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Ainda sobre esta desconstrução do pensamento vigente, nos informa Reis que
no clássico As Limitações do Método Comparativo em Antropologia Social, de
1896, Boas critica o evolucionismo social, com base na defesa da pertinência do
método indutivo. Sem impugná-lo diretamente, Boas afirma que a comparação
evolucionista entre povos seria possível somente dentro de territórios restritos, por
meio de precisos estudos individuais. Além disso, nesse artigo Boas também critica
o determinismo geográfico, baseado no argumento de que ele não dá conta de
explicar a diversidade que existia entre povos que viviam em condições geográficas
semelhantes. Em Os Métodos da Etnologia, de 1920, critica novamente os métodos
evolucionista e difusionista, afirmando que a validade das suas teses e conclusões
não foi demonstrada pela moderna etnologia. Propõe, em troca, um método que
estude as mudanças dinâmicas em uma única sociedade, o que pode ser observado
no presente. Cada grupo cultural possui uma história própria e única, e, assim, é
mais importante esclarecer os processos que ocorrem "diante de nossos olhos" do
que propor grandes leis de desenvolvimento da civilização (como faziam o
evolucionismo e o difusionismo). Boas também comenta algumas incursões da
psicanálise no campo da etnologia, colocando algumas de suas ideias como
profícuas, mas veementemente negando que o método psicanalítico por si só seja
capaz de avançar na compreensão do desenvolvimento da sociedade humana.
Em Alguns Problemas de Metodologia nas Ciências Sociais, de 1930, Boas critica
as tendências que certas linhas de investigação tinham, na época, de explicar as
complexidades da vida cultural baseando-se num único conjunto de condições ou
causas. Assim, é contestada a redução da raça à cultura, combatendo a ascensão do
racismo biológico tão comum à época. Também Boas nega ainda que as condições
geográficas ou econômicas sejam determinantes da cultura: elas podem estimular as
condições culturais existentes, mas não possuem força criativa. Para o ilustre
antropólogo, qualquer dessas tentativas de desenvolver leis gerais de integração da
cultura não seria cientificamente eficaz. Como alternativa à improdutiva obsessão
por leis gerais, Boas sustenta que as ciências sociais devem se preocupar em analisar
fenômenos, formas definidas. Na contramão de décadas de reconstruções
especulativas, Boas redireciona o método antropológico para a unidade empírica
"indivíduo" em sua relação à cultura envolvente, pavimentando o caminho para a
emergência da escola Cultura e Personalidade (2004, p.03).
Raça: Para Boas, o conceito de raça na verdade seria uma classificação não
científica dos traços físicos superficiais que possuímos. Vemos em seus textos que
Boas não faz uso do termo raça, mas do termo formas corporais. A ideia de raça na
verdade era uma construção de tipos ideais locais baseados em características físicas
semelhantes, sendo estes retirados de localidades comuns. Porém Boas ressalta que
por mais fisicamente semelhantes um grupo de pessoas seja, haverá inúmeros
indivíduos na qual esta descrição não poderia caber (2012, p.03).
Depois deste entendimento das linhas mestras do pensamento boasiano, nos resta a
seguinte a pergunta: Qual seria no entanto, a contribuição desse autor para o universo
acadêmico e sua aplicabilidade? O pensamento boasiano traz para o universo acadêmico uma
nova forma de pesquisa, a de campo, no qual ele observava atentamente cada detalhe do que
o rodeava, não é atoa que é considerado o “pai da Moderna Antropologia Cultural”, segundo
Pereira (2018, p.09). Ainda segundo o autor (2018, p.09), Boas chama a atenção para o fato
de que “o relativismo cultural, dado da herança que o indivíduo recebe em sua vida e que o
caracteriza de acordo com o grupo em que ele vive, ajuda, assim, a formar a sua
personalidade”, a qual é formada por duas heranças: a biológica e a cultural. Sobre elas,
continua Pereira
a herança biológica é aquela que se recebe dos pais, que corresponde à cor da pele,
aos traços físicos ou genéticos dos grupos humanos a que se pertence. A herança
cultural é transmitida por hábitos e costumes do grupo social em que se vive. É,
portanto, o meio contribuindo para a determinação de certos comportamentos do
indivíduo, mas não determina as suas características físicas, pois estas, como vimos,
são determinadas pela herança biológica. Assim, uma criança indígena ou negra,
quando adotada por uma família branca e criada num outro meio que não é o de seu
grupo de origem, vai desenvolver os costumes, gostos e demais manifestações
culturais conforme o meio em que foi, ou está sendo criada, porém manterá os traços
físicos dos seus progenitores. Ao receber a mesma educação, e ter as mesmas
oportunidades de estudo de uma criança branca, ela concorrerá com essas em iguais
condições, porém as de seu grupo biológico terão dificuldades de acompanhá-la,
pois não tiveram a mesma formação, ou educação para estas situações (2018, p.12).
Por fim, podemos concluir com Pereira que as contribuições do pensamento boasiano
para uma reflexão e entendimento do comportamento humano está no fato de que
enquanto complexo e variado, deve ser estudado no quadro da capacidade
psicológica, da adaptação ao ambiente, das habilidades linguísticas e simbólicas,
além de se referir aos processos educativos. Afirma também, a legitimidade de todos
os conhecimentos que compõem a cultura, sem hierarquias entre eles, oferecendo as
bases não apenas para a ideia de uma ciência étnica, ou “etnociência”, mas para uma
filosofia da educação, cujo método se preocupa com o recolhimento e a conservação
metódica do patrimônio cultural, para o estudo dos avanços cognitivos de cada povo.
(2018, p.17).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
REIS, Nicole Isabel dos. Resenha: BOAS, Franz. Antropologia cultural. Org. Celso Castro.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. 109 p. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832004000200015>
Acesso dia 10 de agosto de 2018.