Sie sind auf Seite 1von 10

Autor: Carlos José Giudice dos Santos

TIPOS DE CONHECIMENTO
Introdução
Conhecimento eminentemente prático, diretamente relacionado à sobrevivência, passado de geração
em geração pela tradição oral;
Conhecimento eminentemente teórico, sistematizado, com o objetivo de informar, passado por
intermédio de livros, revistas, documentários de televisão e até mesmo um professor, quando a
criança consegue prestar atenção.
Ao longo da história da humanidade, iremos distinguir quatro tipos de conhecimento:
(1) o conhecimento popular ou senso comum,
(2) o conhecimento religioso,
(3) o conhecimento filosófico e o
(4) conhecimento científico.
Cada um deles, dentro de seu escopo, possui o mesmo objetivo: responder às nossas dúvidas
atuais e criar novas dúvidas. Apesar do conhecimento científico ser o mais sistematizado, podemos
afirmar com certeza que a ciência não é o único caminho que leva à verdade.

CONHECIMENTO POPULAR OU SENSO COMUM


É um conhecimento que existe desde a época dos homens das cavernas. É um conhecimento
passado de geração em geração, e que, de certa forma, deu origem a todos os outros tipos de
conhecimento. A grande maioria dos fatos do nosso cotidiano atual tiveram origem no senso comum,
e muitas vezes, por mero acaso.
EXEMPLO
A descoberta do fogo, por exemplo. O homem deve ter conhecido o fogo por acaso, mas a partir
do momento que dominou a arte fazer o fogo, passou a ter, pela primeira vez, uma possibilidade de
dominar a natureza. Existe a possibilidade de que até mesmo a metalurgia tenha surgido por puro
acaso. A época certa de se semear e colher determinados tipos de cereais é também um exemplo de
conhecimento muito antigo, que foi passado de geração em geração. Muitos camponeses de nossos
dias, mesmo iletrados e desprovidos de outros conhecimentos, sabem o momento certo da
semeadura, a época da colheita, a necessidade da utilização de adubos e os tipos de solos
adequados para diferentes culturas (MARCONI e LAKATOS, 2008).
Existem certas práticas derivadas do conhecimento popular que foram passadas de geração em
geração, mas que não possuem respaldo científico. Por exemplo, as superstições: não comer mangas
à noite e nem mistura-las com leite; não deixar o noivo ver sua amada vestida de noiva antes do
casamento; não passar debaixo de escadas; colocar uma vassoura virada atrás da porta para
espantar uma visita chata etc... Devemos lembrar que uma dona de casa, ao fazer compras, escolhe
produtos analisando qualidade e preço, ela escolhe as frutas e verduras da estação, abundantes e,
portanto, mais baratas, em detrimento de frutas e verduras de fora da estação, escassas e, por
conseguinte, mais caras. O cardápio semanal é montado de maneira balanceada, utilizando uma
ginástica mental de tal modo que ela possa cumprir com o seu objetivo de alimentar a família sem
exceder o orçamento. O conhecimento utilizado aqui, nesse caso, é o senso comum.
FIM DO EXEMPLO
CONHECIMENTO RELIGIOSO
O conhecimento religioso talvez seja tão antigo quanto o conhecimento popular. Faz parte da
característica humana buscar explicações para suas dúvidas. Entretanto, pode ter havido muitos
casos em que o homem antigo deve ter se perguntado sobre o porquê de determinado fenômeno (por
