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CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA TI ARARA DA

VOLTA GRANDE DO XINGU


PROGRAMA DE GESTÃO TERRITORIAL INDÍGENA – PGTI

UHE Belo Monte

Verthic
Norte Energia SA

Agosto/2015
Sumário
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 4

2. METODOLOGIA E TRABALHO DE CAMPO ...................................................................... 4

3. CARACTERIZAÇÃO DA TI ARARA DA VOLTA GRANDE DO XINGU ............................. 8

3.1. Caracterização da terra indígena .................................................................... 8

3.1.1. Hidrografia e ciclos ecológicos ................................................................ 8


3.1.2. Solos ....................................................................................................... 8
3.1.3. Fisionomias florestais da paisagem e o uso dos ambientes................... 10
3.2. Caracterização das aldeias........................................................................... 16

3.2.1. Localização e população ....................................................................... 16


3.2.2. Infraestrutura ......................................................................................... 20
4. HISTÓRIA ........................................................................................................................... 27

5. ORGANIZAÇÃO SOCIOPOLÍTICA E ASPECTOS CULTURAIS ..................................... 30

5.1. Organização política, lideranças e atores sociais ......................................... 30

5.2. Associações ................................................................................................. 31

5.3. Religião ........................................................................................................ 32

5.4. Festas e rituais ............................................................................................. 33

5.5. Saúde ........................................................................................................... 33

6. ECONOMIA ......................................................................................................................... 34

6.1. Economia e ecologia .................................................................................... 34

6.1.1. Pesca de subsistência ........................................................................... 34


6.1.2. A captura de tracajá............................................................................... 48
6.1.3. Caça ...................................................................................................... 49
6.1.4. Extrativismo vegetal não madeireiro ...................................................... 65
6.1.5. Agricultura ............................................................................................. 67
6.2. Fontes de renda ........................................................................................... 79

6.2.1. Pesca comercial .................................................................................... 80


6.2.2. Pesca ornamental .................................................................................. 85
6.2.3. Caça comercial ...................................................................................... 90
6.2.4. Comercialização de produtos agrícolas ................................................. 91
6.2.5. Criação de gado .................................................................................... 92
6.2.6. Comercialização de produtos florestais ................................................. 92
6.2.7. Trabalhos remunerados (assalariados e eventuais)............................... 93
6.2.8. Benefícios sociais .................................................................................. 94
6.2.9. Comercialização de artesanato.............................................................. 95
7. PRESSÕES, AMEAÇAS E TRANSFORMAÇÕES ............................................................ 95

7.1.1. Invasão de pescadores.......................................................................... 96


7.1.2. Diminuição dos peixes ........................................................................... 97
7.1.3. Conflitos de pesca ................................................................................. 98
7.1.4. Invasão de caçadores............................................................................ 98
7.1.5. Possíveis impactos da estrada .............................................................. 99
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS E ENCAMINHAMENTOS .................................................... 100

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................. 101

10. EQUIPE ............................................................................................................................. 103


1. INTRODUÇÃO

A caracterização socioambiental da Terra Indígena Paquiçamba é uma das atividades


do projeto “Monitoramento Territorial”, do Programa de Gestão Territorial Indígena, que
procura aprofundar a compreensão da ocupação do território pelos povos indígenas por
meio da realização de um diagnóstico da situação atual visando subsidiar as futuras
ações, planos e projetos nas terras indígenas sobre influência da UHE de Belo Monte
(Giannini et al., 2011).
Um dos objetivos é a caracterização dos sistemas indígenas de uso, manejo e
conservação do território para subsidiar o etnozoneamento e a implementação de ações
de gerenciamento ambiental dessas terras indígenas. Outra de suas funções é o
monitoramento das transformações socioambientais acarretadas pela instalação do
empreendimento como as mudanças no padrão de uso e ocupação do solo e na
disponibilidade de recursos prioritários, contribuindo para a implantação de medidas de
mitigação e compensação. A compreensão das vulnerabilidades territoriais para a
definição de estratégias novas e/ou tradicionais na organização do território também é
outro objetivo.

2. METODOLOGIA E TRABALHO DE CAMPO

A caracterização socioambiental da TI Arara da VGX parte de um olhar para dentro


dessa terra indígena, para os recursos disponíveis e seus usos pelos Arara, e de um
olhar para fora, aprofundando a compreensão da ocupação do território e do diagnóstico
do entorno para o entendimento das vulnerabilidades presentes e vindouras e a
definição ou reformulação de estratégias de gestão frente aos novos desafios
identificados nessa realidade (Giannini et al., 2011). Sendo assim, a metodologia para
a sua realização envolve o conhecimento associado às formas tradicionais de utilização
e manutenção dos recursos prioritários e as tecnologias ocidentais.
O presente trabalho envolveu atividades de levantamentos em campo e atividades de
gabinete para análise de dados disponíveis e produção do relatório final. Todo o
diagnóstico foi elaborado com a participação direta da comunidade e sua elaboração
considerou o uso de métodos intercientíficos, envolvendo tanto o conhecimento dos
povos indígenas como da ciência ocidental.
A coleta de dados primários específica para a caracterização socioambiental foi
desenvolvida ao longo dos meses de janeiro a março de 2015 (Quadro 2.1), mas
também foram aproveitadas entradas em campo nos meses de abril, maio e junho para
a realização de outros trabalhos ligados ao PGTI. O trabalho de campo foi precedido de
uma reunião em cada uma das duas aldeias dessa terra indígena, durante a qual
apresentou-se a de maneira acessível a proposta do trabalho e procurou-se incluir as
contribuições indígenas, tanto na fase de planejamento como na de execução.

Quadro 2.1: Período do trabalho de campo em 2015 para a elaboração da caracterização socioambiental
da TI Arara da VGX

Aldeia Período

21 a 28 de janeiro, 13 a 21 de fevereiro e
Terrawangã
18 a 22 de março

Guary-Duan 29 a 31 de janeiro, 22 a 28 de fevereiro

A metodologia procurou envolver os mais velhos e experientes das aldeias, bem como
representantes de ambos os gêneros e faixas etárias, sempre proporcionando espaços
de discussão para que os próprios indígenas pudessem refletir e avaliar o contexto e as
transformações a partir de seus próprios referenciais.
Foram empregadas diversas técnicas de Diagnóstico Rural Participativo (DRP), que
constituem um conjunto de técnicas e ferramentas que permite que as comunidades
façam seu próprio diagnóstico e comecem a gerenciar seu planejamento e seu
desenvolvimento (Verdejo, 2006):
• Reuniões prévias com a comunidade;
• Conversas informais;
• Entrevistas semiestruturadas;
• Grupos focais por tema;
• Expedições aos locais importantes;
• Elaboração de mapeamentos participativos;
• Observação participante.

Para o início do trabalho em campo, optou-se pela “metodologia geradora de dados”


(Posey, 1987), que se baseia em perguntas abertas visando obter o máximo de
informações e categorias locais.
Visitas foram realizadas em todas as unidades domiciliares para a aplicação de
questionários. Também foram selecionados consultores indígenas por possuírem
reputação de conhecer e dominar determinado tipo de assunto ou tecnologia de
subsistência, de acordo com a indicação de outros membros da comunidade. Esses
consultores culturais também acompanharam algumas das expedições realizadas na
área de estudo.
A metodologia empregada e a descrição dos dados levantados para os quatros temas
principais dessa caracterização socioambiental pode ser visto no Quadro 2.2.

Quadro 2.2: Metodologia utilizada e descrição dos dados levantados para os quatro temas principais da
Caracterização Socioambiental da TI Arara da VGX

Tema Metodologia empregada Dados levantados

- Entrevistas
Caracterização do sistema agrícola com o
semiestruturadas junto a
levantamento das atuais áreas de roças,
indivíduos chaves e aos
Diagnóstico de uso do solo descrição das etapas, práticas e técnicas
donos das roças,
relacionadas ao seu manejo e o levantamento
- Visita e medição dos
da agrobiodiversidade associada.
roçados

Detalhamento da distribuição das atividades


- Grupos focais anuais realizadas, os marcadores de tempo
Calendário sazonal - Entrevistas relacionados a essas atividades, calendários

semiestruturadas festivos e os ciclos anuais de disponibilidade


de recursos.

Censo populacional atualizado, identificação


- Questionários individuais das lideranças politicas, religiosas e espirituais
Diagnostico socioeconômico (Figura 2.2), e dos agentes indígenas de saúde – AIS e
e de infraestrutura das agentes indígenas de saneamento básico –
- Conversas informais,
aldeias AISAN, levantamento da infraestrutura e dos
- Observação participante equipamentos disponíveis nas aldeias e as
fontes de renda.

- Etnomapeamento (Figura
2.3),

- Entrevistas
semiestruturadas, Classificação e reconhecimento dos ambientes
utilizados e dos recursos naturais que
Levantamento participativo - Grupos focais (Figura
constituem a base de sua existência e
dos recursos e ambientes 2.1),
identidade étnica. Caracterização dos sistemas
prioritários - Conversas informais,
locais de uso, manejo e conservação dos
- Observação participante recursos de acordo com a logica indígena

- Expedição a locais
escolhidos durante o
etnomapeamento
Figura 2.1 Grupo focal sobre pesca e elaboração de calendário sazonal
Foto: Renata Utsunomiya

Figura 2.2 Aplicação de questionários por domicílios


Foto: Renata Utsunomiya

Figura 2.3 Etnomapeamento


Foto: Hilton Nascimento
Todas as listas de presença das reuniões, atividades realizadas em grupos focais e
expedições se encontram no Anexo I.

3. CARACTERIZAÇÃO DA TI ARARA DA VOLTA GRANDE DO


XINGU

3.1. CARACTERIZAÇÃO DA TERRA INDÍGENA

3.1.1. Hidrografia e ciclos ecológicos

A TI Arara da VGX se localiza na margem direita do rio Xingu, na região da Volta Grande,
entre os rios Bacajá e Bacajaí, conhecidos localmente também como Pacajá ou Pacajaí,
respectivamente. No seu interior existem nove grotas importantes o grotão do São Felix,
a grota do Pium, Baia, do Sabino, Trairão, Gameleira, do Meio, Machado e Barreiro,
todos eles igarapé intermitente e importantes locais para a atividade de caça que vão
em busca de água nos poços que permanecem no verão.
Para os Arara existem dois período do ciclo ecológico: o inverno, que se estende de
janeiro até o final de abril, e o verão que vai de maio a dezembro. Para os Arara esses
ciclos ecológicos são definidos pela quantidade de chuva sendo o mês de dezembro
considerado um mês de verão ainda porque “faz muito sol”.
Nos estudos de ictiofauna e pesca do EIA da UHE de Belo Monte realizados na região
do médio rio Xingu, Isaac et al. (2008) dividiram o ano em quatro períodos, com base
na curva hidrológica do rio Xingu derivada das vazões médias dos anos de 2000, 2001,
2007 e 2008, sendo eles:
 Cheia – março a maio
 Vazante – junho a agosto
 Seca – setembro a novembro
 Enchente – dezembro a fevereiro

A comparação dos ciclos ecológicos reconhecidos pelos Arara com os ciclos


hidrológicos definidos por estes estudos demonstra que o inverno, para os Arara,
compreende basicamente os períodos de enchente e cheia e o verão corresponde aos
períodos de vazante e seca.

3.1.2. Solos
Os tipos de solos encontrados na TI Arara da VGX de acordo com a vegetação
associada copilados de Patrício et al., (2009) pode ser visto no Quadro 3.1.2.1.

Quadro 3.1.2.1: Tipos de solos encontrados na TI Arara da VGX de acordo com a vegetação associada
(Organizado a partir de informações de Patrício et al., 2009).

Vegetação Tipo de solo Descrição

Floresta Ombrófila Densa Argissolos Vermelho-Amarelo


Alumínico Típico associado com
Solos férteis, profundos e com boa retenção
Argissolo Vermelho-Amarelo
Floresta Ombrófila Aberta Hídrica.
Eutrófico Típico variando de textura
com Cipós media a argilosa

Floresta Ombrófila Aberta


Latossolos profundos e podzólicos
com Palmeiras

Solos que por estarem na parte mais baixo do


terreno sofrem intensa deposição de matéria
Lagoas e grotas Gleissolos/gleiúmico
orgânica, tanto pelas inundações do rio quanto
pela matéria orgânica lixiviada da terra firme.

Solos de origem hidromórfica, caracterizado


pela deposição e decomposição de folhas e
também dos sedimentos trazidos pelas águas.
Nas partes mais altas das ilhas podem ser
observadas manchas de latossolos e
Floresta Ombrófila Densa
podzólicos (terra amarela e vermelho-amarela)
Aluvial Periodicamente Gleissolos e neossolos
como os observados na terra firme. Os solos
Inundada
do beiradão, baixo/igapó são marcados pela
drenagem deficiente e incorporam anualmente
considerável teor de matéria orgânica e
nutriente na época das cheias que são
depositados nesses locais.

A Figura 3.1.2.1 apresenta os tipos de sol que ocorrem na TI Arara da VGX levantados
por (Andrade Gutierrez, Camargo Correa & Odebrecht, 2009) onde:

PVAa9 – Argissolo vermelho-amarelo alumínico típico (Typic Paleudults), A moderado


textura média/argilosa. Argissolo vermelho-amarelo eutrófico típico (Typic Hapludalfs) A
fraco textura média/argilosa. Argissolo vermelho-amarelo alumínico típico (Typic
Hapludults), A moderado textura média/argilosa muito cascalhento. Associados a
floresta ombrófila densa e aberta e relevo suave ondulado.

RUbd1 – Neossolo flúvico Tb distrófico típico (Typic Haplaquents), A moderado textura


média e arenosa. Gleissolo háplico Tb alumínico típico (Typic fluvaquents), A húmico,
textura media. Neossolo quartzarenico hidromórfico típico (Typic Psammaquents), A
fraco. Associados com floresta ombrófila densa aluvial e relevo plano.
RLd4 – Neossolo litólico distrófico Típico (Typic Udorthents), A moderado, textura média.
Argissolo vermelho-amarelo distrófico raso (Typic Hapludults), A moderado textura
média/argilosa. Podendo ocorrer afloramento rochosos. Associados com floresta
ombrófila aberta e densa e relevo montanhoso e forte ondulado.

Figura 3.1.2.1 Distribuição das unidades edáficas na região da TI Arara da VGX (Andrade Gutierrez,
Camargo Correa & Odebrecht, 2009)

3.1.3. Fisionomias florestais da paisagem e o uso dos ambientes

Em contraste com os tributários andinos do Amazonas, o rio Xingu é caracterizado por


processos estáveis de erosão e sedimentação (Camargo et al., 2004). Uma série de
eventos geológicos ocorreram ao longo do seu curso levando a formação de um grande
número de acidentes geográficos, como corredeiras e cachoeiras cavadas em falhas
rochosas de grandes blocos de granito e gnaisses, numerosas ilhas fluviais com morros,
vales e exuberante vegetação aluvial (Isaac et al., 2008).
A região da Volta Grande do Xingu, onde se localiza a TI Arara da Volta Grande do
Xingu, é justamente a parte final desse trecho do rio Xingu, que se caracteriza pela
presença de ilhas, cachoeiras, corredeiras e pedrais, onde estas características são
mais marcantes. Nesse trecho da Volta Grande, o rio Xingu sofre um desnível de 85 m
em 160 km antes de entrar na bacia sedimentar do Amazonas quando então muda
completamente suas características.
Essas características geológicas do Xingu no trecho da Volta Grande propiciam a
formação de uma ampla gama de ambientes aquáticos propiciando uma grande riqueza
faunística nesses conjuntos de ambientes que sofrem grandes transformações ao longo
do ano em função das diferenças no volume de água e das áreas inundadas.
A inundação nas áreas laterais dos corpos d’água leva a um aumento considerável da
área, nichos e alimentos disponíveis para os peixes. Com o retorno das águas lava a
matéria orgânica em decomposição aumentando a concentração de nutrientes nas
águas (Isaac et al., 2008).
Esse pulso de inundação suporta a produção biológica do ecossistema sendo
responsável diretamente pela produtividade pesqueira. A dependência da ictiofauna a
esse pulso de inundação fica clara na ocorrência de espécies de peixes frugívoros que
dependem das frutas das florestas de igapó, disponíveis somente na época de cheia,
quando estes peixes podem adentrar essas áreas inundadas e se alimentar. A pobreza
em produção primária total das águas do rio é substituída, no período da chuva, por uma
grande produção de frutos nas matas inundadas (Isaac et al., 2008). O período de cheia
é o principal período de alimentação, crescimento e de acúmulo de reservas de gordura,
que servirão para que os peixes resistam ao período de estiagem quando comem pouco
(Vieira et al., 2009).
O regime de cheia e seca do rio Xingu também permite uma complexa relação da fauna
terrestre com os recursos disponíveis nas ilhas, como será visto nos depoimentos dos
Arara.
Como consequência dessa complexidade de ambientes que surgem ou desaparecem
dependendo do nível da água, os Arara possuem uma complexa classificação dos
ambientes que ocorrem em seu território, principalmente dos ambientes aquáticos,
fazendo uso mais intenso de um ambiente ou outro dependendo da época do ano.
Basicamente, os ambientes do território Arara da Volta Grande podem ser divididos em
três grandes grupos: a terra, as ilhas e os ambientes aquáticos. O termo terra, usado
por eles, corresponderia quase à mesma definição que a ciência utiliza para o termo
terra firme, com a diferença de que existem algumas ilhas que podem possuir pedaços
de terra firme, enquanto “terra” para os Arara é mais entendido como o oposto às ilhas.
Muitos dos ambientes que serão descritos no presente documento ocorrem tanto nas
ilhas como na terra, ou mesmo na parte aquática do rio Xingu. Outros são de ocorrência
exclusiva das ilhas ou da terra ou do leito do rio.
A maior quantidade de ambientes reconhecidos pelos Arara se refere aos ambientes
aquáticos do rio Xingu, que ocorrem dependendo do nível das águas desse rio, podendo
aparecer ou desaparecer com a subida e a baixada de suas águas. Existem ambientes
exclusivos do inverno ou do verão, e outros que ocorrem tanto no inverno como no
verão. São ambientes definidos a partir de uma série de características que incluem
principalmente o nível da água, a velocidade da correnteza, a presença de pedras e sua
navegabilidade.
Esses ambientes de acordo com a classificação dos Arara da TI Arara da VGX estão
detalhados no Quadro 3.1.3.1. A Figura 3.1.3.1 apresenta as tipologias florestais
existente na TI Arara da VGX.
Outros ambientes reconhecido pelos Arara da TI Arara da VGX são:
Cachoeira: local relativamente extenso com muitas pedras onde a água corre muito forte
sendo difícil a navegação, tendo cachoeira que foram queda de água e outras não.
Canal: é o local mais fundo do rio onde se pode navegar tranquilo de voadeira tanto no
inverno como verão. No verão o canal do Xingu se localiza em frente a TI Arara da VGX
não tendo canal do lado da TI Paquiçamba.
Correnteza: pequena porção do rio onde a água corre mais forte.
Rebojo: local onde a água fica “torcendo”, ocorre quando a água vem com muita força
e se encontra com pedras no fundo provocando uma grande movimentação da água
assim como uma “paleta de motor”.
Ressaca: é um local de terra na beira do rio, localizado tanto na terra como nas ilhas
sendo constituído por uma entrada, uma volta, fazendo uma volta grande relativamente
parecido com uma pequena baia. Toda ressaca tem um remanso associado.
Remanso: local onde a água não corre, fica parada. Ocorre associado com a ressaca,
ponta de ilha, alguns poços e sarobal onde tenha muitas árvores e arbusto que “empata”
a água.

Figura 3.1.3.1 Pedral (a esquerda) em frente a aldeia Terrawangã e baixo (a direta).


Fotos: Hilton Nascimento
Quadro 3.1.3.1: Informações ecológicas e culturais dos ambientes prioritários para os Arara da TI Arara da VGX

Nome do ambiente ou
Características ambientais Período de ocorrência Importância e usos Outras informações
fitofisionomia

Lajeiro grande e contínuo de


Bom para pescar no verão carizão, curimatá, tucunaré e De acordo com Patrício et al. (2009) é coberto por
Pedral pedra exposto e com outras Verão
carizinho ornamental principalmente o amarelinho. vegetação com Influência Fluvial e ou Lacustre.
pedras “em riba”

Local raso ou seco com


pedrais intercalados por
Sequeiro Verão Usam para a pesca de tucunaré e curimatá a noite
pequenas áreas de praia e
pequenos fios d’água

Canal estreito de água por


onde, na maior parte das
Furo Inverno São utilizados para a pesca e deslocamento
vezes se pode deslocar para
outros locais

Locais profundo com mais de


Pesca de pescada, fidalgo, cachorra, pirarara, surubim,
Poço 5 metros no verão e de 15 a Inverno e verão
piranha
20 metros no inverno

Bom para pegar no inverno todos os peixes que comem


Área de pedras e praias de fruta como pacu branco, pacu curupité, curimatá, matrinchã
areia grossa coberta por além de alguns outros peixes como carizão, caratinga,
De acordo com Patrício et al. (2009) é coberto por
Sarobal árvores baixas e arbustos Inverno e verão pocomon e tucunaré. Bom para colocar malhadeira no
vegetação com Influência Fluvial e ou Lacustre.
espaçados. No inverno fica inverno, no remanso da saroba para pegar pacu branco e
coberto pela água. outros peixes “penetra”. Local bom para pescar de caniço
no verão.

Porção de terra com mata e


As ilhas altas com serra são usadas para caçar e as baixas
animais, sendo rodeada de
que inundam são usadas no inverno para pescar. Nas ilhas
água no verão. No inverno
altas é bom para caçar paca, veado, caititu, tatu e mutum.
algumas ilhas podem ficar
Ilha Inverno e verão As ilhas baixas no verão no tempo de frutas como Antigamente tinha muito jabutis em algumas ilhas
cobertas pela água com
sapucaia, sapucainha, abiu, golosa e seringa são usadas
apenas a vegetação a mostra
para caçar de espera enquanto ainda não foram
não deixando por isso de ser
inundadas.
uma ilha.
Quadro 3.1.3.1: (Continuação)

Nome do ambiente
Características ambientais Período de ocorrência Importância e usos Outras informações
ou fitofisionomia

É o ambiente onde ocorrem as famosas caçadas


de torrão ou restinga, evento lúdico e coletivo
Pequena área mais elevada nas partes
muito apreciado pelos Arara. Queixada não ocorre
das ilhas sujeita a inundação que Local bom para caçar paca, tatu, cutia, veado mateiro e fuboca, anta,
Inverno (normalmente de nas ilhas, as visita passando de uma para outra,
Torrão ou restinga demoram mais tempo para serem jabuti e caititu que ficam ilhados com a subida do nível das águas do
março a abril) mas não permanece nelas. De acordo com
cobertas pelas águas e aonde muitos Xingu.
Patrício et al. (2009) corresponde a Floresta
animais se refugiam.
Ombrófila Densa Aluvial Periodicamente
Inundada.

Tem muita fruta na beira como juari, figo goiaba e bananinha sendo
Parte da beira da terra onde a mata se bom para pescar. Quando não tem fruta é bom para pescar também É um ambiente exclusivo da terra, nas ilhas as
Beiradão Inverno e verão
encontra com a beira do rio. com caniço batendo. Também é bom para pescar tucunaré, beiras são chamadas de beira de ilha.
curimatá. A noite é bom para caçar paca e tatu lanternando.

De acordo com Patrício et al. (2009) corresponde


Vegetação de árvores baixas e arbustos
Usam para pescar no inverno e no verão para tirar ovos de tracajá a Floresta Ombrófila Densa Aluvial
Saroba com muitas fruteiras localizada nas ilhas Inverno e verão
nas suas partes arenosas. Periodicamente Inundada e Vegetação com
e que sempre inunda no inverno.
Influência Fluvial e ou Lacustre.

Vegetação de mata limpa localizada a De acordo com Patrício et al. (2009) corresponde
Igapó beira da terra e ilhas quando inundadas. Inverno Bom para pescar pacu branco, curimatá e piau. a Floresta Ombrófila Densa Aluvial
No verão vira baixão. Periodicamente Inundada.

Área baixa e aberta coberta por


De acordo com Patrício et al. (2009) corresponde
vegetação de capim natural no verão Lagoa no inverno e
Lagoa/campo No inverno é bom para pescar curimatá, tucunaré, piau e flecheira a Floresta Ombrófila Densa Aluvial
quando é um campo e que inunda no campo natural no verão
Periodicamente Inundada.
inverno quando vira lagoa

É bom para caçar jabuti no verão quando desce para a beira para
É área do igapó no verão. Existem dois
Verão na beira da terra e beber água e comer fruta. Nos baixos da beira do Bacajá tem muitas De acordo com Patrício et al. (2009) corresponde
Baixo ou terra tipos de baixo, o da beira da terra e ilhas
ilha e inverno e verão fruteiras. é bom para caçar anta também que gosta do baixo para a Floresta Ombrófila Densa Aluvial
baixa que vira igapó no inverno e o do “centro”
dentro da mata comer fruta e quando come não vai pra longe ficando ali por perto. O Periodicamente Inundada.
da mata que é sempre baixão.
baixo tem muita fruteira de cajarana.

Mata baixa, suja e cerrada com muitos


Ambiente onde os Arara realizam a maior parte de suas caçadas por De acordo com Patrício et al. (2009) corresponde
Mata cerrada cipós e difícil de andar. Ocorre tanto na Inverno e verão
ser a vegetação onde os animais de caça preferem ficar. a Floresta Ombrófila Aberta com Cipós
ilha como na terra.
Quadro 3.1.3.1: (Continuação)

Nome do ambiente
Características ambientais Período de ocorrência Importância e usos Outras informações
ou fitofisionomia

Um dos ambientes utilizados para todo tipo de caça que quando não esta
Área elevada que existe na terra e não está na grota está em cima da terra alta. A beira da terra alta também é
É coberto para vegetação de mata alta podendo
Terra alta em algumas ilhas e que nunca é Inverno e verão bom para todo tipo de caça. É na terra alta que fica o queixada muitas vezes
ocorrer também mata cerrada.
inundada. São os morros. comendo e quando dá sede e vontade de “banhar” ele desce e procura a
água nas grotas e baixão, o mesmo fazendo o jabuti.

Mata com sub-bosque limpo


Não é um local bom para a caça pela facilidade com que os animais De acordo com Patrício et al. (2009) corresponde
Mata limpa formado por árvores mais altas e Inverno e verão
detectam os caçadores. a Floresta Ombrófila Densa
que nunca inunda.

Áreas com concentração de açaí Tiram açaí e é um local bom para caçar jacu, queixada, etc. que vaio se
Inverno e verão De acordo com Patrício et al. (2009) corresponde
Açaizal de touceira nos baixos próximos as alimentar dos frutos do açaí e beber água no verão. É onde os queixadas
a Floresta Ombrófila Aberta com Palmeiras.
grotas no “centro” da mata. vão se enlamear também.

