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Promoção Pro movere (Para frente + mover) Pôr em execução; dar impulso a.
3. Os EPIs são projetados para mitigar apenas os efeitos sendo meramente protetivo dada
especificas combinações de requisitos. Serve para atenuar lesões aos usuários decorrentes da
exposição a agentes específicos durante o processo de trabalho. A produção e a
comercialização dos EPIs são autorizadas, tecnicamente, pela emissão de Certificados de
Aprovação (NR-6). Essa autorização é amparada exclusivamente em ensaios laboratoriais
relativos a agentes específicos, implicando uma orientação ao projeto de EPIs por agente.
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4. A legislação não requer validação do projeto dos EPIs em testes de campo que
simulariam a sua utilização em condições reais e que, facilmente, evidenciariam deficiências
provocadas por essa orientação especializada nos projetos dos EPIs. Segundo alguns autores,
existem algumas divergências entre a atenuação de ruídos e desempenho dos protetores
auditivos encontrados em laboratório e no campo (Gerges, 1992)1.
5. Berger(1993)2 verificou em vinte estudos sobre o real nível de atenuação de ruídos dos
protetores auriculares, em que foram apresentados os níveis de redução contida nos rótulos, dos
protetores auriculares tipo plug e concha, medidas por testes em laboratório, e os níveis
efetivamente reduzidos no ambiente real.
7. Existe, ainda, uma deficiência na concepção dos EPIs desde a sua fase de projeto.
Grande parte dos EPIs é projetada para proteger contra agentes isolados, ignorando os
potenciais efeitos sinérgicos.
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11. Sabe-se que os EPIs têm a finalidade de proteção, ou seja, reduzir/ controlar e não de
evitar os riscos à saúde e à segurança dos trabalhadores. Consequentemente, na maioria dos
casos, a utilização de EPIs só deve ser considerada como um dos últimos recursos de
tecnologia de proteção/ controle de riscos aos trabalhadores (ILO, 2001). As medidas de
prevenção seriam aquelas que eliminam ou reduzem os riscos e perigos, atuando na sua fonte,
ou seja, evitam e/ou reduzem a geração do risco ou do perigo. A prevenção deveria ser
priorizada em relação a medidas de proteção ou atenuação dos riscos ou dos perigos. Na
maioria das situações, “proteger” parece ser mais “econômico” do que prevenir.
12. A falta de estímulo para a adoção de medidas de prevenção como solução viável para
controlar situações insalubres ou perigosas estimula a utilização dos EPIs como solução
paliativa, uma vez que os EPIs, normalmente, parecem ser a solução economicamente mais
vantajosa. Um indicador dessa falta de incentivos para medidas de prevenção é a carência de
estudos sobre desenvolvimento tecnológico de EPIs. Vale ressaltar que o estado da técnica dos
EPIs está bem distante da utilização desses equipamentos em situações reais.
13. Grande parte dos EPIs não seria adequada à sua utilização e/ou finalidade. A função do
EPI passa a ser de reduzir o risco ou mitigar a consequência. A legislação brasileira não é
efetivamente protetiva em relação aos EPIs quando aceita universalmente que o uso desses
4 ILO. International Labour Office. Guidelines on occupational safety and health management systems, ILO-OSH 2001,
Geneva. 2001.
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14. Outro aspecto que impacta diretamente na qualidade e na eficiência dos EPIs é o
econômico. Normalmente, na escolha do EPI são consideradas variáveis financeiras, muitas
vezes ignorando custos socioeconômicos (e.g. custos para saúde dos trabalhadores e custos de
responsabilização trabalhista). A decisão de qual EPI utilizar é bastante influenciada pelo custo
deste EPI (CROCKFORD, 1999)6.
15. O uso de EPIs ainda requer necessariamente treinamento. Não basta determinar sua
necessidade, ocasião de emprego e a indicação apropriada do equipamento específico para
cada condição, é preciso prepará-los para utilizar corretamente esses equipamentos. É
necessário que saibam checar os equipamentos antes do uso, vestir corretamente para propiciar
boa proteção, desvestir e higienizar os equipamentos apropriadamente para evitar
contaminações, além de fazer a manutenção e guardá-los adequadamente, sob o risco dos
usuários, por não utilizá-los corretamente, sofrerem problemas de saúde e desacreditarem
completamente nesses equipamentos, dificultando ainda mais os trabalhos de prevenção de
acidentes que possam vir a ser desenvolvidos.
16. Em trabalho realizado por VEIGA5, foi analisada a eficiência e a adequação dos
Equipamentos de Proteção Individuais utilizados na manipulação e na aplicação de agrotóxicos
nas agriculturas brasileira e francesa. As evidências encontradas mostraram que os EPIs
utilizados em ambos os casos, além de não protegerem integralmente o trabalhador contra o
agrotóxico, ainda agravaram os riscos e perigos, pois se tornaram fontes de contaminação.
17. Além do trabalho produzido pelo Ministério da Agricultura francês (MINAG, 2006)7,
colocou-se em evidência que os equipamentos de proteção recomendados raramente eram
utilizados, o que permitiu questionar a eficácia real dos meios de proteção recomendados.
Também na França, os EPIs tiveram sua eficiência questionada. Jourdan (1989)8, Bernon
5 VEIGA, M. M. A contaminação por agrotóxicos e os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Rev. bras. Saúde ocup.,
São Paulo, 32 (116): 57-68, 2007
6 CROCKFORD, C. W. Protective clothing and heat stress: introduction. Ann. occup. Hyg., v. 43, n. 5. p. 287-288, 1999.
7 MINAG. Ministère de l’agriculture et de la pêche. Note DGFAR/SDTE/N2006-5029. Analyse et synthèse
des contrôles réalisés en 2003 et 2004 concernant le respect de la réglementation de protection de la santé, lors de l’utilisation des
produits phytosanitaires au sein des entreprises agricoles. 2006
8 JOURDAN, M. Développement technique dans l’exploitation agricole et compétence de l’agriculteur. 167 p. Thèse (Doctorat
en Ergonomie) – Laboratoire d’Ergonomie, Conservatoire National des Arts &
Métiers, Paris, 1989.
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(2002)9 e Brunet et al. (2005)10 estudaram as dificuldades ligadas à utilização dos EPIs e as
restrições que são geradas por sua utilização.
