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INTRODUÇÃO
Jesus fez um alto investimento na vida desse homem gadareno. Ele enfrentou a fúria do mar e
depois a fúria desse homem possesso. O escritor desse Evangelho vai de um mar agitado para
um homem agitado. Humanamente falando, ambos eram indomáveis, mas Jesus os subjugou.
Era noite, depois de uma tempestade, num lugar deserto, íngreme, cheio de cavernas, um
cemitério, onde havia corpos expostos, alguns deles em decomposição. O lugar em si já metia
medo nos mais corajosos. Desse lugar sombrio, sai um homem louco, desvairado, possesso,
nu, ferindo-se com pedras, um pária, um aborto vivo, uma escória da sociedade.
Todos já haviam desistido dele, menos Jesus. Aquela viagem foi proposital. Jesus vai a uma
terra gentílica, depois de um dia exaustivo de trabalho, depois de uma terrível tempestade,
para salvar um homem possesso. Essa é a expressão do infinito amor de Jesus.
2. Quanto vale uma vida para Satanás
Satanás roubou tudo de precioso que aquele homem possuíra: sua família, liberdade, saúde
física e mental, dignidade, paz e decência.
Havia dentro dele uma legião de demônios (5.9). Legião era uma corporação de seis mil
soldados romanos. Nada infundia tanto medo e terror como uma legião romana. Era um
exército de invasão, crueldade e destruição. A legião romana era composta de infantaria e
cavalaria. Numa legião havia flecheiros, estrategistas, combatentes, incendiários, e aqueles
que lutavam com espadas. Por onde uma legião passava, deixava um rastro de destruição e
morte. Uma legião romana era irresistível. Aonde ela chegava, as cidades eram assaltadas,
dominadas e seus habitantes arrastados como súditos e escravos. Uma legião era a mais
poderosa máquina de guerra conhecida nos tempos antigos. As legiões romanas formavam o
braço forte com o qual Roma havia subjugado o mundo. Assim era o poder diabólico que
dominava a esse pobre ser humano.
Havia um poder de destruição descomunal dentro daquele homem, transformando sua vida
num verdadeiro inferno.
Warren Wiersbe diz que nós podemos ver neste texto três forças trabalhando: Satanás, a
sociedade e Jesus.
I. O QUE SATANÁS PODE FAZER PELAS PESSOAS
O gadareno estava possuído por espíritos imundos. Havia uma legião de demônios dentro
dele. A possessão demoníaca não é um mito, mas uma triste realidade. A possessão não é
apenas uma doença mental ou epilepsia. Ainda hoje milhares de pessoas vivem no cabresto de
Satanás. Quais são as características de uma pessoa endemoninhada:
Em primeiro lugar, uma pessoa possessa tem dentro de si uma entidade maligna (5.2,9). Esse
homem não estava no controle de si mesmo. Suas palavras e suas atitudes eram determinadas
pelos espíritos imundos que estavam dentro dele. Ele era um aparelho, um cavalo dos
demônios, um joguete nas mãos de espíritos ladrões e assassinos.
Em segundo lugar, uma pessoa possessa manifesta uma força sobre-humana (5.3,4). As
pessoas não podiam detê-lo nem as cadeias subjugá-lo. A força destruidora com que
despedaçava as correntes não procedia dele, mas dos espíritos malignos que nele moravam.
Exemplo: Salatiel e a jovem de Tanabi.
Em terceiro lugar, uma pessoa possessa tem freqüentes acessos de raiva O evangelista
Mateus, narrando esse episódio, diz que os endemoninhados estavam a tal ponto furiosos, que
ninguém podia passar por aquele caminho (Mt 8.28). Normalmente uma pessoa possessa
revela uma fisionomia carregada de ódio e olhos fuzilantes. Exemplo: Paulo na Igreja
Assembléia de Deus de Arabiri.
