, III, CPC/2015).
2. Fixação de alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor desde a
citação – art. 4.º.
3. Há uma fase inicial de conciliação, onde o juiz tenta um acordo entre as
partes – art. 5.º.
4. Nessa audiência será apresentada a contestação, caso não haja acordo.
5. Fase de instrução.
6. Sentença final (retroativa a data da citação, a partir de quando as
prestações mensais poderão ser exigidas.

O melhor é que na sentença o juiz determine o desconto em folha de


pagamento da pessoa obrigada dos valores devidos a título de alimentos. Isso evita
o inadimplemento, pois o desconto é feito e transferido ao alimentado pelo próprio
empregador.
9. Execução da obrigação alimentar:
Atualmente, em razão das previsões do CPC/2015, a prestação alimentar pode
ser cobrada judicialmente através de quatro maneiras27:
a) Título executivo extrajudicial – ação de execução – rito da prisão (art. 911,
CPC/2015);
b) Título executivo extrajudicial – ação de execução – rito da expropriação (art.
913, CPC/2015);
c) Cumprimento de sentença ou decisão interlocutória (nos mesmos autos) –
rito da prisão (art. 528, CPC/2015);
d) Cumprimento de sentença ou decisão interlocutória (nos mesmos autos) –
rito da expropriação (art. 530, CPC/2015);

A decisão de qual modalidade seguir dependerá do tipo de fixação, se judicial


ou extrajudicial e do tempo de atraso (mais ou menos de 3 meses).
- Cumprimento de sentença definitiva ou acordo judicial – mesmos autos (art.
531, § 2.º, CPC/2015)
- Execução de alimentos provisórios – autos apartados (art. 531, § 1.º,
CPC/2015)
- Execução de sentença sujeita a recurso – autos apartados (art. 531, § 1.º,
CPC/2015)
- Execução de acordo extrajudicial – autos apartados (art. 911, CPC/2015)

Deve-se destacar que mesmo havendo bens para garantir a execução (seja por
cumprimento de sentença ou por execução autônoma), a preferência será o
desconto em folha. Assim, se o devedor é trabalhador assalariado, seu empregador
ou o ente público (para quem ele trabalha) deverá descontar os valores de sua
remuneração, conforme determinado por ofício judicial, sob pena de desobediência.
O desconto pode ocorrer das parcelas vencidas (em atraso) e das mensais, desde
que não ultrapasse 50% dos ganhos líquidos do alimentante28.

27 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, 621-622.
28 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2016, 622.
10. Cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de
obrigação de prestar alimentos – arts. 528 a 533, CPC/2015
Uma vez que exista sentença condenatória de obrigação de prestar alimentos,
com trânsito em julgado ou decisão interlocutória que fixe alimentos, poderá a parte
exequente requerer ao juiz que intime pessoalmente o devedor para que, em 3 dias
pague, prove o pagamento ou justifique a impossibilidade de pagar.
Se o executado, neste prazo, não pagar, não provar o pagamento, nem
justificar, o juiz determinará o protesto da decisão. Isto acarretará restrições de
crédito ao devedor/executado, bem como sua inscrição em cadastros negativos de
crédito29.
Somente situação excepcional (doença, por exemplo), ou seja, fato que gere a
impossibilidade absoluta de pagar, justificará o inadimplemento (§ 2.º, art. 528,
CPC/2015).
Não havendo pagamento, ou se a justificativa não for aceita, o juiz, além de
mandar protestar a decisão, determinará a prisão civil do executado pelo prazo de 1
a 3 meses (§ 3.º).
Havendo prisão, esta deverá ser cumprida em regime fechado e em separado
dos presos comuns (§ 4.º).
Sobre a prisão dos avós, ver o Enunciado n.º 599, VII Jornada de Direito Civil:
ENUNCIADO 599 – Deve o magistrado, em sede de execução de alimentos
avoengos, analisar as condições do (s) devedor (es), podendo aplicar
medida coercitiva diversa da prisão civil ou determinar seu cumprimento em
modalidade diversa do regime fechado (prisão em regime aberto ou prisão
domiciliar), se o executado comprovar situações que contraindiquem o rigor
na aplicação desse meio executivo e o torne atentatório à sua dignidade,
como corolário do princípio de proteção aos idosos e garantia à vida.

Uma vez que a prestação seja paga, o juiz determinará a suspensão da ordem
de prisão (§ 6.º).
Lembrando que o débito que autoriza a prisão é o correspondente a até 3
meses de débito alimentar (anteriores ao ajuizamento da ação) e as vencíveis no
curso do processo (§ 7.º).