exemplo, o que é, e porque ocorre um eclipse lunar) e não tenha conseguido uma explicação natural.
Assim, surgia então uma explicação sobrenatural, um mito, que teria a função de tranquilizar o
homem, porque esse mito forneceria a explicação necessária para a sua dúvida.
Desde a mais remota antiguidade, o homem percebia que a natureza era regulada por ciclos: o
ciclo do dia e da noite, o ciclo das marés (alta e baixa), os ciclos da lua (cheia, minguante, nova e
crescente) e o ciclo das estações. Entretanto, o homem não sabia o porquê desses ciclos. E, muito
pior, quando acontecia algo anormal dentro de um ciclo esperado, ou um evento da natureza que ele
não tinha como prever (uma inundação, um terremoto, uma erupção de vulcão etc), as explicações
para esses acontecimentos inexplicáveis era também inexplicável. Nesse contexto, surgem os
deuses, senhores dos acontecimentos, como responsáveis por esses fenômenos naturais. Para haver
controle da situação, é preciso angariar a simpatia ou aplacar a ira de um desses deuses com
sacrifícios, muitas vezes humanos.
EXEMPLO
Peguemos como exemplo o ciclo das estações. Como dizem as lendas de antigos gregos,
milhares de anos antes de Cristo, existia uma deusa de nome Deméter (para os gregos) ou Ceres
(nome dado mais tarde pelos romanos) que é a responsável pela alimentação do homem. É a deusa
da agricultura, filha de Cronos (ou Saturno para os romanos), o deus do tempo, e irmã de Zeus
(Júpiter para os romanos), o rei dos deuses, o chefe do Olimpo, a morada dos imortais.
Dialética e o seu mundo das formas (ou ideias). Era um escritor de grande talento, que utilizava em
No mundo daquele tempo era primavera todo o tempo. O homem tinha fartura de alimentos
durante todo o ano graças à bondosa deusa Deméter. Acontece que Deméter tinha uma filha
lindíssima chamada Perséfone (Prosérpina para os romanos), que despertou a paixão de seu tio, o
deus Hades (ou Plutão), o senhor dos infernos 1 (ou profundezas do subterrâneo, também conhecidas
como tártaro ou simplesmente submundo).
Hades, encantado com a beleza de Perséfone, usa de um estratagema para faze-la sua rainha:
convida-a para um passeio em seu reino, e oferece a ela um fruto (uma romã). O que Perséfone não
sabe é que todo aquele que come um fruto do tártaro é obrigado a viver no tártaro, sob pena de seu
corpo fenecer. Assim, ela teve que aceitar a morte de seu tio, e se tornou esposa de Hades.
Deméter ficou inconformada com aquilo que ela considerava como um rapto de sua filha por
parte de seu irmão. Diante de sua tristeza, abandonou os homens à própria sorte e o mundo se
converteu em um inverno constante (provavelmente, a era glacial). Zeus, preocupado com o destino
dos seres humanos, procura o seu irmão Hades e faz um acordo: Perséfone passaria metade de cada
ano ao lado da sua mãe (Deméter) e a outra metade ao lado do marido (Hades).
Assim, quando Perséfone subia das profundezas para se encontrar com a mãe, a alegria de
Deméter transparecia sob a forma da estação primavera e verão; quando Perséfone retornava às
profundezas, a tristeza de Deméter dava início ao outono, seguido do inverno. Eis aqui o motivo do
ciclo das estações (CAMPBELL, 1990; CAMPBELL, 1993).
FIM DO EXEMPLO