19. Oliveira e Machado Neto (2005)12 avaliaram a segurança no trabalho relacionada com o
uso de EPIs na aplicação de agrotóxicos para a cultura da batata. Eles constataram que o tipo
de EPI utilizado influenciava diretamente na possibilidade de exposição dos trabalhadores rurais
e, ainda, que mesmo utilizando os EPIs recomendados, os trabalhadores rurais continuavam se
contaminando, uma vez que os EPIs foram “erroneamente recomendados com base apenas na
classe toxicológica e não na exposição ocupacional que as condições de trabalho propiciam e na
sua distribuição pelo corpo do trabalhador”, ou seja, inadequados para situação real encontrada.
Por isso, faz-se necessário avaliar a adequação de cada tecnologia em saúde e as condições
ambientais e antropométricas encontradas em cada situação de fato.
20. Os EPIs são projetados, no caso de agrotóxicos, de forma a garantir proteção contra
agentes químicos externos, ou seja, para manter certas substâncias “fora” do organismo. As
mesmas propriedades físicas e químicas que fornecem aos EPIs essa característica de proteção
também os transformam, frequentemente, em bastante desconfortáveis e/ou inadequados.
9 BERNON, J. Traitement du risque phytosanitaire à la MSA de l’Hérault. In: COLLOQUE DES CTR, CTN, CCMSA, 2002,
Bagnolet. Anais..., Bagnolet, 2002.
10 BRUNET, R. et al. Le risque et la parole: construire ensemble une prévention des risques du travail
dans l’agriculture et l’industrie. France: Octares Editions, 2005.
11 COUTINHO, J. A. G. et al. Uso de agrotóxicos no município de Pati do Alferes: um estudo de caso. Caderno de
Geociências, n. 10, p. 23-31, 1994.
12 OLIVEIRA, M. L.; MACHADO NETO, J. G. Segurança na aplicação de agrotóxicos em cultura de batata em regiões
montanhosas. Rev. bras. Saúde ocup., v. 30, n. 112, p. 15-25, 2005.
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23. Veiga (2007)5, em seu trabalho aqui citado, concluiu que, nos casos analisados, os EPIs
não eliminaram nem neutralizaram a insalubridade, conforme estatui a legislação, e ainda
aumentaram a probabilidade de contaminação dos trabalhadores rurais em algumas atividades.
Por tudo que foi aqui exposto, consideramos improcedente a ideia de que a adoção de EPIs seja
considerada como uma das principais medidas para resolução dos problemas de segurança em
atividades de trabalho com agrotóxicos na agricultura, como vem sendo preconizada.
24. Hoje a questão da toxicidade crônica na avaliação dos agravos à saúde provocados
pelos agrotóxicos é considerada de grande importância pela OMS. É óbvio que toda redução de
exposição que puder ser conseguida é benéfica, mas fica evidente que apenas o uso dos EPIs
não é suficiente para garantir a segurança do trabalhador que lida com agrotóxicos,
evidenciando uma vez mais a necessidade de se investir em medidas coletivas de controle.
25. Dentre outros agentes nocivos à saúde, confere-se ao ruído um dos mais presentes
nos ambientes urbanos e sociais, principalmente nos locais de trabalho e nas atividades de
lazer. As medidas de controle passam necessariamente pelo combate das energias sonoras ao
longo do fluxo: fonte-trajetória-receptor, por óbvio a opção pelo uso isoladamente do EPI
auricular (EPI) agride a lógica, pois não se combate a causa limitando o efeito. E os efeitos são
muitos, para mito além da Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR): distúrbios hormonais,
endócrinos, cardiovasculares, de sono, desatenção, cansaço, fadiga, arritmia, hipertensão, entre
outros.
26. Fiorini (1994)13 desenvolveu estudo acompanhando o monitoramento audiométrico de
80 (oitenta) trabalhadores expostos ao ruído em uma empresa metalúrgica de utensílios
domésticos em São Paulo, durante 03 anos, de 1991 até 1993 (pág. 41). O uso de protetores
13 FIORINI, AC. Conservação Auditiva: Estudo sobre o monitoramento audiométrico em trabalhadores de uma indústria
metalúrgica. Dissertação de Mestrado em Distúrbios da Comunicação. PUC- SP, 1994. 95 págs. e anexos.
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auditivos era obrigatório e durante toda a jornada de trabalho, com orientações quanto ao uso e
higienização constantes, além de trocas, no máximo, semanais. Nas palavras da autora, “uso
contínuo e adequado do protetor, fiscalizado periodicamente pelo médico ou pela
fonoaudióloga”, ocorrente desde 1990 e mantido durante o período estudado (pág. 39).
27. O estudo constatou que, “considerando o total de trabalhadores com PAIR [Perda
Auditiva Induzida pelo Ruído] em 1993, podemos destacar que o uso regular de protetores
auditivos não apresentou vantagens no aspecto preventivo. Isso evidencia que, mesmo quando
existem medidas passivas no receptor com uso regular de protetores auditivos, em condições
favoráveis de controle de experimento, ainda assim não se verifica ganhos. (págs. 78/79), sem
destaque no original.
28. Ressalta-se que há carência de produtos para proteção individual da audição que
obtenham design confortáveis, tanto fisicamente como psicologicamente, e funcionais,
considerando a durabilidade em contraste com o comprometimento eficaz do equipamento.
31. A partir de 1989, a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a tratar o ruído como
problema de saúde pública. Embora a doença ocupacional por ruído seja um problema de alta
prevalência nos países industrializados, incluindo-se o Brasil, os estudos sobre a sua história
natural são escassos.
14 GERGES, S. N. Y. Exposição Ocupacional ao Ruído: Avaliação, Prevenção e Controle, Cap. 5 : Fontes de ruído, OMS,
Genebra , 1995 .
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32. Os ruídos têm atingido altos índices de insalubridade em locais de trabalho, o que tem
levado países a publicar leis de proteção aos trabalhadores. Fernandes (2003)15 afirmou que
embora não seja o método mais adequado de combate ao ruído, o protetor auricular (PA) é o
EPI mais usado para tentar prevenir a PAIR.
34. Almeida (1950)17 fez um mapeamento de risco nos escritórios da estrada de Ferro
Sorocabana e, mencionou não apenas que a lesão auditiva advinda da exposição ao ruído, mas
destacou os efeitos estressantes deste agente. Vieira (2003)18 dispõe que de acordo com a OMS
- Organização Mundial da Saúde (1995), a exposição excessiva ao ruído pode causar muitos
problemas à saúde, tais como:
15 FERNANDES, J. C. Avaliação do reconhecimento da fala em usuários de protetores auditivos. In: XXIII Encontro Nacional
de Engenharia de Produção, Bauru, 2003, Anais... Ouro Preto, MG, p. 153-154, 2003.
