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Paulo, escritor

1. Introdução
Uma das maiores genialidades do autor dos Atos dos Apóstolos, designado pelo nome de
Lucas, ainda que pudesse não ser chamado por esse nome, foi escrever uma espécie de vida de
Paulo, sem mencionar nunca que escrevera cartas. Sendo uma pessoa que, recolheu dezenas de
dados sobre a vida do apóstolo, esse autor não podia ignorar o único e grande detalhe: que Paulo
havia escrito cartas.
Deve tê-lo movido a esse silêncio o esquema das "vidas paralelas" que tinha sido imposto à
sua obra: Paulo precisava estar sempre a caminho, como esteve Cristo, como aparece nos
Evangelhos; não quis apresentá-lo sentado à mesa, escrevendo cartas. Também pôde movê-lo
uma certa vontade de "contrapeso": que o apóstolo não fosse lembrado somente pelas suas cartas,
nas quais não faltam passagens difíceis e polêmicas, mas sim por sua atividade, realmente
fundamental para todas as igrejas do Mediterrâneo.
Por outro lado, é fácil descobrir uma grande sintonia entre o que os Atos dos Apóstolos
escrevem sobre Filipos (16,12-40) e a Carta aos Filipenses, sobre o que relatam de Tessalônica
(17,1-9) e as Primeira e Segunda carta aos Tessalonicenses, ou em relação a Corinto (18,1-17) e a
Primeira carta aos Coríntios1. Inclusive o relato de Atenas, com o discurso do Areópago (17,16-
34), vem a ser uma explicitação anedótica do que Paulo afirmou em 1Cor 1 e 15. Além disso, a
notícia sobre uma permanência de três meses do apóstolo na Grécia (20,2s), depois de ter
concluído o trabalho nas regiões do mar Egeu (cf. Rm 15,23), apresenta o marco exato para a
composição da Carta aos Romanos; em seguida, a duração de dois anos em "regime aberto" para
os cativeiros de Cesaréia e Roma (respectivamente 24,23.27 e 28,30) apresenta um marco
coerente para as Cartas do Cativeiro (Carta aos Filipenses, Carta aos Colossenses, Carta aos
Efésios e Carta a Filênion) e para a Segunda carta a Timóteo.
O que Lucas não nos pode dizer é a razão pela qual o apóstolo se decidiu a escrever cartas,
o que pretendia com essas cartas, que modelos teve diante de si, como foram redigidas, até que
ponto refletem tudo o que Paulo dizia em sua pregação.
Sobre estas temáticas precisamos abordá-las e refleti-las no presente capítulo, embora seja
somente numa forma aproximativa.
2. Treze cartas mais uma
Na atualidade, a crítica é unânime em afirmar que sete das cartas são autenticamente de
Paulo: Carta aos Romanos, Primeira e Segunda Carta aos Coríntios, Carta aos Gálatas, Carta aos
Filipenses, Primeira Carta aos Tessalonicenses, Carta a Filêmon. Continua a discussão em relação
à autenticidade de outras seis cartas que, na pior das hipóteses, devem ser atribuídas a profundos
conhecedores do apóstolo: Carta aos Efésios, Carta aos Colossenses, Segunda Carta aos
Tessalonicenses, Primeira e Segunda Carta a Timóteo, Carta a Tito. Por outro lado, dá-se por
concluída a discussão em torno da Carta aos Hebreus: nenhum exegeta da atualidade atribui esta
carta diretamente ao apóstolo Paulo. Em relação a ela, somente permanece, como questão aberta,
a de sua maior ou menor proximidade da área paulina.
Somente a Carta aos Hebreus constituirá, no nosso estudo, uma seção à parte. As outras
seis, consideradas como simples "textos", devem ser simplesmente incluídas aqui, porque a sua
semelhança com as cartas autênticas não afeta somente o conteúdo e as expressões, mas também
o gênero literário. Quer dizer que, na pior das hipóteses, são perfeitas imitações do estilo paulino
em sua mesma "epistolaridade". Inclusive a diferença de nível epistolar que existe entre a Carta
aos Efésios e a Carta aos Colossenses é perfeitamente paralela à que existe entre a Carta aos
Romanos e a Carta aos Gálatas.

Cf. A. Lindemann, Paulus im ältesten Christentum (Tübingen 1979).


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Com isso fica claro que nem sequer as cartas autênticas podem ser medidas com um padrão
estilístico único, mas que é preciso estar atentos às possíveis variações estilísticas existentes de
uma carta para outra.

