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INTRODUÇÃO
A Via Sacra é a prática devocional mais marcante do tempo da
Quaresma. Neste momento de oração somos convidados a acompanhar
cada momento, cada gesto, cada encontro que marcaram os momentos
derradeiros da vida terrena de Jesus.
Precisamos, para viver com fruto esta oração, ter um coração aberto
e disponível para receber a graça de Deus. Não podemos ter um coração
blindado em relação ao Espírito Santo. É necessário deixá-lo soprar na
nossa vida e deixar que as coisas no nosso dia-a-dia mudem e se
transformem.
Coloquemo-nos com toda a nossa vida na presença de Deus e
peçamos a graça de viver com fruto este tempo. Nossa Senhora, Virgem
das Dores e Mãe Auxiliadora, interceda por cada um de nós.
Oremos:
Senhor Jesus: dai-nos a graça de sermos generosos convosco neste
tempo de oração. Sabemos que precisamos do Vosso Espírito para
rezarmos como convém: concedei-nos em abundância o Paráclito, para que
clamemos do fundo da alma a Vossa oração de Filho e aprendamos a fazer
em tudo e sempre a vontade do Pai. Ajudai-nos a mergulhar nestes
momentos decisivos do Vosso amor por nós e fazei-nos sentir os frutos da
redenção.
Amen.
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I ESTAÇÃO
Jesus é condenado à morte
V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
R. Que pela Vossa santa cruz remistes o mundo.
Oração
Senhor Jesus: neste momento queremos colocar-nos diante de Vós.
Concedei-nos a vossa graça para acolhermos as humilhações como
caminho para o Pai. Dai-nos força para sempre e em tudo Vos escolhermos
a Vós e o caminho que Vós nos propondes: caminho de vida e de amor,
caminho de graça e de paz, caminho de coragem e de bondade.
Cântico apropriado
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II ESTAÇÃO
Jesus é carregado com a cruz
V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
R. Que pela Vossa santa cruz remistes o mundo.
Meditação
A cena que se medita aqui é a expressão mais cruel da própria
verdade: no meio dos muitos vitupérios contra Jesus, emerge a verdadeira
identidade do Senhor: ele é Rei! Conhecer a verdade é ser libertado do
erro, da prisão do egoísmo e da escravidão dos sentimentos voláteis.
Somos convidados a tomar a cruz, como no-lo disse Jesus: «Se alguém
quer vir atrás de mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me»
(Mt 16, 24). Tomar a sério a cruz que temos e a dos outros é o principal
passo para a nossa conversão. É necessária a mudança de mentalidade:
onde encontramos o desprezo, a dúvida, o medo, aí se encontra o caminho
da vida.
Oração
Senhor Jesus: dai-nos luz para a nossa alma, para que aprendamos a
ver como convém. Curai as nossas cegueiras, para que, pela conversão,
sejamos capazes de renunciar ao mal, abandonar o pecado e seguir Jesus
sob o peso da cruz.
Cântico apropriado
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III ESTAÇÃO
Jesus cai pela primeira vez
V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
R. Que pela Vossa santa cruz remistes o mundo.
Meditação
A tradição das três quedas de Jesus sob o peso da cruz a caminho
do Calvário é oportunidade para meditar sobre as nossas próprias quedas.
Jesus esvaziou-Se a Si mesmo, como nos recorda São Paulo (cf. Fil 2, 6-8),
para mostrar que quem quer ser cristão tem de se esvaziar de si próprio
para que tudo o que pensamos, somos ou queremos seja expressão do
primado de Deus em nós. Somos chamados a viver aquelas palavras que
Santo Inácio de Loyola colocou na boca de Jesus: «Quem quiser vir
comigo, há-de trabalhar comigo, porque seguindo-me na pena, também me
seguirá na glória».
Oração
Senhor Jesus: fazei com que na Vossa queda aprendamos a
esvaziarmo-nos do egoísmo, da auto-suficiência e do orgulho. Dai-nos a
graça de aprender a viver só para Vós para não sucumbirmos sob o peso
dos nossos pecados.
Cântico apropriado
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IV ESTAÇÃO
Jesus encontra sua Mãe
V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
R. Que pela Vossa santa cruz remistes o mundo.
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Meditação
Também no caminho da cruz, Jesus teve mãe, para nos fazer sentir
que nas dificuldades, nos perigos, nas dúvidas, temos, na Virgem Maria,
uma mãe bondosa e solícita. O escondimento que Maria Santíssima viveu é
o seu testamento mais claro: como primeira discípula do seu Filho, a sua
atitude só pode ser a do escondimento para que Jesus ocupe o centro.