16 ARAUJO, S. A. Perda auditiva induzida pelo ruído em trabalhadores de metalúrgica. Rev. Bras. Otorrinolaringol, v. 68, n. 1,
p. 47-52, maio. 2002.
17 ALMEIDA, H. Influence of electric punch card machines on the human ear. Archives of Otolaryngology, n. 51, p. 215-222,
1950.
18 VIEIRA, K. G. Perda da força sofrida pelo arco do equipamento de proteção individual auricular tipo concha de acordo com
o tempo de utilização. 2003. 73p. Monografia (Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho), Unesp,
Bauru/SP, 2003.
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36. Várias pesquisas experimentais demonstraram que exposição elevadas de ruído por
um curto período de tempo pode desencadear respostas cardiovasculares semelhantes às que
ocorrem no estresse agudo, com aumento da pressão sanguínea, provavelmente mediado pelo
aumento da resistência vascular periférica (Andren et al., 198220; Harlan et al., 198121).
37. Santos et al (1996)22, explicaram que os valores de atenuação dos ruídos citados pelas
indústrias de protetores referem-se a valores obtidos em laboratório, diferente dos valores
alcançados no ambiente industrial (em média 10 dB a menos). De acordo com o mesmo autor,
erros no posicionamento, tempo efetivo de uso, manutenção e trocas inadequadas estão entre
as causas mais comuns.
38. Na dissertação de Augusto Neto, N (2007)23 , em que foi verificado os níveis reais de
atenuação de protetores auriculares do tipo concha, utilizando microfone sonda, todos os
protetores auriculares utilizados na amostra apresentaram diferença nos valores de atenuação
em comparação com os valores apresentados em seus Certificados de Aprovação, sempre com
valores menores aos apresentados.
39. Nudelmann et al. (1997)24, citado por Vieira (2003), classificaram os protetores extra-
auriculares tipo concha, sendo estes formados por duas conchas atenuadoras de ruído,
colocadas em torno dos ouvidos e interligadas através de um arco tensor. Esse tipo de protetor é
inadequado para exposição contínua, onde o pressionamento da área circum-auditiva apresenta
grande desconforto. Dessa forma, é provável que o protetor não seja utilizado durante toda a
jornada. Algumas desvantagens:
19 SOUZA, N. S. S. Hipertensão arterial entre trabalhadores de petróleo expostos a ruído. Cad. Saúde Pública, v. 17, n. 6,
p.1481-1488, nov/dez. 2001.
20 ANDREN, L. et al. Effect of noise on blood pressure and 'stress' hormones. Clinical Science, v. 62, p. 137-141, 1982.
21 HARLAN, W. R. Impact of the environment on cardiovascular disease: Report of the American Heart Association task force
on environment and the cardiovascular system. Circulation, v. 63, p. 243A-246A, 1981.
22 SANTOS, U. P.; et al. Ruído: Riscos e Prevenção, 2° ed. São Paulo: Hucitec, 1996.
23 AUGUSTO N, N. Atenuação dos protetores auriculares do tipo concha utilizando microfone sonda / Nelson Augusto Neto,
2007. 73 f. il. Dissertação (Mestrado) – Unesp, Bauru/SP, 2007
24 NUDELMANN, A. A. PAIR – Perda Auditiva Induzida pelo Ruído, Porto Alegre, 1997.
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40. Na seleção de um protetor auricular (PA), devem-se levar em conta três fatores
principais: atenuação, conforto e comunicação. De acordo com Nielsen (2001)25, no Brasil, a
escolha desses dispositivos é feita a partir da combinação do preço e atenuação oferecida, mas
sem que se façam análises detalhadas.
41. Verifica-se que atualmente existe uma grande incerteza quanto ao Nível de Redução de
Ruído (NRR) dos PAs fornecidos pelos fabricantes. As normas regulamentadoras colaboram
para tal incerteza, uma vez que não apresentam especificações quanto ao método correto para o
ensaio dos protetores em laboratórios, padronizando, dessa forma, todos os valores de NRR
indicados.
42. Assim, à mercê de toda essa discussão, estão os trabalhadores expostos ao ruído, que
continuam a sofrer perdas auditivas, apesar de utilizarem PAs com grau de atenuação
adequada, conforme indicado pelos fabricantes e aprovados pelo Ministério do Trabalho e
Emprego26.
a. seleção adequada;
b. conforto;
c. uso;
d. higienização;
e. manutenção;
f. orientação e avaliação dessas medidas adotadas sobre os EPI, garantindo-se as
condições de proteção originalmente estabelecidas pelos fabricantes.
44. No entanto, o que se observa é a grande dificuldade, por parte dos empregadores, em
verificar positivamente cada um dos requisitos acima, o que torna a eficácia do EPI uma figura
de mera retórica, sem concretude prática27. Isso, sobretudo, em relação aos protetores
auriculares, recomendados quando os níveis de pressão sonora excederem a dose unitária (85
dBA por 8 horas; 90 dBA por 4 horas; 100 dBA por 2 horas; até 115 dBA por 7 minutos) nos
25 NIELSEN, R.M. Comportamento de três protetores auriculares tipo concha, em ambientes com ruídos em baixa freqüência.
2001.
26 CIOTE, F.A; Ciote, R.F.F; Haber. J. Análise da Atenuação de Ruído de Protetores Auriculares. Exacta, São Paulo, v. 3, p.
71-77, 2005.
27 GONÇALVES CGO, Iguti AM. Análise de programas de preservação da audição em quatro indústrias metalúrgicas de
Piracicaba, São Paulo, Brasil. CAD Saúd Públ. 2006; 22(3):609-18.
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45. A título de exercício de raciocínio em um ambiente de trabalho com ruído industrial, tem-
se que o ruído, de modo mais intenso, continua a chegar ao cérebro mesmo com
tamponamento! Logo se no limite o EPI refratasse 100% a energia sonora proveniente do meio
ambiente do trabalho, ainda assim o sistema auditivo perceberia os ruídos.
