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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO


INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
DISCIPLINA: PESQUISA EM CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO-2015/1
Docente: Prof. Dr Cleomar F. Gomes

RESENHA

O PODER SIMBÓLICO

NASCIMENTO, Alexandre Rauh Oliveira1

Pierre Félix Bourdieu (1930-2002), sociólogo francês, filósofo de formação,


começou a lecionar na Argélia, onde também prestou o serviço militar. Desenvolveu vasta
obra e é contribuiu sobremaneira para o pensamento sociológico do século XX.

“Eleito diretor, em 1965, da VI Seção da École pratique des hautes études,


que em 1975 se tornou École des hautes études en sciences sociales,
continuou sendo seu membro integral após ingressar no Collège de France,
em 1982, até se aposentar, no verão de 2001. A partir de 1968, dirigiu
no Collège de France o Centro de sociologia européia, fundado por Raymond
Aron, onde criou, em 1975, sua célebre revista, Actes de la recherche en
sciences sociales, que dispõe de um lugar à parte entre todas as revistas
internacionais de sociologia, especialmente em razão de sua abertura às
outras ciências sociais” (ENCREVÉ; LAGRAVE, 2005).

A par de sua breve biografia destacamos a obra O Poder Simbólico, coletânea de


trabalhos nos mais diversos campos das ciências sociais, reunidos pelo autor para publicação
brasileira, na qual demarca as trocas desiguais que ocorrem no campo científico.
A obra está dividida em dez capítulos, nos quais o autor aborda as relações sociais
presentes na constituição de diversos campos, seus respectivos capitais e habitus, e a maneira

1
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá -
2015.
como a sociologia do sociólogo deve interpretá-los. É uma obra em que Bourdieu apresenta
ao leitor o resultado de suas vastas pesquisas em diversas áreas e ilustra como a teoria
sociológica proposta por ele pode ser aplicada nos diversos fatos sociais.
Nesta resenha, faz-se a opção por destacar três dos conceitos principais presentes na
análise sociológica proposta por Bourdieu, quais sejam campo, capital e habitus. Conceitos
que são expostos pelo autor de maneira esparsa ao longo da obra, com destaque no Capítulo
III em que aborda a gênese dos termos campo e habitus. Assim, sua compreensão é feita a
partir das demonstrações de como tais conceitos, que são entendidos como modus operandi,
se aplicam aos fatos sociais pelo autor descritos.
No primeiro capítulo, abordando o poder simbólico, o autor afirma que os sistemas
simbólicos são instrumentos de conhecimento e comunicação, assim exercem um poder
estruturante, possibilitando conhecer o mundo, por que são estruturados, entendendo o poder
simbólico como um poder de construção da realidade.
A produção simbólica é entendida como instrumento de dominação, relacionada a
ideologia e produzida pela classe dominante – cultura dominante, que une, separa e legitima –
com efeito sobre a classe dominada. Une porque intermedia a comunicação, separa porque é
instrumento de distinção entre as classes e legitima, porque defina as culturas em suas
distinções em relação a dominante. Nesse aspecto, há uma relação de luta em que as classes
sociais concorrem para impor as demais sua visão de mundo. Ocorre que nessa luta a posição
hierárquica da classe, definida pelo seu capital – que Bourdieu estende para além do
econômico, como ver-se-á adiante – define o sucesso nas relações.

“O poder simbólico, poder subordinado, é uma forma transformada, quer


dizer, irreconhecível, transfigurada e legitimada, das outras formas de poder:
só se pode passar para além da alternativa dos modelos energéticos que
descrevem as relações sociais como relações de força e dos modelos
cibernéticos que fazem delas relações de comunicação, na condição de se
descreverem as leis de transformação que regem a transmutação das
diferentes espécies de capital em capital simbólico e, em especial, o trabalho
de dissimulação e de transfiguração (numa palavra, de eufemização) que
garante uma verdadeira transubstanciação das relações de força fazendo
ignorar-reconhecer a violência que elas encerram objetivamente e
transformando-as assim em poder simbólico, capaz de produzir efeitos reais
sem dispêndio aparente de energia” (Bourdieu, 1989, p. 15).
No capítulo II, Bourdieu discorre sobre o trabalho de pesquisa do sociólogo,
descrevendo o caminho de uma pesquisa, suas estratégias e características. Para ele o ápice da
arte em ciências sociais está em aplicar „coisas teóricas‟ muito importantes sobre objetos
„empíricos‟ menores na aparência, às vezes até irrisórios, assim o sociólogo demonstra
conhecimento do fato social e do modus operandi de seu ofício.

