Sie sind auf Seite 1von 9

POLÍTICA

Reflexões sobre a
publicidade
eleitoral
brasileira:
o emissor e sua
contribuição para a
consolidação da
democracia COMO QUALQUER OUTRO fenômeno comuni-
cativo, a publicidade eleitoral nos coloca sob
uma grande complexidade de conhecimentos
desenvolvidos por teóricos que contribuem
com muitos pontos de vista, aportando
enfoques diferentes. O que julgamos mais
importante na publicidade eleitoral e na
propaganda política1 é que elas, no Brasil,
pelo tempo que duram e pela maneira como
são tratadas, se tornam, por si só, os elementos
mais importantes na decisão de voto.2

Cotteret (1973:14) afirma que “nas sociedades


em vias de desenvolvimento, a eleição tem
um alcance paradoxalmente democrático (...)
e se comprovou que os procedimentos
eleitorais favorecem a integracão social e
política dos indivíduos e dos grupos que
ascendem à política”. A prática das eleicões
como meio de desenvolvimento da educacão
cívica justifica, como muito importante, uma
análise dos que contribuem para a cultura
política da sociedade, ou seja, daqueles que
emitem as mensagens eleitorais, já que a
educacão cívica , da maneira como é tratada,
contribui para a formacão/deformação do
imaginário político dos cidadãos.

Os conhecimentos a respeito das duas técnicas


de comunicação massiva foram assimilados
pelos profissionais de Publicidade e Propa-
Neusa Demartini Gomes ganda, sobretudo os que se referem à Escola
Doutora em Sociologia da Comunicacão Política
Universidad Complutense de Madrid Funcionalista Americana e à Psicologia
Professora da FAMECOS/PUCRS Motivacional e do Comportamento e transfe-

142 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 7 • novembro 1997 • semestral


ridos para a Comunicação Política, sem levar- infelizmente, cada vez mais parecida com a
se em conta que candidatos e partidos têm comercial.
características intrínsecas importantes, que
os diferenciam do objeto da publicidade Os partidos políticos e os candidatos não
comercial. usam somente a publicidade, como também
outras formas, utilizadas na comunicação
Para os publicitários que se ocupam das comercial, como as Promoções, as Relações
campanhas e que, em geral, são como Públicas e, embora a denominação não seja
vendedores de mercadorias dedicados a correta, o Merchandising.
eleitoralmente vender candidatos, a diferença
mais notável entre o mercado econômico e o Quando um candidato, um partido ou uma
político consistiria em que o nível de coligação, situado num espaço político
rentabilidade se atinge no econômico com concreto, e que emite mensagens eleitorais
menos esforço do que no político, já que, cujos conteúdos não se diferenciam em quase
como diria McGinnis (1970:48), “ não se pode nada daqueles dos demais candidatos,
vender um candidato como um produto”. No partidos ou coligações adversárias3 na disputa
caso do produto, tudo o que faz falta é que dos eleitores flutuantes (aqueles situados
atraia a atenção. Dois por cento de com- ideológicamente alinhados ou próximo destas
pradores adicionais farão com que a cam- formações) que mais possam interessar em
panha valha a pena. Em política fará falta um tal campanha, vai ser a fonte de tais mensagens
categórico cinqüenta e um por cento do (e mais especificamente, sua imagem), a que
mercado e isto não se pode conseguir com provavelmente decidirá o resultado.
truques”.
Um exemplo bastante representativo foi o da
É preciso ter sempre presente quando se eleicão do ex -presidente Collor, favorecendo
planeja uma campanha eleitoral que este a utilização das técnicas mais perversas de
processo não envolve os elementos que comunicação destrutiva de imagens do
configuram um negócio jurídico centrado na adversário e, em seguida, bastante banali-
compra. Não há intercâmbio patrimonial, ou zadas. Como a oferta de partidos e de
seja, um trânsito de mercadorias como candidatos é muito ampla, as opções se
acontece na publicidade comercial, onde um confundem, num leque onde os matizes
agente entra com um valor capaz de ser ideológicos ficam difíceis de serem percebidos
expressado em dinheiro (comprador),e o pelo cidadão pouco informado, facilitando a
outro com um valor expressado em um bem manipulação.
ou uma prestação de serviço (vendedor).
No Brasil há uma dificuldade antológica no
Embora não se possa equiparar a votação uso e difusão dos símbolos dos partidos.
eleitoral a um contrato de compra e venda, Nossos candidatos preferem usar símbolos
sabemos que em países como Estados Unidos, próprios, o que aumenta o nível de desinfor-
Brasil e outros também americanos, se faz mação e de confusão do eleitor. Não há, como
um tipo de comunicação publicitária dos nos países europeus ( e mesmo nos Estados
candidatos aos cargos eletivos, que lhes dá Unidos), símbolos, cores e logotipos que
um ar mercadológico nada dissimulado, capaz ajudam, com seu amplo uso por todos os
de confundir-se com uma mera publicidade candidatos e por sua grande divulgação, a
comercial. formar o referencial simbólico político estável.4

