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Desenvolvimento Instrucional

CURSO: Engenharia de Produção

DISCIPLINA: Gestão da Inovação

PROFESSOR: ANTONIO IACONO

Aula 1:

O que é Inovação e por que é tão importante para a


competitividade

Meta
Nesta aula vamos apresentar algumas das principais características da inovação, explorando
seus conceitos e definições, e demonstrar a importância da inovação para a competitividade
das empresas e de um país.

Objetivos
O objetivo principal desta aula é inserir você no contexto da inovação e apresentar sua
importância para o crescimento das empresas e do país. Para isso, vamos abordar os seguintes
pontos:

• Distinguir descoberta, invenção e inovação;


• Inovação e suas tipologias;
• Panorama da inovação no Brasil

Após esta aula, você será capaz de:

1. Identificar os conceitos chaves relacionados à inovação;


2. Caracterizar a inovação quanto as suas tipologias;
3. Entender a relação entre descoberta, invenção e inovação
4. Compreender o panorama da inovação no Brasil e seus principais desafios para a
competitividade

Introdução
A palavra inovação tem sido utilizada com muita frequência nos dias de hoje, podemos até
afirmar que é uma palavra da moda. A inovação aparece nos mais variados anúncios de
produtos e serviços, como os de shampoo para o cabelo, automóveis, serviços de saúde,
celulares, televisores, dentre outros. Não por acaso a inovação aparece com tanta frequência,
ela é fortemente associada ao crescimento e desenvolvimento. Os economistas têm
concordado que a inovação responde por uma considerável parcela de crescimento e
desenvolvimento econômico dos países.

Se fizermos uma busca para entender seu significado encontraremos que a palavra “inovar”
deriva do latim innovare, e significa criar algo novo; refere a uma ideia, método ou objeto que
é criado e que pouco se parece com padrões anteriores, ou seja, relaciona uma aplicação das
ideias de uma forma original.

Podemos também notar que o termo inovação é usado com muita frequência de maneira
intercambiável com outros como descoberta e invenção. Mas será que esses três termos
significam a mesma coisa? Posso afirmar que invenção e inovação são o mesmo? Ou que
descoberta e invenção são sinônimos? Veremos mais adiante que os termos descoberta,
invenção e inovação, no contexto em que trataremos o tema inovação, apresentam
características bem específicas e, que portanto, são diferentes. A variação do que as pessoas
entendem por inovação é um dos problemas na gestão da inovação, e vamos entender o por
que ao longo desta aula.

Para iniciar nosso entendimento vamos apresentar alguns exemplos de descobertas e


invenções que são bem familiares a todos nós. Certamente você deve se lembrar de ter
estudado que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil; Alexander Flemming descobriu a
penicilina; Santos Dumont inventou o avião; Thomas Edison inventou a lâmpada elétrica; e
Alexander Graham Bell inventou o telefone. Exemplos mais recentemente de invenções são a
televisão; a internet; o computador; e o celular. Você deve ter percebido que em nenhum dos
exemplos eu referi a palavra inovação. Mas posso adiantar que em alguns dos exemplos temos
casos de inovação e em outros não. Para ilustrar melhor essa questão, observe as imagens, a
seguir, e responda em qual delas você acha que temos uma inovação.

Figura 1: caracterização de descoberta, invenção e inovação

Fonte imagens: http://freeimages.com

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Se você respondeu a imagem da Figura 1-d, o notebook, então meus parabéns, você acertou!
Se você não acertou, não se preocupe, a diferença entre o que é descoberta, invenção e
inovação não é tão simples quanto parece. Vamos entender na próxima seção o que
caracteriza cada uma desta definições.

1. Distinguindo descoberta, invenção e inovação


1.1 Descoberta
O termo “descoberta” refere-se normalmente ao processo de reconhecimento ou observação
pela primeira vez de um particular fenômeno natural ou objeto. A figura 1-c que representa o
átomo é um exemplo de descoberta. Vamos agora para outro exemplo, consideremos o fogo.
A descoberta do fogo muito provavelmente ocorreu de maneira casual e natural ao observar-
se árvores atingidas por raios. A partir dessas casualidades o homem aprendeu sobre as
propriedades inerentes ao fogo, como calor e luz. A partir da descoberta do fogo, com o passar
do tempo, diversos métodos de criação de fogo foram criados. Para isso damos o nome de
invenção. O que isso quer dizer? Quer dizer que a invenção tem uma relação com a
descoberta, ou seja, a descoberta pode ser vista como parte do processo da invenção (Conway
e Steward, 2009).
Início do boxe multimídia
A descoberta do fogo
https://www.youtube.com/watch?v=50dHAiyvi_0
Fim do Box multimídia

Mas, as descobertas nem sempre surgem puramente por acaso. Muitas descobertas científicas
e técnicas são advindas da serendipidade, ou seja, decorrem de disposição e esforços criativos
prévios. Ela é frequentemente o resultado de uma atividade proposital. Para entendermos
melhor, vejamos alguns exemplos no Box 1.1.
Verbete
Serendipidade refere-se às descobertas afortunadas feitas, às descobertas aparentemente,
por acaso.
Fim do verbete

Início do Boxe Explicativo


Exemplos de serendipidade2
Forno micro-ondas. O forno micro-ondas é um eletrodoméstico muito conhecido por nós. O
forno micro-ondas, foi inventado por Percy Spencer enquanto testava um magnétron para

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aparelhos de radar na empresa de equipamentos e sistemas de defesa. Ele observou que um
grão de amendoim de um doce derreteu em seu bolso quando exposto a ondas de radar.
Borracha vulcanizada. A vulcanização da borracha foi descoberta por Charles Goodyear.
Acidentalmente ele deixou um pedaço de borracha misturar-se com enxofre em um prato
quente, produzindo assim a borracha vulcanizada.
Sucrilhos Corn-flakes. Os populares cereais matinais foram acidentalmente descobertos pelos
irmãos Kelloggs, em 1898. Inadvertidamente, deixaram cereais cozidos sem serem
manipulados por um dia. Ao tentarem enrolar a massa, obtiveram um material crocante em
vez de uma folha macia.
Fonte: Figueiredo, 2015
Fim do Boxe Explicativo

1.2 Invenção
Dentre as três definições descoberta, invenção e inovação, a distinção mais comum é a de
invenção e inovação. Para o estudo da inovação, a origem desta importante distinção é
frequentemente atribuída ao trabalho de Schumpeter. A invenção, de acordo com Rothwell e
Zegveld (1985), é definida como “a criação de uma ideia e sua redução para a prática” e “um
ato de criatividade técnica envolvendo a descrição de um novo conceito adequado para a
geração de uma patente”.

