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RESUMO.
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Amalia Mesa-Bains, “ Teaching Students the Way They Learn”, em Susan Cahan & Zoya Kocur (orgs),
Comtemporany Art and Multicultural Education (Nova York TheMuseum of Comtmporary Art, 1996)p.31.
depois de séculos, a identificar o bonito e o feio, o bom e o mau desenho, muitas vezes
funcionando até como critérios de avaliação em arte.
Acreditamos que a educação, especialmente o ensino da arte, pode contribuir para a
formação dos estudantes e não pretendemos, com este trabalho encontrar uma resposta
definitiva ou um método de como fazer, mais próximo da ideia de receita, mas levantar
possibilidades para que a arte possa ser compreendida e trabalhada como um relato aberto,
sujeito a transformações. Portanto, não pretendemos esgotar o assunto nem chegar a
conclusões categóricas, mas, lançar questões e promover reflexões sobre os encontros e
desencontros com as metodologias do ensino da arte na busca de criar novos imaginários e
aprendizagens no espaço escolar.
“Não é fácil configurar uma roupa para quem não pára de se mexer e
muda de forma e lugar constantemente”
Imanol Aguirre.
A educação faz parte do cenário descrito pelo autor, embora esta ainda mantenha
um currículo distante da realidade vivida pelos estudantes e no caso do ensino de
arte,conforme indica Aguirre (2009, p.158), é necessária uma alteração nos imaginários,
criados a partir das experiências educacionais vividas e das concepções que as consolidam.
Portanto, se vivemos em uma sociedade mutante, complexa, território de encontro
das diferentes culturas combinadas entre si, seja por meio das tecnologias da informação ou
mesmo pelas características do homem contemporâneo que se desloca com frequência, na
busca de outras realidades para a própria vida, à educação cabe abarcar e transformar a
sua própria realidade.
Neste sentido, a arte é imprescindível no processo de formação educacional das
pessoas, porque é por meio dela que compreendemos o mundo e as formas sensíveis que
compõem a humanidade no sentido amplo, transcultural o que pode contribuir para uma
melhor arquitetura da sociedade e do indivíduo (BARBOSA, 2011). Se, historicamente, a
arte chegou ao Brasil trazendo na bagagem uma concepção de ensino pautada na “verdade
artística”, na atualidade, esta visão única e homogeneizante aos poucos vai se diluindo com
o surgimento de outras concepções, abordagens e realizações que têm como premissa a
atualização do ensino, tornando-o próprio às características do nosso tempo e às demandas
surgidas no contexto escolar.
Dentre essas outras abordagens educacionais, escolhemos uma delas que se refere
ao pensamento de Aguirre (2009, p.153), que propõe a atitude ironista como uma
possibilidade “[...] deflagradora de novos imaginários 2 para a ação educacional”. Para o autor
este novo imaginário para o ensino da arte depende de:
2
“[...] O imaginário é determinado pela ideia de fazer parte de algo. Partilha-se uma filosofia de vida, uma
linguagem, uma atmosfera, uma ideia de mundo, uma visão das coisas, na encruzilhada do racional e do não
racional.” MAFESSOLI, Michael. Entrevista à Revista FAMECOS. Porto Alegre, nº 15, agosto/2001.
paisagem do visível, da relação entre o fazer, o ser, o ver e o dizer”. (RANCIÉRE, 2009,
P.69)
Adotar a atitude ironista, como forma de exercer a docência para recriar imaginários
educacionais, requer a disponibilidade e o desejo de experimentar práticas educativas que
não se encontram prontas em livros ou receitas, requer sim a convivência com a dúvida,
lidar com os imprevistos, mudança de planos, reconsiderações conceituais, incorporar os
acasos e uma constante (re) adaptação com as realidades configuradas no ambiente
escolar, e, principalmente lidar com a resposta educacional que já não se mostra como era
(respostas prontas) e mudam constantemente; promover a emancipação do outro requer
também um olhar atento e a consciência da igualdade das inteligências oportunizando
descobertas “[...] não é fornecer a chave do saber, mas a consciência daquilo que pode uma
inteligência” (RANCIÉRE, 2002, p.50).
Diante do exposto, identificamos que o professor ironista, proposto por Aguirre
(2009), em muitos aspectos se aproxima e dialoga com a ideia de mestre ignorante
emancipador de Ranciére (2002). Para Ranciére (2002), a emancipação do outro (aluno)
acontece quando o professor questiona e possibilita ao seu aluno usar a sua própria
inteligência. É o que não ocorre na dinâmica da ordem explicadora, que torna a inteligência
do aluno subordinado a do mestre. Segundo o autor, nesta relação de ensino e
aprendizagem,
[...] há um embrutecimento quando a inteligência é subordinada a outra
inteligência. O homem - e a criança, em particular - pode ter necessidade de
um mestre quando sua vontade não é suficientemente forte para colocá-la e
mantê-la no seu caminho [...] No ato de ensinar e de aprender, há duas
vontades e duas inteligências. [...] Chamar-se-á emancipação à diferença
conhecida e mantida entre as duas relações, o ato de uma inteligência que
não obedece senão a ela mesma, ainda que a vontade obedeça a uma
outra vontade. (RANCIERE, 2002, p.25-26. Itálico nosso).