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SUPERDOTAÇÃO: A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NO DESENVOLVIMENTO DAS


ALTAS HABILIDADES

GIFTEDNESS: THE INFLUENCE OF THE FAMILY IN THE HIGH


ABILITIES’DEVELOPMENT

Michele do Amarante Borges1


Jeane Patrícia dos Santos2

RESUMO

O tema superdotação vem instigando inúmeros autores a buscarem cada vez mais
conceitos de inteligência e habilidades e consequentemente entender como se dá a construção
deste indivíduo. Por outro lado escritores juntam esforços para transcrever funções familiares
e sua evolução juntamente com a sociedade, trabalhando características e conceitos que
melhor expliquem sua dinâmica. Por esse motivo, nota-se importante juntar dois temas muito
diferentes e com muitas relações. Este trabalho procurou possibilitar a análise das vivências
das pessoas que apresentam Altas Habilidades/Superdotação e como lidam com essas
características no seu meio familiar. Através de uma pesquisa de campo, onde foram
entrevistados alunos que apresentam superdotação procurou-se identificar os sentimentos
vivenciados por estas pessoas perante suas características e a sua convivência familiar, como
este indivíduo se relaciona com sua família e como esta vem a influenciar em suas decisões e
escolhas, bem como verificar os sentimentos vividos em decorrência das expectativas
colocadas sobre ela. A partir disto chegou-se a conclusão de que a família é um grupo que
exerce grande influência sobre o individuo superdotado. Havendo necessidade da criação de
programas que amparem o sistema familiar, a respeito de dúvidas e mitos que surgem com o
aparecimento dos indicadores de Altas Habilidades/Superdotação, para que este indivíduo se
desenvolva plenamente e de forma saudável. Da mesma forma, há a necessidade de que novas
pesquisas sejam realizadas neste sentido, visando analisar a participação da família no
desenvolvimento dessas pessoas.

Palavras-Chave: Superdotação. Família. Desenvolvimento. Relações.

ABSTRACT

The subject giftedness is instigating several authors to search more and more
concepts of intelligence and abilities and consequently understand how the construction of the
person happens. On the other hand writers make efforts to transcribe family functions and its
evolution with the society, working features and concepts that better explain its dynamics. For
this reason, it’s important to join very different subjects and with many relations. This work
aimed to make possible the analyses on the other people living who present High

1
Acadêmica do Curso de Psicologia, 10ª fase, do Centro Universitário Facvest.
2
Psicóloga, Mestre em Psicologia UFSC, especialista em Psicanálise Infantil; Professora de Graduação em
Psicologia e Direito e Professora de Programa Pós-Graduação em Educação, Psicologia e Direito do Centro
Universitário Facvest e Fundação Universidade do Contestado (FUnC). E-mail: jeanejica25@gmail.com.
2

abilities/Giftedness and how they deal with these features in its familiar surrounding through
a field of research, where students who present giftedness were interviewed to try to identify
the feelings lived by these people according to their features and their family living, how this
individual relates, interacts with this family and how this family has influences on his
decisions and choices, as well as verifying the feelings lived due to expectations put on them.
From this, it was concluded that the family is a group which has great influence on the gifted.
Having the necessity of the creation of programs which support the familiar system concern
the doubts and myths that come up with the indicators of High abilities / Giftedness so that
this individual develops fully and in a healthy way. The same way, there’s the necessity of
new researches be accomplished in this way, aiming to analyze the participation of the family
in these people’s development.

Keywords: Giftedness. Family. Development. Relations.

INTRODUÇÃO

A compreensão dos aspectos que cerceiam as famílias que possuem crianças com
Altas Habilidades/Superdotação, passa por questões relacionadas aos conceitos de Altas
Habilidades/Superdotação e de família, salientando a importância desta para o
desenvolvimento infantil. Com relação ao conceito de AH/S (Altas
Habilidades/Superdotação), verifica-se uma multiplicidade de concepções, que permeiam
aspectos biológicos, psicológicos, comportamentais e sociais. Sobre o conceito de família,
observa-se uma mudança ocorrida ao longo dos anos, indicando que, com o desenvolvimento
e mudanças nas sociedades, os estilos de família também mudaram. Ela pode ser considerada
como um espaço sociocultural que é continuamente renovado e reconstruído, como um lugar
de natureza criativa e inspiradora (OLIVEIRA, 2009).
Estes dois conceitos acabam por se conectar e se entrelaçar durante todo o
desenvolvimento da pessoa, seja através das construções sociais, afetivas e cognitivas feitas,
tanto no âmbito familiar, quanto na escola e na sociedade como um todo. Por isso mesmo é
necessário que estes sejam trabalhados de forma a se perceber as relações existentes entre
ambos.
Com relação ao conceito de Altas Habilidades/Superdotação, pode-se dizer que este
vem se ampliando no decorrer do tempo e dos estudos realizados, como, por exemplo, através
do estudo de Gardner (2000) sobre inteligência, onde hoje se observa o indivíduo em sua
totalidade, analisando todas as habilidades em diversos âmbitos e domínios. Englobando
assim, inúmeras áreas em que o talento ou as habilidades podem se desenvolver. Segundo
documento produzido pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação é
adotado o seguinte conceito:
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São consideradas crianças portadoras de alta habilidade as que apresentam


notável desempenho em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados:
(a) capacidade intelectual; (b) aptidão acadêmica ou específica; (c) pensamento
criador ou produtivo; (d) capacidade de liderança; (e) talento especial para artes
visuais, artes dramáticas e música; (f) capacidade psicomotora (Brasil, 2001, p. 11).

