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PAÍSES
QUE NÃO EXISTEM
© Guilherme Canever e Pulp Edições, 2016
ISBN: 978-85-63144-56-0
CDD: 320.94
[2016]
Todos os direitos reservados
PULP EDIÇÕES LTDA.
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GUILHERME CANEVER
PAÍSES
QUE NÃO EXISTEM
1ª EDIÇÃO
PULP EDIÇÕES
CURITIBA - 2016
a todas as vítimas
destes conflitos
Mas o Guilherme foi muito além de mim. Ele teve a ideia genial de
conhecer países que não são reconhecidos internacionalmente. Países
que “não existem”, como diz o título. Já pensou se não reconhecessem o
Brasil? O que seríamos nós brasileiros? Neste livro, o Guilherme conta
em um ritmo leve e didático como foi a sua experiência de viajar por
estes países e como vivem suas populações.
Aproveitem o livro. Para mim, foi uma honra escrever o prefácio. Agora,
ficarei devendo um jantar para o Guilherme quando ele vier a Nova
York ou, quem sabe, em algum dos países que não existem.
Guga Chacra
Uma vez o escritor Paul Theroux disse: “O fato de que poucas pessoas
vão, é uma das razões mais fortes para viajar para um lugar”. Ele não
poderia estar mais certo.
170. TIBETE
174. CAXEMIRA
178. CURDISTÃO
O que é um país?
população permanente
capacidade de se governar
18
Como surgem os
novos países?
O número de países sempre variou com o passar dos anos. No passado,
guerras, anexações e separações não eram apenas comuns, faziam
parte da mentalidade e do agir da época, sendo aceitas moralmente.
Contudo, após a catástrofe da Segunda Guerra Mundial, os países se
organizaram e criaram a Carta das Nações Unidas (1945), uma maneira
de regulamentar as relações entre os países.
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PAÍSES DE FACTO INDEPENDENTES, MAS COM
RECONHECIMENTO INTERNACIONAL LIMITADO:
República da Transnístria
República do Kosovo
República da Somalilândia
República de Nagorno-Karabakh
República da Abecásia
20
21
REPÚBLICA
DA TRANSNÍSTRIA
22
23
CATEDRAL DA NATIVIDADE DO SENHOR, TIRASPOL.
RECONHECIMENTO: IDIOMAS:
3 estados não membros russo, moldavo,
da ONU: Abecásia, Ossétia ucraniano
do Sul e Nagorno-karabakh
DECLARAÇÃO INDEPENDÊNCIA:
FORMA DE GOVERNO: 2 de setembro de 1990
república Um referendo, feito em 1996,
semipresidencialista obteve 97,2% votos para que
a república se mantivesse de
facto independente.
POPULAÇÃO APROX:
500.000
DISPUTA TERRITORIAL:
Moldávia
MOEDA:
rublo da
Transnístria
ALIADO:
Rússia
24
25
2
km
63
4.1
O:
AD
XIM
RO
AP
HO
M AN
TA
Visto e fronteiras
26
Onde a União Soviética
ainda vive...
Apesar de ficar na Europa, até mesmo um aficionado por mapas
está desculpado caso nunca tenha ouvido falar da Transnístria. Esta
república simplesmente não está nos noticiários. Com o separatismo
das províncias de Donetsk, Luhansk e Crimeia, a mídia até comentou um
pouco sobre a Transnístria, já que recentemente seus habitantes, além
de terem votado para que se mantivessem independentes da Moldávia
(com acompanhamento de observadores internacionais), expressaram
abertamente o desejo de serem anexados à Federação Russa.
REPÚBLICA.... REPÚBLICA.... 27
A Rússia, embora não reconheça formalmente a nação, mantém um
regimento do seu exército por lá, além de subsidiar diversos produtos e
matéria-prima, como gás natural. A Transnístria conseguiria sobreviver
sozinha, mas a ajuda da Rússia torna a vida bem mais fácil. Em
contrapartida, a Rússia aumenta sua área de influência e mantém uma
posição geograficamente estratégica na Europa.
28
1792, DATA APONTADA COMO A DE FUNDAÇÃO DA TRANSNÍSTRIA
29
No filme “O Senhor das Armas” (Lord of War, 2005), estrelado por
Nicolas Cage, as armas vendidas na África vinham da Transnístria. Não
é mera ficção. O personagem foi inspirado em Viktor Bout. Nascido
no Tajiquistão (URSS na época), este traficante internacional de
armamentos fez fortuna vendendo armas para zonas de guerra, a
maior parte com origem na Transnístria, onde foram abandonadas mais
de 40 mil armas pelo antigo exército soviético.
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FÁBRICA DE DESTILADOS KVINT
Andando pelas ruas, eu me deparei com a primeira loja da Kvint,
depois outra, até encontrar a fábrica. É uma antiga produtora (1897)
de destilados, orgulho nacional, presente até numa nota de rublo da
Transnístria. Não deixa de ser curioso, ou até suspeito, uma fábrica
privada estar estampada numa nota da moeda nacional.
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Por mais que criem muitas histórias sobre o lugar, dá para entender
de onde tiraram a “ideia” de que uma máfia controla tudo em Tiraspol.
Como é a organização não sei, mas que algumas famílias são muito
privilegiadas e possuem monopólio da economia local, é fácil perceber.
32
Bem no centro da cidade fica a estátua do Alexander Suvorov, herói
nacional que venceu uma batalha contra os otomanos em 1792, data
que celebram como a fundação da Transnístria. Ao lado da estátua
há um mercado de rua improvisado, onde os habitantes vendem um
pouco de tudo, principalmente roupas e objetos usados, para ajudar a
complementar a renda familiar. Difícil de imaginar quem compra muitos
daqueles produtos, mas a atmosfera da feira é bem interessante. Os
utensílios vendidos e as expressões nos rostos de seus vendedores
retratam a história local.
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O que fazer por lá?
Memorial de guerra
34
ESTÁTUA DE LÊNIN EM FRENTE AO PARLAMENTO
35
REPÚBLICA
DO KOSOVO
36
36
37
CENTRO ANTIGO DE PRIZREN COM O FORTE NO TOPO DA COLINA
RECONHECIMENTO: IDIOMAS:
109 estados-membros albanês e sérvio
da ONU
DECLARAÇÃO INDEPENDÊNCIA:
FORMA DE GOVERNO: 17 de fevereiro de 2008
república parlamentarista,
sob supervisão da ONU.
DISPUTA TERRITORIAL:
POPULAÇÃO APROX: Sérvia
1.804.838
MOEDA:
OLIMPÍADA
euro Rio 2016
ALIADOS:
Albânia e OTAN
38
39
2
m
7k
88
10.
O:
AD
XIM
RO
AP
HO
M AN
TA
Visto e fronteiras
40
“Presidente”
brasileiro?
Em junho de 1999 o Conselho de Segurança da ONU conseguiu definir
um “meio-termo” para as pretensões de Kosovo e Sérvia, aprovando a
resolução 1.244. Assim como no passado, ela dava autonomia, mas não
independência à região. Na teoria, o Kosovo ainda faria parte da Sérvia,
mas na prática todas as forças sérvias teriam que abandonar a região.
Uma paz temporária e uma decisão final prorrogada.
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O mais novo país
europeu?
Dos países com reconhecimento parcial, o Kosovo tem uma posição
privilegiada. Digamos que está mais para um Quase País do que para
um Não País. Tem o reconhecimento de 108 estados-membros da
ONU, faz parte do FMI e do Banco Mundial entre outras associações
internacionais. Sua grande força é que a maioria dos membros da União
Europeia o reconhecem como país (somente cinco não reconhecem). Já
para o governo brasileiro, se você viajar para o Kosovo estará indo para
um território da Sérvia, mesmo que os sérvios não tenham nenhum
controle na região há quase duas décadas.
