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CONSTITUIÇÃO
1. Introdução
Nessa aula estudaremos a Constituição atual a partir de seu conceito, sentidos e as constituições
anteriores à 88, a partir de suas características. A CRFB/88 estabelece a organização do Estado,
repartido sua competência.
A Constituição de 1988 é rígida e isso decorre da Supremacia da Constituição, razão pela qual
observamos o controle de constitucionalidade. O controle pode ser repressivo ou preventivo. O
controle preventivo de constitucionalidade pode ser feito pelo Legislativo e pelo Executivo. O
Judiciário só faz em casos de mandado de segurança, conforme decidido no MS 32083. O controle
repressivo poderá ser feito pelo Executivo, Legislativo e Judiciário. O controle repressivo pelo
Judiciário poderá ser difuso ou abstrato. O controle difuso é feito de forma incidental. O controle
abstrato é aquele controle objetivo, pois não há parte; ele é concentrado em um único órgão, mas isso
pode levar ao pensamento equivocado de que apenas o STF faz controle concentrado. O TJ também
faz controle concentrado quando o parâmetro for a constituição estadual.
As normas precisam ter vigência, validade, eficácia e efetividade. Em face de atos primários
cabe controle de constitucionalidade abstrato e concentrado.
Estudaremos aqui a classificação das normas em eficácia plena, contida e limitada; normas
constitucionais no tempo e o Poder Constituinte Originário.
2. Constituição
De acordo com Uadi Lamego Bulos, a Constituição é o conjunto de normas jurídicas que
estatuem direitos, prerrogativas, garantias, competências, deveres e encargos, sendo a lei fundamental
de uma sociedade. Há quem entenda que a Constituição não é uma lei, mas sim uma Constituição.
A Constituição é composta apenas por seus artigos? Não. Além dos seus artigos, temos o
ADCT, EC (ex: EC 45/04), princípios implícitos (ex: proporcionalidade e razoabilidade - não estão
previstos em nenhum artigo da CR, mas estão implícitos).
O preâmbulo faz parte da Constituição, é uma orientação para a Constituição, mas não é
obrigatório e não vincula, ou seja, não tem força normativa. Portanto, não é possível ingressar com
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uma ADI porque determinada lei fere o preâmbulo da Constituição. O preâmbulo não é parâmetro,
nem objeto de controle. O preâmbulo é um adorno.
Em relação aos tratados internacionais, merece destaque o Tratado de NY, Decreto nº 6949/09
- único tratado de direitos humanos que ingressou o ordenamento depois da EC 45; ele é equivalente
a uma EC, pois seguiu o rito do art. 5º, § 3º da CRFB/88: tem nome de decreto, mas sua natureza
jurídica é de emenda constitucional e, além disso, está fora do texto constitucional, fazendo parte do
bloco de constitucionalidade e, portanto, parâmetro para o controle de constitucionalidade. Esse tratado
regula questões sobre deficiências em geral. A Lei Federal nº 13.146/15 revogou diversos artigos do
CC, com destaque para as alterações dos arts. 3º e 4º do CC/02: só é absolutamente incapaz o menor
de 16 anos. Os institutos da tutela e curatela passaram a ser exceção. Isso conversa com o NCPC.
*Obs: o art. 59 CR traz o rol dos atos normativos. Lá não tem norma supralegal, pois a norma
supralegal é uma qualidade atribuída à lei ordinária.
3. Sentidos da Constituição
Ferdinand Lassalle quando estudou a formação do Estado, observou que o que acontecia na
sociedade não era o que a Constituição determinava. Diante disso, ele elaborou a seguinte frase
clássica: a Constituição que não representa a realidade é mera folha de papel. A ideia dele era que o
texto constitucional não teria o poder de alterar uma situação social, isto é, não seria capaz de
concretizar um direito social. Essa frase foi importante para se pensar qual seria o papel da
Constituição.
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Defendido por Hans Kelsen. A Constituição é uma norma jurídica e como trata dos
fundamentos do Estado, confere validade ao ordenamento. A Constituição irradia por todo o
ordenamento jurídico e todas as normas infraconstitucionais devem guardar normatividade,
fundamento. Kelsen criou o controle de constitucionalidade abstrato. Uma norma jurídica, por ser o
topo do ordenamento jurídico, ao ser criada, cria todo o direito, recepcionando as normas
materialmente compatíveis.
Em 1950 foi criado esse sentido da Constituição. Konrad Hesse escreve o livro "A força
normativa da Constituição" em resposta à Lassalle. Para Hesse a Constituição pode mudar a sociedade.
Para isso basta que ela tenha força normativa.
Até então as normas eram apenas as regras e os princípios serviam para orientar a utilização
das regras. Essa ideia do positivismo jurídico foi superada. Em 1948 o direito constitucional cria um
ramo autônomo que precisa ser estudado: os direitos humanos. Existir apenas regra não é suficiente
para modificar a sociedade. Saímos do estado de direito e com a superação do positivismo jurídico,
vamos para o estado democrático de direito e chegamos à força normativa da Constituição, onde
princípios e normas tem importante atuação.
4. Constituições brasileiras
A primeira Constituição brasileira foi a de 1824 (Constituição do Império), que foi outorgada.
São características dessa Constituição:
Outorgada;
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Promulgada;
Instituiu a República como forma de Estado;
Dividiu a competência entre União e Estados;
Rui Barbosa influenciado pela Constituição Americana cria o Controle de
Constitucionalidade Difuso;
Cria o STF;
Direitos fundamentais de primeira geração; a igualdade era formal;
Não é efetiva; é uma Constituição nominal.
Promulgada;
Traz a previsão do voto feminino;
Previu pela primeira vez o mandado de segurança;
Separa o habeas corpus do mandado de segurança; aqui o mandado de segurança
adquire sua característica principal, qual seja, ser residual;
Surgimento do devido processo legal;
Também era inefetiva;
Inspirada pelas Constituições Mexicana e Alemã;
aquela que buscava a intervenção nos estados. Porém ela não foi aplicada, tendo em
vista o golpe de Vargas.
Democrática;
Contramajoritária: tenta preservar os interesses de uma minoria contra os abusos de
uma maioria.
Dirigente;
Normativa;
Dogmática;
Seu preâmbulo, de acordo com o STF, não possui força obrigatória.
municipal, direta e indireta. O legislativo não está vinculado. Então, é possível que uma norma
ordinária disponha em contrário de uma SV? Sim. É possível que um legitimado proponha uma ADI
dizendo que essa norma feriu SV? Não. Não é possível usar como fundamento a SV. O fundamento
deve ser que a lei fere um artigo da CR e ressaltar que, inclusive, é expresso por uma previsão contida
em SV.
Outra situação é observada quando determinada sentença fere uma SV. Nesse caso, é possível
propor reclamação perante o STF, tendo em vista que o poder judiciário, que estava vinculado à SV,
não respeitou a previsão da Súmula.
2ª parte
5. Norma constitucional
A teoria prevalecente é que toda norma, por estar na CR, é materialmente constitucional. A
norma constitucional pode ser classificada quanto à sua eficácia.
Uma norma tem vigência, validade, eficácia e efetividade. Todas as normas constitucionais
possuem eficácia, o que as diferenciam é a sua efetividade. Todas elas possuem jurisdicidade, o que
altera é o grau de efetividade.
De acordo com José Afonso da Silva, quanto à eficácia, as normas constitucionais podem ser
plenas, contidas e limitadas.
As normas de eficácia plena possuem vigência, validade, eficácia e efetividade máxima desde
a promulgação da CR. Essas normas não necessitam de nenhuma norma infraconstitucional para
determinar o seu alcance.
As normas de eficácia contida são aquelas que também produzem todos os efeitos (vigência,
validade, eficácia e validade) desde a promulgação da Constituição. A diferença é que esse tipo de
norma pode ser objeto de restrição pelo legislador ordinário. Enquanto não for restringida pelo
legislador ordinário continua produzindo seus efeitos.
As normas de eficácia limitada possuem vigência, validade e eficácia, mas para serem
plenamente efetivas precisam ser regulamentadas por norma infraconstitucional. Isso porque o PCO
assim determinou. Essas normas se subdividem em: instituidoras de um princípio (norma de eficácia
limitada de princípio institutivo) ou programáticas.
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As normas de eficácia programáticas são aquelas que estabelecem programas de ação, objetivos
a serem perseguidos pelo Estado. Elas devem ser cumpridas pelo legislador. De acordo com o STF
(ADPF 347, MI 712), o legislativo, o executivo e o judiciário estão obrigados a efetivar as normas de
eficácia programática. Não é da competência do Judiciário determinar políticas públicas. Porém,
quando o legislativo e o executivo se omitem no seu cumprimento temos um problema. Se a omissão
foi justificada, o judiciário não pode interferir, pois violaria a separação dos poderes. Agora, se a
omissão foi reiterada, cabe ao judiciário fazer com a norma seja cumprida. Isso se denomina ativismo
judicial. Esse nome, de acordo com a professora é criticável, porque em caso de omissão reiterada
dolosa é preciso que alguém determine a efetivação da norma. A norma constitucional de eficácia
programática não é uma autorização para que o executivo e o legislativo descumpram aquilo que
entendem desnecessário.
Nesses casos, o argumento da PGE seria o princípio da reserva legal e que o executivo e o
legislativo não são obrigados a cumprir normas programáticas. Isso é superado pela força normativa
de Constituição e porque estamos diante de direitos fundamentais.
6. Efeitos temporais
Obs: regras x princípios - ambos são normas constitucionais, dotados de juridicidade. Art. 1º,
III: princípio da dignidade da pessoa - só pode ser definido no caso concreto, pois sua definição é
muito ampla; Art. 22, I: regra, pois é certo e determinado.
Quando uma nova Constituição ingressa no ordenamento jurídico ela herda as normas
anteriores infraconstitucionais e substitui uma Constituição anterior. Quando uma Constituição
ingressa no ordenamento jurídico e cria um novo ordenamento jurídico, o primeiro diploma normativo
a ser analisado é aquele que possui a mesma densidade, isto é, a CR anterior. Diante disso, verifica-se,
primeiramente, a existência ou não de normas que podem ser aproveitadas. Se existirem normas que
possam ser aproveitadas, é possível expressamente fazer uma desconstitucionalização, isto é, o artigo
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Ex 1: CTN - O CTN (lei ordinária) é de 1966 e, portanto, foi feito à luz da CR/46. Depois
adveio a CR/67 que determinou que as normas gerais de direito tributário deveriam ser feitas por lei
complementar. Isso também foi determinado pela CR/88. O CTN foi recepcionado duas vezes com
status de lei complementar. Essa é a recepção material, pouco importando se a CR nova previu que
deveria ser feita por lei complementar.
