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Por que e como as coisas mudam?

Padronização e
variação no campo do discurso científico1

Francis Grossmann
(Laboratoire LIDILEM, Université Stendhal, Grenoble III, França)

Introdução

Por que e como levar em conta a variação no campo dos discursos


científicos? E qual pode ser o interesse sobre uma abordagem
variacionista dos discursos científicos? De maneira que pode parecer
paradoxal, o postulado de partida, desenvolvido aqui é que ter em conta a
variação torna-se o único meio para preservar a unicidade de uma
macrocategoria como o discurso científico (DC, doravante), que abarca as
diferenças disciplinares e metodológicas, as quais clivam as formas de
escrituras científicas. O termo variação engloba dois aspectos que
merecem ser diferenciados: oporei assim a diversidade ligada às
diferenças de gênero, de língua, de cultura, de disciplinas, de paradigmas,
de metodologias à variação interna que concerne às margens que podem
ser autorizadas – em que alguns se autorizam – em relação às normas no
núcleo de um mesmo gênero e no núcleo de uma mesma disciplina. A tese
desenvolvida com nossa contribuição pode ser resumida da seguinte
maneira:

1 Versão traduzida do artigo “Pourquoi et comment cela change? Standardisation et


variation dans le champ des discours scientifiques”, publicado em Pratiques, nº
153-154, Littéracies universitaires: nouvelles perspectives, pp. 141-160, 2012.

1
– as abordagens comparativas, notadamente aquelas no percurso da
“retórica contrastiva”, apesar de seus aportes, têm, até o presente,
considerado muito pouco a variação interna, o que as conduz, de fato, a
reforçar as normas existentes que generalizam as tendências observadas
no centro de certas culturas ou de certas disciplinas.
– como um corolário, a diversidade genérica e disciplinar foi estudada
talvez de maneira bastante fina, mas seus pesquisadores tiveram a
tendência de considerar disciplinas, gêneros e línguas como
pré-construídos; de onde vem, de igual modo, o caráter de fracamente
explicativo das diferenças observadas: as diferenças parecem destacar, de
“natureza” intrínseca, disciplinas e/ou línguas/culturas, sem que sejam
suficientemente levados em conta a evolução histórica de disciplinas e de
gêneros, o peso das instituições, o jogo de influências entre disciplinas e
mesmo os percursos individuais. O ponto de vista adotado se mostra
essencialmente crítico e programático, o que parece necessário ao estágio
atual.
Na primeira parte, retomarei os fundamentos de uma abordagem
unificadora dos DCs. Numa segunda, resumirei algumas das principais
abordagens que tentaram considerar a variação cultural, disciplinar e
linguística, destacando as contribuições, mas também apontando seus
limites.

Uma ciência una... mas divisível

Uma constatação: contrariamente ao que se poderia pensar, os


DCs, enquanto tal, foram, de forma conclusiva, relativamente pouco
analisados no quadro da análise do discurso de inspiração linguística. Vou

2
me referir, entretanto, no campo da francofonia, aos trabalhos de
Loffler-Laurian (1980, 1983) sobre a expressão do locutor em química e
em física ou, nas ciências humanas, aos trabalhos de Pêcheux (reunidos
por Denise Maldidier em 1990 em Inquiétude du discours), de
Maingueneau e Cossuta (1995) sobre os “textos constituintes”, de
Guillaumou e Maldidier (1986) sobre os textos históricos. A análise do
discurso privilegiou, durante muitos anos, os discursos políticos, os
discursos da imprensa ou, ainda, a vulgarização científica, às vezes
assimilada um pouco rapidamente aos discursos científicos. Mais
recentemente, a pesquisa didática se interessou pelo que é chamado, nos
países anglófonos, academic writing e que se traduz em francês, bem ou
mal, por écrit universitaire, noção demasiado ampla para ser
verdadeiramente operacional.2 O fato de deslocar o cursor do âmbito da
escrita científica e, de maneira mais geral, das estratégias de
conhecimento científicas apresenta, então, uma dupla vantagem: evita o
viés institucional que a expressão academic writing implica e só encara as
normas universitárias como outras quaisquer, sendo a questão central as
características da discursividade científica.

Dos estereótipos a uma representação prototípica

Tradicionalmente, os estudos da ciência (Science Studies)


privilegiaram as ciências exatas, uma vez entendido que eles

2
A expressão escrita de pesquisa, utilizada em particular pelas equipes do Theodile e
pelas do Lidilem (ver, p. ex., Reuter 1998 ou De Nuchèze 1998), apresenta uma
vantagem certa com relação a escrita universitária, que parece confinar a pesquisa ao
seio da instituição acadêmica, mas ela não parece integrada, de maneira
suficientemente visível, ao campo dos Science Studies, atualmente dominado pela
sociologia das ciências.

3
representariam, da maneira mais típica, os procedimentos de
demonstração e de prova implementados nas etapas que se tenta analisar,
numa ótica que considera que a cientificidade se mede pela capacidade de
reproduzir os mesmos resultados, a partir das mesmas premissas ou a
partir dos mesmos dados experimentais. Entretanto, pode-se constatar
(Rosental 2009) que o termo demonstração reenvia a práticas e a objetos,
eles próprios muito diferentes, quando compreendidos no interior das
ciências dedutivas. A prioridade dada às ciências exatas teve como
corolário a ideia de que seus procedimentos se situavam fora do campo
social. As normas que são progressivamente impostas aos textos
científicos parecem repousar sobre um postulado de unicidade,
fundamentalmente ligado à universalidade do raciocínio científico ou,
mais amplamente ainda, à existência de princípios gerais que regem a
cognição humana, logo testemunhando, por exemplo, a universalidade das
regras lógicas, elas mesmas acima das contingências da expressão
linguística. É dessa forma que Sabine Schwarze nos faz lembrar (2008,
p. 4):

Sobre esta linha universalizante continua-se a definir o estilo


científico no quadro de uma concepção europeia idealizada,
que vê na ciência essencialmente o reflexo da verdade e na
língua, utilizada por um autor falível, um obstáculo à
expressão das verdades científicas.

Essa concepção conduz a postular um modelo único de atividade


científica, identificada às representações características das ciências
experimentais. Todavia, a unicidade proclamada da ciência não esconde,
por muito tempo, a diversidade das práticas científicas e, menos ainda, as
partições entre os diferentes domínios científicos que fundam também
compartilhamentos de disciplinas institucionalizados, induzindo

4
dicotomias tais como ciências exatas versus ciências humanas, ciências
fundamentais versus ciências aplicadas etc.; a isso correspondem também
diferenças evidentes no plano dos objetos, dos métodos, das estratégias
cognitivas visadas e, igualmente, das práticas de escrita. O que haveria em
comum, com efeito, entre um artigo de etnologia, que pode adotar a forma
de um relato, e um artigo de biologia médica que se prende ao formato
IMRaD?3 Parece mais eficaz comparar as disciplinas pertencentes a uma
mesma família de escrita científica do que tentar aproximar
artificialmente escritas que parecem se opor totalmente. Esse argumento,
todavia, precisa ser detalhado, na medida em que a variação atravessa o
interior de disciplinas e de comunidades científicas, seja através da
fragmentação das disciplinas e das comunidades científicas, seja através
da fragmentação em subdisciplinas (psicologia clínica versus psicologia
cognitiva), seja através do uso de metodologias: a fonética de hoje
pretende-se experimental, mas se aproxima muito das ciências humanas.
Torna-se cômodo estabelecer duas famílias principais de modelos de
cientificidade:4
– os modelos de predição (ex.: física) fundados sobre uma abordagem
hipotético-dedutiva e, nas ciências empíricas, sobre uma abordagem
experimental; epistemologicamente, eles se prestam à exigência da
falsificação popperiana;
– os modelos hermenêuticos (ex.: história) através dos quais a validação
passa pela verificação das fontes e a verificação de sua confiabilidade; o

3
Trata-se de um acrônimo para os seguintes termos: Introdução, Métodos, Resultados e
Discussão. Como observa Pontille (2007), esse formato, imposto às disciplinas
experimentais, não é uma simples “folha de estilo”, mas igualmente um dispositivo
cênico que permite a expressão da prova.
4
Que se traduz igualmente por meio da oposição clássica entre ciências nomotéticas e
ciências hermenêuticas, como observa J.-L. Fabiani, a quem agradeço de passagem por
sua leitura atenta.

5
conhecimento do contexto guia a interpretação, e o pesquisador se apoia
nas tradições interpretativas para compreender o sentido de um detalhe
dentro do conjunto etc.
A cada um desses dois tipos correspondem formas específicas de
validação; as características da escrita produzida dependem, em parte, do
modelo de cientificidade implícita ou explícita adotado pelo pesquisador.
Não se trata de negar o fato de que um salto qualitativo opõe ciências da
natureza a ciências do homem, uma vez que a dimensão “interpretativa”
assume, no segundo caso, uma importância muito grande. O detalhe que
se pode apresentar é que, frequentemente, na ciência moderna, modelos e
metodologias cruzados ou complementares são mobilizados para melhor
apreender a complexidade dos objetos a serem abordados. Um arqueólogo
ou um psicólogo faz apelo a dispositivos experimentais para verificar
algumas de suas hipóteses. A medicina se funda, em grande parte, sobre
dados experimentais, mas comporta também uma semiologia dos
sintomas, e sobre um “saber-fazer” que a aproxima, em certos casos, da
hermenêutica e mesmo de uma “arte” etc. E mesmo uma ciência
experimental como a física comporta, igualmente, uma parte
interpretativa que exige a validação de fontes ligadas à observação, ou
mesmo uma certa parte da semiologia, dado o aumento da proporção da
imagem na instrumentação.
Qualquer que seja o modelo de cientificidade sobre o qual se
apoie, o fato de trazer a convicção dos pares torna-se uma operação
complicada, que não mais repousa sobre a única clareza da abordagem
científica mobilizada e sobre o estatuto da prova propiciada. Os
procedimentos de adesão e de persuasão a uma nova teoria científica
estão ligados à construção de novas comunidades (ver Kuhn 1962,

6
Feyerabend 1975), as quais dão origem a rupturas, debates, polêmicas...
Pode-se insistir, como o faz Bourdieu (1984), sobre a concorrência num
campo científico, fundamentando-se sobre uma visão agonista e não
irenista da ciência (ver também Olivesi 2007). Está claro que as
disciplinas são estruturadas por essas oposições, que manifestam suas
evoluções internas, colocando em evidência as mudanças de paradigma e
de metodologia, e que pesam também diretamente em sua estruturação
discursiva. Touati (2010) mostra, por exemplo, as controvérsias que
foram desenvolvidas em fonética, no momento em que a disciplina se
renova a partir de procedimentos experimentais e novos instrumentos
passam a influenciar a própria estrutura textual da tese, provocando
debates dentro das academias; alguns foneticistas tradicionais
permaneceram presos à “tese suma” distante da nova concepção dos
experimentalistas. Se adotarmos essa visão, ao mesmo tempo holista e
variacionista, da atividade científica, o protótipo, que pode acomodar uma
representação comum e unificadora da atividade científica, pode ser
enumerado em quatro pontos:
– existência de um raciocínio (raciocínio hipotético-dedutivo e/ou
indutivo);
– existência de um dispositivo metódico, permitindo a coleta e o
tratamento de informações e/ou de dados, qualquer que seja a natureza
desse dispositivo;
– existência de um sistema de provas: essas provas que podem, elas
próprias, ser de natureza muito diferente, requerem um sistema
argumentativo visando à adesão do público científico;
– existência de resultados e comunicação desses resultados numa
comunidade de pares sob formas padronizadas.

7
Esses quatro constituintes deixam de lado aspectos muito
importantes, caracterizando a atividade científica, em particular tudo o
que concerne ao questionamento, à intuição, à imaginação, à criação;
esses aspectos concernem igualmente à atividade artística e literária:
embora fundamentais, eles, portanto, não figuram como tal na
representação prototípica da atividade científica.

