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Oganizadoras:
Oganizadoras:
TUTORAS/ES:
•On line •Presencial
Alderico Segundo Santos Almeida Marlete de Almeida Aguiar (Caxias)
Karine Costa Barbosa Lucélia Neves dos Santos (Grajaú)
Luciana de Jesus Botelho Sodré Antero Pinto Frazão Filho (São Luís)
Maria José Lobato Rodrigues
Markleny Martins Pinheiro
Neuzanil de Jesus Maia
Rarielle Rodrigues Lima
Vanda Cristina Fonseca Magalhães
Revisora Linguística
Angélica Maria Lago Frazão de Sousa
Administrador do AVA/Moodle
Leonardo de Castro Mesquita
Capa e Diagramação
Claudia Nayanne Gaspar Sousa
Gisele Reis Correa Saraiva
APRESENTAÇÃO
Durante uma das atividades sobre o natal, a professora solicita às crianças que
pintem um anjo em uma folha mimeografada, e as orientou da seguinte forma:
“o anjo tem que ser cor de pele”, mostrando um lápis de cera da cor salmão.
Durante a atividade, a estagiária que estava sentada ao lado de uma criança negra,
perguntou-lhe:
“Qual é a cor da sua pele?”
Timidamente a criança responde: “morena, só que não tem minha cor”
Outra criança entra na conversa e diz: “Eu tenho”, mostrando-lhe um lápis na cor
preta.
A criança negra contesta: “Não é preto, é moreno”, e mostra um lápis da cor
marrom.
Este pequeno episódio revela o quanto esta criança está sendo prejudicada no processo
inicial de construção da sua identidade, uma vez que aquela que está na condição de sua parceira
mais experiente não tem a compreensão acerca das discussões voltadas para as relações étnico-
raciais, demonstrando, assim, como é premente a necessidade da formação continuada para que
os/as professores/as possam ter a possibilidade de estudar, refletir, discutir coletivamente sobre
temáticas tão necessárias para a sociedade atual.
É nesse contexto que situo o Curso de Aperfeiçoamento e de Especiliazação em
Gênero e Diversidade na Escola- GDE, oferecidos nas modalidades semipresencial e presencial
respectivavemente, ambos coordenados pelo Curso de Pedagogia da Universidade Federal do
Maranhão, através do Departamento de Educação I, e financiado pelo Ministério da Educação
(MEC), por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
(SECADI), cujo público alvo são, em sua maioria, professores e as professoras da Educação Básica.
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Episódio retirado do Relatório de Estágio em Docência da Educação Infantil UFMA, da aluna Keila Raquel Pinto Araújo, desenvolvido
no ano de 2013, em uma escola da rede pública municipal de Educação Infantil em São Luís/MA.
Posso afirmar que a participação dos/as docentes nesses cursos tem sido de uma
importância singular, por possibilitar a estes/as se apropriarem de conteúdos que lhes dão os
subsídios necessários para compreenderem e posicionarem-se acerca das questões de diversidade
que ecoam no chão da escola.
De modo particular, este livro apresenta as experiências vivenciadas no GDE –
Aperfeiçoamento, via Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), organizado pelo Núcleo de
Educação à Distância da Universidade Federal do Maranhão (NEaD/UFMA) e pelos diversos atores
e atrizes que têm contribuído significativamente para que este Curso aconteça: coordenadoras,
professores/as pesquisadores/as e tutoras/es on line e presencial. Suas vozes fornecem ao/a
leitor/a um leque de informações sobre a organização, os saberes construídos, as práticas exercidas
e as relações estabelecidas no Curso GDE.
Como texto introdutor do livro temos o artigo intitulado “O CURSO GÊNERO E DIVERSIDADE
NA ESCOLA: saberes e fazeres na formação docente continuada na UFMA”, da professora
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
Sirlene Mota Pinheiro da Silva, Coordenadora do Curso, através do qual temos a possibilidade de
conhecer o processo histórico de criação do GDE como uma política pública, sua organização e a
sua efetivação na UFMA.
“COORDENADORA DE TUTORIA: Compartilhando algumas estratégias por quem está
aprendendo o ofício em exercício”, é o artigo de Edith Maria Batista Ferreira Ribeiro. Nele, a
autora compartilha com o/a leitor/a a sua experiência como Coordenadora de Tutoria, apresentando
o papel deste/a profissional em um Curso de Educação a Distância (EAD).
Paulo Sergio Castro Pereira, em seu artigo “VIVÊNCIAS E ANDANÇAS: Um olhar sobre
a Diversidade e seus reflexos no ambiente escolar maranhense”, descreve o trabalho que vem
desenvolvendo na disciplina Diversidade, situando como os/as cursistas têm se apropriado das
discussões sobre a temática e as suas implicações para o contexto escolar.
Em seu artigo “URDIDURA E TRAMA NA EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS:
tecitura de saberes e experiências”, Raimunda Nonata da Silva Machado apresenta sua
experiência com a educação das relações étnico-raciais (Educarer), possibilitando ao/a leitor/a
ter acesso ao caminho percorrido pela autora no planejamento e concretização da tecitura da
Educarer.
No artigo “FALANDO DE MULHERES: Uma análise do Curso GDE no Maranhão e debates em
relação ao conceito de gênero”, Tatiane da Silva Sales relaciona a proposta do GDE com o aporte
conceitual de gênero e apresenta ainda o percurso trilhado como tutora e, mais recentemente,
como professora da disciplina Gênero e Educação Escolar.
Tatiane da Silva Sales continua suas reflexões sobre sua experiência no GDE no artigo
“O GDE E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES/AS: os desafios docentes e a sexualidade em foco”,
situando este Curso de forma mais específica no contexto educacional e social do Estado do
Maranhão e, de modo particular, trazendo suas reflexões acerca da disciplina Sexualidade e
Orientação Sexual.
O artigo “A TUTORIA ONLINE NA MODALIDADE EaD”, de Maria José Lobato Rodrigues
e Markleny Martins Pinheiro, trata do papel relevante do/a tutor/a em um Ambiente Virtual de
Aprendizagem, proporcionado pela modalidade EaD, o qual tem grande responsabilidade de mediar
o processo de interação e interlocução no ambiente, oportunizando àqueles/as que participam
compartilhar conhecimentos, reflexões, dúvidas, enfim, aprendizado.
No artigo “EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS: possibilidades e caminhos
em busca de uma educação antirracista”, Luciana de Jesus Botelho Sodré tece algumas
reflexões sobre a temática relações étnico-raciais, a partir da experiência construída em muitos
momentos e espaços da academia, cujo olhar como estudante ou profissional foi lhe ampliando o
conhecimento sobre a temática.
Rarielle Rodrigues Lima, no artigo “OS FÓRUNS DE DISCUSSÃO: a interação no Curso
de Aperfeiçoamento Gênero e Diversidade na Escola da Universidade Federal do Maranhão”,
discute o papel do fórum na modalidade EaD como um espaço importante e significativo no processo
VIVÊNCIAS E ANDANÇAS..................................................................45
Um olhar sobre a Diversidade e seus reflexos no ambiente escolar maranhense
FALANDO DE MULHERES.................................................................75
Uma análise do Curso GDE no Maranhão e debates em relação ao conceito de gênero
Tatiane da Silva Sales
OS FÓRUNS DE DISCUSSÃO.............................................................117
a interação no Curso de Aperfeiçoamento Gênero e Diversidade na Escola da Universidade
Federal do Maranhão
Rarielle Rodrigues Lima
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GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
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O CURSO GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA:
saberes e fazeres na formação docente
continuada na UFMA
Conversa inicial
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Um pouco de história: o Projeto GDE em foco
UERJ) propôs, no ano de 2006, o curso piloto “Gênero e Diversidade na Escola – GDE”, oferecendo
1.200 vagas para professores e professoras das disciplinas de Ensino Fundamental de 5ª a 8ª séries.
Essas vagas seriam distribuídas em número de 200 para cada um dos 06 municípios de diferentes
regiões do país: Porto Velho, Salvador, Maringá, Dourados, Niterói e Nova Iguaçu.
Naquele momento, o projeto do Curso se inseria na orientação geral do Governo Federal
para a implementação de políticas públicas promotoras da igualdade e do respeito à diversidade e
aos direitos humanos. O total de inscritos foi de 1.415, embora somente 1.071 tenham efetivamente
iniciado o curso. Desses, 865 concluíram as atividades (PEREIRA; ROHDEN, 2007).
A concepção do Projeto do Curso GDE é da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres
(SPM/PR) e do British Council, em parceria com SECAD-MEC, Secretaria de Ensino a Distância
(SEED-MEC), Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (EPPIR/PR) e o
Centro Latino Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM). A metodologia, os conteúdos
e o Projeto Político Pedagógico resultaram de uma construção coletiva dos parceiros envolvidos.
A implementação do curso foi realizada pelo Centro Latino Americano em Sexualidade e Direitos
Humanos (CLAM) e a certificação ficou a cargo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Em agosto de 2005 foi assinado Protocolo de Intenções entre a SPM/PR, a SEPPIR/PR e o
MEC – por intermédio da SECAD e da SEED – e o British Council, com o objetivo de implementar
políticas educacionais para a igualdade de gênero, raça/etnia e orientação sexual por meio de
ações de formação de educadoras/es, que se concretizam em seminários, cursos presenciais e
semipresenciais, na elaboração de material didático pedagógico, entre outros.
A SEED/MEC tem como missão o fomento à EaD do ponto de vista das políticas públicas
que estruturam essa modalidade. Essa Secretaria elabora programas de formação de docentes
para o uso integrado das mídias e, em parceria com demais Secretarias e Órgãos Governamentais,
contribui para a disseminação da EaD em processos de ensino e aprendizagem.
A SECAD passou a ser denominada Secretaria Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) com a aprovação do
2
Decreto nº 7.480, de 16 de maio de 2011 que trata da reestruturação regimental e organizacional do Ministério da Educação.
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O British Council, órgão internacional do Reino Unido para assuntos de Educação e Cultura,
tem como uma de suas principais missões - estabelecer e fortalecer relacionamentos entre pessoas
e instituições brasileiras e britânicas, objetivando compartilhar experiências dos dois países, com
vistas a trazer benefícios mútuos. Direitos Humanos é uma das áreas prioritárias de trabalho para o
British Council, motivo pelo qual participa do Projeto do Curso GDE, subsidiando-o financeiramente
e promovendo o intercâmbio de conhecimentos e experiências relacionadas a políticas públicas
educacionais nesta área (BRASIL, 2007).
A execução do projeto ficou sob a responsabilidade do CLAM que coordenou a elaboração
do material didático; selecionou via Internet os (as) cursistas; selecionou e capacitou professoras
(es) on-line; selecionou orientadores de temas e, em parceria com o Governo Federal, coordenou
o desenvolvimento do curso até sua etapa final. De um modo mais geral, as metas que orientam
este curso estão expressas, entre outros, nos seguintes documentos (PEREIRA; ROHDEN, 2007, p.
34):
•Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial, de 2003.
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Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
13
Figura 1: Ingressantes no Programa Gênero e Diversidade nas Escolas
Com essa iniciativa, os temas gênero, identidade de gênero e orientação sexual passam
a ser considerados pela política educacional uma questão de direitos humanos. E, são incluídos no
Sistema Educacional por meio da promoção de uma política de formação continuada de professores/
as que buscam promover atitudes didático-pedagógicas voltadas a garantir igualdade de direitos
e de oportunidades a todos os indivíduos e grupos, independentemente de suas diferenças de
gênero, identidade de gênero ou orientação sexual. Esse percurso mostra-se bastante pertinente
ao favorecer “o redimensionamento das experiências de formação e das trajetórias profissionais
e tendem a fazer com que se infiltrem na prática atual novas opções, novas buscas e novos modos
de conduzir o ensino” (CATANI, 2006, p.19).
Segundo o Livro de Conteúdo do Curso GDE (2009), a opção pelos temas específicos a
serem trabalhados - gênero, orientação sexual e relações étnicas raciais, assim como a disposição
de seu tratamento concomitante, parte do princípio de que os fenômenos se relacionam de modo
complexo. Com isso é necessária a formação de profissionais de educação que estejam preparados
para lidar com esta complexidade e com novas formas de confronto na sociedade.
O Curso GDE é desenvolvido de maneira que possa permitir o debate transversal sobre
as temáticas de gênero, sexualidade e orientação sexual e relações étnico raciais. Para tanto, foi
estruturado em quatro módulos temáticos e um de Avaliação: Diversidade; Gênero; Sexualidade e
Orientação Sexual; Raça/Etnia e Avaliação.
O primeiro módulo, DIVERSIDADE, discute os conceitos de diferença, diversidade e
cultura, com foco para as múltiplas diversidades culturais. Enfatiza os conceitos de etnocentrismo,
estereótipo e preconceito estimulando os/as professores/as a pensarem fora do “biologismo”,
promovendo uma discussão inicial sobre respeito e valorização da diversidade. No fim do primeiro
módulo, abre-se uma discussão acerca do papel da escola frente à promoção as desigualdades.
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No módulo que versa sobre GÊNERO, o material didático enfoca o conceito de gênero,
identidade de gênero inserindo-o num contexto histórico. Em seguida, aborda o gênero no contexto
da desigualdade social e étnico-racial socializando com a família e a escola. O resgate histórico
do movimento feminista e sua importância atual também são destacados no curso, a violência de
gênero e o conhecimento da Lei Maria da Penha, Lei nº 11.340/2006. Na última unidade, o foco
volta-se para a sala de aula, rendimentos e formas de interação.
Em seguida são tratadas questões da SEXUALIDADE e ORIENTAÇÃO SEXUAL, enfatizando a
sociedade e política; a moderna sexualidade; conceituação de orientação sexual e “sexo biológico”;
a concepção de corpo e as dimensões psicológicas, sociais e culturais. A orientação sexual
aparece em destaque reconhecendo-se e conceituando a heterossexualidade, a homossexualidade
e a bissexualidade. O livro de conteúdo discute ainda a noção de “correto” e a influência da
“heteronormatividade compulsória”. Na contextualização, apresenta o histórico do movimento
LGBT brasileiro4, o debate dos direitos humanos e as possibilidades de realizar estas abordagens
na sala de aula, com os desafios e possibilidades que a temática propõe.
4
No conjunto das conquistas político-sociais da atuação do Movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e
transgêneros) se enquadra a sensibilização da população de modo geral para as formas de discriminação por orientação sexual, que
têm levado estudantes a abandonarem a escola por não suportarem o sofrimento causado pelas piadinhas e ameaças cotidianas dentro
e fora dos muros escolares. Esses mesmos movimentos têm apontado a urgência de inclusão no currículo escolar, da diversidade de
orientação sexual, como forma de superação de preconceitos e enfrentamento da homofobia (GDE, 2009, p. 35).
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Figura 2: Desenvolvimento das atividades na modalidade EAD
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
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O Curso GDE evidencia sua importância ao envolver questões de gênero e sexualidade tão
comumente encaradas no âmbito do senso comum, onde a falta de conhecimento, de argumento
e de didática dos docentes leva muitas vezes à manutenção de estereótipos e violências.
Indubitavelmente é relevante a ação pedagógica desse Curso na medida em que consegue
concentrar o saber docente e discente como forma de combater as diversas desigualdades.
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eliminação de qualquer tratamento preconceituoso” (GDE, 2009, p. 9).
Durante o processo são levados em conta que a proposta pedagógica do curso se insere
numa política de inclusão social que assume um objetivo situado na fronteira da luta pelos direitos
humanos e na exigência de um expressivo investimento na subjetividade: a contribuição para a
transformação dos valores sociais tradicionais que têm reproduzido assimetrias e desigualdades
de gênero, preconceitos e discriminações de raça/etnia e em relação às questões da sexualidade,
a partir de diferenciações estabelecidas e inspiradas pelo “funcionamento” da materialidade
biológica. Com esse entendimento foram utilizadas metodologias distintas e variadas pelas equipes
pedagógicas e coordenação do curso em momentos diversos, que perpassaram desde as formações
de tutoras acerca dos conteúdos, metodologias e avaliação da aprendizagem, nas oficinas realizadas
durante os encontros presenciais nos polos, nas atividades on line até à certificação.
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A tutora T ressaltou que o trabalho foi gratificante por tratar-se de uma educação voltada
para a diversidade, que irá contribuir para o desenvolvimento da equidade nos espaços escolares,
dizendo: “Os conteúdos selecionados foram excelentes e a interatividade com os/as cursistas nos
deram uma amplitude de saberes e situações as mais diversificadas” (SILVA, 2010).
Tomando como base alguns depoimentos descritos nos Memoriais dos/as cursistas
apresentados no final do curso, constatamos que uma das maiores dificuldades refere-se à herança
trazida pelas crianças na família. Boa parte dos/as cursistas registrou que um dos maiores desafios
consistia em trabalhar os “preconceitos” que os alunos e alunas trazem de casa. Tais preconceitos
são explicados muitas vezes pela reprodução daquilo que aprenderam na família ou na igreja,
sendo justificados pela autoridade materna ou paterna e, também, fortemente influenciados pelas
concepções religiosas.
A temática de sexualidade, por sua vez, representou maiores implicações no estudo desse
curso. No levantamento dos conhecimentos prévios, alguns reconheceram que esta temática é um
tabu, a consideram fora de um ‘padrão’ divino. Sem dúvidas, esta foi a situação de maior conflito
[...] sobre diversidade, muitas pessoas falam por achar uma palavra bonita, mas
assim como não sabia (em) quanta diversidade cultural há no Brasil e no mundo,
que pessoas são discriminadas por ser diferente, por ter uma raça diferente, uma
cor, uma orientação sexual diferente da nossa. Quando chego a pensar nas leituras
realizadas sobre gênero e fico a lembrar do quanto eu me vi no passado, quando
ainda estava no tempo da escola, onde até nossas brincadeiras (meninos e meninas)
eram separadas, onde predominava aquelas frases “não pode porque é coisa de
menino” ou vice- versa. E com o curso vi que até eu enquanto educadora já fiz isso
com meus alunos. Porém pude rever muito minha pratica com esses estudos. Já
que a sociedade vem impregnada por essa desigualdade de gênero, eu enquanto
educadora tenho que mudar essas práticas dentro da escola e não favorecer.
(Cursista do Polo de Porto Franco).
Uma das maiores dificuldades encontradas durante o curso foi “a efetiva participação
dos/as cursistas, tanto nas atividades on line, como nas presenciais. Para tentar evitar e diminuir
a evasão, foram ressaltados no relatório do Curso (SILVA, 2010, p.15)” alguns encaminhamentos
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realizados, quais sejam:
Após o contato realizado pelos/as tutores/as com as/os cursistas, as/os mesmas/os
fizeram os devidos comentários em seus relatórios. Dentre os quais destacamos um dos trechos
descritos:
Diante da situação em que se encontrava a maioria dos cursistas e das cursistas
do Curso GDE foi feito por nós tutoras do polo de Imperatriz os seguintes
encaminhamentos: contatar os cursistas que não acessam há muito tempo, os que
estavam com as tarefas atrasadas e até mesmo aqueles que nunca acessaram.
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
Igualmente, o relatório do Curso GDE (SILVA, 2010, p.22) também destaca algumas
inferências sobre os motivos da elevada taxa de desistência e evasão, dentre eles:
O Curso GDE por se tratar de temas ditos “polêmicos” e pela necessidade de domínio
em computação não foi muito fácil, especialmente para os/as cursistas que estavam iniciando um
processo de conhecimento tecnológico. Contudo, foi ressaltado no relatório final que “todo trabalho
é sempre gratificante, ainda mais por se tratar de uma educação voltada para a diversidade, que
irá contribuir para o desenvolvimento da equidade nos espaços escolares” (SILVA, 2010, p.25).
Esse curso concentra duas importantes características: agrupa quase sua totalidade
via Internet, por meio do sistema moodle de educação à distância; figura-se como processo
de capacitação contínua aos profissionais de educação da rede pública de ensino básico sobre
as temáticas Gênero e Diversidade na Escola, além de ser marcado por encontros presenciais
periódicos e uma didática relacionada com tutoria on line, fóruns, chats, diários e medidas de
interação.
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No Maranhão a EaD é veiculada como uma medida educacional que ainda está em
processo de crescimento e valorização, sofrendo ainda uma série de preconceitos, o que por sua
vez influenciou no grande percentual de desistência e evasão, conforme descrito no Relatório final
do Curso (SILVA, 2010).
Face à demanda e a preocupação não somente com o aspecto quantitativo, mas e
principalmente, com o aspecto qualitativo dessa formação, evidenciou-se a necessidade da reoferta
do Curso GDE. Assim, o projeto foi refeito e enviado para análise, parecer e aprovação, tanto da
SECADI como das instâncias decisórias da UFMA: Departamento de Educação I (DE-I), Centro de
Ciências Sociais (CCSo), Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) e Conselho Superior de Ensino, Pesquisa
e Extensão (CONSEPE), tendo sido aprovado em 2013, com suas atividades iniciadas no mês de
abril de 2014.