Nossa Senhora ampara e acaricia o seu Filho, mas sabe que a espada que
trespassa a sua alma permanece na sua missão como mãe da Igreja.
Oração
Virgem Maria: no caminho do calvário das nossas vidas, sê o porto
que dá segurança, conforto e força. Ensinai-nos a ocupar o lugar que nos
convém e a ter o vosso Filho no centro das nossas vidas.
Cântico apropriado
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V ESTAÇÃO
Jesus é ajudado a levar a cruz pelo Cireneu
V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
R. Que pela Vossa santa cruz remistes o mundo.
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Meditação
Multiplicam-se nos nossos dias as acções de voluntariado e as
acções pontuais de solicitude para com os mais fragilizados. Mas quem
está verdadeiramente disposto a carregar as dores e os sofrimentos de um
estranho? Simão de Cirene é um convite a carregar a cruz com Jesus, de
forma que nos velhinhos, nos pobres e nos doentes aprendamos a encontrar
o próprio Jesus. Vivamos o que dizia São Paulo: «Se sofremos com Ele,
também seremos glorificados com Ele» (Rm 8, 17).
Oração
Senhor Jesus: como há quase dois mil anos, também hoje nos
quereis atrair para o mistério da cruz. Com Simão de Cirene, ensinai-nos a
verdadeira compaixão, para sabermos que se morremos convosco, também
convosco viveremos (cf. 2Tm 2, 11-12).
Cântico apropriado
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VI ESTAÇÃO
A Verónica limpa o rosto de Jesus
V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
R. Que pela Vossa santa cruz remistes o mundo.
Oração
Senhor Jesus: concedei-nos um coração inquieto e diligente que
Vos procure e Vos ame com gestos simples mas cheios de ternura. Dai-nos
a graça de Vos buscarmos em cada momento das nossas vidas e «erguei
sobre nós a luz da vossa face, Senhor» (Sl 4, 7).
Cântico apropriado
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VII ESTAÇÃO
Jesus cai pela segunda vez
V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
R. Que pela Vossa santa cruz remistes o mundo.
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Meditação
Nos nossos dias vemos como a humanidade tem dificuldade em
aprender com os erros do passado: o ser humano continua a ser esmagado
pelo poder que não é serviço, pela maldade que se torna sistema e pela
indiferença que se torna estilo de vida. Na queda de Jesus vemos Deus a
participar da debilidade dos inocentes e fracos da história. No entanto,
contemplamos na fraqueza e debilidade de Deus a Sua glória e o seu
mandamento: «amai-vos uns aos outros como eu vos amei» (Jo 15, 12)! A
nossa liberdade é a liberdade para amar quem ninguém ama e, assim,
experimentarmos o tremendo amor de Deus pelos fracos. Sejamos
misericordiosos, como o Pai do Céu é misericordioso.
Oração
Senhor Deus: afastai de nós toda a tentação da indiferença, da
inércia e do mutismo diante do mal. Fazei-nos contemplar na segunda
queda do Vosso Filho a caminho do calvário a vossa compaixão e
identificação com todos os que sofrem, pois sabemos que tudo o que
fizermos a um dos nossos irmãos mais pequenos é a Vós que o fazemos
(cf. Mt 25, 40).
Cântico apropriado
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VIII ESTAÇÃO
Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
que choram por Ele
V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
R. Que pela Vossa santa cruz remistes o mundo.
Meditação
Todos nós já encontrámos pessoas que se estão sempre a lamentar.
Hoje vive-se muitas vezes num egoísmo também em relação ao mal:
deixámos de relativizar o que nos acontece e, então, quer o mais pequeno
sofrimento como o maior é visto e experimentado de forma
desproporcional. No entanto, ao rezarmos esta Via Sacra, estamos diante
do maior crime de sempre: Jesus Cristo, o único justo e o inocente, é
condenado à morte. E aí, Jesus não deixa que a compaixão seja superficial:
não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas… De nada vale
compadecer-se do sofrimento alheio se isso não comporta a conversão da
minha própria vida. Os telejornais passam os maiores acidentes e desastres,
e cada um continua confortavelmente sentado no sofá.
Oração
Senhor Jesus: defendei-nos do perigo de, diante do sofrimento,
ficarmos encurralados e parados. Concedei-nos a graça de converter os
nossos gestos e atitudes e de vivermos cada vez mais prontamente o
serviço diligente a todos os que mais necessitam.
