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NATAL/RN
2012
1
Universidade Anhanguera-Uniderp
Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes
NATAL/RN
2012
2
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
3
SUMÁRIO
RESUMO .........................................................................................................6
ABSTRACT ......................................................................................................7
INTRODUÇÃO .................................................................................................8
Jusnaturalismo ................................................................................................12
Positivismo ......................................................................................................12
CONCLUSÃO ..................................................................................................55
RESUMO
5
A monografia aqui apresentada busca fazer um estudo sobre o imposto de renda e
sua conexão com o princípio da capacidade contributiva na busca da concretização
da justiça fiscal e social. Assim o estudo realizado tem como objetivo identificar os
princípios mais importantes relacionados como o princípio da capacidade
contributiva e o imposto de renda. O trabalho traz uma breve abordagem sobre
constitucionalização do Direito Tributário e faz um passeio pela evolução do
constitucionalismo com foco no tratamento dos princípios norteadores do
Ordenamento Jurídico ao longo da história. Num capítulo específico trata dos
principais pontos sobre o imposto de renda voltado à contribuição no
desenvolvimento do tema e por fim, como fechamento do trabalho, tem-se uma
reflexão sobre conceito de justiça fiscal e justiça social e quais os mecanismos que
se mostram aptos a utilizar o imposto de renda como fomentador da justiça.
ABSTRACT
6
The paper presented here seeks to do a study on income tax and its connection with
the principle of ability to pay in the pursuit of achieving fiscal and social justice. Thus
the study aims to identify the most important principles related to the principle of
ability to pay and income tax. The article presents a brief overview about
constitutionalization of Tax Law and is a tour through the evolution of
constitutionalism focused on treatment of the guiding principles of the legal system
throughout history. In a separate chapter deals with the main points about the income
tax aimed at contributing to the development of the subject and finally, as the closing
work, has a reflection on the concept of tax fairness and social justice and what
mechanisms are able to show use the income tax as promoter of justice.
Keywords: income tax, ability to pay, fair taxation and social justice.
INTRODUÇÃO
7
Um dos assuntos mais tormentos que se discute em vários ramos das
Ciências Sociais é a concretização da justiça em suas várias manifestações.
A polêmica se estabelece inicialmente no desenvolvimento no conceito de
justiça. A dificuldade se dá pela multiplicidade das necessidades sociais e individuais
aliadas aos valores humanos que variam de acordo com o tempo, lugar e cultura.
Desta forma, torna-se muito difícil criar um conceito único de justiça, pois
no cotejo entre as justiças individuais e entre estas e as sociais nunca se chega a
um denominador comum, como bem concluiu Hans Kelsen em seu estudo sobre a
justiça.
Neste contexto a Ciência do Direito em seus vários ramos, procura
contribuir não só na construção teórica da justiça, mas também ser importante meio
de concretização daquilo que se consegue minimamente estabelecer por justiça.
O Direito Tributário é tido como instrumento de distribuição de riqueza
uma vez que o Estado se utiliza da cobrança de tributos para promover as políticas
públicas que visam o desenvolvimento individual e social, propiciando melhores
condições de vida à população e permitindo o desenvolvimento individual.
Sabe-se que a justiça social só é completa e verdadeira, no que tange a
cobrança de tributos se for aliada a justiça fiscal que se traduz em apertada síntese,
na aplicação do princípio da proporcionalidade e razoabilidade, que viabiliza a
máxima de que quem ganha mais deve pagar mais, e quem ganha menos deve
pagar menos tributo.
Para se cumpra a justiça social sem abandonar a justiça fiscal verifica-se
que o imposto de renda é o imposto mais vocacionado ao cumprimento desse
equilíbrio.
Para que o imposto de renda cumpra esse papel, se torna necessário
criar mecanismos que possibilitem a observância do princípio da capacidade
contributiva e da pessoalidade que são instrumentos cumpridores da justiça fiscal.
Nesse diapasão nos três primeiros capítulos desta monografia aborda-se
a constitucionalização do Direito Tributário e procura-se estabelecer um estudo dos
princípios mais importantes ao cumprimento da justiça social e fiscal, com um foco
maior no princípio da capacidade contributiva no capítulo três por ser um dos objetos
principais de estudo desse trabalho.
8
Nos capítulos quatro, cinco e seis aborda-se um estudo sobre os temas
mais importante do imposto de renda no que tange a sua função de instrumento da
justiça fiscal e social.
No capítulo sete procura-se fazer uma reflexão sobre as mudanças pelo
qual passou o Estado no que tange a sua função de prestador de serviços públicos.
Os capítulos oitavo e nono trazem uma reflexão sobre conceito de justiça,
justiça fiscal e social e alguma noção sobre o mínimo existencial.
Por fim no capítulo dez procura-se estabelecer uma conexão entre o
imposto de renda e a justiça fiscal e social.
Foram realizadas várias pesquisas bibliográficas com autores renomados
não só da área tributária, mas também de outras do Direito e das Ciências Sociais.
