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GÊNEROS DISCURSIVOS
NO ENSINO DE LÍNGUA
CONTEXTUALIZANDO
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adolescência, não é mesmo? Provavelmente você tem um amigo que nunca leu
um livro inteiro e que copiava os resumos do fim do livro para apresentar na
escola. Certamente, você já deve ter ido à biblioteca da escola fazer uma pesquisa
e foi copiando vários parágrafos de um livro sem ao menos citar o autor, não é?
Essa era a forma de pesquisa que daquela época: as redes sociais, a
internet e os smartphones não faziam parte das nossas vidas, e nem por isso
todos se tornaram leitores assíduos ou bons escritores.
Por isso, precisamos desconstruir alguns desses (pre)conceitos sobre as
novas tecnologias de informação e comunicação na escola, e isso só pode
acontecer quando estudamos o assunto.
Acompanhe-me durante esta aula para rever conceitos sobre este tema.
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A combinação entre computador e Internet resultou na emergência dos
gêneros digitais: uma nova classe de gêneros caracterizados por uma
tríade – conteúdo, forma e funcionalidade. Usuários abordam amostras
de gêneros digitais com certas expectativas sobre a funcionalidade, bem
como da forma e do conteúdo. (Tradução nossa)1
1 “The combination of the computer and the Internet, however, has resulted in the emergence of
cybergenre, a new class of genre characterized by the triple, <content, form, functionality>. Users
approach instances of cybergenre with certain expectations with respect to functionality, as well as
to form and content.” (Sheperd & Watters, 1999, p. 1)
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cuja subjetividade se mescla na hipersubjetividade de infinitos textos
num grande caleidoscópio tridimensional onde cada novo nó e nexo
pode conter uma outra grande rede numa outra dimensão. Enfim, o que
se tem aí é um universo novo que parece realizar o sonho ou alucinação
borgiana da biblioteca de Babel, uma biblioteca virtual, mas que funciona
como promessa eterna de se tornar real a cada “clique” do mouse.
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A ausência de hierarquia entre diferentes segmentos de informação
pode levar o leitor, principalmente aqueles iniciantes em uma área do
conhecimento, a sucumbir em um “pântano de informações”
disponibilizadas na tela sem uma gradação de importância e valor.
Leitores novatos necessitam de orientação na sua leitura e também de
um número mais restrito de opções para serem capazes de fazer
escolhas.
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Mas essa primeira revolução do livro não alterou a técnica de reprodução
do texto, ainda atribuída somente à cópia do manuscrito. A revolução do
e-book é uma revolução técnica (como a invenção da imprensa), uma
revolução da plataforma da escrita (como a invenção do códex) e uma
revolução na leitura que desafia as categorias e práticas que definem a
relação com a escrita desde o século 18. (Chartier, 2012)
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Diferente do que acontecia antes da revolução da internet, quando um fato
ocorrido na noite só estaria na imprensa escrita no dia seguinte ou dois dias depois
(dependendo do horário de fechamento de uma edição), hoje a mídia escrita
também é on-line, é instantânea, podendo ser produzida e lida por qualquer
pessoa, desde que esta tenha acesso à rede.
Sendo assim, o trabalho na escola deve ser a partir dos mais variados
gêneros e discutido a partir das mais diferentes habilidades. A produção de
conteúdo deve estar atrelada a fatos reais do cotidiano, sempre que possível, os
gêneros utilizados pelos alunos devem fazer parte das aulas e, sempre deve ser
considerada, a instantaneidade das informações.
O primeiro passo para inserir os gêneros discursivos digitais em sala de
aula é estar a par dos gêneros usados pelos alunos e saber onde eles circulam.
Sabemos que as redes sociais abrigam boa parte deles. Mas será que as redes
podem ser usadas na escola? É o que veremos a seguir.
Há aqueles que usam o termo “redes sociais digitais” para sites como
Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat etc. Para esta disciplina, utilizaremos o
termo “redes sociais”, pois a importância está no conceito e no uso que se faz de
tais redes.
Cada rede social traz uma configuração diferente, objetivos diferentes e
também diferentes formas de interação; comum a todas é a possibilidade de
interação. Pensemos nas quatro redes sociais citadas acima e vejamos um pouco
sobre cada uma delas, de acordo com seus desenvolvedores:
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1. Facebook
2. Twitter: “O Twitter é o lugar certo para saber mais sobre o que está
acontecendo no mundo e sobre o que as pessoas estão falando agora”
(Disponível em: <https://about.twitter.com/pt.html>. Acesso: 19 fev 2018).
3. Instagram:
2 Tradução livre: “Kevin Systrom (@kevin) is the CEO and co-founder of Instagram, a community
of more than 800 million who capture and share the world's moments on the service. He is
responsible for the company's overall vision and strategy as well as day-to-day operations. Since
the beginning, Kevin has focused on simplicity and inspiring creativity through solving problems
with thoughtful product design. As a result, Instagram has become the home for visual storytelling
for everyone from celebrities, newsrooms and brands, to teens, musicians and anyone with a
creative passion” (Disponível em: <https://www.instagram.com/about/us/>. Acesso: 19 fev 2018).