1
É importante ressaltar que inferno na cultura grega não tem o mesmo significado de inferno na visão cristã. Para
os gregos, os infernos (são vários) é simplesmente o local para onde vão todos os mortais, e não está associado
somente a castigo. Os Campos Elíseos, por exemplo, está localizado no tártaro, e é o local para onde vão as boas
almas, que podem retornar à vida ao atravessar o Lethé, o rio do esquecimento
É importante ressaltar que mito e religião não são a mesma coisa, embora todas as religiões
tenham os mitos como origem. De modo geral, todas as religiões estão baseadas em homens
extraordinários, que, de alguma forma, possuem ligações com o inexplicável, com o sobrenatural,
realizando feitos notáveis em nome de Deus ou como um Deus (por exemplo, Buda, Moisés, Davi,
Cristo e Maomé). Pode-se dizer que as religiões são uma evolução dos mitos, que passam pelo crivo
da luz do pensamento racional.
As religiões diferenciam-se dos mitos por vários fatores. Dois desses fatores são listados aqui:
(1) o homem não tem um papel passivo diante do sobrenatural, e
(2) as manifestações do inexplicável (mitos) são apenas representações simbólicas, ou metáforas.
Assim é importante perceber que o mito, em si, não é uma mentira; é antes uma metáfora que
tenta explicar a nossa realidade (CAMPBELL, 2003). Acontece que muitas pessoas não sabem ao
certo o que é uma metáfora. Se alguém fala que outra pessoa é bondosa como um anjo, isso é uma
comparação, e não uma metáfora; metáfora seria dizer: “Tal pessoa é um anjo!”. Quando se toma
essa metáfora (que é uma representação simbólica) como fato (verdadeiro e real), começam os
problemas de interpretação que já levaram a inúmeras desavenças religiosas ao longo da história da
humanidade.
Joseph Campbell, considerado uma das maiores autoridades em mitologia comparada do século
XX, demonstrou que existem vários conceitos mitológicos que são comuns às religiões. Acerca
desses conceitos mitológicos comuns, ele declara que
“[...] há, sem dúvida, diferenças entre as inúmeras religiões e
mitologias da humanidade, mas este livro trata das semelhanças;
uma vez compreendidas as semelhanças, descobriremos que as
diferenças são muito menos amplas do que se supõe
popularmente” (CAMPBELL, 1989, p.12).
Entretanto, ele faz uma distinção entre as religiões ocidentais (o grupo de religiões que surgiram
a oeste do Irã, incluindo o Oriente Próximo e a Europa) e as religiões ocidentais (que surgiram a leste
do Irã, incluindo a Índia e o extremo Oriente). Essa distinção se faz necessária porque os objetivos
desses dois grandes grupos de religiões são diferentes.
As quatro grandes religiões ocidentais são, em ordem cronológica, da mais antiga para a mais
contemporânea,
1. o zoroastrismo,
2. o judaísmo,
3. o cristianismo
4. e o islamismo.
O traço comum das grandes religiões ocidentais é, além do monoteísmo (um só Deus), o fato de
que:
a. Deus fez o mundo,
b. e que Deus e o mundo não são a mesma coisa.
A meta das religiões ocidentais é: em suma, criar um relacionamento entre os seres humanos e
Deus. Os homens e Deus são diferentes, ou seja, os homens foram criados por Deus.