Com o advento da CR/88, que previa que as normas gerais de direito tributário teriam que ser
feitas por lei complementar, em 2002 questionou-se se a lei ordinária de 1980 que trata de prescrição
e decadência de créditos tributários poderia, hoje, ser declarada inconstitucional? Recepcionada ou não
recepcionada? A Lei de 1980 quando chegou ao STF e ao STJ foi declarada inconstitucional na parte
que tratava de prescrição e decadência à luz da CR/67. Como era inconstitucional na época em que foi
feita e adota-se a teoria da nulidade ou inexistência, jamais poderia ter sido recepcionada em 88. Não
é possível recepcionar algo que não existe. Isso não é inconstitucionalidade superveniente. Essa norma
de 1980 (lei de execução fiscal) não poderia ser declarada inconstitucional à luz da CR/88. Além disso,
ela só poderia ser recepcionada se tivesse sido constitucional na época em que foi feita.
Mas se, diferentemente do exposto, a lei fosse constitucional à luz da CR vigente no momento
da sua edição, mas materialmente incompatível com a CR/88 ela seria não recepcionada, apesar dos
livros falarem em revogação. O termo correto não é revogação, mas sim não recepção.
A repristinação está prevista no art. 2º, § 3º, LINDB e ocorre no âmbito legislativo. Ex: Lei A
tratando da matéria X é revogada pela Lei B. A Lei C revoga a lei B e traz de volta a lei A. A Lei A
volta a viger, volta a tratar da matéria X. A repristinação não é tácita e, então, a Lei C tem que prever
que a Lei A volta a viger.
Revoga Revoga
Revoga
Suspende a eficácia
O CTN foi recepcionado. De acordo com o art. 98 do CTN, tratado de direito tributário revoga
norma interna de direito tributário. Esse art. 98 foi criado sob a égide da CR/67. A CR/88 em seu art.
151, III, prevê que a União não irá conceder isenção heterônoma, isto é, não irá conceder isenção sobre
um tributo que não é de sua competência. Em outubro de 2015, chegou ao STF um tratado tributário,
que concede isenção de ICMS referente a alguns bens e produtos. A pergunta feita ao STF foi: o artigo
98 do CTN foi recepcionado? A pergunta não foi se ele era inconstitucional, pois ele não foi feito à luz
da CR/88, mas sim se foi recepcionado.
O STF entendeu que o art. 98 fala de tratado de direito tributário. Ao assinar um tratado de
direito tributário, o Presidente da República assina como Chefe de Estado e não como a União Federal.
Como os entes possuem competências distintas, a União não pode determinar a isenção de um tributo
que não é de sua competência, mas nesse caso quem concede a isenção é a República Federativa do
Brasil. Portanto, o art. 98 foi recepcionado (material), pois se compatibiliza com a CR/88 e não fere o
art. 151, III.
8. Poder Constituinte
É aquele que cria um novo ordenamento jurídico. Esse poder ora cria uma nova ordem jurídica,
ora reforma. Por isso é dividido em originário e derivado. O derivado pode ser subdividido em
decorrente e reformador.
O PCO cria a Constituição. As normas trazidas por esse poder à luz da doutrina brasileira não
podem ser objeto de ADI, pois essas normas são absolutamente constitucionais. Não existem normas
constitucionais inconstitucionais. Ex: é proposta ADI em face do art. 45 - é norma originária e,
portanto, não cabe ADI. Sabemos que se trata de uma norma originária, porque não há remissão a
nenhuma EC.
25/02/18 - Aula 01
HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL
1. Interpretação Constitucional
Cada país adota um tipo de Constituição. Para cada tipo de Constituição, a interpretação é
diferente. Países que adotam Constituições sintéticas, que basicamente enunciam princípios, realizam
um trabalho de intepretação diferente da nossa, que é analítica. As emendas são absolutamente
necessárias para constituições como a nossa. Em uma Constituição sintética há a necessidade de
adaptar os princípios ao longo do tempo. Já na constituição mais extensa há o processo de
interpretação, isto é, fazer com que a Constituição não perca o contato com a realidade. Esse contato
da Constituição com a realidade é imprescindível.
As constituições que possuem esse perfil semelhante ao nosso, tem um processo de intepretação
diferente das sintéticas. A grande preocupação, em ambos os casos, é fazer com que a Constituição não
perca o contato com a realidade.
Quando foi elaborada a CR/88 não se discutia a internet, diferentemente do que se observa
atualmente. Não é preciso mudar a CR para tratar a internet; a solução foi interpretar a Constituição.
A ideia central da CR deve ser preservada: se a norma constitucional trata dos meios de comunicação,
deve ser interpretada à luz das evoluções, isto é, englobando a internet.
Existem formas tradicionais de interpretação usadas pelo direito de modo geral, que podem ser
usadas no plano constitucional. Ex 1: Contribuição dos inativos - EC 20. Nessa discussão, o Congresso
não quis implantar a contribuição dos inativos para a previdência. Depois se tentou por lei instituir isso
e o STF decidiu que houve vontade expressa do Constituinte de não estabelecer a contribuição aos
inativos. Posteriormente, a CR foi emendada para permitir a contribuição.
Ex 2: Logo que a CR foi feita, os Estados passaram a criar suas Constituições Estaduais. SP
criou representação de inconstitucionalidade para ser julgada pelo Tribunal Estadual. O STF entendeu
pela impossibilidade desse instituto, pois houve silêncio eloquente da CRFB. O constituinte federal
não quis estabelecer essa possibilidade aos Estados de controle concentrado.
A interpretação histórica é aquela que busca na origem a norma, o que motivou a aprovação ou
rejeição daquela norma. Ex: regras de inelegibilidade - se ficar comprovado que o casal está separado
de fato há muitos anos estaria afastada a inelegibilidade. No caso dos companheiros do mesmo sexo,
a regra vale, pois a ideia da inelegibilidade é que o cônjuge ou companheiro não usem a candidatura
do outro para se beneficiar.
Na interpretação gramatical há uma técnica legislativa para a elaboração das normas de modo
geral, mas em relação à Constituição é necessário que ela traga normas mais amplas, com os conceitos
legais indeterminados. Logo, para as normas que possuem os referidos conceitos, a interpretação
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gramatical fica mais difícil. Por óbvio, o intérprete pode controlar a forma em que ela é aplicada.
A vida em sociedade evolui com muita rapidez. E, infelizmente, o jurista sempre chega depois.
Por isso há um esforço muito grande para fazer com que a Constituição não perca o contato com a
realidade. Sempre que a Constituição não se adéqua mais à realidade temos problemas. Todas as
Constituições estão relacionadas a algum fator que significa uma ruptura.
A norma constitucional ocupa uma posição de supremacia em relação a todas as demais normas.
Desse modo, se uma lei ou ato normativo for contrário à CR, terá vício de inconstitucionalidade. A CR
trata de temas importantes, como organização do Estado, separação dos poderes, direitos e garantias,
mas a base da supremacia constitucional possui fundamento no processo legislativo solene das
emendas. Isto é, a base da supremacia constitucional é uma questão formal.
Nas constituições flexíveis, uma lei ordinária pode revogar uma norma constitucional,
aplicando-se o critério funcional, tendo em vista que tem o mesmo processo legislativo. No caso
brasileiro, como a CR é rígida, uma lei ordinária não pode alterar a CR. Há ideia de supremacia quanto
ao conteúdo em relação às demais normas. Essa noção de supremacia é assegurada a partir do processo
legislativo mais solene de alteração da CR.
Devemos ter cuidado com as normas de eficácia contida. Às vezes o constituinte atribui ao
legislador ordinário a possibilidade de criar exceções. Ex: art. 37, XXI - licitações. O art. 23 e 24 da
Lei 8.666 traz dispensa e inegibilidade da constituição. O constituinte diz que o legislador ordinário
pode criar exceções à regra enunciada na CR.
Nas Constituições anteriores havia a ideia de que todas as normas constitucionais que
precisassem de alterações seriam feitas por lei complementar. Essa ideia está rompida. As matérias
consideradas mais sensíveis devem ser regulamentas por leis complementares, pois o quórum é de
maioria absoluta. Quando a matéria é regulamentada por lei complementar há a ideia que possuem
uma duração maior. Ex: inelegibilidade - a CR menciona alguns casos de inelegibilidade, mas a CR
além de definir as condições de inelegibilidade, diz que a lei complementar pode definir outros casos
de inelegibilidade. Mas nem sempre as exceções estarão previstas em lei complementar. Só existe LC
quando a Constituição exigir. Todas as demais questões sujeitas à reserva legal (precisam de lei) serão
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disciplinadas por LO. O que o constituinte muitas vezes faz é afirmar que precisa de lei específica,
essa lei específica é a LO.
Existem LC que tratam de questões muito complexas. O estatuto da pequena empresa e empresa
de pequeno porte - LC 23 - trata de licitação para pequena empresa e empresa de pequeno porte. Essa
LC é mais ampla que a LO. Quando a LC tratar de matéria de LC, mas de assuntos que não estariam
sujeitos à disciplina de LC que poderiam ser regulamentadas por LO, o que tratar de assunto reservado
à LC não pode ser alterado por LO. Apenas se existir dentro da LC um tema que possa ser regulado
por LO, essa LC pode ser alterada por LO, mas tão somente nesse tema que trata da LO.
A CR muda todo um sistema e quando advém uma nova CR temos um sistema jurídico com
base na CR anterior. Essa Constituição anterior é revogada, pois o Brasil não adota a
desconstitucionalização, isto é, o aproveitamento das normas constitucionais anteriores compatíveis
com a CR atual. Os atos normativos e leis anteriores que forem compatíveis com a nova CR são
recepcionados. Nesse processo de recepção se analisa o conteúdo e não a forma. Assim, é possível que
exista uma LC anterior à CR atual tratando de um assunto que na vigência da CR anterior só poderia
ser tratado com LC e com o advento da nova CR passe a ser reservado à LO. Essa lei é compatível
com a CR atual, que estabelece que essa matéria passa a ser tratada por LO. No processo de recepção
constitucional é possível mudar o status da norma.
Todos os atos estatais são dotados de presunções. O ato administrativo, que reflete a função
administrativa, é presumidamente de acordo com a legalidade. As decisões judiciais, presumidamente
deram a melhor solução ao conflito de interesses. A função legislativa possui o atributo da presunção
de constitucionalidade das leis e atos normativos. Em princípio, estão de acordo com a CR e, assim,
possuem a aptidão de serem aplicados desde logo. Essa presunção (relativa) gera para o intérprete uma
obrigação. Se houver dúvida, o ato deve ser preservado e, portanto, considerado constitucional. A
presunção, portanto, gera a obrigação de preservar a lei ou ato normativo.
O STF entende que não há norma originária inconstitucional, ou seja, uma norma constitucional
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originária não é superior, não tem supremacia em relação à outra. Ex: art. 5º, IX e X – há um aparente
confronto entre esses dois incisos, que tratam, respectivamente, da liberdade de imprensa e da
inviolabilidade da honra e da vida privada. As normas produzidas pelo poder constituinte originário
não possuem hierarquia entre si e não podem ser declaradas inconstitucionais (princípio da unidade da
constituição). Essa aparente colisão tem que ser resolvida com a técnica de interpretação e ponderação
para que lhes confira harmonia. Nenhum direito fundamental pode ser exercido para violar o direito
fundamental do outro. A CR não dá a ninguém o direito de violar o direito fundamental de outro.
Em contrapartida, é possível o confronto entre norma originária e norma derivada (ex: emenda
constitucional). Nesse caso, é possível ser feito o controle de constitucionalidade e, portanto, normas
derivadas podem ser inconstitucionais em face de normas originárias, por serem incompatíveis com os
ditames constitucionais. No entanto, deve-se ter em mente que a emenda tem o mesmo status da norma
originária.
O STF, com certa frequência, lança mão dessa técnica. Às vezes uma lei ou ato normativo pode
ter interpretações diferentes e o STF como guardião da CR, tem a obrigação de preservar lei ou ato
normativo sempre que for possível dar a essa lei ou ato normativo uma interpretação que se mostre
compatível com a CR.
Dá sustentação a essa técnica o entendimento segundo o qual uma lei não deve ser declarada
nula quando puder ser-lhe concedida uma interpretação que a harmonize com o conjunto normativo-
constitucional. Isto é exatamente a aplicação do princípio da supremacia constitucional aliado ao
princípio da separação de poderes.
garantia não se aplica à Defensoria Pública. Se essa garantia for retirada do inciso, o Ministério Público
perde. Então, declara-se parcialmente a inconstitucionalidade, mas não reduz o texto, pois qualquer
redução mudaria o sentido da norma.
Dentro desse processo de interpretação é possível se reconhecer que lei ou ato normativo é
constitucional naquele momento e que mesmo que não se altere o texto da CR, essa lei ou ato
normativo pode ser considerada inconstitucional futuramente. Isso porque muitas leis têm a sua
constitucionalidade relacionada à uma situação de fato.
No caso do salário mínimo, se a norma fosse declarada inconstitucional porque não atingiu a
finalidade prevista pelo constituinte, isso faria com que se restaurasse a previsão anterior, que é muito
mais defasada.
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Caso concreto - Tema 3 - questão 2: ADI - inadmissibilidade: norma produzida pelo constituinte
originário. Princípio da unidade hierárquica-normativo. Nesse sentido, entendeu o STF no julgamento
da ADI 4.097.
Caso concreto - Tema 3 - questão 3: Inf. 272, RExt 341.717 – nesse julgado se discutiu a questão
da defensoria pública.
2ª parte
Tema 04: Reformas constitucionais: Emendas; Revisão; Mutação constitucional formal e informal.
Limites do poder de reforma. Cláusulas pétreas e sua extensão. O papel do Supremo Tribunal Federal.
3. Reforma da Constituição
Toda Constituição deve trazer a possibilidade de sua alteração, ou seja, o constituinte originário
cria a CR e define quem é compete para alterar a Constituição e quais são os limites dessa alteração.
Há uma supremacia das normas constitucionais, que se materializa com um processo legislativo
solene. No caso especifico das emendas constitucionais, o processo solene já pode ser observado logo
na iniciativa da proposta.
Iniciativa
O processo legislativo mais difícil pode ser observado desde logo na iniciativa (primeira etapa
do processo legislativo) e consiste na apresentação de um projeto ou de uma proposta de emenda. O
art. 60, CRFB/88 determina que, no mínimo, 1/3 da Câmara ou do Senado podem apresentar proposta
de emenda. Assim, um deputado ou um senador sozinhos não podem apresentar proposta de emenda.
Os demais legitimados estão previstos no art. 60, CRFB/88. São eles: o Presidente da República e mais
da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas,
pela maioria relativa de seus membros.
61, § 2º, CRFB/88 prevê a legitimidade da iniciativa popular apenas para “projeto de lei”; (ii) o titular
do poder constituinte é o povo e a iniciativa popular é o exercício do poder constituinte pelo seu titular
e, portanto, é possível que apresente proposta de emenda. O STF não foi provocado sobre esse tema.
Votação
Apresentada a proposta de emenda ela irá tramitar na Câmara ou Senado. A casa iniciadora é
aquela na qual começa a tramitar. Em geral, a casa iniciadora é a Câmara, tendo seu início no Senado
quando, por exemplo, a proposta for feita pela Câmara. A CR não detalhou a tramitação nem de EC
nem de PL; essa questão é essencialmente regimental. O regimento das casas legislativas define a
tramitação das propostas de emendas.
A Constituição determina que a proposta de emenda deve ser votada em dois turnos em cada
casa legislativa e em cada votação somente será considerada aprovada se houver a manifestação
favorável de 3/5 dos integrantes da casa. O regimento interno define o intervalo entre as votações. O
texto nas duas votações tem que ser o mesmo: se o Senado muda o texto aprovado pela Câmara, retorna
para a Câmara.
Ex: A EC 19 retirou do art. 39 a obrigatoriedade do regime jurídico único. Uma ADI foi
proposta e em relação ao art. 39 arguiu-se vício formal e voltou a redação original do art. 39. A proposta
tem que ser aprovada com a mesma redação duas vezes na Câmara e duas vezes no Senado.
Importante destacar que o § 5º do artigo 60, CRFB/88 determina que caso a proposta de
emenda seja rejeitada, ela não pode ser reapresentada na mesma sessão legislativa. Se o texto for
alterado pela segunda casa, ela volta para a primeira votar novamente.
Promulgação
A nossa CR apresenta muitas emendas e será sempre assim, a fim de que a CR se adapte às
realidades sociais. A CR brasileira é muito nova.
Limite temporal
exercício do poder constituinte derivado, isto é, para a elaboração de emendas? Não há limite temporal
no seguinte aspecto: a CR já poderia ter sido emendada pouco tempo depois de ter sido promulgada.
Mas o art. 60, § 5º, CRFB/88 estabelece um tipo de limite temporal específico para a emenda rejeitada,
isto é, a emenda rejeitada só pode ser reapresentada na próxima sessão legislativa.
Limite circunstancial
O art. 60 CRFB/88 traz um tipo de limitação ao exercício do poder constituinte derivado que a
doutrina denomina de limitação circunstancial ao exercício do poder constituinte derivado (art. 60, §
1º, CRFB/88), ou seja, a CR não pode ser emendada na vigência de estado de sítio, de defesa e de
intervenção federal. Não tivemos nenhuma experiência dessas na CR/88. Por serem medidas
excepcionais, o Congresso deveria se concentrar apenas nelas e não deveria debater propostas de
emendas constitucionais.
Limite material
Em relação ao conteúdo, existem temas que não podem ser objeto de mudança da CR. O art.
60, § 4º, CRFB/88 prevê que “não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos
Poderes; IV - os direitos e garantias individuais”.
Com base nesse artigo, constata-se que em relação a projetos de lei (PL) a CR não proíbe a
deliberação de PL inconstitucionais, tanto é que o Presidente ao vetar pode fazer isso por dois
fundamentos (jurídico ou político). Por outro lado, a PEC não pode sequer chegar ao Plenário, devendo
parar no primeiro momento em que se mostrar viável. Um parlamentar tem o direito líquido e certo de
participar de um processo legislativo constitucional regular e se for permitida a tramitação de PEC que
viole cláusula pétrea cabe ao parlamentar impetrar MS para impedir a tramitação da PEC contrária à
cláusula pétrea.
Atenção: o voto obrigatório não é cláusula pétrea. Há pessoas que acham que a forma de
governo e sistema de governo são cláusulas pétreas, mas esse não é o entendimento do professor.
Os temas previstos no art. 60, § 4º da CRFB/88 podem ser ampliados. O que é vedado é que
exista proposta de emenda tendente a aboli-los. Em se tratando de direitos fundamentais é complicado
restringi-los, pois existe a ideia da vedação ao retrocesso. Mas isso é discutível, pois ao regulamentar
um direito fundamental que ainda não possuía regulamentação, essa regulamentação inicialmente
muito ampla acaba por ser restringida.
Ex 2: PEC que retire o art. 60, § 4º, CRFB/88 – o constituinte derivado não pode retirar esse
parágrafo, pois a decisão de trazer essas matérias como cláusulas pétreas foi do constituinte originário.
Desse modo, mesmo que não esteja escrito na Constituição que tais matérias não podem ser alteradas
pelo constituinte reformador, por sua natureza só podem ser tratadas pelo constituinte originário.
O art. 3º do ADCT previu que 5 anos após a promulgação da CR seria feita a revisão da
Constituição, em sessão unicameral por votação de maioria absoluta. A revisão se caracteriza como
uma forma de mudança da CR de uma forma mais simplificada. A revisão está logo depois do artigo
do ADCT que trouxe a previsão do plebiscito. Lembre-se que hoje a única forma de mudança é a
emenda constitucional.
Há uma discussão atual: se for feita uma EC para convocar uma revisão, essa EC seria
inconstitucional? Entende-se que sim, por violar a cláusula constitucional implícita, que é a rigidez
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constitucional. Porém, há quem entenda que se fosse convocado um plebiscito, ela seria constitucional.
Nesse caso, se a população entendesse no plebiscito que sim, deveria ser feita a revisão.
Não há previsão expressa na CR de que o Presidente pode não cumprir lei que considere
inconstitucional. É um costume que caracteriza mais uma mutação informal.
4. Papel do STF
No Brasil, o STF tem decidido questões muito interessantes (ex: censura). O ideal é que a pauta
do Supremo seja preservada, dando vida à Constituição. Tivemos muitas mutações que não foram
provenientes de mutações formais.
Caso concreto - Tema 4 – questão 1: Cada Estado da Federação elabora sua Constituição e cada
Município possui sua própria lei orgânica. As opções do Constituinte Originário são essencialmente
políticas e as do Constituinte Estadual são essencialmente jurídicas. O esforço do constituinte estadual
é adaptar para a realidade estadual a organização dos poderes em nível federal, por obediência ao
princípio da simetria. O tema da invasão da competência legislativa, isto é, os estados legislarem sobre
assuntos de competência federal, é objeto de diversas ações de inconstitucionalidade. No caso em tela
destaca-se a ADI 855 (inconstitucionalidade formal).
25/01/19 - Aula 02
Dificilmente os países que têm uma constituição flexível (conteúdo basicamente material),
conseguem exercer esse tipo de controle. O Reino Unido, por exemplo, adota o princípio da supremacia
do Parlamento e o Judiciário é representado pela Cúpula dos Lordes. Assim, basicamente não há um
controle de constitucionalidade. Desse modo, para haver controle de constitucionalidade são
necessários os seguintes requisitos: constituição escrita e rígida; supremacia da CR e órgão competente
para dirimir conflito.
2.1. Origem
23
O caso paradigmático é o caso Marbury x Madison de 1803. Foi o primeiro caso de controle
julgado pela Suprema Corte dos EUA, em que se debateu se a lei poderia determinar a competência
da Suprema Corte. Antes desse caso, apenas os estados tinham se manifestado sobre esse tema. Essa
era uma ação mandamental e, portanto, o controle era difuso.
Marbury propôs uma ação em face do Secretário de Estado para que a Suprema Corte
determinasse sua posse, isto é, a questão era analisar se aquele que foi nomeado teria direito à posse.
