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Projeto: Adaptação baseada em ecossistemas em regiões marinhas,

terrestres e costeiras como forma de melhorar as condições de vida


e a conservação da biodiversidade face às mudanças climáticas

Favor usar a seguinte referência do relatório completo:

Foto da capa: Cumuruxatiba, Pereira R., Donatti C.I., Nijbroek R., Pidgeon E. & Hannah L. 2013. Levantamento da vulnerabilidade às
Renata Pereira/Conservação Internacional. mudanças climáticas na Costa do Descobrimento e região de Abrolhos, Brasil. Conservation International.

2 3
Índice
Resumo ...................................................................................................................................................... 6

I. Introdução ............................................................................................................................................ 8

II. Visão geral da região ............................................................................................................................ 9

Condições Socioeconômicas .................................................................................................................. 10

Ecossistemas ......................................................................................................................................... 11

Clima e sazonalidade ............................................................................................................................ 14

III. Impactos das mudanças climáticas ...................................................................................................... 15

Narrativa 1: Impactos climáticos na Corrente do Brasil,


sistemas de ressurgência e pesca .......................................................................................................... 15

Narrativa 2: Das cabeceiras aos recifes


- Impactos das mudanças terrestres nos sistemas marinhos ................................................................. 17

Narrativa 3: Vulnerabilidade das praias à erosão ................................................................................... 19

Narrativa 4: Fragmentação orestal, fogo e serviços ecossistêmicos ..................................................... 21

Narrativa 5: Retração da água doce ....................................................................................................... 24

Narrativa 6: Disponibilidade de água doce e áreas de interceptação


de neblina ............................................................................................................................................. 26

Narrativa 7: Perda de áreas propícias ao cultivo de café ......................................................................... 28

IV. Recomendações de adaptação às mudanças climáticas ........................................................................ 30

V. Intervenções prioritárias ...................................................................................................................... 37

Intervenção 1: Adaptando-se aos impactos das mudanças climáticas


na Ponta do Corumbau, Bahia ............................................................................................................... 37

Intervenção 2: Incorporando adaptação baseada nos ecossistemas


no Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica
em Porto Seguro, Bahia ......................................................................................................................... 39

VII. Agradecimentos .................................................................................................................................. 41

VIII. Referências ......................................................................................................................................... 42

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Resumo 4. Aumento da retroalimentação entre clima local, o fogo e a fragmentação orestal, aumentando a
frequência dos incêndios orestais no futuro, como resultado de um cenário mais seco e quente, o que geraria
uma maior área de borda nos fragmentos orestais e uma maior vulnerabilidade a novas queimadas. As

O
projeto nanciado pela Iniciativa Internacional do Clima (IKI) "Adaptação baseada nos mudanças climáticas afetarão a capacidade de diversi cação do turismo na região, bem como impactarão os
ecossistemas em regiões marinhas, terrestres e costeiras como forma de melhorar as condições serviços ecossistêmicos, como a provisão de água doce, dispersão de sementes e a polinização de cultivos
de vida e conservação da biodiversidade frente às mudanças climáticas" está sendo desenvolvido agrícolas.
no Brasil, na África do Sul e nas Filipinas. A m de identi car as estratégias de adaptação e conduzir
intervenções nestes três países, o primeiro passo foi a execução de uma análise de vulnerabilidade às mudanças 5. Impactos negativos sobre estuários devido a um aumento da entrada de água salgada e a uma
climáticas. No Brasil, a área foco inclui a plataforma de Abrolhos e as bacias dos rios Mucuri, Doce e diminuição da descarga de água doce nesses sistemas como resultado do aumento do nível do mar e de um
Jequitinhonha, e abriga os maiores remanescentes orestais na parte nordeste do bioma Mata Atlântica e os possível cenário climático futuro mais seco. Esse processo afetará peixes, aves endêmicas e migratórias,
maiores e mais ricos recifes de corais do Atlântico Sul. Nessa região vivem mais de 500 mil pessoas e a maior populações de tartarugas e mamíferos marinhos, ambientes de água doce e sua biodiversidade e a
parte dos empregos é gerada a partir de sistemas naturais, com cerca de 20 mil pessoas dependendo da pesca e disponibilidade de água doce para o consumo humano. As populações humanas, principalmente as
outras 80.000 do turismo. comunidades que dependem primariamente ou secundariamente da pesca como fonte de proteína ou renda,
poderão ser muito afetadas por esse processo das mudanças climáticas.
Este documento descreve os resultados dessa análise de vulnerabilidade às mudanças climáticas
realizada para a Costa do Descobrimento e a região de Abrolhos, no Nordeste do Brasil. A análise e as 6. Declínio na disponibilidade de água está previsto em algumas partes da costa da região de estudo e áreas
recomendações descritas aqui são o resultado do trabalho de pesquisadores de universidades brasileiras e mais altas que drenam Porto Seguro, uma das cidades mais importantes para o turismo na região de estudo. É
internacionais, e colaboradores de organizações governamentais e não-governamentais, empresas privadas e possível que, pelo menos, 6,8 milhões de pessoas na região possam sofrer escassez de água se orestas
membros das comunidades locais. Devido à incerteza das projeções futuras, trabalhamos com localizadas em torno de bacias hidrográ cas ou em áreas de alta interceptação de neblina não sejam
dois cenários extremos, um seco e um chuvoso. Os resultados destes estudos, juntamente com outros estudos devidamente protegidas ou gerenciadas.
relevantes disponíveis para a região, formaram a base para a identi cação dos principais impactos das
mudanças climáticas e as respostas de adaptação. Os principais impactos das mudanças climáticas 7. Diminuição da disponibilidade futura de áreas propícias ao plantio do café, com uma redução de
identi cados para a Costa do Descobrimento e a região de Abrolhos são os seguintes: mais da metade da área - 53% a 56% - se comparada àquela destinada ao cultivo de café atualmente. O
extremo sul do estado da Bahia e o extremo norte do estado do Espírito Santo, que são os locais com o maior
1. Declínio da pesca costeira, devido aos impactos negativos do aumento da temperatura dos oceanos e à
número de plantações de café na região de estudo, poderão não ser mais apropriados climaticamente para o
acidi cação nos recifes de coral. Dezenas de milhares de pessoas na região de estudo dependem da pesca
plantio de café arábica. Como o café é uma das principais atividades agrícolas na região de estudo, uma
costeira e serão negativamente impactadas se as mudanças climáticas reduzirem as populações de peixes
grande perda monetária (cerca de 400 milhões de dólares por ano) poderá acontecer se houver uma redução
nessa região.
das áreas adequadas para o café.
2. Aumento de sedimentos que chegam aos recifes, especialmente no arco recifal interno, como resultado
As principais recomendações identi cadas através deste processo de análise de vulnerabilidade são: a) proteção
de um cenário futuro com mais precipitação. Impactos oceanográ cos das mudanças climáticas poderão
das áreas de captura de neblina; b) valorização dos fragmentos orestais e restauração orestal; c)
aumentar e prolongar a suspensão de sedimentos. Esse efeito vai ser intensi cado pelo maior tempo de
implementação de sistemas agro orestais, com priorização de espécies nativas; d) diversi cação do turismo,
submersão dos recifes causado pelo aumento do nível do mar. Os impactos primários da sedimentação sobre
os recifes são a mortalidade dos corais e um consequente colapso nos estoques pesqueiros. Outros impactos com exploração do potencial dos parques e diminuição da pressão do turismo nos ambientes marinhos; e)
incluem degradação da beleza natural, turismo e pesca, já que muitas espécies dependem dos recifes e proteção das matas ciliares, restingas e manguezais, para proteção da água doce e redução dos impactos da
habitats relacionados durante pelo menos uma parte de seus ciclos de vida. erosão costeira; f) ordenamento da ocupação costeira; g) manejo da pesca e estabelecimento de áreas de
exclusão de pesca, visando a redução da pressão sobre os corais e o aumento de sua resiliência.
3. Aumento da vulnerabilidade das zonas costeiras à erosão devido a uma combinação do aumento no
nível do mar e mudanças na altura e direção das ondas, decorrentes das mudanças na circulação oceânica. O Nesse projeto, duas intervenções de adaptação serão executadas na região de estudo. Uma dessas intervenções
aumento do nível do mar pode potencialmente inundar muitas áreas costeiras e aumentar a vulnerabilidade visa proteger a infraestrutura costeira e melhorar a pesca na região frente aos possíveis impactos das mudanças
da costa à erosão, especialmente durante tempestades. Mudanças nos padrões de erosão e inundações climáticas, através do desenvolvimento de atividades que promoverão um planejamento costeiro mais
decorrentes do aumento no nível do mar irão impactar diretamente hotéis, casas, restaurantes e a apropriado e através da proteção dos recifes de corais. A outra intervenção visa aumentar a resiliência e reduzir a
infraestrutura localizada na costa ou próxima a costa. Esses impactos provavelmente serão agravados pela vulnerabilidade das pessoas, dos ecossistemas e dos serviços ecossistêmicos, através da inserção de
perda de ecossistemas costeiros (como manguezais e apicum), importantes agentes na mitigação de recomendações de adaptação baseada nos ecossistemas no Plano Municipal de Conservação e Recuperação da
inundações costeiras e erosão. Mata Atlântica em Porto Seguro.

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I. Introdução II. Visão geral da região

E
Esse relatório descreve os resultados do levantamento da vulnerabilidade às mudanças climáticas A área de estudo é de nida como a região dos Abrolhos e as bacias hidrográ cas dos rios Mucuri, Doce e
conduzido na Costa do Descobrimento e região dos Abrolhos, no nordeste brasileiro. Esse Jequitinhonha (Figura 1). Essa região abriga algumas das orestas tropicais mais ameaçadas do mundo em
levantamento foi realizado de forma integrada nos sistemas marinho e terrestre, o que permite o justaposição direta a recifes de corais com alta biodiversidade, e cobre uma área de 32.000 km2 de ecossistemas
entendimento das interações e ligações entre ambos. A área de estudo é de nida como a região de Abrolhos e terrestres e aproximadamente 46.000 km2 de habitats marinhos. Nessa área estão os maiores remanescentes
bacias hidrográ cas adjacentes: Mucuri, Doce e Jequitinhonha (Figura 1). orestais da parte norte da Mata Atlântica, assim como os maiores e mais ricos recifes de corais do Atlântico Sul.
Na região há mais de 500.000 pessoas e grande parte dos empregos depende dos sistemas naturais, com mais de
Essa região abriga algumas das orestas tropicais mais ameaçadas do mundo em justaposição direta a recifes de
20.000 pessoas dependendo da pesca e outras 80.000 do turismo.
corais com alta biodiversidade, e cobre uma área de 32.000 km2 de ecossistemas terrestres e aproximadamente
46.000 km2 de habitats marinhos. Nessa área estão os maiores remanescentes orestais da parte norte da Mata
Atlântica assim como os maiores e mais ricos recifes de corais do Atlântico Sul. Na região há mais de 500.000
pessoas e grande parte dos empregos depende dos sistemas naturais, com mais de 20.000 pessoas dependendo
da pesca e outras 80.000 do turismo.