29 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 591-592.
Pode, ainda, o credor escolher em cobrar o débito alimentar nos termos do
cumprimento definitivo de sentença (arts. 523 a 527, CPC/2015). Neste caso não
haverá incidência de prisão civil. A vantagem deste caminho é a incidência de
multas. Cabe, nestas situações, a pena de penhora.
Optando pelo cumprimento definitivo, o juiz determinará que o executado seja
intimado para pagar o débito em 15 dias, acrescido de custas. Não havendo
pagamento neste prazo, incide multa de 10% e honorários de 10%. Havendo
pagamento parcial, a multa e os honorários incidirão apenas pelo que falta a pagar.
Não havendo pagamento dentro do prazo, haverá expedição de mandado de
penhora.
Vale lembrar que o cumprimento de sentença dispensa nova ação e nova
citação. Tramitam nos mesmos autos da ação de alimentos ou ação que tenha
fixado-os.

11. Execução – processo autônomo:


Se os alimentos estiverem em atraso, o alimentado poderá executar o acordo
de alimentos existente ou a sentença do juiz que fixa a verba alimentar. Neste caso,
a cobrança/execução deverá ocorrer em nova ação, em autos apartados.
A execução dos alimentos provisórios e dos fixados em sentença não
transitada em julgado, somente podem se corados pela via expropriatória
(CPC 528 § 8.º) e se processa em autos apartados (CPC 531 § 1.º).
Os alimentos definitivos ou incontrovertidos, podem ser cobrados sob a
ameaça de prisão (CPC 529 § 3.º), e podem ser exigidos nos mesmos autos
(CPC 531 § 2.º)30.

Nos casos de divórcio ou dissolução de união estável, realizáveis através de


escritura pública, a cobrança/execução deverá ocorrer execução (autos apartados),
podendo ser por expropriação ou prisão civil (conforme o caso).
Art. 911, CPC/2015
O juiz irá citar o devedor para em 3 dias efetuar o pagamento, provar que o fez
ou justificar a impossibilidade de fazê-lo.
Se não houver pagamento, nem justificativa, o juiz determina a prisão civil de 1
a 3 meses.

30DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016, p. 619.
Essa execução será com base nos 3 últimos meses (até 3 meses) de
prestações vencidas. Incluem-se as vincendas. É bem célere.
Não cabe habeas corpus para prisão alimentar.
O cumprimento da pena não exime do pagamento dos alimentos, que seguem
sendo devidos.
Art. 913 e 824, CPC/2015.
Para a execução de alimentos vencidos há mais de 3 meses, deve-se utilizar o
procedimento do art. 824 e ss., CPC/2015 (execução por quantia certa), onde
haverá, ao invés da prisão, a penhora de bens. É bem mais moroso que o primeiro.
Ordem de penhora = art. 835, CPC/2015

QUESTÕES
EXAME IX - Henrique e Natália, casados sob o regime de comunhão parcial de
bens, decidiram se divorciar após 10 anos de união conjugal. Do relacionamento
nasceram Gabriela e Bruno, hoje, com 8 e 6 anos, respectivamente. Enquanto
esteve casada, Natália, apesar de ter curso superior completo, ser pessoa jovem e
capaz para o trabalho, não exerceu atividade profissional para se dedicar
integralmente aos cuidados da casa e dos filhos. Considerando a hipótese acima e
as regras atinentes à prestação de alimentos, assinale a afirmativa correta.
A) Uma vez homologado judicialmente o valor da prestação alimentícia devida por
Henrique em favor de seus filhos Gabriela e Bruno, no percentual de um salário
mínimo para cada um, ocorrendo a constituição de nova família por parte de
Henrique, automaticamente será minorado o valor dos alimentos devido aos filhos
do primeiro casamento.
B) Henrique poderá opor a impenhorabillidade de sua única casa, por ser bem de
família, na hipótese de ser acionado judicialmente para pagar débito alimentar atual
aos seus filhos Gabriela e Bruno.
C) Natália poderá pleitear alimentos transitórios e por prazo razoável, se
demonstrar sua dificuldade em ingressar no mercado de trabalho em razão do
longo período que permaneceu afastada do desempenho de suas atividades
profissionais para se dedicar integralmente aos cuidados do lar.
D) Caso Natália descubra, após dois meses de separação de fato, que espera um
filho de Henrique, serão devidos alimentos gravídicos até o nascimento da criança,
pois após este fato a obrigação alimentar somente será exigida.