Nas religiões orientais, em uma visão bem concisa,


a. Deus, o mundo e o homem são a mesma coisa.
Em outras palavras, o mundo e os homens não foram criados por Deus; são apenas diferentes
manifestações do mesmo Deus. Nas religiões orientais é muito comum o politeísmo (vários deuses).
A meta das religiões orientais é: entrar em contato com o transcendental, reconhecendo Deus
em você e reconhecendo o Deus presente no outro (ser humano, animais etc).
A função do conhecimento religioso é, como em qualquer tipo de conhecimento, o de fornecer
respostas para nossas perguntas. Neste caso, não são perguntas científicas, mas perguntas
relacionadas às nossas dúvidas existenciais, aos nossos anseios, destinos e laços que nos remetem
a uma entidade superior.

CONHECIMENTO FILOSÓFICO

Na visão de Matallo Júnior (1989), os gregos foram os primeiros a criar condições para uma
sistematização do conhecimento. Essa sistematização só foi possível devido à separação de classes
(homens livres, cabeça, trabalho intelectual e; escravos, mãos, trabalho braçal).
O comércio (que colocou a Grécia em contato com outros povos além mar) e a moeda (um
símbolo aceito como padrão para substituir o escambo) foram alguns dos fatores que alargaram os
horizontes dos gregos, permitindo ampliar também os horizontes do pensamento. Os primeiros
pensadores gregos, ao tomar contato com estrangeiros, verificavam que eram homens como eles. Ao
perguntarem sobre monstros marítimos e/ou lendários, começaram a perceber que esses não
existiam, ou se existiam, não podiam ser comprovados, ganhando assim, o status de lenda. Essa
busca da verdade levou ao questionamento dos mitos. A indagação em busca da verdade levou ao
nascimento da filosofia (CHAUÍ, 2005).
Ao se estudar a história do nascimento da filosofia, que influenciou todo o pensamento ocidental,
é comum dividirmos essa história em duas:
1. antes de Sócrates (os pensadores pré-socráticos) e
2. depois de Sócrates (representados pelo três grandes filósofos: Sócrates, Platão e Aristóteles).
De acordo com Russel (2002), vários são os pensadores pré-socráticos:
 Tales, Anaximandro, Anaxímenes, representantes da escola milésia (da cidade de Mileto);
 Pitágoras,
 Xenófanes (da cidade de Samos);
 Heráclito (da cidade de Éfeso);
 Parmênides (da cidade de Eléia, ao sul da Itália);
 Empédocles (da cidade de Agrigento);
 Anaxágoras (natural da cidade de Clazomenas) que vivia em Atenas;
 Zenão (também da cidade de Eléia);
 Melisso (também da cidade de Samos);
 Demócrito (da cidade de Abdera);
 Protágoras, um dos primeiros sofistas,
 e outros.
Sócrates é o primeiro grande filósofo grego, sendo a ele é atribuído a criação da:
a. Dialética (debate no campo das ideias, que faz surgir as contradições), da
b. Maiêutica (a arte de partejar espíritos) e a ironia (a arte de interrogar).
Sócrates não deixou nada escrito, mas muitas das suas histórias chegaram até nós por meio das
obras de discípulos como Platão e Xenofonte (CHASSOT, 2004).
Platão, o segundo grande filósofo grego, defende a tese do inatismo da razão, ou seja, que o
homem já nasce com conhecimento. Platão fundou uma escola, a Academia, onde se desenvolveu a
Dialética e o seu mundo das formas (ou ideias). Era um escritor de grande talento, que utilizava em
seus escritos, um procedimento literário que o auxiliava a expor suas teorias mais difíceis. Tal
procedimento é a alegoria ou o mito.
Suas obras mais famosas são Mênon e República (MARCONI; LAKATOS, 2008), além de O
político e As leis (CHASSOT, 2004).
Aristóteles (o terceiro grande filósofo grego), que foi discípulo de Platão, discordou da doutrina
platônica, depois de mais de vinte anos de Academia. Ele promoveu uma aproximação entre os
fenômenos e as formas, o que levou à criação do método indutivo. Essa discordância gerou uma
grande divergência com o seu mestre, Platão, a quem é atribuída a frase: “Aristóteles me despreza
como o potro que escoiceia a mãe que o deu à luz”. Aristóteles respondeu: “Amigo de Platão, mas
mais amigo da verdade” (CHASSOT, 2004, p. 51).
Aristóteles deixou Atenas e foi para a Macedônia, onde se tornou tutor do futuro rei Alexandre
durante três anos. Quando retornou a Atenas, fundou a sua própria escola, chamada de Liceu (que
recebeu inestimável auxílio financeiro de seu ex-aluno, Alexandre), onde trabalhou por treze anos
seguidos (CHASSOT, 2004). Suas obras mais famosas são Física (em quatorze volumes) e Política
(MATALLO JÙNIOR, 1989).
Filosofia e Ciência são irmãs: nasceram no mesmo local (Grécia), mesma época
(aproximadamente seis séculos antes de Cristo) e com o mesmo objetivo: a busca da verdade.
Ambas buscam uma sistematização do conhecimento. As duas caminharam praticamente juntas
desde o nascimento até o final do século XIX, quando houve uma cisão mais definitiva entre as duas
devido ao Positivismo2.
As perguntas que a Filosofia tenta responder são diferentes daquelas que a Ciência consegue
responder. Enquanto a Ciência é fortemente baseada em fatos, tentando estabelecer leis e padrões, a
Filosofia é especulativa, baseada principalmente na argumentação.