As análises e recomendações descritas nesse relatório são o resultado de um processo de análise da


vulnerabilidade feito com a colaboração de colegas de universidades brasileiras e estrangeiras, organizações
governamentais e não governamentais, empresas privadas e membros de comunidades locais. Nossos
colaboradores ajudaram a de nir as lacunas de conhecimento existentes, realizaram pesquisas para respondê-
las e participaram de um workshop que culminou no processo de levantamento das vulnerabilidades. Os
colaboradores conduziram uma série de análises para melhorar a base de conhecimento sobre os impactos das
mudanças climáticas na região. Esses estudos identi caram os impactos das mudanças climáticas na distribuição Figura 1. Área de
estudo, incluindo
de espécies vegetais, na distribuição de espécies de vertebrados, na disponibilidade de água e carreamento de
as três bacias
sedimentos, na aptidão agrícola, produtividade primária marinha, na estabilidade de regiões costeiras e nas
hidrográ cas
condições socioeconômicas.
(Mucuri, Doce e
Para apoiar as análises, modelos climatológicos foram regionalizados para a área. Os resultados dessas análises, Jequitinhonha) e
junto com dados relevantes, formaram a base para identi cação das maiores vulnerabilidades às mudanças a região dos
Abrolhos.
climáticas e possibilidades de adaptação durante o workshop de análise da vulnerabilidade. O resultado dessas
Renata Pereira,
pesquisas e da experiência de especialistas em diversas áreas está expresso em narrativas que descrevem os
Conservação
processos chave que ocorrem na área de estudo e que provavelmente serão impactados por mudanças climáticas
Internacional.
e recomendações para as estratégias de adaptação baseada em ecossistemas que são prioritárias para responder
a esses impactos.
CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS
Esse relatório apresenta uma visão geral da região, as narrativas descrevendo os impactos das mudanças
climáticas em certos processos e recomendações de potenciais estratégias de adaptação baseada em A área de estudo abriga 365 municípios em três estados: Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo, com uma
ecossistemas, além da descrição de duas intervenções prioritárias para adaptação às mudanças climáticas na população total de 6,2 milhões de pessoas, 73% delas habitando áreas urbanas. A renda per capta equivale a
região. Adaptação baseada em ecossistemas consiste no uso da biodiversidade e serviços ecossistêmicos como 70% da média brasileira. Por outro lado, a região vem apresentando crescimento econômico mais rápido que o
parte de uma estratégia para ajudar as pessoas a se adaptar às condições adversas causadas pelos efeitos das restante do país durante a última década. Os níveis de urbanização e de crescimento populacional na região estão
mudanças climáticas. Como um dos possíveis elementos de uma estratégia maior de adaptação, a adaptação abaixo da média nacional.
baseada em ecossistemas usa o manejo sustentável, a conservação e a restauração de ecossistemas para prover
Pesca é a principal atividade econômica para a maior parte da população costeira da região, incluindo
serviços que permitem às pessoas se adequarem aos efeitos dos impactos das mudanças climáticas.
comunidades indígenas. Embora os defesos para camarão, caranguejo, lagosta e badejos (Centropomus spp.)

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CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS A população nativa era formada por diversas tribos. No início da colonização, muitos grupos indígenas foram
dizimados ou migraram para outras áreas após con itos com posseiros e com o governo. Membros dos povos
A área de estudo abriga 365 municípios em três estados: Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo, com uma
Tupiniquim, Pataxós, Maxacali e Botocudo vivem atualmente na região e estima-se que totalizem menos que
população total de 6,2 milhões de pessoas, 73% delas habitando áreas urbanas. A renda per capta equivale a
2000 pessoas. As tribos Puri e Kamaka estão extintas. Algumas terras indígenas estão atualmente sendo
70% da média brasileira. Por outro lado, a região vem apresentando crescimento econômico mais rápido que o
regulamentadas pelo governo, incluindo 8000 hectares dos 22000 do Parque Nacional Histórico do Monte
restante do país durante a última década. Os níveis de urbanização e de crescimento populacional na região estão
Pascoal.
abaixo da média nacional.

Pesca é a principal atividade econômica para a maior parte da população costeira da região, incluindo
comunidades indígenas. Embora os defesos para camarão, caranguejo, lagosta e badejos (Centropomus spp.)
tenham sido estabelecidos, o manejo da pesca e áreas fechadas não estão plenamente implementados (Dutra et Figura 3.
al, 2012). A Bahia contribui com 8,3% do pescado brasileiro e o Espírito Santo com 4%. É possível estimar que ao Área de
menos 4.000 pessoas dependam diretamente da pesca como principal fonte de renda. A maior parte das famílias manguezal
de pescadores obtém grande parte da sua renda da venda do pescado (relatório do MMAS, 2005). É provável que em Caraíva.
a mesma quantidade de pessoas, ou até mais, tenham sua renda dependente em parte da pesca costeira. Há uma Conservação
forte tradição de pesca artesanal no extremo sul da Bahia e a maior parte dos pescadores locais vêm de famílias Internacional.
que pescam há gerações; dessa forma não é provável que esse setor possa se adaptar rapidamente às condições
de deterioração dos recursos.
Turismo é um condutor econômico importante na região. As principais
atrações turísticas da costa são as praias, embora a diversidade de ECOSSISTEMAS
cenários naturais, como o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos e a
Os ecossistemas marinhos e terrestres estão intimamente relacionados nessa região. Sistemas marinhos são
observação de baleias sejam também atrações importantes. Em Porto
sensíveis à sedimentação e à poluição vindas das bacias hidrográ cas. A costa é protegida da erosão por extensos
Seguro, o número de turistas excede 900.000 por ano. O total de verba
pública a ser investida na Costa do Descobrimento gira em torno de 325 recifes de corais cujas condições vem se deteriorando. A fonte de renda de diversas famílias vem de uma
milhões de dólares até 2020, o que corresponde a 10% do total de combinação de recursos dos componentes marinhos e terrestres.
investimentos públicos no setor do turismo para a Bahia. Investimentos A Mata Atlântica é um dos 40 hotspots de biodiversidade terrestre identi cados no globo (Myers et al, 2000) e
privados nesse centro turístico são estimados em 1,6 bilhão até 2020. estima-se que abrigue entre 1 a 8% da biodiversidade global. A extensão original da Mata Atlântica englobava
Agricultura cobre áreas extensas na região em estudo. Do total da três países (Brasil, Argentina e Paraguai) e 17 estados brasileiros. Sua área de distribuição atual é de apenas 8%
área, 63% estão cobertos por pasto, 13% por café e cacau (cultivos da original, espalhados em dezenas de milhares de pequenos fragmentos (Tabarelli e Silva, 2000) e em poucos
permanentes), 5% por feijão, mamão e milho (cultivos temporários) e grandes blocos de oresta na região sudeste do Brasil. A região da Mata Atlântica é a mais populosa do Brasil.
6% por cultivo de eucalipto (Figura 2). As primeiras plantações de Nela vivem cerca de 70% da população brasileira, distribuída em mais de 3.000 municípios (IBGE, 2000).
eucalipto na região foram estabelecidas na década de 1960, devido às Os principais impactos sobre o bioma Mata Atlântica começaram logo após a chegada dos europeus, em torno de
condições favoráveis do solo e clima, ao valor relativamente baixo das
1500, com a exploração em larga escala do pau-brasil (Caesalpinia echinata). Mais tarde, a pecuária extensiva, o
terras e à proximidade com os portos de Vitória e Ilhéus (SEI, 2002).
estabelecimento da cana-de-açúcar e café, a urbanização e a expansão da indústria madeireira tornaram-se as
Atualmente, a Bahia é o segundo mais importante produtor de celulose
principais causas da degradação da oresta. Atualmente, a Mata Atlântica ainda possui altos níveis de
Figura 2. Classi cação detalhada do uso da terra incluindo os
e papel no Brasil e a área de estudo é a mais importante na Bahia (Souza
biodiversidade e endemismo, e é reconhecida como um patrimônio nacional pela constituição brasileira e como
seis principais cultivos que ocorrem na área. Agricultura inclui & Oliveira, 2002). As áreas de cultivo de eucalipto excedem 450.000 ha
uma Reserva da Biosfera pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Várias
culturas irrigadas e não irrigadas; cobertura orestal inclui no extremo sul da Bahia.
iniciativas legais existem atualmente para a preservação deste bioma. O sul da Bahia apresenta o Mosaico de
orestas primárias e secundárias; savanas incluem vegetação
Histórico cultural e grupos indígenas Áreas Protegidas do Extremo Sul da Bahia, que abrange os municípios de Santa Cruz de Cabrália, Porto Seguro e
herbácea de acordo com MODIS VCF; e solo nu consiste em
Prado e inclui 12 áreas protegidas e suas zonas de amortecimento cujo objetivo é promover a gestão integrada
áreas sem vegetação ou com vegetação esparsa. O extremo sul da Bahia consiste em uma das primeiras áreas do Brasil a
dessas áreas. A conservação dos fragmentos e a promoção da conexão das áreas remanescentes de oresta são
(Preparado por Leonardo Saenz, Conservation International). serem povoadas, pois abrange locais de chegada dos imigrantes
críticas para reverter a tendência de isolamento e de degradação da oresta remanescente e também para
europeus no século XVI.
reduzir o risco de extinções (Ribeiro et al, 2009).
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No lado marinho, a região de Abrolhos inclui os bancos de Abrolhos e de Royal Charlotte e é destacada como uma CLIMA E SAZONALIDADE
das prioridades de conservação na costa do Brasil pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA, 1999). O banco de
2 A região nordeste do Brasil é caracterizada por invernos semiáridos ou secos. Na costa, o clima é úmido, com a
Abrolhos é uma extensão da plataforma continental e tem uma área de cerca de 46.000 km , com uma
temperatura média de 24°C no inverno e 27°C no verão. A temperatura média da água é de 24,5°C durante o
profundidade de cerca de 30 metros. Tem habitats contínuos e ricos, incluindo estuários, manguezais, fundos de
inverno e 27,5°C no verão. A precipitação média anual na área costeira adjacente a Abrolhos é 1.750 milímetros
areia e lama, bancos de algas calcárias, algas marinhas e recifes com características diferentes ao longo da
(Marchioro et al, 2005). Na área de estudo, há mais chuva no interior durante os meses de verão (dezembro,
plataforma (Dutra et al, 2012). O banco de Royal Charlotte está localizado ao norte do banco de Abrolhos. Esses
janeiro e fevereiro) e mais chuva no litoral durante os meses de inverno (julho, agosto e setembro).
dois bancos juntos totalizam uma área de aproximadamente 56.000 km2.
Os campos de ondas oceânicas dominantes no banco de Abrolhos são impulsionados pelos ventos sazonais.
A região de Abrolhos apresenta a maior biodiversidade marinha e os maiores recifes do Atlântico Sul. Em 2005,
Durante a primavera e o verão, as ondas são impulsionadas pelos ventos de nordeste a leste e podem atingir
um levantamento rápido da biodiversidade marinha do banco dos Abrolhos registrou cerca de 1.300 espécies de
seis grupos biológicos distintos: corais, peixes, algas, poliquetas, moluscos e crustáceos (Dutra et al, 2005). No alturas de 1 metro e períodos de 5 segundos (Leão, 2002). Isso causa um transporte de sedimentos em direção ao
entanto, essa biodiversidade está em risco devido aos impactos negativos do transporte marítimo ligado às sul pela deriva litorânea. Durante o outono e inverno, as ondas são predominantemente de sudeste e sul-
indústrias de petróleo e celulose, à sobrepesca, à pesca ilegal e ao turismo. sudoeste, com alturas de até 1,5 m e períodos de 6,5 segundos, causando um transporte em direção norte ao
longo da costa.
Todas as espécies de corais verdadeiros do Atlântico Sul ocorrem no banco dos Abrolhos, seis espécies são
endêmicas do Brasil (Mussismilia braziliensis, M. hispida, M. hartti, Siderastrea stellata, Favia gravida e F.
leptophylla) (Leão, 1999) e duas são endêmicas da Bahia (M. braziliensis e F. leptophylla). No banco de Abrolhos
encontra-se o maior banco de rodolitos (algas calcárias) do mundo, o qual cobre 43% do banco de Abrolhos e é o
maior depósito de calcário biogênico do mundo (Amado-Filho et al, 2012). Estes habitats abrigam uma
signi cativa diversidade de espécies de peixes de recifes, incluindo o peixe budião (Scarus trispinosus), uma
espécie ameaçada de extinção, mas que em Abrolhos representa 28% da biomassa total de peixes. Mais de 20%
das 43 espécies de cetáceos registrados no Brasil são encontrados na região de Abrolhos, incluindo a baleia
jubarte (Megaptera novaeangliae), a baleia franca austral (Eubalaena australis), o gol nho comum (Delphinus
spp.), o gol nho-pintado do Atlântico (Stenella frontalis), o gol nho de dentes rugosos (Steno bredanensis), o
roaz corvineiro (Tursiops truncatus) e o tucuxi (Sotalia guianensis). A população de baleias jubarte em Abrolhos,
que é sua principal área de reprodução no Atlântico Sul, é a maior do mundo, com mais de 2.000 indivíduos
visitando a região todos os anos.