46. Conclusão: a eficácia do EPI é questionável porque simplesmente não se tapa sol com
peneira, nem som com EPI auricular, por quê? Porque nem todo som é percebido pelo pavilhão
auditivo (orelha externa).
48. Desde 1863, os estudos de Helmholtz, sobre a análise dos sons e a teoria da audição,
explicam os mecanismos fisiológicos cocleares (parte anterior do labirinto ou orelha interna),
bem como discriminam como se dá a análise sonora das frequências dos sons no sistema
auditivo humano.
49. Na restrição hipotética de que houvesse apenas o mecanismo aéreo de audição, bem
como considerando que o EPI é melhor que os próprios dedos enfiados nas orelhas, ainda assim
a eficácia do EPI é questionável, pois é inidôneo para isolar plenamente o conduto central
auditivo, pois:
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a. Sempre haverá fuga devido aos imperfeitos ajustes antropométricos entre orifício
auricular (personalíssimo) e geometria do EPI (standart baseado em médias e
desvios-padrão, generalíssimo);
b. Sempre haverá cera ou cerume, sujeira, pelos, oleosidade que impedirão o ajuste
perfeito entre o orifício e o EPI;
c. Sempre o EPI permitirá a passagem de som, pois há ineficiência acústica intrínseca
aos materiais que o compõe (nenhum material é 100% resistivo);
d. Principalmente pelo fato do EPI ser um só para várias situações acústicas de campo,
dada à miríade de combinações entre as variáveis Nível Pressão Sonora (NPS) - em
Pascal, Pa - e frequências (f) - em Hertz, Hz. O fabricante define um nível de redução
de ruído (NRR) - do inglês, Noise Reduction Rating - para cada par de NPS versus
frequência (P x f), consideradas constantes ao longo da jornada. Obviamente a
dinâmica acústica de campo está anos-luz da estaticidade rotulada nas embalagens
desses produtos.
50. Se tudo isso fosse, em tese, considerado como atendido, ainda assim remanesceria a
estranha condição: penetrar vários EPI simultaneamente na orelha do receptor! A cada instante
chegam vários sinais (Pressão e Frequência) na orelha do trabalhador e por se tratarem de
sinais acústicos complexos é impossível combater com elemento simples (EPI) especificado pelo
fabricante apenas para restrito conjunto de combinações (Pressão e Frequência).
51. Em outras palavras, não se combate o maior espectro de NPS x f com o menor.
Precisamente falando: isso que o EPI diz que faz - é uma fraude. Isso considerando apenas a
hipótese da transmissão aérea!
52. Se apenas para via aérea a eficácia do EPI é questionável, imagine considera-lo para
via óssea. Como reforço à refutação da tese de que EPI possa ser eficaz, pois se pela via aérea
está provado que ele é ineficaz, aditamos que chega a ser algo temerário prescrever EPI quando
para determinadas pressões sonoras, acima de 85 dB(A) - equivalente a 10-4 W/m2 ou 0,1 N/m2
– simplesmente a transmissão se dá pela via óssea.
53. A intensidade mínima do som percebido pelo ouvido humano (limiar de audição) é,
aproximadamente, de 10-12 W/m2 (equivalente a 2.10-5Pa). A partir de 1W/m2, provoca-se dor,
limiar da dor (equivalente a 2.102Pa).
54. E nesse caso falar em EPI é considerar a possibilidade de EPI bloquear tais
transmissões de energias à cóclea, é no mínimo desonesto intelectualmente, pois para tal mister
seria necessário interpor material isolante acústico em toda caixa craniana mediante cirurgia
óssea circunferencial (bloqueio ósseo), aliado ao tamponamento forçado dos orifícios timpânicos
(bloqueio aéreo). Um absurdo!
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55. Bem, como acima sustentado, oblitera-se acintosamente qualquer razoabilidade do uso
de EPI como elemento de prevenção (no máximo como elemento protetor, e mesmo assim para
algumas restritíssimas e combinadas situações). Mas, por que então a lei previdenciária o
considera?
56. Sabe-se que a norma é ato político, que por sua vez decorre daquele que vence a
correlação de forças impondo aos demais as suas vontades. A inobservância dos cuidados à
saúde do trabalhador, aliada à inércia e parcialidade do tripartismo, principalmente aquele que
tangencia às NR do MTE respondem à pergunta acima em detrimento dos princípios da
dignidade humana, da física, da anatomia e da fisiologia humana.
57. Por isso se diz que a discussão sobre EPI é artificial. Uma vez que o natural seria
combater as causas originárias do ambiente ao invés de introduzir, literalmente, uma fraude nas
orelhas dos subordinados. Há neste mister a legalização e judicialização de um absurdo físico
que muda o foco do debate do meio ambiente do trabalho doentio - frequentemente com horas-
extras contumazes como agravante de exposição, deliberadamente sem equipamentos de
proteção coletiva (EPC) e/ou medidas administrativas – para a vítima, sem margem de manobra
ou grau de liberdade para dizer não a isso tudo. E, se o fizer: insubordinação (justa causa)!
58. Mesmo sendo obrigatório aos fabricantes de EPI realizarem a avaliação dos mesmos,
comprovando, assim, sua eficiência, isso não é garantia de que o trabalhador irá beneficiar-se de
sua proteção, pois a colocação inadequada comprometerá os objetivos do EPI, e no caso dos
protetores auriculares, que já apresentam diferenças quanto à proteção, dependendo do tipo
utilizado, se mal colocados, sua eficácia é comprometida28.
59. O próprio NIOSH29 (1996), National Institute for Occupational Safety and Health, já
enfatizava a questão da efetividade da proteção pelos EPI auriculares em função do tempo de
efetiva utilização, como mostra o gráfico abaixo. Neste, fica evidente a significativa redução da
proteção e queda do efetivo Nível de Redução de Ruído (NRR) em função do tempo de não
utilização do dispositivo individual, já a partir dos 30 primeiros minutos.
28 RODRIGUES M.A.G, Dezan AA, Marchiori LLM. Eficácia da escolha do protetor auricular pequeno, médio e grande em
programa de conservação auditiva. Rev CEFAC. 2006; 8(4):543-7. Gonçalves CGO, Vilela RAG, Faccin R, Bolognesi TM,
Gaiotto RB. Ambiente de trabalho e a saúde do trabalhador: uma proposta de controle do ruído. Interfacehs. Rev Gestão Integr
Saúde Trab Meio Ambiente. 2008; 3(2):2-19.