Discorre sobre o fazer da ciência sociológica, discutindo como o sociólogo olha o


mundo apontando o foco nas relações como a maneira correta de se analisar um fato social, e
nas relações por meio do conceito de campo pode ser feita uma análise que considere a
dinâmica social. Para Bourdieu

“a primeira tarefa da ciência social – portanto, do ensino da pesquisa em


ciência social – é a de instaurar em norma fundamental da prática cientifica a
conversão do pensamento, a revolução do olhar, a ruptura com o pré-
construído e com tudo o que, na ordem social – e no universo doto – o
sustenta” (Idem, p. 49).

Preconiza que o trabalho de pesquisa do sociólogo não deve ser atado pelo método,
embora se recorra a ele, pois se anulariam as possibilidades de compreensão da realidade pela
mera antecipação do fato ao se definir entre esquemas metodológicos. Ao contrário defende a
liberdade do pesquisador, para a partir das observações que sejam feitas as escolhas
metodológicas. Nesse aspecto fala também da construção do objeto, fazendo indicações
contrárias a construção do objeto previamente, pois nesse caso passa-se a análise de um objeto
pré-construído. A respeito do objeto, Bourdieu fala da objetivação participante, assim
definida:

“É condição da ruptura com a propensão para investir no objeto(...). É


preciso, de certo modo ter-se renunciado à tentação de se servir da ciência
para intervir no objeto, para se estar em estado de operar uma objectivação
que não seja a simples visão redutora e parcial que se pode ter, no interior do
jogo, de outro jogador, mas sim a visão global que se tem de um jogo passível
de ser apreendido como tal porque se saiu dele” (Ibidem, p. 58).

Ainda sobre as escolhas metodológicas

“Mas para tentar converter em preceito positivo todas estas críticas, direi
apenas que é preciso desconfiar das recusas sectárias que se escondem por
detrás das profissões de fé sectárias e tentar, em cada caso, mobilizar todas
as técnicas que, dada a definição do objeto, possam parecer pertinentes e que,
dadas as condições práticas de recolha dos dados, são praticamente
utilizáveis”(Ibidem, p. 26).

Nesse capítulo encontram-se fragmentos que esclarecem a noção de campo e habitus,


porque contribuem para a compreensão da pesquisa em ciências sociais, que continuam no
capítulo III no qual são abordadas a gênese de tais noções. Primeiramente, é importante
destacar que tais conceitos não podem ser usados somente como teoria, pois constituem o
modo como o sociólogo entende o fato social, de maneira prática, portanto, não apenas
servindo de arcabouço. É na análise do campo científico que aparece seu habitus, constituído
como regra elaborada pelo homem, um modus operandi científico funcionando em estado
prático conforme as regras da ciência sem ter tais regras como origem (Ibidem, p. 23).

Retoma a noção aristotélica de hexis, convertida em habitus, é um conhecimento


adquirido, um capital haver, de um agente em ação. Rompe com alternativas sobre as quais a
ciência social se assentou: a da consciência (ou do sujeito) e o do inconsciente, a do finalismo
e do mecanicismo, etc. Para Bourdieu “os utilizadores da palavra habitus se inspiravam numa
intenção teórica próxima da minha, que era a de sair da filosofia da consciência sem anular o
agente na sua verdade de operador prático de construções do objeto” (Ibidem, p. 62). Superar
a filosofia da consciência significa acreditar ao sujeito uma autonomia que se insere dentro de
uma construção social, não uma autonomia absoluta, pela qual teria total independência na
forma de pensar.