Verbete
Patente é uma concessão pública, conferida pelo Estado, que garante ao seu titular a
exclusividade ao explorar comercialmente a sua criação.
Fim Verbete

Em outras palavras, a invenção pode ser a criação de um processo, técnica ou produto inédito.
Entretanto, uma informação importante que precisa ser levado em conta é que a invenção
inicialmente pode não ter valor comercial, ou seja, uma empresa pode criar um produto novo,
um processo ou uma nova técnica e não conseguir ter êxito para comercializá-la. Em outros
termos, na invenção (como na descoberta) o critério para o sucesso é puramente técnico.

O mesmo podemos dizer em relação à tecnologia. A tecnologia diz respeito ao conhecimento


teórico e prático e habilidades que podem ser usadas no desenvolvimento de produtos e
serviços bem como em seu sistema de produção. Ela pode ser vista como o resultado do
desenvolvimento de atividades que colocam no uso prático as invenções e descobertas. A
tecnologia pode estar incorporada nas pessoas, materiais, equipamentos e ferramentas.

Vejamos os exemplos das Figuras 1-a e 1-b. A Figura 1-a representa um produto que tem por
objetivo facilitar a aplicação do colírio nos olhos. Podemos notar que o produto é uma solução

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para o problema da aplicação do colírio, no entanto essa solução terminou por não ter sucesso
comercial. O mesmo ocorre com o produto da Figura 1-c, o Guarda Chuva Coletor. Neste caso
o objetivo é coletar a água da chuva e armazenar em um reservatório e fazer seu uso gratuito.
Apesar de ser uma solução para aproveitamento da água da chuva, não houve sucesso
comercial também.
Início do Box explicativo
Exemplo de uma invenção
Cientistas engenheiros de desenvolvimento de um fabricante de produtos de limpeza
doméstica trabalharam durante meses no desenvolvimento de um novo produto de limpeza
para lavatórios. Eles desenvolveram um liquido que, quando borrifado na opia do banheiro,
em contato com a água, teria um efeito efervescente e cintilante, dando a impressão de um
produto forte e ativo. A empresa solicitou uma patente, e posteriores desenvolvimentos e
pesquisa de mercado foram planejados. Entretanto, resultados iniciais, tanto de especialistas
técnicos quanto de mercado, levaram ao abandono do design. A resposta preliminar do
mercado indicou que os consumidores teriam receio do produto porque a efervescência e o
brilho pareciam intensos demais e assustadores. Além disso, pesquisas técnicas adicionais
revelaram pouca durabilidade para a mistura. Esse é um claro exemplo de uma invenção que
não foi além da organização para se transformar em produto comercial. (Fonte: Trott, 2012.)
Fim do Box explicativo

Você deve estar se perguntando: e se esses produtos tivessem tido valor comercial, ou seja, se
tivessem sido aceitos comercialmente, ainda assim teriam sido considerados uma invenção?
Neste caso, teríamos mais do que uma invenção, teríamos uma inovação! Vejamos o exemplo
representado pelo produto da Figura 1-d, o notebook. O notebook é mais que uma invenção,
pois passou a ter valor comercial, uma aceitação por parte do consumidor, portanto, é
considerado uma inovação.
Mas é importante lembrar que muitas vezes uma invenção inicialmente pode não ter valor
comercial, pode levar um certo tempo para se transformação em uma inovação. Como
exemplo podemos citar a tecnologia de micro-ondas, que foi descoberta em 1940, deu origem
a invenção do forno micro-ondas, em 1945, o qual só teve seu sucesso comercial em 1967.
Outro exemplo é o do telefone de Alexandre Bell, que não resultou em uma inovação
instantânea das telecomunicações. Foi necessário todo um desenvolvimento de mercado para
a comunicação entre as pessoas.
Já entendemos que a descoberta possui características diferentes da invenção, e que a
invenção também se distingue da inovação pelo fator comercial. Vamos agora entender um
pouco mais sobre as caraterísticas da inovação, elemento principal de nossa aula.

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1.3 Inovação
Diferentemente das invenções e descobertas e da tecnologia, o critério para o sucesso da
inovação tecnológica, não é técnico, e sim comercial. Em outros termos, seu sucesso exige um
retorno de investimento adicional que vai além daquele despendido originalmente; requer um
mercado amplo suficientemente para que a inovação seja desenvolvida.

De fato, Rothwell e Zegveld (1985) definem inovação como envolvendo a comercialização de


uma mudança tecnológica e invenção como simplesmente um elemento, embora importante,
no processo geral de inovação. A inovação é então entendida como a exploração de novas
ideias que encontram aceitação no mercado, usualmente incorporando novas tecnologias,
processos, design ou melhor prática (Sarkar, 2014).
É importante nessa definição entender que a aceitação é fator-chave para que ocorra a
inovação. Isso quer dizer que se um produto for apresentado ao mercado e ele não se
estabelecer, então não podemos dizer que houve uma inovação. Essa aceitação pode se referir
tanto para produtos ou serviços novos para novos mercados, como para mercados já
estabelecidos e maduros.
Vamos ver outras considerações sobre invenção e inovação (Conway e Steward, 2009):
• Tanto a invenção como inovação referem-se a uma novidade;

• Inovação, diferentemente da invenção, está voltada para a exploração de novas


possibilidades, por meio da inserção no mercado, ou uso prático, de uma ideia ou
conceito;

• Inovação, como da invenção, é um processo, e, portanto, precisa gerar um resultado


(produto ou serviço);

• Inovação, diferentemente da invenção, é um conceito amplo que abrange toda a gama de


atividades de descoberta e invenção, através do desenvolvimento e comercialização.

