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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ

CAMPUS CURITIBA II
CENTRO DE ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES
MESTRADO PROFISSIONAL

CÉLIA REGINA DE BORTOLI

A GUERRA DO CONTESTADO EM CENA: O PAPEL DAS PRODUÇÕES


CÊNICAS NO PROCESSO DE VISIBILIDADE DO POVO CABOCLO E NA
GARANTIA DE ACESSO AOS DIREITOS CULTURAIS.

Projeto de pesquisa apresentado ao Programa de


Pós-Graduação em Artes - Mestrado Profissional.
Área de Concentração: Processos Criativos e
Educacionais em Artes. Linha de Pesquisa: Modos
de conhecimento e Processos Criativos em Artes.

CURITIBA
2019
1

1. INTRODUÇÃO

O presente projeto se propõe a pesquisar o papel da arte cênica e da cultura no


processo de visibilidade sobre a Guerra do Contestado, ocorrida no sertão do Paraná e de
Santa Catarina, entre os anos de 1912 e 1916, no acesso aos Direitos Culturais, na
promoção da (re)construção da identidade cultural e no fortalecimento do sentido de
pertencimento social dos remanescentes da guerra, bem como a aceitação deles e delas,
por outros grupos sociais na região.
Partindo da compreensão de que construímos a identidade e moldamos a
personalidade por intermédio do significado que damos às histórias de nossas origens e
que desta forma passamos a pertencer a uma família por laços sanguíneos e/ou afetivos e
por consequência a uma comunidade, verifica-se que a invisibilidade do massacre do
povo caboclo na Guerra do Contestado, resultante do silêncio imposto pelo vencedor,
provocou uma “ferida aberta”, termo recorrente na literatura atual sobre o conflito.
Conflito este que possui papel preponderante na construção da identidade e cultura
cabocla em toda a região do Contestado, com menos força nos municípios paranaenses,
mas com forte resistência, ao tema, nos dois estados.
A “guerra” ainda se faz presente nos municípios que foram palco dos combates
são socialmente subdesenvolvidos e culturalmente esquecidos pelo estado de Santa
Catarina, no que concerne as políticas públicas de ações desenvolvimentistas do estado.
Apesar de muitos registros oficiais, o desvelamento do conflito tem sido lento,
destaca-se nos anos de 1970, na área cultural, a estreia da peça teatral “O Contestado”, de
Romário José Borelli assim como o lançamento do filme “Guerra dos Pelados” do
cineasta catarinense Sylvio Back. Segundo Machado (2017), nos anos 70 também surge
uma renovação historiográfica do conflito através de estudos na área das ciências
humanas em geral.
Nos anos de 1980 constata-se o aumento do interesse científico, político e cultural
sobre o tema: pesquisas acadêmicas, literatura, música, poesia, artes plásticas, construção
de monumentos e de vinte marcos alusivos à guerra são instalados nos locais mais
marcantes dos conflitos e da resistência cabocla do. Em 2001 a Bandeira do Contestado
é oficialmente reconhecida como símbolo regional do estado de Santa Catarina1 e, em

1
LEI Nº 12.060, de 18 de dezembro de 2001: Art. 1º Fica reconhecida a Bandeira do Contestado como
símbolo regional do Estado de Santa Catarina. Parágrafo único - A bandeira de que trata esta Lei será em
cor branca e terá disposta uma cruz verde de forma centralizada.
2

2012, foi a instituído o dia 22 de outubro de 2012 como a data do Centenário da Guerra
do Contestado2, além de instituir a Semana de 20 de outubro de cada ano, como a Semana
do Contestado.
A produção artística se desenvolveu, alimentando-se destas informações e das
legislações que foram instituídas, despertando o interesse para novas pesquisas. Destaca-
se neste contexto, principalmente, as produções cênicas que têm cumprido um papel
pedagógico, político e social no rompimento da invisibilidade secular sobre o tema e o
Contestado em si. Pretende-se no presente trabalho registrar as produções teatrais sobre
a Guerra do Contestado, compreender o processo criativo, refletir sobre o impacto destas
no processo de visibilidade do conflito, no resgate da memória coletiva, na (re)construção
da identidade cultural dos remanescentes da guerra e no fortalecimento das atividades
artísticas nos municípios de Caçador, Lebon Régis, Salto Veloso e Timbó Grande em SC.