Área com concentração de bacaba


Inverno e verão De acordo com Patrício et al. (2009) corresponde
Bacabal nos morros tanto da terra como da Coletam bacaba e caçam jacu e mutum.
a Floresta Ombrófila Aberta com Palmeiras.
ilha

Área com concentração de


Não existe na TI Arara da VGX como ocorre na TI Paquiçamba, o que existe
castanha-do-pará ocorrendo quase Inverno e verão De acordo com Patrício et al. (2009) corresponde
Castanhal são pés de castanha espalhados mas não grande concentrações de
sempre no meio da área de mata a Floresta Ombrófila Aberta com Palmeiras.
castanheiras
limpa

De acordo com Patrício et al. (2009) corresponde


Área com concentração de golosa Inverno e verão
Golosal Coleta de golosa para consumo e fazer de isca para pescar. a Floresta Ombrófila Densa Aluvial
nos baixos/igapós
Periodicamente Inundada.

Área com concentração de babaçu, Inverno e verão De acordo com Patrício et al. (2009) corresponde
Cocal ou palhal Bom para caçar queixada que gosta de “roer” a massa do seu coco.
nos morros e capoeiras a Floresta Ombrófila Aberta com Palmeiras.

Inverno e verão Quando o fruto está caindo é bom para caçar queixada que gosta de comer De acordo com Patrício et al. (2009) corresponde
Paxiubal Área com concentração de paxiuba
a sua fruta a Floresta Ombrófila Aberta com Palmeiras.

Área de vegetação secundária em


Inverno e verão Usam para fazer roça e caçar com cachorro sendo bom ara abater veado e
Capoeira ou juquira recuperação após o abandono de
caititu. Quando ainda é uma roça pode ser bom para caçar queixada.
alguma roça ou pasto
Figura 3.1.3.1 Tipologias ambientais existente na TI Arara da VGX (Patrício et al., 2009)

3.2. CARACTERIZAÇÃO DAS ALDEIAS

3.2.1. Localização e população

A TI Arara da VGX está formada atualmente por duas aldeias, Terrawangã e Guary-
Duan e por dois núcleos populacionais, Vista Alegre e Porto Alegre, todas localizadas
na margem direita do rio Xingu. As coordenadas dessas aldeias e núcleos podem ser
vistas no Quadro 3.2.1.1.
O primeiro registro que se tem da população Arara da TI Arara da VGX são os dados
populacionais desse povo registrado no Relatório de Impacto Ambiental / Estudo de
Impacto Ambiental produzido pela Universidade Federal do Pará – UFPA mediante
solicitação da Eletronorte, citado por FUNAI (2002) dando conta de uma população de
cinco famílias constituídas por 29 pessoas. Posteriormente essa população sobe para
68 pessoas em 2002 e 73 pessoas em 2003 de acordo com os estudos que a FUNAI
estava realizando em vista ao reconhecimento dessa área como terra indígena (FUNAI;
2002). Em 2004 a população era de 80 pessoas (Patrício, 2005). Durante a elaboração
do Componente Indígena da TI Arara da VGX no âmbito do EIA/RIMA da UHE de Belo
Monte sua população já se encontrava em 112 pessoas (Patrício et al., 2009) e no censo
realizado durante o presente estudo havia passado para 148 pessoas (Anexo II). Um
gráfico com a variação histórica da população dessa terra indígena nesses últimos 27
anos pode ser visto na Figura 3.2.1.1.

Quadro 3.2.1.1. População da TI Arara da VGX em março de 2015, separada por aldeias e núcleo
populacionais.

Localização
Aldeia ou núcleo No de
População
populacional famílias
Latitude Longitude

Aldeia Terrawangã 100 21 S3o 30.879’ W51o 43.795’

Núcleo Vista Alegre 9 2 S3o 31.719’ W51o 45.024’

Núcleo Porto Alegre 12 2 S3o 32.809’ W51o 45.829’

Subtotal aldeia Terrawangã 121 25

Aldeia Guary-Duan 27 6 S3o 30.901’ W51o 44.338’

Total TI Arara da VGX 148 31

Os dois núcleos populacionais que existe na TI Arara da VGX, o Vista Alegre e Porto
Alegre estão ligados a aldeia Terrawangã fazendo parte do seu censo oficial junto ao
Distrito Sanitário Especial Indígena DSEI de Altamira sendo considerado pelas
lideranças e população da aldeia Terrawangã como parte da população dessa
comunidade. Não são, portanto unidades políticas independentes na relação com as
instituições externas e sim partes da aldeia Terrawangã.
Para os Arara o censo oficial é um documento formal que demarca pertencimento e
envolve direitos. A descoberta de não estar registrado no censo causa desconforto e
reclamações das pessoas que se sentem excluídas e discriminadas. O censo determina
se a pessoa tem o direito de ser atendido pelo sistema de saúde da aldeia, mas o não
pertencimento ao censo ou comunidade não significa o seu não atendimento. É com
base no censo que são divididas as cotas de combustível dada pelo Empreendedor
sendo também o censo que vai determinar o acesso a bens recebido pela comunidade
com base no seu tamanho populacional. Sair do censo parece significar a perca desses
direitos, assim ocorre casos de pessoas que mesmo tendo casado e ido morar na TI
Paquiçamba seus pais pedem para que a pessoa não seja retirada do censo. Para os
Arara o censo é muito mais que uma simples contagem da população e é importante ter
isso em mente ao considerá-lo.
A atual aldeia Terrawangã1 foi fundada em 1966 quando Seo Leôncio Arara se muda da
ilha localizada em frente a esta, tendo, portanto 49 anos de ocupação. Antes disso essa
área já havia sido ocupada por sua tia avó Tintin Arara que tinha nesse local suas áreas
de roça, flechal e outras benfeitorias como suas fruteiras, mas vivendo nas ilhas para
se protegerem dos ataques dos Kayapó e Asurini que utilizavam a região como rota de
deslocamento (FUNAI, 2002; Patrício, 2005). O núcleo Vista Alegre existe há 31 anos
quando um dos não índios da região se casa com uma das sobrinhas de Seo Leôncio
Arara (Patrício, 2005). O núcleo Porto Alegre ocupado por uma família Curuaia é de
existência também antiga quando o Curuaia chefe dessa família se desloca da área do
alto Xingu e se estabelece na região, não se podendo obter informação referente a que
época isso ocorreu. Essa família Curuaia já morou na aldeia Xikrin do Pykaiako na TI
Trincheira-Bacajá e na aldeia Furo Seco na TI Paquiçamba, mas sempre mantendo o
seu “sítio” dentro da TI Arara da VGX. Antes de ocuparem a ilha onde se localizam agora
viviam na terra onde hoje se encontra uma fazenda de não índios em processo de
desintrusão, mas mantendo suas roças na terra.

160 148

140

120 112

100
População

80
73
80 68

60

40 29

20

0
1988 2002 2003 2004 2008 2015
Ano

3.2.1.1. População da TI Arara da VGX ao longo dos últimos 27 anos


Fonte das informações: 1988, 2002 e 2003 (FUNAI; 2002); 2004 (Patrício, 2005), 2008 (Patrício et al.,
2009) e 2015 presente estudo.

1
Anteriormente seu nome era Oro’g Yeboroguru (flor da terra) sendo o nome Terrawangã adotado em 2006 por ser mais
fácil (Patrício et al., 2009). De acordo com os Arara Terrawangã significa “fim da terra”.
A aldeia Guary-Duan2 (palhal ou dentro do palhal) é a mais nova aldeia na região, tendo
sido fundada no inicio de 2011 pela liderança Zé Carlos Arara. Foi criada no mesmo
local que anos atrás morava Tucum Kayapó e sua família e que atualmente vive na TI
Trincheira-Bacajá. No início a intenção era a mudança de todos os moradores da aldeia
Terrawangã para esse novo local localizado a 1,5 km de distância por ser uma área
mais plana ideal para as novas construções como escola e posto de saúde que a aldeia
espera que sejam construídos. No momento da mudança Seo Leoncio Arara fundador
da Terrawangã se recusa a ir e a mudança não se concretiza com poucas famílias
mudando para essa nova aldeia.
A população da TI Arara da VGX atualmente é formada por 57% de homens e 43% de
mulheres. Sua população é bem jovem, com 85 pessoas (57%) com menos de 19 anos
de idade e apenas cinco pessoas (3%) com mais de 60 anos de idade (Figura 3.2.1.2).
Sua taxa de natalidade é baixa, apenas cinco nascimentos foram registrados entre os
seus moradores no período de janeiro de 2014 a junho de 2015.
Os Arara constituem 61% da população total dessa terra indígena atualmente, seguidos
por uma população de Curuaia que representa 12% do total (Figura 3.2.1.3). Juruna e
não indígenas constituem cada um 9% da população total, e os Xipaya e Kayapó 6% e
3% respectivamente. Todos os filhos de Arara com não indígena são considerados
Arara, mas nem sempre um filho de Arara com outro povo indígena é Arara, podendo
vir a ser considerado da etnia da mãe ou do pai sem a princípio uma regra clara, sendo
a sua pertinência étnica “oficializado” pelos pais no ato do registro de nascimento
através da designação do sobrenome do povo ao qual pertencerá.

80 a 89 1

70 a 79 1

60 a 69 0 3

50 a 59 2 3

40 a 49 4 8

30 a 39 3 10

20 a 29 14 14

10 a 19 14 26

0a9 25 20

30 20 10 0 10 20 30

Mulheres Homens

Figura 3.2.1.2. Pirâmide populacional da TI Arara da VGX (março de 2015)

2
De acordo com seu fundador seu nome significa palhal ou dentro do palhal em referência aos vários pés de babaçu
que possui.
Kayapó
Xipaya
3%
6%
Não indígena
9%

Juruna
9%

Arara
61%
Curuaia
12%

Figura 3.2.1.3. Composição étnica da população da TI Arara da VGX (março de 2015)

3.2.2. Infraestrutura

3.2.2.1. Moradias

A TI Arara da VGX possuía durante o levantamento da infraestrutura existente (janeiro


de 2015) 29 casas sendo utilizadas como moradia por seus moradores, sendo 18 na
aldeia Terrawangã, cinco na aldeia Guary-Duan, quatro no núcleo Vista Alegre e duas
no núcleo Porto Alegre. A maioria das casas da TI Arara da VGX (52%) possuem menos
de três anos de construção, tendo 90% delas sido construída pelos próprios moradores,
com 72% cobertos por palha, 90% sem manta térmica, 69% com piso de terra batida,
76% com paredes de madeira e 100% sem banheiros nem fossas sanitária de nenhum
tipo (Figura 3.2.2.1.1). Em 41% das moradias existem freezer e em 93% televisão.
Essas moradias apresentam em média cinco moradores cada havendo casas ocupadas
por desde dois moradores até casas com oito pessoas.
Durante a realização desse levantamento as 31 casas novas de alvenaria (25 na aldeia
Terrawangã e 6 na Guary-Duan) que estavam sendo construídas pelo Empreendedor
estavam prestes a serem entregues para as famílias cadastradas situação que assim
que se concretizar mudará completamente as características das moradias aqui
descritas (Figura 3.2.2.1.2). Apenas um morador já estava ocupando uma dessas casas
novas na aldeia Guary-Duan.
Quadro 3.2.2.1.1. Levantamento das características das moradias da TI Arara da VGX (janeiro de 2015)

Núcleo Núcleo Porto Total TI Arara


Características das moradias Terrawangã Guary-Duan
Vista Alegre Alegre da VGX

Menos de 3 anos 9 3 2 1 15

Tempo de
De 4 a 8 anos 7 1 0 1 9
construção

Mais de 13 anos 2 1 2 0 5

Os próprios moradores 16 4 4 2 26

Os próprios moradores
Construída por com apoio do 2 0 0 0 2
Empreendedor

Empreendedor 0 1 0 0 1

Brasilit 5 2 0 0 7

Cobertura Cavaco 1 0 0 0 1

Palha 12 3 4 2 21

Presença 2 1 0 0 3
Manta térmica
Ausência 16 4 4 2 26

Terra batida 12 4 2 2 20

Piso Cimento 5 1 2 0 8

Madeira 1 0 0 0 1

Madeira 14 3 3 2 22

Madeira e pau a pique 1 0 1 0 2


Parede
Palha 3 1 0 0 4

Alvenaria 0 1 0 0 1

Fossa rudimentar 0 0 0 0 0

Banheiros Fossa séptica 0 0 0 0 0

Sem banheiro 18 5 4 2 29

Freezer 5 4 3 1 13

Sem freezer ou
13 1 1 1 16
geladeira
Eletrodomésticos
Televisão 17 5 4 1 27

Sem televisão 1 0 0 1 2

Gerador comunitário 17 5 0 0 22
Fonte de energia
Gerador próprio 1 0 4 2 7
Dois modelos de casas estavam sendo construídas a Tipo 1 com dois quartos e 68,02
m2 (9 na Terrawangã e 1 na Guary-Duan) e a Tipo 2 com três quartos e 68,12 m2 (16 na
Terrawangã e 5 na Guary-Duan), sendo cobertas por telhas Brasilit.

Figura 3.2.2.1.1 Modelo de casa padrão na TI Arara da VGX


Foto: Hilton Nascimento

Figura 3.2.2.1.2 Novas casas sendo construídas pelo Empreendedor na aldeia Terrawangã.
Foto: Hilton Nascimento

O acesso à energia elétrica na aldeia Terrawangã e Guary-Duan é feito por geradores


comunitários doados pelo Empreendedor, somente uma casa na Terrawangã tem
acesso a energia elétrica via gerador particular por se localizar mais afastada da aldeia.
Nos núcleos Vista Alegre e Porto Alegre o acesso a energia elétrica é feita totalmente
por meio de geradores particulares.
O funcionamento desses geradores é mantido, tanto nas aldeias como nos núcleos, pela
cota de 600 litros de óleo diesel enviada mensalmente pelo Empreendedor e dividido
entre as aldeias e núcleos.
Não existem placas solares de uso particular em nenhuma das aldeias ou núcleos da TI
Arara da VGX, existindo somente as que alimentam os rádios tanto na aldeia
Terrawangã como Guary-Duan, mas há o desejo dessa população de que as casas
viessem a ter essa fonte de energia. Tampouco existia durante o levantamento alguma
informação indicando a implantação do Programa Luz para Todos nessas aldeias.

3.2.2.2. Meios de transporte

Com o início das ações do PBA várias famílias da TI Arara da VGX receberam voadeiras
de alumínio com motores de popa do Empreendedor. A relação de voadeiras e motores
de popa aqui apresentada foi obtida através de entrevistas realizadas em cada unidade
domiciliar entre janeiro e fevereiro de 2015, correspondendo à autodeclaração de seus
moradores, podendo não corresponder à lista de embarcações efetivamente entregues
pelo empreendedor (Quadro 3.2.2.2.1). Foram levantadas em toda a TI Arara da VGX
28 voadeira com 75% sendo voadeiras de 8,40 metros de comprimento e 16 motores
de popa com 88% sendo de 20 hp além de 14 canoas de madeira e 20 motores rabeta
de 5 a 15 hp. Patrício et al., (2009) registraram que os Arara da TI Arara da VGX
possuíam em 2008, 10 canoas de madeira e três motores rabeta. A utilização desse
meio de transporte é subsidiada desde 2010 (de acordo com os informantes) pela cota
mensal de 1.200 litros de gasolina fornecida pelo Empreendedor e dividido entre as
famílias de todas as aldeias e núcleos. Não foi registrado nenhum carro ou moto de uso
particular com somente uma caminhonete comunitária que de acordo com os Arara
estavam prestes a receber do Empreendedor. Essa situação pode mudar em breve com
a finalização da abertura da estrada que dará acesso das aldeias Terrawangã e Guary-
Duan a cidade de Altamira via o povoado garimpeiro da Ressaca pela Transasurini e
que se encontrava nos seus processos finais de abertura.
Durante a realização do trabalho de campo do presente estudo o acesso das aldeias da
TI Arara da VGX com a cidade de Altamira se dava pelo rio Xingu sendo gasto cerca de
3 horas de viagem para se percorrer os 91 km de distância ou por via terrestre até a
aldeia Paquiçamba na TI Paquiçamba cruzando a partir daí o rio Xingu.
Quadro 3.2.2.2.1. Levantamento dos meios de transportes presentes nas aldeias da TI Arara da VGX (janeiro de 2015)

Motor de popa
Canoa de Motor Voadeira Voadeira Voadeira Voadeira Voadeira Motor de Veículos
Aldeia Propriedade de outras
madeira rabeta de 6,40 m de 7,40 m de 8,40 m de 10,40 m de 12 m popa 20 hp * terrestres**
potências

Particular 2 10 3 1 13 0 0 9 0 0
Terrawangã
Comunitária 0 0 0 0 0 1 0 0 1 de 60 hp 0

Particular 4 4 0 0 4 1 1 3 1 de 140 hp 0
Guary-Duan
Comunitária 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Particular 4 4 0 0 3 0 0 2 0 0
Núcleo Vista
Alegre
Comunitária 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Particular 4 2 0 0 1 0 0 0 0 0
Núcleo Porto
Alegre
Comunitária 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Total 14 20 3 1 21 2 1 14 2 0

* Durante o levantamento dessas informações outros 10 motores de popa de 20 hp estavam, de acordo com os Arara, no depósito do Empreendedor para serem entregues em breve sendo oito para
a aldeia Terrawangã, um para a Guary-Duan e um para o núcleo Vista Alegre. Outra voadeira de 12,40 m com um motor de 115 hp também de acordo com os Arara estava para chegar.

** De acordo com os Arara estavam para receber do Empreendedor uma caminhonete L200 Mitsubishi.
3.2.2.3. Infraestrutura comunitária

A comunicação com as aldeias Terrawangã e Guary-Duan se dá basicamente pelo uso


de celulares particulares, que recentemente começaram ter sinal na região e pelo rádio
da comunidade obtido junto ao Empreendedor.
A infraestrutura comunitária de cada uma das duas aldeias da TI Arara da VGX e suas
condições se encontram nos Quadros 3.2.2.3.1 e 3.2.2.3.2.

Quadro 3.2.2.4.1. Levantamento da infraestrutura comunitária da aldeia Terrawangã (março 2015)

Estado de
Estrutura Quantidade Observação
conservação

Casa de farinha nova construída pelo


Casa de farinha 1 Boa Empreendedor e prestes a serem
entregues

Gerador comunitário 1 Bom Doado pelo Empreendedor

Doado elo Empreendedor, o rádio do


Rádio 1 Bom DSEI não sabiam dizer onde se
encontrava

O rádio se encontra instalado no posto de


Casa do rádio 0 Não possui saúde sendo alimentado por placas
solares

Caixa d’água (10 mil litros) 1 Bom

A agua é captada diretamente do rio Xingu


via uma bomba d’água que estava
Poço artesiano 0 Não possui quebrando várias vezes deixando a
comunidade sem água encanada. O filtro
para tratamento da água estava vencido.

Uma escola antiga de alvenaria com


cobertura de telha construída pela
prefeitura com uma única sala de aula e
um quarto para o professor se hospedar.
É a única construção a contar com algum
tipo de banheiro em toda a comunidade
sendo este feito por uma fossa séptica.
Dotada de uma cozinha pequena para se
preparar a merenda com um freezer e um
Uma ruim e a fogão industrial. Possui também cinco
Escola 2
outra razoável computadores de mesa que não estavam
em uso há pelo menos um ano.
A outra escola foi obtida através, segundo
os moradores Arara, da doação realizada
pela visita de Arnold Schwarzenegger,
Sgourney Weaver e James Cameron após
a visita deste a esta aldeia no âmbito da
resistência a UHE de Belo Monte. Esta
construída de material pré-fabricado,
aparentemente de pvc sendo constituída
por uma única sala de aula e tendo um
computador de mesa e uma impressora.

Construção antiga, com paredes de


madeira, telhado de Brasilit, piso de
cimento constituído por uma casa de dois
Posto de saúde 1 Ruim quartos com a sala e um dois quartos
reservados para o atendimento público e o
outro quarto e cozinha como moradia da
técnica de enfermagem.

Não possui casa de apoio para as equipes


realizando trabalho na comunidade tendo
Casa de apoio 0 Não possui estas que se hospedar quase sempre
casa do cacique, escola ou na antiga casa
de farinha.

Casa de reunião 0 Não possui

Quadro 3.2.2.4.2. Levantamento da infraestrutura comunitária da aldeia Guary-Duan (março 2015)

Estado de
Estrutura Quantidade Observação
conservação

Casa de farinha 0 Não possui

Gerador comunitário 1 Bom Doado pelo Empreendedor

Rádio 1 Bom Doado pelo Empreendedor

O rádio se encontra instalado em uma


casa antiga de parede de palha e chão de
Casa do rádio 0 Não possui
terra batida sendo alimentado por placas
solares.

Caixa d’água (10 mil litros) 1 Bom

Possuem poço, mas não possuem o


Poço artesiano 0 Incompleto sistema de encanamento para distribuição
pelas casas.

Escola 0 Não possui

Posto de saúde 0 Não possui

A casa de apoio das equipes realizando


trabalhos na comunidade se constitui do
antigo alojamento da equipe que estava
construindo as casas de alvenaria da
Casa de apoio 1 Razoável comunidade sendo constituído de uma
estrutura de madeira compensado e chão
de cimento com três quartos, sala e
cozinha, sem mobília nenhum e com água
encanada e banheiro com fossa séptica.

Casa de reunião 0 Não possui


4. HISTÓRIA

Os Arara da TI Arara da VGX são um povo de família linguística Caribe. Atualmente


nenhum habitante dessa terra indígena é falante dessa língua sendo o português o
idioma utilizado em todas as suas relações.
Uma das primeiras notícias sobre os Arara data do século XIX, quando em 1861 e 1862
são encontrados abaixo da Volta Grande onde mantinham contatos pacíficos com
seringueiros sendo constituídos por 343 indivíduos e tendo no mesmo ano atacado de
surpresa a algumas canoas Juruna, desaparecendo logo após isso. Voltam a aparecer
no rio Bacajá em 1917 onde se estabelecem e passam a trabalhar para os regionais
(Nimuendajú, 1948; Viveiro de Castro & Andrade, 1988). Os Arara sempre foram
considerados um povo de “dentro da mata” e não da beira dos grandes rios
(Nimuendajú, 1948) como até hoje seus descendentes da TI Arara da VGX também
reconhecem. Na Figura 4.1 se pode verificar os locais dos primeiros contatos dos Arara
registrados pelos documentos históricos.
Ao longo da história povos considerados Arara apareceram em 11 locais diferentes, em
épocas diferentes e com diferentes denominações o que poderia indicar serem
subgrupos diferentes e independentes entre si (FUNAI; 2002; Patrício, 2005). O
subgrupo que deu origem aos Arara da TI Arara da VGX é o subgrupo que saiu do
igarapé Sucurijú, afluente do rio Xingu localizado abaixo da cachoeira do Jericuá sendo
os descendentes de duas irmãs, Tilin e Tintin. Estudos realizados pelo linguista Isaac
de Spiza demonstra que os Arara do rio Bacajá já não faziam uma rede intercomunitária
com os Arara do Laranjal e Cachoeira Seca no rio Xingu e Iriri desde 1887 (Patrício,
2005, Patrício et al., 2009).
Os Arara da Volta Grande mantinha relações históricas com os Juruna e Xipaya da
mesma região intercalando períodos de guerra e amizade inclusive com a presença de
Arara prisioneiro entre os Juruna e em 1894 a localização de malocas Arara e Juruna
construídas juntas (Oliveira, 1970).
Atualmente, os Juruna e algumas famílias Xipaya continuam ocupando a região e
casamentos entre esses três povos continuam ocorrendo. A mãe de Seo Leôncio Arara
fundador e pessoa mais velha da aldeia Terrawangã era inclusive filha de Arara com
Juruna fazendo com que os Juruna considerem os Arara como Juruna não
reconhecendo sua ascendência Arara.
Ao saírem de “dentro da mata”, como dizem os próprios Arara, estes se estabeleceram
nas ilhas da região da Volta Grande para se protegerem dos ataques dos Kayapó e
Asurini que circulavam pela região. As áreas de terra eram nessa época utilizada pelos
Arara para a abertura de suas roças como foi o caso da Tintin que possuía sua roça no
local onde hoje se localiza a aldeia Terrawangã.

TI Arara
da VGX

Figura 4.1: Mapa com os primeiros locais de contato dos Arara (Viveiro de Castro & Andrade, 1988).

Os Arara da TI Arara da VGX são também conhecidos como Maia pelos moradores do
entorno pelo fato de um não índio que vivia na região e que ao morrer seu nome ficou
sendo utilizado para a cachoeira próxima da onde vivia. Sendo eles os únicos moradores
próximos a ela atualmente ficaram também conhecidos por este nome (Patrício, 2005).
Em 1975 o Instituto de Colonização e Reforma Agrária – INCRA3 aparece na região
registrando as propriedades existentes para solicitar as áreas não ocupadas para um
projeto piloto de colonização (Patrício et al., 2009). Todos os que ocupavam as terras

3
Esse projeto passa em 1989 para o Instituto de Terras do Pará – INTERPA
entre o Bacajá e Bacajaí foram cadastrados com lotes de 100 ha como obteve Seo
Leôncio em relação ao Pontão da Tintin (FUNAI; 2002; Patrício, 2005).
Em 2003 a convite do CIMI Seo Leôncio Arara acompanhado pelo seu Neto Zé Carlos
participam de uma reunião em Olinda, Pernambuco, que contou com a participação de
outros 47 povos que se reuniram para discutir o reconhecimento étnico e territorial já
refletindo o processo de solicitação dos Arara do seu reconhecimento enquanto povo
indígena perante o Estado brasileiro e solicitação da demarcação de uma terra indígena
em parte do seu território (Patrício, 2005).
Devido ao projeto de colonização houve o loteamento de grande parte das terras que
os Arara solicitaram para o seu reconhecimento (Figura 4.2) transformando sua
demarcação em um processo longo e complexo.

Figura 4.2: Mapa dos lotes de ocupantes dentro da TI Arara da VGX (obtido junto aos documentos entregue
pela FUNAI para a liderança da aldeia Terrawangã datado de 10/07/14).

O processo de demarcação da TI Arara da VGX se inicia em 2004 e em 17 de abril de


2015 já no âmbito da implantação da UHE de Belo Monte a TI Arara da VGX é
homologada pela presidenta da república com uma área total de 25.524,59 ha incluindo
10 ilhas a beira do rio Xingu e uma ilha no rio Bacajá (Figura 4.3).
Figura 4.2: Mapa da TI Arara da VGX.

