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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 21

15/03/2016 SEGUNDA TURMA

SEGUNDO AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 834.535 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. TEORI ZAVASCKI


AGTE.(S) : WILSON RONDÓ JÚNIOR E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : FERNANDO ANTÔNIO NEVES BAPTISTA E
OUTRO(A/S)
AGTE.(S) : DESTILARIA ALCIDIA S/A
ADV.(A/S) : ANTONIO NABOR AREIAS BULHOES
AGDO.(A/S) : ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTDO.(A/S) : AGRO-PASTORIL CAMPANELLI S/A E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : AIMAR JOPPERT E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : PONTE BRANCA AGROPECUARIA S/A E
OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE SLHESSARENKO E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : WILLIAN BRANCO PERES E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : JOSÉ OCTAVIANO INGLEZ DE SOUZA

EMENTA: CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL


CIVIL. AGRAVOS REGIMENTAIS NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
AÇÃO DISCRIMINATÓRIA. TERRAS DEVOLUTAS. USUCAPIÃO.
1. Conforme a orientação assentada pelo Plenário desta Corte no
julgamento do AI 791.292/PE (Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 13/8/2010,
Tema 339): (…) o art. 93, IX, da Constituição Federal exige que o acórdão
ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem
determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações
ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão. O acórdão
proferido pelo Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo
encontra-se devidamente fundamentado, expondo de forma clara e
profunda os motivos que levaram ao desprovimento das apelações.
2. A análise das questões constitucionais suscitadas pelos agravantes
esbarra em precedentes já adotados por esta Corte, de acordo com os
quais a invocação concernente à ampla defesa, ao contraditório, aos
limites da coisa julgada, ao devido processo legal e ao ato jurídico
perfeito supõe, necessariamente, a delibação de matéria

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RE 834535 AGR-SEGUNDO / SP

infraconstitucional (RE 748.371/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tema 660),


do mesmo modo quanto ao indeferimento de produção de provas no
processo judicial (RE 639.228/RJ, Rel. Min. Cezar Peluso, Tema 424).
3. Infirmar as premissas que orientaram o Tribunal de origem a
reconhecer o domínio público das terras objeto da presente
discriminatória demandaria indispensável juízo a respeito da legislação
infraconstitucional local de regência e reexame dos fatos e provas dos
autos, o que é vedado em recurso extraordinário, nos termos das Súmulas
279 e 280 do STF.
4. A dicção normativa do art. 188 da Constituição Federal não enseja
o reconhecimento de distinção entre terras públicas e devolutas para fins
de aquisição dessas por usucapião.
5. Agravos regimentais improvidos.
AC Ó RDÃ O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do
Ministro DIAS TOFFOLI, na conformidade da ata de julgamentos e das
notas taquigráficas, por unanimidade, em negar provimento aos agravos
regimentais, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, o
Senhor Ministro Gilmar Mendes.

Brasília, 15 de março de 2016.

Ministro TEORI ZAVASCKI


Relator

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SEGUNDO AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 834.535 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. TEORI ZAVASCKI


AGTE.(S) : WILSON RONDÓ JÚNIOR E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : FERNANDO ANTÔNIO NEVES BAPTISTA E
OUTRO(A/S)
AGTE.(S) : DESTILARIA ALCIDIA S/A
ADV.(A/S) : ANTONIO NABOR AREIAS BULHOES
AGDO.(A/S) : ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTDO.(A/S) : AGRO-PASTORIL CAMPANELLI S/A E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : AIMAR JOPPERT E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : PONTE BRANCA AGROPECUARIA S/A E
OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE SLHESSARENKO E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : WILLIAN BRANCO PERES E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : JOSÉ OCTAVIANO INGLEZ DE SOUZA

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO TEORI ZAVASCKI (RELATOR):


Trata-se de agravos regimentais interpostos por Wilson Rondó
Júnior e outros e Destilaria Alcídia S/A contra decisão monocrática que
negou seguimento aos recursos extraordinários, sob os seguintes
fundamentos: (a) o entendimento do Tribunal a quo se ajusta ao que foi
decidido no mérito do AI 791.292 RG (Rel. Min. GILMAR MENDES,
Tema 339); (b) é pacífico na jurisprudência desta Corte o entendimento de
que a mera alegação de interesse da União, de suas autarquias ou
empresas não é suficiente para deslocar a demanda para a Justiça Federal;
(c) o objeto deste recurso diz respeito a tema cuja existência de
repercussão geral foi rejeitada por esta Corte na análise do ARE 748.371-
RG (Rel. Min. GILMAR MENDES, tema 660) e do ARE 639.228 (Rel. Min.
Presidente, tema 424), por se tratar de questão infraconstitucional; e (d)
reverter o entendimento proferido no acórdão recorrido de que não
houve a consolidação de domínio particular das terras que compõem a

