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ENTREVISTAS

José Jorge Letria - "Amados Cães" e "Amados


Gatos" nos Livros e na Vida do Escritor
2007-11-23
A literatura para a infância e juventude terá familiarizado muitos portugueses
com o nome de José Jorge Letria, mas qualquer pessoa que tenha passado a
casa dos quarenta o recorda como autor e cantor de intervenção no pós-25 de
Abril.
Em 1997 foi condecorado pelo Presidente da República com a Ordem da
Liberdade.
O cantautor, jornalista, professor e político, confessa que escritor é a profissão
que melhor o define e a atestá-lo estão as quase duas centenas de títulos
publicados, entre poesia, conto, romance, teatro e literatura infanto-juvenil.

Amados Cães é um dos livros mais recentes e surge na sequência de Amados Gatos,
editado em 2005. Mas o escritor tinha já publicado várias obras em que o gato é a
figura central. Não por acaso, José Jorge Letria tem em casa doze gatos e três
cadelas. Aos 56 anos continua a ser um homem de causas e o bem-estar dos animais
é uma delas.

Quando começou a gostar de animais? É algo que venha da infância?

Tinha nove anos quando o meu pai me ofereceu um cão. Era um perdigueiro preto
chamado Black. O meu pai trouxe-o para casa e deu-mo, ele usava-o para caçar, mas
o cão era meu; foi a primeira incursão de um animal de estimação e de companhia na
minha vida.
O meu pai era caçador, o meu avô e alguns tios também, mas eu tenho uma
incapacidade estrutural que me impediria de ser caçador porque, tirando um período
em que andava aos pássaros com os miúdos da minha idade, para mim nunca fez
muito sentido tirar a vida a um animal por gozo pessoal.
Depois tive dois gatos com os quais não me dei bem, por volta dos meus 13 anos,
porque eu estava habituado a lidar com cães e pensava que se andava com os gatos
pela trela e trazia-os à rua; um dia dei uma queda violenta, porque um dos gatos
queria fugir, eu tropecei e caí e de certa maneira remeti para os gatos a
responsabilidade deste acidente. Como é habitual em quem tem cães, sobretudo de
caça, tinha um grande preconceito em relação aos gatos, normalmente os caçadores
têm uma visão negativa do gato, porque o gato distrai os cães, entre uma peça de
caça e um gato o cão é capaz de ir atrás do gato. Por outro lado a conflitualidade entre
cães e gatos, na rua, em espaço aberto, é muito grande e quando o gato se defende,
e bem, pode cegar um cão. Portanto o caçador tem, em regra, preconceito e má
vontade contra o gato e eu cresci um bocado com o preconceito.”

Os gatos entram na minha vida tardiamente, mas entraram para


ficar.

Mas agora tem a casa cheia de gatos!

Os gatos entram na minha vida tardiamente, há uns 15 anos, mas entraram para ficar.
Eu tinha, na altura, uma secretária que tinha um gato e, embora não pudesse ter mais
animais, andava sempre a encontrar gatos perdidos na rua e a tentar encontrar ‘pais’
adoptivos para os bichos. Um dia apareceu-me com um gato preto e branco, que já
morreu, e que tinha desenhado, no focinho, um bigode e uma pêra. Chamei-lhe
D’Artagnan e ficou comigo 15 anos; morreu há pouco tempo.
Depois à porta da minha casa apareceu uma gata amarela, uma tabby daquelas que
têm o M na cabeça, com dois ou três meses, eu adoptei-a imediatamente e a verdade
é que hoje são doze, doze gatos e três cadelas. Da leva inicial já só resta a Betty, que
é uma gata muito especial, muito inteligente, muito livre como são normalmente os
gatos, mas também muito meiga e eu descobri, de facto, com verdadeiro fascínio, o
mundo dos gatos.

Acho que é um mundo extraordinário, um mundo, como dizia o Baudelaire, em que


nós temos a sensação que somos donos deles mas são eles que são nossos donos. O
gato é sempre livre, soberano, tem um sentido territorial muito forte, não se deixa
dominar nem domesticar. O gato é sempre senhor do seu destino e de facto ‘parasita-
nos’ no sentido em que espera de nós o que temos para lhe dar e depois vai gerindo o
afecto e a proximidade como muito bem entende.
Eu descobri estes dois mundos e tenho investido sempre na coabitação dos dois,
tenho cães e gatos ao mesmo tempo, há cerca de 20 anos.