5. ORGANIZAÇÃO SOCIOPOLÍTICA E ASPECTOS


CULTURAIS

5.1. ORGANIZAÇÃO POLÍTICA, LIDERANÇAS E ATORES SOCIAIS

Seo Leôncio Arara fundador da aldeia Terrawangã é o Arara mais velho da comunidade
e sempre foi a referência cultural e política desse povo na região da Volta Grande do
Xingu. Era um dos comerciantes da região que levava a produção de castanha-do-pará
e da pesca comercial de seu povo e até de outras pessoas da região para a cidade de
Altamira tendo tido inclusive um comércio na aldeia onde vendia óleo, bolacha, arroz,
açúcar etc, o que já não realiza mais. Pajé e curandeiro reconhecido em toda a Volta
Grande pelos índios e não índios da região inclusive pelo Xikrin com várias pessoas o
procurando para tratar de seus males. Seo Leôncio Arara foi quem junto com o seu neto
José Carlos Arara dá inicio ao processo de reconhecimento da TI Arara da VGX
solicitando esse reconhecimento a FUNAI e participando de reuniões políticas
representando o seu povo como a reunião na cidade de Olinda em 2003. Com a
demarcação Seo Leôncio Arara se transforma no chefe da aldeia Terrawangã junto com
o seu neto José Carlos Arara que ocupa o cargo de cacique até o ano de 2011 quando
este decide fundar uma nova aldeia, a Guary-Duan se transformando no cacique de
aldeia nova. A partir dessa mudança Adalto Arara, filho de criação de Seo Leôncio é
escolhido em 2012 como o novo cacique da Terrawangã, exercendo a liderança junto
com o seu pai de criação.
Atualmente existem dois grupos políticos na TI Arara da VGX o grupo da aldeia
Terrawangã liderado por Seo Leôncio (chefe) Arara e Adalto Arara (cacique) e o grupo
da aldeia Guary-Duan liderado por José Carlos Arara. Ambos os núcleos Vista Alegre e
Porto Alegre ao fazerem parte da aldeia Terrawangã se afirmam ligados ao grupo
político dessa aldeia.
O nome das lideranças políticas e de referência cultural atual bem como outros atores
sociais relevantes das duas aldeias da TI Arara da VGX podem ser vistos nos Quadros
5.1.1. e 5.1.2.

Quadro 5.1.1. Atores sociais na aldeia Terrawangã (março 2015)

Função Nome

Leôncio Ferreira Arara e


Liderança política
Adalto Ferreira Arara

Pessoa mais velha e referência cultural Leôncio Ferreira Arara

Curandeiro e pajé Leôncio Ferreira Arara

Parteira Iracema dos Passos de Oliveira

AIS Maria Ivanice Teixeira

AISAN Josinei Mendes Arara

Professor indígena Lidice de Sousa Oliveira Juruna

Quadro 5.1.2. Atores sociais na aldeia Guary-Duan (março 2015)

Função Nome

Liderança política José Carlos Ferreira Arara

AIS Elinalva Juruna de Moura

AISAN José Carlos Ferreira Arara

Professor indígena Não possui

5.2. ASSOCIAÇÕES
De acordo com Patrício et al., (2009) a primeira associação dos Arara da TI Arara da
VGX foi a Associação de Resistência Indígena Arara do Maia – ARIAM fundada em
dezembro de 2003 surgindo em um momento em que necessitavam de uma figura
jurídica para realizarem os tramites necessários para o seu reconhecimento territorial e
étnico perante o Estado Brasileiro (Quadro 5.2.1). Tiveram o apoio do Conselho
Indigenista Missionário – CIMI e da Prelazia do Xingu para a elaboração do estatuto. A
associação foi fundamental para a solicitação destes perante a Fundação Nacional de
Saúde – FUNASA para terem acesso ao atendimento diferenciado indígena de saúde,
a Secretaria de Educação do município de Senador José Porfirio, realizar trâmites na
FUNAI de Altamira e se relacionarem com as outras organizações indígenas existentes
na região e no país. Quando de sua fundação o presidente foi José Carlos Arara que ao
sair para fundar sua nova aldeia em 2011 deixa a associação numa situação de
ausência de chefia. Cerca de quatro anos depois em 2015 a associação ARIAM é
retomada com a realização de uma nova assembleia com o apoio da Executora via
Programa de Fortalecimento Institucional - PFI. Durante o mesmo processo José Carlos
funda também a associação de sua aldeia a Associação indígena Arara da Volta Grande
do Xingu – ASSINAUXIN.

Quadro 5.2.1. Associações presentes na TI Arara da VGX (março 2015)

Data de Projetos em
Nome Aldeia Presidente
fundação andamento

Associação de
Dezembro Adalto Ferreira
Resistência indígena Terrawangã Nenhum
de 2003 do Nascimento
Arara do Maia - ARIAM

Associação indígena José Carlos


Março de
Arara da Volta Grande do Guary-Duan Ferreira da Nenhum
2015
Xingu - ASSINAUXIN Costa

5.3. RELIGIÃO

Dados sobre a orientação religiosa dos moradores da TI Arara da VGX com mais de 15
anos de idade foram obtidos por meio da autodeclaração. A maioria dos Arara se
consideram católicos, 67%, não sendo praticantes (Figura 5.3.1). Em algumas vezes um
padre visita a comunidade quando solicitado para fazer batismo, celebrar missas e
casamentos. Ao longo do ano de 2014 visitou a aldeia Terrawangã três vezes. Outra
parcela da população, 19% se considera sem religião e os evangélicos representam
12%. Basicamente os evangélicos correspondem a família de Wellington Curuaia que
vive no núcleo Porto Alegre, tendo também duas pessoas na aldeia Guary-Duan. Os
evangélicos do núcleo Porto Alegre participam do culto na aldeia Paquiçamba da TI
Paquiçamba e gostariam de levar a palavra de Deus para os moradores da aldeia
Terrawangã onde de acordo com sua visão já deveria ter uma igreja. Um morador da
Terrawangã (2%) se considerou católico animista.

Católico e
animista
Evangélico 2%
12%

Sem
religião
19%

Católico
67%

Figura 5.3.1. Orientação religiosa dos moradores da TI Paquiçamba com mais de 15 anos de idade
(março de 2015)

5.4. FESTAS E RITUAIS

A mais importante e famosa festa realizada pelos Arara da TI Arara da VGX é o Festejo
de São Francisco realizado no dia 4 de outubro na ilha do Ferraz localizada em frente a
aldeia Terrawangã. Essa festa se iniciou há cerca de nove anos sendo realizada pela
Dona Alexandrina como pagamento de uma promessa. No ano de 2013 foi a última vez
que foi realizada com Dona Alexandrina vindo a falecer 20 dias depois da última festa
que promoveu. Neste ano de 2015 seus filhos e a comunidade estavam com desejos de
voltar a fazê-la novamente. Patrício et al. (2009) citou além da festa de São Francisco a
festa de São Sebastião e festas juninas como festa importantes para os Arara da TI
Arara da VGX. Nos aniversários fazem churrasco e celebram outras festas do calendário
principalmente através de atividades na escola, sendo a mais celebrada destes o dia do
índio.

5.5. SAÚDE
De acordo com os próprios moradores Arara seus maiores problemas de saúde são a
gripe, diarreia, vômito e febre. Somente a aldeia Terrawangã possui atendimento por
um técnico de enfermagem contratado pelo DSEI que permanece por longos períodos
na aldeia. As outras aldeias quando precisam de atendimento devem se deslocar até
essa comunidade. Algumas vezes, ao longo do ano são realizadas visitas por equipes
de saúde constituídas por médico e enfermeiras, bem como campanhas de vacinação.
Um grave problema de saúde nessas aldeias observado durante o trabalho de campo é
a coleta de água diretamente do rio Xingu e a total ausência de qualquer tipo de banheiro
em uma aldeia com uma população de 100 pessoas no caso da Terrawangã, havendo
somente um na escola. A quantidade de sujeira na aldeia também é outro problema
grave apesar de ter tido melhoras com o inicio do trabalho de discussão e sensibilização
sobre o tema realizado pela Executora dentro do Programa de Saúde.
O acesso a água de boa procedência através da instalação de poços e a instalação de
banheiros são as prioridades na área de saúde básica citadas pelos Arara entrevistados.
Durante a realização da etapa de campo desse estudo os cachorros da aldeia
Terrawangã estavam no final de um surto com cachorros babando e com atitudes de
perturbação mental se assemelhando com raiva, o que não se pode confirmar. Na
semana anterior a chegada nessa aldeia, outros oito cachorros haviam morrido do
mesmo “mal” segundo os Arara com a cabeça inchada, babando e “doidos”.

6. ECONOMIA

6.1. ECONOMIA E ECOLOGIA

6.1.1. Pesca de subsistência

A pesca e a caça são as principais atividades para a economia doméstica dos Arara da
TI Arara da VGX. Por meio de entrevistas individuais realizadas entre fevereiro e março
de 2015 com todos os moradores com mais de 10 anos de idade se registrou um total
de 94 moradores dessa terra indígena realizam atividades de pesca de subsistência,
sendo 62 na aldeia Terrawangã, 18 na Guary-Duan, seis no núcleo Vista Alegre e oito
no núcleo Porto Alegre. É uma atividade praticada por homens, mulheres e crianças
sendo realizada por 90% dos moradores com mais de 10 anos de idade. Os Arara muitas
vezes se referem ao ato de pescar como “mariscar”.
6.1.1.1. As artes e estratégias de pesca

Os Arara da TI Arara da VGX se utilizam de várias artes e estratégias para a realização


de sua prática de pesca sendo as mais utilizadas atualmente a linha (tela), o caniço, a
tarrafa e a malhadeira. De acordo com suas declarações a linha é a tecnologia (ou tralha
de pesca) mais utilizada por eles: “a gente aqui mexe mais com tela”.

Linha ou tela: é uma arte de pesca voltada normalmente para a pesca de peixes
piscívoros. As linhas mais utilizadas são as de número 50 a 60 tendo pescadores que
também se utilizam da número 70. O anzol mais utilizado são os de número 5, 6 e 7.
A pesca com tela ou linha pode ser realizada de seis formas: linha jogada, linha parada,
sondando, tela na espera, atiradeira e espinhel. Linha jogada é feita arremessando a
linha com o anzol na ponta sem peso somente com o anzol iscado com piaba e após
isso puxando ele devagar para pegar tucunaré e outros peixes como a bicuda e
cachorra. Linha parada é usada quando param em um remanso ou na ponta de uma
ilha e jogam a linha com uma chumbada na ponta, deixando-a quieta até os peixes
morderem a isca. É indicada para a pesca de pirarara, piranha, surubim e fidalgo.
Sondando é feita colocando uma chumbada pesada na ponta e soltando ela bem
perpendicular à superfície do rio, rente à canoa, e após a chumbada bater no fundo os
Arara ficam puxando e soltando a linha devagar. É indicada para a captura de pescada
(Figura 6.1.1.1.1). Tela na espera é feita num remanso colocando-se uma tela bem
grossa, número 0,80 ou 0,100, com uma isca grande, jogando a isca no remanso bem
longe e deixando-a amarrada numa árvore forte. Deve ser colocada quando está
escurecendo e no dia seguinte se verifica se capturou algo. É indicada para a captura
de pirarara e utiliza-se somente um anzol por linha, mas pode-se colocar muitas linhas
em um único remanso. A tiradeira é feita colocando um anzol em um pedaço de linha
grossa, que é amarrada em um galho flexível de alguma árvore ou arbusto no mato
dentro do igapó ou na beira da saroba, deixando que a isca encoste um pouco na água,
mas sem entrar dentro dela. Quando o pacu branco fisgar a isca, puxando-a para baixo,
o galho flexível o puxa para cima e este é então fisgado ficando preso à linha. Quando
utilizam a tiradeira, podem colocar muitas, de 20 a 30 espalhadas em vários locais, mas
cada tiradeira tem somente um anzol. É usada sempre com isca de frutas, sendo mais
utilizada próxima aos pés de seringa e golosa. É boa para a captura de pacu branco. O
espinhel é parecido com a tiradeira só que são muitos anzóis em uma única linha. É
formado por uma linha grossa e extensa, cerca de 100 m de comprimento, normalmente
da grossura de uma caneta, presa a uma árvore. Desta linha saem outras linhas mais
finas com um anzol na ponta de cada uma. A distância entre cada uma dessas linhas
secundárias é 1 a 1,5 metros, com um espinhel podendo ter de 50 a 100 anzóis. São
colocadas no meio do rio, a partir de uma moita da beira da ilha ou da terra seguindo
para o meio do rio e ficando solto dentro da água, presos a uma árvore ou moita
somente. São iscadas com isca de peixe, no fim da tarde, quase escurecendo, sendo
bons para capturar peixes de couro, principalmente pirarara e surubim. Usam no verão,
mas já não utilizam muito essa técnica de pesca.

Figura 6.1.1.1.1 Produção de uma pescaria de pescada


Foto: Hilton Nascimento

Caniço: o caniço é uma linha de nylon amarrada na ponta de uma haste de madeira,
sendo usado para a pesca de cinco etnoespécies4 de peixes com hábito frugívoro: pacu
branco, pacu curupité, matrinchã, pacu cadete e pacu de seringa. A pesca com o uso
de caniço não tem variações, se isca o anzol com a fruta desejada e o arremessa
próximo ao pé de fruta que tiver frutas caindo. Na hora que a isca cai na água, o peixe
já a morde. Deve se iscar com a mesma fruta que está caindo no local onde o pescador

4
O termo “etnoespécie” é utilizado neste relatório para identificar categorias taxonômicas classificadas localmente,
adotadas pelas comunidades Juruna da TI Paquiçamba. Estas etnoespécies recebem nomes vernaculares em
português, e podem ou não corresponder às espécies designadas pela ciência ocidental a partir da taxonomia. Segundo
Otieno et al. (2015), etnoespécies da flora e fauna definidas localmente podem ter três características: a) corresponder
exatamente à classificação científica; b) super-diferenciação, quando mais de uma etnoespécie é correspondente a uma
espécie científica, as quais são classificadas em diferentes táxons localmente por características morfológicas como cor,
tamanho e forma; e c) sub-diferenciação, quando as categorias locais correspondem a categorias mais amplas
designadas pela ciência (por exemplo, etnoespécies locais podem corresponder a mais de uma espécie ou até mesmo
diferentes gêneros da ciência ocidental).
está ou uma fruta bem parecida. Essa arte de pesca não é utilizada nos meses de verão,
entre setembro e novembro, quando na há produção de frutas.

Malhadeira: a malhadeira já era uma arte de pesca utilizada pelos Arara em 2008
quando Patrício et al. (2009) realizaram os estudo do Componente Indígena do
EIA/RIMA da UHE de Belo Monte sendo considerada pelos autores como uma arte
pouco utilizada. Aparentemente seu uso esta se intensificando atualmente após
receberem do Programa de Atividades Produtivas 16 malhadeiras de 100 m de
comprimento (1.600 metros de malhadeira no total) de tamanho 12 e 18 no começo de
2015.
A malhadeira normalmente é utilizada de quatro formas, colocada próxima a alguma
fruteira, em um remanso, dentro do igapó ou “fazendo o bate”. O “bate” é quando
colocam a malhadeira na boca de uma ressaca. Entram com cuidado na ressaca e
colocam a malhadeira fechando a boca desta, após isso passam o barco para dentro e
ligam o motor, rodando com ele para espantar todos os peixes que ao saírem ficam
presos na malhadeira.

Tarrafa: na tarrafa, assim como a malhadeira, também varia o tamanho da malha de


acordo com o peixe alvo. As malhas grandes são indicadas para capturar peixes
grandes, as de malha menor capturam peixes pequenos e médios. Nem todos tem
tarrafa e nem todos os pescadores da TI Arara da VGX sabem jogá-la.

Outras estratégias de pesca também são utilizadas em menor escala pelos Arara da TI
Arara da VGX, muitas delas caindo em desuso.

Tapagem: durante o período da piracema, os Arara ainda usam algumas vezes hoje em
dia a tapagem, que é feita na grota. É uma arte de pesca utilizada somente no período
de piracema. Fazem sempre em uma grota que dá acesso ao rio ou a uma lagoa.
Quando chove muito, a água “enxorra”, descendo do lago com muita força, momento no
qual os peixes sobem para desovar. Curimatá, tucunaré, trairão, etc., todos sobem
nesse momento para desovar dentro da grota. Antes de enxurrar, os Arara vão e fazem
na grota duas cercas de paus, uma mais acima, toda tapada, e outra mais abaixo, com
uma pequena entrada, constituída por dois paus flexíveis colocados próximos
permitindo a passagem dos peixes conforme estes forçam um pouco a entrada ficando
então presos no cercado criado acima dessa primeira cerca, se batendo nesse trecho
da grota entre uma cerca e outra. Um dos locais onde os Arara afirmaram fazerem
tapagem é na piracema do furo da Velha Maria.
Lanternar: focam com a lanterna na beira das pedras e matam os peixes que estão
próximo com o facão. É bom para pegar curimatá, trairão, surubim, corró e traíra. É
utilizada somente para a pesca de subsistência, pois “fere” o peixe não sendo indicada
para a pesca comercial.

Arco e flecha: estratégia de pesca pouco utilizada. Na caça já não a utilizam mais.
Antigamente a utilizavam mais para pescar.

Ferro: arpão de ferro com uma liga de borracha usada para pescar carizão no verão.
Um pescador Arara afirmou que pode pegar mais carizão que a tarrafa. Na região onde
o carizão está bravo o ferro é melhor e na região que está manso a tarrafa é a mais
indicada. Usam pouco sendo a “molecada” que gosta de usar mais.

As principais características como usos, ambientes e locais onde são encontrados,


sazonalidade, arte de pesca utilizada, tipo de alimentação e período do dia mais
indicado para a pescaria dos peixes prioritários para os Arara da TI Arara da VGX de
acordo com sua percepção podem ser vistas no Quadro 6.1.1.1.1.
Quadro 6.1.1.1.1: Informações gerais dos peixes prioritários para os Arara da TI Arara da VGX de acordo com suas próprias percepções

Nome do Ambientes/locais em que Tipo de Período do dia Outras informações (abundância,


Nome científico Usos Sazonalidade Arte de pesca utilizada Reimoso5
recurso é encontrado alimentação melhor formas de captura, etc.)

Todo lugar, mas em muita


quantidade nos igapós Todo ano, mas é As vezes pode ser pego com isca de
Consumo com fruteiras como mais no inverno de Caniço, malhadeira e peixe também, no Bacajá afirmaram
Pacu branco Myleus torquatus Frutas Sol frio e chuva Não
e venda cajazeiras, seringueiras, dezembro a agosto tiradeira que pegam mais com isca de peixe.
golozeira, tucunzeiro e no na época das frutas Ë um peixe “guloso”.
figo no inverno

No inverno quando começa a encher


as pedras vão para o fundo e fica
Para difícil. Afirmaram não pegar tanto
Várias espécies e
Acari Consumo No verão de junho a Captura com a mão, algumas carizão como os Juruna da TI
gêneros de Pedral Lodo Sol quente
(carizão) e venda novembro ferro e tarrafa coisas Paquiçamba porque lá o rio seca
loricarideos
sim mais e fica difícil de pegar tucunaré
diferente das áreas próximas a TI
Arara da VGX.

Diferente dos Juruna da TI


No verão em região mansa
Paquiçamba as áreas ao redor da TI
de cachoeira, igapó, boca
Arara da VGX não seca tanto e o
de grota e pé de pau.
O pitanga tucunaré não se afasta tanto
Consumo Gosta de lugar raso que Tono ano, mas no Outros Cedo ainda
Tucunaré6 Cichla sp. Linha sim, o também. No inverno no Araruna é
e venda tenha pedra e cachoeira. inverno é pouco. peixes meio escuro
tinga não. bom porque tem pedras altas que
No inverno em pé de pau,
não vão para o fundo. Para os Arara
buraco de pau e pedra
tucunaré não tem “decepção” sendo
funda.
um peixe bom para pescar.

Vendem mais na época que está


No inverno com flecha e
No verão pega mais, Sim, sua ovada quando é muito procurada
malhadeira dentro dos De noite depois
no inverno somente reima depois de fevereiro a maio quando já
Prochilodus Consumo Remanso, ressaca e lagos e boca de das 10 horas em
Curimatá quando está subindo Lodo está só desovaram estão tudo magras. A
nigricans e venda pedral piracema e no verão noites escuras
em piracema em na partir de maio começam a engordar
com tarrafa e sem lua
janeiro e fevereiro cabeça novamente voltando a serem
malhadeira
procuradas

5
Alimentos considerados perigosos para o consumo por pessoas em estados físicos e sociais de liminaridade como enfermidade, menstruação e pós-parto (Silva, 2007).
6
Os Arara reconhecem pelo menos dois tipos de tucunarés: o pitanga que anda de casal com o macho tendo um “caroço” na cabeça e ocorrendo mais no inverno e o tucunaré tinga que forma
cardumes dando mais no verão na baixada das águas. O tucunaré tinga tem listras como o pitanga, mas é todo “pintadinho”.
Quadro 6.1.1.1.1: (Continuação)

Nome do Ambientes/locais em Arte de pesca Tipo de Período do dia Outras informações (abundância,
Nome científico Usos Sazonalidade Reimoso
recurso que é encontrado utilizada alimentação melhor formas de captura, etc.)

De noite na
Várias espécies da Todo o ano mas
Consumo e Malhadeira e malhadeira e partir
Cachorra família Characidae e Ressaca e meio do rio sua força é de Outros peixes “indeciso”
venda linha jogada das 6 horas na linha
Cynodontidae maio até agosto
jogada

Junho até
Boca de furo, corredeira e novembro, no Tela flutuante Não comercializam porque tem
Bicuda Boulengerella sp. Consumo Outros peixes Qualquer horário Sim
água de rebojo inverno é mais (sem chumbo) pouca
difícil

Malhadeira e
Todo ano, mas sua
Consumo e linha jogada, As vezes pegam no caniço quando
Piranha Serrasalmus sp. Todo o rio força é no verão, Outros peixes Qualquer horário Sim
venda as vezes no estão pescando pacu branco
no inverno é pouco
caniço

Não comercializam porque a carne


Todo ano, mas sua Verão na
fica dura. Atrapalha a pesca de pacu
Todo o rio, mas gosta de força é no tempo tarrafa e
branco porque sempre pega a isca
Pacu curupité Tometes sp. Consumo corredeira e tem muito no do sarão malhadeira no Frutas Qualquer horário Não
para o pacu primeiro. Em uma
igapó (dezembro a inverno na
pescaria de pacu branco sempre vai
janeiro) linha e caniço
ter algum curupité.

Várias espécies da No inverno no igapó e no


Linha e Frutas e Fim do dia, das 6 Não, para
Pocomom família Consumo verão nas locas de pedra Todo ano
malhadeira outros peixes horas até escurecer outros sim
Auchenipteridae no fundo

Quando tá chovendo é ruim de


Inverno, de janeiro pegar. É bom de encontrar no
a agosto na tela, Bacajá e Araruna. É um peixe que
no verão (de gosta de lugar fundo e tem o local e
outubro em diante) horário certo para elas comerem e
Plagioscion Consumo e Poços e sarobal, lugar Depois das 10 da
Pescada só pega se for na Linha Outros peixes Sim consequentemente para serem
squamosissimus venda fundo manhã
malhadeira porque pescadas também. Cada lugar tem o
os poços ficam seu horário. Por isso é considerada
rasos e não dá um peixe que o pescador precisa de
para usar a linha paciência para ser pescar tem que
ter “as manhas”.
Quadro 6.1.1.1.1: (Continuação)

Outras informações
Nome do Ambientes/locais em Arte de pesca Tipo de Período do dia
Nome científico Usos Sazonalidade Reimoso (abundância, formas de
recurso que é encontrado utilizada alimentação melhor
captura, etc.)

Mais no verão de
agosto a setembro Depois das 10 horas
Consumo e Malhadeira ou Na ressaca do Cemitério tem
Ariduia/jaraqui Semaprhochilodus sp. Remanso quando ficam nos Lodo da manhã até as 12 Sim
venda flecha muita
remansos do horas
Bacajá

Se encontra muito em pés de


Tiradeira, seringa estalando. As vezes
Consumo e Mais no igapó no tempo
Matrinchã Brycon sp. Inverno malhadeira, Frutas Sim pegam uns quando estão
venda do figo
linha e caniço pescando tucunaré pois ele se
engana com a isca

Todo ano, mas na


Consumo e Poço, baixão de praia e cheia pescam Outros Se encontra mais no Bacajá que
Surubim Pseudoplatystoma sp. Linha jogada Qualquer horário Sim
venda remanso pouco. De junho a peixes no Xingu
agosto tem muito.

Para
algumas
De janeiro a coisas sim
Consumo e agosto, para outro Linha com Outros para
Fidalgo Ageneiosus sp. Poço e ponta de praia Das 11 as 14 horas
venda pescador de junho chumbo peixes outras
a setembro não. Não
tem muita
reima.

Inverno no igapó e no
Consumo e
Caratinga Geophagus sp. verão no baixão de Todo ano Linha Invertebrados De manhã Não
venda
praia

Todo tempo, mas Linha com


Brachyplatystoma Consumo e Outros Depois das 10 da É difícil de pescar, ocorre pouco
Filhote Poço e praia tem mais no chumbo e Sim
filamentosum venda peixes manhã na região
inverno espinhel
Quadro 6.1.1.1.1: (Continuação)

Outras informações
Nome do Ambientes/locais em que Arte de pesca Tipo de Período do dia
Nome científico Usos Sazonalidade Reimoso (abundância, formas de
recurso é encontrado utilizada alimentação melhor
captura, etc.)

Mais inverno, mas


na cheia (março a
Phractocephalus Consumo Poço, sarobal, boca de lago Linha jogada e Frutas e
Pirarara abril) fica difícil Qualquer horário Sim (Figura 6.1.1.1.2)
hemioliopterus e venda e vários locais espinhel outros peixes
aparecendo mais na
vazante

Todo ano, mas no


Consumo verão é menos. Sua
Pacu cadete Myleus schomburgki Beiradão Caniço e linha Frutas De manhã Sim
e venda força é de junho a
agosto na caferana

Mais no inverno Linha com Outros peixes


Consumo Loca de pedra, boca de
Trairão Hoplias sp. quando o rio enche estrovo de e pequenos Qualquer horário Não Desovam junto com a curimatá.
e venda lago e grota
as grotas arame vertebrados

Consumo Sarobal, poço e boca de


Piranha preta Serrasalmus rhombeus Todo ano Linha Outros peixes Qualquer horário Sim
e venda grota

No verão (setembro
a outubro) nos
Frutas
poços com isca de Com o sol quente
Consumo Linha e caniço principalmente
Pacu seringa Myleus sp. Sarobal e beira de poço caranguejo ou aruá a partir das 10 Sim
e venda (pouco) tucum e
(caramujo). No horas da manhã
seringa
inverno também
pega.

É difícil de pegar. É um peixe


Algumas
mais de malhadeira mas os
Consumo Região enlameada e beira Frutas e etnoespécies
Piau Leporinus sp. Todo ano Linha Qualquer horário Arara afirmaram não
e venda de ilha com sombra invertebrados sim outras
trabalharem com malhadeira
não
indicada para pegar piau

Piranha Serrasalmus aff Linha, caniço Frutas e


Consumo Lago e beira de poço Todo ano Sol quente Sim Tem pouco na região
camari manueli e malhadeira outros peixes
Quadro 6.1.1.1.1: (Continuação)

Outras informações
Nome do Ambientes/locais em que Arte de pesca Tipo de Período do dia
Nome científico Usos Sazonalidade Reimoso (abundância, formas de
recurso é encontrado utilizada alimentação melhor
captura, etc.)

Das 5 da tarde as
Mandi liro Pimelodus ornatus Consumo Igapó Todo ano Linha Sim
7 da noite

Depois das 10 da
Bico de pato Sorubim lima Consumo Poço de pescada Todo ano Linha Sim Tem mais no Bacajá
manhã
Figura 6.1.1.1.2 Pirarara pescada na aldeia Terrawangã
Foto: Hilton Nascimento

6.1.1.2. As frutas associadas à pesca na TI Arara da VGX

As florestas aluviais das margens do Xingu ou de suas ilhas localizadas nas áreas de
inundação contribuem significativamente para a produtividade do sistema da região, se
tornando um dos principais elementos que sustentam toda a cadeia trófica aquática
(Vieira et al., 2009). As árvores frutíferas dessas matas têm o seu período de frutificação
ocorrendo simultaneamente com o período de enchente do rio, coincidindo com a
entrada dos peixes nessas planícies inundadas. O período da cheia é o principal período
de alimentação, crescimento e de acúmulo de reservas de gordura que servirá para que
os peixes resistam ao período de estiagem quando comem pouco (Vieira et al., 2009).