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área discriminada e que tais terras não foram adquiridas em razão do


exercício da posse, demandaria a incursão no acervo fático-probatório do
autos e em legislação local, o que atrai ao conhecimento do extraordinário
as vedações das Súmulas 279 e 280 do STF.
Wilson Rondó Júnior e outros reiteram as razões expostas no
extraordinário de que o julgado recorrido violou os arts. 5º, LV e 93, IX,
da CF/88, por ausência de fundamentação.
A Destilaria Alcídia S.A, por sua vez sustenta, em suma, que (a) no
caso, não se encontra presente qualquer das hipóteses previstas no art.
557, caput, do CPC e no art. 20, § 1º do RISTF, que respalde o julgamento
da ação pela via monocrática, de modo que houve usurpação da
competência da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal; (b) não cabe a
aplicação dos verbetes sumulares 279 e 280 do STF, visto que as matérias
aduzidas nos recursos extraordinários possuem índole constitucional e
teórica, sem viés fático, ou com cenário já devidamente definido no
acórdão recorrido; e (c) as violações alegadas nas razões dos recursos
extraordinários são incontestavelmente diretas a Constituição Federal e
afrontam direitos e garantias fundamentais previstos nos seguintes
artigos: (c.1) art. 5º, XXXVI, uma vez que o acórdão recorrido não
reconheceu o direito adquirido dos recorrentes ao domínio particular das
terras, objeto dessa discriminação, desconsiderando a existência de
julgamento pretérito que envolveu a discriminação das terras localizadas
na região do 15º Perímetro do Estado de São Paulo, infringindo o instituto
da coisa julgada material; (c.2) arts. 5º, LIV e LV e 93, IX, pela utilização
de prova emprestada sem a efetiva garantia do contraditório, bem como
pela ausência de prova da suposta falsidade da assinatura aposta no
registro paroquial; e (c.3) art. 188, ao afastar a possibilidade de usucapião
das terras devolutas do 15º Perímetro Administrativo do Estado de São
Paulo sob o argumento de não haver distinção entre terras públicas e
terras devolutas.
É o relatório.

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SEGUNDO AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 834.535 SÃO PAULO

VOTO

O SENHOR MINISTRO TEORI ZAVASCKI (RELATOR):


1. A decisão agravada é do seguinte teor:

1. Trata-se de recursos extraordinários interpostos com


base no art. 102, III, da Constituição Federal contra acórdão do
Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo que,
ao ratificar a sentença, consignou, em suma, (a) a
imprescritibilidade da presente ação discriminatória; (b) serem
devolutas, e portanto pertencentes ao domínio do Estado de
São Paulo, as terras que compõem o 15° Perímetro de
Presidente Venceslau, referentes à gleba Pirapó-Santo
Anastácio; (c) a ausência de posse qualificada com cultura
efetiva e moradia habitual, anterior ao advento do Código Civil;
e (d) a não incidência do disposto no Decreto-Lei Estadual
14.916 por não se aplicar às propriedades consideradas
latifúndios.
Os embargos de declaração opostos foram acolhidos para
fins de prequestionamento. (Vol. 279)
A Agro-Pastoril Campanelli S/A e outros alegam a
violação ao art. 188 da Constituição Federal. Sustentam, em
suma, o exercício de posse contínua, ininterrupta e com justo
título de suas propriedades rurais desde o ano de 1856, só
vindo a ser contestada com o ajuizamento da presente ação
discriminatória, em 1958. Defendem a consumação da
prescrição aquisitiva ao tempo da propositura da presente ação
discriminatória. (Vol. 279)
Por sua vez, os recorrentes Wilson Rondó Júnior e outros
apontam ofensa aos arts. 5°, XXXVI e LIV, e 93, IX, todos da
CF/88, asseverando, em suma, que o Tribunal de origem (a)
desrespeitou os postulados do devido processo legal e da
motivação das decisões judiciais ao rejeitar os embargos de
declaração opostos e permanecer silente em relação às questões

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devolvidas ao seu juízo, tais como o indeferimento de produção


