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AS REVOLTAS DA CHIBATA E DA VACINA: ALGUMAS REFLEXÕES

CUCATO, A. H. D¹; MATEUS, L. R¹; OLIVEIRA JÚNIOR, J.C¹; LEANDRO, S.H.B¹

¹ - Acadêmico do curso técnico integrado ao médio em Eletromecânica no Instituto Federal de Mato Grosso
campus Primavera do Leste.

INTRODUÇÃO

A proclamação da República brasileira ocorrida em 1889 não se configurou uma


grande mudança sociopolítica. Ao contrário dos discursos hegemônicos sobre o evento, o que
de fato houve foi a tomada do poder por uma determinada elite. A população brasileira, em
grande parte pobre, sequer participou do processo de proclamação. Houve, deste modo, uma
mera troca de mandatários políticos, sem nenhuma mudança significativa na vida da
população. O ínfimo eleitorado brasileiro é um bom exemplo para demonstrar o caráter
excludente da Primeira República, onde somente cinco por cento da população tinha direito ao
voto.
O fracasso da ditadura positivista e a grande instabilidade política provocou uma certa
indignação da população. Contudo, não houve um movimento consistente e unificado que
buscasse reformas e melhorias sociais e, os que surgiram, foram reprimidos com destreza.
Usando como pretexto a instabilidade política, as burguesias cafeicultoras paulistas e a
pecuária mineira se aliaram e ascenderam ao poder. Os militares, suplantados e cada vez mais
rechaçados politicamente, tentavam, com frequência, retomar o controle do Estado brasileiro.
Não obtiveram sucesso mas endossaram grandes revoltas, protestos e motins, a fim de
desestabilizar o governo oligárquico e plantar uma certa descrença na capacidade da burguesia
em oferecer melhores condições de vida para a população. É importante observar que embora
apoiassem qualquer revolta contra o governo, os militares não pretendiam realizar mudanças
estruturais na sociedade brasileira. Pretendiam, quase que exclusivamente, colocar em curso
um regime ainda mais positivista e autoritário. Embora fossem coesos, não obtiveram sucesso
e retornaram ao poder somente em 1964, em um regime perverso e cruel. Todavia, os militares
estiveram envolvidos nas duas das maiores revoltas urbanas eclodidas no período da República
Oligárquica.
Dotadas de ódio, as revoltas da Vacina e da Chibata reverberam até hoje e oferecem
uma compreensão interessante sobre a reação popular. Embora de caráter e pautas distintas,
tais revoltas envolvem agentes sociais e políticos que possuíam e ainda possuem grande
influência na sociedade. A primeira revolta, a da Vacina, envolve uma população pobre,
marginalizada e favelizada resistindo contra a opressão de um Estado repressor, seletivo e
higienista. Já a Revolta da Chibata, protagonizada por militares, em sua maioria negros, foi um
ato inflamado de ódio contra uma hierarquia militar extremamente racista e seletiva. Por
conseguinte, o estudo destes eventos, se analisados junto ao contexto em que aconteceram,
oferece não somente uma compreensão da realidade passada como fornece subsídios teóricos e
concretos para a elucidação da realidade sociopolítica atual.
A metodologia que embasa a pesquisa consiste basicamente em ampla revisão
bibliográfica. Houve também a pesquisa de manchetes jornalísticas publicadas durante as
revoltas e, por fim, a análise dos eventos e a identificação de possíveis paralelos entre o
passado e o presente. É esperado que haja, após a conclusão da pesquisa, uma melhor
compreensão da história e o entendimento das motivações das revoltas.
A REVOLTA DA VACINA