Nos anúncios eleitorais brasileiros, em geral, O candidato brasileiro é um tipo de emissor


os produtos são trocados por candidatos e a muito mais comum do que em outros países,
técnica de comunicar candidaturas está, principalmente os europeus onde a fonte

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 7 • novembro 1997 • semestral 143


maior e mais importante sempre será o Partido sua constituição política”. Para este autor, os
Político. partidos devem ser entendidos como agrupa-
ções que, concretamente, intermedeiam entre
Diferente dos Estados Unidos, modelo de grupos (de interesse) de uma sociedade e do
campanhas para os nossos políticos e Estado, que participam na luta pelo poder
publicitários baseadas muito mais na imagem (domínio) político e na formação da vontade
do candidato e nas alianças entre máquinas política do povo.
políticas locais independentes de ideologias,
os países europeus, em sua maior parte, Tal relativismo leva à seguinte definição de
apoiam suas campanhas na força do partido. partido político: “toda associação voluntária
perdurável no tempo, dotada de um programa
Citamos como exemplo a Inglaterra, país no de governo da sociedade em seu conjunto,
qual, em eleições locais, o nome dos candidatos que canaliza determinados interesses seto-
é, em muitos casos, até desconhecido da riais, e que aspira exercer o poder político ou
população eleitoral, e onde os eleitores levarão participar nele, mediante sua representação
em conta na escolha dos seus líderes a sua reiterada aos processos eleitorais.” O processo
filiação partidária, no caso trabalhista, liberal de seleção dos componentes da comunidade
ou conservadora. política de um governo democrático se realiza
de forma bastante geral, e através dos partidos
Desta forma, o peso da campanha repousa e, por estas razões, eles são instituições
sobre a organização central do partido e seu necessárias para a manutenção do sistema
líder majoritário, o que evita, em muito, os democrático. Embora tenham como primeiro
ataques pessoais e o desgaste das imagens objetivo a conquista do poder, seu mais
dos candidatos. verdadeiro e principal objetivo será o de
conseguir o domínio efetivo dos mecanismos
A seguir uma análise dos possíveis emissores do governo de uma comunidade e, uma vez
políticos, na sua forma de comportamento conseguido, o objetivo então será o de
com vistas às eleições brasileiras. assegurar-se ou manter-se no mesmo.