de prova pericial e a ausência de elementos probatórios
ensejadores das conclusões havidas no aresto recorrido; (b)
violou o direito adquirido e a coisa julgada ao entender como
meramente administrativa a decisão, datada de 11 de novembro
de 1927, proferida pelo Juiz de Direito da Comarca de
Presidente Prudente, que reconheceu domínio particular das
terras objeto desta ação discriminatória. (Vol. 283)
Ponte Branca Agropecuária S/A e outro suscitam,
preliminarmente e em suma, a contrariedade ao art. 109, I, da
Carta Magna, haja vista a incompetência absoluta da Justiça
Estadual para o julgamento da causa ante a presença de
hipótese de intervenção da União e de suas Autarquias prevista
no parágrafo único do art. 23 da Lei 6.383/76, cuja análise
compete à Justiça Federal. No mérito do extraordinário, aludem
a inobservância do devido processo legal e a ofensa à coisa
julgada. Quanto à imprescritibilidade da presente ação
discriminatória, defendem a tese segundo a qual a exceção da
prescrição aquisitiva assumiria contornos de autêntica
prescrição extintiva, uma vez que eventual reconhecimento por
sentença meramente declaratória da titularidade pública da
terra impediria futura condenação em restituir a coisa, por meio
de ação reivindicatória, pois essa já estaria prescrita,
configurando absoluta falta de interesse na tutela declaratória.
Asseveram que, no caso, é irrelevante a discussão do vício de
origem dominial no registro paroquial, pois a discussão
fundamental encerra-se no fato “posse”. No mais, insurgem-se
quanto à negativa de autoridade da coisa julgada material
formada em 1927, processada por juiz de direito, e em
consonância com os procedimentos existentes à época, únicos
existentes para se proceder à discriminação de terras. Por fim,
sustentam o direito de fazer prova da exceção de usucapião.
(Vol. 282)
Por fim, as razões do recurso extraordinário interposto por
Willian Branco Peres e outros indicam que o acórdão recorrido
violou o art. 5º, XXXVI, da Carta Magna, ao não reconhecer o

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direito adquirido dos recorrentes ao domínio particular das


terras, objeto dessa discriminação, concedido pelo Governo
Provisório da República, em 9 de dezembro de 1890, mediante a
execução de contrato formalizado com base na Lei dos Burgos
Agrícolas de 1890. No mais e nos mesmos termos já expostos,
defendem a autoridade da res judicata decorrente de sentença
proferida por Juiz de Direito que, com base na Lei 1.844, de 27
de dezembro de 1921, declarou hábeis os títulos das áreas
compreendidas no perímetro discriminando. (Vol. 282)

2. Não se constata a suposta violação aos arts. 5º, LV, e 93,


IX, da CF/88, pois o acórdão está devidamente fundamentado,
embora em sentido contrário aos interesses dos recorrentes. O
STF, no julgamento do AI 791.292 QO-RG/PE (Rel. Min.
GILMAR MENDES, DJe de 13/8/2010), cuja repercussão geral
foi reconhecida, entendeu que a Carta Magna exige acórdão ou
decisão fundamentados, ainda que sucintamente, sem
determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das
alegações ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos
da decisão.

3. No que tange à alegada incompetência da Justiça


Estadual para julgar a presente ação discriminatória, o acórdão
recorrido asseverou inexistirem quaisquer das exceções legais
na área discriminanda, previstas constitucionalmente, capazes
de afastar a competência estadual para o julgamento desta
causa. No ponto, assim se manifestou o Tribunal de origem:

“As razões de apelação não infirmam os


fundamentos da r. Sentença, segundo os quais a
intervenção da União, com deslocamento da competência
para a Justiça Federal, não poderia mesmo vingar. Assim
porque, salvo as exceções legais (área de fronteira, de
segurança nacional, terrenos de marinha, ou de
aldeamentos e terras indígenas, etc), as terras devolutas da
União passaram aos Estados Membros (artigo 64 da

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Constituição de 1891). Inexistindo, na área em questão


qualquer das excludentes, afasta-se aquele interesse
federal, permanecendo a competência limitada à Justiça
Estadual.” (Vol. 278, e-STJ, fls. 10.764/10.765).

Por outro lado, é pacífico na jurisprudência desta Corte o


entendimento de que a mera alegação de interesse da União, de
suas autarquias ou empresas não é suficiente para deslocar a
demanda para a Justiça Federal. Nesse sentido:

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.


RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO.
COMPETÊNCIA. CHAMAMENTO AO PROCESSO DE
AUTARQUIA FEDERAL. MERA ALEGAÇÃO DE
INTERESSE DA UNIÃO. AUSÊNCIA DE JUSTIFICATIVA
PARA DESLOCAR A CAUSA PARA A JUSTIÇA
FEDERAL. CONSONÂNCIA DA DECISÃO RECORRIDA
COM A JURISPRUDÊNCIA CRISTALIZADA NO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. EVENTUAL
VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. ACÓRDÃO RECORRIDO
PUBLICADO EM 21.6.2011.
O entendimento adotado pela Corte de origem, nos
moldes do que assinalado na decisão agravada, não
diverge da jurisprudência firmada no âmbito deste
Supremo Tribunal Federal. Entender de modo diverso
demandaria a reelaboração da moldura fática delineada
no acórdão de origem, bem como a análise da legislação
infraconstitucional aplicável, o que torna oblíqua e reflexa
eventual ofensa, insuscetível, portanto, de viabilizar o
conhecimento do recurso extraordinário.
As razões do agravo regimental não são aptas a
infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão
agravada, mormente no que se refere à ausência de ofensa
direta e literal a preceito da Constituição da República.

