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MACARTHISMO, FICÇÃO
CIENTÍFICA E INDÚSTRIA DE
ARMAS: OS EFEITOS DE UMA
ÍNTIMA RELAÇÃO
São Paulo
1994
Livros Grátis
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VITORIA CANCELLI
São Paulo
1994
VITORIA CANCELLI
__________________________________________________
Prof. Dr. Emanuel Soares da Veiga Garcia - Orientador
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
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Prof. Livre-Docente Eduardo Leone
Faculdade de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo
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Prof. Dr. Marcos Antônio Silva
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
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Prof. Dr. Osvaldo José Angel Coggiola
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
__________________________________________________
Prof. Dr. Ricardo Antunes
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de Campinas
Aos meus pais, sem os quais nada teria
sido possível.
AGRADECIMENTOS
7
Os homens [e mulheres] fazem sua própria história, mas não
a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de
sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.
O Dezoito Brumário de Luiz Bonaparte
Karl Marx
8
SUMÁRIO
Introdução................................................................................................................................ 11
Capítulo I - O Novo Inimigo Total.......................................................................................... 16
O discurso de Fúlton e o início da Guerra Fria ..................................................................... 20
O controle da energia atômica ................................................................................................ 22
A Doutrina Truman................................................................................................................. 29
O Plano Marshall .................................................................................................................... 31
A Imagem do Novo Inimigo Total .......................................................................................... 33
Capítulo II - O Novo Inimigo Total e a repressão ao comunismo ........................................ 38
As bases do macarthismo ........................................................................................................ 38
Os casos de espionagem...................................................................................................... 38
A ponta do iceberg: O caso Amerásia .............................................................................. 40
A Espionagem Diplomática.............................................................................................. 43
Os informantes.............................................................................................................. 43
Elizabeth Bentley...................................................................................................... 43
Whittaker Chambers ................................................................................................. 44
Os Acusados ................................................................................................................. 45
Alger Hiss ................................................................................................................. 45
Willian Remington ................................................................................................... 48
Harry Dexter White .................................................................................................. 50
Judith Coplon............................................................................................................ 51
A Espionagem Atômica.................................................................................................... 52
O Caso Rosenberg ........................................................................................................ 54
Klaus Fuchs .............................................................................................................. 55
Harry Gold................................................................................................................ 56
David Greenglass...................................................................................................... 57
Julius e Ethel Rosenberg .......................................................................................... 57
O PC e seu papel no cenário político nacional ................................................................. 62
As atividades repressivas nos anos 50..................................................................................... 69
O Comitê da Câmara contra Atividades Antiamericanas .............................................. 69
McCarthy e suas denúncias ............................................................................................... 80
Capítulo III - O papel de Hollywood na construção do Novo Inimigo Total........................ 92
Hollywood, a caça às bruxas e o Novo Inimigo Total............................................................ 92
Ficção Científica e Guerra Fria.............................................................................................. 96
A opção pela ficção científica........................................................................................... 100
Capítulo IV - Porque filmar e atirar se conjugam com o mesmo verbo.............................. 104
A opção pela Guerra.............................................................................................................. 104
Funções da Guerra ........................................................................................................... 108
Armas e lucros nos Estados Unidos dos anos 50............................................................ 110
9
O funcionamento do Complexo Militar-Industrial ....................................................... 113
A opção pela guerra e o Novo Inimigo Total ................................................................. 117
Hollywood e o complexo militar-industrial .......................................................................... 121
Filmes e orçamentos militares: os efeitos de uma íntima relação ................................ 131
Filmes e orçamentos ......................................................................................................... 156
Conclusão............................................................................................................................... 165
Anexos .................................................................................................................................... 168
Anexo I - O calendário da Guerra Fria................................................................................ 169
Anexo II – Os resultados eleitorais de 1948 e 1952 ............................................................. 174
Anexo III – As emendas à Constituição ............................................................................... 176
Anexo IV - As Testemunhas amistosas e Lista Negra ......................................................... 179
Anexo V – As propostas orçamentárias para os anos de 1948 a 1956 (Mensagens) .......... 185
Anexo VI – Orçamentos dos anos de 1948 a 1956 (Consolidado)....................................... 186
Anexo VII - As Indústrias do complexo militar-industrial .................................................. 201
Filmografia ............................................................................................................................ 202
Bibliografia ............................................................................................................................ 204
10
INTRODUÇÃO
“O historiador tem por função primeira restituir à sociedade a História da qual os
Esta reflexão a que nos propomos, tem como referência uma reconstituição
da atuação do senador Joseph McCarthy e dos fatores que moveram as suas ações.
numa análise dos elementos constitutivos do complexo militar industrial e nas peças
orçamentárias do período.
fatores:
deste projeto mais geral, analisamos o período de destaque do senador como parte
O motivo central que nos levou à elaboração deste trabalho foi o fato de que
isolados. As obras específicas tendem a ser estudos sobre aspectos da questão (por
ser a era McCarthy um episódio tão mais doloroso quanto mais se percebe o ataque
12
Identificamos o macarthismo e o cinema de ficção como um sólido suporte do
investimento em defesa.
cifras astronômicas do orçamento, que são repassadas para a empresa privada sob
irreversível uma produção bélica que já vinha sendo encaminhava desde o início da
guerra.
que levaram a URSS a ocupar o lugar do nazi-fascismo no discurso das elites norte-
americanas.
13
O capítulo dois faz uma breve reconstituição da repressão ao comunismo
científica dos anos 50 para estabelecer os motivos que nos levaram à opção por
Por fim, definida a nossa amostragem, fazemos uma análise que busca
dos mecanismos que constituem esta opção, para em seguida, a partir dos filmes e
14
Neste capítulo fazemos uma análise de quais as principais funções da guerra
em que a guerra servia quase que exclusivamente como forma de defesa, a partir da
processo visa estabelecer uma relação entre determinados momentos nos quais o
estado necessitava de respaldo popular para ceder tais verbas e a imagem passada
15
CAPÍTULO I - O NOVO INIMIGO TOTAL
A “(...) precedência do poder bélico de uma sociedade
sobre suas outras características não é o resultado da ameaça
que se presume existir, em uma determinada época, por parte
de outras sociedades. É o reverso da situação básica;
‘ameaças’ contra o ‘interesse nacional’ são usualmente criadas
ou aceleradas para ir de encontro às necessidades de
transformação do sistema de guerra.”
sua introdução ao livro de Lillian Hellman, A Caça às Bruxas 1 e é aqui utilizado não
garantir a continuidade daquilo que viria a ser conhecido mais tarde como complexo
militar-industrial
gigantismo provocado pela lucratividade sem riscos que fez da indústria de guerra o
a sua sobrevivência ameaçada com o fim da Segunda Guerra Mundial. Era preciso
1
HELLMAN, Lillian - A caça às bruxas. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1981. p. 1-21.
16
recriar a imagem de um Inimigo que colocasse em risco a segurança nacional, como
o fizera o nazi-fascismo.
Para isso, nada melhor do que escolher como alvo um país no qual havia se
Aí estava o Inimigo ideal A idéia de que uma sociedade justa e igualitária era
próprio capitalismo.
Tudo isso fez do estalinismo uma contra-revolução que pôs fim à Revolução
2
Ver o texto referente ao discurso no capítulo IV item l, p.
17
marxistas: todos vissem a Rússia como uma sociedade de transição para o
Eis, portanto, a situação ideal para quem precisava de um Novo Inimigo Total,
URSS de Stalin.
indivíduo que marcou sua época, menos pela defesa dos interesses dos explorados,
Estados Unidos.
podia haver de mais útil para a sustentação daquilo que tempos mais tarde viria a
forte e poderoso, que não se deteria com nada que não fosse a força das armas.
3
Caderno de Teses do l Congresso do Partido - Jornal do Congresso, nº5, p. 72 setembro de 1991.
18
surgimento do que se convencionou chamar de Guerra Fria, para em seguida
alternativa de saída para a crise de 29, fazendo do país a maior potência do mundo
capitalista.
durante a guerra e com o que Stalin teria em mente como desdobramento disso.
idade produtiva; destruição quase que total das regiões mais populosas e ricas; 25
19
O DISCURSO DE FÚLTON E O INÍCIO DA GUERRA FRIA
Sendo a própria declaração da Guerra Fria, o discurso de Churchill em Fúlton,
4
Em maio de 1945, a URSS tinha sob seu poder 8 Estados anteriormente independentes - Estônia, Letônia,
Lituânia Polônia Checoslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária. Incorporou 470.850 km2 do território europeu e
uma população de 22,3 milhões de habitantes.
20
Acautelai-vos eu digo, porque o tempo pode ser curto Não nos deixeis tomar
o rumo de que os acontecimentos nos conduzam até que seja tarde
demais”. 5
5
O discurso foi pronunciado no Westminster College, em Fúlton, Missouri em 5 de março de 1946. Churchill
afirmou que o discurso não representava a posição oficial do governo e sim a sua própria.
Os trechos citados foram extraídos de BARROS, E L. de - A Guerra Fria. São Paulo: Atual 1985. p. 19-20 e
MORRAY, J P. - Origens da Guerra Fria. Rio de Janeiro: Zahar 196. p. 61-8.
6
Citado em MORRAY, J P. - op. cit. p. 68.
21
de oposição à política stalinista era preciso de algo que coesionasse a população
situação ao dizer que “a bomba pode colocar-nos muito bem numa posição de ditar
22
“(...) o Japão já estava derrotado e o lançamento da bomba era
completamente desnecessário ( ) o nosso país deveria evitar o choque da
opinião mundial pelo uso de uma arma cujo emprego não era mais
obrigatório como uma medida para se salvar vidas americanas Eu
acreditava que o Japão estava procurando uma forma de se render com um
mínimo de dignidade. Não era preciso ameaçá-lo com aquela coisa
pavorosa” 8
ainda que “o uso desta arma bárbara em Hiroshima e Nagasaki não representava
um erro supor que o destino do Japão foi decidido pela bomba atômica. A derrota do
Ao que tudo parece indicar, para evitar que a entrada da URSS na guerra
fosse vista como decisiva para o seu fim o que, muito provavelmente, acarretaria
da energia atômica, para que a sua utilização para fins militares fosse dificultada aos
países que não contassem com a confiança dos EUA, em particular, a URSS que - e
o tempo mostrou isso - era de fato, o único país em condições de competir com os
passo e promulgou a Lei de Energia Atômica (Atomic Energy Act), que previa a
7
Citado em FERREIRA, Argemiro - Caça às Bruxas. Porto Alegre: L&PM 1989. p. 40-41
8
Citado em ALPEROVITZ, Gar - Diplomacia Atômica Rio de Janeiro: Ed. Saga, 1969. pp. 292.
9
Citado em FERREIRA, Argemiro.- op. cit. p. 41.
10
Citado em OLYMPIO, Guilherme - URSS & USA. Rio de Janeiro: Livraria Prado, 1955 p. 107.
23
constituição de uma Comissão de Energia Atômica (Atomic Energy Comission -
Segundo a lei, a AEC deveria ser constituída por 5 membros que estavam
Um dos pontos polêmicos desta Lei era o seu item 10 (a) que - ignorando os
então subsecretário, Dean Achenson. Foi composta por Leslie R. Groves (major-
11
Atomic Energy Act In Commanger, H Steele (ed.) - Documents of American History. 7.ed, New York, 1963.
12
A Assembléia Geral da ONU de 24 de janeiro de 1946 aprovou uma resolução que atribuía à esta Comissão o
papel de examinar os problemas referentes à energia atômica e elaborar propostas específicas sobre:
a) extensão à todas as nações, do intercâmbio de informações científicas básicas para finalidades pacíficas,
b) controle da energia atômica na proporção necessária para assegurar sua utilização exclusiva com objetivos
pacíficos;
c) proteção eficiente, pela inspeção e por outros meios, para salvaguardar os Estados signatários contra possíveis
violações e subterfúgios.
Citado em MORRAY, J. P. - op. cit. p. 89-90.
24
general do Exército responsável pelo Projeto Manhattan), Vannemar Bush (físico),
energia atômica;
13
Lilienthal era advogado e presidente da Administração do Vale do Tennessee, Barnard era presidente da New
Jersey Bell Telephone Company Oppenheimer era físico e ex-diretor do Laboratório de Los Alamos, Thomas era
vice-presidente da Monsanto Chemical Company e Winne era vice-presidente da General Eletric.
14
Bernard Baruch era financista e tinha a confiança dos maiores banqueiros e industriais dos Estados Unidos. Já
tinha sido conselheiro de outros presidentes e foi nomeado para representar o governo americano na
apresentação da proposta sobre o controle de energia atômica à ONU que passou a ser conhecida como Plano
Baruch.
25
dos conhecimentos e ser capaz de perceber, portanto, a utilização inadequada
desta. 15
Sob pena de ter a sua soberania nacional ameaçada, a URSS não poderia
impasse.
conseqüente destruição de seus estoques e, por fim, a ampla difusão dos estudos
15
A íntegra do pronunciamento de Baruch sobre a proposta pode ser encontrada em US - Department of State -
The United States and the United Nations Report Nº 7, Washington, 1947.
26
O provável mentor dessa política, o Conselho de Segurança da ONU não
tinha com uma correlação de forças das mais favoráveis à URSS, que dos 5 lugares
Isso impedia que qualquer Nação explorasse esta questão com a rapidez e a
soberania nacional que, pela proposta dos EUA, ficaria relegada à segundo plano
nesta Autoridade.
desenvolvido o suficiente para permitir que o governo dos Estados Unidos abrisse
Não sem razão, o plano era omisso sobre esta questão. Isto certamente
16
O Conselho de Segurança possuía 11 países membros, destes apenas 5 eram permanentes; os outros 6 eram
rodiziados, e a entrada de algum país pró-soviético entre estes 6 dependeria da anuência dos países do chamado
27
Esta questão, provavelmente a mais delicada de todas envolvendo o Plano
“O defeito é que o plano exige das outras nações que não realizem
pesquisas sobre o uso militar da energia atômica e que revelem seus
recursos de urânio e tório, enquanto os Estados Unidos retêm seu
conhecimento da energia atômica até que o controle internacional e o
sistema de inspeção estejam funcionando de acordo com o nosso desejo.
(...)
(...) estamos dizendo aos russos que se forem 'bons meninos' poderemos
revelar à eles o nosso conhecimento sobre a energia atômica. (...)” 17
acerca do compromisso dos EUA com uma proposta de controle factível e com uma
qualquer possibilidade de diálogo entre as duas potências Não era tudo, porém,
bloco ocidental.
17
The New York Times, 18 de setembro de 1946, pp. 2
18
The New York Times, 3 de outubro de 1946, p. 23.
19
US Department of State. Department of State Bulletin, vol. 14, apr 7, 1946.
28
A DOUTRINA TRUMAN
A Doutrina Truman tinha como base o estudo de George Kennan, The
Kennan dizia que era preciso esperar uma política externa agressiva e
expansionista por parte dos soviéticos, derivada da própria teoria comunista Dizia
também que o povo russo seria convencido a estar contra o Ocidente porque o
representavam ao comunismo.
O estudo de Kennan afirmava que era preciso iniciar “(...) uma contenção a
intervenção dos Estados Unidos aonde quer que lhes interessassem intervir, como
20
Kennan entrou para o Departamento de Estado por volta de 1925, logo após a sua formatura na Universidade.
Ao escrever o texto era encarregado de negócios na Embaixada norte-americana em Moscou. O texto foi
publicado pela primeira vez em Foreign Affairs de julho de 1947, assinado com Mister X.
21
O texto que utilizamos para o nosso trabalho é o que foi posteriormente publicado em The US in the
contemporary world. New York, The Free Press, 1968. pp. 47-64.
29
“A política exterior e a segurança nacional deste país estão comprometidas.
Um aspecto da presente situação, que desejo focalizar e apresentará vossa
consideração e deliberação refere-se à Grécia e à Turquia.
(...)
Não há outro pais ao qual a Grécia democrática possa recorrer.
Nenhuma outra nação está capacitada e pronta a promover o necessário
sustento para o governo democrático grego.
(...)
O país vizinho da Grécia, a Turquia, também requer a nossa atenção.
(...)
Somos o único país capaz atualmente de providenciar tal auxílio.
(...)