Havia uma lei que definia a Suprema Corte como competente para julgar esse writ quando a autoridade
impetrada fosse Secretário de Estado. Porém, a Suprema Corte entendeu que a competência para
determinar seu âmbito de atuação era da CR e não da lei. Desse modo, a decisão da Suprema Corte foi
no seguinte sentido: Marbury tinha o direito, mas a Suprema Corte não tinha competência. Com isso,
o Executivo passou a ser obrigado a cumprir a decisão.
Direito inglês
Quase não há controle, pois não adota o princípio da supremacia da constituição. O controle
não é formal, mas meramente material, pois formalmente não existe um paradigma constitucional. Em
outros termos, a constituição possui conceito meramente material e, então, formalmente não existe um
paradigma constitucional, razão pela qual quase não se observa o controle de constitucionalidade.
A partir de 2008, o Reino Unido passou a adotar um sistema de controle usando como
paradigma a lei de proteção dos direitos humanos. Houve uma reforma do Judiciário, criando uma
Corte Constitucional paralela ao órgão de cúpula, que é a Câmara dos Lordes. Assim, a tendência é
que o controle seja observado nos próximos anos, compatibilizando-se o princípio da supremacia
constituição com a supremacia do parlamento. A dificuldade é a existência de uma constituição formal.
Por fim, cabe salientar que a incompatibilidade com os costumes pode fazer com que haja a
reapreciação da lei pelo Parlamento Inglês, mas isso não significa que há um sistema formal de
controle.
Direito francês
Também não há um sistema amplo de controle. A França aos poucos vem fazendo o controle
de validade a partir do Judiciário. Desde a revolução francesa há a tradição de fazer uma leitura rígida
do princípio da separação dos poderes. Como na monarquia absolutista, os juízes eram delegatários da
24
vontade real, havia muita desconfiança do judiciário controlar a vontade da maioria. Até hoje, o Poder
Judiciário francês não julga questões de direito administrativo lato senso (administrativo, tributário e
financeiro). Essas questões são decididas por um órgão próprio formado por juízes administrativos,
cujas decisões transitam em julgado e não podem ser revistas pelo Poder Judiciário (diferentemente do
que se observa no Brasil). Como essa matéria interessa ao Estado é julgada pelo Contencioso
Administrativo.
Direito americano
Como cabe ao juiz aplicar o direito, ele tem que aplicar o direito válido e, portanto, a
competência é difundida. O controle é a aplicação de um critério de hermenêutica que define em um
conflito normativo a prevalência da norma superior em relação à inferior. Isso deve ser feito por
qualquer juiz. O controle é apenas uma questão de hermenêutica, em que se aplica o princípio da
hierarquia.
Direito austríaco/alemão
25
Kelsen propõe a criação da Corte Constitucional, não integrante do Judiciário, para proteger a
Constituição. Para ele, as questões constitucionais devem ser remetidas à Corte e, então, os demais
juízes têm que encaminhar para a Corte para ela decidir sobre questões relacionadas à Constituição. O
controle é concentrado. Em princípio, os efeitos da invalidação são ex tunc, pois a decisão é que faz
com que a norma seja inválida. A natureza da decisão é desconstitutiva.
3. Histórico no Brasil
Na Constituição imperial não havia ainda o controle. Determinava apenas que o Senado era o
guardião da Constituição. O controle difuso tem início com a CR/1891, de forma tímida, sendo
incentivada na advocacia de Rui Barbosa. Em 1926 há uma reforma que reforça o controle difuso e
cria o mandado de segurança.
A ADI foi criada em 1965, pela EC nº 16/65. Quando ela foi instituída, adotamos os
fundamentos do controle difuso norte-americano e, por isso, entendemos que uma norma
inconstitucional é nula desde o início.
4. O ato inconstitucional
De acordo com a escola norte americana o ato inconstitucional é nulo desde o início e, portanto,
a decisão é declaratória e o efeito é ex tunc. De acordo com Kelsen (escola austríaca) a decisão é
desconstitutiva declaratória e o ato é anulável, sendo o efeito ex nunc. Frise-se que em algumas
26
situações a decisão da escola americana pode ter efeitos ex nunc e as do modelo germânico, ex tunc.
5. Tipos de inconstitucionalidade
A inconstitucionalidade total abrange todo o ato normativo, enquanto a parcial parte dele.
A omissão pode ser total ou parcial. A omissão parcial é a regulamentação insuficiente. Desse
modo, a regulamentação existe, mas não atende ao desígnio da CR. Já na omissão total, não temos
qualquer regulamentação.
A fungibilidade entre ADI e ADO é muito observada nos casos de omissão parcial,
pois houve uma regulamentação insuficiente. Se o argumento é a omissão cabe ADO;
se o que se questiona é a parte regulamentada, cabe ADI.
Imagine-se que uma lei seja declarada em um primeiro momento constitucional. Se essa
declaração for feita no controle concentrado fará coisa julgada. Posteriormente, o STF declara a lei
inconstitucional, decidindo em sede preliminar que a coisa julgada deve ser afastada.
Obs: Aqui, no Brasil, temos duas interpretações: inconstitucionalidade que surge com o
paradigma que é anterior (não é recepcionada – o STF não faz controle de constitucionalidade de lei
anterior) ou posterior à lei (é o que conhecemos por recepção).
A principal consequência disso é que o pedido na ADI é fechado (apesar da causa de pedir ser
aberta). Assim, se for impugnado, por exemplo, o art. 2º de uma lei e o STF verificar que deve ser
declarada a inconstitucionalidade por arrastamento outros muitos artigos, a petição é considerada
inepta, isto é, em princípio, o Supremo analisará a constitucionalidade somente desse artigo.
Excepcionalmente, há a declaração de inconstitucionalidade consequente, ou seja, arrastar a
inconstitucionalidade para outros dispositivos. De acordo com o professor, é um julgamento extra
petita, que é admitido no controle concentrado.
Obs: o STF já declarou a inconstitucionalidade de uma ADI com vício formal, quando a causa
pedir foi vício material, mas não se admite o contrário, por ofensa ao princípio democrático. Durante
todo o processo, só se debateu o vício formal. Quando o vício é material, podemos analisar os
paradigmas, as questões se comunicam.
Obs: não cabe ADI de decreto regulamentar, pois é ato normativo secundário.
6. Tipologia do controle
Por ação ou por omissão: Por ação ocorre quando um ato gera a inconstitucionalidade. Por
omissão, quando a inércia gera a inconstitucionalidade. Ocorre em relação às normas de eficácia
limitada.
Político quando exercido por um órgão político e judicial se for feito pelo Poder Judiciário.
Subjetivo quando o requerente tem como interesse a resolução do caso concreto. No objetivo,
a preocupação é com a constitucionalidade ou não da lei, e não sobre um caso específico.
Há uma tendência natural de que todo controle concentrado é objetivo pela via principal. Porém
essas características podem estar alinhadas ou não. Por exemplo, a representação de
inconstitucionalidade interventiva tem o bem da vida claro, proteger a autonomia federativa, a sua
competência é concentrada, a finalidade subjetiva, e se pronuncia na via principal.
Cuidado: Em uma ADI sobre PEC em que a PEC tinha sido convertida em EC sem alteração
do texto ou com pequena alteração que não foi substancial, o STF entendeu pela continuidade da ADI,
pois, nesse caso, temos um controle abstrato. Isso é diferente do MS, pois no MS há o bem da vida
30
(regularização do processo legislativo) que não mais poderá ser entregue. MS 22487.
Caso concreto – tema 05 - questão 03: o MS não deve ser conhecido, pois não se admite
controle preventivo judicial de natureza material de projeto de lei. O STF só admite discutir vício
material em ADI quando estamos diante de uma PEC, conforme decidido no MS 32033.
Agora, se for proposta uma ação onde será discutida exclusivamente a lei em tese (fiscalização
abstrata), onde a causa de pedir e o pedido são a inconstitucionalidade (via direta), deve ser proposta
no STF (sistema concentrado).
O controle pela via de exceção é aquele realizado por diversos órgãos do Poder Judiciário.
O controle pela via de ação é aquele exercido por um único órgão e se observa por meio das
seguintes ações: ADI, ADC, ADO e ADPF.
Quando o órgão julgador está diante de uma lei que apresenta uma ou mais de uma via de
interpretação que preservem a constitucionalidade, ela deve ser escolhida. Aponta-se que a norma será
constitucional desde que interpretada de tal forma.
Em geral, o STF não faz distinção entre essa e a anterior. Não há uma divisão estanque entre o
ato de interpretar e aplicar a norma ao fato. O processo hermenêutico é circular ou espiral. O fato é
levado em conta desde o momento da leitura da norma.
Apesar do STF não distinguir, na declaração parcial de nulidade sem redução de texto, ao invés
de se apontar uma via de interpretação em que se preserva a constitucionalidade, declara-se que a
norma aplicada a determinado destinatário é inconstitucional. Há uma redução no âmbito de aplicação
da norma.
Ex: a norma é constitucional para o tema A e inconstitucional para um tema B. A lei continua
escrita como sempre foi, o que ocorre é uma redução do âmbito de aplicação da norma. O STF não
mais diferencia a declaração parcial e da intepretação conforme, pois interpretação e aplicação é um
processo circular.
Mesmo a norma sendo inconstitucional é melhor ficar com ela, isto é, não declarar a sua
nulidade, para evitar um caos jurídico.
O efeito repristinatório não se confunde com a repristinação, como visto anteriormente. Ex: Lei
A Lei B Lei C: aqui temos 3 leis e duas revogações sucessivas. Não ocorre tacitamente,
diferentemente do efeito repristinatório.
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Caso concreto - tema 05 - Questão 2: Em relação ao judicial review existem vários argumentos
para esse fenômeno ser observado. Cabe ao STF dar a última interpretação à vontade do Poder
Constituinte. Em eventual conflito entre poderes, principalmente, entre Legislativo e Executivo, cabe
ao STF arbitrar esse conflito judicialmente. Além disso, em uma federação também é seu papel dirimir
o conflito entre unidade federativa.
De acordo com Kelsen a maioria só existe porque há uma minoria, até porque se houvesse
apenas maioria haveria unanimidade. Destaca o autor três direitos da minoria. O primeiro direito da
minoria é o direito de existir. O segundo direito da minoria é o direito de usar a palavra e tentar
convencer a maioria. Mesmo que não consiga isso totalmente, pode alterar partes da decisão da
maioria, convencendo parcela da maioria a mudar seu entendimento. O terceiro papel da minoria no
ambiente democrático é poder através da via eleitoral, a médio prazo, se transformar em maioria.
Barroso diz que um dos papéis do judicial review é impedir que a maioria jogue a minoria para
fora do barco, protegendo direitos fundamentais.
1. Conceito
discussão é feita em torno do fato, do caso concreto. A questão jurídica da inconstitucionalidade tem
natureza de questão prejudicial de mérito.
Como há a presunção de constitucionalidade das leis, o juiz não precisa fundamentar quando
declarar a constitucionalidade das leis, porém quando de ofício ou provocado afirmar que a lei é
inconstitucional terá o ônus da argumentação. Nesse último caso terá que elaborar uma fundamentação
que quebre a presunção de constitucionalidade das leis.