Cântico apropriado
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IX ESTAÇÃO
Jesus cai pela terceira vez
V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
R. Que pela Vossa santa cruz remistes o mundo.
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Meditação
Na terceira queda de Jesus a caminho do Calvário com a cruz
podemos ver as quedas a que sujeitamos Jesus todos os que somos já
cristãos e caminhamos na Igreja. Quantas vezes nas nossas comunidades
surgem invejas, dissensões, lutas, buscas de protagonismo, manipulação,
entre tantos outros pecados. A Igreja é Santa porque é o Corpo Místico de
Cristo, mas nos seus membros encontram-se muitos pecadores, algumas
vezes entre aqueles que tinham o dever de viver um mais alto grau de
santidade. No entanto, mesmo depois da queda, o Senhor volta a levantar-
-Se, para que em cada um dos seus membros volte a brilhar a obediência
ao Pai.
Oração
Senhor nosso Deus: renovai o Pentecostes na vossa Igreja. Enchei-
-nos a todos do vosso Santo Espírito para que a Vossa Igreja surja no
mundo como testemunho da benevolência divina e do projecto de salvação
para todos. Dai-nos o ânimo missionário, para levarmos o Evangelho até
aos confins do mundo.
Cântico apropriado
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X ESTAÇÃO
Jesus é despojado das suas vestes
V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
R. Que pela Vossa santa cruz remistes o mundo.
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Meditação
Dão a beber a Jesus vinho misturado com fel. Estão no lugar da
crânio, lugar da caveira, onde, segundo a tradição, tinha sido sepultado
Adão. Vemos assim Jesus, uma vez mais, recapitular toda a história da
humanidade: tal como Adão comeu o fruto da árvore e experimentou a
amargura da morte, assim Jesus, junto à árvore da cruz, experimenta e
abraça a amargura dos nossos pecados. Onde outrora houve morte, agora,
pela mesma morte, Deus devolve a vida a todos os seus filhos. Ser
despojado das vestes significa despojar-se da própria vontade e querer
somente a vontade do Pai: com Jesus despojemo-nos das nossas vestes, da
nossa vontade tantas vezes mesquinha e idólatra, e cumpramos a vontade
de Deus: participemos da vida que nos quer oferecer.
Oração
Senhor Jesus: quando fostes despojado das vossas vestes, o mundo
quis ofender-Vos e dizer que não valeis nada. Neste momento, em que nos
queremos aproximar de Vós, dai-nos a graça de nos esvaziarmos de tudo o
que é impedimento à vossa graça e ajudai-nos a cumprir em tudo e sempre
a vontade do Pai.
Cântico apropriado
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XI ESTAÇÃO
Jesus é pregado na Cruz
V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
R. Que pela Vossa santa cruz remistes o mundo.
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Deus, desce da cruz!». Da mesma forma, também os chefes dos sacerdotes,
escarnecendo juntamente com os doutores da lei e os anciãos, diziam:
«Salvou outros, mas a si mesmo não se pode salvar. É rei de Israel; que
desça agora da cruz e acreditaremos nele».
Meditação
Nas palavras de escárnio e blasfémia dos sumos sacerdotes
podemos ver os nossos pensamentos tantas vezes também blasfemos e
insensatos: Deus abraça o sofrimento com amor e nós, se nos advém
alguma contrariedade pequena ou um mal grande, rápido perguntamos:
«Por quê, meu Deus?». Esta estação ajuda-nos a responder ao enigma do
mal e do sofrimento: quando alguém morre com uma doença, quando uma
criança passa fome, quando um fraco ou doente é maltratado, Jesus está na
cruz, a sofrer connosco. Na cruz de Jesus resolve-se o enigma do
sofrimento: vivido com amor, torna-se fonte de vida para muitos. Com
Jesus, somos convidados a aceitar com amor as dificuldades e a não pedir
algo extraordinário.
Oração
Senhor Jesus, que nos ensinastes a rezar ao Pai, pedindo que
sempre se fizesse a vontade d’Ele, dai-nos o espírito de fortaleza para
vivermos os sofrimentos com amor, e dai aos que se sentem mais
desamparados e sozinhos o auxílio da vossa graça, para que aprendam na
cruz do dia-a-dia o caminho da verdadeira felicidade.