A ideia de um estilo científico “universal”

Schwarze (2008) lembra que o sociólogo Gusfield, na sua obra


sobre a retórica da ciência, propôs, como definição do estilo científico, a
ausência de qualquer estilo, logo o “não estilo”. Alguns autores, ressalta
ainda Schwarze, tentaram definir mais positivamente um “estilo científico
universal”. É o caso, por exemplo, de Kocourek, que o resume em quatro
traços principais: sistematização nocional; precisão semântica com um
tabu contra metáforas (pelo menos aquelas que têm uma função
puramente ilustrativa); neutralidade emotiva e afetiva com um tabu contra
o “eu”; economia formal acompanhada de um tabu contra o narrativo. O
primeiro critério se funda sobre o corte do campo nocional considerado e
concerne, igualmente, às técnicas e, de maneira geral, a todo domínio
especializado; o critério de precisão semântica é, sem dúvida, um critério
definidor e relativamente eficaz, mas não é suficientemente
discriminativo (ele é, talvez, ainda mais requisitado no domínio técnico
do que no científico); o tabu contra metáforas remete a uma concepção
ornamental das metáforas, enquanto as metáforas têm, muitas vezes, uma
função interpretativa ou heurística e são, às vezes, utilizadas no estilo
científico. Do mesmo modo, o critério de neutralidade emotiva e afetiva

8
se fundamenta na necessidade de apagamento enunciativo, mas esse
apagamento não implica aquele do sujeito epistêmico; a ideia de que o
sujeito epistêmico não se confunde com a pessoa individual do
pesquisador não oblitera, portanto, a necessidade do posicionamento
científico. Enfim, o tabu contra a narração se aplica mal às ciências
humanas e, mesmo nas ciências exatas, certas formas de relato podem ser
encontradas.
É, portanto, difícil, a partir de tais critérios, definir um estilo
científico universal, sem dúvida propriamente inencontrável. Isso não
impede de reconhecer uma tendência à aproximação das formas
discursivas científicas, nem de negar as influências recíprocas ligadas à
modalização da ciência para o desenvolvimento de normas, que se
traduzem por certas tendências comuns, como o apagamento enunciativo
assim como a mobilização de um léxico “transdisciplinar”, própria a toda
comunicação científica. A utilização de um tal léxico comum, de
palavras-chave como postulado, hipótese (Cavalla e Grossmann 2005)
por diferentes disciplinas, por exemplo, não garante, evidentemente, que
se esteja tratando das mesmas coisas. Existe, contudo, um ar familiar
entre esses diferentes usos que colore o conjunto dos discursos científicos.
Alguns autores, como Spillner (1989), falam de convenções de estilo
(Stilkonventionen), que seriam diferentes, segundo as línguas/culturas.
Boa parte dos trabalhos provenientes da retórica contrastiva – voltaremos
a ela mais à frente – teve como alvo refutar o ponto de vista universalista,
insistindo sobre a relatividade dos estilos científicos, em relação às
normas das línguas/culturas e das disciplinas.

A padronização da escrita científica e seus limites

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Pode-se observar um duplo movimento contraditório: por um lado,
em certas disciplinas, notadamente nas Ciências Humanas e Sociais,
assim como em certas tradições que não recorrem às marcas pessoais
(como na França), existe uma “personalização” aparente da escrita
científica através da utilização maior de formas pessoais (pronomes de 1a
pessoa, aí incluído o “eu”) e, portanto, um “efeito de presença” do autor.
Inversamente, porém, o desenvolvimento do plano IMRaD, nas
disciplinas científicas primeiramente, mas também em certas ciências
humanas e sociais, conduz também a acentuar a despersonalização (já de
costume presente através do apagamento enunciativo classicamente
evocado pela escrita científica).

A estrutura IMRaD
Os efeitos do plano IMRaD foram bem analisados por Pontille
(2007, p. 13), que mostra em que esse formato se apresenta como um
padrão de estruturação do trabalho coletivo, apontando suas limitações
como uma ferramenta para a avaliação da prática científica:

“O formato IMRAD participa plenamente da estruturação de


uma ecologia profissional singular nas atividades científicas:
a comunidade de pesquisadores agrupados em torno de
procedimentos experimentais. A forte legitimidade desses
últimos constitui uma linha de tensões, particularmente
pronunciada em certas ciências sociais, entre os partidários
da abordagem experimental, cujos resultados são apoiados
sobre a validade dos números e sobre aqueles da tradição
hermenêutica, que apontam para a construção da
inteligibilidade através do significado das palavras.”

O resultado dessa estruturação opõe o estatuto da escrita nas


ciências sociais àquele das ciências experimentais: de fato, a escrita pode
ser lida, no primeiro caso, como um texto “pleno”, funcionando a forma

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textual na dimensão matética, enquanto que, no segundo caso, ele não é
mais que um simples relato de conhecimentos produzidos, sendo que a
parte “discussão” concentra, pelo menos na aparência, o debate
argumentativo, mas somente com a apresentação dos resultados obtidos.
Essa disjunção pesa, ela mesma, no estatuto do autor, que pode conservar
ou não uma presença individual “absoluta” no sentido “literário” do termo
ou ter apenas uma presença mínima, não sendo a escrita, nesse caso, mais
do que a norma padronizada em conformidade com um grupo profissional
e construindo, muitas vezes, a ideia de um autor coletivo (Pontille 2004).
Como lembra ainda Pontille, se a argumentação pessoal parece diminuir,
o peso argumentativo não desaparece. Ele é, no dispositivo da IMRaD,
assumido pela estrutura textual que herda desse fato uma função
simbólica, tornando possíveis os efeitos de imposição, e mesmo de
falseamento (dando a estrutura textual a impressão de apenas ela “fazer
ciência”). Os estudos sobre as culturas disciplinares (ver, em particular,
Fløttum 2007) mostram que, por ora, esse tipo de formato permanece,
porém é pouco frequente em linguística e mesmo em economia. Seria
necessário, sem dúvida, medir mais precisamente o grau de penetração
atual nas diferentes disciplinas do formado IMRaD, ou de outros formatos
padronizados.