O partido político Por esta premissa, a definição do norte-


americano Schattchneider (1964:61) parece
Os partidos são instituições necessárias para ser a mais clara e a mais concisa: “ um partido
a manutenção do sistema democrático, mas é, antes de tudo, um intento de alcançar o
não há, hoje em dia, um sistema político que poder, entendendo por tal, o controle do
prescinda deles. Segundo Garcia (1985:11), aparelho estatal”.
“tanto nos regimes liberais como nos
autoritários, os partidos políticos organizam Apesar do Brasil já fazer parte dos países
(ou disciplinam) os cidadãos, articulam (ou ocidentais democráticos, seu quadro parti-
reprimem) interesses, selecionam (ou aniqui- dário ainda não se definiu, e após cada eleição
lam) elites políticas, possibilitam (ou falseiam) há modificações nele. O que predominou no
processos eleitorais, legitimam (ou socavam) Brasil até agora foi um quadro de indefinição
as respectivas formas de dominação”. partidária bastante acentuado e marcado pelo
surgimento de dissidências, que logo se
Lenk (1980:61) comenta que “não é possível transformam em novos partidos, e pelo
estabelecer critérios para a caracterização dos trânsito freqüente de políticos de um partido
partidos políticos em todas as sociedades. Só a outro. A falta de consolidação estrutural
se pode formular o conceito de partido político contribui, sem dúvida para um outro quadro
levando em conta a situação de uma sociedade, brasileiro bastante realista: a dificuldade de
com atenção a certos traços fundamentais de desenvolver a cultura cívica na população em

144 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 7 • novembro 1997 • semestral


geral e, conseqüentemente, a sua participação brasileira. Uma política deliberada do período
como cidadão. O imaginário político brasileiro democrático comprendido entre 1945-1964
e o seu referencial simbólico, criados através foi a de impedir o fortalecimento dos partidos
da atuação cultural que os partidos também nacionais que, de alguma maneira, pudessem
têm como função, e que é cumprida de forma competir com o poder central. Portanto, a
irreverente, ficam prejudicados por esta debilidade atual é fruto da herança de um
indefinição. O amadurecimento político tarda passado democrático, cuja fragilidade
a acontecer na população, que acaba tendo partidária é, antes de tudo, um sintoma de
atitudes céticas, debochadas, irreverentes e, sua não institucionalização, em grande parte
sobretudo, imaturas, com relação às questões decorrente do peso excessivo da estrutura
políticas, as quais servem de base para a estatal no sistema político. A indefinição
sustentação da democracia. partidária gera uma fraqueza nas instituições,
o que se refletirá na prática da corrupção.
Kinzo (1990:267), analisando a situação de Para Décio Freitas (1997), “ a inexistência de
instabilidade, assim se refere a ela: “uma partidos políticos organizados é uma das
rápida olhada sobre a composição partidária principais causas da corrupção”.
no Congresso, desde a reforma de 1979, é
suficiente para se constatar que a marcada Para estes analistas, outro fator seria a herança
transição tem estado presente também no do autoritarismo, quando os militares se
sistema partidário brasileiro. Em menos de preocuparam em manter em funcionamento
dez anos, a representação partidária no algumas das instituições representativas do
Congresso Nacional sofreu pelo menos sete sistema democrático. Tanto que, para
alterações quando ocorreram somente duas O’Donnel (1988), “independentemente de
eleições legislativas desde 1982 (1982 e 1986). se tratar ou não de uma simples preocupação
em revestir o regime militar de uma fachada
Logo, quem pretenda avaliar a atuação dos democrática, o fato é que a preservação do
partidos em seu locus principal – o Parlamento Congresso, da rotatividade do Executivo,
– vai se deparar com a primeira dificuldade das eleições legislativas e das atividades
de identificar quem, efetivamente, compõe a político-partidária, além de institutos
bancada de cada partido. Esta instabilidade formais, acabaram por produzir impacto
do quadro partidário não é simplesmente sobre o sistema político, particularmente,
conseqüência do excessivo personalismo e do quando teve início o processo de libe-
descomprometimento ideológico-pragmático ralização controlada desencadeada na
que caracterizaria nossa prática política, nem gestão do presidente Geisel. Por um período
um mero reflexo da desarticulação e da de 20 anos de domínio militar o país passou
desorganização da sociedade brasileira. Uma por três experimentos de política partidária,
explicação mais consistente deve levar em desde o bipartidarismo até o pluriparti-
consideração outros fatores que confluem para darismo”.
dificultar o desenvolvimento dos partidos
brasileiros”. As modificações não pararam aí: Analisando as três últimas campanhas
a cada ano eleitoral nos deparamos com um eleitorais municipais, para o cargo de
quadro partidário diferente e, se não bastasse, vereador, em Porto Alegre (RS), se nota a
com coligacões diferentes e também realiza- acentuada proliferação de partidos políticos
das, muitas vezes, sem nenhum critério nacionais que a cada eleição inscrevem
ideológico. candidatos ao cargo, quando a tendência
mundial hoje é a polarização em torno de
Segundo Lamounier e Meneguello (1976), a dois partidos fortes, e os vários outros
debilidade do sistema partidário brasileiro partidos, regionalizados, seriam o suporte
foi uma constante em toda a história política para as coligações locais.