2. Competência e legitimação
No que tange à competência, qualquer juiz ou tribunal pode fazer o controle incidental,
ressalvado o princípio da reserva de plenário (art. 97, CRFB/88), isto é, os tribunais só poderão se
manifestar pela inconstitucionalidade pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou do órgão
especial.
O art. 481 CPC prevê que o órgão fracionário deixará de remeter a questão ao órgão especial
(plenário ou órgão especial) se houver pronunciamento do plenário STF ou do plenário do próprio
tribunal.
Em relação à reserva de plenário, merecem destaque alguns pontos. O que a CR impede é que
o órgão fracionário pronuncie a inconstitucionalidade, assim, nada impede que pronuncie a
constitucionalidade. O órgão fracionário não tem competência para declarar a inconstitucionalidade;
quem deve decidir sobre a questão é o órgão especial.
A regra da reserva de plenário não se aplica à turma recursal, pois ela não é tribunal. Portanto,
a Turma Recursal poderá decidir pela inconstitucionalidade por maioria.
Em relação à legitimação ativa e passiva elas podem ser de qualquer parte processual. Qualquer
parte, qualquer interveniente tem legitimidade para suscitar a inconstitucionalidade na via difusa. O
juiz deve conhecer de oficio, pois é uma questão de direito.
34
Observação: O TJ, assim como todos os tribunais de todas as instâncias e âmbitos (estadual e
federal) tem o Pleno (todos os desembargadores – ex: 11 ministros do STF; 27 do TST; 33 do STJ) e
as turmas (na seara federal) ou câmaras (na seara estadual), que são os chamados órgãos fracionários
(é uma fração do todo, composto pelo relator, revisor e vogal).
Este órgão fracionário pode julgar alguns temas e outros não. Existem questões que tem que
ser decididas pelo Plenário, a exemplo da punição de magistrado, promoção de magistrado,
inconstitucionalidade etc. Imagina ter que parar todos os julgamentos para saber se o magistrado será
ou não promovido ou se uma lei é inconstitucional em um caso específico. Por isso, a CR no art. 93,
XI prevê que nos tribunais com número superior a 25 julgadores pode ser criado o órgão especial, que
exercerá as atribuições do plenário e será composto de 11 a 25 membros.
A ideia é a seguinte: o tribunal tem mais de 25? Sim, então, se ele quiser poderá pegar de 11 a
25 membros e criar o órgão especial.
Em regra, entre as pessoas o efeito é inter partes. O efeito entre as pessoas se torna erga omnes
quando há suspensão da lei (federal, estadual ou municipal) pelo Senado (art. 52, X). Barroso entende
que o que gera o efeito erga omnes é a resolução do senado, sem embargo da decisão adotada pelo
STF ter o caráter mais abstrato. Gilmar sustenta que o processo de abstrativização das decisões é tão
intenso, que a atuação do Senado geraria apenas para dar publicidade. Esse não é o entendimento que
prevalece. A maioria dos ministros mantém a posição, de que o que gera o efeito erga omnes é a
atuação do Senado. A abstrativização não se confunde com efeito erga omnes.
Se o STF adota uma declaração de inconstitucionalidade no controle difuso, isso não permite
que alguém diferente daquela parte tenha aquela decisão acolhida, no julgamento do seu caso concreto.
Caso concreto - Tema 06 - Questão 02: a reclamação deve ser acolhida pela aprovação da SV
26 e pela alteração da Lei nº 8.072 (não deve ser usado o fundamento de Gilmar Mendes). Rcl 4335
(destaque para o voto de Teori Zavaski).
A abstrativização é uma tese que não se confunde com a transcendência dos motivos
determinantes. “Em uma explicação bem simples, a teoria da abstrativização do controle difuso
preconiza que, se o Plenário do STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei
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ou ato normativo, ainda que em controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle
concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e vinculante”.
O STF é resistente à vinculação pela fundamentação, entendendo que o efeito vinculante está
restrito ao dispositivo. A primeira tese era de que a decisão no controle difuso gera efeitos vinculantes,
não é aceita. A segunda tese, de que o dispositivo gera efeitos vinculantes também não. Gilmar Mendes
chega a afirmar que o inciso X, artigo 52 teria sofrido uma mutação constitucional, servindo apenas
para fins de publicidade. Isso não é aceito pelo STF.
Se o Senado determina a suspensão da execução da norma, essa decisão produz efeito ex tunc
ou ex nunc? Entende-se que os efeitos são ex tunc, mas existem importantes teorias que sustentam que
os efeitos são ex nunc. De acordo com aqueles que defendem o efeito ex tunc, se o efeito fosse ex nunc
várias pessoas iriam propor ações individuais. Frise-se que o Senado não é obrigado a suspender a
execução da norma.
2ª parte
Em relação à suspensão da norma pelo Senado, o STF declarou que o Senado tem
facultatividade para editar a resolução. A controvérsia sobre a obrigatoriedade, obrigatoriedade
mitigada e facultatividade é apenas acadêmica. Quanto à extensão, o STF pode ter declarado a
inconstitucionalidade de 3 artigos e o Senado só suspender um.
“Pode-se dizer que o STF acolheu a teoria da abstrativização do controle difuso? O STF decidiu
que houve mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88 e que o papel do Senado atualmente é apenas
o de dar publicidade da decisão? NÃO. A resposta para essas perguntas ainda é negativa. É isso que
se extrai do resultado da Rcl 4335/AC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgada em 20/3/2014. (....)
Apenas dois Ministros (Gilmar Mendes e Eros Grau) afirmaram expressamente que: (i) as
decisões do Plenário do STF proferidas em controle difuso de constitucionalidade possuem efeitos
erga omnes e (ii) que o papel do Senado, atualmente, é o de tão-somente dar publicidade ao que foi
decidido, tendo havido mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88.
Os demais Ministros refutaram textualmente ou pelo menos não aderiram a tais conclusões.
Assim, para a maioria do STF, a decisão em controle difuso continua ainda produzindo, em regra,
efeitos apenas inter partes e o papel do Senado é o de amplificar essa eficácia”.
Atuação do MP
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A questão julgada incidentalmente não faz coisa julgada. A questão do controle na via
incidental não faz coisa julgada. A questão prejudicial de mérito não vira ação declaratória incidental.
5. Generalidades
Uma autoridade administrativa pode deixar de aplicar uma norma que considerar
inconstitucional. A autoridade administrativa deve tomar cuidado, nesse caso, como afirma a doutrina.
Aliás, ela precisa estar preparada para ser objeto de ação de responsabilidade civil. Ademais, o
descumprimento de uma lei federal, permite a ocorrência de uma intervenção federal. O mais
recomendável é que seja proposta uma ADI.
A entidade, isto é, União ou estado, que edita um ato inconstitucional pode ser
responsabilizada, se o ato gerar danos.
Tema 07: Controle concentrado de constitucionalidade I. Natureza jurídica das ações constitucionais.
Ação direta de inconstitucionalidade. Legitimados.
1. Conceito
A causa de pedir é aberta (ADI 1967) e o pedido é fechado: ainda que o STF entenda que a
norma é inconstitucional, mas com outro fundamento, ele pode declarar a sua inconstitucionalidade.
Contudo, essa abertura da causa de pedir é limitada, conforme já ressaltamos. Assim, se outro
argumento deve ser acolhido, o STF pode utilizá-lo, pois não está adstrito à causa de pedir.
A ADC e a ADI são ações dúplices, conforme Rcl 1880. A natureza jurídica da sentença que
julga improcedente o pedido da ADI é declaratória negativa (declara que o autor não tem direito).
Quando o STF julga improcedente o pedido da ADI tem que declarar a constitucionalidade, pois a
causa de pedir é aberta. Nesse caso de improcedência da ADI, a declaração de constitucionalidade faz
coisa julgada. Julgado improcedente o pedido na ADC, tem que declarar a inconstitucionalidade da
norma. Isso faz da ADI e da ADC ações dúplices (Art. 24 Lei 9868/1999).
2. Fundamento e objeto
O objeto da ADI é a EC, lei ou ato normativo federal ou estadual ou distrital na competência
estadual (Ver artigo 59 da CF c/c 102, I, CRFB). Qualquer lei estadual ou federal, mesmo as leis de
efeitos concretos. Até 2007 não se admitia o controle das leis de efeitos concretos. O ato administrativo
deve ter caráter normativo para sofrer controle.
O paradigma a ser protegido na ADI varia de acordo com o objeto. Se o objeto da ADI for uma
norma infraconstitucional, o paradigma pode ser norma da CR, ADCT, EC e convenção de direitos
humanos aprovada pelo rito do art. 5º, § 3º. Se o objeto da ADI for emenda, apenas a parte formal da
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emenda e cláusula pétrea são os paradigmas. Portanto, se o objeto da ADI for emenda o paradigma é
pequeno.
3. Competência
4. Legitimidade
O partido político com representação no Congresso Nacional é legitimado universal, pois não
congrega pessoas por categoria profissional, mas deve integrar pessoas por afinidades ideológicas.
Em relação à associação, o STF tem entendido que deve ter representação, em no mínimo 9
estados. Além disso, a associação deve ser homogênea. Destaca-se a ADI 4815.
No que tange à confederação sindical, deve ter filiada a ela, no mínimo 3 filiações e deve estar
inscrita no ministério do trabalho. ADI 4750 e 1121
São os órgãos que participaram da edição da norma. Possuem prazo de 30 dias para
manifestação.
7. Amicus curiae
O amicus curiae é admitido sem prazo. O STF entende que o limite para solicitar o ingresso é
até o momento em que o relator pede a inclusão do processo em pauta, conforme ADI 4071. A causa
tem que ser relevante e tem que ser uma entidade de boa representatividade.
Da decisão que admite não cabe recurso, a contrario sensu, o indeferimento do ingresso
autoriza agravo regimental (único recurso que o amicus curiae pode interpor), conforme ADPF 77. O
amicus curiae não tem legitimidade recursal, mas pode fazer sustentação oral. O STF entende que a
falta de manifestação não gera nulidade, conforme ADI 3460 (importante). Ele atua para contribuir
na formação do convencimento do juiz.
Ótima questão de prova: caso o pedido de ingresso do amicus curiae não seja julgado, e a ação
seja, não há nulidade, sendo uma simples irregularidade.
Tema 08: Controle concentrado de constitucionalidade II. Efeitos da decisão que reconhece a
inconstitucionalidade. Inconstitucionalidade por omissão. Súmula vinculante. Reclamação
Constitucional.
No tempo
Em regra, ex tunc (ato nulo desde o início). Exceção: modulação de efeitos - art. 27 Lei nº
9.868/99. Para modular os efeitos tem que ter o voto favorável de 8 ministros, de acordo com o art. 27.
Importante: para julgar o mérito da ADI tem que ter 8 presentes e enquanto não houver 6 votos,
suspende-se o julgamento. Para modular tem que haver 8 votos, independemente de existirem 6 votos
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favoráveis ou não à modulação. Assim, se 8 estiverem presentes e 6 votarem pela modulação, não se
suspende. Não há suspensão para posteriormente decidir a modulação.