O apagamento enunciativo
A regra do apagamento enunciativo parece consubstancial à
escritura científica. Todavia, como veremos a propósito da retórica
contrastiva, a interpretação das marcas que indicam a exclusão do
enunciador é relativamente complexa, já que os sistemas variam tanto
para línguas como para disciplinas. É delicado mostrar interesse pela
forma passiva, pelo We, pelo I, pelo Je ou pelo Nous, sem analisar com

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detalhes o papel dos índices de pessoa, em função da história de uma
língua. O uso do on em francês fornece um exemplo marcante: sua
plasticidade faz dele um instrumento que permite ora o apagamento do
escritor, ora a conivência, com implicação do leitor (Fløttum, Jonasson e
Noréen 2007). Pode-se constatar, todavia, qualquer que seja a disciplina e
os campos de pesquisa, uma tendência geral para esse apagamento. Essas
constatações conduzem a refutar a autonomia dos domínios que seriam
apresentados a priori como radicalmente diferentes, seja do ponto de vista
das abordagens, seja da atividade escritural.

As abordagens contrastivas da escrita científica: contribuições e


limites

A retórica contrastiva

A comparação das especificidades da escritura científica, segundo


as línguas e as culturas, deu lugar a numerosos trabalhos interessantes e
documentados nestes últimos anos. Esses diferentes trabalhos se
inscrevem, sobretudo nos países anglo-saxônicos, mas também na
Alemanha e, mais recentemente, em outros países, em uma importante
corrente que reivindica, a partir das pesquisas pioneiras de Robert Kaplan
(1966, 1972), a “retórica contrastiva”. Essa abordagem nasceu da
constatação dos limites da linguística geral e contrastiva, que parecia estar
confinada ao nível da frase, sem levar em conta as estratégias textuais.5
Os autores associados à retórica contrastiva defendem a ideia,
dificilmente contestável em si mesma, de que, à medida que a escrita –

5
Essas estratégias textuais são vistas como enraizadas na cultura, o que dá um sentido
muito específico ao termo retórica, em relação ao seu emprego mais clássico (para uma
apresentação dessa corrente, ver Connor 2002).

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aquilo que nos ocupa aqui: a escrita científica – é fundamentalmente um
fenômeno cultural, sua organização (entendida essencialmente como
superestrutura, organização textual, cf. a organização paragráfica,
estudada por Kaplan) está condicionada pelas características culturais
específicas, adequando-se ao contexto próprio da sociedade que as
produziu. Em sua tese, Poudat (2008, pp. 62-63) sintetiza essa
contribuição da retórica contrastiva, focalizando mais especificamente a
corrente ESP (“English for scientific purpose”). Ela lembra que, segundo
essas pesquisas, os artigos anglo-saxônicos seriam geralmente “orientados
para o leitor”; o emprego do estilo dialógico (ou reader-friendly)
apresentaria o artigo científico como um contrato a ser negociado, no qual
seria dado ao leitor o sentimento de participar; esse não seria o caso, por
exemplo, da tradição intelectual germânica, que se fundamentaria num
estilo monológico (exposição/contemplação) que valorizaria mais a
criatividade do autor. Não se pode impedir de pensar que a retórica
contrastiva continua, no essencial, a se apoiar, implícita ou
explicitamente, sobre a noção de estilo intelectual, ligado, principalmente,
a tradições nacionais, consideradas como autônomas e concorrentes.
Johann Galtung (1985), partindo de uma observação sociológica das
relações, identificou quatro estilos intelectuais (“teutônico, saxônico,
gaulês e nipônico”). Essa tipologia é, evidentemente, muito criticável,
como o mostra S. Schwarze (2008) a propósito do estilo gaulês,
colocando em evidência a fragilidade da argumentação de Galtung,
apoiada no papel da elegância, nas figuras retóricas e nos jogos de
palavras que seriam os meios decisivos de persuasão e pareceriam, assim,
excluir as virtudes universais do discurso científico.

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Contrariamente aos trabalhos de Galtung, os estudos de Clyne
(1978, 1991) repousam sobre uma base empírica (ainda que limitada). O
corpus de 1991 compreende 52 textos, dos quais a metade é escrita por
alemães, e a outra metade, por cientistas anglófonos. Clyne compara as
diferenças organizacionais dos textos acadêmicos anglo-saxônicos e
alemães e quer mostrar que, se os primeiros têm tendência a privilegiar os
desenvolvimentos lineares, a explicitação prévia dos termos empregados
ou o estilo amigável de leitura, os segundos preferem os
desenvolvimentos digressivos e a não explicitação dos termos, ligada à
idealização do saber. Entre os anglo-saxônicos, seria o autor que deveria
se esforçar para tornar seu texto legível, enquanto caberia aos leitores
fazer o esforço de adaptação nas comunidades germânica e francesa.
Diversos estudos (por exemplo, Saville-Troike 1982) vão muito além na
generalização e também descrevem a tendência que teriam as culturas do
Ocidente, consideradas “mais individualistas”, para empregar estilos mais
diretos e explícitos, enquanto que as sociedades do Oriente insistiriam
mais sobre os valores coletivos e a harmonia do grupo, usando um estilo
interativo mais defensivo e mais impreciso. As críticas do etnocentrismo,
muitas vezes emitidas contra abordagens da retórica contrastiva,
encontram-se aqui plenamente justificadas, dado o caráter muito global e
muitas vezes questionável de tais afirmações. Especialmente, a variação é
remetida para especificidades culturais globais, em vez de ser analisada
em função de fatores históricos, sociológicos, ou a partir de um estudo
detalhado dos contextos de produção, bem como a partir de uma análise
circunstanciada de tradições que orientam a recepção. No entanto, outros
autores propuseram uma abordagem mais sutil e mais bem sustentada
empiricamente. Schwarze (2008, p. 10), resumindo as contribuições da

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germanística intercultural, sinaliza que, de acordo com Schröder (2005) e
Gnutzmann (1989), as diferenças na determinação dos textos por
tradições discursivas particulares se explicariam seja pela disciplina, seja
pelos paradigmas científicos a que os cientistas se vinculam. Gnutzmann
(1989) tinha restringido sua abordagem ao fator disciplinar, destacando as
diferenças entre as disciplinas científicas de teor mais transcultural e
aquelas que seriam marcadas pelos modelos discursivos específicos de
uma cultura linguística particular. Reutner (2010, p. 82) insiste, por seu
lado, sobre o fato de que as tradições nacionais são menos pregnantes que
as tradições culturais, assim como as disciplinas, subdisciplinas e escolas
(ver também sobre esse ponto Fløttum 2004, p. 403, e Fløttum et al.
2007).

