Sie sind auf Seite 1von 3

A imprensa e sua regulação no Brasil

Publicado em 24/10/2010 por bballarotti


No post de hoje contamos com a contribuição de Felipe Corneau para trazer elementos para o
debate sobre o papel da imprensa no nosso país e sua regulação:
“Esses dias numa troca de emails com um amigo, ele me disse que se preocupava com essas
propostas de regulação da mídia, pois isso poderia levar a algum tipo de censura ditatorial por parte
do Estado. Eu me logo me solidarizei com a sua preocupação, mas fui obrigado a interpelar com
outro ponto de vista.Disse a ele que deveria atentar para um outro aspecto do controle do fluxo de
informações.
Ele não se torna grave e indesejado apenas quando é feito por um certo grupo político no poder do
Estado. Ele é também grave e indesejado quando exercido por um certo grupo econômico (ainda
mais restrito e impermeável) de posse dos meios de comunicação. Concordo que não devemos
concentrar esse poder nas mãos do Estado, mas não devemos ter em mais alta conta a sua
concentração nas mãos de algumas poucas famílias.
Os Marinho (Globo), os Frias (Folha), os Civita (Veja) e os Mesquita (Estadão)… Esses, que tão
prontamente esquecem alguns delitos e nos relembram outros. Essas 4 famílias que comandam os
mais importantes veículos de comunicação do Brasil, sustentam hoje posições que criam sensações,
no mínimo, “equivocadas”.
E não dá pra achar que o controle dessas famílias é mais brando porque está submetido ao mercado.
O Mercado, amigo, não é agente regulador e muito menos marco civilizatório – o Mercado serve é
pra ganhar dinheiro.
É bastante importante frisar: são 4 as famílias que controlam a maior parte da mídia no Brasil:
Marinho, Civita, Frias e Mesquita. O que é ou deixa de ser divulgado nas TVs, rádios e jornais
dessas famílias passa pelo crivo de editores fortemente controlados ou alinhados à “política” da
casa, como Ali Kamel na Globo. Isso quando não é o próprio dono que ocupa a função, como o
Otavinho Frias na Folha de SP. Sem falar no seu manual de redação…