No início do século XX, a capital federal era o Rio de Janeiro. A cidade estava
crescendo de modo desordenado e sem nenhum tipo de planejamento por parte do poder
público. Esta rápida e desenfreada urbanização foi um dos principais fatores responsáveis pelo
surgimento de diversas favelas e cortiços na capital carioca. Estas moradias não possuíam
qualquer tipo de saneamento, se localizavam em áreas periféricas e era o local de residência de
uma população geralmente pobre. Esta falta de saneamento básico aliado ao descaso do poder
público propiciou o surgimento de várias doenças, como a varíola, a febre amarela, e a peste,
entre outras.
Diante da situação do Rio, o presidente da República na época, Rodrigues Alves, se
colocou à disposição para realizar uma reforma total do Rio de Janeiro, tornando uma cidade
preparada para ser a capital. Entre as medidas administrativas promulgadas por ele, houve a
designação de Oswaldo Cruz para ser o chefe de Saúde Pública, que junto com Pereira Passos,
prefeito do Rio, começou um projeto de limpeza e urbanização da cidade. Cruz logo submeteu
um projeto de lei ao Congresso Nacional que tornava a vacinação contra a varíola obrigatória.
Além disto, Oswaldo Cruz, acompanhado de alguns médicos como Domingos Freire e pela
vigilância policial, para o caso de alguma revolta, mandou demolir os cortiços e favelas
presente no Rio, despejando os moradores dos mesmos, deixando no lugar grandes avenidas,
seguindo o modelo de urbanização da cidade de Paris, como o presidente Alves queria.
Em 1904, a cidade foi assolada por uma epidemia de varíola. A epidemia foi o estopim
para que Oswaldo Cruz reforçasse a necessidade de aprovação do projeto de lei da vacinação
obrigatória. Com sucesso na aprovação da lei, Oswaldo cria uma polícia sanitária com poder
de invadir e desinfetar casas, caçar ratos e matar mosquitos, além disso, a brigada militar
entrava de casa em casa, vacinando as pessoas à força. A vacina havia sido testada somente em
bois, e como não havia inovações tecnológicas, a vacina causava uma extrema dor. Quando a
população tomou conhecimento da dor que a vacina causava e da brigada militar, entraram em
pânico, temendo os efeitos que o líquido desconhecido pudesse causar no corpo das pessoas.
Várias manifestações foram feitas e a imprensa se posicionou contra Oswaldo Cruz,
ridicularizando seus atos com charges e artigos.
Contudo, a Revolta da Vacina foi, de fato, o motim popular que ocorreu em 10 de
novembro de 1904. Durando cerca de 6 dias, houve o tombamento e incêndio de carroças, o
saque de lojas e a destruição de equipamentos públicos. Foram totalizadas cerca de 23 mortes,
67 feridos e mais de 950 pessoas presas, das quais mais da metade foram deportadas para o
Acre.
A mobilização popular surtiu efeito. O governo suspendeu a lei da vacinação
obrigatória e foi obrigado a dar explicações à população. Ao final da revolta, o governo
implantou uma nova vacina, não mais obrigatória, mas que obteve êxito na erradicação da
varíola na cidade.