29 NIOSH/CDC, National Institute for Occupational Safety and Health. Preventing occupational hearing loss: a practical guide.
Publication nº 96-110. Pág. 39. Acesso em 17/11/13, no link http://www.cdc.gov/niosh/docs/96-110/ Cincinnati, Ohio – EUA
1996.
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62. Erroneamente, muitas empresas acreditam que o simples ato de fornecimento dos EPIs
está isentando total e irrestritamente as responsabilidades advindas do acidente de trabalho ou
doença profissional. Aliás, em caso de acidente de trabalho, onde a empresa negligenciou ou
não forneceu o EPI, está, através de seus representantes, responde civil e criminalmente pela
omissão.
30 VERNON E. R. & BARBARA C. Patty’s Industrial Hygiene. Edited by. Editora John Wiley & Sons, Inc. Hoboken, Pág.
1550. New Jersey. 2011.
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submetido, somente existindo, com algumas exceções, métodos empíricos para se determinar
se o EPI está imprestável.
64. Outro detalhe aos quais as empresas não estão atentas é que de nada adianta fornecer
o EPI cercado de todos os cuidados se o trabalhador não recebeu treinamento para usá-lo. A
eficiência do equipamento, particularmente os protetores auriculares e máscaras, depende
essencialmente do modo como são usados, sob risco de não promoverem a atenuação
especificada.
65. Assim, é igualmente importante que a empresa treine o trabalhador com recursos
próprios, ou por meio dos fabricantes de EPIs que já fazem este trabalho gratuitamente, através
de palestras ou mini cursos. Mais uma vez, deve a empresa documentar que treinou o
trabalhador ao uso do EPI, seja por meio de termo na própria ficha de entrega, seja por meio de
emissão de certificado.
66. Bastos (2005)31, em sua dissertação, observou a carência nos produtos de proteção
individuais auditivos confortáveis e funcionais, relacionados à durabilidade, face ao
comprometimento eficaz do equipamento. O objetivo principal do seu estudo foi reconhecer
perda de eficácia diante do tempo de uso em EPI auditivo, intra-auricular, de espuma.
67. Foi apurado que os equipamentos sofrem alteração de eficácia conforme o tempo de
uso, e que o desgaste do material inicia perda de confiança, principalmente em frequências
audíveis de até 100Hz, e a partir de 16 dias para pressão sonora sofrida em 101dB à 20Hz. Para
pressão sonora sofrida a partir de 107dB à 20Hz, a perda de confiança para o uso,
principalmente em frequências audíveis até 100Hz, foi de 8 dias. Os EPIs não perdem eficácia
de atenuação importantes com o uso diário em frequências a partir de 1KHz até 20KHz.
68. Concluiu-se que há perda de eficácia, conforme o uso diário e frequente do EPI auditivo
estudado. Os resultados confirmaram as expectativas, demonstrando que parâmetros de função,
em detrimento ao envelhecimento do EPI auricular, face a seu uso diuturno, se mostram
importantes na geração de projetos vindouros em design direcionados à audição, para que a
integridade física humana esteja cada vez mais protegida.
69. Ainda em sua dissertação, Bastos (2005)31 apontou os efeitos do ruído à audição e ao
organismo:
31 BASTOS, R. S.; Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho. Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação.
Reconhecimento da Perda de Eficácia de Protetor Intra-Auricular. 2005.
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32 GONÇALVES, C. G. O.; et. al. Avaliação da Colocação de Protetores Auriculares em Grupos Com e Sem Treinamento. Rev.
CEFAC. 2009 Abr-Jun; 11(2):345-352
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72. Segundo consta no protocolo de perda auditiva induzida por ruído do Ministério da
Saúde (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_perda_auditiva.pdf), na página 17,
no subtítulo "Efeitos não-auditivos da exposição ao ruído", a exposição ao ruído é fator de risco
para o estresse. A sintomatologia do estresse é dividida em três etapas: na primeira, chamada
de reação de alarme, observa-se aumento de pressão sanguínea, de freqüência cardíaca e
respiratória, e diminuição da taxa de digestão; na segunda etapa, chamada de reação de
resistência, o corpo começa a liberar estoques de açúcar e gordura, esgotando seus recursos, o
que provoca cansaço, irritabilidade, ansiedade, problemas de memória e surgimento de doenças
agudas como gripes; na terceira etapa, a da exaustão, os estoques de energia são esgotados,
tornando o indivíduo cronicamente estressado, observando-se, então, insônia, erros de
julgamento, mudanças de personalidade, doenças crônicas coronarianas, respiratórias,
digestivas, mentais e outras.
73. A perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR) relacionada ao trabalho, diferentemente do
trauma acústico, é uma diminuição gradual da acuidade auditiva, decorrente da exposição
continuada a níveis elevados de ruído. Suas principais características33:
- A PAIR é sempre neurossensorial, em razão do dano causado às células do órgão de Corti.
- Uma vez instalada, a PAIR é irreversível e quase sempre similar bilateralmente.
- Não deverá haver progressão da PAIR, uma vez cessada a exposição ao ruído intenso;
- A instalação da PAIR é, principalmente, influenciada pelos seguintes fatores: características
físicas do ruído (tipo, espectro e nível de pressão sonora), tempo de exposição e
susceptibilidade individual.
- A PAIR não torna a orelha mais sensível a futuras exposições a ruídos intensos. À medida que
os limiares auditivos aumentam, a progressão da perda torna-se mais lenta.
74. Com relação à realidade de Perdas Auditivas Ocupacionais nas indústrias brasileiras,
pode-se citar alguns trabalhos, como o de Fiorini (1994)34. Em seu trabalho, foi encontrada uma
prevalência de 63,75% de perda auditiva ocupacional nos trabalhadores de uma indústria
metalúrgica de utensílios domésticos localizada na cidade de São Paulo. Ainda aprofundando a
discussão sobre o ruído, tempo e níveis (intensidade) de exposição é de importância citar o
estudo da Organização Mundial da Saúde onde é avaliada a relação entre intensidade do ruído e
33 COMITÊ NACIONAL DE RUÍDO E CONSERVAÇÃO AUDITIVA - integrado pela Associação Nacional de Medicina
do Trabalho (ANAMT), e pelas Sociedades Brasileiras de Acústica (SOBRAC), Fonoaudiologia (SBF) e Otorrinolaringologia
(SBOEL); citado no livro "Patologia do Trabalho" - René Mendes - Editora Atheneu - 1995.
