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1 INTRODUÇÃO

Quando ouvimos falar de “pessoa com deficiência” nos meios acadêmicos é


comum reportarmos nosso pensamento à questão da inclusão. Incluir significa
oferecer possibilidades de total desenvolvimento e participação social. Portanto
este trabalho consiste em proporcionar reflexões acerca da temática da
Sexualidade da pessoa com deficiência. Devido à complexidade do tema, este é
pouco ou quase nada discutido, o que contribui para o aumento das dificuldades
no cotidiano dessas pessoas e de seus familiares. Propomos algumas
considerações históricas, o conhecimento de alguns dados gerais estatísticos, a
retomada de alguns conceitos, a questão dos mitos, tabus e preconceitos que
envolvem a questão da sexualidade para aqueles que possuem algum tipo de
deficiência. Traremos as nossas experiências em visitas realizadas em duas
instituições da APAE, situadas nos municípios de Turvo e Urussanga – SC, onde
tivemos oportunidade de conhecer os espaços de atendimento, a equipe e a função
das psicólogas atuantes nas mesmas.

COMPREENDENDO A DEFICIÊNCIA AO LONGO DA HISTÓRIA

No Egito Antigo, aproximadamente a 2.500 a.C., no advento da escrita, há


indícios mais seguros referente as pessoas com deficiência e como sobreviviam .O
panorama histórico no qual, as pessoas com limitações físicas, sensoriais ou
cognitivas foram sendo aceitas à estrutura social foi marcado, constantemente por
grande sofrimento de todos os envolvidos, ou seja, sofreram as próprias pessoas e
também seus familiares. Essa luta não foi um movimento contínuo e homogêneo
de integração, pois os sentimentos e a forma pela qual pessoas com deficiência era
vista, era diferente de um país para outro num mesmo período histórico o que
evidenciava a influência cultural.

Essa trajetória começa no período pré-cristão onde a rejeição, o abandono e


a eliminação eram o tratamento dado às pessoas deficientes. A sociedade tornava
legítimo as atitudes exterminantes como na Roma Antiga, onde todos (nobres ou
não nobres) tinham permissão para sacrificar os filhos que nasciam com algum tipo
de deficiência. Em Esparta, bebês e pessoas que, por algum motivo, contraiam
alguma deficiência eram lançados ao mar ou em precipícios.

Na Idade Média, destacou-se a “proteção e piedade”, onde toda pessoa que


atentasse contra os preceitos religiosos, tinha uma “alma que devia ser preservada”.
Foi uma época onde a Ciência era pouco evoluída e assim os deficientes tinham
uma curta expectativa de vida. Os loucos, alucinados e os deficientes eram
confundidos com os hereges ou bruxos e portanto a Inquisição se ocupava deles.

Nos séculos XVIII e XIX o poder da igreja foi substituído pelo poder do Estado.
Neste período a Ciência estava mais avançada e classificou as deficiências como
patologias. Houve novamente um rótulo esmagador em relação aos deficientes.
Foram estigmatizados em função da biogênese. Surgiram várias instituições, pois
acreditava-se na escolarização dos deficientes físicos e sensoriais. Apesar deste
avanço as pessoas continuavam isoladas do convívio social, já que residiam nas
instituições.
Foi somente no final do século XIX e início do século XX que houve uma
diminuição na segregação imposta a esse público. Começaram as tentativas de
inserção nas escolas especiais comunitárias ou classes especiais, principalmente
dentro das escolas públicas.
Em 1970 ocorrerem alguns movimentos com o objetivo de integrar as pessoas
em ambientes educacionais o mais parecido possível daquele em que os não
deficientes frequentavam, baseados na ideia de que a criança devia ser educada
até os limites da sua capacidade. No Brasil, a educação especial teve início no
Império com a fundação das duas instituições que ainda são referência na
educação de surdos e cegos: O Instituto dos Meninos Cegos, que hoje é o Instituto
Benjamim Constant e o Instituto dos Surdos-mudos, atual Instituto Nacional de
Educação de Surdos. Em 1926 foi fundado o Instituto Pestalozzi que atendia as
deficiência intelectual.

Esse contexto mostra-nos que houve a tentativa de integração à sociedade,


mas só conseguiam integrar-se somente as que “atingiam um nível social” exigido
pela sociedade onde as questões da sexualidade não eram consideradas
importantes.
Segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) de 2014, a
maioria das prefeituras não promove políticas de acessibilidade, tais como lazer para
pessoas com deficiência , turismo acessível e geração de trabalho e renda ou
inclusão no mercado de trabalho. No último senso demográfico, 45,6 milhões de
pessoas declararam ter pelo menos um tipo de deficiência: visual, auditiva, motora
ou mental/intelectual. Sobre o que consideramos ser deficiência, Mello e Nuemberg,
( 2012) afirmam que:

[...] concebemos o fenômeno da deficiência como um processo que não se


encerra no corpo, mas na produção social e cultural que define
determinadas variações corporais como inferiores, incompletas ou
passíveis de reparação/reabilitação quando situadas em relação à
corponormatividade, isto é, aos padrões hegemônicos
funcionais/corporais. Nesse sentido, a deficiência consiste no produto da
relação entre um corpo com determinados impedimentos de natureza física,
intelectual, mental ou sensorial e um ambiente incapaz de acolher as
demandas arquitetônicas, informacionais, programáticas, comunicacionais
e atitudinais que garantem condições igualitárias de inserção e participação
social (p. 636).