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 7 • novembro 1997 • semestral 145


Além do surgimento de uns e extinção de Estados Unidos e nos demais países ameri-
outros, os brasileiros ainda se deparam, para canos, se deve à fragilidade dos partidos
a sua deformação cultural política, com políticos. O candidato, que não pode confiar
partidos que trocam de sigla, gerando outra na organização do partido em nenhum nível,
fonte de confusão. deve criar a impressão de apoio popular,
entre outras coisas, para procurar apoio
Nas sociedades democráticas os partidos econômico. Os comitês de apoio seriam
políticos cumprem, fora a finalidade de estar criados com nomes genéricos e normal-
no poder, uma série de outras funções. É mente pré-fabricados. Estes comitês de
necessário que se leve em conta estas funções apoio, criados, espontaneamente, com o
para compreender seu importante papel consentimento do partido ou dos candi-
nas democracias e, por consequência, como datos, vão ter muita importância na
toda instituição pública, na educação e no distribuição da publicidade eleitoral,
desenvolvimento cultural do cidadão. principalmente nas peças gráficas que
ficarão totalmente sob seu controle, desde
Sintetizando, as funções são as seguintes: sua criação até sua distribuição, como é o
caso da publicidade gráfica e, sobretudo,
1. Seleção de líderes. dos populares “santinhos” distribuídos aos
2. Representação de interesses. milhares5, principalmente nas eleições de
3. Integração da cidadania. âmbito municipal.
4. Nexo entre o poder político e os
cidadãos. Os comitês de bairro são também os
organizadores das visitas dos candidatos a
Em termos de comunicação, a terceira e a determinados locais, concentrações urbanas
quarta funções são as que mais claramente se e instituições comunitárias, por meio dos
materializam, porque vai ser através do agentes eleitorais (cabos eleitorais, assessores
processo comunicativo que se poderá de comunicação, coordenador de campanha,
compreender os elementos que intervêm e as etc.) que se encarregam, como empregados
fases que estas correntes atravessam, de profissionais do partido ou do candidato, ou
direção dupla, estabelecidas entre os dois mesmo como colaboradores sem remune-
polos de dirigentes e dirigidos. ração, de supervisionar os complicados
detalhes legais da campanha e de coordenar
todos os seus possíveis aspectos.
Os comitês eleitorais
Este profissional ou colaborador, em nível
O Brasil não possui fortes partidos políticos municipal, é uma figura chave da organização
locais ou regionais. Mesmo com uma oferta local, e sua maior atividade se fixa na
exagerada, há o predominio do partidarismo organização de eventos destinados a popula-
nacional e, portanto, todos necessitam seus rizar o candidato, inclusive, organizar
comitês, que proliferam em vários lugares, comícios que, paradoxalmente no Brasil,
dependendo do âmbito da eleição e seguindo apesar da televisão ser a grande vedete nas
o modelo tipicamente americano. eleições, a assistência a estes atos continua
mobilizando milhares de eleitores, com uma
No caso das eleições municipais, geralmente grande animação política, e muitas vezes
convivem dois tipos de comitês: o do partido geradores de violência e enfrentamentos entre
político e o do candidato. correligionários de partidos opostos.