34 FIORINI, AC: Conservação Auditiva: Estudo sobre o Monitoramento Audiométrico em Trabalhadores de uma Indústria
Metalúrgica. (Dissertação de Mestrado em Distúrbios da Comunicação) - PUC - SP (1994).
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Tabela 1. Percentagem de trabalhadores com dano auditivo após 5, 10, 15 anos de exposição a
vários níveis de pressão sonora (NPS)35.
80 0 0 0
85 1 3 5
90 4 10 14
95 7 17 24
Fonte: Organização Mundial da Saúde
(*) Expressos em decibel medidos do circuito de compensação A e ponderados pelo tempo de
exposição às várias intensidades durante a jornada de trabalho (nível equivalente, Leq).
75. Outra observação a ser enfatizada, a partir dos dados dessa tabela e estudo, é de que
entre 80 e 85 decibéis de Nível Equivalente (Leq) já existirão casos de pessoas que sofrerão
perdas auditivas causadas pelo ruído, dependendo de outros fatores, como tempo de exposição
e suscetibilidade individual, principalmente.
77. Deve-se realçar que, com relação às normas legais de proteção da saúde auditiva dos
trabalhadores, conforme os níveis aceitos, estar-se-á delimitando uma proporção maior ou
menor da população obreira que terá algum nível de dano auditivo.
78. Para exemplificar, e trazendo à baila uma legislação que tem sido referência técnica
para a nacional, pode-se citar que "o governo federal dos Estados Unidos regulamentou o
assunto da seguinte forma: por ocasião da aposentadoria, não mais do que 15 % dos
35 ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. Alteraciones de la audición causadas por el ruido, in Detección precoz de
enfermedades profissionales, Genebra, 1987, p. 180-5.
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trabalhadores expostos a níveis elevados de pressão sonora podem apresentar perdas auditivas
maiores do que 25 dB (média das perdas nas frequências de 500, 1.000 e 2.000 Hz)".36
79. Kitamura (1991)37 corroborou estudos de Astete (1980)38 e explicou que, dentre as
características do agente importantes para o aparecimento de doença auditiva, destacaram-se a
intensidade, relacionado com o nível de pressão sonora; o tipo de ruído, definido como contínuo,
intermitente ou de impacto; a duração, relacionada ao tempo de exposição a cada tipo de
agente; e a qualidade, que diz respeito à freqüência dos sons que compõem os ruídos em
determinada análise.
80. A perda auditiva ocorre da seguinte maneira: dentro da cóclea se encontram as células
ciliadas que transformam a vibração sonora em impulsos nervosos. As células ciliadas, com a
exposição do ruído intenso e contínuo, entram em fadiga e perdem a sua função, causando uma
perda auditiva irreversível, por não serem regeneráveis. Entre os efeitos mais conhecidos para
exposição contínua a ruído intenso, temos:
82. Em revisão sobre o assunto, Okamoto e Santos (1994)39, citam os seguintes efeitos
extra-auditivos no organismo humano produzidos pelo ruído:
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83. Carnicelli (1996) cita alguns resultados obtidos por Hétu (1994) sobre os efeitos da
PAIR para trabalhadores40:
- Distúrbio Auditivo do Trabalhador com PAIR: redução na sensibilidade auditiva, seletividade de
frequência, discriminação de freqüência, integração temporal, resolução temporal; percepção
alterada da intensidade dos sons; zumbido.
- Incapacidade Auditiva do Trabalhador com PAIR: incapacidade em ouvir fala, sons de alarme,
ruídos domésticos; necessidade de forte intensidade para assistir TV e ouvir rádio; dificuldades
de comunicação, tais como conversação em grupos, em locais ruidosos, no automóvel,
telefone ou em ambientes desfavoráveis.
- Desvantagens do Trabalhador em conseqüência da PAIR: atenção e concentração excessiva
durante conversação, dificuldade para compreender leitura orofacial;
- Estresse e ansiedade: irritação e aborrecimento causado pelo zumbido, irritação e intolerância
a lugares ruidosos, intolerância em interações sociais, cansaço pelos efeitos do trabalho em
local ruidoso e aborrecimento pela consciência da deterioração da audição;
- Dificuldades nas relações familiares: confusões pelas dificuldades de comunicação, confusões
pelo intenso volume da televisão, intolerância para atividades ruidosas e impaciência com
relação à reação das pessoas pela sua dificuldade auditiva;
- Isolamento: deixa de participar de encontros, grupos de conversação, festas;
- Auto-imagem negativa: sente-se mal por não compreender as pessoas, por terem que repetir
freqüentemente a mensagem, sente-se estigmatizado como surdo, velho ou incapaz.
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85. Santos (1994)39 realça que "assim como outras doenças relacionadas com o trabalho, a
perda auditiva ocupacional pode ser também classificada entre os danos de ocorrência
desnecessária, isto é, perfeitamente preveníveis. Sua simples ocorrência já significa o resultado
da falência de todo um sistema preventivo que deveria estar colocado à disposição do
trabalhador". O mesmo autor assinala ser a prevenção "o único tratamento efetivo e eficaz desta
doença".
87. A norma não caracteriza insalubre qualquer que seja a atividade exposta a ruído.
Abaixo, os limites de tolerância, para ruído contínuo ou intermitente, segundo a Norma
Reguladora NR-15 (1978), estão apresentados na Tabela 2.
Tabela 2.
Limites de tolerância para ruído contínuo ou Máxima Exposição Diária
intermitente NR-15 (1978). Nível de Ruído dB(A) Permissível
85 8 horas
86 – 90 7- 4 horas
91-100 3 horas e 30 min – 1 hora
102 – 115 45 minutos – 7minutos
Fonte: Norma Regulamentadora 15 – MTE.
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89. Nesse mesmo sentido, a Lei 8.213/91 dispõe acerca da aposentadoria especial: “Art.