Somos dos povos da Europa que pior tratam os animais.

Porque tem tantos animais?

Várias circunstâncias contribuíram para isso: primeiro, quando adoptamos um ficamos


com pena de todos os outros que estão abandonados, portanto às vezes uma pessoa
tem dois gatos ou dois cães e pensa: mais um também não faz diferença e se dermos
tecto a mais um ou dois também não é por isso que o orçamento se desequilibra. Foi
assim que foi acontecendo comigo. Depois os meus filhos casaram, saíram de casa, e
perceberam que não tinham condições para ter os gatos que levaram de casa, que
eram deles, e os gatos voltaram. Eu tinha sete ou oito gatos, agora tenho doze porque
recebi a devolução de alguns que tinham saído. Mas não me arrependo porque são
grandes companheiros.
E acho que isto corresponde também a uma certa misantropia, nós vamos deixando
de acreditar no ser humano como acreditávamos, pelo menos isso tem vindo a
acontecer comigo, não chego ao ponto de dizer que quanto mais conheço os seres
humanos mais gosto dos animais, mas ando próximo disso, porque já acreditei muito
mais na espécie humana do que acredito hoje.
Isto não significa que não seja solidário e não me envolva nas lutas da cidadania, mas
tenho verificado que a qualidade média do ser humano tem vindo a baixar, o ser
humano está muito egoísta, muito consumista, muito desinteressado de tudo o que é
causa e ideal e isso realmente magoa-me. Não significa que eu tenha feito prescrever
os meus compromissos com a cidadania e com as lutas que acredito que podem
contribuir minimamente para a melhoria da vida das pessoas. Havia um filósofo grego
que dizia que o homem não podia ser uma paixão inútil e eu concordo com isso,
continuo a acreditar que o ser humano é uma paixão útil e nesse sentido não quero
desistir. Mas quando se chega a uma determinada idade, eu tenho 56 anos, já vivi
intensamente muitas coisas, sobretudo os anos antes do 25 de Abril e os anos
posteriores ao 25 de Abril, olha-se para o rumo que a humanidade tem vindo a tomar,
que está a pôr em causa a própria humanidade e a sua sobrevivência no planeta, e
fica-se muito apreensivo. Como resultado disso também a minha ligação com os
animais é, de algum modo, uma ligação de resgate deste sentimento porque eles
realmente são leais, dedicados, afectuosos.
Gandhi dizia que se pode avaliar um povo pela maneira como trata os animais. Se, de
facto, esse for um parâmetro de avaliação, nós estamos muito mal porque somos dos
povos da Europa que pior tratam os animais.

Ainda por cima tratamos os animais num quadro perfeitamente consumista e de moda,
intolerável. A partir das revistas do coração vemos quais os cães que as vedetas têm,
compram-se os cães de uma forma insensata e leviana e quando se percebe que os
bichos têm necessidades fisiológicas, têm que ir à rua, têm que ter acompanhamento,
ir ao veterinário, apanhar vacinas, ser tosquiados quando têm o pêlo comprido, aí o
que acontece é o abandono. E tenho visto coisas que são piores que abandono,
pequenos apartamentos com varandas minúsculas e com pastores alemães em
grande sofrimento porque não têm mobilidade sequer para se ginasticarem, para
exercitarem os músculos, tenho visto apartamentos pequenos com animais fechados
que são Huskys ou Boxers e eu acho que isto é tão criminoso como abandonar um
animal.
Acho que há uma grande leviandade e uma grande precipitação no processo de
adopção de animais, o animal é adoptado porque é moda ter um Husky, ou um
Labrador ou um Retriever ou um Cocker, as pessoas não avaliam bem a situação,
acham que ficam bem no retrato, ou o filho portou-se bem e merece um cãozinho e
não percebem que aquele ser é um ser animado, tem vida, tem exigências, tem
afectos, tem alegrias e tristezas, tem sentimentos, e depois quem paga a factura,
sobretudo a partir dos finais de Maio, princípios de Junho, quando as pessoas passam
a fazer fins-de-semana prolongados no Algarve, são os bichos, que são largados a 30,
40 km, muitas vezes na margem sul do Tejo, por quem vive em Lisboa, e depois
criam-se até problemas gravíssimos de saúde pública. Um animal abandonado levanta
vários tipos de problemas, pode agrupar-se em bandos que se transformam
praticamente em alcateias e estes animais são perigosos, porque lutam pela
sobrevivência e têm uma dinâmica de grupo. Os que ficam sozinhos, que são a
esmagadora maioria contraem doenças gravíssimas, kala-azar, leishmaniose, e
transformam-se em foco de contaminação para outros animais, andam por aí com
problemas dermatológicos gravíssimos, a morrer pelos cantos, o que é uma coisa
tristíssima de ver, mas também grave para a saúde pública.