Existem diferentes tipos de áreas protegidas na região, incluindo o Parque Nacional Marinho de Abrolhos
(PARNAM Abrolhos), criado em 1983, e as Reservas Extrativistas do Corumbau e Cassurubá. Dutra et al (2012)
argumentam que a rede de áreas protegidas na região não é completa, uma vez que alguns habitats, como os
recifes encontrados a uma profundidade de 20 a 50 metros e os bancos de algas calcárias, não estão protegidos
pelas unidades de conservação existentes. O PARNAM Abrolhos é reconhecido internacionalmente pela UNESCO
e pelo Ministério do Meio Ambiente como um Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera.

Os manguezais são ecossistemas importantes e frágeis, que oferecem muitos serviços ambientais, como a
recarga de aquíferos, o controle de enchentes, estabilização e proteção do litoral, controle de erosão, retenção de
sedimentos, exportação de biomassa, beleza cênica, manutenção da biodiversidade e do estoque de peixes
(Figura 3). Algumas das espécies comercialmente importantes que ocorrem no manguezal são a ostra de
mangue (Crassostrea rhizophorae), os mexilhões (Perna perna) e o caranguejo-uçá (Ucides cordatus). Portanto, os
manguezais são também importantes para a segurança alimentar das comunidades tradicionais e ribeirinhas.
Apesar de serem protegidos pela lei brasileira como áreas de preservação permanente, os manguezais estão
sendo degradados e removidos devido à ocupação humana e à exploração industrial, como o cultivo de camarão
e o estabelecimento de portos de embarque. Figura 4: Cumuruxatiba, Renata Pereira/Conservação Internacional.

13 14
III. Impactos das mudanças climáticas Verão (Dez-Jan-Fev) Inverno (Jul-Ago-Set)
Narrativa 1: Impactos climáticos na Corrente do Brasil, A produtividade é mais baixa A CB é enfraquecida quando a bifurcação atinge
sistemas de ressurgência e pesca porque a CB é mais forte, a seu ponto mais ao sul, próximo ao banco do
estrati cação é maximizada pela Abrolhos. A produtividade é mais alta com a
Condições atuais superfície aquecida e a mistura vertical combinação de ventos favoráveis e massas de água
é reduzida ao mínimo. ricas em nutrientes disponíveis e em mistura.
As condições do banco dos Abrolhos são predominantemente in uenciadas pela Corrente Equatorial Sul (CES),
que ui para oeste cruzando o Oceano Atlântico, até se dividir em duas correntes dominantes na costa brasileira:
a Corrente do Brasil (CB), que ui de norte para sul ao longo da costa brasileira e a Corrente Norte do Brasil (CNB), Auge da pesca costeira, quando a claridade Auge da pescaria em alto mar, quando
que ui de sul para norte. A CB é mais forte durante os meses de verão (dez-jan-fev), quando a bifurcação da CES da água é maior como resultado da CB mais a produtividade é maior e os predadores
atinge sua posição mais ao norte (Matano et al, 1993) (Figura 5). forte. É também o auge do turismo. estão mais concentrados.

No verão, o aumento da estrati cação e a redução do aporte de sedimentos de fontes terrestres, devido a
reduções na pluviosidade, produzem condições de águas muito claras nos recifes que deveriam ser favoráveis aos
construtores dos recifes de coral. Mas o verão traz a intensi cação de outros estressores críticos dos corais e das
populações de peixes dependentes destes, como pressão da pesca, aumento da temperatura da água e aumento
da poluição costeira.

Impactos das mudanças climáticas

Pescarias costeiras serão impactadas pelo aumento da temperatura da água e pela acidi cação do oceano, que
causam doenças e até mortalidade nos corais. Além disso, o aumento da temperatura pode levar ao
branqueamento dos corais (que ocorre quando as algas simbióticas morrem, deixando os corais esbranquiçados
e enfraquecidos). Corais branqueados em geral morrem, fragilizando a regeneração dos recifes de coral. A
acidi cação dos oceanos é um efeito direto da dissolução dos gases do efeito estufa da atmosfera nos oceanos.
Isso impacta os corais pois reduz o carbonato de cálcio disponível para a construção dos esqueletos de corais.

A combinação de branqueamento e acidi cação reduzirá muito a possibilidade de construção de recifes de corais
costeiros, já que reduz o substrato para o recife saudável, necessário para apoiar o ecossistema recifal, que inclui
as populações de peixes que sustentam a pesca costeira. As sinergias entre impactos das mudanças climáticas e
pressões existentes nos recifes como doenças dos corais, sedimentação, sobrepesca e poluição por esgotos
podem reduzir drasticamente a pesca de peixes recifais nos estados da Bahia e Espírito Santo nesse século.
Figura 5. Principais correntes do Atlântico Sul. Modi cado de Peterson & Stramma (1991).
Disponível em http://www.inpe.br/crs/pan/pesquisas/oceanogra a.php. Cenários de mudanças climáticas para circulação oceânica no banco dos Abrolhos foram projetados com base nos
resultados do Modelo Global de Circulação para Pesquisa Interdisciplinar sobre Clima (MIROC), mas há a
necessidade de estudar os resultados de outros modelos. Esse modelo indica que haverá um enfraquecimento da
A sazonalidade da CB in uencia muito as condições do banco de Abrolhos, com impactos mais fortes na
CB, como resultado da redução de ventos paralelos à costa, combinada com um fortalecimento dos ventos de
produtividade e na pesca. A produtividade é aumentada com a ressurgência (movimento de águas frias, ricas em
leste, criando assim condições similares às do inverno. Como consequência da redução da pesca recifal, dezenas
nutrientes, em direção à superfície) e é reduzida com a estrati cação (quando a mistura da água fria e quente é
de milhares de pessoas na área de estudo que dependem direta ou indiretamente dela irão ser negativamente
inibida por uma camada de água).
impactadas, com perdas potenciais de milhões de reais em produção anual e signi cativo impacto na fonte de
renda dessas populações.

15 16
3
Lacunas de conhecimento diminuição das chuvas, foi analisada a vazão de 11 rios pequenos (média <10 m /s) ao longo de três períodos
(1969-1982, 1983-1996, 1997-2010). Foi encontrada uma redução signi cativa na vazão mensal média nos
O entendimento das fontes e do movimento dos sedimentos, bem como do papel que eles desempenham na 3
períodos mais recentes em nove das 11 estações analisadas. Para os rios maiores (média> 25 m /s), 15 das 16
saúde dos corais, requer maior atenção. Se os corais dessa região são melhor adaptados à alta turbidez, eles
estações mostraram uma diminuição signi cativa na vazão mensal média nos períodos mais recentes.
podem ter uma importância cientí ca no estudo de comunidades coralíneas no mundo inteiro. Por outro lado, se
as condições futuras da dinâmica de sedimentos constituírem pressões adicionais a esses frágeis ecossistemas, Essa diminuição na vazão provavelmente não acontecerá num cenário futuro mais úmido (CNRM/IPCC A2), em
outras adaptações para reduzir a carga de sedimentos devem ser investigadas. que essas projeções apontam para um aumento na precipitação. Um aumento na vazão dos rios pode causar
sérios riscos à saúde dos corais e à biodiversidade, já que aumentaria signi cativamente a quantidade de
sedimentos que chega aos recifes, principalmente em seu arco interno. De acordo com as projeções do cenário
mais úmido para 2050 comparadas com o período de 1971-2000, a precipitação anual deverá aumentar em até
Narrativa 2: Das cabeceiras aos recifes Impactos das mudanças terrestres 30%, a descarga das bacias do norte está projetada para aumentar em 151%, as bacias costeiras mais centrais
nos sistemas marinhos aumentariam em 490% e as bacias do Sul sofreriam um aumento da descarga de 48%. O modelo de transporte
3
de sedimentos mostra um aumento médio de erosão do solo de 23% em toda a área de estudo (de 1,9 m /ha/ano
a 2,3 m3/ha/ano) em 2059, com os maiores aumentos localizados em rios localizados em altitudes elevadas,
Condições atuais 3
onde a erosão nos canais de água pode chegar a cerca de 150 m /ha/ano. No entanto, o aumento máximo em
As praias da área de estudo estão entre as mais valiosas para o turismo, e a cada ano milhares de visitantes áreas com alta declividade pode chegar a até 8,4 m3/ha/ano (o que é ainda quatro vezes mais do que a média para
desfrutam dos resorts movimentados, da vida noturna agitada e dos recursos proporcionados pelas cidades, bem a área de estudo).
como das praias menos movimentadas e das vilas de pescadores. A região atrai mais de 20% dos 11 milhões de
Impactos oceanográ cos das mudanças climáticas intensi carão a ameaça representada por sedimentos nos
turistas da Bahia e gera 3,9 bilhões de dólares em receitas a cada ano. A vida marinha dessa área está entre as
recifes de coral. O aumento das velocidades orbitais próximas ao fundo vai aumentar a suspensão de sedimentos.
mais singulares do mundo, proporcionando uma atração para o turismo e gerando recursos para a pesca. Os
A elevação do nível do mar vai prolongar ainda mais a exposição dos corais aos sedimentos, já estes carão mais
recifes de corais atenuam o poder erosivo das ondas, abrigando praias e prevenindo a erosão, ao mesmo tempo
profundos, permitindo que mais sedimentos ocupem a coluna de água sobre eles. Os modelos de ondas mostram
em que suportam uma grande variedade de espécies marinhas. Cerca de 100 mil moradores locais dependem do
que o aumento do nível do mar vai gerar uma ação erosiva mais forte ao longo de toda a costa, especialmente nas
oceano para a sua subsistência, trabalhando como pescadores ou vivendo do turismo costeiro e marinho.
áreas imediatamente em frente aos recifes costeiros, que hoje se encontram protegidas. A erosão, portanto, vai
A paisagem terrestre tem sido alterada, principalmente com o desmatamento das orestas, desde 1500. Com a aumentar justamente nas áreas onde esta pode ser mais danosa à costa.
exposição do solo, o sedimento é lavado da superfície pela chuva e carreado pelos rios para os recifes, afetando os
Impactos secundários decorrentes do aumento da sedimentação são de ordem social e incluem degradação das
corais devido à abrasão e inibição da penetração da luz, o que inibe o crescimento do coral e pode levar à doença e
belezas naturais e do potencial turístico e declínio da pesca, já que os estoques pesqueiros dependem dos recifes
à morte. O carreamento de agroquímicos junto com esses sedimentos pode acarretar a morte dos corais em
e ambientes relacionados em pelo menos uma parte dos seus ciclos de vida. Com a degradação dos recifes e o
eventos de eutro zação e promove bioerosão por organismos como Cliona celata. Essa bioerosão também
fracasso na reconstrução destes, as populações de peixes vão diminuir drasticamente pela perda de habitats e de
realimenta a turbidez costeira pois pulveriza sedimentos carbonáceos que cam suspensos na água e se instalam
substratos necessários para sua nutrição, sobrevivência e reprodução. Colapsos nas populações de peixes podem
nos recifes vivos. Além disso, a propagação de doenças de corais, registradas pela primeira vez na região em 2005
causar efeitos cascata ao longo da cadeia alimentar, diminuindo potencialmente e rapidamente a biodiversidade
é, em grande parte, atribuída à entrada de sedimentos, nutrientes e bactérias no sistema. A mais alarmante
da região de Abrolhos. Ambas as extinções, locais e globais são, assim, possíveis de acontecer.
dessas doenças é a "peste branca" que, se continuar na taxa atual de progressão, pode dizimar 40% de cobertura
de M. braziliensis em 2057, e mais de 60% em 2100 (Francini-Filho et al, 2008). A captura de peixes economicamente importantes também vai diminuir drasticamente. Os pescadores
artesanais serão os mais impactados, principalmente aqueles que pescam para a subsistência ou aqueles que
Impactos das mudanças climáticas
não têm fontes alternativas para manter os seus meios de vida. As economias locais e a segurança alimentar
A Mata Atlântica próxima a região de Abrolhos apresentou regime de chuvas relativamente constantes antes de serão afetadas pela redução na disponibilidade e pelo aumento dos preços de peixes e frutos do mar frescos, um
1970, seguido de uma queda acentuada em 1970-2000. A seca foi maior no interior, em torno das cabeceiras dos dos maiores atrativos turísticos que a região de Abrolhos tem a oferecer. A importância do mercado de mergulho
grandes rios, especialmente na bacia do rio Jequitinhonha, e coincide com o desmatamento relacionado à vai ser gradualmente afetada devido à diminuição da visibilidade e do desaparecimento de espécies marinhas
construção da BR-101 na década de 1970. Suspeita-se que haja uma relação causal entre esses dois eventos. No carismáticas.
entanto, este período se sobrepõe ao período em que já se percebem mudanças climáticas globais e uma
pesquisa mais aprofundada é necessária para separar os dois efeitos e compreender suas relativas importâncias
nas alterações nos padrões e períodos de chuva. Levando em conta que o escoamento e vazão re etem a

