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PAULA CRUZ
FREI LUÍS DE SOUSA
ATO II
Durante o incêndio, duas coisas se gravaram no espírito já de si
sobressaltado de D. Madalena: o retrato de Manuel de Sousa, seu marido, e a
visão inesperada do retrato de D. João de Portugal, iluminado pelas chamas.
A destruição do primeiro retrato e a visão do segundo pressagiavam coisas
terríveis...
No palácio de D. João nunca Madalena conseguiu libertar-se do significado
terrível de tal visão. No espirito dela, como no das outras personagens,
abatia-se implacavelmente a fatalidade.
E quando, na ausência de Manuel de Sousa, que tinha ido a Lisboa, Frei Jorge
procurava tranquilizar D. Madalena, eis que um criado anuncia a chegada de
um romeiro.
- Quem és tu, Romeiro? - Perguntou Frei Jorge. E o Romeiro, apontando o
retrato:
NINGUÉM!
PAULA CRUZ
FREI LUÍS DE SOUSA
ATO III
Uma angústia mortal se abatia sobre D. Madalena e Manuel de Sousa.
A identificação de D. João de Portugal na pessoa do romeiro cobria-
os de vergonha, a eles e à sua filha, Maria.
A única solução para eles era agora separarem-se e refugiarem-se
num convento. O romeiro tenta ainda desfazer o mal que tinha
provocado, mas já era tarde.
D. Madalena e Manuel de Sousa resolveram morrer para o mundo e
vão tomar o hábito de S. Francisco. Maria, de rosto macerado e olhos
desvairados, entra precipitadamente na igreja, interrompendo a
impressionante cerimónia e escondendo o rosto no seio da mãe,
grita, perante o espanto de todos: morro, morro de vergonha.
E cai morta no chão.
PAULA CRUZ
A AÇÃO
ESTRUTURA INTERNA DA OBRA
O conflito vai-se desenrolando e tornando cada vez mais angustiante
pela sucessão destas três ações fundamentais:
- O incêndio do palácio de Manuel de Sousa e a destruição do seu
retrato (fim do 1.º ato);
- A mudança para o palácio de D. João de Portugal e a chegada deste
na pessoa do Romeiro (2. o ato);
- A morte de Maria e a tomada de hábito de Manuel de Sousa e de D.
Madalena (fim do 3. ° ato).
PAULA CRUZ
A TRAGÉDIA EM FREI LUÍS DE
SOUSA
Podemos ver aqui já os elementos fundamentais da tragédia clássica:
- Peripécias: incêndio do palácio, mudança para o palácio de D. João de Portugal, chegada
do Romeiro, morte de Maria, tomada de hábito dos pais;
- O clímax atinge-se com a chegada do romeiro e com a sua identificação com D. João de
Portugal (reconhecimento ou anagnórise);
- Catástrofe (coincidente com o desfecho da Ação dramática): morte física de Maria, e
morte apenas para o mundo de Manuel de Sousa e D. Madalena.
- Como elementos mais excitantes, ou de maior expectativa, além do conhecimento e do
incêndio do palácio (já apontados), podemos destacar:
a notícia de que os governadores espanhóis se queriam instalar no palácio de Manuel de
Sousa;
a confissão de D. Madalena (feita a Frei Jorge) de que amara o segundo marido desde a
primeira vez que o vira;
a cena 5 do ato III (diálogo entre Telmo e o Romeiro) e as 10, 11 e 12 do mesmo ato
(diálogo entre Telmo, o Romeiro, D. Madalena e Maria),
PAULA CRUZ
COORDENAÇÃO E CORRELAÇÃO DAS
AÇÕES
A) Ações simultâneas:
- Ligadas por uma relação de causalidade:
A notícia trazida de Lisboa por Frei Jorge de que os governadores
queriam fixar-se em Almada no palácio de Manuel de Sousa e o
incêndio provocado por este;
- Ligados por uma relação de condição:
A ida de Manuel de Sousa a Lisboa e a chegada do Romeiro...
PAULA CRUZ
COORDENAÇÃO E CORRELAÇÃO DAS
AÇÕES
PAULA CRUZ
ESTRUTURA EXTERNA DA OBRA
Frei Luís de Sousa está dividido em três atos e cada ato subdivide-se
em cenas.
Assim, o ato I tem 12 cenas, o ato II tem 15 e o ato III, 12.
