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AULA
Filo Arthropoda –
Hexapoda II
objetivos
Pré-requisitos
Aulas 1 a 21, especialmente 17 e 21.
Disciplina Introdução à Zoologia.
Noções básicas sobre Citologia e Histologia.
Diversidade Biológica dos Protostomados | Filo Arthropoda - Hexapoda II
INTRODUÇÃO Na Aula 21, você estudou a morfologia geral dos hexápodes, abordando as
principais estruturas presentes nos seus três tagmas: cabeça, tórax e abdome.
Com base no tipo e na função dessas estruturas, podemos dizer que a cabeça
é o tagma dos sentidos, o tórax, o tagma da locomoção e o abdome, da
digestão, respiração e reprodução. Nesta aula, passaremos a estudar vários
aspectos funcionais e comportamentais dos insetos, abordando os mecanismos
fisiológicos envolvidos.
O VÔO
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As asas anteriores e posteriores de certos grupos de insetos alados,
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como gafanhotos (Orthoptera), cupins (Isoptera) e outros, operam
independentemente e não são bons voadores. As asas das libélulas
(Odonata), embora operem separadamente, são mais eficientes porque a
seqüência de batimentos é invertida, as asas posteriores se movimentam
antes das anteriores.
a
A maioria dos insetos alados apresenta Hâmulo
c
Jugo
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Diversidade Biológica dos Protostomados | Filo Arthropoda - Hexapoda II
a b
Músculo direto
c d
Músculo indireto
Figura 22.2: Movimento das asas e músculos do vôo. (a) Músculo direto distendido; (b) músculo direto contraído;
(c) músculo indireto contraído; (d) músculo indireto distendido.
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22 MÓDULO 3
Existem dois tipos de controle nervoso para promover a contração
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dos músculos do vôo: sincrônico e assincrônico. No controle sincrônico,
um simples impulso nervoso estimula a contração do músculo e a asa se
move. No controle assincrônico, o mecanismo de ação é mais complexo
e requer grande quantidade de energia, quando um grupo de músculos se
contrai, causa a distensão do grupo antagônico, que por sua vez inverterá
a ação do primeiro grupo, e assim sucessivamente. Nesse caso, apenas
impulsos nervosos ocasionais são necessários para manter os músculos
responsáveis por alternar contração e relaxamento.
O controle assincrônico é encontrado em insetos mais especializados
e permite batimentos extremamente rápidos, em comparação com o sincrô-
nico. Podemos exemplificar citando as borboletas, que com músculos
sincrônicos podem bater as asas cerca de quatro vezes por segundo,
enquanto as asas de moscas e abelhas, com musculatura assincrônica,
podem vibrar até mais de cem vezes por segundo, em alguns casos até
cerca de mil vezes.
Obviamente, o vôo envolve muito mais que um batimento de asas
para baixo e para cima. A musculatura também promove a alternância
do ângulo da asa, como um aerofólio, controlando o subir e descer do
inseto e a direção do vôo. Dessa forma, o movimento das asas forma a
figura de um “8”, controlando a passagem da corrente de ar por suas
margens. Além destes, outros fatores terão influência no movimento e
na velocidade do vôo. Insetos com asas mais estreitas e que são capazes
de fortes movimentos em forma de “8” atingem velocidades maiores,
alguns chegando a atingir quase 50km/h.
A NUTRIÇÃO
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Diversidade Biológica dos Protostomados | Filo Arthropoda - Hexapoda II
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As moscas apresentam um aparelho bucal do tipo lambedor, no
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qual o lábio forma um estojo que abriga as demais peças, e seu ápice
apresenta um par de lóbulos, denominado labelo, que possui numerosos
canalículos que funcionam como canais alimentares, assemelhando-se a
uma “esponja” (Figura 22.3). São capazes apenas de absorver líquidos
ou liqüefazem o alimento sólido com a secreção salivar, para depois
o absorverem. Algumas moscas hematófagas, como as mutucas,
apresentam a probóscide adaptada para perfurar a pele de mamíferos e
depois absorver o sangue com seu labelo modificado.
a b
Labro Maxila
Lábio Mandíbula
Mandíbula
Palpo maxilar
Labro
Maxila
Lábio
c d
Palpo
maxilar
Labro
Palpo labial
Lábio
Labelo
Maxila
Figura 22.3: Tipos de aparelho bucal dos insetos. (a) Mastigador; (b) sugador; (c) lambedor; (d) espirotromba.