17 18
Narrativa 3: Vulnerabilidade das praias à erosão Figura 7. Aumento na porcentagem de impactos das ondas na costa da
Bahia, resultantes de um aumento do nível do mar de 0,5 m.
Áreas imediatamente próximas aos recifes de corais vão sofrer um maior
Condições atuais
impacto das ondas em decorrência do aumento do nível do mar
Quase todos os ambientes ao longo da costa da Bahia são dependentes dos processos naturais que estão (Preparado por Eduardo Siegle).
relacionados à deposição de areia e sedimentos e processos de erosão. Embora muitos sedimentos sejam
A elevação do nível do mar vai aumentar a velocidade das ondas,
transportados pelos rios das áreas mais altas para as águas costeiras, o tamanho, a direção e a sazonalidade das
resultando em mais estresse no fundo do oceano e perto deste. Esse
ondas na costa são a in uência mais dinâmica sobre a quantidade e a localização de erosão costeira e deposição
estresse terá um impacto nos ecossistemas bentônicos e vai aumentar a
de sedimentos (Siegle, 2012).
ressuspensão de sedimentos. Um aumento na profundidade da água e
a maior quantidade de sedimentos em suspensão reduzirá a luz que
A erosão costeira pode causar tanto danos ambientais (por
penetra nas águas costeiras. A elevação do nível do mar também
exemplo, perda de habitat costeiro) quanto econômicos
resultará em mudanças no tempo e magnitude das marés, o que terá
(por exemplo, perda de estruturas antrópicas) (Figura 6)
consequências no uxo de água e sedimentos para dentro e para fora
(Dawson et al., 2009, Mallmann & Araujo, 2010). Os
dos estuários e de outras áreas costeiras. Os efeitos das mudanças
fatores que em geral afetam a suscetibilidade de uma
climáticas na temperatura, junto com o aumento do nível do mar,
praia ao aumento da erosão incluem: o per l da praia -
intensi carão os impactos nas praias e na infra-estrutura costeira. O
praias mais largas e praias mais íngremes são menos
aumento da temperatura também poderá causar o branqueamento
vulneráveis, a presença e a densidade das comunidades
dos corais, o que retarda seu crescimento e pode levá-los à morte (veja
humanas estabelecidas junto à praia, a presença de
narrativa 1).
vegetação, estuários e dunas de areia, e a presença de
infra-estrutura de engenharia (como quebra-mares e O aumento das temperaturas do oceano e a acidi cação das águas reduzem o crescimento dos corais e suas taxas
diques). de recuperação e, consequentemente, sua capacidade de responder ao aumento do nível do mar. Pode também
Um estudo recente mapeou a vulnerabilidade à erosão de haver um ciclo de realimentação no qual a degradação do recife resulta em um aumento de sua erosão, o que, por
algumas praias na área de estudo (Siegle, 2012). Todas as sua vez, aumenta a turbidez das águas costeiras e, consequentemente, limita o crescimento dos recifes. Mais
praias avaliadas têm alta ou moderada vulnerabilidade à sedimentos nos recifes pode elevar a probabilidade de doenças, di cultar seu crescimento e reduzir a penetração
Figura 6. erosão costeira. As praias na frente dos recifes de corais são relativamente mais protegidas do vento e das ondas de luz, o que também pode retardar as taxas de crescimento. Mudanças na altura e direção das ondas devido às
Padrão típico de e, caso essa proteção seja reduzida, essas praias sofrerão erosão mais fortemente. Dada a importância dos recifes alterações de circulação do oceano relacionadas às mudanças climáticas têm o potencial de degradar ainda mais
erosão na costa para reduzir a vulnerabilidade da praia à erosão, a resistência natural dos recifes de corais - sua capacidade de os recifes e aumentar a quantidade de sedimentos suspensos. Estes impactos das mudanças climáticas sobre os
da Bahia regenerar, crescer e manter sua integridade - tem implicações diretas sobre a força erosiva das ondas nas praias recifes de coral aliados às pressões já existentes reduzirão a oferta de habitats favoráveis aos peixes e a outros
(Eduardo Siegle). que esses recifes protegem. Na Bahia, a saúde dos recifes de corais está sendo impactada pela sobrepesca de organismos e aumentarão o ciclo de degradação dos recifes. Uma vez que qualquer impacto nos recifes reduz sua
herbívoros chave, especialmente o budião (Scarus trispinosus), pelas doenças que atingem os corais, pelo capacidade de atenuar as ondas que chegam à costa, a degradação deles levará a um aumento na erosão da
branqueamento, pela sedimentação, pela eutro zação costeira e pelos poluentes (Leão & Kikuchi, 2005; praia. Mesmo com mudanças moderadas nos padrões de ventos e ondas e na elevação do nível do mar, a erosão
Francini-Filho et al, 2008a, Francini-Filho et al, 2008b). irá afetar algumas áreas da costa enquanto a alta deposição de sedimentos irá afetar outras. Essas mudanças na
linha de costa terão grandes impactos sobre os ecossistemas costeiros. Espécies dependentes das praias, como as
Impactos das mudanças climáticas tartarugas, serão signi cativamente afetadas por estas mudanças se áreas alternativas não estiverem
Estima-se que o nível do mar vai subir entre 0,18 e 0,79 m neste século (IPCC, 2007). Essa mudança vai disponíveis.
ocasionar vários impactos no litoral da Bahia, como a inundação de habitats costeiros e aumento da Consequências das perdas das praias e da erosão costeira
vulnerabilidade de muitas áreas à erosão, especialmente durante eventos de tempestade (Dawson et al 2009).
A elevação do nível do mar terá o seu maior impacto na erosão das praias que estão protegidas por recifes de Os impactos das mudanças climáticas no litoral trarão impactos signi cativos para as comunidades e áreas
corais. Estima-se que as praias de Caravelas, Corumbau e Porto Seguro sejam as mais afetadas pelo aumento da urbanas da Bahia. Mudanças nos padrões de erosão e inundações devido à elevação do nível do mar irão impactar
força das ondas (Figura 7). diretamente a infra-estrutura localizada na costa ou perto da costa, o que será agravado pela perda de
ecossistemas costeiros que mitigam essas inundações costeiras e erosões. A perda signi cativa de renda e a

19 20
migração potencial das comunidades para outras áreas resultará num aumento da pressão sobre os recursos nas substancial no clima regional, o desmatamento pode reduzir a evaporação regional, fazendo com que a região
áreas de reassentamento. As praias de Corumbau, Caravelas e Porto Seguro serão as mais impactadas pela que ainda mais vulnerável ao fogo. A precipitação nessa região já tem sido reduzida ultimamente devido,
erosão, dentre as 11 analisadas para esse estudo. Em Corumbau, a perda no setor do turismo e em bens poderá provavelmente, ao desmatamento em alta escala ocorrido nas últimas seis décadas. Dessa forma, ambos os
variar de meio a um milhão de dólares. Em Porto Seguro estima-se que cerca de 58 milhões de dólares no setor do efeitos, locais (efeito de borda/queimada) e regionais (perda de oresta/diminuição da precipitação), estão
turismo podem estar em risco com as mudanças climáticas, além de uma perda adicional de 2 milhões de dólares provocando uma grande destruição na qual até os grandes fragmentos podem ser reduzidos a uma oresta rala e
em bens. degradada.

A mudança climática, impulsionada pela perda de ecossistemas costeiros, terá impacto sobre a comunidade Impactos das mudanças climáticas
local, devido à redução ou perda de recursos oferecidos pelos ecossistemas, como recursos alimentícios,
As mudanças climáticas estão aumentando a retroalimentação entre o clima local, o fogo e a fragmentação
monetários e culturais. Isto é particularmente preocupante, já que as comunidades mais dependentes desses
(Laurence & Willamson, 2001). A interação entre esses fatores pode impedir a regeneração da oresta, devido à
recursos são as mais pobres e as menos capazes de encontrar fontes alternativas de alimento e renda. A pesca em
alta incidência e frequência de queimadas e às condições que acompanham os efeitos de borda, como descrito
toda a região será afetada pela perda de ecossistemas costeiros, que fornecem habitat crítico para diferentes
anteriormente.
estágios de vida de muitos dos peixes comerciais e espécies de moluscos. Alterações das rotas de navegação e de
acesso aos portos, devido à entrada de sedimentos no sistema também trarão impactos potencialmente Os modelos climáticos identi cam algumas regiões com um possível aumento na precipitação e outras regiões
signi cativos para as frotas de pesca. com uma possível diminuição. Em condições climáticas futuras mais secas, com menos precipitação e
temperaturas mais altas, espera-se um aumento na frequência de queimadas, o que resultaria na criação de
novas bordas e, consequentemente, numa maior vulnerabilidade a futuras queimadas (Cochrane et al, 1999).
Espera-se que condições mais secas ocorram principalmente no extremo nordeste e no sul da área de estudo
Narrativa 4: Fragmentação orestal, fogo e serviços ecossistêmicos (Figura 8).

Condições atuais

A Mata Atlântica do nordeste do Brasil é uma das mais ameaçadas do seu domínio (Dias et al, 1990). Restam
apenas 2% da oresta original, em pequenos fragmentos que resistiram às diversas atividades antrópicas, Figura 8.
principalmente ao desenvolvimento urbano (Viana et al, 1997, Ranta et al, 1998), à exploração madeireira, à Mudanças na precipitação
expansão da agricultura e à mineração. A fragmentação orestal gera uma rápida perda de espécies (Turner, (em %) na área de estudo
1996) e o favorecimento de espécies de árvores pioneiras, tanto nativas quanto exóticas (With, 2004). Esses projetadas para 2050,
baseado no modelo
efeitos são decorrentes das altas taxas de mortalidade de espécies clímax, que são causadas por mudanças
climático MIROC
microclimáticas e pelo aumento da velocidade do vento próximo às bordas da oresta (Laurance et al, 2001).
(Preparado por Karyn Tabor
A fragmentação orestal cria uma borda ao redor do fragmento que apresenta condições microclimáticas e e Kellee Koening,
ecológicas diferentes daquelas encontradas no centro. Isso acontece porque a borda recebe mais luminosidade e Conservation International).
vento, o que aumentando a dissecação e gera mais materiais in amáveis (Malhi et al, 2008), condições que
acabam elelevando a susceptibilidade do fragmento às queimadas. Estudos recentes mostram que a borda dos
fragmentos continua a se expandir com o tempo, diminuindo o tamanho dos fragmentos e ocasionado o colapso
destes de fora para dentro (Gascon et al, 2000), impedindo a sua regeneração.