De acordo com as conversas realizadas junto aos pescadores Arara que participaram
da conversa do grupo focal sobre pesca são 10 as frutas mais importantes para a sua
atividade de pesca estando o seu período de produção detalhado no Quadro 6.1.1.2.1.

A primeira a produzir é o sarão indo de dezembro até janeiro e sendo muito procurando
pelo pacu branco, pacu curupité e matrinchã. Após o sarão ocorre a produção da golosa
que de acordo com os informantes Arara somente o pacu come, produzindo de fevereiro
a abril mas tendo ano que em dezembro já começa a cair. Por ser grande não tem como
os Arara colocarem uma fruta inteira na isca sendo colocados os pedaços. É muito
utilizada na tiradeira para pegar pacu branco. O figo produz de janeiro até maio dando
de duas a três cargas, mas sua força maior é até março. O landi é uma fruta roxa similar
ao sarão produzindo de fevereiro a abril. O tucum produz de março em diante, mas sua
força é em abril e quando começa a amadurecer logo acaba. É seguido pela seringa
que produz de março a abril no meio do “invernão” mesmo sendo consumida pelo pacu
branco, matrinchã, pacu curupité e piau. Depois vem o cajá que vai de março a maio,
mas com sua força em abril sendo consumido pelo pacu branco, pacu curupité e
matrinchã. Na sequência vem a caferana a partir de junho até agosto que é consumida
somente pelo pacu branco. A partir de junho tem a goiaba de junho que tem esse nome,
mas só cai em julho de acordo com os informantes Arara, sendo julho a sua força. A
goiaba de junho é a última fruta com o pacu branco só voltando a se alimentar de fruta
em dezembro com a chegada do sarão. Com o fim da goiaba de junho também termina
o uso do caniço e muitas dessas espécies de peixes frugívoro só podem ser capturadas
na malhadeira até que se inicia novamente a produção das fruteiras.

Quadro 6.1.1.2.1: Calendário sazonal das 10 frutas prioritárias para a pesca dos Arara da TI Arara da VGX

Meses
Tipo de fruta Peixes que a consomem
J F M A M J J A S O N D

Sarão Pacu branco, pacu curupité e matrinchã

Goiaba de janeiro Pacu branco

Golosa Pacu branco

Figo Pacu branco, pacu curupité e matrinchã

Landi

Tucum Pacu branco

Seringa Todos os pacus, pacu curupité, matrinchã e piau

Cajá Pacu branco, pacu curupité e matrinchã

Caferana Principalmente pacu branco

Goiaba de junho Pacu branco e matrinchã

* A coloração dos quadrados corresponde a intensidade do período de produção quanto mais escuro mais intensamente
é a sua produção.

6.1.1.3. Os peixes bioindicadores


Alguns peixes funcionam como bioindicadores climáticos de acordo com os Arara, tendo
os peixes a sua ciência:
“o peixe tem ciência moço, (...) nós aqui que ser sabido, mais sabido são eles lá no
fundo, nós pensa de enganar eles e eles é que engana a gente (..) do jeito que nós tem
a nossa noção aqui eles tem a dele lá embaixo”.
(Pescador Arara da aldeia Terrawangã, 23/01/15)

A curimatá indica a época do inverno porque quando começa a aparecer ovada o


pessoal diz “rapaz esse ano enche mais rápido porque já tem curimatá ovada”. A
pescada “advinha” quando o rio vai encher. Quando o pescador consegue pegar
pescada em um dia e no dia seguinte vai e não consegue mais nada no mesmo ponto
de pesca é porque as pescadas perceberam que o rio vai encher e vão para o igapó já
não pegando mais a isca. Quando estão pescando e está dando pouco peixe e em outro
dia o mesmo lugar está dando mais peixes é porque o rio vai vazar.
“Acho que eles conversam com os outros.(...) Quando uma pescada desaferra acabou
não pega mais, parece que avisam para as outras”.
(Pescador Arara da aldeia Terrawangã, 23/01/15)

6.1.1.4. Os peixes reimosos

Alguns animais na Amazônia, tanto peixes como animais de caça ou mesmo frutas são
considerados reimosos. A reima é caracterizada por um sistema classificatório de
oposições binárias entre alimentos perigosos (reimosos) e não perigosos (não
reimosos), sendo aplicado às pessoas em estados físicos e sociais de liminaridade ou
estados de representação ritual e simbólica de transição ou passagem, como
enfermidade, menstruação e pós-parto (Silva, 2007).
Para os Arara da TI Arara da VGX vários peixes, animais de caça e até mesmo frutas
são consideradas reimosas devendo se ter o resguardo de não comê-las em
determinadas situações de vulnerabilidade da pessoa. Mulheres no pós-parto,
menstruadas, pessoas com feridas ou pessoas tomando algum remédio para o sangue
não podem comer animais reimosos.
As mulheres “paridas” devem ter cuidado para continuarem sadia senão ficam doentes,
devendo respeitar o resguardo pós-parto que é de 40 dias para o filho homem e 30 dias
para a filha mulher. O consumo de animais reimosos como o surubim pode ocasionar
hemorragias em mulheres no pós-parto, podendo também causar problema na criança
por causa do aleitamento provocando a “pela” e causando a queda de todo o cabelo.
Pode dar uma “pira” (doença de pele) tanto na mãe como na criança.
Mulheres no “tempo da saúde da mulher” (menstruadas) também devem evitar o
consumo de alimentos reimosos, pois de acordo com Seo Leôncio Arara pajé da aldeia
Terrawangã a mulher menstruada esta doente por estar com o corpo aberto com
qualquer coisa podendo dar um sangramento, podendo descer sangue demais ou até
mesmo subir para a cabeça provocando dores de cabeça ou ir para o peito e causar
tuberculose. Segundo o mesmo informante antes as mulheres Arara seguiam mais
essas restrições e agora já não respeitam tanto por isso já estão quase todas com
problemas, ficando com a menstruação descontrolada, passando de três a cinco dias
de menstruação para 12 a 17 dias.
Como afirmou Seo Leôncio Arara a “saúde da mulher é complicada demais”, quando a
mulher esta grávida ela é como o homem podendo comer tudo o que é reimoso, mas
quando nasce o filho não. No período da “negação” (menopausa) ela também volta a
ser como homem novamente. Como muitas mulheres não respeitam mais isso hoje
possuem muitos problemas.
No caso de pessoas com “golpes” (ferimentos) estes podem inflamar e ficar doendo e
latejando sem cicatrizar. O consumo de animais reimosos pode também causar
problemas no intestino. Quando o intestino é fraco e a comida é mais forte pode
“ofender” a pessoa, mas as vezes não é a comida que ofende e sim o organismo que
não está preparado para receber esse tipo de comida.
Barricha inchada, cabeça doida e problema no peito que pode resultar em tuberculose
também podem ser causados pelo consumo de animais reimosos. As vezes a reima faz
mal para uns e não para outros.
Quando uma pessoas apresenta algum problema por causa do consumo indevido de
animais reimosos tem que procurar tratamento, com muitos indo ao médico e outros
procurando o Seo Leôncio Arara, famoso pajé da Volta Grande procurado inclusive
pelos índios Juruna e Xikrin. De acordo com o próprio Seo Leôncio hoje muitos já não
te fé no remédio do mato. Para ele:

“O que cura não é o benzimento, não é o remédio que você toma, o que cura é a fé”.
“Deus é que é o doutor”.

Os peixes considerados reimosos pelos Arara da TI Arara da VGX se encontram no


Quadro 6.1.1.1.1. Peixes de couro em sua maioria são peixes reimosos.
6.1.2. A captura de tracajá

O tracajá é um recurso animal aquático muito utilizado para consumo pelos Arara da TI
Arara da VGX, tendo sido o terceiro animal de “caça” preferido e também o terceiro mais
capturado de acordo com os estudos realizados por Patrício et al., (2009). Os Arara
utilizam-se de três formas para sua captura: rodando com a voadeira ou rabeta e
pulando, mergulho e mais recentemente o cilibrim.
A captura de tracajás rodando com a canoa movida a motor rabeta ou, mais
recentemente, com a voadeira movida a motor de popa, consiste em: ao se verificar um
tracajá subindo a superfície para respirar, ficar rodando a voadeira em círculos ao seu
redor para confundi-lo, quando então alguns dos pescadores podem pular em cima dele
dentro da água e capturá-lo com a mão. Em outros casos, os pescadores ficam rodando
com a embarcação a motor nos poços e remansos (“boiadores”) onde sabem que
existem tracajás descansando no fundo para poderem assustá-los, forçando-os a
subirem e aí capturá-los através do pulo. De acordo com Pezzuti et al. (2008), essa é a
técnica local mais típica de captura, sendo um aperfeiçoamento do método utilizado há
pelo menos cinco décadas na região. É utilizada na Volta Grande por indígenas e não
indígenas, sendo uma das formas predominantes também para a captura de tracajás
pelos ribeirinhos que moram nessa área. À jusante das cachoeiras essa técnica não é
utilizada, mas a montante ela também é praticada a centenas de quilômetros em São
Félix do Xingu e até no Parque Indígena do Xingu em Mato Grosso, com o uso de
canoas a remo pelos índios Kuikuro (Pezzuti et al., 2008). No Parque Nacional do Jaú,
essa técnica também é utilizada resultando em bons rendimentos na pescaria da irapuca
(Podocnemis erythrocephala) (Rebêlo et al., 2005). É uma técnica sazonal utilizada no
verão, não funcionando na cheia e somente acima do trecho encachoeirado. Pezzuti et
al. (2008) tentaram utilizá-la na Volta Grande no inverno nos mesmo lugares que haviam
capturado centenas de animais e não conseguiram capturar nem observar nenhum
tracajá.
O mergulho consiste em mergulhar com o uso de máscaras de mergulho, a mesma
utilizada nas pescarias de carizinho ornamentais, em locais onde sabem que o tracajá
está descansando após ter se alimentado, como embaixo de algumas concentrações
de árvores frutíferas como a goiaba, por exemplo, e então capturando-os com a mão.
Atualmente os Arara estão utilizando uma nova tecnologia de captura de tracajás o
cilibrim que consiste no uso do cilibrim, uma lanterna potente, cuja luminosidade
“encandeia” o animal deixando-o paralisado e facilitando a sua captura através do pulo.
O uso de cilibrim se iniciou entre os Arara da TI Arara da VGX no ano de 2014 com
estes tendo aprendido com os Juruna da TI Paquiçamba. Podem capturar em uma única
noite de pescaria até 80 tracajás e “estão para acabar com elas”. De acordo com
declarações dos Arara tem dia que passam a noite toda capturando tracajás dessa
forma.
Os Arara da TI Arara da VGX capturam tracajá tanto no rio Xingu como no rio Bacajá,
sendo este último um local de captura importante também para ao Juruna da TI
Paquiçamba e de acordo com Pezzuti et al. (2008), o mesmo rio também é um dos locais
preferidos para a captura de tracajás pelos comunitários da Ilha da Fazenda.
Sua captura ocorre no inverno de janeiro até maio quando estão nas ramas comendo,
mas a sua força de captura ocorre no verão quando estão gorda, depois que desovam
já ficam magras. De agosto a setembro também coletam seus ovos nas praias da região.
Um resumo das informações mais importantes sobre esse recurso prioritário
para os Arara da TI Arara da VGX encontra no Quadro 6.1.2.1.

Quadro 6.1.2.1: Informações básicas sobre os tracajás outro recurso aquático prioritários para os Arara da
TI Arara da VGX

Ambientes/locais
Nome do Nome Arte de pesca Período do dia
Usos em que é Sazonalidade Reimoso
recurso científico utilizada melhor
encontrado

No verão de
janeiro a maio
quando estão
Rodando com
comendo nas De dia na hora do
a voadeira ou
Podocnemis Consumo ramas, mas a sol quente ou a
Tracajá Todos os lugares rabeta, Sim
unifilis e venda sua força ocorre anoite com o uso
mergulho e
no verão de de cilibrim.
cilibrim
setembro a
outubro quando
está seco

6.1.3. Caça

A caça assim como a pesca é um atividade muito importante para a subsistência dos
Arara da TI Arara da VGX com estes caçando “direto” segundo eles próprio. Quando
não tem outro serviço afirmam que estão caçando e quase todos os dias tem alguém
realizando essa atividade. Durante os levantamentos realizados entre fevereiro e março
de 2015 foi registrado um total de 64 caçadores para toda essa terra indígena (Quadro
6.1.3.1). Surpreende nesses resultados o número de 13 mulheres que também se
consideraram participantes ativas nessa atividade que normalmente é uma prática mais
masculina. Sua participação envolve desde acompanhar o marido a achar algum jabuti
e capturá-los, dar pauladas nos animais de caça quando estão dentro d’água como
queixadas, pacas e veados ou mesmo atirar com a espingarda como declarou neste
caso quatro mulheres.

Quadro 6.1.3.1: Número de caçadores na TI Arara da VGX separador por aldeia e núcleos populacionais
(março de 2015)

Núcleo Vista Núcleo Porto Total TI Arara


Caçadores Terrawangã Guary-Duan
Alegre Alegre da VGX

Homens 36 9 3 3 51

Mulheres 5 4 2 2 13

Total 41 13 5 5 64

6.1.3.1. As estratégias de caça

Os Arara da TI Arara da VGX se utilizam de oito estratégias de caça: caçada de curso


com e sem cachorro, espera, lanternar, armadilha, caçada de porco na água, caçada no
torrão e varrida. Em algumas caçadas podem se utilizar de mais de uma estratégia. De
acordo com os participantes do grupo focal a estratégia de caça mais utilizada é a
caçada de curso com e sem cachorro seguido pela espera e depois pelo lanternar.

Caçada de curso sem cachorro: Realizada individualmente ou em grupo através de


caminhadas na mata principalmente nos locais onde tem a presença de grotas para
onde os animais se dirigem para beber água.

Caçada de curso com cachorro: Também realizada individualmente ou em grupos, mas


sempre acompanhado por cachorros que farejam e acuam as caças. Muitas vezes os
animais são acuados para a água onde podem ser abatidos com espingarda ou com o
uso de bordunas ou pauladas na cabeça.

Espera: Nesse tipo de caçada o caçador em dias prévios procura pés de fruteiras que
esteja com seus frutos caindo no chão o que atrai animais de caça quem vem se
alimentar deles verificando se existe a presença de rastros. Podem esperar no chão
mesmo próximo ao pé de fruteira ou montar um mutá, grade de paus no alto de uma
árvore próxima onde ficam sentados ou dentro de uma rede da onde focam ao ouvirem
algum barulho de alguma caça se aproximando e atiram com a espingarda. É usada
para caçar paca, veado e anta.
Lanternar: o caçador sai de canoa à noite remando devagar próximo ao beiradão
focando com a lanterna de vez em quando a procura de alguma caça que se dirija a
beira para beber água. Realizam tanto na beira do rio Xingu como do Bacajá, tanto de
descida (sentido do fluxo do rio) como de subida. No Xingu vão até a aldeia Guary-Duan
e regressam podendo ir até a boca do Bacajá. No Bacajá não vão muito longe devido
aos sequeiros e correnteza que não se pode passa de noite. É bom pra caçar paca,
veado e anta. É uma estratégia de pesca rápida para matar paca é usada no verão
(junho a outubro), no inverno devido aos ambientes da beira estar alagado não é
indicada. No verão devido à seca podem ouvir os animais pisarem nas folhas secas. Na
época das frutas é uma estratégia boa para caçar. Pelo menos um dos Arara afirmou
lanternar “direto” no verão. Depois da caçada de espera essa é a mais utilizada.

Armadilha: é uma estratégia que dizem ser difícil utilizarem, mas ainda a utilizam. É
montada nos locais onde se vê o rastro dos animais. Podendo ser um pé de fruteira ou
somente o seu caminho. Usam para paca, veado, capivara e anta. A armadilha para
paca é a mais difícil de montar a mira podendo o tiro acertar no chão.

Caçada de porco na água: esta é uma estratégia de caçada oportunista que ocorrem
quando flagram uma vara de queixada cruzando o rio Xingu próximo a aldeia. Ao
avistarem o bando cruzando avisam a todos os caçadores que estiverem na aldeia e
estes se dirigem em direção as varas em várias voadeiras com um ou mais caçadores
que abatem os queixadas com o uso de um pau, borduna ou pilão acertando a cabeça
do animal. Após serem abatidos são puxados para dentro do barco. Consideram uma
atividade “divertida” onde “até as mulheres participam” e como já foi visto algumas delas
podem inclusive abater os queixadas, mas o mais comum é que elas pilotem o barco
para o marido enquanto esses abatem os animais.

Caçada no torrão ou restinga: também conhecida como caçada de restinga é uma


estratégia de caça realizada somente nas ilhas durante o período de cheia do rio.
Dependendo do nível das águas do rio Xingu, quando este começa a inundar as matas
baixas e igapós das ilhas, os animais começam a se isolar nas pontas de terra que são
mais altas. Quando um torrão é inundado as caças passam para outro mais alto. Esse
ilhamento aumenta a concentração dos animais, facilitando sua captura. Nas restingas
maiores a quantidade e diversidade de animais que podem ser encontrados são
maiores. São eventos que acontecem somente uma vez por ano e dependem no nível
das águas do rio Xingu, sendo considerada uma estratégia de caçada coletiva e
divertida com muita alegria quando vários caçadores correm ao mesmo tempo atrás dos
animais que se jogam na água ao perceberem sua aproximação. É boa para o abate de
paca, tatu, veado, jabuti etc. No ano de 2015 não houve caçadas de restinga devido à
fraca cheia desse ano. No inverno de 2014 o rio Xingu teve uma cheia muito grande e
vários caçadores Arara da TI Arara da VGX e Juruna da TI Paquiçamba mataram muitos
animais nas restingas da região.

Figura 6.1.3.1.1 Produção de uma caçada de porco na água

Varrida: na varrida o caçador abre um caminho no meio da mata deixando ele bem
varrido e limpo para não ficar nenhuma folha no chão. Quando chega a noite vai lá e
fica andando bem devagar atento ao ruído de animais de caça se aproximando quando
então foca neles com a lanterna e atira. É indicada para matar paca e devido ao perigo
de se encontrar com uma onça o recomendado é irem em dupla.

Dessas oito estratégias quatro são diurnas: caçada de curso com e sem cachorro,
caçada de porco na água e caçada de torrão. As caçadas de espera, lanternar,
armadilha e varrida são todas caçadas noturnas.
Muitos abates de animais também ocorrem em eventos oportunistas quando se
deparam com a possibilidade de um abate enquanto estão realizando outras atividades
como pesca, deslocamento entre aldeias e coleta de castanha. Zuidema (2003) cita a
caça associada a coleta de castanha como um fator ecológico importante da atividade
de coleta de castanha, citando os dados não publicados de Santivañez onde o caititu e
o veado mateiro são um dos animais mais caçados durante dois anos de estudo numa
área de coleta de castanha no nordeste da Bolívia.
O ciclo hidrológico do rio Xingu e a quantidade de chuvas também determinam as
estratégias de caça mais indicadas para o período. A caçada de torrão e a caçada de
porco na água são estratégias de caça restritas ao período de cheia dominando as
estratégias de caça utilizadas no inverno devido a facilidade de se abater um animal no
torrão. Lanternar e espera são utilizadas mais no verão. Caçada de curso com e sem
cachorro e as armadilhas podem ser utilizadas durante todo o ano.
Atualmente os Arara se utilizam basicamente de armas de fogo para o abate dos
animais ou de paus e bordunas quando encontram os animais cruzando o rio. O
levantamento do número de espingardas presentes na TI Arara da VGX chegou a um
total de 25 armas de fogo sendo as mais comuns as espingardas de calibre 16 e 20
(Figura 6.1.3.1.1). Os caçadores que não possuem espingardas se utilizam de armas
emprestadas de algum parente mais próximo. A obtenção dos cartuchos para essas
armas tem sido uma dificuldade que a maioria dos Arara tem encontrado o que segundo
um dos informantes se iniciou após o plebiscito para o desarmamento, o que não pose
ser confirmado. A partir de então necessitam do documento da arma para poder comprar
cartucho o que apenas dois caçadores possuem.

Quadro 6.1.3.1.1: Número de armas de fogo dos caçadores da TI Arara da VGX (março de 2015)

Tipo de arma de Núcleo Vista Núcleo Porto Total TI Arara


Terrawangã Guary-Duan
fogo Alegre Alegre da VGX

Espingarda no 12 1 — — — 1

Espingarda no 16 8 — 1 — 9

Espingarda no 20 4 1 1 3 9

Espingarda no 28 1 1 — — 2

Espingarda no 32 1 — — — 1

Espingarda no 36 1 — — — 1

Rifle no 22 2 — — — 2

Total 18 2 2 3 25

A produção das caçadas pode ser dividida com outras pessoas se o tamanho do animal
abatido permitir. Quando não dá para todos se divide com os mais próximos, são muitas
casas “e ai uns ganham e outros não”. Vai se cortando os pedaços e mandando para
as pessoas que quer entregar, a esposa já leva o pedaço para a mãe dela. Animal
pequeno não se divide, como o mutum e jabuti que só dá para a própria casa. A paca
já daria para dividir com três a quatro pessoas. Um veado dá para várias pessoas.
Animais grandes como uma anta dividem com todos da aldeia.

6.1.3.2. Os animais de caça

Um questionário específico sobre a atividade de caça (Anexo III) foi aplicado


individualmente junto a 29 caçadores Arara, todos do sexo masculino e correspondendo
a 57% do total de caçadores homens. Uma das perguntas desse questionário era “Qual
são os três animais que você mais mata?” com caçadores respondendo o nome de
apenas dois e outros o nome de até cinco animais. Todos os tipos de animais declarados
pelo informante foram considerados, independente de ser menos ou mais do que a
quantia solicitada pela pergunta do questionário. O queixada, a paca e o veado (ambas
as espécies apesar do mateiro ter sido o mais citado) são os animais mais caçados
pelos caçadores da TI Arara da VGX de acordo com suas declarações (Figura 6.1.3.2.1).
Dados preliminares do Monitoramento Participativo da Pesca e da Caça realizado pela
executora junto aos Arara confirmam a importância do queixada na biomassa total
obtida pelos seus caçadores.

30
26
25
Número de citações

19
20

14
15
10
10
6
4 4
5 3
2 2

Figura 6.1.3.2.1 Ranking dos animais mais caçados de acordo com a autodeclaração dos caçadores Arara
da TI Arara da VGX
Os Arara da TI Arara da VGX assim como os Juruna da TI Paquiçamba reconhecem
pelo menos duas etnoespécies para a maior parte das espécies de animais de caça que
existem na região como pode ser visto no Quadro 6.1.3.2.1.

Quadro 6.1.3.2.1: Espécies e etnoespécies dos animais de caça de ocorrência na TI Arara da VGX de
acordo com as informações coletadas junto aos Arara
Etnoespécies
Nome comum Nome científico reconhecidas pelos Características
Juruna

Maior que o tiririca. É o que “cai” na


Queixo branco
água no inverno.
Queixada (porcão) Tayassu pecari
Menor que o queixo branco, todo ruivo,
Tiririca
vermelhinho e sem ter o queixo branco.

É menor e anda em bandos grandes. É


Porquinho
todo pretinho por igual.

Caititu Pecari tajacu Maior que o outro sendo quase do


tamanho de um queixada. Só anda em
Canindé / mundé
grupos de no máximo dois indivíduos
(casal). É meio branquicento.

Cana preta / chifre de Tem o chifre de couro/coberto de


couro couro. É maior.
Veado mateiro Mazama americana
Mateiro / embaúba7 Tem o chifre limpo

Branco Maior
Mazama
Veado fuboca / sutinga
gouazoubira
Catingueiro Bem pequeno, meio roxinho

É a maior que tem, a ponta da orelha é


Gameleira
branca

Grande, mais curta que a gameleira e


Anta Tapirus terrestris Rosia mais grossa, orelha pretinha. Seo
Leôncio acha que é a mesa gameleira.

É a menor delas e não tem a ponta da


Churé
orelha branca

É a maior e anda em grupos de no


Grande
máximo quatro indivíduos
Hydrochaeris
Capivara8
hidrochaeris
É menor e anda em bando maiores
Pequena
com 10 a 15 indivíduos

Comum É menor
Paca Agouti paca
Concha É a maior

Uma única
Cutia Dasyprocta leporina Pode ter variações de coloração
etnoespécie

Comum É o menor e tem o rabo de casco.


Tatu Dasypus sp. Pequeno com o rabo todo mole, de
Rabo de couro
couro mesmo
Uma única
Tatu quinze quilos Dasypus Kappleri
etnoespécie
Guaruiba Tem o rabo vermelho
Guariba Alouatta belzebul
Guariba É todo preto

7
Outro informante afirmou que o embaúba é o cana preta.
8
Para um dos caçadores capivara “é tudo uma só”, mas tem uma de cor bem vermelhinha e outra mais cinzenta. Uma
delas deixa um cheiro “pixié” forte na carne.
Uma única
Cuxiú Chiropotes utahickae
etnoespécie

Aparentemente uma
Macaco prego Cebus apella
única etnoespécie

Uma única
Mutum fava Mitu tuberosa
etnoespécie

Uma única
Mutum pinima Crax fasciolata
etnoespécie

Jacu verdadeiro Grande


Penelope
Jacu
superciliaris
Jacu pemba Menor

Cujubim ou canela de Uma única


Pipile cujubi
ferro etnoespécie

Tem o casco amarelo e é mais comprido


Jabuti branco que o amarelo e vermelho, não cresce
Geochelone muito. É duro para cozinhar.
Jabuti branco/amarelo
denticulata
É o mesmo “modelo” formato do
Jabuti amarelo
vermelho mais redondo como ele

Geochelone Uma única É bem “vermelhinho”. É mais parecido


Jabuti vermelho
carbonaria etnoespécie com o amarelo.

Como os próprios caçadores Arara declararam o queixada é o “mais perseguido” e por


serem muito “aperreado” as vezes “somem e aí o cara dá um tempo, e aí eles voltam”
tendo ocasiões em que a vara atravessou bem próximo a roça dos Arara.
No inverno os queixadas “caem” muito na água, de acordo com os Arara eles caem em
qualquer canto. Caem na água e vão para outra terra, para as ilhas. Para eles os
queixada não atravessam para a TI Paquiçamba e tampouco passam de lá para cá.
Acham difícil eles conseguirem cruzar, a não ser que o façam no verão quando já viram
rastro. Atravessam para as ilhas e “vão descendo para o rumo de baixo”.