Em quarto lugar, uma pessoa possessa perde o amor próprio (5.3,5). Esse homem andava nu
e feria-se com pedras. Em vez de proteger-se, feria-se a si mesmo. Ele era o seu próprio
inimigo. O ser maligno que estava dentro dele empurrou-o para as cavernas da morte. A legião
de demônios que estava nele tirou dele o pudor e queria destruí-lo e matá-lo. O diabo veio para
roubar, matar e destruir. Ele é ladrão e assassino. Há muitas pessoas que hoje ceifam a
própria vida, quando esses espíritos imundos entram nelas. Foi assim com Judas, Satanás
entrou nele e o levou ao suicídio.
Em quinto lugar, uma pessoa possessa pode revelar conhecimento sobrenatural por
clarividência e adivinhação (5.6,7). Logo que Jesus desembarcou em Gadara, esse homem
possesso correu, cheio de medo, e prostrou-se aos seus pés para adorá-lo. Ele sabia quem era
Jesus. Sabia que Jesus é o Filho do Deus Altíssimo, que tem todo poder para atormentar os
demônios e mandá-los para o abismo. Os demônios crêem na divindade de Cristo, na sua total
autoridade. Eles oram e crêem nas penalidades eternas. A fé dos demônios é mais ortodoxa do
que a fé dos teólogos liberais. Exemplo: Antonia: “O pai dela vai chegar e não vai vê-la. O
velho que há doze anos não vinha visitar a família chegou, cumprimentou a todos e não viu a
filha”.
2. Ele arrasta as pessoas para a impureza (5.2,3a)
Gadara era uma terra gentílica, onde as pessoas lidavam com animais imundos. O espírito que
estava naquele homem era um espírito imundo. Por isso, levou esse homem para um lugar
impuro, o cemitério, para viver no meio dos sepulcros. A impureza desse homem era tríplice: os
judeus consideravam a terra dos pagãos impura, em seguida o lugar dos túmulos e, por fim, a
possessão. O efeito era uma separação de Deus sem esperança.
Os espíritos malignos levam as pessoas a se envolverem com tudo o que é imundo. Há
pessoas chafurdando-se na lama hoje. Quem pratica o pecado é escravo do pecado. Quem
vive na prática do pecado é filho do diabo. Há pessoas que hoje entram dentro dos cemitérios e
desenterram defuntos para fazerem despacho aos demônios.
A promiscuidade está atingindo patamares insuportáveis. A TV Globo encerrou a sua
decantada novela América com dois homens beijando na boca. A Inglaterra legitima o
casamento de homossexuais. A pornografia tornou-se uma indústria poderosa. A
promiscuidade dos valores da geração contemporânea faz de Sodoma e Gomorra cidades
muito puritanas.
3. Ele torna as pessoas violentas (5.3,4)
O gadareno estava perturbado mentalmente. Ele andava sempre, de noite e de dia gritando por
entre os sepulcros. Não havia descanso para sua mente nem para seu corpo.
Além da perturbação mental, ele golpeava-se com pedras. Vivia nu e ensangüentado, correndo
pelos montes escarpados, esgueirando-se como um espectro de horror, no meio de cavernas e
sepulcros. Seu corpo emaciado refletia o estado deprimente a que um ser humano pode
chegar quando está sob o domínio de Satanás.
Há muitas pessoas hoje atormentadas, inquietas e desassossegadas, vivendo nas regiões
sombrias da morte, sem família, sem liberdade, sem dignidade, sem amor próprio, ferindo-se a
si mesmas e espalhando terror aos outros.
II. O QUE A SOCIEDADE PODE FAZER PELAS PESSOAS
O máximo que a sociedade pôde fazer por esse homem, foi tirá-lo de circulação. Arrancaram-
no da família e da cidade. Desistiram do seu caso e consideraram-no uma causa perdida.
Consideraram-no um caso irrecuperável e descartaram-no como um aborto asqueroso. O
máximo que a sociedade pode fazer por pessoas problemáticas é isolá-las, colocá-las sob
custódia ou jogá-las numa prisão (Lc 8.29). As prisões não libertam as pessoas por dentro nem
as transformam; ao contrário, tornam-nas ainda mais violentas.
Ainda hoje, é mais fácil e mais cômodo lançar na caverna da morte, no presídio e no desprezo
aqueles que caem nas garras do pecado e do diabo.