3. Cartas ou epístolas?
O termo utilizado pelo próprio apóstolo é o de epistolê. Foi esse termo que passou para a
Vulgata, que tem uma certa atração pelos termos gregos, e por meio dela veio a ser a designação
específica das cartas do Novo Testamento (recordemos "a epístola" na missa).
Seja como for, na crítica literária profana, faz-se perfeitamente a distinção entre "epístola" e
"carta". Esta última significa um documento privado, como as cartas de Cícero, muito funcional,
desprovido de artifícios retóricos e dirigido exclusivamente, com certo sentido de segredo
inviolável, ao destinatário que expressamente se nomeia. "Epístola", em contrapartida, significa
uma composição literária que pode ser em verso, como a Epistula ad Pisones, de Horácio,
destinada ao público em geral, na qual se menciona um destinatário, mas sem que tenha sido
dirigida exclusivamente a ele2.
No caso dos escritos paulinos, como no de todas as "epístolas" do Novo Testamento, seria
preciso inventar um termo intermediário, algo como "epi-cartas", porque se encontram na metade
do caminho entre as duas definições. Mas predomina a idéia de "carta". Porque os destinatários e
o que Paulo quer dizer a eles, aqui e agora ocupa um lugar primordial na mente do autor, de
modo que, se lhe tivessem dito que ninguém mais iria lê-las, tê-las-ia escrito da mesma forma.
Essa interpelação direta a alguns destinatários presentes impõe um certo grau de linguagem
familiar, tanto mais que, se uma conversação particular pode tomar aparências de discurso, muito
mais o pode uma conversação escrita, dirigida a um auditório amplo, numa época em que o mero
fato de escrever era entendido como um luxo.
Na análise concreta dos diversos escritos, falaremos de "elementos epistolares", no sentido
de "próprios de uma carta", junto de outros que poderiam pertencer a outros tipos de discurso.
Ficando sempre bastante claro que também estes últimos permanecem modificados por sua
inclusão em uma carta autêntica.
Por exemplo, na Primeira Carta aos Tessalonicenses, tem caráter epistolar:
- a repetição da interpelação: "irmãos" (1,4; 2,1.9.14.17; 3,7; 4,1.10.13; 5,1.4.12.14.25);
- a referência a situações concretas do remetente ou dos destinatários (cf. especialmente 1Ts
1,4-9; 2,1-3; 3,1-7).
Por outra parte, praticamente todas as cartas têm o que poderíamos chamar de "seções
epistolares":
- uma saudação epistolar, no qual se desenvolve o esquema: Titius Caio salutem, no início (cf. 1
Ts 1, 1);
- uma introdução epistolar (mais tipicamente em Rm 1,8-13), na qual se inclui uma certa captatio
benevolentiae, se expressam bons desejos e, sobretudo, o de poder "traduzir" a carta em um
encontro pessoal, assim como os motivos que levaram a escrever;
- uma conclusão epistolar (cf. 1Ts 5,12-28), na qual se aglomeram as últimas recomendações (vv.
16-22: como se o trem ou ônibus estivesse partindo), as saudações que são apresentadas e as que
se transmitem da parte de outros, as bênçãos (ou bons desejos e vontades) finais.

4. Linguagem falada, linguagem religiosa e convenções retóricas

2
A, Deissmann, Licht vom Osten (Tubingen 1923; 1ª ed. 1908) 193-198, talvez seja o primeiro a apresentar a
questão a propósito de Paulo.

