Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
net/publication/320352679
CITATIONS READS
0 1,072
5 authors, including:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Leonardo Cruz de Souza on 12 October 2017.
EPIDEMIOLOGIA DO TRAUMATISMO
CRANIOENCEFÁLICO NO BRASIL
RESUMO ABSTRACT
Introdução: O traumatismo cranioencefálico (TCE) é considerado a Introduction: Traumatic brain injury (TBI) is the leading cause of death
maior causa de morte e incapacidade em todo mundo, principalmente and disability worldwide, especially among young adults. In Brazil, it is
entre adultos jovens. No Brasil, estima-se que mais de um milhão estimated that more than one million people live with disabilities due
de pessoas vivam com sequelas neurológicas decorrentes do TCE. to TBI. Despite the high incidence of TBI and related socioeconomic
Apesar da sua alta prevalência e taxas de incidência em constante burden, epidemiological studies are scarce. Objective: To discuss the
elevação, estudos epidemiológicos permanecem escassos. Objetivo: available evidence regarding the epidemiological profile of Brazilian
Discutir as evidências disponíveis em relação ao perfil epidemiológico people victims of TBI. Methods: A literature review was conducted
da população brasileira acometida por TCE. Métodos: Realizou- on the SciELO, LILACS and PubMed databases. The terms used were
se uma revisão de literatura nas bases de dados SciELO, LILACS traumatic brain injury and/or epidemiology, and/or Brazil. Original,
e PubMed. Os termos utilizados na busca foram traumatismo descriptive and review studies that investigated only one specific
cranioencefálico, e/ou epidemiologia, e/ou Brasil. Para a busca no cause of TBI, only one level of severity or a specific age group were
PubMed foram utilizados os termos em inglês traumatic brain injury, not included in the current review. Results: Eight retrospective articles
e/ou epidemiology, e/ou Brazil. Foram incluídos artigos originais, published between 1993 and 2015 were included. Five studies were
descritivos e de revisão que não restringiram a causa, a gravidade conducted in emergency hospitals and three studies were based on
do TCE e a faixa etária estudada. Resultados: Foram encontrados databases records. Men under 40 years old were the most affected
oito estudos de 1993 a 2015, todos retrospectivos, sendo cinco deles group, and the main causes of TBI were falls and traffic accidents,
realizados em hospitais de emergência e três baseados em bancos de especially involving motorcycle. Conclusion: Sound epidemiological
dados. Indivíduos com menos de 40 anos, do sexo masculino foram os studies on TBI are still rare. All studies included were retrospective
mais acometidos e as causas principais foram quedas e os acidentes and only two reported national data. In this scenario, prospective
de trânsito, destacando-se os motociclísticos. Conclusão: Estudos epidemiological studies that systematically investigate the profile of
epidemiológicos robustos sobre o TCE no Brasil ainda sao escassos. TBI victims in Brazil are urgently necessary.
Todos os estudos foram retrospectivos e apenas dois apresentaram
dados nacionais. Nesse contexto, estudos epidemiológicos de Keywords: Traumatic Brain Injury, Epidemiology, Brazil
caráter prospectivo que investiguem de forma sistemática os fatores
associados ao TCE, são urgentemente recomendados.
1
Laboratório Interdisciplinar de Investigação Médica, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil.
2
Hospital João XXIII, Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais – FHEMIG, Belo Horizonte, Brasil.
3
Departamento de Morfologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil.
Endereço para correspondência: Aline S Miranda e-mail mirandas.aline@gmail.com Laboratório Interdisciplinar de Investigação Médica.
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Av. Prof. Alfredo Balena, 190, Sala 281 - Belo Horizonte, MG – Brasil – 30130-
100. Tel.: +55 31 34098073.
dade, profissão e estado civil dos pacientes, o que dificulta United States: emergency department visits, hospitalizations and deaths
2002-2006. Atlanta (GA): Center for Disease Control and Prevention, National
o levantamento epidemiológico mais aprofundado das ca- Center for Injury Prevention and Control.2010.
racterísticas das vítimas, visando estratégias de prevenção 7. Feigin VL, Theadom A, Barker-Collo S, Starkey NJ, McPherson K, Kahan
M, et al. BIONIC Study Group. Incidence of traumatic brain injury in New
e educação em saúde mais elaboradas. È notório também Zealand: a population-based study. Lancet Neurol. 2013;12:53-64.