2. A sociedade acorrentou esse homem (5.3,4)
A prisão foi o melhor remédio que encontraram para deter esse homem. Colocaram cadeias
em suas mãos e em seus pés. Mas a prisão não pôde detê-lo. Ele arrebentou as cadeias e
continuou espalhando terror por onde andava. Embora, o sistema carcerário seja um fato
necessário, mas não é a solução do problema. O índice de reincidência no crime daqueles que
são apanhados pela lei e lançados num cárcere é de mais de 70%.
A sociedade não tem poder para resolver o problema do pecado nem libertar as pessoas das
garras de Satanás. Somente o evangelho transforma. Somente Jesus liberta. Não há
esperança para o homem, a família e a sociedade à parte de Jesus.
3. A sociedade deu mais valor aos porcos que a esse homem
A sociedade de Gadara não apenas rejeitou esse homem na sua desventura, mas também não
valorizou a sua cura, nem sua salvação. Eles expulsaram Jesus da sua terra e amaram mais os
porcos do que a Deus e a esse homem. Os porcos valiam mais que uma vida.
Jesus envia esse homem como missionário para a sua casa, para ser uma testemunha na sua
terra. Ele espalhava medo e pavor, agora, anuncia as boas novas de salvação. Antes era um
problema para a família, agora, é uma bênção. Antes, era um mensageiro de morte, agora, um
embaixador da vida.
Jesus revela a ele que o testemunho precisa começar em casa. O nosso primeiro campo
missionário precisa ser o nosso lar. Sua família precisa ver a transformação que Deus operou
na sua vida. O que Deus fez por nós precisa sr contado aos outros.
CONCLUSÃO
Este texto nos fala sobre três pedidos, três orações. As duas primeiras foram prontamente
atendidas por Jesus, mas a última foi indeferida.
Os gadarenos expulsaram Jesus da sua terra. Eles amavam mais os porcos e o dinheiro do
que a Jesus. Essa é a terrível cegueira materialista, diz Ernesto Trenchard. Lucas registra:
“Todo o povo da circunvizinhança dos gerasenos rogou-lhe que se retirasse deles; pois
estavam possuídos de grande medo. E Jesus, tomando de novo o barco, voltou” (Lc 8.37).
Jesus não os constrangeu nem forçou sua permanência na terra deles. Sem qualquer
questionamento ou palavra, entrou no barco e deixou a terra de Gadara.
Os gadarenos rejeitaram a Jesus, mas Jesus não desistiu deles. Eles expulsaram a Jesus, mas
Jesus enviou para o meio deles um missionário. O Senhor não nos trata segundo os nossos
pecados.
3. Jesus indeferiu o pedido do gadareno salvo (5.18-20)
O homem liberto, curado e salvo quer por gratidão seguir a Jesus, mas o Senhor não o
permite. O mesmo Jesus que atendera a petição dos demônios e dos incrédulos, agora rejeita
a petição do salvo. E por que:
Em primeiro lugar, a família precisa ser o nosso primeiro campo missionário. A família dele
sabia como ninguém que havia acontecido, e agora, poderia testificar sua profunda mudança.
Não estaremos credenciados a pregar para os de fora, se ainda não testemunhamos para os
da nossa própria família. Esse homem torna-se uma luz no meio da escuridão. Ele prega não
só para sua família, mas também para toda a região de Decápolis.
William Hendriksen diz que esta “Decápolis” era uma liga de dez cidades helênicas: Citópolis,
Filadélfia, Gerasa, Pela Damasco, Kanata, Dion, Abila, Gadara e Hippo. Ele não apenas
anuncia uma mensagem teórica, mas o que Jesus lhe fizera, a sua própria experiência. Ele era
um retrato vivo do poder do evangelho, um verdadeiro monumento da graça.
Em segundo lugar, porque Jesus sabe o melhor lugar onde devemos estar. Devemos submeter
nossas escolhas ao Senhor. Ele sabe o que é melhor para nós. O importante é estar no centro
da sua vontade. Esse homem tornou-se um dos primeiros missionários entre os gentios. Jesus
saiu, mas ele permaneceu dando um vivo e poderoso testemunho da graça e do poder de
Jesus. Exemplo: Ashbell Green Simonton.
Rev. Hernandes Dias Lopes.