42
Poucos anos se passaram desde a guerra, mas com muito investimento
externo e vontade política a estabilidade foi conquistada, e cada vez
mais turistas têm viajado para descobrir este novo país. Cheguei ao
Kosovo depois de um curto voo desde Istambul, Turquia. O avião
sobrevoou as belas montanhas dos Bálcãs. Depois do controle de
imigração, revistaram toda a minha mochila, fizeram algumas perguntas
e questionaram quanto dinheiro eu tinha. Acostumado com oficiais
corruptos, eu fiquei com medo de mostrar muito dinheiro, mas não era
esse o problema. Eles acharam pouco e ainda perguntaram, com um ar
desconfiado, se pelo menos eu tinha um cartão de crédito. Depois, me
liberaram e disseram: “somente rotina, bem-vindo ao Kosovo!”.
43
BULEVAR MADRE TERESA
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Madre Teresa, conhecida pelos seus trabalhos em Calcutá (Índia), na
verdade nasceu em Skopje, hoje capital da Macedônia, mas que na
época fazia parte do Kosovo, uma subdivisão do Império Otomano.
Existe um grande santuário para ela no centro de Pristina, na esquina
das avenidas George Bush e Bill Clinton. Pode parecer estranho um
antigo país comunista, de maioria muçulmana, ter esta proximidade
com os EUA, mas ela é visível por todos os lados. Bandeiras americanas
ao lado das albanesas e do Kosovo são bastante comuns. As pessoas
se mostram muito agradecidas pela decisão dos EUA de liderar a OTAN
no ataque contra os sérvios “libertando” o Kosovo. Na região central
da cidade está a estátua que ergueram em homenagem a Bill Clinton.
Tamanha estranheza acabou virando atração turística. Clinton também
está estampado em outdoors e tem seu retrato pintado na fachada
de prédios. Também encontrei uma loja com o nome da sua esposa,
Hillary Clinton. No mínimo curioso. Nos arredores de Pristina está o
belo monastério ortodoxo de Gracanica. Remanescente da cultura
sérvia na região, é patrimônio da UNESCO e com certeza vale a visita.
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Para aproveitar o país de verdade é importante se afastar da capital.
O destino mais procurado é Prizren, cidade cerca de duas horas de
distância. Em quilômetros não fica muito longe, mas a estrada passa
por pequenas vilas e muitas curvas entre as montanhas, fazendo com
que o ônibus tenha que viajar devagar. Ótimo para ver o dia a dia pela
janela além de bater papo com os outros passageiros. Com um carro
alugado deve ser mais rápido, mas além de ser muito mais caro, perde-
se a interação com a população local. Os kosovares estão acostumados
com estrangeiros, já que muitos trabalham lá desde o final da guerra.
Talvez por este motivo não iniciem tanto as conversas, mas se você
puxa papo, não param de falar! Como eu já havia viajado para a Albânia
e pela região albanesa da Macedônia (Tetovo), eles me viam com
bastante curiosidade e tínhamos bastante assunto. Impressionados
mesmo eles ficavam quando eu mostrava, no meu celular, uma foto
com o Baba Mondi, líder espiritual da ordem Sufi Bektashi. Eu havia me
hospedado no monastério (Tekke) e viajado por algumas semanas junto
com ele anos antes. Isto me deu bastante conhecimento da cultura
albanesa, além do islamismo visto pelos Bektashi. Quando chegamos
a Prizren ainda ficamos um bom tempo na rodoviária batendo papo.
Prizren foi uma antiga capital do reino da Sérvia cuja maioria esmagadora
da população é kosovar-albanesa; os poucos sérvios que moravam lá
fugiram durante e após o conflito, deixando o bairro sérvio abandonado.
A cidade velha está muito bem preservada, somente o bairro sérvio e
as igrejas foram bastante destruídos. Mas os tempos de guerra ficaram
para trás, e quem quer reconhecimento internacional tem que buscar
outra postura. Aos poucos o lugar está sendo reconstruído. Algumas
igrejas ainda estão cercadas por arames farpados e por seguranças
para evitar que sejam (ainda mais) danificadas.
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CATEDRAL MADRE TERESA
Caminhadas e visitas aos diversos prédios históricos, mesquitas e igrejas
podem ser intercaladas com repouso em cafés para degustar a deliciosa
culinária local e observar o movimento e a vida acontecer ao redor. A
arquitetura dos casarões é muito bonita, mas não se pode deixar de
entrar nos prédios, que abrigam museus além de pinturas belíssimas,
como os afrescos da Igreja Nossa Senhora de Ljevis (Patrimônio da
UNESCO). Nenhum final de tarde é completo sem subir até o antigo
forte, de onde se tem uma vista panorâmica da cidade.
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Pouco menos de cem quilômetros ao norte de Prizren está Peje,
uma cidade pequena, no meio de um parque nacional, cercada por
montanhas, lagos, cavernas, cachoeiras e o belíssimo cânion Rugova. Já
foi o centro religioso da Igreja Ortodoxa Sérvia, o que explica as belas
igrejas e o monastério Decani, com suas incríveis pinturas.
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A herança cultural não é só sérvia/cristã. O longo domínio otomano
e a maioria albanesa moldaram a cidade de outra forma. Existem
mesquitas, mercado central, ruas estreitas, arquitetura turca, além das
tradicionais casas de banho turco. Há alguns museus interessantes,
como o museu entomológico, localizado numa belíssima casa (antiga
casa do Tahir Beg), mas o foco do turismo acaba sendo a natureza
mesmo. Há diversas opções de trekking pelo parque nacional, esportes
aquáticos nos lagos e até paragliding. No inverno, as montanhas são
disputadas por esquiadores que juram ser um dos melhores lugares da
Europa para esquiar.
CENTRO DE PRISTINA
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O que fazer por lá?
Cafés ao ar livre
Rugova Cânion
50
A MOVIMENTADA PRAÇA SHADRVAN 51
REPÚBLICA
DA SOMALILÂNDIA
52
52
53
PASTOR COM SEUS CAMELOS NO DESERTO DA SOMALILÂNDIA
RECONHECIMENTO: IDIOMAS:
não reconhecido somali, árabe, inglês
por nenhum país
DECLARAÇÃO INDEPENDÊNCIA:
FORMA DE GOVERNO: 18 de maio de 1991
república presidencialista
DISPUTA TERRITORIAL:
POPULAÇÃO APROX: Somália
4,5 milhões
MOEDA: ALIADO:
shilling da nenhum
Somalilândia
54
TAM
AN
HO
APR
OX
IM AD
O:
137.
600
km 2
55
Visto e fronteiras
56
Em busca de
reconhecimento
A região da Somália, no Chifre da África, sempre foi dividida em clãs e
tribos. Tem uma história muito antiga, e o Reino de Punt, que floresceu
na região, está presente em diversas pinturas egípcias. Também houve
uma forte influência dos árabes, que séculos mais tarde dominariam o
comércio de grande parte da costa do Oceano Índico. Diversos sultanatos
floresceram nesta região árida, porém estratégica. Outras potências,
como o Império Otomano e Portugal, se aventuraram por lá. Mas foi no
final do século 19 que os países europeus decidiram dividir e colonizar
a região formando a Somalilândia Francesa (hoje Djibuti), Somalilândia
Inglesa e Somália Italiana. Após a Segunda Guerra Mundial, a Inglaterra
passou a dominar a Somália Italiana também, mas não por muito tempo.
Nos anos 1960, seguindo a onda de independências no continente
africano, as Somálias se uniram para proclamar independência.
A união não durou muito e teve início uma longa guerra civil. Os
rebeldes da região da antiga Somalilândia Inglesa, talvez por serem
de um só clã (Isaq), de certa forma conseguiram se organizar, e com
a ausência de um poder central forte, proclamaram independência em
1991. Mesmo após terem sua capital bombardeada, se mantiveram
fortes e conseguiram total controle da região. Superando todas as
adversidades e sem o reconhecimento ou ajuda de nenhuma outra
nação, conseguiram prosperar e formar um novo país.