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Devido a esse caráter epistolar, pôde-se emitir o parecer de que as cartas de Paulo ocupam
o seu lugar adequado na história da época apostólica, mas não há razão para figurarem em uma
história da literatura cristã.3 A verdade é que não são uma "obra-mestra" sob o ponto de vista da
literatura "profissional" que estava em moda naquela época; entre outras coisas, porque nas
escolas se ensinava "a elegância do estilo ático", bastante distanciado do que se falava na rua, isto
é, da linguagem cotidiana.
Mas, na atualidade, sabemos que a linguagem falada é uma linguagem como qualquer outra
e que pode reunir qualidades de força expressiva e de beleza totalmente comparáveis às da
literatura mais elevada. Se tivéssemos de eliminar da história da literatura tudo o que for
"linguagem familiar", colocaríamos em apuros inclusive mais de um "Prêmio Nobel".
De outra parte, a pessoa culta, até mesmo quando fala "familiarmente", sabe utilizar as
palavras adequadas que dela exige o contexto da conversação.
Mas Paulo era um homem culto? Isso não podemos afirmar a priori, mas a recontagem de
suas palavras e a consideração do contexto em que se encontram nos mostram que sabia
encontrar a palavra certa no momento certo (algo que não conseguem todos aqueles que utilizam
palavras raras). Não era, por outra parte, um erudito, uma pessoa que citava poetas e filósofos,
mas seu grego não é um grego "traduzido", e sim o de alguém que, com o leite materno,
"mamou" a língua e compreendeu as essências de seu contexto cultural.
Um certo ponto de comparação, do ponto de vista da linguagem, no-lo transmite a Bíblia grega
dos Setenta. Apresenta mais falhas sintáticas, justamente por ser tradução (por não ousar sempre
traduzir ad sensum), mas também nos surpreende muitas vezes pela quantidade de palavras que
usa e como as emprega de uma forma correta dentro de um marco geral de linguagem familiar.
A Bíblia dos Setenta é também modelo, direta e indiretamente (por obra daqueles que o
precederam na fé), da linguagem especificamente religiosa do apóstolo.
Em alguns casos, Paulo será o criador das mudanças semânticas (por exemplo,
provavelmente, o sentido de "carisma", "evangelho", "justificação", etc.); em outros casos, será
simplesmente testemunha de uma evolução semântica anterior.
Antes de iniciar uma rápida revisão dos possíveis modelos gregos e judaicos das cartas de
Paulo, respondamos a uma pergunta mais geral: Paulo possui qualidades literárias, concretamente
retóricas? Iniciemos pelo lado negativo:
- Tem demasiadamente clara a sua opção pelo fundo (o que tem de comunicar), indo além
da forma (cf. 1 Cor 2, 1). Alguém poderia dizer que mais de um parágrafo "estaria melhor" em
uma versão anterior (oral ou escrita) que nos é desconhecida; mas que o "desfigurou", sob o
ponto de vista da forma, ao querer colocar muito mais coisas de uma vez, e no último momento.
- Também lhe falta freqüentemente um plano prévio e proportio membrorum entre as
diversas partes. Muitas vezes parece como se tivesse recolhido diversas peças de diversos calibres
(umas mais prosaicas e outras mais poéticas, umas mais densas e outras mais difusas) e
simplesmente as tivesse juntado.
- Também lhe faltam sinais de pontuação, isto é, nem sempre fica bem demarcado, por sinais
lingüísticos, quando se passa de uma temática a outra ou se tal inciso deve ser unido a um outro
que o precede ou ao que se segue. Um bom profissional teria assinalado melhor os pontos do
discurso, mas isso mostra com muita evidência que o apóstolo tinha muito mais facilidade para
falar do que para escrever.
Isso tomará mais acurada a análise dos detalhes, a qual, de passagem, nos mostrará como,
unindo todos os elementos que temos à disposição (partículas, mudanças de tonalidade,
repetições, insistência em alguns termos ou em outros), o leitor tampouco fica totalmente
desamparado no momento de descobrir uma certa estrutura.
Como lado positivo ou qualidades, observaríamos:
3
Recensão de W. Wrede a uma obra de A. Jü1icher, citada por G. Strecker, Literaturgeschichte des Neuen
Testaments (Gõttingen 1992) 22s.
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- Uma palavra significativa. Sobretudo em autores antigos, muitas vezes é preciso passar
páginas e páginas para se chegar à próxima idéia. Com Paulo não se tem esta impressão de estar
afundando em barro mole, mas de estar pisando em rocha firme.
- Uma palavra clara, quente e penetrante. Não tanto o "período" ou a perícope inteira.
Muito mais, se tomarmos as frases soltas: ali se percebe a paixão e a força de convicção. São
frases que se "forjaram" com base em repetições contínuas e avaliando o efeito que produziam.
- Muitos momentos de autêntico lirismo e de autêntica habilidade retórica. São célebres Rm
cap. 8, bem como 1Cor 13 e 15. Mas encontramos muitíssimos exemplos mais.
Tudo isso, supomos, em um homem que sabe ler e escrever, mas que nunca freqüentou uma
escola superior. Supomos que tenha freqüentado uma escola judaica em língua grega, na qual,
além da língua, se aprendia cultura grega, devidamente "expurgada" de toda a contaminação pagã.
Uma escola desse estilo não poderia faltar em uma cidade culta e poderosa como Tarso, se a
houve em Jerusalém.
Por outro lado, naquela época havia outra "escola gratuita" para quem a quisesse
aproveitar: os filósofos ambulantes, os julgamentos públicos, as festas civis, aos quais Paulo podia
acrescentar a produção literária, esteticamente válida, do judaísmo helenista.

5. Modelos gregos e judaicos


Em todo o Antigo Testamento encontram-se pouquíssimas cartas; entre outras coisas,
porque uma carta necessitava de um "correio" e o "correio" era uma pessoa especialmente
enviada com a missiva. Além do mais, são cartas de reis ou de grandes personagens, sem um
especial conteúdo ideológico (como a de Davi a Joab a propósito do "deslocamento" de Urias:
2Sm 11, 14s). Somente duas podem ser consideradas cartas, de algum modo, anteriores às de
Paulo: a de Ezequias às tribos do Norte, convidando-as a celebrar a Páscoa em Jerusalém (2Cr
30,1.6-9) e a de Jeremias aos deportados da Babilônia, convidando-os a "integrar-se" na
sociedade em que viviam (Jr 29,1-23). Inspirando-se nesta última, a "Carta de Jeremias", que
aparece como cap. 6 do livro deuterocanônico de Baruc, é simplesmente atribuída e pertence
muito mais ao gênero "epístola".
Também não é verdadeiramente uma carta o escrito chamado de "Epistola de Aristéias", que
pertence à literatura judaica intertestamentária. Foi escrita em grego, por um judeu alexandrino,
aproximadamente no século II a.C.4 As duas últimas obras demonstram, pelo menos, as
virtualidades do gênero e podiam animar o apóstolo a escrever cartas autênticas de conteúdo
elevado.
No mundo greco-romano não faltam nem cartas e nem epístolas (são célebres,
respectivamente, as de Cícero e a de Horácio ad Pisones). Mais difícil será encontrar o gênero
intermediário, no qual Paulo está situado.
O que mais se aproxima ao gênero das cartas paulinas está nas cartas de Diógenes e outros
filósofos afins (os chamados "cínicos"). Possuem pelo menos três pontos de paralelismo com as
cartas do apóstolo: a) o conteúdo "filosófico"; b) o destinatário coletivo ("Aos gregos", "Aos
atenienses", "Aos efésios", "Aos estudantes"); c) o uso freqüente da ironia e do paradoxo.
Quanto ao paradoxo, todavia, deixam Paulo "muito inferiorizado". Lemos na carta de
Diógenes aos gregos: Diógenes, o cão (em grego, kyôn, de onde deriva a palavra "cínico"), aos
chamados gregos, desgraça sobre vós... Visto que sois procuradores de glória, irracionais e
educados para a ociosidade...
Na carta de Crates aos tessálíos: Não se fizeram os homens por causa dos cavalos, e sim os
cavalos por causa dos homens. Por isso, preocupai- vos em cuidar de vós e não dos cavalos.
Porque, se considerais os cavalos muito mais valiosos, sois menos valiosos do que eles.

