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HOMEM CRIATURA E PESSOA

“Formou o Senhor Deus o homem do pó da terra...” (Gn2.7) e, “Ordenou o


Senhor Deus ao homem, dizendo...” (v.16). Estes dois versos da Escritura
demonstram, e o fazem de forma bem objetiva, que o homem é tanto
uma criatura, quanto uma pessoa. A condição de criatura advém do fato
de que ele veio a existir por obra da ação criadora de Deus e, a condição
de pessoa, porque ele recebe ordem ou orientação de Deus para agir. Ou
seja, o homem não é um ser autômato, que age por simples impulsos
“eletrocelestiais” que extrapolam ao seu controle, como se fosse uma
máquina sem vontade. Entender o homem sob os dois aspectos – criatura
e pessoa-, os quais se completam ao invés de mutuamente se excluírem,
tem relevância para o desenvolvimento de uma vida equilibrada em todos
os sentidos.
Negar o elemento pessoal que permeia a criatura humana, feita à imagem
de seu Criador, para dizer o mínimo, é reduzi-la a uma condição que lhe
retira faculdades inerentes ao seu ser. Retirar da pessoa sua característica
de criatura é privá-la de uma origem nobre.
Ao tratar do homem como criatura, Hoekema escreve: “Uma das
pressuposições básicas da concepção cristã do homem é a fé em Deus
como criador, que conduz à compreensão de que a pessoa humana não
existe autônoma ou independentemente, mas como uma criatura de
Deus”.
Todavia, quando volta sua análise para o homem sob o ponto de vista da
pessoa, o mesmo autor registra: “Ser uma pessoa significa ter alguma
forma de independência – não absoluta, mas relativa. Ser uma pessoa
significa ser capaz de tomar decisões, de estabelecer objetivos e ser capaz
de perseguir esses objetivos. Significa possuir liberdade – ao menos no
sentido de ser capaz de fazer as suas próprias escolhas. O ser humano não
é um robô cuja conduta é totalmente determinada por forças exteriores a
ele; ele tem o poder de autodeterminação e de autodireção. Ser uma
pessoa significa, para usar a expressão pitoresca de Leonard Verduin, ser
uma “criatura de opção”.
Com facilidade da Escritura se nota que ela ao homem se dirige
considerando-o como uma verdadeira criatura quando, por exemplo,
lemos o discurso de Paulo no Areópago, em Atenas com relação a atuação
de Deus: “porque ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração, e
todas as coisas. De um só fez todas as nações dos homens, para habitarem
sobre toda a face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes
ordenados e os limites da sua habitação” (At.17.26-27). Na condição de
criatura, o homem recebe de Deus a vida, a respiração e todas as coisas, já
que por si mesmo não tem como gerar para si a vida, a respiração e tudo o
mais que vem daquele que é o Senhor de tudo. Outras vezes o registro
escriturístico não deixa dúvida de que o próprio Deus vê o homem como
uma pessoa, dotado de liberdade para exercer escolhas, até mesmo
aquelas que o levam a andar em direção oposta ao seu Criador, quando
lemos: “Mas se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem
sirvais, se aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e
minha casa serviremos ao Senhor” (Js24.15). Ao convocar povo de Israel
não seguir a Deus automaticamente mas sim escolhendo-O dentre os
outros deuses Josué demonstra que não está tratando somente com
criaturas mas também com pessoas que pensam, que avaliam, que optam
e que decidem. Quando a seu tempo o pregador adverte: “Lembra-te do
Teu Criador nos dias da tua mocidade...” (Ec12.1) ele o faz dentro do
pressuposto que lembrar de Deus não é uma coisa compulsória da
criatura, visto que agindo como pessoa o homem pode esquecer-se de
Deus e deixar de considerá-lo em seus caminhos, ou então para Ele se
voltar, dando-lhe importância em seus dias.
É magnífico pensar que o Criador, embora pudesse fazer criaturas
condicionadas, optou por criá-las livres, e nisto está não só a beleza, como
também a responsabilidade de ser assim.
Afinal, se o homem fosse somente criatura e não pessoa, como imputar-
lhe responsabilidade pelos atos praticados? Com efeito, se o homem fosse
condicionado a praticar o que pratica, teria justiça da parte de Deus em