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AS TROCAS GASOSAS
a b
Traquéias
Brânquias-traqueais
Brânquias
traqueais
Cutícula
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22 MÓDULO 3
Alguns insetos aquáticos apresentam espiráculos funcionais
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e respiram da mesma forma que os terrestres, porém, precisam
resolver o problema de evitar a entrada de água nos espiráculos e de
transpor a tensão superficial da água para obter O2 do ar atmosférico.
Alguns solucionaram estes problemas através da presença de um grupo
de pêlos ao redor dos espiráculos, que se espalham quando o inseto
está submerso e se recolhem quando está na superfície, ou através da
presença de áreas chamadas HIDRÓFUGAS ou plastrão, nas quais há HIDRÓFUGO
uma cutícula com maior afinidade com o ar que com a água. Algumas (do grego, hydro = água
+ do latim, fugus = que
larvas de mosquitos e moscas (ordem Diptera) apresentam os espiráculos foge. Diz-se do material
que não se deixa
funcionais na extremidade de um sifão respiratório, que pode ser evertido impregnar por água.
e retraído por ação de músculos circulares.
Alguns insetos podem sobreviver em ambientes com baixa
concentração de O2, retirando este gás dos espaços intercelulares de
plantas submersas, através também de um sifão respiratório, forte e
pontiagudo. Em alguns outros casos de insetos aquáticos com espiráculos
funcionais, eles carregam uma bolha de ar chamada brânquia física ou
gasosa, sendo o O2 da água repassado para dentro da bolha por diferença
de pressão.
A VISÃO
Na Aula 21, você estudou que os olhos dos insetos são de dois tipos:
simples (ocelos) e compostos. Os olhos simples podem ser encontrados
em ninfas, larvas e em adultos. Muitos insetos adultos apresentam três
ocelos na parte dorsal da cabeça, mas esse número pode ser reduzido.
Um ocelo é um fotorreceptor simples, com forma de uma taça, com um
pigmento sensível à luz e a superfície coberta por uma lente. O pigmento
fotossensível, como em todo sistema visual conhecido, é uma vitamina A
derivada da combinação com uma proteína. O estímulo luminoso provoca
uma mudança química no pigmento que permite a percepção da luz, mas
não forma imagem.
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Facetas dos
omatídios
Cone
cristalino
Célula
de pigmento
Célula
retinular
Rabdoma
Fibras nervosas
e nervo ótico
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OUTROS SENTIDOS
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Os insetos possuem apurado sentido para temperatura, umidade,
gravidade, recepção mecânica, química, auditiva etc. Vejamos como são
percebidos alguns desses sentidos.
As cerdas e outros processos tegumentares são responsáveis pela
recepção mecânica e estão presentes no tegumento como estruturas
externas, ligadas internamente a uma célula sensorial, que por sua vez
está conectada a uma célula nervosa (veja na aula anterior a Figura 21.2).
Logo, essas estruturas são sensíveis a toque, à pressão e a vibrações, e
amplamente distribuídas ao longo do corpo, nas antenas e nas pernas.
Os quimiorreceptores, como para o paladar e o olfato, são
geralmente grupos de células sensoriais localizadas em pequenas fossas,
concentradas especialmente nas peças bucais, antenas ou também nas
pernas. A quimiorrecepção dos insetos é tão aguçada que eles podem
perceber certos odores a quilômetros de distância ou muito antes de
nós, humanos. Muitos padrões de comportamento estão relacionados à
quimiorrecepção, como a alimentação, a cópula, a seleção do hospedeiro
ou do local de oviposição etc.