Segundo Bourdieu, habitus é

“...o produto de um trabalho social de nominação e de inculcação ao término


do qual uma identidade social instituída por uma dessas 'linhas de
demarcação mística', conhecidas e reconhecidas por todos, que o mundo
social desenha, inscreve-se em uma natureza biológica e se torna um habitus,
lei social incorporada" (Bourdieu, 2003, p. 64).

Entendendo que a compreensão do fato social se faz de modo relacional, e não de


maneira estagnada, Bourdieu utiliza a noção de campo, que compreende a realidade e o fato
social a partir das relações que se estabelecem entre os agentes que compõem determinada
classe social. Assim, para se analisar o comportamento das classes é preciso compreender
suas relações de poder que se estabelecem dentro de um campo específico. Sobre isso,

“campo de poder (de preferência a classe dominante, conceito realista que


designa uma população verdadeiramente real de detentores dessa realidade
tangível que se chama poder), entendendo por tal as relações de forças entre
as posições sociais que garantem aos seus ocupantes um quantum suficiente
de força social – ou de capital – de modo a que estes tenham a possibilidade
de entrar nas lutas pelo monopólio do poder, entre as quais possuem uma
dimensão capital as que têm por finalidade a definição da forma legítima de
poder” (Bourdieu, 1989, p. 28-29).

Os limites de um campo são estabelecidos pelos seus efeitos, em outras palavras, um


agente – ou uma instituição – integra um campo na medida em que neste campo sofre ou
produz efeitos. Na definição de campo Bourdieu começou com o campo intelectual, no qual
se acumula capital cultural2.

Para superar a noção de campo intelectual Bourdieu analisou o campo religioso


mediante uma crítica da visão interacionista entre os agentes religiosos presente na obra de
Max Weber, propôs “uma construção do campo religioso como estrutura de relações
objectivas que pudesse explicar a forma concreta das interações que Max Weber descrevia em
forma de uma tipologia realista” (Ibidem, p. 66). Foi uma forma de por a prova sua teoria para
compreensão da realidade e na análise de diversos campos, “estes, em consequência das
particularidades das suas funções e do seu funcionamento (...) denunciam de maneira mais ou
menos clara propriedades comuns a todos os campos” (Ibidem, p. 67).

Dentro do espaço social, que para Bourdieu é tão material quanto o espaço geográfico,
é que ocorrem as lutas entre integrantes por legitimação de suas crenças, e na dinâmica que
estabelecem por ascender a posições mais elevadas, com o necessário acúmulo de capital,
acabam perpetuando as relações que mantém o campo. Por isso,

“Compreender a gênese social de um campo, e apreender aquilo que faz a


necessidade específica da crença que o sustenta, do jogo da linguagem que
nele se joga, das coisas materiais e simbólicas em jogo que nele se geram, é
explicar, tornar necessário, subtrair ao absurdo do arbitrário e do não-
motivado os actos dos produtores e as obras por eles produzidas e não, como
geralmente se julga, reduzir ou destruir” (Ibidem, p. 69).

2
Capital para Bourdieu vai além do capital econômico definido por Marx, que se restringe a materialidade,
alcançando o plano simbólico, onde a posição dos indivíduos dentro de um campo é definida pelo volume de
capital acumulado, com valor simbólico para cada campo. Assim teremos capital cultural, científico, econômico,
tantos quanto sejam os campos e o que tem valor para cada campo e posiciona seus agentes, assegurando-lhe
todas as vantagens e benefícios que se pode ter acumulando-os, e que agora o capital econômico, não se podem
comprar com moeda.
A maneira como se perpetuam as condições de existência de um campo são
explicitadas por Bourdieu da seguinte forma:

“é nas lutas internas – e por meio delas – dos clérigos, lutas em que o que
está em jogo não é nem nunca poderá ser exclusivamente e explicitamente
temporal, que eles mesmos produzem – sem necessariamente as pensarem
como tais – as estratégias adequadas a assegurar as condições econômicas e
sociais da sua própria reprodução social” (Ibidem, p. 76).

Para compreensão do campo partir de sua história é a única forma legítima de análise,
porque sempre há um predecessor antes do percussor, que analisados nas suas relações
revelam as condições de sua existência, sua essência.