CONHECIMENTO CIENTÍFICO
De acordo com Matallo Júnior (1989), o conhecimento científico começa a partir do momento em
que as explicações saem do campo da opinião (eu acho que) e entram no mundo do método da
ciência (eu sei que). O senso comum é um conjunto de informações não sistematizadas,
fragmentadas. A partir do momento em que essas informações começam a ser justificadas por meio
de argumentos aceitáveis, o senso comum começa a evoluir em direção à ciência. Em outras
palavras, o senso comum trabalha com o juízo de valor, com o subjetivo. Assim, não há como
determinar se uma opinião é boa ou má, verdadeira ou falsa. O desenvolvimento científico leva esses
comportamentos informais a um formalismo, um padrão aceitável pela maioria como verdade.
Assim, a ciência pode ser definida como um conjunto de proposições coerentes, objetivas e
desprovidas (até certo ponto) de valorações (MATALLO JÙNIOR, 1989). O mesmo autor nos ensina
que o conhecimento científico tem início em problemas que visam solucionar questões práticas ou
explicar irregularidades em padrões da natureza. Esses problemas criam teorias que devem ser
validadas por um programa investigativo de pesquisa. Tais programas visam determinar leis que
explicam e permitem fazer previsões (nem sempre infalíveis).
A ciência é extremamente rigorosa em suas proposições, que, por sua vez, são fortemente
baseada em fatos verdadeiros. Surge aqui uma dúvida: o que é a verdade? É aquilo que podemos
ver, ou aquilo que podemos comprovar? E como podemos comprovar e saber que algo é verdade?
Vamos juntos tentar achar respostas para essa pergunta.

EXEMPLO
Alexandria era o maior centro cultural e econômico da Antiguidade. Seu maior tesouro era a
Biblioteca de Alexandria. Além de um local para preservar os papiros e pergaminhos, a biblioteca
comportava um grande museu e uma academia onde os sábios debatiam suas teses. Haviam ainda
2
é uma corrente de pensamento filosófico, sociológico e político que surgiu em meados do século XIX na França. A
principal ideia do positivismo era a de que o conhecimento científico devia ser reconhecido como o único
conhecimento verdadeiro.
salas onde médicos faziam dissecações de pessoas e animais, locais com aparelhos para
observações astronômicas e jardins, onde se colecionavam plantas e animais exóticos. Todos os
profissionais pesquisadores da biblioteca eram profissionais assalariados da corte ptolomaica
(CHASSOT, 2004).
A história que relato a seguir, sobre a Biblioteca de Alexandria, é baseada em um relato de
SAGAN (1982) e em um documentário produzido para a televisão. De acordo com essas fontes, havia
um grego chamado Eratóstenes, diretor da Biblioteca de Alexandria, que foi, dentre diversos ofícios,
astrônomo, historiador, geógrafo, filósofo, poeta, crítico de teatro e matemático. Um dia, na biblioteca,
leu um papiro que assegurava que, na fronteira avançada do sul de Siena, próximo à primeira
catarata do rio Nilo, ao meio dia do solstício de verão (dia mais longo do ano no hemisfério norte, e
que corresponde hoje a 21 de junho), varetas retas e verticais não produziam sombras.
A observação anterior talvez passasse despercebida para a maioria das pessoas, mas
Eratóstenes, com certeza, não era uma pessoa comum. Como filósofo, deve ter se perguntado: “Será
que isso é verdade?”. E como cientista, segundo relatos, deve ter pensado: “Vamos experimentar!”.
Ele esperou a aproximação do próximo solstício de verão e repetiu a experiência em algum jardim da
biblioteca. O que descobriu é que em Alexandria, varetas retas e verticais lançavam sombra durante o
solstício de verão. Com certeza, surgiu uma dúvida: “Porque em Alexandria as varetas possuem
sombras e em Siena não?”. Se a Terra fosse plana, como percebemos com a nossa visão e como
todos acreditavam naquela época, as varetas não teriam sombra nos dois locais. Então, o que
acontecia para que, no mesmo momento, não houvesse sombra em Siena e sim em Alexandria?

Partindo do princípio de que a experiência executada em Siena foi relatada fidedignamente, a


única resposta que poderia explicar tal disparate era se a Terra fosse curva. Ele alugou um homem
para ir a Siena, contando a distância em passos, e ficou sabendo que a distância aproximada entre as
duas cidades era de aproximadamente de 800 quilômetros. Assim, refez seu raciocínio original
(mostrado na figura a seguir no Caso 1) e o redesenhou (mostrado na figura a seguir no Caso 2).