“Dá a doida na cabeça dele aí e ele cai na água (...) dizem que tem o tempo de uma lua
aí que ele fica com o miolo fraco e não sabe para onde vai e o destino deles é sumir no
mundo, cai na água e vai embora.”
(Caçador Arara da aldeia Terrawangã, 27/02/15)

Ao caírem na água se deslocam pelas ilhas andando ela inteira e comendo o que tiver
de fruta e caindo na água novamente. No verão é difícil os queixadas “caírem” na água.
O tamanho dos bandos pode variar de dois indivíduos para varas com até mais de 100
porcos. São “porcos demais” e muitas vezes em um encontro os Arara podem matar até
60 queixadas. A razão do porque caem na água é o seu destino é uma característica da
ecologia desses animais desconhecida até mesmo pelos moradores da região. Algumas
Arara acham que eles se “acabam” quando caem na água indo para as ilhas mais abaixo
até que podem ser “puxados” pelas cachoeiras grandes da região do Jericuá.

“Se o porcão cai na água demais a gente mesmo daqui sente que a gente tem uma
perca, né. (...) nem que a gente mate que eles vem muito ou que a gente não mate que
é o destino deles, cai na água aí, daí da ponta da terra aí, ganha o mundo mesmo e vai
embora bate naquela ilha ali, bate na do outro lado e o destino dele é se acabar que pra
aí é só cachoeira grande e vai tudinho, se cair 3 a 4 bandos e ninguém aproveitar o
destino dele é se acabar.”
(Caçador Arara da aldeia Terrawangã, 29/01/15)

A anta e o caititu também caem na água, a paca não.


Apesar do queixada ser a caça mais perseguida a caça mais cobiçada é o veado um
bicho bonito de ver na mata e com a carne boa como carne de boi.

6.1.3.3. As áreas de caça

Os caçadores da TI Arara da VGX possuem dois tipos de áreas de caça que são
utilizadas de acordo com o ciclo hidrológico do rio Xingu: a terra, mais utilizada no verão
e as ilhas, mais utilizadas no inverno. Na terra é bom de caçar queixada, veados, caititu
e jabuti. Nas ilhas é bom de caçar veado mateiro, paca, tatu, jabuti, cutia e mutum. As
vezes pode até achar uma anta. Nas ilhas o queixada é bem difícil, sendo um animal da
terra somente passando pelas ilhas no inverno sem ficarem nelas.

A terra:
Na terra os caçadores da TI Arara da VGX se utilizam de duas áreas de caça: a área
localizada atrás das aldeias e que faz parte dos limites dessa terra indígena e o Silvério
que fica fora dos seus limites.
Na área de terra localizada atrás das aldeias os Arara realizam suas caçadas de curso
com ou sem cachorro percorrendo sempre os igarapés, sendo os mais visitados a grota
do Trairão, do Pium, do Sabino, Baia e o grotão do São Félix. O Pium, Sabino e Baia
“jogam” no grotão do São Félix que por sua vez desagua no rio Bacajá. Outra grota
utilizada para a caça é a grota do Machado que desagua no rio Xingu e a grota do
Barreiro que também desagua no Xingu acima da Base Operacional (posto de vigilância
construído pelo Empreendedor). Quando saem para caçar podem ir até o grotão do São
Félix e algumas vezes podem passar um pouco dele, mas não muito. Em linha reta no
mapa essa área estaria há 11 km a partir de aldeia. Nunca chegam perto dos primeiros
travessões de colonos que ficam longe.
Normalmente em suas caçadas saem às 7 horas da manhã e regressam a partir das 4
horas da tarde. O grotão do São Félix é um grotão fundo e preferem caçar na margem
esquerda dele por ter grotas mais rasas. Normalmente se deslocam a pé mais se forem
utilizar alguma das grotas que desagua no Bacajá podem ir de barco até a sua
desembocadura e partir daí seguirem a pé. Ao saírem a pé se utilizam dos piques
(caminhos) já existentes e despois podem sair dele entrando na mata.
Quando se deslocam no sentido da grota do barreiro também não passam dela, ficando
a área de caça dos caçadores da TI Arara da VGX dentro do polígono formado pelo
grotão do São Félix e grota do Barreiro (Figura 6.1.3.3.1). Saem a procura dos animais
de caça sempre nas grotas, se não acham em uma se dirigem para a outra. A lagoa do
Embira, localizada entre o Sabino e Trairão, é outro local que utilizam para caçar nessa
parte da terra chegando nela a partir das cabeceiras do Pium.
No verão quando realizam mais as caçadas de curso na terra as grotas secam restando
somente alguns poços de água já mapeados pelos Arara. Todas as grotas secam e
ficam somente poços ao longo de todo o seu curso onde o animais vão beber água. É
uma água impropria para o consumo dos caçadores. É nesses poços de água que as
caças ficam, se não tiver água ela vai embora. Ela “dá uma volta atrás de boia e volta
pra onde tem água”. Muitas caçam vão procurar água na beira do Bacajá ou do Xingu.
Os caçadores sobem a grota sem fazer barulho e sem cortar um pique porque espanta
a caça.
Outro local de terra onde caçam é o Silvério, que se localiza na margem direita da boca
do Bacajá e está fora dos limites da TI Arara da VGX, mas normalmente os Arara caçam
mais na terra localizada atrás de suas aldeias. De acordo com os caçadores esse é um
local bom de tudo. A grota mais importante lá é a grota do Brás, tendo também a grota
da Andiroba, que é um braço pequeno do Brás, mas dificilmente caçam nela. Chegam
ao Silvério se deslocando de barco pelo rio Xingu. No Silvério se localiza um dos pontos
de monitoramento da fauna realizado pela executora responsável.
Os Arara reconhecem a existência de muito poucos barreiros em seus território (local
com salinidade na terra onde os animais se dirigem para comer ela devido a salinidade
que ajuda na digestão de substâncias tóxicas presente na sua alimentação) tendo um
que se localiza na serra da Mariazinha depois das cabeceiras do Machado entre este e
a grota do Barreiro. No Bacajá no verão dizem que os animais como veado, e jacu
gostam de comer a terra da ribanceira.
Figura 6.1.3.3.1 Área de caça dos Arara da TI Arara da VGX na terra com suas principais grotas

As ilhas:

Quando o inverno está no seu auge com o rio cheio os Arara abandonam a terra e se
voltam para as caçadas nas ilhas, na restinga ou torrão onde fica mais fácil achar
animais de caça que ficam ilhados pela subida das águas. As caçadas nas ilhas
começam nos meses de março e abril quando está tudo alagado e quando a água
começa a baixar essas caçadas são paralisadas sendo que no mês de maio elas já não
são mais realizadas.
De acordo com os informantes especialistas em caça que participaram do grupo focal
sobre esse assunto as ilhas mais importantes para a caça são a Ilha da Juliana, Ilha do
Maia, Ilha do Pau Darco, Ilha do Paudarcão, Ilha do Paudarquinho, Ilha do Limão, Ilha
do Candim, Ilha da Mangueira e Ilha da Marcolina (Figura 6.1.3.3.1). Afirmação que
corresponde com os resultados encontrados para os 19 questionários realizados
individualmente com caçadores do sexo masculino e com as ilhas mais caçadas
apresentadas por Patrício et al. (2009).
9
8
8
7 7
7
6 6 6 6
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Figura 6.1.3.3.1 Ranking das ilhas mais utilizadas para a caça no inverno de acordo com a autodeclaração
dos caçadores Arara da TI Arara da VGX

6.1.3.4. A panema nos caçadores

A panema é a falta de sorte nas caçadas ou mesmo nas pescarias, “é tipo uma simpatia,
o cara acredita que é panema”. Normalmente a panema esta associada ao sangue de
menstruação, mas não necessariamente. A panema se caracteriza quando o pescador
ou caçador vai pescar ou caçar e não consegue nada, não vê nada ou vê a caça, mas
não consegue matar, atira no bicho e ele vai embora, pega o peixe, mas este se solta
do anzol ficando com “o negócio todo atravessado no trabalho”.

“A caça mais problemática é o senhor de veado. É a caça mais complicada que tem (...)
o mateiro dá muito problema, o cara fica ruim, atrapalha, vê ele, mas não conhece, isso
é o problema do mateiro, outra hora ele corre.(...) aí o pessoal acredita que é a panema”.
(Caçador Arara da aldeia Terrawangã, 26/01/15)

Vários fatores podem causar panema entre eles a mulher passar por cima das tralhas
de pesca ou arma de caça aí “panema o cara”, principalmente se a mulher estiver
“desaprumada” (menstruada). O problema estaria mais na mulher passar por cima das
tralhas de pesca e armas de caça, pegar nelas não teria tanto problema, mas nenhum
Arara considera bom que várias mulheres ou pessoas estejam manipulando suas tralhas
de pesca e caça. São objetos que não devem estar sendo manipulado por várias
pessoas.
Ao dar um pedaço de carne com osso para outra pessoa comer e esta pessoas ao
terminar jogar o osso em qualquer lugar também pode dar panema atrapalhando a
próxima caçada do caçador que atira na caça e ela corre baleada não a conseguindo
encontrar. O correto e colocar esse osso num local no mato e não jogá-lo. Urinar em
cima dos ossos de um animal consumido, colocar o animal caçado em baixo de um tapiri
de cozinha ou enfiar o dedo dentro do osso do animal caçado para tirar o tutano também
podem dar panema no caçador. Bater, chutar ou brincar com o animal caçado também
é um ato que pode causar panema. Assoprar o cano da espingarda pode esfriar o
chumbo fazendo com que a caça ao ser baleada corra indo morrer longe e sem o
caçador encontrar.
Até mesmo o cachorro pode ficar panema e aquele cachorro acostumado a “correr”
aquele tipo de caça não consegue achar mais ela tendo que fazer um assado pra ele
voltar ao normal.
Mulher grávida quando come a caça também pode causar panema no caçador e no
cachorro, mas nem sempre isso acontece. Quando o caçador vai fazer um remédio para
curar a panema pode causar problema na criança que a mulher está esperando.
Para tirar a panema dos caçadores existem vários tipos de remédios como fazer
defumação com pimenta malagueta na pessoa e nas suas tralhas de pesca e caça ou
como afirmaram três caçadores apanhar nas costas e outras partes do corpo com sete
folhas da planta peão roxo. Cada pescador e caçador Arara te o seu sistema para tirar
panema.
Quadro 6.1.3.2.2: Animais de caça prioritários para os Arara da TI Arara da VGX

Ambientes em que é Arte de caça Estratégia de caça Outras informações (abundância,


Nome do recurso Nome científico Usos Sazonalidade Reimoso
encontrado utilizada utilizada formas de captura, etc.)

Espingarda na Caçada de curso


Consumo e Baixão e açaizal (verão), terra e pau e com e sem
Queixada (porcão) Tayassu pecari Ano todo Não
venda no alto (inverno) borduna na cachorro e caçada
água de porco na água

Espingarda.
Se for acuado
Baixão e açaizal (verão), Caçada de curso
com cachorro
Caititu Pecari tajacu Consumo no alto (inverno), roça e Ano todo com e sem Sim
pode matar
capoeira cachorro,
com pau
também

O embaúba não,
Mazama Espingarda e Caçada de curso Tem segredo sendo considerada a caça
Veado mateiro já o chifre de
americana No verão nas grotas e no paulada com e sem mais “sistemática que existe”. Também
Consumo e couro sim
inverno na mata cerrada Ano Todo quando o cachorro, espera, pode ser a encarnação do fantasma do
venda
nos morros e ilhas cachorro acua lanternar, caçada Satanás quando o caçador atira nele e
Mazama na água no torrão ele não morre.
Veado fuboca Sim
gouazoubira

Caçada de curso
com e sem
Anta Tapirus terrestris Consumo Mata cerrada no alto Ano todo Espingarda Sim Gosta de frutão, buxa, cajá e tuturubá.
cachorro, espera,
lanternar, armadilha

Hydrochaeris No baixão e mata cerrada


Capivara Consumo Ano todo Espingarda Armadilha
hidrochaeris nas beiras das ilhas

Espera, lanternar, Come quase todas as frutas. Não é muito


Consumo e Local com fruteira como Alguns acham que
Paca Agouti paca Ano todo Espingarda armadilha e caçada reimosa, mas para algumas coisa ela
venda mangueira e sapucaia é
no torrão e varrida pode ser como mulher “parida”
Quadro 6.1.3.2.2: (Continuação)

Ambientes em que é Arte de caça Estratégia de caça Outras informações (abundância,


Nome do recurso Nome científico Usos Sazonalidade Reimoso
encontrado utilizada utilizada formas de captura, etc.)

Alguns Arara comem, outros não. Alguns


dizem que é ruim porque não pega sal,
No baixão das terras e mas dos macacos é o mais consumido.
ilhas quando o rio está Caçada de curso Na época do inverno ficam mais nos
Guariba (gorgo) Alouatta belzebul Consumo Ano todo Espingarda Não
cheio, nos beiradões e sem cachorro morros e tem um cipó alho que se o
morros. guariba comer a sua fruta ninguém
consegue comer a sua carne devido ao
gosto forte.

Espingarda. Se
No baixão, nas ilhas e em
Consumo e achar o buraco e Espera, caçada no Sim (todas as
Tatu Dasypus sp. capoeira. Quinze quilo dá O ano todo
venda cavar mata com torrão espécies)
mais na mata virgem
facão

Em todos os ambientes,
Consumo e Caçada de curso
Mutum fava Mitu tuberosa mas é mais comum nas O ano todo Espingarda sim
venda sem cachorro
ilhas

Consumo e Nas ilhas e na terra. é mais Caçada de curso


Mutum pinima Crax fasciolata Ano todo Espingarda Não
venda comum nas ilhas sem cachorro

Penelope Em todos os ambientes Caçada de curso Sim (só o pemba o


Jacu Consumo Ano todo Espingarda
superciliaris principalmente nos açaizais sem cachorro verdadeiro não)

É difícil de ver você pode estar embaixo


Caçada de curso
Cujubim/jacubim Pipile cujubi Consumo Encontra mais em açaizal Ano todo Espingarda Sim dele e não vê. O verdadeiro canta de
sem cachorro
noite.
Quadro 6.1.3.2.2: (Continuação)

Ambientes em que é Arte de caça Estratégia de caça


Nome do recurso Nome científico Usos Sazonalidade Reimoso Outras informações (abundância, formas de
encontrado utilizada utilizada captura, etc.)

Jacamim Caçada de curso


Pshopia viridis Consumo Espingarda
sem cachorro

Carará Nos pedrais, sequeiros, Abatido durante as


Anhinga anhinga Consumo Espingarda Animal ruim de tirar a pena.
beiradões e beira de ilhas pescarias

Entram nas moitas de paus caídos e ficam


Jabuti cutucando com um pau, se escutarem um
Geochelone
Não barulho diferente meio oco é por que o pau
amarelo/branco denticulata Dentro das folhas e caídas Caçada de curso
Consumo e bateu no casco dele. É um animal de caça que
de paus na mata cerrada Ano todo Pega com a mão com e sem cachorro está difícil de encontrar.
venda
na terra e nas ilhas e caçada no torrão

Jabuti vermelho Geochelone


Sim
carbonaria

Caiman Alguns comem outros não. Dizem que o cheiro


Jacaré crocodilus e Consumo Na beira Espingarda e facão Lanternar “pixié” da carne dele fica na mão depois de
Paleosuchus sp. limpar e demora para sair.
6.1.3.1. Os animais de caça reimosos

De acordo com um dos informantes Arara numa terra indígena uma reima é de um jeito
e na outra é de outro. Os animais de caça considerados reimosos pelos Arara podem
ser visto no Quadro 6.1.3.2.2. Alguns animais muito próximos como o jabuti vermelho e
o jabuti branco são o oposto na questão da reima com o vermelho podendo causar
problema na criança através do leite da amamentação e o jabuti branco sendo
considerado uma carne boa inclusive para fazer remédio. A anta é um animal reimoso
que pode causar ameba, segundo os Arara ela tem muita quentura, tem a banha muito
quente e quem tem problema de colesterol não deve comer. Quando possuem dúvidas
se algum animal é reimoso não devendo ser consumido em alguma situação consultam
o Seo Leôncio, pajé e curandeiro da aldeia. De acordo com os informantes todos
respeitam a reima porque sabem que pode causar problema.
Outro animal considerado perigoso o seu abate é o tatu canastra que não matam porque
se matarem pode morrer alguém da família, não sendo consumido. A Semana Santa
também é um período de resguardo não se podendo cortar ou atirar.

6.1.4. Extrativismo vegetal não madeireiro

De acordo com entrevistas realizadas entre janeiro e março de 2015 com um dos
responsáveis de 19 famílias que constituem 61% das 31 famílias existentes na TI Arara
da VGX, sobre os produtos florestais não madeireiros que coletam na mata a castanha-
do-pará, o açaí e a bacaba foram os principais recursos sendo responsáveis por 63%
do total de citações feitas pelos entrevistados (Figura 6.1.4.1).
Outras informações sobre esses recursos florestais não madeireiros prioritários e o
calendário sazonal dos mais importantes podem ser visto no Quadro 6.1.4.1 e 6.1.4.2.
20 18
18 17 17

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Recursos florestais não madeireiros coletados

Figura 6.1.4.1 Ranking dos principais produtos florestais não madeireiros coletados pelos Arara da TI Arara
da VGX

Quadro 6.1.4.1: Calendário sazonal do período de coleta dos recursos florestais prioritários para os Arara
da TI Arara da VGX*

Meses
Recurso florestal
não madeireiro
J F M A M J J A S O N D

Castanha-do-pará

Açaí

Bacaba

Babaçu

Golosa

Cacau do mato

* A coloração dos quadrados corresponde a intensidade da atividade, quanto mais escuro mais intensamente é praticada.

Quadro 6.1.4.2: Recursos florestais não madeireiros prioritários para os Arara da TI Arara da VGX
Ambientes em que é
Nome do recurso Nome científico Usos Reimoso Outras informações
encontrado

De acordo com os Arara


mais experientes na TI
Comercialização e Arara da VGX não existem
Na terra firme, em
consumo in natura áreas de castanhais com
Castanha-do-pará Bertholletia excelsa lugar de morro e em Sim
e extraindo-se o grades concentrações
mata virgem.
óleo e o leite. dessas espécies e sim pés
de castanha espalhados
na mata.
Áreas bem úmidas de
grotas e igarapés
Açaí Euterpes oleracea Consumo Não
onde formam áreas
de açaizais.
Bacaba Oenocarpus bacaba Consumo Terra firme e baixos
Somente
a pele
Ocorre mais em que
Babaçu Attalea speciosa Consumo
capoeiras cobre a
sua parte
carnosa
Usam muito para fazer de
isca para a pesca de peixes
frugívoro. Mas não
Igapó na terra e nas
pescam no mesmo local
ilhas. Pode formar
Golosa Peritassa laevigata Consumo e pesca onde se localiza a fruta
concentrações
porque nos locais aonde
chamado de golosal
cai o peixe não pega a isca
devido a abundância de
frutas.
Theobroma É difícil de ser encontrado
Cupuaçu Consumo Mata de terra firme
grandiflorum na TI Arara da VGX

6.1.5. Agricultura

6.1.5.1. O ciclo das roças Arara da TI Arara da VGX

A abertura das roças Arara da TI Arara da VGX envolve nove etapas:


- Escolha da área;
- Brocagem;
- Derrubada;
- Queimada;
- Coivara;
- Plantio;
- Limpeza;
- Colheita;
- Desmanche.

A escolha da área envolve uma vistoria do local para se verificar se a terra e a mata são
adequadas para a abertura de uma roça e se esta terá uma boa produtividade. A
brocagem consiste na limpeza da vegetação e das árvores mais finas do sub-bosque
com o uso de facão e foice, deixando passar de uma a duas semanas para essa parte
da mata secar (Quadro 6.1.5.1.1). Após a brocagem se derrubam as árvores maiores
com o uso de uma motosserra (antes se usava machado). Após a derrubada, se deixa
a mata derrubada secar pelo período de um mês a 40 dias, dependo da intensidade do
sol. A derrubada da mata virgem deve ser realizada de setembro a outubro, para que
haja tempo para as árvores mais grossas secarem ao sol para que possam queimar
bem. Quando a roça é muito grande, a roçada é iniciada em agosto, para que toda a
área esteja derrubada em setembro, assim por volta de 15 a 20 de outubro a vegetação
derrubada esteja secando já há pouco mais de um mês. Áreas de capoeira são roçadas
em outubro ou novembro para que no dia 15 a 20 de novembro a vegetação já esteja
seca. Tudo depende também da chuva no período. Depois que a vegetação derrubada
está seca, ela é queimada. Dois a três dias depois de queimar é realizada a coivara,
que consiste na retirada dos troncos grandes e das galhadas que não queimaram,
juntando-os em montes. O ideal é realizar a coivara depois de uma chuva, para evitar a
poeira gerada pela cinza. Esses montes de troncos, chamados de coivara, são
queimados novamente depois. Essa segunda queima se concentra somente na coivara.
Em seguida já começa a etapa do plantio.
Novembro e dezembro é a época correta do plantio para que o milho de fevereiro tenha
boa produtividade, mas os milhos plantados nesse período não têm resistência, isto é,
suas sementes não prestam para serem plantadas no próximo ano. As plantas de rama
são também as primeiras a serem plantadas. Antigamente, os Arara queimavam a roça
e no dia seguinte já iam plantar, “antes do calango passar por dentro da roça”, porque
se ele passasse por dentro, as “árvores de rama não dão bom fruto”. Hoje já não tem
mais isso.
O arroz é plantado em novembro e dezembro para ser colhido no final de abril ou
plantado em fevereiro para ser colhido de maio para junho. O milho pode ser plantado
duas vezes ao ano, sendo o segundo plantio realizado até dia 19 de março, dia de São
José, para que no dia 19 de junho possam colher comer milho assado na fogueira de
São João. A mandioca é plantada em novembro e dezembro e, às vezes, os Juruna
podem deixar uma parte da roça para ser limpa em maio e então plantar mais um pouco
de mandioca, pois o plantio em maio também é “saudável”. Hoje em dia, poucas
pessoas plantam arroz. Durante o levantamento não foi encontrada nenhuma roça com
arroz, porque segundo eles dá muito trabalho, portanto plantam mais mandioca e milho.
Até macaxeira estão plantando pouco porque se plantarem longe da casa a cutia preda
tudo, “mas nem sempre dá para plantar perto”.
Para os Arara, o formato da lua ou sua claridade também são marcadores de tempo de
plantio, sendo o período da lua crescente até a cheia considerado de claridade da lua
ideal para o plantio do milho, da mandioca e de todos os cultivos. Os Arara dizem que,
se os legumes de roça forem plantados na lua minguante, geralmente não ficam bons.
Na lua minguante costumam plantar somente o arroz, porque assim ele não cresce
muito, facilitando a colheita.
Após o plantio, a roça precisa ser cuidada através das limpezas senão não será
produtiva. Algumas pessoas fazem roças grandes demais, não conseguem cuidar e o
mato acaba tomando conta da roça. Situação que foi muito observada nas roças de
2013.
O desmanche de uma roça envolve uma grande produção de farinha, quando cortam
tudo e tiram a maniva para ser plantada em outra roça. O desmanche de uma roça
sempre ocorre na época de plantar a roça nova e não necessariamente ocorre inteiro
ao mesmo tempo, podendo ser realizado por partes. Depois do desmanche da roça, se
não decidirem plantar banana ou cacau nela, deixam a capoeira tomar conta e depois
de quatro a cinco anos de pousio, retornam para plantar no mesmo lugar.
As mulheres e crianças também participam da atividade da roça. As crianças, a partir
dos cinco anos, acompanham o pai, que cava a terra, enquanto a criança planta a
maniva, cobrindo-a com terra. As crianças de 12 anos já ajudam a roçar o mato. Na
coivara, o pai corta os troncos e as crianças os juntam no aceiro, na margem da roça.
As mulheres também ajudam cortando a coivara e plantando. Na derrubada não ajudam
porque é um serviço pesado demais. As mulheres e as crianças com mais de 12 anos
também participam da colheita, tirando a mandioca e carregando-a para casa.

Quadro 6.1.5.1.1: Calendário sazonal das etapas de trabalho da roça dos Arara da TI Arara da VGX

Meses
Etapas do trabalho na roça Atores*
J F M A M J J A S O N D

Brocagem H, J

Derrubada H

Queimada H

Coivara H, M, J

Plantio de “legumes” de ramas H, M, C, J


Plantio de mandioca H, M, C, J

Segundo período de plantio de mandioca H, M, C, J

Plantio do milho H, M, C, J

Segundo período de plantio do milho H, M, C, J

Plantio de arroz H, M, C, J

Colheita do milho H, M, J

Segundo período de colheita do milho H, M, J

Colheita do arroz H, M, J

H = homens, M = mulheres, C = crianças de 9 a 13 anos, J = jovens de 12 a 16 anos

6.1.5.2. Levantamento das roças atuais

6.1.5.2.1. ROÇAS DE 2013


Foram identificadas 15 roças abertas no ano de 2013 na TI Arara da VGX, sendo oito
roças na aldeia Terrawangã, uma na aldeia Guary-Duan, duas no núcleo Vista Alegre e
uma no núcleo do Pedra Cega (Anexo IV). Três roças que estão localizadas fora dessa
terra indígena, mas são utilizadas por alguns moradores também foram levantadas por
meio das entrevistas com os donos: (i) uma roça localizada no Bento, localidade que
fica na boca do rio Bacajá, onde moram parentes não indígenas dos Arara; (ii) na
comunidade São Francisco, localizada cima do garimpo da Ressaca, onde um casal
Arara/Juruna que passa parte do tempo na aldeia Terrawangã e parte nessa
comunidade; (iii) uma roça na aldeia Pykaiako (TI Trincheira Bacajá) pertencente a uma
família que se mudou há oito meses para a aldeia Guary-Duan e ainda utiliza esta roça
para colher seus produtos.
A maior parte das roças de 2013 não pode ser medida com o GPS, pois estavam
tomadas por mato, o que impossibilitou percorrer os seus limites. Das 15 roças
identificadas para o ano de 2013, somente três puderam ter sua área calculada com o
uso de GPS. As 12 roças restantes tiveram sua área estimada de acordo com o número
de linhas que o seu dono afirmava ter (Quadro 6.1.5.2.1.1.), valor que em geral não
coincide com o valor calculado com o GPS.
A área total de roças para a TI Arara da VGX em 2013 foi de 18,28 hectares, equivalendo
a uma área cultivada per capita de 0,12 hectares/pessoa, valor próximo aos 0,14
hectares/pessoa encontrado para a TI Paquiçamba no mesmo ano.
Quadro 6.1.5.2.1.1: Áreas das roças abertas em 2013 pelos moradores da TI Arara da VGX

Tamanho
Tamanho total total de
Aldeia ou localização das População
medido e/ou acordo com
roças (número de
estimado os donos
habitantes)1
(hectares) das roças2

Terrawangã 11,42 38,5 linhas

Roças de moradores do 100


Terrawangã localizadas fora 2,72 9 linhas
da terra indígena

Guary-Duan 2,12 7 linhas

Roças de moradores do 27
Guary-Duan localizadas 1,81 6 linhas
fora da terra indígena

Núcleo Vista Alegre 9 0,20 4 linhas

Sítio Porto Alegre 12 0 0

Total 148 18,28 64,5

1 População em fevereiro de 2015.


2.De um modo geral percebe-se que as medidas em linha utilizadas pelos donos das roças são um pouco
maiores do que a área real medida com o uso de GPS, por isso deu-se preferência, sempre que possível,
às medidas calculadas com o GPS.