Para assegurar o desenvolvimento pacífico das Nações, livre de coerção, os
Estados Unidos tomaram uma posição de liderança ao criarem o organismo
das Nações Unidas (...) Não poderemos alcançar, no entanto, os nossos
objetivos, a menos que sejamos capazes de auxiliar um povo livre a manter
sua integridade nacional contra movimentos agressivos que buscam impor-
lhe regimes totalitários. Isso não é mais do que um reconhecimento franco
de que os regimes totalitários impostos à povos livres, por agressão direta
ou indireta, mina as fundações da paz internacional e assim a segurança
dos Estados Unidos.
(...) Creio que deve ser da alçada da política dos Estados Unidos auxiliar
aqueles que estão resistindo às tentativas de subjugação promovidas por
minorias armadas ou por pressões externas.
Creio que devemos ajudar os povos livres a conduzir a sua maneira, seus
próprios acontecimentos (...)” 22
22
MORRIS, Richard B. - Documentos básicos da história dos Estados Unidos. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura,
1964. p. 225-9
23
A proposta foi votada em 23 de abril de 1947. Foi aprovada por 67 votos a 23 no Senado e na Câmara por
unanimidade.
30
O PLANO MARSHALL
Menos de 3 meses depois do discurso de Truman pedindo verbas para a
personalidades da vida política vinham tendo com a situação vivida por vários países
após a guerra. Foi aceita por 17 países e recusada pela URSS e seus aliados. 25
capitalismo - sob controle dos Estados Unidos - na Europa Ocidental, evitando que a
Além disso, a proposta reforçava a idéia dos Estados Unidos como um país
24
The New York Times, 6 de junho de 1947
31
“comunismo” Isto era um elemento fundamental na constituição da imagem do Novo
Inimigo Total.
não foram os únicos acontecimentos no cenário da Guerra Fria, mas foram decisivos
uma vez, e de forma dramática, entrava em cena a disputa por esferas de poder
Genebra.
clima já tenso, destes dias de uma disputa intestina entre Estados Unidos e União
25
A URSS tinha aparentemente dois motivos centrais para não aceitar a proposta. Um era a consolidação de uma
possível dependência do bloco "comunista II em relação aos EUA. 0utro, era o receio de que a adesão ao Plano
significasse um questionamento da hegemonia soviética no Leste Europeu.
32
Um verdadeiro barril de pólvora, que servia aos interesses - por motivos
“A submissão requer uma causa; uma causa requer um inimigo. Tudo isso é
óbvio; o ponto crítico é que o inimigo que define a causa deve parecer
genuinamente formidável. 26
armamentista.
Churchill deu o pontapé inicial no jogo pela busca de um Inimigo que definisse
a causa, dizendo que “O mundo está envolvido numa total confusão. O perigo
nazista”. 28
26
A PAZ INDESEJÁVEL. Rio de Janeiro: Ed. Laudes, 1969. p. 73-74
27
O conceito de americanismo que utilizamos aqui é o definido por Fernando Peixoto em seu Hollywood
episódios da histeria anticomunista Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1991. pp. 41.
Diz Peixoto que:
"Não se trata de americanismo ou defesa da democracia [mas] trata-se explicitamente, na verdade, de defesa do
capitalismo, da livre iniciativa, do lucro e do mercado imperialista.
28
Citado em DELMAS, Claude - Armamentos nucleares e Guerra Fria. São Paulo, Ed. Kronos, 1971 pp. 32.
33
Alguns meses depois, Churchill pronunciaria o seu célebre discurso de Fúlton
“Se a Rússia não se defrontar com homens que a detenham com punhos de
aço e com palavras enérgicas, haverá uma nova guerra. Ela só compreende
uma única linguagem: ‘Quantas divisões possuem vocês?' Eu não acredito
que devemos perder mais tempo fazendo concessões”. 29
“No presente momento da história mundial é provável que cada nação tenha
de escolher entre modos alternativos de vida.
(...) não podemos permitir alterações do status quo violando a carta das
Nações Unidas por métodos como a coerção, ou por tais subterfúgios como
a infiltração política.” 30
29
Id. ibid. p. 47.
30
MORRIS Richard B. - op. cit. p. 228.
34
A partir de 1949, com a divulgação dos primeiros casos de espionagem,
já transformada no Novo Inimigo Total fosse vista cada vez com maior temor e
O que se viu nestes dias de febre macarthista foi uma verdadeira cascata de
manchetes de jornais nada elogiosas dirigidas ao país conduzido com mãos de ferro
por Stalin.
revolução stalinista.
“Apenas a URSS poderá provocar uma nova guerra Enérgica resposta dos
Estados Unidos à política soviética de intimidação.” O Estado de São Paulo
- 04/02/1950, p. 1.
“A luta na Coréia não é o início de uma guerra a moda antiga entre duas
nações, mas o de uma luta ideológica entre o totalitarismo e a liberdade” -
DWIGHT D. EISENHOWER - O Estado de São Paulo -22/07/1950, p. 1.
(San Francisco, 21/07, ag. AFP).
“A URSS é o país que mais gasta no mundo com suas forças armadas” - O
Estado de São Paulo, 27/03/1951, p. 2 (Washington, 26102, ag. AFP).
31
US - Committee on Foreign Affairs. The strategy and tactics of world communism. Report sub-committe nº5
national and international movements House Document nº 619.
35
aliados a se tornarem fortes” Harry S. Truman. O Estado de São Paulo,
15/08/1951, p. 1 (Washington, 14/08, ag. UP)
“OS EUA estão expostos ao maior perigo de sua história diante da ameaça
soviética.” John Foster Dulles - O Estado de São Paulo, 07/04/1953, p. 1.
(Washington, 06/04, ag. AFP)
dos vários exemplos existentes - o conhecido folheto “Cem coisas que você precisa
todo o país, este folheto demonstra o que foi a propaganda comunista vinda dos
32
US Congress House on Un-american Activities Committee. House Document nº136 1951. O folheto foi
elaborado pelo HUAC.
36
R - Toda e qualquer pessoa que se recuse a ser dominada durante toda a
vida pelos Bolchevistas Por exemplo: qualquer cidadão leal aos Estados
Unidos”
dos lucros que acumulava. Esta proposta precisava do apoio dos parlamentares,
fundamental.
durante a Guerra, não poupou esforços. Criou o clima geral e dele se aproveitou
37
CAPÍTULO II - O NOVO INIMIGO TOTAL E A
REPRESSÃO AO COMUNISMO
AS BASES DO MACARTHISMO
OS CASOS DE ESPIONAGEM
Os casos de espionagem investigados no pós-guerra constituíram a base de
Estados Unidos.
governo, era de que, durante a Segunda Guerra, tinha sido possível manter em
atividades de espionagem, declarou que “(...) A Nação está mais do que nunca livre
33
Artigo assinado por Hoover e distribuído pela United Press em 17/10/1940. Citado em COOK, Fred J. - O FBI
por dentro. pp. 296.
38
que todas as pessoas, antes de serem empregadas no Projeto Distrito Manhattan
34
haviam sido previamente investigadas.
Diante destes fatos, duas hipóteses são possíveis para explicar uma mudança
como a que ocorreu nos discursos sobre a questão da espionagem, logo após o
No entanto, era preciso criar o Novo Inimigo e o bem sucedido teste nuclear
34
O Projeto Distrito de Manhattan, em Oak Ridge no Tennesse, foi o projeto que deu origem aos estudos sobre
energia atômica. Segundo informações oficiais do FBI, foram investigadas cerca de 270 mil fichas datiloscópicas
de pessoas que se candidataram à trabalhar no Projeto Manhattan.
39
A PONTA DO ICEBERG: O CASO AMERÁSIA
O Amerásia, talvez por ser o primeiro de uma série, é um caso exemplar, dos
procedimentos que o FBI viria a adotar dali em diante para lidar com esta questão.
editor, Phillip J. Jaffe, era um norte-americano nascido na Rússia e tinha como sócio
Departamento de Estado.
35
Vanderbielt Field ficou conhecido por sua constante colaboração com entidades civis que apoiavam causas
liberais e que vieram a ser listadas pelo Departamento de Justiça quando entrou em vigor a McCarran Internal
Security Act em 1950.
36
O OSS foi o precursor da CIA (Central Intelligence Agency), criada em 1947 pela Lei de Segurança Nacional,
aprovada naquele ano.
40
O diretor do OSS em Nova Iorque, Frank Bielaski, colocou a sede da Revista
publicação.
da Inteligência da Marinha.
Neste período Jaffe foi visto pelos agentes do FBI em visitas à sede do
O fato das provas iniciais do caso terem sido obtidas de forma ilegal (busca
sem mandato) e de que o Bureau não pôde provar que as informações contidas nos
41
inviabilizou que os implicados fossem indiciados por “conspiração para violar o
espionagem.
Apenas três, das seis pessoas detidas, foram indiciadas. Um teve a seu
indiciamento retirado posteriormente por falta de provas (Roth). Dos outros dois,
culpado.
agitação em torno dele ainda rendeu muito àqueles que estavam bastante atentos à
necessidade de utilizar cada fato e cada momento para construir uma imagem sólida
42
A ESPIONAGEM DIPLOMÁTICA
OS INFORMANTES
- juntos citaram cerca de 40 nomes - que colocaram em jogo com suas denúncias,
ELIZABETH BENTLEY
Numa manhã de agosto de 45, segundo ela por vontade própria, Elizabeth
Bentley entrou no escritório regional do FBI em New Haven para denunciar o seu
trabalho como agente especial do PCUSA e a atuação que tivera como contato de
43
Apesar de ser companheira de Jacob Golos - conhecido do FBI desde 1940
por suspeita de espionagem - tanto ela como ele (segundo relato dela própria)
atuavam com toda a liberdade e sem nenhum tipo de problema, furtando segredos
governamentais.
Bentley depôs no HUAC pela primeira vez em 31 de julho de 1948, três anos
depois de sua “confissão” ao FBI. Todo o seu depoimento foi pautado no que algum
dia ouviu alguém dizer. Era, no geral, um conjunto de insinuações e acusações sem
provas.
WHITTAKER CHAMBERS
Chambers.
Chambers foi ouvido pela primeira vez em 3 de agosto de 1948, três dias
a sua trajetória de mais de uma década no PCUSA e citou vários nomes de ex-
companheiros de partido.
Assistente, Adolf Berle, toda a história dos movimentos clandestinos realizados pelo
PC, citando os mesmos nomes que citava agora ao HUAC. Segundo Chambers,
Uma rápida leitura de seus depoimentos demonstra que tudo o que dizia era
44
fatos, datas e tudo o mais que se fazia necessário para adequar o seu relato ao que
falta de provas, citaram inúmeros nomes que tiveram suas carreiras e suas vidas
destroçadas pela fúria do anticomunismo que assolou os EUA nos anos 40 e 50.
armamentista, que andava a pleno vapor desde o início da Segunda Guerra Mundial.
OS ACUSADOS
ALGER HISS
Alger Hiss era um respeitado diplomata formado por Harvard. Foi membro das
criação da ONU.
Internacional Peace, para a qual foi indicado por John Foster Dulles - futuro
Stevenson entre outros, que não só se solidarizaram com Hiss, como também
45
Logo após o depoimento de Chambers no qual Hiss foi citado, ele enviou ao
no qual declarou jamais ter pertencido ao PCUSA ou mesmo ter defendido princípios
Whittaker Chambers.
Chambers nada pôde provar contra Hiss e este ameaçou-o com um processo
por difamação caso ele abrisse mão da imunidade de seu depoimento na Câmara e
o denunciasse publicamente.
cadeia nacional de rádio em 30 de agosto de 1948, na qual Chambers faz uma nova
37
Carta de Hiss ao Comitê citada em Cook, op.cit., pp. 331.
38
RICHARD NIXON, um parlamentar em ascensão era, nesta época, membro ativo do Comitê e viu no caso
uma excelente oportunidade de chegar ao estrelato político. Não foi uma tarefa difícil com HOOVER e o FBI
prestando-lhe toda a assistência de que necessitava.
46
memorandos que segundo ele, lhe haviam sido entregues por Hiss, em 1938 e
dezembro. Este lhes entregou alguns rolos de microfilmes que estavam guardados
também afirmou terem sido entregues à ele por Hiss. Disse ainda, que estes não
haviam sido entregues antes por conta de sua solidariedade para com o antigo
companheiro.
tão enfaticamente afirmada ao longo de todos os depoimentos até então - foi revista,
primeiros meses de 1938. Não foi à toa que Chambers alterou o seu depoimento...
em 25 de janeiro de 1950. 40
39
Ao ser perguntado por um dos membros do Comitê sobre como chegara a estabelecer a data exata de sua saída
do partido, Chambers não se acanhou em responder que havia sido com a prestativa colaboração do FBI.
40
Hiss foi indiciado e posteriormente acusado por haver cometido perjúrio em duas ocasiões. A primeira quando
afirmou não ter entregado documentos do Departamento de Estado à Chambers e a segunda quando disse que
não o havia visto mais desde 1º de janeiro de 1947. O primeiro julgamento de Hiss, finalizado em 31 de maio de
1949, foi considerado inválido por não ter havido consenso entre os jurados.
47
parentesco de outros dois com funcionários do FBI, a falsificação de provas por
pessoa. 41
WILLIAN REMINGTON
Remington foi casado com Ann Moss, cuja mãe, Elizabeth Moss, era do
PCUSA.
história.
41
Informações mais detalhadas sobre as irregularidades descobertas no caso Hiss podem ser encontradas nas
seguintes obras:
COOK, Fred J. - O FBI por dentro. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1966.
FERREIRA, Argemiro - Caça às Bruxas. Porto Alegre, L&PM, 1989.
WEINSTEIN, Allen - Perjury - The Hiss-Chambers case. New York, Alfred A. Knopf, 1978.
48
Depois disso ocorreram duas audiências perante a Junta de Lealdade do
segunda, em caráter de recurso, ele foi readmitido, pois Bentley não compareceu
passagem de informações.
entre os depoimentos dele e de Bentley que somente o terceiro júri reunido para
prática nada comum, de manter em sessão um tribunal de instrução que ouvia todas
42
Segundo Fred Cook, op. cit. pp. 365-66, o terceiro júri foi claramente arranjado para indiciar Remington. O
auxiliar da promotoria, John Brunini tinha contrato com Bentley para ajudá-la a organizar um livro. O promotor,
Thomas F. Donegan, era ex-agente de Hoover e já havia trabalhado como advogado para Elizabeth Bentley.
49
HARRY DEXTER WHITE
Harry Dexter White era russo-israelita - o que foi muitas vezes utilizado contra
Internacional (FMI).
Em agosto de 1948 quando teve seu nome nas manchetes dos jornais, White
cardíacos.
Ao ser acusado ele próprio pediu para depor. Foi ouvido em 13 de agosto e
negou todas as acusações que lhe haviam sido feitas, embora afirmasse conhecer
faleceu. Isto não contentou o Comitê, que além de insinuar que ele havia se
direito de defesa.
manuscritas que lhe teriam sido entregues por ele. Foi muito estranho, para dizer o
mínimo, o tratamento dado pelo HUAC aos documentos entregues por Chambers.
A perícia para atestar a sua validade foi feita a partir de cópias e não dos
originais.
Além disso, na época do terceiro júri, já se havia completado a ação de divorcio de Ann e Willian Remington e
tribunal pode portanto intimá-la a depor.
43
White foi citado tanto no depoimento de Chambers como no de Bentley, embora nenhum deles o tivesse
"acusado" de ser comunista, ambos disseram que ele era indiscutivelmente simpatizante do PC.
50
O conteúdo dos textos, ao que tudo indica, pareciam-se menos com
informações secretas passadas por um espião ao seu contato e mais com rascunhos
Após sua morte o caso foi submetido a um Júri Federal e - apesar de todas as
provas que o FBI alegava ter acumulado durante todo o processo de investigação,
iniciado com as primeiras denúncias de Bentley e Chambers e este júri decidiu não
indiciar White.
condenar um morto.
JUDITH COPLON
escritos seus nos quais relatava as dificuldades que vinha tendo em obter cópia do
a outro país.
51
Apesar de tudo, não se obteve provas de que Judith havia entregue qualquer
informação aos soviéticos e um dos agentes do FBI reconheceu que a sua prisão
fora realizada sem mandato. Além disso, a promotoria garantiu que o FBI não se
desmentido.
e o juiz ordenou ao FBI que apresentasse seus registros (ou o que havia restado
deles), nos quais se comprovou que o Bureau realmente havia se utilizado deste
A ESPIONAGEM ATÔMICA
mãos dos Estados Unidos, o governo difundiu a idéia de que a União Soviética
somente poderia dispor da arma por volta de 1954. Este diálogo entre Truman e
52
OPPENHEIMER: Não sei.
