O que é o
laicismo?
Extraído de Para Conhecer Melhor as Religiões.
Patrick Banon. São Paulo: Ed. Claro Enigma, 2010
Não se pode falar de religião
sem abordar o princípio do
laicismo. Ele é, com efeito, a
concretização de uma história
milenar das relações entre as Igrejas
e o Estado, entre o Vaticano, os reis
e os imperadores, entre o poder
clerical e o poder político.
O laicismo não se decreta de um dia
para o outro. Ele deve ser
compreendido antes de ser imposto.
É um gosto adquirido pela
liberdade individual, e não o
resultado de um tabu. Além disso, o
termo "laicismo" vem do latim
laicus, que não tem equivalente nem
em inglês, nem em alemão, nem em
árabe, nem em hebreu.
Laicismo não é ateísmo. Não é
a ausência de religião, mas a
separação entre o poder temporal
das instituições políticas e o poder
intemporal das diversas religiões.
Um espaço laico é um espaço neutro
que não se
opõe a nenhuma filosofia nem a
nenhuma crença. A neutralidade do
laicismo é a garantia de um
tratamento equitativo e igualitário
das crenças, sejam quais forem. Mas
isso não implica a aceitação na esfera
pública de cultos ou de filosofias que
se encontrariam em ruptura e às
vezes em contradição com as regras
fundamentais da República:
igualdade entre os homens e as
mulheres, escolas mistas, garantia
dos direitos da criança, acesso à
educação e aos tratamentos
médicos... Segundo o laicismo, a
prática religiosa exprime-se na esfera
privada. Um conceito difícil de ser
apreendido para religiões que não
fazem diferença entre as leis
religiosas e as leis da República.
Hoje, a diversidade cultural
nascida do cancelamento das
fronteiras e da livre circulação das
ideias e dos seres desenha um
mundo novo. As religiões

não estão mais ligadas a uma
terra, mas viajam com seus fiéis,
cada um levando consigo suas
bagagens espirituais. O laicismo é
a única garantia para que cada um
possa exprimir e praticar sua
cultura religiosa em total
liberdade. Essa liberdade exige de
cada um que não tente impor sua
própria crença a outros nem
espere que suas próprias
expectativas culturais sejam
superiores às expectativas do
próprio laicismo: a coexistência
pacífica das religiões e das
filosofias e a preservação da
coesão social da nação em torno
das regras da República.
As religiões tentam
responder às questões
fundamentais da humanidade
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principalmente sobre a perpetuação
da vida e o destino dos homens após
a morte. Uma preocupação que não
se situa fora do tempo. O princípio do
laicismo tem a responsabilidade de
permitir a coexistência equitativa dos
seres humanos entre si. Essa
preocupação existe no dia a dia, em
todos os aspectos da organização da
sociedade. De fato, os sistemas de
pensamento religioso libertam a
alma, e o laicismo liberta o homem.
Dois valores que se completam e são
agora indissociáveis, porque se a
diversidade cultural é irreversível
tanto quanto enriquecedora, o
laicismo permanece como a
expressão de uma sociedade madura
e humanista.