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CAMPUS CURITIBA II
CENTRO DE ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES
MESTRADO PROFISSIONAL
CURITIBA
2019
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1. INTRODUÇÃO
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LEI Nº 12.060, de 18 de dezembro de 2001: Art. 1º Fica reconhecida a Bandeira do Contestado como
símbolo regional do Estado de Santa Catarina. Parágrafo único - A bandeira de que trata esta Lei será em
cor branca e terá disposta uma cruz verde de forma centralizada.
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2012, foi a instituído o dia 22 de outubro de 2012 como a data do Centenário da Guerra
do Contestado2, além de instituir a Semana de 20 de outubro de cada ano, como a Semana
do Contestado.
A produção artística se desenvolveu, alimentando-se destas informações e das
legislações que foram instituídas, despertando o interesse para novas pesquisas. Destaca-
se neste contexto, principalmente, as produções cênicas que têm cumprido um papel
pedagógico, político e social no rompimento da invisibilidade secular sobre o tema e o
Contestado em si. Pretende-se no presente trabalho registrar as produções teatrais sobre
a Guerra do Contestado, compreender o processo criativo, refletir sobre o impacto destas
no processo de visibilidade do conflito, no resgate da memória coletiva, na (re)construção
da identidade cultural dos remanescentes da guerra e no fortalecimento das atividades
artísticas nos municípios de Caçador, Lebon Régis, Salto Veloso e Timbó Grande em SC.
2. JUSTIFICATIVA
São incontáveis as histórias de vida dos que participaram da Guerra do
Contestado, a historiografia recente da guerra contabiliza mais de 20 mil mortos, mesmo
que oficialmente sejam apontados apenas 8 ou 10 mil mortos3, sendo a maioria caboclos
e caboclas. O conflito é descrito pelos historiadores, cientistas sociais, geógrafos e
antropólogos como um dos mais sangrentos e, também, mais complexos da história do
Brasil, no qual vários fatores se entrelaçam: sociais, políticos, econômicos, culturais e
religiosos.
A Guerra do Contestado aconteceu de 1912 a 1916, em "terras contestadas" do
Oeste/Sudeste/Sudoeste do Paraná e do Planalto Norte e Sul/Meio-Oeste/Oeste de Santa
Catarina, região marcada por disputas de limites entre os dois estados, a partir de 1853,
uma região rica em ervais e campos para criação de gado e muares. Mas a questão dos
limites, da região do Contestado, é anterior aos dois estados, pois o mesmo território era
pretendido pela Argentina, esta disputa foi definida apenas em 18954, concomitantemente
ocorria a disputa entre Santa Catarina e Paraná, segundo Fraga:
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LEI Nº 15.726, de 04 de janeiro de 2012: Art. 1º Fica instituído o dia 22 de outubro de 2012 como a data
do centenário da Guerra do Contestado.
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FRAGA, N. C. (org.). Contestado, redes no geográfico. Florianópolis, Ed. Insular, 2017; FRAGA, N.
C. Vale da Morte: o Contestado visto e sentido. Entre a cruz de Santa Catarina e a espada do Paraná.
Blumenau: Ed. Hemisfério Sul, 2010 e FRAGA, N. C. (org.). Guerra do Contestado, 100 anos do
Contestado em Guerra. Florianópolis, Ed. Insular, 2012.
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O litígio foi resolvido num arbitramento internacional, o presidente Grover Cleveland, dos Estados
Unidos, arbitrou o conflito. José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, foi o defensor
da posição brasileira, e sustentou no documento oficial que os moradores do oeste do Paraná e Santa
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Em 2012 foi rememorado o centenário da Batalha do Irani, mas esta é uma batalha
que não cessou, pois há problemas sociais e econômicos nos municípios que foram palco
dos combates e, principalmente, naqueles que os redutos caboclos foram dizimados, onde
verifica-se os menores resultados dos Índices de Desenvolvimento Humano de Santa
Catarina, isso contraditoriamente para um estado que possui um dos mais altos IDH’s do
Brasil, ou seja, não só a guerra civil foi propositadamente esquecida, mas toda a região
Silenciar sobre fatos ou processos densos tem sido uma estratégia de longa data
para controle social e exercício da hegemonia, aos quais conviria o
sepultamento da própria dialética, dado que não é possível remover as marcas
impressas pelos seres humanos em suas mediações exteriorizadas pelo ato de
produzir seus modos de vida, logo, a grafia de sua existência. (2012, p. 15)
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Salto Veloso, município localizado no Meio Oeste de Santa Catarina que pertence à região contestada.
O surgimento da vila, que deu origem e nomeou o município ocorreu no final do século XIX, quando o
caboclo Antônio José Veloso construiu sua casa junto ao rio, próximo de quedas d’água, em meio à mata.
Seu rancho tornou-se parada de descanso aos os tropeiros que conduziam o gado dos campos de Palmas
para à antiga Perdizes, hoje Videira. Salto Veloso. Disponível em: https://www.saltoveloso.sc.gov.br/,
acessado em 30/jan/2019.
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Começo a ligar os pontos diante de uma peça teatral que assisti em Salto Veloso
em 2008. Uma adaptação da peça “O Contestado” de Romário Borelli8 encenada pelo
grupo Temporá9 de Caçador SC. Saí do teatro com uma sensação estranha, me sentia
confusa e ignorante. Espanto e estranhamento são as condições básicas para a reflexão.