8. Franciozi CES, Tamaoki MJS, Araújo EFA, Dobashi ET, Utumi CE, Pinto
que a maior parte dos estudos, pelo seu caráter retrospecti- JA, et al. Trauma na infância e adolescência: epidemiologia, tratamento
vo, não apresenta dados acurados acerca da caracterização e aspectos econômicos em um hospital público. Acta Ortop Bras.
2008;16(5):261-265.
clínica dos pacientes. A descrição minuciosa de comorbi- 9. Gawryszewski VP, Coelho HM, Scarpelini S, Zan R, Jorge MH, Rodrigues
dades (alcoolismo, por exemplo) e de parâmetros clínicos, EM. Perfil dos atendimentos a acidentes de transporte terrestre
por serviços de emergência em São Paulo, 2005. Rev Saúde Pública.
laboratoriais e de neuroimagem (à admissão e durante o 2009;43(2):275-282.
seguimento longitudinal pós-TCE) é fundamental para a 10. Gerberding, JL, Binder S. The Report to Congress on Mild Traumatic
Brain Injury in the United States: Steps to Prevent a Serious Public Health
identificação de marcadores prognósticos e para a melhor Problem. Atlanta, GA: Centers for Disease Control and Prevention. 2003;1-
45.
assistência desses pacientes 11. Giza CC, Hovda DA. The neurometabolic cascade of concussion. J.Athl.
È essencial também a conscientização dos profis- Train. 2001;36:228-235.
12. Hyder AA, Wunderlich CA, Puvanachandra P, Gururaj G, Kobusingye
sionais de saúde quanto à importância do preenchimento OC. The impact of traumatic brain injuries: A global perspective.
correto dos prontuários, para que sirvam como fonte de NeuroRehabilitation .2007;22:341-353.
13. Koizumi MS, Lebrão ML, Mello-Jorge MH, Primerano V. Morbidity and
pesquisa e permitam o estudo mais detalhado de agravos mortality due to traumatic brain injury in SãoPaulo City, Brazil, 1997. Arq
com taxas tão elevadas e com tanto impacto na saúde pú- 14.
Neuropsiquiatr. 2000;58(1):81.
Langlois JA, Rutland-Brown W, Wald MM. The epidemiology and impact
blica como o TCE.29 Somente com dados bem documenta- of traumatic brain injury: a brief overview. J. Head Trauma Rehabil.
2006;21:375- 378.
dos será possível traçar de forma mais elaborada o perfil 15. Maset A, Andrade A, Martucci S, Frederico LM. Epidemiolog features of
epidemiológico das vítimas, considerando as caraterísticas head injury in Brazil. Arq Bras Neurocir. 1993;12(4): 293-302.
16. Mass AIR, Stocchetti N, Bullock R. Moderate and severe traumatic brain
regionais, estabelecendo os fatores e hábitos de risco, para injury in adults. Lancet Neurol. 2008;7:728-741.
que possam ser estabelecidas campanhas de prevenção di- 17. Mauritz W, Wilbacher I, Majdan M, Leitgeb J, Janciak I, Brazinova A, et al.
Epidemiology, treatment and outcome of patients after severe traumatic
recionadas e específicas para cada região. brain injury in European regions with different economic status. Eur J
Public Health. 2008;18(6):575-580.
18. McAllister TW. Neurobiological consequences of traumatic brain injury.
CONCLUSÃO Dialogues Clin. Neurosci. 2011;13:287-300.
19. Melo JR, Silva RA, Moreira ED J. Características dos pacientes com trauma
Apesar das altas taxas de prevalência de TCE no cranioencefálico na cidade de Salvador, Bahia, Brasil. Arq Neuropsiquiatr.
Brasil e do seu significativo impacto econômico e social, o 2004;62(3-A):711-714.
20. Moura JC, Rangel BLR, Creôncio SCE, Pernambuco JRB. Perfil clínico
número de estudos com dados epidemiológicos consisten- epidemiológico de traumatismo cranioencefálico do Hospital de
tes permanece escasso. Todos os estudos foram retrospec- urgências e traumas do município de Petrolina, estado de Pernambuco.