9
CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO TRIBUTÁRIO
1
GRECO, Marco Aurélio Crise do Formalismo no Direito Tributário Brasileiro. Disponível em:
<http://www.pgfn.fazenda.gov.br/revista-pgfn/revista-pgfn/ano-i-numero-i/revista.pdf>. Acesso em
05.10.2011
2
GRECO, Marco Aurélio. Crise do Formalismo no Direito Tributário Brasileiro. Disponível em:
<http://www.pgfn.fazenda.gov.br/revista-pgfn/revista-pgfn/ano-i-numero-i/revista.pdf>. Acesso em
05.10.2011
10
“Uma relação historicamente conflituosa – como é a relação
Fisco/ contribuinte – era vista da perspectiva da proteção ao
cidadão viabilizada através de normas de bloqueio do exercício
do poder. Neste contexto, a lei em sentido formal passou a ser o
requisito indispensável para autorizar qualquer exigência pelo
Fisco. Iniciou o que se pode designar por “idolatria da lei” vista,
porém, como entidade virtual; ou seja, texto com vida própria
que se destaca do contexto que levou à sua produção e daquele
no qual será aplicada para assumir a condição de algo bastante
em si. Uma forte influência platônica e idealista.” 3
JUSNATURALISMO
3
GRECO, Marco Aurélio. Crise do Formalismo no Direito Tributário Brasileiro. Disponível em:
<http://www.pgfn.fazenda.gov.br/revista-pgfn/revista-pgfn/ano-i-numero-i/revista.pdf>. Acesso em
05.10.2011
4
SARMENTO, Daniel. O Neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades. In: NOVELINO,
Marcelo (org.). Leituras Complementares de Direito Constitucional: Teoria da Constituição. 2. ed.
Salvador: Juspodivm, 2008
11
Nesse primeiro momento, os princípios eram tidos como axiomas
jurídicos, eram ideais de justiça a serem buscados. Embora considerados
importantes, localizavam-se fora do sistema jurídico e assim não se cogitava em
positivação ou aplicação concreta. Eram considerado
s o bem ideal, a justiça perfeita e assim possuía um alto grau de
abstração, e pouca ou nenhuma aplicabilidade jurídica.
POSITIVISIMO
PÓS –POSITIVISMO
5
CUNHA JR, Curso de Direito Constitucional. 2. Ed. Salvador: Juspodivm, 2008.p.144.
12
O pós-positivismo possibilitou uma nova ordem constitucional focada nos
direitos fundamentais e na dignidade da pessoa humana que só se concretizam com
a inserção dos princípios na ordem normativa.
Não se pode deixar de ressaltar que este movimento faz parte de um
conjunto de mudanças que desencadearam a constitucionalização do Direito, que
tem consequências muito mais amplas do que a normatização dos princípios.
Essas profundas mudanças trazidas pelo neoconstitucionalismo são bem
sintetizadas por LUIS ROBERTO BARROSO citado por Dirley da Cunha Júnior:
PRINCÍPIO DA IGUALDADE
6
CUNHA JR, Dirley Curso de Direito Constitucional. 2. Ed. Salvador: Juspodivm, 2008.p.37.
13
A igualdade sempre foi e ainda é tema tormentoso nas ciências humanas.
Procurar estabelecer sua dimensão que reflita justiça sempre foi um desafio.
A nova vertente constitucional do pós- guerra que colocou a dignidade da
pessoa humana como escopo de uma sociedade justa, trouxe também a
necessidade de se estabelecer regras que prestigiassem a igualdade material.
O pensamento aristotélico trazido por Rui Barbosa proclama o que seria a
igualdade material dizendo que “a regra da igualdade não consiste senão em tratar
7
desigualmente os desiguais na medida em que se desigualam”
Tal pensamento reflete a igualdade material que resumidamente é a
concretização da igualdade formal presente nos textos constitucionais.
A igualdade formal consta na Constituição Pátria de 1988, em seu artigo
5º, dispondo que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Nesta esteira temos que o artigo 150, inciso II, da Constituição Federal
traz o princípio da isonomia tributária, da seguinte forma:
“É vedado (...) instituir tratamento desigual entre contribuintes
que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer
distinção em razão da ocupação profissional ou função por ele
exercida, independentemente da denominação jurídica dos
rendimento, títulos ou direitos”.
Percebe-se que é regra especifica proibindo tratamento desigual para os
contribuintes que se encontram em situação equivalente.
Sobre o tema diz EDUARDO SABBAG:
“No plano semântico, nota-se que o referido preceptivo se põe
como um contraponto fiscal àquilo que se proclamou
afirmativamente no art.5º, caput, da Carta Magna. Com efeito,
enquanto neste se busca afirmar no plano positivo, uma
realidade, dispondo-se que “todos são iguais perante a lei”,
(...)”, no comando específico, afeto a isonomia tributária
(art.150, II, CF), almeja-se negativamente inibir uma dada
7
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 3 ed. Saraiva: São Paulo, 2009. p. 420
14
conduta, por meio do mandamento “é vedado instituir
tratamento desigual (...)”8
Assim tem-se que o princípio da isonomia tributária é direcionado ao
legislador vedando a produção de regras que criem privilégios a determinadas
categorias de pessoas de forma arbitrária.
Para que o imperativo da igualdade tributária se realize é necessário que
a carga tributária seja distribuída a todos os cidadãos em maior ou menor grau
respeitadas às especificidades.
Contudo o postulado não veda o tratamento desigual de forma genérica,
mas tão somente nos casos de equivalência de situações.
Portanto de forma simplificada pode-se afirmar que o artigo 5º consagra a
igualdade formal de forma genérica e o artigo 150, inciso II, aduz a igualdade
material específica na seara tributária.
Com efeito, o princípio da isonomia é vocacionado a concretização da
justiça nas diversas áreas da atuação humana.
10
RABELO NETO, Luiz Octavio. Direito Tributário como Instrumento de inclusão social: ação
afirmativa fiscal. Revista PGFN número 1 – 2011. Disponível em:
< http://www.pgfn.fazenda.gov.br/revista-pgfn/ano-i-numero-i/ano-i-numero-1-2011> Acesso em
15.10.12.
16
Muito assim se coloca hoje como discurso corriqueiro que a efetividade
dos direitos sociais está limitada pela chamada reserva do possível, significando que
só se avança em políticas públicas na proporção a disponibilidade financeira.
Neste contexto insere-se uma das funções do tributo: promover a inclusão
social diminuindo assim as desigualdades que impedem um desenvolvimento social
sustentável e organizado.