Começo a perceber a farta literatura e estabeleço conexões com pessoas interessadas no
assunto. Havia na região numerosas manifestações culturais, peças teatrais, músicas,
poesias, pinturas, fotografias, livros, filmes. Em 2010 participei da peça teatral “O
Exército Encantado de São Sebastião”, realizado, em 2009, pela Associação Cultural de
Salto Veloso, escrito e dirigido por Bárbara Biscaro 10 , com o apoio da Prefeitura
Municipal e com o patrocínio do Governo do Estado de Santa Catarina foi possível a
execução da peça. Entre os anos de 2010 e 2012 foram mais 15 apresentações em 13
municípios, incluindo Florianópolis e Curitiba.
A peça “O Contestado” de Romário José Borelli, citada anteriormente, além de
pioneira é sem dúvida a mais importante peça teatral sobre o conflito. Maciel (2009, p.
203) considera que graças à Borelli, muitos artistas e historiadores voltaram seus olhos
para a história do Contestado. Escrita em 1971, teve sua estreia em 1972, em Joaçaba –
SC, em 1974 ficou um mês em cartaz numa montagem com estudantes da USP, após
ficou quatro meses em cartaz no Teatro Célia Helena, também em SP. Em 1979 foi
produzida pelo Teatro Guaíra sob a direção de Emílio Di Biasi, em 1980 o grupo viajou
por diversos estados brasileiros, segundo Borelli (2006), desde então, mais vinte
montagens foram realizadas em universidades do Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
Atualmente há diversas produções teatrais sobre o tema, em Santa Catarina,
Paraná e outros estados, mas a presente pesquisa limita-se a 4 municípios catarinenses.
Caçador e Salto Veloso por suas produções artísticas que, na maioria das vezes, recebem
apoio de políticas culturais; Lebon Régis e Timbó Grande pela luta e resistência, sem
recursos e políticas culturais, nos quais as Associações Culturais promovem eventos e
manifestações artísticas sobre o tema que auxiliam no resgate da memória coletiva,
promovendo o acesso à criação e fruição artística.
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Romário Borelli é natural da cidade de Porto União - região do norte, planalto catarinense. É
bacharelado em história pela Universidade de São Paulo (USP), vivendo atualmente na cidade de Curitiba
- Paraná. É músico e foi diretor musical do Teatro Arena de São Paulo, no período de 1966 a 1971.
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O Temporá é um dos mais antigos grupos caçadorenses de teatro. Foi formado por universitários em
1990, com a intenção de apresentar a peça “O Contestado”, de Romário Borelli. A peça foi apresentada
de1990 a 2007 em mais de 70 municípios do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul Disponível em:
https://www.portalcdr.com.br/noticiasDetalhes.php?id=8091
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Graduada em Artes Cênicas e Doutora em Teatro pela Universidade do Estado de Santa Catarina.
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3. OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Analisar o papel das produções teatrais sobre a Guerra do Contestado no processo
de rompimento da invisibilidade do movimento sertanejo e na garantia de acesso aos
direitos culturais.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Analisar o processo de formação social da região da Guerra do Contestado, antes,
durante e depois da referida guerra;
Mapear a presença de produções cênicas sobre a Guerra do Contestado nos
municípios de Caçador, Lebon Régis, Salto Veloso e Timbó Grande em SC.
Investigar a demanda destas produções;
Analisar seus processos de criação, atuação e circulação;
Reconhecer entre as produções as teorias, métodos e técnicas teatrais empregadas;
Discriminar nas produções as memórias coletivas e oficiais do conflito;
Analisar a recepção e impacto pedagógico, político, social e cultural destas obras
no público e nos envolvidos nas produções em relação ao seu interesse pelo tema.
Identificar nos municípios selecionados a presença de legislação de políticas
culturais, como conselho de cultura, plano municipal de cultura e fundo de cultura.
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O presente projeto está inserido na Linha de Pesquisa Modos de conhecimento e
Processos Criativos em Artes no Programa de Pós-Graduação em Artes - Mestrado
Profissional e tem como referência ampla a definição de Cidadania Cultural e Direitos
Culturais. Os Direitos culturais são reconhecidos pela Unesco como “parte integrante dos
direitos humanos, que são universais, indissociáveis e interdependentes” (UNESCO,
2002, p. 3), abarcando o direito à 1) criação e difusão cultural, 2) participação na vida
cultural, 3) respeito às identidades e 4) o livre exercício das práticas plano culturais. O
conceito de Cidadania que está presente no Sistema Nacional de Cultura e no Plano
Nacional de Cultura, segundo Cunha Filho (p. 185, 2010) ele contempla: “1) Definição
antropológica de cultura, 2) política cultural como direitos igualitários dos cidadãos, 3)
criatividade e inovação, 4) resguardo das memórias coletivas e 5) acatamento da
legislação cultural considerada legítima”.
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5. METODOLOGIA
A presente pesquisa pode ser classificada com um caráter exploratório, uma vez
que seu objetivo “[...] é explorar um problema a fim de torná-lo explícito e possibilitar a
criação de hipóteses” (CAJUEIRO, 2013, p 21). De acordo com Cajueiro (2013), este
tipo de pesquisa exploratória é composto por levantamento bibliográfico, entrevistas com
pessoas que fazem parte do problema estudado e análise de dados.
Neste sentido, esta pesquisa fará uso, a priori, de a) levantamento bibliográfico –
análise e discussão de referencial teórico; b) pesquisa documental – análise de
documentos de fontes primárias; c) levantamento – interrogação direta das pessoas cujo
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1. CRONOGRAMA
Redação da dissertação
Revisão e conclusão da dissertação
Defesa da dissertação
2. REFERÊNCIAS