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Classificação da tosse:
CASO 1
A tosse nesse caso é crônica, sendo as principais causas tosse de via aérea superior, asma ou DRGE. No
entanto, frente à história de perda de peso e escarro brancacento, temos que pensar em tuberculose.
TUBERCULOSE
Temos que saber detalhadamente esta doença. É causada pela M. tuberculosis (bacilo de Koch). As
estimativas recentes da OMS afirmam que 1/3 da população mundial está infectada pelo bacilo (não
doente, infectado!). Aprenderemos que infecção e doença são coisas completamente diferentes. Há 15
anos o brasil era o 10o país no ranking de prevalência da TB, e atualmente é o 16o.
INFECÇÃO
Até a 3a semana: Nem todos que tem a TB doença transmitem para outras pessoas. Aquelas
que tem capacidade de transmissão são denominados “bacilíferos”, que transmitem a doença
para a comunidade, num ambiente fechado, pelo ar. A TB é uma doença de aglomeração,
portanto, é doença de meio urbano (cidade!). Nos últimos 100 anos houve intensa urbanização,
e por isso a doença também aumentou. O primeiro contato na vida da pessoa com o bacilo é
chamado “primo-infecção”. Ao inalar o bacilo pela primeira vez, ela não tem resposta imune
montada, e durante as 3 primeiras semanas de infecção não há resposta imune, e há
disseminação bacilar por todo o corpo (pleura, meninge, pulmão, osso, etc.).
De 3 a 8 semanas: À partir da 3a semana o ser humano passa a montar resposta imune eficaz
contra o bacilo, através da imunidade CELULAR. As células (monócitos, neutrófilos, etc)
montam uma cerca em torno da micobactéria, como um cordão de isolamento, afastando-o do
oxigênio. Longe do oxigênio a micobactéria, que é aeróbia, fica LATENTE. A essa estrutura
organizada em torno do bacilo, damos o nome de GRANULOMA. Dentro deste granuloma houve
uma guerra imunológica, e há debris celulares, com área brancacenta, que parece queijo, que
em grego chama-se caseo. Logo, chamamos esta estrutura de granuloma caseoso. Na prova,
qualquer laudo de biópsia mostrando granuloma caseoso, a questão será de TB. Mas na prática
médica não consideramos como algo patognomônico.
No RX podemos ver um granuloma grande resultante da primo-infecção, chamado nódulo de
Gohn. O normal é, com o passar das semanas, este nódulo murchar, e resta apenas um foco de
calcificação no tórax, com bacilos latentes em seu interior. 90% das pessoas primoinfectadas
não adoecem, porque o sistema imune é capaz de controlar o bacilo. No entanto, 10% tem
possibilidade de adoecimento. Há pessoas que no primeiro contato adoecem, ou seja, nao
conseguem montar resposta imune nas primeiras 3 semanas. A essa doença na primo-infecção
chamamos de TB primária. Agora, há pessoas que conseguem conter o bacilo num primeiro
momento, porém anos depois, o cordão de isolamento formado fica fraco, o bacilo é reativado
naquele foco latente, com adoecimento anos depois. Estes pacientes tem TB pós-primária.
Um momento de imunodeficiência (doença, medicamento, transitória por estresse, etc.).
Outra possibilidade é a inalação de um segundo bacilo em algum momento da vida. Ao
recrutar células do primeiro cordão de isolamento para lutar contra o segundo bacilo,
podemos enfraquecer o primeiro granuloma, resultando em doença. É muito frequente
nos MÉDICOS, porque eles já foram expostos na infância (foco latente), e há mais
probabilidade de nova exposição a pacientes bacilíferos.
DOENÇA
TB pulmonar
Pacientes típicos: crianças (1o contato). O quadro é de uma pneumonia arrastada (pediatra
prescreve antibiótico, porém sem melhora, e suspeitam de germe atípico). Outro indício importante é
o aspecto radiológico, evidenciando adenomegalia hilar unilateral. Essa forma, das crianças, é
paucibacilífera (não libera tantos bacilos para a via aérea, logo, essas crianças não são tanto problema
para a comunidade). Além disso, a criança não sabe escarrar, o que dificulta a liberação do bacilo.
DIAGNÓSTICO
1) Quadro clínico: no Brasil, quando a tosse deixa de ser aguda (ou seja, dura à partir de 3
semanas), temos que pensar em TB como diagnóstico diferencial. Outros achados são febre
noturna, perda ponderal e de apetite.
2) ...