Entre as pessoas
Obs: O Supremo Tribunal Federal possui causa de pedir aberta no que se refere ao parâmetro
no Controle de constitucionalidade concentrado, podendo reconhecer a inconstitucionalidade de uma
norma por conta de outra norma que não a citada pela parte autora (ADPF 139). No entanto, no que se
refere ao objeto, o STF, sob pena de atuar sob ofício, não pode declarar um ato ou norma
inconstitucional que não a questionada pela parte autora nas ações de inconstitucionalidade, salvo nos
casos da inconstitucionalidade por arrastamento/reverberação normativa.
Obs¹: O plenário do STF não necessita respeitar o efeito vinculante, uma vez que pode mudar
de opinião, contudo, as turmas do STF estão vinculadas ao que foi decidido pelo Plenário do Supremo
Tribunal Federal.
Obs²: O efeito vinculante não alcança o Poder Legislativo na sua função de legislar. Na função
indireta, o efeito vinculante alcança o Poder Legislativo.
Obs³: o STF não admite a teoria das transcendências dos motivos determinantes, apenas o
dispositivo do acordão é vinculante. Informativo 808 STF.
De acordo com o art. 12 da Lei nº 9.868/99 ao invés de prever que o relator abra um
procedimento cautelar e siga o procedimento de mérito, o relator pode encurtar os prazos de mérito
em 1/3 e decidir desde logo o mérito. Atualmente, a maioria das ADI’s seguem esse rito.
11. Generalidades
Caso concreto - Tema 6 - questão 2: não é norma de reprodução obrigatória. Não é caso de
arquivar. Se o parâmetro é diferente e se o STF sobrestar e julgar procedente o pedido na ADI, a RI
perde o objeto. Se for julgada improcedente, há interesse em prosseguir na RI. Nesse caso, o STF
analisa à luz da CR. ADI 4138 importante.
Caso concreto - Tema 6 - questão 3: ADPF da marcha da maconha (ADPF 187) - o amicus
curiae não pode inovar no pedido, aliás, ele não pode nem pedir.
É uma ação típica de países que adotam constituições dirigentes, que são marcadas por normas
de eficácia limitada.
O seu fundamento no ordenamento jurídico brasileiro está no art. 102, I, a c/c art. 103, § 2º,
CR.
Seu objeto é conceder eficácia plena às normas de eficácia limitada que dependam de
complementação de ato normativo federal ou estadual (municipal não!). Em outros termos, tornar
concreta a vontade da CR.
2. Legitimação
A legitimação ativa está prevista no art. 103, CR e a passiva, são os órgãos que deveriam editar
a norma, mas não editaram ou editaram parcialmente.
3. Procedimento
4. Procurador-Geral da República
6. Cautelar
Os efeitos da decisão da ADO são a ciência do Poder competente para a edição da norma
(apelo) e, em se tratando de órgão administrativo, para suprir a omissão em 30 dias (erga omnes).
A omissão do Poder legislativo, o STF não pode obrigar o Congresso Nacional a legislar. O
STF admite pelo MI a posição concretista em que individualmente viabiliza a concretização daquela
omissão.
8. ADO X MI
A seguir temos um quadro comparativo entre a ADO e o MI, dois mecanismos que atacam a
omissão, o primeiro no controle concentrado e o segundo, no difuso.
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1. Fundamento
O Estado pode instituir ADC? Havia uma controvérsia doutrinária se o estado poderia instituir
a ADI, porque o art. 125, § 2º da CR prevê apenas a possibilidade de instituir representação de
inconstitucionalidade, não mencionando a representação de constitucionalidade. O STF considerou
constitucional a criação da representação de constitucionalidade pelos Estados.
3. Objeto
4. Competência e legitimidade
Obs: EC 03 - gerou diversas críticas, pois se entendia que estava instituindo uma ação sem
contraditório.
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Quem propõe ADC tem que juntar prova da controvérsia jurisprudencial relevante, a partir do
extrato de duas decisões. Não cabe controvérsia doutrinária ou doutrinária-jurisprudencial.
6. Procurador-Geral da República
O AGU, em princípio, não atua, pois seria um reforço à constitucionalidade, isto é, sua atuação
desequilibraria a relação, pois a norma já goza de presunção de constitucionalidade. Há alguns
precedentes em que o AGU atuou.
Entre as pessoas a eficácia é erga omnes, com efeito vinculante para o Judiciário e
administração (art. 102, § 2º, CR), ex tunc.
9. Cautelar
É admitida a cautelar na ADC, cujo efeito é a suspensão do julgamento dos processos que
envolvam a aplicação do ato normativo atacado na ADC. Entre as pessoas, o efeito é erga omnes e no
tempo ex nunc. ADC 4: vinculante
Obs: A cautelar na ADI tem natureza de cautelar ou de antecipação de tutela? Natureza cautelar,
pois a lei prevê a aparência de direito e perigo na demora (mesmos termos da cautelar). Se fosse
antecipação da tutela, haveria uma antecipação dos efeitos finais. Como na ADI busca-se declarar a
nulidade e na cautelar suspende-se a eficácia, a cautelar na ADI possui natureza cautelar.
10. Generalidades
ADI ADC
Questão de prova anterior: Em 2001, a Associação Nacional dos Servidores Públicos Estaduais
propôs ADO no Supremo sustentando que até o momento o governador não havia apresentado projeto
de lei de revisão geral remuneratória. Pergunta-se: Há pertinência temática para o legitimado? Quem
deve ocupar o polo passivo? Há mora? No apelo ao legislador o Supremo deve fixar o prazo de 30 dias
ou não?
Essa questão está relacionada ao art. 37, X c/c art. 61 (norma de repetição obrigatória para o
governador).
Há pertinência temática. O polo passivo deve ser ocupado apenas pelo Governador, pois a
iniciativa é privativa do governador. Em relação à mora ela existe com base no critério objetivo, pois
o inciso X tem redação dada pela EC 19/98 e, então, o Presidente deveria ter apresentado a lei até
1999, tendo em vista que a revisão é geral e anual. O governador atua como órgão do processo
legislativo (ele está no exercício de sua função atípica) e, portanto, o STF não deve atribuir prazo de
30 dias (somente para órgão da administração).
Caso concreto - Tema 08 - questão 01: O art. 18, § 4º, CR prevê os requisitos para criação,
fusão e cisão de municípios. De acordo com esse dispositivo, tem que haver uma lei complementar
(que define em que períodos pode haver a criação de municípios, para evitar que isso seja feito próximo
das eleições), lei federal (que irá determinar como serão feitos os estudos de viabilidade), estudos de
viabilidade, plebiscito (após o plebiscito será aprovada a lei estadual), lei estadual.
46
A lei estadual foi objeto de ADI. À primeira vista, o pedido deveria ser inconstitucional, pois
viola alguns requisitos constitucionais. Diante de um fato consolidado que pode gerar um prejuízo, a
decisão do STF deve ser de declaração de inconsticionalidade sem pronúncia de nulidade. ADI 2240
Caso concreto - Tema 08 - questão 02: Apelação cível que entendeu não caber ao TJ determinar
ao município a proteção previdenciária ao marido com base na igualdade, mesmo a CR falando da
igualdade entre homens e mulheres. O MS foi extinto por impossibilidade do pedido. Apesar disso, o
professor discorda dessa posição, pois seria perfeitamente possível determinar a inclusão do marido.
Caso concreto - Tema 08 - questão 03: inconstitucionalidade por omissão - polo passivo: em
regra, Presidente e Congresso. Existem vários atos normativos que não são de sua autoria e, portanto,
nesses casos, eles podem propor a ação. A Mesa da Câmara em caso de omissão cuja concretização
seja feita por portaria de ministros pode propor a ação. Na resposta, ratificar a legitimidade desses
órgãos, mas em determinadas situações não poderão ocupar o polo ativo e passivo ao mesmo tempo.
Nesses casos, prevalece o polo passivo e, então, eles não podem propor a ação. Resposta do livro do
Gilmar.
04/02/16 - Aula 03
Os direitos humanos são uma construção histórica, ou seja, não são dados, mas sim
conquistados por aqueles que vivem situações de opressão, invisibilidade e violação. Os direitos se
conquistam com luta e conflito. Após 1945, há uma noção contemporânea dos direitos humanos. Os
valores morais, filosóficos, religiosos de igualdade, justiça, liberdade, sustentabilidade, dignidade
humana passam a ser codificados e constituem o sistema de direito positivo internacional. De acordo
com Bobbio temos 3 gerações de direitos humanos.
A primeira geração é o direito à liberdade. É a ideia da luta contra o Estado absolutista. Aqui
se observa a formação dos direitos essenciais à liberdade. Os direitos são negativos, pois determinavam
um não fazer ao Estado. Ex: Estado não pode atentar contra a vida, contra a propriedade.
A segunda geração tem por base a ideia de igualdade. O Estado se tornou forte demais e
precisava fornecer mecanismos de igualdade, que seriam os direitos sociais. Os direitos são positivos,
pois é aquilo que o Estado é obrigado a fornecer (saúde, educação etc). O marco histórico são as
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revoluções socialistas e comunistas que começam com a revolução mexicana e russa. Os direitos
sempre foram conquistas sociais.
A terceira geração tem por fundamento os direitos difusos e coletivos e o marco é a Segunda
Guerra Mundial. Ela muda os parâmetros de direitos humanos no mundo, pois até então o poder do
Estado era absoluto dentro do seu território. Os horrores da Segunda Guerra Mundial demonstraram a
necessidade de proteger os direitos humanos entre os países. A ideia de obrigar os Estados a terem um
patamar mínimo de direitos humanos surge em 1945.
Na Teoria Pura do Direito, o direito é puro e não pode ser contaminado por nada. Com ascensão
do nazismo alguns questionamentos foram formulados perante a Suprema Corte Alemã. A primeira
questão foi: quem são os alemães? Alemães são apenas os filhos de alemães. E os direitos previstos na
Constituição de Weimar valem para os poloneses? Não, pois o preâmbulo da Constituição diz que ela
é feita pelos alemães e para os alemães. Com isso, os bens das famílias polonesas foram expropriados.
Esse foi o marco da ascensão do nazismo para o direito.
A questão da soberania do Estado foi o grande problema enfrentado em 45, quando começa o
debate, e em 48 com a Declaração. Em 1948 foi promulgada a Declaração Universal de Direitos
Humanos. Essa declaração elencou um conjunto de direitos que todo ser humano deveria ter acesso a
fim de gozar de uma vida livre e digna. São os chamados direitos civis, políticos, econômicos, sociais
e culturais que influenciaram a elaboração de diversas Constituições e a legislação de vários países.