4
Editada por N. Meisner, Aristeasbrief, em Frühjüdische Schriften aus der hellenistischer Zeit II, 1 (Gütersloh
1973).

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Do mesmo Crates aos atenienses: Se os cavalos vos fazem falta, dicidi que os asnos são
cavalos. Pois essa é a vossa conduta em tudo: não cobrir as necessidades, mas cumprir o que
tendes decidido.
Em resumo: Paulo decidiu-se a optar pela pena ou caneta, não tendo como modelo senão
algum rei, algum profeta e algum filósofo. Mas ele tinha o cuidado de todas as igrejas (2Cor
11,28) e não podia estar presente em todas ao mesmo tempo. Decidiu-se a dizer por meio de
cartas o que tinha proferido por palavras.
Somente que o escrito (carta) impressiona, e naquele tempo muito mais. Por isso, na crítica
de que "as suas cartas são muito fortes" (2Cor 10,9-11) não se alude somente à especial dureza
de alguma delas, mas também ao simples fato, até então extraordinário, de receber ordens e
advertências por meio da letra escrita.
Mas essa era a autoridade que lhe havia sido conferida "para edificar, e não para destruir"
(v. 8; 13,10).

6. Obra de mestre e de pastor


Como vimos anteriormente, pode-se escrever uma carta aos efésios para explicar a filosofia
dos cínicos, ou simplesmente para exercer a função de "cínico". Por isso, além de inquirirmos
sobre o gênero literário carta baseando-nos em elementos externos, devemos nos perguntar pelo
seu "gênero interno": qual o elemento essencial e o que pretendem as cartas de Paulo. Temos a
resposta em dois termos que se encontram em Ef 4,11 como ministérios que se realizam na Igreja:
"mestre" e "pastor". O mesmo texto nos indica também os de "apóstolo", profeta" e "evangelista".
Deixando de lado o de "profeta", que se presta a discussões, queremos observar que Paulo em
suas cartas não atua como "apóstolo e evangelista", mas sim como "mestre e pastor". Dizendo em
outras palavras, também conhecidas: que nas cartas não encontramos propriamente o kerygma (=
"anúncio", dirigido aos não-crentes) do apóstolo, mas a sua didakhê (= "doutrina", dirigida aos
crentes).5
Paulo foi apóstolo dos gentios, pois se dirigiu a pessoas totalmente alheias à tradição
judeu-cristã para conduzi-las à fé (cf. 1Ts 1,9s). Além disso, os seus ouvintes contavam com a
presença de "gregos e bárbaros, sábios e ignorantes" (Rm 1, 14). O livro dos Atos dos Apóstolos
(cf. 14,15-17 e 17,22-3 1) nos apresenta um certo modelo de como pode ter falado a eles. Esses
discursos têm pouco em comum com o tipo de argumentação que conhecemos por meio das
cartas, mas nem tudo é culpa de Lucas: na realidade os discursos que o apóstolo dirigia aos
pagãos dificilmente podiam ser semelhantes às cartas. Paulo não podia falar-lhes numa linguagem
recheada de tecnicismos teológicos e, além do mais, implicando tanta doutrina judaica e cristã
como pressupõem as suas cartas.
As cartas, pois, pressupõem uma comunidade já formada, instruída nas verdades da fé.
Propriamente, também não são "catecismo" (cf. G1 6,6; 1 Cor 14,19; Le 1,4) de primeiro grau,
mas sim um "ensinamento" (em grego, didakhê; cf. Rm 6,17; 16,17; 1Cor 14,6.26) destinado a
confirmar e ampliar o já recebido.
Tampouco são ensinamento superior em sentido próprio; não existe nenhum plano didático,
nem um estilo acadêmico, nem a previsão de um "estudantado" especialmente seleto (cf. 1Cor
2,6; 3, 1 s): são escritos tipicamente ocasionais, dirigidos à comunidade toda.
O elemento desencadeador deve ter sido, pois, a urgência pastoral. Por isso, um homem que
já trabalhava em quatro ou cinco frentes (o trabalho manual, a evangelização dos judeus e dos
gentios, a catequese aos convertidos, a formação de seus colaboradores) decidiu-se a acrescentar
a mais difícil para um homem ocupado: escrever cartas.

5
No início, poderia ter-se dirigido a um auditório judaico tratando-os de "irmãos", mas não a um auditório pagão.
Por outro lado, é só ler a saudação de cada carta para compreender que um não-cristão tem ali pouco que lhe
interesse.