E veja, essa não é uma questão ética ou moral, as pessoas tendem a se perder aí. O próprio Octávio
Frias (o pai, falecido, que dá nome ao ICESP) é conhecido pela frase: “é imoral perder dinheiro nos
negócios”. Ele sabia que a única ética do jornal, (como em qualquer outro negócio), é ter lucro. É
claro que isso depende de ter leitores, ouvintes e telespectadores, mas em geral a audiência está
mais relacionada à capacidade de investimento do grupo do que à imparcialidade.
Nos EUA, a FOX, de Glenn Beck, apesar de notoriamente alinhada ao Partido Republicano, é a
maior rede de TV nos EUA. Nesse negócio, não é o consumidor que manda, se é que manda em
algum. Mesmo nos jornais e revistas, a maior parte da renda não vem da venda de exemplares, mas
sim dos anúncios. Esses são feitos principalmente pelos grandes bancos, montadoras, pelas
empresas de telefonia… A necessidade de agradar seus maiores financiadores prepondera.
E não é só isso, tem outras coisas…
O fato de ser um empreendimento privado define muita coisa. O desenvolvimento das empresas de
mídia durante o século XX foi bastante similar ao desenvolvimento da maioria das indústrias de
bens de consumo: houve rápido desenvolvimento tecnológico, com aumento exponencial do valor
agregado na produção. Ou seja, é cada vez mais caro você montar um negócio desse tipo,
principalmente nas áreas altamente lucrativas. Além disso há uma tendência de se realizar fusões.
Para enfrentarem os elevados (e crescentes) custos de produção e se manterem competitivas no
mercado mundial, grupos concorrentes realizaram grandes fusões, aumentando o capital envolvido
e o controle do mercado. Um bom exemplo é AOL Time Warner.
A regulação dessa atividade pelo Mercado não privilegia exatamente a imparcialidade e a livre
concorrência né? Essas empresas, por diferentes razões históricas, conseguiram estabelecer-se como
líderes nos seus segmentos, e a quantidade de capital necessária para fazer frente a isso
praticamente exclui a possibilidade de um novo grupo independente entrar na disputa.
O mais interessante é que essas “razões históricas” não têm muito a ver com o “Mercado”, e
também não foram “coisa do destino”. O Estadão, por exemplo, apoiou ativamente o golpe militar
de 1964. A Rede Globo foi montada em 1965 com pesados investimentos do Estado Brasileiro com
o objetivo claro de tomar o lugar das emissoras que viriam a ser fechadas pelos próprios militares. A
Folha também não foi exatamente reprimida pelo governo enquanto cedia seu furgões para a
Operação Bandeirantes (OBAN).
Então o problema é que para eu, minha familia, ou o meu partido consigamos alcançar o mesmo
tanto de pessoas que uma dessas famílias alcança, só se o Otavinho Frias me adotar. Eu não consigo
juntar uma grana e montar um jornal para concorrer com eles. Nem que o meu partido fosse o PT.
Uma rede de televisão então, nem se fala.
E imparcialidade entao? Isso não é com eles mesmo! E eles não tem o mínimo pudor.
Quando 1,5 milhão de pessoas saíram às ruas em 1984 no movimento das Diretas Já, a maior
manifestação pública da história do país, a Globo fez uma edição dizendo que era uma
comemoração pelo aniversário da cidade de São Paulo, não disse uma palavra sobre as Diretas. Em
1989, depois de tirar o Brizola da jogada, Marinho ordenou edição despudorada do debate no 2o
turno e garantiu as eleições para o Collor. O Bonner, o Jabor e o Jô Soares falam um monte de
barbaridade toda noite (sobre o governo que é aprovado por aproximadamente 80% dos brasileiros)
e ninguém deixa de assistir. E não é coisa antiga de antigamente. Essa semana a manipulação de
imagens e a presença do perito na matéria de 7 minutos sobre a bolinha de papel no JN mostrou que
os Marinho não perderam a mão.
Na Folha, nem o texto da própria reportagem (da Folha) sustenta as manchetes. Quando você vai ler
a matéria, vê que na verdade aquele título era “um pouco forçado”. Não obstante, continua sendo o
maior jornal do país.
O Estadão, demorou 140 anos, mas assumiu que apóia mesmo o Serra e demitiu a colunista que
tentou fazer contraponto.
A Veja… bem, da Veja eu não vou falar, vocês conhecem a Veja, lar de Reinaldo Azevedo e Diogo
Mainardi. A maior revista semanal do país.
Esses órgãos de imprensa já assumiram a vanguarda da direita brasileira há muito tempo. Eles tem
posição política, tem importantes instrumentos para fazer a disputa do Estado e já atuam como um
partido. A diferença é que não tem estrutura democrática, ninguém vota – é uma autocracia familiar.

E regulação não é coisa de ditadura pseudocomunista. Em todo o ocidente desenvolvido, em


países reconhecidos internacionalmente como democráticos, (e nada comunistas), como EUA,
França, Inglaterra e Espanha, existem leis que regulam esse tipo de atividade. Nos EUA, um
mesmo grupo não pode ter uma emissora de TV e uma emissora de rádio no mesmo estado.
Segundo Ernesto Carmona, de 1934 a 1987, a FCC (orgão que regula a atividade no país)
revogou nada menos que 141 concessões de rádio e TV, muitas delas sem aguardar o fim do
prazo de concessão. Na Inglaterra, concessões são revogadas o tempo inteiro, não é
exclusividade da Venezuela.
Que fiquemos entendidos, então. Não defendo que a circulação de informações no país seja
controlada pelo Comitê Central do Partido. O que defendo é que deixe de ser.”

Das könnte Ihnen auch gefallen