Nessa segunda oferta do Curso GDE pela UFMA, o principal objetivo é desenvolver a
formação de profissionais em educação, em especial de professores/as da Educação Básica, para
que sejam capazes de produzir e estimular a produção de seus alunos e de alunas nas diferentes
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Figura 3: Organograma do Curtso GDE na UFMA
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
6 DAS MATRÍCULAS
6.1 As matrículas dos/as candidatos/as pré-selecionados/as (classificados/as e/
ou excedentes) serão efetivadas durante o Seminário Inaugural do Curso, sendo
excluído do processo o/a candidato que NÃO se fizer presente.
6.2 Serão convidados para participarem do Seminário Inaugural do Curso, os (as)
candidatos/as excedentes, por município / polo, os quais comporão o quadro de
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Edital disponível em: http://www.proex.ufma.br/editais/1393523303_2014.pdf. Acesso em 09/06/2014.
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cadastro de reserva e poderão ser matriculados/as, de acordo com o número de
ausências dos/as candidatos/as classificados/as.
Dessa forma somente foi efetivada a matrícula de 96 candidatos/as em São Luís, presentes
no Seminário Inaugural do Curso. Em Caxias tivemos 52 inscritos, sendo 43 matriculados/as e
Imperatriz contou com 46 inscrições e 41 matriculados/as, totalizando 180 cursistas matriculados/
as nos três municípios. Somente após o Seminário Inaugural do Curso, os/as cursistas foram
incluídos no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), conforme disposto também no edital. A
seguir apresentamos a página inicial do Curso:
Dentre os links organizados na Sala Virtual do Curso GDE tem o “Cafezinho Virtual”,
um espaço de interação “adoçado com muito carinho, afeto e votos de felicidades”. Nele todas
as pessoas envolvidas no Curso podem acrescentar um tópico, escrever mensagens, recados,
atualidades, felicitações além de trocas de ideias sobre os mais variados temas. Como ilustração,
apresenta-se, a seguir, uma das mensagens da tutora Neuzanil, Turma 1 de Caxias:
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Figura 5: Mensagem publicada no “Cafezinho Virtual” no AVA
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
O Mural de Avisos constitui-se num espaço em que são publicados importantes avisos
e notícias relacionadas ao nosso Curso, como datas dos Encontros Presenciais; atividades em
desenvolvimento; eventos científicos regionais, nacionais e internacionais que tratem das áreas
temáticas do Curso; dentre outras. Apresenta-se a seguir, algumas notícias postadas no AVA.
Figura 5: Mensagem publicada no “Mural de Avisos” no AVA
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Figura 6: Mensagem publicada no “Mural de Avisos” no AVA
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Figura 7: Mensagem publicada no “Mural de Avisos” no AVA
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
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Figura 8: Relatório de “Notas” do Módulo Diversidade de uma cursista
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O último link disponível na Página de Apresentação da Sala Virtual, se refere ao E-book
do Curso, um dos materiais didáticos elaborados pelo CLAM e que foi disponibilizado em CD, nos
anos de 2009 e 2010. Vale destacar que na atual oferta do Curso, o mesmo está disponível apenas
on line, tendo sido apresentado e esclarecidas possíveis dúvidas quanto à sua utilização, tanto no
Seminário Inaugural do Curso, como pela tutoria a distância e presencial nos municípios / Polos.
Veja sua apresentação a seguir:
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Figura 10: Mensagem enviada pela coordenadora aos cursistas
Entende-se que o ensino a distância exige uma escolha cautelosa das ferramentas a serem
usadas e das estratégias pedagógicas a serem desenvolvidas para que o/a aprendiz possa interagir
com o conhecimento, ganhar autonomia e, sobretudo, saber problematizar e contextualizar o
saber. Partindo desse princípio, a internet se mostra bastante amigável, fornecendo recursos
suficientes para transformar o ensino não presencial, tais como: bate-papo, vídeos, animações,
simulações e fóruns de discussão on-line. Esses recursos ampliam as possibilidades de aquisição
e interação com o conhecimento. Entretanto, muitos de nossos/as cursistas ainda não têm essa
compreensão e acabam deixando as atividades do Curso em um “segundo plano”, deixando de
realizá-las nos prazos estipulados, enviando textos copiados da Internet (plágio) dentre outros
aspectos observados no decorrer do curso e enfatizados nas mensagens enviadas. A seguir
apresentam-se algumas mensagens coletivas enviadas aos/as cursistas, como forma de motivá-los/
as a participarem das atividades propostas pelo Curso (figura 10), bem como para e orientá-los/as
na elaboração de uma delas (figura 11):
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Figura 11: Mensagem enviada pela tutora Figura 12: Mensagem enviada pela tutora
Luciana – Turma 1 de Imperatriz Rarielle – Turma 2 de São Luís.
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
Também é possível utilizar este importante espaço para cumprimentar e parabenizar os/
as cursistas por suas participações, bem como para buscar respostas diante de possíveis faltas.
Vejamos alguns exemplos de mensagens coletivas e individuais:
Figura 13: Mensagens enviadas pela tutora Maria José, turma 4 de São Luís
Fonte: http://www.avacap.ufma.br/message/history.php?user1=1619&user2=1611
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ambientes virtuais de aprendizagem, simulando uma conversa presencial, na qual cada comentário
vai se aninhando aos demais, possibilitando uma conversa coletiva, um elo de pensamento, em
que cada fio da rede é tecido por diversas mãos. Assim, é possível perceber que o fórum de
discussão on-line pode ser considerado parte importante de um ambiente virtual de aprendizagem
(AVA), pois permite uma navegação hipertextual, agregando múltiplos recursos e ferramentas de
comunicação em tempo real ou de maneira assíncrona (BASTOS et al., 2005 e MASON, 1998). Com
uma proposta pedagógica, pode facilitar a organização e construção do conhecimento por parte
do aprendiz. A seguir, demonstra-se outro exemplo de discussão no fórum, com questionamentos
que trazem como possibilidade a construção da aprendizagem.
Fonte: http://www.avacap.ufma.br/mod/forum/discuss.php?d=861
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Na maioria das vezes as questões elaboradas para discussão partem de proposições dos/
as professores/as. Discutem-se através do fórum os conteúdos estudados, entretanto ainda deve
existir maior investimento na autonomia da aprendizagem como um dos critérios dos fóruns, ou
seja, cursistas entre si fazendo proposta de tópicos e abordagens a partir do tema em estudo,
trazendo contribuições de sites, links, acesso a blogs fortalecendo a discussão do grupo, ou seja,
são estratégias que promovem uma discussão mais ampla, em que os/as participantes estabelecem
o diálogo e a troca de saberes permeados por uma temática em estudo. Exemplos de alguns
trechos do Fórum de discussão do Módulo Gênero:
Figura 15: Trechos de Fórum de Discussão – Turma 2 de Imperatriz
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
Fonte: http://www.avacap.ufma.br/mod/forum/discuss.php?d=1166
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Nesse sentido, é possível observar que a participação dos/as cursistas nos fóruns de discussão
pode ser motivada desde a construção da proposta deste pelo/a professor/a pesquisador/a e, com
a dinâmica de interação do/a tutor/a, promovendo aspectos de desenvolvimento da aprendizagem.
Nos fóruns, o/a aprendiz deve ter possibilidades de comparar suas ideias, seu pensamento
com o dos/as colegas, enriquecendo-os sem perder de vista o objetivo comum do módulo/disciplina,
estimulando inclusive o pensamento crítico, cujo trabalho de construção coletiva e espontânea do
conhecimento promove a produção de novos conhecimentos, através de um processo relacional.
O último módulo refere-se a construção e desenvolvimento de um Projeto de Intervenção
nas escolas, além da organização de um Memorial e uma Autoavaliação, conforme apresentado no
E-book do Curso no AVA. Ao clicar nos links ao lado direito, verá os modelos disponíveis. Vejamos
a figura abaixo, com a seta indicativa:
O memorial deve ser escrito a partir das reflexões anotadas no “Diário” disponível em cada
Módulo do Curso. Cada cursista deve rever, refletir e avaliar sua trajetória no curso identificando
se as leituras realizadas influenciaram ou se chegaram a perceber alguma alteração em seu modo
de ver determinados fatos, atitudes ou comportamentos. Após essa reflexão, o/a cursista deve
relatar de que forma os conteúdos estudados contribuíam ou não em sua prática pedagógica,
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destacando fatos significativos acontecidos na família, na escola, no grupo de amigos/as e que
tenham relação com os temas estudados no curso. O cursista deve destacar o que gostou, o que
não gostou, os pontos positivos e negativos, críticas e sugestões para melhorá-lo. Cabe destacar
que essa experiência foi vivenciada com a oferta do curso nos anos de 2009 e 2010. Em breve,
tem-se a oportunidade de apresentar as reflexões das turmas do ano de 2014.
Em relação ao Projeto de Intervenção, o Curso GDE visa gerar impactos de curto, médio e
longo prazo nas escolas e na sociedade, com base na suposição de que os professores e as professoras
são tanto mediadores/as do processo educacional, quanto possíveis agentes multiplicadores
da mudança social que se pretende implantar por uma política pública de estímulo à inclusão
democrática. Dessa forma, a motivação para sugerir mudanças de atitude, de percepção e de
mentalidade relacionadas a temas que envolvem a diversidade humana deve ser forte o bastante
para não fraquejar diante das resistências das pessoas que preferem “deixar tudo como está” e/
ou que têm valores contrários aos nossos.
Assim se justifica a proposta de um Projeto de Intervenção, definido como um conjunto
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
articulado de ações e pessoas motivadas para o alcance de um objetivo comum, a partir de uma
justificativa plausível, por meio de estratégias previstas num tempo determinado (início, meio e
fim), com recursos limitados e sob constante avaliação. Portanto, para empreender um projeto de
intervenção é fundamental estar convicto da necessidade de mudança, motivado pela relevância
do tema, entusiasmado pelas ações a serem implementadas e cheio de paixão pelo desafio de
levar a termo a proposta que se pretende empreender. É também essencial estar preparado/a para
convencer os outros atores e atrizes de que o problema existe, elucidando situações reais nas quais
ele se manifesta e constituindo assim uma situação-problema, ou seja, o foco da intervenção, uma
delimitação capaz de modificar uma realidade que é complexa, numa situação simplificada e com
a qual conseguimos lidar.
Palavras finais
Para finalizar a conversa inicial cabe explicar uma colocação que demonstra a continuidade
do trabalho: “o nosso objetivo é a transformação, a mudança, o movimento, o interesse em saber
como e por que as coisas acontecem, principalmente para descobrir o significado e a direção
da mudança.” (FENELON, 1992, p. 10). A reflexão sobre as questões de gênero e sexualidade/s
no espaço escolar vem abrindo as portas para a continuidade do processo de investigação sobre
a formação e as práticas escolares acerca dessas temáticas, consequentemente, na busca pela
transformação dessas práticas.
A importância de temas como gênero e sexualidade na formação continuada e nas práticas
escolares se justifica, pois além de serem pressupostos da democracia e dos direitos humanos, é
necessário considerar, conforme aponta Louro (2001, p. 87-88), que é através de um aprendizado
continuado e de forma sutil que, na escola “meninos e meninas, jovens, mulheres e homens
aprendem e incorporam gestos, movimentos, habilidades e sentidos”. E na escola, “currículos,
34
normas, procedimentos de ensino, teorias, linguagem, materiais didáticos, processos de avaliação
se constituem em espaços da construção das ‘diferenças’ de gênero, de sexualidade, de etnia,
de classe”. O que os estudos atuais sobre gênero e sexualidade no espaço escolar buscam discutir
de forma problematizada, refere-se às formas como essa “normalidade” e as diferenças são
produzidas na sociedade, bem como os efeitos de poder dessas produções.
Vale lembrar que diante de tanta heterogeneidade nas situações educacionais, é
preciso rever velhos modelos e formular novas propostas que estejam em consonância com as
demandas escolares. Nesse sentido, a prática pode ser reconhecida como fonte de aprendizagem
e desenvolvimento profissional, experiências pessoais, posturas, comportamentos que não podem
ser totalmente explicados. Além disso, a educação diferenciada entre meninas e meninos acontece
mesmo que eles estejam na mesma sala de aula com o/a mesmo/a professor/a, lendo os mesmos
livros didáticos, às vezes de formas sutis outras mais visíveis. Cabe destacar que os/as docentes
envolvidos nesses espaços, na maioria das vezes não percebem o jogo de poder ali presente e a
serviço das desigualdades que se concretizam através de palavras, gestos e atitudes de omissão,
REFERÊNCIAS
BASTOS, F. P.; ALBERTI, T. F.; MAZZARDO, M. D. Ambientes virtuais de ensino-aprendizagem: os
desafios dos novos espaços de ensinar e aprender e suas implicações no Contexto escolar. Cinted-
UFRGS, v. 3, n. 1, maio, 2t005. Disponível em: http://www.cinted.ufrgs.br/renote/maio2005/
artigos/a22_ensinoaprendizagem.pdf. Acesso em 6 jun. 2014.
CATANI, Denice Bárbara; VICENTINI, Paula Perin. Lugares das experiências de vida e de trabalho
na formação / autoformação dos professores. In: CATANI, Denice Bárbara; VICENTINE, Paula Perin
(orgs.). Formação e autoformação: saberes e práticas nas experiências dos professores. São
35
Paulo: Escrituras Editora, 2006, p. 13-30.
FENELON, Déa Ribeiro. O historiador e a cultura popular: história de classe ou história do povo?
História & Perspectivas. n. 6. Uberlândia, 1992.
PEREIRA, M. E., ROHDEN, F. (ET AL). Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/
ES em gênero, Sexualidade, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Brasília/Rio de Janeiro:
SPM/CEPESC, 2007.
Perrenoud, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
SILVA, Sirlene Mota Pinheiro da. Relatório final: Gênero e Diversidade na Escola – GDE.
Universidade Federal do Maranhão - UFMA. São Luís, MA, 2010.
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
36
COORDENADORA DE TUTORIA:
compartilhando algumas estratégias por
quem está aprendendo o ofício em exercício
37
Coordenação de Tutoria: compreendendo suas atribuições e
responsabilidades
[...] um esquema de apoio sólido, para que a aprendizagem possa acontecer e para
que haja continuidade no processo a que ele se propôs, já que nessa modalidade
de ensino considera-se que o aprendiz está mais propenso à desistência. A auto-
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
Assim, a instituição que opta por esta modalidade de ensino para minimizar este desafio,
precisa investir em um sistema de acompanhamento tutorial que pode acontecer por meio da
atuação do/a tutor/a e das coordenações de tutoria e pedagógica, como é o caso do Curso GDE do
qual estamos tratando neste trabalho.
O/A tutor/a é um/a profissional indispensável “na rede de comunicação que vincula os/
as alunos/as ao curso” (CAMPOS et al,2008, p.190). É ainda,
38
No acompanhamento do trabalho do/a tutor/a está a Coordenação de Tutoria. Em um
sentido bem amplo pode-se dizer que: a Coordenação ou Supervisão de Tutoria é uma atividade
gerencial e estratégica, voltada para assuntos pedagógicos que resultem na melhoria da qualidade
do curso (Nunes et al., 2010). A ela compete “acompanhar a trajetória do tutor, pontuando novos
sentidos de seu fazer na prática de tutoria e orientando nas atitudes e habilidades no exercício da
tutoria” (CAMPOS et al., 2008, p.189).
Ampliando a compreensão desta função na gestão de tutoria, Garbin et.al (2008, p.6)
afirma que:
1
A Resolução/CD/FNDE nº 26, de 5 de junho de 2009, estabelece orientações e diretrizes para o pagamento de bolsas de estudo e de
pesquisa a participantes da preparação e execução dos cursos dos programas de formação superior, inicial e continuada no âmbito do
Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), vinculado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a
serem pagas pelo FNDE, a partir do exercício de 2009.
39
Compartilhando algumas estratégias por quem está aprendendo o
ofício em exercício
Como disse inicialmente, o objetivo deste texto é compartilhar a experiência que tenho
vivido como Coordenadora de Tutoria no Curso de Aperfeiçoamento em Gênero e Diversidade na
Escola. Para tanto, selecionei algumas das estratégias que considerei importantes para compartilhar
com aqueles/as, que, assim como eu, estão descobrindo os caminhos desta atuação profissional.
A seleção de tutores/as
Uma das primeiras atividades desenvolvidas foi à seleção dos/as tutores/as que
acompanhariam os/as cursistas. O processo seletivo foi organizado em três etapas: a primeira foi
à escrita de uma carta de intenções; a segunda, a análise de currículo e a última, a entrevista.
Buscando obter a maior transparência no processo, a equipe de coordenação organizou
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
alguns instrumentos que explicitavam os critérios de avaliação de cada etapa, conforme apresento
abaixo:
40
Figura 1: Papel disponibilizado para escrita da Carta de Intenções.
41
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
3ª Etapa: Entrevista
Tendo os currículos avaliados e pontuados, foi realizada uma entrevista com o propósito
de esclarecer possíveis dúvidas oriundas da leitura da carta de intenções, bem como obter maiores
informações sobre o conhecimento dos/as candidatos/as sobre a temática.
Por estes motivos, foram eleitos como critérios importantes para orientar a entrevista, os
seguintes aspectos:
42
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
A escolha criteriosa dos/as profissionais que fariam parte da equipe GDE foi fundamental,
para a continuidade do trabalho.
Começo questionando: o que seria acompanhar “in loco” um curso a distância? Entendo
por este acompanhamento a(s) visita(s) diária (s) que precisam ser feitas no ambiente virtual.
Comparo esta ação àquela que os/as coordenadores/as das escolas realizam quando se fazem
presentes nas salas de aula convencionais, observando o trabalho do/a professor/a.
A entrada na sala de aula, seja ela presencial ou virtual, tem como objetivo melhorar
o trabalho do/a professor/a ou tutor/a, com vistas à efetiva aprendizagem dos/as alunos/as. A
intenção não é fiscalizar ou vigiar a ação do/a profissional da educação mas colaborar, visto que
um olhar distanciado da ação direta pode identificar elementos que se constituirão em temáticas
para discussões posteriores ou mesmo para a formação continuada.
Sendo assim, diariamente “visito” as salas de aula virtuais. Ao visitá-las tenho claro o foco
de observação que varia conforme a atividade que está em andamento, no módulo do curso. Por
exemplo, se for um fórum, busco perceber a interação entre os/as cursistas, as fundamentações
apresentadas para sustentar opiniões com base no material estudado, as devolutivas feitas pelos/
as tutores/as, dentre outros aspectos.
Os dados que levanto por meio desta observação geram uma devolutiva ao/a tutor/a,
uma espécie de relatório, no qual pontuo os aspectos que considero relevantes, aponto sugestões,
apresento orientações. Ao encaminhar aos/as tutores/as, novos diálogos são estabelecidos com o
propósito ainda maior de obter êxito no curso.
43
Nos trechos abaixo, destaco algumas das situações vividas:
Trechos 1: Orientações para o Fórum
Em visita virtual a cada sala tenho percebido que os/as nossos/as cursistas, especialmente
os/as de São Luís, talvez por terem iniciado esse processo mais cedo, estão “a toda prova”,
pois elas/as têm participado ativamente através das suas respostas individuais e, também, se
posicionado acerca das respostas dos/as colegas.
Na experiência de Educação a Distância o Fórum é um dos mais importantes e significativos
no processo ensino aprendizagem desta modalidade. Ele se compara à sala de aula do Ensino
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
44
Trechos: Orientação para registro no Diário
Prezad@s TUTOR @s,
Estamos chegando à reta final do Módulo 2 e, a Unidade 3 traz como proposta duas
atividades importantes e que exigem d@s cursistas uma dedicação maior de tempo para fazê-las:
produção escrita sobre promoção da igualdade étnico-racial na escola e o diário.
Quero, nesta conversa, dar ênfase ao Diário pela sua relevância para o desenvolvimento
da consciência, da obtenção de informações sobre os percursos de aprendizagem, previsão de
necessidade de mudanças, experimentação de mudanças e consolidação de um novo estilo pessoal
no tratamento às questões de gênero e diversidade na escola. É exatamente neste “círculo de
melhoria” que pretendemos atuar (ZABALZA, 2004)[1].
Escrever sobre o que estamos fazendo como profissional (em aula ou em outros
contextos) é um procedimento excelente para nos conscientizarmos de nossos
padrões de trabalho. É uma forma de “distanciamento” reflexivo que nos permite
ver em perspectiva nosso modo particular de atuar.
Compartilho algumas situações retiradas dos diários das turmas para pensarmos um pouco
mais sobre o registro reflexivo:
Registro da cursista:
Avaliação do módulo:
A turma foi excelente, tivemos alguns contratempos por causa da nossa correria
na semana. Mas el@s ficaram firmes!