Outro autor que contribuiu grandemente para o estudo das AH/S é Renzulli e Reis,
1986, p. 11/12, que comenta:

[...] o comportamento de superdotação reflete uma interação entre três


grupamentos básicos dos traços humanos – sendo esses grupamentos habilidades
gerais e/ou específicas acima da média, elevados níveis de comprometimento com a
tarefa e elevados níveis de criatividade. As crianças superdotadas e talentosas são
aquelas que possuem ou são capazes de desenvolver este conjunto de traços e que os
aplicam a qualquer área potencialmente valiosa do desempenho humano.

A primeira característica se dá na maneira como o individuo produz seu pensamento


abstrato, integra experiências e faz pontes entre os diferentes conhecimentos e a rapidez ou
forma diferenciada de processar as informações. A segunda é o componente motivacional a
mais que o individuo com superdotação possui para realizar uma tarefa que lhe seja de
interesse, canalizando toda ou boa parte da sua energia para resolver um determinado
problema. Isso inclui características como perseverança, dedicação, esforço e credibilidade à
própria habilidade de conseguir completar a tarefa. E a última dependeria da maneira como o
individuo se relaciona com o meio ou com pessoas importantes para ele como professores,
pais e colegas, pessoas essas que instigariam em maior ou menor grau esta característica
(ALENCAR, 2001).
Isso significa que o aluno com superdotação possui, segundo Renzulli e Reis (1986)
três características principais que são imprescindíveis para seu diagnóstico, mas não
necessariamente precisam ocorrer com a mesma intensidade. Ou seja, uma delas pode estar
em maior destaque, como, por exemplo, um aluno bastante criativo ao resolver determinadas
situações, normalmente encontrando caminhos diversos para a resolução do problema, mas
que não se compromete facilmente com as tarefas.
Além dessas características há outras que são únicas de cada indivíduo e que se
apresentam de formas diferentes em cada criança, de acordo com a maneira com que ela é
estimulada e quais habilidades são melhores desenvolvidas. Quanto às características de
aprendizagem, pode-se dizer que os superdotados possuem, segundo Novaes (1992): rapidez e
facilidade para aprender, pensamento divergente e independente, facilidade para abstração,
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flexibilidade de pensamento, produção criativa, capacidade de julgamento, habilidade na


resolução de problemas, memória e compreensão incomuns, descuido com a escrita e talentos
específicos. Quanto às características comportamentais e sociais do indivíduo superdotado
podemos citar com mais destaque: muita curiosidade, senso crítico exacerbado, senso de
humor, sensibilidade, investimento nas áreas de interesse, convívio com pessoas mais velhas,
liderança, aborrecimento com rotina, conduta irrequieta.
Segundo Alencar e Virgolim (2001), um dos mitos difundidos na prática da
superdotação é que este aluno, justamente por ter uma maior habilidade para adquirir
conhecimentos e fazer isso de forma autônoma em alguns momentos, não necessita de apoio e
que esta característica emergirá por si própria, sendo que a criança sempre terá um alto
desempenho não sendo influenciada pelo meio. Porém, ela necessita de suporte por parte da
escola, de um meio social que lhe seja de interesse como um clube ou um grupo de amigos e
principalmente da família.
Sendo que na família é onde ele se desenvolve e o ambiente em que será,
normalmente, observado suas características. Nesse sentido, faz-se necessário falar sobre o
conceito de família. Begossi (2003, p.14) ao citar Telford e Sawrew (1988), fala que:

Família é o primeiro grupo social ao qual pertence o indivíduo, selecionando


os estímulos internos e externos que incidem sobre seus membros. Sua organização
e estrutura qualificam as experiências de seus elementos, tornando-se um poderoso
meio de educação e treino de papéis, formando o individuo, levando-o a desenvolver
uma determinada qualidade de contato consigo mesmo e com a sociedade
(BEGOSSI, 2003, p.14).

Compreende-se então que a família pode ser considerada uma instituição de grande
influência sobre o indivíduo, seja ele superdotado ou não. Pois as características da
superdotação estão presentes somente em determinados momentos e sobre determinadas
circunstâncias, sendo a família a responsável por alimentar o sujeito em afeto e apoio, fazendo
com que este sobreviva emocionalmente (RENZULLI E REIS, 1986).
Esta é um sistema que permanece sempre vivo e formado por inúmeros movimentos.
Interações dinâmicas que são movidas por valores e crenças individuais, onde cada sujeito
que lhe constitui acaba por ocupar determinado lugar ou status com obrigações e direitos
específicos. Levando sempre em consideração o fato de a família ser uma instituição social
que molda o ser humano, tornando-se um espaço onde é transferida a cultura e o
conhecimento comum acumulado ao longo das gerações (OLIVEIRA, 2009).
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No caso da superdotação esta pode e deve ser considerada uma característica