Apesar de representarem 23,9% da população brasileira em 2010, estas


pessoas não vivem em uma sociedade adaptada.
SEXUALIDADE

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a sexualidade é vivida,


exterioriza-se em pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores,
comportamentos, práticas, papéis e relacionamentos. A sexualidade pode envolver
todas essas dimensões, mas nem sempre todas as dimensões são vivenciadas ou
expressas.
A sociedade tem demonstrado muitas vezes, dificuldades em lidar com a
deficiência e com todo o desfecho trazido por ela. O que se percebe no cotidiano
são falas preconceituosas a respeito da sexualidade como se ela fosse sempre
exacerbada ou impossível de ocorrer bem, ou seja, como se não fossem capazes de
expressar seus sentimentos, de dizer quem são ou o que gostam e o que querem.
A identidade da pessoa deficiente, é definida por Goffman (1998), como construída
pelos outros, é uma imagem construída, e que influencia a maneira como a pessoa
estigmatizada se relaciona com os outros e como é por eles tratada, já que as
pessoas sem deficiência acabam por se relacionar com o estigma da deficiência mais
do que com a própria pessoa com deficiência. (apud VENTURINI, BOUZADA E
MAZZILLO, 2016)
Embora tenha sido sancionada a lei federal 13.146, de 06/07/2015, que cria
o Estatuto da Pessoa com deficiência, e em seu artigo 6º, no Cap. II, dando as
mesmas oportunidades de lidar com sua sexualidade, casar, adotar filhos, ter filhos,
impedir esterilizações, dentre outras, essa legislação não trata da orientação sexual
havendo portanto necessidade de trabalhar muito com questões além da inclusão.
É necessário um trabalho de educação das famílias que superprotegem os
deficientes tornando-os altamente dependentes, imaturos, subjugando a
expressão da sua sexualidade.
A construção da imagem que temos dos outros e de nós mesmos passa por
vários olhares sociais que são construídos e que precisamos estar atentos:

Nossos corpos são vitimados por políticas de saberes/poderes que nos


identificam, classificam, recalcam, estigmatizam , enfim, formam e
deformam as imagens que temos de nós mesmos e dos outros. Desta
forma, o ser humano vive tanto o seu corpo quanto a sua sexualidade não
à sua maneira e vontade. O corpo tem que aprender a comportar-se
conforme regras e técnicas estabelecidas pela sociedade e a beleza
corporal também é definida por modelos estéticos padronizados
comercialmente. Foucault (2015, 2010 e 2009 apud VENTURINI,
BOUZADA e MAZZILLO 2016)

Quanto às pessoas com deficiência intelectual do sexo feminino, Block (2002)


revela que, embora elas sejam ‘treinadas’ para cuidar de uma casa, no sentido de
exercer o tradicional papel da mulher, são consideradas incapazes de ter uma vida
sexual. De acordo com Vance (1995) “além disso, a história da construção da
sexualidade na sociedade moderna mostra que a intervenção estatal tem sido cada
vez mais formulada em uma linguagem de saúde, onde os médicos e os cientistas
se tornaram atores importantes nos discursos reguladores que vêm sendo
desenvolvidos”.

O olhar caridoso, construído ao longo da história, fez com que a sociedade


construísse mais estereótipos: os deficientes, em especial, os deficientes
intelectuais, são ainda vistos ou como eternas crianças, ou como pessoas
desprovidas de sexualidade, associando-os a pessoas assexuadas, cuja inocência
não permite qualquer desejo, interesse sexual ou ato sexual ou como se os desejos
pudessem se tornar imprevisíveis ou incontroláveis,
Entretanto para Le Breton (2007 apud VENTURINI, BOUZADA E MAZZILLO,
2016) “a modificação corporal desfavorável da pessoa com deficiência é
socialmente transformada em estigma[..], pois a diferença [...] vai do horror ao
espanto e ao afastamento nas relações sociais”. Algumas pessoas conseguem
reverter em benefício próprio os estigmas e signos construídos, mediante a
negação da expectativa normativa imputada a elas como no caso da pessoa com
deficiência visual quando ela se considerada “boa amante’, porque a noção de
falta de visão é compensada no imaginário social pelo aguçamento dos outros
sentidos, como o tato. Outro conceito sobre a sexualidade se constrói, segundo
Gesser e Nuernberg (2014):

baseando-se em um padrão de sexualidade legitimado principalmente pelo


discurso religioso, que a reduz ao coito pênis/vagina e à reprodução,
deslegitima-se a sexualidade de idosos, crianças e pessoas com
deficiência, caracterizadas como infantis e, portanto, sem a necessidade de
exercer sua sexualidade.
é necessário se contrapor ao pressuposto da normalidade funcional no momento de avaliar a questão
da sexualidade na deficiência Não se trata, contudo, de simplesmente relativizar a vivência erótica e
sexual por meio de uma visão ingênua e otimista que nega os impedimentos reais