45
Comentário da tutora:
E em relação o decorrer das demais atividades? Quais as dificuldades? As
facilidades? O que mais lhe tem chamado atenção? As atividades estão
interessantes? O que lhe tem chamado mais atenção nas leituras? O que
já mudou na sua rotina na escola? Que tal se você se posicionar quanto às
discussões realizadas no decorrer do módulo? Suas expectativas estão sendo
alcançadas ou não? O que lhe chamou mais atenção?
A partir deste exemplo, podemos analisar que o registro não demonstra um procedimento
reflexivo, mas a tutora, atenta a isso provoca a reflexão.
Outra tutora propõe que, ao fazer novo registro a cursista pense sobre os seguintes
aspectos:
Tereza
como:
é importante que vc detalhe os momentos desse primeiro módulo
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
Sei que não há receita, mas acredito muito que podemos aprender com os percursos já
trilhados. Penso que não podemos apenas parabenizar o registro, mas provocar mudanças.
Fiquei ainda gratamente feliz ao ver que algumas tutoras também têm feito seus registros
no Diário, inclusive para servir de referência para @s cursistas, para externar seus sentimentos e
pensamentos etc. Vejam os recortes abaixo:
Diário:
Iniciei o módulo I com receio de como seria a turma que iria acompanhar.
Pensava comigo mesma, será que vou conseguir dá conta do recado? Como vou
ser, enquanto tutora? Conseguirei responder as expectativas d@s cursistas?
Questionamentos que aos poucos vou respondendo, mas ainda, não tenho
certeza, se estou indo bem na minha empreitada como tutora.
As leituras acerca da diversidade me proporcionaram novas posições, e um
novo olhar, sobre o que está posto (“naturalizado”) no nosso dia-a-dia.
A turma está se saindo bem, correspondendo as minhas expectativas dentro de
certos limites.
As discussões nos fóruns e os posicionamentos nas atividades recebidas me
permitiram observar como @s cursistas estão melhorando nas discussões.
O aprendizado é constante e estou amando ser tutora da minha turma.
Precisamos intensificar as mensagens d@s cursistas, uma vez que o prazo está findando
(SLZ, dia 29.06 e Imperatriz e Caxias, dia 06.07) e poucos registros foram feitos, como mostra o
quadro abaixo:
46
ATIVIDADE 3 – MÓDULO 2
TOTAL DE COMENTÁRIO
TOTAL DE CUR-
MUNICÍPIO TURMA
SISTAS
REGISTROS* TUTOR (A)
01 23 - -
CAXIAS 02 22 04 -
01 22 04 -
IMPERATRIZ 02 21 04 -
01 26 03 01
02 25 01 01
SÃO LUÍS 03 25 03 02
04 25 04 -
* Tabela atualizada dia 24.06.2014
Acredito que temos alguns elementos para encaminhar de novo o trabalho com o diário.
Como puderam perceber, nestes relatórios, apresento sugestões que vou encontrando nos
encaminhamentos feitos pelos/as próprios/as tutores/as. Acredito que a estratégia de compartilhar
o que acontece nas salas fortalece a ideia de que somos uma comunidade aprendente, e que nosso
trabalho é colaborativo, afinal somente a equipe de coordenação tem livre trânsito entre elas.
47
Edith Maria Batista Ferreira [17:26]:
Olá Tutora Lucélia
Tudo bom? Estamos na reta final do nosso Módulo I, e ainda temos muit@s cursistas que
não realizaram a atividade 3, conforme tabela abaixo.
Temos contado com o apoio permanente de vocês nos polos, enviando mensagens
@s cursistas fornecendo orientações, “cobrando prazos” e disponibilizando ajuda presencial.
Reconhecemos e agradecemos imensamente o empenho de vocês, para que tenhamos sucesso com
o nosso curso, visto que esta formação é uma ação de extrema relevância para a construção de
espaços educativos mais respeitosos e inclusivos.
Observem a Tabela:
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
48
Para não concluir...
REFERÊNCIAS
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distância. Revista Educar. Curitiba, n.21, p.215-224, 2003. Disponível em:
<http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/educar/article/view/2131>. Acesso em 06 de julho de
2014.
BARRETTO, Elba Siqueira de Sá. Formação de docentes a distância: reflexões sobre um programa.
Cadernos de Pesquisa, nº 106, março/1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/n106/
n106a04.pdf>Acesso em 01 de agosto de 2014.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1997.
49
<http://www.repositorio.ufop.br/bitstream/123456789/1701/1/EVENTO_
Gest%C3%A3oModeloCoordena%C3%A7%C3%A3o.pdf>. Acesso dia 05 de julho de 2014.
NÓVOA, António. Novas disposições dos professores: A escola como lugar de formação; Adaptação
de uma conferência proferida no II Congresso de Educação do Marista de Salvador (Baía, Brasil)
em Julho de 2003. Disponível em: http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/685/1/21205_
ce.pdf. Acesso em: 30 de Maio de 2014.
QUEIROZ, Edimara Sandra Camarota. Educação à distância: uma investigação sobre possíveis
contribuições para a educação continuada de professores de língua estrangeira (Inglês). Rev.
Brasileira de LingüísticaAplicada, v. 4, n. 2, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
rbla/v4n2/02.pdf>. Acesso em 12 de agosto de 2014.
50
VIVÊNCIAS E ANDANÇAS:
Um olhar sobre a Diversidade e
seus reflexos no ambiente
escolar maranhense
Escrever este texto foi para mim muito prazeroso, visto que me permitiu fazer uma
série de reflexões, embora nem todas inseridas neste artigo, mas que me possibilitaram uma
avaliação pessoal da minha participação ao longo desses anos nos Cursos de Especialização e
Aperfeiçoamento oferecidos pela UFMA - GDE.
Neste sentido, neste artigo tenho por objetivo descrever, tomando como referência
as disciplinas ministradas nos referidos cursos, tanto na modalidade a distância, como na
semipresencial, o trabalho desenvolvido e, de que modo os/as cursistas têm se mobilizado para
ampliar a rede de discussões e debates sobre a temática Diversidade e, como tais ideias tem
chegado às escolas e a outras instituições formadoras de opinião, visto que o público que forma
nossos/as cursistas não é só de educadores e educadoras.
Entendo que a ampliação do debate sobre as várias temáticas ligadas à diversidade e
trabalhadas na disciplina, dará maior visibilidade e, acima de tudo, respeito àqueles e àquelas que
são alvo do preconceito e da discriminação arraigado historicamente em nossa sociedade.
O empoderamento da mulher, a valorização da diversidade cultural, o respeito às várias
matrizes religiosas, a valorização das riquezas dos vários grupos étnicos que formam nossa sociedade
e a convivência respeitosa e sadia entre aqueles e aquelas que têm orientação sexual hétero ou
homossexual, são pilares em nossos debates e questões que precisam ser trabalhadas em constante
processo de conscientização, em favor da construção de uma sociedade verdadeiramente humana,
pois queremos e sonhamos com um mundo melhor e que respeite o/a outro/a em suas diferenças.
51
O encontro com a Diversidade pelos caminhos do GDE
O discurso médico apontado por Engel (2004) retrata bem o estilo judaico-cristão,
eurocêntrico, branco e heterossexista que permeava as práticas sociais e de relação de gênero
no período estudado pelo autor (1840-1890) e que, desde então, passaram ao senso comum e
atravessaram os séculos XIX, XX e chegaram ao século XXI, cuja sociedade ainda dota de razão
apenas o homem, sujeito capaz de prover dignamente a casa e ocupar, digna e moralmente, os
espaços públicos.
Embora se diga sem preconceitos, a nossa sociedade e, de modo particular nossas
escolas, ainda se indignam com a luta das mulheres por espaços, respeito e direito a igualdade de
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
tratamento; ainda perpetuam conceitos negativos em relação às etnias negras e indígenas; ainda
se assustam e criticam as ações públicas das relações homoafetivas, sendo recorrente a seguinte
afirmação: “Tudo bem ser gay, mas, andar de mãos dadas, dar beijos em público... Isso não”; ainda
escondem as pessoas com alguma deficiência de convívio social, enfim, ainda não são plenamente
capazes de olharem para si mesmas e reconhecerem a necessidade de mudança que valorize
positivamente a diversidade e a diferença.
Enquanto esse reconhecimento de que somos sim, preconceituosos, machistas,
heterossexistas, eurocêntricos não for feito e discutido abertamente não estaremos prontos/as
para acolher e respeitar o/a outro/a nas suas diferenças.
Foi nesse sentido positivo da discussão aberta, livre e enriquecida por uma literatura que
vem sendo construída, ao longo dos tempos, sobre a temática da diversidade de gênero, relações
étnicos raciais e de orientação sexual que a Universidade Federal do Maranhão, por meio do
Departamento de Educação I, sob a orientação e coordenação das professoras Mestra Sirlene Motta
Pinheiro da Silva e Dra. Joelma Reis Correia, buscou-se junto ao SECAD/MEC meios para viabilizar
Cursos de Aperfeiçoamento e Especialização, que possibilitassem a formação de profissionais que
tratam da educação para o enfrentamento das questões anteriormente suscitadas, tão presentes
em nossa sociedade, mas ainda vistas como questões de segunda ordem, sem importância por nós.
De acordo com Paiva (2009, p.17), um dos mais importantes princípios norteadores da
cidadania moderna é a concepção do indivíduo possuidor de direitos em condições de participar
da esfera pública. Nesse sentido, a escola, lugar de produção e transmissão de saberes e
conhecimentos, tem a função de formar o indivíduo para o pleno exercício da cidadania, através
do cumprimento de seus deveres e na exigência de seus direitos serem respeitados e praticados.
A cidadania aqui reivindicada não tem sexo, religião, orientação sexual, cor ou grupo
étnico, ela é plena e para todos/as. Portanto, o maior e mais justo meio de praticar a cidadania é
o respeito a todos e a todas, sem nenhuma diferenciação.
52
Ao longo e através dos Cursos de Aperfeiçoamento e Especialização em Gênero e
Diversidade na Escola – GDE - UFMA, praticados desde 2009, tem-se buscado construir uma prática
pedagógica que leve em consideração os aspectos do respeito e da plena cidadania a todos e a
todas. Estes cursos vêm, ao longo desses anos, promovendo projetos de intervenção nas escolas e
em instituições públicas, no sentido de desvelar o preconceito e a discriminação relacionados às
chamadas “minorias”.
A minha experiência como professor das disciplinas “Relações étnico-raciais” e
“Diversidade” ocorre desde o ano 2012, quando foi realizado o primeiro Curso de Especialização
na modalidade à distância, Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça (GGP-GeR), oferecido
aos municípios maranhenses de Humberto de Campos, Imperatriz, Codó, Grajaú e Caxias.
Aquela oportunidade, além de ministrar a disciplina “Relações Étnico-raciais”, também
orientei trabalhos de conclusão de curso nos municípios de Humberto de Campos e Imperatriz,
bem como participei de algumas bancas examinadoras de orientandos/as de outros/as colegas
professores/as.
A questão da orientação sexual, embora hoje já conte com alguns avanços, como o
reconhecimento da união estável entre casais do mesmo sexo e a homofobia vista como crime,
ainda requer muito debate e enfrentamento em relação ao preconceito, contra as pessoas que
têm orientação sexual, homossexual e não hétero. Por mais que em público as pessoas digam que
53
aceitam, na prática ainda é inconcebível dois homens ou duas mulheres andarem de mãos dadas
ou trocarem carícias em público, com a defesa de que essa é uma prática que só deve ser realizada
no âmbito do privado.
Tal situação me inquieta a levantar os seguintes questionamentos: e as outras condutas
sociais, porque ou com qual status podem ser públicas? Quem estabeleceu ou estabelece que só
casais heterossexuais podem conviver em público? Estas questões me levam a refletir que já está
mais do que na hora de revermos nossas práticas e conceitos.
Nesse sentido, essas temáticas da orientação sexual, das questões de gênero e das
relações étnico-raciais têm sido as que mais suscitam debates no decorrer dos cursos, porém
a questão indígena, as questões religiosas, dos ritmos de aprendizagem dentre outras, também
estão na pauta das discussões relacionadas ao enfrentamento do preconceito e da discriminação.
No entanto, a sociedade e, particularmente, a escola, ainda precisam reconhecer que
não sabem lidar com a riqueza cultural que marca o nosso povo, através do regionalismo e da
diversidade étnico-racial que serve de base para a sua formação, pois ainda percebem a cultura
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
Como vemos, a cultura emana do povo e só com ele pode existir e se desenvolver.
Logo, a escola, como espaço que reúne essa diversidade, precisa se perceber responsável pelo
empoderamento positivo de cada indivíduo produtor de cultura e detentor de conhecimento que
nela busca, mas, na maioria das vezes, não acha um espaço para ter a joia ou as joias que existem
dentro de si lapidadas.
Como diria Freire (1983), todo mundo sabe alguma coisa ou muitas coisas, então cabe a
escola possibilitar ao/a educando/a as condições para uma reflexão crítica sobre aquilo que sabe,
é, e sobre o que vai aprender no decorrer da vida.
Nessa perspectiva, considero importante situar algumas reflexões suscitadas na minha
experiência como professor da 1a turma do Curso de Especialização Presencial Gênero e Diversidade
na Escola (GDE), ministrando a disciplina Diversidade. Nessa turma, tive a oportunidade de orientar
e acompanhar a execução de cinco Projetos de Intervenção desenvolvidos pelos/as alunos/as deste
curso, em quatro escolas públicas municipais de São Luís e um no Instituto Federal do Maranhão –
IFMA com os seguintes temas:
54
•DIVERSIDADE CULTURAL: Nos embalos da diversidade cultural maranhense.
•CONVIVER NA DIVERSIDADE: Construção Social da Identidade de Gênero na escola.
•VISÕES DE NÓS: Construção Social da Identidade de Gênero na escola.
•CURTA A DIVERSIDADE. RELAÇÕES DE GÊNERO, ORIENTAÇÃO SEXUAL E IGUALDADE SEXUAL:
uma proposta de respeito às diferenças na escola.
A partir de uma série de atividades relacionadas às temáticas ligadas à diversidade e que,
de certa forma, se constituía em uma dificuldade ou um tabu, ou ainda, um preconceito a ser
enfrentado pelas escolas onde cada projeto foi aplicado; os resultados foram surgindo e aquilo que
era uma questão de difícil discussão foi sendo debatido de forma madura e com uma carga menor
de piadinhas, “chacotas” etc, entre os/as alunos/as, com a intervenção dos/as cursistas.
Vale ressaltar, que cada projeto só foi aplicado mediante o consentimento da gestão das
escolas, visto que a maioria delas não possuía nenhum tipo de vínculo com os/as nossos/as alunos/
as e, ainda que houvesse cada grupo de alunos/as precisava dessa autorização para adentrar o
espaço escolar, e se aproximar dos sujeitos da intervenção.
55
Não podemos deixar de enfatizar que, sendo São Luís o município que mais congrega
escolas em todo o Estado, foi a primeira vez que foi oferecido neste município um curso voltado
para essa temática, o que é considerado um grande ganho, visto que a riqueza étnico-cultural,
as questões de gênero, diversidade religiosa, orientação sexual dentre outros, demarcaram
sobremaneira as escolas localizadas no sítio urbano e rural de São Luís.
A experiência com a disciplina Diversidade, ministrada no Curso de Aperfeiçoamento,
na modalidade a distância, oferecida para profissionais da educação nos municípios de São Luís,
Caxias e Imperatriz, distribuídos em oito turmas, duas em cada município, com início em abril
de 2014 e término em outubro do mesmo ano, também me permitiu refletir sobre a questão da
diversidade em suas diversas nuances.
O desafio de ministrar uma disciplina no referido curso, também foi grande, dado a
sua dinâmica de funcionamento, ao espaço e ao tempo em que o mesmo ocorre. Quando recebi
o convite para ministrá-la, me fiz as seguintes perguntas: Que ações propor? Como abordar os
conteúdos de forma sucinta e, ao mesmo tempo, aprofundados? Que atividades realizar? Nas idas
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
e vindas que se faz mentalmente antes de por algo no papel, muito se imagina até chegar a
uma definição. Nesse sentido, defini como mais importante incomodar1 os/as cursistas com o
levantamento de reflexões, por meio dos fóruns, além de propor atividades que tivessem como
foco perceber, a partir das discussões teóricas, suscitadas através dos textos de referência, o chão
da escola, ter um olhar desnaturalizado daquilo que ocorre dentro dela e outras instituições, que
precisam ser compreendidas e respeitadas, de modo a entender as configurações sociais, étnicas,
religiosas, de gênero, orientação sexual que comportam.
Assim, propus atividades que partiram das reflexões teóricas à realidade em que atuam
os/as cursistas. A exemplo dessas atividades apresento a seguinte:
Eis algumas respostas dos/as cursitas, selecionadas entre as oito turmas que compõem o
GDE:
Re: Debate da Turma de SÃO LUÍS - 01
Por Camila Gonçalves Ribeiro - Monday, 14 April 2014, 08:48
Atualmente sou professora da educação infantil, e no mês passado me deparei com
uma situação interessante. Um aluno estava brincando de cabeleireiro, e nesse
exato momento o seu pai chegou, no mesmo momento, ele mandou que o menino
parasse de brincar, pois aquilo não era brincadeira para meninos.
Diante da situação, tentei argumentar cotm o pai sobre aquele momento, mas o
mesmo se negou a ouvir, alegando que já sabia qual era o meu discurso.
O que busco trazer a partir deste exemplo, que com certeza várias pessoas já
vivenciaram ou até mesmo cometemos dentro de nossas residências esse tipo de
atitude, é despertam o nosso olhar para a diversidade e buscar realmente romper
com esses paradigmas sociais. Conforme menciona Scott (1990), historicamente
se constitui os lugares dos masculino e feminino, desrespeitando desta forma a
liberdade e os diretos humanos, além de estereotipar um grupo. E a escola, como
1
Uso o termo no sentido de provocar questionamento, um olhar sobre suas práticas e das instituições que atuam.
56
instituição sistemática, precisa posicionar-se frente às questões, pois é a partir
dela que construímos ou desconstruímos os nossos conceitos.
57
bastante, muito ainda precisa ser feito no sentido do empoderamento da mulher e, a escola tem
papel importantíssimo para desmistificar uma pseudo supremacia do homem sobre a mulher, pois
ainda:
A maioria das mulheres não pode decidir sobre suas próprias vidas, não se
constituem enquanto sujeito histórico e político, não exerceram ou exercem o
poder, seguem aprimoradas vivenciando as mais diversas formas de opressão,
opressão aqui entendida na perspectiva apresentada por Iris Marian Young, como
um condicionante social que define o conceito de injustiça social (COSTA, 2008-
2009, p.17)
com essa situação. As gerações se sucederam e se fomentaram a mulher como o sexo frágil e
inábil para determinadas profissões e saberes. É esse mito construído, ao longo dos séculos, que
devemos combater e, especialmente, através das próprias mulheres, uma vez que são elas que
devem se convencer da sua condição de protagonistas, de verem no feminino a sua força e não
a sua submissão, de combaterem e não propagarem ou se conformarem com o preconceito e a
discriminação de uma sociedade machista como a nossa.
O movimento feminista que, durante as últimas décadas do século XX, teve grande
repercussão tanto na luta da violência contra a mulher, quanto pela igualdade de tratamentos
nos espaços públicos, por meio da valorização profissional e salarial, parece ter se retraído nas
últimas décadas, principalmente depois das conquistas formais e legais obtidas depois de muito
enfrentamento, na Constituição de 1988.
É necessário agora a luta para que essas conquistas, ampliadas pela Lei Maria da Penha,
sejam plenamente efetivas e que as secretarias da mulher, sejam ampliadas para todos os
municípios brasileiros, para que de fato sejam desenvolvidas políticas públicas voltadas para as
mulheres.
CONCLUSÃO
Sabemos que educação é um processo e que mudar a concepção das pessoas é algo
lento e gradual, mas se desejamos construir uma sociedade o mais isenta possível de preconceito
e discriminação, é necessário se começar imediatamente. Para isso, primeiro devemos nos
conscientizar que temos e somos preconceituosos/as; segundo, que temos mascarado isso;
terceiro, que não sabemos e nem podemos lutar sozinhos/as contra essa questão; quarto, que
devemos olhar o/a outro/a sempre com uma visão positiva; quinto, que a diversidade nos dignifica
e, portanto, precisamos respeitá-la; e, sexto, que a diferença de crença, cor, orientação sexual,
gênero, étnico-racial não devem serem vistas negativamente e colocada debaixo do tapete, mais
58
valorizada e propagada como uma marca de nossa gente. “VIVA A DIFERENÇA”, seja ela da natureza
que for.
