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ANATOMIA PARA CRICOTIREOIDOSTOMIA

ANATOMY FOR CRICOTHYROIDOSTOMY


GUIDO ANTONIO MARQUES BIGHETTI1
RUI CELSO MARTINS MAMEDE2

Trabalho realizado na Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMUSP de Ribeirão Preto, SP.

Palavras-chaves: cricotireoidostomia, anatomia


Key words: crycothyroidostomy, anatomy

Submetido: 11/08/2004
Aprovado: 10/09/2004

RESUMO ABSTRACT

A fístula faringocutânea é uma das complicações mais Pharyngocutaneous fistulae is the most common compli-
comuns e mais temidas em pacientes submetidos a faringo- cation following pharyngolaringectomy and total laryngec-
laringectomias e laringectomias totais. Sua ocorrência tomy. Its occurrence increases the treatment cost due to lon-
aumenta os custos e baseia-se em estudo retrospectivo em derwent total laringectomy in a public cancer hospital in
que foram coletadas informações de 78 prontuários de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil. The objective of the
pacientes submetidos a laringectomia total em hospital onco- study was to evaluate theactors for the fistulae formation
lógico da rede publica de saúde do município de Belo such as: preoperative radiation, patients comorbidity fac-
Horizonte, Minas Gerais, Brasil. O objetivo do estudo foi tors, concurrent neck dissection, histologic grade, site of ori-
avaliar a incidência de fístula do serviço, os fatores predis- gin of the tumor, clinical stage and preoperative tracheos-
ponentes [radioterapia prévia, patologias associadas, esva- tomy.ure dressing was adequate to nine of the 10 patients
ziamento cervical, diferenciação histológica, localização do which devoped fistulae. None of the patients died due to this
tumor primário, sua extensão (T) e traqueostomia prévia] complication. In concern of the predisposing factors, our
além de avaliar a associação de hipertensão arterial, mos- study showed that the association of hypertension was sig-
trou-se significativa em nosso material e a radioterapia pré- nificant in the patients which showed this condition. The
via mostrou-se também com forte tendência como fator pre- occurrence of preoperative radiation was found to be rela-
disponente de fístula. ted as a high tendency but without significance.

Endereço para correspondência:


INTRODUÇÃO
Rui Celso Martins Mamede
Divisão de Cirurgia de Cabeça e Pescoço Segundo Dingman & Natvig1, a cricotireoidostomia
Rua Nélio Guimarães, 170 - Alto da Boa Vista
14025-290 - Ribeirão Preto - SP (laringotomia intercricotireoidiana ou coniotomia) foi des-
E-mail: rcmmamed@fmrp.usp.br crita inicialmente pelo cirurgião francês Vicq d’Azyr, no
século XVII. Posteriormente, foi detalhada por Tandler, em
1. Mestre em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Faculdade 1916, e popularizada, nos Estados Unidos por Sicher, em
de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. 1949. Sua indicação se restringe aos casos de asfixia em que
2. Professor Associado da Disciplina de Cirurgia de Cabeça
e Pescoço da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da é urgente alcançar as vias aéreas. Nestas situações é aconse-
Universidade de São Paulo. lhável a intubação orotraqueal ou nasotraqueal, mas, na pre-