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E o determinante de uma carta deve ser, como é próprio do gênero, transmitir algo da
presença pessoal: para continuar sendo, num momento de perigo e de dúvida, "como uma mãe" e
"como um pai" (1Ts 2,7. 11).
Por isso, na Primeira carta aos Tessalonicenses, que deve ter sido a primeira carta que
escreveu, o apóstolo não tem interesse em comunicar grandes novidades, mas sim em infundir
ânimo e responder às questões apresentadas, à luz da doutrina anteriormente transmitida.
No fundo (apenas acabavam de deixar a idolatria!), não devia considerá-los capazes de
grandes doutrinas. Assim transcorreria toda a "segunda viagem" de Paulo (narrada em At 16-18).
Em Corinto, também não lhes falou à maneira dos grandes intelectuais deste mundo (1Cor 3,1s;
cf. 2,6).
Assim, passou-se algum tempo: os cristãos amadureceram; enquanto isso, o apóstolo esteve
em Cesaréia, Jerusalém e Antioquia (At 18,22) e pôde perceber como nas antigas comunidades
aos poucos ia-se abrindo a passagem a uma certa sabedoria cristã (isso se percebe em 1Cor
2,6-16), cultivada a princípio somente por alguns poucos.
Ao chegar a Éfeso (At 19,1), começou a receber abundantes notícias a respeito de Corinto.
Entre outras, a de que lhe atribuíam falta de "sabedoria" (na atualidade diríamos: de profundidade
teológica). E a isso, Paulo tem de responder (cf. 2Cor 11,6: "Embora eu seja de pouca
eloqüência, não acontece o mesmo quanto à ciência"), transmitindo sabedoria em seus escritos. A
partir desse momento, diríamos que as suas cartas são uma mistura de resposta pastoral e de
reflexão sapiencial: nasce assim para nós a teologia paulina,6 em diversa medida para cada carta,
conforme veremos a seguir. Em um extremo estaria a Primeira Carta aos Coríntios, na qual tudo
provém das notícias que lhe chegaram ou das questões que lhe foram apresentadas; no outro
extremo, estaria a Carta aos Romanos, na qual quase tudo, no corpo da carta, é teológico e
somente em alguns momentos (especialmente 14,1-15,13) "inclina-se" para a pastoral.

7. Unidade e integridade das cartas


A "crítica das fontes", mediante a qual, por exemplo, Wellhausen descobriu "quatro fontes"
para o Pentateuco e "duas fontes" para os evangelhos sinóticos, tem pequeno campo de ação na
área das cartas paulinas. Algumas delas, certamente a Carta aos Hebreus, podem ter outros
autores, mas fica claro que nem Paulo e nenhum autor deuteropaulino contou com documentos
inteiros, comparáveis ao código sacerdotal ou à fonte Q.
É certo, não obstante, que as cartas chegaram até nós em forma de coleção, e quem prepara
uma coleção pode intervir nela: agrupando documentos, incorporando fragmentos que se
encontravam dispersos e, inclusive, preenchendo algum vazio.7
Vários autores assinalaram fragmentos deslocados, e "reconstruíram" a ordem primitiva. Veremos
algum caso concreto em relação a isso nas diversas cartas. O mal é que essas "reconstruções" têm
de optar necessariamente entre as muitas possibilidades. Logo de saída, têm de defrontar-se com
outra, igualmente (im)provável.
Isso ocorre, sobretudo, com as reconstruções da Carta aos Filipenses e da correspondência
tessalonicense. Existe um caso, de todos os modos, no qual a possibilidade de inclusão parcial de
diversas cartas parece evidente: a Segunda carta aos Coríntios. É freqüente supor, como veremos,
6
M. Pesce, Le due fasi della predicazione di Paolo. Dall´evangelizzazione alla guida delle comunità ([Bologna
1994] - tem tradução em português, As duas fases da pregação de Paulo, Ed. Loyola [São Paulo 1996], apresenta
essa dupla fase da pregação paulina presente em suas cartas.

7
Insiste de uma forma especial nesta temática, reconstruindo - não sem certo dogmatismo - a ordem primitiva, S.
Vidal, Las cartas originales de Pablo (Madrid 1996). Unia visão complexa, com abundante literatura,
encontramo-la em Strecker, Literaturgeschichte 56-121.

20
que nem o capítulo 9 e nem os capítulos 10-13 pertencem à mesma carta que os capítulos de 1-8.
Também foram sugeridas várias possibilidades em relação a 6,14-7,1: a) que faria parte da carta à
qual se alude em 1Cor 5,9: b) que seja um simples fragmento disperso; c) que seja simplesmente
um texto interpolado. Sem que nem mesmo se possa excluir totalmente que o apóstolo tivesse
essa espécie de "falhas" retóricas na composição de uma carta.
Em relação a Rm 16, duvida-se que Paulo conhecesse tantas pessoas em Roma; os seus
destinatários poderiam ser os efésios. Deixando de lado alguma questão de ordem nos diversos
parágrafos, entende-se que somente um deles (vv. 25-27) poderia ser interpolado.
R. Bultmann, por sua vez, assinala uma série de interpolações "pontuais" em Romanos
(2,1.16; 6,17b; 7,25b; 8,l; 13,5), mas não teve muitos adeptos neste aspecto. Maior êxito
alcançou a possibilidade de outras duas pequenas interpolações: 1Ts 2,15s e 1Cor 14,33b-36.
Significam que o apóstolo pode não ter falado tanto mal dos judeus e que pode não ter falado que
as mulheres se calassem nas assembléias. Mas também há aqueles que se inclinam a afirmar que o
apóstolo não diz sempre o que nós o teríamos feito dizer.

8. "Formas" e "tradições"
A chamada "história das formas" prestou serviços insubstituíveis à exegese do Antigo
Testamento e dos Evangelhos. Por intermédio dela se pode chegar, de algum modo, ao "estúdio"
do redator final: uma série de características literárias nos faz descobrir pequenas "peças"
literárias, que o redator final teria incorporado somente com pequenos retoques.
No caso de Paulo, ninguém viu em suas cartas uma simples coleção de peças compostas
anteriormente. Mas, além das citações do Antigo Testamento, freqüentemente assinaladas com
palavras explícitas ("Está escrito", "Diz a Escritura", etc.), os estudiosos descobriram também
confissões de fé, fórmulas litúrgicas, hinos e peças catequéticas, reveladas por diversos meios.
A mais célebre entre as confissões de fé é a que se encontra em 1Cor 15,37, introduzida
explicitamente como uma tradição (vv. 1s). Também podemos reconhecer como confissões Rm
1,3s; 3,25-26a; 4,25; 10,9; 1Cor 8,6; 1Ts 1,9s; Ef 4,5s, assim como algumas das que se
encontram nas Cartas Pastorais como " palavra certa" (pistos o logos: 1Tm 1,15; 4,9s; Tt 3,5-8);
também 2Tm 2,8, marcada como tradição.
Como fórmula litúrgica, podemos assinalar a tradição de 1Cor 11,23-26, assim como a
aclamação de Ef 5,1 que é introduzida quase como texto da Escritura (cf. 4,8: "Por isso diz"). A
fórmula "Amém" é sem dúvida de origem litúrgica, que se mantém em hebraico (Rm 1,25; 9,5;
11,36; 15,33; 16,27; 2Cor 1,20; G1 1,5; 6,18; Ef 3,21; F1 4,20; 1Tm 1,17; 6,16 Hb 13,21).
Grande parte das doxologias (a mais típica: "A ele a glória pelos séculos dos séculos") ou de
fórmulas de bênção que precedem o "Amém": podem ter sido tomadas diretamente da liturgia ou
ter sido, pelo menos, elaboradas dentro de um estilo litúrgico. A mesma questão é colocada em
relação a certas proclamações de caráter batismal, como 1Cor 6,11. Também não se pode negar a
origem litúrgica das fórmulas aramaicas como "Abbá - Pai" (Rm 8,15; G1 4,6) e "Maran atá"
(1Cor 16,23). Pode ser classificada na categoria de "hinos" uma série de peças, não atribuíveis a
Paulo, especialmente trabalhadas sob um ponto de vista literário (ritmo, paralelismos, distribuição
em estrofes) e conceitual. Os mais universalmente reconhecidos como hinos são: F1 2,6-11; Cl
1,15-20; 1Tm 3,16.
Como textos catequéticos pode ser reconhecida, por fim, uma série de listas de vícios e
virtudes (como Rm 1,29-31; 13,13; 1Cor 5,10s; Gl 5,19-23; Cl 3,5-8.12-14),8 assim como as
chamadas "listas domésticas" de Cl 3,18-4,1 e Ef 5,21-6,9. De qualquer maneira, os paralelismos
entre as diversas listas se prestam mais à hipótese de que deve ter existido um texto catequético
do que à afirmação de que nesse texto de Paulo temos a reprodução literal de um texto anterior, e
não uma elaboração paulina dentro daquela tradição catequética.

8
Cf. G. Segalla, I catalogi di peccati in S. Paolo, Studia Patavina 15 (1968) 205-228.

21
Com isso chegamos a um outro tipo de aproximação ao texto: a chamada "história das
tradições". É um trabalho menos ambicioso, pois não separa "peças" literárias inteiras, mas
simplesmente "temáticas", porém não é menos fecundo: os arqueólogos sabem muito bem que,
em uma escavação, o importante são os restos de cerâmica, mais do que as ânforas inteiras que se
possam encontrar. O ponto de partida desse método é o emprego de certos termos carregados de
sentido: quando um termo, sem maiores explicações, toma um sentido especificamente cristão
não atribuível ao autor do escrito, podemos falar de uma "tradição anterior" manifestada naquela
mudança semântica (por exemplo o uso do termo ekklêsia, "igreja").
Certamente a tradição não afeta somente os termos isolados, mas também as associações de
termos (como o trinômio fé-esperança-caridade, que aparece em 1Ts 1,3; 5,8; 1Cor 13,13), as
fórmulas completas ("pelos séculos dos séculos. Amém"), os esquemas de discurso ("antes
éreis..., agora sois...").
A comparação com outros escritos cristãos, sobretudo do Novo Testamento, é um bom
motivo para o descobrimento das tradições. Mas o uso repetido e despreocupado, sem maiores
explicações, de certos termos pode ser indício suficiente de que a tradição existia.
No caso de Paulo, torna-se cada vez mais evidente que a custo se encontrará em suas cartas
um só versículo que não reflita alguma tradição.