Como afirma Fiorelli (2010, p.104, grifos do autor):
A Escola é um espaço onde devemos trabalhar as diferenças, valorizando-as. Somos
uma coletividade, mas também somos indivíduos únicos, que nos reconhecemos
e somos reconhecidos pelos outros também. No espaço escolar, partilham-se
significados comuns de pertencimento ou não a um determinado grupo. No entanto,
a escola, muitas vezes silencia as identidades culturais, contribuindo assim, para a
formação de cidadãos “homogêneos”, propagando as formas de discriminação, de
exclusão e de desigualdade social. (FIORELLI, 2010, p.104).
REFERÊNCIAS
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Bauru, SP: Edusc, 2011
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In: RIBEIRO, Paula Regina Costa; COSTA, Ana Luiza Chaffe; BARROS, Suzana da Conceição. Gênero
e diversidade na escola: saberes em diálogo na educação a distância. Rio Grande, RS: FURG,
2012. p.55-60.
60
URDIDURA E TRAMA NA EDUCAÇÃO
DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS:
tecitura de saberes e experiências
[...] minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem
nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito
também da História. (FREIRE, 2000, p. 60)
Esta discussão sobre experiências com educação das relações étnico-raciais (Educarer)
está inscrita no contexto de processos de implantação e implementação de políticas curriculares
estabelecidas por alterações nos arts. 26-A, 79-A (vetado) e 79-B da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, mediante a promulgação
da Lei Federal nº 10. 639/2003, cujo texto, é interpretado e orientado pelo Parecer CNE/CP nº
003/2004 e pela Resolução CNE/CP nº 001/2004 que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana (BRASIL, 2004).
Nessa direção, faz-se necessário e urgente produzir conhecimentos acerca de experiências
educativas, endereçadas à construção de alternativas “éticas, epistemológicas e pedagógicas
(SILVA, 2007) que instigam mudanças de atitudes, na desconstrução de preconceitos e estereótipos,
cujas experiências históricas têm provocado sentimentos de inferioridade e superioridade com
alcance na produção de injustiças sociais, mediante negação de direitos sociais.
Trata-se de uma possibilidade de reflexão acerca dos estudos desenvolvidos no módulo
“Relações étnico-raciais” do Curso Gênero e Diversidade na Escola (GDE), o qual faz parte do
Programa de Formação de Professores para a Diversidade, destinado a formação de profissionais da
rede pública da educação básica, por meio do Sistema Universidade Aberta do Brasil (Sistema UAB)
e realizado pela Universidade Federal do Maranhão na modalidade de educação a distância (EaD),
61
no período de maio a julho de 2014, atendendo a três municípios do estado do Maranhão com a
participação de 108 (cento e oito) cursistas. São eles: Caxias com 25 (vinte e cinco) cursistas,
Imperatriz com 31 (trinta e um) cursistas e São Luís com 52 (cinquenta e dois) cursistas.
Tal atividade reflexiva contribui com os movimentos que reivindicam visibilidade,
reconhecimento e valorização das “experiências desperdiçadas” (SANTOS, 2006), mediante
dispositivo pedagógico enquanto “lugar no qual se constitui ou se transforma a experiência de si”
(LARROSA, 1994, p. 57), ou seja, lugares de ensinar e aprender, dialeticamente, transformando
nossas próprias experiências com o fazer pedagógico e com outras experiências (a dos/as alunos/
as). Para Freire (2000, p. 43 e 44), significa adotar atitude de “reflexão crítica sobre a prática” ou
“curiosidade epistemológica” como forma de melhorar a prática seguinte.
Desse modo, apresentarei, neste relato, uma tecitura de experiências com a educação
das relações étnico-raciais (Educarer), descrevendo os processos que envolveram a elaboração
do planejamento; sua concretude nos encontros virtuais e, sobretudo, nos presenciais que
oportunizaram a realização de oficinas praxiológicas, como modos de enfrentamento dos desafios,
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
além de alguns resultados como ponto de chegada e de partida para formulação de novas tecituras
educativas.
Sem agulhas
Costuro planos
Costuro sonhos
Caminhos de ida
Retornos [...]
Com palavras
Costuro o registro
(Bilá Bernardes)
1
A compreensão do funcionamento de uma tecelagem manual requer a definição de, pelo menos, 3 elementos básicos: 1) o tear: é
uma ferramenta simples, que permite o entrelaçamento de uma maneira ordenada de dois conjuntos de fios, denominados trama e
urdidura, formando como resultado uma malha denominada tecido; 2) a urdidura: é formada por um conjunto de fios tensos, paralelos
e colocados prèviamente no sentido do comprimento do tear, e ; 3) a trama: é o segundo conjunto de fios, passados no sentido
transversal do tear com auxilio de uma agulha (também denominada navete). A trama é passada entre os fios da urdidura, por uma
abertura denominada cala. Disponível em: http://www.tecelagemanual.com.br/paginal4.htm. Acesso em: 07/07/2014.
62
Figura 1: Urdidura (urdume) e trama no processo de formação de um tecido
63
mundo, modos de ser e viver. O módulo “Relações étnico-raciais”, pensado como trama,
envolve tensões e conflitos na construção de propostas e das reflexões que vão inventando os fios
de experiências, a partir das atividades desenvolvidas tanto em encontros virtuais, quanto em
presenciais. É nesses encontros que é possível observar, efetivamente, o modo pelo qual a trama
complementa e dá vida a urdidura.
Dessa forma, é esta complexidade de movimento da trama, sustentada pela urdidura
que passarei a demonstrar a seguir, destacando: 1) a idealização do módulo (trama), por meio
do planejamento; 2) a tecitura educativa como processos de aprender e ensinar relações étnico-
raciais e, por fim 3) os principais desafios enfrentados como reflexão para uma nova tecelagem.
o outro e mediado pelo uso de mídias, tecnologias e linguagens. Desse modo, o plano de ensino,
responsável pela formação da trama pode ser resumido da seguinte forma:
Ementa: A construção histórica do racismo e ideologias da identidade nacional.
Desigualdade racial, estereótipos, preconceito e discriminação racial. As Diretrizes Curriculares
na promoção da igualdade étnico-racial na escola.
Objetivo Geral: Analisar situações de racismo, estereótipos, preconceito e discriminação
racial, buscando construir alternativas de enfrentamento da problemática étnico-racial no
currículo escolar.
Objetivos Específicos:
64
c) realização de produção textual fundamentada, seguindo a normalização de trabalhos científicos.
Recursos: materiais impresso e digital (internet) tais como: conteúdos de revistas,
jornais, livros e caderno de atividades do Curso GDE. Para as oficinas: data show, vídeos, papel A4,
cartolinas, folhas de EVA, tesoura, cola, pincel atômico, hidrocor, dentre outros.
Avaliação: diálogo, participação e realização das atividades propostas como: a)
participação efetiva na atividade 1 (fórum) com postagem de argumentos sustentados nas leituras
do livro de conteúdo e atividades do curso; b) realização das atividades 2 e 3 (Tarefa) de produção
textual; c) registro das reflexões do processo de aprendizagem na ferramenta diário.
Com esse planejamento, a trama das relações étnico-raciais entrelaçou e potencializou
a urdidura do GDE que, por sua vez, adotou o modelo de EaD web semipresencial (MORAN, 2011),
bastante usado pelo Sistema UAB, tendo como tear o Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle2
(AVA Moodle) estruturado em formato de tópicos para agrupar os conteúdos em módulos.
Especificamente em relação à trama, já que cada módulo pode fazer uso de diferentes
ferramentas, a urdidura contou com: a) os recursos da página web, sumário, rótulo, link a um
65
Este layout “mostra os elementos textuais, o estilo e a identidade visual das telas”
apresentando os caminhos que levaram ao produto ou tecido, ou seja, as análises de situações de
racismo, estereótipos, preconceito e discriminação racial buscando a construção de alternativas
de enfrentamento da problemática étnico-racial no currículo escolar. Isto significa criar e percorrer
a trilha de um “saber anunciado” por professores/as especialistas expondo, cursistas e tutores/as
em interação com seus próprios saberes e experiências (GOMEZ, 2004, p. 132).
Nos limites desse estudo, não será possível fazer análise de todos os conhecimentos
produzidos pela trama das relações étnico-raciais e disponíveis nas atividades do tear virtual
(AVA Moodle), por meio da interação entre tutores/as e cursistas. Este relato focaliza mais a
importância das atividades do Encontro Presencial (EP) como ferramenta que, ajuda, também, no
desenvolvimento da trama (relações étnico-raciais) construída, a partir do “saber anunciado” pela
trama (relações étnico-raciais) no tear (AVA Moodle) da urdidura (Curso GDE), tais como:
A unidade 1: Construção histórica do racismo é anunciada em fórum de discussão, tratando
dos conceitos de etnocentrismo, racismo, preconceito e suas implicações nas ideologias do Estado
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
66
Tabela 2 – desenvolvimento didático das oficinas praxiológicas
3
Fonte: produzido pela autora com base no método dialético (SAVIANI, 2008)
A seguir, a concretude desse processo que tem no EP uma ferramenta que pode ser usada
para diversificar e ampliar as construções de aprendizagens on-lines.
3
Os símbolos Adinkras foram criados pelos povos Akan, presentes em Gana, Costa do Marfim e no Togo, países da África
do Oeste. Constituem um sistema de escrita pictográfica e de ideias comprometidas com a preservação e a transmissão de
valores fundamentais. (CARREIRA, 2013, p. 16)
67
2.1.2 Segundo momento: atividade de instrumentalização teórica
No segundo momento, tendo como guia conceitos e imagens disponíveis em slides de
PowerPoint, continuei enfatizando o discurso de reconhecimento e valorização de culturas
étnico-raciais, problematizando os saberes anunciados pela trama que corporifica e dá sentido a
urdidura. Nessa direção, discutimos os questionamentos apresentados a seguir, fazendo referência
ao conteúdo disponível no tear (AVA Moodle):
Na construção histórica do racismo (unidade 1): quais as implicações das noções de
etnocentrismo, racismo e preconceito nas ideologias do Estado Nacional e no reconhecimento da
diversidade étnico-racial?
Sobre desigualdade racial (unidade 2): como as noções de gênero e raça funcionam
enquanto mecanismos de desigualdade social no Brasil, definindo o lugar de cada grupo na
sociedade?
68
Figura 5 – Saber anunciado por meio da ferramenta Tarefa – 2ª atividade
Fonte: Imagem capturada com o PrintScreen do AVA Moodle do Curso GDE/UFMA. Disponível em: http://
www.avacap.ufma.br/mod/assignment/view.php?id=1258. Acesso em 09.07.2014
Além das discussões dos questionamentos anteriores, outras leituras foram disponibilizadas
para serviram de instrumentalização teórica tanto na realização das atividades de vivência prática
quanto das produções a serem discutidas e disponibilizadas no tear (ambiente virtual), conforme
mostro nas figuras que seguem.
69
Figura 7 – Leituras foram realizadas durante o Encontro Presencial (EP)
70
Tabela 3 – corporificação da oficina praxiológica
ADINKRAS ATIVIDADES
Racismos na Linguagem: produção de jornal com notícias de desconstrução de racismos na
linguagem
Grandeza e Instrumentalização: MENDONÇA, Chiara H. Cidade Negra. In: OLIVEIRA, Catarina [et
Superioridade al]. Meu povo, meu chão: trabalhando a diversidade – livro 6. João Pessoa, PB:Dinâmica
SDCA 42 Editora, 2009.
Respeitem meus cabelos: produção de cartaz de campanhas comunitárias na desconstrução
de estereótipos e preconceitos acerca da estética do cabelo
Instrumentalização: Música de Lamartine Babo: “O teu cabelo não nega” e FELIX,
Lealdade e Paciência Marcelle. Para além dos fios. <http://observatoriodefavelas.org.br/noticias-analises/para-alem-
SDCA 43 dos-fios/>. Acesso em 10 mai 2014.
Vista a sua pele: produção de cena teatral para reflexão de situações de desigualdade racial
Sabedoria Instrumentalização: Vídeo: “Vista minha pele” de Joel Zito Araújo
SDCA 44
O “embranquecimento”: projeto, mito e preconceito: Produção de um programa de TV,
refletindo sobre o projeto de homogeneização da sociedade brasileira, a partir da existência
das três raças
Instrumentalização: SODRÉ, Muniz. Uma genealogia das imagens do racismo. http://
Fonte: produzido pela autora com base nas Situações Didáticas do Caderno de Atividades – SDCA do curso
GDE (2009) e em Situações Didáticas Propostas pela Professora do Módulo – SDPM (Raimunda Machado)
71
Tabela 4 – Atividades realizadas na oficina praxiológica e o tecido de seu desdobramento
SDCA 42: Racismos na Linguagem
Construção de um jornal contendo três argumentos em formato de notícias para desconstrução de estereótipos e
preconceito na linguagem.
Com base no texto “Cidade Negra”:
- Escrevam uma lista de expressões consideradas racistas (outras expressões conhecidas no cotidiano podem ser
acrescentadas);
- Discutam com seus colegas o porquê de as expressões selecionadas serem consideradas racistas. Por exemplo,
o preconceito embutido no termo “moreno”, quando atribuído a uma pessoa negra, como forma de negar ou
“dissimular” sua identidade racial. A verbalização destes racismos de linguagem, no espaço da sala de aula, é uma
especial oportunidade de desconstruí-los e eliminá-los do vocabulário. Portanto, professor/a, não deixe que nenhum
deles fique sem ser refletido.
- Depois das reflexões, iniciem a construção de um jornal, escrevendo três argumentos em forma de notícia (matéria
jornalística) sobre racismos na linguagem com o objetivo de desconstruir os estereótipos e preconceitos presentes
em cada expressão.
- Especifiquem um nome ao jornal e um título em todas as notícias.
- Ao término desta construção, apresentem o jornal à turma!
Na produção da notícia pense:
- No objetivo da notícia;
- No público a que se dirige;
- Num texto que expresse comentário, uma opinião, acerca do título abordado.
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
72
SDCA 43: Respeitem meus cabelos
Produção de cartaz para campanhas comunitárias (na escola e na comunidade), visando desconstruir estereótipos e
preconceito acerca da estética do cabelo.
Com base no texto “Para além dos fios” e na música de Lamartine Babo “O teu cabelo não nega”:
- Discutam sobre os significados do cabelo afro e elaborem um cartaz para campanhas comunitárias dirigidas à
comunidade escolar ou à comunidade do bairro onde se localiza sua escola, visando desconstruir estereótipos e
preconceito acerca da estética do cabelo. Destaque imagens e adjetivos positivos para cabelos afros.
- Ao término da produção do cartaz, realizem sua campanha com a turma!
Na produção do cartaz:
- Pensem no perfil do público que a campanha vai atingir; nas imagens e sua relação com o texto verbal;
- Observem se o texto verbal informa ou convence as pessoas a respeito do assunto abordado; se a linguagem é
simples, direta, apropriada ao público a que se destina e obedece às normas gramaticais;
- Disponham o texto verbal e imagens (ilustrações e/ou colagens) numa folha de cartolina; use letras de diferentes
tipos e tamanhos; informe sobre os responsáveis pela campanha.
TECIDO DA OFICINA: no entrelaçamento da trama e da urdidura
CARTAZ DE CAMPANHA COMUNITÁRIA “Meu cabelo tem atitude”
73
SDCA 45: O “embranquecimento”: projeto, mito e preconceito
Realização da apresentação de um programa de TV sobre a obra “Redenção de Cã”
Observem a reprodução do quadro “Redenção de Cã de Modesto Brocos:
- Escrevam uma lista de características dos/das personagens retratados: mulher
idosa e negra (com as mãos estendidas aos céus em agradecimento), mulher jovem
miscigenada, homem jovem branco e bebê branco.
- Explorem a relação sugerida entre eles: mulher negra como mãe da mulher jovem
miscigenada e avó do bebê branco, indicando uma sucessão no tempo e nas
gerações que vai da pela negra à pele branca. Notar que, na disposição do quadro,
o homem branco ocupa uma posição lateral, como se viesse de fora, para interferir
sobre a linhagem das mulheres, ao “contribuir” para o “embranquecimento” de sua
descendência.
- Explorem o tema da ideologia do “embranquecimento”, oferecendo elementos
sobre o surgimento e uso social deste conceito. Sugestão de material de apoio:
Muniz Sodré, “Uma genealogia das imagens do racismo” no especial da Folha de
São Paulo “500 Anos”.
- Discutam com seus colegas o porquê do ideal de “embranquecimento” como
forma de negar ou “dissimular” a identidade racial. Depois das reflexões, elaborem
um programa de TV, mostrando como produções artísticas (também científicas e
literárias) contribuíram para construir uma identidade nacional baseada numa visão
eurocêntrica.
- Especifiquem um nome para a emissora, o programa e um título para a temática a ser apresentada.
- Ao término desta construção, apresentem seu programa de TV para a turma!
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
-
Na produção do programa de TV pensem:
- No objetivo da emissora e do programa e no público a que se dirige;
- O texto dos comentários sobre o tema para o programa de TV devem ser curtos e objetivos;
- O apresentador (coordenador do bate-papo) deve ter domínio da leitura e boa dicção;
- Cada comentário (de convidados e apresentador/a do programa) deverá ter cerca de 30 segundos, para que a
apresentação não fique cansativa;
- Se a equipe desejar poderá filmar a apresentação e depois editar o vídeo, colocando propagandas contra racismos
entre os blocos de comentários e observando bem o tempo utilizado.
TECIDO DA OFICINA: no entrelaçamento da trama e da urdidura
74
SDCA 46: O “embranquecimento” na telinha
Produção de uma carta aberta endereçada as emissoras de televisão, contendo princípios e critérios para uma TV que
seja a “Cara do Brasil”.
Com base no vídeo e na resenha da obra “A negação do Brasil” de Joel Zito Araújo:
- Analisem a ausência do/a negro/a na TV e a perpetuação de preconceitos e estereótipos por meio da TV brasileira,
observando as características encontradas e os estereótipos geralmente presentes nesses/as personagens (Exemplos:
ocupam papéis secundários, em funções de pouco prestígio social, são malandros/as, desleixados/as, tem samba
no pé, etc).
- Dialoguem sobre o quanto estas imagens refletem a realidade e ao mesmo tempo a perpetuam ou recriam, e registre
os papéis desenvolvidos por mulheres nas telenovelas e os estereótipos de gênero interrelacionados aos de raça.
Observem o fato de que negros/as tem maior presença em novelas de época, que retratam a escravidão, revelando
assim uma tendência de delimitar as desigualdades raciais ao passado. A novela “Escrava Isaura”, adaptada da
obra de Bernardo Guimarães, sucesso mundial, merece particular atenção na análise da personagem Isaura - negra,
mas, cuja “tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que
não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada” e da personagem Rosa, negra, escrava, feiticeira,
apaixonada pelo patrão e com inveja de Isaura.
- Elabore uma carta aberta endereçada as emissoras de televisão, contendo princípios e critérios para uma TV que
seja a “Cara do Brasil”. Ao término desta produção, apresente a carta aberta à turma!
Na produção da carta aberta:
- Iniciem situando o problema, depois desenvolva uma análise do problema e por fim, aponte princípios e critérios
de desconstrução de estereótipos e preconceitos.
TECIDO DA OFICINA: no entrelaçamento da trama e da urdidura
75
SDPM 1: A Sombra do Baobá
Produção de boletim informativo com possibilidades culinárias e medicinais, utilizando elementos da cultura
africana a partir do Baobá.
- Leiam os textos com informações sobre o Baobá;
- Escrevam uma lista de possibilidades culinárias e medicinais, a partir do Baobá;
- Discutam com seus colegas o significado do Baobá na preservação da cultura africana no Brasil;
- Depois das reflexões, elaborem um boletim informativo de possibilidades culinárias e medicinais, utilizando
elementos da cultura africana, a partir do Baobá e mostrem como este recurso poderá ser utilizado numa
situação didática interdisciplinar;
- Especifiquem um nome ao boletim informativo e um título as informações.
- Ao término desta construção, apresentem o boletim informativo à turma!
76
Com esta oficina foi possível perceber mais claramente que nossas convicções e
pressupostos teóricos podem e precisam funcionar nas práticas sociais. O modo pelo qual tentei
realizar esta experiência dialética foi adotando uma atitude intervencionista no contexto cultural
e pedagógico tecido pela trama das relações étnico-raciais. E, como avaliei este processo?
A avaliação do EP e da aprendizagem dos/as cursistas participantes foi planejada a partir do
diálogo, participação e realização das atividades propostas que contemplam toda a trama dessa
tecitura educativa. Como disse, anteriormente, não analisarei todos os discursos disponibilizados
pelos/as cursistas no tear, os quais, em outro estudo, poderão constituir excelente feedback de
análise daquilo que foi desenvolvido por ocasião do EP.