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CASA DE CHÁ EM BERBERA
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Um lugar abandonado, fronteira feia e muito suja. No calor intenso,
tudo parecia parado se não fosse o vento do deserto, que levantava
pequenos redemoinhos de areia e levava sacos plásticos e até arbustos
rasteiros. Cabras comiam o que restava desta vegetação e, na ausência
de folhas, comiam plástico mesmo.
Devidamente hospedados, o
próximo passo foi trocar dinheiro.
Não é difícil, é só escolher uma
das caixas de arame espalhadas
pela rua ou as pilhas de xelins da
Somalilândia em cima de esteiras.
Um dólar vale 6.500 xelins, ou seja,
TROCA DE DINHEIRO NAS RUAS
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Nos mercados de rua se compra de tudo. São bazares espalhados pela
região central da cidade. Com cem dólares é possível até conseguir um
passaporte da Somalilândia, mas seria um suvenir muito caro, já que
ele não é válido em nenhum país.
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tarde da noite, tendo em vista que antes do amanhecer acordávamos
com a chamada das mesquitas. Como o hotel era central, eu adorava
ficar na sacada vendo o dia amanhecer e a cidade começar a se
movimentar. Todos seguem à risca a regra de rezar cinco vezes ao dia.
É um país 100% muçulmano, que segue a lei islâmica da Sharia. Apesar
de a região se submeter a uma jurisprudência tolerante, a Shafii, não há
bebidas alcoólicas e homens e mulheres se sentam em alas separadas
nos restaurantes, a não ser que façam parte da mesma família. Além da
Sharia, as assembleias dos clãs também ditam muitas regras na região.
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A estrada Hargeisa-Berbera é uma reta monótona, com paisagens
desérticas para os dois lados e alguns aglomerados de casas onde
paramos para almoçar. Tinham apenas macarrão frio para servir, então
colocaram o prato no meio da mesa e todos comemos com as mãos,
já que não usam talheres por ali. A certa altura pegamos uma saída
sem sinalização alguma e passamos a viajar literalmente no meio do
deserto, apenas seguindo uma pequena trilha com marcas de pneu
feitas por outros carros.
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Seguimos a estrada sentido Berbera, e o soldado já mascava qat há
horas e provavelmente não estaria apto a nos defender. De qualquer
forma, sua presença foi de grande importância, pois não pediram o
nosso passaporte nenhuma vez. Bem diferente de quando estávamos
sozinhos, quando pediam a toda hora. Qat é uma planta com um efeito
alucinógeno leve, muito consumida na região.
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O calor é tão intenso em Berbera, que logo cedo é impossível dormir.
Já na metade da manhã não dá para caminhar, de tão forte que fica o
sol. Para descansar e matar o tempo, nada melhor que uma casa de
chá. Um pequeno barraco, coberto com lonas e com uma televisão a
cabo ligada em canais internacionais. O chá é servido com bastante
leite e especiarias. Havia muitas pessoas, parecia uma grande sala de
reuniões ou de entrevistas, já que fazíamos - e nos eram feitas - muitas
perguntas. Quem chegava ia deixando as sandálias de lado para serem
lavadas e se sentava.
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ganha dinheiro com o turismo, que é mais hobby. Cobra vinte dólares,
para o que deve ser um dos mergulhos mais baratos do mundo. Claro
que não pudemos deixar a oportunidade passar e mergulhamos nos
dias seguintes. Também conversamos bastante sobre a situação do país,
sobre o passado e as perspectivas. Ele escreve para diversos jornais e
revistas da Europa e dos EUA, principalmente sobre a situação política
da região. Conhece todo mundo do governo e já sabia que estávamos
em Berbera, pois a inteligência da polícia ligou para ele perguntando se
sabia quem éramos. Pelo jeito estávamos sendo observados de perto.
Sempre depois da praia, tentávamos organizar a nossa ida até Djibuti.
O problema foi que de dia todos estavam largados à sombra mascando
qat e à noite estavam nas ruas, mas já não se entendiam muito bem. A
maioria das pessoas nos aconselhava a voltar para Hargeisa e de lá ir
para uma das fronteiras. Acabamos conhecendo um jornalista local e
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um senhor que trabalha no governo, ambos com bons contatos. Desta
forma não demorou tanto para conseguirmos autorização da polícia de
circulação para seguirmos pelo deserto com o carro que conseguiram
para nós.
O carro encalhou mais algumas vezes, mas fomos sempre nos virando.
Em certo momento o carro atolou de uma maneira que nem se
mexia. Até tentamos desencalhar, mas em pouco tempo nos largamos
exaustos debaixo de alguns arbustos. Como não circulam muitos
veículos por ali, não nos restava nada além de esperar. Algumas horas
depois, passou um caminhão vindo do sentido contrário. Ajudou-nos
sem cobrar nada, pois segundo o motorista, estava apenas “fazendo
o bem”. Para completar o dia, furou um pneu e não tínhamos estepe.
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Paramos para comer alguma coisa em um pequeno vilarejo e nem preciso
comentar o espanto do pessoal ao nos ver por ali. Na Somalilândia o
açúcar brasileiro talvez seja mais famoso que o futebol. Usavam um
saco de açúcar brasileiro para fechar uma janela. Em Berbera eu já tinha
visto que, para eles, açúcar é sinônimo de Brasil.
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O que fazer por lá?
Atravessar o deserto
Mascar Qat
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CAÇA MIG NO MEMORIAL DE GUERRA 69
REPÚBLICA
DEMOCRÁTICA
ÁRABE SARAUÍ
(SAARA OCIDENTAL)
70
70
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BASE MILITAR MARROQUINA EM SMARA
RECONHECIMENTO: IDIOMAS:
84 estados-membros da ONU árabe, berber, espanhol
DECLARAÇÃO INDEPENDÊNCIA:
FORMA DE GOVERNO: 27 de fevereiro de 1976
semipresidencialista
DISPUTA TERRITORIAL:
POPULAÇÃO APROX: Marrocos
586.000
MOEDA: ALIADO:
dirham, uguia, Argélia
USD
72
72
TA
M AN
HO
AP
RO
XIM
AD
O:
26
6.0
00
km 2
73
Visto e fronteiras
74
A última colônia
africana
O Saara Ocidental, na época chamado de Rio D’oro, foi uma colônia
espanhola localizada ao sul do Marrocos, que era colônia francesa.
Desde os anos 1960, as Nações Unidas já vinham indicando para a
Espanha que descolonizasse o território, mas foi através de ações de
guerrilha de um grupo chamado Frente POLISARIO (em espanhol,
Frente Popular de Liberación de Saguía el Hamra y Río de Oro) que a
Espanha acabou abandonando a região.
O Marrocos aplicou uma tática proibida pela ONU, utilizando civis para
tomar posse de um território, criando assentamentos. A “Marcha Verde”
foi orquestrada em 1975 e 350 mil marroquinos rumaram ao sul para
tomar conta do território. O exército do Marrocos tentava conquistar
todo o território, mas a Frente POLISARIO (com apoio da Argélia)
se manteve firme. Com a desistência da Mauritânia pelos territórios
conquistados ao sul (1979) e a construção de um muro, tudo mudou.
75
nos campos de refugiados sarauís. Todas estas ações causaram a
revolta da comunidade internacional, mas a França, aliada histórica do
Marrocos, exercia o seu poder de veto no Conselho de Segurança das
Nações Unidas. Depois de uma década e meia de guerra, o Marrocos e
a Frente POLISARIO chegaram a um acordo de cessar-fogo, em 1991.
Foi marcado um plebiscito para o ano seguinte, em que a população
local votaria sobre seu futuro. Até hoje o plebiscito não foi realizado,
pois inicialmente o Marrocos gostaria que os 350 mil marroquinos que
participaram da Marcha Verde também pudessem votar.