TRUMAN: Eu sei.
OPPENHEIMER: Quando?
TRUMAN: Nunca.” 44
Esta talvez tenha sido uma das maiores provas do que significa subestimar o
poderia ter chegado tão rapidamente à sua própria bomba recorrendo à este tipo de
expediente.
1 - No início dos anos 40, jornais e revistas alardearam que tudo estava
condições para a produção da bomba estavam dadas e dizer o que restava por fazer
44
Citado em CLARFIELD, Gerard H. & Wiecek, Willian M. - Nuclear America. New York, Harper & Row,
c1984. pp. 178.
45
Alguns exemplos destes artigos são os seguintes:
INGALLS, A. G. - Incomparable promise or awful threat. Scientific American. Julho de 1939.
Vast power source in atomic energy opened by science. The New York Times. 5 de maio de 1940. pp. 1.
Vast atomic power possible if enough uranium is isolated. Neewsweek. 13 de maio de 1940. pp. 41.
Atomic power in ten years? Time. 27 de maio de 1940. pp. 44.
Harnessing the atom. Popular mechanics. Setembro de 1940. pp. 402-5.
O'NEILL, John J. - Enter atomic power. Harpers. Junho de 1940. pp. 1-10.
LAURENCE, William L. - The atom gives up. Saturday Evening Post. 7 de setembro de 1940.
53
para viabilizá-la; há que se perguntar qual era na verdade, o “segredo” de que se
que os russos, como de resto quaisquer cientistas, tinham todas as condições para
desenvolver a bomba-A, cujo único segredo era o fato de ser realmente possível.
feito pelo Dr. Henry DeWolf Smith, no qual havia detalhes importantes sobre o
segredos da bomba aos russos. Era preciso saber quem fôra o autor da façanha.
O CASO ROSENBERG
pena de morte e, em função disto temerem que sua imparcialidade fosse afetada.
54
muito bem guardados. Além do mais o FBI afirmou ter investigado todas as pessoas
para que a URSS também tivesse chegado à detonar a sua primeira bomba.
KLAUS FUCHS
Fuchs foi investigado duas vezes sem que se concluísse sobre qualquer
Em sua confissão Fuchs afirmou ter mantido contato com um agente que
usava o nome de “Raymond” 47 . Alguns meses depois o FBI prendeu Harry Gold
46
Nota da AEC de 1949. Citado em COOK, Fred - op. cit., pp. 398.
55
HARRY GOLD
Filho de pais russos, Harry Gold nasceu em Berna, na Suíça. Sua família
emigrou para os Estados Unidos quando ele era criança. O nome da família foi então
Em seu depoimento Gold afirmou ter sido procurado por um contato soviético
químico-industriais.
Gold já fora investigado pelo FBI em 1947, por ter sido citado no depoimento
identidade do contato citado pelo cientista seu nome ressurgiu nas investigações.
com FBI para citar os nomes de outros envolvidos, acabou cumprindo 15 anos.
Em sua confissão Gold citou David Greenglass, dizendo que certa vez tinha
sido enviado por Yakovlev, ao Novo México para recolher dele algumas informações.
patológico 48 e que tinha sido habilmente manipulado pela promotoria para incriminar
os Rosenberg.
47
Em 1959 Fuchs declarou aos filhos do Casal Rosenberg que descreveu mas não identificou pessoalmente
Gold, contrariamente ao que afirmava o FBI.
48
Gold contara ao patrão e aos colegas de trabalho uma longa história sobre uma esposa e um casal de gêmeos
seus filhos, que nunca haviam realmente existido e sustentou a história durante seis anos, sempre inventando
desculpas para evitar que os amigos não os conhecessem.
56
DAVID GREENGLASS
Juventude Comunista Americana, informação que parece ter sido ignorada nas
Greenglass citou o nome de sua irmã Ethel e também de seu cunhado Julius
Rosenberg.
Ele declarou que Julius o convidara para compor o quadro dos espiões
colaborar.
Segundo sua própria esposa, Ruth, Greenglass era um homem instável e com
Era um mecânico mal pago em Los Alamos e, ao que tudo indica, Greenglass
Estava sempre às voltas com um meio fácil de ganhar dinheiro e parecia encarar
Quando Fuchs, com sua confissão, deu origem ao efeito cascata que viria a
condenar Julius e Ethel à cadeira elétrica, este trabalhava como diretor de uma
depoimentos dos dois e informações importantes sobre eles que teriam derrubado a
A parcialidade com que o juiz Kauffman tratou o caso foi um fator decisivo
para que a sentença final fosse a execução. Durante o processo fez várias consultas
dois à execução, pois a princípio o juiz pretendia fazê-lo apenas com Julius.
para um caso com tantas irregularidades. Disse ele que tal punição - a morte na
cadeira elétrica - era cabível, pois o casal cometera um “delito mais grave que o
homicídio, uma vez que deu margem à agressão comunista na Coréia e que tal
49
Publicada no jornal O Estado de São Paulo, 6 de abr. 1951, ult. p. (New York, 05/04, ag. UP)
58
Apesar de todas as apelações pedidas pelos advogados dos Rosenberg, dos
decisão do tribunal, nada teve qualquer efeito sobre o juiz Kauffman que declarou
em 3 de janeiro de 1953, que “nenhum fato novo ocorrera que lhe permitisse
modificar sua decisão. Não observei - disse o juiz - qualquer sinal que revelasse
verdade. E renunciar a esta verdade seria pagar muito caro, mesmo pela própria
vida, porque uma vida assim recuperada seria a de um covarde. Nós não somos
qualquer simpatia por parte das autoridades. Estas pareciam predispostas a recusar
toda e qualquer apelação em nome de uma traição que dificilmente poderia ter sido
50
O Estado de São Paulo. 3 de jan. 1953, pp. 2. (New York, 02/01. ag. AFP).
51
O Estado de São Paulo. 11 de jan. 1953, pp. 1. (Washington, 10/01, ag. AFP).
52
O Estado de São Paulo. 12 de fev. 1953, pp. 1. (Washington, 11/02, ag. AFP e UP).
59
pelos fatos já expostos não poderia ter sido o fator determinante na explosão da
a ouvir uma resposta no mínimo, irônica diante da intransigência com que foi tratado
democracia americana. O poder executivo não deveria intervir nesta questão tão
bem julgada.” 53
que parece ter sido usada, até o último instante, para “arrancar” de Julius uma
confissão. Tudo apontava para que se tivesse mais cautela na condenação dos
53
O Estado de São Paulo. 20 de jun. 1953. (Washington, 19/06, ag. AFP e UP).
54
Em O Estado de São Paulo de 31 de mar. 1953, ult. p. (Washington, 30/03, ag. AFP), cita-se que Greenglass
afirmou em seu primeiro depoimento sobre o caso, que havia presenteado Ethel e Julius com uma mesa na qual o
casal teria ocultado os microfilmes de documentos secretos. Constatou-se que tal mesa fôra comprada por eles e
entregue por uma loja nova-iorquina. David cometeu perjúrio.
55
As irregularidades do processo - que só se tornaram públicas em 1975, quando da liberação de 40 mil
documentos sobre o caso - colocam sob suspeição todo o processo contra o casal Rosenberg, que foi condenado
à pena máxima com provas, no mínimo, insuficientes.
60
Os casos de espionagem foram utilizados no sentido de viabilizar o objetivo
maior das elites que era o de garantir a continuidade dos investimentos na indústria
da defesa.
provavelmente, pouco sucesso teriam obtido com acusações no mais das vezes
Inimigo Total.
61
O PC E SEU PAPEL NO CENÁRIO POLÍTICO NACIONAL
No início dos anos 50 - auge do macarthismo - o Partido Comunista dos
problema para as elites. Raras vezes após 1945 conseguiu se fazer ouvir pela
ou ainda
PCUSA, a sua pouca representatividade era reconhecida pelo próprio Truman, que,
56
HOOVER, J Edgar - Mestres do Embuste, Belo Horizonte, ltatiaia, 1958, pp. 177.
62
“a maior ameaça não parte dos comunistas deste país, pois formam um
grupo pequeno e desconsiderado por todos. A maior ameaça é
representada pelo imperialismo comunista no estrangeiro. O verdadeiro
perigo é que o comunismo possa dominar os outros países livres,
fortalecendo-se assim, para o ataque contra nós” 57
PCUSA. Trata-se menos da sua influência no interior do país e mais da disputa entre
clandestinidade.
Deal.
Finda a guerra e a aliança, tem início um novo conflito, agora entre as duas
57
Declaração publicada no jornal O Estado da São Paulo, 24 de abril, 1950.
58
A época áurea do Partido Comunista norte - americano pode ser situada exatamente nesta época quando
apresentou um sensível crescimento do número de membros do partido, com uma considerável influência no
meio sindical. Segundo Hal Drapear em seu artigo a "Época áurea do comunismo americano", publicado em 0
63
definitivamente, oposição, caindo em descrédito e não conseguindo se reestruturar
o partido possuía, segundo o FBI, cerca de 55 mil filiados e talvez 500 mil
Inimigo Total, sob a alegação de que o partido adotava uma linha de inviabilização
utilizando-se até mesmo métodos que feriam a Constituição dos Estados Unidos e a
geral e Phillip Bart, diretor do Daily Worker - foram presos e julgados em 1949, tendo
Estado da São Paulo em 12 de maio de 1985, os comunistas passaram de 7 mil no início da década para 75 mil
nos anos de 1938 e 1939.
59
Estes dados foram divulgados por Edgar Hoover e publicados em notícia do jornal O Estado da São Paulo de 9
de fevereiro de 1950.
60
Tal coisa torna - se perceptível no trecho abaixo, publicado no Daily Worker e transcrito no jornal O Estado de
São Paulo de 29/06/1950: “A guerra atômica ameaça os povos do mundo. O presidente Truman precipitou ontem
o perigo desta catástrofe quando ordenou o início das hostilidades contra os povos da Ásia, sem declaração
oficial de guerra."
61
Os excessos chegam a tal ponto que o CIVIL RIGHT CONGRESS - entidade com o objetivo de auxiliar os
que se utilizassem da Quinta Emenda da Constituição para não responder às perguntas da HUAC - foi proibido
de pagar as fianças para liberdade provisória de qualquer militante comunista.
64
Todos eles foram condenados com base na Lei Smith 62 de 1940, por
declarou que “as coisas pioraram para os conspiradores, já que, doravante, será
que isto tinha sido fruto de espionagem, foi aprovada a McCarran lnternal Security
Esta lei recebeu o veto presidencial, com base em consultas à CIA e aos
Apesar disso, foi aprovada pela Câmara por 345 votos a favor contra 20.
Passando pelo Senado foi novamente aprovada, desta vez por 57 votos a favor e 10
62
A Lei Smith (1940) permitia o enquadramento de pessoas acusadas de advogar a derrubada do governo dos
Estados Unidos pela força. Os líderes comunistas foram enquadrados também por ensinarem a derrubada do
governo pela força.
63
Logo após o julgamento dos dirigentes nacionais do PCUSA, devido ao precedente aberto por sua condenação,
foram julgados e condenados a diferentes penas, 14 dirigentes da Califórnia, 6 de Maryland, 6 da Pensylvania, 7
do Hawaiie e 15 de New York.
64
Publicado em O Estado da São Paulo de 5 de junho de 1951, última página (Washington, 04/06, ag., AFP e
UP).
65
contra, o que demonstrou a absoluta rejeição dos parlamentares pelo veto
presidencial.
conhecimento público,
e televisivas.
Em casos de:
a) declaração de guerra,
c) insurreição.
66
desconfiança de envolvimento em atos de espionagem e sabotagem ‘pró-
comunistas’.
Depois da Lei McCarran, foi a vez do Communist Control Act (Lei de Controle
mesmo ano em que McCarthy iniciava a sua investida contra o Exército - era uma
afirmando que “O Partido Comunista dos Estados Unidos, embora se faça passar
chegaram a pedir a expulsão dos jornalistas da Agência Tass, alegando que eles
65
Communist Control Act - Public Law 637 83rd Congress, August 24, 1954.
66
Como exemplo pode - se citar Birminghan, Alabama, que antes mesmo da lei de 1954 que colocava o PC
oficialmente fora da lei o fez através de um Edito Municipal em 19 de julho de 1950.
67
Um parlamentar republicano pediu ao presidente que internasse os
terminasse.
representavam “um esforço brutal que visa abafar em toda a Nação qualquer crítica,
exatamente isso.
Esta perseguição fez com que o partido, já sem forças, acabasse por se
órgão oficial, o Daily Worker, passou por sérios problemas financeiros em 1951.
mil dólares.
anticomunistas.
68
população foi sendo paulatinamente convencida de que o PC era de fato uma
partido,
um espião.
contra Atividades Antiamericanas (CCAA) foi criado por Martin Dies, um democrata
67
Ambas as declarações foram publicadas pelo jornal O Estado da São Paulo, em notícia de última página datada
de 21 de junho de 1951 (New York, 20706, ag., AFP).
69
raciais anti-semitas e não possuía nenhuma importância até 1947, sendo
Até 1944, enquanto foi presidida por Dies, a comissão sedimentou o seu
ano Dies não foi candidato à reeleição e seus outros parlamentares não foram
Richard Nixon.
servidores públicos federais, mas depois foi estendido aos trabalhadores do setor de
defesa.
68
Em 1969, o HUAC foi transformado em Comitê de Segurança Interna do Congresso (House Internal Security
Committe) e oficialmente dissolvido em 1975.
69
Thomas foi preso em novembro de 1948 e condenado à prisão por empregar funcionários "fantasmas" e se
apoderar de seus salários. Por ironia do destino, partilhou da mesma cela que Ring Lardner Jr e Lester Cole
condenados por seus depoimentos junto ao HUAC. Uma censura de classe, estruturada segundo os interesses e a
ótica capitalista, examinando detalhadamente os roteiros aprovados pelos produtores, cometendo absurdos e
castrando, com cortes e proibições, em rígida obediência à pseudodefesa de valores morais e políticas
ultraconservadores.”
70
Segundo Truman o Programa “não apenas possibilitava a remoção dos
funcionários sobre os quais havia dúvidas quanto à sua lealdade, como também
Novo Inimigo pode ser percebido neste diálogo entre John E. Rankin e o ex-
70
Discurso de Truman em Oklahoma City em 28 de setembro de 1948. In: The Truman Program. Washington,
Public Papers Press, 1949. pp. 246.
71
Ferreira cita um exemplo elucidativo de do rumo que tomaram as investigações do Programa de Lealdade. Ele
narra o caso da funcionária Dorothy Bailey, que foi demitida após 15 anos de serviço público, a partir de
informações que ela não pode negar pois não chegou a conhecê-las integralmente e não lhe foi permitido ter
acesso ao nome dos seus delatores. Diz Ferreira que o diretor do Comitê de Lealdade sequer sabia dizer aos
advogados da acusada se as informações haviam sido prestadas sob juramento. FERREIRA, Argemiro - A Caça
às Bruxas. Porto Alegre, LP&M, 1989. pp. 80.
72
Discurso de Truman em Oklahoma City em 28 de setembro de 1948. In: The Truman Program. Washington,
Public papers Press, 1949. pp. 245.
71
BULLIT - Há mais escravos humanos na Rússia do que já houve em
qualquer parte do mundo.” 73
rádio e TV e a exposição pública dos depoentes cumpria um objetivo central que era
O HUAC foi utilizando para acuar e atemorizar qualquer cidadão que não
“Não bastava ser americano por cidadania ou residência - era preciso ser
americano até em pensamento. Havia uma coisa chamada Americanismo. E
a falta do pensamento adequado podia fazer de um cidadão americano um
antiamericano. O teste era ideológico. E por isso tivemos uma coisa
chamada Comitê da Câmara contra Atividades Antiamericanas.”
(...)
Se não é suficiente possuir cidadania e obedecer as leis, se devemos
também apoiar as proposições do Americanismo, acabamos criando duas
classes de cidadãos: os leais e puros doutrinariamente e aqueles que, sem
realmente infringir qualquer lei, são considerados antiamericanos,
deficientes em seu americanismo.
(...)