Os direitos humanos têm textura aberta, isto é, a ideia de que são literalmente abertos, fluidos,
justamente para o Estado adaptá-los da melhor maneira dentro da sua concepção local. Na Declaração
Universal dos Direitos Humanos existe o direito à vida, mas ela não é detalhada na Declaração. Por
exemplo, no Brasil existe a possibilidade de pena de morte em casos de guerra externa. Nos EUA, cada
Estado decide se haverá ou não pena de morte. Então, a textura é aberta para os Estados concretizarem
da maneira que acharem melhor. Por isso existe a diferença entre direitos humanos e direitos
fundamentais. Os direitos humanos são supranacionais, de textura aberta e os direitos fundamentais
são os concretizados no ordenamento interno de um país.
acordo com a sua oportunidade e conveniência. A ONU sempre entendeu que se ela forçasse o Estado
para implementar direitos, estaria desrespeitando a soberania estatal.
Por mais que a ONU elabore tratados, a efetivação de direitos fundamentais/humanos ainda é
muito pequena. Assim, a ONU prevê obrigações aos Estados. Nesse contexto, o Estado,
principalmente, tem que:
O conselho da ONU é que o tratado internacional deve ser inserido na Constituição, a partir de
leis, da efetivação de políticas públicas e tem que haver previsão na lei orçamentária dos direitos
humanos.
Um dos pontos que a ONU considera essencial é a reparação de violações, daí a ideia do sistema
universal e do sistema local. A ideia é que os mecanismos feitos através de convenções fomentem os
direitos e criem mecanismos para reparação nos casos de violações. Os tratados internacionais são a
espinha dorsal do sistema universal de proteção dos direitos humanos.
Obs: pressupostos dos direitos humanos: (i) positivismo - vale a lei que está escrita, porém a
norma escrita pode levar à discriminação; (ii) patamar ético-principiológico - o que deve ser
considerado é o conceito intuitivo do direito, todavia pode levar à debates; (iii) multiculturalismo - se
tivéssemos um parâmetro único de direitos humanos haveria uma violação aos direitos humanos, pois
estaria impondo ao mundo uma maneira ocidental de vê-lo.
É o sistema da ONU. A ideia da criação das Cartas das Nações. A estrutura básica interna é a
que existe a assembleia geral, o secretariado, conselho de segurança, conselho econômico e social e a
corte internacional de justiça (atua em violações de direitos humanos em grandes proporções).
O Conselho de Direitos Humanos irá propor novas reuniões para a elaboração de tratados.
Um dos pontos desse Sistema Internacional é o Tribunal Penal Internacional. Sua função é
julgar violação de direitos humanos em conflito, isto é, qualquer conflito que tenha violação de direitos
humanos no seu bojo deve ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional.
O TPI não julga apenas países, podendo julgar nacionais. Se o Conselho de Segurança da ONU
verificar a violação de direitos humanos em conflito pode solicitar a instauração do TPI. Os membros
do TPI também podem requerer a sua instauração. A denúncia deve ser formulada ao promotor do TPI,
que irá analisar a denúncia e se for o caso, levar ao TPI. Indivíduos e associações não podem fazer a
denúncia, mas os Estados podem.
O Brasil participa do TPI, mas há um debate doutrinário: a) o TPI alega que a pena aplicada
por ele contra pessoas pode ser cumprida em outro país neutro e o Brasil não permite a extradição de
nacionais; b) o TPI aceita a pena de morte e o Brasil não. Assim, há duas penas incompatíveis com a
legislação brasileira. Se um brasileiro for condenado pelo TPI a cumprir prisão perpétua em outro país,
essa condenação vai prevalecer sobre a Constituição? Há um debate doutrinário, pois o Brasil é
signatário do tratado que instituiu o TPI.
Há, ainda, outro debate: os países que não são signatários desse tratado tem que cumprir a
sentença do TPI? EUA e Iraque, por exemplo, não assinaram o tratado, inicialmente. Os EUA tentaram
fazer uma reserva legal, mas não foi aceita pela ONU e, portanto, ele continua fora do TPI.
Sistema de monitoramento feito pelas Nações Unidas sobre os países, a partir três mecanismos:
(i) Relatórios periódicos sobre o andamento dos direitos humanos ou patamar dos direitos
humanos no momento. Os Estados deverão encaminhar periodicamente e toda vez que
o Comitê solicitar informações complementares. Esses relatórios devem conter
informações sobre quais foram as políticas públicas e medidas legislativas e judiciais
implementadas pelo Estado no sentido de respeitar, proteger e promover os direitos
humanos estabelecidos na Convenção;
(ii) Mecanismos de comunicação interestatal;
(iii) Petições individuais: permitem que os indivíduos ou grupos de indivíduos possam
ajuizar petições junto ao Comitê sobre violações sofridas dos direitos consagrados na
Convenção Obs: as petições individuais podem ser propostas por indivíduos ou
associações para denunciar violações a direitos humanos. Elas serão levadas ao plenário
da ONU e lá será decidido o que o Estado deverá fazer, como por exemplo, o
procedimento urgente de envio de tropas.
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Mecanismos extra-convencionais
As nações unidas terão relatores especiais para visitar os países in loco para levar ao plenário.
Ex: visita do relator especial sobre execução sumária; visita sobre educação; visita sobre moradia
adequada, em razão da invasão de prédios públicos.
Além dos relatores especiais, existem os relatores nacionais (plataforma Descha Brasil).
O Conselho de direitos humanos solicita as sanções aos Estados, que podem ser: simbólicas ou
aplicação de embargos de cooperação internacional, como, por exemplo, suspender o envio de
matérias-primas para os países.
Existem também grupos de trabalho para analisar setores específicos. São escolhidos cinco
especialistas pelos membros do Conselho para monitorar os países.
Há também a Revisão Periódica Universal (RPU) que possui como objetivo rever e acompanhar
a situação de direitos humanos de cada país.
O sistema europeu ganhou mais força com a criação da União Europeia. Há um parlamento
europeu que atualmente enfrenta a questão dos refugiados. Existe a Comissão Europeia de Direitos
Humanos que julga os casos de violação dos direitos humanos, quando os países não solucionam o
problema internamente. Essa comissão busca a conciliação.
Desde 1963 temos esse sistema. A grande questão são os conflitos tribais.
medicamento). Se não tivermos uma instância para forçar a aplicação desses direitos humanos, eles
seriam letra morta. A ideia é a efetivação de direitos humanos.
As bases teóricas são a carta de organização dos estados americanos e a declaração americana
de direitos e deveres do homem e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José
da Costa Rica). Esses dois são o destaque tanto da Comissão quanto da Corte Interamericana, dois
órgãos distintos e com funções diferentes e complementares.
Essa Comissão faz visitas in loco e elabora relatórios, recomenda medidas legislativas e de
políticas públicas. Esse trabalho é um trabalho político. Se o problema persistir quem passa a atuar é a
Corte, que determina medidas mais efetivas. Nesse caso, a Comissão envia a questão para a Corte.
Qualquer pessoa pode peticionar perante a Comissão Interamericana. A Comissão faz a análise
das denúncias, cruzando os seus relatórios com as denúncias que recebeu. A sociedade civil
(indivíduos ou associações) denuncia para a Comissão. A Comissão e os países que fazem parte dela
podem fazer denúncias para a Corte. Assim, por exemplo, a anistia internacional faz a denúncia para
a Comissão e, se for o caso, ela leva para a Corte. Desse modo, a comissão sempre será o primeiro
órgão a tomar conhecimento da denúncia individual. Se ela achar que a denúncia é verídica, repassará
para a Corte.
Portanto, quem pode apresentar uma denúncia à Comissão? Qualquer pessoa ou associação, a
partir de ligação, carta, email etc. Existem 3 requisitos para que seja apresentada uma denúncia à
Comissão: (i) o Estado acusado deverá ter violado, pelo menos um dos direitos estabelecidos na
Declaração Americana, na Convenção Americana de Direitos Humanos ou qualquer outro Tratado
Internacional - a denúncia só pode ser feita com base no Pacto de San José da Costa Rica; (ii)
esgotamento de recursos legais disponíveis no Estado onde ocorreu a violação, para não violar a
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soberania nacional, com uma exceção: se ficar comprovado que houve descaso do poder judiciário;
(iii) a denúncia não poderá estar pendente em outro procedimento internacional, pois a Comissão é de
jurisdição exclusiva.
A Corte julga violação à pessoas e elas podem ser tanto no plano legislativo, quanto de políticas
públicas, mas, além disso, a Corte pode pedir reparação para casos concretos, inclusive, pecuniária,
isto é, condenar o país a pagar indenização por danos morais e materiais por violações a direitos
humanos. Isso já aconteceu no Brasil como no caso da Maria da Penha. Nesse caso, a Convenção
recomendou a criação de uma legislação (que foi a Lei Maria da Penha).
Um caso emblemático decidido pela Corte Interamericana foi o Caso Damião Ximenes Braga,
deficiente mental que foi torturado em uma clínica psiquiátrica e morreu. Comprovadamente nos autos
da Corte Interamericana, o judiciário do Ceará postergava a análise do processo. A família dele foi a
primeira a ser indenizada material e moralmente pela Corte e, além disso, a Corte determinou a
correção da violação dos direitos humanos.
A grande maioria dos países da América Central e da América do Sul ratificou, com a aceitação
da jurisdição da Corte.
É importante destacar que a Corte só recebe petições vindas da Comissão de Direitos Humanos
e não recebe petições diretamente dos indivíduos. A Corte faz a condenação pelo desrespeito aos
direitos humanos.
O Sistema Interamericano pode alterar uma decisão interna? Por exemplo, o STF entende que
não merece indenização por danos morais. A Corte Interamericana pode alterar essa decisão? A Corte
não é uma instância de revisão judicial; o que ela pode fazer é dar uma indenização de danos morais e
materiais e recomendar que o país faça a alteração da decisão, para que a soberania estatal não seja
violada.
A sentença internacional é aquela dada por Estado diferente do Brasil. Nesse caso, tem que ser
com base em direito internacional já conhecido pelo Brasil e não precisa de homologação pelo STJ.
Obs: Nesse procedimento contencioso, a comissão pode conceder cautelar. Se tiver uma
questão de fundo, ela é separada da questão principal. Ex: trabalho escravo e a discriminação de
indígenas - a discriminação de indígenas é separada da questão principal.
Caso concreto - Tema 9 – questão 1: A Comissão tem a tarefa de responsabilização dos Estados,
no máximo, nos planos legislativo e de políticas públicas. É formado por representantes de todos os
estados signatários. Já a Corte, necessariamente, irá fazer o julgamento. A Comissão será o primeiro
órgão a tomar ciência da denúncia individual ou feita por associação. Se entender cabível, envia para
a Corte. O Brasil entende que só podem ser aceitas as denúncias feitas depois 1988. Todavia, embora
as denúncias da ditadura militar sejam anteriores à 1988, ela produz efeitos até os dias atuais (ex:
desaparecidos). Assim, por mais que seja anterior a 1988, se prolongou no tempo e, portanto, é possível
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receber denúncias da falta de informações da ditadura militar. Nesse caso, a Corte entende que é
competente até agora.