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que ninguém se interessaria pela região, se não fossem as dezenas
de postos de controle. Pediam nossos passaportes e perguntavam
nossa profissão, talvez esperando que fossemos jornalistas ou algo
do tipo. Nós nos fazíamos de bobos e falávamos que éramos turistas,
e estávamos viajando por todo o Marrocos, sem nunca mencionar a
expressão “Saara Ocidental”.
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Depois de muitas horas de viagem com deserto até a linha do horizonte
para todos os lados, começa a aparecer uma leve vegetação e
pequenos oásis. Estávamos chegando a Es-Smara, antigo oásis e parada
obrigatória de diversas rotas comerciais e caravanas que cruzavam o
deserto do Saara. Atravessamos grandes bases militares marroquinas
até chegarmos num pátio onde funcionava a rodoviária. Tínhamos a
indicação de um hotel decente, já que outros viajantes nos falaram que
a maioria das pensões era de péssima qualidade. Definitivamente não é
um lugar preparado para o turismo.
DROMEDÁRIOS NO DESERTO DE PEDRA DO SAARA
78
que tinha criado uma expectativa acima disto. Com o tempo fomos
entendendo melhor as coisas. Teve jogo de futebol do Marrocos, e
vimos que parte da população torcia para eles. Eram os “marroquinos
verdes”, nos contava um amigo sarauí. Sem muito que fazer no horário
de sol no meio do deserto, os cafés ficavam lotados para que as pessoas
pudessem assistir aos jogos da Eurocopa. Só homens, então a Bianca
preferia a leitura na sombra do hotel. Ela também não gostou quando
fomos perseguidos por crianças de uns dez anos de idade, com varas
nas mãos. Eu dei corda e corria atrás delas, mas quando virávamos de
costas elas davam o troco.
79
De 1999 até 2004 aconteceu a “Primeira Intifada Sarauí”, onde se
podia ver muitas mulheres lutando contra as tropas marroquinas. Em
2005, na “Intifada pela Independência”, não foi diferente. Centenas
de mulheres saíram feridas dos conflitos. Mas nem sempre a luta
é violenta. A ativista política sarauí, Aminatou Haidar, chegou a ser
indicada para o Prêmio Nobel da Paz em 2008, depois de greves de
fome e protestos não violentos que lhe renderam o apelido de “Gandhi
Sarauí”, em referência às práticas do indiano Mahatma Gandhi.
RUÍNAS DO FORTE ANTIGO
Existe outra parte de Smara que já está bem reformada. Tem uma bela
mesquita antiga que está recebendo reparos e tudo parece novo. Mas
do ponto de vista turístico, o mais interessante de ir para lá não é para
ver as coisas, mas aproveitar o dia a dia e entender o lugar.
80
Foram algumas horas de caminhadas, mas muito mais tempo sentado
num café olhando o que acontecia ao redor. A presença militar,
carros blindados com grades nas janelas, e principalmente barulho de
helicóptero à noite incomodavam Bianca e geravam certa insegurança.
Por este motivo acabamos desistindo de conhecer alguns outros
lugares que tínhamos previsto. Alguns contatos que eu tinha feito
pela internet ficaram decepcionadíssimos de não nos conhecerem, mas
acabamos nos tornando amigos virtuais.
81
O que fazer por lá?
Beber: chá
82
MINARETE DA ANTIGA MESQUITA DE SMARA 83
REPÚBLICA TURCA
DE CHIPRE DO NORTE
84
84
85
CIDADE DE FAMAGUSTA COM A MESQUITA LALA MUSTAFA PASHA
RECONHECIMENTO: IDIOMA:
Turquia turco
MOEDAS: ALIADO:
lira turca, euro e Turquia
libra esterlina
86
86
TAMAN
HO AP
ROXIM
ADO: 3
.355 km 2
87
Visto e fronteiras
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Entre gregos e turcos
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Tratado de
Garantia (1960)
A independência do Chipre só foi aceita pelo Reino Unido depois do
Tratado de Garantia. O tratado, assinado pelo Reino Unido, Grécia e
Turquia, afirmava que nenhuma destas nações teria pretensões sobre
o novo Estado e que poderiam intervir, inclusive militarmente, para
garantir a constituição do novo país. Segundo o Tratado, o Chipre não
poderia fazer união política ou econômica com outro Estado. Apoiada
neste artigo, a Turquia invadiu o Chipre para proteger os direitos dos
cipriotas turcos e impedir uma possível anexação à Grécia. Resguardado
pelo mesmo Tratado, o Reino Unido mantém bases militares na ilha até
hoje.
90
CARAVANÇARAI BUYUK HAN
Com tantas civilizações tendo habitado a ilha, a região é um museu
a céu aberto, sendo possível parar a toda hora para visitar sítios
arqueológicos. Infelizmente, as ruínas não são apenas de um passado
longínquo. Andando de carro pelos vilarejos, não demora muito para
que se veja as primeiras igrejas abandonadas e destruídas. Algumas
vilas, também semiabandonadas, onde algumas casas têm buracos
de bala chamaram minha atenção. São imagens que falam por si. Por
menos que se saiba do conflito, e de quem viveu ali, é impossível ver
estas cenas e não sentir dor. Era como se houvesse uma poesia triste
no ar, e as imagens mostrassem um filme sem final feliz.
Após a invasão turca, os cipriotas gregos fugiram para o sul (os cipriotas
turcos fizeram o caminho inverso) deixando suas casas abandonadas.
A Turquia incentivou a ida de turcos para o norte do Chipre, para
repovoar a região e assegurar o seu domínio. Rif, meu anfitrião, é filho
de turcos que vieram para a ilha após a divisão do Chipre.
91
Viajando de carro, contornamos a Linha Verde, passando por diversas
bases militares e postos de controle. Mais tarde eu descobriria que
grande parte da economia do norte da ilha depende dos salários
destes militares. Passamos por incontáveis vilas percorrendo o
caminho até Famagusta, no extremo leste da ilha. Algumas das paradas
mais importantes no caminho foram nas ruínas da cidade grega de
Salamis, nas Tumbas Reais e no monastério Santo Barnabé (onde
ele supostamente está sepultado), um dos lugares mais sagrados do
Chipre. Santo Barnabé é um dos apóstolos. Ele vendeu todas as suas
posses e foi para Jerusalém. Tornou-se um importante missionário que
pregou o cristianismo pela Ásia Menor. Hoje é o padroeiro do Chipre.
92
Encontramos com um amigo do Rif e fomos participar de uma das
atividades preferidas da Ilha, comer. Comer está diretamente ligado
com a cultura dos cipriotas turcos, e posso dizer que se come muito
bem! Iniciamos com saladas e mezzes (deliciosos aperitivos), charutos
de folha de parreira e torta de frango, antes de chegar aos mais diversos
kebabs. Foi bom para fugir do calor intenso que fazia e colocar minha
lista de perguntas em dia.
93
Na volta foram mais algumas horas de viagem até chegarmos na vila
onde os pais do Rif moram. Apesar de o Rif ter uma vida relativamente
moderna, os pais dele são bastante conservadores. Eu brincava dizendo
que o pai dele sentava à mesa como um leão – um rei da selva – que
queria ser servido. Ele não falava uma palavra em inglês. No início me
olhava com desconfiança, mas acabamos nos entendendo muito bem.
A mãe se empenhava na cozinha e amigos apareceram junto com os
irmãos para um longo e divertido jantar. Apesar de um clima bem seco,
semiárido, algumas árvores frutíferas davam um clima para a mesa
montada do lado de fora da casa. Aliás, a casa onde eles moram estava
abandonada desde os conflitos nos anos 1970. Eles simplesmente
tomaram posse do lugar, coisa muito comum em toda a região.
CAFÉ DA MANHÃ COM O PAI DO RIF
94
Wi-Fi gratuito nas praças, um porto bem charmosinho com um castelo
bizantino ao lado. No topo da montanha há um bonito monastério,
Bellapais, de onde se tem uma ótima vista de toda a região.