bastante complexa, pois envolve fatores próprios do indivíduo e fatores do contexto social.
Segundo Aspesi (2003) e Winner (1998), citados por Oliveira (2009, p. 76): “Há uma relação
de influência mútua entre a criança ou jovem com altas habilidades/superdotação e sua
família. Esta pode influenciar de várias formas o desenvolvimento das potencialidades ou dos
talentos de seus integrantes”.
Por outro lado não somente a pessoa com Altas Habilidades/Superdotação sofre
influência, mas, da mesma forma, acaba por influenciar o meio no qual está inserida. A partir
do surgimento das características de AH/S, algumas modificações na dinâmica familiar são
necessárias. Além disso, a percepção de que o filho é diferente acaba por trazer angústia aos
pais desde os primeiros anos do desenvolvimento.
Segundo Novaes (1992), é importante estar se observando a temática a se trabalhar,
pois muitas vezes há a necessidade de se observar não só a influência dos pais na criança, mas
a influência da criança sobre toda a família, sendo que pode ser a criança que esteja
manipulando toda a família em seu favor. Neste caso, a família certamente estará em um
ponto de fragilidade tanto quanto o superdotado, possibilitando conflitos em áreas periféricas
a superdotação que poderiam ser evitados.
Neste sentido, trabalhar a superdotação aplicada no contexto familiar torna-se
relevante, pois as pesquisas neste enfoque são poucas e muitas vezes trazem conceitos e mitos
relacionados à estas características. Autores como Alencar e Fleith (2001), Guenther e
Freeman (2000), Mettrau (2000), Winner (1998), Brasil, (1999), estudaram a superdotação
observando seus vários ângulos e características. Trabalhos realizados por pesquisadores
como Silva & Fleith (2008) e Alencar (2007) buscaram relações entre a família e o
superdotado e a influência que ambos desempenham um sobre o outro.
Desse modo, ao produzir conhecimento sobre esta convivência e os sentimentos
vivenciados dentro do lar, pode-se contribuir para o desenvolvimento de novas formas de
intervenção e de interação paciente/família, bem como, pode esclarecer que pessoas com
superdotação apresentam competências e dificuldades, necessitando de um ambiente
acolhedor a suas necessidades.
Justamente por isso este trabalho visa identificar os sentimentos vivenciados por
pessoas que apresentam superdotação, perante suas características e a sua convivência
familiar.

METODOLOGIA:
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O eixo norteador do delineamento metodológico desta pesquisa teve como questão:


Quais os sentimentos vivenciados por pessoas que apresentam superdotação, perante
suas características e a sua convivência familiar?
Para que este objetivo seja alcançado, foi realizada uma pesquisa de campo, que
segundo Afonso (2003), citado por Oliveira (2009), é uma busca minuciosa para averiguação
da realidade. Citando a mesma autora, pode-se afirmar que esta pesquisa realizada foi
qualitativa, porque diz respeito a ouvir as pessoas, o que elas têm a dizer sobre suas vivências,
suas experiências dentro desta relação familiar em um contexto de adolescentes com Altas
Habilidades/Superdotação. Além disso, significa explorar as ideias e expectativas, analisando
tudo isso dentro do seu cenário natural, com os significados próprios de cada indivíduo
(OLIVEIRA, 2009, p. 15).
Para responder a questão de pesquisa optou-se por realizar um estudo exploratório e
descritivo. A pesquisa exploratória, segundo Gil (1999) apresenta menor rigidez em seu
planejamento, possibilitando a consideração dos inúmeros aspectos relacionados ao conteúdo
estudado. Já a pesquisa descritiva, para este mesmo autor, tem por objetivo a descrição das
características de determinada população ou o estabelecimento de relações entre variáveis.
O ambiente no qual a pesquisa foi realizada é o Núcleo de Atividades para Altas
Habilidades/ Superdotação (NAAHS), situado em um estabelecimento público estadual, na
capital de um estado do sul do Brasil. Esta Instituição Especializada de Ensino implanta
diferentes programas de atendimento as pessoas com deficiência, condutas típicas e altas
habilidades. O NAAHS localizado nesta instituição foi implantado em 2006, com o apoio do
Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Especial e da Secretaria de Estado
da Educação. O Núcleo é um espaço destinado ao atendimento educacional especializado a
alunos com Altas Habilidades/Superdotação. Promove estratégias de identificação e
atendimento para o desenvolvimento das habilidades e talentos dos alunos da educação
básica. Tendo como objetivo definir e coordenar a política de atendimento aos alunos com
Altas Habilidades/Superdotação do Estado. Desenvolve também, um trabalho voltado à
elaboração de projetos de pesquisa de acordo com o interesse de cada aluno.
Os participantes da pesquisa são alunos desta instituição, do sexo masculino com
idade entre 11 e 16 anos. Optou-se por estes adolescentes por serem os alunos presentes nas
oficinas do Núcleo de Atividades para Altas Habilidades/Superdotação no dia combinado para
a pesquisa. A participação contou com o prévio consentimento dos pais ou responsáveis.
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O primeiro passo para a realização da pesquisa foi o contato com a Supervisora de