3) Escarro:
a. Baciloscopia (BAAR): no mínimo duas amostras. O paciente escarra no potinho, ele é
preparado e depois colocado no microscópio para pesquisa do bacilo. O resultado
demora de 24 a 48 horas para ficar pronto. Para considera-la adequada, o doente tem
que ter fornecido no mínimo duas amostras em momentos diferentes do dia. Alguns
pacientes não são baciliferos, e se clínica + radiografia compatíveis, estamos
autorizados a iniciar o tratamento, mas sempre devemos tentar encontrar o bacilo!
Logo, nos casos duvidosos, fazemos cultura do escarro.
b. Cultura do escarro: em casos duvidosos (pacientes com poucos bacilos), ou se
situações de falência terapêutica, ou seja, tratamos a TB, mas a doença não está
resolvendo! Será que o bacilo não é resistente ao esquema que propus? Através da
cultura podemos fazer antibiograma! Demora 20 a 30 dias para o resultado.
c. Teste rápido (TRM-TB): teste de escolha! Dentro do escarro ele procura a sequência
genética do bacilo! É o teste de escolha, devido à várias características:
i. Acurácia: melhor que a baciloscopia
ii. Tempo do exame: resultado em duas horas
iii. Menor risco biológico: a máquina faz o teste.
iv. Informa sobre a sensibilidade à rifampicina.
A criança não escarra porque não sabe, mas ela deglute secreções. Logo, a expectativa é de que haja
bacilos no estômago. Portanto, o MS orienta que, em teoria, poderíamos usar o lavado gástrico como
ferramenta diagnóstica. Mas é muito difícil fazer. Logo, criaram um escore para diagnóstico de TB
na a criança. Os 5 itens do escore são (cai em prova): (1) tosse, (2) radiografia de tórax, (3) contato
com tuberculose, (4) PPD e (5) estado nutricional. Na prova não cai a pontuação, apenas os itens do
escore.
TB extrapulmonar (nenhuma forma é bacilífera, porque não tem contato com via aérea)
As que mais caem em prova são a forma pleural (extrapulmonar mais comum no Brasil, no HIV é a
ganglionar) e a meníngea.
TB pleural
TRATAMENTO
Básico (RIPE 6 meses): TB pulmonar (tanto primeira vez, como segunda vez, como aqueles
que começaram e abandonaram). Os dois primeiros meses são intensivos, com as 4 drogas, e os
meses restantes são apenas com 2 drogas – 2 RIPE e 4 RI. O etambutol não pode ser prescrito
para crianças com < 10 anos de idade (só RIP), porque ele pode levar a neurite ótica (visão
turva), e a criança não sabe referir a turvação visual. No adulto, se ocorrer, ele avisa e
suspendemos a droga.
Meníngea (RIPE 9 meses): 2 RIPE e 7 RI. Nos primeiros 1-3 meses fazemos corticoterapia,
porque a ação medicamentosa do tratamento pode agravar a inflamação neuronal.
Falência/Multirresistência (R+I): quando é resistente a rifampicina e isoniazida. Nesse caso,
mudamos radicalmente o esquema, que inclui P, E, estreptomicina, levofloxacina e terizidona.
Critérios para falência: (1) BAAR + ao final do tratamento; (2) BAAR 2+ em 3+ até o 4o mês;
(3) BAAR que fica negativa e volta a ser + e se mantém por 2 meses. Basta um dos critérios.
Efeitos adversos:
Voltando ao caso, a paciente deve iniciar esquema RIPE por 6 meses. A amiga de Mariana, que residia
no mesmo domicílio está preocupada se terá TB. Veremos agora o controle da TB.
CONTROLE
A BCG só consegue manter o PPD reator nos dois primeiros anos após a vacina, e a positividade nunca
será maior ou igual a 10mm! Agora, se nos dois primeiros anos da vacina o indivíduo tiver PPD maior
ou igual a 10mm, ele tem TB latente.
A lógica é para algumas pessoas é melhor tratar a TB latente agora (pq é feito com 1 remédio só) do
que esperar essa pessoa adoecer e eu ter que usar 4 drogas. Ou seja, pessoas com risco de
adoecimento maior receberão tratamento para TB latente (nos antecipamos).
1) PPD > ou = a 5mm: contactantes essa pessoa pode ter TB primária latente e a nova bactéria
pode permitir a doença; imunodeprimidos
2) PPD > ou = 10mm: doença debilitante (IRC em diálise, DM sem controle glicêmico, silicose –
doenças com debilidade imunológica)
3) Viragem tuberculínica recente: um acréscimo no valor do PPD em pelo menos 10mm nos
últimos 12 meses.