57 - A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao
segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a
lei.” Novamente o texto condiciona a concessão da aposentadoria especial a condições
especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
90. Existem diversos estudos acadêmicos que mostram e provam os efeitos deletérios do
ruído, assim como a ineficiência dos EPIs. Essa ineficiência tem diversas variáveis, como
projetos mal conduzidos, instrução de uso ao usuário, validade do produto, entre outros. Bastos
(2005)31 concluiu em seu trabalho que há perda de eficácia conforme o uso do EPI auricular e
que essa perda possui tempo de utilização eficaz dos EPIs, em dias, dependente da pressão
sofrida durante o uso, sendo que:
1) Para pressão sonora variante de 101dB à 20Hz, com picos em 120dB em 600Hz e 2KHz, e
90dB à 20KHz:
- Tempo de utilização com eficácia ideal de até 14 dias em todas as faixas de freqüências
audíveis humanas;
- Para EPIs entre 16 e 27 dias de uso há perda de eficácia nas faixas de 20Hz até 100Hz;
- Para EPIs entre 18 e 30 dias de uso há perda de eficácia nas faixas de 20Hz até 130Hz;
2) Para pressão sonora variante de 107dB à 20Hz com picos de 124dB em 600Hz e 2KHz, e
105dB à 20KHz:
- Tempo de utilização com eficácia ideal de até 6 dias em todas as faixas de freqüências
audíveis humanas;
- Para EPIs entre 8 e 18 dias de uso há perda de eficácia apenas em faixas de 20Hz até
100Hz;
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- Para EPIs entre 19 e 30 dias de uso há perda de eficácia apenas em faixas de 20Hz até
110Hz;
3) Para pressão sonora variante de 92dB à 20Hz com picos de 102dB em 2KHz, e 87dB à
20KHz:
- Há perda de eficácia, porém sem importância para freqüências de até 130Hz;
- Os EPIs de 1 dia de uso até 30 dias de uso não sofreram perdas de eficácia suficientes que
ultrapassassem 86Db;
4) Para pressão sonora variante de 126dB de 20Hz até 2KHz, e 101dB à 20KHz:
- Somente freqüências acima de 1KHz sempre estiveram dentro de padrões assegurados à
audição humana;
- EPIs novos, e usados de 1 dia de uso até 30 dias de uso, estiveram em níveis inaceitáveis de
utilização em freqüências de até 1KHz.
Os EPIs não perdem eficácia de atenuação importantes com o uso diário em freqüências a partir
de 1KHz até 20KHz.
91. Diante de tais conclusões, pode-se verificar que existe, sim, perda de eficácia dos EPIs.
Dessa forma, alegar que o produto utilizado anula o potencial deletério (quando ultrapassada a
dose-limite) não é aceito, pois é comprovada a perda de eficácia do produto com o passar do
tempo, uso e freqüência.
93. O REAT (Real Ear Attenuation Threshold) é um método mundial para estimar a
atenuação em laboratório de diferentes tipos de EPI. De acordo com a NR-09, o método é
exigido para os plugs, enquanto o MIRE (outro método estimativo) é exigido para EPIs tipo
41 NIOSH / CDC, National Institute for Occupational Safety and Health 1996. Preventing occupational hearing loss: a practical
guide. Publication nº 96-110. Cincinnati, Ohio – EUA 1996
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concha. Porém, o método REAT é para avaliação de níveis de pressão sonora contínuo,
intermitente ou variável, não sendo recomendado para ruídos de impacto. Tem se com isso
situações onde as empresas adquirem EPIs baseado nos custos, não direcionando a compra
desses materiais para a situação específica. Assim, muitas vezes compram o equipamento com
finalidade diversa que o fabricante define. Conforme Crockford (1999)6 um aspecto que impacta
diretamente na qualidade e na eficiência dos EPIs é o econômico. A decisão de qual EPI utilizar
é bastante influenciada pelo custo deste EPI.
94. Embasado em fatos, estudos e publicações tem se certeza de que há efeitos deletérios
sobre a saúde do trabalhador que está submetido a ruído no ambiente de trabalho. A ciência,
sim, pode fornecer verdades incontestáveis, e, através dela, juízes sustentam suas decisões.
Estudos e trabalhos científicos mostram diversos casos onde há ineficiência da proteção dos
EPIs e querer a não concessão da aposentadoria diferenciada a quem está em ambiente
insalubre vai de encontro com todos esses estudos.
95. A Emenda Constitucional n°20 de 1998 deu nova redação para o artigo 201 da CF88,
conforme transcrito a seguir: “a previdência social será organizada sob a forma de regime geral,
de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial”. De acordo com a nova redação, independente do custo que as
aposentadorias especiais trazem, todos contribuem e financiam a Previdência Social.
97. Qualquer estudo, por menor que seja, feito por qualquer juiz sobre o assunto em
questão irá evidenciar os efeitos prejudiciais trazidos pelos ruídos, assim como uma vasta
bibliografia sobre ineficácia do uso dos EPIs.
98. Apenas para demonstrar, esse parecer traz mais de 30 referencias sobre o assunto e,
caso haja necessidade, pode-se buscar várias outras em diversos bancos de dados. Então, tem-
se que o assunto já é difundido e consolidado na sociedade acadêmica. Portanto, a Turma
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Parecer Técnico - ARE nº 664335 - STF
Nacional de Uniformização (TNU), em sua Súmula 09, entende que, mesmo que elimine a
insalubridade, o uso de EPI no caso de exposição a ruído, não descaracteriza o tempo de
serviço especial prestado, pois os efeitos extras auditivos são bem conhecidos e difundidos.
Além do mais, a Turma de Uniformização é composta por dez juízes federais os quais discutem
e deliberam acerca dos mais diversos assuntos.
99. Corrobora ainda com o entendimento da TNU, o enunciado 21 do CRPS que dispõe: “O
simples fornecimento de EPI de trabalho pelo empregador não exclui a hipótese de exposição do
trabalhador aos agentes nocivos à saúde, devendo ser considerado todo o ambiente de
trabalho”.
100. Acerca do assunto, o TST possui entendimento de que nem sempre o equipamento de
proteção aprovado pelo MTE tem eficácia capaz de eliminar o risco, conforme jurisprudência
transcrita:
101. Convém ressaltar, na linha das decisões do TRF/4ª Região, que a utilização de EPI no
ambiente de trabalho – ainda que o laudo técnico mencione a neutralização dos efeitos nocivos
– não possui o condão de afastar a especialidade da atividade se a exposição ao ruído ocorreu
acima dos limites de tolerância estabelecidos43.
102. A jurisprudência é firme no sentido de que o EPI fornecido pela empresa, ao tempo que
se busca a conversão, não desqualifica a atividade como especial44.