Atividades Educacionais Nucleares da Instituição e com a Coordenadora do NAAHS para
esclarecimento acerca dos objetivos da pesquisa e autorização para sua realização.
Em seguida a pesquisadora apresentou individualmente o projeto de pesquisa e
iniciou a coleta de dados através de entrevista semi-estruturada (LAVILLE & DIONNE,
1999), com a utilização de roteiro previamente elaborado, com perguntas abertas o que
possibilitou maior liberdade de expressão por parte dos participantes. Sendo que, esse roteiro
de entrevista aplicado aos alunos do NAAHS, foi submetido à avaliação da professora
orientadora juntamente com a banca avaliadora do projeto de pesquisa, para uma verificação
semântica o qual pudesse responder o problema de pesquisa.
Os dados foram gravados e posteriormente transcritos em sua totalidade para que seu
conteúdo pudesse ser analisado à luz do referencial teórico adequado. Utilizou-se para isso a
análise de conteúdo que segundo Bardin (1977) apud Marconi & Lakatos (2001) é: “um
conjunto de instrumentos metodológicos que se aplicam a diversos discursos. Oscila entre a
objetividade e subjetividade, na medida em que é instigada pelo latente e o potencial do não
dito do material obtido na pesquisa”. Minayo (2009) diz que através da análise de conteúdo
pode-se trabalhar com o que está por trás dos conteúdos manifestos indo além das aparências
do que está sendo comunicado. A síntese interpretativa procedeu-se a partir dos dados obtidos
conjuntamente a revisão de literatura.
Esta pesquisa foi realizada a partir dos seguintes princípios éticos: explicação para
todos os participantes e seus responsáveis sobre a relevância e objetivos desta, levando em
conta a importância do avanço nos estudos a respeito das Altas Habilidades/Superdotação;
utilização do termo de consentimento livre e esclarecido dos participantes e sigilo quanto à
identidade real dos participantes e responsáveis.

RESULTADOS E DISCUSSÕES:

Ao longo do desenvolvimento humano qualquer pessoa pode vivenciar sentimentos


de insegurança e incertezas, sejam elas existenciais ou não, e trabalhar com autoconceitos
pode ser bastante difícil, pois muitas vezes as necessidades do meio são confundidas com as
necessidades do indivíduo.
Segundo Alencar e Fleith (2003) o autoconceito pode ser denominado como a
imagem subjetiva que cada indivíduo atribui a si próprio e que, normalmente, é utilizada no
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decorrer de toda a sua vida, sendo apenas melhorada ao passar dos anos. Porém este conceito
é muito debatido entre inúmeros autores que trabalham com desenvolvimento humano.
Harter (1985) citado por Fleith (2007, p. 48) diz que “o autoconceito não é um
constructo estático, mas composto de várias dimensões ou domínios, sendo assim, suscetível a
mudanças”. Quanto ao indivíduo com Altas Habilidades/Superdotação, formular o
autoconceito se torna ainda mais difícil, pois muitas vezes este acaba por esconder suas
potencialidades para poder se enquadrar nas expectativas sociais. Por outro lado, segundo a
mesma autora quando esta pessoa sente-se apoiada e amada em seu meio, consegue com uma
maior facilidade aceitar suas próprias características. Isso pode ser observado na fala dos
sujeitos S1, S2, S3 e S4, que participaram da pesquisa, ao serem indagados a respeito de como
se sentem ao apresentarem características de Altas Habilidades/Superdotação, descritas
respectivamente: “Eu na verdade me considero diferente”, “Ah, eu, na realidade, curto
bastante. É bem bom. Eu acho legal (...)”. “Eu não estou muito preocupado com o
diagnóstico”, “Eu me sinto feliz, porque não é uma coisa que todo mundo tem. É uma coisa
bacana. É uma característica que me faz ser diferente dos outros”.
Neste sentido, salienta-se a importância do acompanhamento individual do
superdotado, porque assim ele conseguirá perceber se o que está lhe sendo proposto é
realmente de seu interesse e irá lhe trazer benefícios, sejam na área cognitiva, bem como no
social e emocional. Já o atendimento a família do superdotado auxiliará para que esta, em um
todo, contribua e principalmente respeite os avanços da criança.
Quando se fala em desenvolvimento integral do indivíduo, fala-se em um
desenvolvimento que englobe todas as áreas do sujeito, sendo que estas envolvem o
desempenho cognitivo, suas habilidades, além das relações intra e interpessoais. Justamente
por isso é extremamente importante entender como o ambiente da criança com Altas
Habilidades/Superdotação, influencia o desenvolvimento desta, principalmente no que tange a
organização de suas atividades diárias e ao processo de estimulação. Vygotsky (1994) afirma
que a influência do ambiente sobre o desenvolvimento infantil, ao lado de outros tipos de
influências, também deve ser avaliada levando em consideração o grau de entendimento, a
consciência e o insight do que está acontecendo no ambiente em questão.
Winniccott em 1975, citado por Alencar, fala que a habilidade de “fazer” é baseada
na capacidade de “ser”, ou seja, se o indivíduo possui um espaço onde ele seja valorizado
como ser e possa realmente vir a ser o que ele deseja, o desempenho, ou o fazer surgirá com
mais naturalidade e talvez com mais intensidade, mas principalmente trará menos sofrimento
e frustração ao superdotado (WINNICCOTT, 1975, apud ALENCAR, 2001).
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Landau (2002) fala que a superdotação é a relação entre o mundo interno da criança e
o ambiente no qual ela está inserida. Somente o fato de ter talento não é suficiente para que
este se desenvolva. É necessário também que o meio promova constantemente estímulos para
a evolução das potencialidades. Fleith (2007) afirma que indiferente ao nível socioeconômico
da família da criança com altas habilidades/superdotação e da escolaridade dos pais, esta
poderá desenvolver integralmente suas potencialidades se tiver pais responsivos às
necessidades de desenvolvimento dos filhos e que estão sempre à procura de oportunidades
educacionais, culturais e atividades extraclasse oferecidas a comunidade.
Isso pode ser observado unanimemente nas falas dos sujeitos que estiveram
presentes na entrevista como se vê na fala de S1: “Minha mãe sempre acreditou em mim e
sempre me motivou a buscar saber cada vez mais. Ela sempre apostou em mim em todos os
sentidos. Sempre me apoiou”.
Ou seja, o superdotado possui sim uma característica marcante de facilidade em
conteúdos acadêmicos, porém esta característica apenas irá se sobressair se o ambiente lhe
proporcionar estímulos suficientes para tal, como demonstra a fala de S2: “Meu pai me dá
muito apoio”. Entretanto, além de lhe proporcionar meios desafiadores para a construção de
uma maior aprendizagem ou satisfação da necessidade atual, é necessário que este meio
possibilite também ao aluno afetividade centrada na sua pessoa e não nas características da
sua superdotação (LANDAU, 2002).
Além disso, outro aspecto analisado durante as falas é o receio pelo diagnóstico, por
mitos que estão envolvidos tanto a respeito da superdotação quanto a respeito da Instituição
de Ensino Especializado. Segundo S2 “No inicio até era meio estranho, porque aqui na F.3 se
atende todos os tipos de crianças” e S4 diz que seus pais ficaram, no início, preocupados com
o que ele “poderia ter”. Isso é bastante comum, pois quando nasce na família uma criança que
se apresenta para a sociedade de forma diferente o sofrimento dos pais pode ser grande. A
intensidade deste sofrimento e a maneira como a aceitação acontece dependerá de inúmeros
fatores como a posição do filho na família, expectativas com a gravidez, etc. (PRADO, 2004).
Para isso, a busca por respostas e desmitificação dos conceitos sobre Altas
Habilidades/Superdotação em Instituições de Ensino Especializadas tem como objetivo, além
de trabalhar a habilidade da criança, também a auxiliar os pais a entenderem como estas
características se apresentam e como desenvolvê-las da melhor forma possível. S3 deixa isso