2. JUSTIFICATIVA
São incontáveis as histórias de vida dos que participaram da Guerra do
Contestado, a historiografia recente da guerra contabiliza mais de 20 mil mortos, mesmo
que oficialmente sejam apontados apenas 8 ou 10 mil mortos3, sendo a maioria caboclos
e caboclas. O conflito é descrito pelos historiadores, cientistas sociais, geógrafos e
antropólogos como um dos mais sangrentos e, também, mais complexos da história do
Brasil, no qual vários fatores se entrelaçam: sociais, políticos, econômicos, culturais e
religiosos.
A Guerra do Contestado aconteceu de 1912 a 1916, em "terras contestadas" do
Oeste/Sudeste/Sudoeste do Paraná e do Planalto Norte e Sul/Meio-Oeste/Oeste de Santa
Catarina, região marcada por disputas de limites entre os dois estados, a partir de 1853,
uma região rica em ervais e campos para criação de gado e muares. Mas a questão dos
limites, da região do Contestado, é anterior aos dois estados, pois o mesmo território era
pretendido pela Argentina, esta disputa foi definida apenas em 18954, concomitantemente
ocorria a disputa entre Santa Catarina e Paraná, segundo Fraga:

2
LEI Nº 15.726, de 04 de janeiro de 2012: Art. 1º Fica instituído o dia 22 de outubro de 2012 como a data
do centenário da Guerra do Contestado.
3
FRAGA, N. C. (org.). Contestado, redes no geográfico. Florianópolis, Ed. Insular, 2017; FRAGA, N.
C. Vale da Morte: o Contestado visto e sentido. Entre a cruz de Santa Catarina e a espada do Paraná.
Blumenau: Ed. Hemisfério Sul, 2010 e FRAGA, N. C. (org.). Guerra do Contestado, 100 anos do
Contestado em Guerra. Florianópolis, Ed. Insular, 2012.
4
O litígio foi resolvido num arbitramento internacional, o presidente Grover Cleveland, dos Estados
Unidos, arbitrou o conflito. José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, foi o defensor
da posição brasileira, e sustentou no documento oficial que os moradores do oeste do Paraná e Santa
3

Quando se desmembrou de São Paulo em 1853, o Paraná herdou um


problema de limites que vinha se arrastando desde os tempos do Brasil
colonial. Para os paranaenses a nova província limitava-se, ao sul, pelos
rios Pelotas e Uruguai. Para os catarinenses o Paraná terminava nos rios
Negro e Iguaçu. (2015, p.116)

Em meio a esta disputa, entre decisões e embargos, o governo imperial, com o


objetivo de integrar a nova região conquistada, decide pela construção da estrada de ferro
ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul. Segundo Fraga (2015, p. 121), em 1888 é
projetado o primeiro traçado (599 km), atravessando a região entre os rios Iguaçu e
Uruguai, região que na época era parcialmente administrada pela província do Paraná.
Em 1905 a empresa Brazil Railway Company do norte-americano Percival Farquhar
tomou posse do controle acionário da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio
Grande, sendo que umas das cláusulas previa a concessão de terras, 15 km de cada lado
do trilho para exploração das riquezas naturais e venda das terras, tendo a permissão de
expulsar os habitantes nativos da região, indígenas e caboclos.
O conflito armado teve como estopim a Batalha do Irani no dia 22 de outubro e
“terminou” em 20 de outubro de 1916 com a assinatura de um acordo que dividiu ao meio
a região contestada, ficando estabelecidos os limites entre os estados do Paraná e Santa
Catarina5. As aspas se fazem necessárias, pois para o sertanejo a guerra continuou, “[...]
o ano de 1917 é tido historicamente como o ano da “limpeza” das terras que estavam sob
o domínio da Lumber6 e dos coronéis.” Fraga (2015, p. 149) afirma que os coronéis com
seus milicianos e o corpo de segurança da Lumber fizeram o papel de “limpeza’, por meio
da morte e expulsão dos posseiros.

Em 2012 foi rememorado o centenário da Batalha do Irani, mas esta é uma batalha
que não cessou, pois há problemas sociais e econômicos nos municípios que foram palco
dos combates e, principalmente, naqueles que os redutos caboclos foram dizimados, onde
verifica-se os menores resultados dos Índices de Desenvolvimento Humano de Santa
Catarina, isso contraditoriamente para um estado que possui um dos mais altos IDH’s do
Brasil, ou seja, não só a guerra civil foi propositadamente esquecida, mas toda a região

Catarina eram falantes de português, o que os vinculava à unidade nacional brasileira.


5
No dia 20 de outubro de 1916, no Palácio do Catete, Rio de Janeiro, em ato solene, foi assinado o
“Acordo de Limites”, definindo assim os limites de cada estado. Cf. Fraga 2015.
6
A Southern Brazil Lumber & Colonization Company, conhecida como "Lumber", montada 1915 com o
objetivo de explorar a madeira e promover a colonização das terras da Brazil Railway Company.
4

do conflito permaneceu isolada e sobrevivendo à margem do desenvolvimento estadual.


Segundo Fraga:

Silenciar sobre fatos ou processos densos tem sido uma estratégia de longa data
para controle social e exercício da hegemonia, aos quais conviria o
sepultamento da própria dialética, dado que não é possível remover as marcas
impressas pelos seres humanos em suas mediações exteriorizadas pelo ato de
produzir seus modos de vida, logo, a grafia de sua existência. (2012, p. 15)

A Guerra continua, e batalhas vêm sendo travadas em diversos frontes:


autodidatas, historiadores, geógrafos, artistas, poetas, escritores, artesãos, dramaturgos,
lutam para resgatar, esclarecer e dar visibilidade a este episódio que foi propositadamente
calado, pois o registro oficial, e mesmo alguns historiográficos, monumentais,
museológicos e fotográficos são produzidos pelo ponto de vista do vencedor, para
Oliveira (2006, p. 134) prova disso é o fato de que legendas em fotografias e monumentos
costumam dar tratamento diferenciado aos brancos europeus, estes são designados com o
uso do nome e da origem, celebrando assim uma determinada política de identidade e de
memória em detrimento da memória do caboclo que costuma ser identificado como bando
de mestiços ou fanáticos, ou seja, de forma pejorativa.
Na batalha pela visibilidade da Guerra do Contestado e da memória coletiva em
detrimento da memória oficial, o teatro tem sido uma eficiente via de sensibilização e de
resgate da narrativa e da memória sertaneja. Consequentemente, tem auxiliado na
construção da identidade cultural desta região, pois resgata as raízes de um povo
contestado e traz à tona fatos anteriores a colonização europeia.
Como catarinense, nascida e residente em Salto Veloso7, na Região Meio Oeste,
há muito tempo reflito sobre nossa identidade cultural, ou a falta de reflexões sobre ela.
Monges, fontes milagrosas e conflitos eram termos conhecidos, porém desconexos, não
se encaixavam na história de minha cidade. Na narrativa dos colonizadores italianos a
vila de Salto Veloso foi fundada por eles que aqui chegaram em 1923, vindos do Rio
Grande do Sul com títulos de terras comprados nas companhias de colonização, desta
forma, Salto Veloso havia nascido em 1923, seguindo até hoje esse fato na memória
coletiva.

7
Salto Veloso, município localizado no Meio Oeste de Santa Catarina que pertence à região contestada.
O surgimento da vila, que deu origem e nomeou o município ocorreu no final do século XIX, quando o
caboclo Antônio José Veloso construiu sua casa junto ao rio, próximo de quedas d’água, em meio à mata.
Seu rancho tornou-se parada de descanso aos os tropeiros que conduziam o gado dos campos de Palmas
para à antiga Perdizes, hoje Videira. Salto Veloso. Disponível em: https://www.saltoveloso.sc.gov.br/,
acessado em 30/jan/2019.
5

Começo a ligar os pontos diante de uma peça teatral que assisti em Salto Veloso
em 2008. Uma adaptação da peça “O Contestado” de Romário Borelli8 encenada pelo
grupo Temporá9 de Caçador SC. Saí do teatro com uma sensação estranha, me sentia
confusa e ignorante. Espanto e estranhamento são as condições básicas para a reflexão.
Começo a perceber a farta literatura e estabeleço conexões com pessoas interessadas no
assunto. Havia na região numerosas manifestações culturais, peças teatrais, músicas,
poesias, pinturas, fotografias, livros, filmes. Em 2010 participei da peça teatral “O
Exército Encantado de São Sebastião”, realizado, em 2009, pela Associação Cultural de
Salto Veloso, escrito e dirigido por Bárbara Biscaro 10 , com o apoio da Prefeitura
Municipal e com o patrocínio do Governo do Estado de Santa Catarina foi possível a
execução da peça. Entre os anos de 2010 e 2012 foram mais 15 apresentações em 13
municípios, incluindo Florianópolis e Curitiba.
A peça “O Contestado” de Romário José Borelli, citada anteriormente, além de
pioneira é sem dúvida a mais importante peça teatral sobre o conflito. Maciel (2009, p.
203) considera que graças à Borelli, muitos artistas e historiadores voltaram seus olhos
para a história do Contestado. Escrita em 1971, teve sua estreia em 1972, em Joaçaba –
SC, em 1974 ficou um mês em cartaz numa montagem com estudantes da USP, após
ficou quatro meses em cartaz no Teatro Célia Helena, também em SP. Em 1979 foi
produzida pelo Teatro Guaíra sob a direção de Emílio Di Biasi, em 1980 o grupo viajou
por diversos estados brasileiros, segundo Borelli (2006), desde então, mais vinte
montagens foram realizadas em universidades do Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
Atualmente há diversas produções teatrais sobre o tema, em Santa Catarina,
Paraná e outros estados, mas a presente pesquisa limita-se a 4 municípios catarinenses.
Caçador e Salto Veloso por suas produções artísticas que, na maioria das vezes, recebem
apoio de políticas culturais; Lebon Régis e Timbó Grande pela luta e resistência, sem
recursos e políticas culturais, nos quais as Associações Culturais promovem eventos e
manifestações artísticas sobre o tema que auxiliam no resgate da memória coletiva,
promovendo o acesso à criação e fruição artística.

8
Romário Borelli é natural da cidade de Porto União - região do norte, planalto catarinense. É
bacharelado em história pela Universidade de São Paulo (USP), vivendo atualmente na cidade de Curitiba
- Paraná. É músico e foi diretor musical do Teatro Arena de São Paulo, no período de 1966 a 1971.
9
O Temporá é um dos mais antigos grupos caçadorenses de teatro. Foi formado por universitários em
1990, com a intenção de apresentar a peça “O Contestado”, de Romário Borelli. A peça foi apresentada
de1990 a 2007 em mais de 70 municípios do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul Disponível em:
https://www.portalcdr.com.br/noticiasDetalhes.php?id=8091
10
Graduada em Artes Cênicas e Doutora em Teatro pela Universidade do Estado de Santa Catarina.
6

3. OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Analisar o papel das produções teatrais sobre a Guerra do Contestado no processo
de rompimento da invisibilidade do movimento sertanejo e na garantia de acesso aos
direitos culturais.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
 Analisar o processo de formação social da região da Guerra do Contestado, antes,
durante e depois da referida guerra;
 Mapear a presença de produções cênicas sobre a Guerra do Contestado nos
municípios de Caçador, Lebon Régis, Salto Veloso e Timbó Grande em SC.
 Investigar a demanda destas produções;
 Analisar seus processos de criação, atuação e circulação;
 Reconhecer entre as produções as teorias, métodos e técnicas teatrais empregadas;
 Discriminar nas produções as memórias coletivas e oficiais do conflito;
 Analisar a recepção e impacto pedagógico, político, social e cultural destas obras
no público e nos envolvidos nas produções em relação ao seu interesse pelo tema.
 Identificar nos municípios selecionados a presença de legislação de políticas
culturais, como conselho de cultura, plano municipal de cultura e fundo de cultura.

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O presente projeto está inserido na Linha de Pesquisa Modos de conhecimento e
Processos Criativos em Artes no Programa de Pós-Graduação em Artes - Mestrado
Profissional e tem como referência ampla a definição de Cidadania Cultural e Direitos
Culturais. Os Direitos culturais são reconhecidos pela Unesco como “parte integrante dos
direitos humanos, que são universais, indissociáveis e interdependentes” (UNESCO,
2002, p. 3), abarcando o direito à 1) criação e difusão cultural, 2) participação na vida
cultural, 3) respeito às identidades e 4) o livre exercício das práticas plano culturais. O
conceito de Cidadania que está presente no Sistema Nacional de Cultura e no Plano
Nacional de Cultura, segundo Cunha Filho (p. 185, 2010) ele contempla: “1) Definição
antropológica de cultura, 2) política cultural como direitos igualitários dos cidadãos, 3)
criatividade e inovação, 4) resguardo das memórias coletivas e 5) acatamento da
legislação cultural considerada legítima”.
7

Segundo a publicação “As metas do Plano Nacional de Cultura” de 2013 as


políticas culturais não devem se ater as linguagens artísticas consolidadas, e sim
transcende-las numa visão ampliada articulando as diversas dimensões da cultura:
dimensão simbólica, dimensão cidadã e a dimensão econômica.
É através de políticas culturais que os Planos de Cultura (Federal, Estadual e
Municipal) são executados. Segundo Teixeira Coelho (1997, p. 292) políticas culturais
são as iniciativas, tomadas por agentes culturais, nas diversas esferas de poder, que
“visam promover a produção, a distribuição e o uso da cultura, a preservação e divulgação
do patrimônio histórico e o ordenamento do aparelho burocrático por elas responsável”.
Tendo como aporte as orientações e documentos do Ministério da Cultura, como
o documento de Estruturação, Institucionalização e Implementação do SNC (2011), é
fundamental no decorrer do processo estar atento às mudanças que estão sendo
implementadas no novo governo federal, como por exemplo a criação da Secretaria
Especial da Cultura em substituição do Ministério da Cultura.
Refletir sobre Direitos Culturais é pensar a sustentabilidade para comunidades e
culturas, considerando cultura e território como indissociáveis, sendo fundamental a
construção participativa de políticas públicas que estabeleçam mecanismos de proteção e
estímulo às manifestações culturais.
As apresentações cênicas sobre a Guerra do Contestado serão a via de acesso para
a pesquisa. Neste processo serão fundamentais as referências teóricas do “Teatro Épico”
de Bertold Brecht, (1898-1956), dramaturgo alemão que utilizava o teatro como
instrumento de luta política contra as contradições econômicas e sociais da sociedade
burguesa e do “Teatro do Oprimido” Augusto Boal, (1931-2009), dramaturgo e diretor
teatral brasileiro, que pretendia conscientizar politicamente o público, transformando a
visão sobre as relações tradicionais de produção material nas sociedades capitalistas
(HANSTED, 2013), pois a peça “O contestado” de Borelli é a primeira e principal obra
que investigou o conflito e Borelli, em entrevista publicada na tese “A Novadora
Dramaturgia Catarinense” afirmou:
O Contestado é toda fundamentada no teatro épico, de Brecht. Paralelamente
se vê a grande influência da dialética brechtiana particularmente nas reflexões
sociais. O socialismo que nos norteia está presente o tempo todo. Outra
influência da mesma origem é o Teatro de Arena. Não fiquei sete anos no
Arena por acaso. Houve, antes de mais nada uma afinidade com a linha de
trabalho do Teatro de Arena. Minha dramaturgia seguiu o Arena, sentiu
necessidade de aprofundar a forma de abordagem histórico. (Maciel, p.296,
2009)
8

Maciel (2009) em sua análise além de classificar “O Contestado” como sendo


épica, aponta outras influências como do teatro dialético de Brecht, Teatro Político e
Documentário de Piscator, o Drama histórico e o Teatro Documentário.
Tendo em vista que o objetivo é analisar as produções teatrais em Caçador, Lebon
Régis, Salto Veloso e Timbó Grande, encontraremos outras referências além das
presentes na peça de Borelli. Para tanto, utilizaremos Josette Féral, com seus estudos
sobre teatralidade, Carminda Mendes André para refletir sobre o papel didático do teatro
na escola e outros teóricos presentes nas disciplinas que serão cursadas no mestrado
ampliando o marco teórico sobre arte e cultura. Sendo o texto de Borelli o mais importante
sobre a Guerra do Contestado será fundamental o apoio da tese “A novadora dramaturgia
Barriga-Verde” de Jairo Cesar Maciel, na qual a obra é analisada.
Outro referencial teórico a ser estudado diz respeito aos conceitos de memória e
história, a fim de distinguir entre política da memória pública, de caráter oficial, da
política da memória coletiva, de caráter popular, pois é esta que garante a ressignificação
dos eventos permitindo a (re)construção da identidade cultura, para tanto será
fundamental o estudo de historiadores e filósofos.
Por fim, as referências sobre a Guerra do Contestado, prioritariamente as
bibliografias que vão além da historiografia oficial, aquelas que buscam relatos dos
remanescentes da guerra, que desmistificam fatos e preconceitos em relação ao povo
sertanejo. Outra fonte relevante são os trabalhos acadêmicos, principalmente a tese de
Susan Aparecida Oliveira “Guerra do Contestado: mimeses e políticas da memória”
(2006), na qual a memória pública e a memória coletiva da guerra são analisadas
apontando suas e finalidades distintas.

5. METODOLOGIA
A presente pesquisa pode ser classificada com um caráter exploratório, uma vez
que seu objetivo “[...] é explorar um problema a fim de torná-lo explícito e possibilitar a
criação de hipóteses” (CAJUEIRO, 2013, p 21). De acordo com Cajueiro (2013), este
tipo de pesquisa exploratória é composto por levantamento bibliográfico, entrevistas com
pessoas que fazem parte do problema estudado e análise de dados.
Neste sentido, esta pesquisa fará uso, a priori, de a) levantamento bibliográfico –
análise e discussão de referencial teórico; b) pesquisa documental – análise de
documentos de fontes primárias; c) levantamento – interrogação direta das pessoas cujo
9

comportamento se deseja conhecer; d) estudo de caso – interpretação de dados para


classificação e contextualização das informações (CAJUEIRO, 2013).
Desse modo, o conjunto dos tipos de pesquisa acima citados constituem uma
pesquisa, essencialmente qualitativa, cujo objetivo é a percepção de ações subjetivas da
pesquisa.
A pesquisa se constituirá inicialmente no levantamento bibliográfico para suporte
da mesma com autores ligados a história da arte, da cultura e da Guerra do Contestado,
assim como outras ciências como História, Antropologia, Literatura etc. E leituras de
legislações pertinentes a temática em tela.
Por conseguinte, num segundo momento, serão realizados trabalhos de campo nos
municípios selecionados, pesquisando as atividades teatrais e, mesmo artísticas em geral,
sobre a temática, para a aplicação de entrevistas semi-estruturadas com os sujeitos que
tratam da arte e da cultura regionalmente, com o poder público e demais envolvidos na
questão.
O terceiro momento, posterior aos trabalhos de campo, serão interpretados os
dados recolhidos, baseando-se nos teóricos estudados. O quarto e último momento
compõem-se da sistematização do levantamento bibliográfico, somado os dados e suas
análises, a fim da publicação de artigos para periódicos e, sobretudo na dissertação para
a conclusão da pesquisa, que envolverá a pesquisa documental sobre as produções cênicas
nos municípios selecionados: fotos, programas de peças teatrais, textos, as entrevistas
com produtores, atores e público, a análise das produções.

1. CRONOGRAMA

Atividade/ mês mar/jun jul/dez jan/jun jul/dez


2019 2019 2020 2020
Cumprimento de créditos
Revisão do projeto de pesquisa
Leitura e revisão bibliográfica
Coleta de dados
Análise dos dados
Redação da qualificação
Exame de qualificação
10

Redação da dissertação
Revisão e conclusão da dissertação
Defesa da dissertação

2. REFERÊNCIAS

BORELLI, Romário José. O Contestado. Curitiba: Orion Editora, 2006.


CAJUEIRO, R. L. P. Manual para elaboração de trabalhos acadêmicos: guia prático
do estudante. Rio de Janeiro: Bestbolso, 2013.
COELHO, Teixeira. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo: Iluminuras,
1997.
COMO ADERIR AO SISTEMA NACIONAL DE CULTURA. Disponível em:
http://portalsnc.cultura.gov.br/sobre/o-que-e-o-snc/. Acesso em: jan. de 2019.
CUNHA FILHO, Francisco H. Cidadania Cultural: um conceito em construção. In:
CALABRE, L. (org.) Políticas Culturais: diálogos e tendências. Rio de Janeiro:
Edições Casa de Rui Barbosa, 2010.
FRAGA, Nilson Cesar. Vale da Morte: o contestado visto e sentido “entre a Cruz de
Santa Catarina e a espada do Paraná. 2ª ed. – Blumenau: Hemisfério Sul, 2015.
______. Contestado em Guerra – Cem anos do massacre insepulto do Brasil – 1912-
2012. Nilson Cesar Fraga (org.). Florianópolis: Insular, 2012.
______. (org.). Guerra do Contestado, 100 anos do Contestado em Guerra.
Florianópolis, Ed. Insular, 2012.
HANSTED, Talitha Cardoso. Teatro, educação e cidadania: estudo em uma escola do
Ensino Básico. Dissertação (Mestrado em Educação) UNICAMP, Campinas, 2013.
MACHADO, Paulo Pinheiro. O Contestado na sala de aula. Cadernos do CEOM, v.
30, n. 46, Cultura e Sociedade, p. 73 – 80, 2017. Disponível em:
http://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/rcc/article/view/3485 . Acesso em: jan.
de 2019.
MACIEL, Jairo Cesar. A novadora dramaturgia Barriga-Verde. Tese (Doutorado em
Artes), USP, São Paulo, 2009.
MINC. As metas do Plano Nacional de Cultura. 3.ed. Brasília: MINC, 2013.
Disponível em: http://pnc.cultura.gov.br/wp-content/uploads/sites/16/2013/12/As-
metas-do-Plano-Nacional-de-Cultura_3%C2%AA-ed_espelhado_3.pdf. Acesso em: jan.
de 2019.
OLIVEIRA, Susan Aparecida. Guerra do Contestado: mímesis e políticas da
memória. Tese (Doutorado em Literatura), UFSC, Florianópolis, 2006.
SCAPIN, Alzira. O que somos e de onde viemos. Salto Veloso: Prefeitura de Salto
Veloso, 1996.

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