A manutenção dos fragmentos remanescentes da região de estudo, independente dos seus níveis de proteção, As mudanças climáticas podem complicar ainda mais esses impactos sobre a regeneração orestal. Modelos
está em risco porque a oresta não é capaz de proteger seu interior contra a seca e o fogo e porque a matriz que de distribuição de espécies mostram que o número de espécies de dispersores vai decrescer consideravelmente.
está ao redor desses fragmentos, principalmente composta por pastos, é frequentemente queimada como uma A perda dessas espécies pode comprometer ainda mais a habilidade das orestas em regenerar-se naturalmente
estratégia de manejo. O fogo nessas paisagens está penetrando cada vez mais nos fragmentos, atingindo e em recuperar-se dos efeitos do fogo. Isso pode afetar o processo de recuperação dos fragmentos e de sucessão
grandes áreas de orestas; as áreas queimadas ocasionam bordas maiores, criando um ciclo de destruição criado orestal. As consequências da perda da diversidade de dispersores podem tornar a regeneração orestal ainda
pelo fogo e deterioração criado pelas condições das bordas. Como as orestas tropicais têm uma in uência mais lenta no futuro e aumentar os custos de restauração orestal.

21 22
Consequências do fogo e degradação orestal Narrativa 5: Retração da água doce
As mudanças climáticas podem afetar as chances de diversi cação do turismo, além de impactar os serviços Condições atuais
ecossistêmicos, como a provisão de água e a polinização. O turismo em unidades de conservação está apenas
Estuários com manguezais propiciam um berçário para espécies que constituem a base para a pesca, que
começando na região. O turismo de natureza derivado do turismo de praia é um modelo altamente bem sucedido
movimenta cerca de 52 milhões dólares por ano na Bahia (ICMBio, 2006). Os manguezais da região são
que tem criado um grande setor turístico em países como Quênia e Tailândia. A habilidade em usar turismo
incubadoras de renda da pesca no mar, imprescindíveis para a sobrevivência de peixes desde a fase jovem até a
orestal para ampliar e diversi car o setor turístico no sul da Bahia está altamente em risco devido às mudanças
fase adulta pois oferecem proteção em águas rasas, cercadas por produção primária e sedimentos orgânicos e
climáticas. O processo de expansão desse setor turístico pode diminuir drasticamente se os recursos estiverem
abrigadas das ondas e predadores (Manson et al, 2005). Os mangues próximos a Abrolhos são berçários e áreas de
mais degradados do que em outros destinos turísticos tropicais.
forrageamento para peixes, crustáceos, moluscos e gol nhos, e oferecem habitat temporários para muitas
espécies de aves aquáticas migratórias e tartarugas marinhas (WWF, 2012). A pesca local e o turismo marinho
são extremamente importantes para a economia do litoral e dependem em grande parte de espécies que
Figura 9. necessitam de estuários em algum momento de seu ciclo de vida.
Parque Nacional Os estuários e manguezais estão sendo impactados com a retração da água doce que ocorre como consequência
do Monte Pascoal, das mudanças climáticas. À medida que o mar se eleva, praias e estuários são inundados por água do mar, e os
Barbara Lara.
manguezais e a linha da costa são empurrados para o interior. Os mangues imersos em água com salinidade
além de sua tolerância começam a morrer. Em períodos mais secos, menos água doce é descarregada pelos rios e
não há como equilibrar o uxo salino, que aumenta ainda mais. Estuários e manguezais podem encolher
drasticamente em um período relativamente curto de tempo, o que soma à degradação já existente devido à
O setor turístico de Porto Seguro está crescendo 6% ao ano em média e estima-se que o valor total gerado por expansão urbana, à poluição industrial e À carcinicultura. Muitas espécies serão afetadas e podem se extinguir
esse setor em 2014 seja de mais de 580 milhões de dólares (Bahiatursa, 2002). Esse setor traz mais de um milhão localmente. A pesca artesanal e comercial e o turismo, os pilares da economia costeira, serão afetados. Uma
de turistas para a região a cada ano, a qual tem a maior rede hoteleira do nordeste do Brasil e a terceira maior do estratégia de gestão que considere a adaptação às mudanças climáticas é, portanto, fundamental para a
Brasil. Como a região tem três importantes parques nacionais e um setor turístico já bem instalado, o potencial preservação dos recursos naturais da região de Abrolhos e dos meios de subsistência das populações humanas.
em incorporar parques nacionais e outras áreas protegidas como importantes atrações turísticas é imenso. A A pesca relacionada aos ambientes de manguezais é uma fonte importante de proteína e renda para as
Copa do Mundo, que será sediada no Brasil em 2014, trará um investimento de mais de 300 milhões de dólares a populações locais, com mercados substanciais em cidades costeiras e cidades maiores. Das 15 comunidades
ser aplicado diretamente na infraestrutura de diversos parques nacionais e outras unidades de conservação, o costeiras pesquisadas na região, sete listaram a pesca como a principal atividade econômica e quatro a listaram
que pode ser um incentivo para o desenvolvimento do turismo orestal. A perda das áreas orestais irá como a segunda atividade mais importante. Tais comunidades poderão ser fortemente impactadas pela perda
comprometer esse setor turístico na região, o qual está atualmente quase que exclusivamente focado em do habitat estuarino.
ecossistemas costeiros e marinhos. Se assumirmos que o turismo orestal pode um dia representar 5% do total
de arrecadação com o turismo na região, quase 20 milhões de dólares por ano podem ser perdidos se as Os impactos das mudanças climáticas
mudanças climáticas afetarem drasticamente os recursos orestais. Com as mudanças climáticas, os estuários devem sofrer uma retração da água doce em duas direções: a invasão
A polinização provavelmente vai ser afetada pela perda de orestas, já que essa perda resultante de queimadas e da água salgada pelo avanço do mar e a diminuição da descarga de água doce vindo da parte terrestre. Essas
dos efeitos de borda reduz o habitat de polinizadores nativos e resulta num decréscimo na taxa de polinização de condições promoverão uma redução do habitat estuarino. Na medida em que a retração se intensi ca, os
cultivos, com uma consequente perda da produtividade. Na região de estudo, 9% da área destinada à agricultura estuários vão eventualmente tornando-se incapazes de manter as espécies que dele dependem. Espécies já
constitui-se de plantações de café, totalizando 286.000 hectares, e essa cultura pode ser uma das mais ameaçadas, com distribuição restrita e com alta dependência de estuários, como Myrmotherula urosticta e
impactadas pois a polinização por insetos é crucial para promover os altos níveis de produtividade (Klein et al, Pontoporia blainvillei, são as que estarão em maior risco.
2002). Fazendas de café localizadas próximas a áreas orestadas mostraram um aumento de pelo menos 11% na O nível do mar deve subir entre 50 a 100 cm até 2100 no Nordeste do Brasil (Costa et al, 2010). Na área de estudo,
produtividade do café devido a um aumento nos serviços de polinização quando comparadas com fazendas a inundação das terras costeiras mais baixas vai reduzir a área de praia e destruir propriedades e habitats
localizadas longe de orestas (De Marco & Coelho, 2004). Dessa forma, a produção do café na região de estudo costeiros. O avanço da água salgada em direção ao continente provocará a sua in ltração nos aquíferos costeiros e
pode ser impactada se houver perda de áreas orestadas devido aos impactos diretos do desmatamento e aos nos rios, reduzindo os habitats de água doce e a biodiversidade. Possibilitar o estabelecimento de novos habitats
impactos indiretos das mudanças climáticas, o que põe em risco aproximadamente 45.000 toneladas de grãos de estuarinos rio acima pode compensar a quantidade de habitat perdido, mas essa capacidade adaptativa é
café e 93 milhões de dólares por ano. limitada pela área disponível entre os limites dos estuários e das áreas mais altas.

23 24
Narrativa 6: Disponibilidade de água doce e áreas de interceptação de neblina

Condições atuais

Estima-se que mais de 120 milhões de pessoas dependam da água doce fornecida pela Mata Atlântica.
Na área de estudo, 365 municípios e até 6,2 milhões de pessoas dependem da água oriunda de áreas de
orestas, incluindo as orestas que interceptam a neblina e as transformam em águas limpas dos rios. Bacias
hidrográ cas orestadas geralmente oferecem água de melhor qualidade do que as bacias localizadas em áreas
onde há usos alternativos da terra, não só porque menos poluentes entram nas cabeceiras, mas também porque
as orestas ajudam a regular a erosão do solo e reduzir a carga de sedimentos. Portanto, na maioria dos casos,
a presença de orestas ao redor das bacias pode reduzir a necessidade e os custos de tratamento de água
(Stonton & Dudley, 2007).

As cidades podem estar com dé cit hídrico, mas ainda há rios de boa qualidade graças às bacias hidrográ cas
que nascem no interior, em áreas com excedente hídrico. Na área de estudo, a disponibilidade de água varia de
cerca de 3.000 mm/ano nas áreas mais altas do norte a valores negativos na costa, principalmente na área de
Caravelas para o sul, o que indica dé cits hídricos na superfície nessas áreas. Algumas das áreas mais secas são
encontradas nas proximidades da Reserva Biológica de Linhares (Figura 11).

Grande parte desta variação é devido a diferenças na topogra a. No norte da área de estudo, nas proximidades
de Palmópolis e Itanhém, a exposição topográ ca a ventos e chuvas, bem como a interceptação de neblina
Figura 10. A segunda causa da retração da água doce vem da redução na vazão dos rios, conforme projetado em cenários explica a alta disponibilidade de água. A modelagem feita mostra que esta área em particular é a que tem maior
Bugigão, secos típicos do modelo de circulação geral MIROC, que mostra uma redução da precipitação no futuro, o que contribuição da interceptação de neblina para a precipitação e apresenta elevada percentagem do escoamento
Tiago Pinheiro reduzirá a oferta de água doce para os estuários e aumentará o assoreamento. A redução da oferta de água doce (Figura 12), o que é consistente ao longo de todo o ano.
deve se intensi car com o aumento da pressão humana sobre os estoques de águas subterrâneas costeiras,
especialmente com o aumento da migração para os centros urbanos do litoral. A diminuição da água doce do
lençol freático irá facilitar a penetração de água salgada, com consequentes impactos sobre a disponibilidade de
água doce para consumo humano, para os corpos de água doce e para os estuários. O impacto humano sobre a
disponibilidade de água provavelmente será mais forte durante a alta temporada do turismo (dezembro-
fevereiro), um período de grande aumento na demanda de água.

Consequências da retração da água doce

As populações humanas, principalmente as comunidades que dependem da pesca como fonte de proteína ou
renda, perderão trabalho e renda se os estuários forem afetados pelas mudanças climáticas, conforme descrito
anteriormente. O camarão branco depende de estuários durante a fase pós larval e migram de volta para águas
abertas ao atingir a maturidade. Nas 15 comunidades pesquisadas, as espécies mais pescadas foram o robalo
(citado por 9 comunidades), o camarão (citado por 7 comunidades), o pargo (citado por 6 comunidades) e a
corvina (citada por 5 comunidades), espécies que dependem dos estuários nas fases juvenis. Todas essas espécies
estarão menos disponíveis se os estuários forem afetados pela retração da água doce, como uma resposta às Figura 11. Disponibilidade de água doce anual (em mm/ano) Figura 12. Porcentagem do total de precipitação devido a
mudanças climáticas. na região de estudo. Azul: áreas com alta disponibilidade de interceptação de neblina. Áreas em azul representam altas
água; vermelho: áreas com baixa disponibilidade de água. porcentagens e áreas em vermelho representam baixas porcentagens.
As consequências da retração da água doce incluem uma redução no potencial turístico costeiro e de mergulho Preparado por Leonardo Saenz, Conservation international. Preparado por Leonardo Saenz, Conservation International.
da região. A perda dos juvenis e presas para as espécies recifais reduzirá a biodiversidade e a atração turística dos
recifes locais.