Como podemos saber o que pensam os outros das doutrinas do
Americanismo, a menos que investiguemos seus pensamentos, (...) na
batalha das mentes quem não é totalmente devotado à proposição da
liberdade é um inimigo.” 74
Como diria John Howard Lawson, na batalha das idéias desencadeadas pelo
propagação da imagem do Novo Inimigo, portanto, nada mais correto que o HUAC
73
Citado em Argemiro Ferreira - op. cit., pp. 64. Neste depoimento a correta denúncia sobre os trabalhos
forçados na Sibéria perde completamente a eficácia, diluídos pela velha máxima de que “comunistas comem
criancinhas”.
74
HELLMAN, L. - Caça às bruxas. pp. 11-12.
72
fosse responsável por impedir a infiltração de comunistas no cinema, e que se
que exercer. Junto com isso o HUAC ganhava uma enorme publicidade sobre a sua
caça às bruxas.
nos filmes. Nesta caça desenfreada - quando filmes produzidos a pedido do governo
comunistas. 75
75
É importante esclarecer que McCarthy nunca esteve à frente das investigações sobre HOLL YWOOD -
contrariamente ao que se diz em vários textos sobre o assunto. Enquanto senador, McCarthy não integrou o
CCAA pois este pertencia à Câmara de Deputados. O Comitê do Senado presidido por McCarthy ocupava-se de
questões governamentais, investigando a infiltração comunista na Administração. Não existem registros de
viagens de McCarthy à HOLLYWOOD ou ainda de pronunciamento do senador acerca da indústria
cinematográfica.
76
FERREI RA, Argemiro - op. cit pp. 122-3.
73
“SMITH - O senhor alguma vez encontrou elementos comunistas em algum
roteiro?
COOPER - Bem, deixei de lado alguns poucos roteiros, porque achei que
tinham idéias comunistas.
SMITH - Pode citar alguns desses roteiros?
COOPER - Não, não me lembro de nenhum desses roteiros.
PRESIDENTE - Só um momento. Senhor Cooper, o senhor não tem uma
memória tão ruim.
COOPER - Perdão, senhor?
PRESIDENTE - Eu disse que o senhor não tem uma memória tão ruim, não
é? O senhor deve estar apto para se lembrar de alguns desses roteiros
comunistas.
COOPER - Bem, não consigo realmente me lembrar do título de nenhum
deles.
PRESIDENTE - O senhor não quer voltar a pensar, então, e dar ao Comitê
uma lista desses roteiros?” 77
A postura dos membros do HUAC era e continuou a ser sempre essa. Não
bastava dizer o que eles queriam ouvir, era preciso citar nomes, denunciar
companheiros. Isto era o que realmente valia, a delação era uma forma do
segunda quinzena de outubro de 1947), o Comitê, ainda sem grande prestígio, foi
ridicularizado e enfrentado.
77
PEIXOTO Fernando - Hollywood: episódios da histeria anticomunista. Rio de Janeiro Paz e Terra, 1991. pp
91.
78
Ver anexo pp
74
Hollywood e as emissoras de rádio e televisão (com as empresas
patrocinadoras e as agências de propaganda), os grupos patrióticos,
entidades de extrema direita e profissionais ao anticomunismo.
(…)
Complexos e mal definidos, os mecanismos da lista negra eram acionados
pelos mesmos grupos e pessoas a quem as vítimas tinham de recorrer mais
tarde, na esperança de limpar o nome e recuperar o emprego perdido.” 79
da MPAA - Motion Picture Association of América 80 declarou que era preciso evitar
Negra.
que quisessem desafiar o CCAA, criou-se, em 1947, o Comitê pela Primeira Emenda
- (Committe for the FIrst Amendment 81 ), do qual faziam parte inúmeras celebridades
de Hollywood - entre elas Humphrey Bogart, Lauren Bacall, Danny Kaye, Gene Kelly,
Comitê:
79
FERREIRA, A. - Caça às Bruxas. Pp. 139-40
80
A MPAA, foi fundada na década de 20 pelas maiores empresas cinematográficas da época. Sua primeira
grande tarefa foi a de elaborar o Código de Produção que segundo Fernando Peixoto "define rígidos e medievais
princípios de censura moral e ideológica".
81
Ver anexo III
82
BACALL, Lauren - Bacall Fenomenal. Rio de Janeiro: Nórdica, 1981. pp206-7.
75
Das 41 pessoas listadas nesta primeira série de interrogatórios, 19 foram
Bessie, Lester Cole, Ring Ladner Jr., John Howard Lawson, Albert Maltz, Samuel
como bem o demonstram estes trechos dos depoimentos de Alvah Bessie e de John
Howard Lawson:
76
LAWSON - Meus direitos como cidadão norte-americano não são menores
que as responsabilidades deste Comitê do Congresso.
THOMAS O senhor sabe o que aconteceu com muitas pessoas que
cometeram desacato contra o Comitê este ano, não sabe ?
LAWSON - Eu me alegro que tenha deixado perfeitamente claro que o
senhor vai ameaçar e intimidar os que depõem, senhor presidente.”
o que fazer para ameaçar Lawson, ele afirma que o Comitê utiliza técnicas já
“É tão lamentável quanto trágico que eu tenha que ensinar à este Comitê os
princípios básicos da América do Norte.” 83
esta causada em parte por uma possível rejeição de Wall Street que cada vez mais
ideológica” 84
acusação por 346 votos contra 17. Realizaram vários recursos, mas voltaram aos
83
Ambos os depoimentos encontram-se citados em PEIXOTO, Fernando - op. cit pp 98-9 e 106-8,
respectivamente.
84
GEADA ,Eduardo - O imperialismo e o fascismo no cinema. Lisboa, Moraes Editores, 1977 pp25.
77
No dia seguinte à aprovação da acusação por desacato pela Câmara, os
“ninguém que saibamos ser comunista ou membro de qualquer partido ou grupo que
que tivesse seu nome colocado na Lista, independente de qualquer defesa por parte
do listado.
Com isso chegou ao fim o Comitê Da Primeira Emenda e alguns dos liberais
Bogart que afirmou que os participantes do Comitê foram usados por advogados do
Partido Comunista. 86
A partir daqui qualquer um era culpado até prova em contrário e era preciso
78
confessavam para não entrar ou sair da Lista Negra. Robert Taylor - ator do filme
Canção à Rússia, alvo de acusações por parte do Comitê - depois de afirmar que é a
anticomunista de Taylor podia ser fruto de uma opção política individual, mas, e isto
é inegável diante dos fatos, pessoas públicas como ele, colaboraram com as suas
Inimigo Total.
público para estar em todas as mentes durante todo o tempo. Para isso nada melhor
85
FERREIRA, A - op. cit., p. 129
86
Esta acusação foi rebatida por Argemiro Ferreira em sua obra sob alegação de que entre os advogados que
defenderam os Dez de Hollywood estavam o republicano BARTLEY CRUM e o liberal ex-procurador-geral da
Califórnia, ROBERT KENNY que eram muito respeitados e não possuíam qualquer vínculo com o PC.
87
PEIXOTO Fernando - op. cit pp 102-3
79
MCCARTHY E SUAS DENÚNCIAS
“A essência do homem não é uma abstração inerente ao
indivíduo isolado. Na sua realidade, é o conjunto das relações
sociais”. Teses sobre Feuerbach – Karl Marx
Milwaukee, em 1935. Em sua carreira conquistou certa notoriedade. Foi eleito juiz de
Fuzileiros Navais.
McCarthy nas primárias, acreditando que este poderia ser mais facilmente derrotado
Follette Jr.
80
da vitória de Thomas Dewey sobre Truman, que conseguiu reverter a situação nos
Republicano em polvorosa. 88
sua reeleição, escolheu este como tema central de sua campanha e, reeleito,
realizações:
88
Ver dados relativos aos processos eleitorais de 1948 e 1952 no anexo II.
89
Citado em FERREIRA, A. - Caça às bruxas. ps. 95-6
81
propaganda contra o comunismo e a União Soviética - aliado ao seu grande
“(...) as suas traições têm sido muito bem tratadas por este país.(...)
Isto é flagrantemente real no Departamento de Estado. Na minha opinião, o
Departamento de Estado, que é um dos mais importantes Departamentos
do governo, está completamente infestado de comunistas.
Eu tenho em minhas mãos, 57 nomes de pessoas que, ou carregam
consigo a sua ficha de filiação ao Partido Comunista ou lhe são leais, nós
entretanto, os estamos deixando formular a nossa política externa.” 90
dos jornais.
McCarthy disse à imprensa que estava de posse de uma lista completa dos nomes,
entanto, ninguém pôde ter acesso à ela a não ser alguns dias depois, quando os
90
Discurso proferido em Weeling, Virgínia, em 12 de fevereiro de 1950 e publicado no Congressional Record,
81st Cong., 2nd Sess., pp. 1954ff. O discurso foi registrado no dia seguinte pelo jornal local, THE WHEELING
82
McCarthy manipulou como quis sua própria declaração, fosse mudando o
que enquanto este último idealizou a Grande Mentira (“uma farsa tão imensa que a
que abalava a própria existência dos Estados Unidos e dos especialistas que
INTELLIGENCER, pelo THE CHICAGO TRIBUNE e por um despacho da ASSOCIATED PRESS, que foi
veiculado por jornais de outras cidades
91
FERREIRA, A. - op. cit. pp. 99.
92
Lattimore era professor da Universidade John Hopkins de Baltimore e especialista em assuntos do Extremo
Oriente.
83
o senador acusou de ser “o mais categorizado agente russo nos Estados Unidos,
O próprio Hoover declarou que não havia provas suficientes para acusá-lo,
se. O senador afirmou que a União Soviética recebia documentos sobre a Bomba-A
hábito, McCarthy não apresentou provas, mas conseguiu fazer com que Truman
Estado, sob a alegação de que ele era um político apaziguador e tinha, portanto,
Kremlin.” 94
93
Após o discurso de McCarthy sobre a existência de comunistas no Departamento de Estado, uma Comissão
Especial foi instalada para fazer as averiguações que fossem necessárias.
94
Declaração publicada pelo jornal O Estado de São Paulo em 7 de maio de 1950, 1º p.
84
As eleições de 1952 foram um momento crucial para a Macarthismo. O
próprio senador reconheceu que não era mais necessário na “cruzada contra o
comunismo”, pois
utilizando-se dos instrumentos que a própria comissão lhe oferecia, voltou às suas
95
FERREIRA, A. - op. cit. pp. 107
96
Citado em LINK, A. S. - História Moderna dos Estados Unidos. Rio de Janeiro, Zahar, 1965. pp.1220
85
Deixando clara a sua disposição de não alterar os métodos dos quais se
Universidades.
para eliminar os comunistas, mas ainda não era o suficiente e por isso o seu
Nos dois anos seguintes, McCarthy foi uma presença constante nos
97
FERREIRA, A. - op. cit. pp. 109-10.
86
Prova disso, foi a intimação que McCarthy enviou a Truman para prestar
então Secretário de Justiça, Herbert Brownell Jr., fez um discurso no qual acusava
“Harry Dexter White era espião russo. Entregou documentos secretos aos
agentes russos para serem transmitidos à Moscou. Harry Dexter White era
reconhecidamente um espião comunista, mesmo para as pessoas que o
nomearam para a função mais importante que ocupou no serviço público.
(...)
As atividades secretas de White foram comunicadas à Casa Branca em
dezembro de 1945.
Apesar disso, por incrível que pareça, o Presidente Truman o nomeou em
23 de janeiro de 1946 para o posto de diretor executivo pelos Estados
Unidos do Fundo Monetário Internacional.” 98
não tenha comparecido ao Comitê, fez uma declaração pública sobre o caso. 99
Irving Peress. Peress fôra dispensado da corporação por ter invocado a Quinta
antes deste interrogatório e por dispositivos legais, ele tinha sido promovido.
98
Publicado em The New York Times, 7 de novembro de 1953.
99
Uma declaração que acabou colocando o ex-presidente em maus lençóis. Num primeiro momento afirmou que
assim que ficara sabendo das desconfianças sobre White, demitira-o. Não era verdade, White se retirou do
serviço público quando começou a apresentar problemas cardíacos. Na segunda declaração, disse que indicara
White para o FMI com a finalidade de facilitar as investigações para o FBI.
87
Segundo Argemiro Ferreira, McCarthy
para desmoralizar Zwiker, acusando-o de ser indigno para vestir seu uniforme. Não
foram poucas as pessoas que se indignaram com a atitude do senador, afinal Zwiker
“O prestígio e o moral das forças armadas dos Estados Unidos são muito
importantes para a segurança da nação para que se possa tolerar vê-los
enfraquecidos por ataques desleais contra nossos oficiais.” O Estado de
São Paulo, 23/02/1954, p. 1 (Washington, 22102, ag. AFP e UP)
métodos de McCarthy 101 e a nova queda de popularidade do senador fez com que o
impedir que ele fosse para a tropa e importunou a quem lhe foi possível fazê-lo; não
88
tendo os seus pedidos atendidos, resolveu abrir o processo de investigação sobre a
corporação.
1954; duraram 36 dias, num total de 160 horas, com 30 testemunhas, e 2 milhões de
Joseph N. Welch, advogado responsável pelo caso, que foi ainda mais teatral do
100
FERREIRA, A.- op. cit. pp. 112-3.
101
Programa do jornalista de TV Edward Murrow, com imagens do senador torturando suas vítimas. O programa
foi ao ar pela CBS e mereceu críticas de pessoas respeitadas, que eram contrárias a McCarthy, por utilizar os
mesmos métodos que o senador para desmoralizá-lo
89
ainda hoje em sua firma de advocacia, a quem o Sr. pediu que estivesse
aqui hoje, investigando material secreto e classificado, é membro de uma
organização [comunista]. Ele pertenceu ao partido por um número razoável
de anos, conforme ele próprio admitiu.
(...) eu apenas senti que tinha o dever de responder ao seu pedido (...)
Eu hesitei em trazer isto à tona, mas estou ficando chateado com seus
falsos pedidos ao Sr. Cohn aqui, que ele ponha pessoalmente qualquer
comunista para fora do governo antes do pôr-do-sol.
Eu não estou lhe pedindo agora que explique porque o Sr. tentou impingi-lo
a esta comissão. Não sei se o Sr. sabia ou não que ele era membro daquela
organização comunista. Eu assumo que o Sr. não sabia, Sr. Welch, porque
tenho a impressão que, embora seja um ator e tanto, o Sr. tem uma
representação humorística, e não acho que tenha qualquer noção do perigo
do partido comunista. Eu não penso que o Sr. próprio, alguma vez, viesse a
ajudar de forma consciente a causa comunista. Acho que o Sr. está
inconscientemente ajudando-a ao tentar ridicularizar esta audiência na qual,
entretanto, estamos tentando levantar os fatos.
SENADOR MUNDT - Sr. Welch, a presidência deve dizer que não
reconhece ou se recorda de ter o Sr. Welch recomendado o Sr. Fisher ou
qualquer outra pessoa para esta comissão.
WELCH - Até este instante, senador, eu acho que nunca tinha estimado
realmente sua crueldade ou sua falta de tato. Fred Fisher é um jovem que
freqüentou a Escola de Direito de Harvard, veio até minha firma, e está
começando conosco o que parece ser uma brilhante carreira.
Mal imaginava que o Sr. pudesse ser tão descuidado e tão cruel a ponto de
prejudicar aquele rapaz.
MCCARTHY - Devo dizer que o Sr. Welch diz ser isto cruel e descuidado.
Ele está apenas provocando; ele tem estado provocando o Sr. Cohn aqui
por horas, solicitando ao Sr. Cohn que, antes do pôr-do-sol, tire fora de
qualquer departamento do governo qualquer um que esteja servindo à
causa comunista.
SR. WELCH - Não vamos assassinar esse rapaz ainda mais, senador. O Sr.
já fez o bastante. O Sr. não tem o mínimo senso de decência, afinal,
senhor? O Sr. não teve deixado nenhum senso de decência?
MCCARTHY - Eu sei que isto dói no senhor, Sr. Welch. Mas eu posso dizer,
Sr. presidente, num ponto de privilégio pessoal, e gostaria de terminar com
isto -
WELCH - Senador, acho que dói no senhor, também.
MCCARTHY - Eu gostaria de terminar com isto. 102
102
US - Senate. Government Operations Committe. Hearings before Special Subcommittee on Investigations,
83nd Congress, 2sd Session, 1954. O trecho citado é da audiência de 22 de abril.