Nos limites desse relato, vale à pena ressaltar duas perspectivas de reflexão, quais sejam:
a percepção dos/as cursistas sobre o trabalho desenvolvido e suas aprendizagens e a minha própria,
construída por este registro reflexivo, a partir das observações in loco; do posicionamento dos
cursistas, seja por meio de questionário avaliativo, ou seja no próprio tear.
Sobre o posicionamento dos/as cursistas, estes se manifestaram no final do EP, por meio
Procedimentos utilizados
Importância para formação docente
Reciprocidade das professoras
ASPECTO 1 Qualidade do material disponibilizado na aula
RELATIVO À CONDUÇÃO DA Adequação e distribuição da carga horária
OFICINA Pontualidade no cumprimento do cronograma
Relação dos conteúdos com a prática social
Adequação dos recursos
Acompanhamento e orientações durante a oficina
Desenvolvimento das atividades (oficinas) em sala de aula
Cooperação entre os colegas na realização das atividades
Interesse e participação nas atividades
Cumprimento das atividades
ASPECTO 2 Integração com as professoras e demais colegas
RELATIVO AOS/AS Cooperação e compreensão das atividades
PARTICIPANTES Pontualidade nos encontros
Pontualidade na realização das atividades
Possibilidade de aplicação dos conhecimentos na sua prática
As oficinas ajudam na realização de atividades para Educarer...
Espaço para listar outras situações que julgar relevante:
Fonte: produzido pela autora
77
Figura 8- Questionário de avaliação do EP
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
Por fim, houve uma boa aceitação da oficina pelos/as participantes, inclusive com a
solicitação de ampliação da carga horária. Cursistas de turmas diferentes disponibilizaram a carta
aberta no tear (AVA Moodle) e as reflexões continuaram on-line, manifestando o desejo de mudança
de atitude quanto às práticas de relações étnico-raciais na escola.
78
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS – enfrentando desafios e pensando outra
tecelagem
A história é o arquivo,
é o desenho do que somos e deixamos de ser,
enquanto o atual é o esboço daquilo em
que vamos nos tornando.
Gilles Deleuze, 1996
79
Esse movimento interétnico se faz com muitas contribuições, sendo necessário o
posicionamento crítico da urdidura, incentivando e sustentando a trama em seus conflitos,
tensões, desafios e desejos de mudança. Foi de suma importância o cuidado logístico com o tear, a
disponibilização dos recursos necessários durante a realização do EP e, sobretudo, a preocupação
com as condições de trabalho da equipe pedagógica, alimentação (lanche) e preparação do local
de formação.
Logo, as atividades desenvolvidas, por ocasião dos encontros presenciais, foram evidenciadas
considerando suas possibilidades de oferecer sustentação aos processos comunicacionais virtuais
estabelecidos entre cursistas e tutores/as on-line, haja vista seu princípio de contextualização das
unidades de estudo que integram o módulo “Relações étnico-raciais”, além de antecipar produtos
com alternativas de trabalho pedagógico na Educarer.
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não tive sonhos realizáveis. Linguagem, Educação e Sociedade. Teresina, n. 4, p. 98-120, 1999.
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81
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
82
Falando de mulheres:
Uma análise do Curso GDE no Maranhão
e debates em relação ao conceito de gênero
De um histórico e vasto processo de lutas, buscando atingir novos patamares para assuntos
cujo cunho social são absolutamente mal interpretados, algumas mudanças podem ser observadas.
Dentre as tantas lutas e, num esforço interessante de romper com as mais diversas formas de
83
Não bastarão leis, se não houver a transformação de mentalidades e práticas, daí
o papel estruturante que adquirem as ações que promovam a discussão desses
temas, motivem a reflexão individual e coletiva e contribuam para a superação e
eliminação de qualquer tratamento preconceituoso. Ações educacionais no campo
da formação de profissionais, como o Curso Gênero e Diversidade na Escola, são
fundamentais para ampliar a compreensão e fortalecer a ação de combate à
discriminação e ao preconceito. (BRASIL Caderno de Estudos GDE, 2007, p. 9)
e são muitos os ranços sociais que as mentes jovens e abertas ao mundo tecnológico se fecham
envelhecidas e enrugadas, para as diversidades ao seu redor.
Nessa perspectiva, a formação buscou criar uma grande rede de estudos e reflexões sobre
as temáticas diversidades, gênero, sexualidades, orientação sexual e relações étnico-raciais com
educadoras/es da rede pública da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e
Médio) pois, historicamente, tanto a formação acadêmica como a formação de educadores/as
em exercício não têm incorporado a diversidade, tampouco contemplado o debate desses temas.
Educar para a diversidade não significa apenas reconhecer as diferenças, mas refletir sobre as
relações e os direitos de todos/as.
Uma das primeiras “marcas” usadas para a diferenciação social está justamente no sexo
uma das formas de combater o machismo é identificando conceitos sobre a opressão. Nesta análise
abordaremos os conceitos de gênero atravessado das categorias de patriarcado e poder e, ainda
identificaremos como houve uma ampliação da própria noção de gênero, a fim de contemplar o
maior número de diversidades possíveis diante da própria noção de mulher e mulheres.
Uma das primeiras tentativas exitosas de formular o conceito de gênero parte de Joan
Scott, quando na década de 1980 condiciona, num artigo famoso no mundo inteiro, a linguagem à
prisão de sua história, onde esta se tornaria fundamentalmente masculina. Scott evoca um termo
que já suscitava debate entre as feministas fazendo uma substituição da palavra sexo, pois esta
evocaria atributos biológicos justificando as diferenciações sociais por características físicas.
E, para não caracterizar de maneira biológica as diferenciações sociais entre homens
e mulheres é que se estabelece o aporte conceitual de gênero. Este por sua vez é associado
como uma categoria relacional que dialoga diretamente com classe e raça, uma vez que tais
componentes seriam importantes para melhor definir histórias e trajetórias dos/as sujeitos/as.
84
A maneira pela qual esta nova história iria, por sua vez, incluir a experiência
das mulheres e dela dar conta dependia da medida na qual o gênero podia ser
desenvolvido como uma categoria de análise. Aqui as analogias com a classe e com
a raça eram explícitas, de fato as feministas; de fato as pesquisadoras feministas
que tinham uma visão política mais global, invocavam regularmente as três
categorias como cruciais para a escrita de uma nova história. (SCOTT, 1990, p. 73)
Novos caminhos para a história das mulheres puderam ser projetados a partir de então,
mas Scott demonstra uma preocupação interessante: refletir sobre os guetos na academia,
sobre a substituição do termo ‘mulheres’ por ‘gênero’, e como isso representou até mesmo uma
suavização política, pois gênero indicava de que personagens se falavam, mas não as nomeava
claramente. No entanto, para além das problemáticas usuais deste termo (que não é nosso foco
de discussão neste artigo), uma das consagrações do uso de gênero pelas feministas e na academia
se dá pela conotação de construção cultural sendo “uma categoria social imposta sobre o corpo
sexuado” (p.75). Uma importante contribuição deste trabalho se deu para observar a recusa do
Assim, a suposta autoridade dos homens sobre as mulheres acabaria sendo compreendida
na história como um direito daqueles sobre estas e a base justificativa seria o direito dos pais,
isto é, a reprodução da noção de tutela, onde mulheres (tidas como incapazes) passariam da
responsabilidade (civil, moral e econômica) de seus pais para o marido.
85
O contrato a que Pateman se refere dá a ideia de não proximidade com o mundo público
e, ela mostra a necessidade de nomear o problema para que o mesmo não caia na obscuridade.
Relevância do pessoal e político. Assim, chamamos atenção para as necessidades de nomear as
estruturas de opressão, destacando e abordando os/as atores e atrizes sociais de quem se fala? Por
quem se luta? Apesar de muitos debates teóricos que se travam, a busca por ‘faces’ e representações
mais abrangentes foram alvos de constantes buscas na academia. É como afirma Heleieth Saffioti,
“Não se trata de variáveis quantitativas, mensuráveis, mas sim de determinações, de qualidades,
que tornam a situação destas mulheres muito mais complexa.” (SAFFIOTI, 2004, p. 115)
Judith Butler, num exercício de ampliar o debate, busca caracterização das identidades e
a ampliação da noção de gênero, criticando a teoria feminista que presume uma identidade feminina
configurada no termo ‘mulheres’, pois a representação serve tanto para conceder visibilidade às
mulheres enquanto agentes políticos, mas também acaba por distorcer o que se entende por esta
categoria, pois ao uniformizar apaga as diversidades. Esta autora destaca o quanto é importante
trabalhar no sentido de promover um olhar para as multiplicidades de mulheres, de contextos, de
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
Se alguém ‘é’ uma mulher, isso certamente não é tudo o que esse alguém é; o termo
não logra ser exaustivo, não porque os traços predefinidos de gênero da ‘pessoa’
transcendam a parafernália específica de seu gênero, mas porque o gênero nem
sempre se constituiu de maneira coerente ou consistente nos diferentes contextos
históricos, e porque o gênero estabelece intersecções como modalidades raciais,
classistas, étnicas, sexuais e regionais de identidades discursivamente constituídas.
(BUTLER, 2010, p.20)
86
Se o caráter imutável do sexo é contestável, talvez o próprio construto chamado
‘sexo’ seja tão culturalmente construído quanto o gênero; a rigor, talvez o sexo
sempre tenha sido o gênero, de tal forma que a distinção entre sexo e gênero
revela-se absolutamente nenhuma. (BUTLER, 2010, p.25)
Para além de outras abordagens teóricas encabeçadas pela autora, o que nos interessa a
priori neste artigo, é observar as diversidades - onde o gênero não pode ser um acréscimo cultural
há um sexo já pronto. Butler também considera um erro entender a categoria “mulheres”, apenas
acrescida dos componentes: raça, classe, etnia, idade, sexualidade, como se apenas isto bastaria
para que ela se tornasse completa; para ela, se deve entender esta categoria como incompleta por
definição e assim livre de qualquer força coercitiva.
Fizemos um passeio teórico compreendendo gênero enquanto um aspecto relacional
que tenta fugir ao determinismo biológico, levando em conta os aspectos culturais. Analisamos
ainda o conceito de patriarcado, que se configura enquanto um contrato sexual tão relevante
quanto o social, no entanto desmerecido por seu inicial caráter privado e naturalizando o ‘poder’
87
Nossa cultura forjou representações muito definidas para a masculinidade e a
feminilidade, estabelecendo uma lógica binária que concomitantemente opõe os
dois pólos e defende a unidade interna de cada um deles. Essa herança simbólica
de uma sociedade patriarcal alicerçada no poder do homem sobre as mulheres,
os escravos e as crianças está arraigada em nosso imaginário social e é ela que
conforma os padrões, a estética, os hábitos, os comportamentos criando um
limite para o “aceitável” o que acabou por delinear comportamentos, práticas e
profissões, dentre elas a profissão docente nos levando a refletir acerca da opção/
imposição da profissão docente às mulheres. (DINIZ, NOGUEIRA, MIRANDA, 2010,
p.2/3)
tem chegado até docentes do país inteiro, assim como as implicações deste processo.
Em primeiro lugar, nos reportamos ao uso de ferramentas que ainda são pouco usuais
para a educação no país; por mais que a informática e seus recursos estejam inclusos do sistema
educacional, a dinâmica muda quando a maior parte das aulas é realizada a distância.
Pela experiência como tutora e, mais recentemente, como professora do GDE é notável
a empolgação inicial que alunos e alunas, ávidos/as e atraídos/as pelas temáticas, dispensam ao
curso. Em todas as edições, o número de interessados/as é muito grande e sempre proporcionando
árduo trabalho na seleção, porém no transcorrer do curso (que é dinâmico, diário, desafiador e
exigente) o que se percebe são lentas desistências, a euforia inicial vai sendo suavizada à medida
que o grau de compromisso e participação vai sendo constantemente exigido.
Para realização dos objetivos do Curso usa-se um espaço de socialização do conhecimento,
onde alunos/as, tutores/as on-line, tutores/as presenciais, coordenadoras e professores/as
compartilham saberes, referências, notícias, aniversários e, até mesmo, as dificuldades e angustias,
em relação ao Curso e às suas atividades profissionais. O uso dessa ferramenta tem a finalidade de
promover um intercâmbio de proximidade e, durante o Curso é possível utilizar-se de várias outras
ferramentas, tais como: espaço para apresentação, mensagens constantes (recebidas no ambiente
e por e-mail), fóruns promovendo um debate coletivo, elaboração de glossário (onde palavras-
chave e conceitos são acrescidos), espaço wiki (para elaboração conjunta de textos, poemas,
resenhas, etc.), espaço de tarefas (para postagem de material), diários e ainda compartilhamento
de links de textos, imagens, vídeos, e-books. Enfim, há uma série de recursos aptos à promoção
do saber.
88
O foco do GDE é, principalmente, para profissionais da educação de diversas cidades
do continente do estado do Maranhão, isso significa dizer que muitas dessas pessoas não teriam
possibilidades de participar um curso com tal carga horária se tivesse que fazer um deslocamento
físico semanal. Assim, a educação a distância atrai, principalmente, pela facilidade de organizar
os horários de estudo e por demandar pouco deslocamento (caso aluno/a tenha todo recurso
disponível em casa, como computador e internet), contudo, esses mesmos aspectos acabam sendo
vilões de alguns/mas, tendo em vista que a autodisciplina é fator fundamental para o sucesso em
cursos desta natureza. Um dos grandes desafios da educação a distância é manter-se firme no
propósito inicial, com disciplina e empolgação.
Como tutora deste Curso desde 2009 e atulamente como professoras do módulo Gênero,
na Universidade Federal do Maranhão, usamos uma ferramenta para assegurar constantemente o
interesse pelas temáticas que são tão atuais: realizamos um grupo de estudo que antecede a cada
módulo; fazemos momentos de debate; discutimos juntos/as as atividades que serão propostas no
ambiente virtual de aprendizagem (AVA) e, desta forma, acreditamos realizar um acompanhamento
89
REFERÊNCIAS
DINIZ, Margareth; NOGUEIRA, Paulo Henrique & MIRANDA, Shirley Aparecida. Gênero e
Sexualidade na formação docente para a diversidade: possíveis deslocamentos. In: In: Anais do
Evento Fazendo Gênero 9 – Diásporas, Diversidades, Deslocamentos. Florianópolis, Universidade
Federal de Santa Catarina, 2010.
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
LEITE, Amanda Maurício Pereira & MACHIESKI, Elisangela da Silva. Educação à distância:
formação em gênero e diversidade na escola. In: Anais do Evento Fazendo Gênero 9 – Diásporas,
Diversidades, Deslocamentos. Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina, 2010.
SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo, Ed Fundação Perseu Abramo,
2004.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. In: Revista Educação e
Realidade, Porto Alegre, vol 20, nº 02, jul-dez de 1995, pp. 71-99.
90
O GDE E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES:
os destafios docentes e a sexualidade em foco
A escola em sua função social deve desenvolver abordagens direcionadas para as diversidades
que as contempla, e questões como gênero e sexualidade se destacam neste ambiente, fato esse
que requer melhor preparação por parte dos/das professores/as, pois a maioria das licenciaturas
não contempla estas questões em seus currículos acadêmicos.
A partir dessa necessidade real, o Governo Federal lançou um programa com o curso
de aperfeiçoamento a distância, nas áreas de Gênero e Diversidade Sexual e Étnico-racial.
Assim, usando da premissa dada pelo Governo Federal, o Curso de Aperfeiçoamento em Gênero e
Diversidade na Escola (GDE), foi ofertado pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e pelo
Núcleo de Educação à Distância (NEAD), inicialmente para os dois municípios - Imperatriz e Porto
Franco, em parceria, inicialmente, com a Universidade Aberta do Brasil (UAB), nos anos de 2009
e 2010.
Este curso é oferecido na modalidade semipresencial e foi implantado, no Brasil, a partir
da iniciativa da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) e do Conselho Britânico
em parceria com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
(SECADI-MEC), a Secretaria de Ensino à Distância (SEED-MEC), a Secretaria Especial de Promoção
da Igualdade Racial (SEPPIR) e o Centro Latino Americano em Sexualidade e Direitos Humanos
(CLAM).
Dessa maneira, este trabalho se propõe a analisar a importância da implantação do GDE,
no estado do Maranhão, inserindo-o no contexto educacional e social do Estado, enfatizando a
necessidade de formação profissional nessas áreas e analisando, também, as dificuldades, problemas
e possíveis ações a serem desenvolvidas nas escolas e registradas por docentes, do referido curso,
em relação à sexualidade. Visa ainda, contemplar a importância do Curso de Aperfeiçoamento
em Gênero e Diversidade na Escola (GDE) na formação continuada de professores/as de escolas
91
públicas.
Partindo de necessidades reais vivenciadas nas escolas públicas, pelo Brasil, onde questões
referentes às diversidades eram/são consideradas como minoritárias e não valorizadas, é que nasce
a necessidade de abordar tais temas com professores/as formadores/as de opinião. A estrutura do
curso se deu a partir de quatro módulos: 1. Diversidade; 2. Gênero; 3. Sexualidade e Orientação
Sexual e 4. Relações Étnico-raciais. Cada módulo foi dividido em unidades que são acompanhadas
por um material didático disponível em CD e também impresso, que deve ser recebido no primeiro
encontro presencial de abertura dos cursos. As unidades são organizadas em eixos temáticos e com
foco específico para questões sociais e sala de aula.
92
da diversidade étnico-racial, apontando exemplo de um homem indígena e do movimento negro
organizado. (BRASIL, Livro DO GDE, 2009).
Ao final do Curso, discutem-se as desigualdades relacionadas à raça, gênero e a realidade
escolar no Brasil, organizando as possibilidades de realizar uma educação que saia apenas da
estrutura curricular dos livros didáticos e, que seja correlacional, dinâmica e traga influência na
realidade prática dos/as alunos/as, professores/as e comunidade escolar.
Esse curso acumula duas importantes características: a) concentra quase sua totalidade
via internet uma vez que, em sua maioria, é realizado por meio do sistema moodle de educação à
distância; b) figura-se como processo de capacitação contínua aos/as profissionais de educação da
rede pública de ensino básico.
Por ser um curso que se concentra no sistema de educação a distância, é marcado por
encontros presenciais periódicos e uma didática em parceria com tutoria on line, fóruns, chats,
diários e medidas de interação. No Maranhão, a educação à distância veicula-se como uma medida
educacional que ainda está em processo de crescimento e valorização sofrendo, todavia, uma
Corroborando com Ivone Favretto (2004), entende-se ser necessário haver um avanço nos
campos teórico e conceitual, que sejam capazes de intermediar mudanças de atitude. Comungando
com o pensamento e análises dessa autora, acerca dos modelos de formação continuada escolar,
pode-se afirmar que a proposta do Curso de Gênero e Diversidade na Escola está inserida no
modelo da ‘Racionalidade Crítica’, pois concebe o ensino-aprendizagem como realizado para a
promoção do ser humano, em sua capacidade de ser agente social.
1
Se há um destaque do papel do/a professor/a neste artigo não é porque acreditamos ser este o/a único/a responsável em abordar
tais assuntos, mas por que o foco desta escrita se dá na formação continuada e sobre o tema sexualidade, assim entendemos que o/a
professor/a não é agente nem paciente sozinho neste esquema tão complexo, mas é uma das peças fundamentais.
93
Essas abordagens resultam de iniciativas já registradas, em outras décadas, como nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), primeiro documento oficial que abriu possibilidades para
discutir essas temáticas em aula. Apesar de textos iniciais, provocadores e interessantes, este
documento ainda está imerso em concepções ‘biologizantes’, ‘naturalizantes’ e normativas tanto
da sexualidade quanto a de gênero. Sem dúvidas, ele significou uma forma de garantir o debate
sobre estes assuntos, mesmo que timidamente.
sexualidade, tendo em vista que os/as mesmos/as consideraram estas duas abordagens as mais
complicadas de ser debatida em sala de aula e as que causavam entre os/as alunos/as maior
desconforto, sobretudo o tema sexualidade.
Uma das maiores dificuldades registradas pelas/os professoras/res se refere à herança
trazida da família pelas crianças. Boa parte dos/as docentes registrou em seus Diários de
Aprendizagem2 que os maiores desafios consistiam em trabalhar os ‘pré-conceitos’ que os/as
alunos/as trazem de casa, muitas vezes justificados pela figura materna ou paterna de autoridade
e, também, fortemente influenciados pelas concepções religiosas referentes aos papéis
desempenhados por homens e mulheres na sociedade.
Abordam ainda que o machismo seja uma concepção dominante na sociedade, destacam
também que a mulher tem crescido e ganhado cada vez mais espaço no mercado de trabalho,
mídia, política e sociedade em geral; essas concepções foram mais presentes na fala das próprias
alunas, na tentativa de demonstrar os avanços e conquistas. Nas concepções iniciais registradas
no curso constam também muitos exemplos vivenciados pelos/as próprios/as cursistas tanto em
casa quanto no ambiente de trabalho e, a maioria dos exemplos faz referência ao uso das cores
cor-de-rosa e azul e jogos e brincadeiras ‘aptos’ aos meninos e meninas.