Tanto as definições de invenção quanto as de inovação tem uma forte orientação para
produtos e processos tecnológicos. Em outras palavras, em ambas as situações podemos ter a
criação de algo novo em produto e processo.

Por meios destas definições e considerações, uma expressão simples do que é inovação pode
ser apresentada:

Inovação = Concepção teórica + invenção técnica + comercialização


A concepção teórica (ou de ideias) é o ponto de partida da inovação. Uma ideia nova, por si só,
é apenas um conceito, um pensamento, não é nem uma invenção e nem uma inovação. O
processo de conversão de pensamentos intelectuais em um novo é onde ocorre a invenção. E
é na invenção que a ciência e a tecnologia tem um papel fundamental. Nesta etapa, as
invenções são combinadas com o trabalho de muitas pessoas com diferentes tipos de
conhecimento, para converter o resultado em um produto. Essas últimas atividades

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representam a exploração ou a comercialização. O processo completo é o que representa a
inovação.

Esse entendimento introduz a noção de que a inovação é um processo com uma série de
características distintas que devem ser gerenciadas. Em síntese, a inovação depende de
invenções, as quais precisam ser atreladas a atividades comerciais.

No caso em que uma inovação é voltada para o uso prático, ou seja, aplicadas em setores da
economia sem fins lucrativos, como por exemplo o setor público, a inovação pode ser
representada pela seguinte expressão:

Inovação = Concepção teórica + invenção técnica + uso comum


Para finalizarmos esta seção, é importante entendermos outra distinção, a de mudança e
inovação. Uma maneira de entender essa diferença é focarmos na novidade. Focar na
novidade é uma maneira que nos ajuda a fazer tal distinção, já que toda inovação pressupõe
mudança, mas nem toda mudança pressupõe inovação.

Para entendermos melhor, a gestão da inovação está voltada para os processos de


desenvolvimento e entrega da inovação para o mercado, enquanto a gestão da mudança está
relacionada à adoção, adaptação e, em particular, à implementação da inovação pelos
consumidores ou usuário final. Vamos discutir mais detalhadamente os aspectos de mudança
e inovação nas próximas aulas.

Após termos definido o que é inovação e distinguirmos de descoberta e invenção, vamos


avançar um pouco mais e apresentar, nas próximas seções, outros aspectos importantes do
contexto da inovação.

2. Caracterização da inovação: definição e tipologia

2.1 Definição de inovação


Conforme já dito, a inovação justifica, em grande parte, o sucesso das empresas. As
organizações que conseguem mobilizar conhecimento e avanços tecnológicos e conceber a
criação de novidades em suas ofertas (produtos/serviços) e nas formas como criam e lançam
essas ofertas, são favorecidas no cenário atual.
A inovação pode ser entendida como a gestão de todas as atividades envolvidas no processo de
geração de ideias, desenvolvimento de tecnologias, fabricação e marketing de um produto
novo (ou aperfeiçoado) ou de um processo de fabricação ou equipamento (Trott, 2012).

Segundo o Manual de Oslo (OECD, 2005), uma das principais referências que trata de
inovação, a define como sendo a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou
significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo
método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas
relações externas.

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Não poderíamos deixar de citar outra definição importante de inovação, a de Schumpeter
(1961).

Box de curiosidade

Joseph Alois Schumpeter é considerado um dos mais importantes


economistas da primeira metade do século XX, e foi um dos primeiros a
considerar as inovações tecnológicas como motor do desenvolvimento
capitalista. Muitos economistas e sociólogos contemporâneos têm
trabalhado sob a inspiração dos trabalhos de Schumpeter. A partir do
final dos anos setentas, os chamados "neoschumpeterianos"
difundiram amplamente o emprego de analogias biológicas para
explicar o caráter evolutivo do desenvolvimento capitalista e
sobretudo do processo de mudança tecnológica. Defendem que a
inovação constitui o determinante fundamental da dinâmica econômica, sendo, ao mesmo
tempo, fundamental para definir os padrões de competitividade econômica, em especial no
atual quadro de aumento da competitividade regional e global. Fonte: Wikpédia

Fim de Box curiosidade

Schumpeter definiu inovação como sendo:

“a introdução de um novo produto (ou melhoria na qualidade de um produto já existente); a


introdução de um novo método de produção (inovação no processo); a abertura de um novo
mercado (em particular um novo mercado para exportação); uma nova fonte de fornecimento
de matérias-primas ou de bens semimanufaturados; uma nova forma de organização
industrial”

Novo Nova
Processo Organização

Novo Novo
Mercado Produto

Nova Fonte
Matérias-
Primas

Figura 2: Tipos de inovação de Schumpeter

A introdução de um novo produto e métodos de produção que se ajuste à definição de


inovação de Schumpeter é relativamente fácil. Como exemplo podemos citar o Apple ipod. Em
relação a novo processo, podemos apontar como exemplo o identificador por Rádio
Frequência (Radio Frequency Identification – RFID). O RFID é utilizado por muitas empresas
que compreendem uma grande logística, como é o exemplo da Walmart. Ser inovador e
alcançar novos mercados pode ser ilustrado pelas companhias aéreas de baixo custo, como a
GOL, que, com um serviço já existente, conseguiram criar um mercado completamente

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diferente. A mais difícil de se obter nos dias de hoje são as novas fontes de fornecimento de
matérias-primas. Mas o exemplo que pode ser citado é da descoberta de uma nova jazida de
ouro. Quanto à nova forma de organização industrial, um exemplo que podemos utilizar é o da
Dell. A empresa Dell diferenciou-se no mercado não pelo lançamento de novos produtos, mas
pelo desenvolvimento dos seus sistemas de distribuição. Boa parcela de investimentos em
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) está voltada para a criação de sistemas de distribuição
supereficientes (Adaptado de Sarkar,2014).