3
Instituição Especializada de Ensino localizada na capital de um estado no sul do Brasil, que atua com diferentes
diagnósticos de pessoas com necessidades especiais.
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bastante claro em sua fala: “Meus pais não queriam que meus conhecimentos e aquilo que eu
sei fazer muito bem acabassem se perdendo, no caso, sem treino ou sem estimulação”.
Um estudo comparativo realizado por Chagas (2003), citado em Sakaguti (2010),
indicou que as famílias dos adolescentes superdotados tinham altas expectativas em relação
ao desempenho de seus filhos, mas priorizavam a educação, mobilizando recursos para o
desenvolvimento dos talentos que estes possuem.
Após a desmistificação de conceitos a respeito destas características, quando surgem
os indicadores de que a criança ou adolescente possui AH/S, podem ocorrer muitas
modificações na dinâmica familiar. Isso pode ser visto nos relatos dos participantes da
pesquisa, onde essas modificações foram realizadas para que este indivíduo possa participar
das atividades realizadas no NAAHS, principalmente daqueles meninos que residem em
outras cidades e precisam do deslocamento quase diário. Isso fica explícito na fala de S2, S3 e
S4, respectivamente: “Eu ter que vir duas tardes por semana para o NAAHS dispensa
dinheiro para o ônibus e tal”, “A única coisa mais complicada é que eu moro em S.A.I4 e meu
pai tem que me trazer duas vezes por semana aqui no NAAHS”, “Mas nossa maior
dificuldade é eu poder vir até aqui até porque meu pai tem que ir varias vezes por semana
visitar meu irmão mais velho, que ele fica internado no IPQ5 e meu pai é funcionário publico,
entrega contas de água.”
Segundo Silva & Fleith (2008, p. 5), nas famílias que possuem um dos seus membros
com Altas Habilidades/Superdotação:

[...] uma grande quantidade de energia é direcionada a tais crianças.


Sacrifícios - financeiros, sociais, educacionais e profissionais - em nome do filho são
feitos, e os próprios pais estimulam e participam do ensino à criança. Os pais ajudam
a organizar a rotina dos jovens, monitoram suas atividades e ajudam-nos a superar
eventuais dificuldades.

Isso salienta que as necessidades das crianças com AH/S encontram-se, muitas vezes,
em primeiro lugar na organização familiar e tornam-se centrais a estas. Por outro lado é
importante observar como ocorre a dinâmica da família com os demais filhos que não
possuem AH/S, pois, segundo Martínez & Castiglione (1996), os pais acabam, muitas vezes,
por desenvolver uma relação afetiva mais positiva com a pessoa que possui superdotação do
que com os filhos que não possuem. Isso pode gerar uma maior competitividade, baixa