25 26
Impactos das mudanças climáticas Narrativa 7: Perda de áreas propícias ao cultivo de café
Grandes mudanças na disponibilidade de água devido às mudanças climáticas são esperadas em algumas partes
da área de estudo. Declínios na produção de água devem ser mais notáveis ao longo de uma faixa no litoral que Condições atuais
vai de Prado a Alcobaça, a partir daí para Nanuque (MG), e nas áreas montanhosas que cercam o Parque Estadual A agricultura é uma importante atividade econômica na área de estudo, e o café é o segundo cultivo mais
do Alto Cariri e Palmópolis, as quais drenam para o sistema de bacias de Porto Seguro. Todas as modelagens importante em termos de área plantada. As atividades agrícolas geram 10% dos empregos formais na área de
indicam que o município de Prado deverá ter baixa disponibilidade de água no futuro, o que destaca a estudo e as plantações de café ocupam a segunda maior área, com 9% da área disponível para a agricultura. A
importância de proteção das nascentes dos rios Itanhém e Jucuruçu a m de fornecer resiliência hidrológica para região produz em média 1,45 tonelada de grãos de café (Co ea arabica) por hectare (dados agregados do IBGE),
as áreas mais secas a jusante. Apesar de Porto Seguro provavelmente ter um aumento na disponibilidade de água totalizando 415.000 toneladas de café produzidas por ano e gerando aproximadamente 900 milhões de dólares
no futuro, independente das condições climáticas futuras, a proteção das orestas ao redor da bacia do rio dos anuais. A área de estudo abrange a terceira mais importante para a produção de café arábica no mundo As
Mangues, a qual drena água para uma parte bastante populosa do município de Porto Seguro, é fundamental plantações de café estão concentradas no sul e no sudeste da área de estudo, que coincide com o estado do
para que a provisão de água doce continue. Espírito Santo e o leste de Minas Gerais (Figura 13).
A modelagem da produção de água mostra a importância das áreas mais altas na interceptação de neblina. A
oresta nas zonas mais altas no norte da área de estudo apresenta o maior percentual do total de precipitação
que vem da neblina, ao longo de todo o ano, e é a parte mais úmida do sistema. Se as orestas, que maximizam o
processo de interceptação de neblina, forem removidas dessas áreas, os impactos da seca serão exacerbados a
Figura 13.
jusante e, provavelmente, haverá redução da disponibilidade de água doce para as áreas de maior densidade
Mapa de distribuição do
populacional no município de Porto Seguro e aumento do dé cit hídrico previsto para o município de Prado. A cultivo do café nas três
proteção de algumas dessas áreas, além de matas ciliares em torno das bacias hidrográ cas que fornecem água bacias (delimitadas em
para as grandes cidades, estão entre as principais estratégias de adaptação que devem ser seguidas. azul: Jequitinhonha na
parte superior, Doce na
Consequências do declínio da disponibilidade de água
parte inferior e Mucuri
Como a maioria dos municípios da área de estudo tem no turismo uma de suas principais atividades econômicas, no centro). Cada ponto
a disponibilidade de água é uma questão fundamental. Cerca de 5,8 milhões de pessoas que vivem na área de representa uma área de
estudo (IBGE, 2012) - além de um milhão de turistas que visitam a região todos os anos - dependem da 400 hectares de plantação
conservação e da gestão adequada das orestas visando o fornecimento de água doce. Nesse caso, as orestas (preparado por
mais estratégicas são aquelas localizadas em torno de bacias hidrográ cas importantes ou aquelas que estão Tiago Pinheiro,
Conservação
localizados em terras altas que têm um importante papel na interceptação do nevoeiro. É possível, então, que
Internacional).
pelo menos 6,8 milhões de pessoas correm o risco de sofrer, em algum grau, com a escassez ou diminuição da
disponibilidade de água se as orestas localizadas em torno de bacias hidrográ cas ou em áreas de alta
interceptação de nevoeiro não estiverem devidamente protegidas ou gerenciadas. Portanto, não só a
manutenção da matas ciliares ao longo dos rios, especialmente aqueles que fornecem água para Porto Seguro,
Eunápolis e Prado, mas também a proteção das zonas de montanhas, que têm um papel fundamental na
interceptação de neblina, são estratégias fundamentais para garantir o fornecimento de água doce para a área Impactos das mudanças climáticas
de estudo no futuro.
Projeta-se que áreas propícias ao plantio de café sofrerão grande declínio no futuro (até por volta de 2050).
Combinamos as estimativas de áreas aptas para o plantio de café de pelo menos 17 modelos climáticos globais,
usando oito variáveis bioclimáticas. No cenário mais otimista, essa modelagem mostra uma redução de 53% nas
áreas propícias para o café no futuro, em comparação com as áreas propícias atuais. No cenário menos otimista,
projeta-se uma redução de 56% nas áreas propícias para o café no futuro quando comparadas com as áreas
propícias atuais. Considerando que a maior parte da área de estudo é favorável ao plantio de café atualmente,
essas projeções mostram que as áreas propícias no futuro serão muito limitadas e restritas ao leste do estado da

27 28
Bahia e sul do espírito Santo (Figura 14). O extremo sul da Bahia e o extremo norte do Espírito Santo, áreas com
melhores condições climáticas para o plantio de café, não serão mais propícias no futuro. Estima-se que parte de
IV. Recomendações de adaptação às
uma das mais importantes regiões para a plantação de café arábica do mundo (no sul da bacia do Rio Doce) não mudanças climáticas
será mais favorável ao café arábica com as mudanças climáticas.

Condições climáticas atuais A - Cenário otimista (rcp45) A - Cenário pessomista (rcp85) As narrativas acima descrevem os impactos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas e as comunidades da
região. A adaptação a esses impactos é necessária para assegurar que os ecossistemas continuem a fornecer os
serviços dos quais a população da região depende criticamente. As seguintes recomendações de adaptação
foram extraídas e consolidadas a partir das narrativas e incluem abordagens de adaptação baseadas nos
ecossistemas (AbE) e abordagens de sensibilização social e de planejamento (Figura 15). A ordem em que as
recomendações estão apresentadas foi adotada por conveniência e não representa uma ordem de prioridade.

1. Implementar uma gestão sustentável e adaptativa da pesca

A implementação de gestão da pesca e caz e baseada nos ecossistemas irá aumentar a capacidade da região em
responder às mudanças nas populações de peixes e garantir a viabilidade das espécies e comunidades pesqueiras
em longo prazo. As alterações climáticas terão impactos signi cativos sobre as populações de peixes e sobre a
pesca, que é crítica para a economia e para os meios de subsistência da região. No futuro imediato, ações de
adaptação em resposta às mudanças climáticas devem incluir:

implementar as áreas de exclusão de pesca;


implementar programas de monitoramento da pesca que forneçam informações para seu manejo;
proibir a pesca de espécies importantes para a resiliência dos ecossistemas (tais como o budião);
reduzir os impactos e aumentar a proteção de habitats marinhos críticos a m de aumentar a resiliência
destes habitats;
implementar programas de capacitação para a comunidade de pescadores sobre as mudanças climáticas,
Figura 14: A. Mapa do Brasil com as áreas propícias para o café arábica (em verde). As bordas dos estados da Bahia e
seus prováveis impactos na pesca e nos habitats críticos para a pesca da região, e sobre a gama de
Espírito Santo estão apresentadas em vermelho. B. Áreas em preto representam áreas propícias para o café no futuro no
possíveis respostas de adaptação;
cenário mais otimista. C. Áreas em preto representam áreas propícias para o café no futuro no cenário mais pessimista
(Preparado por Ingrid Koch e Alessandra Rocha Kortz). em longo prazo, um plano de gestão da pesca, capaz de responder às mudanças e apoiado pela
comunidade, deve ser implementado. Além disso, o planejamento costeiro e o desenvolvimento de
Declínios nas áreas propícias ao café na região têm sido também demonstrados em outros estudos. Para a Mata infraestrutura devem garantir a conservação e a capacidade adaptativa dos habitats críticos para os peixes.
Atlântica os declínios foram identi cados com base em outro grupo de modelos climáticos globais (Hannah et al , 2. Aumentar a resiliência dos recifes de corais
in press). Para a área de estudo, foram analisadas as variedades de café robusta e arábica (Saenz, 2012).
Como os recifes de corais estão seriamente ameaçados pelas mudanças climáticas, ações para promover a sua
Consequências da perda de área propícias para o café arábica resiliência em longo prazo são essenciais para garantir que eles continuem a fornecer serviços ecossistêmicos
Como o café é uma das maiores atividades agrícolas na área de estudo, uma grande perda monetária é esperada essenciais para as zonas costeiras da região:
com a redução das áreas propícias para seu plantio decorrente das mudanças climáticas. Na região de estudo, a reduzir os impactos atuais da pesca destrutiva e insustentável em áreas de recifes de coral por meio da
produção do café é de 415.000 toneladas/ano, o que gera em torno de 900 milhões de dólares anualmente. Como implementação de áreas marinhas protegidas, do fortalecimento das cooperativas de pesca, e das proibições
a modelagem mostra que a distribuição das áreas propícias para o café vai diminuir pelo menos 47%, é possível de pesca de certas espécies de peixes herbívoros recifais;
que essa mudança acarrete uma perda de mais de 450 milhões de dólares por ano se estratégias de adaptação
promover o turismo sustentável e não-destrutivo dos recifes;
não forem implementadas tanto para agricultores de pequeno porte quanto para aqueles de grande escala.
Exemplos de estratégias de adaptação são o uso de variedades mais resistentes às mudanças climáticas e os implementar programas de monitoramento sobre a saúde dos recifes para subsidiar intervenções de
incentivos ao café sombreado. adaptação às mudanças climáticas;

29 30
Figura 15. Principais estratégias de adaptação identi cadas para a região: 1. Proteção das áreas de captura de neblina; 2. restauração orestal; 3. sistemas agro orestais; 4. diversi cação do turismo; 5. proteção das restingas e manguezais; 6. ordenamento da ocupação costeira; 7. Manejo da pesca e aumento da resiliência dos corais.