Arq Bras Neurocir. 2011;30(3):99-104.
tivos e dentre os oito incluídos na presente revisão, apenas 21. Fernandes RNR, Silva M. Epidemiology of traumatic brain injury in Brazil.
Arq Bras Neurocir. 2013;32(3):136-142.
dois apresentaram dados nacionais, sendo baseados no 22. Pereira CU, Barreto AS, Moreira LCM. Traumatismos craniencefálicos
DATASUS ou seja, refletem apenas os casos relacionados leves. Estudo comparativo entre observação clínica e realização de
exames complementares. Arq Bras Neurocir. 2005;24(2):58-66.
a admissões hospitalares. Além disso, o registro de dados 23. Pereira CU, Duarte GC, Santos EAS. Avaliação epidemiológica do
relacionados a todo o país mais recente refere-se ao ano de traumatismo craniencefálico no interior do estado de Sergipe. Arq Bras
Neurocir. 2006;25(1):8-16.
2012. Nesse contexto, estudos epidemiológicos de caráter 24. Pereira CU, Leão JDBC, Ribas A, Santos EAS, Monteiro JTS, Duarte GC.
prospectivo que investiguem de forma sistemática os fato- Frontal epidural haematoma. Analysis of 30 cases. J Bras Neurocirurg.
2004;15(1):18-21.
res associados ao TCE, são urgentemente recomendados. 25. Pereira CU, Leão JDBC, Silva AD, Bispo DJS, Santos EAS. Hematoma
subdural inter-hemisférico traumático agudo. Arq Bras Neurocir.
2004;23(4):157-162.
26. Prins M, Greco T, Alexander D, Giza CC. The pathophysiology of
traumatic brain injury at a glance. Dis. Model. Mech.. 2013;6:1307-1315.
CONFLITOS DE INTERESSE 27. Ramos EMS, Silva MKB, Siqueira GR, Vieira RAG, França WLC. Aspectos
Os autores declaram não haver conflitos de inte- epidemiológicos dos traumatismos cranioencefálicos atendidos no
hospital regional do Agreste de Pernambuco de 2006 a 2007. Revista
resse. Brasileira em Promoção da Saúde - RBPS, Fortaleza. 2010;23(1):4-10.
28. Roozenbeek B, Maas AI, Menon DK. Changing patterns in the
epidemiology of traumatic brain injury. Nat Rev Neurol. 2013;9:231-236.
REFERÊNCIAS 29. Santos F, Casagranda LP, Lange C, et al. Traumatismo Cranioencefálico:
1. de Almeida CE, de Sousa Filho JL, Dourado JC, Gontijo PA, Dellaretti MA, Causas e Perfil das Vítimas Atendidas no Pronto Socorro de Pelotas/Rio
Costa BS. Traumatic Brain Injury Epidemiology in Brazil. World Neurosurg. Grande do Sul, Brasil. Rev Min Enfer. 2013;17(4):882-887.
2016; 87:540-547. 30. Tagliaferri F, Compagnone C, Korsic M, Servadei F, Kraus J. A systematic
2. Braga FM, Netto AA, Santos ER, Braga PB. Avaliação de 76 casos de review of brain injury epidemiology in Europe. Acta Neurochir.
traumatismo cranioencefálico por queda da própria altura atendidos na 2006;148:255-268.
emergência de um hospital geral. ACM Arq Catarin Med. 2008; 37(4):35- 31. Tallon JM, Ackroyd-Stolarz S, Karim SA, Clarke DB. The epidemiology of
39. surgically treated acute subdural and epidural hematomas in patients
3. Cassidy JD, Carroll LJ, Peloso PM, Borg J, von Holst H, Holm L et al. with head injuries: a population-based study. Can J Surg. 2008;51(5):339-
Incidence, risk factors and prevention of mild traumatic brain injury: 345.
results of the WHO Collaborating Centre Task Force on Mild Traumatic 32. Tennant A. Admission to hospital following head injury in England:
Brain Injury. J. Rehabil. Med. 2004;43:Suppl., S28-S60. incidence and socio-economic associations. BMC Public Health. 2005;5:21.
4. Colohan AR, Alves WM, Gross CR, Torner JC, Mehta VS, Tandon PN, et al. 33. Viegas MLC, Pereira ELR, Targino AA, Furtado VG, Rodrigues DB.