Ele sabia que os raios de sol, por serem de uma fonte distante, eram paralelos quando
chegavam à Terra. Sabia também que os prolongamentos das duas varetas (uma em Siena e outra

em Alexandria) se encontrariam no centro da Terra. Sabia que o Ângulo A, de 7 o, formado pela vareta
em Alexandria com a sua respectiva sombra, era igual ao Ângulo B, formado pelos prolongamentos
das varetas no centro da Terra (quando temos duas retas paralelas cortadas por uma reta transversal,
os ângulos formados por essa última com as retas paralelas, denominados opostos pelo vértice,
possuem igual medida). Com a medida de que ele dispunha entre as duas cidades, conseguiu
calcular o raio da terra com notável precisão (menos de 3% de erro em relação ao valor real,
calculado com a tecnologia atual). Os únicos instrumentos de que Eratóstenes dispunha eram os
olhos, os pés, as varetas, o cérebro e alguns conhecimentos matemáticos (geometria). Tudo isso três
séculos antes de Cristo.
FIM DO EXEMPLO
Se formos verificar, ele duvidou do óbvio: a Terra é plana. É o que nossos olhos nos
mostram, quando olhamos para o mundo. Temos a percepção de que a Terra é plana. Do mesmo
modo, temos a percepção de que o sol gira em torno da Terra. Assim, o real não é somente aquilo
que nossos olhos conseguem ver. A ciência duvida do óbvio e frequentemente, descobre a realidade.
A busca da verdade é o objetivo primordial da ciência, mas, conforme citado anteriormente, não é o
único caminho que leva à verdade. Todos os tipos de conhecimento buscam isso também.
Na astronomia, as descobertas também foram notáveis. Aristarco de Samos, no século II a.C. foi
o primeiro homem a propor uma teoria heliocêntrica, colocando o sol no centro do universo. Os
escritos de Hiparco de Nicéia, que também datam do início do século II a.C., mostram medidas
aproximadas das distâncias do Sol e da Lua, aproveitando um eclipse total do Sol que ocorreu em
190 a.C.
Chassot (2004) relata que a parte principal da Biblioteca de Alexandria, que ficava no bairro de
Brúquio, foi totalmente incendiada em 47 a.C., nas batalhas dos romanos pela posse do Egito.
Segundo o mesmo relato, quando César retirou-se do Egito, deu de presente a Cleópatra, como
compensação, 200 mil rolos de papiro da Biblioteca de Pérgamo. A biblioteca foi incendiada mais uma
vez em 269 d.C., e totalmente dilapidada em 415 d.C. por instigação de monges cristãos, que a
consideravam como um centro herético. A diretora do Museu de Alexandria nessa data, Hipácia,
matemática e filósofa neoplatônica (reconhecida como a primeira mulher cientista da época), foi
cruelmente torturada e assassinada. Finalmente, cerca de 640 d.C., com a invasão islâmica, as
poucas obras que sobraram foram rematadas ou queimadas.
Existe um certo consenso de que a destruição desse patrimônio inestimável pode ter atrasado o
desenvolvimento científico da humanidade entre 200 e 500 anos. Não há como sabermos ao certo se
isso pode ser confirmado, mas decerto, temos muito que lamentar.
Marconi e Lakatos (2008) nos ensinam que o conhecimento científico é basicamente factual
(baseado em fatos), mas também pode ser racional e formalizado (caso da Lógica e da Matemática).
A ciência factual distingue dois tipos de fatos:
a. os fatos naturais (que deram origem às ciências exatas, biológicas, da terra e da saúde);
b. os fatos sociais (que deram origem às ciências humanas, tais como a Sociologia, a
Antropologia, o Direito, a Economia, a Psicologia, a Educação, a Política etc).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para finalizar, apresento um quadro comparativo entre os quatro tipos de conhecimento, de


acordo com Trujillo (1974 apud MARCONI e LAKATOS, 2008, p, 77-78):

CONHECIMENTO POPULAR CONHECIMENTO RELIGIOSO

Valorativo Valorativo

Reflexivo Inspiracional
Assistemático Sistemático

Verificável Não verificável

Falível Infalível

Inexato Exato

CONHECIMENTO FILOSÓFICO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Valorativo Real (factual)