6.1.5.2.2. ROÇAS 2014/15


Os dados das áreas de roças abertas entre o final de 2014 e o começo de 2015 foram
todos calculados com GPS, com exceção de 3 linhas de roça localizadas na comunidade
de São Francisco, fora da terra indígena, que foi estimada, considerando-se que a
medida de 1 linha equivale a 3.025 m2 9 (Quadro 6.1.5.2.2.1). Nesse período foram
registradas 29 roças, que totalizaram 16,16 hectares. De toda esta área, apenas 17
roças da aldeia Terrawangã, com uma linha cada, foram abertas com o uso de trator
(totalizando 4,33 hectares). Toda a área restante foi aberta pelos próprios moradores
(Figura 6.1.5.2.2.1). Uma das roças deste período, com área de 2,89 hectares,
localizada no Sítio Porto Alegre, foi aberta exclusivamente para comercialização dos
produtos (Figura 6.1.5.2.2.2).

Quadro 6.1.5.2.2.1: Áreas das roças abertas em 2014/15 pelos moradores da TI Arara da VGX

9
Conforme informado por técnico da Executora do Programa de Atividades Produtivas em comunicação pessoal.
População Tamanho total medido
Aldeia ou localização das (número de Hectares de
e/ou estimado
roças habitantes)1 roça/habitante
(hectares)

Terrawangã 8,922

Roças de moradores do 100 0,10


Terrawangã localizadas fora 1,02
da terra indígena

Guary-Duan 27 2,81 0,10

Núcleo Vista Alegre 9 0,52 0,06

Sítio Porto Alegre 12 2,89 0,24

Total 148 16,16 0,11

1População em fevereiro de 2015. 2. Destes, 4,335 hectares correspondem a área aberta pelo trator e 4,585
correspondem a área aberta pelos próprios indígenas.

Figura 6.1.5.2.2.1: Em primeiro plano, roça aberta à mão, já plantada, e ao fundo, roça aberta com o uso
de trator

Figura 6.1.5.2.2.2: Roça com fins comerciais


No período de 2014/15, a área cultivada per capita foi de 0,11 hectares/pessoa. Este
valor é condizente com os 0,12 hectares/pessoa estimados para essa mesma terra
indígena no período de 2013. Contudo, descontando-se a área de 2,89 hectares do sítio
Porto Alegre, que é destinada exclusivamente para comércio, obtém-se uma área
cultivada per capita de 0,10 hectares/pessoa no ano de 2014/15.

6.1.5.3. As etnovariedades cultivadas

Foram registradas 25 espécies de plantas cultivadas pelos Arara da TI Arara da VGX


em suas roças abertas em 2013 e 2014/15 (Quadro 6.1.5.3.1). Quatro tipos de cultivos,
a mandioca, macaxeira, o milho e a banana foram responsáveis por 33% de toda a
agrobiodiversidade das roças Arara.
Quadro 6.1.5.3.1: Plantas cultivadas nas roças de 2013 e 2014/15 pelos Arara da TI Arara da VGX e suas
etnovariedades
Nome do cultivo em No de
Nome científico Nomes das etnovariedades
português etnovariedades

- Seis meses
- Tachizona
- Tachizinha
Mandioca 7 - Sacaí
- Baixinha
- Najá
Manihot esculenta - Amarelinha

- Cacau
- Da Bahia
Macaxeira 5 - Olho roxo
- Branca
- Casca rosa

- Comum
- Da Agrar/Engetec
Milho Zea mays 5 - Pipoca
- Baixinho
- Do índio (colorido)

- Prata
- Roxa
- Peruá
- Branquinha
Banana Musa spp. 9 - Comprida
- Peruazinha/costela de vaca
- Maçã
- Anajá
- Roxa/branca

- Redonda (rajada)
Melancia Citrullus lanatus 3 - Comprida (branca)
- Japonesa

- Abobrinha
Abóbora/jerimum Curcubita máxima 3 - Redonda grande
- Pescoçuda/comprida

- Cabeludo/espinhudo
Maxixe Cucumis anguria 3 - Liso com raias
- Liso amarelo grandão

- Roxo
- Branco
Cará Dioscorea trifoliata 5 - Bem roxinho
- Cinzinha
- Inhame grande

- Pequeno
- Grande
Abacaxi Ananas comosus 5 - Ananás
- Comum
- Da Agrar/Engetec10

Mamão Carica papaya 2 - Havaí

10
A variedade fornecida pela Executora do Programa de Atividades Produtivas passou a ser chamada pelos Arara por
“abacaxi da Agrar/Engetec”.
- Comum

- Branca
- Amarela
Batata doce Ipomoea batatas 5 - Meio amarelada
- Vermelha
- Roxa

Saccharum - Branca
Cana-de-açúcar 2 - Roxinha
officinarum

- Malagueta
- Malaguetão
Pimenta (Figura - De cheiro amarelinha
Capsicum sp. 6
6.1.5.3.1) - Outros 3 tipos que não sabia
o nome

Pepino Cucumis sativus 1 - Não sabia o nome

Abelmoschus - Não sabia o nome


Quiabo 1
esculentus
- Branquinho grande
Feijão Phaseolus vulgaris 2 - Branquinho pequeno

Theobroma
Cupuaçu 1
grandiflorum
Graviola Annona muricata 1
Acerola Malpighia glabra 1
Biriba Não identificado 1
Coco da praia Cocos nucifera 1
Ingá Inga spp. 1
- Lima
Laranja Citrus sp. 2 - Tangerina

- Tanja
Limão Citrus sp. 2 - Pequeno

- Gema de ovo
Cacau Theobroma cacao 3 - Cururu
- Roxo

Urucum (Figura - Vermelho


Bixa orellana 2 - Verde
6.1.5.3.2)

Total 25 espécies 79
Figura 6.1.5.3.1: Seis etnovariedades de pimenta

Figura 6.1.5.3.2: As duas etnovariedades de urucum: verde e vermelho

6.1.5.4. Os animais que predam as roças dos Arara

Pelo menos nove animais predam com frequência as roças dos Arara da TI Arara da
VGX com alguns deles podendo provocar grande baixa nas produção dessas roças. No
caso das roças localizadas mais distante da aldeia estas devem ser visitada todos os
dias para ver se o queixada e caititu não estão predando a roça. O Quadro 6.1.5.5.1
detalha os animais que realizam essa predação, as espécies de cultivos que predam,
frequência e incidência dessas predações sobre as roças Arara.

Quadro 6.1.5.5.1: Os animais que predam as roças dos Juruna da TI Paquiçamba

Espécies Frequência de Incidência sobre a


Predador Observação
atingidas predação produção

Demoram a aparecer, mas


Milho, mandioca, quando vão a uma roça
Queixada Média Forte
macaxeira e cará destroem muito e demoram a
sair dela.
É um dos que mais predam as
Milho, mandioca,
Caititu Alta Forte roças e destroem vários pés
macaxeira e cará
dos cultivos.

Mandioca, Quando encontra uma


Cutia macaxeira, milho Alta Média macaxeira fica de 2 a 3 dias
e cará predando ela.

Só ocorre em roças localizadas


Capivara Milho e arroz Baixa Média perto da beira e se tiver milho e
arroz

Semente de arroz
Juriti e milho recém Alta Média
plantadas

Quando preda uma roça


Milho e arroz
Curica Média Forte destroem muito como o
maduros
queixada

Macaco prego Milho e banana Baixa Média

Anta Mandioca Baixa Baixa Quebra a haste da maniva

Mandioca, Come as folhas novas da


Veado macaxeira e Alta Baixa mandioca e macaxeira e o
feijão feijão

6.1.5.5. Comparação temporal da área cultivada

A comparação temporal dos resultados da TI Arara da VGX tem duas limitações: a


primeira é que os dados do Componente Indígena do EIA da UHE Belo Monte foram
apresentados em linhas e não se deixa claro se os valores em hectares foram medidos
pelos autores ou estimados, o que faz com que a comparação tenha que ser feita
somente com os valores em linhas e, a segunda, é o fato de que em 2013 boa parte da
área de roças teve que ser estimada a partir da percepção dos donos das roças, em
linhas.
Ainda assim, é possível fazer algumas observações. Apesar do número de roças
abertas ter aumentado de 11 roças em 2009 (Patrício et al., 2009) para 15 roças em
2013 e 29 roças em 2014/15, os dados parecem indicar uma redução gradual da área
total cultivada e da área cultivada per capita. Em 2009, a estimativa de área total era de
76,5 linhas, enquanto que em 2013 o número caiu para 64,5 linhas. Em hectares, em
2013 a área total cultivada era de 18,28 hectares, passando para 16,16 hectares em
2014/15. A área cultivada per capita passou de 0,68 linhas/habitante em 200911 para

11
Quando a população da TI era de 112 habitantes.
0,44 linhas/ habitante em 2014, mantando-se em níveis semelhantes entre 2013 (0,12
ha/habitante) e 2014/15 (0,11 hectares/ habitante).
No presente estudo não se aprofundou nas possíveis razões para esta situação,
contudo, alguns moradores indicaram a pouca disponibilidade de tempo para trabalhar
na roça12 e a perda de roças já preparadas. Sete moradores informaram que prepararam
roças em 2013, mas acabaram perdendo-as por diferentes razões: em uma das roças
as sementes de milho e as manivas de mandioca plantadas não vingaram; três roças
foram abertas, mas não queimaram direito; a área de duas roças foi utilizada para a
construção das novas casas de alvenaria; uma roça o dono optou por abrir novamente
quando o trator chegou à aldeia. Houve também um morador da aldeia Guary-Duan que
abriu uma roça de 16 linhas, porém conseguiu plantar apenas quatro linhas.

6.1.5.6. Percepção dos Arara com relação às transformações nas roças ao longo
do tempo

De acordo com o morador e fundador mais velho da aldeia Terrawangã, antigamente,


há cerca de 60 anos, as roças tinham no máximo quatro linhas, ninguém plantava oito
linhas de roça. Dessas quatro linhas eles colhiam os alimentos que duravam até o outro
ano. Hoje, plantam oito linhas de roça e mesmo assim as vantagens são poucas.
Segundo os Arara, houve momentos em que as pessoas não se interessaram por fazer
roça, só se importando em caçar, trabalhar em garimpo, pescar peixes para vender e
peixe ornamental. “Muitos se entretinham só de pescar”. Às vezes, deixavam passar o
tempo de fazer roça e depois é que sentiam falta de farinha. Na época que trabalhavam
com a seringa, segundo este informante, os Arara nunca se atrapalharam. Cortavam
seringa em maio, se o verão era cedo, e em junho, julho e agosto. Quando chegava 15
de agosto, seu pai convidava as pessoas da comunidade para parar de cortar seringa e
ir brocar e derrubar roça. Deixavam a vegetação secar durante o mês de setembro e aí
queimavam a roça. A coivara era realizada no mês de setembro ou outubro, às vezes
começava no fim de setembro e em outubro já estava tudo pronto para em novembro
ser feito o plantio. Em outubro, os Arara iam limpar as estradas de seringa, sem
atrapalhar o trabalho na roça, trabalhando na seringa uma semana ou às vezes três dias
e, no restante do tempo, iam trabalhar na roça. Ou então, trabalhavam na seringa de
segunda à sexta-feira e no sábado iam à roça encoivarar ou plantar, sem que um
trabalho atrapalhasse o outro. Todo ano tinham produção de seringa e da roça. Já a

12
Um morador informou que no ano de 2013 chegou a abrir uma roça de três linhas, mas acabou não plantando porque
começou a trabalhar na construção das casas de alvenaria, não tendo mais tempo disponível para trabalhar em sua roça
pesca de carizinho (peixe ornamental), o garimpo e a pesca comercial que, como eles
dizem, são “invenções da juventude”, competiram muito com o trabalho na roça.
Segundo um informante mais velho, o carizinho e o Plano Emergencial foram os que
mais reduziram o trabalho na roça:
“... esse bem aí [o Plano Emergencial] aconteceu que muitos se esqueceu mesmo
[da roça], só tavam comendo e pensando que todo tempo ia ser daquele jeito. (...)
O que aconteceu foi sofrer depois.(...) Todo mundo com a casa cheia de bagulho
[produtos alimentícios] ia fazer o que? Trabalhar pra que?”. (...) O carizinho e esse
plano [Plano Emergencial] deu o problema maior, (...) ninguém se incomodava
não. (...) Teve muita gente que não se incomodou não, achava que isso aí
[alimentos externos] dava pra comer todo tempo. Nego engordou menino. Sabe o
que é pegar mercadoria e botar dentro de casa?”
Os mesmos cultivos que existiam antes são plantados hoje também, com poucas
diferenças nas etnovariedades. Naquela época, havia dois tipos de mandioca, a Najá, a
grande e a da folha miúda, uma com a casca mais escura e a outra que produzia uma
farinha bem amarelinha, e havia também a etnovariedade Tachi. A Tachi é uma
mandioca que a massa é bem alva e a casca dela aguenta ser deixada de molho por
mais de um dia sem amolecer, só a massa amolece, facilitando o trabalho da produção
de farinha. Há dois tipos de Tachi, a Tachizinha e a Tachizona. Antigamente não
existiam duas etnovariedades de macaxeira, a Vermelha e a Cacau, só existiam a Da
bahia, que é preta, e a Branca que, como o nome diz, é branca.

6.2. FONTES DE RENDA

Foi registrada entre os moradores da TI Arara da VGX oito tipos de fontes de renda:
pesca comercial, pesca ornamental (carizinho), caça comercial, comercialização de
produtos agrícolas, comercialização de produtos florestais, trabalhos remunerados
(assalariado e eventuais), benefícios sociais e venda de artesanato. Um panorama do
número de pessoas que realizam essas atividades separadas por sexo e por aldeia pode
ser visto no Quadro 6.2.1, o detalhamento de cada atividade será feito na sequência.
Quadro 6.2.1: Número de homens (H) e mulheres (M) por aldeia que realizam alguma das atividades ou
benefícios que geram renda para os moradores da TI Arara da VGX (março 2015)

Aldeias e núcleos populacionais


Total TI Arara
Núcleo Vista Núcleo Porto da VGX
Fontes de renda Terrawangã Guary-Duan
Alegre Alegre

H M Total H M Total H M Total H M Total H M Total

Pesca comercial 33 6 39 8 4 12 3 2 5 4 4 8 48 16 64

Pesca ornamental 21 1 22 6 0 6 1 0 1 3 2 5 31 3 34

Trabalho assalariado 2 3 5 1 1 2 0 0 0 0 0 0 3 4 7

Trabalho como
diarista dentro e fora 28 9 37 7 1 8 2 3 5 2 0 2 39 12 51
da terra indígena

Benefícios sociais 2 13 15 0 2 2 0 2 2 0 1 1 2 18 20

Seguro defeso 8 0 8 2 0 2 2 1 3 0 0 0 12 1 13

Comércio de
3 7 10 0 3 3 1 1 2 0 1 1 4 12 16
artesanato

6.2.1. Pesca comercial

A pesca comercial ou “pesca de gelo” é a principal fonte de renda dos Arara da TI Arara
da VGX com muitas família se mantendo através dessa atividade:
“Só trabalha da pesca mesmo”.
(Pescador Arara do núcleo Vista Alegre, 29/01/15)

De acordo com as entrevistas socioeconômicas realizadas entre fevereiro e março de


2015, 64 moradores dessa terra indígena declararam praticarem ou já terem praticado
essa atividade. A pesca comercial é uma atividade basicamente masculina, mas
algumas mulheres também a realizam. A partir dos 12 anos de idade os meninos já
começam a pescar ajudando o pai, podendo pescar tanto como um adulto. Durante o
trabalho de campo desse estudo a maior parte dos pescadores de pesca comercial
estava há meses sem realizar essa atividade devido ao envolvimento como diaristas no
trabalho de construção das casas novas de alvenaria realizada através do PBA.
A cadeia da pesca comercial entre os indígenas da TI Arara da VGX envolve três atores:
pescadores, puxadores e patrões, detalhados a seguir.
1) Pescadores: são todas as pessoas que realizam a pesca comercial (Figura 6.2.1.1).
Dependem dos puxadores ou patrões para o fornecimento do gelo necessário para a
conservação da sua produção. Muitos pescadores comerciais já foram puxadores em
algum momento da sua vida. O pescador pode vender a sua produção para quem ele
quiser, mas se recebeu o gelo ou alguma outra mercadoria de um puxador se
compromete a vender para ele. Muitos pescadores levam eles mesmos a sua produção
para a cidade, e nesse caso muitas vezes levam junto a produção de algum parente
próximo para otimizar os gastos. Existem pescadores que são puxadores de sua própria
produção e até vendedores tendo ponto de venda de peixes na cidade ou mesmo
ofertando sua produção, ou parte dela, nos mercados da região como a Feira da Brasília
que ocorre aos domingos em Altamira.
2) Puxadores: o “puxador”, que também é um pescador, é um ator muito importante que
possui uma rede de pescadores trabalhando para ele, e para os quais adianta o gelo
necessário para conservar a sua produção. O puxador compra a produção dos seus
pescadores a preços menores do que o praticado na cidade, se responsabilizando pelos
custos da retirada dessa produção para a cidade onde a entrega para um patrão. O
puxador possui praticamente uma rede de parcerias mantida por laço de parentesco ou
amizade com muitos pescadores que dependem dele para trazer o gelo necessário e
para levar a sua produção para os comércios de Altamira. Sem o puxador, muitos
pescadores não teriam como realizar a atividade de pesca comercial, pois é ele quem
otimiza os gastos envolvidos no transporte de gelo para os pescadores e da sua
produção para os mercados da cidade. Se cada pescador decidisse levar a sua
produção sozinho, os gastos não compensariam. Pelo menos seis pescadores Arara da
TI Arara da VGX já foram puxadores, sendo uma combinação de situações e
oportunidades que determina quem está atuando como o puxador ou puxadores do
momento. Se o puxador tiver recebido um adiantamento em dinheiro ou produto de
algum patrão se encontra obrigado a vender a produção de peixes que carrega somente
para este.
3) Patrões: o patrão é o comprador que fica na cidade recebendo a produção dos seus
puxadores ou comprando dos pescadores independentes que oferecem peixe para ele,
e por sua parte vende para o consumidor final ou para outro comercializador. O patrão
é quem compra o peixe e “arruma” um dinheiro adiantado, dá o gelo ou o rancho quando
o pescador ou puxador precisam para realizar as suas pescarias. Para alguns
pescadores, o patrão é o atravessador. Como bem definiu um pescador comercial Arara
morador da TI Arara da VGX “patrão é quem banca as despesas, puxador adianta as
coisas”. O patrão pode repassar a produção que compra ou parte dela para outros
comerciantes quando recebe muito peixe. De acordo com um puxador do local, algumas
vezes o peixe que chega à cidade de Altamira pode ser transportado para outras cidades
da região como Santarém ou Anapu porque às vezes o mercado de Altamira fica lotado
de peixe. Algumas vezes os patrões trocam pescada por tucunaré em Santarém onde
a pescada é mais difícil.

Figura 6.2.1.1 Pescador Arara da TI Arara da VGX entregando sua produção de peixes para um puxador
Juruna da TI Paquiçamba

A comercialização dos peixes na região obedece a uma classificação específica


composta basicamente por peixes de primeira, de segunda e “salada” (Quadro 6.2.1.1).
De acordo com os entrevistados, essa classificação funciona da seguinte forma:
Primeira ou grande: compreendida somente por tucunarés e pescadas grandes, maiores
de 1,5 kg.
Segunda ou médio: pescadas e tucunarés de 1,5 kg a até mais ou menos 1,0 kg (alguns
chegaram a falar em 800 gramas). Dentro dessa categoria pode entrar o pacu branco
que também pode ser vendido sozinho em uma categoria a parte com um valor próximo
ao dessa classificação, porém se for pequeno entra como salada. O fidalgo e surubim
também entram nessa classificação, ou também em uma classificação própria deles
com valores próximos a este. O surubim, se estiver sem cabeça, pagam como de
primeira.
Salada: é uma categoria genérica para peixes com menos de 1 kg. Nela se inclui
tucunaré e pescada pequenos bem como vários tipos de pacus. É uma categoria que
não compensa para os puxadores de acordo com suas declarações. A curimatá tanto
faz se é pequena ou grande, sempre é salada. Outros pescadores afirmaram conseguir
um preço um pouco melhor por ela o que demonstra que esse sistema de classificação
é variável dependendo de para quem se vende, época etc.
Fera: essa categoria, não reconhecida por todos, pode incluir o trairão, a pirarara e a
piranha, independentemente do tamanho. São peixes menos valorizados.
Misto: é uma categoria que inclui vários tipos de peixes independentemente do tamanho,
sendo pago um valor mais baixo.

De acordo com alguns informantes Arara essa classificação não está mais sendo
utilizada com muitas situações onde todos os peixes são comprado misturados e com
um preço só por estarem escassos na região. Os peixes pequenos também não estão
sendo comprado pelos puxadores porque de acordo com os Arara os puxadores não
querem levar peixe barato só comprando peixe de primeira para poderem obter um lucro
maior, querendo lucrar mais que o pescador. De acordo com os mesmos entrevistados
um pescador ou puxador realiza de três a quatro pescarias comerciais por mês. O
período de cada pescaria é determinando pelo gelo, que dura no máximo oito dias.

Quadro 6.2.1.1: Preço médio dos peixes comerciais vendidos pelos Juruna e Arara da Volta Grande do
Xingu de acordo com a classificação utilizada na região.

Pescador ou Pescador ou Preço de compra Preço de venda


Pescador Preço na
puxador puxador em ponto de em ponto de
Classificação vendendo na Semana
entregando na vendendo na venda de peixe na venda de peixe
comercial aldeia Santa
cidade cidade cidade na cidade
(R$) (R$)
(R$) (R$) (R$) (R$)

Primeira 7,00 a 6,00 10,00 a 11,00 12,00 12,00 a 13,00 15,00 a 17,00 17,00

Segunda 4,00 a 5,00 8,00 10,00 10,00 13,00 a 15,00 15,00

Salada 3,00 5,00 6,00 a 7,00 8,00

Pacu branco 9,00 6,00 10,00 13,00 a 14,00 15,00

Curimatá 8,00 12,00 13,00

Trairão 3,00 7,00 a 8,00

Cachorra 3,00 4,00 a 5,00

Fidalgo e surubim 4,00 a 5,00 6,00 a 7,00 8,00 12,00 14,00

Um questionário específico sobre a pesca comercial foi aplicado a 29 (60%) dos 48


pescadores comerciais do sexo masculino (Anexo V). De acordo com suas respostas
foi elaborado o ranking das etnoespécies de peixes mais pescada pelos pescadores
Arara para a comercialização, sendo o tucunaré, a pescada e o pacu branco os
principais (Figura 6.2.1.1). Alguns pescadores reforçaram que o tucunaré é o peixe mais
pescado para comercialização no verão e a pescada e o pacu branco no inverno.
Patrício et al. (2009) registrou as mesmas seis etnoespécies de peixes citadas no
presente levantamento como os principais alvos da pesca comercial realizada pelos
Arara da TI Arara da VGX.
30 28

25
25 24

Número de citações
20

15

10 8

5
5 4

0
Tucunaré Pescada Pacu branco Fidalgo Curimatá Surubim

Peixes comerciais

Figura 6.2.1.1 Ranking dos peixes mais pescados para a comercialização pelos Arara da TI Arara da VGX
Os peixes para a venda também podem ser utilizados para consumo com os pescadores
Arara afirmando que se precisarem tiram o peixe de seus isopores de gelo onde o
guardam para venda e o consomem, não sendo portando peixes exclusivos para a
comercialização.
De acordo com o mesmo questionário os principais compradores de peixe dos Arara da
TI Arara da VGX são o Nazareno um “patrão” antigo que há 20 anos compra peixe e
outros produtos da região, o Raimundo Juruna (Todo Manso) e o Marizan Juruna.
Alguns poucos Arara citaram também vender para qualquer um que apareça ou que
deixe gelo com ele para poder conservar sua produção de pescado, outros levam eles
mesmo o seu peixe para vender na cidade a um atravessador ou em alguns casos para
o consumidor final.
No mesmo questionário aplicado a esses 29 pescadores de pesca comercial da TI Arara
da VGX foi verificado os principais pontos de pesca comercial (Figura 6.2.1.2), com três
lugares sendo responsáveis por 63% de todas as citações: Jericuá, Bacajá e nas áreas
próxima as aldeias. O Jericuá é o local preferido para a pesca comercial, em segundo
lugar está o rio Bacajá que de acordo com Patrício et al. (2009) isso poderia ser
resultado do fato de ser um rio de águas brancas com maior produtividade. Tanto no
Jericuá como no Bacajá os Arara possuem ranchos de pesca onde se instalam para
passar de três a quatro dias pescando. No Jericuá o local principal para se
“arrancharem” é na Capoeirana que fica em frente a Ilha da Bela Vista e da Ilha da
Araruna sendo um local bom por não ter carapanã. Tanto os Arara como não índios se
arrancham lá, carizeiro indígenas e não indígenas também. No Bacajá a maior parte
desses ranchos se localizam nas ilhas, algumas dentro dos limites da terra indígena e
outras não.
Na sua maior parte a pesca comercial dos Arara é feita com o uso de linha de pesca e
não malhadeira. Para um pescador Curuaia que mora na TI Arara da VGX a malhadeira
qualquer um pode colocar, mas a pesca com linha e caniço somente os pescadores
profissionais sabem fazer por que vão “caçar os peixes” que ele querem pegar.
Patrício et al. (2009) registraram através de um registro em caderno realizado por um
responsável indígena na aldeia Terrawangã entre junho e outubro de 2008 a captura de
mais de três toneladas de peixes em pescarias realizadas por 25 pescadores. O mês de
setembro apresentou a maior captura com uma produção de 1.736 kg de peixes. A
etnoespécie de peixe mais capturada foi o tucunaré sendo as pescarias realizadas
principalmente nas ilhas do rio Xingu como a Ilha do Jericuá, Ilha do Paquiçamba e
Remo as com maiores produção.