PORTO DE GIRNE
95
A família do Rif fazia com que eu me sentisse em casa. Extremamente
hospitaleiros, já estava amigo até do vizinho, que produzia pães frescos
para toda a vila no seu forno artesanal. Depois de viajar por boa
parte do norte da ilha chegou a hora de conhecer a capital, Nicósia,
e atravessar para o sul, na República do Chipre. Nicósia tem muros
em forma de estrela, construídos pelos venezianos, além de grandes
portões de acesso.
Eles não podem passar para o sul e são acusados de ser o motivo de
o Chipre estar dividido. A questão é um pouco mais complicada. No
último referendo, os próprios cipriotas gregos não aceitaram que a
ilha se reunificasse, enquanto os cipriotas turcos foram favoráveis. Os
cipriotas gregos querem a expulsão dos turcos, que não têm ligação
histórica com a ilha. A questão é que os primeiros imigrantes turcos,
que chegaram há mais de quarenta anos, já têm netos na ilha (ou até
bisnetos). Esta primeira e a segunda geração de turcos nascidos na ilha
têm uma identidade com o local, e não têm nenhuma relação direta
com a Turquia. Sem falar que turcos casaram com cipriotas turcas,
ficando cada vez mais difícil de rastrear as origens. Meu amigo Rif,
nascido no Chipre há mais de trinta anos, faz parte deste que talvez
seja o maior problema de uma possível reunificação.
96
moderna e menos interessante. Claro que valeu a pena conhecer e
me perder pelas pequenas ruas, ver todas as ativas igrejas e cafés,
tudo pareceu muito animado, cara de festa, principalmente próximo à
Avenida Macarius, área descolada da cidade. Cada uma tem seu estilo,
mas não adianta, gostei mesmo da parte norte de Nicósia, com um
belo caravançarai (Buyuk Han – O grande inn), os banhos turcos, a
imponente mesquita Selimiye, além das casas Samanbace do período
otomano. Até a região da moda, Dereboyu, me pareceu mais autêntica
que Macarius.
97
O que fazer por lá?
98
PRAIA DOURADA, NA PENÍNSULA DE KARPAZ 99
ESTADO DA PALESTINA
(AUTORIDADE PALESTINA)
100
100
101
JERUSALÉM ORIENTAL (AL-QUDS)
RECONHECIMENTO: IDIOMA:
138 estados-membros da ONU árabe
OLIMPÍADA
Rio 2016
102
102
TAMANHO APROXIMADO:
6.239 km2
103
Visto e fronteiras
104
Uma história sem fim?
105
Houve outra guerra em meados de 1967, e os israelenses foram
vitoriosos novamente. Ocuparam mais áreas palestinas, mas desta
vez foram condenados pela comunidade internacional, porque as
fronteiras já estavam definidas. O Conselho de Segurança da ONU
aprovou, por unanimidade, a Resolução 242, que reconhece o direito
de Israel à existência e à segurança e determina a retirada israelense
dos territórios ocupados na “Guerra dos Seis Dias”.
Infelizmente a simpatia terminou por ali. Pegamos uma van que foi
parada algumas vezes pelo exército israelense. Na primeira delas,
Bianca demorou a encontrar o seu passaporte e apontaram uma
metralhadora para a cara dela. As principais estradas que cortam a
Cisjordânia têm acesso restrito ou até proibido para os palestinos, que
precisam usar as estradas secundárias.
Para estrangeiros não é tão difícil chegar até Jericó, uma cidade que
basicamente vive do turismo. Sendo uma das cidades mais antigas do
mundo, não faltam sítios arqueológicos para visitar. Mas nenhuma
passagem por Jericó está completa sem subir ao Monte das Tentações
para refletir e apreciar a vista do Monastério Ortodoxo que há no local.
106
Jerusalém Oriental está somente a 30 quilômetros dali, mas é um
universo à parte. Para Israel, Jerusalém é indivisível, apesar de esta
afirmação ir contra um acordo firmado no fim da guerra de independência.
A verdade é que ao viajar por Jerusalém Oriental, você estará em Israel,
pelo menos na prática. Passamos vários dias por ali, aproveitando com
calma. A cidade é sagrada para o Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, e
possui centenas de lugares para se conhecer. Fizemos muitos amigos
e, como estávamos com tempo, nos dávamos ao luxo de tomar café da
manhã por horas, conversando sobre os mais diversos assuntos com
outros viajantes. A cidade velha é dividida entre os bairros judeu, árabe,
cristão e armênio. Lugar incrível, mas apesar da forte presença árabe
não é uma experiência muito palestina.
REPÚBLICA.... REPÚBLICA....
107
Provavelmente o lugar mais visitado na Palestina é Belém, local de
nascimento de Jesus. Milhares de pessoas vão para lá todo ano, a
maioria fazendo parte de grupos de turismo religioso. Depois de viajar
por Israel, fomos para a Palestina em companhia dos meus pais e da
minha sogra, que foram nos visitar. Estávamos no meio de uma viagem
de volta ao mundo, então foi muito bom poder reencontrá-los para
matar a saudade.
108
proteger o país de ataques terroristas, no entanto ele não respeita as
fronteiras internacionais e isola quase meio milhão de pessoas. O muro
foi considerado ilegal pelo Tribunal Internacional de Haia.
109
ápice na Igreja da Natividade, onde centenas de peregrinos russos se
misturam a multidões de outras nacionalidades. Belém é o centro do
cristianismo na Palestina. Cristãos árabes já chegaram a ser 10% da
população palestina, mas assim como ocorre em Israel, têm diminuído
consideravelmente nos últimos anos. Hoje a luta pelo Estado Palestino
muitas vezes é associada ao Islamismo, mas cristãos palestinos sempre
estiveram na vanguarda da luta pela independência. Outro fato que
pode surpreender a muitos é que as prefeitas de Belém e Ramallah,
além de mulheres, são cristãs.
110
Estão confinados, não podem sair nem por fronteiras terrestres nem
por mar, no que Banksy chamou de “a maior prisão a céu aberto de
todo o mundo”.
Por falar em Banksy, o grafiteiro ativista inglês tem algumas de suas
famosas pinturas no muro que separa Israel da Palestina. Não são
difíceis de encontrar, mas caso você não consiga sempre tem um garoto
disposto a mostrar o caminho por uns trocados.
Para uma experiência sem tantos turistas, uma viagem a Hebron pode
valer a pena. É uma cidade dividida entre palestinos e um assentamento
israelense, mas como estrangeiro você provavelmente poderá circular
entre as duas áreas, coisa que os locais não podem fazer.
111
O que fazer por lá?
Mar Morto
112
CÂNION WADI QELT, JERICÓ 113
REPÚBLICA DA
ABECÁSIA
114
114
115
TEATRO DE DRAMA, SUKHUMI
RECONHECIMENTO: IDIOMAS:
4 estados-membros da ONU abecaso e russo
(Rússia, Nicarágua, Venezuela
e Nauru) e 3 não membros
(Transnístria, Ossétia do Sul,
Nagorno-Karabakh)
DECLARAÇÃO INDEPENDÊNCIA:
FORMA DE GOVERNO: 12 de outubro de 1999
república
semipresidencialista
MOEDAS:
DISPUTA TERRITORIAL:
rublo russo e aspar da
Geórgia
Abecásia (não muito
utilizado)
ALIADO:
Rússia
116
116
TA
M
AN
HO
AP
RO
XI
M
AD
O:
8.6
60
km 2
117
Visto e fronteiras
118
Resort russo
Muito tempo depois, após a Revolução Russa, a Abecásia passou a ser uma
república autônoma, mas devido a sua postura muito nacionalista, acabou
sendo incorporada à República Socialista Soviética da Geórgia. Novo
incentivo de migração para georgianos, a fim de diminuir o nacionalismo
local. Não demorou muito para as línguas abecaso e russo serem
substituídas pelo georgiano. Conflitos étnicos se tornaram mais comuns e
a segregação só aumentava.