Mas também há quem se dedique a recolher esses animais, a tratar deles e a


tentar encontrar-lhes um novo lar. Isso não é animador?

Sim, é, e digo-o até pela experiência que tive. Quando fui vereador da Câmara de
Cascais contribuí para a criação da Fundação S. Francisco de Assis, que é uma
fundação de matriz municipal, direccionada para a recolha e tratamento dos animais
abandonados.

Bati-me sempre para que houvesse uma política do animal.

Acha que os meios postos ao serviço da resolução deste problema,


sobretudo em termos municipais, são os suficientes?

Não são suficientes e há muito pouca sensibilidade. Devo dizer que enquanto fui
autarca, sempre que tentei levantar este problema, aconteceu um pouco o que
acontece com a cultura: são coisas que são interessantes quando dão dividendos.
Quando uma pessoa fala da necessidade de uma estratégia para a política cultural,
considera-se sempre que há outras prioridades como as rotundas, a habitação social,
o saneamento básico, os espaços verdes; a cultura é uma coisa para deixar mais para
trás, normalmente fica com um vereador que tem poucas responsabilidades e que
acumula aquilo com outra coisa qualquer. Com a política dos animais é a mesma
coisa. Eu bati-me sempre para que houvesse uma política do animal como há, por
exemplo, em França, onde há vereadores responsáveis pela política dos animais,
pelos canis, pela adopção dos animais, que só são entregues a quem prove ter
condições para os recolher. Há também a criação de bolsas para treino de animais
para invisuais e para pessoas com outros tipos de deficiência. A situação dos
Labradores em Paris foi uma coisa que ficou a dever-se a Jaques Chirac quando era
presidente da câmara, aliás eu conheci um vereador das ‘Politiques Animalières’, um
homem de alta formação humanista, um professor catedrático da Escola de
Veterinária e que tinha, por exemplo, uma política para esterilização dos pombos, em
vez de andar a abater pombos esterilizava-nos, portanto tudo isto nos é estranho, não
há esta sensibilidade e na maior parte das câmaras do país temos canis
completamente desajustados e inadequados à realidade, que são verdadeiros
matadouros, onde os animais são recolhidos sem condições e muitas vezes abatidos
por falta de espaço e antes dos três dias previstos.
Há uma política desumana, sem sensibilidade e de ocultação, ‘aquilo’ existe, é um ‘mal
necessário’. E como os animais não votam…

Mas os donos dos animais, e muitas pessoas que se preocupam com o bem-
estar dos animais, votam.