9. O "trabalho manual" de Paulo


Se as "fontes" e as "formas" nos falam de possíveis "incrustações" (anteriores ou
posteriores à composição da obra), se as "tradições" nos dão os pontos de partida mentais, como
as tonalidades de uma paleta de pintor, para a reflexão do apóstolo, parece que a análise crítica
deveria terminar aqui: tudo o mais é fruto do trabalho pessoal de Paulo ou do autor
correspondente.
De todos os modos, os olhos e os ouvidos acostumados a esse tipo de crítica se sentirão
aqui tentados a continuar a análise e continuarão encontrando algo assim como "peças
independentes" no interior das cartas. Por exemplo, o "hino à caridade" de 1Cor 13.
Isto levou alguns autores a falar da "escola de Paulo", na qual ter-se-iam formado os que
nas cartas aparecem como co-autores (Silvano, Timóteo, Sóstenes) e puderam continuar
produzindo depois da morte do apóstolo. Esta atividade escolar teria o seu reflexo no interior das
cartas autênticas: o apóstolo, em companhia de seus discípulos, teria elaborado pequenas peças,
como sínteses de sua pregação, e em seguida as teria incorporado em suas cartas.
Sem negar esta possibilidade, poderíamos pensar, em vez de em uma "escola", mais na
"pasta de anotações" do apóstolo: ele mesmo tinha de falar para diversos públicos em diversas
ocasiões e, em algum momento, podia incorporar às suas cartas aquilo que teria preparado como
pauta para a sua pregação.
Nesse assunto, será sempre difícil chegar a soluções definitivas. Mas a atenção às mudanças
de tonalidade e de densidade no discurso podem ajudar-nos a compreender melhor a
personalidade própria de certos fragmentos. Pelo menos, se não conseguinnos identificar com
certeza os textos preexistentes (como os que aparecem tanto na Carta aos Gálatas como na
Segunda carta aos Coríntios), poderemos dar destaque ao desenvolvimento próprio das diversas
"jornadas de trabalho".

10. A materialidade das cartas


Anteriormente falamos do "trabalho manual" de Paulo como de uma escrivaninha para
redação.
Nesse "trabalho manual" devia haver algum "colaborador". Em Rm 16,22 saúda um tal de
Tércio, "que escrevi esta carta". Em outras cartas, dá-se tão pouco destaque ao que o apóstolo
escreveu de seu próprio punho e letra (Gl 6,11; Cl 4,18; Fm 19), que é preciso supor que para o
resto da carta tinha também contado com um colaborador. O que se torna difícil é saber quais as
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cartas e em que medida esse "colaborador" teve ocasião de colocar algo próprio, que o
transformasse em co-autor da carta.
Quem poderia considerar-se como co-autor, a julgar pelo saudação das respectivas cartas,
seria Sóstenes, para a Primeira Carta aos Coríntios; Timóteo, para a Segunda Carta aos Coríntios,
Carta aos Filipenses, Carta a Filêmon e Carta aos Colossenses; ele mesmo, junto com Silvano,
para a Primeira e Segunda Carta aos Tessalonicenses, e provavelmente "os que estão comigo",
para a Carta aos Gálatas. No fio condutor desta indicação, entendeu-se muitas vezes o emprego
da primeira pessoa do plural em alguns textos (por exemplo 1Cor 4,9-13; 1Ts 2,1-12), por mais
que nesses mesmos contextos (cf. 1Cor 4,14; 1Ts 2,11: "como um pai a seus filhos") não deixa de
transparecer o apóstolo como pessoa singular.9
11. A ordem das cartas
Uma exposição coerente das cartas paulinas precisa renunciar de antemão a apresentar as
cartas na ordem em que aparecem no Novo Testamento, o que se fundamenta, principalmente, no
critério do tamanho ou extensão da carta.
O ideal seria apresentá-las na ordem em que foram escritas, mas essa ordem está sujeita a
discussões e, portanto, não se pode estabelecer até que as cartas tenham sido estudadas.
Por isso, nos contentaremos, em estabelecer alguns pontos sólidos com os quais se possa
estabelecer um esquema geral, que nos permita estudar cada carta no contexto que mais nos
possa ajudar a compreendê-la. Os pontos mais sólidos seriam:
1. A Primeira carta aos Tessalonicenses é a primeira carta de Paulo.
Pertence à primeira grande missão do apóstolo, que conhecemos como "segunda viagem"
apostólica. A viagem vai de Tessalônica a Atenas e Corinto e a carta situa-se, o mais tardar, nessa
última fase.
2. No caso de ser autêntica, a Segunda carta aos Tessalonicenses seria a segunda das
cartas de Paulo.
O horizonte de compreensão em que é colocada esta carta é exatamente o da primeira.
Encontramos muito material comum às duas e, por outra parte, não existem alusões a
deslocamentos ou acontecimentos novos. Na hipótese de não ser autêntica (hipótese que vai ser
levada em consideração), tratar-se-ia de uma composição plenamente imitada das circunstâncias
que motivaram a primeira carta.
3. A (chamada) Primeira Carta aos Coríntios é anterior à (chamada) Segunda Carta aos
Coríntios.
Foi escrita de Éfeso (16,8) e a única visita anterior que menciona (2,1-4) é a da
evangelização. A Segunda Carta aos Coríntios, por outro lado, em todas as suas partes pressupõe,
como veremos, uma segunda visita à comunidade constituída (cf. 12,14; 13,1) e uma outra série
de acontecimentos.
4. A Carta aos Gálatas é provavelmente posterior à Primeira carta aos Coríntios e
certamente anterior à Carta aos Romanos.
A referência a uma coleta que se pede "às igrejas da Galácia", em 1Cor 16,1, entende-se melhor
se ainda não se instalou a crise que motivou a Carta aos Gálatas. Portanto, sem excluir de todo as
outras hipóteses, consideramo-la anterior. De outra parte, pode ser considerado como certo que é
anterior à Carta aos Romanos, carta que desenvolve e amplia uma série de temas simplesmente
esboçados na Carta aos Gálatas.