119
A Geórgia proclamou independência da URSS, mas a Abecásia não seguiu
junto. Proclamou sua própria independência com a ajuda da Rússia e
soldados do norte do Cáucaso, tomando conta de quase todo o território
até 1994. Novos conflitos e tentativas de limpeza étnica aconteceram ao
longo da década mas, em 2008, impulsionado pela guerra da Ossétia do
Sul com a Geórgia, o movimento separatista se reacendeu e expulsou
os poucos soldados georgianos que ainda permaneciam no território da
Abecásia, basicamente no vale do Kodori.
120
Meia-dúzia de pessoas formavam uma fila, alguns encostados na pequena
guarita enferrujada ao lado de uma cancela fechada com cadeado. O
escritório de imigração ainda não tinha aberto e tivemos que esperar um
bom tempo por ali, só fantasiando como seria do outro lado. Quando
liberados, andamos pelos corredores de grade e arame farpado até o
controle de passaporte em si. Na nossa vez, entregamos a autorização
de entrada e o oficial perguntou em um inglês sofrível sobre detalhes
da nossa viagem. Ele falava alto, quase gritando, como se desta forma
fôssemos entender melhor. Eu tinha anotado uns nomes de hotéis, mas
o que mencionei não ficava bem no centro da cidade, então ele fez mais
perguntas, pois a resposta não havia sido muito precisa, mas deve ter
percebido que éramos simples viajantes e nos liberou. Imigração feita,
fomos negociar um transporte.
121
Entramos em Sukhumi, e depois de deixar um passageiro pedimos
ao taxista para nos levar direto ao controle de imigração. Tínhamos
autorização de entrada, com datas específicas inclusive, mas precisávamos
ir até o Ministério de Relações Exteriores para fazer o registro e tirar o
visto propriamente dito. Quando o motorista entendeu aonde queríamos
ir, hesitou um pouco. Fez uns telefonemas, perguntou na rua e nos levou
para um prédio do governo. Gesticulava e dizia “Niet, Niet” (não, em russo).
Depois ficamos sabendo que era feriado regional, portanto todos os
órgãos públicos estavam fechados. Estávamos numa região bem central
e decidimos ir caminhando mesmo. Passamos por parques e praças muito
arborizados, mas sem uma viva alma. Logo chegamos ao Teatro de Drama,
na parte principal do calçadão, à beira do Mar Negro.
122
MONASTÉRIO DE NOVI AFON
Tinham me indicado algumas “goztinitza”, pequenas pousadas ou casas
que alugam quartos. Para nossa surpresa, estavam todas lotadas. Uma
que estava disponível só queria alugar para longos períodos. Muito
solícitos, tentavam ligar para conhecidos tentando achar uma vaga para
nós. Foi quando um turco-abecaso, que falava um pouco de inglês, se
aproximou para ajudar. Recomendou-nos um antigo hotel soviético. Disse
que estavam reformando, ainda estava em péssimo estado, mas o preço
era bom. Fomos caminhando e batendo papo na direção deste hotel. Nós
nos despedimos quando ele chegou perto da sua casa, e meio que por
acaso, achamos uma pousada muito boa, ainda em construção também. O
preço não era dos melhores, mas negociamos um pouco e nos deixamos
convencer pelo proprietário, gente finíssima. Ele falava inglês, seria uma
ótima fonte de informações, o lugar era incrível, com um supercafé da
manhã. Nosso cansaço e as poucas noites que ficaríamos lá com certeza
também ajudaram na decisão.
123
Avisávamos constantemente aos passageiros onde queríamos descer, para
ter certeza que o motorista não se esqueceria de parar no local combinado.
Uma distração e poderíamos parar na Rússia. Descemos em Novy Afon,
um lugar muito movimentado, principalmente perto da calmaria que havia
em Sukhumi em um feriado ensolarado. Estava cheio de turistas russos,
viajando de forma independente ou em grandes grupos. Estavam por
todos os lados, indo para as praias com boias infantis, nos restaurantes
ou buscando os passeios da região. São muitas opções, como cavernas,
lagos, cachoeira, cânion, o antigo forte Anacopia em uma montanha e o
imponente Monastério Novi Afon, que pode ser avistado de longe, como
se ocupasse seu espaço entre as árvores no meio da montanha. Região
muito bonita, onde os moradores tentam aproveitar o fluxo de turistas
e peregrinos para ganhar a vida. Muitas barraquinhas, com uma grande
variedade de produtos, no caminho que leva até o belo monastério. Os
vendedores não são nem um pouco insistentes, mas sempre apresentam
os suas mercadorias tentando fazer negócio.
VISTA DA COSTA DA ABECÁSIA
124
PRAIAS COM WI-FI PARA TURISTAS RUSSOS
As montanhas verdes atrás e os jardins floridos na frente deixavam os
arredores do monastério ainda mais bonito. Já havíamos ouvido falar
bem, mas mesmo assim nos surpreendeu bastante pela beleza (interior
e exterior) e grandiosidade do lugar. Muito conservadores, na entrada
distribuíam lenços para as mulheres cobrirem a cabeça e aventais, caso
alguém estivesse de bermuda.
A praia mais famosa, Gagra, não fica muito longe. Mas com o grande fluxo
de turistas, depois de passar por um parque e um memorial, resolvemos
pegar praia ali na frente mesmo. Tanto os locais quanto as centenas de
turistas pareciam pouco se importar se a República da Abecásia tem ou não
reconhecimento expressivo. A vida segue normalmente.
125
Pudemos aproveitar Sukhumi após o feriado, quando o dia a dia voltou
ao normal. Caminhamos pelo longo calçadão à beira-mar, conhecemos
o jardim botânico, exploramos praças, monumentos, mercadinhos e até
fizemos degustação de vinhos. Num lugar acostumado a só receber turistas
russos, não foi novidade termos problemas para pedir comida. Cansados
de tentar que nos entendessem, depois de falar inglês, português e até
a clássica mímica de imitar galinha, a solução foi olhar para as mesas ao
lado, escolher o prato mais bonito e apontar dizendo, quero este! Até que
dava certo.
126
Tínhamos notado alguns carros modernos e caros nas ruas, muitos deles
em alta velocidade e cantando pneus. Nosso amigo turco-abecaso disse
que algumas famílias controlavam tudo por ali. Talvez por causa disto
aconteceram tantos protestos nas ruas meses antes, em abril de 2014.
Quando fomos tentar tirar o visto no prédio que tinham nos indicado,
ficamos sabendo que o escritório havia mudado de lugar. Fomos
caminhando, tentando achar as direções, mas em certo momento ficamos
meio indecisos. A saída seria perguntar na rua para saber se estávamos
no caminho certo, e na nossa primeira tentativa, um senhor nos colocou
no carro e foi até a porta do Ministério de Relações Exteriores. Entramos.
Sem fila alguma, logo fomos atendidos. Um senhor falou brincando “não,
não é permitido voltar para a Geórgia”, mas riu antes de nos assustarmos.
Pagamos pelo nosso visto e fomos embora. Simples assim.
PROMENADE EM SUKHUMI
127
No caminho de volta para a Geórgia, resolvemos fazer o trajeto em etapas,
utilizando as lotações, já que não encontramos ninguém para dividir um
táxi conosco. Uma longa fila na fronteira, onde eu só mostrei o visto de
saída, mas o Marcelo foi chamado para entrevista. Queriam saber aonde
tínhamos ido, o que fomos fazer lá, se tínhamos conhecidos na região, mas
no final das contas nada de mais. Tenso mesmo foi quando já tínhamos
saído da última barreira e resolvemos tirar uma foto. Um banco velho de
carro, posicionado estrategicamente para as pessoas esperarem a cancela
abrir, com a placa de “República da Abecásia” ao fundo, parecia fotogênico.
O guarda não gostou! Chamou outro soldado que falava um pouco de
inglês e recolheram nossos passaportes. Até achei que teríamos que
pagar alguma coisa para sermos liberados, mas não. Quiseram ver as fotos
da máquina que estávamos usando e pediram para apagarmos algumas.