LUIZ OCTAVIO RABELO NETO em trabalho publicado na Revista da
Procuradoria Geral da Fazenda Nacional dispõe sobre a função do tributo:
11
RABELO NETO, Luiz Octavio. Direito Tributário como Instrumento de inclusão social: ação
afirmativa fiscal. Revista PGFN número 1 – 2011. Disponível em:
http://www.pgfn.fazenda.gov.br/revista-pgfn/ano-i-numero-i/ano-i-numero-1-2011
12
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 20.ed.São Paulo: Saraiva. 2007. p.47
17
A criação ou elevação dos tributos esteve sempre muito atrelada ao
financiamento de guerras ou ao déficit estatal, demonstrando a íntima ligação entre
a sua cobrança e a satisfação do interesse público secundário.
É evidente que não há como falar em sobrevivência do aparato estatal
desvinculado da cobrança de tributos, mas é necessário lembrar que sua função não
se esgota aí.
Sobre as múltiplas funções dos tributos dispõe LUIZ OCTÁVIO RABELO
NETO:
13
RABELO NETO, Luiz Octavio. Direito Tributário como Instrumento de inclusão social: ação
afirmativa fiscal. Revista PGFN número 1 – 2011. Disponível em:
http://www.pgfn.fazenda.gov.br/revista-pgfn/ano-i-numero-i/ano-i-numero-1-2011
18
Define-se confisco como apreensão e adjudicação ao fisco de bens do
patrimônio de alguém por violação da lei e como pena principal ou acessória. 14
O conceito jurídico o confisco liga-se precipuamente a atuação estatal de
expropriação do patrimônio do contribuinte sem justa indenização.
A Constituição Federal em seu artigo 150, inciso IV, veda a prática
confiscatória nos seguintes termos:
“Art.150 – Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estado, ao Distrito Federal e
aos Municípios:
(...)
IV- utilizar tributo com efeito de confisco;
(...)”
A Constituição atual diversamente das Constituições anteriores trouxe de
forma expressa, o postulado do não confisco vedando ao tributo esta roupagem.
O conceito de confisco traduz inicialmente a noção de penalidade. Com
efeito, o artigo 243, parágrafo único da Constituição Federal prevê o confisco de
todos os bens de valor econômico apreendidos em decorrência do tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins.
Nesse mesmo sentido o Estatuto da Cidade também prevê como sanção
a progressividade do IPTU em caso de subutilização do solo urbano.
Em outro giro será também confiscatória uma carga tributária que retire
do contribuinte a possibilidade de uma vida digna.
EDUARDO SABBAG discorrendo sobre a confiscalidade diante da carga
tributária total incidente sobre o contribuinte aduz que:
14
CONTI, José Maurício. Princípios Tributários da Capacidade Contributiva e da
Progressividade. São Paulo: Dialética, 1997. p. 37
19
todos os tributos que podem sobre ele incidir, em dado
período, destinados a uma mesma entidade tributante.” 15
16
Ibidem ,p. 242.
20
prestação desses serviços essenciais, sem a possibilidade da dedução total dessas
despesas no imposto de renda devido, colaborando assim para a quebra dos limites
da capacidade contributiva, evidenciando desta forma uma tributação confiscatória
em muitas ocasiões.
Esse assunto será melhor abordado quando do estudo do imposto de
renda.
21
SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 3ª Ed. São Paul: Saraiva. 2011. p.157
22
Ibidem, p. 157.
23
Ibidem,p. 158
22
tributos, obedecendo, todavia, às peculiaridades de
cada espécie tributária. 24
24
SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 3ª Ed. São Paul: Saraiva, 2011. p.161.
25
GRUPENMACHER, Betina.Aula expositiva no Curso de Pós Graduação em Direito Tributário.
Universidade Anhanguera-UNIDERP: 28.03.2012.
23
Nessa linha tem-se que a capacidade econômica, segundo as lições de
BETINA GRUPENMACHER, se traduz pela manifestação de riqueza através de
renda ou patrimônio ou disposição desta através de consumo. 26
Já a capacidade contributiva é uma decorrência da capacidade
econômica e só se materializará quando sobejar um mínimo existencial. Desta forma
pode-se ter capacidade econômica sem existir capacidade contributiva.
ALEXSANDER ROBERTO ALVES VALADÃO em tese de doutorado
defende a diferença entre capacidade econômica e contributiva citando autores
renomados:
26
GRUPENMACHER, Betina.Aula expositiva no Curso de Pós Graduação em Direito Tributário.
Universidade Anhanguera-UNIDERP: 28.03.2012.
27
VALADÃO, Alexsander Roberto Alves. O Mínimo Existencial e as Espécies Tributárias. Tese
( Doutorado em Direito)-Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 2008.Disponível em:
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/18288/Alexsander%20Roberto%20Alves
%20Valadao%20(tese).pdf?sequence=1. Acesso em 25.09.12.
24
Para a efetivação da justiça fiscal todos os tributos deveriam ter a
capacidade contributiva como um dos parâmetros se assim suas características
permitirem.
É cristal a lógica de que a aplicação do postulado da capacidade
contributiva é mais natural aos impostos ditos de caráter pessoal do que aos de
caráter real.
Ocorre que como bem explana Sacha Calmon Navarro Coêlho a
separação entre impostos reais e pessoais é um tanto equivocada, pois a carga
tributária invariavelmente cairá sobre pessoas e não sobre coisas. 28
Seguindo esta linha de raciocínio verifica-se que os bens estão
associados a pessoas, assim deve-se observar o postulado da capacidade
contributiva sejam os impostos de caráter pessoal ou real.
.
28
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 8 ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2005.p.80.
29
CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 26 ed. Malheiros
Editores, 2010.
25
Observa-se que quanto maior o número de faixas de alíquotas que
determinado tributo possua maior efetividade se dará ao postulado da capacidade
contributiva e assim maior será a justiça fiscal.