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Agravo regimental conhecido e não provido. (ARE


811.003-AgR, Rel. Min. ROSA WEBER, Primeira Turma,
DJe de 19/11/2014)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.
CONSTITUCIONAL. DESLOCAMENTO DE
COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL.
AUSÊNCIA DE REQUERIMENTO DA UNIÃO, DE
AUTARQUIA OU DE EMPRESA PÚBLICA PARA
INTEGRAR A LIDE. MERA ALEGAÇÃO DE
EXISTÊNCIA DE INTERESSE DE UM DESSES ENTES.
INSUFICIÊNCIA. ACÓRDÃO RECORRIDO
FUNDAMENTADO NOS ELEMENTOS FÁTICO-
PROBATÓRIOS DOS AUTOS. SÚMULA N. 279 DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO
REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.
(ARE 757.952-AgR, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda
Turma, DJe de 28/10/2013)

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE


INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. MÁ
INTERPRETAÇÃO, APLICAÇÃO OU INOBSERVÂNCIA
DE NORMAS PROCESSUAIS. IMPOSSIBILIDADE DE
CABIMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
COMPETÊNCIA. MERA ALEGAÇÃO DE INTERESSE DA
UNIÃO. AUSÊNCIA DE JUSTIFICATIVA PARA
DESLOCAR A CAUSA PARA A JUSTIÇA FEDERAL.
AGRAVO IMPROVIDO.
I – O acórdão recorrido decidiu a questão com base
em normas processuais, sendo pacífico na jurisprudência
desta Corte o não cabimento de recurso extraordinário sob
alegação de má interpretação, aplicação ou inobservância
dessas normas. A afronta à Constituição, se ocorrente,
seria indireta. Incabível, portanto, o recurso
extraordinário. Precedentes.

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II - O Supremo Tribunal firmou o entendimento de


que a mera alegação de interesse da União é insuficiente
para justificar o deslocamento da causa para a esfera de
competência da Justiça Federal. Precedentes.
III – Agravo regimental improvido. (AI 803.694-AgR,
Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma,
DJe de 25/2/2013)

4. Ademais, é inviável a apreciação, em recurso


extraordinário, de alegada violação ao direito adquirido, ao ato
jurídico perfeito, à coisa julgada ou aos princípios da
legalidade, do contraditório, da ampla defesa, do devido
processo legal e da inafastabilidade da jurisdição, uma vez que,
se houvesse, seria meramente indireta ou reflexa, já que é
imprescindível o exame de normas infraconstitucionais. Nesse
sentido: ARE 748.371-RG/MT, Min. GILMAR MENDES, Tema
660, Plenário, DJe de 1º/8/2013; AI 796.905AgR/PE, Rel. Min.
LUIZ FUX, Primeira Turma, DJe de 21/5/2012; AI 622.814-
AgR/PR, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, DJe de
8/3/2012; e ARE 642.062-AgR/RJ, Rel. Min. ELLEN GRACIE,
Segunda Turma, DJe de 19/8/2011.

5. Quanto à questão do cerceamento de defesa decorrente


do indeferimento de provas no âmbito do processo judicial, esta
Corte, ao analisar o ARE 639.228 RG (Rel. Min. Presidente
CEZAR PELUSO, DJe de 31/8/2011 Tema 424), pela sistemática
da repercussão geral, entendeu tratar-se de matéria
infraconstitucional.

6. Adite-se que o acórdão recorrido concluiu que o


domínio das terras disputadas nesta ação discriminatória
pertence ao Estado de São Paulo a partir da construção das
seguintes premissas: (a) não houve a consolidação de domínio
particular das terras que compõem a área discriminada; e (b)
tais terras não foram adquiridas em razão do exercício da posse.
Vejam-se, a propósito, os seguintes trechos do voto condutor do

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acórdão:

