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COLEGIADO DE PSICOLOGIA
FEIRA DE SANTANA
2019
STEFANIE DE ALMEIDA MACÊDO
FEIRA DE SANTANA
2019
FOLHA DE APROVAÇÃO
Banca examinadora:
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Prof. Dr. Carlos César Barros (orientador)
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
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Prof. Ms. José Fernando Andrade Costa
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
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Prof. Dr. Luís Guilherme Galeão da Silva
Universidade de São Paulo (USP)
Conhecer o que está diante de nós na vida cotidiana é a sabedoria
suprema.
(John Milton)
A atitude crítica pode ser compreendida como ação reflexiva diante de interferências em
situações cotidianas e os conflitos sociais como frutos de organizações cooperativas, desde
que os reducionismos econômico e psicológico sejam revistos a partir das teorias da ação: em
vez de Pollock e Fromm, Weber e Mead. Assim, as lutas sociais voltam ao centro do palco e a
redução metodológica à economia política pode ser superada numa revisão da hermenêutica
hegeliana sobre os contextos da ação.
Se Horkheimer ainda descreve a esfera da ação cultural em termos de produção
estética, expressões simbólicas e interações sociais, Adorno se debruça apenas sobre a estética
da dominação no mundo administrado. Ele “se condena a não ver na dimensão da ação social
mais que uma extensão perversa da dominação humana da natureza”, restam apenas “marcas
miméticas de uma razão não instrumental quase esquecida” (Cano, 2009, p. 15). Habermas
deu um importante passo para superar o déficit democrático da teoria crítica (Werle, 2014)
com os conceitos de “esfera pública” e “mundo da vida”. Seus estudos sobre a nova
configuração da esfera pública burguesa destacaram a autonomia de diversas esferas de ação
cotidianas em relação à ação produtiva. O conceito de mundo da vida, por sua vez, ajudou a
compreender o contexto das atitudes críticas, com ênfase na condição intersubjetiva da
continuidade reflexiva das situações cotidianas de comunicação. Ainda assim, o déficit
sociológico persistiu pelo descuido com a moralidade e a conflitualidade internas ao mundo
da vida, o que resulta em uma análise superficial das resistências e lutas cotidianas (Honneth,
1995). Um campo latente de reprovação ética e protesto coletivo escapa à abordagem
habermasiana do cotidiano.
A expressão da resistência no cotidiano ganha novo matiz em uma teoria crítica que
busca compreender o campo da ação social como aquele em que os grupos sociais criam
valores comuns, objetivando-os no dia a dia por meio de diferentes formas de expressão. Em
um artigo antológico sobre a moralidade oculta – “Consciência moral e dominação de classe”
–, Honneth (1995) aproximou história cultural, sociologia da classe operária e teoria crítica:
experiências, subculturas e revoltas populares, para além da crítica da economia política,
configuraram material empírico que exigiu a revisão da teoria. A superação da ênfase
habermasiana na ação comunicativa, que negligenciou a interação, recorreu ao expressivismo
de Hegel para recuperar a categoria do reconhecimento. A partir da antropologia desenvolvida
por Johann Herder, para quem “a propriedade específica da vida humana é culminar na
consciência de si mediante a expressão” (Taylor, 2014, p. 38), a ação social pode ser descrita,
em oposição à antropologia atomista moderna, como expressão intersubjetiva. Assim, as
diversas formas de expressão dos injustiçados, negligenciadas pela cultura simbólica
dominante e pela capacidade hermenêutica deficitária da teoria crítica, retomam novos
terrenos com a chave interpretativa hegeliana. Em suma, novas categorias se fazem presentes
para que a teoria crítica legitime a atitude crítica, pré-teórica, que se expressa nas resistências
da vida cotidiana.
sem sentimentos de indignação morais fortes, os seres humanos não agirão contra
a ordem social. Neste sentido, as convicções morais se transformam num elemento
igualmente necessário para mudanças da ordem social, em conjunto com as
alterações na estrutura econômica. A história de toda luta política importante
reflete o embate de paixões, convicções e sistemas de crenças. (Moore, 1987, p.
635).
o efeito do modo de apropriação nunca é tão marcante quanto nas escolhas mais
comuns da existência cotidiana, tais como mobiliário, vestuário ou cardápio, que
são particularmente reveladoras das disposições profundas e antigas porque [...]
devem ser enfrentadas [...] pelo gosto sem disfarce, fora de qualquer prescrição ou
proscrição expressas (Bourdieu, 2015, p. 76).
Se, por um lado “só esses novos movimentos emergentes podem nos informar dos
objetivos morais para os quais deve se orientar a teoria social crítica a longo prazo” (Honneth,
2006, p. 93), deve-se levar em conta também o cuidado de não reduzir os movimentos sociais
às organizações com maior publicidade ou, ainda, de ignorar os sofrimentos e esforços que
não alcançaram o nível de organização de um movimento político. A dominação simbólica
muitas vezes pode levar as pessoas à experiência de que suas expectativas e esperanças
difusas sejam assuntos privados, alheios ao debate público, o que interfere diretamente nas
ideias que desenvolvem sobre suas próprias identidades. Sem esse cuidado, corremos o risco
de recair em uma cumplicidade com a dominação política que “só pode ser desfeita mediante
a introdução de uma terminologia normativa para identificar o descontentamento social com
independência do reconhecimento público. Consequentemente isso requer precisamente [...]
considerações psicológico-morais” (Honneth, 2006, p. 100).
Referências bibliográficas
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WERLE, D. L. Apresentação à edição brasileira. In: HABERMAS, J. Mudança estrutural
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Editora Unesp, 2014.