Muitas críticas se fazem especificamente ao imposto de renda por possuir
poucas faixas de alíquotas o que enfraquece a efetividade do cumprimento justiça
fiscal.
Embora o princípio da capacidade contributiva seja auto-aplicável temos
que sua efetividade só ocorrerá na perfeita observância da técnica da
progressividade.
Desta forma a progressividade da um caráter de pessoalidade aos
tributos, promovendo assim a justiça fiscal e a melhor distribuição da riqueza.
30
SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 3ª Ed. São Paul: Saraiva, 2011.p.180.
26
A aplicação da técnica da proporcionalidade deságua na regressividade,
fenômeno este que causa a concentração de riqueza e injustiça fiscal ao onerar de
forma mais severa as pessoas com menor poder aquisitivo.
Os tributos indiretos como o ICMS, IPI se utilizam da técnica da
proporcionalidade atingindo todos os contribuintes de forma indistinta. Assim os
menos favorecidos são atingidos por esses tributos de forma mais severa.
É notório que este fenômeno gera uma sobrecarga tributária, sobre
aqueles que possuem uma menor renda, impedindo assim o escopo maior da
tributação que seria a distribuição de riqueza, causando na realidade maior
concentração de riqueza.
Desta feita vemos que a proporcionalidade fere brutalmente o princípio
da isonomia e da mesma forma é inconciliável com o princípio da capacidade
contributiva
31
SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 3ª Ed. São Paul: Saraiva, 2011.p. 184
27
O sistema econômico nos primórdios se dava pelas trocas de produtos o
que dificultava a medição da renda. Só a partir da criação da moeda tornou-se
possível determinar a renda e assim tributá-la.32
No século XV, em Florença, instituiu-se a Décima Scalata, que significava
imposto progressivo. O imposto, porém, não era sobre a renda, mas sobre a
capitalização. A renda servia de índice para apurar o tributo, de forma que, pela
33
renda auferida, obtinha-se o patrimônio necessário para produzi-la.
Já nesses rudimentos do imposto de renda percebe-se que já havia um
traço da progressividade, pois a renda era parâmetro para cobrança do tributo.
No século VIII a França sob o comando de Napoleão, estava em conflito
com a Inglaterra e esta necessitava de recursos para financiar a guerra, e, portanto
se fazia necessário buscar esses recursos na sociedade.
Em 1796, o primeiro ministro inglês Willian Pitt, propôs aos diretores do
Banco da Inglaterra o “empréstimo de lealdade” que consistia num empréstimo
obrigatório a determinados possuidores de renda. Esta proposta não foi aceita e
assim continuavam os problemas para financiar a guerra. 34
Em 1797, Pitt ainda sem recursos adequados a guerra, solicitou alteração
no chamado “ assessed taxes” que consistia na cobrança de taxas que possuíam
como base de cálculo os gastos realizados pelas pessoas, pois este fato era
considerado como indício de riqueza.35
Nesta alteração os contribuintes foram divididos em classes de acordo
com os bens que possuíam e a base de cálculo era de acordo com esses bens.
Assim houve uma mudança na base de cálculo, pois a taxação não se dava
somente sobre os gastos realizados, mas era principalmente sobre os bens que
cada classe possuía.
32
Primórdios do Imposto de Renda no Mundo. Disponível em:
<http://www.receita.fazenda.gov.br/Memoria/irpf/historia/histPriomordiosMundo.asp- historia d IR.>.
Acesso em 10.10.2012.
33
Primórdios do Imposto de Renda no Mundo. Disponível em:
<http://www.receita.fazenda.gov.br/Memoria/irpf/historia/histPriomordiosMundo.asp- historia d IR.>.
Acesso em 10.10.2012.
34
Ibidem
35
Ibidem
28
Com tudo isso os contribuintes começaram a protestar contra essa
alteração, fato este não admitido pelo Estado alegando que a base de cálculo
continuava sendo baseada nos gastos realizados.
No final de 1798, ainda pressionado pelos gastos com a guerra Pitt
solicitou nova alteração no “assessed taxes” migrando de imposto sobre os gastos
para imposto sobre a renda. No ano seguinte o imposto sobre a renda começou a
ser cobrado nos moldes apresentados pelo primeiro ministro, agora com nova
denominação: “income tax”36
Nasce assim no mundo moderno na Inglaterra em 1799, o imposto sobre
a renda que taxava a renda superior a sessenta libras em dez por cento. 37
As criticas foram severas sobre esse novo imposto. Muitos acreditavam
que a taxação de provisória passaria a ser definitiva após a guerra, e também que
com o passar do tempo o percentual seria aumentado para poder suprir as
necessidades estatais.
A criação do imposto sobre a renda dobrou a arrecadação embora ficasse
aquém das expectativas estatais.
Com o cessar guerra entre a França e a Inglaterra em 1802, o “income
tax” foi suprimido, mas em 1803 com o retorno da hostilidade entre os dois países o
imposto foi novamente restabelecido com várias alterações proposta pelo sucessor
de Pitt, Addington.38
A partir de então os rendimentos eram tributados e classificados por
categorias. A cobrança começou a ser na fonte, houve isenção para determinadas
faixas de rendimentos e dedução para encargos de família.
Essas alterações aumentaram significativamente a arrecadação que
possibilitou o financiamento da guerra de forma satisfatória.
Com o fim da guerra o imposto foi suprimido em 1815, apesar da
necessidade de recursos para manutenção do estado inglês que se viu obrigado a
buscar outras fontes de recursos.39
36
Ibidem
37
Primórdios do Imposto de Renda no Mundo. Disponível em:
<http://www.receita.fazenda.gov.br/Memoria/irpf/historia/histPriomordiosMundo.asp- historia d IR.>.
Acesso em 10.10.2012.