2.2 Classificação da inovação quanto à natureza


A inovação quanto a sua natureza pode ser apresentada a partir de sua definição segundo o
Manual de Oslo. Consideram-se quanto a sua natureza, as inovações de produto, processo,
marketing e organização. Vejamos cada uma delas, a seguir:

Uma inovação de produto é a introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente


melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos. Incluem-se
melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e materiais, softwares
incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais.

As inovações de produto podem utilizar novos conhecimentos ou tecnologias, ou podem


basear-se em novos usos ou combinações para conhecimentos ou tecnologias existentes. O
termo “produto” abrange tanto bens como serviços. As inovações de produto incluem a
introdução de novos bens e serviços, e melhoramentos significativos nas características
funcionais ou de uso dos bens e serviços existentes.

Melhoramentos significativos para produtos existentes podem ocorrer por meio de mudanças
em materiais, componentes e outras características que aprimoram seu desempenho.

Uma inovação de processo é a implementação de um método de produção ou distribuição


novo ou significativamente melhorado. Incluem-se mudanças significativas em técnicas,
equipamentos e/ou softwares.

As inovações de processo podem visar reduzir custos de produção ou de distribuição, melhorar


a qualidade, ou ainda produzir ou distribuir produtos novos ou significativamente melhorados.

Os métodos de produção podem envolver técnicas, equipamentos e softwares utilizados para


produzir bens e serviços. Para exemplificar novos métodos de produção podemos citar a
introdução de novos equipamentos de automação em uma linha de produção e a
implementação de design auxiliado por computador para o desenvolvimento de um
determinado produto.

Os métodos de distribuição referem-se à logística da empresa e seus equipamentos, softwares


e técnicas para fornecer insumos, alocar suprimentos, ou entregar produtos finais. Um
exemplo de um novo método de distribuição pode ser a introdução de um sistema de
rastreamento de bens por código de barras ou de identificação ativa por frequência de rádio.

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Uma inovação de marketing é a implementação de um novo método de marketing com
mudanças significativas na concepção do produto ou em sua embalagem, no posicionamento
do produto, em sua promoção ou na fixação de preços.

As inovações de marketing estão direcionadas atender melhor as necessidades dos clientes,


através da abertura de novos mercados, ou do reposicionando do produto no mercado,
sempre na busca do incremento das vendas.

Vale destacar que a característica que distingue uma inovação de marketing com outras
mudanças de marketing é a implementação de um método de marketing que não tenha sido
utilizado anteriormente. Em outros termos, significa dizer que a mudança deve representar
um novo conceito ou estratégia de marketing, diferente dos métodos de marketing existentes
na organização.

As inovações de marketing compreendem substanciais mudanças no design do produto,


constituindo um novo conceito de marketing. Um exemplo que podemos citar é a embalagem
de produtos alimentícios ou de limpeza, como bebidas e detergentes.

Início do verbete

Mudanças de design do produto referem-se a mudanças na forma e na aparência do produto


que não alteram as características funcionais ou de uso do produto.

Fim do verbete

Uma inovação organizacional é a implementação de um novo método organizacional nas


práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho ou em suas relações
externas.

As inovações organizacionais, por sua vez, buscam a melhoria do desempenho de uma


organização por meio da redução de custos administrativos ou de custos de transação,
promovendo a satisfação no local de trabalho, e, por conseguinte a produtividade.

As inovações organizacionais correspondem a implementação de novos métodos para a


organização de rotinas e procedimentos para a condução do trabalho. Um exemplo bem
conhecido de inovação organizacional é a implementação de gerenciamento da qualidade e
sistemas de produção enxutos. Outros exemplos que podemos citar são a implementação de
novas práticas para melhorar o compartilhamento do aprendizado e do conhecimento no
interior da organização; e a primeira implementação de práticas para a codificação do
conhecimento, através da instalação de bancos de dados com as melhores práticas, lições e
outros conhecimentos.

Vale destacar que nem toda inovação necessariamente tem a tecnologia como elemento
principal. Tomemos como primeiro exemplo o microcrédito, que é uma inovação de caráter
social importante no setor de serviços. O resultado desta inovação tem sido fundamental no
apoio a redução da pobreza. Outro exemplo que podemos citar é do mundo da moda. Quando
um novo estilo de se vestir passa a ser um referencial para as pessoas, temos também um

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exemplo de criatividade e inovação. Portanto, nota-se que as inovações ultrapassam a
fronteira do produto, propriamente dito.
É importante salientar que os diferentes tipos de inovação não são necessariamente
independentes, pelo contrário, muito comumente um tipo de inovação é seguido por um
outro tipo. Por exemplo, a introdução de uma inovação tecnológica como câmeras digitais pela
Kodak e pela Fuji, resultou em substanciais mudanças organizacionais internas (fabricação,
marketing e as funções de venda).

2.3 Classificação da inovação quanto ao grau de novidade


Outra dimensão que compreende a inovação é o grau de novidade envolvido. Os dois
principais tipos diferentes de inovação quanto ao grau de novidade são a inovação radical e a
inovação incremental.

a) A inovação radical compreende a criação de um produto/serviços/produção totalmente


novo. Em outros termos, as características, atributos ou uso devem diferir
significativamente, se comparados aos produtos e processos existentes. Tais inovações
podem envolver tecnologias radicalmente novas ou podem se basear na combinação de
tecnologias existentes para novos usos. Um exemplo muito conhecido é a mudança
(inovação) da máquina de escrever para o computador. Outros exemplos que podemos
citar são a comunicação do tipo wireless; telefone celular como uma central de
comunicação; o Walkman da Sony; interface Windows; Post-it; o Sistema de produção
“Just-in-Time”; e a exploração de petróleo em águas profundas.

A inovação radical traz consigo uma revolução tecnológica. Em outras palavras, significa
que a nova tecnologia leva à extinção do que existia antes dela. Podemos entender melhor
usando o exemplo do telex, que por conta do telefone foi substituído; e os discos LP,
extintos pelo surgimento do CD.