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Cidade próxima a Instituição de Ensino Especializado localizada na capital de um estado no sul do Brasil que
atua com diferentes diagnósticos de pessoas com necessidades especiais.
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Instituto de psiquiatria
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autoestima e pouca cooperação. Além disso, outra questão abordada pelos autores é o fato de
muitos pais de crianças superdotadas terem matrimônios menos estáveis, pois a superdotação
pode ser vivida como fonte de conflitos no casamento.
Aspesi (2007), citado por Sakaguti (2010) salienta que é a família que constrói as
teias de apoio para prover o desenvolvimento de seus filhos, desde o nascimento. Para ele, “da
teia social das primeiras interações com a família, à medida que a criança cresce e se
desenvolve, são acrescidos os professores, amigos, especialistas ou outros pares também
talentosos que formarão a rede de apoio acadêmico, social e emocional”.
Desta forma a influência que a família exerce sobre a pessoa com Altas
Habilidades/Superdotação é mais uma vez confirmada. Pérez (2008, p. 2) mostra maneiras de
como a família pode vir a lidar com estas características:

[...] quando a família percebe as diferenças das PAH/SD e as valoriza,


tornando-se um porto-seguro para essa pessoa; outra quando, mesmo detectando
essas diferenças, a família se nega a reconhecê-las, não as valoriza ou as esconde; e
uma terceira situação, quando ela supervaloriza essas diferenças, colocando
expectativas exageradas na PAH/SD e exigindo-lhe um superdesempenho.

Por isso mesmo é bastante importante se analisar o impacto das expectativas


familiares sobre os adolescentes. Primeiramente deve se colocar em evidência que a família
pode e deve potencializar os talentos de seus filhos, porém, sempre procurando a melhor
maneira de criar e manter o vínculo afetivo (VIRGOLIM, 2007). Isso é comprovado na fala
da maioria dos sujeitos que participaram da pesquisa, como demonstrado na fala de S4: “Eles
me motivam bastante, me incentivam muito, quando eu não me saio bem, eles (os pais)
procuram me conformar”.
Segundo Chagas (2008, p. 3), o fato de se ter na família um membro com
características de Altas Habilidades/Superdotação dá aos pais a responsabilidade de
reconhecer, valorizar e investir tempo, recursos e atenção às habilidades dos filhos, mas
também atender a necessidades do filho como ser humano.
Por outro lado, o excesso de cobranças pode trazer consigo inúmeros efeitos
negativos sobre o indivíduo, principalmente em relação ao seu rendimento, gerando, entre
outros fatores a auto cobrança exagerada diante do seu desempenho, além de fadiga e
desmotivação. Isso ficou evidente nas falas dos adolescentes entrevistados, como
demonstrado no discurso de S2 e S4, respectivamente: “Às vezes eu fico cansado porque
tenho muitas atividades pra fazer e queria não ter nada pra fazer de vez em quando. Brincar
com meus amigos de lutinha ou sei lá”, “Às vezes eu me sinto pressionado, me sinto como se
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estivesse com muita coisa pra fazer. Às vezes só que eu penso „será que as pessoas vão pedir
pra fazer alguma coisa que eu não vou conseguir fazer?‟, mas daí no fim eu acabo
conseguindo, as vezes estou cansado, mas sempre consigo fazer. Nunca tive um fracasso
muito relevante”.
A cobrança exagerada por um rendimento superior ou solicitações de atividades a
serem realizadas em demasia podem se tornar uma atitude com efeitos negativos se a pessoa
com Altas Habilidades/Superdotação não desejar por si própria os desafios propostos. Este ato
poderá ter como consequência desde a exaustão física até um rendimento muito mais abaixo
do que a média, além de desestimular a criança para qualquer outra atividade semelhante que
for proposta. Pode ocasionar também, anseios em demasia, por parte da criança, em não
decepcionar as pessoas ao seu redor gerando estresse e angústia interior (OLIVEIRA, 2009).
Esta mesma autora afirma que “o peso de ter que responder constantemente a altas
cobranças pode impedir que a criança ou jovem aceite a si mesmo, suas imperfeições, e
desista nos primeiros obstáculos de sua caminhada para escapar das pressões a que está
submetida” (OLIVEIRA, 2009, p. 82).
Como ilustra a fala de S2: “Só que alguns desenhos me dão vontade de rasgar no
meio, eu não sei por que, só dá vontade, é porque nunca parece que tá bom”, indivíduos com
AH/S tendem a ser bastante perfeccionistas. Isso, se mantido em equilíbrio, pode conduzir a
satisfação, ao favorecimento da criatividade e ser utilizado de forma produtiva na sua vida,
porém, se mal canalizado, tende a favorecer altos níveis de ansiedade e desistência do
objetivo inicialmente proposto.
Outro desafio enfrentado pelo indivíduo com Altas Habilidades/Superdotação é a
dificuldade de conseguir trabalhar em grupos. Winner (1998), comenta que estas crianças ou
adolescentes acabam sofrendo com o isolamento social, pois seu intelecto é de adulto e as
emoções são de criança. Isso pode ser confirmado pelo discurso unânime de todos os
participantes da pesquisa, sendo S1, S2, S3 e S4, respectivamente: “Costumo trabalhar
sozinho. Detesto o trabalho em grupo. Eu sou bastante individualista, então não tenho muitos
amigos. Se dá pra fazer sozinho algum trabalho eu sempre faço sozinho. Acredito que no
futuro vou ter novos amigos que pensam como eu”, “Não gosto muito de grupos, sei lá,
prefiro pensar mais sozinho mesmo. Não sei se é pelo tipo de atividades que faço. Sei lá,
ainda se é pra sair tudo bem, mas nas minhas coisas, tarefas, por exemplo, prefiro ficar
sozinho”, “Eu participo de poucos grupos, somente aqueles que são bem necessários mesmo,
então participo aqui, na escola, curso de inglês e natação. Ainda assim faço o mais sozinho
possível todos eles. E os amigos são mais pra sair de vez em quando, mas muito raramente” e
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“Eu faço informática, frequento o NAAHS e a escola, não tenho muitos amigos, não gosto
muito de brincar, eu prefiro estudar ou fazer alguma coisa que eu goste e se tiver outra
pessoa comigo daí tem que ficar junto e fazer coisas junto com essas pessoas e eu prefiro
muito mais ficar sozinho”.
Vários autores (Clark, 1992; Neihar, Reis, Robinson & Moon, 2002; Silverman 1993
apud Virgolim, 2007 p. 44), concordam que, quando se fala de crianças superdotadas, altos
níveis de desenvolvimento intelectual não implicam, necessariamente, em altos níveis de
desenvolvimento afetivo. De qualquer forma é bastante importante se analisar as questões
sociais por diversos ângulos. Winnicott (1990, p.37), acredita que o isolamento social pode
ser muito positivo, pois: “a capacidade de ficar só é um fenômeno altamente sofisticado e tem
muitos fatores contribuintes. Está intimamente relacionada com a maturidade emocional”. Já
Landau (2002), diz que a criança superdotada pode ser comparada com uma criança que está,
em uma corrida de atletismo, disparada na ponta, no sentido intelectual, entretanto, sente-se
solitária emocionalmente. Da mesma forma, a autora traz que a família deve estar preparada
para lidar com esta dissincronia, pois evita assim que energia seja desperdiçada ao tentar
compensar o desequilíbrio.
Neste sentido o isolamento social pode ser compreendido como:

[...] o fato dos alunos estarem sempre fora do compasso em seu contexto
social, pois quando são agrupados com pares da mesma idade, estão fora de
compasso em termos cognitivos; quando são agrupados com pares intelectuais, estão
fora de compasso em termos sociais (FLEITH, 2007, p. 70).

No entanto, é importante destacar que elas necessitam da interação com o outro para
avançar e ir além do que já sabem, para aprofundar e buscar novas perspectivas. Além disso,
nos momentos de interação com o outro é que se cria o sentido de justiça, para que a criança
possa entender as diferenças entre as pessoas e conseguir conviver com elas de forma
saudável.

CONCLUSÃO:

Para se concluir a respeito de quais são os sentimentos vivenciados por pessoas que
apresentam superdotação, perante suas características e a sua convivência familiar, foi
necessário entender também de que maneira a pessoa com superdotação se percebe; que
características as pessoas que apresentam superdotação mencionam de seu desenvolvimento
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na superdotação; de que maneira a pessoa que apresenta superdotação se percebe dentro da


família; e quais as necessidades familiares frente a suas características.
Com o objetivo de investigar tais questões foram realizadas entrevistas
semiestruturadas com adolescentes que possuem indicadores de Altas
Habilidades/Superdotação. De qualquer forma, é bom salientar que este trabalho não visa, de
forma alguma, conceituar ou caracterizar o ideal de família, nem determinar quais
características, obrigatoriamente, surgem no decorrer do desenvolvimento da pessoa com
AH/S. Nesse sentido, ao pensar a formação pessoal, acadêmica, social e afetiva do sujeito
com Altas Habilidades/Superdotação, analisa-se esta como algo não estático, que evolui a
partir do que o meio lhe possibilita, assim como a forma com que o indivíduo lida com essas
possibilidades.
No que diz respeito a forma como as famílias se estruturam, os autores estudados
durante o referencial teórico possibilitam relatar que não existe um único modelo de família.
Consequentemente é possível inferir que as crianças com Altas Habilidades/ Superdotação,
entrevistadas ou não, possuem muitas características em comum, da mesma forma que muitas
singularidades. Neste sentido, famílias de pessoas com AH/S também assim se organizam.
Conclui-se a partir dos relatos obtidos, que tanto a família influencia, quanto é influenciada e
esta influência é positiva, pois auxilia na transformação e evolução de ambos.
Levando em consideração os relatos obtidos, chega-se a conclusão de que a família
esteve presente durante todo o processo de desenvolvimento das habilidades apresentadas
pelos entrevistados, orientando e auxiliando na organização dos papéis, dos espaços e da
rotina familiar, para assim conseguir suprir as necessidades que foram sendo percebidas no
decorrer do tempo. Os adolescentes sentem-se confortados e estimulados na medida em que
os obstáculos vão surgindo, da mesma forma que as conquistas são observadas com mérito.
Sendo assim, a família torna-se um ponto de referência, para onde são delegadas as
funções de amparo não só biológico, mas principalmente social e emocional. Os
entrevistados, como mostra a análise dos resultados, em unanimidade, salientam que têm o
apoio e o estímulo dos pais para que suas potencialidades sejam cada vez melhor trabalhadas.
Da mesma forma que todo o investimento feito por estes tem como consequência a cobrança
por resultados que sejam coniventes com a quantidade de estímulo proposto, ocasionando,
muitas vezes, o cansaço, a auto cobrança exagerada, o perfeccionismo e a dificuldade em
trabalhar em equipe.
É importante salientar que o maior desafio da família não é a presença de uma pessoa
com Altas Habilidades/Superdotação em sua dinâmica, mas sim o entendimento e
15