No capítulo IV são abordadas as relações entre a história reificada e a história


incorporada, sendo possível identificar, a partir da demonstração de Bourdieu como os
conhecimentos, as práticas, as ideologias se materializam e passam a ser naturais aos
indivíduos de determinado campo, que as reproduzem automaticamente, pois já foram
incorporados os elemento de sua reprodução. Para isso, é dado o exemplo do cumprimento em
que um cidadão retira o chapéu para saudar outro, vejamos:

“Aquele que tira o chapéu para cumprimentar reactiva, sem saber um sinal
convencional herdado da Idade Média no qual, como relembra Panofsky os
homens de armas costumavam tirar seu elmo para manifestarem as suas
intenções pacíficas. Esta atualização é consequência do habitus, produto de
uma aquisição histórica que permite a apropriação do adquirido histórico”
(Ibidem, p. 82-83).

Pode-se perceber o habitus incorporado na atitude do indivíduo, sem questionamentos,


como algo natural. Assim ocorre com as leis dentro de um campo, que são incorporadas pelos
indivíduos e reproduzidas natural e automaticamente. Nos movimentos da história, em que
instituições e ações de agentes são analisadas Bourdieu as sintetiza da seguinte maneira:

“A razão e a razão de ser de uma instituição (ou de uma medida


administrativa) e dos seus efeitos sociais, não está na „vontade‟ de um
individuo ou de um grupo mas sim no campo de forças antagônicas ou
complementares no qual, em função dos interesses associados às diferentes
posições e do habitus dos seus ocupantes, se geram as „vontades‟ e no qual se
define e se redefine continuamente, na luta – e através da luta – a realidade
das instituições e dos seus efeitos sociais, previstos e imprevistos” (Ibidem, p.
81).

As condições de funcionamento e perpetuação do campo são de tal maneira


incorporadas, assumidas e realizadas pelos indivíduos que não tem outra alternativa senão a
reprodução de tais condições, jogar o jogo, mesmo aqueles que estão em posições
hierárquicas elevadas, pois não se pode enganar o jogo. Tem-se somente a opção por deixar o
jogo, ao que corresponderia a morte social. Deixar um campo no qual se acumula algum
capital para migrar a outro corresponde sempre a represálias dos indivíduos deste novo
campo, pois não se transfere capital de um campo a outro. Assim,

“O princípio do movimento perpétuo que agita o campo não reside num


qualquer primeiro motor imóvel – o Rei-Sol neste caso – mas sim na própria
luta que, sendo produzida pelas estruturas constitutivas do campo, reproduz
as estruturas e as hierarquias deste. Ele reside nas acções e nas reações dos
agentes que, a menos que se excluam do jogo e caiam no nada, não tem
outras escolhas a não ser lutar para manterem ou melhorarem a sua posição
no campo, quer dizer, para conservarem ou aumentarem o capital específico
que só no campo se gera, contribuindo assim para fazer pesar sobre todos os
outros os constrangimentos, frequentemente vividos como insuportáveis, que
nascem da concorrência” (Ibidem, p. 85).

Comenta que a teoria dos Aparelhos – Igreja, Estado ou Partido – permite “uma
denúncia abstrata do Estado ou da Escola que reabilita os agentes, consentindo que eles vivam
no desdobramento da sua prática profissional e das suas opções políticas” (Ibidem, p. 86). Faz
uma crítica a tal teoria que considera o sujeito como passivo dentro de tais estruturas, pois
para Bourdieu há uma ação do sujeito na perpetuação de tais estruturas, por que delas acredita
se criarem as condições para sua sobrevivência, por força do habitus que lhe foi incorporado.