EXAME XI - Fernanda, mãe da menor Joana, celebrou um acordo na presença do


Juiz de Direito para que Arnaldo, pai de Joana, pague, mensalmente, 20% (vinte por
cento) de 01 (um) salário mínimo a título de alimentos para a menor. O Juiz
homologou por sentença tal acordo, apesar de a necessidade de Joana ser maior do
que a verba fixada, pois não existiam condições materiais para a majoração da
pensão em face das possibilidades do devedor. Após um mês, Fernanda tomou
conhecimento que Arnaldo trocou seu emprego por outro com salário maior e
procurou seu advogado para saber da possibilidade de rever o valor dos alimentos
fixados em sentença transitada em julgado.
Analisando o caso concreto, assinale a afirmativa correta.
A) Não é possível rever o valor dos alimentos fixados, pois omesmo já foi decidido
em sentença com trânsito em julgado formal.
B) Não é possível rever o valor dos alimentos fixados, pois o mesmo é fruto de
acordo celebrado entre as partes e homologado por juiz de direito.
C) É possível rever o valor dos alimentos, pois no caso concreto houve
mudança do binômio “necessidade x possibilidade”.
D) É possível rever o valor dos alimentos, pois o acordo celebrado entre as partes e
homologado pelo juiz de direito está abaixo do limite mínimo de 30% (trinta por
cento) de 01 (um) salário mínimo, fixado em lei, como mínimo indispensável que
uma pessoa deve receber de alimentos.

EXAME XV - Augusto, viúvo, pai de Gustavo e Fernanda, conheceu Rita e com ela
manteve, por dez anos, um relacionamento amoroso contínuo, público, duradouro e
com objetivo de constituir família. Nesse período, Augusto não se preocupou em
fazer o inventário dos bens adquiridos quando casado e em realizar a partilha entre
os herdeiros Gustavo e Fernanda. Em meados de setembro do corrente ano,
Augusto resolveu romper o relacionamento com Rita.
Face aos fatos narrados e considerando as regras de Direito Civil, assinale a opção
correta.
A) A ausência de partilha dos bens de Augusto com seus herdeiros Gustavo e
Fernanda caracteriza causa suspensiva do casamento, o que obsta o
reconhecimento da união estável entre Rita e Augusto.
B) Sendo reconhecida a união estável entre Augusto e Rita, aplicar-se-ão à relação
patrimonial as regras do regime de comunhão universal de bens, salvo se houver
contrato dispondo de forma diversa.
C) Em razão do fim do relacionamento amoroso, Rita poderá pleitear alimentos
em desfavor de Augusto, devendo, para tanto, comprovar o binômio
necessidade
D) As dívidas contraídas por Augusto, na constância do relacionamento com Rita,
em proveito da entidade familiar, serão suportadas por Rita de forma subsidiária.

XVII EXAME - Maria, solteira, após a morte de seus pais em acidente


automobilístico, propõe demanda por alimentos em face de Pedro, seu parente
colateral de segundo grau. Diante dos fatos narrados e considerando as normas de
Direito Civil, assinale a opção correta.
A) Como Pedro é parente colateral de Maria, não tem obrigação de prestar
alimentos a esta, ainda que haja necessidade por parte dela.
B) Pedro só será obrigado a prestar alimentos caso Maria não possua
ascendentes nem descendentes, ou, se os possuir, estes não tiverem
condições de prestá-los ou complementá-los.
C) A obrigação de prestar alimentos é solidária entre ascendentes, descendentes e
colaterais, em havendo necessidade do alimentando e possibilidade do alimentante.
D) Pedro não tem obrigação de prestar alimentos, pois não é irmão de Maria.

EXAME XX – SALVADOR – Roberto e Marcela, divorciados, são pais de João.


Q
uando
João completou dezoito anos, Roberto, que se encont
rava
desempregado, de imediato parou de pagar a pensão
alimentícia, sem prévia autorização judicial.
Com base na situação descrita, assinale a afirmativ
a correta.
A)
Por estar desempregado, Roberto não é mais obrigado
a
pagar a pensão alimentícia ao filho maior de idade;
logo, o
pagamento da pensão pode ser interrompido sem
autorização judicial.
B)
O implemento da maioridade de João, por si só, faz
com
que não seja mais necessário o pagamento da pensão
alimentícia, independentemente da situação econômic
a do
provedor.
C)
O ordenamento jurídico tutela o alimentante de boa-
fé;
logo, a interrupção do pagamento se dará com o mero
fato
da maioridade.
D)
O cancelamento de pensão alimentícia de filho que a
tingiu
a maioridade está sujeito à decisão judicial, media
nte
contraditório.

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