PREVENÇÃO DA TB LATENTE
Só existe para RN contactantes de bacilíferos, como RN de mães com TB. O objetivo é evitar que um
possível foco inalado pela criança vire uma TB latente. Nesses casos não vacinaremos a criança
contactante, mas iniciaremos medicação:
Isoniazida por 3 meses realizar PPD se positivo (PPD > ou = 5mm), minha prevenção não
funcionou / se negativo (< ou = 5mm), deu certo a prevenção!
PPD +: vamos fazer mais 3 ou 6 meses de medicação, como se fosse um tratamento para TB no
RN. Essa criança não precisa mais ser vacinada, porque já teve a doença e desenvolveu
imunidade.
PPD -: fazemos a BCG (agora sem problemas, porque o BCG já não atrapalha a interpretação do
PPD)
Todo o paciente HIV+ com PPD > ou = 5mm deverá ser tratado, porque ele deve ter TB latente e pode
virar doença! Mesmo com RX negativo! Se PPD < ou = 5, talvez seja negativo por imunodepressão,
então trataremos contactantes, RX com ciatriz, história de PPD reator prévio.
Em 2013 faltaram insumos para a Dinamarca produzir PPD, mas agora a situação está normalizando!
Na falta, pecamos pelo excesso! Logo, faríamos muito mais isoniazida!
Voltando ao caso, a amiga da paciente com TB bacilífera deve ser avaliada quanto aos sintomas. Se
sintomática, BAAR e RX. Se assintomático, PPD. Se PPD reator no contactante, o risco de adoecimento
é maior, porque ela deve ter foco latente, e iniciamos isoniazida.
CASO 2
Sempre que houver quadro clínico compatível com tuberculose, mas a epidemiologia não é compatível
(ou seja, não é urbana), temos que pensar nos diagnósticos diferenciais, ou seja, as micoses
sistêmicas!
PARACOCOCCIDIOIDOMICOSE
Provocado pelo Paracoccidioides brazilensis. Toda micose sistêmica tem quadro agudo e crônico. O
que é similar com a TB é a forma crônica.
Forma aguda: mais comum de aparecer em crianças e adultos jovens, parece muito com
síndrome de mononucleose – febre, linfonodomegalia, hepatoesplenomegalia.
Forma crônica: adultos acima de 30 anos, e a queixa respiratória é similar a TB. O paciente
tem tosse crônica, desconforto respiratório que dura semanas, infiltrado pulmonar (peri-hilar
bilateral, em asa de morcego). Outros achados:
o Úlceras cutâneo-mucosas
Diagnóstico: exame de escarro / raspado das lesões / biópsia microscopia com coloração
(aspecto de roda de leme!)
Tratamento:
o Casos não graves: itraconazol (sintomas respiratórios leves, úlcera única)
o Casos graves: anfotericina B (dispneia importante, úlceras disseminadas)
Epidemiologia: atividades agrícolas “a tuberculose rural”.
HISTOPLASMOSE
No caso 2, a principal hipótese diagnóstica é histoplasmose. Frente a história de viver em região rural,
com lesão ulcerada única e desconforto respiratório leve, pensamos em paracococcidioidomicose,
tratamento com itraconazol.
CASO 3
É uma doença que havia diminuído em frequência e a competência imune reduz com o tempo.
COQUELUCHE
No início parece com resfriado comum, porém depois há surtos paroxísticos de tosse intensa, com
guinchos.
No caso clínico, a tosse ainda seria classificada como aguda, e a principal hipótese diagnóstica é
coqueluche, causada pela bactéria Bordetella pertussis). Inicia com a fase catarral (gripal) que evolui
para paroxística, associada a guinchos e vômitos. Há crianças que de tanto tossir fazem pneumotórax
ou fratura de arcos costais. Na coqueluche há leucocitose importante (30 ou 40.000 leucócitos) com
predomínio de linfócitos! O diagnóstico de certeza é feito com isolamento da bactéria na cultura ou
PCR da secreção nasofaríngea.
Tratamento: a droga de escolha é azitromicina 1x/dia por 5 dias. Se alergia, bactrim.
A doença é de notificação compulsória, e os contactantes devem receber quimioprofilaxia crianças
com < 1 ano; crianças de 1-7 anos com cobertura vacinal incompleta ou desconhecida.