A audição é desenvolvida em muitos insetos. Sua percepção
pode ser feita por cerdas muito sensíveis ou por verdadeiros órgãos
timpânicos capazes de detectar o som. Alguns insetos podem perceber os
sons transportados pelo ar, ou detectar vibrações no substrato que eles
captam através de cerdas sensoriais nas pernas. Os órgãos timpânicos,
como os que ocorrem em alguns Orthoptera, possuem uma membrana
fina e delicada que fecha um espaço cheio de ar, cuja vibração é detectada
por um conjunto de células sensoriais. Nos gafanhotos, localizam-se nas
laterais do primeiro segmento do abdome, nas esperanças e nos grilos,
na base da tíbia da perna anterior.
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Durante o processo de desenvolvimento pós-embrionário, o inseto
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passa por diferentes estágios: ovo, imaturo (ninfa ou larva), pupa (apenas
nos holometabólicos) e adulto ou imago, passando por uma série de
mudas (veja a Aula 17). Cada fase entre uma muda e outra se chama
ínstar. Logo, um inseto no estágio imaturo pode passar por vários ínstares,
por exemplo, ninfas 1, 2 3, antes de se tornar adulto. O estágio de pupa
geralmente tem um único ínstar (alguns têm dois, pré-pupa e pupa),
assim como o estágio adulto.
Alguns insetos eclodem do ovo numa forma que difere dos adultos
apenas pelo tamanho e maturação sexual. Estes insetos apresentam
desenvolvimento direto, sem metamorfose, e são denominados ametábolos
(Figura 22.6a), como os Thysanura s. str., os Archaeognatha, os Collembola,
os Protura e os Diplura (reveja a Aula 21). Em geral, seus imaturos são
também chamados ninfas.
No entanto, a grande maioria dos insetos tem desenvolvimento
indireto, passando por transformações mais profundas, e são chamados
hemimetábolos ou holometábolos, dependendo do grau de metamorfose.
Nos insetos hemimetábolos, os imaturos se assemelham aos adultos
em muitos aspectos, incluindo a presença de olhos compostos, mas
lhes faltam as asas e a genitália externa desenvolvida. Durante o seu
desenvolvimento as asas se formam externamente, iniciando como
pequenas projeções, chamadas tecas alares, que crescem progressivamente
a cada ínstar (Figura 22.6.b, c). As ordens que apresentam este tipo de
metamorfose foram classificadas em passado recente como Exopterygota
(aqueles cujas asas se desenvolvem externamente), porém o termo foi
abolido por não representar um grupamento monofilético.
O desenvolvimento hemimetabólico é referido também como
metamorfose simples, gradual ou incompleta, e os ínstares imaturos
são chamados náiades, quando são aquáticos (libélulas, efeméridas e
plecópteros), diferentemente dos adultos terrestres, e ninfas, quando são
terrestres como na forma adulta (gafanhotos, cigarras, percevejos, baratas,
cupins, louva-a-deus, piolhos etc.). Alguns entomólogos preferem distinguir a
metamorfose daqueles insetos em que imaturos e adultos vivem em ambiente
diferente (hemimetabolia) daquela em que ambos, imaturos e adultos, vivem
no mesmo ambiente (paurometabolia). Entretanto, atualmente, o uso de
termos distintos tem sido abolido, porque poderia dar a entender que a
hemimetabolia e a paurometabolia teriam origens diferentes.
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a Adulto b
Ninfas Ninfas Adulto
Tecas alares
c d
Náiades Adulto
Tecas alares
Larvas Pupa Adulto
Figura 22.6: Tipos de metamorfose dos insetos. (a) Ametábolos (traça-de-livro, Thysanura); (b) hemimetábolo
(cigarrinha, Hemiptera); (c) hemimetábolo (libélula, Odonata); (d) holometábolo (mosca, Diptera).
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22 MÓDULO 3
COMPORTAMENTO SOCIAL
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A maioria dos insetos é solitária, vive isoladamente; no entanto,
muitos se reúnem formando agrupamentos temporários ou permanentes.