Em um dos fóruns de discussão da temática de gênero, foi lançado no ambiente virtual
de aprendizagem um questionamento relacionando às possibilidades de interação de gênero
na sala de aula, com a seguinte pergunta: “Como é possível no ambiente escolar, trabalhar de
forma a conceber o masculino e o feminino num processo relacional de igualdade, em que a
identidade pessoal ajude a organizar a vida individual e coletiva das pessoas?”. A partir deste
questionamento, o curso visava levar professores/as a partirem da operacionalidade teórica para a
prática, fazendo-os/as refletir sobre: como seria possível usar o ambiente da escola para começar
a debater questões vistas antes, apenas na família, comunidade e religião.
2
Uma das formas de avaliação e acompanhamento é o Diário de Aprendizagem, nesta ferramenta o/a aluno/a deve compartilhar suas
expectativas, avanços e dificuldades quanto ao curso e aos conteúdos e metodologias veiculados.
94
A maioria dos/as alunos/as se interessou muito pelo fórum e uma das respostas mais
postadas dizia respeito ao trabalho que a escola deveria desenvolver para conscientizar a família
de questões como essas; para tanto, sugeriram a realização de palestras, conversas com os/as
professores/as, para que a família criasse o hábito de estar na escola, muito além dos dias de
entregar nota ou para ouvir reclamação de filhos/as.
Outra medida apontada pelos/as cursistas dizia respeito à manutenção de projetos que
visem estas discussões de forma interdisciplinar, onde todos/as os/as profissionais em educação
tenham a possibilidade de realizar esta abordagem na escola, não apenas esperando que alguma
situação relacionada à problemática de gênero venha a acontecer, mas esclarecendo aos/às
alunos/as antes mesmo que situações desagradáveis venham a ocorrer.
Uma proposta bem interessante remete-se também à possibilidade de abordagens coletivas
e individuais dos/as alunos/as em situações de preconceito de gênero. Dentre as possibilidades
didáticas de abordagem dos temas os/as professores/as apontaram: o uso de ferramentas como
vídeos, filmes, propagandas, revistas em quadrinhos, revistas de moda, revista de política, jogos e
95
sofridas por pessoas que estão numa posição para além dos campos binários da heterossexualidade,
todos/as foram unânimes em serem contrários a todas as formas de violência, qualquer que fosse
a condição sexual de alguém, colocando-se a favor do respeito e debatendo ainda sobre uma
educação inclusiva.
Os/as próprios/as alunos/as do curso destacaram que os governos, estudiosos, faculdades,
gestores escolares enfim, todos se posicionam favoráveis ao discurso da inclusão, mas quando
somos deparados por um garoto que assume uma identidade de gênero feminina e reivindica ser
chamado na escola pelo nome que escolheu, as posturas se revertem e as exclusões são tamanhas,
chegando mesmo a causar evasão. Este exemplo consta nos debates promovidos no ambiente
virtual.
Em relação aos conhecimentos prévios alguns/mas alunos/as se posicionaram afirmando
que a sexualidade somente deve ser debatida na escola no sentido de promover esclarecimentos de
prevenção e informações, a fim de que estudantes tenham os conhecimentos adequados. Afirmam
ainda que, a escola não deve promover confronto com as culturas e costumes trazidos de casa ou
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
da religião, alguns enfocam o caráter privado do tema e o papel do/a professor/a em preservar
assim. Acreditamos que, manter tais assuntos como responsabilidade privada é uma estratégia
para o não enfrentamento e faz com que a escola continue ‘cruzando os braços’, diante de tais
temáticas.
Ao final do módulo que discute relações de gênero foi possível identificar um
amadurecimento dos/as alunos/as em relação a este tema, todos/as os/as alunos/as reconheceram
a sua importância, assumindo que o silêncio e a ignorância são as maiores aliadas das diversas
formas de violência. Um dos maiores crescimentos dos/as alunos/as sobre a sexualidade na escola
diz respeito ao reconhecimento de que o corpo traz o sexo desde o nascimento, mas a identidade
de gênero se desenvolve também ao longo do desenvolvimento físico, social e mental. Embora
continuem achando o tema algo muito sensível, reconhecem a validade de sua discussão no
ambiente escolar.
Foi possível observar que há dissonância entre crenças pessoais e responsabilidades
profissionais, diante de situações nas quais parecia mais favorável adotar uma posição ou outra,
diante do mesmo eixo temático; essa posição foi bem complicada e pode indicar que alguns
posicionamentos de tolerância e respeito foram manifestados em ocasião do curso. Houve
professores/as que tiveram dificuldades em mudar conceitos e preconceitos sobre diversidade
sexual e gênero, mas, sobretudo com relação ao primeiro tema. Muito do que se observou são
discussões no ambiente virtual de caráter religioso.
Ressalta-se que os Parâmetros Curriculares Nacionais definem a sexualidade como um
dos cinco temas transversais a serem trabalhados de forma interdisciplinar nas escolas, este
documento especifica que:
96
de um trabalho individual, de cunho psicoterapêutico e enfocando as dimensões
sociológica, psicológica e fisiológica da sexualidade. Diferencia-se também da
educação realizada pela família, pois possibilita a discussão de diferentes pontos
de vista associados à sexualidade, sem a imposição de determinados valores sobre
outros. (BRASIL, PCN – temas transversais, 1997, p. 28)
[...] Efeitos das instituições, dos discursos e das práticas, o gênero e a sexualidade
guardam a inconstância de tudo o que é histórico e cultural; por isso, às vezes
escapam e deslizam. Faz-se necessário, então, inventar práticas mais sutis para
repetir o já sabido e reconduzir ao ‘bom’ caminho os desviantes. (LOURO, 2004,
p. 17)
97
Este curso detém importância significativa na formação continuada, apesar da manutenção
de muitos valores pessoais acerca dos temas, as professoras concluintes demonstraram ter
domínio de conteúdos e conceitos e conseguiram pensar teórica e praticamente. Fator que merece
destaque é que a realidade maranhense para formação de professores/as ainda é deficiente, tanto
a formação acadêmica quanto a continuidade de estudos, em especial na cidade de Porto Franco.
Diante das investidas vivenciadas no GDE, ficou perceptível que “[...] é este o movimento
que o GDE provoca, possibilita a multiplicidade, as diferenças e contribui para a desconstrução de
estereótipos, preconceitos e estigmas.” (ROSSI, 2012, p. 22), isto é, é mexer com estas pessoas
mesmo tendo ‘apenas’ 200 horas, o curso promove o afinamento do olhar e lança bases para que
seus/suas alunos/as alcancem outros voos. Com isso, promove a igualdade de direitos na escola
e faz com que a mesma seja um lugar em que as múltiplas diversidades sejam contempladas e
respeitadas. Apesar da brilhante iniciativa do curso, os grandes desafios ainda estão postos e muito
há para aprendizado nessa jornada.
Propõe-se a fluidez das identidades sexuais e de gênero com novas formas de pensar a
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
cultura, educação e poder. Fala-se há tanto tempo em uma educação libertadora que não seria
mais possível admitir uma escola que não tenha espaço para o novo, para o questionável, para o
ponto de interrogação. Pois assim, “a dúvida deixa de ser desconfortável e nociva para se tornar
estimulante e produtiva. As questões insolúveis não cessam as discussões, mas, em vez disso,
sugerem a busca de outras perspectivas” (LOURO, 2004, p. 52).
REFERÊNCIAS
BRASIL. Gênero e Diversidade na Escola: formação de professores/as em Gênero, Sexualidade,
Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de Conteúdo, Rio de Janeiro: CEPESC;
Brasília: SPM, 2009.
LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estranho: ensaios sobre a sexualidade e teoria queer. Belo
Horizonte, Autêntica, 2004.
ROSSI, Célia Regina; VILARONGA, Carla Ariela; GARCIA, Osmar Arruda & LIMA, Maria Teresa
Oliveira. Gênero e Diversidade na Escola: reflexões acerca da formação continuada sobre
assuntos da diversidade sexual. In: Revista Contexto e Educação. Editora Unijuí, ano 27, nº 88,
jul./dez 2012.
98
A TUTORIA ONLINE NA MODALIDADE EaD
Este artigo tem por objeto a Educação a Distância (EaD), no qual buscamos abordar
alguns aspectos de seu marco teórico. Especificamente, temos por objetivo discutir o papel e
a importância da tutoria dentro da referida modalidade de ensino. Tal análise se faz a partir
da experiência adquirida como tutoras online do Núcleo de Educação a Distância (NEaD), da
Universidade Federal do Maranhão.
Indubitavelmente, a educação e, por extensão, a construção do conhecimento na atualidade
ultrapassaram as paredes da escola convencional. Consequentemente, o ensino a distância,
mediado pelas mídias, há muitos anos é oportunizado em várias partes do mundo e, a cada dia,
vem se tornando uma realidade mais rotineira na vida das pessoas. Não se concebe pensar hoje
o saber sem que haja uma estreita conexão com os recursos tecnológicos, especialmente com a
Rede Mundial de Computadores. Segundo Saldanha (2012), cada vez mais a aprendizagem tem sido
mediada por ambientes virtuais, e as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) têm sido
utilizadas em larga escala, contribuindo para construir uma nova relação ensino-aprendizagem,
levando os indivíduos a se perceberem como construtores e disseminadores de saberes.
Enquanto na educação convencional a responsabilidade de conduzir as atividades de ensino
e aprendizagem recai sobre a figura do docente, na Educação a Distância os alunos/alunas1 são
artífices de seu próprio desenvolvimento, dentro de uma relação interativa de troca de saberes.
1
A opção em não usar apenas um gênero para nos referimos às pessoas se dar a partir da compreensão de que ao empregamos o termo
no masculino não estamos contemplando o feminino. É uma postura não somente de nos inserirmos como sujeitas, mas evidenciar nos
discursos a presença da mulher.
99
As instituições nacionais de ensino, dos mais diferentes níveis, públicas e particulares,
há muito perceberam que a Internet, por reforçar os espaços de comunicação e de acesso à
informação, é instrumento mediador do processo de ensino e apredizagem. Para Azevedo (2008),
suas especilidades, como o contato direto com informações atualizadas e as possibilidades de
comunicação síncrona e assíncrona, transformam-na espaço de aprendizagem atraente. Essas
características da web associadas a uma noção contemporânea de tempo2 permitem que mais
pessoas busquem, em especial, formação acadêmica e aperfeiçoamento profissional através dos
Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA).
A Educação a Distância tem um conceito amplo, visto que pode se desenvolver por meio de
várias estratégias de interação. Segundo Moran (2001, p. 39), a educação online pode ser definida
“como o conjunto de ações de ensino-aprendizagem desenvolvidas por meios telemáticos, como
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
Tais inovações exigem uma mudança importante no papel dos/das profissionais da educação
que atuam nessa modalidade de ensino, levando-os/as a vislumbrarem a necessidade de novos
conhecimentos, novas formações que lhes capacitem técnica e pedagogicamente. A esse respeito,
Rodriguez (2005) defende a ideia de que as multimídias não transformam o trabalho docente,
elas apenas expressam, com grande impacto os novos cenários da sociedade contemporânea e
permitem um armazenamento enorme de informação por meio de novas linguagens.
2
Podemos dizer que tempo e espaço são categorias construídas; são definições e percepções dependentes das relações humanas que se
desenvolvem em determinado momento e espaço histórico. O direcionamento dado ao desenvolvimento e aos usos das tecnologias da
informação, dos modos de produção, dos meios de transporte, das práticas de gerenciamento empresarial, das formas de se relacionar
em sociedade, afeta o modo como experimentamos o tempo e o espaço, da mesma maneira com que este direcionamento é afetado
pelas diferentes modalidades de experimentar essas categorias (FREZZA et al, 2009, p. 489).
100
As instituições que se propõem a desenvolver EaD com base metodológica consistente
precisam criar projetos que assegurem um fluxo de comunicação interativa e bidirecional, mediada
pela ação tutorial com acompanhamento pedagógico e avaliação sistemática da aprendizagem. É
necessária a criação de uma interlocução exclusiva, mas tal realidade só pode ser alcançada se o
número de alunos/alunas por orientador/orientadora não for excessivo. Alguns estudos apontam
como ideal a relação de um tutor /tutora para cada 20 ou 30 alunos/alunas.
As limitações de tempo e de espaço são outros aspectos que devem ser considerados
ao se planejar atividades e programas direcionados à educação a distancia para adultos. Esses
devem ser flexíveis e atender ao ritmo diferencial dos/das estudantes, sem perderem de
vista o objetivo maior, a saber: construir saberes e capacidades.
Desse modo, um investimento necessário a qualquer instituição que busca
desenvolver EaD é a criação de sistemas tutoriais realmente eficazes, apropriados para apoiar
e promover o crescimento discente em cada uma das etapas do processo de ensino. Nesse
contexto, a figura de destaque, responsável pelo bom andamento das atividades, é o tutor
A tutoria se constitui no elo entre os/as docentes e a instituição, numa atuação que
“amarraria” as diversas pontas do processo educacional. E, ao mesmo tempo, é uma das dimensões
institucionais do processo ensino-aprendizagem e o fator que integraria as outras dimensões ou
braços institucionais do processo educacional (MORGADO, 2003, p. 79).
101
Os estudos sobre EaD têm apresentado o/a tutor/tutora como a figura responsável pela
incessante comunicação que encadeia o processo de ensino e aprendizagem. Podemos dizer que
o professor-tutor/professora-tutora pode receber várias denominações tais como: assistente,
assessor/a, professor/a acompanhante, facilitador/a, mediador/a. Porém, mais importante que
a nomenclatura recebida, são as competências indispensáveis para uma tutoria consistente. Petri
(1996, p.28) esclarece que:
102
No aspecto de interatividade, Gonzalez (2005, p. 71) explicita algumas competências que
o tutor/tutora deve adquirir para avaliar e desenvolver de forma consistente suas atribuições em
um curso. A partir dessas competências, apresentamos nossa experiência como tutoras online do
NEAD da UFMA.
O/A tutor/tutora deve manter um contato com seus alunos e alunas para além da
plataforma AVA. Deve utilizar os recursos tecnológicos disponíveis, como e-mail, telefone, fax e
mesmo a velha tradicional correspondência escrita e enviada por correio.
Para que o/a tutor/tutora possa manter um contato contínuo com os cursistas para além do
ambiente virtual, deve contar com o apoio da coordenação e supervisão de tutoria e da secretaria
do curso, visto que a organização das listas de contatos atualizadas, não faz parte das atribuições
Com relação ao meu relacionamento com a tutora Maria José, sempre foi de
grande importância, pois o empenho dela em determinados momentos, chamando
a atenção para as participações nos Fóruns tem se mostrado fundamental para o
meu bom desempenho no curso. (Texto postado no AVA pela aluna do Curso de
Aperfeiçoamento GDE/NEAD/UFMA. Maio de 2014).
A comunicação com os/as alunos/ alunas deve ser diária, pois do dinamismo
dessa comunicação resultará, em parte, o sucesso da interatividade. Normalmente o/a
estudante espera um retorno imediato de suas mensagens, mas, nem sempre respondem
com a mesma celeridade e, em alguns casos, nem há o retorno, mormente quando o/a
estudante já decidiu evadir-se do curso.
O contato permanente com os demais membros da equipe: coordenação, secretaria,
supervisão e administração do AVA via e-mail é entendido, também, como de suma importância,
uma vez que é da troca de informações entre esses sujeitos que a tutoria se beneficia para manter
atualizadas as notícias, os esclarecimentos e instruções repassadas cotidianamente aos discentes.
103
3 Nos comentários devolutivos, evitar utilizar expressões que
possam conter carga negativa ou depreciativa
Assim como no sistema presencial, na modalizada EaD os critérios de avaliação devem ser
claros e objetivos, estando a matriz disciplinar sempre disponível no AVA para possíveis consultas,
de forma que os/as cursistas possam estar ciente dos mesmos. Ao longo do percurso, cabe também
à tutoria evidenciar, esclarecer e relembrar tais critérios, sempre que julgar necessário para o
bom andamento da aprendizagem.
104
De maneira geral, alguns critérios são sempre observados nos Cursos de Graduação,
Aperfeiçoamento e Pós-graduação, são eles:
•Acesso permanente ao AVA;
•Interação com os colegas via fórum;
•Estudo dos textos propostos e demonstração da compreensão do conteúdo;
•Realização das tarefas escritas;
•Participação dos encontros presenciais.
As tarefas escritas possuem critérios de avaliação específicos e particulares e
exigem conhecimentos específicos; logo, sempre que o momento exigir, esses critérios
devem ser colocados em evidência.
Esses aspectos podem observados na mensagem a seguir:
Olá Cursistas! Quero parabenizar aqueles e aquelas que estão interagindo no fórum, e
lembrar aos que ainda não fizeram suas intervenções que é importante e necessário que haja um
diálogo com todos/as os membros da turma. Informo ainda que a atividade 3 (produção textual)
105
6 Conservar cópias dos comentários enviados ao Ambiente Virtual
de Aprendizagem
O trabalho pedagógico no ambiente virtual deve ser marcado pela criação, organização
e preservação de arquivos. A conservação de uma memória dos diálogos vivenciados ao longo da
experiência pedagógica em EaD contribui ricamente para o aperfeiçoamento da tutoria, uma vez
que possibilita acompanhar a dinâmica do trabalho e o nível de acompanhamento do processo.
O vai e vem de mensagens faz com que o/a tutor/tutora passe a conhecer o perfil dos/
das cursistas, o grau de interesse e dificuldades. Essas percepções tornam possível a criação de
relatórios que apresentem às características da turma, as dificuldades enfrentadas, as intervenções
realizadas. Outro aspecto importante em relação ao arquivamento das mensagens diz respeito ao
comprometimento com a equipe de trabalho, pois continuamente, a coordenação e a supervisão
realizam orientações, fazem sugestão de ações a serem executadas e enviam arquivos. Dessa
forma, cabe exclusivamente à tutoria não negligenciar as informações, dando retorno, em tempo
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
V CONCLUSÃO
106
estudantes que optam pela EaD.
O certo é que, os NEaDs realizando um trabalho sério e desenvolvido por um conjunto de
profissionais competentes, tem ao longo do tempo buscado desconstruir essas falsas impressões.
Sem dúvidas, essa mentalidade ainda persiste e, quando os discentes percebem que as exigências
são tantas ou maiores que as encontradas no ensino presencial, havendo uma postura entre a
evasão e a tenacidade em concluir o curso online.
Em suma, as Universidades e seus respectivos Núcleos de Educação a Distância precisam
buscar estratégias para vincular a excelência do trabalho tutorial com o aperfeiçoamento do
compromisso dos/as estudantes com sua formação em um ambiente interativo, sincrônico e
assincrônico.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Adriana Barroso de. Tutoria em EAD para além dos elementos técnicos e
MORAN, José Manuel. Contribuições para uma pedagogia da educação online. IN: SILVA, Marcos
(org.). Educação online. São Paulo: Loyola, 2003. p. 39-49.
PRETI, Orestes. Educação a Distância: uma prática mediadora e mediatizada. In: PRETI, O
(Org.) Educação a distância: Inícios e indícios de um percurso. Cuiabá: NEAD/UFMT, 1996.
SOUSA, Carlos Alberto de et al. Tutoria na Educação a Distância. Disponível em: www.abed.org.
br/congresso2004. Acesso: 12 de maio de 2014.
107
SOUZA, Alba Regina Battisti de et al. MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NAEDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: entre
enunciados teóricos e práticas construídas. Revista Diálogo Educ., Curitiba, v. 8, n. 24, p. 327-
339, maio/ago. 2008.
108
EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES
ÉTNICO-RACIAIS:
possibilidades e caminhos em busca de
uma educação antirracista
1 INTRODUÇÃO
109
Tais reflexões fundamentaram-se em teorizações que pretenderam esclarecer que o
racismo no Brasil se constitui numa temática que necessita ser debatida firmemente na escola,
isto porque se trata de uma prática que ocorre de forma camuflada em nosso país. É tratado
como se fosse algo presente exclusivamente no imaginário de algumas pessoas. Esta prática se
traduz numa ação resultante da aversão em relação a pessoas que tem um pertencimento racial
visível por meio de sinais, como: cor da pele ou tipo de cabelo. Pode-se dizer que o racismo é
um conjunto de juízos e imagens alusivo aos grupos humanos que creem na existência de raças
superiores e inferiores.
Portanto, entendendo que as possibilidades e caminhos para a efetivação das Relações
Étnico-Raciais na prática docente, ainda é vista como algo impossível de ser praticável e,
consequentemente, uma temática pouco explorada nas escolas, mesmo perante imposição legal2,
ainda é muito desvalorizada nas relações estabelecidas entre docentes e escola.