“Quanto mais nos afastamos do funcionamento dos campos como campos de


lutas para passar a estados-limites,(...) tanto mais a instituição tende a
consagrar agentes que tudo dão à instituição (ao „Partido‟ ou à „Igreja‟, por
exemplo) e que realizam esta oblação de maneira tanto mais fácil quanto
menos capital possuírem fora da instituição, logo, quanto menos liberdade
tiverem em relação a ela e em relação ao capital e aos ganhos específicos que
ela oferece”(Ibidem, p. 95).
No capítulo V, são abordados elementos para uma reflexão crítica sobre a ideia de
região. A definição de região é uma disputa entre escolas da ciência, especialmente a
geografia e economia, que considerando o capital que acumulam na sociedade, acabam
incluindo aí mais ou menos elementos de definição. Assim na geografia se incorporaram
elementos da economia, dada que esta escola tem maior prestígio social – por sua composição
de campo – que a geografia, escola menor mesmo entre seus pares, na faculdade de Letras,
considerando-se a origem social dos estudantes. Assim a definição de região também é
relacional, incluindo também agentes fora do contexto acadêmico que atuam. Nesse campo
em disputa a existência negativa de determinadas regiões em relação ao centro, atua como
dominação simbólica e econômica, fazendo com que alguns agentes sejam levados a lutar
para alterar sua definição.

“a tendência para a partilha indefinida das nações que impressionou todos os


observadores compreende-se se se vir que, na lógica propriamente simbólica
da distinção – em que existir não é somente ser diferente mas também ser
reconhecido legitimamente diferente e em que, por outras palavras, a
existência real da identidade supõe a possibilidade real, juridicamente e
politicamente garantida, de afirmar oficialmente a diferença – qualquer
unificação, que assimile aquilo que é diferente, encerra o princípio da
dominação de uma identidade sobre outras, da negação de uma identidade
por outra” (Ibidem, p. 129).

Na sequência o capítulo VI apresenta a gênese de “classes”, na qual Bourdieu


apresenta uma ruptura com a teoria marxista em três aspectos: i. com a substância (grupos
reais, para os quais se pretende definir número) em favor das relações, amplamente
defendidas por Bourdieu para análise do fato social; ii. economismo que reduz o campo
social, que é multidimensional, unicamente ao campo econômico, desconsiderando todas as
demais variantes simbólicas que atuam na luta de forças dentro do campo; iii. Objetivismo,
que caminha com o intelectualismo, ignorando as lutas simbólicas dos diferentes campos “nas
quais está em jogo a própria representação do mundo social e, sobretudo, a hierarquia no seio
de cada um dos campos e entre os diferentes campos” (Ibidem, p. 133).

Para Bourdieu a definição de classe como objeto estático não corresponde à realidade,
o que existe “é um espaço de relações qual é tão real como um espaço geográfico, no qual as
mudanças de lugar se pagam em trabalho, em esforços e sobretudo em tempo (ir de baixo para
cima é guindar-se, trepar e trazer as marcas e estigmas desse esforço)” (Ibidem, p. 137).
Assim, todo esforço por quantificar, identificar, diferenciar classe assemelha-se ao trabalho
taxonômico, e que nesse sentido desconsidera a dinâmica real do espaço social.

Neste capítulo encontra-se uma definição bastante esclarecedora do capital, que como
dito anteriormente, Bourdieu expande para além do econômico.

“O capital – que pode existir no estado objetivado, em forma de propriedades


materiais, ou, no caso do capital cultural, o estado incorporado, e que pode
ser juridicamente garantido – representa um poder sobre um campo (num
dado momento) e, mais precisamente, sobre o produto acumulado do trabalho
passado (em particular sobre o conjunto dos instrumentos de produção), logo
sobre os mecanismos que contribuem para assegurar a produção de uma
categoria de bens e, deste modo, sobre um conjunto de rendimentos. (...) Por
exemplo, o volume de capital cultural (o mesmo valeria, mutatis mutandis,
para o capital econômico) determina as probabilidades agregadas de ganho
em todos os jogos em que o capital cultural é eficiente, contribuindo deste
modo para determinar a posição no espaço social” (Ibidem, p. 134).

Importante destacar que embora o capital possa apresentar diferentes configurações


quantos forem os campos e seus agentes e o que tem valor de acúmulo e reconhecimento, o
campo econômico impõe sua estrutura aos demais campos, e mesmo dentro de outros campos
o capital econômico também exerce grande influência.