AS MANIFESTAÇÕES DA SEXUALIDADE

É comum que toda pessoa manifeste a sua sexualidade, porém quando se


trata do deficiente, sobretudo do intelectual, tudo fica mais difícil devido aos mitos e
tabus construídos historicamente. Na maioria das vezes as manifestações, por mais
sutis que sejam, são interpretadas como perversões, exageros, anormais, exageros
sexuais, primitiva, selvagem, incompleta entre outras interpretações
preconceituosas. Ao pais dos jovens, podem negar a sexualidade dos filhos
adolescentes, tratando-os como crianças. Pode acontecer tentativas das instituições
de suprimir a sexualidade, buscando sublimá-la por meio de práticas esportivas e
artísticas, ou reprimi-la pela vigilância constante. A sexualidade é um fenômeno
biopsicossocial, e faz parte do crescimento e da personalidade da pessoa. Ela é
parte integrante da vida e não pode ser negada. Tanto da parte da família quanto
dos profissionais, pode ocorrer a noção errônea de que a sexualidade das pessoas
com Deficiência, em especial, a intelectual, é por natureza intrinsecamente
problemática, ou patológica.
A manipulação dos genitais pode ser observada em deficientes com grau
severo, e podem significar manifestação de desejo sexual. Este ato, de tocar em
seu órgão genital, está relacionado ao desejo psicossexual e cognitivo. O desejo
em pessoas com déficit severos, podem estar limitados, mas não anulado,
principalmente em suas cargas de harmônios decorrentes do sistema fisiológico
sendo fator de estímulo para expressão e manifestação sexual, e prazeres
decorrentes do toque.
A masturbação e o toque nos genitais, provoca sensações prazerosas, e no
caso de pessoas com deficiência intelectual, este ato deve ser orientado a ser feito
de modo e local adequado, de maneira a contribuir ao bem-estar do indivíduo. Cabe,
aos pais essa orientação, para que, sem preconceitos orientem-no e garanta que
seja feita em local privado.

Aos deficientes intelectuais que apresentem masturbação compulsiva é


necessário entender que é natural, e que as sensações prazerosas proporcionam
autoconhecimento do próprio corpo e fazem parte da condição humana, ocorrendo
desde a tenra infância. Deve-se observar que em excesso pode prejudicar outras
atividades. Percebendo que este ato é compulsivo, a repressão deve ser feita com
firmeza, mas sempre esclarecendo sobre os problemas e limites à uma vida
saudável e ao convívio em sociedade. O deficiente intelectual deve ter orientação
sexual e sobre o prazer em se masturbar, para não ficarem expostos a situações
indesejadas, pela compreensão de regras e limites sociais.

A sexualidade do deficiente intelectual não se diferencia dos normais. Em


relação aos impulsos e desejos sexuais, essas pessoas manifestam necessidades,
experiências e emoções semelhantes aos demais, pois não existe uma sexualidade
característica do indivíduo portador de deficiência intelectual o que ocorre é a
inadequação da manifestação dos comportamentos sexuais, em decorrência da
pouca convivência em grupos em que regras de conduta sejam cobradas. Elas
podem, sim, aprender a exprimir seu desejo de forma socialmente aceita, desde que
orientadas dentro do seu nível cognitivo, de maneira que possam assimilar os
conhecimentos. O que ocorre comumente é que as informações sobre o
funcionamento do corpo, dadas ao público deficiente, é escassa e quando ocorre, é
em grande parte, proibições e repressões. É devido a essa situação, de falta de
orientação ou privação na educação, que a pessoa com deficiência, muitas vezes,
acaba sendo vítima de violência e abuso sexual e pois não tem conhecimento que
permita a ela a distinção de um ato de carinho de um ato de abuso.
.

CONCLUSÃO

Embora tenham ocorridos avanços no direito dessas pessoas, a opressão se


faz presente na vida delas com muita força e impede-as de manifestarem sua
sexualidade. Há grande falta de conhecimento sobre a temática da sexualidade e
quando se trata da sexualidade das pessoas com deficiências o problema se torna
ainda maio, pois constatamos que até mesmo em nível acadêmico é necessário
uma maior disseminação do assunto. Pouco se fala sobre estas questões. Os tabus,
preconceitos são os maiores empecilhos ao exercício pleno da sexualidade do
cidadão que possui qualquer deficiência. Para nós, psicólogos em formação, é
importante, que aprofundemos a temática, pois ela faz parte do cotidiano da
profissão e certamente vamos lidar com todas essas questões.

REFERÊNCIAS

MELLO, A. G.; NUERNBERG, A. H. Gênero e deficiência: interseções e


perspectivas. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 20, n. 3. p. 635-655, set-
dez/2012.

MARCON, Kenya Jeniffer. A (des) construção social da sexualidade de ‘pessoas


com deficiência visual’. Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais. Guarulhos,
SP: Universidade Federal de São Paulo, 2012. Disponível em:
http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UFSP_7bfe5fac205507b97940e6990e312736
Acessado em 26/10/2018

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