Racional Contingente

Sistemático Sistemático

Não verificável Verificável

Infalível Falível

Exato Aproximadamente exato

Conhecimento Popular:
 É valorativo porque é influenciado pelos estados de ânimo e emoções do observador, que
impedem uma isenção de opinião sobre o objeto estudado.
 É reflexivo, porque a familiaridade com o objeto estudado não instiga à formulação de
padrões, não permitindo uma formulação geral.
 É assistemático porque baseia-se em uma organização particular (subjetiva), que depende do
sujeito. É verificável, porém apenas em relação ao que pode ser observado, no dia-a-dia,
dentro do âmbito do observador, ou seja, a verificabilidade é subjetiva.
 É falível porque se conforma apenas com o que se vê ou se ouviu falar, não se preocupando
em buscar a verdade.
 É inexato, porque a falibilidade não permite a formulação de hipóteses verificáveis sob o
ponto de vista filosófico ou científico.
Conhecimento Religioso:
 É valorativo porque baseia-se em doutrinas que possuem proposições sagradas (dogmas),
que emitem um juízo de valor.
 É inspiracional, porque é revelada pelo sobrenatural.
 É sistemático porque os dogmas revelam um conhecimento organizado do mundo (de onde
viemos, para qual finalidade e para que destino).
 É não verificável, porque não precisa, por depender da fé em um criador divino.
 É infalível e exato, porque os dogmas (revelações divinas) não podem ser discutidos.
Conhecimento Filosófico:
 É valorativo porque parte de hipóteses que não podem ser submetidas à observação, ou seja,
baseia-se na experiência, na argumentação, mas não na experimentação.
 É racional por consistir de um conjunto de enunciados logicamente relacionados.
 É sistemático pelo fato das hipóteses e enunciados buscarem uma representação coerente e
geral da realidade estudada.
 É não verificável porque as hipóteses filosóficas, ao contrário das científicas, não podem ser
confirmadas nem refutadas.
 É infalível e exato porque as hipóteses filosóficas não exigem confirmação experimental e não
delimitam o campo de observação, exigindo apenas coerência e lógica, que prescindem da
experimentação.

Conhecimento Científico:
 É factual porque lida com ocorrências e fatos.
 É contingente porque as hipóteses podem ser validadas ou descartadas por base na
experimentação, e não apenas pela razão.
 É sistemático porque busca a formulação de ideias correlacionadas que abrangem o todo do
objeto delimitado para estudo. É verificável a tal ponto que as hipóteses que não forem
comprovadas deixam de pertencer ao âmbito da ciência. É falível porque nenhuma verdade é
definitiva e absoluta.
 aproximadamente exato, porque novas proposições e novas tecnologias podem reformular o
conhecimento científico existente.
REFERÊNCIAS

 CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 1989.

 ________________. O poder do mito. São Paulo: Palas Atena, 1990.

 ________________. As transformações dos mitos através do tempo. São Paulo:


Cultrix, 1993.

 ________________. Tu és isso: transformando a metáfora religiosa. São Paulo:


Madras, 2003.

 CHASSOT, Attico. A ciência através dos tempos. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004.

 CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005.

 FERNANDES, Vladimir. Mito e religião na filosofia de Cassirer e a moral religiosa.


Notandum. São Paulo, Centro de Estudos Medievais Oriente & Ocidente da Faculdade
de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), ano VII, n. 11, 2004. Disponível
em: http://www.hottopos.com/notand11/vladimir.html . Acesso em: 25 mar. 2009.

 MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia


científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

 MATALLO JÚNIOR, Heitor. A problemática do conhecimento. In: CARVALHO, Maria


Cecília Maringoni de (Org.). Construindo o saber – metodologia científica:
fundamentos e técnicas. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 1989. cap. I. p. 13-28.

 RUSSELL, Bertrand. História do pensamento ocidental: a aventura das idéias dos


pré-socráticos a Wittgenstein. 6. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

 SAGAN, Carl. Cosmos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.

 __________. O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela
no escuro. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

Das könnte Ihnen auch gefallen