López Guerra (Ibidem:217) comenta que a Quando o comitê eleitoral6 é o emissor da


proliferação dos comitês eleitorais, nos comunicação,o conteúdo das mensagens

146 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 7 • novembro 1997 • semestral


geralmente se refere aos eventos organizados gerando frustação no eleitorado, que se vê
para angariar fundos para as campanhas usado e incapaz , até por motivos culturais, de
eleitorais e sobre solenidades nas quais o exercer um controle rígido sobre os eleitos8,
candidato estará presente. Os membros dos gerando a prática do descomprometimento
comitês são também utilizados para rastrear com as promessas feitas nas campanhas.
os passos dos concorrentes e, sobretudo, para
ficarem atentos a todas informações que No Brasil, infelizmente por parte dos partidos
possam vir a se transformar em publicidade políticos, os critérios para a escolha dos
destrutiva do opositor7. Este hábito, estimu- candidatos se dão, geralmente, muito mais
lado principalmente entre os jovens baseados nos índices de popularidade do
colaboradores, gera a cultura do “quanto indivíduo9, do que na sua capacidade como
pior, melhor”, no que se refere às mensagens estadista, ao ponto de alguns partidos não
veiculadas. levarem em conta o fato do candidato não ter
sido nem alfabetizado. Também a questão
ideológica normalmente é outro fator
O candidato como emissor secundário na escolha: muitos candidatos são
escolhidos sem que houvessem demonstrado
Nos países latino-americanos, onde predo- qualquer afinidade com a ideologia do
mina o personalismo político, diferente do partido10. Este fenômeno se nota, em maior
costume europeu, as eleições giram em torno escala (não deixando de ser freqüente em
de pessoas, muito mais do que de partidos outras), nas eleições municipais, onde o
políticos. Uma das características brasileiras, candidato, em geral, inicia sua vida política.
além do personalismo exacerbado dos Muitas vezes, há um completo desconhe-
candidatos, é a batalha que existe, em grande cimento das funções do cargo que possivel-
escala, entre candidatos de um mesmo partido. mente o candidato vai ocupar, além de um
Isto faz com que o concorrente do candidato acentuado desconhecimento sobre o partido
não seja personalizado somente pelos pelo qual concorre.11
candidatos de outros partido, mas também
pelos seus colegas.
Conclusões
A respeito do enfrentamento, não apenas entre
partidos, como também entre personalidades, O político eleitoreiro, ou seja, aquele que busca
é interessante levar em conta que o nosso votos quando candidato, normalmente é, no
processo democrático faz as eleições dos Brasil, o grande emissor da comunicação
líderes dependerem do voto popular, voto publicitária eleitoral, sendo algumas vezes
absolutamente necessário para alcançar o assessorado por agências de publicidade e
poder, e que aqui o candidato tem solicitado profissionais da área, que se valem de
por todos os meios ao seu alcance. Sem dúvida, conhecimentos de marketing comercial, sem
uma vez conseguida a eleição, o líder político nenhuma preocupação em analisar a situação
vai enfrentar-se, já no cargo, com graves sociocultural do país e as verdadeiras
problemas que demandam estudo, capaci- necessidades da comunidade. Em muitos
dade e reflexão. O aspirante a líder político se casos, o candidato é o criador e produtor de
encontra assim entre dois papéis: o de sua própria comunicação com o eleitorado12,
candidato buscando votos, que necessita de que também, por sua vez, desconhece os
imagem popular, e o de estadista sério, capaz cânones de como deve ser feita uma
de resolver os problemas inerentes ao poder. comunicação eficiente13 com o seu candidato.