Cântico apropriado
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XII ESTAÇÃO
Jesus morre na Cruz
V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
R. Que pela Vossa santa cruz remistes o mundo.
Meditação
As trevas envolveram toda a terra. A Natureza também faz luto
diante da morte do Criador. O abandono radical que Jesus experimenta
contém em génese, mas também em cumprimento pleno, todos os
sofrimentos, perseguições, solidões, lutas interiores que os discípulos de
Cristo experimentarão ao longo dos séculos. No Cristo morto vemos a mais
radical consequência do pecado, mas também a ainda mais fundamental
fidelidade de Deus. Se muda os nossos esquemas mentais o facto de
vermos Deus morrer na cruz, é porque o mesmo Senhor quer que não
fiquemos em visões superficiais do Seu amor. Deus dá-Se todo,
experimenta a morte, para que cada um de nós seja resgatado da morte do
pecado.
Oração
Senhor Jesus: contemplamo-Vos morto na cruz. Sabemos que na
Vossa morte está o nosso pecado, os nossos sofrimentos e a nossa própria
morte. Dai-nos uma vez mais o Vosso Espírito, para que vivendo como
Vós, aprendamos a morrer para o que Vos desagrada.
Cântico apropriado
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XIII ESTAÇÃO
Jesus é descido da Cruz e entregue a sua Mãe
V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
R. Que pela Vossa santa cruz remistes o mundo.
Oração
Senhor Jesus, Deus escondido no mistério da morte e do
sofrimento: dai-nos a graça de acreditar contra toda a esperança; ajudai-nos
a procurar-Vos nos que sofrem e a encontrarmos o verdadeiro serviço no
amor do próximo. Purificai-nos de tudo o que nos impede de Vos ver nos
mais pequeninos deste mundo e concedei que Vos descubramos cada vez
com mais fé e verdade.
Cântico apropriado
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XIV ESTAÇÃO
Jesus é depositado no sepulcro
V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus.
R. Que pela Vossa santa cruz remistes o mundo.
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Meditação
A nossa fé é posta à prova. Se antes fomos convidados a não ficar
nas ideias feitas a respeito de Deus, agora somos conduzidos ao sepulcro.
Tantas vezes andamos atrás de promessas de felicidiade, de sorte, de
riqueza. Diante do corpo morto de Jesus, vemos que só a fidelidade a Deus
ultrapassa todos os limites que se colocam à nossa existência. Jesus,
constantemente ao longo da Sua vida na terra, procurou o último lugar,
desde o lugar geográfico mais baixo, onde foi baptizado, até ao último
lugar junto daqueles que a sociedade decreta como apêndices destacáveis:
os pobres, os leprosos, os publicanos, as mulheres de má vida, os simples.
O corpo de Jesus é colocado no sepulcro como semente que promete uma
vida nova. Não estamos condenados aos nossos erros, mas com Jesus
somos chamados a não ficar na corrupção da carne e da morte e a
abraçarmos a vida do Espírito.
Oração
Senhor Jesus, que na vossa morte nos prometeis a vida e nos
chamais a ultrapassar todas as barreiras que nos aprisionam, dai-nos a
graça de experimentar hoje a vocação à vida, ao espírito, à experiência da
eternidade junto do Vosso Sagrado Coração. Ajudai-nos a ser testemunhas
da ressurreição.
Cântico apropriado
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ORAÇÃO FINAL
Oração
Senhor Jesus: nestas catorze estações meditámos no Vosso grande
amor por nós. Vimos como tantas vezes somos fracos, débeis, inconstantes
e pouco firmes. Dai-nos a graça de aqui para a frente sermos mais fortes no
propósito de Vos seguir e de sermos Vossa imagem nos meios que
frequentamos. Por intercessão da Vossa e nossa mãe, Senhora das Dores,
gravai nos nossos corações estas imagens do Vosso amor, para que todos
os dias renovemos, com a ajuda da Virgem Santíssima, a firme decisão de
vivermos o nosso baptismo, como filhos de Deus. Amen.
Bênção final
Cântico apropriado
FICHA TÉCNICA:
Textos bíblicos: CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA, Bíblia: Os
Quatro Evangelhos e os Salmos, Lisboa, Fundação Secretariado Nacional
da Educação Cristã, 2019.
Autor das meditações e orações: Pe. Ricardo Figueiredo
As meditações foram escritas, inspirando-se nas reflexões dos seguintes
livros:
Joseph RATZINGER, Via Sacra, Lisboa, Paulinas, 2005.
Carlo Maria MARTINI, Los relatos de la pasión: Meditaciones, Santander,
Sal Terrae, 2018.
António VAZ PINTO, Manual do Peregrino, Braga, Editorial do Apostolado
da Oração, 2003.
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