É importante destacar que a inovação radical é fortemente baseada na pesquisa científica


(básica e aplicada) e tecnológica, originando-se nas empresas e por meio de parcerias com
universidades e institutos de pesquisa. Percebe-se que no processo de inovação radical a
empresa normalmente não consegue dar cota de realizar tudo, ela precisa da base de
conhecimento científico, que é encontrado nas universidade e centros ou institutos de
pesquisa.

Início do verbete

Pesquisa básica, também chamada pesquisa pura ou pesquisa fundamental, é uma pesquisa
científica focada na melhoria de teorias científicas para melhoria da predição ou compreensão
de fenômenos naturais ou de outro tipo. Ela refere-se ao estudo destinado a aumentar nossa
base de conhecimento científico.

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Pesquisa aplicada usa pesquisas científicas para desenvolver tecnologias ou técnicas para
intervir e alterar fenômenos naturais ou de outro tipo. Apesar de frequentemente ser guiada
pela curiosidade, a pesquisa básica abastece as inovações da ciência aplicada.

Fim do verbete

Outra importante consideração sobre a inovação radical é o significativo risco e incerteza


envolvidos no processo. Como se trata de uma inovação que busca a ruptura com a
tecnologia existente, não se pode garantir que o desenvolvimento desta nova irá obter
aceitação e sucesso em sua exploração comercial. Vale ainda destacar os elevados
investimentos que precisam ser alocados e considerar que o alcance dos resultados
tangíveis pode levar anos.

No entanto, quando uma inovação radical tem aceitação comercial, os lucros da empresa
oriundos destas inovações chegam a ser várias vezes maiores do que produtos com
inovações incrementais.

b) A inovação incremental é aquela que envolve adaptações ou melhorias de


produtos/serviços/produção existente, cujo desempenho tenha sido significativamente
melhorado ou a reconfiguração de uma tecnologia já existente para outros propósitos. São
exemplos de inovação incremental a próxima geração de um microprocessador; televisão
digital; lâmpadas do tipo LED; serviços aéreos da GOL; embalagens de papel para
alimentos frios ou congelados; e tinta para impressoras a prova d’água.
Ao contrário das inovações radicais, as do tipo incrementais são mais seguras, baratas e
mais facilmente trazem retorno em um tempo razoável, pois são geralmente feitas dentro
das empresas. O curso das inovações nas empresas é normalmente caracterizado por
longos períodos de inovações incrementais, pontuado por poucas inovações radicais. A
Figura 2 mostra um exemplo de inovação radical e incremental

Figura 2: Exemplos de inovação radical e incremental


Fonte imagens: http://freeimages.com

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Todos esses conceitos que aprendemos até agora decorrem de estudos realizados e de teorias
formuladas a partir desses estudos. É importante sabermos que o entendimento de que temos
hoje sobre inovação nem sempre foi aceito como tal. Esses estudos apresentam perspectivas
diferentes sobre o comportamento da inovação e de seu papel para o crescimento econômico
das nações. Sem a pretensão de avançarmos muito nesse tópico, a seção a seguir fará uma
breve explanação dos principais estudos sobre inovação que a literatura dispõe para nós.

3. O estudo da inovação
Apesar de a inovação ter estado sempre presente na história da humanidade, seu estudo
como ciência e como instrumento de crescimento e desenvolvimento econômico é
relativamente recente.

Os principais estudos datam do século XIX, onde os historiadores econômicos observaram que
a aceleração do crescimento econômico foi resultante de progresso tecnológico. Embora nesse
período haja o reconhecimento do papel do progresso tecnológico no crescimento econômico
das nações, pouca atenção foi destinada para o entendimento de como as mudanças na
tecnologia contribuíam para esse crescimento.

Mas foi Schumpeter (1961), o pioneiro entre os economistas, a dar ao desenvolvimento novos
produtos um papel-chave para o estímulo desse crescimento. Ele argumentava que a
concorrência, determinada por novos produtos, era muito mais importante que as alterações
em margem de preços de produtos existentes. Em outras palavras, o crescimento econômico
tende a ser maior quando ocorre por meio do desenvolvimento de novos produtos, do que
quando se dá pela redução de preços em produtos existentes.

A partir do fim da Segunda Grande Guerra Mundial o interesse nas causas do crescimento
econômico aumenta significativamente. A pesquisa e o desenvolvimento industrial surgem
como uma das principais influências sobre a inovação, já que durante a guerra muitos avanços
tecnológicos ocorreram em virtude da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de cunho militar.
Resultados desse desenvolvimento são os radares e as novas armas. Entretanto, pesquisas
demostraram que não havia correlação direta entre gastos em P&D e taxas de crescimento
econômico. Sendo assim, o desafio passou a ser a busca pelo entendimento de como a ciência
e a tecnologia afetavam o sistema econômico.

Início do verbete

Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), no âmbito comercial, se refere a atividades de longo prazo


relacionadas a ciência ou tecnologia, usando técnicas similares ao método científico , com o
objetivo de aumentar o estoque de conhecimento para desenvolver novos produtos ou
processos, ou aprimorados tecnologicamente.

Fim do verbete

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Os estudos sobre inovação avançaram com a abordagem neoclássica, mas a explicação de
como a ciência e a tecnologia afetavam o sistema econômico ainda não se apresentava. Os
neoclássicos concentravam-se na indústria ou no desempenho macro da economia. As
diferenças entre as empresas que atuam no mesmo ramo de negócio eram ignoradas. As
diferenças que se observavam entre as empresas eram decorrentes do ambiente de mercado
em que estavam inseridas.

A partir dos anos de 1950 vários estudos sobre inovação foram realizados, e se diferenciaram
dos anteriores por enfatizara empresa e suas atividades internas. Havia então uma
concentração maior nas características internas do processo de inovação dentro da economia.
A empresa e o modo como utilizava seus recursos eram agora considerados como a principal
influência em inovação (Trott, 2012). Em outros termos, as empresas se comportavam de
maneira diferente, apresentavam características organizacionais diferentes.

A perspectiva schumpeteriana parte do princípio de que as empresas são diferentes, ou seja, o


desempenho de inovações é influenciado pela maneira como cada empresa administra seus
recursos ao longo do tempo. Podemos ilustrar, a partir da Figura 3, as diversas disciplinas que
ajudam a explicar como a inovação ocorre.