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A interpretação indiscriminada do "nós" como "autêntico plural" pode induzir, por exemplo, a entender
"apóstolos" em 1Ts 2,7 como aplicado também aos companheiros de Paulo; cf, E. E. Ellis, Paul and His Co-
Workers, NTS 17 (1971) 437-452. De todos os modos, um tanto mais adiante, em 1Ts 3,1, Paulo diz:
"Resolvemos ficar sozinhos em Atenas", frase que, segundo o contexto (ver os comentários), se aplica somente a
Paulo.

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5. A Carta aos Romanos é posteríor à correspondência aos Coríntios.
Em 2Cor 10,15s se dá a entender que o que impede o apóstolo de ir "muito mais além",
para evangelizar, é justamente a crise em Corinto (entre parêntesis: não a da Galácia), que
motivou a carta. Por outro lado, em Rm 15,23 diz que não há mais campo de trabalho naquelas
regiões: com isso considera resolvido o problema de Corinto. Portanto, a Carta aos Romanos é
posterior.
6. Discute- se em relação ao "cativeiro" em que foram escritas a Carta aos Filipenses e a
Carta a Filêmon.
Nada consta sobre a simultaneidade das duas cartas, pois em Fl 4,22 somente são enviadas
saudações "aos da casa de César", enquanto que em Fm 23s há uma série de pessoas que enviam
saudações. Têm em comum o tema das "prisões", mas essas "prisões", como veremos, podiam ter
acontecido a Paulo em Éfeso, em Cesaréia e em Roma. Se alguma das duas cartas foi escrita a
partir de Éfeso, seria anterior a (alguma parte da) Segunda carta aos Coríntios.
7. Caso seja autêntica, a Carta aos Colossenses é estritamente contemporânea à Carta a
Filêmon.
Tanto as pessoas que são mencionadas como as que enviam saudações aparecem em sua
maior parte (com detalhes interessantes) tanto na Carta aos Colossenses como naquela dirigida a
Filêmon. Se esses detalhes forem reais, as duas cartas seriam contemporâneas; se em Colossenses
são fictícios, esta será evidentemente posterior.
8. Em qualquer caso, a Carta aos Efésios é posterior à Carta aos Colossenses.
A questão fica clara para quem aceite a autenticidade da Carta aos Colossenses e não a da
Carta aos Efésios. Mas pode sê-lo também, tanto para quem negue a autenticidade de ambas,
como para quem as aceite como autênticas. A razão está no conteúdo: a Carta aos Efésios
desenvolve e amplia uma série de temáticas esboçadas na Carta aos Colossenses e, por isso, deve
ser posterior.
9. As Cartas Pastorais (Primeira e Segunda Carta a Timóteo e a Carta a Tito) são
provavelmente posteriores às demais cartas que levam o nome do apóstolo.
A questão está clara para quem entenda que somente as Cartas Pastorais (Primeira e
Segunda Carta a Timóteo e Carta a Tito) foram escritas depois da morte do apóstolo. Entre os
que se atêm às "sete indiscutíveis" é também freqüente deixar para estas cartas o último lugar.
Inclusive entre os defensores de sua autenticidade é freqüente situá-las num período da atividade
e do cativeiro do apóstolo, posterior ao cativeiro a que se alude em At 28,30s; portanto, em um
momento em que as demais cartas já tinham sido escritas.
10. A Carta aos Hebreus pode ter sido escrita antes de qualquer outro escrito paulino,
mas distingue- se das demais por ser evidentemente obra de um outro autor
É freqüente entre os autores considerar que a Carta aos Hebreus é anterior à de Clemente,
privilégio que não outorgam aos outros escritos que levam o nome do apóstolo Paulo. Mas não é
menos evidente que procede de um autor distinto de Paulo. Por isso, torna-se clara a sua
colocação no final de um estudo sobre os escritos paulinos.
Com isso, já passamos dos critérios de prioridade histórica aos critérios da disposição
prática. Nos pautaremos pelos dois critérios que seguem:
a) Não dar por encerradas as questões abertas (como a autenticidade da Segunda Carta aos
Tessalonicenses, Carta aos Colossenses, Carta aos Efésios, Primeira e Segunda Carta a Timóteo e
Carta a Tito).
b) Estudar cada carta à luz daquelas que mais nos possam ajudar a compreendê-la.

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