atendimento das suas necessidades e características. Porque quando isso ocorre,


automaticamente se estabelece uma relação mútua de construção de vínculos e desconstrução
de mitos, favorecendo o crescimento de toda a instituição familiar.
Justamente por isso as atitudes tomadas pela família são de fundamental importância
para o desenvolvimento da pessoa com AH/S. Não é suficiente o fato das crianças e
adolescentes apresentarem de maneira espontânea seus talentos e habilidades, ou então
apresentarem admirável capacidade de aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a
conviver ou aprender a ser. É necessário que a família esteja atenta para perceber o quão
importante é a sua função no desenvolvimento dos filhos (FLEITH, 2007).
Ao analisar a pesquisa feita, percebe-se que muitos pais iniciam cedo o processo de
identificação dos talentos de seus filhos, mesmo desconhecendo os indicadores de Altas
Habilidades/Superdotação. Desta forma investem em estímulos que auxiliarão no
desenvolvimento das potencialidades da criança.
Certamente organizar uma rotina onde a criança ou adolescente com AH/S possa
desenvolver suas características é importante, entretanto nestes momentos os pais devem ter o
cuidado para que as necessidades partam da criança e esta solicite os materiais que desejar
trabalhar. Criar um ambiente agradável, que seja natural e permita aos seus membros buscar
alternativas próprias na resolução de problemas, bem como utilizar-se do diálogo, da escuta e
da busca contínua e em conjunto, auxilia na estimulação autônoma dos talentos (FLEITH,
2007).
Ao mesmo tempo, quando os pais dão-se conta das características que seus filhos
apresentam, seja através da escola ou de familiares, surgem inúmeros pré-conceitos, tanto
sobre o que conceitua as Altas Habilidades/Superdotação quanto ao local onde as crianças ou
adolescentes serão atendidos. Para Sakaguti (2010), muito provavelmente os mitos e
preconceitos acabam por afetar a possibilidade dos pais de dividirem incertezas e sentimentos
com outros pais ou profissionais para se protegerem do estigma.
Justamente por isso, é imprescindível que a família busque informações a cerca das
características das AH/S. Se interessem por artigos, publicações, trabalhos e pesquisas que
tenham como tema a superdotação; participem de grupos e encontros, conferências e
congressos; procurem organizar reuniões e participar de debates, trocas de experiências que
tratem de problemáticas, se aproximem de profissionais da Educação e busque junto levantar
dados, informações e, sobretudo, planejar possíveis intervenções em cada situação, se
informem junto ao sistema educacional, municipal, estadual e federal com relação às Leis
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Orgânicas dos Municípios e dos Estados, ao Conselho Nacional e aos Estaduais de Educação
e a profissionais da Educação o amparo legal desses (SANTOS, 1999, p. 24).
Além disso, é importante que haja união na família, a discussão das ideias e tomada
de decisões em conjunto, sendo esta uma facilitadora no processo de inclusão desta criança ou
adolescente nos demais grupos sociais, reduzindo os obstáculos que possam vir a surgir.
Na análise dos dados contidos nas entrevistas realizadas com adolescentes com
indicadores de Altas Habilidades/Superdotação pode verificar-se grande dificuldade de
organizar-se em grupo por parte dos participantes. Muitas vezes, esta dificuldade de encontrar
seus pares pode surgir por a criança não se sentir acolhida ou por não ser suficientemente
desafiada pelos contextos sociais. Além disso, como é demonstrado em algumas falas, o fato
de não encontrar pessoas com o mesmo interesse, ou na mesma intensidade, a pessoa acaba
por se tornar impaciente com os outros, tornar-se entediado com a escola, intolerante e crítico
demais.
A consequência natural é a de assumir um comportamento introspectivo, com
dificuldades de se expor pelo medo de não ser aceito e de cultivar sentimentos de baixa
autoestima. Porém é importante a permanência no seu contexto para aprender a conviver com
suas diferenças, realizar trocas e ampliar sua comunicação.
Nesse momento a família pode estimular para que a pessoa com Altas
Habilidades/Superdotação desenvolva uma rede de relações sociais. Pois situar-se em relação
aos seus pares, sejam eles sociais ou intelectuais, auxilia a criança a viver a experiência da
rivalidade e cooperação, rejeição e aceitação. Da mesma forma que ajuda a administrar a sua
agressividade e descobrir a cumplicidade e as noções de equidade e democracia.
Espera-se que este estudo tenha contribuído para a reflexão e o repensar de subsídios
para profissionais e famílias que atuam e estejam envolvidos com as Altas
Habilidades/Superdotação, servindo de suporte a estes. Por outro lado, espera-se que através
dos materiais coletados realizem-se mais estudos direcionados ao aprimoramento das práticas
destinadas a este público, com o objetivo de que as famílias consigam transformar as
preocupações em novas alternativas.
Por fim, a família deve estar instrumentalizada para desenvolver a capacidade de
fazer da criança e sua criatividade, buscando alcançar o potencial da pessoa com AH/S e que
este passe de algo secreto ou não trabalhado para a revelação e evolução, encorajando novas
perguntas e descobertas sobre o mundo com seu próprio pensar e com suas aprendizagens. E,
principalmente, que o receio de ser diferente dos demais se configure na postura de poder ser
criador, desafiando todos os limites do que é conhecido.
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