31 32
diminuir os lançamentos de poluentes e esgoto na região de Abrolhos, através da construção e melhoria das orestas. O incentivo ao turismo para além dos habitats costeiros e marinhos promoverá uma ampla gama de
instalações de tratamento de esgoto; experiências e fortalecerá o setor do turismo, tornando-o mais robusto a alterações. Além disso, fortalecerá
muitas comunidades tradicionais que atualmente dependem principalmente da extração de produtos orestais.
implementar programas de capacitação para os governos locais e para as comunidades costeiras e pesqueiras
Iniciativas de turismo devem incluir:
sobre as mudanças climáticas, seus prováveis impactos sobre os recifes de corais e espécies dependentes dos
recifes, e sobre a gama de possíveis respostas de adaptação; apoiar o turismo em terras indígenas, parques nacionais e outras áreas protegidas;

reduzir o carreamento de sedimentos pelos rios por meio do re orestamento e da proteção das orestas. construir infraestrutura para esse turismo (trilhas, atividades guiadas, centros de visitação, pousadas,
alojamentos);
Fontes de sedimentos, especialmente a partir da erosão de terras altas que uem para o banco de Abrolhos
através dos rios, têm um grande impacto sobre os recifes de corais, reduzindo a resiliência dos corais aos impactos promover o turismo de oresta ligado ao turismo costeiro em campanhas promocionais e de marketing
das mudanças climáticas. A redução do uxo de sedimentos através do re orestamento e da proteção das nacionais e internacionais;
orestas deve ser uma considerada uma prioridade. A integridade biológica dos fragmentos pode ser melhorada através da restauração das bordas de fragmentos
3. Fortalecer o planejamento e gestão costeira degradadas. A regeneração natural assistida de áreas em torno de parques nacionais e de grandes fragmentos
garante que essas orestas sejam menos vulneráveis a incêndios. Isto irá manter o seu valor para o ecoturismo e
O planejamento e a gestão da zona costeira devem incorporar explicitamente os impactos das mudanças garantir que essas áreas sejam grandes o su ciente para abrigar a fauna nativa, inclusive os insetos, e assim
climáticas, especialmente as mudanças potenciais na linha da costa e nos padrões de erosão e as mudanças nos promover a polinização dos cultivos da região. O aumento do valor das orestas pode ser realizado através de:
padrões e intensidade das tempestades. Componentes importantes que devem ser abordados incluem:
plantio de espécies nativas e criação de habitats para os dispersores de sementes;
estabelecer um sistema de gestão da costa adaptativo e baseada nos ecossistemas;
proteção contra o fogo de árvores adultas e produtoras de sementes;
conservar e restaurar ecossistemas que protegem e estabilizam a linha da costa;
aumento do orçamento das brigadas de incêndio;
identi car e proteger as áreas tampão adjacentes aos manguezais, apicuns e outros tipos de vegetação que
estabelecimento de programas de cooperação com proprietários de terra para o controle do fogo e para
permitam que esses ecossistemas possam migrar para o interior em resposta a um aumento do nível do mar;
a proteção de habitats importantes para aves e mamíferos dispersores de sementes.
incorporar áreas de amortecimento em obras de infraestrutura e planejamento urbano ao longo da costa para
Fragmentos ao redor de Porto Seguro devem ser prioritários para a restauração de bordas e expansão, uma vez
reduzir o risco da erosão ou inundação. Reduzir a presença de infraestrutura e comunidades ao longo das
que os modelos de distribuição de espécies mostram que os dispersores de sementes nesta área podem diminuir
zonas costeiras identi cadas como vulneráveis ao aumento da erosão;
em 2050 devido às alterações climáticas. Isto signi ca que os processos naturais de dispersão de sementes
educar gestores, alunos, comunidades tradicionais e pesqueiras e agentes de turismo sobre os prováveis podem ajudar a regenerar bordas da oresta em curto prazo, mas a restauração arti cial, que tem custo muito
impactos das alterações climáticas sobre a costa; alto, pode vir a ser necessária em meados desse século para reconstituição das bordas. São prioridades para a
restauração de bordas as orestas próximas a Porto Seguro e ás áreas de orestas que possam ser visitadas por
garantir que o impacto das ações de engenharia de adaptação às mudanças climáticas seja avaliado antes da um dia, atraindo os turistas que chegam à região em busca, principalmente, de suas praias.
sua execução, já que estas podem ter impactos secundários indesejáveis nos padrões de erosão;
5. Assegurar a disponibilidade de água doce
implementar programas de monitoramento nos ecossistemas costeiros e nas atividades socioeconômicas.
Certi car-se de que estes estão alinhados à gestão e ao planejamento da região para garantir uma resposta A disponibilidade de água doce é uma preocupação central decorrente das mudanças climáticas. Diante do
e caz aos impactos das mudanças climáticas. desacordo entre os modelos climáticos em relação às tendências e os padrões regionais de precipitação, a
proteção de áreas orestais que interceptam a umidade da neblina é uma ação sensata e segura para se adaptar à
4. Aumentar o valor de fragmentos orestais seca que pode ocorrer nas áreas costeiras no futuro. Caso a precipitação aumente no futuro, a sedimentação e
Fragmentos orestais na região podem ser restaurados e valorizados para prestar serviços de adaptação às assoreamento dos cursos d´água são também preocupantes. O pagamento por serviços ambientais (PSA),
mudanças climáticas. Aumentar o valor de fragmentos orestais envolve a construção de incentivos para a sua utilizando mecanismos de compensação nanceira para as ações que aumentem o fornecimento de água limpa,
é uma estratégia para lidar com o aumento da erosão associada a um futuro mais úmido. Como o percentual de
proteção, especialmente através do turismo, bem como a melhoria da integridade biológica das bordas dos
desmatamento na região de uma forma geral já é elevado, os incentivos ao "desmatamento zero" devem ser
fragmentos.
implementados. Esquemas de PSA devem ser direcionados a zonas importantes para a prevenção de erosão, tais
Construir um turismo de oresta bene cia a economia regional e cria um público interessado na conservação das como áreas íngremes, matas de galeria e áreas localizadas próximas a terras agrícolas.

33 34
A conservação de áreas mais altas que interceptam a neblina pode contribuir para manter a disponibilidade de
água com as mudanças do clima. As áreas orestais com os maiores valores de interceptação de neblina dentro
de nossa área de estudo, especialmente aquelas ao redor das bacias hidrográ cas dos rios Itanhém, Batinga e
Jucuruçu são extremamente importantes para garantir o fornecimento de água no futuro. A proteção legal
dessas áreas é chave. Elementos dessa estratégia incluem:

identi car áreas que são mais vulneráveis ao desmatamento;

proteger algumas dessas áreas que estão localizadas em propriedades privadas;

desenvolver acordos de conservação com esses proprietários.

A proteção e recuperação de áreas orestais ao redor dos cursos d´água irão contribuir para manter a
disponibilidade, a consistência de abastecimento e a qualidade da água. Algumas das bacias hidrográ cas
importantes para essa ação de adaptação são as bacias dos rios dos Mangues e Buranhém, as quais fornecem
água aos municípios de Porto Seguro e Eunápolis, e a bacia do rio Jucuruçu, que fornece água para Prado. Ações
para a conservação e restauração dessas orestas podem também reduzir a vulnerabilidade dos manguezais,
devido à potencial diminuição do assoreamento e sedimentação, e incluem:
Figura 16.
desenvolvimento de planos municipais de proteção e restauração da Mata Atlântica (PMMAs);
Rio Corumbau,
a restauração e reconexão das orestas; Tiago Pinheiro.

o diálogo com proprietários de terra que estão dispostos a restaurar áreas orestais;

o pagamento pelos serviços de provisão de água em algumas localidades.

Em áreas com dé cit hídrico, a água subterrânea desempenha um papel fundamental na manutenção da
vegetação. No sul da área de estudo, o dé cit hídrico pode comprometer a manutenção dos fragmentos orestais
importantes, como a Reserva Biológica de Linhares, a Reserva Biológica de Sooretama e a Reserva Natural Vale, e
pode contribuir para a intrusão de água salgada no sistema, caso essa água subterrânea não seja protegida ou
adequadamente gerida. A gestão do uso da terra adequada nesta área de dé cit hídrico é crucial para a
manutenção do nível do lençol freático. A comunicação dos resultados para as empresas de celulose é importante
para nos certi carmos de que uma gestão especí ca seja feita caso o eucalipto necessite ser plantado nestas
áreas em particular. Ações de proteção das águas subterrâneas incluem:

o planejamento cuidadoso de novas áreas de plantio do eucalipto;

adoção de cultivos e de praticas agrícolas que visem à conservação da água;

uso de espécies nativas para o re orestamento;

monitoramento da água subterrânea em áreas sensíveis.


reduzindo a temperatura do microclima em torno das plantas de café e ajudando a manter a umidade do solo.
6. Estimular o plantio de café sombreado
Ações iniciais para promover o café sombreado incluem:
A aptidão para plantio de café deverá diminuir em importantes áreas produtoras na região de estudo. Os
o estabelecimento de viveiros de plantas usadas no café sombreado;
responsáveis por essa diminuição são o aumento da temperatura e, em algumas simulações, também a
diminuição da precipitação. O plantio do café sombreado pode ser um mecanismo de adaptação e caz, o desenvolvimento de programas de educação e extensão sobre o café sombreado.

35 36
V. Intervenções prioritárias consequentemente, reduzindo a erosão costeira. Essa proteção, no entanto, pode ser reduzida devido às
mudanças climáticas pelas razões descritas acima.

Para tratar dos impactos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas costeiros e marinhos e reduzir a
Baseado nas narrativas de avaliação da vulnerabilidade e as recomendações de adaptação, o projeto identi cou
vulnerabilidade das comunidades dependentes desses, é preciso usar uma abordagem multifacetada e
duas intervenções-piloto para implementação na região de estudo. Uma visa melhorias no ordenamento
integrada, e por isso desenhamos um programa de atividades de adaptação baseadas nos ecossistemas para
costeiro e proteção de um recife de corais, enquanto a segunda visa a proteção das bacias hidrográ cas
aumentar a resiliência e capacidade de adaptação da região às mudanças climáticas. Este programa se
municipais, a restauração de fragmentos orestais e a redução da sedimentação nos recife por meio da
concentrará inicialmente na manutenção e melhoria da saúde dos recifes de coral, abordando o impacto da pesca
elaboração de um plano municipal de conservação e recuperação da Mata Atlântica.
insustentável, para aumentar a resiliência dos corais, a sua capacidade de proteção costeira e a provisão da pesca
Intervenção 1: Adaptando-se aos impactos das mudanças climáticas na Ponta do Corumbau, Bahia. em longo prazo. Esse programa vai também incluir atividades para promover um ordenamento mais apropriado
do litoral. Questões relacionadas com as alterações climáticas serão integradas no plano municipal de proteção e
A avaliação da vulnerabilidade às mudanças climáticas destacou o frágil sistema de recifes de corais, a pesca e
restauração da Mata Atlântica em Porto Seguro, tais como proteção e recuperação de áreas de restinga e
algumas comunidades costeiras da região. Os impactos das mudanças climáticas sobre os sistemas costeiros e
mangue, a m de promover um desenvolvimento climaticamente inteligente ao longo da costa. Através destas
marinhos provavelmente vão incluir:
atividades, o objetivo é reduzir, até 2025, a vulnerabilidade das duas comunidades pesqueiras localizadas
Um declínio na saúde dos recifes de corais devido às mudanças na temperatura dos oceanos, na frequência das próximas à Ponta do Corumbau aos impactos negativos das mudanças climáticas sobre a pesca e sobre a proteção
tempestades, na dinâmica das ondas e na acidi cação dos oceanos. Esses impactos diretos sobre os recifes de costeira.
corais serão mais graves se a resistência natural desses corais for reduzida por meio de outras pressões,
As atividades que foram priorizadas para manter ou melhorar a saúde dos corais próximos à Ponta do Corumbau
principalmente a pesca insustentável e os elevados níveis de sedimentos nas águas costeiras resultantes de um
são: a) a retomada das zonas de exclusão de pesca, e b) a conscientização entre a população local sobre as
aumento da erosão terrestre. Um declínio na pesca perto da costa é esperado devido aos impactos negativos do
mudanças climáticas e a importância da saúde dos recifes de coral para adaptação às mudanças climáticas,
aumento da temperatura e da acidi cação dos oceanos nos recifes de corais.
incluindo o papel do budião na manutenção da saúde do recife e de sua resiliência. As atividades que irão
A erosão costeira será aumentada pelas mudanças dos padrões de vento e ondas como resultado das contribuir para um planejamento costeiro climaticamente inteligente da região incluem: a) a educação dos
mudanças climáticas e terá impactos signi cativos sobre a biodiversidade e as comunidades humanas que proprietários privados sobre a importância de um planejamento costeiro para a saúde dos corais e para a
dependem do litoral para a sua subsistência. Este impacto será agravado pela perda de ecossistemas costeiros manutenção dos serviços que eles prestam às comunidades, e b) o apoio à integração de proteção e restauração
que estabilizam o litoral e pelas estruturas de engenharia costeira que mudam os padrões de sedimentos de restingas e mangues que estabilizam sedimentos e amenizam a erosão costeira e as inundações nos planos
costeiros. A degradação dos recifes de coral irá reduzir a atenuação natural da força das ondas e aumentar a municipais de restauração e proteção da Mata Atlântica. Mais especi camente, as seguintes atividades serão
erosão em praias atualmente protegidas pelos corais. Inundações costeiras resultantes da elevação do nível do realizadas:
mar e o aumento de eventos de tempestade afetarão as comunidades locais, especialmente em áreas com
proteção natural limitada. · Defender a inclusão de determinadas áreas de mangue e de restinga, bem como as áreas orestais ao longo
dos rios que drenam para as áreas adjacentes aos recifes de coral, como altas prioridades no plano municipal de
Os efeitos das alterações climáticas sobre os sistemas costeiros e marinhos terão impactos signi cativos no litoral recuperação e proteção da Mata Atlântica em Porto Seguro.
e na biodiversidade com consequências para toda a região e, em especial, para as comunidades humanas locais.
Um recife de coral menos saudável resulta em menor biodiversidade, o que afetaria as comunidades locais que Apoiar a reinstituição e o respeito às zonas de exclusão de pesca sobre os recifes de corais.
dependem da pesca ou do turismo como meios de subsistência. Da mesma forma, a degradação dos recifes de Monitorar a taxa de adesão de pescadores às zonas de exclusão nos recifes Itacolomis.
corais locais pode aumentar a erosão costeira, devido à redução do efeito de mediação das ondas que, quando
combinado com os níveis esperados de aumento do nível do mar e mudanças na dinâmica das ondas, também Realizar um experimento para avaliar o crescimento do coral em zonas de exclusão e áreas de pesca. Esta
terá impacto sobre o turismo e as comunidades locais. A erosão costeira e as inundações terão impactos severos atividade nos permitirá testar se o crescimento de corais é facilitado em zonas de exclusão e, portanto, se esta
sobre a indústria do turismo costeiro e sobre as comunidades localizadas na costa. ação melhora a saúde do recife de coral e sua resistência no longo prazo.