Para exemplificar o acúmulo de capital, que à maneira do econômico também pode ser
acumulado e pelo estado é defendido inclusive juridicamente, temos o poder de nomeação,
pelo qual a justiça e o estado com seus atos escritos estabelecem normas, temos a constituição
do capital acadêmico, que acumulado pelos agentes do campo acadêmico lhes confere poder e
benefícios sobre os demais.

“O título profissional ou escolar é uma espécie de regra jurídica de


percepção social, um ser-percebido que é garantido como um direito. É um
capital simbólico institucionalizado, legal (e não apenas legítimo). Cada vez
mais indissociável do título escolar, visto que o sistema escolar tende cada
vez mais a representar a última e única garantia de todos os títulos
profissionais, ele tem em si mesmo um valor e, se bem que se trate de um
nome comum, funciona à maneira de um grande nome (nome de grande
família ou nome próprio), conferindo todas as espécies de ganhos simbólicos
(e dos bens que não é possível adquirir diretamente com a moeda)” (Ibidem,
p. 148-149).

No capítulo VII é feita análise do campo político, entendendo-se como também um


campo de força onde acontecem as lutas que lhes perpetuam, assim como os demais campos,
porque como demonstrado por Bourdieu os campos seguem alguns princípios.
Neste campo, o monopólio da produção das formas de percepção e expressão é o que
confere acúmulo de capital que sujeita os demais agentes do campo. Sem o capital necessário,
resta aos integrantes renunciarem aos membros da classe dominante, pois não tem outra
escolha senão a demissão ou a entrega ao partido, que representa a continuidade da classe. O
habitus político, neste caso composto de teorias, problemáticas, tradições, é o que confere aos
profissionais da classe, aliado a habilidades de retórica e domínio da linguagem poder sobre
os demais.

“Em matéria de política como em matéria de arte, o desapossamento dos que


são em maior número é correlativo, ou mesmo consecutivo, da concentração
dos meios de produção propriamente políticos nas mãos de profissionais, que
só com a condição de possuírem uma competência específica podem entrar
com alguma probabilidade de sucesso no jogo propriamente político”
(Ibidem, p. 169).

No capítulo VIII é abordado o campo do direito, trazendo elementos para uma


sociologia do direito. Para Boudieu o campo jurídico é concebido por seus participantes como
a história da evolução interna de conceitos e métodos, considerando assim o um sistema
fechado e autônomo. O monopólio dos meios jurídicos herdados do passado é o que garante o
funcionamento do campo. O domínio de processos linguísticos próprios cria uma linguagem
jurídica que intenta o efeito da neutralização e da universalização, assim o habitus jurídico
consiste na habilidade de interpretação dos textos. O espaço judicial constitui assim uma
barreira que separa os que detém o capital e aqueles que não possuem o habitus necessário
para compreensão do jogo, excluindo-os. Sua autoridade é exercida por meio da proclamação
pública acompanhado de coerção física – retirada da vida, liberdade ou propriedade.

“A função de manutenção da ordem simbólica que é assegurada pela


contribuição do campo jurídico é – como a função de reprodução do próprio
campo jurídico, das suas divisões e das suas hierarquias, e do princípio de
visão e de divisão que está no seu fundamento – produto de inúmeras acções
que não têm como fim a realização desta função e que podem mesmo inspirar-
se em intenções opostas” (Ibidem, p. 254).

No capítulo IX é abordado a institucionalização da anomia, representando uma análise


da revolução simbólico operada por Manet, e depois dele pelos Impressionistas, qual seja “o
desabamento das estruturas sociais do aparelho acadêmico („ateliers‟, Salões, etc) e das
estruturas mentais que lhe estavam associadas encontrou condições favoráveis nas
contradições introduzidas pelo aumento numérico da população dos pintores oficiais”
(Ibidem, p. 255). Faz assim uma análise de como operaram as forças na construção de um
campo autônomo de produção independente da rigidez acadêmica, exercida pelo controle do
Estado.