Falavam “you journalist?!” e nós no “niet, sorry, tourist”. Imploramos
perdão por uns minutos e eles nos liberaram provavelmente pensando
“turistas estúpidos, por que tirar foto na fronteira?!”.
128
RUAS DE SUKHUMI
129
O que fazer por lá?
Praia em Gagra
Montanhas
Ecoturismo
Lago Msui
Lago Ritsa
130
BANDEIRA DA ABECÁSIA COM O MONASTÉRIO NOVI AFON AO FUNDO 131
REPÚBLICA DE
NAGORNO-KARABAKH
132
132
133
MONASTÉRIO GANDZASAR
RECONHECIMENTO: IDIOMA:
3 estados não membros da ONU. armênio
Abecásia, Ossétia do Sul
e Transnístria.
DECLARAÇÃO INDEPENDÊNCIA:
FORMA DE GOVERNO: 6 de janeiro de 1992
república parlamentarista
DISPUTA TERRITORIAL:
POPULAÇÃO APROX: Azerbaijão
150.000 além de 50
mil refugiados.
MOEDA: ALIADOS:
dram armênio Armênia, Rússia.
134
134
135
2
0 0 km
: 4.4
ADO
XIM
PRO
OA
ANH
TAM
Visto e fronteiras
136
Conflito congelado
137
Poucos dias antes da minha viagem para Nagorno-Karabakh, os ânimos
esquentaram por lá. Um helicóptero foi derrubado, atiradores faziam
mais vítimas que o normal na “linha de frente” e campos de refugiados
completavam 20 anos. Um pouco de estudo e vimos que a maior
parte da república era segura, só não poderíamos nos aproximar da
“fronteira” com o Azerbaijão, onde os conflitos estavam acontecendo.
138
Devido às minhas pesquisas, já sabíamos da influência que a Armênia MONASTÉRIO DADIVANK
exercia na região, mas mesmo assim nos surpreendeu. Existe pouca
identidade karabakh, é mais como se fosse uma província armênia:
idioma, placas, povo. Talvez tenha faltado um pouco de contato com
karabakhs separatistas para ter uma ideia mais geral (com azeris já
tínhamos conversado). Nem mesmo controle de imigração havia
para entrar no país por esta estrada, se bem que não vimos nenhum
outro carro percorrendo este caminho, só máquinas trabalhando
para melhorar a estrada. Contornamos belas montanhas, seguimos
pequenos riachos e uma hora ou outra aparecia um amontoado de
casas, onde a população aparentava ter uma vida bem calma. Tanques
abandonados na beira da estrada e pequenos memoriais lembravam
um pouco da guerra não tão distante.
139
Fizemos uma parada mais longa em Dadivank, onde há um monastério
incrível, perdido no meio das montanhas, que foi construído entre os
séculos 9 e 13. Foi fundado pelo Santo Dadi, que está sepultado na
igreja principal. Existe um lento trabalho de restauração, mas parece
meio abandonado. De qualquer maneira foi uma grata surpresa.
MONASTÉRIO DADIVANK
140
do hotel, restaurante e quase um “parque temático”, ele ajudou muito
na infraestrutura local. No meio de tantas coisas “boas” novamente é
possível observar marcas da guerra. Um longo muro coberto com as
placas dos carros azeris é exposto com orgulho. São exibidos como
troféus de inimigos que foram mortos ou fugiram.
141
Não tínhamos hotel reservado, então acabamos indo dormir na casa
dele em Shushi, a poucos quilômetros dali. Shushi já foi uma grande
cidade, mas ficou destruída pela guerra. Era o centro da cultura
azeri em Nagorno-Karabakh, portanto a sua população reduziu-se
drasticamente, dando à cidade um aspecto de abandono. Há tentativas
de revitalização para incentivar o turismo, e algumas atrações como o
antigo forte, igrejas e até uma mesquita valem a visita.
142
Tínhamos a pretensão de conhecer Agdam, uma cidade fantasma
totalmente devastada e saqueada. Tentamos convencer Arman a nos
levar até lá nos dias seguintes, mas não foi uma discussão longa. Ele
foi categórico ao dizer Não, Não e Não. Impossível! Fica bem próxima
da fronteira, na linha de combate, portanto proibida para estrangeiros.
Ele alegava que, se nos pegassem, ele poderia se complicar. Tentamos
montar um plano B e falamos com um taxista. Ele aceitou nos levar,
mas no início do caminho já começou com as regras: não pararia, não
poderíamos baixar a janelas e não poderíamos tirar fotos. Regras
demais para nosso gosto, então pedimos para nos deixar no pátio dos
transportes em Stepanakert mesmo. Lá fui negociar com o motorista
do Lada mais velho que encontrei. Com certeza ele gostaria de fazer
uma corrida mais longa. E eu estava certo! A comunicação não foi muito
fácil, mas logo ofereci um preço justo e fechamos negócio.
143
BANDEIRA DE NAGORNO-KARABAKH NA AVENIDA PRINCIPAL DE STEPANAKERT
144
HOMENAGEM AOS MORTOS
145
O que fazer por lá?
Monumentos de Shushi
Caverna Azokh
Monastério Dadivank
146
MONUMENTO TATIK U PAPIK
CRÉDITO - TOMUKAS 147
VIA - WIKIMEDIA
REPÚBLICA DA
OSSÉTIA DO SUL
148
148
149
FORTE EM LENINGOR
RECONHECIMENTO: IDIOMAS:
4 estados-membros da ONU osseta e russo
(Rússia, Nicarágua, Venezuela
e Nauru) e 4 não membros
(Abecásia, Nagorno-Karabakh,
Transnístria e Saara Ocidental)
DECLARAÇÃO INDEPENDÊNCIA:
FORMA DE GOVERNO: Primeira proclamação de
república Independência - 20 de
semipresidencialista setembro de 1990
DISPUTA TERRITORIAL:
POPULAÇÃO APROX: Geórgia
80.000
ALIADO:
Rússia
MOEDA:
rublo russo
150
150
TAM
ANH
OA
PRO
XIM
AD
O: 3
.90
0 km 2
151
Visto e fronteiras
From _____________________________
(full name)
__________________________________
FORMULÁRIO DE SOLICITAÇÃO DE ENTRADA NA OSSÉTIA DO SUL
Application
_____________________________
152
Quebra-cabeça do
Cáucaso
O conflito da Ossétia do Sul foi mais uma guerra causada pelo final
da União Soviética. Todo o Cáucaso é formado por mais de cinquenta
grupos etnolinguísticos, um verdadeiro mosaico cultural, talvez um dos
mais variados do mundo em uma pequena área. No passado, barreiras
naturais como montanhas os dividiam, mas no conceito de Estado
moderno, sempre fica a disputa de quem vai governar. Os ossetas são
descendentes da tribo persa Alan, inclusive a República Osseta, que
faz parte da Rússia, se chama Ossétia do Norte-Alânia. Quando estas
tribos persas chegaram à região, os “georgianos” já tinham controle do
sul do Cáucaso, mas acabavam ficando nas planícies férteis, por isto os
alanos se fixaram nas montanhas. No início do século 19 o Império Russo
anexou toda a área onde estavam os ossetas. Houve algumas aspirações
de independência mas, pouco mais de um século depois, a União
Soviética tomou controle de toda a região. Stalin, líder soviético nascido
em Goris, atual Geórgia, sabia dos sentimentos nacionalistas da região,
portanto dividiu a Ossétia, sendo que a porção sul foi administrada pelos
georgianos.
153
A Rússia manteve o exército na Ossétia do Sul e reconheceu sua
independência, ato que foi seguido por alguns de seus aliados. É uma
região estratégica e eles mantêm uma base militar a pouco mais de 50
quilômetros de Tbilisi, a capital da vizinha Geórgia. Todos os cidadãos da
Ossétia do Sul circulam livremente pela Rússia com seus passaportes,
mas para viajarem para países que não reconhecem o documento,
utilizam o passaporte russo, mais uma regalia concedida a eles.