As pesquisas sobre o metadiscurso

Na continuação imediata das pesquisas realizadas em retórica


contrastiva, alguns autores, sobretudo o inglês Ken Hyland, se mostraram
particularmente interessados – apenas para o inglês, no que se refere a
Hyland – no uso diferenciado, segundo as disciplinas e, por vezes,
segundo igualmente certas línguas/culturas, de certos tipos de marcas.
Hyland usa o termo metadiscurso como uma etiqueta que absorve o
conjunto das marcas que implicam uma forma de reflexividade do escritor
no quadro da negociação interativa com os leitores, vinculados a uma
comunidade específica. As marcas de metadiscurso são, portanto, bastante
numerosas e muito variadas. Diversas classificações são retomadas e
analisadas em Hyland (2005). A maioria das tipologias parte da
classificação estabelecida por Vande Kopple (1985), a partir da distinção
clássica feita por Halliday (1973) entre duas macrofunções da linguagem,

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uma denominada “textual”, a outra, “interpessoal”. A primeira função (à
qual corresponderia o metadiscurso textual) permite o desenvolvimento
de estratégias retóricas do escritor, possibilitando a textualização da
experiência de maneira coerente; é a partir dela que se constrói a estrutura
textual. A segunda, correspondente ao metadiscurso interpessoal,
concerne aos aspectos interacionais e avaliativos da presença do autor em
seu discurso. Essa segunda categoria de marcas constrói mais diretamente
a figura do autor. As pesquisas recentes tiveram, todavia, a tendência a
relativizar essa oposição, a partir da constatação de que o aspecto
interacional é central na definição de metadiscurso e os objetivos retóricos
não podem ser distinguidos claramente desse aspecto interpessoal. Se não
podemos a não ser subscrever essa mudança, também vemos que tudo, ou
quase tudo, pode se tornar metadiscurso e, assim, nos deparamos com a
mesma dificuldade com a noção de metalinguagem.6
Numa abordagem funcional, a noção de metadiscurso mantém,
porém, um interesse: para Hyland, o metadiscurso possui uma função
importante de guia e permite tornar um texto de fácil leitura,7 mas ele
exerce igualmente um papel social, ao facilitar a inserção do texto num
dado contexto, permitindo a boa recepção da mensagem, no quadro da
comunidade do discurso considerado. No discurso científico, o
metadiscurso contribui para colocar de maneira pertinente a voz do
escritor, entre segurança e retenção, e a estabelecer uma ligação de
confiança com seu público. Situando-se numa perspectiva claramente

6 Lembremos a afirmação de Lacan, segundo a qual não existe metalinguagem, ou seja,


um ponto de vista exterior à linguagem; a metalinguagem está em toda parte, já que o
trabalho linguageiro final inclui sempre um ponto de vista sobre seu próprio
funcionamento.
7
Notemos que essa noção é ideologicamente carregada e muito relativa: em função do
contexto cultural, o que é apresentado como “facilitador de leitura” para uns aparecerá
como didatismo pesado, afeiçoado aos “direitos do leitor” para outros.

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pragmática e funcional, Ken Hyland distingue duas dimensões. A
dimensão interativa concerne à maneira pela qual o escritor antecipa as
expectativas e os conhecimentos prévios do leitor e ao modo pelo qual a
organização do texto responde às necessidades específicas de um
conjunto de leitores particular.8 A dimensão interacional leva em conta os
meios pelos quais o escritor conduz a interação, discorrendo ou
comentando sobre certos aspectos de sua própria mensagem; os objetivos
do escritor estão aqui para explicitar suas intenções e envolver os leitores;
essa dimensão é, portanto, principalmente dialógica, avaliativa e
argumentativa; as marcas implicadas nessa dimensão são os
modalizadores; as marcas de posicionamento que permitem exprimir o
ponto de vista do escritor (p. ex.: infelizmente, felizmente, notável...); as
marcas de primeira pessoa, pronomes pessoais ou possessivos (Eu, me,
meu, minha, nós acadêmico “exclusivo”, nosso...); os marcadores de
implicação que visam a “englobar” o leitor e a implicá-lo num raciocínio,
numa demonstração (p. ex., nós inclusivo, marcas de segunda pessoa,
você pode notar etc.).
No que concerne às diferenças de emprego dos marcadores de
metadiscurso, segundo línguas/culturas, dispomos de alguns estudos
(resumidos em Hyland 2005, pp. 117-118). Bloch e Chi (1995), por
exemplo, examinam, em 120 artigos escritos em inglês e em chinês, as
marcas de sua evidência e a maneira pela qual os autores citam suas
fontes. Contrariamente ao que geralmente é dito (os chineses seguiriam de
maneira não crítica a tradição confuciana, privilegiando valores de

8
Os marcadores utilizados permitem assinalar as transições textuais, evidenciar a
estrutura textual, de colocar em evidência a estrutura, remeter o leitor a outros lugares
do texto; precisar a fonte de uma ideia, de um ponto de vista; explicitar ou reformular
um elemento textual com a ajuda de marcadores de reformulação.

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transmissão em detrimento de valores críticos da tradição ocidental, que
valorizaria, em relação a si mesma, a novidade e a criatividade), Bloch e
Chi mostram que as coisas se apresentam de modo mais complexo: por
exemplo, se, no conjunto, os anglo-saxônicos utilizam mais as marcas
evidentes, as funções retóricas são as mesmas nos dois casos, o que não
confirma o postulado evocado precedentemente. Além disso, o número de
referências cujo conteúdo o pesquisador critica (citação crítica) é
relativamente baixo para o conjunto, mesmo se ele for mais alto em
inglês, para as ciências sociais, e em chinês, para as ciências físicas.
Como assinala Hyland (2005, p. 118), esses resultados mostram a
dificuldade de fazer generalizações sobre bases culturais no domínio da
retórica textual. As necessidades sociais fazem evoluir as práticas, que
não correspondem aos estereótipos. Além do mais, como de costume, é
necessário adotar o princípio da navalha de Occam, que privilegia as
explicações simples em detrimento das complexas: se existem menos
referências novas nos textos chineses, isso acontece, antes de tudo, porque
o acesso às fontes de conhecimentos científicos é, por enquanto ainda,
mais difícil. Isso não significa, evidentemente, que não existam diferenças
culturais, mas é necessário, então, considerá-las numa perspectiva
dinâmica, em função das evoluções históricas e sociais. As diferenças
observadas de um estudo a outro (p. ex., os resultados de Valero-Garcés
(1996) para o inglês e para o espanhol) não são confirmadas em Moreno
(1997), que, estudando as marcas metatextuais que colocam em evidência
a estrutura causal, encontra, do ponto de vista quantitativo, mais
similitudes que diferenças entre as duas línguas/culturas.