prescrever em sua Palavra: “que de toda palavra frívola que os homens
proferirem hão de dar conta no dia do juízo” (Mt12.36) ou ainda, “de
modo que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm14.12)?
Dotado de características especiais pelo próprio Criador, o homem pode
ouvir Sua ordem, entender seus preceitos e, querendo, obedecer a
orientação, daí sua singela caracterização como pessoa.
Talvez pudéssemos dizer que a tentação ocorrida no Éden teve como
proposta básica sacar do coração de Adão e Eva, como acabou ocorrendo,
a idéia de criatura, visto que lhes insinuou que, transgredindo a ordem do
Criador, eles seriam iguais a Deus: “sereis como Deus” (Gn3.5). Com a
sugestão de poder ser igual a Deus, o homem perderia sua característica
de criatura, colocando-se em notável destaque, muito maior do que
aquele que ganhou ao ser criado por Deus.
É preciso que os cristãos, aos menos estes, recobrem a dignidade de
serem, ao mesmo tempo, criatura e pessoa, pois isto tem implicações
notáveis para a própria existência, e grande proveito para uma vida
normal.
Quando no coração humano se agiganta o aspecto da criatura, a ponto de
neutralizar a idéia de pessoa, corre-se o risco de responsabilizar Deus por
atitudes pelas quais compete só ao homem responder, trazendo assim um
nível de comodidade ou mesmo de acomodamento pessoal que a
Escritura não abona para ninguém.
Muitas orações tendem a transferir para Deus atitudes que o crente, como
pessoa, tem o dever de enfrentá-las ou concretizá-las, em evidente
negativa ao seu aspecto de pessoa.
De outra forma, quando se eleva sobremodo a característica de pessoa,
em detrimento da visão do homem como criatura, avantaja-se-lhe de tal
forma a autonomia que Deus praticamente deixa de existir ou de ser
responsável por coisas que somente Ele pode conceder ou fazer.
Aqui, a ausência de uma vida de oração e de leitura da Escritura é um
indicativo a revelar que o crente tem-se por suficiente em si mesmo,
demonstrando com isto que não se tem como uma criatura que depende
em muitas coisas da ação benevolente do Criador em seu favor.
Estamos, na verdade, tratando de um paradoxo quando encaramos o
homem como uma criatura dependente de Deus e ao mesmo tempo como
uma pessoa capaz de tomar suas próprias decisões, e ser responsável por
elas.
A Bíblia mostra que o homem tem sua autonomia sim, e agindo nestes
termos responde integralmente por seus atos. Todavia, a mesma Escritura
demonstra que o Criador está acima das criaturas e dá a elas aquilo que
elas, a despeito de livres, não têm como buscar, encontrar, produzir ou
realizar.
É significativamente maravilhoso pensar que Deus, na qualidade de
Criador fez o homem dotado de faculdades que o capacita a andar, tanto
em direção aos seus iguais, quanto em direção ao seu Criador, ou mesmo
em direção oposta a Ele, e mesmo neste último caso, com as bênçãos dEle
provindas através do que se convencionou chamar de graça comum, que
são “as bênçãos naturais que Deus derrama sobre o homem na presente
vida, apesar do fato de que o homem perdeu o direito a elas e se acha sob
sentença de morte. A obra da graça divina se vê em tudo que Deus faz
para restringir a devastadora influência e desenvolvimento do pecado no
mundo, e para manter, enriquecer e desenvolver a vida da humanidade
em geral e dos indivíduos componentes da raça humana”.
Através do profeta Deus exorta o seu povo: “eis o caminho, ainda nele”
(Isa 30.21). A primeira parte da orientação demonstra que o povo é
tratado como criatura, eis que não podendo achar o caminho por si só e
recebe de Deus a orientação necessária a descobri-lo, ou seja, eis o
caminho. Na segunda parte, o povo é tratado como pessoa, visto que Deus
o convida a andar no caminho, já que não o fará simplesmente porque
dele tomou conhecimento mas sim, a partir do momento que optou por
ele.
Considerando o homem, simultaneamente, como criatura e pessoa diante
de Deus, podemos destacar três aspectos distintos desta relação: 1º )
existem coisas que somente Deus faz; 2º.) há situações que o homem e
Deus agem conjuntamente e, 3º.) têm atitudes de competência exclusiva
do homem.