Figura 3: Panorama do processo de inovação


Fonte: Trott, 2012

O panorama do processo de inovação apresentado na Figura 3 compreende uma perspectiva


econômica, de estratégia de gestão de negócio e de comportamento organizacional, além de avaliar as
atividades internas.

O processo de inovação reconhece que as empresas interagem e se relacionam entre si para


comercializar, competir e cooperar. O processo também é afetado pelos indivíduos dentro da empresa.
A arquitetura organizacional que cada empresa construiu ao longo do tempo também são influentes no
processo de inovação. Isso inclui seu design interno, as relações desenvolvidas com fornecedores,
concorrentes e clientes, bem como a maneira como ela gerencia suas funções individuais e seus
funcionários.

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No final do século XX, o debate se aprimorou, o que resultou em um melhor entendimento sobre a área
da gestão da inovação. As empresas modernas com uso intensivo de laboratórios de P&D se tornariam
os principais agentes inovadores. A teoria evolucionária schumpeteriana enfatiza o desenvolvimento das
capacidades dinâmicas das empresas. O sucesso das empresas reside na habilidade de adquirir e fazer
uso do conhecimento e aplicá-lo nos processos de desenvolvimento de novos produtos.

Os clientes são vistos, em boa medida, como o ponto de partida para as estratégias de inovação, e
entender e satisfazer suas necessidades passa a ser um aspecto-chave. No entanto, é importante fazer
aqui uma importante observação quanto ao papel dos clientes como demanda das inovações. Há
estudos recentes, como os de Hamel e Prahalad (1994) e Christensen (2011), que sugerem que atender
às necessidades dos clientes pode, na verdade, sufocar a inovação tecnológica e ser prejudicial para um
sucesso duradouro dos negócios. Em outros termos, ironicamente, as empresas podem ser levadas a
perseguirem inovações que não são exigidas por seus clientes atuais. Esse contexto pode ser melhor
entendido pela distinção dos conceitos de inovação radical (de ruptura) e incremental (de sustentação),
já vistos na seção 2. As inovações incrementais ou sustentadoras recorrem à clientes existentes, já que
trazem melhorias em produtos estabelecidos. Vejamos um exemplo para ficar mais claro. A introdução
de uma tecnologia LED nos televisores fornece um aperfeiçoamento para clientes antigos, em termos de
acréscimo de características no produto, como melhor qualidade de imagem. As inovações radicais ou
de ruptura buscam oferecer melhorias que vão além da demanda. Por exemplo, o CD (Compact Disc),
que é disco ótico digital para armazenamento de dados (criado originalmente para armazenar e tocar
músicas), em substituição ao disco de vinil (ou Long Play - LP), embora tenha trazido um
aperfeiçoamento significativo, também criou problemas para os usuários de LP, familiarizados com o
sistema anterior. Por outro lado, a tecnologia para tocar músicas, incorporada em um novo formato, o
CD, também criou novos mercados, que englobaram, o mercado existe, o de vinil (Adaptado de Trott,
2012).

3.1 Panorama da inovação no Brasil: aspectos sobre a competitividade

3.1.1 Desafios para a inovação nas empresas brasileiras

As últimas décadas foram marcadas por grandes transformações tecnológicas e econômicas. O


conhecimento científico e a inovação tecnológica protagonizam, a partir da década de 1980,
grandes transformações que mudaram de maneira radical produtos e processos, organização
do trabalho, e formas de comunicação e de aprendizagem. Cada vez mais, é evidente o
interesse dos países em estabelecer estratégias de crescimento, inserindo como um de seus
componentes principais as políticas de incentivo à inovação.

No entanto, o Brasil pouco se mobilizou para acompanhar essas tendências. Os investimentos


das empresas brasileiras, nesse período, estavam voltados fundamentalmente para a
racionalização dos processos produtivos, e o país permaneceu por muitos anos pouco
estimulado para a inovação e diferenciação de produtos. Tal descompasso configurou um
momento atual, caracterizado por uma relativa baixa competitividade por grande parte das
empresas brasileiras; baixa taxa de inovação; pouca inserção no mercado internacional; e uma
tímida trajetória de domínio tecnológico.

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Mais recentemente, a partir da década de 2000, o Brasil reconhece a importância da inovação
para sua competitividade em um mundo globalizado. Pesquisas sobre inovação, capacidade
tecnológica, padrões tecnológicos e desempenho das firmas brasileiras têm sido realizadas, o
que demonstra um esforço significativo para o entendimento da complexidade e dos aspectos
da inovação no país. Apesar dessas iniciativas, vale ressaltar que a mobilização pela inovação
no Brasil pode ser considerada ainda um fato recente.

A competitividade nos dias de hoje é decorrente de várias mudanças, e pode ser sintetizada
por quatro importantes aspectos:
a) Crescente internacionalização dos mercados;
b) Aumento da diversidade e variedade de produtos;
c) Redução do ciclo de vida dos produtos no mercado;
d) Clientes mais exigentes.

A crescente internacionalização dos mercados é caracterizada pelo fenômeno da globalização.


O livre comércio (troca de mercadorias) entre os países tem determinado estratégias de
produção e comercialização bem diversificadas. Os produtos são fabricados e consumidos em
várias partes do mundo. A concorrência tem se acirrado cada vez mais com a presença de
várias empresas de várias partes do mundo em um mesmo mercado consumidor.

O aumento da diversidade e variedade de produtos, por sua vez, decorre fundamentalmente


dos avanços tecnológicos. As várias aplicações que o avanço tecnológico proporciona geram
nas empresas o imperativo de inovar cada vez mais e oferecer diferenciais em seus
produtos/serviços para disputarem seus consumidores e manterem sua posição competitiva
no mercado. Isto implica, em boa medida, a redução do ciclo de vida dos produtos no
mercado. A obsolescência dos produtos está associada também ao mercado tecnológico. Os
avanços tecnológicos permitem que constantemente surjam novos produtos mais atrativos,
com desempenho melhor, mais econômicos, e mais práticos; o que torna a substituição mais
frequente e em menos tempo. Entender as necessidades dos clientes neste contexto é crucial,
pois é preciso saber competir em um mundo comercialmente globalizado, com a grande oferta
e variedades de produtos.