90
por 67 votos contra 22. O texto da censura ao senador dizia que “O comportamento
do senhor McCarthy é contrário à tradição do senado e por isso, por meio deste ato,
“mundo livre” viessem a saber que o guardião, à quem confiaram a defesa de sua
em seu Inimigo.
103
US. Congress. Senate. Senate Resolution 301, 83rd Congress. Senate Censure of Senator McCarthy -
December 2, 1954.
91
CAPÍTULO III - O PAPEL DE HOLLYWOOD
NA CONSTRUÇÃO DO NOVO INIMIGO
TOTAL
HOLLYWOOD, A CAÇA ÀS BRUXAS E O NOVO INIMIGO
TOTAL
Dentre todas as formas de propagandear o Inimigo, o cinema talvez tenha
sido uma das mais importantes e, ao mesmo tempo, das mais eficientes.
cinematográfica tenha interesses objetivos a defender Isto não quer dizer que todo e
qualquer filme seja feito com o intuito de atender estes interesses, mas também não
se pode ignorar o fato de que o cineasta é influenciado pela sua época e que um
104
GARCIA, Nelson Jahr - 0 que é propaganda ideológica?. São Paulo, Nova Cultural: p. 70-1.
105
BERNARDET, Jean-Claude - O que é cinema?. São Paulo, Nova Cultural: Brasiliense, 1985. pp 16-17.
92
filme não pode ser analisado fora de seu contexto histórico, do qual, em alguma
medida, é reflexo.
modo de vida, uma visão de mundo, pode reforçar determinados valores e modificar
outros. Os efeitos em curto prazo são sempre difíceis de avaliar, mas cinema pode
colaborou com aquilo que de melhor tinha a oferecer: o divertimento. Com ele era
Foi dessa forma que a indústria se incorporou ao esforço das elites - da qual
também fazia parte - para criar o Novo Inimigo Total. Hollywood esteve às voltas
com verdadeiras acrobacias para dar conta deste objetivo, pois se viu defrontada
a greve dos dois milhões em 1920 107 , levaram ao primeiro acordo entre Hollywood e
106
FURHAMMAR, L. & ISAKSSON, F. -Cinema e Política. pp 52-3
107
Esta foi uma greve de trabalhadores de grandes proporções, liderada em parte por membros do PC e
violentamente reprimida pelo governo.
93
Neste acordo a indústria combatia o comunismo e dava lições de
interno.
filmes como The Red Viper (1919), Boots (1919), Land of Opportunity (1920),
Shattered Dreams (1920), Dangerous Hours (1920) e Great Shadow (1920), entre
tinha medo desde 1917, não eram mais inimigos e sim, aliados que mereciam
respeito.
Hollywood foi logo incumbida de tal tarefa. Passou a produzir filmes que
Michel Curtiz em 1943, Song of Russia de Gregori Ratoff em 1944 e The North Star
Hollywood altera o quadro de suas produções e coloca nas telas filmes como The
Iron Curtain de Willian Wellman em 1948, Big Jim McLain de Edward Ludwig em
1952, I was a Communist for the FBI em 1951, Walk East on Beacon em 1952 e My
94
agigantados por mutações atômicas e megarépteis. Até sob a forma de plantas
sorrindo.
testemunhas amistosas do Comitê - afirmou que se o filme havia sido produzido com
o intuito de auxiliar no esforço de guerra seria difícil que tivesse conseguido, pois se
apoiara em mentiras. A fita, segundo ela, mostrava um estado de bem estar e alegria
totalmente falsos.
num país de escravidão e horror, chega a ser terrível porque é propaganda”. 110
108
AUGUSTO, Sergio - Exército e cinema, irmãos nas armas Folha de São Paulo, 18 de março de 1986
109
HELLMAN, L - op. cit, pp 2
110
PEIXOTO, Fernando - Hollywood, episódios da histeria anticomunista Rio de Janeiro, 1991 pp 88.
95
Observações como estas, demonstram o que viria a ser a caça às bruxas em
tal interessava-se por manter este sistema que lhe proporcionava vantagens e
lucros, mesmo que para isso vidas tivessem que ser irremediavelmente sacrificadas.
1945 já havia sido prevista em 1907 na novela de Roy Norton - a primeira a abordar
por um fim à guerra e poupar muitas vidas, Truman em 45 decidiu pelo extermínio
111
FURHAMMAR, L & ISAKSSON, F - Cinema e Política pp 187
96
das populações de Hiroshima e Nagasaki. O presidente tinha mesmo lido com muita
Relâmpago.
promovida pela literatura serviu de base para o cinema de ficção científica dos anos
50.
112
FRANKLIN, H. Bruce - Eternally safe for democracy: the find solution of american science-fiction. In:
Science fiction, social conflict and war Manchester, 1990.
113
Truman tinha sido desde a sua adolescência um ávido leitor de novelas de ficção científica que antecipavam
as descobertas da chamada arma final uma arma tão poderosa que colocaria fim à guerra no planeta. Truman era
leitor assíduo e assinante de revistas que publicavam estas novelas tais como a McClure's e a Saturday Evening
Post.
97
Na sua colaboração com a produção da imagem do Novo Inimigo e a
1948 e 1954.
maior parte deles constituiu-se em grande fracasso de bilheteria, ao que tudo parece
indicar, porque este tipo de propagandização muito explícita não era bem aceita pelo
público.
contribuição fundamental.
western, produzido em 1953 e estrelado por Allan Ladd, pode ser visto como uma
114
A idéia de gêneros com a qual procuramos trabalhar é a que foi desenvolvida por CAPUZZO F.º, Heitor - The
Twilight Zone: Combinatórias Narrativas e Intertextualidades. Dissertação de Mestrado apresentada ao
Departamento de Comunicações e Arte, Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1988, na qual o autor afirma que
"(...) O cinema parece trilhar mais pelo caminho de uma 'intertextualidade' entre os gêneros uma impureza
marcada pela necessidade de sua própria estrutura de sobrevivência ( .) Essa ambigüidade dá-se pelo fato de que
gênero, no cinema, não é definido a partir apenas da escritura, mas sim de um complexo sistema de encenação,
onde cenografia, figurinos, fotografia música montagem, roteiro direção, elenco se fundem num todo orgânico
98
Um pistoleiro cansado que procura apenas a paz e que é obrigado a lutar
contra bandidos que tiranizam e oprimem e, contra os quais só ele pode lutar. Em
clima de Guerra Fria, por que não ser o filme um chamamento ao povo americano
que, apesar de avesso à guerra, deve compreender que é o único que pode lutar
As comédias românticas com Doris Day, que mostram uma linda casa sempre
equipada com tudo aquilo que a sociedade moderna pode oferecer de melhor, não
estarão mostrando como é bom viver em uma sociedade livre (livre para o consumo,
é bom que seja dito) e não em uma outra na qual todos são nivelados à igualdade
total?
leitura, já que um filme não é produzido fora de seu contexto histórico e não, pode
Total.
(..) mais importante do que definir rigorosamente o gênero, é reconhecer suas estruturas narrativas que o
distinguem dos demais "
99
Todos os gêneros fílmicos poderiam ser utilizados para publicizar valores
que chamamos propriamente de ficção científica, eram filmes nos quais a ameaça à
paz provinha de máquinas ou do domínio que se poderia ter sobre elas. 115
período posterior - a era nuclear - embora ainda fosse utilizada para o mal, a ciência
humanidade.
115
O filme B surgiu com a finalidade de compor os sistemas de programação dupla que tinham como objetivo
suprir as áreas periféricas de exibição preteridas em relação às áreas consideradas centrais.
As salas que se encontravam nestas áreas centrais, recebiam as produções inéditas, que só chegavam ao cinema
de bairro com grandes atrasos. Como compensação desta situação exibiam-se programas duplos. Com um único
ingresso, o espectador podia ver dois filmes; o primeiro era o chamado filme B e o segundo era o filme principal.
Como o público ia ao cinema para assistir o filme principal, o filme B teve que desenvolver atrativos próprios e
não podia significar uma sobrecarga para o espectador apresentando dois filmes de um mesmo gênero, além de
não poder passar de 100 minutos de duração e de ser muito ágil para não criar nenhum tipo de indisposição.
“Uma das possíveis explicações para o florescimento desses gêneros na produção B é o impacto certo que eles
produzem. Curiosamente, são filmes que necessitam de efeitos especiais, o que acarreta maior custo
orçamentário. Mas, a indústria percebeu que a platéia dificilmente assistiria a dois western, ou dois musicais
seguidos. O programa duplo procurava a diversificação dos gêneros na sua composição.” CAPUZZO F.º, Heitor
- op. cit. p. 15-6.
100
Tornou-se necessário, portanto, fazer uma delimitação deste universo de
análise. Para isso uma breve avaliação dos mecanismos de produção e reprodução
dos diferentes gêneros levou-nos a optar pela Ficção Científica já que este gênero
nosso trabalho.
Foram estas questões que nos levaram a trabalhar com a hipótese de que se
Arnold, ao voar em seu avião particular, deparou-se com vários objetos que não
101
No ano em que eram anunciadas a Doutrina Truman e o Plano Marshall a
opinião pública, em muito influenciada pela imprensa começa a ver nos discos não
mais seres de outro planeta, mas instrumentos com as quais os russos espionavam
anticomunistas.
116
DAVIES, Philip John - Science fiction and conflict. In: Science fiction, social conflict and war
Manchester, 1990. p.2
117
RILLA, Wolf - Alguns aspectos da realização de filmes de ficção científica. In: Ciclo de cinema de ficção
científica. Catálogo-Livro da Cinemateca Portuguesa, Lisboa, 1984. p. 138.
118
PERDIGÃO, Paulo - Ficção científica no cinema - a moral da era atômica Revista de Cultura Vozes, Rio de
Janeiro, ano 66, jun-jul 1972. p. 367-8
102
“a ficção científica ganhou no cinema uma moralidade própria [formando],
com o passa dos anos, uma consciência política imediatista [na qual]
criaturas de outro mundo passaram a alertar os democratas terráqueos
sobre os perigos do átomo e do comunismo.” 119
119
Id. Ibid. p. 366-7
103
CAPÍTULO IV - PORQUE FILMAR E ATIRAR
SE CONJUGAM COM O MESMO VERBO
estavam em constante perigo - e com eles todo o “mundo livre” - o que tornava
120
COOK, Fred - O Estado Militarista. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1964. p. 64.
104
Com o início das hostilidades da Segunda Guerra, Roosevelt viu-se obrigado
esforço de guerra.
de trabalho - alegando que o problema central era vencer a guerra e que para isso a
Tudo ia bem até que em 1943 os problemas começam a aparecer. Neste ano
105
Era chegada a hora de reduzir a produção, os cálculos apontavam que era
preciso uma redução de pelo menos 1 bilhão de dólares ao mês durante todo o ano
argumentando que a carência do mercado civil era tão grande que era preciso ter
precedentes. 122
produção de guerra todo o lucro que ainda fosse possível e ao mesmo tempo ter
meses.
106
reconversão significaria a derrota dos aliados, já que haveria uma diminuição brutal
financiado pelo Estado - sem perder a sua supremacia sobre a economia civil.
Assim se iniciava o que viria a ser conhecido mais tarde como o complexo
militar-industrial.
este termo no seu discurso de despedida. Neste discurso, pela primeira vez se fazia
121
Charles E. Wilson - futuro Secretário de Defesa - encontrava-se então licenciado da presidência da General
Eletric para ocupar a vice-presidência do Departamento de Produção de Guerra.
122
O que na verdade estava por trás da preocupação de Wilson com o planejamento da reconversão era a
preocupação - partilhada a seguir por todos os grandes empresários envolvidos com a produção de guerra - em
que as pequenas empresas voltassem à economia civil antes que as mega-empresas tivessem concluído os seus
contratos (e extraído ainda mais lucros) com o governo.
Uma preocupação bastante justificável se levarmos em consideração que os consumidores americanos tinham
acumulado cerca de 160 bilhões de dólares por absoluta falta do que comprar.
123
Para esta campanha os militares se utilizaram de dados sobre o estágio da produção e os índices de estoque de
matérias-primas, que mais tarde uma Comissão Parlamentar de Inquérito constatou serem falsos. Enquanto os
militares de incumbiam de divulgar dados falsos, os industriais alteravam às escondidas as especificações para
produção para o mercado civil.
Sobre isso Cook cita um exemplo esclarecedor quanto à produção de geladeiras mecânicas domésticas. O projeto
original referia-se à produção de "geladeiras mecânicas domésticas, exceto elétricas", que foi alterado para
produção de "geladeiras mecânicas domésticas, exceto elétricas e a gás", esta "ligeira" alteração impediu que
uma empresa média concorrente da General Eletric entrasse no mercado civil antes.
124
Discurso pronunciado em 17 de janeiro de 1961. In: ISRAEL, Fred. (ed.) - The State of the Union messages
of the Presidentes (1790-1966). New York, 1968. P.194.
107
Foi com este tom apocalíptico que um dos homens que tanto colaborou com a
Guerra Mundial.
FUNÇÕES DA GUERRA
As funções e objetivos explícitos de uma guerra são perceptíveis sem
muito mais complexos e, portanto, mais difíceis de serem percebidos. Além dos
sistema de guerra, como é o caso dos Estados Unidos, em particular no período com
o qual trabalhamos.
possibilitaram à esta máquina, sempre preparada para a guerra, possuir uma força
hegemônica na sociedade.
numa eventual transição para a paz. O fim do chamado “sistema de guerra”, tal qual
foi concebido nos EUA, eliminaria as funções militares deste sistema, o mesmo não
ocorrendo com suas funções não-militares, a não ser que um planejamento global
108
1 - A guerra pode representar um desperdício econômico de grande utilidade
qualidade de vida sobre os quais os empresários pensavam que, quanto mais estas
questões pudessem ser bem resolvidas pela via dos gastos sociais, “(...) menor
[seria] o entusiasmo pouco exigente pela empresa privada, e maior o apoio a uma
Ideologicamente isto significaria uma derrota para o Capital. Esta é uma das
estes “(...) não acarretam concorrência com qualquer coisa que as empresas
privadas produzem para os mercados civis, e são uma fonte de negócios. (...)”. 126
obra.
4 - Além destas questões há que se pensar ainda, que uma das formas de
controle do Estado sobre a população está na coersão representada pelo seu poder
125
NOSSÍKER, Bernard D. - As duas meias-verdades do desarmamento. Em seu: Estudo sobre o poder e a
riqueza. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1968. p. 194.
126
Id.ibid., p. 194.
109
bélico-militar e que, portanto, eliminar a guerra significaria eliminar uma das mais
parcela da população que tende a rebelar-se com relativa facilidade: os jovens que
são neutralizadas ao serem convocados para o serviço militar. Este sistema torna
para a produção.
110
“(...) um amparo deste porte constitui forte proteção contra uma profunda
queda dos negócios.(...) as indústrias em progresso, aquelas cujos lucros
têm sido mais elevados desde 1929, são as que mais intimamente se ligam
aos gastos com a defesa.” 127
que os títulos das fabricas envolvidas com o complexo militar-industrial eram uma
defendê-lo.
burocracia estatal que se ocupa das questões de defesa, pelos parlamentares que o
127
Id. ibid., pp. 180
128
MILLS, Wright C. - A elite do poder. Rio de Janeiro, Zahar, 1968. p. 259.
Segundo os dados apresentados por Mills, em 1954 o governo norte-americano gastou cerca de 2 bilhões de
dólares em pesquisas dos quais aproximadamente 85% destinavam-se à Segurança Nacional.
111
Na composição deste complexo, o governo era o porta-voz dos interesses do
grande capital. A ele cabia defender o orçamento destinado à defesa para que fosse
para a defesa contra o Inimigo - que neste momento se fazia expressar pelo
existentes.
mais contratos a empresa recebia, maior o número de oficiais que vinha a empregar.
129
Id. ibid., pp. 254
112
Era comum também, encontrar pessoas vinculadas às maiores empresas
O texto relativo às exceções era tão amplo e, ao mesmo tempo tão genérico
que a partir de então, cerca de 90% das contratações foram feitas sem concorrência.
A exceção mais utilizada era a que impedia a publicação de edital de licitação por
Além das exceções, outra questão que a lei pretensamente garantia era a
livre-concorrência que na verdade, jamais existiu, pois quando uma empresa era
130
No caso dos representantes das empresas, tudo começava já na época da campanha eleitoral. As empresas
apoiavam os candidatos dos dois maiores partidos - Democrata e Republicano - com recursos financeiros e
humanos, colocavam à disposição dos candidatos quadros bem preparados para condução da campanha.