Devido ao recente conflito, é uma região que ainda tem certa tensão no
ar. Infinitamente menos turística que a Abecásia, além de curiosidade,
estrangeiros despertam desconfiança. Não são raros os casos em que
turistas são obrigados a pagar propinas ou são levados para longos
interrogatórios. Apesar de todo o investimento russo, a capital Tskhinvali
ainda está bastante destruída. Algumas indústrias, como a fábrica de
água mineral Bagiata, tentam movimentar a economia, que ainda é
bastante dependente da Rússia.
154
georgianos são a minoria dentro da Ossétia. Mesmo assim ainda existem
ossetas vivendo como minorias dentro da comunidade georgiana na
Ossétia, provando que não se pode acabar com um problema delimitando
fronteiras, na verdade os problemas só aumentam.
155
O que fazer por lá?
Túnel Roki
Beber: vodka
156
PLACA EM TSKHINVALI 157
REPÚBLICA DA CHINA
(TAIWAN)
158
158
159
VISTA PANORÂMICA DE TAIPÉ
RECONHECIMENTO: IDIOMAS:
21 estados-membros da ONU Mandarim (Chinês)
FORMA DE GOVERNO:
república
DISPUTA TERRITORIAL:
semipresidencialista
República Popular da China
POPULAÇÃO APROX:
23.476.640 HISTÓRICO
Um dos países fundadores
da ONU, membro permanente
do comitê de segurança
MOEDA: até 1971.
novo dólar taiwanês
OLIMPÍADA
Rio 2016
160
160
TAM
ANH
OA
PRO
XIM
AD
O: 3
6.19
3 km 2
161
Visto e fronteiras
162
A outra China
163
No final dos anos 1990 foram aprovados os partidos de oposição e
realizadas as primeiras eleições democráticas. Mais recentemente,
Taiwan praticamente abdicou da intenção de ter soberania sobre toda a
China Continental. A tentativa agora tem sido de ser reconhecida como
a representante somente da ilha de Formosa. Já foram apresentadas
cerca de 15 petições, todas barradas na ONU, devido à forte influência
da República Popular da China no Conselho de Segurança.
164
Com um transporte de primeiro mundo, é fácil se locomover pela ilha,
que apresenta diversas opções de belos parques nacionais. A estrada do
desfiladeiro Taroko é considerada uma das mais bonitas de toda a ilha.
O Lago Sun Moon é muito procurado não só pela sua beleza, mas por
causa da Vila Dehua nos seus arredores, onde vive o povo Thao. Em um
país desenvolvido como Taiwan, não se pode esperar nada tão autêntico,
mas não deixa de ser um lugar para mostrar como eram as tradições.
Ao viajar pela ilha, dificilmente o visitante vai encontrar alguma situação
que indique que o país não seja membro da ONU. O fato de a República
da China ser considerada ou não um país não muda praticamente nada
para seus habitantes ou economia, situação completamente diferente
dos outros países que buscam reconhecimento.
165
O que fazer por lá?
166
MONASTÉRIO BUDISTA 167
168
168
REGIÕES AUTÔNOMAS
QUE JÁ FORAM
INDEPENDENTES
OU GOSTARIAM DE
TORNAR-SE
169
REPÚBLICAS RUSSAS
170
Na Chechênia, a situação econômica é diferente. Talvez como forma de
abafar o movimento separatista, Moscou despejou milhões de rublos
e reconstruiu Grozny. Um pouco de boa vontade e dinheiro resolvem
qualquer conflito. Boas estradas, shoppings centers modernos e até um
centro comercial com prédios espelhados. Difícil imaginar que a cidade
havia sido completamente destruída há tão pouco tempo. O atual
presidente, Ramzan Kadyrov, ex-líder rebelde, é hoje amigo pessoal
do presidente russo Vladimir Putin. Ele coleciona carros, pratica
esportes e investe pesado no time de futebol local. Ramzan é filho de
Akhmad Kadyrov, líder checheno que lutou pela independência, mas
acabou mudando de lado, o que lhe custou a vida. Foi assassinado por
extremistas, acusado de ser um traidor. Sua imagem está estampada
em outdoors e prédios por toda a cidade.
171
TIBETE
172
A questão tibetana é apoiada por diversas pessoas ao redor do mundo,
mas não diretamente por algum governo. Novamente ninguém quer se
opor ao governo central chinês e à potência comercial que representa.
PALÁCIO POTALA
173
REPÚBLICA DE KARAKALPAK
174
Conseguir um bilhete de trem para seguir viagem é uma aventura. Talvez
a única língua estrangeira falada na região seja o russo. Confesso que
tinha um pouco de medo de corrupção por parte dos oficiais, mas quando
deixei meu passaporte para conseguir os bilhetes para Tashkent, recebi
horas depois o troco exato. Sem muitos sorrisos, mas extremamente
eficientes.
175
CAXEMIRA
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Nas proximidades da “Linha de Controle”, que divide a parte indiana
da Caxemira da paquistanesa, há uma forte presença militar. Alguns
incidentes e pequenos conflitos acontecem esporadicamente, mas o
turismo na região tem crescido muito, principalmente entre os indianos,
e é fácil entender por quê. Lembro-me que para chegar à Caxemira,
depois de um longo dia de viagem por estradas esburacadas e um jipe
sacolejante, atravessamos um túnel e nos deparamos com uma placa
que dizia: “Bem-vindos à Caxemira, o paraíso na terra”. Não poderia existir
uma definição melhor para o lugar!
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TURQUISTÃO ORIENTAL
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Para fugir um pouco das cidades, o ideal é ter uma experiência no deserto
andando em camelos-bactrianos ou relaxar à beira de belos lagos, como
Tian Chi, Kanas e Salimu, que são alguns dos mais procurados. Já perto
da fronteira com o Paquistão fica o Karakul, onde é possível dormir em
tendas (yurts) de nômades em frente ao lago e com incríveis montanhas
ao fundo.
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CURDISTÃO
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A região que os curdos ocupam nestes respectivos países não é pequena, e
os governos não estão dispostos a perdê-la. Os curdos do Iraque tiveram
bastante apoio da comunidade internacional depois que Sadan Hussein
tentou exterminá-los com armas químicas, mas a semi-independência
da região é vista como muito suspeita pelos países vizinhos, que têm
uma população curda muito grande também. A guerra contra o Estado
Islâmico pode mudar a geopolítica na região, mas dificilmente os curdos
terão seu “território histórico”. Mesmo que isto um dia acontecesse,
outras minorias viveriam neste território, e seriam outros povos sem
terra.
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CASOS DE SUCESSO
DE INDEPENDÊNCIA
2011 – O Sudão do Sul se separou do Sudão. Depois de uma longa
guerra civil, um plebiscito foi aprovado, e 98% da população votou pela
criação do novo país.
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EDIFÍCIOS BOMBARDEADOS EM BELGRADO, SÉRVIA
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TENTATIVAS DE
INDEPENDÊNCIA
Um movimento separatista escocês conseguiu aprovar um referendo
oficial para questionar a independência da Escócia em relação ao Reino
Unido. Em 2014, depois de uma longa campanha, 55,3% dos votos
apontaram que não deveriam se separar, portanto a Escócia se manteve
como parte do Reino Unido.
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FUTUROS REFERENDOS
Nos próximos anos devem ser feitos alguns outros referendos que
poderão resultar na formação de novos países. A Nova Caledônia, ilha
francesa no Oceano Pacífico, deve votar sobre seu status em 2018. No
mesmo período, a Ilha de Bouganville, localizada no arquipélago das
Ilhas Salomão, votará se deve ou não se tornar independente de Papua
Nova Guiné, país de que faz parte como região autônoma.
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EPÍLOGO
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Guga Chacra
Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Columbia,
comentarista do Globo News em Pauta em Nova York
e blogueiro de EUA e Oriente Médio do Estadão.
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