25
21
20 19
Número de citações

16
15

10

5 3 3
2 2 2 2 2 2 2
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
0

Pontos de pesca comercial

Figura 6.2.1.2 Ranking dos principais pontos de pesca comercial citado por 29 pescadores da TI Arara da
VGX

6.2.2. Pesca ornamental

De acordo com Carvalho Junior et al. (2011) e com as entrevistas realizadas


junto aos Arara da TI Arara da VGX a pesca de peixes ornamentais, dominada por
espécies da família Loricariidae conhecidas na região como caris ou carizinhos, é
praticada por eles há mais de 20 anos tendo se iniciado no final da década de 80 quando
os caris da região de Altamira começaram a serem comercializados nas lojas
especializadas do mercado americano (Seidel, 1996). A pesca ornamental, voltada
principalmente para atender o mercado dos Estados Unidos, Japão e Alemanha foi
durante muito tempo a atividade mais importante para a economia de muitas
comunidades da região do médio rio Xingu, principalmente da região da Volta Grande
(Isaac et al. 2008; Carvalho Junior et al., 2011).
A pesca de carizinhos ornamentais foi uma importante atividade econômica para os
Arara e que “dava bom demais” sendo a melhor fonte renda que já tiveram e um período
onde conseguiram comprar muitas coisas:

“Todo mês o cara descolava seus dois mil limpo, fora a cachaça que gastava lá pra
baixo”.
(Pescador Arara de carizinho da aldeia Terrawangã, 28/02/15)

De acordo com conversas com duas mulheres da TI Arara da VGX a maior parte dos
bens que possuem hoje foi comprada com dinheiro de carizinho, sendo a pesca
comercial uma atividade que dá para manter o básico da família.
O resultado das entrevistas socioeconômicas realizadas entre fevereiro e março de
2015 apontaram um total de 34 pessoas moradoras da TI Arara da VGX que declararam
já terem participado da pesca de carizinho ornamental (Quadro 6.2.1). Apesar desse
número total nas conversas com o grupo focal sobre a pesca de carizinho estes
afirmaram só terem oito pescadores “profissionais” de carizinho entre os Arara. Ela é
uma atividade bem masculina tendo somente três mulheres que declaram já terem
participado da captura desses peixes ornamentais. Os pescadores Arara de carizinhos
mais novos hoje em dia, com cerca de 25 a 30anos, começaram a pescar carizinho
quando tinham entre 12 e 16 anos.
Apesar de mais de duzentas espécies de peixes ornamentais ocorrerem no rio Xingu, a
pesca se concentra em apenas dez: acari zebra, arraia, marrom, picota-ouro, boi-de-
bota, onça, assacu-pirarara, amarelinho, cutia e jacundá. Outras espécies como aba
laranja, preto velho, cabeça chata e bola branca podem ser capturadas para
complementar os pedidos dos compradores (Carvalho Junior et al., 2009). Para muitos
Arara da TI Arara da VGX somente uma única espécie é interessante para ser
capturada, o cari zebra. Alguns poucos pescadores mais velhos afirmaram terem
capturado também o boi de bota, picota ouro e amarelinho, mas a maioria afirmou só
capturar o zebra.
De acordo com as respostas dadas nas 15 entrevistas realizadas (Anexo VI) com os
principais pescadores de carizinho do sexo masculino os pescadores Arara pescariam
nove etnoespécies de carizinhos (Figura 6.2.2.1), mas uma única espécie o cari zebra
domina esse tipo de pescaria com seis pescadores (40%) afirmando pescarem somente
essa etnoespécie. Nas conversas com o grupo focal sobre a pesca de carizinhos
ornamentais todos os participantes também foram enfáticos afirmando que nos últimos
anos que ainda realizaram a pesca de cari se dedicavam somente a captura do zebra
por que o preço dos outros não compensava.

16
14
14
12
Número de citações

10
8
6
4 3 3 3
2 2 2
2 1 1

Carizinhos ornamentais

Figura 6.2.2.1: Ranking das espécies de peixes ornamentais preferidas pelos Arara da TI Arara da VGX.

O zebra é um carizinho que vive nas locas de pedra, mas não dá em qualquer pedra
nem em qualquer lugar. De acordo com os informantes Arara ele não gosta de pedra
lisa nem das meio avermelhadas ou com “chifres”. O zebra só gosta das pedras meio
pretas por que ele é “todo sistemático”:

“O bicho é todo cheio de sistema, o zebra não é em todo lugar que ele dá.”
(Pescador Arara de carizinho da aldeia Terrawangã, 28/02/15)

A melhor época para sua captura do zebra é no mês de julho para agosto (Quadro
6.2.2.1). Em setembro e outubro o rio fica muito seco com as locas ficando no seco e
não dando para procurá-lo. Em novembro quando o rio começa a encher fica bom de
novo e até o meio de dezembro ainda dá para pegar zebra por que a água ainda não
está muito “suja”. Janeiro, fevereiro e março são meses ruins por que a água está muito
“suja”. Em fevereiro eles também se escondem muito. Em abril e maio dá para pegar
com o uso de compressor porque a água começa a ficar mais limpa.

Quadro 6.2.2.1: Calendário sazonal do carizinho ornamental mais importante para os Arara da TI Arara da
VGX*

Peixe ornamental Meses


J F M A M J J A S O N D

Zebra

* A coloração dos quadrados corresponde a intensidade da atividade, quanto mais escuro mais intensamente é praticada.

A captura de carizinhos envolve duas formas principais: com e sem o uso de um motor
compressor. Os instrumentos básicos para ambas as pescarias são a “mascareta”
(máscara de mergulho), duas vaquetas ou espadas (pequena espátula de madeira
utilizada para direcionar o carizinho para um local onde pode ser facilmente capturado
com a mão) e um ou vários vidros com furos que ficam presos na cintura dos pescadores
para guardarem os carizinhos capturados. O compressor é de acordo com Isaac et al.
(2008) uma adaptação de um aparelho de encher pneus ao qual se coloca um motor à
gasolina de 3,5 hp, com uma mangueira transparente de 25 mm de diâmetro, com 30 a
50 m de comprimento e com um bocal para sucção na sua ponta (chupeta), junto com
a mangueira existe um fio elétrico entrelaçado com uma lanterna na extremidade. É
comum o compressor ter de três a cinco saídas individuais para as mangueiras de ar,
cada uma utilizada por um pescador. O compressor é utilizado nas pescarias realizadas
em maiores profundidades (mais de 5 metros) sendo responsável por fornecer o
oxigênio necessário para os pescadores durante o mergulho. A lanterna, ligada ao
compressor, colocada na cabeça ou na mão é fundamental para se ter visibilidade.
Mergulhos com compressor são realizados nas capturas de espécies que se localizam
em áreas mais profundas e é mais utilizado no inverno período que devido a enchente
tornam os pesqueiros mais profundos (Isaac et al., 2008).
O zebra pode ser capturado em mergulhos com ou sem o uso de compressores. Usam
a espada para direcionar ele até um ponto onde possam capturá-lo com a mão pegando
em sua nadadeira ou prendendo sua nadadeira ou cabeça com a outra espada. Para a
sua captura ter que ser com jeito “tem que ter um carinhozinho” para não “quebrar a aba
dele”. Seu preço chegou R$ 50,00 reais.
Outros carizinhos de menor importância como o boi de bota gosta de saroba e de
correnteza ficando nos galhos, sendo capturado com o uso de puçá e sua melhor época
para captura é de fevereiro a abril, de maio a julho não pegam porque a água está
baixando e nos outros meses ele se escondem nas locas de pedras. De acordo com os
informantes o pessoal estava pagando R$ 6,00 reais pelo boi de bota. O picota ouro fica
em pau velho no fundo dos beiradões e só é capturado com o uso de compressor e a
melhor época é o inverno. O amarelinho gosta de pedra e o pessoal pode fazer
armadilha colocando pedras em cima das lajes para atrai-lo e ficar mais fácil para
capturá-lo passando uma tarrafa especifica e balançando as pedras para saírem. Sua
melhor época é no inverno em fevereiro, março e abril.
A pesca de carizinho é uma atividade normalmente realizada em grupos, principalmente
se for feita com o uso de compressores. Se for realizada manualmente pode ser
realizada por um pescador sozinho.
As pescarias de carizinho podem ser realizadas em locais perto da aldeia para onde
retornam todos os dias para dormir ou se deslocando para pontos de pesca mais
distantes indo sempre em grupos onde se arrancham em acampamentos improvisados.
O local preferido para a pesca de carizinhos pelos Arara da TI Arara da VGX de acordo
com as respostas dos 15 pescadores de carizinho é o Jericuá e as proximidades da
própria aldeia (Figura 6.2.2.2). Jericuá se refere a toda a região das cachoeiras do
Jericuá. De acordo com os informantes Arara abaixo da Ilha da Bela Vista, depois da
cachoeira da Mucura já é o Jericuá. Quando se dirigiam para a pesca de carizinho no
Jericuá iam para lá e podiam ficar mais de um mês. Nessa época tinha muita gente na
região pescando carizinho, chagava a ter vila de casa com “barraco por todo lado” quase
como um garimpo. Também tinha cabarés porque “corria dinheiro” tendo tanto gente de
Altamira como da Ilha da Fazenda.

14
12
12
Número de citações

10

8
6
6

4
2 2
2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Pontos de pesca de carizinho ornamental

Figura 6.2.2.2: Ranking dos pontos de pesca de carizinho ornamental preferidos pelos Arara da TI Arara da
VGX.

Na época em que a sua pescaria era praticada os pescadores de cari obtinham um


renda boa com essa atividade. De acordo com entrevistas realizadas na TI Paquiçamba
na época em que a comercialização do zebra era permitida um Juruna podia ganhar até
R$ 2.000,00 reais no período de melhor produção. Isaac et al. (2008) através de
entrevistas com carizeiros da Ilha da Fazenda registraram que um pescador de caris
podia retirar até R$ 292,00 reais por dia de trabalho o que poderia resultar em uma
renda de R$ 5.800,00 reais por mês.
A comercialização dos caris envolve quatro atores, o pescador, o atravessador que
circula pela região atrás dos pescadores interessados em vender sua produção, o
distribuidor que classifica os animais de acordo com suas qualidades morfológicas e
sanidade e o exportador (Carvalho Junior et al., 2009). O exportador e o atravessador
ocupam o papel de “patrão”, figura herdada da época da economia da borracha,
adiantando ainda hoje as mercadorias e utensílios necessários para as pescarias. Com
a proibição esse carizinho começou a ser retirado por contrabando sendo a principal
rota via Santarém e Manaus até a cidade amazonense de Tabatinga que faz fronteira
com a cidade colombiana de Letícia, cidade com um importante mercado para peixes
ornamentais amazônicos (A Crítica, 2014). A partir de Letícia ele é exportado para o
resto do mundo.
O zebra sempre foi o mais importante carizinho pescado na região e era o cari que
movimentava todo o comércio de peixes ornamentais no médio Xingu devido a sua
rentabilidade (Isaac et al., 2008). Desde maio de 2004 quando entrou em vigência a
Portaria IN-MMA no 5 de 21 de maio de 2004 está proibido por ser considerado
ameaçados de extinção o que levou ao “fracasso” o seu comércio. Sua proibição causou
um forte impacto na vida econômica dos Arara da TI Arara da VGX e fez com que os
que viviam do carizinho voltasse a pesca comercial para garantir sua renda mas “você
sabe no peixe é fraco”. Com isso muitos pescadores de cari pararam de realizar essa
atividade podendo realizá-la ocasionalmente, mas desde que os compradores
começaram a comprar fiado em 2013, não pagando e depois alegando que os carizinho
tinham sido apreendidos pelos órgãos de fiscalização não podendo arcar com a dívida,
a maior parte dos Arara parou de realizar sua captura. Vários pescadores Arara de cari
afirmaram terem dinheiro para receber de compradores de cari de Altamira. Assim hoje
a pesca de carizinho pelos Arara da TI Arara da VGX assim como acontece com os
Juruna da TI Paquiçamba é realizada de forma ocasional.
Reclamações de que muitos caris algumas vezes estão ficando doente, ficando todo
vermelho devido, de acordo com os informantes Arara, a um fungo que derruba a sua
nadadeira e o rabo são recorrentes.

6.2.3. Caça comercial


Embora não seja considerada uma atividade constantemente praticada pelos
moradores da TI Arara da VGX para a obtenção de renda a caça comercial já foi
praticada algumas vezes por estes. Durante os questionários individuais aplicados junto
aos 29 caçadores do sexo masculino 17 (59%) deles afirmaram já terem praticado a
venda de carne de caça em algum momento de sua vida. Para alguns a venda de carne
de caça era uma oportunidade momentânea de obtenção de alguma renda e para outros
chegou a ser um trabalho constante. Quando realizada ocorre mais na cheia quando a
caça é mais abundante devido as caçadas de torrão e aos queixadas caindo na água.
Quando vendem normalmente levam no gelo assim como fazem com o peixe, mas já
tendo casos de terem salgado. O principal mercado são os povoados da Ilha da Fazenda
e da Ressaca e a cidade de Altamira onde vendem normalmente para o consumidor
final, mas podendo também vender para algum atravessador.
O preço médio dos animais de caça comercializados pelos Arara se encontram no
Quadro 6.2.3.1. Anta e caititu são considerados reimosos e o pessoal não gosta de
comprar. Não foi verificada a prática de venda de carne de caça na própria comunidade
para outros moradores o que segundo um informante daria vergonha porque é tudo
parente, embora ocorra a venda de peixe.

Quadro 6.2.3.1: Preço dos animais de caça comercializados pelos Arara da TI Arara da VGX

Unidade de Preço
Animal de caça
venda (R$)

Queixada Kg 8,00

Veado Kg 9,00 a 10,00

50,00 a 100,00
Paca Indivíduo
(depende do tamanho)

Tatu Indivíduo 15,00

10,00 a 25,00
Jabuti Indivíduo
(a fêmea é mais valorizada que o macho)

Mutum Indivíduo 20,00 a 40,00

15,00 a 30,00
Tracajá Indivíduo
(ovada)

Ovo de tracajá Cento* 15,00

* Outro informante afirmou vender a 5,00 reais a dúzia.

6.2.4. Comercialização de produtos agrícolas


A mandioca e seus subprodutos como a farinha, tapioca e tucupi são os itens mais
citados como produtos agrícolas utilizados para comercialização. Como afirmou um dos
moradores mais velhos da aldeia Terrawangã antigamente já vendiam farinha, tapioca
e puba, “toda vida tirava farinha da roça para vender, milho e arroz também”.
O urucum e o cacau é um dos produtos agrícolas que tem adquirido cada vez mais
importância entre os Arara para a comercialização. Vários deles demonstraram
interesse no seu cultivo com finalidade comercial. Outros já plantam como um agricultor
casado com uma Arara que possui quatro mil pés de cacau e três mil pés de urucum.
No núcleo Porto Alegre onde vive uma família Curuaia com as filhas casadas com Arara
foram abertos 2,89 hectares com finalidade de comercialização de seus produtos
agrícolas. O preço com os valores de 2014 quando fizeram a última comercialização
pode ser visto no Quadro 6.2.4.1.

Quadro 6.2.4.1: Preço, em 2014 (última comercialização), dos principais produtos agrícolas comercializado
pelos Arara da TI Arara da VGX

Produto agrícola Quantidade Preço

Farinha de puba kg R$ 4,00 a 6,00

Tapioca ou goma kg R$ 3,00

Tucupi litros R$ 10,00

Milho lata R$ 25,00

Urucum kg R$ 15,00

6.2.5. Criação de gado

Existe um histórico do envolvimento na criação de gado pelos indígenas da região da


Volta Grande. No núcleo Vista Alegre isso também foi realizado onde ocorreu a criação
de 11 cabeças de gado durante cerca de seis anos. De acordo com seus criadores estes
foram criados com pasto de capim braquiária. Não tiveram condições de cercar eles e
há dois anos deixaram de ter.

6.2.6. Comercialização de produtos florestais


Os Arara da TI Arara da VGX declararam ser a castanha-do-pará o único produto
florestal que comercializam. A comercialização de óleo de coco babaçu registrada por
Patrício et al., (2009) não praticam mais.
Patrício et al., (2009) fizeram um levantamento da produção de castanha dos Arara da
TI Arara da VGX em 2008 chegando ao número de 538 caixas e 184 castanheiras. O
morador Arara mais antigo da aldeia Terrawangã considera que na TI Arara da VGX
não existe castanhal como tem na TI Paquiçamba, e sim pés de castanha espalhados
na mata sem grandes concentrações. Assim como tem acontecido na TI Paquiçamba
as castanheiras da TI Arara também passaram os últimos anos sem produzir, não sendo
a primeira vez que isso acontece, já tendo período que passou oito anos sem produzir.
Durante a realização deste trabalho de campo no começo de 2015 foi registrada a
produção de castanha coletadas pelos Arara da aldeia Terrawangã (Quadro 6.2.6.1)
que resultou em 116 caixas que foi vendida a R$ 40,00 reais para o Nazareno um
“patrão” de Altamira que compra e comercializa produto na região da Volta Grande. A
maioria dessa castanha foi retirada no Barracão área localizada fora da terra indígena.

Quadro 6.2.6.1: Produção e renda obtida pelas famílias da TI Arara da VGX na coleta de castanha na
safra de 2015

No de Renda bruta
Coletor
caixas (R$)

Dhemerson (Gema) 1 40,00


Jackson 14 560,00
Fernando (Kinho) 10 400,00
Edson Carlos (Veim) 7 280,00
Josias 24 960,00
Aroldo (Grande) 22 880,00
Josivan (Bicó) 16 640,00
Jozildo (Zildo) 3 120,00
Piroco 2 80,00
Benedito (Dito) 12 480,00
Lucas 5 200,00
Total 116 4.640,00

6.2.7. Trabalhos remunerados (assalariados e eventuais)


Dois tipos de trabalhos remunerados são realizados pelos Arara da TI Arara da VGX:
trabalho assalariado e prestação de serviços por dias de trabalho, por meio das diárias
de trabalho.
Um total de sete trabalhadores assalariados foi levantado durante este estudo, sendo
três homens e quatro mulheres (Quadro 6.2.1). Todos eles trabalham dentro da própria
terra indígena. Quatro trabalhos assalariados se referem à área da saúde, sendo dois
referentes aos agentes indígenas de saúde – AIS e dois aos agentes indígenas de
saneamento básico – AISAN, contratados pelo Distrito Sanitário Especial Indígena –
DSEI de Altamira com cada um atuando nas aldeias Terrawangã e Guary-Duan. Três
outros trabalhos assalariado se referem a educação se concentrando na aldeia
Terrawangã, a professora do ensino inicial e fundamental e a merendeira contratados
pela prefeitura do município de Senador José Porfírio. Outro trabalho assalariado é o
transporte dos alunos das aldeias e núcleos da TI Arara da VGX para a ladeia
Terrawangã onde se localiza a única escola realizado por um Arara através de um
contrato de prestação de serviço terceirizado por uma empresa contratada pela
prefeitura do mesmo município.
A prestação se serviço como diarista dentro e fora da comunidade é uma fonte de renda
frequentemente praticada pelos moradores da TI Arara da VGX com 51 pessoas
declarando terem prestado serviço como diaristas, o que corresponde a 62% da
população com mais de 15 anos de idade. A maioria dos moradores da TI Arara da VGX
que prestaram e/ou prestam serviços como diaristas são do sexo masculino trabalhando
em serviços como limpeza (roço) de roça para outros Arara, colonos e Juruna da TI
Paquiçamba, abertura e limpeza de pasto para fazendeiro, limpeza e quebra de cacau
para colono, abertura de piques (caminhos), ajudante de construção nas cidade do
entorno, carregamento de material e construção das casas novas da aldeia realizada
pelo Empreendedor, garimpo, serrador, piloto de voadeira e nos monitoramento dos
peixes, quelônios e da pesca e caça realizado pelas executoras responsáveis. Entre as
mulheres os serviços como diaristas declarados foram de cozinheira, empregada
doméstica, lavagem de roupa e monitoramento da água para a executora responsável.

6.2.8. Benefícios sociais


Foram registrados três tipos de benefícios sociais entre os moradores da TI Arara da
VGX: aposentadoria, bolsa família e seguro defeso (Quadro 6.2.8.1)
O bolsa família seguindo pelo seguro defeso são os benefícios sociais mais comuns
entre os moradores da TI Arara da VGX. Chama a atenção a diferença entre os
pescadores da TI Arara da VGX que recebem seguro defeso, 13 pescadores, quando
comparado com os pescadores da TI Paquiçamba onde apenas quatro tem esse
beneficio. A média de tempo que os pescadores da TI Arara da VGX recebem o seguro
defeso ficou em 5,8 anos com casos com três anos e outro com 15 anos e existem
vários casos de pescadores que já fizeram a carteira de pescador há vários anos sem
ainda receber, como o caso de um pescador que fez há seis anos e até hoje não recebe.

Quadro 6.2.8.1: Número de moradores da TI Arara da VGX que recebem algum tipo de benefício social
(março de 2015)

Núcleo Vista Núcleo Porto Total TI Arara


Benefício Social Terrawangã Guary-Duan
Alegre Alegre da VGX

Aposentadoria 3 0 0 0 3

Bolsa Família 12 2 2 1 17

Seguro Defeso 8 2 3 0 13

Total 23 4 5 1 33

6.2.9. Comercialização de artesanato

A venda de artesanato foi uma atividade econômica citada como sendo realizada por 16
moradores da TI Arara da VGX, sendo uma atividade mais exercida pelas mulheres,
com 12 delas afirmando realizar essa atividade e apenas quatro homens. Entre os
produtos de artesanato que comercializam, a maior parte se refere a pulseira e colares
de miçanga, brinco, pau de cabelo e cocar no caso das mulheres e remo e canoa no
caso dos homens.

7. PRESSÕES, AMEAÇAS E TRANSFORMAÇÕES


7.1.1. Invasão de pescadores

Os Arara relataram a constância da invasão de pescadores não índios em suas áreas


de pesca. São pescarias predatórias realizadas sempre com muitas malhadeiras “não
pescam de tela não é pura malhadeira” um instrumento de pesca muito mais predatório
e se utilizam de acordo com os Arara de 10 a 15 malhadeiras, algumas com 80 a 100
metros de comprimento. Esses pescadores invasores se utilizam tanto do rio Xingu
como do rio Bacajá, boca do Bacajaí e também vão muito para a região do Jericuá. Um
desses pescadores invasores, o João do Peixe fica acampado bem em frente a aldeia
Terrawangã na ilha do Arapari e na ilha do Maia junto com sua esposa dificultando a
pesca de subsistência dos Arara e segundo estes o “cara quer ser valente” enfrentando
os Arara quando pedem para que ele se afaste pelo menos um pouco da área de pesca
da comunidade. O rio Bacajá também tem muito pescador invasor com malhadeira, de
acordo com os Arara são pescadores da Ressaca e da aldeia da Pykaiako, TI Trincheira-
Bacajá que teriam os próprios indígenas proibido a pesca em sua área e estão pescando
na área dos Arara. A Figura 7.1.1.1 apresenta as áreas com invasão de pesca nos
entornos da TI Arara da VGX.
De acordo com os Arara essa invasão de pescadores tem provocado a diminuição da
pescada, tucunaré e pacu branco. O peixe que ainda tem mais é a curimatá porque no
verão não é muito pescada. É “muito pescador e muita malhadeira aí escrabeia muito o
peixe”. A invasão de pescadores com práticas predatórias de pesca nas áreas de pesca
dos Arara da TI Arara da VGX também foi constatada por Patrício et al., (2009). Pezzuti
et al., (2008) também registrou que os principais pontos de pesca dos comunitários da
Ilha da Fazenda são as áreas do rio Bacajá e Bacajaí, limites da TI Arara da VGX.
Figura 7.1.1.1: Área com invasão de pescadores nos arredores da TI Arara da VGX.

7.1.2. Diminuição dos peixes

Foram realizadas entrevistas com 35 pessoas adultas moradoras da TI Arara da VGX


(31 homens e 4 mulheres), que realizam pesca de subsistência. Se questionou se
questionou se a pesca estava sendo suficiente para a alimentação da sua família e 89%
afirmaram que sim: “tá pouco mais dá”, “tem dia que falta”, “antigamente era mais fácil”
foram alguns dos comentários associados com essas respostas.
Perguntados se percebiam algum problema na atividade de pesca de subsistência 91%
dos 35 entrevistados responderam que os peixes diminuíram e que atualmente há um
aumento do esforço para a captura da mesma quantidade de peixes que obtinham no
passado. De acordo com suas percepções alguns associam isso com o aumento do
número de pescadores invasores na região da Volta Grande devido a um aumento da
população em Altamira e do aumento do preço do peixe para a venda na região. Outros
associam isso diretamente com o inicio dos trabalhos para a instalação da UHE de Belo
Monte, sem que isso possa sem provado pelo presente estudo. Quando questionados
desde quando percebem essas transformações 11% afirmaram terem percebido essas
mudanças desde o ano de 2009/2010, 26% desde o ano de 2011, 23% desde 2012 e
outros 23% desde o ano de 2013 e 9% desde o ano de 2014.
Outro questionário foi aplicado junto a 29 (45%) dos 64 pescadores que realizam a
pesca comercial e 93% deles afirmaram que a pesca esta mais difícil, que o peixes está
pouco que estão tendo um esforço muito maior e mesmo assim não conseguem pesca
a mesma quantidade de antes principalmente no caso dos peixes de primeira como o
tucunaré e pescada. De acordo com eles o preço para a venda está até bom, mas está
difícil conseguir peixes.

7.1.3. Conflitos de pesca

Os Arara da TI Arara da VGX e os Juruna da TI Paquiçamba, povos com relações


históricas, sempre compartilharam os ambientes aquáticos da Volta Grande para a
realização de suas atividades de pesca de subsistência e comercial. Com a ampliação
da TI Paquiçamba, que incorporou oficialmente em seus limites a maior parte das áreas
de ilhas dessa região, e quando for iniciado o Trecho de Vazão Reduzida, que poderá
causar um estresse nos sistemas aquáticos e em suas populações de peixes,
provocando fortes transformações, essa relação de equilíbrio social poderá se romper.
Reclamações por parte dos Juruna de que os Arara não respeitam as delimitações de
áreas de uso de cada povo já acontecem. Mas como afirmaram os Arara “sempre
pescaram dentro da nossa área e nós nunca nos importamos”, “nós também muitas
vezes invadimos a parte da terra deles”, eles são “o mínimo da preocupação” sendo o
mais grave os pescadores que vem “de fora”. Os Arara por seu lado afirmaram que não
possuem conflitos de pesca com os Juruna com “eles pescando na nossa área e nós na
deles”. Apesar disso foi verificado pelo menos um relatos de reclamação dos Juruna
com um pescador Arara que estava na área deles.
Trabalhos de manejo de lagos na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de
Mamirauá demonstram que as disputas entre comunidades sobre o acesso ao uso dos
recursos desses lagos tendem a ser mais facilmente resolvidas do que aquelas que
envolvem comunidades e grupo de pescadores profissionais (Batista et al., 2004).

7.1.4. Invasão de caçadores

Os Arara da TI Arara da VGX não caçam nas áreas próximas aos lotes dos colonos
justamente para evitar confrontos com estes. Na área onde sempre caçam, próximo das
suas aldeias os Arara afirmaram nunca terem visto rastros ou vestígios de caçadores
invasores considerando que não existe invasão. A invasão de caçadores se dá nas ilhas
que segundo eles “essas ilhas é quase toda cheia de gente no inverno”, mas com a
maioria sendo Juruna da TI Paquiçamba. De acordo com Pezzuti el al. (2008) o rio
Bacajá e Bacajaí são áreas de caça dos moradores da comunidade da Ilha da Fazenda.
Apesar de não sentirem invasão de caçadores nas áreas que utilizam como área de
caça o impacto da pressão de caça provocado pelos colonos que existem dentro dos
limites da TI Arara da VGX é sentido pelos caçadores Arara. Foram entrevistados 29
(45%) dos 64 caçadores da TI Arara da VGX e 31% deles afirmaram que os colonos
impactam a disponibilidade de caça na sua terra devido as estradas, desmatamento,
retirada de madeira etc. os problema causado na caça por estes colonos também foi
registrado por Patrício et al. (2009).
Os Arara da TI Arara da VGX já sentem uma diminuição na disponibilidade de anta e
jabuti, tanto do amarelo como do vermelho. No caso do jabuti muitas vezes o caçador
passa o dia inteiro caçando e não encontra nenhum, somente com cachorro bom de
jabuti se encontra bastante. Acham que foi justamente a caçada com cachorro que
acabou com esse animal de caça:

“Lugar que tem jabuti o bicho tem faro mesmo, sai de um e vai enganchando no
outro,(...) a gente não porque a gente só acha o que os olhos enxergam.”
(Caçador Arara da aldeia Terrawangã, 29/01/15)

A redução na disponibilidade de jabutis é uma situação que já havia sido observada por
Patrício et al., (2009):

“No passado tinha muito jabuti, tinha dia que a gente voltava com 10, 15 e até 20 jabutis
(...) hoje em dia só encontra 3 ,2,1 e às vezes volta da caçada sem pegar”.