As abordagens voltadas para a enunciação e as marcas da subjetividade

18
O interesse do projeto KIAP,9 comandado por Kjersti Fløttum (cf.
Fløttum 2007), além do fato de se tratar de uma das primeiras pesquisas
sobre o assunto, realizada sobre um corpus relativamente amplo de
artigos científicos em diferentes línguas (inglês, francês, mas também
norueguês), é de duas ordens. Por um lado, num contexto de pesquisa
muitas vezes dominado por aspectos concernentes à superestrutura
textual, esses pesquisadores partiram de um ponto de vista enunciativo;
eles utilizaram uma ampla escala de marcas linguísticas. Por outro lado,
procuraram hierarquizar a importância dos diferentes tipos de fatores
culturais; partindo de disciplinas diferentes (medicina, economia política
e linguística), num corpus compreendendo cerca de 3 milhões de
palavras, seus resultados parecem mostrar que a disciplina teria primazia
sobre a filiação linguística em matéria de identidade cultural. Para
alcançar esses resultados, uma série de categorias indiciais foram
utilizadas: pronomes, pronomes indefinidos, marcas metadiscursivas,
referências bibliográficas, construções polifônicas, marcadores de
modalidades epistêmicas.

O peso das disciplinas e das culturas nacionais


Os resultados obtidos mostram que os pesquisadores médicos
escrevem pouco na primeira pessoa e recorrem massivamente às formas
passivas; os pesquisadores economistas estão relativamente presentes em
seu texto, notadamente através de marcas metadiscursivas (Na seção 3.,
consideramos...), todavia sua presença permanece modesta, assumindo os

9 A sigla traduzida reenvia a “Identidade cultural no discurso científico; nacional


versus disciplinar”.

19
linguistas mais um ponto de vista afirmado – e mesmo polêmico – e
entrando no âmbito de uma argumentação. No que concerne às diferenças
ligadas à língua/cultura, esses pesquisadores confirmam algumas das
constatações já formuladas por outros autores, pertencentes à corrente da
retórica contrastiva: os autores dos artigos publicados em inglês seriam
mais presentes e escritos num estilo amigável de leitura, ou seja,
assegurando a orientação do leitor e anunciando, de modo preciso e
explícito, o que será tratado. Eles seriam igual e relativamente polêmicos
e, no caso de artigos redigidos por um único autor, utilizariam, com
frequência, os pronomes de primeira pessoa do singular. Os autores
noruegueses, igualmente polêmicos, ou ainda mais, utilizariam, todavia,
uma voz mais coletiva. Em contraste, os autores dos artigos franceses
estariam menos explicitamente presentes, permanecendo a orientação para
os leitores relativamente rara, e a polêmica mais implícita que explícita. A
tendência dos autores franceses seria utilizar o pronome on, mais que je
ou nous, como em “on peut constater”.10 Encontramos também (Dahl
2004) a ideia de que o inglês e o norueguês seriam representativos de
culturas que colocam em primeiro plano a responsabilidade do escritor,
enquanto que o francês seria emblemático de uma cultura que coloca no
centro a responsabilidade do leitor. Essa conclusão, parece-nos, deve ser
nuançada, já que tem a tendência a colocar no mesmo plano as rotinas
próprias de uma língua/cultura e as estratégias explícitas ou implícitas
utilizadas pelos autores. Mais convincente é a constatação segundo a qual,
pelo fato de que algumas disciplinas como a economia e a linguística
apresentam uma estrutura textual menos formalizada que as disciplinas
regidas pelo formato IMRaD (como a medicina), a influência das

10
Pode-se constatar. (N. T.).

20
línguas/culturas pode aqui ser exercida de modo mais importante.
Alguns dos resultados mais interessantes (Fløttum 2007)
concernem à distribuição, segundo as línguas/culturas e as disciplinas: as
marcas metatextuais seriam utilizadas mais em economia que em
linguística, mais em linguística que em medicina. No plano linguístico,
elas seriam utilizadas mais em inglês que em norueguês, e mais em
norueguês que em francês. Considerando o que é incluído na categoria de
marcadores metatextuais, em última análise é bastante difícil saber o que
pode explicar a variação, permanecendo a interpretação sempre delicada.
Um elemento interessante avançado (p. 168), no que concerne à variação
disciplinar, repousa sobre as normas redacionais: os médicos, utilizando
predominantemente o plano IMRaD (ao contrário dos linguistas e dos
economistas), não têm necessidade de marcas metatextuais para ajudar o
leitor a se localizar no artigo; notamos, de passagem, o fato de que a
frequência de algumas marcas metatextuais está ligada ao modo de
estruturação do texto e a sua organização; isso relativiza a abordagem
cultural tradicional, privilegiando a responsabilidade do leitor ou a
responsabilidade do autor, já que é, em última análise, a padronização de
certas práticas de escrita que está aqui em questão.
Entre as outras marcas, considerando pesquisas quantitativas,
pode-se notar:
– o uso da primeira pessoa: o francês usa o mínimo, em relação ao inglês
e ao norueguês, a primeira pessoa como sujeito para remeter-se ao autor
do texto; mas deve-se notar que o on francês tem usos muito mais
variados do que os indefinidos correspondentes em inglês e em
norueguês; quando utiliza a primeira pessoa, o francês prefere o nous
acadêmico;

21
– os conectivos adversativos: o norueguês utiliza mais adversativos que o
inglês e o francês; mas deve-se notar que a pesquisa levou em conta
apenas but e mais (e seu equivalente em norueguês);
– as referências aos trabalhos do outro: um resultado interessante diz
respeito ao número de referências bibliográficas: o inglês e o norueguês
comportam muito mais referências bibliográficas; a hipótese explicativa,
para o inglês, é que a comunidade discursiva é muito mais ampla e,
portanto, o número de trabalhos, potencialmente mais significativo;
quanto ao norueguês, ele se voltou há muito tempo para o exterior.