1 – Ações de iniciativa exclusiva de Deus


Há uma esfera de atuação reservada exclusivamente a Deus, inclusive
naquilo que envolve o próprio homem, diante da qual suas criaturas estão
totalmente impossibilitadas de agir ou agir com Ele. Assim, sem pretender
esgotar a questão, é possível detectar claramente pela Escritura este
campo reservado ao Senhor, e por Ele mesmo reservado, visto ser o
Soberano, pré-existente e Eterno Deus da glória.
Assim, podemos ver Deus agindo com notável exclusividade quando cria o
homem lá no Éden; quando julga o homem através do Dilúvio; quando
chama Abrão para dele fazer uma grande nação; ao tempo em que dá a
Moisés os Dez mandamentos e lhe mostra a planta do Tabernáculo; ai
capacitar os profetas a falarem em Seu nome; agitando o mar para
acordar Jonas do sono da desobediência. Na esfera do Novo Testamento,
o envio do Filho Unigênito para salvação dos perdidos é atitude somente
de Deus; a vivificação daquele que está morto em delitos e pecados é obra
exclusiva daquele que vive; mandar chuva sobre justos e injustos compete
só ao Criador; chamar a existência as coisas que não existem é atribuição
única do Eterno; julgar os homens e conceder galardões aos redimidos
está reservado ao Justo Juiz; fazer nova todas as coisas está afeto ao que
nunca envelhece e não sofre sombra de variação; inspirar os homens para
escreverem a Escritura é ação do Espírito Santo; perdoar os pecados é
competência daquele que foi ofendido pelo pecador; trazer a Jesus Cristo
dentre os mortos somente Deus pode fazer, e o fez sem a ajuda ou
parceria de ninguém. Indefinidamente poderíamos catalogar ações
exclusivamente de Deus, e ficaríamos admirados de ver que temos um
Deus tão magnífico, ao qual podemos chamar de Pai pois fomos feitos
seus filhos através de Cristo Jesus. E isto também é obra exclusiva dEle.
2 – Ações de Deus compartilhadas com o homem
Deixando agora a esfera de atuação exclusiva de Deus, pensemos um
pouco a respeito do campo de ações partilhadas por Deus e pelo homem.
A santificação está adstrita à ação conjunta do Espírito Santo e do homem,
pois ninguém é mais consagrado do que deseja ser e do que o Espírito o
capacita ser; a mortificação dos feitos da carne também requer a
participação do crente e do Espírito, visto que é por intermédio deste que
aquele subjuga os feitos carnais; o conhecer a vontade de Deus implica na
disposição do homem de buscá-la e na do Espírito de revelá-la; a salvação
dos perdidos é uma ação do homem, que anuncia a Palavra e do Espírito
que aplica a Palavra anunciada ao coração do incrédulo; ir a Cristo
compete ao homem que se arrepende dos seus pecados, se volta do mal
caminho e a Deus que o leva a tal encontro; frutificar implica na
permanência do crente na Videira e da Videira lhe transmitir a “seiva”
necessária.

3 – Atitudes privativas da competência humana.


Todavia, existe um espaço dentro da vida cristã que o homem age sozinho
e deve assim fazer, porque é responsabilidade exclusiva sua, e não tem
como partilhá-la com Deus, visto que envolve sua vontade e disposição
pessoais. Assim, ler a Bíblia é ação eminentemente do homem; jejuar,
orar, contribuir, afastar-se do caminho do mal são práticas de cunho
pessoal; não apagar o Espírito; acolher os necessitados; cantar louvores a
Deus; deixar de falar a mentira; perdoar; negar-se a si mesmo e tomar a
cruz também estão no âmbito da disposição do indivíduo; filhos honrar os
pais; empregados serem responsáveis; patrões tratarem bem seus
empregados não são atitudes de Deus mas sim, da pessoa que foi
regenerada; meditar na Palavra de Deus; pensar nas coisas do alto; falar a
verdade, etc., denotam uma ação eminentemente humana.

Conclusão
Devemos buscar o necessário equilíbrio para vivermos uma vida cristã que
respeite estas três diferentes faces, a saber, considerar as ações de
iniciativa exclusiva de Deus, as ações de Deus e do homem e, as ações de
competência exclusiva do homem, de maneira que possamos depender de
Deus naquilo que compete somente a Ele realizar; depender de Deus ao
mesmo que nos esforçamos por realizar a parte que nos compete realizar
com Sua ajuda e, finalmente, sermos pessoalmente responsáveis por
aquilo que podemos e devemos fazer.
Soberania de Deus e responsabilidade humana são paradoxos que devem
ser mantidos em tensão, e todas as vezes que aumentamos um em
prejuízo do outro, tudo se torna estranho.
Se retirarmos a responsabilidade humana, Deus se torna responsável por
todos os nossos atos, inclusive por termos uma salvação não
desenvolvida, o que é um absurdo pensar assim. Por outro lado, se
retirarmos a soberania de Deus, isto faz com que nos tornemos
verdadeiros deuses, já que nos apresentaremos como capazes de realizar
tudo e todas as coisas por nossas próprias forças, o que também é um
absurdo.

A teologia do determinismo, segundo a qual Deus determinou tudo,


inclusive as mínimas ações humanas retira do homem a responsabilidade
de pessoa, robotiza seus feitos, e em nada glorifica a Deus.
Em contrapartida a teologia da deificação, através da qual o homem perde
seus atributos de criatura para assemelhar em tudo ao seu Criador,
vangloriando-se de feitos que vêm de Deus, que deve ser louvado para
sempre, tem riscos ainda maiores.

Somos normais quando reconhecemos ser criatura e pessoa ao mesmo


tempo. Deus nos criou para agirmos como pessoas sensatas,
reconhecendo Deus como Senhor, a quem devemos obedecer.
Se no Éden a tentação foi a proposta de Satanás para tornar o homem
somente pessoa, induzindo-o a negar seu caráter de criatura, em certos
ambientes religiosos a proposta atual às vezes se mostra invertida,
levando seus adeptos a negarem sua pessoalidade, tornando-os mera
criaturas.
Leiamos a Bíblia como pessoa, e como criatura dependamos do Espírito
para iluminar o nosso entendimento sobre aquilo que temos colocado
diante dos nossos olhos.
Oremos como criaturas, e obedeçamos como pessoas os claros preceitos
da Escritura, para que tenhamos, em tudo, ao menos uma aparência de
um ser completo, a saber, criatura e pessoa.

Lutero de Paiva Pereira

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