No último capítulo, gênese histórica de uma estética pura, Bourdieu fala da


importância da compreensão histórica e em se tratando de um campo onde atuam agentes
lutando pela imposição de suas crenças aos demais, também aqui se constituem as condições
para perpetuação do campo, no caso para referência do que é considerado obra de arte. Assim,
não é sujeito somente que define o que é obra de arte, mas o conjunto dos agentes.

“Se é esta a lógica do campo, então compreende-se eu os conceitos utilizados


para pensar as obras de arte e, em particular, para as classificar, se
caracterizem, como observava Wittgenstein, por uma extrema
indeterminação, quer se trate de géneros (tragédia, comédia, drama ou
romance), de formas (balada, rondó, soneto ou sonata), de períodos ou estilos
(gótico, barroco ou clássico) ou de movimentos (impressionista, simbolista,
realista, naturalista)” (Ibidem, p. 291).

Contribuição para a construção do objeto de pesquisa

Considerando as análises feitas sobre diferentes fatos sociais e a maneira como


Bourdieu aplica as noções de campo, habitus e capital é possível estabelecer o paradigma de
como proceder uma análise do objeto de pesquisa baseada em sua teoria.

A expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica – EPT, após


considerarmos o contexto político econômico no qual o capital, na sua identidade definida por
Marx, opera sobremaneira, como também aponta Bourdieu, com as imposições que lhes são
próprias na defesa de seus interesses e manutenção do sistema, podemos considerar as demais
variantes que operam dento do campo acadêmico. Neste caso temos instituições que fazem
parte de um campo em disputa – escolas técnicas, agrotécnicas, universidades tecnológicas,
cefet‟s, e o próprio governo federal, como agente dominante nessa relação, uma vez que
possui o capital econômico e o poder simbólico de dominação sobre os demais – que lutando
por sua sobrevivência na busca pela manutenção de suas atividades e existência acabam por
perpetuar as condições do campo.

Em se tratando de politica educacional, não se pode furtar de exemplificar também


com o processo de expansão das universidades públicas, por meio do Programa de Apoio a
Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI, que acontece no
mesmo momento da expansão da Rede de EPT, em que as universidades federais – em
disputa dentro do campo acadêmico que lhes é próprio – se veem impelidas a aderir ao
programa sob pena de sua exclusão do campo, que como aponta Bourdieu representa a morte
social. Como imaginar uma universidade sem os recursos da expansão, vagas para docentes,
técnicos e verba para assistência estudantil, dentre outros, obviamente acompanhadas de
condições impostas pelo polo dominante, o governo federal, que exerce sobre os demais a
violência simbólica da opressão das condições impostas, e a coerção pelo órgãos de controle,
referenciados pelo aparato jurídico.

Assim, temos tanto universidades como institutos federais, cada qual no seu campo, e
dada a reforma também sofrida pela Rede de EPT, entrando em parte no campo das
universidades sob condições inferiores – pois não possui o habitus científico e seu capital na
educação profissional técnica não é transferido para o campo onde atuam as universidades,
atuando pela perpetuação das condições do campo: disputa entre os integrantes por posições
de prestígio dentro da hierarquia, pelo acúmulo de capital – econômico, cultural, científico – e
condições de existência.

Para a compreensão do fenômeno da expansão da rede de EPT Bourdieu acrescenta


uma contribuição relevante e substancial, porque sem dúvida não somente condições
econômicas, impostas pelo capital econômico, que atuaram e continuam atuando, há uma
gama de valores simbólicos também em disputa que condicionam as instituições e são por
elas reproduzidas como seu habitus dentro do campo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. Rio de Janeiro:


Bertrand Brasil, 1989. Disponível em:
http://monoskop.org/images/b/b3/Bourdieu_Pierre_O_poder_simbolico_1989.pdf Acesso em:
30 de abril 2015.

BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2003,
p 64. Wikipedia – acesso em 29 de maio 2015, disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Habitus

ENCREVÉ, P; LAGRAVE, R-M. Memória do trabalho, memória no trabalho. In:


ENCREVÉ, P; LAGRAVE, R-M. Trabalhar com Bourdieu. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2005, p. 8. Disponível em www.bourdieu.com.br Acesso em: 01, Junho de 2015.

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