“Ainda com acerto foi rejeitada a preliminar de coisa


julgada (fls. 3355 – 14º volume). É que conforme frisou a r.
Sentença recorrida, a decisão datada em 11 de novembro
de 1927, proferida pelo Juiz de Direito da Comarca de
Presidente Prudente, em que houve reconhecimento de
domínio particular, tem caráter meramente
administrativo, na medida em que o Decreto 3501/1922
ressalvou aos particulares discutirem, mediante
reivindicação, no juízo comum, seu eventual direito.
Destarte, realmente como consignou o MM Juiz, o
Decreto 3501/1922 excluiu a possibilidade da formação de
coisa julgada.
(…)
Restou incontroverso nos autos que todos os títulos
exibidos pelos réus tem uma única filiação, e são
desmembrados do imóvel Fazenda Pirapó-Santo
Anastácio, cujo registro tem origem em registro Paroquial.
Ocorre que há vício original na pretendida
transferência de posse e domínio das terras à esfera
privada.
(...)
Por outro lado, no caso concreto, não bastasse a
ineficácia do Registro Paroquial, como título atributivo da
propriedade, o fato é que a matéria relativa à origem da
Fazenda Pirapó-Santo Anastácio já foi exaustivamente
analisada em outras ações discriminatórias, inclusive até
pelo Supremo Tribunal Federal, sempre com a conclusão
no sentido de ser viciada a suposta passagem das terras
para a esfera da propriedade privada.
(…)
Em tais circunstâncias a inequívoca e definitiva
caracterização de vício de origem afeta inevitavelmente a
cadeira de títulos e registros subsequentes, relativos às
terras que são objetos da presente demanda, conforme

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logicamente concluiu o eminente julgador de primeiro


grau.
(...)
Assentados tais aspectos, necessário analisar, em se
tratando de terras públicas, a possibilidade de aquisição
das mesmas em razão do exercício de posse.
A questão já foi apreciada pelo Supremo Tribunal
Federal e foi esculpida na Súmula 340, cuja redação é a
seguinte: “Desde a vigência do Código Civil, os bens
dominicais como os demais bens públicos, não podem ser
adquiridos por usucapião”.
E realmente tal orientação decorreu da disposição
inserta no artigo 67 do estatuto civil em vigor e da qual
decorre que os bens públicos só perderão a
inalienabilidade, que lhes é peculiar, nos casos e forma
que a lei prescrever.
Antes do Código Civil, os efeitos da posse, de área
pública somente poderiam ser reconhecidos, no âmbito do
Estado de São Paulo, nos termos do Decreto Estadual
6.473 de 1934, o qual exigia a ocorrência de posse
qualificada pela existência de “cultura efetiva e morada
habitual” (artigo 2°, letra”c”).
(…)
No presente caso concreto, vê-se, e claramente visto,
que o contexto dos autos não permite verificar a prova da
ocorrência da aludida posse qualificada com cultura
efetiva e moradia, anterior ao advento do Código Civil, e
nem é possível invocar posteriormente, o mencionado
Decreto-Lei Estadual n. 14.916, pois, como visto, o mesmo
não se aplica em relação a latifúndios.
(…)
Em primeiro lugar, em face aos claros termos do
artigo 67 do Código Civil, reconhecendo a
inalienabilidade dos bens públicos, deve-se reconhecer a
tese, segundo a qual o Decreto 22.785, de 31 de maio de
1933 teve o caráter meramente interpretativo da

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RE 834535 AGR-SEGUNDO / SP

disposição contida no estatuto substantivo.


(…)
O mesmo deve ser dito em relação ao aludido
contrato de colonização, para formação de burgo agrícola
que Manoel Pereira Goulart firmou com o Governo
Provisório da República em 9.12.1980, registrado ás fls.
202/203 do Livro n. 3 de Registro Especial de Contratos. É
verdade que existe o argumento segundo o qual por força
de Lei n. 528 de julho de 1890, esse contrato só poderia ser
celebrado, dentro outras coisas, mediante a comprovação
de existência de título de domínio e de “legitimação de
posse”devidamente expedida. Entrementes, a mera
referência a tal contrato não traz convicção bastante a
respeito da existência de efetiva prova de exercício de
posse na área de forma continua durante o prazo
destinado à prescrição aquisitiva”(Vol. 278, e-STJ, fls.
10.755/10.787)

Como se vê, o Tribunal de origem decidiu a controvérsia a


partir da interpretação e aplicação da legislação
infraconstitucional pertinente e com base nos elementos de fato
e prova dos autos. Dessa forma, refutar os fundamentos do
aresto recorrido demandaria a reapreciação dos aspectos
concernentes às referidas normas locais e a incursão no
conjunto fático-probatório da presente ação, providências
vedadas na via extraordinária, conforme as Súmulas 279 e 280
do STF. Nesse sentido:

“Ementa: Agravo regimental em agravo de


instrumento. 2. Controvérsia sobre a titularidade pública
ou privada de determinadas áreas. Ação discriminatória.
Necessidade do reexame de conteúdo fático-probatório.
Incidência do Enunciado 279 da Súmula do STF. 3.
Alegação de afronta aos princípios do contraditório, da
ampla defesa, do devido processo legal, do direito
adquirido e do ato jurídico perfeito. Interpretação ou

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aplicação de normas infraconstitucionais. Ofensa


meramente reflexa ao texto constitucional. 4. Ausência de
argumentos suficientes para infirmar a decisão agravada.
5. Agravo regimental a que se nega provimento” (AI nº
599.146/SP-AgR, Rel. Min. GILMAR MENDES, Segunda
Turma, DJe de 11/9/13).