Tem razão e eu defendo, há mais de dez anos, a criação de um cargo oficial de


Provedor dos Direitos dos Animais. Propus isto nos anos 90 ao governo socialista na
altura, não teve seguimento, não teve concretização, mas acho que faz todo o sentido
neste momento a criação desse cargo, seja com dimensão nacional, seja como
provedores locais, sobretudo nos concelhos de grande concentração demográfica. O
Provedor, estando no centro de poder, na zona de decisão política, pode recolher
sugestões, recomendações, propostas, e canalizá-las para o poder político, para que
venham a ter alguma concretização. Acho que uma política de defesa dos direitos dos
animais passa por uma série de medidas integradas e em primeiro lugar, pela criação
de condições de acolhimento e de tratamento para que os animais depois sejam
reconduzidos à comunidade, sejam dados a pessoas que assinem um termo de
responsabilidade e que façam prova de ter condições materiais e espaciais para ter os
animais. Isso é fundamental e essa fundação de que eu fui presidente, e outras
instituições, têm essa prática. Também, seguindo o exemplo do que se faz em França,
na Bélgica, na Holanda, as escolas deviam sensibilizar as crianças para o convívio
com os animais, numa dupla perspectiva: para não terem medo deles e para não os
tratarem mal.
Outra coisa fundamental seria a criação de legislação de forma a integrar o animal nas
comunidades urbanas. Entre nós, o animal, por regra, no espaço público, não é bem-
vindo e temos uma prática que é muito característica das sociedades do sul da
Europa, uma prática de não-integração do animal na vida pública, na vida cívica.

Eu muitas vezes quero estar fora um fim-de-semana e não estou


porque não tenho a quem deixar os meus animais

Nunca sente os seus animais como uma prisão, quando precisa de se


ausentar?
Sinto, claramente. Tenho-me privado de muitas coisas por causa deles. Mas assumo
isso, é como uma pessoa querer ter filhos. Eu tenho filhos já adultos, tenho netos, mas
também me privei de muita coisa quando tive os meus filhos, não estou a fazer
comparações em valor absoluto, são coisas diferentes e complementares. Eu muitas
vezes quero estar fora um fim-de-semana e não estou porque não tenho a quem
deixar os meus animais, nas férias é sempre um problema, e também por isso
compreendo, sem aceitar, que as pessoas confrontadas com este primeiro embate, se
não estão devidamente ganhas para a ideia de que são donas do animal e que o
animal precisa delas para sobreviver, abandonam-no.

Como decidiu escrever o Amados Gatos?

Eu já tinha feito outros livros sobre gatos, o Aqui Há Gato, e outro livro que
basicamente contava a história dos gatos na relação com o homem, chamando a
atenção para coisas fundamentais que as pessoas normalmente ignoram, como este
facto: as civilizações que tiveram o culto do gato praticamente não tiveram epidemias.
É o caso dos muçulmanos, dos chineses, os povos asiáticos de uma forma geral têm o
culto do gato e nós, que na Europa tratámos sempre mal o gato, com base numa
grande e velha superstição, tivemos a peste bubónica e quando os humanos
perceberam que os gatos eram a primeira frente no combate aos ratos, já era
demasiado tarde. O que é grave é que ainda hoje, em França, há sítios rurais onde
persiste uma prática repugnante que é a queima dos gatos, ainda relacionada com as
superstições da idade média: põem-nos num saco e depois queimam-nos.

Escrevi esse livro, o Amados Gatos, porque decidi, contanto uma série de histórias
que eram um misto de crónicas, de contos, etc., mostrar que grandes figuras da
humanidade, figuras da literatura, da ciência, da política, tiveram os gatos como
amigos, como confidentes.
O Amados Cães surge exactamente na mesma perspectiva e resultou de um desafio
que o editor me fez, sabendo que eu tinha cães e gatos e sabendo que eu gosto
genuinamente destes animais, que são animais que fazem parte da minha vida, do
meu quotidiano. A primeira edição, de 4 mil exemplares está esgotada, já tem neste
momento segunda edição e acaba de ser adoptado no quadro do plano nacional de
leitura. Para mim é muito agradável saber que miúdos de 10, 11 anos, vão ler este
livro, o que pode contribuir para terem mais sensibilidade na relação com os animais.

Tenho acima de tudo uma preocupação militante em relação ao


abandono, acho que revela uma baixeza do ser humano

Escreve muitos livros para crianças e há neles muitas personagens que são
animais. É propositado?
Tem a ver com esta relação privilegiada e tem a ver com a integração dos animais na
vida afectiva, o que eu acho que é pedagógico. Escrevi um livro chamado Mouschi, O
Gato de Anne Frank, porque descobri no diário de Anne Frank, há muitos anos, que
ela tinha um gato chamado Mouschi, que foi levado para o anexo onde ela estava
refugiada com os pais e com a outra família, foi levado pelo jovem da outra família, o
Peter van Pels, e eu pus o gato a contar a história dela e a testemunhar o drama
daquela família ali isolada naquele anexo, que depois é apanhada pela Gestapo. O
livro associa a figura do gato à denúncia de um crime contra a humanidade, que foi o
holocausto.