Eleito o novo presidente, estas pessoas eram sempre lembradas no momento da composição do seu staff.
Para citar apenas alguns dos casos mais famosos, eis alguns exemplos desta "cooperação":
Douglas MacArthur foi para a Remingthon Rand e depois para a Chrysler. Omar Bradley (do Estado Maior
Conjunto) foi para a Bulova Research Laboratories. Charles E. Wilson (que ocupou vários cargos no primeiro
escalão dos Governos Truman e Eisenhower - entre eles o de Secretário da Defesa) era da General Eletric.
Robert Lovett (Secretário de Estado de Truman) foi da Brown Brothers, Harriman & Co. George Humprey
(Secretário do Tesouro de Truman) foi da M.A. Kanna Steel Co. Frank Peace (Secretário do Exército de
Truman) foi presidente da General Dynamics. Leslie Groves (Coordenador do Projeto Manhattan) foi para a
Remington, Mattew B. Ridgway, foi para a Mellon Institute of Industrial Research.
113
montava a linha de produção o que lhe dava um maior grau de especialização e a
colocava como preferencial em relação as demais para produzir por anos a fio este
funções:
custo máximo. Este último cumpria dois papéis, o primeiro era o de desobrigar a
medida em que não existia concorrência real) e o segundo era o de garantir que
131
Além disso, a chamada ética empresarial impedia outras empresas de entrarem em concorrência já que
também acabavam por se especializar em outros tipos de armamentos e não lhes interessava que tal concorrência
viesse a existir de fato.
114
do que o previsto inicialmente ou qualquer outro fator que interferisse no custo final,
Caso este recurso fosse ainda insuficiente para garantir os lucros esperados,
original que, no mais das vezes, acabavam sendo “solicitadas” pelo próprio
Pentágono
suas pesquisas na área militar para fins civis, isto fez com que as grandes empresas
Numa total inversão de papéis este tipo de uso civil das pesquisas militares
feito pelas empresas, foi muito utilizado por parlamentares ligados ao complexo
produzido por elas mesmas. Milhares de dólares eram gastos todos os anos com
132
A BOING cumpriu um contrato para produção de transportes a jato para a Força Aérea e disso resultou o
Boing 707, que hegemonizou o mercado da aviação comercial por anos a fio.
A IBM foi responsável pela maior parte do desenvolvimento de computadores para controle balístico de aviões e
instalações antiaéreas. Quando os computadores passaram a ser produzidos para consumo civil, a IBM liderou o
mercado e teve com isso, um crescimento surpreendente.
115
Quando o equipamento entregue apresentava problemas de fabricação
pelos gastos. Com isso era preciso fazer um novo contrato, e a empresa que tinha o
seu contrato cancelado podia se dispor a realizar novos trabalhos uma vez que, em
termos oficiais, nada constava contra ela, pois o cancelamento tinha sido pedido
pelo Departamento.
militares pelas indústrias. Quando isso não era possível por qualquer motivo, as
empresas eram ressarcidas pelo gasto que tinham com instalações. 133
133
O argumento utilizado para isso era o de que estas instalações exigiam um enorme grau de especialização e só
poderiam ser utilizadas para novos contratos militares e como este "não era um mercado estável" as empresas
seriam prejudicadas se tivessem que arcar com os custos relativos à instalações.
134
Esta situação só foi "descoberta" quando no início dos anos 60 o Departamento de Defesa iniciou um estudo
sobre a venda de algumas de suas propriedades. Entre as propriedades listadas para este estudo, foram
descobertas algumas nesta situação o que impedia que fossem vendidas para qualquer outro comprador que não
as próprias empresas proprietárias do terreno. Isto fez com estas empresas determinassem o preço das vendas e
assim, mais uma vez, obtivessem lucros por meio de verbas públicas.
116
A OPÇÃO PELA GUERRA E O NOVO INIMIGO TOTAL
Os EUA percebendo que o nazi-fascismo transformara-se em pó criaram o
de guerra.
ainda, a paz pelo medo nada mais são do que o estabelecimento de um equilíbrio
a Terceira Guerra Mundial não era real pois, “A situação se resume nisto: com a
guerra, todas as nações poderão desintegrar-se, e por isso, em seu medo mútuo de
possibilidade de uma nova guerra levar à destruição total. Sobre esta questão diz
Jonh Kenneth Galbraith que “(...) as negociações de controle armamentista, (...) não
visam à efetiva redução de armas. Elas visam a reduzir o medo que as pessoas
135
MILLS, W. C. - op. cit. p. 222.
Além do problema da destruição global que uma nova guerra poderia causar, o Ten-Cel Karl Eklund da Escola
de Comando e Estado Maior afirma que uma nova "guerra total poderá sair tão cara que levará à ruína a nação
vencedora." A Natureza da Guerra Total. In: Military Review. Kansas, Escola de Comando e Estado Maior, abril
de 1950. p. 14.
117
sentem da corrida nuclear, visam arrefecer o temor popular de uma eventual
extinção”. 136
desarmamento.
governamental, que nos EUA era repassado à indústria privada para produção de
pelas elites com o estado de alerta contra “perigo” representado pelo Novo Inimigo, a
URSS.
136
GALBRAITH, John Kenneth - Controle de armamentos e poder militar. In: Estudos Avançados. São Paulo,
Instituto de Estudos Avançados/USP, maio/agosto de 1988. p. 12.
137
MORRAY, J. P. - Origens da Guerra Fria. Rio de Janeiro, Zahar, 1961. p. 136.
118
apesar de temerosa com o desastre de uma nova guerra - aceitasse com maior
facilidade uma dotação orçamentária cada vez maior para defesa (que implicava em
pelo Novo Inimigo e a convicção de que as armas eram de fato, uma necessidade.
“O poderio militar dos EUA manterá a URSS dentro de suas atuais fronteiras
- Qualquer tentativa da Rússia no sentido de ultrapassar os limites de sua
esfera de influência na Europa, encontrará resistência dos EUA”. - Relatório
da Associação Norte-Americana de Política Exterior - citado pelo jornal O
Estado de São Paulo de 07/01/1950, 1º pp. (Washington, 06/01, ag. AFP)
“O único meio de consolidar a paz é evitar pela força que a União Soviética
dê expansão aos seus desígnios ideológicos e imperialistas.” Declaração do
presidente H. S. Truman. O Estado de São Paulo, 10/02/1950, pp. 10.
(Washington, 09/02, ag. AFP).
“Precisamos ter forças suficientes para atacar o agressor onde ele for
vulnerável.” Declaração de John Foster Dulles, líder republicano. O Estado
de São Paulo, 13/05/1952, pp. 2. (New Iorque, 12/05, ag. UP).
138
Citado em MORRAY, J. P. - op. cit. p. 157.
119
defesa da liberdade e o soviético como um perigo a ser combatido a qualquer custo,
“A paz não constitui um fim ao qual tudo deva ser sacrificado.” Declaração
de J. F. Dulles, secretário de Estado. O Estado de São Paulo, 12/03/1953,
pp. 1. (New Iorque, 11/03, ag. AFP).
desde o fim da guerra. Disse ele que “Este é o tempo da guerra fria. Este é o tempo
no qual o mundo todo se encontra dividido entre dois vastos campos cada vez mais
antes que uma ameaça, uma necessidade. E que a guerra era antes que uma
armamentista.
ressaltar por hora, que o crescimento econômico norte-americano deveu boa parte
de sua existência aos gastos com a defesa. Não há como negar que a população, já
bastante real de defrontar-se com uma crise econômica sem precedentes, com a
120
Com isto, também os países do chamado Terceiro Mundo, são ganhos para a
“um dos fatores mais graves de toda essa questão da defesa é que tantos
americanos estão beneficiando-se com ela: propriedades, negócios,
empregos, votos, oportunidades de promoção, salários mais elevados para
cientistas e tudo o mais. Trata-se de uma questão muito
perturbadora...Quem tenta alterar as coisas encontra-se logo em
dificuldades” 139
potência rival. É preciso justificar do ponto de vista militar, mas, também, do ponto
população.
139
Citado em COOK, Fred J. - O estado militarista. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1964. p. 151.
140
AUGUSTO, Sergio - Exército e cinema, irmãos nas armas. Folha de São Paulo, 18 de março de 1986.
121
possibilita a produção de filmes que não se propõem a estar à serviço dos interesses
do complexo.
Também é verdade que nenhum filme, por melhor que seja, pode, por si só,
ele.
e se viabilizam incutindo a idéia de que estes interesses são de todos e não apenas
de uma classe.
não pode por si só viabilizar este objetivo, inúmeros filmes somados à jornais,
violentas.
122
puro entretenimento, como os de ficção científica, podem perfeitamente se
transformar em “alertas” quanto a ameaça que paira sobre o chamado “mundo livre”.
do complexo militar-industrial.
defesa contra este Inimigo URSS. Um Inimigo que, buscava impor o seu modo de
vida ao mundo através da violência e que não exercia e não compreendia os valores
Não há dúvidas de que um Inimigo tão bem elaborado e tão real para a
123
ruidosamente, [lançarem] uma cruzada americana que dominasse e conquistasse o
equacionada da forma mais eficaz e ágil que fosse possível encontrar. Foi assim,
mais útil do que um veículo tão ágil e tão insuspeito como o cinema para viabilizar os
Unidos e União Soviética - até então aliados contra um Inimigo comum - começavam
importantes.
141
COOK, Fred J - O Estado Militarista. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1964. p.69
124
Com isso, os filmes “alertam” para a falácia do comunismo, mesmo se
povos são submetidos quando vivem sob o regime “comunista”, tudo isso
Inimigo, como se, de fato, uma sociedade cuja marca é a divisão de classe e a
mesmo tempo, que estas inovações não trazem nenhum perigo se estiverem em
mãos corretas, os EUA e seus aliados, buscando com isso minimizar o pânico
Os filmes mostram que, por mais letais que estas novas armas possam ser, é
125
4 - Reduzir a desconfiança histórica da população em relação aos militares,
sociais. 142
guerra.
mais diversas finalidades, estima-se que os gastos com este tipo de material chegou
aéreas das atividades de guerra, por exemplo, ganharam novas funções além do
142
A própria constituição manifesta esta desconfiança e contém mecanismos para controlar o poder militar,
como por exemplo o problema da declaração de guerra que não pode ser feita apenas pelo estado-maior das
Forças Armadas.
143
Além do uso para batalhas, os mapas registrados pelas câmaras foram utilizados para alterar os
conhecimentos geográficos existentes Com estes registros foi possível atualizar antigos dados relativos à
contornos de países e continentes, fluxo de rios, altura de montanhas e cordilheiras, etc.
126
Depois de utilizados para esta análise os materiais eram trabalhados e
percebeu uma outra, o filme era uma linguagem propícia ao processo de formação
geral, a compreensão do que estava em jogo e a vontade de lutar pelo seu país.
estilos.” 144
Além dos filmes destinados aos soldados foram feitos filmes para os
Quando a guerra já estava no fim, estes filmes foram muito utilizados para
objetivos da guerra, aproveitava para colocar nestes filmes a sua marca. Dois bons
144
GRIFFITH Richard - The use of films by the US Armed Sevices. In: ROTHA, Paul - Documentary Films.
London, Faberand Faber, 1970. p. 349.
145
Para maiores detalhes sobre o problema da reconversão, ver neste mesmo capítulo, o item A opção pela
Guerra.
127
exemplos disto são o seriado Baptism of Fire e o longa-metragem Resisting Enemy
Interrogation. 146
convincentes possível. No filme The Battle of the United States, por exemplo, a
produção do noticiário. Junto com ele trabalharam, Henry M. Berman, editor e Don
Etlinger, roteirista da 20th Century Fox. O Army-Navy Screen Magazine foi ao ar pela
pelo Research Council of the Academy of Motion Picture Arts and Sciences
146
Vários membros de Hollywood colaboraram com a produção do período de guerra entre eles: Frank Capra,
que organizou a série Why we Fight; John Ford que realizou documentários para a Marinha William Wyler, que
dirigiu Memphis Belle, Henry Hattaway que dirigiu Fighting Lady e Walt Disney com Victory through airpower.
147
Este filme é um bom exemplo do método que o establishment, com a sempre prestativa colaboração de
Hollywood desenvolveu para trabalhar a imagem do lNIMIGO métodos posteriormente utilizados para construir
a imagem da URSS como o NOVO lNIMIGO TOTAL.
128
Havia também um acordo entre o Conselho de Pesquisa e a indústria de que
realizaria este trabalho em bases não lucrativas 148 . O Conselho, com a anuência da
indústria, se esforçou muito para que os filmes produzidos sobre a guerra fossem
comercial.
Finda a guerra, tem início uma ampla campanha para estabelecer a imagem
Para cumprir estes objetivos, o governo não poupou esforços e muito menos
dinheiro. Como diz Cook “o dinheiro do povo, filtrado para as mãos dos militares em
quantias prodigiosas, podia e seria usado para doutrinar esse mesmo povo nos
de imprensa mantinha uma sala de redação dentro do Pentágono para uso dos
148
Este oferecimento da indústria devia-se fundamentalmente, à garantia de manutenção do monopólio dos
grandes estúdios no período da guerra.
149
COOK Fred J - op cit. p. 86
De fato, da verba destinada à defesa uma parcela considerável era utilizada para fins de propaganda. Em 1950,
por exemplo, dos 13 bilhões de dólares destinados ao Departamento de Defesa - quase 10% (12 milhões) foram
destinados à propaganda.
150
Nesta campanha de propaganda o Pentágono foi sempre auxiliado por entidades civis sem fins lucrativos, que
de modo geral recebiam suas verbas das grandes empresas, na sua maioria contratadas pelo Departamento de
Defesa para produção de armamentos. Um exemplo esclarecedor dessa relação era uma entidade chamada
Crusade for Freedom. Esta entidade controlava a rádio Europa Livre e a Imprensa Europa Livre. O presidente da
entidade era Eugene Holman que "coincidentemente " era também presidente da Standard Oil (uma das
129
idéias e perguntas a serem formuladas pelos repórteres aos representantes dos
militares.
todo lugar sobre os militares e o complexo militar-industrial. Tudo era lido, recortado,
não só foi mantido, como também foi acomodado às novas necessidades. Este setor
De uma maneira geral, esta foi uma época em que as relações entre o Estado
empresas do complexo militar-industrial) a qual constava dos registros da entidade como uma de suas maiores
contribuintes.
151
COOK Fred J - op. cit. p. 90
152
GUBACK, Thomas - La industria internacional del cine. Madrid: Ed Fundamentos, 1980, v. 2. p. 275
130
Todo o esforço empreendido nesta campanha, cujo objetivo central era o de
Estado parecia ser bastante vantajosa para ambas as partes. O governo passava a
produtos.
virtude disso, optamos por trabalhar com os principais títulos da época, os que foram
131
Nem todos os chamados clássicos puderam ser analisados, por dificuldades,
Dos títulos que analisamos todos encontram-se em fitas VHS. Deles apenas o
132
DESTINO: LUA
Título Original: DESTINATION MOON
Elenco: Warner Anderson, John Archer, Tom Powers, Dick Wesson e Erin
O’Brien-Moore
O filme se inicia com uma tentativa frustrada de enviar um foguete à lua. Este
iniciativa privada para obter o capital necessário à sua continuidade. Ele procura um
empresário, que parece ser uma liderança do meio empresarial, a quem convence
que os Estados Unidos precisam ser os primeiros a chegarem à lua, caso contrário
de convencer os demais.
com que é possível construir um foguete espacial, facilidade que também as outras
nações têm. Mais importante ainda é o alerta que o Pica-pau faz quanto ao perigo
que pode advir caso uma outra potência resolva utilizar o satélite como uma base de
nesta área.
133
Estas informações convencem os empresários presentes, que concordam em
investir no projeto.
empresariado.
lançamento do foguete.
equipe que deve tripular a nave, composta pelo cientista responsável, pelo
134
de uma grande quantidade de peso para que o retorno seja possível. Chega-se a
135
GUERRA DOS MUNDOS
Título Original: WAR OF THE WORLDS
Efeitos especiais: Gordon Jennings, Wallace Kelley, Paul lerpae, Ivyl Burks,
Jan Domela, Irmin Roberts
Elenco: Gene Barry, Ann Robinson, Les Tremayne, Robert Cornthwaite, Lewis
Martin
tamanho.