Em consonância com esses aspectos, podemos então apresentar alguns dos principais novos
desafios para a competitividade atual, a saber:

• Melhoria da qualidade dos produtos: desenvolver produtos que estejam em


conformidade com as expectativas (demandas) do mercado consumidor

• Reduzir os custos de produção: Desenvolver produtos que sejam mais fáceis de ser
fabricados e montados

• Agregar valores aos produtos: Diferenciar seus produtos daqueles oferecidos pelos
concorrentes. Pode ser feito através da agregação de valores tangíveis (aspectos
tecnológicos) e intangíveis (elementos culturais próximos do consumidor).

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• Reduzir o tempo de desenvolvimento de produtos: Constantes mudanças no mercado e
avanço da concorrência. Dispor de novos produtos no mercado a um intervalo de tempo
cada vez menor.

Visto as características da competitividade atual das empresas e os novos desafios para


competir nesse mercado globalizado, passemos agora para uma análise das estratégias que as
empresas no Brasil fazem uso para competirem, e do papel da inovação para o crescimento.

3.1.2 Estratégia competitiva das empresas brasileiras

Nesta seção vamos mostrar as estratégias de competição adotadas pelas empresas da


indústria brasileira e como a inovação e diferenciação de produtos se relacionam com o
crescimento das empresas.
Os dados que mostraremos a seguir, fazem parte de um estudo realizado pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em convênio com o IBGE. Esse estudo é de grande
relevância, já que reuniu o maior conjunto de informações sobre a indústria brasileira jamais
reunido, envolvendo 72.000 firmas industriais e 95% do valor da produção industrial brasileira.

As estratégias de competição adotadas pelas empresas da indústria brasileira são inseridas em


uma tipificação em três categorias (De Negri e Salerno, 2005):

a) Empresas que inovam e diferenciam produtos: são aquelas que realizaram inovação de
produto para o mercado e obtiveram preço prêmio acima de 30% nas suas exportações
quando comparadas com as demais exportadoras brasileiras do mesmo produto. As
estratégias nesse grupo tendem a criar mais valor, a capturar parcela maior da renda
gerada pela indústria.

b) Firmas especializadas em produtos padronizados: são aquelas cuja estratégia competitiva


impõe que o foco de sua atuação seja a redução de custos, em vez da criação de valor
como na categoria anterior. Tendem a ser atualizadas do ponto de vista de características
operacionais como fabricação, gestão da produção, gestão da qualidade de conformação e
logística, que são imperativos para sustentação de custos relativamente mais baixos.

c) Firmas que não diferenciam produtos e têm produtividade menor: são as demais
empresas que não pertencem às categorias anteriores. Engloba empresas tipicamente
não-exportadoras, menores, que podem, inclusive, inovar, mas são menos eficientes nos
mais variados sentidos, que se mostram capazes de captar espaços em mercados menos
dinâmicos através de baixos preços e outras possíveis vantagens.

Início verbete

Preço prêmio: É utilizada também a expressão “lucro de monopólio”, no sentido de que a


empresa obtém um ganho extra pelo fato de, em determinado horizonte, seu produto se
diferenciar dos demais, criando uma situação similar a um monopólio de fato.

Fim verbete

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Os resultados, apresentados na Tabela 1, mostram claramente o impacto positivo da
inovação no crescimento das empresas.

Tabela 1: Estratégia competitiva das firmas brasileiras


Inovam e Especializadas em Não diferenciam
Estratégias competitivas diferenciam produtos produtos e têm
produtos padronizados produtividade menor
Número de firmas e participação 1.199 (1,7%) 15.311 (21,3%) 55.495 (77,1%)
Participação faturamento (%) 25,9 62,6 11,5
Participação no emprego (%) 13,2 48,7 38,2
Remuneração média (R$/mês) 1.254,64 749,02 431,15
Exportações (US$ milhões) 11,4 2,1 0,0
Importações (US$ milhões) 12,1 1,8 0,0024
Faturamento (R$ milhões) 135,5 25,7 1,3

(Fonte: De Negri e Salerno, 2005)

Pela Tabela 1, notamos que a grande maioria das empresas da indústria brasileira é formada
por empresas especializadas em produtos padronizados, que respondem por 62,6% do
faturamento e por 48,7 do emprego gerado.

Podemos também perceber que em relação à remuneração média, o valor nas empresas que
inovam é significativamente superior às empresas das demais categorias. Nas empresas que
inovam, o salário médio é aproximadamente 67% mais elevado em relação ao grupo de
empresas especializadas em produtos padronizados, e aproximadamente três vezes maior em
relação às empresas que não diferenciam produtos.

Mas, a maior diferença é percebida no faturamento. A pequena parcela de 1,2% de empresas


que inovam fatura 5,4 vezes mais que o grupo das especializadas em produtos padronizados, e
cerca de 100 vezes mais o valor presentado pelas empresas que não inovam ou diferenciam
produtos.

Em relação ao valor médio das importações e exportações também observamos que as firmas
que inovam e diferenciam produtos exportam e importam, em média, muito mais do que as
demais firmas exportadoras. A Figura 2 sintetiza os efeitos positivos da inovação.

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Exportações

Salários INOVAÇÃO Produtividade

Crescimento

Figura 2: Efeitos positivos da inovação

Em resumo, a pesquisa mostra de maneira clara como a inovação e a diferenciação de


produtos geram efeitos positivos sobre os salários, as exportações e o comércio exterior, o
crescimento das firmas e a internacionalização das empresas brasileiras. Por outro lado, os
dados também mostram certa fragilidade da indústria brasileira e sustentam que o caminho
para a competitividade, em especial para aquelas que atuam em mercados mais dinâmicos, é a
inovação e diferenciação de produtos.