Tenho escrito outros, há agora uma série na Âmbar com o Tenho em Casa um
Gatinho, Tenho em Casa um Cãozinho, exactamente para que os miúdos percebam,
logo nos primeiros anos de contacto com a leitura, que aqueles animais fazem parte
da comunidade em que eles vivem e são de certa maneira membros da própria
família. No Tenho em Casa um Cãozinho há um discurso que passa pela condenação
do abandono, porque eu tenho acima de tudo uma preocupação militante em relação
ao abandono, acho que revela uma baixeza do ser humano, quando ele chega a esse
patamar, seja o abandono de animais, seja o de velhos que são deixados em
hospitais, ou nos lares. Tenho uma atitude de reprovação militante do abandono.
Venho de uma geração que defendeu causas e se bateu por elas e esta encaixa-se
perfeitamente e é possível escrever um texto lúdico para uma criança e ao mesmo
tempo deixar uma mensagem de condenação do abandono, da violência, da falta de
cuidado.

Quais foram a maior alegria e o maior desgosto que os seus animais já lhe
deram?

Eu tenho três cadelas e doze gatos. Fazendo o balanço de tantos anos de convívio
com os animais, o mais doloroso foram os momentos da morte deles, sem dúvida. Eu
ir ao veterinário, como ainda há poucos meses fui com o gato, com o D’Artagnan,
deixá-lo para levar uma injecção letal, estando ele condenado mas ainda
perfeitamente atento ao que se passava e nitidamente a despedir-se, é uma dor muito
grande. Tenho hoje uma cadela que está com um tumor num maxilar e que vai ter o
mesmo destino brevemente e todos os dias olho para ela como uma despedida, custa-
me muito.
O momento mais comovente para mim, que eu faço questão de contar às crianças
quando vou às escolas, está relacionado com o meu perdigueiro, o Black. Quando o
meu pai morreu, tinha eu 16 anos, ao fim de três ou quatro dias o cão rasgou a rede
do canil e desapareceu, fomos encontrá-lo ao fim de uns quatro dias perto do
cemitério, já quase a morrer, com a pele toda ferida e com pedaços de arbustos e de
picos agarrados ao pêlo, e aí eu aprendi a primeira grande lição da minha vida com os
animais, é que um bicho daqueles é capaz de morrer por nós e acompanha-nos até ao
fim, o que é uma coisa extraordinária. Eu tenho tido momentos de doença, na minha
família, na minha vida e percebi claramente que os animais partilham connosco esse
sofrimento. Aliás quando estou mais cansado, mais aborrecido, reparo no olhar que
eles lançam sobre mim que é um olhar de partilha e de preocupação, como quem diz:
percebo perfeitamente que não estás bem e estou ao teu lado. O vir lamber as mãos
quando uma pessoa está triste, o vir encostar a cabeça aos joelhos, eles são muito
inteligentes e muito sensíveis e são muito disponíveis para o afecto.

Uma das maiores alegrias que eu tive, foi uma história muito engraçada, com uma
gata, de uma raça rara chamada Burmila, uma mistura dos gatos da Birmânia com os
gatos de Ceilão, e essa gata um dia desapareceu. Eu vivia num apartamento,
convenci-me que ela tinha fugido para a escada, que alguém a tinha roubado, ela era
muito bonita, tinha o pêlo cinzento, e eu, ao fim de dois ou três dias a bater às portas
dos vizinhos, dei-a como perdida. Foi então que ao sentar-me num sofá que tinha no
escritório ouvi miar. Tentei perceber de onde vinha aquele miar e descobri que ela se
tinha enfiando por um buraco que havia na parte de trás do sofá, tinha-se enfiado no
forro e não conseguia sair. Estava ali há uns dias e teria morrido se eu não a tivesse
tirado lá de dentro.

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