2ª parte
1. Introdução
A ADC não é texto originário da CR/88. Entrou pela EC 03/93. A ADC começou pós plano
Collor, que sequestrou as poupanças. Isso foi considerado por muitos violação à propriedade privada.
Várias pessoas propuseram mandados de segurança pedindo o desbloqueio das poupanças, alegando
direito líquido e certo à propriedade. Esses mandados de segurança chegariam em algum momento ao
STF via controle difuso. Em razão disso, foi elaborado o projeto de emenda à constituição sobre ação
declaratória de constitucionalidade.
Quando foi julgada a ADC nº 1 se abriu uma questão de ordem, em que o STF debateu se a
ideia de ADC era ou não constitucional, já que EC podem sofrer controle de constitucionalidade. A
questão de ordem foi no seguinte sentido: se temos uma ação para declarar um artigo de lei
inconstitucional, seria necessário termos uma ação declarar a constitucionalidade, se tais artigos já
gozam de presunção de constitucionalidade?
Discutiu-se também se a criação da ADC violava duas cláusulas pétreas (contraditório e ampla
defesa). O legitimado ingressa com a ADC direto no STF (controle concentrado) analisando a lei em
abstrato. A decisão do STF teria efeito vinculante nos tribunais inferiores e os argumentos dos RExt e
apelações poderiam não ser analisados, o que violaria a ampla defesa e o contraditório. Isso impediria
a subida dos recursos ao STF necessariamente e processos com argumentações divergentes não seriam
analisados, o que caracterizaria também violação ao princípio do duplo grau de jurisdição.
Outro questionamento foi que a ADC mataria o controle difuso, o que não é verdade, pois ela
parte do controle difuso para existir. Marco Aurélio entendeu que a ADC era inconstitucional,
diferentemente dos demais ministros. A Lei nº 9.868/99 alterou algumas questões da ADC. Desse
modo, a maioria dos ministros entendeu que a ADC é constitucional.
A ADC não é muito comum no direito brasileiro, tendo em vista a súmula com efeito
vinculante. Para que o STF vai esperar o legitimado entrar com ADC se ele próprio poderá fazer isso
por meio de súmula com efeito vinculante?
2. Objeto
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O objeto da ADC é lei ou ato normativo federal. Não cabe em face de ato normativo estadual,
pois um dos requisitos formais é a comprovação de controvérsia judicial relevante, isto é, que nas
instâncias inferiores ao STF existe controvérsia judicial. Se a controvérsia fosse sobre lei estadual, na
verdade, ela não existiria, tendo em vista que sentenças não seriam suficientes para comprovar
controvérsia judicial, sendo necessário, no mínimo acórdãos. Desde a ADC nº 8 o STF tem
flexibilizado essa questão.
A ideia clássica de que a ADC é a ADI com sinal trocado está em análise, pois o STF desde a
ADC nº 8 exige que exista a controvérsia judicial relevante, mesmo que todos os tribunais entendam
no sentido da inconstitucionalidade. Assim, não é mais necessário apresentar acórdãos no sentido da
constitucionalidade e outros no sentido da inconstitucionalidade.
A ADC visa confirmar a ideia de que a lei é constitucional ou não. Quando a lei nasce, presume-
se que ela é constitucional. Se a lei for considerada inconstitucional, geralmente o efeito é retroativo.
Na verdade com a ADC, o que o STF fala é que a presunção de constitucionalidade é relativa e,
portanto, exige prova em contrário, podendo ser afastada. A ideia da ADC é pacificar e, portanto, não
falamos mais que a ADC é a ADI com sinal trocado. Desde a ADC nº 8, o STF quer afastar uma
dúvida, ou seja, esclarecer se a norma é ou não constitucional e, então, ao invés de exigir acórdãos a
favor e contra a inconstitucionalidade, aceita acórdão só sobre inconstitucionalidade de tribunais
diferentes.
A função da ADC é afastar a insegurança jurídica, pois ela leva a dúvida ao STF. O pedido
autoral é no sentido da declaração da constitucionalidade da lei, pois não há certeza jurídica em relação
aos julgados analisados. Na ADI a argumentação é no sentido da inconstitucionalidade e se pleiteia
que o STF acompanhe esse raciocínio. Na ADC o que se pede é que ele retire a dúvida, afastando a
insegurança jurídica. A insegurança jurídica é: STF não sei se o tribunal está julgado certo.
a) A ADC é cabível contra lei ou ato normativo federal. Essa pergunta fazia sentido antes
da EC 32, que alterou o rito da medida provisória. Hoje em dia, a medida provisória tem o prazo
máximo de 60 dias, prorrogável por mais 60 dias. Nesses 120 dias, o Congresso tem que avaliar. Se
entender que é inconstitucional, o efeito é retroativo. Se entender que é constitucional, converte em
lei.
Há ainda a hipótese do CN entender que foi relevante e urgente, mas já cumpriu seus efeitos
em 120 dias e não tem mais sentido em ser convertida em lei. Ex: esquema especial de trânsito nas
56
Olimpíadas - a União teria competência para editar a MP. As Olimpíadas duram 2 meses e, portanto,
não é preciso que a MP seja convertida em lei.
Hoje, as MP's em 120 dias vão para o Congresso analisar e enquanto não julgar, tranca a pauta.
Se a MP trancou a pauta da Câmara dos Deputados já vai para o Senado, trancando a pauta do Senado.
Isso foi feito para mudar a situação existente até 2001: enquanto o CN não analisasse a MP, ela poderia
ser reeditada pelo Presidente. Com a EC 32, as medidas provisórias só podem ser reeditadas uma vez.
As medidas provisórias anteriores a essa EC 32/01 continuam sendo consideradas medidas provisórias,
mas podem a qualquer momento ser revistas pelo Congresso. Portanto, essas medidas provisórias têm
status formal de medida provisória, mas materialmente possuem status de lei ordinária. Assim, há o
status precário de medida provisória, que permite sua alteração a qualquer momento.
A ADC só fazia sentido naquele período em que as medidas provisórias poderiam ser reeditadas
pelo Presidente várias vezes, para declarar a constitucionalidade da medida provisória. Hoje em dia
não faz muito sentido, porque o seu prazo é de 120 dias para análise pelo Congresso e, portanto, seria
desnecessária.
3. Legitimação ativa
4. Rito da ADC
É quase idêntico ao da ADI, com algumas alterações. A petição inicial tem que apontar a
controvérsia judicial (ADC nº 8) entre dois tribunais diferentes, que podem ser estaduais ou superiores.
Se a ADC for em face de vício formal, deve ser juntada aos autos, cópia dos documentos
relativos ao processo legislativo de formação da lei ou ato normativo, tal como na ADI.
5. Indeferimento liminar
Da mesma maneira da ADI, cabe o indeferimento liminar que ocorre muito pela violação da
pertinência temática. Do indeferimento liminar cabe agravo (art. 15). Ex de indeferimento liminar -
ADC 22: não cabe ADC e ADI em face de artigo originário da CRFB/88.
6. Cautelar
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Cabe cautelar em ADC? Essa foi uma alteração posterior. Hoje em dia se admite a cautelar em
ADC para suspender os processos no controle difuso até o julgamento da ADC, conforme art. 21 da
Lei nº 9.868/99.
O prazo de 180 dias da cautelar previsto no p.ú. do art. 21 é vinculante ou não? Na prática,
entende-se a cautelar vale até o julgamento da ADC.
Caso concreto - Tema 10 – questão 2: A rigor, a decisão vale para os processos julgados
posteriores. Se a decisão já transitou em julgado, ela não está mais no âmbito do controle abstrato.
Seria possível, de acordo com autores de direito constitucional, propor ação rescisória.
7. Pedido de informações
Dirigidos aos órgãos que criaram a lei e aos tribunais em que há divergência jurisprudencial. O
prazo é de 30 dias.
8. AGU e PGR
O PGR tem que ser ouvido na ADC, porque o PGR dá a sua opinião do que seria melhor para
a sociedade, diferentemente da AGU que tutela a lei. Por esse motivo, ele não pode ser dispensado.
Obs: Se a lei for estadual em ADI, quem defende é o AGU, porque o procurador do estado não
tem competência para atuar no STF.
9. Amicus curiae
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Embora não haja previsão específica, a jurisprudência do STF aceita. Assim como na ADI não
se admite desistência, nem intervenção de terceiros, mas se admite a figura do amicus curiae. A
comissão de peritos, por exemplo, é uma manifestação da figura do amicus curiae.
Em algumas vezes, o STF aceitou pessoa física como amicus curiae, mas o STF vem
entendendo que é melhor que o amicus curiae seja uma associação. Atualmente, uma pessoa física só
será aceita como amicus curiae se ela for expert na matéria. Em relação à possibilidade de recurso
(agravo) em face da recusa do amicus curiae, esse julgamento está pendente no STF.
10. Julgamento
Vale o princípio da reserva de plenário, isto é, deve haver voto da maioria absoluta do STF
para declarar a inconstitucionalidade da lei, conforme art. 97 CR. O quórum para abertura do processo
são 8 ministros, mas para declarar a inconstitucionalidade bastam 6.
11. Efeitos
Caso concreto - Tema 10: O STF não admite a constitucionalidade superveniente, mas a
inconstitucionalidade superveniente existe, quando muda a situação fática ou jurídica que sustenta o
artigo.
É possível a criação de ADC estadual? Pelo princípio da simetria seria possível. A doutrina
entende isso como a auto-organização do Estado membro e se a CR não veda, não está proibido. O
que a CR/88 fez foi instituir a obrigatoriedade de um controle de inconstitucionalidade estadual, mas
não proibiu um controle de constitucionalidade.
A súmula com efeito vinculante impede recurso. Luís Roberto Barroso defendia que ela poderia
fossilizar a jurisprudência. Pensando nisso, a EC 45 permitiu que a súmula vinculante pudesse ser
cancelada de ofício pelo STF ou por provocação. Essa EC, além de criar a súmula com efeito
vinculante, instituiu outros mecanismos para agilizar o trabalho do STF, como por exemplo, a
repercussão geral, que filtra os recursos extraordinários.
O STF entende que a súmula não é ato normativo, possuindo um procedimento próprio para
seu cancelamento. Por esse motivo, não caberia ADI, mas sim um procedimento próprio, por meio de
simples petição, a ser formulada pelos mesmos legitimados da ADI.
Um argumento contrário à súmula vinculante é que ela seria injusta para a separação dos
poderes, tendo em vista que aquele que faz a lei é que cancela, diferentemente do que se observa na
ADI, onde legislativo elabora a lei e o STF cancela. Outro argumento contrário à súmula vinculante é
no sentido de que nem todos os argumentos trazidos são analisados. Além disso, argumenta-se que a
súmula vinculante violaria o contraditório e a ampla defesa. Deve-se ressaltar que o direito de ação
não é negado pela existência de súmula vinculante, mas apesar disso, é possível prever qual será o
resultado.
15/02/16 - Aula 05
Tema 11: Argüição de descumprimento de preceito fundamental. Lei 9.882/99. Evolução histórica.
Tema 12: Controle de constitucionalidade nos Tribunais estaduais. Controles concentrado e difuso no
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.