A REVOLTA DA CHIBATA

Duas décadas após a abolição da escravidão, o Brasil comportava-se ainda como uma
sociedade escravista. Resquícios desse período eram fortemente presentes na Marinha
Brasileira, de onde a Revolta da Chibata eclodiu. Ocorrida em um período de 5 dias, de 22 a
27 de novembro de 1910, a revolta foi um movimento organizado pelos militares de baixa
patente da Marinha Brasileira, em protesto aos castigos físicos – que eram de no mínimo 25
chibatadas – a jornada de trabalho muito longa e aos baixos salários. Pode-se explicar tal
desvalorização dessa classe de militares devido a sua grande maioria ser composta por negros
ou mulatos, recrutados pela polícia de forma forçada.
Na primeira década dos anos de 1900, os marinheiros passaram a ter contato com as
armadas de países que já haviam extinguido esses castigos. Em 1909, um grupo foi a Inglaterra
e soube das lutas dos marujos ingleses por seus direitos e também da revolta da Marinha russa
ocorrida no encouraçado Potemkin no ano de 1904. João Cândido, que se alistara em 1895, aos
14 anos, estava entre esses marinheiros e, de volta, criou um comitê clandestino para organizar
uma revolta. A ideia era formar comitês nos outros navios e realizar o motim em 25 de
novembro de 1910, mas a punição ocorrida em 16 de novembro ao marinheiro Marcelino
Rodrigues Meneses no encouraçado Minas Gerais antecipou os acontecimentos. Marcelino
recebeu 250 chibatadas por levar cachaça a bordo e ferir um cabo a navalha. Mesmo
desmaiado o castigo continuou, o que gerou revolta na tripulação. Na noite de 22 de
novembro, chegando à baía de Guanabara, os marinheiros do navio Minas Gerais mataram seis
oficiais, entre eles o comandante Batista das Neves. Um sétimo oficial, o segundo-tenente
Álvaro Alberto, apenas ficou ferido e escapou para o encouraçado São Paulo e avisou os
outros oficiais, que fugiram para terra firme. Ainda naquela mesma noite, o motim se alastrou
para os encouraçados São Paulo e Deodoro, ao cruzador Bahia e a quatro embarcações
menores. No dia seguinte, um ultimato foi enviado ao governo. Os marinheiros exigiam que os
revoltosos não fossem presos e que as punições com chibatas não ocorressem mais. Caso não
fossem atendidos os marinheiros ameaçaram a capital Rio de Janeiro de ser bombardeada em
12 horas. Como a subversão da hierarquia era um dos principais crimes para as forças
armadas, a Marinha, o Congresso e o governo divergiram quanto à resposta a ser dada aos
rebelados. A tentativa do deputado e capitão de mar e guerra José Carlos de Carvalho de
negociar com os marinheiros não teve sucesso, e no dia 25 de novembro, o ministro da
Marinha, almirante Joaquim Marques Batista Leão, determinou que os navios rebelados
deveriam ser afundados. O governo e o Congresso, não apoiavam a decisão. Rui Barbosa,
deputado federal, considerava os castigos corporais como algo absurdo, após a abolição da
escravatura e defendia a anistia dos rebeldes. A anistia foi concedida no dia 26 de novembro,
quando o presidente Hermes da Fonseca aboliu os castigos físicos e que os revoltosos que se
entregassem seriam anistiados. Sendo assim, as embarcações foram devolvidas no dia 27, e a
rebelião encerrada. Mas no dia seguinte, alguns marinheiros foram expulsos, acusados de
indisciplina.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As revoltas eclodidas na Primeira República expuseram o caráter excludente do


sistema político brasileiro. Ambas urbanas, tais revoltas podem ser entendidas como o
resultado de um longo processo de opressão estatal e decorrentes de um modo de produção
desigual e de uma política dominada por interesses elitistas.
É interessante observar a atuação do Estado nas duas revoltas mencionadas. No
primeiro caso, na Revolta da Vacina, o Estado utiliza a violência não só para marginalizar uma
determinada classe como também para imunizar os indivíduos da classe economicamente
explorada. Este tipo de tratamento, predominante bruto e violento, ilustra a falsa preocupação
do poder público em oferecer acesso à saúde. A imunização da população pobre contra a
varíola somente ocorre devido ao risco de propagação da epidemia. Não há a criação de
mecanismos de acesso à saúde pública, nem sequer a curto prazo. Neste contexto, a revolta não
objetiva mudanças radicais ou estruturais. Busca-se, em um sentimento de desespero e de
avidez por uma sobrevivência digna, apenas melhores condições de vida. A pauta é eventual.
Não se observa demandas a médio ou longo prazo. Estas características e tipo de pretensões
também podem ser observadas na Revolta da Chibata que, embora travada em outro âmbito,
também é fruto do tratamento vil posto em prática pelo Estado e, ainda mais, pelas Forças
Armadas.

REFERÊNCIAS

FAUSTO, Boris. História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.
1995.

ALMEIDA, João Daniel Lima de. História do Brasil. Brasília: FUNAG. 2013. (Manual do
Candidato).

PORTO, Mayla Yara. Uma revolta popular contra a vacinação. Cienc. Cult., São Paulo, v. 55,
n. 1, Jan. 2003 . Disponível em:
<http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-
67252003000100032&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 25 de abril de 2016.

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