“EMENTA: CONSTITUCIONAL. CIVIL. AGRAVO


REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.
USUCAPIÃO DE TERRAS PÚBLICAS. MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL. FATOS E PROVAS.
SÚMULA 279. 1. O acórdão recorrido decidiu a lide com
base na legislação infraconstitucional. Inadmissível o
recurso extraordinário porquanto a ofensa à Constituição
Federal, se existente, se daria de maneira reflexa. 2.
Decidir de maneira diferente do que foi deliberado pelo
tribunal a quo demandaria o reexame de fatos e provas da
causa (Súmula STF 279). 3. Agravo regimental a que se
nega provimento” (AI nº 598.495/SP-AgR, Rel. Min.
ELLEN GRACIE, Segunda Turma, DJe de 5/4/11).

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. USUCAPIÃO URBANO.
AQUISIÇÃO. REQUISITOS. REEXAME DE PROVAS.
IMPOSSIBILIDADE EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
1. O acórdão recorrido concluiu que foram atendidos os
requisitos exigidos pelo artigo 183 da Constituição do
Brasil para a aquisição da propriedade por meio de
usucapião urbano. 2. Necessidade de reexamina-se fatos e
provas. Inviabilidade do recurso extraordinário. Súmula n.
279 do STF. Agravo regimental a que se nega provimento”
(RE n° 593.566/MG-AgR, Rel. Min. EROS GRAU, Segunda
Turma,DJe de 17/4/09).

“CONSTITUCIONAL. CIVIL. AGRAVO


REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.

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USUCAPIÃO ESPECIAL. MATÉRIA


INFRACONSTITUCIONAL. FATOS E PROVAS. 1. O
acórdão recorrido decidiu a lide com base na legislação
infraconstitucional. Inadmissível o recurso extraordinário
porquanto a ofensa à Constituição Federal, se existente, se
daria de maneira reflexa. 2. Decidir de maneira diferente
do que deliberado pelo tribunal a quo demandaria o
reexame de fatos e provas da causa, ante a incidência da
Súmula STF 279. 3. Agravo regimental improvido”. (AI n°
586.219/RS-AgR, Rel. Min. ELLEN GRACIE, Segunda
Turma, DJe de 11/9/09);

7. Por fim, e com intuito de demonstrar a natureza indireta


das violações constitucionais apontadas pelos recorrentes, cabe
transcrever o entendimento proferido pela Corte Especial do
Superior Tribunal de Justiça no julgamento do EREsp 617.428,
de relatoria da Min. Nancy Andrighi, que bem ilustra o caráter
infraconstitucional da controvérsia discutida nesta demanda,
cuja ementa é a seguinte:

“CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM


RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DISCRIMINATÓRIA.
TERRAS DEVOLUTAS. COMPETÊNCIA INTERNA. 1ª
SEÇÃO. NATUREZA DEVOLUTA DAS TERRAS.
CRITÉRIO DE EXCLUSÃO. ÔNUS DA PROVA. PROVA
EMPRESTADA. IDENTIDADE DE PARTES. AUSÊNCIA.
CONTRADITÓRIO. REQUISITO ESSENCIAL.
ADMINISSIBILIDADE DA PROVA.
1. Ação discriminatória distribuída em 3.02.1958, do
qual foram extraídos os presentes embargos de
divergência em recurso especial, conclusos ao Gabinete
em 29.11.2011.
2. Cuida-se de ação discriminatória de terras
devolutas relativas a parcelas da antiga Fazenda Pirapó-
Santo Anastácio, na região do Pontal do Paranapanema.
3. Cinge-se a controvérsia em definir: i) a Seção do

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STJ competente para julgar ações discriminatórias de


terras devolutas; ii) a quem compete o ônus da prova
quanto ao caráter devoluto das terras; iii) se a ausência de
registro imobiliário acarreta presunção de que a terra é
devoluta; iv) se a prova emprestada pode ser obtida de
processo no qual não figuraram as mesmas partes; e v) em
que caráter dever ser recebida a prova pericial
emprestada.
4. Compete à 1ª Seção o julgamento de ações
discriminatórias de terras devolutas, porquanto se trata de
matéria eminentemente de direito público, concernente à
delimitação do patrimônio estatal.
5. Nos termos do conceito de terras devolutas
constante da Lei 601/1850, a natureza devoluta das terras é
definida pelo critério de exclusão, de modo que ausente
justo título de domínio, posse legítima ou utilização
pública, fica caracterizada a área como devoluta,
pertencente ao Estado-membro em que se localize, salvo
as hipóteses excepcionais de domínio da União previstas
na Constituição Federal.
6. Pode-se inferir que a sistemática da discriminação
de terras no Brasil, seja no âmbito administrativo, seja em
sede judicial, deve obedecer ao previsto no art. 4º da Lei
6.383/76, de maneira que os ocupantes interessados devem
trazer ao processo a prova de sua posse.
7. Diante da origem do instituto das terras devolutas
e da sistemática estabelecida para a discriminação das
terras, conclui-se que cabe ao Estado o ônus de comprovar
a ausência de domínio particular, de modo que a prova da
posse, seja por se tratar de prova negativa, de difícil ou
impossível produção pelo Poder Público, seja por
obediência aos preceitos da Lei 6.383/76.
8. De acordo com as conclusões do acórdão
embargado e das instâncias ordinárias, o registro
paroquial das terras foi feito em nome de José Antonio de
Gouveia, em 14 de maio de 1856, sob a assinatura do Frei