103. O simples fato de o trabalhador vir a utilizar equipamentos de proteção individual não
descaracteriza a atividade como insalubre ou perigosa, uma vez que esta proteção é obrigatória
no desempenho de tais tarefas consideradas como tal e as empresas que não os utilizam
estariam daí agindo de forma ilegal. Logo, caso assim fosse, não haveria mais razão para a
legislação vir a conceder a Aposentadoria Especial ou a “conversão de tempo de serviço
42 http://www.legjur.com/jurisprudencia/eme/103.1674.7102.3700
43 TRF4, APELREEX 2009.70.01.000490-1, Sexta Turma, Relator João Batista Pinto Silveira, 2010.
44 TRF da 2° Região. 2° Turma. A.C. n° 333094. Relator o Des. Federal Paulo Espírito Santo. Data da Decisão: 24 / 11 / 2004.
Publicação: DJU de 04 / 12 / 2004, p. 279
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Parecer Técnico - ARE nº 664335 - STF
especial em comum” uma vez que todos tais trabalhadores estariam protegidos dos agentes
agressivos à sua saúde, no caso.
104. Matéria já pacificada, pelo fato de qualquer que seja o entendimento acerca da matéria
no âmbito previdenciário (INSS, PFE, MPS/CONJUR, CRPS) não resta dúvida quanto à
interpretação da eficácia do EPI ser questionável, nos termos da Súmula nº 9 da TNU/STJ45,
reforçado pelo Enunciado nº 21/2006 do CRPS46.
105. Como o INSS indefere requerimentos para conversão do tempo de contribuição exposto
a ruído (aposentadoria especial de 25 anos) ao arrepio dessa jurisprudência, há aqui o principio
da deseconomia processual, isso mesmo, economia ao contrário, pois:
a. Ultraja direito do trabalhador
b. Estimula sonegação fiscal
c. Estimula o contencioso, no qual sabidamente, por antemão, o INSS perde, pois o juizado
especial federal está vinculado uniformização da TNU/STJ nessas questões
previdenciárias.
d. Chancela a sonegação fiscal, por parte das empresas, referente ao Financiamento da
Aposentadoria Especial – FAE de 6% sobre a folha, pois o INSS assevera
peremptoriamente, com todas as letras: não há fato gerador (fato comum á aposentadoria
e à exação tributária), em que pesem a permanência e a nocividade, uma vez o EPI não
deixou ultrapassar o limite de tolerância em todos os dias, durante todas as horas de
trabalho do período requerido.
107. Objetiva-se com esse expediente que o MPS juntamente à PFE/INSS uniformizem
interpretação da matéria, alinhando-a à interpretação superior exarada pela jurisprudência
vinculante supracitada, não apenas em respeito à ordem jurídica estabelecida ou atendimento ao
princípio da eficiência administrativa, mas fundamentalmente por economia processual e
destrancamento da cobrança tributária do Financiamento da Aposentadoria Especial – FAE; e
45
Súmula nº 9 da TNU/STJ - O uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), ainda que elimine a insalubridade, no caso de
exposição a ruído, não descaracteriza o tempo de serviço especial prestado.
46
Enunciado 21/CRPS. Seguridade social. CRPS. Aposentadoria especial. Simples fornecimento de equipamento de proteção
individual de trabalho pelo empregador não exclui a hipótese de exposição do trabalhador aos agentes nocivos à saúde.
Consideração de todo o ambiente de trabalho.
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Parecer Técnico - ARE nº 664335 - STF
quando a justiça dá ganho de causa ao trabalhador, não sentencia a empresa a pagar os valores
correlatos devidos.
108. Cabe ao INSS deferir as solicitações de conversão de tempo especial referente tempo
indevidamente excluído pela falácia do EPI, bem como representar à RFB para fins de cobrança
do FAE; autuação das empresas sonegadoras por infração por deixar de pagar tributo
(obrigação principal); e, não reconhecer em GFIP tais ocorrências (obrigação acessória). Crime
de sonegação fiscal e informação falsa em documento público.
110. Finalmente, cabe ao INSS, representar para fins penais os profissionais que prescrevem
tais EPI, pois se tratam de indícios de crimes tipificados como exposição ao risco, lesão corporal
quando for o caso, periclitação e contravenção penal por deixar de cumprir norma de saúde do
trabalhador.
111. Este Parecer Técnico usou o ruído como eixo exemplificativo, uma vez que, de forma
geral, alcança a todos os EPI que invariavelmente não protegem o trabalhador, e que, portanto,
suscitam aposentadoria especial, pois padecem dos mesmos vícios. O EPI só poderia ser
cogitado - é esse o espírito e positivação da lei - quando:
a. Primeiro: as medidas de proteção coletiva
i. Quando estas não forem suficientes ou encontrarem-se em fase de
estudo, planejamento ou implantação
ii. Ou ainda em caráter complementar ou emergencial
b. Segundo: parte-se para as medidas de caráter administrativo ou de organização do
trabalho.
112. Só então se cogita o uso de EPI (precaríssimo) e mesmo assim desde que se atendam
aos seguintes requisitos:
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Pos-Doutorando da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP). Pesquisador Colaborador Senior da Faculdade de Tecnologia
da UnB. Doutor em Ciências da Saúde (UnB-2008). Mestre em Prevencion Y Protecion En Riesgos Laborales (Universidade de
Alcala de Henares, Espanha - 2004). Professor-Titular e Coordenador da pós-graduação da UNIP-DF. Professor-Tutor de Curso
Engª Segurança do Trabalho (EAD) pela Unyleya - Univ Cândido Mendes. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho
(UnB-2002). Especialista em Ciências Contábeis (FGV- 2001). Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil (AFRFB-1998).
Graduado em Engenharia Mecânica (UFBA-1996). Técnico em Construção Indústria de Petróleo - Petrobras (1985). Autor do
Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário - NTEP, Fator Acidentário de Prevenção - FAP e Perfil Profissiográfico
Previdenciário PPP, temas que levaram à edição dos livros NTEP e FAP Um novo Olhar sobre a Saúde do Trabalhador e Do
Exótico ao Esotérico: Uma sistematização da Saúde do Trabalhador, ambos pela editora LTr. Atual Coordenador-Geral de
Monitoramento de Beneficio por Incapacidade do MPS. Experiência na área de Engenharia de Construção Industrial e
Administração, com ênfase em Política e Planejamento Governamentais. http://lattes.cnpq.br/0797997338651068.
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