A polícia local pede ajuda a três cientistas da empresa PACIFIC TEC, que
estão acampados na área. Eles dizem que se a “coisa” é de fato um meteoro não
Enquanto ocorre esta discussão sobre o que fazer com o “meteoro”, Clayton
observa que a cratera é muito pequena para o tamanho do meteoro e que existe
radiação no local.
Com o intuito de evitar um incêndio, três homens são deixados ali como
vigilantes. Quando os três se decidem a ir embora porque não há mais perigo, algo
136
na cratera começa a se mexer. Os homens pensam que são criaturas de Marte e
que
“todo mundo entende quando se acena uma bandeira branca, queremos ser
amigos”.
fazendo com que o coronel Hefner, responsável pela intervenção dos militares na
área, diz a Forrest que vai pedir reforços e este lhe responde que.
elaborar um relatório da situação a ser enviado para Washington. (no diálogo entre
ele e Forrest fica claro que ambos se conheceram em Oak Ridge, dos laboratórios
alienígenas parecem estar executando algum tipo de plano e que assim que se
137
“Algumas das novas armas estão aqui e queremos detê-los, pois é o único
destroem tudo que se move. Forrest diz ao general que o tipo de defesa que possui
Quando a situação se agrava o cientista tenta uma fuga junto com a sobrinha
“se forem mortais terão alguma fraqueza mortal, serão detidos de algum
modo.”
namorada tem uma crise de histeria e o cientista, após acalmá-la, se comove com a
sua fragilidade.
general Mann é informado de que está tudo pronto para evacuar a área
narrador relata a perfeição destes ataques e diz que a medida que desciam, suas
138
máquinas criavam pânico em todos os locais. Os governos de todo o mundo tentam
com os locais atingidos eram sempre cortadas. Diz o narrador que Washington era o
“Temos que evitar que as máquinas marcianas se juntem, elas adotam uma
extraordinárida tática militar, elas formam um crescente, elas ancoram em
uma extremidade e se movimentam até fazerem um quadrante, então
ancoram no lado oposto e revertem a direção. Elas passam através do país
como uma foice, destruindo tudo o que esteja tentando se afastar deles.”
O secretário diz que a bomba a ser utilizada é dez vezes mais poderosa que
qualquer outra. Um repórter ao comentar a notícia de que a bomba será utilizada, diz
que:
A bomba explode e nada ocorre com os civis, mas também não destrói os
139
TEC são atacados e destruídos. Enquanto procura a namorada, Clayton comenta
consigo mesmo que lamenta pelo fato de a ignorância da população ter eliminado
140
GUERRA ENTRE PLANETAS
Título Original: THIS ISLAND EARTH
Elenco: Jeff Marrow, Faith Domergue, Rex Reason, Lance Fuller, Russel
Johnson, Douglas Spencer, Robert Nichols, Karl L. Lundt.
CIA: Universal
um avião, cedido pelo Exército, que o levará de volta à Los Angeles. Vários
Atômica, Meacham lhes diz que estavam discutindo novas formas de utilização
industrial para este tipo de energia e, em particular para um dos repórteres, afirma
que está trabalhando numa pesquisa para converter elementos comuns (chumbo)
O avião - que segundo o cientista lhe fôra cedido pela Lookheed - decola e
durante o vão, já em Los Angeles, sofre uma pane e é suspenso por um raio
esverdeado que o ajuda a pousar em segurança. Cal pede à seu assistente, Joe
Ao chegar ao seu laboratório, Wilson lhe diz que pedira condensadores para
sobrecarga. Com um telefonema Meachan descobre que as peças não tinham sido
141
No dia seguinte recebem o manual com informações sobre outras peças e Cal
pesquisas. Diz também, que um avião virá buscar Cal dentro de dois dias, caso ele
Ao chegarem a casa onde devem permanecer, Ruth lhe diz que Exeter lhes
Exeter os recebe e diz a Cal que o seu objetivo é o fim da guerra e que para
isso necessita de grandes experts. Diz saber o que ele está por descobrir fontes
mesmo trabalho desenvolvido por Ruth, e que todos juntos obterão grandes
Durante o jantar Meacham percebe que há algo errado. Convida Ruth e seu
amigo Carlson para um passeio e pede à eles que lhe mostrem seu laboratório. Cal
cientistas dizem que Exeter deseja obter novas fontes de energia atômica e que
cérebro que controlam a vontade (algo similar a uma lobotomia), eles dois e um
142
Enquanto isso, Exeter e Brack que acompanham parte da conversa dos
que avisa-o de que o tempo esgotou-se. Exeter deve levar Ruth e Cal e apagar
todas as provas de sua passagem. Exeter reluta diz que não está pronto, mas acaba
concordando em partir.
Ruth, Meacham e Carlson tentam uma fuga mal-sucedida. São atacados por
encontram abandonado, Ruth e Cal são aprisionados pelo raio enquanto observam a
destruição total do lugar onde estavam. O avião é levado para o interior da nave de
Exeter diz que ambos estão começando uma estranha jornada nunca antes
Explica a eles que estão indo para Metaluna, planeta fora do sistema solar.
Diz que seu povo está vivendo um drama. Exeter lhes diz que seu planeta está em
143
guerra com Zahgon. Toda a tripulação é mostrada, todos se parecem fisicamente,
vestem a mesma roupa pois segundo Exeter elas são adequadas à vida em
Metaluna.
ataques que sofrem de Zahgon e diz que estes ataques estão destruindo a camada
lhe diz que vão se mudar para a Terra. Exeter ressalta que a mudança será pacífica
e Monitor diz que poderiam usar a força se assim o quisessem pois são muito
superiores. Cal coloca em duvida esta afirmação dizendo que eles não tinham
Monitor se irrita com a observação de Cal e diz que é próprio dos humanos
não reconheceram a superioridade dos outros. Que eles são como crianças olhando
através de uma lente de aumento e que pensam são do tamanho que vêem. Cal
retruca que:
mudança mental.
144
Os ataques se agravam, Ruth e Cal tentam escapar, as construções
começam a ruir, Monitor é atingido e morre. Exeter corre atrás deles e diz que quer
Ao chegarem ele diz que vai procurar uma nova Metaluna, um lugar habitado
“O lar ...”
145
VAMPIROS DE ALMAS
Título Original: INVASION OF THE BODY SNATCHERS
Elenco: Kevin McCarthy, Dana Winter, Larry Gates, Carolyn Jones, Ralph
Dunke.
O filme tem início com o retorno do doutor Miles à sua cidade. Ele é recebido
por sua assistente e esta lhe diz que todos em Santamira parecem estar precisando
de um médico, o consultório tem estado cheio e ninguém quis lhe dizer qual o
problema. Também não quiseram ser encaminhadas para outro médico. Quando
Miles começa a trabalhar quase todas as consultas são canceladas ele se irrita.
anos fora, vai procurá-lo para pedir que ele visite sua prima Vilma pois esta se
recusa a aceitar que seu tio Iran seja mesma seu tio, segundo ela faltam-lhe
sentimentos e emoções.
Quando Beck sai, a avó do menino Jimmy Grimaldi o leva até o consultório e
diz à Miles que o garoto insiste em dizer que a sua mãe não é sua mãe.
Apesar de, no íntimo, estar desconfiado de que algo não está bem, Miles não
dá atenção ao ocorrido.
qual relata os dois casos e este lhe diz que está havendo
146
No restaurante, Miles recebe uma chamada de urgência e leva Beck consigo.
Ao chegarem, o casal que o chamou mostra ao médico um corpo que não sabem de
quem seja, ou o que está fazendo em sua casa. O rosto está indefinido e não
O médico pede a Jack e Teddy que mantenham o corpo sob vigilância aquela
noite, ele suspeita que haja alguma relação entre ele e o que está ocorrendo na
cidade.
Miles deixa Beck em casa. Muito cedo Teddy acorda e percebe que a “coisa”
abriu os olhos e que tem na mão esquerda o mesmo ferimento que Jack tivera na
noite anterior. Ambos vão à casa de Miles e este corre para buscar Beck, julgando
que a moça está em perigo. Ao chegar, Miles entra pelo porão onde encontra um
corpo igual ao que havia na casa de Jack, este possui o rosto de Beck. O médico
Miles chama Dan Koffman, o psiquiatra, a ele insiste em ver os corpos, pois
desconfiam mais de seus parentes, agora é a vez de Miles desconfiar deles, embora
estufa da casa deles e percebe que elas são duplicatas dos quatro. Conversando,
147
MILES - E serão. Vamos procurar em todos os prédios, em cada casa da
cidade. Homens, mulheres e crianças terão que ser examinados.
com o FBI, mas os alienígenas tomaram a telefônica. Teddy e Jack tentam sair da
acordados com medo de terem suas mentes tomadas, pois segundo Beck se
“Primeiro nossa cidade, depois todas as outras. É uma doença maligna que
se espalha por todo o país”.
Pensando ser Jack que retornou com ajuda, Miles abre a porta e vê que o
anos, se desenvolveram em uma fazenda, das sementes vieram os frutos que têm o
148
KOFFMAN: O amor não é necessário.
MILES: Sem emoções ?! Então não têm sentimentos? Só instinto de
sobrevivência? Não podem amar ou ser amados, não é?
KOFFMAN: Diz isso como se fosse terrível! Acredite-me não é. Você já
amou antes e não durou. Nunca dura. Amor, desejo, ambição, fé, sem isso
a vida é tão simples, acredite Miles.
duplicatas saem em seu encalço. Num momento de descuido, Miles deixa Beck só
para verificar de onde vem a música que ouvem, ela adormece e sua duplicata se
completa.
em direção à rodovia, sua própria voz em “off”, enquanto narrador da fita, nos
“Eu tive medo várias vezes na vida, mas não conhecia o verdadeiro
significado do medo até que beijei Beck. Um momento de sono e a moça
que eu amei era um inimigo inumano procurando me destruir. Aquele
momento de sono foi a morte da alma de Beck, assim como foi para Jack,
Dan Koffman e todos os outros. Seus corpos abrigavam agora uma forma
alienígena de vida, que para sobreviver teria que conquistar todo ser
humano. (...) A minha única esperança era sair de Santamira para avisar os
outros o que estava acontecendo.”
“Escutem seus tolos, estão em perigo. Será que não vêem? Estão atrás de
vocês. Estão atrás de todos nós. Nossas mulheres, nossos filhos, todo
mundo.” E olhando fixamente para a câmara, em direção ao espectador:
“Você é o próximo!”
lhe responde que o homem foi retirado de uma coisa muito estranha, uma ervilha
149
Enquanto a movimentação aumenta sem parar, Miles chora desesperado por
tudo o que havia perdido e aliviado pelo ainda pudera salvar: a humanidade.
150
PLANETA PROIBIDO
Título Original: FORBBIDDEN PLANET
Elenco: Walter Pidgeon, Anne Frances, Leslie Nielsen, Warren Stevens, Jack
Kelly, Richard Anderson, Earl Holliman
espaço.
diálogo:
151
A nave é localizada por um radar e uma voz - que se identifica como Edward
Morbius, o comandante lhe diz que tem ordens para realizar verificações e pede-lhe
tratar-se de um robô, que se apresenta pelo nome de Rob e diz que havia sido
são levados à casa de Morbius. Este lhes diz que agora é apenas um estudante
Morbius convida-os para o almoço e lhes mostra as utilidades de Rob, que lhe
facilita a vida no dia-a-dia. O filólogo diz que o robô é apenas uma ferramenta,
obediente, forte e sem sentimentos. Ao ouvir isto o Dr. Ostrow lhe pergunta
“em mãos erradas tal ferramenta não poderia ser uma arma mortal?”
Morbius torna a dizer-lhes para partirem pois, como puderam observar, ele
não necessita de nenhum auxílio. O comandante lhe diz que só partirá após avistar-
sobreviventes, foram todos mortos por uma estranha força planetária e o Belerofonte
152
foi destruído. Só ele e a esposa eram imunes àquela força, talvez porque eram os
únicos que quisessem permanecer no planeta. Ambos desejavam construir uma vida
Morbius diz que só tinha sido incomodado por aquela força em pensamentos,
mas sabe que a criatura está próxima apenas esperando ser convocada para matar.
visitantes. É uma moça muito bonita e que nunca tinha visto outro humano antes.
se dirigem à casa do filólogo, desconfiado que ele seja responsável pelo fato. Ao
Morbius conta a história de uma raça chamada Kreon que vivia em Altair IV.
“Do limiar de uma realização suprema que teria coroado toda a sua história,
esta raça toda pereceu em uma só noite, dois mil séculos atrás. Mesmo
suas torres indestrutíveis de vidro e porcelana e aço indissolúvel ruíram no
solo de Altair IV.”
sobre os Kreon. Impressionado com o que vê Adams diz o Morbius que ele precisa
153
Ao mesmo tempo em que este diálogo ocorre na casa de Morbius, a nave é
Ao saber do ataque o filólogo afirma que outros ocorrerão. Isto não tarda a
haviam trazido. Ainda assim, não conseguem deter “a coisa”, cujos contornos se
pode ser destruída por armas atômicas. O médico levanta a hipótese de que estaria
contra abandonar o pai, mas depois acaba cedendo aos apelos de comandante, por
comandante que os Kreon chegaram muito perto da sociedade que desejavam, mas,
responde que
154
Quando Morbius finalmente reconhece sua culpa, o “monstro” desaparece e
todo o sistema Kreon entra em colapso. O filólogo morre, Alta e Rob vão para a terra
com a nave.
“Sim Alta, seu pai, meus companheiros, todo conhecimento dos Kreon
estocado. Alta, há um milhão de anos de agora a raça humana terá que
engatinhar aonde os Kreon estiveram, seu grande momento de triunfo e
tragédia e o nome de seu pai brilhará novamente como um pioneiro de
galáxia, isso é verdade e nos lembraremos que, afinal de contas, não somos
Deus.”
155
FILMES E ORÇAMENTOS
No ano de 1950, quando o filme Destino: Lua ia para as telas, o presidente
gastos com defesa nacional representando 4,6% do Produto Interno Bruto (Gross
National Product). Isto sem contar mais 4,5 milhões para ajuda externa, cuja
“mundo livre”.
Truman afirmou que era preciso fabricar a bomba antes que potências
necessidade de chegar à lua antes que uma potência agressiva (neste caso a
153
Nos Estados Unidos o período correspondente ao ano fiscal é de julho a junho.
154
Todos os dados referentes aos anos fiscais de 1948 a 1956 encontram-se no Anexo VI.
156
URSS) o fizesse. Lá encontraram urânio, matéria-prima da bomba-A, caso a URSS
espionagem é um “alerta” quanto a relativa facilidade com que era possível obter os
segredos atômicos nos EUA, afinal os Rosenberg acabavam de ser presos, fruto da
uso da energia atômica para fins militares a população, ao mostrar que a decolagem
mostrando como é bom viver num país tão livre, tão democrático e onde todos
podem optar pelo que querem A volta dos interrogatórios do HUAC no ano de 1950
apenas o de usar tudo o que estiver ao seu alcance para conquistar o mundo
através da força.
Unidos estão em guerra permanente contra a ameaça soviética e que por isso
157
Matthws, Secretário da Marinha - O Estado de São Paulo, 16/03/1950, p. 1
(Brooklin, 15/03, ag. AFP)
Guerra dos Mundos é o retrato da situação, pois como já havia alertado Averrel
Harriman em 1951.