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Pacífico de Monte Falco, cuja falsidade foi atestada em


perícia, comprovando-se tratar-se de “grilagem” de terras.
Assim, considerou-se suficientemente provada, desde a
petição inicial, pelo Estado de São Paulo, a falsidade do
“registro da posse”, pelo que todos os títulos de domínio
atuais dos particulares são nulos em face do vício na
origem da cadeia, demonstrando-se a natureza devoluta
das terras.
9. Em vista das reconhecidas vantagens da prova
emprestada no processo civil, é recomendável que essa
seja utilizada sempre que possível, desde que se mantenha
hígida a garantia do contraditório. No entanto, a prova
emprestada não pode se restringir a processos em que
figurem partes idênticas, sob pena de se reduzir
excessivamente sua aplicabilidade, sem justificativa
razoável para tanto.
10. Independentemente de haver identidade de
partes, o contraditório é o requisito primordial para o
aproveitamento da prova emprestada, de maneira que,
assegurado às partes o contraditório sobre a prova, isto é,
o direito de se insurgir contra a prova e de refutá-la
adequadamente, afigura-se válido o empréstimo.
11. Embargos de divergência interpostos por
WILSON RONDÓ JÚNIOR E OUTROS E PONTE
BRANCA AGROPECUÁRIA S/A E OUTRO não providos.
Julgados prejudicados os embargos de divergência
interpostos por DESTILARIA ALCÍDIA S/A.” (Vol. 297, fls.
12.598/12.600)

8. Diante do exposto, nego seguimento aos recursos


extraordinários.

Os recursos não trazem qualquer subsídio apto a alterar esses


fundamentos, razão pela qual deve ser mantido incólume o entendimento
da decisão agravada.

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2. De fato, no que se refere à suposta violação direta da Constituição


Federal pelo acórdão recorrido, consubstanciada na recusa das arguições
questionadoras do arcabouço probatório e da desatenção aos postulados
do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa e da coisa
julgada, não têm razão os agravantes. No que respeita à infringência de
tais garantias constitucionais, é manifesta a necessidade de reexame dos
pressupostos de fato e de direito para avaliar a pretendida ofensa,
sobretudo porque no âmbito da ação de discriminação, como no caso, os
fatos, as provas e o direito correspondente estão relacionados de maneira
intensa e lógica, tornando inviável isolá-los para discernir em partes
sobre a natureza da questão.
Ainda que assim não fosse, a análise das questões constitucionais
suscitadas pelos agravantes esbarra em precedentes já adotados por esta
Corte, de acordo com os quais a invocação concernente à ampla defesa, ao
contraditório, aos limites da coisa julgada, ao devido processo legal e ao
ato jurídico perfeito supõe, necessariamente, a delibação de matéria
infraconstitucional. Esse foi o entendimento perfilhado na definição do
Tema 660, no julgamento do RE 748.371/MT, pela sistemática da
repercussão geral, de relatoria do Min. Gilmar Mendes, em que ficou
assentado:

“... Alegação de cerceamento do direito de defesa. Tema


relativo à suposta violação aos princípios do contraditório, da
ampla defesa, dos limites da coisa julgada e do devido processo
legal. Julgamento da causa dependente de prévia análise da
adequada aplicação das normas infraconstitucionais.”