Dessa maneira, o presente texto tem o propósito de discutir, no espaço escolar, a proposta
de uma educação antirracista ressaltando a importância do respeito à diversidade, por meio de
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
ações direcionadas para esta prática com culminância na importância do conhecimento sobre a
cultura e os conhecimentos do povo negro e afrodescendente como fator de auto identificação.
110
A educação das relações étnico-raciais refere-se a processos educativos que
possibilitem às pessoas superar preconceitos raciais, que as estimulem a viverem
práticas sociais livres de discriminação e contribuam para que elas compreendam
e se engajem em lutas por equidade social entre os distintos grupos étnico-raciais
que formam a nação brasileira. Refere-se, também, a um processo educativo
que favoreça que negros e não negros construam uma identidade étnico-racial
positiva.
Ainda segundo Gomes (2005), se faz necessário que na educação a discussão teórica e
conceitual sobre a questão racial permaneça seguida da adoção de práticas concretas, visto que a
educação precisa de princípios éticos que norteiem a prática pedagógica e a sua afinidade com a
questão racial tanto na escola como na sala de aula.
111
Indubitavelmente, a promulgação da Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece
a inclusão no currículo oficial da rede de ensino, a obrigatoriedade da temática “História e Cultura
Afro-Brasileira” provocou um novo fazer e pensar pedagógico em direção à reflexão de práticas
educacionais pautadas na valorização da população negra e afrodescendente.
A Lei discute as questões ligadas à diversidade sociocultural e às questões étnico-raciais.
Portanto, a educação das relações étnico-raciais confere a troca de conhecimentos e aprendizagens
sobre todos os grupos, entende-se que, dessa maneira, caminhar-se-á para construção de uma
sociedade mais justa, igualitária e equinânime. O combate ao racismo implica na extinção da
desigualdade racial a começar pela escola, pois “[...] a cultura negra está infiltrada no modo de
vida do brasileiro, seja qual for o seu pertencimento étnico-racial” (FILICE, 2011, p. 111).
As variadas maneiras de discriminação de qualquer natureza não têm sua origem na escola,
todavia o racismo, as desigualdades e discriminações constantes na sociedade perpassam por esta
instituição. Para que as instituições de ensino cumpram de forma justa o papel de educar, faz-se
necessário que se componha em espaço democrático de produção e divulgação de conhecimentos
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
Por conseguinte, a escola se constitui como uma instância essencial para a intervenção
social objetivando a superação das desigualdades, principalmente as ligadas às relações étnico-
raciais. Essa instituição desempenha a função de formar o/a aluno/a para o aprendizado e exercício
da cidadania, e para esse prosseguir aprendendo ao longo da vida. Tem a missão de primar pela
ampliação de competências e habilidades que admitam a compreensão da sociedade que vivemos.
Nesse sentido, a questão racial é objeto de todos e deve ser regida para a reeducação das relações
étnico-raciais, pois assim existirá o reconhecimento da existência, valorização, respeito ao/a
negro/a e afrodescendente e a sua cultura dentro da escola.
112
2.1 O papel da escola na desconstrução do racismo e do combate às
atitudes discriminatórias
O racismo é concebido como uma atitude que tende a separar os seres humanos em
raças, considerando umas superiores em detrimento de outras. É uma forma de preconceito
velado baseado na divergência de raças entre as pessoas. Geralmente, a população negra e
afrodescendente, assim como outras etnias, exibe uma história difícil com o preconceito. Gomes
(2005, p. 46) explicita que:
Dessa forma, o racismo no Brasil mesmo oculto, ainda está operante em nossa sociedade,
pois ele se apresenta em diversas faces, e uma delas está permeada nas relações sociais iniciadas
no cenário educacional tendo a escola como instituição representativa desse fenômeno. No âmbito
escolar, observa-se que a expressiva cultura de hierarquização tem se tornado palco de distinção no
sentido de difundir apreciações que menosprezam, principalmente, os negros e afrodescendentes.
Assim sendo, “quanto mais a sociedade, a escola e o poder público negam a lamentável
existência do racismo entre nós, mais o racismo existente no Brasil vai se propagando e invadindo
as mentalidades, as subjetividades e as condições sociais dos negros” (GOMES, 2005, p. 47).
Nesse contexto, a discriminação racial na escola não se reduz às relações interpessoais.
Existem diversos mecanismos que podem favorecer tais práticas como - o emprego de livros
didáticos com abordagens preconceituosas e equivocadas sobre a cultura, religião e formação
do povo negro e afrodescendente. Tratamentos que separam o discurso da não diferenciação que
falaciosamente se torna invisível às diferenças e usa também o currículo de forma superficial
ao abordar temáticas ligadas ao povo negro, além do tratamento insensato frente a algumas
informações.
Situações como essas favorecem a aceitação do discurso da superficialidade, fato que
irá contribuir para o acirramento das relações racistas no espaço escolar. Nesse tocante, a escola
também colabora para que certos grupos sociais se tornem hierarquicamente superiores nas
relações étnico-raciais, sobretudo quando cria uma forma simbólica de violência estruturando
uma imagem negativa dos negros e afrodescendentes.
Nesse contexto, a escola desempenha o papel de ampliar e reconhecer a diversidade da
formação de seus/suas alunos/as levando em consideração a dinâmica de criação e recriação da
cultura afro-brasileira, como forma de propiciar ao/a aluno/a o reconhecimento de suas origens.
É, pois, uma instituição onde saberes são produzidos e disseminados. É um ambiente que deve
113
encarar a educação como um ato social de mudança.
Dessa forma, o estudo da cultura, história e literatura afro na escola formal proporciona
aos/as alunos/as se auto reconhecerem, garante o conhecimento da história do seu país e sua
formação ética. Com base nisso,
[...] a escola, como instituição socializadora, tem também o dever de propiciar uma
ampliação de seu horizonte de experiência, com base em valores inquestionáveis,
como respeito aos direitos humanos e aos ideais republicanos e democráticos,
que orientam - ou devem orientar - o desenvolvimento da sociedade brasileira.
(MOURA, 2005, p. 71)
3
[...] compreendido como uma corrente ideológica que pretende negar a desigualdade racial entre brancos e negros no Brasil como
fruto do racismo, afirmando que existe entre esses dois grupos raciais uma situação de igualdade de oportunidade e de tratamento.
Esse mito pretende de um lado negar a discriminação racial contra os negros no Brasil e, de outro lado, perpetuar estereótipos,
preconceitos e discriminações construídos sobre esse grupo racial. [...] Atua como um campo fértil para a perpetuação de estereótipos
sobre os negros, negando o racismo no Brasil, mas simultaneamente, reforçando as discriminações e desigualdades raciais. (GOMES,
2005, p. 57)
114
O negro e afrodescendente ainda sofre discriminações na escola. Isso tudo devido aos
resquícios da formação de uma então sociedade baseada na teoria do branqueamento4. É nesse
ponto que se deve lutar contra o preconceito e a discriminação em busca da equidade, respeito
e rompimento de paradigmas há séculos enraizados no modelo educacional brasileiro. Segundo as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações étnico-raciais e para o ensino de
História e Cultura Afro-brasileira e Africana (2005):
Entre os docentes prevalece uma discriminação simbólica para com o/a aluno/a negro/a
e afrodescendente, que é medida por meio da capacidade de aprendizagem; de forma sutil, a cor
é um dos critérios preponderantes e determinantes para tal feito, o que acaba por estereotipar
as potencialidades e competências dos/das alunos/as. Essa forma preconceituosa advinda de uma
cultura permeada por “conceitos” foi impregnada ao longo dos tempos, e que acabou por deturpar
a identidade do negro/a.
4
Ao lado do mito da democracia racial, arquitetou-se no Brasil o ideal do branqueamento como uma política nacional de promoção da
imigração europeia que visava suprir a escassez de mão-de-obra resultante da Abolição e modernizar o país através da atração de mão-
de-obra europeia. [...] O ideal de embranquecimento pressupunha uma solução para o problema racial brasileiro através da gradual
eliminação do negro, que seria assimilado pela população branca. (BERNARDINO, 2002, p. 253)
115
Dessa forma, a escola como um ambiente que agrega uma heterogeneidade de culturas e
valores necessita proclamar atitudes que desconstruam estigmas discriminatórios e segregadores
para a população negra e afrodescendente. E, sendo essa instituição constituída pelos discentes,
docentes, comunidade e gestão deve excluir de sua rotina o envolvimento com práticas
discriminatórias, que tendem a excluir e discriminar pessoas consideradas “diferentes” por conta
de sua cor, cultura e demais características físicas e culturais.
2009 e 2010.
A Modalidade de oferta é Semipresencial com carga horária total de 200 horas, sendo
30 horas na forma Presencial e 170 horas à distância. Objetiva proporcionar a formação dos/as
profissionais da educação básica, principalmente, os/as professores/as como forma de combater
as diversas desigualdades que envolvem as questões ligadas à diversidade, gênero, sexualidade e
orientação sexual e relações étnico-raciais.
A estrutura curricular do curso organiza-se em torno de módulos temáticos: Diversidade,
Gênero, Sexualidade e Orientação sexual e Relações étnico-raciais. O curso está sendo
disponibilizado neste ano (2014) para 3 municípios do estado do Maranhão, a saber: São Luís,
Caxias e Imperatriz. (BRASIL, 2013)
Nesse sentido, tomando-se como ponto de análise, com fins de apreciação sobre a
afirmação de uma educação para as relações étnico-raciais no contexto educacional, bem como
na prática docente, examinaram-se os posicionamentos emitidos pelos/as alunos/as da turma
01 do município de Imperatriz-MA6 durante a aplicação de atividade do Fórum7 de discussão,
cuja temática abordada consistiu em relacionar e verificar a construção histórica do racismo. Foi
solicitada como tarefa para embasamento da Atividade 1, “Construção histórica do racismo”,
a seguinte questão:
116
construção histórica do racismo” disponível no Ebook do Curso. Aponte aspectos
abordados neste ebook ou de outras referências pesquisadas e compartilhe seu
posicionamento, comentando também os argumentos de seus/suas colegas. Bom
debate a todos/as! (Curso GDE-UFMA, AVA/MOODLE, 2014).
[...] nada deveria justificar o racismo, ou seja, o uso das ‘diferenças como modo
de dominação’. É uma forma cruel de subordinar o/a outro/a ao ponto de o/a
próprio/a agredido/a se sentir desnudo/a ao perceber-se, realmente DIFERENTE,
e uma vez que não há seres iguais na face da Terra (os/as gêmeos/as idênticos/
as ainda seriam diferentes em personalidade)! [...] ! ‘Em que sentido ser negro/a
é mau?’. Uma possível resposta pode estar em anos de desrespeito ao outro/a,
naturalizando que as diferenças são fatores excludentes de vez e voz nas sociedades
fortemente hierarquizadas EM TUDO. (ALUNA A)
O racismo é uma atitude abominável porque tenta destruir o que as pessoas têm
de mais valioso: a sua autoestima. [...]. (ALUNA C)
8
Este recurso se aplica em respeito e observância ao que dispõe a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 196, de 10 de
outubro de 1996 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) onde estabelece que a pesquisa em qualquer área do conhecimento,
envolvendo seres humanos deverá observar as seguintes exigências: [...] prever procedimentos que assegurem a confidencialidade e a
privacidade, a proteção da imagem e a não estigmatização, garantindo a não utilização das informações em prejuízo das pessoas e/ou
das comunidades, inclusive em termos de auto-estima, de prestígio e/ou econômico - financeiro [...]. (Inciso III, alínea i)
117
Certamente ainda não ocorreu uma transformação profunda diante de tanto
preconceito e discriminação em nossa sociedade, até porque são causas e efeitos
históricos, e que até certo ponto tornou-se cultural, devido a um ordenamento
sistemático, porém, foi somente a partir da organização dos grupos para discussões,
reflexões e ações é que houveram conquistas, como a elaboração e aprovação de
legislação para coibir e punir atitudes preconceituosas, mas ainda é necessário,
que essas leis sejam respeitadas, cumpridas e divulgadas para que não se tornem
leis ‘mortas’. (ALUNO D)
[...] a cor da pele ainda é algo pra medir competência, personalidade e caráter.
(ALUNA F)
No século XIX surge o racialismo, concepção oriunda durante o efervescente avanço dos
conhecimentos científicos da época. Esta teoria foi substituindo a concepção de linhagem europeia
pela ideia de raça, fundamentada nas relações biológicas. O racialismo consiste em explicar as
diferenças entre os povos ou entre o comportamento das pessoas com base na concepção de que
elas resultam das características naturais, de caráter biológico (PEREIRA, 2007).
É interessante salientar que o racismo vai tomando fundamento por meio das tentativas
para explicar uma possível “diferença” entre os seres humanos, ou seja,
118
[...] a disseminação de informações e de reflexões como estas proporcionadas
pelo Curso GDE, nos dão a chance de analisar nossos próprios dilemas, ‘cutucar’
nossas próprias dores, indignar-se com nosso próprio silêncio e caminhar rumo à
mudança tão necessária, para que haja, realmente, o respeito à pessoa humana,
independentemente de cor, gênero, religião, constituição física, diferença étnica
e/ou cultural. (ALUNA A).
119
como algo maléfico, uma vez que essa atitude considera a cultura negra de forma negativa,
manifestando-se, principalmente, por meio de expressões e ações preconceituosas, de forma
velada em grande parte dos casos.
Pereira (2007) descreve que o racismo é uma maneira de usar as diferenças como um
modo de dominação. É uma forma de subordinar o outro. É uma atitude. É caracterizado como um
tipo de conhecimento que se mantém por repetição, ignorância e preconceito.
O racismo é prejudicial não só aos aspectos da vida social. Ele pode ser encontrado
no âmbito escolar como fator de ampliação da desigualdade racial. Para Gomes (2005, p. 47),
“[...] essa desigualdade é fruto da estrutura racista, somada à exclusão social e a desigualdade
socioeconômica que atinge a população brasileira, e de um modo particular, o negro”. Logo,
todos somos capazes de progredir e evoluir dentro de nossas potencialidades e competências
independente de raça, cor, etnia ou qualquer outra característica. Não existe, portanto, teorias
que subjuguem essa concepção como equivocada.
Guimarães (2012 apud Gilroy, 1998) informa que não existem “raças” biológicas; o conceito
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
No Brasil, quando discutimos a respeito dos negros, vemos que diversas opiniões e
posturas racistas têm como base a aparência física para determiná-los como ‘bons’
ou ‘ruins’, ‘competentes’ ou ‘incompetentes’, ‘racionais’ ou ‘emotivos’. Isso de
fato é lamentável, mas infelizmente existe!
Portanto, os/as docentes devem manter uma postura tendenciosa, crítica e reflexiva
acerca das suas percepções sobre o que têm feito no cotidiano escolar e, de que forma isto está
refletindo na sua prática em sala de aula. A condução de discussões, pautadas na questão das
relações étnico-raciais, é um dos enfrentamentos a ser superado por uma ação docente destituída
de preconceitos e apta a superar qualquer marca deixada por um histórico de discriminações
na sociedade brasileira, que há muito sofreu e ainda continua sofrendo com práticas abusivas e
danosas à identidade cultural do povo negro e afrodescendente.
4 CONCLUSÃO
120
de respeito, ela pode ser uma forma de permitir que a discriminação e o preconceito sejam
rompidos por meio da inserção da verdadeira história cultural do povo negro e afrodescendente,
dessa forma contribuirá para a apresentação de situações que de fato aconteceram. Para tanto é
necessário que aconteça a superação das discriminações, seja através da elaboração de políticas
públicas específicas e articuladas ou pela conscientização dos/as alunos/as e professores/as no
contexto escolar.
Enfim, sabe-se que tais ações não serão a cura para sanar séculos de discriminações e
agressões à população negra, mas é um caminho a ser trilhado em prol da constituição de uma
possibilidade de igualdade e respeito para com o outro. A escola precisa promover ações que
vislumbrem para toda a comunidade escolar conhecer e respeitar as diferenças, favorecendo a
igualdade de oportunidades para todos, decorrendo por uma oferta de qualidade escolar através
do fortalecimento dos/as educadores/as mediados por capacitações.
BRASIL. Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010. Institui o Estatuto da Igualdade Racial. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 21 jul. 2010. Disponível em: <http://
www.in.gov.br>. Acesso em: 12 set. 2013.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Parecer CNE/CP
3/04, de 10 mar. de 2004. Brasília: MEC/ SEF, 2004.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Resolução nº 01,
de 17 jun. 2004. Brasília: CNE, 2004.
121
CASHMORE, Ellis (Org.). Dicionário de relações étnicas e raciais. São Paulo: Summus,
2000.
GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Raça, cor e pobreza no Brasil. In:___. Classes, raças
e democracia. São Paulo: Editora 34, 2012. p. 47-76, cap. 2.
FELICE, Renísia Cristina Garcia. Raça e classe na gestão da educação básica brasileira:
a cultura na implementação de políticas públicas. São Paulo: Autores Associados, 2011.
GADOTTI, Moacir. A docência em Paulo Freire. Revista Direcional Educador, São Paulo,
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GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações
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NUNES, César. Educar para a humanização: aproximações éticas e políticas. Revista PAD
- Programa de Aperfeiçoamento docente, São Paulo, ano 7, n. 1, p. 19-21, mai./jun.,
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122
SANTOS, Edméa (Org.). Educação online: teorias, práticas, legislação, formação
corporativa. São Paulo: Loyola, 2003.
WINKELER, Maria Sílvia Bacila. O papel social do professor na contemporaneidade. Revista PAD -
Programa de Aperfeiçoamento docente, São Paulo, ano 7, n. 1, p. 09-11, mai./jun., 2013.
123
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
124
OS FÓRUNS DE DISCUSSÃO:
a interação no Curso de Aperfeiçoamento
Gênero e Diversidade na Escola da
Universidade Federal do Maranhão
As discussões sobre diversidade na escola estão cada vez mais em evidência na formação
docente por intermédio dos cursos de aperfeiçoamento em modalidade EaD. O Curso Gênero e
Diversidade na Escola – GDE proposto pela SECADI, em parceria com a Universidade Federal do
Maranhão (UFMA), tem sido um dos responsáveis pelas elaborações e discussões sobre diversidade
nas escolas públicas do estado do Maranhão, desde 2009.
A modalidade a distância permite a flexibilização dos horários de estudos e elaboração
das tarefas (entre muitas outras possibilidades), o que facilita a acomodação do curso na realidade
do/a cursista, mas requer dele/a maior disciplina e comprometimento na execução das tarefas.
Compreende-se que a interatividade nesse aspecto é fundamental e, de acordo com Lins, Moita e
Dacol (2006, p. 02)
A interação entre professor e aluno pode ocorrer de diversas formas, utilizando
ou não a tecnologia, pode ser presencial ou virtual. Já a interatividade pressupõe
a possibilidade dos mesmos interagirem com uma máquina para a troca de
informações. Para que o uso de tecnologias interativas faça diferença na qualidade
da educação a distância e assegure sua expansão é necessário o uso de metodologias
de interação não presenciais próprias e eficientes.
125
separação física e temporal, o/a professor/a realiza a mediação pedagógica e o/a aluno/a assume
uma postura mais ativa diante de sua própria aprendizagem”.
Dessa forma, partindo dos pressupostos de Lins, Moita e Dacol (2006) e Duarte (2010),
este artigo tem como objetivo discutir sobre a importância da interatividade nos fóruns do Curso
de Aperfeiçoamento Gênero e Diversidade na Escola – GDE e apresentar as suas contribuições para
o processo de ensino-aprendizagem dos (as) cursistas. Para o aprofundamento teórico do trabalho
serão consultados/as os/as autores/as Fuks (2004), Duarte (2010), Hack (2011), a fim de tecer a
discussão; além desses autores, serão usadas algumas participações dos/as dos cursitas do Curso
de Aperfeiçoamento em Gênero e Diversidade na Escola - GDE nos fóruns, para complementar os
postulados teóricos apresentados seguidos de algumas considerações.
126
Esses tipos de ferramentas favorecem a criação de comunidades virtuais2 de aprendizagem, o que
contribui para a discussão de temas propostos e para a elucidação de problemas levantados no
decorrer do processo ensino-aprendizagem dentro do ambiente virtual de aprendizagem.
O ambiente digital deve oferecer um conjunto apropriado de ferramentas de comunicação,
que deve ser utilizado de acordo com os objetivos e situações. Normalmente, ferramentas
de comunicação assíncrona são usadas quando se deseja valorizar a reflexão por parte dos/
das interlocutores/as, visto que eles/as terão mais tempo antes de agir. Nas ferramentas de
comunicação síncrona, a velocidade da interação é mais valorizada em virtude do baixo tempo de
latência entre as ações dos/das interlocutores/as. Assim,
127
pertencimento, no qual todos/as fazem parte. Porém, para que isso ocorra é preciso propiciar
aos/as que participam de uma comunidade um ambiente motivador e que esteja entrelaçado com
a técnica de diálogo potencializando seu surgimento e sua permanência (PAZ et al, 2006).