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sença de trismo, trauma facial grave, obstrução da glote, fra- a silhueta laríngea é facilmente visível ou palpável, no seu
tura da base do crânio ou na falta de material apropriado deve- terço médio. O ponto onde o conduto laringotraqueal mais
se empregar a traqueostomia ou a cricotireoidostomia2. se aproxima da pele é a proeminência laríngea – popular-
A cricotireoidostomia é um procedimento cirúrgico que mente conhecida como pomo-de-adão, que corresponde à
atinge as vias aéreas através da subglote. Permite a aspira- quilha da cartilagem tireóide. Tal estrutura é visível no
ção de material obstrutivo da árvore respiratória e restabe- homem magro e longilíneo e se torna mais proeminente
lece a ventilação de pacientes. Para os profissionais médi- com a hiper-extensão do pescoço, pois a 5ª e a 6ª vértebras
cos que atendem urgências, a cricotireoidostomia é um empurram-na para frente.
recurso fundamental para garantir a sobrevida do paciente, No espaço entre a pele e a laringe, além do tecido sub-
uma vez que fornece rápida liberação da via aérea e não cutâneo, encontram-se os músculos infra-hióideos, as veias
necessita de instrumento de grande porte para realizá-la3. jugulares anteriores e suas comunicantes. Dos músculos
Até pouco tempo, nos livros-textos, era comum encon- infra-hióideos, o esternohióideo, mais anterior e medial,
trar afirmações que na região em que a cricotireoidostomia recobre o tireoióideo e esternotireóideo, estes situados mais
é realizada somente estão presentes a pele, o subcutâneo e a posteriores e laterais, os quais, por sua vez recobrem as car-
membrana cricotireóidea, como elementos anatômicos, tilagens tireóidea e cricóidea e, mais caudalmente, a glân-
dando a entender que se trata de procedimento sem possibi- dula tireóide (Figura 1).
lidade de que outra estrutura possa ser lesada4,5. No entanto,
além da dificuldade de se encontrar a membrana cricotireói-
dea, a cricotireoidostomia realizada com instrumentos como
bisturi a frio, faca ou canivete, costuma ser acompanhada de
lesões de estruturas vizinhas, propiciando o aparecimento de
hemorragia, disfonia e estenose infraglótica3, 6, 7. Isaacs &
Pedersen8 acreditam que estas complicações sejam decorren-
tes da falta de conhecimento das estruturas anatômicas aí
existente, justificando esta revisão.
A respeito da dificuldade em encontrar as vias aéreas,
Erlandson et al.9 citam o caso em que um profissional, mal
treinado, tentou a cricotireoidostomia através da membra-
na tireoióidea e, nós, tivemos oportunidade de visualizar as
cordas vocais através de orifício aberto na cartilagem tireói-
de depois de tentativa infrutífera de realizar a cricotireoidos-
tomia. Davies7, em estudo objetivando avaliar o preparo dos
profissionais para este tipo de cirurgia, concluiu que, defi-
nitivamente, o sucesso depende do treino específico da equi- Figura 1 - Desenho esquemático dos músculos da laringe.
pe médica e do conhecimento profundo da anatomia regio- 1 - Músculo esternohióideo; 2 - Músculo tireoióideo; 3 -
nal, o que poderia levar a eventuais variações estatísticas na Músculo esternotireóideo
avaliação das complicações e da eficiência do procedimen-
to. Leibovici et al.10 observaram que as intercorrências e as Abaixo dos músculos infra-hióideos encontram-se, de
eventuais complicações da cricotireoidostomia eram menos cada lado, o músculo cricotireóideo e um feixe vasculo-ner-
freqüentes, quando realizadas por especialistas da área cirúr- voso. O músculo, inserido na cartilagem cricóide, próximo
gica, anestesistas ou intensivistas com prática anterior. da linha mediana, desloca-se para cima e lateralmente, afas-
Jacobson et al.11 foram além, apurando alto índice de reso- tando-se desta linha até se inserir na cartilagem tireóide. Este
lutividade para a permeação das vias aéreas e baixos regis- músculo, com a função de estirar a corda vocal durante a
tros de complicações, quando a cricotireoidostomia era rea- fonação, produz alteração da voz quando lesado. Por baixo
lizada por profissionais experientes em ambiente pré-hos- dele, o nervo laríngeo inferior passa e penetra na laringe
pitalar. acompanhando a artéria laríngea póstero-inferior, ramo da
O objetivo dessa publicação é de fazer revisão da anato- artéria tireóidea inferior. Ambas perfuram a membrana entre
mia existente na região em que se faz cricotireoidostomia as fibras cricóideas e tireóideas do músculo constritor infe-
baseada em livros-textos e na nossa experiência. rior da faringe e se espalham pelo interior da laringe. A
artéria laríngea ântero-inferior, após transitar por cima do
músculo cricotireóideo, se divide em um ramo que perfura
REVISÃO ANATÔMICA a membrana e espalha-se pelo interior da laringe e em outro,
inconstante, que se desloca paralelamente à borda inferior
A região cervical, da mandíbula até a clavícula–esterno, da cartilagem tireóide em direção à linha mediana. A lesão
tem extensão variável, dependendo da raça, de variações do nervo provocará paralisia da corda vocal, com conseqüen-
individuais e do posicionamento da cabeça em relação ao te disfonia, e a lesão das artérias resultarão em hemorragias
pescoço (flexão ou extensão), porém, em qualquer situação (Figura 2).