Os dois papéis, de político eleitoreiro e de Se os partidos políticos proliferam, os


estadista responsável, são difíceis de conciliar, candidatos também, numa escala muito

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 7 • novembro 1997 • semestral 147


maior14. propaganda política é vaga, imprecisa e
casuística, enquanto que, em países desenvol-
Na batalha pelos votos, como já foi visto, o vidos, ela protege o cidadão contra os abusos.
inimigo se encontra, muitas vezes, entre os Outra diferença é que as legislações de países
próprios pares, dentro de um mesmo partido. mais desenvolvidos começam com a definição
Esta situação faz com que o nível da clara do que é Publicidade Eleitoral e do que
propaganda política e publicidade eleitoral é Propaganda Política.
no nosso país baixe, sem preocupação com o
desenvolvimento da cultura política daquele Os chamados “marqueteiros” – acostumados
que será o receptor das mensagens. com a publicidade comercial e, portanto, com
a tradição de raramente discutir a função
No Brasil, não é nenhuma novidade a técnica social da publicidade, como também os seus
do uso da popularmente chamada “baixaria” efeitos socioculturais no alvo de suas
na publicidade eleitoral em qualquer âmbito, mensagens – encontraram, desta maneira,
seja ele municipal, estadual ou nacional. Tanto uma fórmula que, segundo critérios ética-
o candidato quanto seu assessor político mente discutíveis, deu certo. Defendemos a
guardam algum dado ou fato desabonador, tese de que o receptor não é um individuo no
pesquisado pela equipe, sobre os demais qual os mass media se imprimem sem
concorrentes, como uma última cartada a ser encontrar resistência, e que vão filtrar e
jogada, se for preciso ... sobretudo confrontar suas impressões com as
dos outros, porém, o Brasil tem um índice de
Com estas práticas, a publicidade eleitoral e analfabetismo e semianalfabetismo muito
a propaganda política deixaram de ser entre significante para que seja ignorado. Nem todos
nós (e faz muito tempo) instrumentos de os receptores brasileiros podem cotejar as
informação e persuasão (através da boa informações que recebem, para tirar suas
informação), para se transformarem no próprias conclusões. Ao importar modelos
instrumento da “lavagem de roupa suja” entre estrangeiros, esquecemos a realidade do nosso
partidos e candidatos. Este modelo americano país. Como sempre, esquecemos o mais
nos chega, como sempre, exacerbado, já que importante.
aqui, com o nosso exagero receptivo latino-
tropical, a tendência é ir além dos limites, Necessitamos saber se esse é o modelo de
mesmo que isso signifique por em risco a comunicação eleitoral que o povo brasileiro
democratização do país. quer. Seria interessante abrir debates sérios
sobre o tema: é essa a democracia que
Somos um país cujo nível de publicidade queremos para o País, onde a lei do vale tudo,
comercial chegou, há muito tempo, ao mesmo do mais forte e da informação destrutiva,
patamar de qualidade que estão os países seriam as únicas ações para se conseguir eleger
desenvolvidos. Porém, a publicidade eleitoral candidatos a governá-lo?
e a comercial não correm juntas na busca
dessa excelência. O tema está marginalizado Profissionais de países mais desenvolvidos
das escolas de formação de profissionais, que o nosso já estão propondo estes debates
sejam elas técnicas ou superiores, e pouco se ,mesmo sem ter chegado onde chegamos com
faz como reflexão e crítica a esta forma de nossa publicidade eleitoral em alguns casos
comunicação, nos meios intelectuais e mesmo até destrutiva. Jacques Seguéla , publicitário
nos profissionais. A lei da publicidade francês responsável pela campanha de
comercial brasileira é severa e exigente, Mitterrand, sobre isso, assim se expressou:
mesmo assim não tira a liberdade de criação.
“A política adoeceu, por falar demais, e
Por outro lado a regulamentamentação da muito falso. Ébria pela embalagem,

148 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 7 • novembro 1997 • semestral


perdeu seu conteúdo. Frases demais, 6 Para se ter uma idéia da importância dos comitês, estima-se
ênfase demais. Existir é simples, basta que em Porto Alegre, em épocas de eleições municipais,
exprimir sua alma, não seu ego. Mea tenha mais de vinte e cinco, de partidos, e cerca de mil de
culpa, considero minha profissão em candidatos.
parte responsável por esse declínio do
político na affectio societatis. Ao fazer 7 Estas funções foram reveladas por grande parte de
demais, a gente se desfaz” ■ colaboradores de comitês eleitorais de candidatos.