As diferenças entre especialistas e neófitos


Sempre numa perspectiva enunciativa, certos trabalhos insistem
mais sobre as diferenças entre redatores experientes e neófitos. Assim,
para Boch e Grossmann (2002) o discurso do outro serve essencialmente,
entre os neófitos, para introduzir o propósito de uma definição e,
sobretudo, para ilustrar/apoiar uma afirmação. Ele é pouco utilizado para
marcar sua vinculação a uma escola ou a uma corrente de pensamento ou,
ainda, para demarcar uma posição expressa por um autor, enfim para
lembrar o estado de uma questão ou de uma problemática. Rinck, Boch e
Grossmann (2007) mostram igualmente as diferenças que opõem os
doutorandos aos outros pesquisadores nas referências ao discurso do
outro: encontram-se neles menos nomes de autores, menos referências a
correntes particulares, atitude reservada à prática dos especialistas.

A diversidade dos discursos segundo os gêneros


No que concerne às diferenças internas aos gêneros científicos,
certos estudos, associando léxico e enunciação, mostraram constatações

22
interessantes, por exemplo, relativamente à marca de opinião: Tutin et al.
(2009) assinalam que, de maneira esperada, encontram-se mais marcas de
opinião nos memoriais de HDR11 que nos outros subgêneros; de modo
mais surpreendente, a marca de opinião aparece mais clara nas
comunicações escritas que nos artigos stricto sensu. Tutin (2010) mostra
que, de maneira tendencial, quanto mais os verbos exprimem um
posicionamento marcado, por exemplo, os verbos de opinião, tanto menos
eles são assumidos pelo locutor: ela destaca, assim, que os pronomes que
remetem apenas ao autor (quer se trate de um je, ou de um nous ou de um
on de modéstia) remetem, sobretudo, aos verbos que indicam uma
contribuição científica ou uma intenção, enquanto que os verbos de
posicionamento forte (verbos de opinião) são mais comumente
introduzidos com a ajuda de um pronome, incluindo a comunidade de
discurso (nous e on exclusivos), e são, com frequência, fortemente
modalizados (on peut penser que...).12 Esse estudo mostra bem a
necessidade de não focalizar uma única marca, mas de considerar
sistemas ou microssistemas. O corpus Scientext, a partir do qual são
fornecidos esses resultados, permite obter facilmente estatísticas, segundo
as disciplinas e os subgêneros, ainda que a questão da interpretação
permaneça sempre delicada e suponha uma análise dos contextos de
produção.

Rumo a um modelo multidimensional para analisar a variação


dos DCs

11 Na França, tipo de diploma nacional de ensino superior que se pode obter após o
doutorado e que habilita para a direção de pesquisas. (N. T.).
12
Pode-se pensar que... (N. T.).

23
Para finalizar, como pensar a variação? E que categorias se pode
mobilizar para descrevê-la? Vimos as aporias às quais a ideia de um
modelo universal de escrita científica conduz. A padronização, que se
desenvolveu através de normas precisas nas disciplinas experimentais, se
influenciou certos setores das ciências humanas e sociais, permanece,
entretanto, ainda limitada. Ela não poderá mais progredir a não ser para o
benefício de um achatamento das epistemologias disciplinares. Todavia, a
integração de procedimentos de validação provenientes das ciências
experimentais, enquanto justificada no quadro de outras disciplinas,
conduz inevitavelmente a apresentar elementos de demonstração da prova
que correspondem a protocolos padronizados. A hierarquização dos
elementos de prova e a compreensão de seu estatuto diferente no interior
de um mesmo texto complexifica, sem dúvida, os modelos textuais em
ciências humanas e sociais e levará, certamente, a fazê-los evoluir. Porém,
entrevimos também as dificuldades às quais são confrontadas algumas
abordagens da variação, com esse novo paradoxo: enquanto o estudo da
variação, tal como ele é realizado pelos sociolinguistas, alcança
geralmente uma retomada crítica das categorias linguísticas, mas também,
mais globalmente, os imprevistos filosóficos, históricos ou sociais,
geralmente eliminados pela gramática, a inclusão da variação para os
discursos científicos teve, às vezes, um efeito regressivo, reforçando os
preconceitos etnocêntricos, e mesmo estereótipos culturais próximos de
uma sociologia popular. Os discursos científicos são, assim, muito
raramente categorizados a partir de critérios que levem em conta as
variáveis históricas, econômicas ou sociais (a variável “gênero”, cuja
diversidade, mais que a variação, foi mais trabalhada). O estudo da

24
variação, tal como ele é realizado, notadamente sob a bandeira do Inglês
para Propósitos Específicos, endossa também, de forma global, a partilha
entre a língua dominante (o inglês considerado como uma língua franca) e
as línguas dominadas (todas as outras). Isso seria, em última análise,
apenas uma constatação realista da situação existente, mas os especialistas
em retórica contrastiva, numa grande extensão, especulam sobre as
características das línguas/culturas estrangeiras descritas a partir de
postulados decorrentes de seus próprios filtros culturais. Antes de
apresentar, à guisa de conclusão, algumas das dimensões que me parecem
permitir pensar a variação nos gêneros científicos, vou tentar resumir os
princípios que permitem restabelecer “em seus pés” o estudo
variacionista.

Princípios de base de uma abordagem variacionista

Tal abordagem, no estado atual, deve, antes de tudo, privilegiar


uma abordagem descritiva, evitando os termos globalizantes (p. ex.:
“estilos intelectuais”), carregados ideologicamente ou comportando
julgamentos de valor (“facilitador de leitura” etc.). Um segundo princípio
importante, e hoje mais bem compreendido, reside no fundamento
empírico que traz apoio dos corpora; os corpora comparáveis são
extremamente difíceis de constituir, ficando ainda muito trabalho a ser
realizado para permitir comparações por disciplinas e por línguas.13 Numa
etapa comparativa, digna desse nome, as disciplinas e as línguas/culturas
têm necessidade de serem estudadas por elas mesmas e não como

13
O projeto Scientext, realizado no Lidilem, no quadro de uma ANR de Corpus,
contribuiu para o desenvolvimento de corpora de textos científicos:
<http://scientext.msh-alpes.fr/scientext-site/spip.php?article1>.