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Figura 3 - Membrana cricotireóidea
Figura 2 - Desenho esquemático da membrana cricotireói-
dea. 1) Nervo laríngeo superior; 2) Artéria tireóidea supe- No interior da laringe, o espaço infraglótico inicia-se
rior; 3 - Músculo tireohióideo; 4) Artéria laríngea ântero- imediatamente abaixo das cordas vocais, tendo nesse ponto,
inferior e artéria cricotireóidea; 5) Músculo cricotireói- no sentido latero-lateral, o menor calibre do conduto larin-
deo; 6) Nervo laríngeo recorrente; 7) Pirâmide de Laluet; gotraqueal, ou seja, 15 a 20 mm nos adultos. A subglote se
8) Veia jugular comunicante anterior; 9) Membrana crico- estende até a margem inferior da cartilagem cricóide. Ao
tireóidea; 10) Veia jugular anterior nível da cartilagem cricóide, o diâmetro ântero-posterior
varia de 7,5 a 10 mm em adultos, superando, excepcional-
Além do nervo laríngeo inferior, a fibra externa do nervo mente, 10 mm. Em mulheres, existe uma variação para
laríngeo superior chega para inervar o músculo cricotireói- menos, em torno de 0,5 mm.
deo sem, no entanto, penetrar na membrana cricotireóidea, A literatura ao citar a técnica de cricotireoidostomia com
porém passível de ser lesado durante a cricotireoidostomia, bisturi, faca ou canivete afirma que, com um único golpe
paralisando o músculo e causando disfonia. Eventualmente, pode-se cortar, longitudinalmente ou transversalmente, a
pode-se encontrar do lado esquerdo, cruzando a membrana, pele e a membrana, porém, ao nosso ver, como a pele apre-
a pirâmide de Laluet, constituída por tecido tireoidiano. senta resistência ao corte, a força aplicada para vencê-la ter-
Vasos linfáticos também estão presentes nessa região, emer- mina por promover grandes destruições da membrana além
gindo da laringe e a sua lesão poderá comprometer a drena- de lesões de estruturas vizinhas, ou seja, músculos (infra-hiói-
gem da laringe, alterando a evolução de um câncer caso o deos, cricotireóideo), veias (jugulares anterior ou seu plexo),
paciente venha a desenvolver. artérias (cricotireóidea, laríngea ântero-superior, postero-
O ponto de maior elasticidade da proeminência laríngea e inferior), nervos (laríngeo inferior, ramo externo do laríngeo
de menor rigidez é a membrana cricotireóidea que, situada ime- superior), glândula tireóide (pirâmide de Laluet), vasos lin-
diatamente abaixo da cartilagem tireóide, serve de sítio ana- fáticos, cartilagens (tireóidea, cricóidea) e infraglote (pare-
tômico para o acesso às vias aéreas, em emergências (Figura des laterais e posteriores).
3). Essa membrana, também denominada elástica, cricovocal Acreditamos que esta revisão, além de relembrar a ana-
ou cone elástico, começa na borda superior da cartilagem cri- tomia da região, tem também a função de estimular a reali-
cóide, prende-se na borda inferior da cartilagem tireóide e se zação da cricotireostomia nas situações indicadas, hoje tão
continua pela face interna desta cartilagem até as cordas vocais, pouco difundido na classe médica, pois concordamos com
onde se funde com o ligamento vocal. Da borda superior da Bratingam e Grow12 quando afirmam que a cricotireoidos-
cartilagem cricóide até a borda inferior da cartilagem tireóide tomia tem resultado semelhante á traqueotomia, porém é
esta membrana participa da parede da laringe, separando-a das mais fácil, rápida e com menores índices de complicações
outras estruturas existentes no pescoço. Desta forma, a pare- quando aplicada com técnica correta e por quem conhece a
de ântero-lateral da infraglote é formada pelo terço inferior da anatomia da região.
cartilagem tireóide, pela membrana cricotireóidea e pela única
cartilagem em forma de anel, ou seja, a cricóide. Enquanto
parede laríngea, a membrana é possuidora de área irregular, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
pois é maior na linha mediana anterior quando chega a medir
7mm no sentido crânio-caudal e vai diminuindo à medida que 1. Dingman, R.O.; Natvig, P. Traqueotomia. Cirurgia das
se desloca latero-posteriormente até desaparecer por trás da Fraturas Faciais. 1ª ed. São Paulo: Santos, 1983, 4: 97-110.
articulação cricotireóidea, após percurso de cerca de 8mm, para 2. Committee on Trauma of the American College of
cada lado. No total, são 70 a 90 mm2 de área da membrana que Surgeons: Advanced Trauma Life Support Instruction
participa como parede da subglote. Manual, Chicago. American College of Surgeons, 1997.

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