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E as redes sociais na escola? No ensino de língua? Vários são os trabalhos
divulgados sobre o uso das redes sociais em sala de aula. No ensino de línguas
podemos pensar nos diferentes gêneros discursivos que aparecem nas redes
sociais e nos diferentes objetivos de cada gênero ou rede. O Twitter, por exemplo,
inicialmente permitia tweets (postagens) de até 143 caracteres; atualmente, é
possível escrever até 280 caracteres; também permite inserir uma enquete em
sua postagem, uma imagem, um gif e a sua localização.
O Facebook, uma rede com maior número de acessos, tem também
diferentes recursos. As postagens não têm limites de caracteres e, embora os
usuários também as utilizem para contar o que está acontecendo no momento,
não tem o mesmo objetivo que o Twitter, que faz uso maior de #hashtags para
busca e produção de conteúdos.
Redes como o Snapchat têm uma configuração diferente: as histórias
postadas não ficam disponíveis “para sempre”, pois têm duração de 24 horas,
podendo ser textos, vídeos, fotos etc.
Está cada vez mais comum que as redes sociais integrem novas formas de
interação. O Facebook, por exemplo, agregou a possibilidade de troca de
mensagens instantâneas. O Instagram passou a ter postagens que
“desaparecem” após 24 horas, como acontece no Snapchat. Esta é a dinâmica
das redes sociais.
No trabalho com redes sociais na sala de aula é importante o professor
começar com um processo de reconhecimento das redes sociais usadas pelos
seus alunos: perceber quais são as formas de interação e o gênero usado nas
postagens, qual o público que acessa, quais são as ferramentas disponíveis e os
conteúdos normalmente publicados.
A partir dessas informações, o professor deve fazer um planejamento em
que considere:
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6. A produção na rede social permite apenas o texto verbal ou podem ser
usados emoticons e gifs? A produção é apenas na língua escrita ou há a
possibilidade de vídeos?
7. Procure, a partir do uso das redes sociais, propor o uso de diferentes
gêneros discursivos digitais que trabalhe as quatro habilidades linguísticas.
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O blogue é um gênero normalmente usado para trabalhar a habilidade de
escrita. De acordo com Silva e Albuquerque (2009), por exemplo, há cinco
categorias de blogs educacionais:
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Ainda sobre as redes sociais, um gênero emergiu e tornou-se
característico. O trabalho com esse gênero em sala de aula pode ter bons
resultados, uma vez que, além de abordar diferentes habilidades, requer do aluno
conhecimento de mundo, atualização constante e domínio do gênero. Mas que
gênero é esse? Estamos falando do gênero memes. De acordo com Maciel e
Takaki (2016, p. 55),
De uma forma ampla, memes significa tudo o que pode ser copiado de
uma mente para a outra e que “diretamente molda e propaga ações-
chave de um grupo social”, arrematam Lankshear e Knobel (2007, p.
211). [...] No dia a dia, os memes podem ser encontrados em
diversificadas esferas sociais como nos designs de moda, nos modelos
arquitetônicos, nos sons, nos desenhos, nos valores estéticos e morais,
nos jingles de propagandas políticas e comerciais, nos slogans, nos
provérbios e aforismos, a exemplo deste: Deus ajuda quem cedo
madruga.
Os memes que têm boa circulação nos meios digitais e sociais são uma
boa forma de trabalho nas aulas de língua, por exigirem do aluno conhecimento
de mundo, de linguagem e de diferentes ferramentas. Nesse trabalho, o uso de
metáforas agrega valor à produção, e a criatividade é ponto inicial para a escrita.
De acordo com Maciel e Takaki (2016, p. 64-65), “no contexto educacional, as
formas de criação e de representação do conhecimento por meio do uso de
memes estão ligadas diretamente ao interesse do aprendiz pelo caráter de sua
agência criativa, que pode ser reforçada pela comunidade de prática à qual
pertence”.
Novamente temos a relação com demais sujeitos: a comunidade de
práticas. Na próxima aula estudaremos atividades práticas a partir de diferentes
gêneros, incluindo os gêneros da esfera digital. Mas comece pensando: Quais
gêneros digitais você usa? Você conseguiria inseri-los em suas aulas?
FINALIZANDO
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Além disso, temos de lembrar que os gêneros discursivos digitais estão
disponíveis não só na forma escrita; logo, pode-se trabalhar as quatro habilidades
linguísticas, seja na língua materna ou na estrangeira.
Por fim, é importante considerar (assim como fazemos com os gêneros de
outras esferas) a realidade do aluno e o contexto social em que ele está inserido.
As atividades, independentemente de quais sejam, devem ter como ponto de
ignição os alunos e sua realidade. É conhecendo os discentes que se inicia um
bom trabalho com os gêneros discursivos digitais.
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REFERÊNCIAS
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ROJO, R. Novos letramentos, tecnologias, gêneros do discurso. In: SOUZA, S;
SOBRAL, A. Gêneros entre o texto e o discurso: questões conceituais e
metodológicas. Campinas: Mercado das Letras, 2016.
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