25
apêndices em relação às disciplinas consideradas como normas
científicas, ou em relação a uma língua-alvo ideal. Um terceiro princípio
consiste, para o analista de discurso científico, em considerar relações de
força e de formas de desigualdade (entre línguas, entre disciplinas) de
modo a poder compreender os fenômenos de dominação, de interações e
de influência, de censura etc. Enfim, last but not least, é importante
fundamentar a abordagem sobre parâmetros suficientemente finos:
comparar disciplinas pôde ser útil num certo momento – e o restante
numa certa extensão –, mas há muita variação intradisciplinar para que se
permaneça aqui; daí a necessidade de se avançar sobre duas frentes:
– considerar melhor a ligação entre disciplinas e instituições, para
compreender como uma disciplina é estruturada, no nível internacional ou
nacional, situando-a na sua história; acrescentemos que essa história
institucional não encontra seu sentido a não ser em função das evoluções
científicas e epistemológicas das próprias disciplinas;
– colocar-se no nível (sub)disciplinar o mais preciso possível, incluindo já
as determinações de etapa ou de objeto: não “a linguística”, mas, por
exemplo, “a fonética experimental”; não “a sociologia”, mas “a sociologia
das instituições” etc.
No que concerne a este momento da diversidade genérica, resta
aperfeiçoar a categorização, que deve, na medida do possível, integrar
outros critérios além das únicas menções habituais. O linguista Halliday,
em um artigo já antigo, datado de 1988, intitulado “On the Language of
Physical Science”, fornece algumas chaves sempre úteis para completar
nossa abordagem da diversidade dos gêneros científicos. Ele lembra que a
linguagem científica reenvia a um espaço semiótico que se caracteriza por
uma forte variabilidade, da mesma forma quando considerado num

26
momento dado de sua evolução e quando considerado em sua
continuidade diacrônica. A diversidade de gêneros pode, ainda segundo
Halliday, ser explicada em termos de campo, de tonalidade e de modo. O
campo diz respeito à área disciplinar, os sujeitos de conhecimento
considerados, a problemática científica etc. Essa noção de campo é
interessante, já que permite sair de uma concepção estreita de disciplina,
ainda muitas vezes entendida como comunidade fechada. A “tonalidade”
concerne à maneira pela qual se configura a comunicação científica: em
um mesmo grupo (p. ex., especialistas para especialistas), ou de um grupo
para outro (p. ex., professores para estudantes). Enfim, o modo concerne
ao canal (oral ou escrito), ao grau mais ou menos formal da língua
utilizada e à organização retórica ligada às questões de comunicação
(expositiva, exortativa, polêmica etc.).
Concluímos, para encerrar sobre as precauções metodológicas que
o pesquisador deve assumir, a fim de evitar indevidamente a hipertrofia
de um fator de variação em detrimento de outros: é essencial, com efeito,
não considerar, de maneira unívoca, um fator explicativo qualquer da
variação do discurso científico, sem colocá-lo em perspectiva e
considerando-o nos subsistemas complexos (linguísticos, históricos,
epistemológicos). Uma abordagem multidimensional implica
colaborações pluridisciplinares, tendo em contra três grandes famílias de
parâmetros:
– os parâmetros ligados aos sistemas linguísticos: não é partindo de uma
comparação de marcas de língua para língua que se pode progredir, mas
colocando a questão mais geral de maneira que, por exemplo, coloca-se
em cena, nas duas línguas, o apagamento enunciativo em tal gênero
científico; é importante proceder a comparações de sistemas ou de

27
microssistemas comparáveis; isso parece evidente, mas como é
complicado, é, por fim, muito pouco realizado: a tendência é,
frequentemente, se limitar à comparação de marcas prototípicas;
acrescentemos os fatores diacrônicos; o fato de identificar os je em um
texto não permite, como visto, a ele somente explicar sobre a maior ou
menor presença do autor; a rotinização de um dispositivo enunciativo
como o nous acadêmico em francês não nos autoriza mais a elucubrar
sobre a dimensão maior ou menor da pessoalização dos escritos
analisados, mas simplesmente sobre o grau de interiorização de normas
próprias a uma época dada, ou sobre sua pouca evolução; por isso
precisamos incorporar, mais precisamente, a dimensão histórica de usos
linguísticos na escrita científica.
– os parâmetros ligados aos sistemas culturais e às normas editoriais: é
necessário distinguir melhor as normas culturais e editorais dos elementos
propriamente linguísticos, mesmo que existam interações evidentes entre
os dois aspectos no plano textual; essa distinção é tanto mais necessária já
que a padronização do trabalho no domínio da escrita científica tende a
pesar intensamente sobre as evoluções culturais, enquanto os sistemas
linguísticos evoluem muito mais lentamente; a textualidade está na
interface das dimensões linguísticas e editoriais.
– os sistemas de elaboração do conhecimento: essa terceira forma de
mediação é ainda mais frequentemente esquecida, nos estudos relativos à
escrita científica.14 A ênfase a partir de Swales e seus epígonos para as
comunidades de discurso tendeu a supervalorizar as lógicas identitárias –
que existem, bem entendido, mas se prestam também a relativizar,

14
Para uma abordagem do discurso científico, levando em conta os fatores
epistemológicos, ver Grossmann (Dir.) (2010).

28
sobretudo, a era das trocas globalizadas. A questão das disciplinas se
inscreve no quadro mais amplo dos dispositivos, visando desenvolver o
conhecimento, portanto, através dos quadros epistemológicos que o
pesquisador se atribui ou que herda; tal concepção permite apenas
compreender que, numa mesma disciplina, possa existir a variação, esta
aberta também à mudança e à inovação.

Tradução: Hugo Mari (PUC Minas)

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