Atividades
Pudemos ver nessa aula as estratégias competitivas adotadas pelas empresas brasileiras. Ficou
claro, pela Tabela 1, que ao adotarem a estratégia de inovação e diferenciação de produtos as
empresas conseguem obter diversos tipos de ganhos e tornam-se mais competitivas. Para
entendermos um pouco mais sobre o panorama da inovação no Brasil, podemos fazer uso das
informações resultantes da Pintec - Pesquisa de Inovação Tecnológica no Brasil.
A Pintec é uma pesquisa de âmbito nacional e tem por objetivo entender a dinâmica da
inovação no Brasil, traçar um perfil das empresas inovadoras no país. A pesquisa ocorre a cada
três anos e teve sua primeira edição publicada no ano de 2000. De lá para cá foram realizadas
outras cinco edições. A Tabela 2, abaixo, mostra os resultados das taxas de inovação em
produto e processo nas empresas pesquisadas. Pede-se para analisar a tabela 2 e fazer uma
discussão com os resultados apresentados na Tabela 1. Para o desenvolvimento desta
atividade recomenda-se uma breve leitura das edições da Pintec. As edições completas poder
ser acessadas pelo endereço abaixo:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/industria/pintec/2014/default.shtm

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Tabela 2: Taxa de Inovação de produto e de processo

Taxa de Taxa de
Taxa de Taxa de
Período de inovação inovação
inovação inovação
Referência Taxa de de Taxa de de
de de
(Pintec 2000, Taxa de inovação produto inovação processo
produto processo
2003, 2005, inovação de novo de novo
novo novo
2008, 2011 e produto para o processo para o
para a para a
2014) mercado mercado
empresa empresa
nacional nacional

1998 ‐ 2000 31,52% 17,58% 14,38% 4,13% 25,22% 23,27% 2,78%

2001 ‐ 2003 33,27% 20,35% 18,08% 2,73% 26,89% 26,04% 1,21%

2003 ‐ 2005 33,36% 19,53% 16,67% 3,25% 26,91% 25,48% 1,66%

2006 ‐ 2008 38,11% 22,85% 19,93% 4,10% 32,10% 30,83% 2,32%

2009-2011 35,60% 17,30% 14,65% 3,70% 31,70% 30,25% 2,10%

2012-2014 36,40% 18,30% 15,48% 3,80% 32,70% 30,96% 2,60%

Fonte: IBGE - Pintec

Conclusão
Após essa aula introdutória, podemos concluir que o sucesso da inovação não acontece por
mero desejo. O processo complexo e arriscado de transformar ideias em algo significativo
exige da empresa mais do que paixão e energia, é preciso organização e gestão estratégica.

A promoção da inovação no Brasil não se limita apenas a investimentos financeiros, o


fenômeno da inovação é algo que vai além dos processos triviais de desenvolvimento. Inovar é
muito mais complexo do que pensamos, e por isso passa a ser um grande desafio
desenvolvermos produtos inovadores e competitivos.

Resumo
Nessa primeira aula aprendemos a distinguir os termos descoberta, invenção e inovação.
Também aprendemos que a origem do processo de inovação tecnológica ocorre pelas
invenções ou descobertas. As invenções são resultados do processo criativo que
frequentemente são muito difíceis de serem previstos ou planejados, e que a universidade
com seu domínio na pesquisa científica, assume um importante papel nesse processo.

Vimos ao longo desta aula que a inovação requer a implementação, para ser considerada
inovação, seja de produtos e serviços novos ou melhorados, e novos métodos organizacionais
ou de marketing. A inovação pode ser vista como um conceito amplo que inclui uma ampla
variedade de atividades que resultam em mudanças no produtos e serviços, bem como na
forma que estes produtos e serviços são entregues ao consumidor. Vimos também que estas

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mudanças apresentam graus diferentes de intensidade, que podem variar de inovações mais
simples (ou incrementais), a inovações mais complexas (ou radicais).

Apresentamos também algumas considerações acerca dos estudos sobre inovação, e pudemos
observar que o entendimento do tema é apresentado por várias perspectivas teóricas, o que
denota sua complexidade.
Mostramos, em seguida, os principais desafios que precisamos superar para sermos um país
competitivo. Um tópico especial tratou da importância da inovação para a competitividade das
empresas, e os impactos positivos da adoção de estratégias de inovar e diferenciar produtos.
Vimos que a inovação resulta em maior crescimento, maior remuneração, maior
produtividade, e mais inserção no mercado internacional.

Próxima aula
Na próxima aula nós vamos discutir a inovação como um processo de gestão. Apresentaremos
as fases que compreendem o processo de inovação.

Leitura recomendada
BESSANT, J.; TIDD, J. Inovação e empreendedorismo. Bookman, 2009.

PROENÇA, A. et al. Gestão da inovação e competitividade no Brasil: da teoria para a prática.


Bookman Editora, 2015.

TIDD J, BESSANT J, PAVITT K. Gestão da Inovação. Porto Alegre: Bookman, 2008.

PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. Competindo pelo futuro: estratégias inovadoras para obter o
controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. Gulf Professional Publishing, 2005.

Referências Bibliográficas
CHRISTENSEN, Clayton M. O dilema da inovação. São Paulo: Makron Books, 2011.

CONWAY, S.; STEWARD, F. Managing and shaping innovation. Oxford University Press, 2009.

DE NEGRI, J.A; SALERNO, M.S., (Orgs.). Inovação, padrões tecnológicos e desempenho das
firmas industriais brasileiras. Brasília, Ipea, 2005.
FIGUEIREDO, P.N. Gestão da inovação: conceitos, métricas e experiências de empresas no
Brasil. Rio de Janeiro, LTC, 2015.
HAMEL, G.; PRAHALAD, C. K. Competing for the Future. Harvard Business Press, 1996.

ROTHWELL, R.; ZEGVELD, W. Reindustrialization and technology. ME Sharpe, 1985.

SARKAR, Soumodip. Empreendedorismo e inovação. Escolar Editora, 2014.

SCHUMPETER, Joseph A. Teoria do desenvolvimento econômico. Fundo de Cultura, 1961.

TROTT, P. Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Novos Produtos. 4. Ed. Porto Alegre:


Bookman, 2012.
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