3. Por outro lado, infirmar as premissas que orientaram o Tribunal


de origem a reconhecer o domínio público das terras objeto da presente
discriminatória demandaria indispensável juízo a respeito da legislação
infraconstitucional local de regência e reexame dos fatos e provas dos
autos, o que é vedado em recurso extraordinário, nos termos das Súmulas
279 e 280 do STF. Nesse sentido, o seguinte precedente:

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PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PRETENDIDA
DISTINÇÃO ENTRE TERRAS PÚBLICAS E DEVOLUTAS.
AUSÊNCIA DE OMISSÃO.
1. A decisão embargada, ao negar seguimento ao
recurso extraordinário, assinalou que, para o exame das
violações alegadas pelos recorrentes, seriam necessários o
reexame de fatos e provas (Súmula STF 279) e a análise de
legislação infraconstitucional, hipóteses inviáveis em sede
extraordinária.
2. Inexistência de omissão a sanar. O relator não está
obrigado a apreciar todos os argumentos apresentados pelo
recorrente, se os fundamentos de que se serviu são suficientes
para embasar a decisão. Precedentes.
3. O Tribunal de origem, soberano na análise dos
fatos e as provas, concluiu pela inexistência de posse, não
havendo possibilidade de consumação da usucapião. Esta
questão não prescinde do reexame do conjunto fático-
probatório e da legislação infraconstitucional.
4. Embargos de declaração rejeitados.
(RE 556.543-ED, Rel. Min. ELLEN GRACIE, 2ª Turma, Dje
17/5/2011).

4. Por fim, também não se sustenta a pretendida interpretação do art.


188 da Carta Magna, pela qual os agravantes propõem a distinção entre
terras públicas e terras devolutas para extrair dela a ideia de que estas,
por não se vocacionarem ao patrimônio público, ficam excluídas do
regime de direito público próprio daquelas, tornando-se, portanto,
usucapíveis. Não é assim, contudo, pois “a destinação das terras públicas e
devolutas será compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional de
reforma agrária” (art. 188 CF), e daí não resulta, tão só pela designação
expressa, que as glebas devolutas têm natureza diversa das terras
públicas em geral (insuscetíveis de usucapião por força do art. 183, § 3º da
CF).
A propósito, o art. 225, § 5º, da Constituição Federal dispõe que “ são

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indisponíveis as terras devolutas arrecadadas pelos Estados, por ações


discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais”, ficando
dessa forma assente que as terras devolutas também podem se revestir
das características das terras públicas inusucapíveis, a depender de
apreciação fática. Vale mencionar mais, como afirmado por Pontes de
Miranda (Comentários à CF de 197, Tomo I, pag. 520), que as que são
usucapíveis são as terras adespotas, ou nullius, não devolutas, estas sim
públicas porque devolvidas ao patrimônio público (entre outros, RE
89.964, Dj 11/4/1980).
Essa é, de resto, a orientação da legislação infraconstitucional que
prevê, inclusive, e em certos casos especiais, a legitimação das ocupações
e apossamentos de boa-fé até limites estabelecidos e mediante a satisfação
de alguns requisitos, também previstos em lei (Lei 4.504/64, art. 97, I e ss;
Lei 4.947/66, art. 6° e ss; DL 1.414/75 e, recentemente, a Lei 13.178/2015), a
dizer que, conquanto não afetadas, submetem-se ao rigor do regime
administrativo do patrimônio público. E assim, sempre tem sido,
particularmente antes da Constituição de 1988, de modo que a invocação
dessa nova interpretação, supostamente instituída por ela, dando as
terras devolutas como usucapíveis, além de incorreta, busca reverter
contra o passado (e este processo tramita há mais de 50 anos) orientação
que então prevalecia pacificamente com a jurisprudência uniforme desta
Corte.

5. Diante do exposto, nego provimento aos agravos regimentais. É o


voto.

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Extrato de Ata - 15/03/2016

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SEGUNDA TURMA
EXTRATO DE ATA

SEGUNDO AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 834.535


PROCED. : SÃO PAULO
RELATOR : MIN. TEORI ZAVASCKI
AGTE.(S) : WILSON RONDÓ JÚNIOR E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : FERNANDO ANTÔNIO NEVES BAPTISTA (166897/SP) E OUTRO(A/
S)
AGTE.(S) : DESTILARIA ALCIDIA S/A
ADV.(A/S) : ANTONIO NABOR AREIAS BULHOES (1109/AL, 1465-A/DF,
2251-A/RJ, 002251A/RJ)
AGDO.(A/S) : ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTDO.(A/S) : AGRO-PASTORIL CAMPANELLI S/A E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : AIMAR JOPPERT (33411/SP) E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : PONTE BRANCA AGROPECUARIA S/A E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : ALEXANDRE SLHESSARENKO (109087A/SP) E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : WILLIAN BRANCO PERES E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : JOSÉ OCTAVIANO INGLEZ DE SOUZA (116007/SP)

Decisão: A Turma, por votação unânime, negou provimento aos


agravos regimentais, nos termos do voto do Relator. Ausente,
justificadamente, o Senhor Ministro Gilmar Mendes. Presidência do
Senhor Ministro Dias Toffoli. 2ª Turma, 15.3.2016.

Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli. Presentes à


sessão os Senhores Ministros Celso de Mello, Cármen Lúcia e Teori
Zavascki. Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Gilmar
Mendes.

Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo Gustavo Gonet


Branco.

Ravena Siqueira
Secretária

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