A análise de vulnerabilidade às mudanças climáticas identi cou as comunidades em torno da Ponta do Monitorar a pesca na região, a m de avaliar a e cácia da área de exclusão e outros regimes de gestão para o
Corumbau como algumas das mais vulneráveis na área de estudo, devido à sua elevada exposição à variabilidade aumento da captura de peixes por unidade de esforço.
climática e aos eventos extremos e à sua alta dependência dos recursos naturais costeiros e marinhos para pesca
Reavaliar a erosão e acresção costeira a m de mensurar a importância da proteção recifal sobre a costa.
e proteção da costa. Além disso, o litoral da Ponta do Corumbau é altamente vulnerável à erosão costeira: o recife
de corais Itacolomis atualmente fornece proteção costeira crucial, atenuando as ondas oceânicas e, Articular com o Conselho da RESEX Corumbau, municípios e Mosaico de Áreas Protegidas a adoção de

37 38
recomendações AbE provenientes da avaliação de vulnerabilidade na região, por meio da apresentação dos
resultados e das recomendações às instituições locais.
gura 17.
Educar proprietários de estabelecimentos privados em áreas-chave dentro da região sobre a importância de
Discussão do
um planejamento costeiro para enfrentar as mudanças climáticas e para amenizar a erosão costeira, com
Plano Municipal da
divulgação de informações sobre a manutenção da saúde dos recifes de coral e dos benefícios que os recifes de Mata Atlântica de
coral, manguezais e outros ecossistemas fornecem. Porto Seguro,
Conscientizar as comunidades locais sobre a importância da adaptação às mudanças climáticas e sobre o papel Almir Requião.

dos peixes herbívoros (particularmente o budião) para manter a saúde do recife.

Reanalisar o cenário de planejamento sistemático de conservação para a região de Abrolhos, incluindo os


impactos das mudanças climáticas e as recomendações identi cadas na avaliação de vulnerabilidade. Para tratar dos impactos das mudanças climáticas sobre os fragmentos orestais e recursos hídricos em Porto
Seguro, é necessária uma abordagem que se concentre na proteção e restauração de diversas áreas orestais
Intervenção 2: Incorporando adaptação baseada nos ecossistemas no Plano Municipal de
chave, incluindo aquelas em torno dos parques nacionais e em importantes bacias hidrográ cas que fornecem
Conservação e Recuperação da Mata Atlântica em Porto Seguro, Bahia
água para Porto Seguro. A proteção e recuperação de áreas orestais, tendo em conta não só as atuais, mas
A análise de vulnerabilidade às mudanças climáticas destacou a vulnerabilidade das áreas orestais e dos também as futuras condições climáticas, serão alcançadas através do desenvolvimento de planos municipais que
recursos hídricos na área de estudo. Em particular, os impactos das mudanças climáticas sobre os sistemas visam estabelecer diretrizes e prioridades para projetos e políticas públicas no município.
terrestres provavelmente incluirão:
Em 2014, vamos elaborar o Plano Municipal de Conservação e Restauração da Mata Atlântica de Porto Seguro,
Um aumento na retroalimentação entre clima local, o fogo e a fragmentação da oresta. Um aumento na que incluirá algumas recomendações de adaptação baseada nos ecossistemas identi cadas neste relatório. O
frequência dos incêndios orestais no futuro é esperado como resultado de um cenário com menos precipitação e governo brasileiro incentiva os municípios a elaborar seu Plano Municipal de Conservação e Recuperação da
temperaturas mais altas. Isso pode levar à maior fragmentação das orestas, o que geraria novas bordas e maior Mata Atlântica (PMMA) (Lei 11.428/06), cujo objetivo é estabelecer diretrizes e prioridades para projetos e
vulnerabilidade a novas queimadas. As alterações climáticas podem agravar ainda mais esses efeitos, por políticas públicas para o município relacionados a esse assunto. Embora o desenvolvimento desses planos
interferir na regeneração natural da oresta devido à perda da diversidade de dispersores de sementes. municipais seja incentivado pelo governo brasileiro, nenhum deles até agora têm incluído ações de adaptação
baseada nos ecossistemas. Portanto, o Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica em
Um efeito negativo na sustentabilidade dos fragmentos remanescentes, independentemente do seu nível de
Porto Seguro será o primeiro no Brasil a incluir recomendações de adaptação baseada nos ecossistemas.
proteção, já que os fragmentos orestais não são capazes de amortecer os impactos da seca e do fogo. Sem a
Exemplos de recomendações possíveis de serem incluídas no Plano Municipal de Conservação e Recuperação da
sustentabilidade das orestas remanescentes muitos serviços ecossistêmicos, como a polinização das culturas,
Mata Atlântica em Porto Seguro são: proteção de áreas orestadas em bacias hidrográ cas que fornecem água
estarão em risco.
para Porto Seguro, regeneração natural assistida de áreas não- orestadas nessas bacias hidrográ cas, conexão
Os declínios na produção de água devem ser mais proeminentes ao longo de uma faixa no litoral que vai de entre fragmentos orestais e incentivo aos sistemas agro orestais e ao uso de culturas que usam água de forma
Prado a Alcobaça, no trecho entre Alcobaça e Nanuque e nas áreas montanhosas que cercam o Parque Estadual mais e ciente. As atividades que serão realizadas para desenvolver o PMMA de Porto Seguro são:
Alto Cariri e o município de Palmópolis, as quais drenam água para o sistema de bacias de Porto Seguro.
Estabelecer parceria com o governo municipal para a elaboração do PMMA. Organizar um grupo coordenador
Esses impactos das mudanças climáticas sobre as orestas e recursos hídricos terão consequências signi cativas com representações de diversos grupos para conduzir o processo.
para as comunidades locais e cidades que dependem do turismo e dos recursos naturais para a sua subsistência. A
Envolver as partes interessadas locais em um processo participativo.
análise da vulnerabilidade às mudanças climáticas identi cou os municípios de Porto Seguro e Prado como
alguns dos mais vulneráveis. Estes dois municípios abrigam os três maiores Parques Nacionais na área de estudo, Realizar um diagnóstico das políticas e dos aspectos biofísicos e socioeconômicos do município.
os quais são fundamentais para provisão de vários serviços ecossistêmicos, tais como fornecimento de água
Realizar duas o cinas participativas para elaboração do PMMA.
doce, serviços de polinização e ecoturismo. O abastecimento de água para Porto Seguro, no futuro, depende da
proteção das orestas ao redor das principais bacias hidrográ cas e daquelas localizadas em áreas de alta Editar o documento nal do PMMA.
interceptação de neblina. A população de Porto Seguro é relativamente pequena (~140 mil pessoas), mas atinge
Obter a aprovação pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente.
quase um milhão de pessoas durante o pico da temporada de turismo. Durante esta época do ano, há um grande
aumento no consumo de água. Apoiar captação de recursos para a implementação das ações identi cadas no plano.

39 40
VI. Agradecimentos VII. Referências
Este projeto faz parte da Iniciativa Climática Internacional (IKI) do governo alemão. O Ministério Alemão do Amado-Filho G.M.; et al. 2012. Rhodolith beds are major CaCO3 bio-factories in the tropical south West Atlantic.
Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear (BMU) apoia esta iniciativa com base em uma PLoS ONE 7(4): e35171. doi:10.1371/journal.pone.0035171
decisão aprovada pelo Parlamento Alemão. Agradecemos a todos os participantes da o cina da Análise de Bahiatursa. 2002. Metas do turismo. Bahia 2002-2010. Secretaria da Cultura e Turismo. Salvador: Embratur.
Vulnerabilidade em Porto Seguro pela ajuda em diferentes fases deste projeto. Um agradecimento especial
aos seguintes especialistas que nos ajudaram a preencher algumas lacunas de conhecimento: Dr. Eduardo Siegle, Cochrane M.A.; Alencar, A.; Schulze M.D.; Souza Jr., C.M.; Nepstad, D.C. & Lefebvre, E.A. 1999. Positive feedback in
the re dynamic of closed canopy tropical forests. Science 284 (5421): 1832-1835.
Dr. Ingrid Koch, MSc. Alessandra Rocha Kortz, Dr. Leonardo Saenz, Dr. Lincoln Muniz Alves, Dr. Alan Flint, MSc.
Tiago Pinheiro, Dr. Lorraine Flint, Dr. Paulo de Marco Jr., Dr. Adriano Paglia, Daniella Rezende, Carolina Nóbrega Costa, M.B.S.F.; Mallmann, D.L.B.; Ponte, P.M. & Araujo, M. 2010. Vulnerability and impacts related to the rising sea level
e Dr. Renato Ghisol . Agradecemos também Karyn Tabor e Kellee Koening por preparar os mapas de mudanças in the metropolitan center of Recife, Northeast Brazil. Pan-American Journal of Aquatic Sciences 5(2): 341 349.
climáticas e discutir alguns dos resultados encontrados. O conteúdo deste relatório é de responsabilidade da Dawson R.J.; et al. Integrated analysis of risks of coastal ooding and cli erosion under scenarios of long term change.
Conservation International e os resultados e conclusões aqui apresentados não re etem necessariamente os Clim. Change 95: 249 88.
pontos de vista de todos os participantes da o cina de análise de vulnerabilidade.
De Marco, P. & Coelho, F.M. 2004. Services performed by the ecosystem: forest remnants in uence agricultural cultures'
pollination and production. Biodiversity and Conservation 13: 1245-1255.

Dias, I.S.; Câmara, I.G. & Lino, C.F. 1990. Workshop Mata Atlântica: problemas, diretrizes e estratégias de conservação.
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