Muitos agrupamentos não correspondem a comportamento social ou
subsocial, apenas ocorrem como resultado de estímulos atrativos que
levam os indivíduos a se agregarem, mas conservando sua independência
de ação. Normalmente, esses estímulos são temperatura, luz, alimento,
umidade etc. Algumas espécies desfazem a agregação tão logo o fator
de atração seja contornado, outras se reúnem apenas para hibernar e
outras ainda se tornam gregárias apenas por uma determinada fase,
alternada por fases solitárias, podendo durar por várias gerações e
formando bandos migratórios. Podemos exemplificar com o gregarismo
de gafanhotos, baratas, alguns besouros e percevejos.
O comportamento subsocial se baseia no cuidado com a prole, sem
que haja necessidade de uma interdependência rígida, isto é, são capazes de
sobreviver isoladamente. É o caso dos embiópteros (ordem Embioptera),
de algumas baratas e de alguns besouros da família Scarabaeidae.
O verdadeiro comportamento social é aquele encontrado apenas em
duas ordens de insetos, Isoptera (cupins) e Hymenoptera (formigas, abelhas
e algumas vespas). As sociedades destes insetos são caracterizadas por:
1. grupamentos permanentes (com raras exceções);
2. cooperação mútua, as atividades de cada indivíduo atendem
às necessidades de toda a colônia;
3. a prole é resultante de uma única fêmea (rainha) ou de algumas
poucas fêmeas;
4. a rainha sobrevive por um período de várias gerações de
descendentes;
5. os indivíduos são inteiramente dependentes da colônia durante sua
existência e possuem uma atração definitiva uns pelos outros.
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Diversidade Biológica dos Protostomados | Filo Arthropoda - Hexapoda II
172 CEDERJ
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O controle da diferenciação das castas em cupins tem sido alvo
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de muita investigação e está longe de ser totalmente elucidado, mas
há fortes evidências de que interações complexas de feromônios estão
envolvidas, embora fatores nutricionais e sensoriais também possam
ser relevantes.
Abelhas
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Formigas
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22 MÓDULO 3
O comportamento social nas formigas alcança o mais alto grau de
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especialização nas saúvas (Atta sp., subfamília Myrmicinae). As saúvas
vivem em formigueiros subterrâneos, cortam plantas e transportam os
pedaços para o interior do sauveiro, onde cultivam um jardim de fungos
que lhes serve de alimento. O hábito de cortar plantas faz delas uma
praga agrícola das mais importantes. Quanto às suas castas, apresentam
como formas permanentes a rainha fértil e três tipos de operárias estéreis
(pequenas = jardineiras, médias = cortadoras, grandes = soldados), e como
formas temporárias, apresentam centenas de fêmeas e machos alados, que
surgem em revoada, em determinadas épocas do ano; quando machos e
fêmeas realizam o vôo nupcial e copulam, os machos morrem e as fêmeas
formam novos sauveiros.
RESUMO
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Diversidade Biológica dos Protostomados | Filo Arthropoda - Hexapoda II
EXERCÍCIOS
1. Explique por que o controle assincrônico dos músculos do vôo pode fazer as asas dos
insetos baterem mais rápido que o controle sincrônico.
2. Descreva três diferentes tipos de aparelho bucal encontrados nos insetos e como
estão adaptados a diferentes formas de nutrição.
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22 MÓDULO 3
AUTO-AVALIAÇÃO
AULA
Você estará pronto para a próxima aula se tiver compreendido os seguintes aspectos
abordados nesta aula: (1) as características básicas sobre o funcionamento das asas
dos insetos; (2) as formas de nutrição e os tipos de aparelho bucal adaptados a cada
uma delas; (3) as adaptações respiratórias apresentadas pelos insetos que vivem
em ambiente aquático; (4) os mecanismos de visão, audição, quimiorrecepção e
tato; (5) os tipos de desenvolvimento pós-embrionário dos insetos relacionados a
diferentes graus de metamorfose; (6) o comportamento social de cupins, abelhas,
vespas e formigas, e os mecanismos de determinação de castas e de sexo. Se você
compreendeu bem esses tópicos e respondeu corretamente às questões propostas
nos exercícios, você certamente está preparado para iniciar a Aula 23.
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