Head injury mortality in two centers with Traumatic brain injury in Brazil. Traumatismo cranioencefálico em um hospital de referência no estado
Arq Bras Neurocir. 2013;32(3):136-42. do Pará, Brasil: prevalência das vítimas quanto a gênero, faixa etária,
5. Coronado VG, Faul MM, Wald MM, Xu L. Traumatic Brain Injury in mecanismos de trauma, e óbito. Arq Bras Neurocir. 2013;32(1):15-18.
the United States: Emergency Department Visits, Hospitalizations 34. Werner C, Engelhard K. Pathophysiology of traumatic brain injury. Br. J.
and Deaths, 2002- 2006. Atlanta, GA: Centres for Disease Control and Anaesth. 2007;99:4-9.
Prevention. 2010.
6. Faul M, Xu L, Wald MM, Coronado VG. Traumatic brain injury in the
FLUXOGRAMA 1: Seleção dos artigos nas bases de dados Scielo, Pubmed e Lilacs.
Taxa de
Sexo Faixa
Faixa mortalidade
Autor Período População Fonte de relação masculino: etária mais Bases de
Local Variáveis analisadas etária Causas por 100 mil
ano estudado (N) pesquisa feminino/ acometida Dados
(anos) indivíduos/
porcentagem (anos)
porcentagem
-Idade
Maset A -Sexo
Região no norte Mortalidade
et al. Julho de 1986 a -Tempo de hospitalização Base de dados
do estado de 2151 0 a ≥ 61 2.37:1 20 a 29 Não relatadas 37,99 por LILACS
1993 junho de 1987 -Mortalidade regional
São Paulo 100.000
(15) -Dia da semana de ocorrência
do trauma
40,7% acidente
com meios de
-Causas
Melo JRT Hospital Geral transporte
-Idade Revisão 82,9% masculino LILACS
et al. do Estado 0a≥ Mortalidade
2001 555 -Sexo retrospectiva 21 a 30 SciELO
2004 da Bahia - 61) 25,4% agressões 22,9%
-Taxas de morbidade prontuários 17,1% feminino PubMed
(19) Salvador com ou sem armas
e mortalidade
24% quedas
Causas
Hospital 30,4% (52) queda
Ramos EMS -Idade Revisão
Regional do 81,2% masculino
et al -Sexo retrospectiva Mortalidade
Agreste de 2006 a 2007 171 0 a ≥ 61 25 a 40 19,9% (34) LILACS
2010 -Prevalência do TCE de fichas de 10,5%
Pernambuco 18,7% feminino acidentes
(27) -Procedência das vítimas internamento
21
Traumatismo Cranioencefálico no Brasil
22
-Causas
81,50 %
Fernandes -Idade 35,00% quedas
masculino
et al -Sexo
Brasil 2001 a 2007 440.000 14 a 69 DATASUS 14 a 34 Mortalidade 12% LILACS
2013 -Estimativas de morbidade 31,00%acidentes
18,5%
(21) e mortalidade hospitalar por de trânsito
Metropolitano
16% acidente
Viegas MLC de Urgência -Causas 88 % sexo
Janeiro de -Revisão motociclistico
et al. e Emergência -Idade < 20 a > masculino
2007 a 250 retrospectiva 20 a 30 Mortalidade22% LILACS
2013 (HMUE), -Sexo 60
março de 2008 deprontuários 14,4% ferimento
(33) Ananindeua -Mortalidade 12% sexo feminino
por arma de fogo
Pará
36,7 % sexo
Santos F et -Causas -Revisão
Pronto-Socorro masculino 47% quedas
al.. -Idade retrospectiva
da cidade de 2008 496 0 a 92 ≤ 15 Mortalidade2% LILACS
2013 -Sexo de fichas de
Pelotas - RS 63,3% sexo 15% agressões
(29) -Mortalidade atendimento
feminino
-Idade
-Sexo
Mortalidade
Almeida -Raça Admissão
Janeiro de 2008 125.000 intrahospitalar
CER et al -Incidência 0a> hospitalar em
Brasil a dezembro de internações DATASUS 20 a 29 Não especificadas 5 por 100 mil PubMed
2016 -Região de ocorrência 80 homens 3.5 maior
2012 por ano habitantes por
(1) -Custos que em mulheres
ano
-Tempo de hospitalização
-Mortalidade