8 73% do eleitorado porto-alegrense demonstraram, por meio


Notas da pesquisa, que não têm interesse em controlar as ações
dos seus representantes eleitos.
1 No Brasil são usados, indistintamente, os termos publicidade
e propaganda, assim como, publicidade eleitoral e 9 Informação dada em enquete, também realizada pela
propaganda política que, geralmente, carregam os mesmos pesquisadora.
significados. Neste texto, publicidade eleitoral será usado
como uma comunicação persuasiva de massa, com o objetivo 10 Dos vereadores eleitos, que participaram da pesquisa, dois
imediato de criar, no eleitor, a adesão ao voto a um não tinham clara a postura ideológica de seu partido.
determinado candidato ou partido. Já para propaganda
política, trabalharemos a expressão, como um esforço a 11 Na mesma pesquisa, uma grande parte dos vereadores
longo prazo, que visa modificar ou reforçar o comportamento eleitos, apresentaram dificuldades em identificar, com
ideológico dos cidadãos. precisão, os símbolos visuais dos seus partidos.

2 O tempo destinado pelo TSE à propaganda política brasileira 12 Segundo ainda a pesquisa, a natureza das assessorias de
no rádio e na televisão, durante as campanhas eleitorais, é comunicação dos candidatos eleitos vereadores, em 1992,
de sessenta dias. Porém, isto não significa que os partidos e era a seguinte: dos 27 vereadores eleitos, 10 não tiveram
candidatos não iniciem suas campanhas gráficas, apoiadas nenhum profissional como assessor; 8 tiveram assessoria de
também pela lei eleitoral, a partir do momento em que se jornalistas; 2 de publicitários e 5 de ambos profissionais.
inscrevem nos TREs, ou seja, muitas vezes até seis meses Pela enquete realizada em 1996, os resultados foram quase
antes das eleições. Este período, em países mais que os mesmos.
desenvolvidos, costuma ser de duas a três semanas.
13 O sentido que damos a “comunicação eficiente” é em função
3 Nas eleições municipais de 1996, em Porto Alegre, do que contribui, não apenas para angariar votos, mas para
concorreram doze candidatos ao cargo de prefeito. o desenvolvimento da cultura política do eleitorado.
Sabemos que esta não é uma função específica do político,
4 Muitos candidatos brasileiros têm os seus próprios logotipos, mas num país como o Brasil, há a necessidade de uma ação
cores e slogans, o que colabora para que os dos partidos conjunta de todos os setores da sociedade, inclusive, e com
sejam desconhecidos do eleitorado, reforçando a nossa teoria muito mais comprometimento, da classe política, já que esta
do personalismo exacerbado dos políticos. Esta atitude, de se mantém com a consolidação da democracia.
desprezo dos símbolos oficiais do partido, permite que não
se fixe no imaginário popular a relação político/partido. 14 Em 1988 o TRE do RS inscreveu 615 candidatos ao cargo de
Como o troca-troca de partidos ainda é prática corrente, não vereador; já em 1996 foram 345 candidatos.
há interesse de muitos políticos em fixar sua imagem a um
determinado partido.
Referências
5 Somados todos os candidatos e partidos que usaram o
suporte publicitário, a pesquisa realizada em Porto Alegre ALMOND, G.A . e VERBA, S. La cultura cívica. Euramérica.
revelou que foram distribuídos cerca de cento e trinta Madrid. 1970.
milhões de “santinhos”, para uma população votante de
oitocentos mil eleitores. BEISEGEL, C. De R. Política e Educação Popular. Ática. São

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 7 • novembro 1997 • semestral 149


Paulo. 1982. Iberoamericanas. Ed. A.V. Sociedad Editorial Sintesis. Madrid. 1990.

