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Em retrospecto, parece que havia indícios de problemas sérios no fordismo já em meados dos
anos 1960. Na época, a recuperação econômica da Europa Ocidental e do Japão tinha se completado,
seu mercado interno estava saturado e o impulso para criar mercados de exportação para os seus
excedentes de capital tinha de começar. (...) O consequente enfraquecimento da demanda de
consumo foi compensado nos EUA pelo combate à pobreza interna e pela guerra do Vietnã. Mas a
queda da produtividade e da lucratividade das empresas depois de 1966 marcou o começo de um
problema fiscal nos EUA que só seria sanado às custas da impressão de moeda, cujo efeito colateral
foi a aceleração da inflação e a inviabilização do dólar como moeda-reserva internacional estável. (...)
Foi também perto dessa época que as políticas de substituição de importações em muitos países do
Terceiro Mundo (da América Latina em particular), associadas ao primeiro grande movimento das
multinacionais na direção da manufatura no estrangeiro (no Sudeste Asiático em especial), geraram
uma onda de industrialização fordista competitiva em locais inteiramente novos, nos quais o contrato
de trabalho e as leis trabalhistas eram fracamente respeitados ou inexistentes. Daí por diante, a
concorrência internacional se intensificou à medida que a Europa Ocidental e o Japão, seguidos por
vários países recém-industrializados, desafiaram o domínio estadunidense no âmbito do fordismo a
ponto de fazer cair por terra o acordo de Bretton Woods e de produzir a desvalorização do dólar.
De modo mais geral, o período de 1965 a 1973 tornou cada vez mais evidente a incapacidade
do fordismo e do keynesianismo de conter as contradições próprias ao capitalismo. Na superfície,
essas dificuldades podem ser melhor explicadas por uma palavra: rigidez. No fordismo, havia
problemas com a rigidez dos investimentos em larga escala e de longo prazo em sistemas de
produção em massa que impediam maior flexibilidade de planejamento empresarial e necessitavam
de crescimento estável e sem variações negativas na demanda de consumo. Havia muita rigidez no
mercado de trabalho e nos contratos de trabalho estabelecidos – especialmente em grandes
empresas e transnacionais –, os quais dificultavam, por exemplo, demissões ou reduções na jornada
de trabalho com reduções de salário. E toda tentativa de superar esses problemas de rigidez
encontrava a força aparentemente invencível da classe trabalhadora – o que explica as ondas de
greve e os problemas trabalhistas do período 1968-1972. A rigidez dos compromissos do Estado foi se
intensificando à medida que programas de seguridade social (saúde, previdência e assistência social)
e direitos de pensão aumentavam sob pressão para manter a estabilidade política em um momento
em que a rigidez na produção dificultava expansões da base fiscal (aumento de impostos) para
propiciar gastos públicos.
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comunicação via satélite e a queda de custos de transporte, possibilitando cada vez mais a difusão
imediata dessas decisões.
Disponível em: HARVEY, David. Do fordismo à acumulação flexível. In.: HARVEY, David. A condição
pós-moderna. São Paulo: Loyola, 2005. p.135-140. Adaptado.