(Caçador Arara da aldeia Terrawangã, 08/2008)

7.1.5. Possíveis impactos da estrada

A finalização da abertura da estrada que estão realizando e que pela primeira vez dará
acesso por terra a TI Arara da VGX poderá trazer impactos para a fauna utilizada como
caça pelos Arara. Por um lado ele é vista como uma área que será boa para caçar por
que vai facilitar o acesso a uma parte dessa terra indígena difícil de atingir a pé dando
acesso a áreas utilizadas como refúgio pelos animais de caça com a possibilidade dos
queixadas se “afastarem” novamente como aconteceu no passado.
Por outro lado vai facilitar a chegada de estranhos e invasores vindo de motos a partir
da Ressaca, caçadores, madeireiros e até mesmo pessoas que trabalhavam na
construção da UHE de Belo Monte e que com o final do trabalho não regressam para
suas regiões:

“Por uma parte pode trazer coisas boas, num sabe, mas pode trazer o contrário e
qualquer contrário varar aqui, carro, gente diferente.”
(Morador mais antigo da aldeia Terrawangã, 26/01/15)

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS E ENCAMINHAMENTOS

Os Arara da TI Arara da VGX são provavelmente o povo com a maior vulnerabilidade


socioambiental, aqui entendida como a “interação entre fatores sociais e ambientais que
determinam diferentes capacidades de resposta frente a eventos extremos que acabam
por gerar situações de risco” (Gamba, 2011), na região da Volta Grande do Xingu, diante
das possíveis transformações que a UHE de Belo Monte poderá provocar. Os principais
fatores que colocam os Arara da TI Arara da VGX nessa condição de vulnerabilidade
são:
- Subsistência fortemente baseada na utilização dos recursos naturais da região através
das atividades de pesca e caça,
- Baixo acesso a recursos econômicos com grande dependência da atividade de pesca
comercial como principal fonte de renda para a maioria das famílias,
- Baixa escolaridade bem como baixo acesso e domínio das relações com as instituições
governamentais e suas políticas públicas,
- Ausência das mínimas condições de saneamento básico como banheiros e acesso a
água de qualidade,
- Forte dependência de sementes e manivas externas para a realização de seus cultivos
com indicativos de redução nos últimos anos da área total cultivada por habitante,
- Ausência de projetos de geração de renda implantados,
- Rompimento do isolamento físico com a abertura da estrada.

As possíveis transformações causadas pelo início da operação da UHE de Belo Monte


poderá levar os Arara da TI Arara da VGX a uma situação de insegurança alimentar com
transformações nas atividades de pesca e caça de subsistência e perda da sua mais
importante fonte de renda através de transformações na pesca comercial. Situação
agravada pelo fato da ausência de projetos de geração de renda e alternativas
econômicas implementadas.
Um dos pontos fortes dos Arara da TI Arara da VGX nesse processo é o seu forte
sentimento comunitário com um líder antigo, Seo Leôncio Arara ainda mantendo uma
extensa parentela ao seu redor sem se atomizarem com a chegada dos bens e serviços
trazidos após a implantação da UHE de Belo Monte. Os Arara, principalmente na aldeia
Terrawangã, ainda realizam muitas atividades coletivamente com a participação de
parentes e agregados próximos com forte sentimento de grupo.
Os Arara da TI Arara da VGX enxergam como oportunidades e alternativas de renda
para o seu futuro:
- Possibilidade de terem cotas anuais para captura do carizinho zebra de seu território
determinada pelo órgão ambiental responsável para a comercialização internacional,
- Criação de peixes em tanque redes no rio Xingu,
- Criação de galinha caipira cujo preço nos mercados da região estaria entre 40,00 e
60,00 reais,
- Manejo e aproveitamento comercial do cacau plantado nos lotes de colonos que estão
no processo de desintrusão da TI Arara da VGX. De acordo com os Arara existiram mais
de 50 mil pés de cacau, mas que não estão sendo manejados há quatro anos desde
que se deu início ao processo de desintrusão da área pela FUNAI.

A liderança da aldeia Guary-Duan que não faz parte do PBA da UHE de Belo Monte vê
também a chegada da mineração de Belo Sun como uma oportunidade para ter o PBA
de sua aldeia e seus projetos implantados, opinião que não é compartilhada pelos
moradores da aldeia Terrawangã.

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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VIEIRA, M. E. G.; SILVA, C. E.; LIMA, F. P. N.; CARVALHO JR., J. R. & PIMENTEL, N.
M. 2009. EIA/RIMA AHE Belo Monte, Estudo Socioambiental - Componente
Indígena – Terra Indígena Paquiçamba. Brasília. 366 p.

VIVEIRO DE CASTRO, E. & ANDRADE, LÚCIA M.M. 1988. Os povos indígenas do


médio Xingu. In: Santos, L. A. O. & Andrade, L. M. M. (orgs). As hidrelétricas do
Xingu e os povos indígenas. Comissão Pró-Índio de São Paulo. 135 – 145.

ZUIDEMA, P. A. 2003. Ecology and management of the Brazil nut tree (Bertholletia
excelsa). PROMAB, Scientific series 6. 112 p.

10. EQUIPE

Nome do Responsabilidade no
Formação profissional
profissional trabalho

Ecólogo e Indigenista Mestre em Ecologia


Levantamento em campo e
Hilton S. Nascimento Aplicada e Conservação pela University of East
elaboração do relatório
Anglia, Reino Unido

Elaboração dos mapas e


Engenheira Ambiental, Mestre em Ciências da
Renata Utsunomiya apoio no levantamento em
Engenharia Ambiental
campo

Renata Barros
Bióloga, Mestre em Ciência Ambiental Revisão do relatório
Marcondes Faria
Anexo I: Lista de presença das reuniões e atividades de grupos focais e
expedições realizadas
Anexo II: Censo populacional da Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu

Censo Populacional da
Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu

Aldeia Terrawangã: 100 pessoas (21 famílias)


Núcleo Vista Alegre: 9 pessoas (2 Famílias)
Sítio Porto Alegre: 12 pessoas (2 famílias)

Total Terrawangã (aldeia mais núcleos associados): 121 pessoas (25 famílias)

Aldeia Guary-Duan: 27 pessoas (6 famílias)

População total da TI Arara VGX: 148 pessoas (31 famílias)

Obs: neste censo os nomes listados não são necessariamente fieis aos nomes que estão nos
documentos e sim como as pessoas dizem ser o seu nome. A FUNAI também está mudando os
documentos incluindo o nome do povo como sobrenome.

Março
2015
Aldeia Terrã-Wangã:
Família 1
Data de
Nome dos Pais Parentesco Sexo Idade
Nascimento
Leôncio Ferreira Arara (Nego) M 77 02/08/1938
Iracema dos Passos de Oliveira (Cema) F 80 24/06/1935
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Luís Ferreira Arara (Caboco) Filho M 49 25/08/1966
Francisco Ferreira do Nascimento (Piroco) Filho M 51 22/08/1964
Daniel dos Passos de Oliveira Cunhado M 69 16/05/1946
Manoel Vieira Araújo de Castro * M 21 ?

* Não tem pouso certo.

Família 30
Data de
Nome Parentesco Sexo Idade
Nascimento
Benedito Ferreira do Nascimento (Dito) Irmão M 48 ?
Data de
Nome dos netos Parentesco Sexo Idade
Nascimento
Lucas dos Passos Ferreira Arara * Neto M 10 13/03/2005
Kauãn dos Passos Arara * Neto M 8 12/12/2007
Arlane dos Passos Curuaia * Neta F 4 22/07/2011

** Filhos da Branca que estão sendo criados pelo avô o Benedito (Dito).

Família 2
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Jorge Mendes Arara M 34 06/04/1981
Maria Ivanice Teixeira Arara (AIS) F 31 22/10/1984
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Iara Juliany Teixeira Arara F 10 02/08/2005
Gabriel Henrique Teixeira Arara M 7 02/07/2008
Guilherme Teixeira Arara M 4 15/08/2011

Família 3
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Adalto Ferreira Arara (Dalto) M 23 16/08/1992
Lidice de Sousa Oliveira (Monice) F 29 18/12/1986
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Mayaká Oliveira do Nascimento F 3 21/05/2012
Iya Karawá Oliveira do Nascimento M 3 meses 19/10/2014

Família 4
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Josias Mendes Gonçalves (Barba de Puba) M 62 28/09/1953
Maria José Ferreira Arara F 55 17/10/1960
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Clemerson Mendes Arara * M 17 04/11/1998
Dhemerson Mendes Arara * (Roxinho/Gema) M 14 11/06/2001
Ricardo Barbosa Arara (Baby) ** M 10 18/11/2005
Graciele Assunção Mendes *** F 9 10/04/2006
Rayssa Mendes Arara F 7 19/06/2008
Raisso Mendes Arara M 5 13/06/2010

* Netos do Josias, filhos da Joselha (Nega).


** Netos do Josias, filhos da Josilene (Duquinha).
*** Neta do Josias, filha do Josildo (Zildo).

Família 5
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Luís Cláudio Araujo Arara (Bereca) M 30 21/08/1985
Janilce Barbosa Pimentel (Bia) F 21 10/08/1994
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Maria Clara Pimentel Nascimento F 7 06/03/2008
Ana Caroline Pimentel Araújo F 6 04/11/2009
Luiz Otávio Barbosa Pimentel M 4 22/10/2011
Data de
Nome Sexo Idade
Nascimento
Aroldo Tavares Costa (Grande) M 35 15/12/1980
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Alisson da Silva Costa (Espeto) M 10 28/02/2005

Família 6
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Josildo Mendes Arara (Zildo) M 30 27/02/1985
Raisa de Almeida dos Santos F 17 11/08/1998

Família 7
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Francisco das Chagas Pereira da Silva (França) M 37 25/04/1978
Joselha Mendes Arara (Nega) F 32 13/02/1983
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Andreina da Silva Arara F 12 12/01/2003
Jamile da Silva Arara F 9 21/04/2006
Kaiaká Mendes Arara F 8 06/10/2007
Nayara da Silva Arara F 7 21/11/2008
Kaila Lorrane F 5 21/02/2010
Maum Arara Ferreira da Silva M 4 13/05/2011

Família 8
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Edcarlos Pereira Arara (Di) M 27 21/02/1988
Mariana dos Passos Ferreira F 26 10/11/1989
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Apyteny Nhogmonroti Arara Ferreira Moura F 8 19/09/2007
Aby Arara Ferreira Moura F 5 23/08/2010

Família 9
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Ednaldo Pereira Arara M 47 06/09/1968
Maria do Perpétuo Socorro Ferreira Arara (Peta) F 49 17/04/1966
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Edcleudo Pereira Arara (Léu) M 19 23/03/1996
Edilelsson Pereira Arara (Chicote) M 17 29/01/1998
Ednelson Pereira Arara (Txuca) M 16 26/08/1999
Edson Junior Pereira Arara (Steba) M 14 21/04/2001
Eguinaldo Tiago Pereira Arara M 13 08/09/2002

Família 10
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Edson Marlon Pereira Arara (Bicozinho) M 21 22/06/1994
Luciene de Araújo da Silva (Xuxa) F 28 20/05/1987
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Larissa da Silva Costa F 12 10/06/2003
Victor de Araújo da Silva Arara M 1 11/03/2014

Família 11
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Josimar Mendes Arara (Leléu) M 28 04/03/1987
Elissandra dos Passos Moura (Lica) F 23 26/09/1992
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Kawy Moura Goncalves Arara M 2 05/04/2013

Família 12
Data de
Nomes Parentesco Sexo Idade
Nascimento
Arlindo dos Passos Arara (Bajau) M 39 29/07/1976
Data de
Nomes
Nascimento
Jackson dos Passos Arara * (Preto) Filho de criação M 27 18/08/1988
Luís Carlos dos Passos Arara Irmão Bajau M 34 01/07/1981

* Sobrinho do Bajau.

Data de
Nomes Parentesco Sexo Idade
Nascimento
Zélia dos Passos Arara (Lodora) Irmã Bajau F 26 25/07/1979
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Helber dos Passos Arara Filho de criação M 16 05/04/1999
Tagati dos Passos Arara F 6 30/01/2009

Família 13
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Fernando dos Passos Arara (Kinho) M 41 30/05/1974
Arlete Ferreira Arara (Nega) * F 33 19/08/1982
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Gerdesson dos Passos Arara (Gel) M 15 08/09/2000
Diego dos Passos Arara M 13 20/12/2002
Torotji Jailson dos P. Arara M 10 11/04/2005
Orotjãn dos Passos Arara M 8 02/06/2007
Otobi dos Passos Arara M 5 14/06/2010

Família 14
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Eronaldo Curuaia (Capelobo) M 45 13/12/1978
Maria Aparecida de Almeida Xipaya (Cida) F 42 08/07/1973
Data de
Nome dos filhos Sexo Idade
Nascimento
Ivailson de Almeida Santos M 21 05/07/1994
Raí de Almeida dos Santos M 18 09/02/1997
Benedito de Almeida Xipaya (Bene) M 9 29/08/2001
Ângela de Almeida Xipaya F 14 04/08/2002
Vanessa de Almeida Xipaya F 11 17/05/2004

Família 15
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Lucimeire Silva do Nascimento (Branca) F 23 24/01/1991
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Arlison dos Passos Arara M 6 13/08/2009
Maria Eduarda do Nascimento Curuaia F 2 06/08/2013
Família 16
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Francelino Feitosa Nunes (Gago) M 28 11/04/1987
Josilene Mendes Arara (Duquinha) F 23 04/08/1991
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Franciely Feitosa Arara F 3 16/08/2012

Família 17
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Josinei Mendes Arara (Negão) AISAN M 28 04/03/1987
Janaina Guedes Arara (Juliana) F 20 27/02/1995
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Jociney Guedes Arara M 3 01/10/2012

Família 18
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Josivan Nascimento Gonçalves (Bicó M 21 14/07/1994
Elindalva Juruna de Moura (Nê) F 18 08/05/1997
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Bruna Juruna Gonçalves F 3 02/11/2012

Família 19
Data de
Nome Sexo Idade
Nascimento
Edson Carlos Pereira Arara (Veim) M 24 29/03/1991
Josiane Mendes Arara (Preta) F 17 25/01/1998
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Sofhia Mendes Arara F 3 25/11/2012
Kjanã dos Passos Arara F 1 09/11/2014

Família 20
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Sidney Almeida Santos M 22 08/05/1993
Taliá de Moura Curuaia F
Núcleo Vista Alegre:

Família 27
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Antônio Baltazar de Almeida M 57 11/07/1958
Dalvanira Ferreira Barbosa Arara (Dalva) F 46 06/05/1969
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Francisca Barbosa da Silva Arara F 27 25/08/1988
Sidney Barbosa da Silva Arara (Deidi) M 19 19/11/1996

Família 29
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Jecirlei Barbosa da Silva Arara (Cirley) M 29 27/08/1986
Maida Costa Curuaia F 26 25/11/1989
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Eduardo Curuaia da Silva M 7 04/11/2007
Maria Eduarda Curuaia da Silva F 5 25/04/2010
Leticia Costa Curuaia F 2 13/12/2013

Sítio Porto Alegre:

Família 32
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Welliton José Curuaia (Corró) M 48 31/03/1967
Maria Madalena Rodrigues da Costa Curuaia F 49 22/07/1966
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Gelisson Costa Curuaia M 18 12/05/1997
Aldeane Costa Curuaia F 16 17/04/1999
Helison Costa Curuaia M 14 10/02/2001
Jaciane Costa Curuaia F 12 04/05/2003
Jefferson Costa Curuaia M 10 29/08/2005
Data de
Nome Sexo Idade
Nascimento
José Aparecido Gomes (Mineiro) * M 64 31/03/1967

* Caseiro que cuida do sítio quando eles saem.

Família 28
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Jecircley Barbosa da Silva Arara (Kety) M 23 26/04/1992
Claudiane Costa Curuaia (Jaquira) F 21 28/08/1994
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Juciele Curuaia da Silva F 1 11/06/2014
Clarice Curuaia da Conceição F 05/07/2011

Aldeia Guary-Duan:

Família 22
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
José Carlos Ferreira Arara (Zé Carlos) M 36 31/12/1980
Elinalva Juruna de Moura (Lindi) F 19 19/02/1996

Família 23
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Francisco Ferreira Arara M 52 27/12/1963
Maria do Amparo Costa Nascimento F 56 06/06/1959

Família 24
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
José Alves Galdino da Silva (Xipaya) Zezão M 42 11/09/1973
Maria de Lourdes Passos Arara F 32 25/09/1983
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Joice Arara Xipaia F 11 27/01/2004
José Fernando Arara M 10 14/09/2005
Nhaguri Arara Ferreira da Silva F 8 17/07/2007
Paru Arara Ferreira da Silva F 6 20/04/2009

Família 25
Data de
Nome do Pai Sexo Idade
Nascimento
José Arara dos Santos (Pedra Cega) M 42 19/02/1973
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Max Juruna dos Santos M 17 29/12/1998
Clebson Juruna dos Santos M 11 01/11/2004
João Paulo Juruna dos Santos M 9 05/09/2006
João Pedro Juruna dos Santos M 9 05/09/2006

Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Denilson Arara Juruna (Cena) M 19 25/04/1996
Cleidiane Juruna dos Santos F 14 19/06/2001

Família 26
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Maikon Juruna dos Santos M 19 19/09/1996
Mikaelly da Costa Pereira F 16 15/10/1999
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Maikon Kaio da Costa Juruna M 2 30/10/2013
Larissa Manuelly da Costa Juruna F 1 10/09/2014

Família 33
Data de
Nome dos Pais Sexo Idade
Nascimento
Luís da Silva Kayapó (Pau Dé) M 34 08/06/1981
Rosana dos Passos Oliveira (Curica) F 28 11/03/1987
Data de
Nome dos Filhos
Nascimento
Nhyjre Oliveira Kayapó (Fabrício) M 11 27/01/2004
Bep-ngô Oliveira Kayapó (Felipe – Kibe) M 10 26/09/2005
Ngrejdjore Oliveira Kayapó F 8 09/04/2007
Piydjô Oliveira Kayapó M 5 29/06/2010
Anexo III: Questionário sobre a atividade de caça

Questionário caça

1. Nome: _______________________________________________________
2. Tem espingardas? Quantas e qual? Se não tem como faz?
_______________________________________________________________
3. Quanto custa o cartucho? Tem dificuldade para comprar?
_______________________________________________________________
4. Te cachorro de caça seu? Quantos. Conseguiu onde?
_______________________________________________________________
5. Quais são os três animais que você mais caça?
_______________________________________________________________
6. Nome de 4 locais que você prefere caçar na cheia.
_______________________________________________________________
7. Nome de 4 lugares que você prefere caçar na seca?
_______________________________________________________________
8. Qual foi a última vez que você foi caçar? Pegou algo?
_______________________________________________________________
9. Hoje você está caçando menos ou mais do que antigamente? Por quê?
_______________________________________________________________
10. Você acha que a caça é suficiente para a alimentação da sua família?
_______________________________________________________________
11. Vende ou já vendeu carne de caça? Quando, o que, para quem, preço.
_______________________________________________________________
12. Percebe algum problema na caça hoje?
_______________________________________________________________
13. Desde quando isso acontece?
_______________________________________________________________
Anexo IV: Detalhes das roças cultivadas pelos Arara da TI Arara da VGX no ano
de 2013 separadas por aldeias e núcleos populacionais

Aldeia Terrawangã:

Tamanho medido Tamanho


Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

Seis meses

Mandioca Tachizona

Sacaí

Cacau
Macaxeira
Da bahia

Prata

Roxa

Peruá
Banana
Branquinha

Comprida

Peruazinha/costela
de vaca

Milho Comum

Ednaldo 2,1922 8 linhas Branca


Batata doce
Vermelha

Pequeno

Abacaxi Grande

Ananás

Cabeludo

Liso com raias


Maxixe
Liso amarelão,
grande

Redonda
Melancia
Comprida rajada

Vermelho
Urucum
Verde

Cacau Gema de ovo


Cururu

Roxo

Malagueta

Pimenta de Malaguetão
arder
De cheiro
amarelinha

Pimenta de 3 tipos mas não


temperar sabe o nome

Abobrinha

Redonda grande
Jerimum
Pescoçudo

Grande

Branquinho
pequeno
Feijão
Branquinho grande

Cará 1 tipo

Quiabo 1 tipo

Pepino 1 tipo

Tanja
Limão
Pequeno

Lima
Laranja
Tangerina

Coco da 1 tipo
praia

Ingá 1 tipo

Tamanho medido Tamanho


Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

Mandioca Seis meses

Milho Comum
Fernando Kinho Não foi medida 2 linhas
Maxixe Com espinho

Mamão 1 tipo
Tamanho medido Tamanho
Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

Mandioca Seis meses

Milho Da Agrar/Engetec
Não foi possível de
medir por que o Branquinha
Bajaú trator passou por 4 linhas Banana
cima para abrir as Costela de vaca
roças novas
Cará Roxo

Abacaxi Comum

Tamanho medido Tamanho


Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

Não sabe as
Mandioca
etnovariedades

Milho Pipoca

Redonda
Melancia
Não foi medida,
Comprida
Edson Carlos estava com muito 8 linhas
mato
Abóbora Abobrinha

Maxixe Espinhudo

Verde
Urucum
Vermelho

Tamanho medido Tamanho


Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

Mandioca Tachizinha

Cará Roxo

Não medida Maxixe ?


Josimar Leléu 2,5 linhas
Coco da
1 tipo
praia

Laranja 1 tipo
Tamanho medido Tamanho
Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

Mandioca Seis meses


Jorge Não foi medida* 2 linhas
Abacaxi Da Agrar/Engetec

* Foi destruída pelo trator para abrir a aldeia nova

Tamanho medido Tamanho


Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

Sacaí
Mandioca
Seis meses

Macaxeira Olho roxo

Comum
Milho
Pipoca

Comum
Abacaxi
Ananás

Branco

Cará Roxo

Bem roxinho
Não foi medida,
Comum comprida
Edcarlos muito fechada com 8 linhas
mato Melancia
Redonda rajada

Cabeludo
Maxixe
Liso amarelo

Cana-de-
Branca
açúcar

Grande
Jerimum
Comprido

Feijão Branco pequeno

De cheiro
Pimenta
De arder

Pepino 1 tipo
Tamanho medido Tamanho
Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

Seis meses
Mandioca
Não sabe o nome

Milho Da Agrar/Engetec
Não foi medida,
Zildo 4 linhas
muito mato
Melancia Comprida

Maxixe Cabeludo

Feijão Branco

No Bento, boca do Bacajá, fora da TI Arara da VGX:

Tamanho medido Tamanho


Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

2 tipos, mas não


Mandioca
sabe o nome
Benedito Não deu para medir 3 linhas
1 tipo, não sabe o
Milho
nome

Na comunidade São Francisco, fora da TI Arara da VGX:

Tamanho medido Tamanho


Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

Tachi
Mandioca
2 tipos que
nasceu sozinha

Milho Da Agrar/Engetec

Comum
Abacaxi
Ananas
Francelino Não foi medida 6 linhas
Maxixe Cabeludo

Redonda rajada
Melancia
Japonesa
(comprida amarela)

Cará Roxo

Quiabo 1 tipo
Na aldeia Guary-Duan:

Tamanho medido Tamanho


Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

Seis meses
Mandioca
Não sabe o nome

Macaxeira Olho roxo

Não foi medida, Milho Não sabe o nome


Francisco muito mato e 4 linhas
espinho Cará Roxo

Maxixe Cabeludo

Jerimum Redondo

Pepino 1 tipo

Na aldeia Pykaiako, TI Trincheira Bacajá:.

Tamanho medido Tamanho


Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

Tachizona

Baixinha
Mandioca
3 tipos, não sabe
o nome

Branca
Macaxeira
Olho roxo

Do índio (colorido)

Pipoca
Não foi medida por
Milho
Luís Kayapó estar em outra terra 6 linhas
indígena Comum

Da Agrar/Engetec

Cinzinha

Cará Inhame grande

Comum roxo

Maxixe Cabeludo

Branca
Batata doce
Roxa
Amarela

Inhame 1 tipo

Roxinha
Cana-de-
açúcar
Branca

Quiabo 1 tipo

Pepino 1 tipo

Ananás
Abacaxi
Comum

Abóbora 1 tipo

Redonda rajada
Melancia
Comprida branca

Havaí
Mamão
Comum

Coco da
1 tipo
bahia

Biriba 1 tipo

Acerola 1 tipo

Graviola 1 tipo

Tanja 1 tipo
(tangerina)

Cupuaçu 1 tipo

Núcleo Vista Alegre e Pedra Cega:

Tamanho medido Tamanho


Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

Najá
Mandioca
Tachi

Macaxeira Cacau
José Pedra Não foi medida, com
3 linhas Prata
Cega muito mato
Branquinha
Banana
Peruá

Roxa branca
Comprida

Milho Não sabe o nome

Roxo
Cará
Branco

Maxixe Cabeludo

Redonda
Abóbora
Abobrinha

Melancia Comprida

Tamanho medido Tamanho


Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

Mandioca Anajá

Macaxeira Não sabe o nome

Milho ?

Maçã

Peruá

Banana Prata

Comprida

Anajá

Abacaxi Comum
Baltazar 0,1123 2 linhas
Abóbora Abobrinha

Melancia Redonda

Roxo
Cará
Branco

Maxixe Cabeludo

Malagueta
Pimenta
De cheiro

Quiabo 1 tipo

Batata doce ?
Tamanho medido Tamanho
Dono da roça com o GPS de acordo Cultivos Etnovariedades
(hectares) com o dono

Mandioca Anajá

Milho Baixinho

Roxa branca

Branquinha

Cirley 0,0910 2 linhas Banana Comprida

Anajá

Peruá

Cará Roxo

Melancia Redonda
Anexo V: Questionário sobre a pesca comercial

1. Nome: _______________________________________________________
2. Como está a pesca comercial hoje? Tem algum problema? Desde quando?
_____________________________________________________________________
_________________________________________________________
3. Alguém participa com você? Quem?
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4. Que peixe que você pega mais por ordem de quantidade?
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5. Vende pra quem? Onde?
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6. Quais são os 4 locais mais importantes para a pesca comercial para você por ordem
de importância?
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Anexo VI: Questionário sobre a pesca de carizinho

1. Nome: _______________________________________________________
2. Como está a pesca de carizinho? Tem algum problema?
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3. Alguém participa com você? Quem?
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4. Que carizinhos que você pega mais por ordem de quantidade?
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5. Vende pra quem? Onde?
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6. Quais são os 4 locais mais importantes para a pesca de carizinho para você por
ordem de importância?
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