38
Ibidem
39
Ibidem
29
Em 1842, forçado pela crise orçamentária, o imposto sobre a renda foi
retomado com novas alterações: aumentou-se o limite de isenções e a base de
cálculo passou a ser acima de 150 libras anuais.
A partir de então não foi mais suprimido e devido ao seu sucesso da
experiência inglesa expandiu-se para implementação em outros países da Europa,
nos anos seguintes.
Nos Estados Unidos nos meados do século XIX a tributação nos estados
do sul possuía base de cálculo diferente dos estados do norte.
Com a guerra de secessão os estados do sul aumentaram a base de
cálculo, porém, a arrecadação ficou aquém do desejado. Assim diante da
insuficiência arrecadatória, os estados decidiram que o imposto teria maior sucesso
se passasse a ser de responsabilidade do governo federal. 40
Então em 1861, o imposto federal sobre a renda foi instituído e cobrado
durante toda a guerra civil. Em 1863 criaram-se alíquotas progressivas que no ultimo
ano do conflito foram alteradas aumentando a arrecadação. 41
Com o fim da guerra começaram as críticas ao imposto sobre a renda e
assim foi suprimido em 1872.
O favorecimento de determinados ramos de negócios em detrimento de
outros causavam criticas e descontentamentos. Neste contexto o Congresso
apresentou um projeto de restabelecimento do imposto sobre a renda.
A Suprema Corte sob o fundamento de que a Constituição limitava a
tributação direta declarou o imposto sobre a renda inconstitucional por ser
considerado um tributo direto.
Em 1913, após reforma constitucional, o imposto de renda tomou assento
definitivo nos Estados Unidos.42
43
Ibidem
44
Primórdios do Imposto de Renda no Mundo. Disponível em:
<http://www.receita.fazenda.gov.br/Memoria/irpf/historia/histPriomordiosMundo.asp- historia d IR.>.
Acesso em 10.10.2012
45
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributario Brasileiro. 11 ed.,revista atualizada e complementada por
Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.58.
31
3ª categoria - Ordenados públicos e particulares, subsídios,
emolumentos, gratificações, bonificações, pensões e
remunerações sob qualquer título e forma contractual;
4ª categoria - Exercício de profissões não commerciaes e não
comprehendidas em categoria anterior.
Havia também alíquotas diferentes para cada faixa salarial em todas as
categorias.
Esse sistema de classificação só foi abandonado com a Lei 7.713 de
1988, quando adotou-se o sistema global de apuração.
As alíquotas também sofreram várias alterações ao longo dos anos e em
2009 sofreram novas alterações que vigoram até hoje. Assim temos quatro alíquotas
7,5%, 15%, 22,5% e 27,5%.
Segundo Hugo de Brito Machado as modificações introduzidas pela Lei
7.713 de 1988, deram uma roupagem de simplicidade ao sistema do imposto de
renda no que tange a apuração e declaração, mas em contrapartida houve um
comprometimento da pessoalidade do imposto afetando sobremaneira a
observância da capacidade contributiva . 46
46
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 29. Ed., p.323
47
CARNEIRO, Bernardo Lima Vasconcelos Carneiro. A inconstitucionalidade do limite de
dedução dos gastos com educação no imposto de renda pessoa física. Revista de Direito
Tributário, nº 203. p.33 -50.
32
da terra seria a única fonte de riqueza e, portanto geradora de renda.
As demais áreas da economia seriam apenas manifestações da
riqueza produzida pela terra;
b) Teoria da renda como produto do capital – Capitalismo- a renda teria
sua origem no capital, este acumulado pela burguesia em ascensão
nos sec. XVII e XVIII;
c) Teoria da renda como resultado do trabalho- teoria elaborada por
David Ricardo e desenvolvida por Karl Marx dizia que o trabalho
empregado para produzir uma mercadoria é que determinaria seu
valor. Assim a única fonte geradora de renda seria o trabalho humano;
d) Teoria da renda como a soma dos rendimentos pagos aos fatores de
produção organizados- Essa teoria alia aos três fatores de produção
(terra, capital e trabalho) um quarto fator que seria a organização
empresarial, sendo a renda o retorno financeiro dessa organização;
e) Teoria da renda poupada- foi a primeira teoria a procurar definir a
renda diversamente das teorias anteriores que se preocupavam com a
origem da renda. Portanto renda para esta teoria seria a renda não
consumida com bens necessários a vida;
f) Teoria da renda consumida – renda aqui seria a parcela dos
rendimentos utilizados para a manutenção da vida. A parcela não
consumida se converteria em capital.
g) Teoria da renda como totalidade dos ingressos – seria a totalidade dos
ingressos (movimentações positivas) verificados em relação a uma
determinada pessoa excetuando-se os gastos e as sobras;
h) Teoria do incremento patrimonial – para essa teoria a renda só se
daria s houvesse um aumento do patrimônio. Esta teoria subdivide-se
em outras duas, a saber:
h1) teoria do incremento patrimonial estático – o incremento
patrimonial verifica-se a cada ato demonstrativo de riqueza nova.
h2) teoria do incremento patrimonial dinâmico – só se verifica se
houve um incremento patrimonial após decorrido determinado lapso
temporal.
i) Teoria do conceito legalista de renda- para essa teoria renda é o que a
lei diz que é.
33
aquisição de renda, fato gerador do imposto, revelado pelo aumento do patrimônio
do contribuinte somente de caracterizará ao final de um interregno temporal fixado
em lei ...”48
34
tributária, especialmente sobre: a) definição dos tributos e suas
espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta
Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e
contribuintes.
Portanto, é inquestionável que o constituinte tenha operado sob
influência desses conceitos, não sendo demasiado registrar que a
Constituição Federal de 1988 recepcionou o comando do art. 43 do
CTN, adotando a construção do conceito de renda em torno da ideia de
produto, de resultado que viabiliza acréscimo patrimonial num
determinado período de tempo.49
Ultrapassado o esboço dos limites constitucionais ao conceito de renda,
far-se-á um breve estudo do conceito que trás a legislação infraconstitucional.
No Código Tributário Nacional está a definição de renda e proventos
nestes termos:
“Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e
proventos de qualquer natureza, tem como fato gerador a
aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica:
I – de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho
ou da combinação de ambos;
II – de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os
acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior.”
51
SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 3ª Ed. São Paul: Saraiva, 2011.p. 1081.
52
MACHADO, Hugo de Brito. Comentários ao Código Tributário Nacional. 2ª ed, Atlas, 2007, p.
448
53
SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 3ª Ed. São Paul: Saraiva, 2011.p. 1081.
36
Por último temos a progressividade critério ligado à capacidade
contributiva que tem como parâmetro as condições pessoais do contribuinte
determinado que quanto maior a capacidade contributiva maior será carga tributária,
buscando-se assim atingir uma maior justiça fiscal.
54
MOSQUERA, Roberto Quiroga. Renda e proventos de qualquer natureza. São Paulo: Dialética,
1996. p. 110.
55
MOSQUERA, Roberto Quiroga. Renda e proventos de qualquer natureza. São Paulo: Dialética,
1996.p.110-115.
56
Ibidem. p.115
37
Assim somente após o cálculo de receitas e despesas é que será possível
saber se haverá renda disponível à tributação.
No tocante ao estudo da renda é imperioso definir o que venha ser
patrimônio de uma pessoa.
A doutrina civilista define patrimônio como um complexo de relações
jurídicas de uma pessoa que tiver valor econômico, englobando, portanto, direitos e
obrigações com conteúdo econômico.
O conceito de patrimônio se faz importante para a sistemática do imposto
de renda da pessoa física, haja vista atrelar-se a incidência do tributo ao acréscimo
patrimonial.
A sistemática atual de apuração do imposto de renda pessoa física
impede a dedução de despesas dedutíveis a determinadas categorias de renda.
Exemplificando: se uma determinada pessoa vender seu imóvel para
custear procedimentos médicos como internações, procedimentos cirúrgicos e
outros, não poderá abater tais gastos do ganho de capital devendo sofrer a
tributação decorrente da diferença do valor de compra para o valor de venda.
Este desmembramento do patrimônio para efeito da aplicação das
deduções legais fere o próprio conceito jurídico de patrimônio da pessoa física tido
por uma universalidade de direito.
Tal sistemática não se coaduna com observância do caráter pessoal na
apuração do imposto devido previsto no artigo 145, parágrafo primeiro da
Constituição Federal, in verbis:.
38
da obrigação tributária principal, diante dos indícios e indicadores que melhor
aquilatem o fato tributável.”57
Desta forma essa divisão do patrimônio para efeito de incidência das
deduções legais fere o ditame constitucional da pessoalidade do imposto além de
descumprir o princípio da capacidade contributiva.
A sistemática de apuração do imposto de renda devido deve se dar
obrigatoriamente de tal forma que haja o cumprimento dos ditames constitucionais
da pessoalidade do imposto e da capacidade contributiva.
A obrigatoriedade se impõe pela expressão disposta no mandamento
constitucional “sempre que possível” que significa a contrario sensu que tal
observância não se dará em caso de impossibilidade técnica de determinado
imposto.
EDUARDO SABBAG de forma clara leciona neste sentido citando Aliomar
Baleeiro:
57
SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 3ª Ed. São Paul: Saraiva, 2011.p.161
58
SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 3ª Ed. São Paul: Saraiva, 2011.p.162
39
Como forma de observância da pessoalidade do imposto de renda e a
capacidade contributiva do sujeito passivo, a legislação prevê hipóteses de gastos
que poderão ser abatidos no computo do imposto de renda pessoa física.
Nem todos os gastos realizados pelo contribuinte são considerados
despesas dedutíveis isso porque a legislação acolheu a teoria do incremento
patrimonial dinâmico no que tange a renda como já explanado linhas acima.
BERNARDO LIMA VASCONCELOS CARNEIRO explica tal teoria nos
seguintes termos:
59
CARNEIRO, Bernardo Lima Vasconcelos Carneiro. A inconstitucionalidade do limite de
dedução dos gastos com educação no imposto de renda pessoa física. Revista de Direito
Tributário, nº 203. p.33 -50.
40
fato gerador do imposto sobre renda e proventos de qualquer
natureza é a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica
da renda ou dos proventos. Esses limites, que não podem ser
transpostos pelo legislador ordinário em face da hierarquia
normativa, são de enorme importância prática. Significam que o
legislador ordinário não pode estabelecer fórmulas que
impliquem a tributação do que não é renda, ou melhor, não pode
estabelecer fórmulas que impliquem a tributação do que não
seja aquisição da disponibilidade de renda ou de proventos.
Assim, não pode estabelecer a incidência do imposto sobre
indenizações, por exemplo, porque indenização não é
acréscimo, mas simplesmente restabelecimento do patrimônio.
Nem pode vedar a dedução de certas despesas, ou limitar os
seus montantes dedutíveis, pois isto implica tributar o que não é
60
renda”
41
Quando o Estado trouxe para si a responsabilidade de garantir os direitos
de segunda geração, ou seja, os direitos sociais, comprometeu-se
constitucionalmente em viabilizar, por exemplo, o direito a saúde, educação entre
outros.
Desta feita, quando o Estado falha em sua missão de prestar assistência
à saúde, educação de qualidade, entre outros serviços essenciais, e o contribuinte
para ter uma condição de existência digna se vê obrigado a realizar gastos nessas
áreas, utilizando-se do sistema privado de saúde, de educação ou de qualquer
serviço de prestação obrigatória pelo Estado, evidencia-se justo que recomponha
seu patrimônio deduzindo tais despesas do imposto de renda. Seria assim num
raciocínio singelo, um ressarcimento com gastos que não seriam de
responsabilidade do contribuinte.
Repousa sobre o Estado a obrigação constitucional de prestar de forma
adequada tais serviços não cabendo ao contribuinte assumir como suas, as
despesas geradas com serviços como de saúde e educação.
Assim, impor limitações às deduções legais soam inconstitucionais não
podendo prevalecer na sistemática do imposto de renda pessoas física.
Ademais impedir as deduções de forma integral fere frontalmente o
princípio constitucional da capacidade contributiva e da pessoalidade dos impostos.
42
No Brasil não foi diferente: houve um incremento na arrecadação com
vistas a aderir à onda do Estado prestador.
O papel da tributação na correção da distribuição de renda é de suma
importância, pois proporciona que as camadas sociais economicamente mais
favorecidas contribuíam de forma mais significativa, proporcionando o bem estar
social com maior uniformidade.
O grande desafio que o Brasil ainda enfrenta é a efetivação de medidas
destinadas a equalizar a distribuição de renda. Assim o país ainda frequenta o topo
das listas países com os piores índices de distribuição de renda.
Algumas políticas públicas com foco nas famílias de baixa renda
proporcionaram melhoras tímidas desses índices, mas ainda muito aquém do
aceitável para um país com alta carga tributária.
No Brasil observa-se que a má distribuição de renda deve-se em grande
medida pela ampla massificação dos tributos indiretos que geram o fenômeno da
regressividade afetando de forma severa os contribuintes com menor poder
aquisitivo e por consequência contribuindo com a concentração da renda.
Nos países que possuem um sistema tributário mais equilibrado
prevalecem os tributos ditos diretos que incidem sobre a renda e patrimônio haja
vista serem vocacionados a progressividade dando concretude à justiça fiscal e
assim contribuindo para equalizar a distribuição de renda.
Observa-se que a distorção do sistema tributário nacional cria um
antagonismo: as famílias de menor renda é que financiam de forma mais efetiva as
políticas públicas.
Estas distorções só podem ser corrigidas com a criação de um sistema
tributário mais progressivo ampliando os tributos diretos e diminuindo a carga
tributária dos indiretos.62
A ampliação da progressividade no mecanismo tributário proporciona o
aumento na disponibilidade da renda pessoal promovendo uma maior circulação de
riquezas.
62
Departamento de Estudos Técnicos do Unafisco Sindical.Desigualdade de Renda e
Progressividade do Imposto de Renda Pessoa Física Propostas para Ampliar a Base de
Arrecadação. Disponível em < http//www.sindifisconacional.org.br>. Acesso em: 13.10.2012.
43
Desta forma, o imposto de renda pessoa física deveria ter uma maior
amplitude de faixas de renda a serem atingidas e também um número maior de
alíquotas.
A ampliação da base de cálculo e também das alíquotas tornaria o
imposto de renda pessoa física mais progressivo proporcionando não só maior
distribuição de renda, mas também maior justiça fiscal. Isto porque a justiça fiscal
não se refere somente ao contribuinte baixa renda, mas a todo e qualquer
contribuinte.
63
LIMA, Renata Dayanne Peixoto de. Do WELFARE STATE ao Estado Regulador. Conteúdo
Jurídico, Brasília-DF: 09 out. 2009. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br>. Acesso em:
29 out. 2012.
44
O Estado prestador pode se assim melhor definido:
CONCEITO DE JUSTIÇA
46
O pensador divide a justiça em duas espécies: a distributiva e a corretiva.
Quanto à distributiva dizia que:
66
Ibidem,p.96.
67
ARISTÓTELES . Ética a Nicômacos . São Paulo: Editora Abril Cultural e Industrial S.A., 1973 .p.103
68
KELSEN, Hans. O problema da justiça. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 35.
47
Por fim afirma que não há um único e verdadeiro conceito de justiça,
sendo que cada indivíduo possui sua concepção de justiça. Portanto não há como
criar um conceito absoluto. 69
Pode-se dizer que existe um conteúdo mínimo do que venha a ser justiça:
a prevalência da dignidade da pessoa humana, que independe de época, modo ou
lugar em que esteja se buscando a justiça.
A JUSTIÇA SOCIAL
A justiça fiscal deve ser analisada sob dois ângulos: limites à oneração do
contribuinte e aplicação dos recursos arrecadados.
69
Ibidem,p.59.
48
No que tange aos limites da oneração do contribuinte a sistemática de
cálculo do imposto de renda deve curvar-se aos ditames constitucionais da
capacidade contributiva, da pessoalidade e da progressividade.
O princípio da capacidade contributiva como já analisado, impõe a
observância de que a oneração do imposto recaia somente naquilo que o Direito
Tributário pátrio adotou como conceito de renda e que a carga assumida pelo
contribuinte não ganhe contornos de ato confiscatório.
A pessoalidade determina que o a sistemática do imposto de renda leve
em consideração as situações pessoais do contribuinte na hora do cálculo do
devido.
A progressividade impõe que se estabeleça uma gama variada de
alíquotas que possibilitem uma maior carga tributária aos que possuem maior renda,
enquanto que os de menor renda paguem menos imposto ou sejam isentos.
Todos esses componentes visam estabelecer ao contribuinte uma carga
tributária dentro dos limites do razoável, sendo assim mais justa.
No aspecto jurídico a busca da justiça fiscal passa necessariamente pela
migração dos impostos de caráter indireto como IPI, ICMS, causadores do fenômeno
da regressividade, para os impostos de caráter direto que são vocacionados a
atender a pessoalidade e, portanto mais justos.
Em outro giro tem-se que a justiça fiscal não se esgota na observância do
princípio da capacidade contributiva, da verificação da pessoalidade, na aplicação
da técnica da progressividade quando da cobrança do imposto, mas também impõe
ao Estado o dever de aplicar os recursos obtidos de forma a contemplar todas as
camadas sociais, não perdendo o foco que o Direito Tributário deve ser forte
instrumento na distribuição da riqueza.
Atrela-se muito a ideia de justiça fiscal a diminuição da carga tributária,
mas é necessário ampliar os horizontes sobre o tema.
As discrepâncias geradas pela ínfima aplicação dos recursos em políticas
públicas, além de não cumprir o mais importante objetivo da tributação que é a
distribuição da riqueza, estimula em certa medida o desejo a sonegação.
Embora não seja o único fator que justifica o auto grau de sonegação no
país, a escassez na prestação do serviço público gera um desestimulo ao
pagamento de tributos.
49
Ronaldo Lindimar José Marton em estudo apresentado sobre os motivos
da sonegação aponta que a má aplicação do dinheiro público e a falta de
transparência na aplicação dos recursos públicos são dentre outros fomentadores da
sonegação tributária.70
No mesmo sentido ALICE BIANCHINI, citando estudo apresentado no
CONJUR em dezembro de 2007, aponta que a baixa aplicação dos recursos
71
públicos colabora para o fenômeno da sonegação.
Assim a existência de um sistema de saúde público de boa qualidade
prestado a população de forma ampla e um sistema educacional público eficiente,
amenizariam o descontentamento do contribuinte com o pagamento dos tributos o
que poderia levar em certa medida uma diminuição da sonegação.
Desta forma, um sistema tributário justo, harmonizado com um sistema de
políticas públicas eficientes levaria a um aumento da arrecadação.
Num terceiro ponto da justiça fiscal tem-se que esta está intimamente
ligada a justiça social.
A justiça social se cumpre na distribuição da riqueza e no cumprimento do
princípio da isonomia com foco na dignidade da pessoa humana.
Num viés mais filosófico do que técnico tem-se que a justiça fiscal
também se cumpre quando o contribuinte consegue visualizar e vivenciar a
aplicação da parcela de riqueza de que é alijado.
Assim nasce no contribuinte um sentimento de justiça que tem a
possibilidade de presenciar políticas públicas que promovam o desenvolvimento
nacional e individual.
Viver num país que possui um sistema de educação público eficiente que
não obrigue as famílias a gastar parte de seus recursos, que poderiam ser gastos
em novos projetos de vida, com escolas privadas; ter um sistema de saúde público
de padrão satisfatório, assim também como segurança, mobilidade urbana entre
outras inúmeras políticas públicas que promovem o bem estar social , traduzem um
outro viés da justiça fiscal que deságua na justiça social.
70
MARTON, Ronaldo Lindimar José.Reflexões sobre a Sonegação Tributária.Disponível em:
http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2248.
Acesso em 21.10.2102.
71
BIANCHINI, Alice. Material cedido na aula sobre crimes tributários no curso de Pós- Graduação no
dia 01.02.2012 Universidade Anhanguera UNIDERP.
50
9. O MÍNIMO EXISTENCIAL
51
Na seara tributária verifica-se que a proteção do mínimo existencial se
firma em grande parte, pelo princípio da capacidade contributiva, conforme se
depreende das lições de Ricardo Lobo Torres:
72
TORRES, Ricardo Lobo. O Mínimo Existencial e os Direitos Fundamentais. Revista de Direito
Administrativo. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, v.1, 1989, p. 29-31
73
ZILVETI, Fernando Aurélio. Princípios de Direito Tributário e a Capacidade
Contributiva. São Paulo: Quartier Latin, 2004. p. 206-207.
52
Como já abordado neste trabalho a tributação é um forte instrumento de
distribuição de riquezas e, portanto, importante mecanismo para a busca da justiça
social.
Sabe-se que não há como o Estado desenvolver políticas públicas
voltadas à busca da igualdade sem recursos financeiros que tem como origem à
cobrança de tributos.
Não há como se falar em distribuição de riqueza e geração de
oportunidades para que todos os indivíduos possam desenvolver-se sem esses
recursos financeiros.
A grande questão se firma no desafio de aperfeiçoar o sistema tributário
buscando um equilíbrio entre a justiça fiscal e a justiça social.
Originalmente justiça fiscal se cumpre com a adoção ampla de tributos
diretos, com o aperfeiçoamento de técnicas que privilegiem a progressividade, que
busquem cumprir os limites da capacidade contributiva e a pessoalidade.
Neste sentido o imposto de renda se mostra no sistema atual o imposto
mais voltado à efetivação da justiça fiscal desde que cumpra alguns requisitos:
mecanismo de alíquotas variáveis, prestigiando a progressividade; incremento das
hipóteses de deduções de gastos com serviços que deveriam ser prestados pelo
Estado, buscando dessa forma cumprir os ditames constitucionais da pessoalidade e
da capacidade contributiva.
Em outro giro, como já disposto linhas acima, a justiça fiscal também
possui uma vertente da justiça social. Assim esta se cumpre naquela quando dois
fenômenos são vividos pelo contribuinte: visualização do bom gerenciamento dos
recursos do qual contribui e participação nos benefícios gerados com a aplicação
desses recursos, que se traduzem nas políticas públicas implementadas pelo
Estado.
Desta forma o imposto de renda é dos tributos existentes no sistema
pátrio o mais vocacionado a atingir a harmonização entre a justiça fiscal e justiça
social.
53
CONCLUSÃO
54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIANCHINI, Alice. Material cedido na aula sobre crimes tributários no curso de Pós-
Graduação no dia 01.02.2012 Universidade Anhanguera UNIDERP.
KELSEN, Hans. O problema da justiça. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
55
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 29. Ed.
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 20.ed.São Paulo:
Saraiva. 2007.
SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 3ª Ed. São Paul: Saraiva, 2011.
56