PAULA CRUZ
PERSONAGENS | PROCESSOS DE
CARACTERIZAÇÃO
PAULA CRUZ
PERSONAGENS | D. MADALENA DE VILHENA
PAULA CRUZ
PERSONAGENS | MANUEL DE SOUSA COUTINHO
PAULA CRUZ
PERSONAGENS | MANUEL DE SOUSA COUTINHO
PAULA CRUZ
PERSONAGENS | MARIA DE NORONHA
PAULA CRUZ
PERSONAGENS | JOÃO DE PORTUGAL
PAULA CRUZ
PERSONAGENS | FREI JORGE
PAULA CRUZ
O ESPAÇO
PAULA CRUZ
O TEMPO
Tal como sucede com o espaço, também aqui podemos considerar aqui da
ação ou ações que constam da peça e o tempo dramático, que é mais vasto
que o primeiro.
Quanto ao tempo da ação o primeiro ato decorre num fim de tarde (É
no fim da tarde); o segundo ato passa-se oito dias depois (há já oito dias
que aqui estamos nesta casa...); o terceiro ato decorre a altas horas da noite
(É alta noite).
Quanto ao tempo dramático, ele vem desde o casamento de D. João
de Portugal com D. Madalena (antes de 1578), passando pelos sete anos em
que ela procurou saber se ele era vivo ou morto, pelos catorze em que D.
Madalena esteve casada com Manuel de Sousa, pelos oito dias em que
Madalena viveu no palácio de D. João de Portugal, três dias (de um a três de
agosto) em que D. João se apressava a chegar junto de sua mulher, até um
dia (4 de agosto - HOJE!)
Portanto, também o tempo dramático se vai estreitando, se vai
estreitando, à medida que o desenlace trágico vai chegando ao fim. PAULA CRUZ
LINGUAGEM E MODOS DE EXPRESSÃO
PAULA CRUZ
CLASSIFICAÇÃO DA OBRA
PAULA CRUZ
CARACTERISTICAS CLÁSSICAS
Leitura político-sociológica
PAULA CRUZ
(…) António José Saraiva sustenta que Telmo, verdadeira personagem central
do drama, que o próprio Garrett interpretou na primeira representação,
simboliza a alma profunda e fragmentada do autor, no seu aspecto mais
dramático de interioridade partida entre dois conflitos de fidelidades (culto
sebástico e crença no regresso do seu amo, a par da profunda afeição por
Maria), de impossível harmonização: "A personagem que verdadeiramente se
encontra no núcleo do Frei Luís de Sousa e em quem encarna o conflito é
Telmo Pais" (…) O dramatismo intensifica-se quando o velho Telmo se
consciencializa da passagem do tempo, dando-se conta de que a antiga
veneração ou culto por D. João, que vive apenas na sua "lembrança
mumificada", é substituída por uma sentida afeição bem real e viva pela
jovem Maria de Noronha. Este é o cerne do conflito interior de Telmo Pais,
aquele que lhe opõe a antiga "fidelidade de escudeiro" e nova afeição por
Maria. Mudam-se os tempos e as circunstâncias, mudam os corações, e a
pretendida coerência de sentimentos torna-se impossível. Perante este
dilema interior, o velho aio acaba por transformar-se no anunciador da
"morte do impostor" (D. João de Portugal). Essa morte do passado é-lhe
solicitada expressamente pelo antigo amo, mas esse pedido estava já PAULA CRUZ
LEITURA MÍTICO-CULTURAL: O
SEBASTIANISMO E O DESTINO PORTUGUÊS
PAULA CRUZ
LEITURA MÍTICO-CULTURAL: O
SEBASTIANISMO E O DESTINO PORTUGUÊS
O drama de Garrett fala de Portugal, num momento em que ele se interroga pela
boca de Garrett. É um país que vive um presente hipotecado, à sombra de um
obcecado sentimento de saudade passadista e sebastianista. Neste sentido, é
uma peça assombrada, habitada por dois fantasmas – um quase fantasma (D.
João de Portugal) e um outro fantasma mítico (D. Sebastião). O simbolismo
alegórico que une os dois personagens está bem representado no nome do
primeiro: o primeiro nome (D. João) remete-nos para alguns monarcas da
História de Portugal; e no sobrenome (de Portugal), está cristalizado o próprio
nome da Nação, num momento crucial da sua História. É preciso matar ou
exorcizar o passado, para que Portugal possa ter futuro: