Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
RESUMO
O tema superdotação vem instigando inúmeros autores a buscarem cada vez mais
conceitos de inteligência e habilidades e consequentemente entender como se dá a construção
deste indivíduo. Por outro lado escritores juntam esforços para transcrever funções familiares
e sua evolução juntamente com a sociedade, trabalhando características e conceitos que
melhor expliquem sua dinâmica. Por esse motivo, nota-se importante juntar dois temas muito
diferentes e com muitas relações. Este trabalho procurou possibilitar a análise das vivências
das pessoas que apresentam Altas Habilidades/Superdotação e como lidam com essas
características no seu meio familiar. Através de uma pesquisa de campo, onde foram
entrevistados alunos que apresentam superdotação procurou-se identificar os sentimentos
vivenciados por estas pessoas perante suas características e a sua convivência familiar, como
este indivíduo se relaciona com sua família e como esta vem a influenciar em suas decisões e
escolhas, bem como verificar os sentimentos vividos em decorrência das expectativas
colocadas sobre ela. A partir disto chegou-se a conclusão de que a família é um grupo que
exerce grande influência sobre o individuo superdotado. Havendo necessidade da criação de
programas que amparem o sistema familiar, a respeito de dúvidas e mitos que surgem com o
aparecimento dos indicadores de Altas Habilidades/Superdotação, para que este indivíduo se
desenvolva plenamente e de forma saudável. Da mesma forma, há a necessidade de que novas
pesquisas sejam realizadas neste sentido, visando analisar a participação da família no
desenvolvimento dessas pessoas.
ABSTRACT
The subject giftedness is instigating several authors to search more and more
concepts of intelligence and abilities and consequently understand how the construction of the
person happens. On the other hand writers make efforts to transcribe family functions and its
evolution with the society, working features and concepts that better explain its dynamics. For
this reason, it’s important to join very different subjects and with many relations. This work
aimed to make possible the analyses on the other people living who present High
1
Acadêmica do Curso de Psicologia, 10ª fase, do Centro Universitário Facvest.
2
Psicóloga, Mestre em Psicologia UFSC, especialista em Psicanálise Infantil; Professora de Graduação em
Psicologia e Direito e Professora de Programa Pós-Graduação em Educação, Psicologia e Direito do Centro
Universitário Facvest e Fundação Universidade do Contestado (FUnC). E-mail: jeanejica25@gmail.com.
2
abilities/Giftedness and how they deal with these features in its familiar surrounding through
a field of research, where students who present giftedness were interviewed to try to identify
the feelings lived by these people according to their features and their family living, how this
individual relates, interacts with this family and how this family has influences on his
decisions and choices, as well as verifying the feelings lived due to expectations put on them.
From this, it was concluded that the family is a group which has great influence on the gifted.
Having the necessity of the creation of programs which support the familiar system concern
the doubts and myths that come up with the indicators of High abilities / Giftedness so that
this individual develops fully and in a healthy way. The same way, there’s the necessity of
new researches be accomplished in this way, aiming to analyze the participation of the family
in these people’s development.
INTRODUÇÃO
A compreensão dos aspectos que cerceiam as famílias que possuem crianças com
Altas Habilidades/Superdotação, passa por questões relacionadas aos conceitos de Altas
Habilidades/Superdotação e de família, salientando a importância desta para o
desenvolvimento infantil. Com relação ao conceito de AH/S (Altas
Habilidades/Superdotação), verifica-se uma multiplicidade de concepções, que permeiam
aspectos biológicos, psicológicos, comportamentais e sociais. Sobre o conceito de família,
observa-se uma mudança ocorrida ao longo dos anos, indicando que, com o desenvolvimento
e mudanças nas sociedades, os estilos de família também mudaram. Ela pode ser considerada
como um espaço sociocultural que é continuamente renovado e reconstruído, como um lugar
de natureza criativa e inspiradora (OLIVEIRA, 2009).
Estes dois conceitos acabam por se conectar e se entrelaçar durante todo o
desenvolvimento da pessoa, seja através das construções sociais, afetivas e cognitivas feitas,
tanto no âmbito familiar, quanto na escola e na sociedade como um todo. Por isso mesmo é
necessário que estes sejam trabalhados de forma a se perceber as relações existentes entre
ambos.
Com relação ao conceito de Altas Habilidades/Superdotação, pode-se dizer que este
vem se ampliando no decorrer do tempo e dos estudos realizados, como, por exemplo, através
do estudo de Gardner (2000) sobre inteligência, onde hoje se observa o indivíduo em sua
totalidade, analisando todas as habilidades em diversos âmbitos e domínios. Englobando
assim, inúmeras áreas em que o talento ou as habilidades podem se desenvolver. Segundo
documento produzido pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação é
adotado o seguinte conceito:
3
Outro autor que contribuiu grandemente para o estudo das AH/S é Renzulli e Reis,
1986, p. 11/12, que comenta:
Compreende-se então que a família pode ser considerada uma instituição de grande
influência sobre o indivíduo, seja ele superdotado ou não. Pois as características da
superdotação estão presentes somente em determinados momentos e sobre determinadas
circunstâncias, sendo a família a responsável por alimentar o sujeito em afeto e apoio, fazendo
com que este sobreviva emocionalmente (RENZULLI E REIS, 1986).
Esta é um sistema que permanece sempre vivo e formado por inúmeros movimentos.
Interações dinâmicas que são movidas por valores e crenças individuais, onde cada sujeito
que lhe constitui acaba por ocupar determinado lugar ou status com obrigações e direitos
específicos. Levando sempre em consideração o fato de a família ser uma instituição social
que molda o ser humano, tornando-se um espaço onde é transferida a cultura e o
conhecimento comum acumulado ao longo das gerações (OLIVEIRA, 2009).
5
METODOLOGIA:
6
RESULTADOS E DISCUSSÕES:
decorrer de toda a sua vida, sendo apenas melhorada ao passar dos anos. Porém este conceito
é muito debatido entre inúmeros autores que trabalham com desenvolvimento humano.
Harter (1985) citado por Fleith (2007, p. 48) diz que “o autoconceito não é um
constructo estático, mas composto de várias dimensões ou domínios, sendo assim, suscetível a
mudanças”. Quanto ao indivíduo com Altas Habilidades/Superdotação, formular o
autoconceito se torna ainda mais difícil, pois muitas vezes este acaba por esconder suas
potencialidades para poder se enquadrar nas expectativas sociais. Por outro lado, segundo a
mesma autora quando esta pessoa sente-se apoiada e amada em seu meio, consegue com uma
maior facilidade aceitar suas próprias características. Isso pode ser observado na fala dos
sujeitos S1, S2, S3 e S4, que participaram da pesquisa, ao serem indagados a respeito de como
se sentem ao apresentarem características de Altas Habilidades/Superdotação, descritas
respectivamente: “Eu na verdade me considero diferente”, “Ah, eu, na realidade, curto
bastante. É bem bom. Eu acho legal (...)”. “Eu não estou muito preocupado com o
diagnóstico”, “Eu me sinto feliz, porque não é uma coisa que todo mundo tem. É uma coisa
bacana. É uma característica que me faz ser diferente dos outros”.
Neste sentido, salienta-se a importância do acompanhamento individual do
superdotado, porque assim ele conseguirá perceber se o que está lhe sendo proposto é
realmente de seu interesse e irá lhe trazer benefícios, sejam na área cognitiva, bem como no
social e emocional. Já o atendimento a família do superdotado auxiliará para que esta, em um
todo, contribua e principalmente respeite os avanços da criança.
Quando se fala em desenvolvimento integral do indivíduo, fala-se em um
desenvolvimento que englobe todas as áreas do sujeito, sendo que estas envolvem o
desempenho cognitivo, suas habilidades, além das relações intra e interpessoais. Justamente
por isso é extremamente importante entender como o ambiente da criança com Altas
Habilidades/Superdotação, influencia o desenvolvimento desta, principalmente no que tange a
organização de suas atividades diárias e ao processo de estimulação. Vygotsky (1994) afirma
que a influência do ambiente sobre o desenvolvimento infantil, ao lado de outros tipos de
influências, também deve ser avaliada levando em consideração o grau de entendimento, a
consciência e o insight do que está acontecendo no ambiente em questão.
Winniccott em 1975, citado por Alencar, fala que a habilidade de “fazer” é baseada
na capacidade de “ser”, ou seja, se o indivíduo possui um espaço onde ele seja valorizado
como ser e possa realmente vir a ser o que ele deseja, o desempenho, ou o fazer surgirá com
mais naturalidade e talvez com mais intensidade, mas principalmente trará menos sofrimento
e frustração ao superdotado (WINNICCOTT, 1975, apud ALENCAR, 2001).
9
Landau (2002) fala que a superdotação é a relação entre o mundo interno da criança e
o ambiente no qual ela está inserida. Somente o fato de ter talento não é suficiente para que
este se desenvolva. É necessário também que o meio promova constantemente estímulos para
a evolução das potencialidades. Fleith (2007) afirma que indiferente ao nível socioeconômico
da família da criança com altas habilidades/superdotação e da escolaridade dos pais, esta
poderá desenvolver integralmente suas potencialidades se tiver pais responsivos às
necessidades de desenvolvimento dos filhos e que estão sempre à procura de oportunidades
educacionais, culturais e atividades extraclasse oferecidas a comunidade.
Isso pode ser observado unanimemente nas falas dos sujeitos que estiveram
presentes na entrevista como se vê na fala de S1: “Minha mãe sempre acreditou em mim e
sempre me motivou a buscar saber cada vez mais. Ela sempre apostou em mim em todos os
sentidos. Sempre me apoiou”.
Ou seja, o superdotado possui sim uma característica marcante de facilidade em
conteúdos acadêmicos, porém esta característica apenas irá se sobressair se o ambiente lhe
proporcionar estímulos suficientes para tal, como demonstra a fala de S2: “Meu pai me dá
muito apoio”. Entretanto, além de lhe proporcionar meios desafiadores para a construção de
uma maior aprendizagem ou satisfação da necessidade atual, é necessário que este meio
possibilite também ao aluno afetividade centrada na sua pessoa e não nas características da
sua superdotação (LANDAU, 2002).
Além disso, outro aspecto analisado durante as falas é o receio pelo diagnóstico, por
mitos que estão envolvidos tanto a respeito da superdotação quanto a respeito da Instituição
de Ensino Especializado. Segundo S2 “No inicio até era meio estranho, porque aqui na F.3 se
atende todos os tipos de crianças” e S4 diz que seus pais ficaram, no início, preocupados com
o que ele “poderia ter”. Isso é bastante comum, pois quando nasce na família uma criança que
se apresenta para a sociedade de forma diferente o sofrimento dos pais pode ser grande. A
intensidade deste sofrimento e a maneira como a aceitação acontece dependerá de inúmeros
fatores como a posição do filho na família, expectativas com a gravidez, etc. (PRADO, 2004).
Para isso, a busca por respostas e desmitificação dos conceitos sobre Altas
Habilidades/Superdotação em Instituições de Ensino Especializadas tem como objetivo, além
de trabalhar a habilidade da criança, também a auxiliar os pais a entenderem como estas
características se apresentam e como desenvolvê-las da melhor forma possível. S3 deixa isso
3
Instituição Especializada de Ensino localizada na capital de um estado no sul do Brasil, que atua com diferentes
diagnósticos de pessoas com necessidades especiais.
10
bastante claro em sua fala: “Meus pais não queriam que meus conhecimentos e aquilo que eu
sei fazer muito bem acabassem se perdendo, no caso, sem treino ou sem estimulação”.
Um estudo comparativo realizado por Chagas (2003), citado em Sakaguti (2010),
indicou que as famílias dos adolescentes superdotados tinham altas expectativas em relação
ao desempenho de seus filhos, mas priorizavam a educação, mobilizando recursos para o
desenvolvimento dos talentos que estes possuem.
Após a desmistificação de conceitos a respeito destas características, quando surgem
os indicadores de que a criança ou adolescente possui AH/S, podem ocorrer muitas
modificações na dinâmica familiar. Isso pode ser visto nos relatos dos participantes da
pesquisa, onde essas modificações foram realizadas para que este indivíduo possa participar
das atividades realizadas no NAAHS, principalmente daqueles meninos que residem em
outras cidades e precisam do deslocamento quase diário. Isso fica explícito na fala de S2, S3 e
S4, respectivamente: “Eu ter que vir duas tardes por semana para o NAAHS dispensa
dinheiro para o ônibus e tal”, “A única coisa mais complicada é que eu moro em S.A.I4 e meu
pai tem que me trazer duas vezes por semana aqui no NAAHS”, “Mas nossa maior
dificuldade é eu poder vir até aqui até porque meu pai tem que ir varias vezes por semana
visitar meu irmão mais velho, que ele fica internado no IPQ5 e meu pai é funcionário publico,
entrega contas de água.”
Segundo Silva & Fleith (2008, p. 5), nas famílias que possuem um dos seus membros
com Altas Habilidades/Superdotação:
Isso salienta que as necessidades das crianças com AH/S encontram-se, muitas vezes,
em primeiro lugar na organização familiar e tornam-se centrais a estas. Por outro lado é
importante observar como ocorre a dinâmica da família com os demais filhos que não
possuem AH/S, pois, segundo Martínez & Castiglione (1996), os pais acabam, muitas vezes,
por desenvolver uma relação afetiva mais positiva com a pessoa que possui superdotação do
que com os filhos que não possuem. Isso pode gerar uma maior competitividade, baixa
4
Cidade próxima a Instituição de Ensino Especializado localizada na capital de um estado no sul do Brasil que
atua com diferentes diagnósticos de pessoas com necessidades especiais.
6
Instituto de psiquiatria
11
autoestima e pouca cooperação. Além disso, outra questão abordada pelos autores é o fato de
muitos pais de crianças superdotadas terem matrimônios menos estáveis, pois a superdotação
pode ser vivida como fonte de conflitos no casamento.
Aspesi (2007), citado por Sakaguti (2010) salienta que é a família que constrói as
teias de apoio para prover o desenvolvimento de seus filhos, desde o nascimento. Para ele, “da
teia social das primeiras interações com a família, à medida que a criança cresce e se
desenvolve, são acrescidos os professores, amigos, especialistas ou outros pares também
talentosos que formarão a rede de apoio acadêmico, social e emocional”.
Desta forma a influência que a família exerce sobre a pessoa com Altas
Habilidades/Superdotação é mais uma vez confirmada. Pérez (2008, p. 2) mostra maneiras de
como a família pode vir a lidar com estas características:
estivesse com muita coisa pra fazer. Às vezes só que eu penso „será que as pessoas vão pedir
pra fazer alguma coisa que eu não vou conseguir fazer?‟, mas daí no fim eu acabo
conseguindo, as vezes estou cansado, mas sempre consigo fazer. Nunca tive um fracasso
muito relevante”.
A cobrança exagerada por um rendimento superior ou solicitações de atividades a
serem realizadas em demasia podem se tornar uma atitude com efeitos negativos se a pessoa
com Altas Habilidades/Superdotação não desejar por si própria os desafios propostos. Este ato
poderá ter como consequência desde a exaustão física até um rendimento muito mais abaixo
do que a média, além de desestimular a criança para qualquer outra atividade semelhante que
for proposta. Pode ocasionar também, anseios em demasia, por parte da criança, em não
decepcionar as pessoas ao seu redor gerando estresse e angústia interior (OLIVEIRA, 2009).
Esta mesma autora afirma que “o peso de ter que responder constantemente a altas
cobranças pode impedir que a criança ou jovem aceite a si mesmo, suas imperfeições, e
desista nos primeiros obstáculos de sua caminhada para escapar das pressões a que está
submetida” (OLIVEIRA, 2009, p. 82).
Como ilustra a fala de S2: “Só que alguns desenhos me dão vontade de rasgar no
meio, eu não sei por que, só dá vontade, é porque nunca parece que tá bom”, indivíduos com
AH/S tendem a ser bastante perfeccionistas. Isso, se mantido em equilíbrio, pode conduzir a
satisfação, ao favorecimento da criatividade e ser utilizado de forma produtiva na sua vida,
porém, se mal canalizado, tende a favorecer altos níveis de ansiedade e desistência do
objetivo inicialmente proposto.
Outro desafio enfrentado pelo indivíduo com Altas Habilidades/Superdotação é a
dificuldade de conseguir trabalhar em grupos. Winner (1998), comenta que estas crianças ou
adolescentes acabam sofrendo com o isolamento social, pois seu intelecto é de adulto e as
emoções são de criança. Isso pode ser confirmado pelo discurso unânime de todos os
participantes da pesquisa, sendo S1, S2, S3 e S4, respectivamente: “Costumo trabalhar
sozinho. Detesto o trabalho em grupo. Eu sou bastante individualista, então não tenho muitos
amigos. Se dá pra fazer sozinho algum trabalho eu sempre faço sozinho. Acredito que no
futuro vou ter novos amigos que pensam como eu”, “Não gosto muito de grupos, sei lá,
prefiro pensar mais sozinho mesmo. Não sei se é pelo tipo de atividades que faço. Sei lá,
ainda se é pra sair tudo bem, mas nas minhas coisas, tarefas, por exemplo, prefiro ficar
sozinho”, “Eu participo de poucos grupos, somente aqueles que são bem necessários mesmo,
então participo aqui, na escola, curso de inglês e natação. Ainda assim faço o mais sozinho
possível todos eles. E os amigos são mais pra sair de vez em quando, mas muito raramente” e
13
“Eu faço informática, frequento o NAAHS e a escola, não tenho muitos amigos, não gosto
muito de brincar, eu prefiro estudar ou fazer alguma coisa que eu goste e se tiver outra
pessoa comigo daí tem que ficar junto e fazer coisas junto com essas pessoas e eu prefiro
muito mais ficar sozinho”.
Vários autores (Clark, 1992; Neihar, Reis, Robinson & Moon, 2002; Silverman 1993
apud Virgolim, 2007 p. 44), concordam que, quando se fala de crianças superdotadas, altos
níveis de desenvolvimento intelectual não implicam, necessariamente, em altos níveis de
desenvolvimento afetivo. De qualquer forma é bastante importante se analisar as questões
sociais por diversos ângulos. Winnicott (1990, p.37), acredita que o isolamento social pode
ser muito positivo, pois: “a capacidade de ficar só é um fenômeno altamente sofisticado e tem
muitos fatores contribuintes. Está intimamente relacionada com a maturidade emocional”. Já
Landau (2002), diz que a criança superdotada pode ser comparada com uma criança que está,
em uma corrida de atletismo, disparada na ponta, no sentido intelectual, entretanto, sente-se
solitária emocionalmente. Da mesma forma, a autora traz que a família deve estar preparada
para lidar com esta dissincronia, pois evita assim que energia seja desperdiçada ao tentar
compensar o desequilíbrio.
Neste sentido o isolamento social pode ser compreendido como:
[...] o fato dos alunos estarem sempre fora do compasso em seu contexto
social, pois quando são agrupados com pares da mesma idade, estão fora de
compasso em termos cognitivos; quando são agrupados com pares intelectuais, estão
fora de compasso em termos sociais (FLEITH, 2007, p. 70).
No entanto, é importante destacar que elas necessitam da interação com o outro para
avançar e ir além do que já sabem, para aprofundar e buscar novas perspectivas. Além disso,
nos momentos de interação com o outro é que se cria o sentido de justiça, para que a criança
possa entender as diferenças entre as pessoas e conseguir conviver com elas de forma
saudável.
CONCLUSÃO:
Para se concluir a respeito de quais são os sentimentos vivenciados por pessoas que
apresentam superdotação, perante suas características e a sua convivência familiar, foi
necessário entender também de que maneira a pessoa com superdotação se percebe; que
características as pessoas que apresentam superdotação mencionam de seu desenvolvimento
14
Orgânicas dos Municípios e dos Estados, ao Conselho Nacional e aos Estaduais de Educação
e a profissionais da Educação o amparo legal desses (SANTOS, 1999, p. 24).
Além disso, é importante que haja união na família, a discussão das ideias e tomada
de decisões em conjunto, sendo esta uma facilitadora no processo de inclusão desta criança ou
adolescente nos demais grupos sociais, reduzindo os obstáculos que possam vir a surgir.
Na análise dos dados contidos nas entrevistas realizadas com adolescentes com
indicadores de Altas Habilidades/Superdotação pode verificar-se grande dificuldade de
organizar-se em grupo por parte dos participantes. Muitas vezes, esta dificuldade de encontrar
seus pares pode surgir por a criança não se sentir acolhida ou por não ser suficientemente
desafiada pelos contextos sociais. Além disso, como é demonstrado em algumas falas, o fato
de não encontrar pessoas com o mesmo interesse, ou na mesma intensidade, a pessoa acaba
por se tornar impaciente com os outros, tornar-se entediado com a escola, intolerante e crítico
demais.
A consequência natural é a de assumir um comportamento introspectivo, com
dificuldades de se expor pelo medo de não ser aceito e de cultivar sentimentos de baixa
autoestima. Porém é importante a permanência no seu contexto para aprender a conviver com
suas diferenças, realizar trocas e ampliar sua comunicação.
Nesse momento a família pode estimular para que a pessoa com Altas
Habilidades/Superdotação desenvolva uma rede de relações sociais. Pois situar-se em relação
aos seus pares, sejam eles sociais ou intelectuais, auxilia a criança a viver a experiência da
rivalidade e cooperação, rejeição e aceitação. Da mesma forma que ajuda a administrar a sua
agressividade e descobrir a cumplicidade e as noções de equidade e democracia.
Espera-se que este estudo tenha contribuído para a reflexão e o repensar de subsídios
para profissionais e famílias que atuam e estejam envolvidos com as Altas
Habilidades/Superdotação, servindo de suporte a estes. Por outro lado, espera-se que através
dos materiais coletados realizem-se mais estudos direcionados ao aprimoramento das práticas
destinadas a este público, com o objetivo de que as famílias consigam transformar as
preocupações em novas alternativas.
Por fim, a família deve estar instrumentalizada para desenvolver a capacidade de
fazer da criança e sua criatividade, buscando alcançar o potencial da pessoa com AH/S e que
este passe de algo secreto ou não trabalhado para a revelação e evolução, encorajando novas
perguntas e descobertas sobre o mundo com seu próprio pensar e com suas aprendizagens. E,
principalmente, que o receio de ser diferente dos demais se configure na postura de poder ser
criador, desafiando todos os limites do que é conhecido.
17
REFERÊNCIAS
GIL, Antonio. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 1999.
GUENTHER, Zenita. C., & FREEMAN, Joan. Educando os mais capazes. São Paulo:
Pedagógica e Universitária, 2000.
LANDAU, Erika. A coragem de ser Superdotado. 2ª ed. São Paulo: Arte & Ciência, 2002.
18
MINAYO, Maria. C. S.; DESLANDES, Suely. F.; NETO, Otavia. C. GOMES, Romeu.
Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 22ª edição. Petrópolis, RJ: Editora Vozes,
2009.
RENZULLI, Joseph. S. & REIS, Sally. M. The schoolwide enrichment model. Mansfield
Center, CT: Creative Learning Press, 1986.
VYGOTSKY, Lev. The problem of the environment. Em R. Vander Deer & J. Valsiner
(Orgs.), The Vygotsky Reader. Oxford, UK, 1994.