A ferramenta de fórum de discussão, ou simplesmente fórum, de acordo com Santos (2003
apud RODRIGUES, 2012) permite o registro e a comunicação de significados por todo o coletivo,
por intermédio das tecnologias e a mensagem enviada não se restringe a um único receptor. A
mensagem circulante permite a interação de todos os sujeitos nesse processo de educação e as
diferentes características dos sujeitos e seu lugar social possibilitam a expressão e elaboração de
diversos saberes.
Rodrigues (2012, p.28-29) esclarece que os fóruns de discussão precisam atender a um
propósito, uma finalidade e buscar vantagens:
128
Figura 1: Fórum de apresentação do curso GDE/UFMA
129
Os fóruns de discussão como tarefas dos módulos são constantes, e a quantidade varia
de acordo com o posicionamento do/a professor/a. O módulo 1 intitulado Introdução ao AVA e
diversidade, apresentou em sua constituição dois fóruns, com o objetivo de viabilizar a interação
e a percepção dos conteúdos apresentados no decorrer no módulo.
A participação dos/as cursistas acontece em média entre três interações por aluno/a,
sendo que um dos requisitos de participação era a real interação (comentários) com as publicações
dos/as demais, estabelecendo um diálogo conceitual (ver figura 3 e 4).
Figura 3: Quantitativo de interações no fórum módulo diversidade
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
130
Figura 4: Interação entre as (os) cursistas no fórum módulo diversidade
131
interação, de acordo com Vigotsky (2000), organiza o pensamento em torno do problema de
maneira mais elaborada possibilitando a mediação de um/a interlocutor/a mais experiente.
Para Rodrigues (2012, p 08), é “pela interação que os participantes geram o entendimento
daquilo que estudam em conjunto e são mutuamente responsáveis pela aquisição do conhecimento”.
Assim, a participação efetiva do (a) cursista deve ser estimulada, para que a consolidação dos
discursos aprendidos e construídos seja lapidada qualitativamente.
Porém, “o fórum por si mesmo não promove a interação. Este só pode ser efetivado a
partir da intencionalidade dos/as professores/as e dos alunos/as associada a um objetivo maior
que é o alcance do conhecimento” (BATISTA; GOBARA, 2007, p.03). Os critérios de participação
devem ser definidos e direcionados, para que o/a cursista não perca o foco e caia em discussões
sem fundamentos teóricos (senso comum), nesse momento o/a tutor/a deve estabelecer os links
e os apontamentos conceituais no cerne da temática abordada.
a sua função que é a de permitir uma efetiva interação entre os sujeitos presentes
no ambiente on-line e que possibilite a construção do conhecimento pelo aluno,
mediada pelo (a) professor (a), todas as suas potencialidades devem ser conhecidas
pelos usuários desse ambiente (BATISTA; GOBARA, 2007, p. 03).
O efetivo conhecimento das potencialidades dos fóruns deve ser estabelecido, para que
os/as tutores/as, professores/as, alunos/as possam utilizar o recurso de maneira eficiente na
elaboração de conceitos no decorrer de toda atividade do curso. Além, é claro, de se estabelecer
os critérios didáticos da participação, visando o objetivo de produção de conhecimento seja
alcançado.
O tempo de duração de cada fórum varia entre quinze e vinte dias, encerrando sempre
no domingo, para que os (as) cursistas apresentem suas contribuições, pois cada contribuição é
interligada com o pensamento do cursista anterior em forma de resposta (ver figura 5).
132
Figura 5: respostas dos (as) cursistas em fórum do módulo relações étnico-raciais
A interlocução dos comentários com as publicações anteriores nos fóruns permite ao/a
cursista e a seu/sua tutor/a correlacionarem o índice de participação no período em que o fórum
permaneceu aberto. Porém, a não postagem em vinculação direta com o comentário respondido
confunde os argumentos apresentados no decorrer da discussão, o que pode gerar algumas
confusões e mal entendidos entre os/as envolvidos/as, dessa forma o cuidado na citação do nome
do/a cursista ao/a a que se refere o comentário é fundamental, para uma interlocução e interação
efetiva no fórum.
133
CONSIDERAÇÕES FINAIS
a interação entre os/as cursistas, sem, contudo, desconsiderar as demais ferramentas disponíveis
no ambiente virtual de aprendizagem.
Embora o fórum não seja a única ferramenta de interação dentro do ambiente virtual
de aprendizagem, ele estabelece de forma qualitativa a interação tal qual em uma sala de aula
convencional; no entanto, depende da condução do/a tutor/a e do compromisso dos/as cursistas
para a execução efetiva da construção e interação dos conhecimentos no decorrer dos módulos,
em uma rede lógica de complexidade e elaboração.
No entanto, a responsabilidade do/a professor/a ou do/a tutor/a está ancorada ao
estabelecimento da motivação da participação e da elaboração dos critérios de organização de
contribuição no fórum, os quais devem levar em consideração o objetivo proposto em cada módulo.
REFERÊNCIAS
DUARTE, Sarah Karine da Silva. O USO DO FÓRUM NA EAD: contribuições pedagógicas. Revista
da Graduação: publicações de TCC, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p.01-51, ago. 2010. Disponível em:
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/fo/ojs/index.php/graduacao/article/view/7885/5573>.
Acesso em: 02 jun. 2014.
GIRAFFA, L. M., et. al. Do satélite à Internet: reflexões e lições aprendidas na organização da
Educação a Distância no âmbito da PUCRS. Revista Colabor@ da CVA-RICESU, p.165-191, set.
2009.
134
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: 34, 1999.
LINS, Rubevan Medeiros; MOITA, Márcia Helena Veleda; DACOL, Silvana. Interatividade na
educação a distância. In: ENEGEP, 26., 2006, Fortaleza. Anais... . Fortaleza: Anepro, 2006. p. 01
- 07. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2006_TR540364_8555.pdf>.
Acesso em: 02 jun. 2014.
PAZ, C. R. et al. Monitoria online em educação a distância: o caso LED/UFSC. In: SILVA, Marco.
RIBEIRO, Elvia Nunes; MENDONÇA, Gilda Aquino de Araújo; MENDONÇA, Alzino Furtado de. A
importância dos ambientes virtuais de aprendizagem na busca de novos domínios na EAD. In:
ABED, 13, 2007, Curitiba. Anais... . Curitiba: Abed, 2007. p. 01 - 11. Disponível em: <http://
www.abed.org.br/congresso2007/tc/4162007104526am.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2014.
135
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
136
O DIÁRIO DO AMBIENTE VIRTUAL
DE APRENDIZAGEM COMO
REGISTRO REFLEXIVO SOBRE
AS QUESTÕES DE GÊNERO
E DIVERSIDADE
NA ESCOLA
INTRODUÇÃO
A EAD veio como uma proposta de educação inclusiva que oportuniza aos/as estudantes
o acesso à formação inicial e continuada de forma acessível, prática, virtual e interativa aos/
as que nela ingressam. Com isso, os cursos online se multiplicaram nos últimos anos, oferecendo
assim, uma gama de cursos das mais diversas áreas de conhecimento e de atuação acadêmica e
profissional.
Moran (2003, p.01) define a educação online como “o conjunto de ações de ensino e
aprendizagem desenvolvidas através de meios telemáticos, como a Internet, a videoconferência e
a teleconferência” e destaca que a Educação a Distância é um conceito mais amplo. Por exemplo,
um curso utilizando o correio tradicional para a troca de materiais entre professor/a e seus
alunos/as é um curso a distância, mas não pode ser caracterizado como um curso online, visto que
necessita de outros meios para que aconteça.
A criação da Internet e a integração das novas tecnologias à educação fizeram com
que uma nova realidade se configurasse, possibilitando a utilização de diferentes recursos que
potencializam a interação entre os/as participantes de um processo educativo e estabelecem uma
comunicação contínua garantindo, assim, o acesso ao conhecimento.
Com essas inovações na sociedade da informação surgem também os Ambientes Virtuais
de Aprendizagem (AVAs) que, segundo Araújo Jr. e Marquesi (2008, p. 358),
137
[...] proporcionam o redimensionamento do ensinar e do aprender que, antes, era
realizado principalmente no espaço escolar. Esse redimensionamento permite que
o espaço e o tempo de aprendizagens sejam ampliados e o conceito de ensinar
tome, por conseguinte, novas proporções.
linguagem escrita e que pode ser planejada, mas também é mais informal pelo fato de as pessoas
se utilizarem dela para interagir, “conversar” nesse espaço; efetuam-se mudanças também no
papel do/a aluno/a que pode decidir quando e onde acessar o ambiente virtual de aprendizagem
para estudar, interagir e refletir de acordo com as suas necessidades e possibilidades.
Enfim, o AVA fornece um espaço organizado em salas de aulas virtuais, onde acontece o
estudo, a pesquisa, o debate, a avaliação, o registro reflexivo e a disseminação do conhecimento
adquirido, a fim de formar novos/as cidadãos/ãs aptos/as para o mercado de trabalho e para a
sociedade.
Dentre as várias ferramentas existentes no AVA, lançamos o olhar para o Diário, instrumento
que possibilita o registro reflexivo por parte dos/as cursistas em relação a cada módulo. Neste
sentido, este artigo tem por objetivo refletir sobre a relevância desta ferramenta para o processo
ensino aprendizagem na modalidade a distância.
Como afirmamos, nesse momento levantaremos algumas reflexões sobre o papel do Diário
como registro reflexivo que possibilita pensar sobre as questões de gênero na escola, por meio do
trabalho realizado no Curso de Aperfeiçoamento a Distância em Gênero e Diversidade na Escola
(GDE).
Na educação à distância o Diário se configura como uma ferramenta formativa para os/
as cursistas. Nessa ferramenta encontra-se o conteúdo dos registros feitos por eles/as criando um
espaço pessoal, de reflexão sobre sua experiência no curso, compartilhando sua vivência com o/a
tutor/a e colegas.
A ferramenta Diário, na plataforma moodle, permite o desenvolvimento de uma atividade
assíncrona de alunos/as e tutores/as virtuais, possibilitando a leitura e o envio do feedback do/a
tutor/a a cada postagem. Isso favorece a retomada do que foi escrito e a reelaboração, conforme
138
solicitado no feedback, ampliando as possibilidades reflexivas do diário para a elaboração do
Memorial, ao final do curso.
Nesse sentido, entendemos que o exercício de escrita do Diário denota uma narrativa de
formação entre cursista e tutor/a online. Como afirma Cunha (1997, p.01):
Quando uma pessoa relata os fatos vividos por ela mesma, percebe-se que
reconstrói a trajetória percorrida dando-lhe novos significados. Assim, a narrativa
não é a verdade literal dos fatos, mas, antes, é a representação que deles faz o
sujeito e, dessa forma, pode ser transformadora da própria realidade.
Assim, os Diários, como uma das formas de expressão da escrita pessoal dos sujeitos,
atuam também nas reflexões, expressões, aprendizagens e elaborações acadêmicas que os/as
cursistas em processo de formação desenvolvem evidenciando, assim, seus saberes e suas ações
diante dos momentos de formação vividos no curso.
Atualmente, formar o/a professor/a reflexivo/a tem se colocado como grande desafio à
Essa reflexão, tão necessária, não pode acontecer somente do ponto de vista de análise da
prática pela prática, mas precisa ser sustentada por um referencial teórico que permita ampliar a
compreensão do seu fazer. Assim, os/as professores/as ao retornarem à condição de alunos/as em
um curso que aborda as questões de gênero e diversidade demonstram uma grande preocupação
em compreender como essas questões se fazem presentes na escola para, assim, pensarem em
novas práticas que combatam o preconceito, a discriminação e o sexismo.
Nesse sentido, a cada módulo vivenciado no curso, os/as alunos/s foram provocados a
voltar o olhar para o cotidiano da escola, buscando identificar práticas e comportamentos que
negam a diversidade, razão pela qual tornou-se imprescindível a existência do Diário.
Para Zabalza (2004, p.13) os diários de aula, como ele mesmo denomina, “[...] são os
documentos em que os professores e professoras anotam suas impressões sobre o que vai acontecendo
em suas aulas.” Para o autor, os diários podem ser utilizados no processo de formação continuada
com a finalidade de contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional dos/as professores/
as, porque torna possível ao/a docente explicitar seus dilemas, seus novos conhecimentos, (re)
construir saberes, avaliar o processo de formação e reajustá-lo.
Compreendemos que por meio das narrativas expressas nos diários, os(a) cursistas
elucidam seus percursos e saberes construídos em sua formação ao longo de sua vida profissional.
Nesse processo de escrita, ao ter a possibilidade de dialogar consigo mesmo, avaliando os fatos
registrados e a relação destes com a situação vivenciada, o(a) cursista reflete, aprende e (re)
constrói seus saberes e suas ações sobre a temática gênero e diversidade.
139
É com este objetivo que o Diário se configura como uma atividade permanente no Curso
GDE. Pretendemos que, ao longo do curso, os/as alunos/as vivenciem a experiência da escrita como
ferramenta de reflexão sobre a prática. Isto porque, ao registrar tomamos distância da situação e
podemos analisá-la mais amplamente, estabelecendo diálogos com nossos colegas, tutor/a e os/
as autores/as. Assim, considerando as especificidades do curso à distância, o/a tutor/a poderá,
por meio do Diário, ter ciência das experiências vivenciadas, dos sentimentos, dos dilemas e das
opiniões; e, a partir desses elementos, propor questionamentos, interpretações e perspectivas
que proporcionem a reflexão e a análise dos fatos vivenciados pelos/as cursistas.
Na parte seguinte deste artigo, compartilharemos fragmentos dos registros feitos nos
Diários pelos/as cursistas e o feedback dado pelo/a tutor/a durante o Curso de Aperfeiçoamento
– GDE, além de fazermos algumas reflexões sobre este instrumento.
Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem
o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até
não pingar do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda
ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa.
A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita
para dizer. (Guimarães Rosa)
140
do curso.
Assim, nesta parte do trabalho pretendemos trazer para a reflexão alguns registros feitos
pelos/as cursistas e tutores/as, com o objetivo de subsidiar a análise sobre a relevância do Diário
para o processo de formação continuada vivido no GDE. Em cada módulo os/as cursistas foram
incentivados e orientados para fazerem seus registros no Diário, conforme destacamos abaixo:
“O curso tem propiciado o repensar de práticas e atitudes que por vezes passam
despercebidas, como o fato de não saber lidar com determinadas situações por não
ter conhecimento da atitude correta para determinado momento. Reforça ainda
mais a necessidade de conhecimento e educação com a consequente mudança de
hábito e a ênfase no otimismo de alteração da realidade para melhor, sem o apego
ao conformismo, bem como respeito ao próximo.”
141
Feedback da Tutora K.C.B.: B.K.D.S.P, o exercício de pensar e repensar é árduo e no
Curso se faz fundamental. Sugiro que sempre busque as leituras do nosso material,
a fim de fundamentar suas reflexões e compartilhar conosco suas indagações sobre
os estudos.
142
F.M.F.L Turma 01- Caxias
Estou vendo que o curso GDE é muito mais complexo do que eu imaginava, apesar de
saber que trata de assuntos muito delicados, só temos a real noção da importância
dos temas abordados quando nos aprofundamos na leitura dos textos propostos
e na nossa própria consciência para sabermos como os temas que julgávamos
ter conhecimento estão longe de serem banais. Estou muito empolgado com o
andamento do curso, por que ao mesmo tempo em que tomamos conhecimento do
material teórico que temos acesso, podemos pesquisar no ambiente social em que
convivemos e vermos as questões de diversidade com um olhar diferente. A cada
dia vejo as questões de gênero e diversidade com um olhar diferente, situações
que vivíamos e achávamos normais no nosso cotidiano, a partir do curso GDE vi
que por trás dessas situações existe todo um comportamento, involuntário ou não,
que discrimina as pessoas devido a uma educação que não se preocupou com essas
questões tão importantes para a nossa sociedade. Estou notando que a ignorância
que existe na nossa sociedade não é um privilégio das classes mais baixas e menos
instruídas como gostam anunciar, os especialistas das classe mais altas que vivem
apoiados em seus diplomas e no seu dinheiro, se fosse assim não veríamos as cenas
lamentáveis de preconceito e discriminação nos países europeus e no nosso próprio
país cometidas pelas classes ditas esclarecidas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta de escrita nos Diários durante o Curso do GDE teve como objetivo fazer os/
as professores/as retrocederem nos estudos sobre as questões de gênero e diversidade na escola,
buscando olhá-los sob outra perspectiva, uma perspectiva que fosse mais crítica, mais reflexiva.
Como já anunciamos no texto, não foi fácil a adesão dos alunos/as a esta proposta de
atividade, visto que não havia uma obrigatoriedade de nota, nem datas fixas estabelecidas para que
os registros acontecessem. Esse encaminhamento não se dava ao acaso, mas se sustentava na ideia
de que o registro precisava partir do desejo de compartilhar dúvidas, angústias, aprendizagens
pelos/as cursistas. Aos/as tutores/as cabia incentivar, orientar e provocar para que a escrita
acontecesse.
Chegamos ao término do Curso e obtivemos registros bastante significativos, como alguns
compartilhados ao longo do texto. Esta experiência nos fez pensar que ainda há muito por fazer
para que as ações de formação docente atinjam, de fato o propósito de formar professores/as
reflexivos/as. A reflexividade, como apontado por Cañete (2010), nos permite voltar atrás para
pensar conscientemente, avaliando, verificando, analisando.
143
Neste curso, em especial, almejamos provocar a reflexão sobre como agimos na escola
diante das questões étnico-racial, de gênero e da sexualidade, utilizando para isso o Diário
como instrumento reflexivo. Vimos que ainda há muito por fazer neste campo e que mudanças
efetivas acontecerão na escola quanto mais consciente os/as professores/as estiverem sobre estas
temáticas e que a formação é um caminho fecundo para potencializar aprendizagens e subsidiar
mudanças na prática docente.
REFERÊNCIAS
CAÑETE, Lílian Sipoli Carneiro. O diário de bordo como instrumento de reflexão crítica da
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
CUNHA, Maria Isabel da. Conta-me agora!: As narrativas como alternativas pedagógicas na
pesquisa e no ensino. Rev. Fac. Educ. v. 23, n. 1-2, Jan. 1997.
MORAN, José Manuel. Contribuições para uma pedagogia da educação online. In: SILVA,
M.(org.) Educação online: teorias, práticas, legislação, formação corporativa. São Paulo, Loyola,
2003. Disponível na Internet: http://www.eca.usp.br/prof/moran/site/textos/educacao_online/
contrib.pdf. Consultado em 27/10/14.
PIMENTA, Selma Garrido; GHEDIN, Evandro (orgs.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e
crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2002.
144
Sobre as autoras e autores
145
Raimunda Nonata da Silva Machado
Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Federal do Piauí – UFPI. Mestra em Ciências Sociais, pela Universidade Federal do Maranhão -
UFMA. Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão. Professora Assistente
da Universidade Federal do Maranhão – Campus Codó. Desenvolve estudos na área de Educação,
com ênfase nos temas: processo de ensino e aprendizagem, relações de gênero e raça, discursos e
práticas pedagógicas, educação a distância, tecnologia educacional e políticas de formação.
enfatizando os objetivos da educação para as mulheres, a citada pesquisa se deu por dois anos
com o financiamento do BIC -UEMA. Mestre em História pela Universidade Federal da Bahia, com
trabalhos na área de gênero, educação e história da educação, pela perspectiva da emancipação
feminina instrumentalizada pela educação. Doutoranda em História Social da Amazônia pela
Universidade Federal do Pará.
146
Luciana de Jesus Botelho Sodré
Graduada em Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú e
nas séries finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano), Ensino Médio e Educação Profissional na
disciplina Língua Portuguesa pela Universidade Estadual do Maranhão/Núcleo de Tecnologias para a
Educação - UEMANET na modalidade EaD. Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal
do Maranhão. Especialista em Educação Inclusiva: diversidade na sala de aula pela Universidade
Estadual do Maranhão e em Supervisão Escolar pela UNINTER. É membro do Grupo de Estudos
Investigações de Estudos Afro-brasileiras (GIPEAB) da Universidade Federal do Maranhão (2013).
147
Realizado o Depósito Legal na Biblioteca Nacional,
conforme Lei n.10994, de 14 de dezembro de 2004.
Publicação: 1a edicão
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
Formato: 21 x 29,7 cm
Tipologia: Remanchine Scrip Person Use 30/24
Trebuchet MS 11/18
148
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE
149