Os alienígenas do filme não podem ser destruídos por nenhuma das armas
existente, o Inimigo vindo de um lugar distante, mexe com a vida pacata e feliz da
O filme é, ao mesmo tempo, uma apologia dos militares (sempre foram mal
ordem e a defesa contra o Inimigo, pois no caso de uma “ameaça” tão grave como é
a URSS para o chamado “mundo livre”, é preciso um aparato militar que garanta a
158
defesa da “democracia” e da “liberdade” tudo pode ser utilizado, inclusive a guerra
bacteriológica.
linguagem universal da paz - uma singela bandeira branca pois não entende outra
linguagem que não seja a das armas. Os EUA, cuja missão é preservar e defender o
Soviética, para isso um orçamento com este montante destinado à defesa era
absolutamente necessário.
expansionismo soviético fosse contido e o filme mostra que, quando o Inimigo está à
O filme trabalha uma imagem do seu Inimigo alienígena que é a mesma que
opressão e pela tirania. Um sistema que não pouparia esforços para cumprir seus
objetivos.
violência para chegar ao poder e dominar o mundo. Esta força da qual se utilizava o
industrial, o filme Guerra entre Planetas faz uma propaganda explícita, quando cita
159
logo no início a Lockheed, uma das 20 grandes empresas que compunham o
complexo.
casa dos 69% do total de gastos e 13% do PIB, comparado aos parcos 6,5% do total
permita atingir os seus objetivos, chegando a lançar mão de lavagem cerebral com a
uma sociedade comunista (da qual invariavelmente afirmam que a URSS da era de
160
Stalin é uma amostra perfeita), a igualdade absoluta, que afirmam ser o resultado da
colocada aqui, como em outros filmes de ficção, como uma possibilidade apenas das
cada um.
de absoluta normalidade.
O Novo Inimigo Total é ardiloso, aos poucos, sem que se perceba, ele toma
sociedade. Para impedir que eles se espalhem por todos os lugares, dominando a
vida dos “povos livres”, é fundamental investigar tudo e todos, os testes de lealdade
161
dos Estados Unidos. Sem se dar conta, as pessoas vão se deixando dominar por
constante. A URSS tem claros objetivos imperialista que precisam ser contidos e isto
só pode ser feito se os EUA e seus aliados estiverem sempre prontos a reagir com
Truman em 1952.
como fazem crer as elites, é a única pela qual vale mesmo a pena lutar porque ela é
Inimigo, a teoria marxista de uma sociedade sem classes como uma sociedade de
elites, por razões óbvias excluíram disso o fato de existir uma enorme distância entre
162
Não obstante, isto é fruto da luta política e ideológica que o capitalismo norte-
americano tem que travar para consolidar a imagem de um Inimigo poderoso, seja a
Neste mesmo ano Planeta Proibido vem para reforçar a imagem do Novo
Inimigo Total, pois McCarthy já tinha saído de cena, mas o complexo militar-
possibilidade de conviver com alguma coisa que está fora dos padrões normais
como é o caso da cor do céu - que aparece em um dos primeiros diálogos do filme é
comunismo como uma anormalidade, até mesmo uma aberração, com a qual não
A nave e seus tripulantes são uma intervenção externa e não pedida por
163
A fita se refere aos perigos de uma ferramenta como Rob cair em mãos
Estados Unidos. Uma possibilidade que colocaria em risco todo o “mundo livre”.
Evitar essa possibilidade, para as elites, passava por investir cada vez mais dinheiro
O que estes filmes apontam é que Truman tinha razão - a razão do complexo
164
CONCLUSÃO
Este trabalho consiste num esforço de arrolar um conjunto de elementos que
macarthismo.
165
Havia um motor ideológico que levava as elites norte-americanas a usarem a
URSS como peça fundamental no tabuleiro do mundo pós-guerra. Era este motor
que possibilitava fazer daquele país um INIMIGO, de proporções tais que para
verossímel.
Hollywood teve uma preocupação constante em usar o que era diversão para
A ficção científica dos anos 50, longe de ser uma antecipação do futuro, foi
alienígena que vinha para conquistar o mundo pela força. Era uma anormalidade,
166
uma aberração, vinda de algum lugar distante, onde os seres não tinham
sentimento, vontades ou paixões. Eram seres disformes cuja vida era guiada por
A relação entre os filmes e os orçamentos nos mostra que Hollywood fez mais
industrial. Não foi porque não poderia sê-Io, pois era em realidade, co-partícipe
desenvolveram para a sua sustentação. Fazia parte não porque o cinema estava
sociedade capitalista.
167
ANEXOS
168
ANEXO I
O CALENDÁRIO DA GUERRA FRIA
1945
ABRIL
12 - Morte de Roosevelt
MAIO
11 - Truman suspende a ajuda à União Soviética(Lend-Lease)
JUNHO
Começa o processo contra os líderes do Partido comunista, destinado a enquadrá-los na Lei Smith.
JULHO
16 - Os EUA realizam a primeira explosão atômica da história
AGOSTO
6 - Explode em Hiroshima a bomba de urânio 235
SETEMBRO
26 - Têm início as audiências do HUAC
1946
FEVEREIRO
169
George Kennan envia ao Departamento de Estado uma mensagam de oito mil palavras
argumentando sobre a necessidade de uma política de contenção da URSS.
MARÇO
5 - Discurso de Churchill em Fúlton.
JUNHO
16 - EUA expõe na ONU o Plano Baruch.
1947
FEVEREIRO
A mensagem enviada por Kennan um ano antes deu origem ao documento “The sources of the soviet
conduct”.
MARÇO
12 - Anunciada a Doutrina Truman
JUNHO
5 - Lançamento do Plano Marshall
JULHO
2 - A URSS rejeita o Plano Marshall
OUTUBRO
Nos dias 20 a 24 e 27 a 30, são realizadas as duas primeiras séries de audiências do HUAC.
1948
ABRIL
16 - entra em vigor o Plano Marshall
MAIO
Criação da Organização dos Estados Americanos (OEA).
170
JULHO
Os 12 dirigentes do PCUSA são indiciados com base na Lei Smith.
NOVEMBRO
Eleição de Truman
1949
JANEIRO
Tem início o julgamento dos líderes comunistas, que dura 9 meses.
ABRIL
4 - Criação da OTAN
AGOSTO
29 - Explosão da primeira bomba atômica soviética Hiss é acusado publicamente, pela televisão, por
Whittaker Chambers.
SETEMBRO
24 - Truman anuncia oficialmente a explosão da primeira bomba russa
OUTUBRO
Vitória de Mao Tsé-tung sobre Chiang Kai-shek na China.
1950
JANEIRO
2 - Truman ordena a fabricação da Bomba-H.
FEVEREIRO
12 - Joseph McCarthy faz o seu discurso em Wheeling, denunciando a infiltração de comunistas no
Departamento de Estado.
JUNHO
Condenação dos Dez de Hollywood
171
JULHO
17 - Prisão de Julius Rosenberg
AGOSTO
Prisão de Ethel Rosenberg.
1951
MARÇO
Começa o julgamento do casal Rosenberg.
ABRIL
O casal Rosenberg é condenado à cadeira elétrica
MAIO
12 - EUA fazem o primeiro ensaio da bomba-H
1952
NOVEMBRO
1 - Explosão da primeira bomba-H norte-americana
Posse de Eisenhower
1953
MARÇO
5 - Morre Stálin
JUNHO
19 - O casal Rosenberg é executado
JULHO
27 - Armistício da Coréia
AGOSTO
Malenkov anuncia que os EUA não têm mais o monopólio da bomba-H.
172
DEZEMBRO
8 - Anunciado o plano de “Átomos para a Paz”.
McCarthy dá início à sua disputa com o Exército, exigindo acesso aos arquivos confidenciais.
1954
JANEIRO
12 - Foster Dulles anuncia as “represálias maciças”
MARÇO
McCarthy humilha o General Zwicker quando este depõe sobre a infiltração comunista no Exército.
ABRIL
22 - Começam as audiências no Senado sobre as denúncias de McCarthy ao Exército.
AGOSTO
Aprovação do Communist Control Act
NOVEMBRO
Por 67 votos a favor e 22 contra é aprovada a censura do senador McCarthy por “conduta contrária
às tradições do Senado”.
1955
JULHO
18 - Abertura da Conferência de Genebra, na qual Eisenhower anuncia a sua proposta de “céus
abertos”.
NOVEMBRO
23 - A URSS explode a sua primeira bomba-H.
1956
NOVEMBRO
Reeleição de Eisenhower.
173
ANEXO II – OS RESULTADOS ELEITORAIS
DE 1948 E 1952
174
RESULTADOS ELEITORAIS DE 1952
175
ANEXO III – AS EMENDAS À
CONSTITUIÇÃO
EMENDA I
O Congresso não fará lei relativa ao estabelecimento de religião ou proibindo
EMENDA V
Nenhuma pessoa será obrigada a responder por crime capital ou infamante,
navais, ou na milícia, quando em serviço ativo; nenhuma pessoa será, pelo mesmo
crime, submetida duas vezes a julgamento que possa causar-lhe perda da vida ou
de algum membro; nem será obrigada a depor contra si própria em processo criminal
ou ser privada da vida, liberdade ou propriedade sem processo legal regular (due
process of law); a propriedade privada não será desapropriada para uso público sem
justa indenização.
176
ANEXO IV - AS TESTEMUNHAS
AMISTOSAS
PRODUTORES
ERIC JOHNSTON (Presidente da MPAA, declarou não fornecer trabalho aos que não se
identificassem como comunistas);
JACK L. WARNER (que propôs a elaboração de uma legislação adequada contra os comunistas);
LOUIS B. MAYER
WALT DISNEY
DIRETORES
ADOLPHE MENJOU
ELIAN KAZAN;
FRANK TUTTLE
LEO McCAREY
SAM WOOD
ROTEIRISTAS
AYN RAND;
BUDD SCHULBERG
MARTIN BERKLEY (o recordista em citar nomes, citou nada menos que 162 deles)
ATORES
EDWARD G. ROBINSON
GEORGE MURPH
JOHN WAYNE
JOSÉ FERRER
177
LEE J. COBB
RICHARD COLLINS (Confessou ter pertencido ao PCUSA até 47. Neste ano não foi interrogado pelo
HUAC embora fizesse parte da lista inicial de 19 nomes que deveriam prestar depoimento)
ROBERT MONTGOMERY
RONALD REAGAN (informante habitual tinha o codnome de T-10, dado pelo FBI. Declarou que o
expurgo de comunistas era necessário)
178
LISTA NEGRA
PRODUTORES
ADRIAN SCOTT (também roteirista. Um dos Dez de Hollywood)
BOB ROBERTS
JOHN WEBER
DIRETORES
ABRAHAN POLONSKY (também roteirista. Listado em 1948)
BERNARD VORHAUS
EDWARD DMYTRYK (Um dos Dez de Hollywood. Após cumprir parte da pena tornou-se informante
do HUAC)
JOHN BERRY
LEWIS MILESTONE
MICHEL GORDON
ROBERT ROSEN (também produtor e roteirista. Em 1947, apesar de fazer parte da lista de suspeitos
do HUAC, não foi interrogado. Em 1953 confessou ter pertencido ao partido e ter contribuido
com 40 mil dólares);
ROTEIRISTAS
ABE BURROWS
ARNOLD D'USSEAU
ARTHUR STRAWN
BART LYTTON
BEN BARZMAN
DALTON TRUMBO (Um dos Dez de Hollywood. Trumbo escreveu cerca de 30 roteiros com pseu-
dônimo, um dos quais foi premiado com um Oscar que ele não pôde buscar)
DASHIELL HAMETT (condenado a um ano de prisão em 1951, a ser cumprido em West Street, NY,
sem direito a fiança)
DOROTHY PARKER
EDWARD ELISCU
EDWARD HIBBS
EDWARD HUEBSCH
ELIOT ASIMOV
EMMETT LAVERY
FREDERICH I. RINALDO
GEORGE BECH
GERTRUDE PURCELL
GORDON KAHN (estava na lista do HUAC em 1947, mas não foi interrogado)
GUY ENDORE
HAROLD ASCHE
HAROLD BUCHMAN
HOWARD DIMSDALE
HOWARD KOCH (estava na lista do HUAC em 1947 mas não foi interrogado)
HUGO BUTLER
HY KRAFT
180
IAN McLELLAN HUNTER
IRWIN SHAW
JEROME CHODOROV
JOHN BRIGHT
JOHN HOWARD LAWSON (Um dos Dez de Hollywood. Foi apelidado pelo HUAC de Czar Vermelho
de Hollywood)
JOHN WEXLEY
JULIUS G. EPSTEIN
LEONARDO BERCOVICI
LEOPOLD ATLAS
LESTER KOENING
LILLIAN HELLMAN (Listada em 1951, conseguiu disseminar a idéia de que jamais fôra do PC e por
isso nunca foi condenada)
LOUIS POLLACK (Em 1959 descobriu que seu nome constava da Lista porque em 1954, um
comerciante húngaro com o mesmo nome, depôs e recusou-se a responder as perguntas que
lhe foram feitas)
LOUISE ROSSEAU
MARGUERITE ROBERTS
MAURICE RAPF
MAX BENOFF
MILLARD LAMPELL
MORTON GRANT
PAUL JARRICO
PHILLIP G. EPSTEIN
RICHARD WEIL
ROBERT L. RICHARDS
ROBERT LEES
RONALD KIBBEE
181
ROY HUGGINS
SALKA VIERTEL
SAM MORE
SHEPARD TRAUDE
SIDNEY BUCHMAN (também produtor, denunciado por Elia Kazan e Edward G. Robinson);
SOL SHOR
STANLEY ROBERTS
SYLVIA RICHARDS
WALDO SALT
WALTER BERNSTEIN
ALBERT M. OTTENHEIMER
ANGELA CLARK
ANNE REVERE;
ART SMITH;
ARTIE SHAW;
ATORES
LARRY ADLER
CANADA LEE*
CRANE WHITLEY
DAVID FRESCO
DOROTY TREE
ELLIOT SULLIVAN
EVERETT SLOANE
FRANCES YOUNG*
GALE SONDERGAARD
GEORGE KEANE
182
GEORGE TYNE
HOWLAND CHAMBERLAIN
IREENE WICKER*
JACK GILFORD
JEAN MUIR*
JEFF COREY
JOCELYN BRANDO
JODY GILBERT
JOHN BROWN
JOHN RANDOLPH
JOSHUA SHELLEY
KIM HUNTER
LARRY PARKS
LIONEL STANDER
LLOYD GOUGH
LUDWIG DONATH
MADELEINE LEE
MARSHA HUNT
MARTA TOREN
MORRIS CARNOVSKY
ORSON BEAN
PAUL DRAPER
PAUL McVEY
PETE SEEGER
183
PHILLIP LOEB (Suicidou-se em 1955)
SAM JAFFE
SAM WANAMAKER
SARAH CUNNINGHAM
SELENA ROYLE
STANLEY PRAGER
TONY KRABER
UTA HAGEN
VICTOR KILIAN
WILL GEER
WILL LEE
ZERO MOSTEL
184
ANEXO V – AS PROPOSTAS
ORÇAMENTÁRIAS PARA OS ANOS DE 1948
A 1956 (MENSAGENS)
185
186
187
188
189
190
191
192
193
194
ANEXO VI – ORÇAMENTOS DOS ANOS DE
1948 A 1956 (CONSOLIDADO)
ORÇAMENTOS DOS ANOS FISCAIS DE 1948 A 1956
Em valores de 1961
195
Fonte:
U.S. Congress. Federal economic policy 1945-1965. Washington, Congressional Quaterly Service, [s/d].
196
ORÇAMENTOS DOS ANOS FISCAIS DE 1948 A 1956
(DETALHADO)
Em valores de 1957
197
198
199
200
ANEXO VII - AS INDÚSTRIAS
DO COMPLEXO MILITAR-
INDUSTRIAL
American Bosh Arms
Boeing
General Motors
General Oynamics
Lookheed Aircraft
Martin Marietta
McOonnell Aircraft
Oouglas Aircraft
Raytheon Corporation
Union Carbide
United Aircraft
Western Eletric
201
FILMOGRAFIA
Uma filmografia básica para compreender o período, sem pretensão de
Três filmes recentes dão uma visão geral acerca do que foi a
Guilty by Suspicion - Culpado por Suspeita, 1991. Lançado em vídeo pela Look
Video.
The Front - Testa-de-ferro por acaso, 1976. Lançado em vídeo pela LK-
Tel/Colúmbia.
The way we were - Nosso amor de ontem, 1973. Lançado em vídeo pela LK-
Tel/Colúmbia
Ninotchka, 1939
The North Star - A Estrela do Norte, 1943 de Lewis Milestone já lançado em vídeo
202
Filmes de ficção:
The day the Earthy stood still - O dia em que a terra parou, 1951. É um dos poucos
filmes de ficção científica da época com um caráter pacifista. No entanto, ao
vê-Io é bom notar que a idéia de um planeta aonde os instintos violentos são
controlados por robôs, coloca a possibilidade de uma sociedade na qual a paz
só é possível quando as pessoas são controladas pela máquina.
Preocupação esboçada duas décadas antes por Fritz Lang em Metrópolis.
203
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