CAVALCANTI, T. e DUBNIC, R. Comportamento eleitoral no KINZO, M.D.G. “O quadro partidário e a constituinte”, in


Brasil. Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro.1964. Revista Documental de Ciencias Sociales, no. 11. Ed. A.V.
Sociedad Editorial Sintesis. Madrid. 1990.
CHOMSKY, N. Linguagem e Pensamento. Ed. Vozes. Petrópolis.
1971. KLAUS, G. El lenguage de los politicos. Anagrama. Barcelona. 1979.

CITELLI, A. A Linguagem e Persuasão. Ed. Ática. São Paulo. KRAUS,S. y DAVIS, D. Comunicácion masiva: sus efectos en el
1985. comportamiento político. Ed. Trillas: SIGMA. México. 1991.

CONEGLIAN, O. Propaganda eleitoral. Juruá Ed. Curitiba. LAURENS, A. Le métier politique, ou la conquête du pouvoir.
1992. Alain Moreau. Paris. 1980.

CORNU,G. “La lecture de l‘image publicitaire”. In Semiótica. MALETZKE, G. Psicologia de la comunicación colectiva.
1985. CIESPAL. Quito. 1969.

COT, J.P. e GABORIT, P. Citoyens et Candidats, la pratique des MARAVALLI, J.M. La política de la transación. Ed. Taurus.
élections. Collection Defense d’ignorer. Ed. Robert Laffont. Madrid. 1982.
Paris. 1977.
MCGINNIS, J. Cómo se vende un presidente. Ed. Península.
COTTERET, J.P. La comunicación política. Ed. Ateneo. Buenos Barcelona. 1970.
Aires. 1973.
MENDELSOHN, H. “Some reasons why information campaigns
CRONKHIT, G. La persuasione: Comunicazione e mutamento can succed”.In Public Opinion Quartely. 1973.
del comportamento. Ed. Franco Angeli.. Milano. 1975.
MUÑOZ ALONSO, A . et alli Opinón Pública y Comunicación
DOMENACH, J.M. Propaganda Política . Edicions 62. Barcelona. Política. EudemaUniversidad. Madrid. 1990.
1963
NIXON, R.B. Opinión Pública y Periodismo. CIESPAL. Quito. 1967.
FERRER RODRIGUEZ, E. De la lucha de classes a la lucha de
frases: De la propaganda a la publicidad. El País S/A PERTENCE, S. “A desglamourização da propaganda eleitoral”.
Aguilar S.A. Ed. Madrid. 1982. In Revista da Associação Brasileira de Rádio e Televisão no.
86. ABERT. Brasília. 1993.
FERREIRA, P. As eleições municipais e o município na
constituição de 1988. Ed. Saraiva. São Paulo. 1992. REIS, F.W. Os partidos e o regime. Ed. Símbolo. São Paulo. 1978.

GONZÀLES LOPEZ, L. Las campañas electorales: propaganda RIBEIRO, F. Direito Eleitoral. Ed. Forense. Rio de Janeiro. 1976.
y política en la sociedad de masas. Fundácion Juan March.
Editorial Areil. Madrid. 1977. SOUZA, M.C.C. Estado e partidos políticos no Brasil (1930 -
1964) . Ed. Alfa Omega. Rio de Janeiro. 1972.
GREENSTEIN, F.I. Democracia y partidos políticos en Norteamerica.
Ed. Labor. Barcelona. 1974. TCHAKHOTINE, S. Le viol de foules par la propagande
politique. Ed. Gallimard. Paris. 1952.
GUREVICH, J.P. La propagande dans tous ses états. Ed. Flammarion.
Paris. 1981 TCHAKHOTINE, S. “El secreto del éxito de Hitler: la violencia
psiquica”. In MORAGAS, M. Sociologia de la Comunicación
JAGUARIBE, H. “Sociedad y política en el Brasil contem- de Masas. (V. III Propaganda Política y Opinión pública).
poráneo”, in Revista Documental de Ciências Sociales Ed. GustavoGili. Madrid. 1986.

150 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 7 • novembro 1997 • semestral

Das könnte Ihnen auch gefallen